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Thays Baiel – Parasitologia I – Medicina Unochapecó 1 Parasitologia é a ciência que estuda os parasitas, os seus hospedeiros, as relações entre eles, seus métodos de diagnósticos e controle. Fatores que interferem na prevalência das doenças parasitárias: ➢ Densidade populacional elevada; ➢ Saneamento pobre; ➢ Fontes de água limitadas; ➢ Hábitos e costumes das pessoas (alimentares, crenças, ...); ➢ Práticas deficientes de saúde pública; ➢ Mudanças ambientais que afetem áreas de reprodução de vetores. Algumas das formas de transmissão são parasitos transmitidos: ➢ Entre pessoas por contato ou objeto de uso pessoal (fômites); ➢ Pela água, alimentos, mãos sujas ou poeira; ➢ Por solo contaminado por larvas, ➢ Por vetores ou hospedeiros intermediários; ➢ Por larvas de moscas. Tipos de parasito: Parasito obrigatório: que não é capaz de sobreviver sem um hospedeiro; Parasito facultativo: que é capaz de existir independentemente de um hospedeiro; Endoparasito: que se estabelece no interior de um hospedeiro; Ectoparasito: que se estabelece no interior ou sobre a superfície externa de uma hospedeiro. Tipos de hospedeiro: Acidental: hospedeiro anormal ao esperado; Definitivo: nele ocorre a fase de desenvolvimento adulta ou sexuada do parasito; Intermediário: nele ocorre a fase de desenvolvimento larvária ou assexuada do parasito; Reservatório: este pode obrigar parasitos que infectam seres humanos, bem como podem os infectar também; Transporte: responsável por transportar um parasito de um local para outro; Portador: que alberga um parasito e não exibe nenhum sintoma clínico, mas ainda pode infectar os outros. Relação com o hospedeiro: Monoxênico: ciclo com um hospedeiro apenas; Heteroxênico: ciclo com mais de um hospedeiro. Relação hospedeiro x parasita ➢ Simbiose (+/+) ➢ Comensalismo (+/0) ➢ Mutualismo (+/+) ➢ Parasitismo (+/-) ➢ Comensal (+/0) Todos os ciclos biológicos dos parasitos possuem três componentes: modo de transmissão, estádio infectante e estádio diagnosticável. A resposta do sistema imunológico contra os parasitos pode ter diversos resultados: destruição do próprio parasito e cura da infecção, limitação da população parasitária, hipersensibilidade ou inflamação, que pode levar à necrose do tecido. Thays Baiel – Parasitologia I – Medicina Unochapecó 2 Pelo esquema da história natural das doenças, tudo começa pela fase suscetível, quando há a exposição ao agente, após isso ocorre a fase de doença subclínica, quando ocorrem as alterações patológicas e início dos primeiros sintomas. Já a fase de doença com manifestações clínicas é o momento mais frequente do diagnóstico, terminando com a fase de recuperação, incapacidade ou morte. Etapas do desenvolvimento de uma infecção As principais áreas do corpo associadas a localização dos parasitos são: trato gastrintestinal e urogenital, sangue e tecidos, fígado, pulmão, líquido cefalorraquidiano, olho, pele e extremidades. Ação do parasito sobre o hospedeiro Ação espoliativa: parasito absorve nutrientes ou sangue do hospedeiro. Ex: Ancylostomatidae que ingere sangue da mucosa intestinal para obter ferro e oxigênio, deixando pontos hemorrágicos na mucosa. Ação enzimática: deterioração dos tecidos do hospedeiro por ação enzimática do parasita. Ex: ação da Entamoeba histolytica para lesar o epitélio intestinal e obter alimentos. Ação irritativa: causam irritação local sem causar lesões traumáticas devido à presença constante do parasita. Ex: ação das ventosas dos Cestoda (Taenia spp.) ou dos lábios dos Ascaris lumbricoides na mucosa intestinal; Ação mecânica: interferência no fluxo alimentar ou de absorção de alimentos competindo com o hospedeiro. Ex: enovelamento de Ascaris lumbricoides dentro de uma alça intestinal, obstruindo-a. Ação tóxica: algumas espécies produzem enzimas e/ou metabólito tóxicos que podem lesar o hospedeiro. Ex: reações teciduais produzidas pelas secreções no miracídio dentro do ovo do Schistosoma mansoni. Ação traumática: provocam lesões no hospedeiro, geralmente através das formas larvais dos helmintos. Ex: migração cutânea pelas larvas de Ancylostomatidae e pulmonar por Ascaris lumbricoides, além de rompimento das hemácias pelos Plasmodium spp. Ação anóxia: diminuição da taxa de oxigênio pelas hemoglobinas por interferência da parasitas. Ex: Plasmodium. Alguns sinais clínicos das parasitoses incluem diarreia, febre, calafrios, dor e cólica abdominal. Outros sintomas são anemia, deficiência de vitamina, obstrução intestinal, edema, lesões de pele, cegueira, aumento dos principais órgãos e aumento de áreas como seios, pernas e escroto (elefantíase). Thays Baiel – Parasitologia I – Medicina Unochapecó 3 Exame parasitológico de fezes Coleta: os parasitos podem não aparecer diariamente na amostra fecal, por isso, recomenda-se a coleta de amostras fecais múltiplas para uma detecção mais segura. Ex: três amostras coletadas em dias alternados durante um período de 10 dias. No caso da amebíase, sugere-se realizar a coleta de até seis amostras durante 14 dias. Quantidade: pequena, variável entre 2g a 5g. Contaminantes: urina, água de vaso sanitário e papel higiênico podem contaminar/ inutilizar a amostra. Interferentes: certas substâncias ou medicamentos como antibióticos e medicações antimaláricas (coleta deve ser adiada por duas semanas após o tratamento). O tempo entre a coleta e o recebimento da amostra no laboratório também podem ser interferentes, já que: ➢ A motilidade dos trofozoítos somente é verificada em uma amostra fresca; ➢ O trofozoíto é sensível a mudanças ambientais e, ao ser eliminado do corpo, se desintegra rapidamente; ➢ Cistos de protozoários, ovos e larvas de helmintos não são tão sensíveis e podem sobreviver por períodos mais longos fora do hospedeiro; Exame macroscópio de fezes São aspectos avaliados: consistência, coloração, presença de anormalidades macroscópias e consistência ou grau de umidade das fezes, que podem sugerir: ➢ Fezes moles ou líquidas: presença de trofozoítos de protozoários; ➢ Fezes formadas: presença de cistos de protozoários; ➢ Fezes líquidas: presença de ovos e larvas de helmintos. A cor das fezes pode indicar se o paciente sofreu algum procedimento especial recente ou se está em tratamento com antibióticos. ➢ Normal: marrom, variando do preto, verde até cor de argila; ➢ Anormal: roxo, vermelho, azul. Outras anormalidades: vermes adultos, proglotes, pus e muco. Presença de sangue e/ou muco em fezes amolecidas sugere ulcerações amebianas no intestino grosso. Sangue de cor vermelho-vivo em fezes formadas sugere irritação, hemorroidas e outras doenças intestinais. Escala de Bristol Thays Baiel – Parasitologia I – Medicina Unochapecó 4 Toxoplasmose Doença infecciosa (não é contagiosa), causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. Um parasita intracelular obrigatório, que tem caráter oportunista em pacientes imunocomprometidos. Seu período de incubação é de 5 a 23 dias. Principais vias de transmissão: oral, congênita, aerossóis, inoculação acidental, transfusão e transplante. Sinais clínicos: linfoadenopatia, febre, dor de cabeça, fraqueza, perda de peso, mialgia e hepatoesplenomegalia. Crianças apresentam sinais clínicos como hidrocefalia, microcefalia, retardo mental, lesões oculares e perda de audição. Formas severas da doença: ➢ Toxoplasmose congênita (transmissão materno- fetal); ➢ Toxoplasmose ocular; ➢ Neurotoxoplasmose. A maior taxa de soroprevalência (frequência de indivíduos numa população que apresentam o agente no soro sanguíneo) da toxoplasmose é em crianças e mulheres grávidas. Ciclode vida O ciclo de vida do Toxoplasma gondii é heteróxeno, ou seja, possui mais de um hospedeiro, nesse caso, o ser-humano e o gato (hospedeiro definitivo). O parasito habita vários tecidos, células (exceto hemácias) e líquidos orgânicos (saliva, leite, esperma, líquido peritoneal). Sua forma evolutiva ocorre no hospedeiro definitivo, como taquizoítos, bradizoítos, merozoítos, gametócitos e oocisto imaturo. Já sua forma infectante, ocorre apenas no hospedeiro intermediário, que abriga o parasito em sua fase de reprodução assexuada, na forma de taquizoítos, esporozoítos e bradizoítos. ➢ Taquizoíto: fase aguda da infecção, proliferativa. São adquiridos por meio de transfusões. ➢ Bradizoíto: fase crônica da infecção, encontrado em vários tecidos, também conhecido como cistozoíto. Permanecem viáveis por vários anos. São ingeridos através do consumo de carnes mal cozidas. ➢ Oocistos: forma de resistência. São eliminados imaturos, junto com as fezes dos gatos. No ambiente levam de 48 a 72 horas para esporular e se tornarem infectantes. Os oocistos esporulados (maduros) são ingeridos através dos alimentos ou da manipulação de áreas contaminadas. Fase assexuada O homem ingere os oocistos maduros contendo esporozoítos (alimentos ou água contaminada), ou cistos contendo bradizoítos (carne crua) ou taquizoítos (leite). Estes sofreram multiplicação intracelular no epitélio intestinal, formando novos taquizoítos, que rompem a célula parasitada e invadem novas células (fase proliferativa ou aguda). Alguns parasitos evoluem para a formação de cistos (bradizoítos), é a fase crônica. Thays Baiel – Parasitologia I – Medicina Unochapecó 5 Fase sexuada O gato infecta-se oralmente por oocistos, cistos (bradizoítos) ou taquizoítos. A reprodução sexuada ocorre apenas nas células epiteliais do intestino delgado dos gatos e outros felídeos jovens não imunes. Após a fecundação o ovo evoluirá e formará uma parede externa, originando o oocisto. Esta célula se rompe, liberando o oocisto maduro que sairá com as fezes. A maturação se dá em ambiente externo, é chamada esporogonia, origina dois esporocistos com quatro esporozoítos cada. Alguns oocistos porém, multiplicam-se no epitélio intestinal do gato, originando vários merozoítos. Estes penetrarão em novas células epiteliais e se transformarão nas formas sexuadas. Formas clínicas e sintomatologia Toxoplasmose ocular: coriorretinite, retinite aguda e crônica; Toxoplasmose congênita: uma das formas mais graves da doença, caracterizada por coriorretinite, calcificações cerebrais, perturbações neurológicas e alterações no volume craniano; Toxoplasmose pós natal: com comprometimento ganglionar, febre alta, retinocoroidite (ou coriorretinite), cefaleia, hemiparesia leve, confusão mental, convulsões, letargia, comprometimento meningoencefálico, miocárdico, pulmonar, ocular, digestivo e até testicular e lesões generalizadas na pele. Controle ➢ Evitar alimentação crua; ➢ Consumo de alimentos lavados com água tratada; ➢ Consumo de água tratada e potável; ➢ Controle sanitário da população de “gatos de rua”; ➢ Incineração das fezes de gatos; ➢ Alimentação dos gatos com ração e carne cozida; ➢ Cobertura dos tanques de areia. Tratamentos Toxoplasmose gestacional: espiramicina e esquema tríplice (pirimetamina, sulfadiazina e ácido folínico); Toxoplasmose congênita (em RN assintomático de mãe com infecção aguda confirmada ou suspeita de gravidez): esquema tríplice nos primeiros meses até definição do diagnóstico. Thays Baiel – Parasitologia I – Medicina Unochapecó 6 Doença de Chagas Causada pelo protozoário Trypanossoma cruzi, caracterizado pela presença de um flagelo; No sangue, o T. cruzi se apresenta como tripomastigota, que é extremamente móvel, e nos tecidos, como amastigotas; No tubo digestivo dos insetos vetores, ocorre uma transformação do parasito, dando origem às formas infectantes presentes nas fezes do inseto; A transmissão ocorre por meio de um vetor, os triatomíneos. Estes apenas transmitem o parasito se estiverem infectados, o que acontece quando eles se alimentam em um dos hospedeiros. Estes hospedeiros (infectados) podem infectar o vetor, que infectará outro mamífero, nesse caso, o homem. O ciclo da doença é heteroxênico/indireto, ou seja, a fase de multiplicação celular ocorre no homem e nos mamíferos. E é extracelular no inseto vetor, os triatomíneos (barbeiro). Mecanismos de Transmissão O parasito só é transmitido através do sangue, órgãos ou placenta. A maioria dos indivíduos com infecção pelo Trypanossoma cruzi alberga o parasito nos tecidos e sangue durante toda a vida. ➢ Transmissão vetorial: quando o homem se contamina com as fezes dos “barbeiros”. Após os triatomíneos picarem os vertebrados, defecam na superfície, eliminando formas infectantes de tripomastigotas metacíclicos; ➢ Transmissão vertical: a principal via é a transplacentária e pode ocorrer em qualquer fase da doença materna: aguda, indeterminada ou crônica. Pode ocorrer em qualquer semestre da gestação, ou ocorrer na passagem no canal do parto, pelo contato das mucosas do feto com o sangue da mãe infectada. ➢ Transmissão por via oral: ocorre por meio da ingesta de vetores e reservatórios infectados. Ocorre quando alimentos são contaminados com o parasito, a partir do triatomíneo ou suas dejeções. Pode ocorrer a partir de formas tripomastigotas, epimastigotas e, provavelmente, de amastigotas, que podem contaminar alimentos como sopas, caldo de cana, açaí, carne semicrua. Thays Baiel – Parasitologia I – Medicina Unochapecó 7 ➢ Transmissão transfusional; ➢ Transmissão por leite materno; ➢ Transmissão por transplante de órgãos; ➢ Transmissão por acidentes laboratoriais: exposição à fezes infectadas de triatomíneos ou sangue contendo formas tripomastigotas; Vetores e reservatórios A maioria das espécies vive no meio silvestre. A maioria das espécies de triatomíneos deposita seus ovos livremente no ambiente, porém, algumas possuem substâncias adesivas que fazem com que os ovos fiquem aderidos ao substrato, como nas penas das aves, promovendo a dispersão da espécie. Casas de pau-a-pique, galinheiros, currais e depósitos na zona rural e na periferia das cidades podem hospedar animais silvestres que servem como fonte de infecção aos insetos vetores (barbeiro). Período de incubação • Transmissão vetorial: de 4 a 15 dias; • Transmissão transfusional: de 30 a 40 dias ou mais; • Transmissão vertical: pode ser transmitida em qualquer período da gestação ou durante o parto; • Transmissão oral: de 3 a 22 dias; • Transmissão acidental: até 20 dias. Aspectos clínicos Fase aguda (inicial): muitos parasitos circulam na corrente sanguínea. As manifestações febris podem persistir por até 12 semanas. Os sinais e sintomas podem desaparecer espontaneamente evoluindo para a fase crônica ou progredir para formas agudas graves que podem levar ao óbito. Sinal de Romanã: Tripomastigotas: Fase crônica: raros parasitas circulam na corrente sanguínea. Inicialmente, essa fase é assintomática e sem sinais de comprometimento cardíaco ou digestivo. Apresenta-se nas seguintes formas: ➢ Forma indeterminada: paciente assintomático e sem sinais de comprometimento do aparelho circulatório e/ou digestivo. Pode durar a vida toda. ➢ Forma cardíaca: apresenta miocardiopatia dilatada e insuficiência cardíaca congestiva. Ocorre em cerca de 30% dos casos crônicos e é a maior responsável pela mortalidade na Doença de Chagas Crônica. ➢ Forma digestiva: ocorre em cerca de 10% dos casos. Acometimento do sistema digestivo, evoluindo para megacólon ou megaesôfago. Sintomas como disfagia, regurgitação,pirose, tosse e dor retroesternal. Thays Baiel – Parasitologia I – Medicina Unochapecó 8 ➢ Forma associada (cardiodigestiva): ocorrência concomitante de lesões compatíveis com as formas cardíacas e digestivas. ➢ Forma nervosa: com manifestações neurológicas, alterações psicológicas, comportamentais e perda de memória. Sintomatologia específica • Miocardite difusa com vários graus; • Pericardite, derrame pericárdico, tamponamento cardíaco; • Cardiomegalia, insuficiência cardíaca, derrame pleural; • Edema de face, membros inferiores ou generalizado; • Tosse, dispneia, dor torácica, palpitações, arritmias; • Hepatomegalia e/ou esplenomegalia; Diagnóstico laboratorial Na fase aguda, o exame parasitológico é feito buscando a presença de parasitos circulantes, os tripanossomatídeos. Já no critério sorológico, busca- se a presença de anticorpos anti-T.cruzi da classe IgM, associado a alterações clínicas e epidemiológicas sugestivas. Na fase crônica, os exames parasitológicos são de baixa sensibilidade, o que implica em pouco valor diagnóstico. Já os exames sorológicos possuem elevada sensibilidade e especificidade. Outros exames podem ser solicitados, como hemograma completo com plaquetas, urinálise, provas de função hepática, radiografia de tórax e eletrocardiografia. Tratamento específico O benzonidazol é padrão ouro para a Doença de Chagas. Não é recomendado durante a gestação, a menos que se trate de caso agudo e grave. O medicamento é apresentado na forma de comprimidos de 100 mg e deve ser usado em 2 ou 3 tomadas diárias, por via oral, durante 60 dias. Malária Responsável por 1 milhão de mortes anualmente, especialmente de crianças. Quatro espécies parasitam exclusivamente os humanos: Plasmodium vivax, Plasmodium falciparum (responsável pela forma grave e letal da doença), Plasmodium ovale (África) e Plasmodium malariae. A espécie mais importante é a Anopheles darlingi. Transmissão Ocorre por meio da picada de fêmeas infectadas de mosquitos do gênero Anopheles. Os esporozoítos são injetados no hospedeiro vertebrado, juntamente com a saliva, durante o repasto sanguíneo infectante. Estes irão invadir as células do fígado, os hepatócitos. Nestas células irão se multiplicar e dar origem a milhares de novos parasitos, os merozoítos. Estes vão Thays Baiel – Parasitologia I – Medicina Unochapecó 9 romper os hepatócitos e invadir as hemácias, dando início à segunda fase do ciclo → Esquizogonia sanguínea (fase em que aparecem os sintomas da malária). Alguns parasitos se desenvolvem rapidamente, enquanto outros ficam em estado de latência no hepatócito → os hipnozoítos, responsáveis pelas recaídas da doença. Na fase sanguínea do ciclo, os merozoítos rompem a hemácia e invadem outras, dando início a ciclos repetitivos de multiplicação eritrocitária. Depois de algumas gerações de merozoítos nas hemácias, alguns se diferenciam em formas sexuadas: os macrogametas (feminino) e microgametas (masculino). Esses gametas não se dividem, e quando ingeridos pelos insetos vetores, irão fecundar-se para dar origem ao ciclo sexuado no parasito. Transmissão acidental em transfusões de sangue, compartilhamento de seringas e acidentes de laboratório. A transmissão congênita traz efeitos graves para o feto e recém-nascido. Patogenia Com a destruição dos eritrócitos parasitados ocorre o desenvolvimento de anemia. Os sintomas de febre e mal-estar são resultado da toxicidade resultante da liberação de citocinas. Por causa do sequestro de eritrócitos parasitados na rede capilar (P. falciparum) ocorre a obstrução da microcirculação, diminuindo o fluxo de oxigênio, levando ao metabolismo anaeróbico e à acidose lática. Malária não complicada - manifestações clínicas Período de incubação: P. falciparum → 9 a 14 dias. P. vivax → 12 a 17 dias. P. malariae → 18 a 40 dias. A crise aguda se caracteriza por episódios de calafrios, febre e sudorese, durando até 12 horas com temperatura superior a 40 ºC e podendo estar acompanhado por cefaleia, cansaço, mialgia, náuseas e vômitos. O ataque paroxístico coincide com a ruptura das hemácias, acompanhado por calafrios e sudorese. Após os primeiros paroxismos, a febre pode passar a ser intermitente. As gestantes, as crianças e os primoinfectados estão sujeitos a maior gravidade. Malária grave e complicada – sintomas • Prostração, alteração da consciência; Thays Baiel – Parasitologia I – Medicina Unochapecó 10 • Dispneia ou hiperventilação; • Convulsões, hipotensão arterial ou choque; • Edema pulmonar; • Hemorragias; • Icterícia, hemoglobinúria; • Hiperpirexia (> 41°C); • Oligúria. Alterações laboratoriais • Anemia grave; • Hipoglicemia; • Acidose metabólica; • Insuficiência renal; • Hiperlactatemia; • Hiperparasitemia. Diagnóstico Clínico: sintomas inespecíficos, distribuição geográfica não homogênea, área de residência e viagens. Laboratorial: pesquisa do parasito no sangue, análise da morfologia e alterações provocadas no eritrócito infectado. Tratamento ➢ Interrupção da esquizogonia sanguínea; ➢ Destruição de formas latentes do parasito no ciclo tecidual (hipnozoítos), evitando recaídas tardias; ➢ Interrupção da transmissão do parasito, pelo uso de drogas que impedem o desenvolvimento de formas sexuadas dos parasitos (gametócitos); Principais drogas antimaláricas • Quinina, mefloquina e halofantrina; • Cloroquina e amodiaquina; • Primaquina; • Derivados da artemisinina; • Atovaquona; • Antibióticos: tetraciclina, doxiciclina e clindamicina. Amebíase Entamoeba histolytical / Entamoeba díspar → complexo de duas espécies morfologicamente idênticas; • 90% dos casos: Entamoeba díspar. Assintomático. Quadro clínico de colite não-disentérica. • 10% dos casos: Entamoeba histolytica. Forma invasiva e patogênica com alto grau de virulência. Mais frequente em regiões tropicais e subtropicais e óbito anual de 100.000 pessoas. Biologia Thays Baiel – Parasitologia I – Medicina Unochapecó 11 Os trofozoítos da Entamoeba histolytica vivem no intestino grosso, mas podem penetrar na mucosa e produzir ulcerações intestinais ou no fígado, pulmão, rim e mais raramente, no cérebro. • Possuem um núcleo esférico e vesiculoso; • Se locomovem através de pseudópodes; • Se alimentam por fagocitose e pinocitose; • Se multiplicam por divisão binária; • Possuem duas formas: Trofozoíto → forma ativa, na qual se reproduz, se alimenta e se locomove. Cisto → forma de resistência e infectante. Permanece viável durante cerca de 20 dias. Ciclo Biológico Inicia-se pela ingestão dos cistos maduros junto de alimentos e água contaminados, que passam pelo estômago, resistindo à ação do suco gástrico. Ao final do intestino delgado e início do intestino grosso ocorre o desencistamento. Então, o cisto sofre sucessivas divisões nucleares e citoplasmáticas, transformando–se em trofozoítos metacísticos, que migram para o intestino grosso e se colonizam. As vezes podem se desprender da parede, e no cólon, se transformar em pré-cistos, que transformam-se em cistos mononucleados, depois de sucessivas divisões nucleares em cistos tetranucleados, e assim são eliminados pelas fezes. A transmissão se dá pela ingestão de cistos maduros em alimentos sólidos ou líquidos e água sem tratamento. Falta de higiene. Patogenia Ulceração “botão de camisa”, resultado da necrose liquefativa iniciada pelas amebas, podendo haver invasão bacteriana secundária. Lesões mais frequentes no ceco e na região retossigmoidiana. As úlceras variam em tamanho e podem causar peritonite fecal. Manifestações clínicas ➢ Formas assintomáticas;➢ Formas sintomáticas; ➢ Amebíase intestinal: disentérica, colite não disentérica, colite necrotizante e ameboma; ➢ Amebíase extra intestinal; Thays Baiel – Parasitologia I – Medicina Unochapecó 12 ➢ Amebíase hepática: aguda não supurativa ou abscesso hepático; ➢ Amebíase cutânea; ➢ Amebíase em outros órgãos: pulmão, cérebro, rim e baço. • Colite disentérica: amebíase aguda não complicada. Sintomas como disenteria, flatulência, cólicas intestinais, tenesmo (sensação imperiosa de defecação em espasmos periódicos) e febre de intensidade moderada. • Colite não disentérica: crises diarreicas em menor número, presença de muco ou sangue com dores abdominais. • Colite necrotizante: ulcerações profundas, isquemias e hemorragias. Peritonite. Febre elevada e contínua. Evacuações contínuas com muco, sangue e pus (contaminação bacteriana das ulcerações). • Ameboma: invasão da mucosa intestinal provoca a formação granulomatosa, formando edemas e estreitamento da luz intestinal. Surtos esporádicos de diarreia, inapetência e perda de peso. • Amebíase extra intestinal: pode atingir fígado, pulmão, vísceras abdominais, cérebro e pele. Abcesso hepático amebiano. Febre alta, calafrios e sudorese. Hepatomegalia. O período de incubação varia de 7 dias até anos, mas é mais comum perdurar entre 2 a 4 semanas. Diagnóstico • Clínico: necessidade de exame de fezes e retossigmoidoscopia; • Laboratorial: realizado com fezes, soro e exsudatos. Objetiva-se encontrar trofozoítos ou cistos; • Imunológico: ELISA, imunofluorescência indireta, hemaglutinação indireta, contraimunoeletroforese, imunodifusão em gel de ágar e radioimunoensaio. Tratamento ➢ Amebicidas em atuam diretamente na luz intestinal: cloridroxiquinoleína, eritromicina e clorobetamida; ➢ Medicamentos de síntese: teclosan e etofamida; ➢ Amebicidas de ação tissular: cloridrato de emetina e diidroemetina; ➢ Amebicidas que atuam no intestino e nos tecidos: antibióticos isolados ou em associação e os derivados imidazólicos (secnidazol, tinidazol e metronidazol). Giardíase Protozoários flagelados que parasitam o intestino delgado de mamíferos, aves, répteis e anfíbios. Giardia lamblia → parasito cosmopolita. O trofozoíto possui forma ovalada, com dois ou quatro núcleos, flagelos, axonemas e corpos parabasais. Ciclo biológico É monóxeno, ou seja, com um hospedeiro apenas. Thays Baiel – Parasitologia I – Medicina Unochapecó 13 Infecta os humanos através da ingestão de cistos. Estes são muito resistentes, permanecem viáveis por até dois meses no meio exterior. O desencistamento inicia no meio ácido do estômago e se completa no duodeno e jejuno. Transformam-se em trofozoítos no intestino e podem se fixar na parede duodenal através de seu disco suctorial. Os trofozoítos multiplicam-se rapidamente por divisão binária longitudinal. O ciclo de completa pelo encistamento do parasito e sua eliminação para o meio exterior. A eliminação dos cistos não é contínua, por isso, os exames parasitológicos de fezes pode ser falso- positivo. Transmissão Via fecal- oral, através da ingestão de cistos em água, alimentos e ambiente contaminado com fezes. Transmissão direta de pessoa (mãos contaminadas) → creches, escolas, asilos, orfanatos e presídios. Sintomatologia Maioria das infecções é assintomática; Em 50% dos indivíduos é resolvida de forma espontânea; Em 5% a 15% o indivíduo pode eliminar cistos por até seis meses; Primoinfecção: diarreia, gases, distensão e dores abdominais. Crianças: esteatorreia (gordura nas fezes), perda de peso e problemas de má-absorção de gorduras e nutrientes. Comprometimento do desenvolvimento físico e infantil. Diagnóstico • Clínico: diarreia com esteatorreia, irritabilidade, insônia, náuseas, vômitos, perda de apetite, dor abdominal. • Laboratorial: parasitológico (exame de fezes). • Imunológico: imunofluorescência indireta, ELISA, PCR (técnica recente do reconhecimento do DNA da Giardia). Tratamento ➢ Compostos derivados dos 5-nitroimidazóis: metronidazol, tinidazol, ornidazol, secnidazol; ➢ Derivados dos nitrofuranos: furazolidina; ➢ Derivados dos benzimidazóis: albendazol; ➢ Derivados dos 5-nitrotiazóis: nitazoxanida. Tricomoníase Trichomonas vaginalis: patogênica; Trichomonas tenax: não patogênico, cavidade bucal humana, de macacos e de chipanzés; Trichomonas hominis: não patogênico, trato intestinal humano. Thays Baiel – Parasitologia I – Medicina Unochapecó 14 Morfologia Possui uma célula polimorfa; Os espécimes são elipsóides ou ovais, alguns apresentam forma esférica; Não há formação de cistos, somente estágio de trofozoítos; É um parasito extracelular; São organismos anaeróbios facultativos, infectam o trato geniturinário de homens e mulheres; É uma doença venérea; Se instalam no sítio infeccioso a partir de mudanças no pH vaginal. Promove a transmissão do vírus da imunodeficiência humana (24% das infecções por HIV são atribuídas à tricomoníase); Predispõe mulheres à doença inflamatória pélvica atípica, ao câncer cervical e à infertilidade; Sinais e sintomas Mulheres apresentam a forma assintomática no estado agudo da doença. Período de incubação de 3 a 20 dias. Desenvolvem vaginite com corrimento fluido abundante, bolhoso e odor fétido. Prurido ou irritação vulvovaginal, dispaneuria (dor no ato sexual), disúria (dor ao urinar), poliúria. Em homens é comumente assintomática. Estes apresentam uretrite com fluxo leitoso ou purulento, desconforto ao urina, hiperemia (aumento do fluxo sanguíneo para o órgão). Tratamento • Secnidazol, tinidazol, metronidazol; • Cremes imidazólicos; Helmintos são vermes que se apresentam em diversas formas, assim, são divididos em filos e classes: ➢ Filo Platyhelminthes (vermes achatados) • Classe Trematoda • Classe Monogenea • Classe Cestoda (tênias) ➢ Filo Nemathelminthes (vermes redondos) • Classe Nematoda ➢ Filo Acanthocephala (vermes com a cabeça contendo espinhos) Esquistossomose Causada pelo verme Schistosoma mansoni do filo Platyhelminthes da classe Trematoda; Conhecida popularmente por “barriga d’água”; ➢ As formas adultas se hospedam no hospedeiro definitivo → o homem; ➢ As formas intermediárias estão presentes nos caramujos gastrópodes aquáticos do gênero Biomphalaria. Inicialmente a doença é assintomática, podendo evoluir para formar clínicas graves e levar o paciente a óbito. Morfologia Thays Baiel – Parasitologia I – Medicina Unochapecó 15 Schistosoma mansoni → adulto (macho e fêmea) → ovos → miracídio → esporocisto → cercária. Ciclo biológico • O homem abriga o Schistosoma mansoni durante sua fase de reprodução sexuada, e elimina os ovos do verme nas fezes; • Ao entrarem em contato com a água, os ovos eclodem e liberam as larvas miracídio que infectam os caramujos (de água doce); • É no caramujo Biomphalaria que ocorre a fase de reprodução assexuada do helminto; • Após 4 semanas, as larvas cercárias abandonam o caramujo e ficam livres na água; • O homem entra em contato com água contaminada contendo cercárias, e estas penetram em sua pele e mucosas; • Os vermes adultos vivem no sistema porta; Patogenia No local de penetração das cercárias, pode ocorrer dermatite, coceira, eritema, edema, pequenas pápulas e dor; Na fase aguda, que dura entre 50 a 120 dias, pode ocorrer enterocolite e hepatite aguda, tosse, febre, sudorese, calafrios, emagrecimento, diarreia, disenteria, cólicas, hepatoesplenomegalia discreta e linfadenia. Na fase crônica, podem surgir alterações intestinais, hepatoesplênicas ou hepatointestinais, diarreia mucosanguinolenta, dor abdominal, tenesmo, diminuição do peristaltismoe constipação constante, hipertensão portal, esplenomegalia, varizes esofagianas, ascite, comprometimento dos pulmões, insuficiência cardíaca e granulomas em pele, pâncreas, sistema nervoso. Tratamento Praziquantel, oxamniquina.
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