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Indaial – 2020 Mediação FaMiliar, escolar e coMunitária Prof.ª Isabel Maciel Mousquer 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof.ª Isabel Maciel Mousquer Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M932m Mousquer, Isabel Maciel Mediação familiar, escolar e comunitária. / Isabel Maciel Mousquer. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 180 p.; il. ISBN 978-65-5663-147-9 ISBN Digital 978-65-5663-148-6 1. Mediação. - Brasil. 2. Inclusão social. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 342.12 III apresentação Seja bem-vindo à disciplina de Mediação Familiar, Escolar e Comunitária. Como futuro profissional da área do Direito, você deverá perceber o quanto nos utilizamos das ferramentas de outras áreas. Afinal, a Mediação de Conflitos, grande área das Ciências Jurídicas e Sociais, é considerada multidisciplinar. Nesse contexto, emprestamos ferramentas da Psicologia e da Pedagogia para utilizar em nossos processos de Mediação de conflitos familiares, escolares e comunitários. Nosso objetivo é oferecer noções básicas dos aspectos históricos, culturais e sociais da família, da mediação e a resolução dos conflitos em âmbito familiar, os conflitos familiares e a atuação do mediador familiar, a escola, a família e comunidade e as diferentes técnicas de mediação escolar, de como enfrentar a violência escolar, das técnicas e modelos de mediação escolar, dos fundamentos da mediação comunitária, a mediação comunitária, da conceituação e modelos de mediação comunitária e da mediação comunitária: a democracia, o acesso à justiça e o empoderamento da comunidade. Para isso, contextualizaremos os aspectos históricos, culturais e sociais da família, abordando a importância da família na mediação familiar. Também buscaremos apresentar a história social da família e adaptações culturais, as novas configurações familiares, a conjugalidade e a parentalidade e os conflitos geracionais. Ao final desta disciplina, você deverá compreender as três espécies de mediação: a familiar, a escolar e a comunitária. Os conteúdos foram organizados em três unidades de aprendizagem. Na Unidade 1 conheceremos os aspectos históricos, culturais e sociais da família. Para tanto, compreenderemos a importância da família na mediação familiar, a história social da família e adaptações culturais, bem como as novas configurações familiares, inclusive as etapas do ciclo vital da família, a família de origem vs família nuclear e as fronteiras de comunicações familiares. Dentro do estudo dos aspectos culturais e sociais da família será abordada a conjugalidade vs parentalidade e as disfunções conjugais e parentais dos conflitos geracionais. Da mesma forma abordaremos a mediação e a resolução dos conflitos em âmbito familiar. Para isso, será necessário estudar acerca da evolução da mediação familiar no Brasil e no mundo, tratando do divórcio e do instituto Recasamento. O mediador precisa compreender os institutos do Direito de Família, abordando o eixo matrimonial: casamento, habilitação, celebração, IV impedimentos, provas, nulidade e anulação e efeitos, o regime de bens no matrimônio, da dissolução da sociedade conjugal, do reconhecimento de filhos, alimentos e adoção e da tutela e da curatela. Também serão estudados nesta mesma unidade os conflitos familiares e a atuação do mediador familiar abordando os objetivos e aplicações da mediação familiar e as formas e modelos de intervenção da mediação familiar. Na sequência será abordado a respeito dos conflitos familiares tratando da resolução dos conflitos familiares: procedimentos metodológicos, instrumentos e estratégias e, por fim, da atuação do mediador familiar. Na Unidade 2 abordaremos sobre a mediação escola. Para tanto, você aprenderá sobre a escola, a família, a comunidade e as diferentes técnicas de mediação em âmbito escolar, por isso, será estudado os aspectos históricos e conceituais, a mediação e suas implicações pedagógicas, a mediação no contexto escolar, os objetivos e a interação escolar abordando o comportamento e a socialização. Dentro do estudo sobre o enfrentamento da violência escolar, temos: as formas de combate à violência escolar, a prevenção e os modelos, o papel do mediador na escola, a escola e a comunidade, o papel da escola e da família, a educação inclusiva e a inclusão social. Acerca das técnicas de mediação escolar, tais como: as diferentes técnicas de mediação escolar, a escuta inclusiva/ativa, a estruturação das atividades: intervenções, sessões e fases, o rapport (empatia), o tratamento equânime das partes e a assertividade do facilitador/mediador escolar, a credibilidade e a confiança necessárias ao mediador na mediação escolar, a criatividade do mediador: a produção, avaliação e seleção de ideias. Os modelos de mediação escolar: a mediação entre pares ou mediação mirim (peer mediation), a mediação em rede, a mediação professores-alunos e os círculos restaurativos/justiça restaurativa. Na Unidade 3 focaremos o estudo nos fundamentos da mediação comunitária. Para tanto, você compreenderá os aspectos históricos da mediação comunitária, a inserção da mediação comunitária no conflito, os objetivos da mediação comunitária, as limitações da mediação comunitária. Dentro do estudo sobre a conceituação e os modelos de mediação comunitária, o princípio da solidariedade e da dignidade da pessoa humana e a mediação comunitária, o exercício da cidadania e a mediação comunitária, os modelos da mediação comunitária e sua aplicabilidade. Acerca da mediação comunitária: a mediação comunitária como forma de efetivação da democracia, o acesso à justiça no contexto da mediação comunitária e o empoderamento da comunidade por intermédio da mediação comunitária. A cada unidade você será convidado a praticar exercícios que ajudarão no processo de ensino e aprendizagem. Bons estudos! Profª Isabel Maciel Mousquer V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA VI VII Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiaiscomplementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE VIII IX UNIDADE 1 – ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA .................1 TÓPICO 1 – ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA .....................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 HISTÓRIA SOCIAL DA FAMÍLIA E ADAPTAÇÕES CULTURAIS ...........................................3 3 AS NOVAS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES ...............................................................................4 3.1 AS ETAPAS DO CICLO VITAL DA FAMÍLIA ............................................................................10 3.2 FAMÍLIA DE ORIGEM X FAMÍLIA NUCLEAR .........................................................................11 3.3 AS FRONTEIRAS DE COMUNICAÇÕES FAMILIARES .........................................................12 4 CONJUGALIDADE X PARENTALIDADE ....................................................................................13 4.1 DISFUNÇÕES CONJUGAIS E PARENTAIS ............................................................................14 5 DOS CONFLITOS GERACIONAIS ...............................................................................................16 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................19 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................21 TÓPICO 2 – A MEDIAÇÃO E A RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS EM ÂMBITO FAMILIAR ..........................................................................................................................25 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................25 2 EVOLUÇÃO DA MEDIAÇÃO FAMILIAR NO BRASIL E NO MUNDO ...............................25 3 O DIVÓRCIO E O RECASAMENTO ..............................................................................................26 4 O DIREITO DE FAMÍLIA ..................................................................................................................28 4.1 EIXO MATRIMONIAL: CASAMENTO, HABILITAÇÃO, CELEBRAÇÃO, IMPEDIMENTOS, PROVAS, NULIDADE E ANULAÇÃO E EFEITOS ..................................29 4.2 O REGIME DE BENS NO MATRIMÔNIO .................................................................................36 4.3 DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL ...................................................................39 4.4 DO RECONHECIMENTO DE FILHOS, ALIMENTOS E ADOÇÃO ......................................40 4.5 DA TUTELA E DA CURATELA ..................................................................................................42 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................43 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................46 TÓPICO 3 – OS CONFLITOS FAMILIARES E A ATUAÇÃO DO MEDIADOR FAMILIAR ..........................................................................................................................49 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................49 2 DOS OBJETIVOS E APLICAÇÕES DA MEDIAÇÃO FAMILIAR ...........................................49 3 AS FORMAS E MODELOS DE INTERVENÇÃO DA MEDIAÇÃO FAMILIAR ..................50 4 DOS CONFLITOS FAMILIARES ...................................................................................................52 4.1 DA RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS FAMILIARES: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS, INSTRUMENTOS E ESTRATÉGIAS .....................................................53 4.2 A ATUAÇÃO DO MEDIADOR FAMILIAR ...............................................................................56 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................58 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................62 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................64 suMário X UNIDADE 2 – A ESCOLA, A FAMÍLIA, A COMUNIDADE E AS DIFERENTES TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO ESCOLAR .................................................................67 TÓPICO 1 – A MEDIAÇÃO ESCOLAR ..............................................................................................69 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................69 2 BREVES ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DA MEDIAÇÃO ESCOLAR ..........69 3 CONCEITUANDO A MEDIAÇÃO ESCOLAR ..............................................................................71 3.1 A MEDIAÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS .......................................................73 3.2 A MEDIAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR ...............................................................................74 3.3 OBJETIVOS DA MEDIAÇÃO ESCOLAR ...................................................................................75 4 A INTERAÇÃO ESCOLAR: COMPORTAMENTO E SOCIALIZAÇÃO ..................................76 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................78 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................80 TÓPICO 2 – COMO ENFRENTAR A VIOLÊNCIA ESCOLAR? ....................................................83 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................83 2 FORMAS DE COMBATE À VIOLÊNCIA ESCOLAR: PREVENÇÃO E MODELOS .............83 3 O PAPEL DO MEDIADOR NA ESCOLA ......................................................................................84 4 A ESCOLA E A COMUNIDADE .......................................................................................................86 5 O PAPEL DA ESCOLA E DA FAMÍLIA ..........................................................................................87 5.1 POR UMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA .........................................................................................90 5.2 A INCLUSÃO SOCIAL ...................................................................................................................92 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................94 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................96 TÓPICO 3 – AS TÉCNICAS E OS MODELOS DE MEDIAÇÃO ESCOLAR .............................99 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................99 2 AS DIFERENTES TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO ESCOLAR ........................................................99 2.1 A ESCUTA INCLUSIVA/ATIVA ...................................................................................................99 2.2 ESTRUTURANDO AS ATIVIDADES: INTERVENÇÕES, SESSÕES E FASES ....................100 2.3 O RAPPORT (EMPATIA) ..............................................................................................................1012.4 DO TRATAMENTO EQUÂNIME DAS PARTES E DA ASSERTIVIDADE DO FACILITADOR/MEDIADOR ESCOLAR ....................................................................................102 2.5 DA CREDIBILIDADE E CONFIANÇA NECESSÁRIAS AO MEDIADOR NA MEDIAÇÃO ESCOLAR ...............................................................................................................103 2.6 DA CRIATIVIDADE DO MEDIADOR: PRODUÇÃO, AVALIAÇÃO E SELEÇÃO DE IDEIAS .....................................................................................................................................104 3 MODELOS DE MEDIAÇÃO ESCOLAR: MEDIAÇÃO ENTRE PARES OU MEDIAÇÃO MIRIM (PEER MEDIATION), MEDIAÇÃO EM REDE, MEDIAÇÃO PROFESSORES- ALUNOS E OS CÍRCULOS RESTAURATIVOS/JUSTIÇA RESTAURATIVA .....................105 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................110 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................115 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................117 UNIDADE 3 – OS FUNDAMENTOS DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA ................................119 TÓPICO 1 – A MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA ................................................................................121 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................121 2 BREVE HISTÓRICO DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA ........................................................121 XI 3 A INSERÇÃO DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA NO CONFLITO .......................................123 3.1 OBJETIVOS DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA .....................................................................125 3.2 LIMITAÇÃO DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA ....................................................................127 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................129 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................131 TÓPICO 2 – CONCEITUAÇÃO E MODELOS DE MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA ................133 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................133 2 CONCEITUAÇÃO DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA .............................................................133 3 O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE E DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA ................................................................................................135 4 O EXERCÍCIO DA CIDADANIA E A MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA ..................................138 5 DOS MODELOS DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA E SUA APLICABILIDADE ...............142 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................147 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................149 TÓPICO 3 – MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA: DEMOCRACIA, ACESSO À JUSTIÇA E O EMPODERAMENTO DA COMUNIDADE ..........................................................151 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................151 2 A MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA COMO FORMA DE EFETIVAÇÃO DA DEMOCRACIA ..................................................................................................................................151 3 O ACESSO À JUSTIÇA NO CONTEXTO DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA .....................152 4 O EMPODERAMENTO DA COMUNIDADE POR INTERMÉDIO DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA ...............................................................................................................................155 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................159 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................164 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................166 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................169 XII 1 UNIDADE 1 ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • aprender sobre os aspectos históricos, culturais e sociais da família; • entender a importância da família na mediação familiar; • identificar em âmbito familiar a utilização da mediação e a resolução dos conflitos; • compreender os conflitos familiares e a atuação do mediador familiar. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA MEDIAÇÃO FAMILIAR TÓPICO 2 – A MEDIAÇÃO E A RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS EM ÂMBITO FAMILIAR TÓPICO 3 – OS CONFLITOS FAMILIARES E A ATUAÇÃO DO MEDIADOR FAMILIAR Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, você irá aprender sobre os aspectos históricos, culturais e sociais da família. Para tanto, compreenderá a importância do estudo da família na mediação familiar, na história social da família e as adaptações culturais, bem como as novas configurações familiares, inclusive as etapas do ciclo vital da família, a família de origem vs família nuclear e as fronteiras de comunicações familiares. Dentro do estudo dos aspectos culturais e sociais da família, será abordada a conjugalidade vs parentalidade e as disfunções conjugais e parentais dos conflitos geracionais. 2 HISTÓRIA SOCIAL DA FAMÍLIA E ADAPTAÇÕES CULTURAIS A história social da família e suas adaptações culturais sofridas ao longo da história tiveram início de modo tradicional no período do Brasil Colonial. Nela, poderia ser visto a presença do pátrio poder exercido pelo patriarca, comumente o marido, perante esposa e filhos, sendo seu objetivo a procriação, mas guardava também funções religiosas e políticas. Esse era o retrato da família patriarcal (LÔBO, 2011). Além da família patriarcal outras foram surgindo e merecem destaque, tais como: união estável ou informal, família homoafetiva, paralelas ou simultâneas, família poliafetiva, família monoparental, família parental ou anaparental, família composta, pluriparental ou mosaico, família natural, extensa ou ampliada, família substituta, família eudemonista (DIAS, 2015). UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 4 FIGURA 1 – FAMÍLIA FONTE: <https://www.urbanarts.com.br/familia-vida-amor-quadrado-70026/p>. Acesso em: 6 jan. 2019. 3 AS NOVAS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES A família é o instituto mais antigo da humanidade e surgiu muito antes da possibilidade de o homem passar a viver em bandos por causa do casamento e/ou de um antepassado comum. Não foi, portanto, nem o Estado nem o Direito que criaram a família, pois foi esta que criou o Estado e o Direito, como sugere a famosa frase de Rui Barbosa: “A pátria é a família amplificada”. Como a primeira base da organização social, a família deve ser tutelada pelo ordenamento jurídico vigente” (MACHADO, 2000, p. 2). Após a análise dessa concepçãoinicial de família como centro do Estado, é necessário direcionarmos o estudo e a compreensão da temática a fim de estabelecermos as balizas conceituais próprias, ressaltando que ela não é um conceito exato, mas cíclico, sofrendo alterações à maneira que mudam os valores sociais e seus fatores. TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 5 Quanto às novas configurações familiares, podemos citar: NOTA • Família Extensa/ampliada: formada pela base familiar como parentes diretos (pais, irmãos, tios, avós e primos) e colaterais (que não possuem laços consanguíneos); paralelo com a família nuclear. • Família ou União Homoafetiva: contituída pela união de pessoas do mesmo sexo; os movimentos sociais tiveram uma contribuição para que essas famílias fossem reconhecidas como tais e gerando um reconhecimento de que elas possam inclusive adotar. • Família Eudemonista: várias pessoas que vivem juntas, sem laços consanguíneos, mas com forte comprometimento mútuo. • Família Anaparental: possui vínculo de parentesco, mas não relação de ascendência e descendência. Ex.: 2 irmãos que moram juntos. FONTE: https://player.slideplayer.com.br/89/14242481/slides/slide_9.jpg. Acesso em: 6 jan. 2020. O doutrinador Sílvio de Salvo Venosa (2013, p. 20), em um conceito restritivo leciona que “família compreende somente o núcleo formado por pais e filhos que vivem sob o pátrio poder” e, em um conceito amplo, “é o conjunto de pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar”. Analisando o conceito legal de família em sentido lato, temos o texto constante no Capítulo VII, da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso, merecendo destaque o artigo 226, caput, e os § 3º, 4º e 5º: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher (BRASIL, 1988). Nesse sentido, mas sob outra perspectiva, Maria Helena Diniz (2008, p. 23-24), assevera: “todos os indivíduos que estiverem ligados pelo vínculo da consanguinidade ou da afinidade, chegando a incluir estranhos”. Cabe ressaltar, entretanto, que a conceituação de família não é a mesma de quando foi promulgada a Constituição de 1988 e o Código Civil de 2002, pois os novos rearranjos sociais e culturais permitiram que novas espécies de famílias diversas da patriarcal viessem a surgir, mas de igual modo protegidas pela norma. Vamos estudar um pouco cada uma delas. UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 6 O estudo dos diferentes tipos de famílias iniciará pela família patriarcal, a qual consiste em um modelo herdado no período do Brasil Colônia e continuou existindo, inclusive no século XX, como grande parte do modo como eram constituídos os núcleos familiares, persistindo ainda hoje. Ela possui como característica preponderante a existência do matrimônio, realizado por um juiz, e a presença do chefe e/ou patriarca como sendo o esposo e pai dos filhos ali havidos, capaz de deter o pátrio poder, tendo aspectos políticos e religiosos muito definidos (LÔBO, 2011). Esses aspectos acerca do casamento estão presentes no Código Civil de 2002, no Livro IV, do Direito de Família, no Título I, do Direito Pessoal, no subtítulo do Casamento, do Capítulo I das Disposições Gerais, especificamente no artigo 1514: “O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados” (BRASIL, 2002). Diferentemente do texto contido na Constituição da República Federativa do Brasil, o § 5º do artigo 226 preconiza a necessidade da existência de igualdade entre os cônjuges na sociedade conjugal: “§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher” (BRASIL, 1988). Outro tipo de família que merece estudo é aquela constituída por intermédio de uma união estável ou informal, a qual consiste naquela em que há uma relação de afeto pública, duradoura com o objetivo de constituir família entre duas pessoas, sendo reconhecida pela Constituição Federal no § 3º do artigo 226: “para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento” (BRASIL, 1988). Ela é amplamente abordada pelo Código Civil de 2002, no Título III da União Estável, principalmente nos artigos 1723 ao 1727, merecendo destaque os artigos 1723 e 1727: Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. Art. 1.724. As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos (BRASIL, 2002). Para tanto, existem alguns critérios para a configuração da união estável, pois não basta somente ter filhos e/ou ter um relacionamento, é necessário provar a constituição familiar e a relação ser algo público. O Direito evoluiu no entendimento a respeito das entidades familiares, pois os filhos havidos fora do casamento, também foram reconhecidos pelo texto constitucional. TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 7 Assim, filhos ilegítimos, naturais, espúrios, bastardos, nenhum direito possuíam, sendo condenados à invisibilidade. Tal ojeriza, entretanto, não coibiu os egressos de casamentos desfeitos constituírem novas famílias, mesmo sem respaldo legal. Quando o rompimento dessas uniões, seus partícipes começaram a bater às portas do judiciário. Viram-se os juízes forçados a criar alternativas para evitar flagrantes injustiças, tendo sido cunhada a expressão companheira, como forma de contornar as proibições para o reconhecimento dos direitos banidos pela lei à concubina. Essas estruturas familiares, ainda que rejeitadas pela lei, acabaram aceitas pela sociedade, fazendo com que a Constituição as albergasse no conceito ele entidade familiar (DIAS, 2015, p. 140). Cabe ressaltar sua aplicação de modo extensivo às relações homoafetivas. O importante é que qualquer forma de constituição de família e/ou de relacionamento precisa ser saudável e baseada no respeito mútuo. Outra espécie de família que merece destaque é a homoafetiva, formada pela união de dois indivíduos do mesmo sexo, nele compreendido também o conceito de gênero. Considerada como entidade familiar, ela alcançou esse reconhecimento pela jurisprudência e pelo Supremo Tribunal Federal (STF) quando do julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI 4.277 e da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF 132, da qual foi relator o Min. Ayres Britto, com efeito vinculante, portanto, precisa ser observada pelo Poder Judiciário. A sociedade que se proclama defensora da igualdade é a mesma que ainda mantém uma posição discriminatória nas questões da homossexualidade. Nítida é a rejeição social à livre orientação sexual. A homossexualidade existe e sempre existiu, mas é marcada pelo estigma social, sendo renegada à marginalidade por se afastar dos padrões de comportamento convencional. O núcleo do atual sistema jurídico é o respeito à dignidade humana, atentando nos princípios da liberdade e da igualdade. A identificação da orientação sexual está condicionada à identificação do sexo da pessoa escolhida com relação a quem escolhe, e tal escolha não pode ser alvo de tratamento diferenciado. Se todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, aí está incluída, poróbvio, a orientação sexual que se tenha (DIAS, 2012, p. 5-6). Atualmente, as uniões homoafetivas e a adoção de crianças por casais homoafetivos têm aumentado e mostram um avanço na conquista desses direitos. Também merece ser objeto de análise as famílias paralelas ou simultâneas, as quais são constituídas ao mesmo tempo que o casamento, ou seja, um dos cônjuges constitui uma outra família. Dessa forma, pode tratar-se de um casamento simultâneo a uma ou mais uniões estáveis, ou mais de uma união estável concomitante. UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 8 Famílias paralelas ou simultâneas são as constituídas por dois ou mais núcleos familiares, com um de seus membros comuns a ambas, podendo existir no casamento como na união estável. Portanto, encampando foi nesta família o concubinato, antigo concubinato impuro. Não se confunde famílias paralelas ou simultâneas, cada uma possuindo domicílio diferente, com poliamorismo. Desse modo, nas famílias paralelas há dois ou mais núcleos familiares, com um membro comum. Por isso mesmo rotulada também de entidades familiares simultâneas. No poliamorismo há ocorrência de relação afetiva entre todos os seus membros, formando tão somente uma única célula familiar (CARVALHO, 2018, s.p.). Nessa mesma esteira, existem as denominadas famílias poliafetivas, que são aquelas formadas por três ou mais indivíduos, tanto homens quanto mulheres, reunidos por laços afetivos e/ou sexuais. Assim, a união poliafetiva, constituída de três ou mais pessoas, carece totalmente de reconhecimento e proteção legal para seus membros. A jurisprudência dos Tribunais estaduais vem encampando, infelizmente com certa resistência do STJ, tanto a união poliafetiva como as famílias simultâneas ou paralelas (CARVALHO, 2018, s.p.). Em nosso país, não há previsão na norma acerca dessas duas espécies de família anteriormente citadas, apenas restando o reconhecimento delas pelas jurisprudências dos tribunais. A próxima espécie de família a ser tratada é a monoparental, a qual é formada pela presença apenas de um dos genitores, podendo ser o pai ou a mãe e dos filhos. Em comparação aos anos anteriores, desde 2008 esse tipo de configuração familiar tem aumentado, passando de 22% para 34,9%, representando mais de um terço das famílias (LÔBO, 2011). Essa espécie de família também encontrou respaldo no texto constitucional, em especial no §4º do artigo 226: “Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes” (BRASIL, 1988, s.p.). Ainda, podemos comentar sobre a família do tipo parental ou anaparental, que é aquela que se constitui pelos laços da convivência e do afeto, podendo possuir os indivíduos parentesco ou não. Entretanto, eles não possuem ascendência e/ou descendência entre si. A família anaparental é a família sem pai e sem mãe. Pais morreram e os filhos têm por tutores os avós. Estes novos arranjos são as denominadas famílias socioafetivas, que se fundam no afeto, dedicação, carinho e ajuda mútua, transformando estas convivências em verdadeiras entidades familiares. Essa realidade é crescente no Brasil, mas não ganhou a devida atenção dos estudiosos do direito e nem do próprio Estado. Muitos irmãos passam a conviver juntos após o falecimento de seus pais, um cuidando do outro, formando por esforço mútuo TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 9 patrimônio comum sem possuir, em tese, a mesma proteção estatal das famílias do rol do artigo 226 da Constituição Federal, já citado acima (GODINHO, 2018, s.p.). Diferentemente, a denominada família composta, pluriparental ou mosaico, é aquela que é (re)composta entre um indivíduo que já possuía uma família de um primeiro relacionamento e acaba levando para aquela nova relação os seus filhos, e seu atual também possui filhos de um casamento anterior, por exemplo, passando esses entes a formarem uma nova entidade familiar caracterizada pelo afeto (RANGEL, 2013). Outra modalidade de entidade familiar é a família natural, a qual encontra previsão legal no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, na seção II, da família natural, no artigo 25. Ela pode ser entendida como: “Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes” (BRASIL, 1990). A família natural pode compreendida como aquela em que os indivíduos possuem laços sanguíneos, biológico e/ou nucleares. Já a família extensa ou ampliada é aquela formada não pelos pais, mas pelos parentes próximos, e encontra previsão legal no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, na seção II, da família natural, no § único do artigo 25: Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade (BRASIL, 1990, s.p.). Para esse tipo de entidade familiar, a norma ressaltou a existência dos vínculos e da convivência enquanto a denominada família substituta traz a possibilidade de colocação da criança ou adolescente em uma nova família (substituta), anteriormente presente no cadastro de adoção, a qual se dará por intermédio da guarda, tutela ou adoção. Ela tem previsão legal também no ECA, na seção III, da família substituta, da subseção I, disposições gerais, no artigo 28: “A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei” (BRASIL, 1990, s.p.). Ainda, resta estudar a família eudemonista, aquela em que se sobressai o afeto e não a consanguinidade, sendo baseada na felicidade e no afeto. Leciona Maria Berenice Dias (2015, p. 144): “A busca da felicidade, a supremacia do amor, a vitória da solidariedade, ensejam o reconhecimento do afeto como único modo eficaz de definição da família e de preservação da vida”. Por fim, é possível constatar que a família já passou por inúmeras mudanças conceituais e estruturais. Contudo, alguns requisitos não poderão deixar de estar presentes: a afetividade e o respeito. UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 10 Na Constituição da República Federativa de 1988, podemos, literalmente, identificar o seguinte: 1) O casamento civil; 2) A união estável; 3) A família monoparental. Contudo, são admitidas em respeito aos princípios constitucionais outras entidades familiares: 1) Família anaparental: sem os genitores; 2) Família homoafetiva: constituída por indivíduos do mesmo sexo/gênero; 3) Família mosaico ou pluriparental: decorrente de vários casamentos, uniões estáveis ou relacionamentos dos membros; 4) Família matrimonial: união entre homem e mulher e filhos; 5) Família informal: união de fato reconhecida pelo Estado; 6) Família monoparental: constituída por apenas um dos genitores e filhos; 7) Família paralela, simultâneas, plúrimas, múltiplas: quando um dos indivíduos passa a compor concomitantemente duas ou mais entidades familiares diferentes entre si; 8) Família eudemonista: baseada nas relações de afeto. IMPORTANT E 3.1 AS ETAPAS DO CICLO VITAL DA FAMÍLIA A entidade familiar, desde sua constituição, passa por transformações em seu desenvolvimento com intuito de cumprir algumas tarefas que lhe são específicas, as quais são chamadas de ciclo vital e formam as características de suas etapas. O ciclo vital familiar tem quatro fases: a fase de aquisição, a fase adolescente, a fase madura e a fase última (DONATO; BALIEIRO, 2013, p. 2). A fase da aquisição é aquela inicial, “em que ocorre a conquista e a escolha do parceiro, um possível casamento e/ou união estável”. A fase adolescente “é marcada pela amizade e pelos grupos de amigos, sendo também uma fase de descobertas como a da sexualidade, mas por outro lado é momento de conflitos, principalmentecom os pais” (DONATO; BALIEIRO, 2013, p. 2). A próxima fase é a madura ou do desenvolvimento da entidade familiar. É a fase na qual os pais sentem falta dos filhos no lar, ou seja, no ninho, pois eles, nesse momento, já saíram da casa dos seus pais para gerirem suas próprias vidas, restando em casa, na maioria das vezes, somente o casal. A fase madura possui relação com a “síndrome do ninho vazio”, caracterizada pela saída dos filhos de casa. Nessa fase, a relação familiar passa novamente por mudanças e, para o casal, é importante que este processo seja vivenciado de forma amena e compreensível, já que se trata de um momento dentro do ciclo vital da família, uma vez que o casamento muda de função em decorrência da ausência dos filhos. Essa fase também está relacionada com a chegada dos netos e preocupações quanto ao futuro destes (DONATO; BALIEIRO, 2013, p. 2-3). TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 11 Na denominada fase última, os pais realizam uma retrospectiva daquilo que já viveram. Há “uma inversão de papéis entre pais e filhos, pois a partir daqui os filhos é que passam a cuidar dos pais devido a possíveis problemas de saúde” (DONATO; BALIEIRO, 2013, p. 3). Entretanto, alguns colocam os genitores em asilos e casas de repouso, provocando tristeza, depressão e até a morte. 3.2 FAMÍLIA DE ORIGEM X FAMÍLIA NUCLEAR FIGURA 2 – O QUE É FAMÍLIA NUCLEAR? FONTE: https://todaatual.com/wp-content/uploads/familia-1-1.jpg. Acesso em: 6 jan. 2020. A família de origem é tida como aquela da qual advém um dos cônjuges, que irá formar, após o casamento com outrem, uma outra espécie de família denominada família nuclear. Outra espécie de família, objeto de estudo, é a família nuclear. Historicamente, nesse tipo de família, a mulher é tida como aquela figura encarregada de cuidar do lar e dos filhos. Posteriormente, no final do século, a influência da burguesia industrial europeia atuaria no sentido inverso, levando a mulher para dentro de casa, para ser a "rainha do lar”. Na família nuclear brasileira, historicamente falando, quando seus componentes se casavam, constituíam sua própria família em outro domicílio. Eram raros os casais que agrupavam genros, noras e netos em torno de seus filhos casados, o que nos leva a crer que, na família nuclear, diferentemente da patriarcal, não havia um total poder de mando por parte do chefe da família. Se o comando do lar era responsabilidade da mulher, pois esta deveria administrar o lar e educar os filhos, a ausência do homem era comum em seu domicílio, devido a sua dedicação aos negócios, o que acabava diminuindo-lhe a autoridade paterna (ALVES, 2009, p. 8). Na família nuclear, o chefe da família é o homem, restando a ele o sustento da família, já a figura feminina, a mulher, possui caráter reprodutivo e de cuidadora da casa e dos filhos. UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 12 Um desdobramento familiar disseminado e mais conhecido é o desdobramento nuclear. Este tipo de família é composto por um homem e uma mulher e se baseia no casamento (união estável e econômica, socialmente sancionada, e presumivelmente de longa duração, entre um homem e uma mulher). Na família nuclear tradicional, o chefe da família é quem concentra o poder, e os outros membros da família são subordinados a ele. Já a mulher possui as tarefas reprodutivas, como a reprodução biológica (gravidez), reprodução cotidiana (tarefas domésticas) e a reprodução social (socialização dos filhos. Esse tipo de família provém do modelo patriarcal. O modelo de família patriarcal é baseado na hierarquia. A figura principal é a do “pater famílias”, ao qual todos devem respeito e obediência. Assim, a mulher é subordinada ao poder do seu marido e os filhos subordinados ao poder do pai (PIZZI, 2012, p. 3-4). Com a evolução e ascensão histórica da mulher na sociedade, esse tipo de entidade familiar com o passar do tempo foi perdendo espaço, pois a mulher passou a trabalhar fora para ajudar no sustento da casa e dos filhos e a dividir direitos e deveres na administração do lar e na educação dos descendentes. 3.3 AS FRONTEIRAS DE COMUNICAÇÕES FAMILIARES A comunicação familiar é essencial para a construção e manutenção das relações pessoais em todas as áreas de nossas vidas, principalmente na família, entretanto, podem ocorrer alguns ruídos ou falhas de comunicação ocasionando desentendimentos e até distanciamentos: A partir do nosso modo de comunicação, poderemos dar vida ou sufocar e até matar nossos relacionamentos. Dependendo da forma como nos comunicamos com a nossa família, construiremos, ou não, pontes de cooperação, respeito e amor, que nos possibilitarão o acesso a uma convivência calorosa, saudável e harmoniosa (MACHADO, 2015, s.p.). Há aspectos da comunicação familiar que precisam ser observados e respeitados, já que constituem fronteiras dessa comunicação. Um deles é o uso excessivo da tecnologia ao invés da comunicação pessoal, pois cada vez mais as famílias estão se comunicando por intermédio dos computadores e telefones. Assim, aquela conversa em família ao redor da mesa durante as refeições foi substituída pela conversa por aplicativos. Vivemos na era da tecnologia e da comunicação. Apesar disso, nunca se observou tanta falta de comunicação entre as pessoas. Nos lares, a família passou a se comunicar mais por telefones e computadores. Tem sido comum, pais e filhos passarem horas em bate-papo virtual, disponibilizando pouco ou nenhum tempo para seus relacionamentos pessoais. Não são capazes de passarem cinco minutos numa conversa à mesa, desfrutando os benefícios desse encontro (MACHADO, 2015, s.p.). TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 13 A principal fronteira de comunicação está nas famílias que possuem filhos na fase da adolescência, a fase natural de conflitos, inclusive internos, pois nela ocorre um distanciamento somado a um enfrentamento com os genitores, A adolescência é uma fase de emoções intensas, na qual o sujeito está em busca da consolidação da sua própria identidade. Como uma das primeiras manifestações deste processo, ocorre o afastamento da família de origem e um maior envolvimento com o grupo de iguais. Esse afastamento das figuras parentais, em muitos momentos, pode tomar a forma de rebeldia, mesmo quando não existem motivos aparentes para isso (WAGNER et al., 2002, p. 75). Outra fronteira de comunicação que pode ocorrer é a falta de diálogo no casamento, o silêncio ou o exercício da comunicação violenta, pois ela leva a perda da comunicação pela ruptura de laços e até ao divórcio. Depreende de tudo isso que é necessário haver mais proximidade na família a fim de estreitar laços, somente assim será construído um ambiente harmonioso. 4 CONJUGALIDADE X PARENTALIDADE A conjugalidade consiste na construção de vínculos afetivos entre o casal, fazendo brotar o um terceiro elemento à relação conjugal. O termo aparece como um neologismo da palavra conjugar, que dá a ideia de união, de ligação entre duas pessoas, sem, necessariamente, a existência de um contrato formal entre elas. O surgimento de neologismos como conjugalidade se deve, em parte, às amplas e profundas transformações sociais e culturais pelas quais vem passando a família na atualidade (DIEHL, 2002, p. 138). Abreu (2005, p. 23) ensina acerca dos novos arranjos matrimoniais que eles: “fazem parte de um contexto social em reorganização”, e prossegue, “o casal contemporâneo depara-se com uma série de possibilidades de viver a sua conjugalidade, muitas delas que em nada se aproximam com o que costumamos chamar de casamento tradicional”. FIGURA 3 – CONJUGALIDADE FONTE: <https://rivigrupo.files.wordpress.com/2016/06/habilidades-sociais-e-satisfac3a7c3a3o- conjugal-um-estudo-correlacional.jpg>. Acesso em: 6 jan. 2020. UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 14 Percebemos que, ao longo dahistória, o casal mudou seus ideais e percepções quanto ao relacionamento e à construção de uma família, pois a prioridade hoje não é somente ter descendentes, mas está na busca de satisfação pessoal e profissional de cada indivíduo, já que a conjugalidade implica na construção de uma identidade própria do casal, respeitando sempre a individualidade. Já a parentalidade, segundo Zornig (2010, p. 454): “é um termo relativamente recente, que começou a ser utilizado na literatura psicanalítica francesa a partir dos anos 1960 para marcar a dimensão de processo e de construção no exercício da relação dos pais com os filhos”. E, prossegue “assim, não podemos restringir a parentalidade à gestação e ao nascimento de um filho, já que as identificações feitas na infância influenciam e determinam a forma como cada um de nós poderá exercitar a parentalidade”. Nas sociedades tradicionais as relações de aliança eram estabelecidas em função do patrimônio familiar, mas a partir do século XVIII, com o discurso iluminista e com a importância do romantismo, o amor entre casais e entre pais e filhos é priorizado e as alianças conjugais passam a ser estabelecidas com base no afeto e não mais como arranjos externos, que não levavam em consideração as escolhas individuais. O amor entre pais e filhos é fortemente marcado pela noção de educação e a formação das crianças torna-se um fator importante para o desenvolvimento de um país e garantia de uma sociedade saudável. Neste contexto, as relações conjugais são mantidas no espaço privado e dependem somente do desejo de cada um dos cônjuges. No entanto, quando este casal ou indivíduo decide ter filhos, o espaço público invade o espaço privado da conjugalidade, organizando as relações de parentesco e definindo as responsabilidades dos pais e do estado em relação às crianças (ZORNIG, 2010, p. 454). Em suma, com relação à parentalidade existem alguns aspectos a serem considerados no tocante ao seu exercício, à experiência adquirida com ela e à prática, pois estão relacionados à função, às mudanças trazidas e ao procedimento. 4.1 DISFUNÇÕES CONJUGAIS E PARENTAIS As disfunções conjugais podem estar presentes em qualquer relação conjugal, pois os indivíduos, ao viverem em sociedade e ao se relacionarem entre si, estão sujeitos a vivenciarem situações conflitivas. Torna-se complexo dizer que existem famílias desestruturadas, visto que em diferentes circunstâncias ou ideais todas se estruturam de algum modo. Nesse sentido, acreditamos que existem funções justas e saudáveis que estas deveriam abraçar e que, por razões diversas, não o fazem. Conviver é um processo difícil, por mais que seja necessário. Neste trabalho de vivência conjunta, muitos saem machucados. Outros mais realizados, e estas diferenças nem sempre estão associadas às personalidades difíceis. Em grande parte, é a situação conjunta, contextual, intersubjetiva que explica determinados problemas, sendo que as personalidades são participantes nos resultados (CAVALCANTE, 2016, p. 1). TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 15 O exercício de uma comunicação não violenta é capaz de evitar desentendimentos. Contudo, os conflitos são inerentes às relações, principalmente conjugais, o que leva muitos casais a procurarem o auxílio de um profissional, de um psicólogo, psicanalista e até mesmo de um terapeuta familiar, a fim de trabalhar os conflitos e melhorar a relação entre eles. Um terapeuta familiar tem uma função essencial que é a de trabalhar o conjunto de cada família facilitando o ambiente de modo a alcançar certo equilíbrio funcional; ajudando-o a perceber que a culminância relacional, munida de saberes e disposições, precisam alterar suas tendências de julgamento. São comuns os casos de projeção, racionalização, desistência e outros mecanismos de controle da dor para alcance de satisfações, assim como são frequentes os pontos corpóreos que aparecem prejudicados em função de um psiquismo pleno de ansiedades. Necessário se torna analisarmos e ajudarmos na tomada de consciência e na decisão consciente de mudanças (CAVALCANTE, 2016, p. 1). Outro aspecto que merece ser estudado são as disfunções parentais, lembrando que parentalidade é uma espécie de relacionamento mais abrangente que a conjugalidade, pois nela temos a relação dos pais com os filhos. No decorrer dessa relação, poderá acontecer de os pais não conseguirem mais manter o relacionamento e decidirem pela separação e/ou o divórcio. Caso isso ocorra, em alguns casos, a Síndrome da Alienação Parental (SAP), pode manifestar-se como uma disfunção parental. Com o aumento do número de divórcios nos EUA na década de 70, começaram a surgir casos nos quais filhos apresentavam recusa em manter contato com o genitor não detentor da guarda. Essas crianças costumavam apresentar reações emocionais extremas de rejeição a esses genitores, o que levava o judiciário a solicitar avaliações desses casos. Para a compreensão da SAP e a dinâmica que a constitui, faz- se necessário destacar o posicionamento que os membros da relação familiar ocupam em sua consolidação. Um dos significados para o termo alienar é tornar alheio, que remete ao que não pertence a alguém (BHONA; LOURENÇO, 2011, p. 4). A prática desse tipo de disfunção parental ocorre comumente em sede de divórcio e/ou dissolução de união estável cumulada com disputa de guarda, ficando visível quando da realização de uma sessão de mediação familiar, em que um dos genitores retrata o comportamento incomum da criança ou quando um profissional, psicólogo ou psiquiatra, constata tal ocorrência após atender a mesma. Sua manifestação primária é a campanha da criança direcionada contra o genitor para denegri-lo, campanha esta sem justificativa. Isso resulta da combinação da “programação” (lavagem cerebral) realizada pelo outro genitor e da própria contribuição da criança na desqualificação do pai alienado. Quando o abuso e/ou negligência parental são UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 16 presentes, a animosidade da criança pode ser justificada e então a explicação de síndrome de alienação parental para essa hostilidade não pode ser aplicada (GARDNER, 2002, p. 95). Essa síndrome causa um distanciamento do alienado para com a criança, pois ela passa a ser manipulada emocionalmente pelo alienador por intermédio de informações que denigrem a imagem daquele genitor, fazendo ela esquecer dos aspectos positivos e da bondade daquela figura. 5 DOS CONFLITOS GERACIONAIS Antes de iniciarmos a tratar acerca da conceituação dos conflitos geracionais, é necessário conceituar o termo geração: A noção de geração é marcada por uma multiplicidade de sentidos que remetem à amplitude que tal conceito pode assumir no âmbito dos estudos da área: de gerações históricas e políticas às gerações estritamente familiares, por exemplo. Em todos os casos, de modo sumário, o que define um conjunto geracional são as experiências comuns capazes de criar laços (profundos) entre determinados indivíduos que se sentem irremediavelmente ligados por um destino comum, o que se desdobra em uma dada forma de conceber o mundo e seu lugar nele (TOMIZAKI, 2018, s.p.). Cabe destacar que cada geração possui suas particularidades, pois com a crescente tecnologia há um distanciamento real dos indivíduos, o que acarreta também uma ruptura entre as diferentes gerações. Por conta disso, jovens e crianças estão cada vez mais conectados, diferentemente dos idosos, que não possuem tamanha facilidade para lidar com as redes sociais e as mensagens eletrônicas, passando então a criar um abismo entre os mais velhos e os jovens e, por consequência, o conflito de gerações. Atualmente, o surgimento de cada geração se dá a cada dez anos, “podendo ser classificada como tradicional: anos 1920, 1930, 1940; baby boomer: anos 1950 e início dos anos 1960; geração X: anos 1970e início dos anos 1980; geração Y: fim dos anos 1980 e início dos anos 1990; geração Z: anos 2000; geração alfa: 2010” (LEOTO, 2014, p. 8-12). Dentre as características de cada geração, iniciaremos pontuando aquelas concernentes a primeira e segunda a serem estudadas, a geração tradicional e a baby boomer, nelas destacam-se: Enfrentaram as duas Grandes Guerras, são extremamente dedicados e leais; sacrificaram-se para alcançar seus objetivos; admitem recompensas tardias; são práticos e formais; adaptaram-se às atividades rotineiras; gostam de regras e burocracias; respeitam hierarquias e acreditam que o dever tem que vir antes do prazer, acreditando que o trabalho traz dignidade ao homem. São jovens TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 17 nascidos na época da “Explosão de Bebês”, fenômeno ocorrido nos Estados Unidos no final da Segunda Guerra, repetido nas guerras da Coreia e do Vietnã, ocasião em que os soldados voltaram para suas casas e conceberam filhos em uma mesma época. No Brasil, coincide com a época da ditadura militar, Jovem Guarda, Bossa Nova, Tropicália e festivais. São educados com disciplina e compromisso. São mais otimistas, puderam pensar na boa educação de seus filhos. Priorizam o trabalho, são workaholics. Valorizam a ascensão profissional. Querem ser reconhecidos pela sua experiência. Buscam um emprego rentável e estável. Hoje ocupam cargos de diretoria, gerencias, chefias nas empresas ou são do comércio. Veem o surgimento da tecnologia, por isso têm dificuldade (LEOTO, 2014, p. 8-12). As próximas gerações a serem estudadas são a geração X e a Y, sendo a primeira aquela marcada por importantes fatos históricos. Presenciaram fatos históricos importantes e foram marcados por movimentos revolucionários. No Brasil, foi o fim da ditadura militar e o movimento das “Diretas Já”. Autocentrados e extremamente independentes. Orientados às ações e resultados. Comprometidos com os seus objetivos. Sua vida é dirigida a novos desafios. Têm certa resistência à inovação. Sentem-se ameaçados diante das gerações mais novas, com mais energia e ideias avançadas, principalmente a geração Y. Primeira geração a ligar com a era da informação (LEOTO, 2014, p. 8-12). Enquanto a geração Y, dos nascidos entre o final dos anos 1980 e o início dos anos 1990, é aquela que ama a tecnologia. Seus indivíduos são multitarefas, não suportam ser controlados, não suportam burocracias, priorizam a carreira em detrimento de relacionamentos amorosos e necessitam constantemente de novas experiências e de reconhecimento periódico. Ainda sobre eles os pertencentes à Geração Y, pode-se afirmar que: Tecnologicamente superiores. Consideram-se muito especiais. Necessitam de reconhecimento periódico. Desejam crescimento rápido e continuo em sua carreira. Necessitam constantemente de novas experiências. Fazem várias tarefas ao mesmo tempo: ouvem música, navegam na internet e falam ao celular. Autônomos e individualistas. Comunicação com frases curtas e diretas. Não abrem mão de seus projetos. Preferem uma liderança por equipe, horizontal e de inclusão. Valorizam equipes mais abertas e transparentes. São impulsivos, enfrentam sem medo autoridades. São fascinados por desafios e querem fazer tudo a sua maneira. Consideram o trabalho como fonte de prazer e aprendizado. Odeiam burocracias, controle e atividades rotineiras. Gostam de horários flexíveis e atividades mais informais. Priorizam mais sua carreira e profissão em vez da vida afetiva (LEOTO, 2014, p. 8-12). Já a geração Z é tida como aquela que domina a tecnologia e possui alguns aspectos mais ressaltados que a geração Y, por exemplo, a necessidade de divulgarem nas redes sociais todos os acontecimentos pessoais a todo o instante: UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 18 Características semelhantes à “Geração Y”, mais acentuadas. Tecnologicamente mais sofisticados. Chegam a um mundo conectado, veloz e globalizado. Sem fronteiras geográficas, desapegados das raízes e aceitam mais as diferenças e minorias. Imediatistas ao extremo (fast- food). Narcisistas com aparelhos de câmera frontal fotografam e filmam a sua própria imagem (selfies). Necessidade de autoexposição (redes sociais). Valorizam sua autoestima. Precisam ser reconhecidos. A vida sem “likes” ou “views” não faz sentido. Individualistas, mas empáticos, pois vivem em comunidades virtuais. Alienação, inércia, ansiedade, intolerância, atenção seletiva, resultados imediatos, julgamentos constantes, críticos, não perseveram e têm dificuldade de tomar atitude de mudança (LEOTO, 2014, p. 8-12). E, por último, temos a geração alfa, uma geração que já nasceu digital, formada pelos filhos da geração Y/millenials: A geração alfa – formada pelos filhos dos millennials – neste aspecto. Ela será a primeira geração para qual muitos aspectos do mundo analógico parecem bem distantes de sua realidade. O mundo ao redor dos alfas, começando por seus pais, está constantemente conectado a celulares e à internet. A tecnologia é uma extensão de sua forma de conhecer o mundo. E, se sua característica principal é seu domínio do mundo digital (SALEK, 2019, s.p.). Contudo, a convivência de gerações diferentes e ao mesmo tempo tão próximas em algum dado momento fará aflorar divergências, ocasionando alguns conflitos geracionais, os quais necessitarão ser resolvidos, pois essas crises familiares precisarão ser superadas. Para isso, as diferentes gerações precisam aprender a aproveitar seus pontos convergentes e divergentes, a fim de se auxiliarem mutuamente, pois os jovens possuem o domínio de muita informação, mas pouca experiência de vida, enquanto os mais idosos detêm sabedoria por causa de suas vivências e experiências pessoais e, por outro lado, precisam de ajuda para poder lidar melhor com alguns aspectos tecnológicos. 19 Neste tópico, você aprendeu que: • A história social e cultural da família teve início de modo tradicional no período do Brasil Colonial. Nela, poderia ser visto a presença do pátrio poder exercido pelo patriarca perante esposa e filhos, sendo o objetivo dela procriação, mas guardava também funções religiosas e políticas. Esse era o retrato da família patriarcal. • Outras espécies de família foram surgindo e merecem destaque, tais como: união estável ou informal, família homoafetiva, paralelas ou simultâneas, família poliafetiva, família monoparental, família parental ou anaparental, família composta, pluriparental ou mosaico, família natural, extensa ou ampliada, família substituta e família eudemonista. Por fim, é possível constatar que a família já passou por inúmeras mudanças conceituais e estruturais, contudo alguns requisitos não poderão deixar de estar presentes: a afetividade e o respeito. • O ciclo vital familiar tem quatro fases: a fase de aquisição, a fase adolescente, a fase madura e a fase última. • A família de origem é tida como aquela da qual advém um dos cônjuges, que irá formar após o casamento com outrem uma outra espécie de família denominada família nuclear. Outra espécie de família objeto de estudo é a família nuclear, historicamente, nesse tipo de família, a mulher é tida como aquela figura encarregada de cuidar do lar e dos filhos. • A comunicação familiar é essencial para a construção e manutenção das relações pessoais em todas as áreas de nossas vidas, principalmente na família. Entretanto, podem ocorrer alguns ruídos ou falhas de comunicação, ocasionando desentendimentos e até distanciamentos. • A conjugalidade consiste na construção de vínculos afetivos entre o casal, fazendo brotar um terceiro elemento à relação conjugal. Já a parentalidade trata-se da construção da relação entre pais e filhos. • As disfunções conjugais podem estar presentes em qualquer relação conjugal, pois os indivíduos, ao viverem em sociedade e ao se relacionarem entre si, estão sujeitos a vivenciarsituações conflitivas. • No decorrer dessa relação poderá acontecer de os pais não conseguirem mais manter o relacionamento e decidirem pela separação e/ou o divórcio. Caso isso ocorra, em alguns casos, a Síndrome da Alienação Parental (SAP) pode manifestar-se como uma disfunção parental. RESUMO DO TÓPICO 1 20 • A prática desse tipo de disfunção parental ocorre comumente em sede de divórcio e/ou dissolução de união estável cumulada com disputa de guarda, ficando visível quando da realização de uma sessão de mediação familiar, em que um dos genitores retrata o comportamento incomum da criança ou quando um profissional, psicólogo ou psiquiatra, constata tal ocorrência após atendê-la. • No que concerne aos conflitos geracionais, a convivência de gerações diferentes e ao mesmo tempo tão próximas fará aflorar divergências, ocasionando alguns conflitos geracionais, os quais necessitarão serem resolvidos, pois essas crises familiares precisarão ser superadas. • As diferentes gerações precisam aprender a aproveitar seus pontos convergentes e divergentes a fim de se auxiliarem mutuamente, pois os jovens possuem o domínio de muita informação, mas pouca experiência de vida, enquanto os mais idosos detêm sabedoria por causa de suas vivências e experiências pessoais e, por outro lado, precisam de ajuda para poderem lidar melhor com alguns aspectos tecnológicos. 21 1 (INEP, 2015 – ENADE – DIREITO) A partir das informações presentes no gráfico a seguir e considerando o disposto na Lei nº 13.140/2015, avalie as afirmações a seguir: FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/600241>. Acesso em: 6 jan. 2020. AUTOATIVIDADE FONTE: <https://ogimg.infoglobo.com.br/in/16827583-e60-2c0/FT1086A/652/grafico-pais. jpg>. Acesso em: 6 jan. 2020. Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015. Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a mediação como meio de solução de controvérsias entre particulares e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública. Parágrafo único. Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia. Art. 46. A mediação poderá ser feita pela internet ou por outro meio de comunicação que permita a transação à distância, desde que as partes estejam de acordo. FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13140.htm>. Acesso em: 6 jan. 2020. 22 I- O crescimento do estoque de processos pendentes no Poder Judiciário decorre de sua constante queda de produtividade. II- A elevação anual de casos novos no sistema judicial brasileiro é uma das justificativas para o incentivo a meios alternativos de solução de controvérsias, a exemplo do previsto na referida lei. III- O parágrafo único do art. 1º dessa lei inclui no conceito de mediação a atividade de julgamento realizada por juízes de primeira instância. IV- Os particulares que desejarem recorrer à mediação para resolução de conflitos referentes ao direito patrimonial disponível poderão fazê-lo por meio de aplicativos de telefone celular, fórum digital ou rede social. É CORRETO apenas o que se afirma em: a) ( ) I. b) ( ) II. c) ( ) I e III. d) ( ) II e IV. e) ( ) III e IV. 2 (FCC, 2011 – TRT – 23º REGIÃO (MT) Na mediação transformativa, a atenção do mediador se concentra nas necessidades dos disputantes e em sua relação. Os mediadores facilitam um processo pelo qual os próprios disputantes determinam o rumo e o resultado da: FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/059ab3a2-87>. Acesso em: 6 jan. 2020. a) ( ) Lide e investem em obrigatoriamente obter um acordo, já que este é o objetivo primeiro do processo. b) ( ) Mediação, não importando se isto acabará levando a um acordo ou não. c) ( ) Disputa, em que quem tiver a opção mais aplicável ganhará prioridade no acordo urgente. d) ( ) Solução, sendo que não é objetivo, neste momento, desenvolver a consciência social de que conflito e resultados precisam ser em consenso. e) ( ) Resolução do conflito, sem que se precise considerar que cada um tem seus motivos, pois o que importa é a assunção de um encaminhamento transformativo. 3 (FCC, 2014 – TRF – 3º REGIÃO) Dentre os métodos alternativos de resolução de conflitos estão a conciliação e a mediação. Uma diferença entre ambos é que a conciliação: FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/f88f011f-10>. Acesso em: 6 jan. 2020. 23 a) ( ) Visa ao acordo para dar evolução à demanda, caminhando para as sessões de conciliação seguintes. b) ( ) Não pode ser muito rápida, pois requer o conhecimento da inter-relação das partes em conflito. c) ( ) Depende de que o conciliador nunca apresente sugestões, para não influenciar as partes no acordo. d) ( ) Conta com a habilidade do conciliador em apresentar sugestões impositivas ou vinculativas. e) ( ) Busca um acordo de forma imediata para pôr fim à controvérsia ou ao processo judicial. 4 (FUNIVERSA, 2016 – IF-AP) Os programas de educação para a resolução de conflitos mostram aos alunos a dinâmica do poder e providenciam uma compreensão básica acerca da natureza do conflito e do papel da cultura na forma de resolvê-los. No que diz respeito a esse tema, assinale a alternativa CORRETA. a) ( ) A criação de ambientes de aprendizagem seguros implica no aumento do número de suspensões e acarreta maior evasão escolar. b) ( ) O desenvolvimento pessoal e social dos alunos inclui a aprendizagem de competências de resolução de problemas, o treino das aptidões para reconhecer e lidar com as emoções, a identificação e a redução das orientações agressivas e das atribuições hostis e a utilização de estratégias construtivas em casos de conflito nas escolas e no contexto familiar e comunitário. c) ( ) A promoção de ambientes de aprendizagem construtivos consiste no aumento do rendimento dos alunos, sem preocupação com a disciplina. d) ( ) É de responsabilidade exclusiva do professor o trabalho de implementação da mediação escolar, de modo a desenvolver um conjunto de ações que permitam solucionar os conflitos entre os alunos pacificamente. e) ( ) O processo de mediação de conflitos escolares deve ser público para que os demais alunos possam aprender por meio do exemplo, cabendo ao docente apresentar as soluções para cada caso. 5 (FUNDEP, 2010 – TJ-MG) Analise as seguintes afirmativas concernentes à relação entre a família, as crianças e adolescentes e o discurso jurídico. I- Na literatura especializada sobre o tema das disputas familiares, pode-se encontrar, frequentemente, a ênfase na importância dos casais conseguirem diferenciar conjugalidade e parentalidade no processo de separação conjugal para diminuir o risco de que as crianças e adolescentes envolvidos sofram demasiadamente. II- Mesmo nos casos de violência doméstica contra a criança e ao adolescente, é importante adotar as medidas de proteção que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares, como preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069 e alterações posteriores) e como recomenda a literatura especializada, pois a família não deixa de ser o melhor ambiente para o desenvolvimento infantojuvenil. 24 III- Sabe-se que fatores como a estruturação familiar e a condição socioeconômica estão entre os determinantes dos comportamentos dos adolescentes autores de ato infracional. Contudo, os psicanalistas que abordam esses adolescentes defendem que é necessária também, a implicação de cada sujeito no ato cometido e nas suas consequências para que uma mudança de posição subjetiva possa abrir a possibilidade da não reincidência. A partir dessa análise, pode-se concluir que estão CORRETAS: a) ( ) Apenas as afirmativas I e II. b) ( ) Apenas as afirmativas I e III. c) ( ) Apenas asafirmativas II e III. d) ( ) Todas as afirmativas. 25 TÓPICO 2 A MEDIAÇÃO E A RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS EM ÂMBITO FAMILIAR UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, você irá aprender sobre a mediação e a resolução dos conflitos em âmbito familiar. Para isso, é necessário estudar acerca da evolução da mediação familiar no Brasil e no mundo, tratando do divórcio e do instituto recasamento. O mediador precisa compreender os institutos do Direito de Família, abordando o eixo matrimonial: casamento, habilitação, celebração, impedimentos, provas, nulidade e anulação e efeitos, o regime de bens no matrimônio, a dissolução da sociedade conjugal, o reconhecimento de filhos, alimentos e adoção, tutela e curatela. 2 EVOLUÇÃO DA MEDIAÇÃO FAMILIAR NO BRASIL E NO MUNDO Diferentemente da mediação tradicional, a mediação familiar no Brasil teve início mais tarde, somente por volta de 1990, com influências francesas e argentinas, mas seguindo o modelo americano: Porém, a mediação familiar começou a ser introduzida apenas na década de 1990 e seguia as vertentes argentina e francesa, sendo que a primeira seguia o modelo Norte Americano, privilegiando a negociação; e a última que foi inserida no Código de Processo Civil do país, passando, portanto, a ser inserida no ordenamento jurídico pátrio.Com o advento do Novo Código de Processo Civil de 2015 é notável que o mesmo valoriza sobremaneira a adoção de meios consensuais e pode colaborar decisivamente para o desenvolvimento de sua prática entre as pessoas, principalmente por fazer menção à mediação em várias oportunidades ao longo dos seus dispositivos, o que não tinha sido feito em nenhum código anterior. Entretanto, o mesmo só entrou em vigor em 18 de março de 2016, o que causou alguns conflitos em relação à Lei de Mediação (Lei nº 13.140), que foi publicada em 26 de junho de 2015 (LIMA, 2017, p. 24). UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 26 Os registros acerca da utilização das técnicas de mediação familiar pelo mundo são imprecisos, entretanto, há registros históricos de sua aplicabilidade em países como Grécia, Índia, China e Japão. A mediação sempre foi um instrumento utilizado para solucionar os conflitos existentes nas sociedades. Entretanto, é importante ressaltar que somente a partir do século XX é que a mediação passa a ser um sistema estruturado e, desde então, largamente institucionalizada por diversos países, tais como: França, Inglaterra, Irlanda, Japão, Noruega, Bélgica, Alemanha, dentre outros (LIMA, 2017, p. 24). Em suma, percebemos que em todos esses países nos quais a mediação foi e ainda é utilizada o objetivo maior é o de promover o diálogo entre as partes envolvidas no litígio. Para isso, o mediador precisa, além de conhecer e dominar as técnicas adequadas, saber aplicar a norma. 3 O DIVÓRCIO E O RECASAMENTO FIGURA 4 – O DIVÓRCIO FONTE: <https://direitodiario.com.br/wp-content/uploads/2017/01/o-divrcio-lio-07-para-ebd-1- 638-600x450.jpg>. Acesso em: 6 jan. 2020. A partir do momento em que um casamento não pode mais prosseguir, as partes, ou seja, os cônjuges, decidem desfazer a sociedade conjugal partindo para o divórcio. O divórcio no Brasil não se trata de um instituto recente, pois conta com mais de 41 anos. Em 1977, com a Emenda Constitucional do Divórcio (EC 9/1977) e a Lei do Divórcio (Lei 6.515/1977), esse instituto passou a fazer parte do ordenamento jurídico brasileiro. No Código Civil brasileiro e na Emenda Constitucional n. 66/2010 também encontramos dispositivos legais acerca do tema. A EC 9/1977 trouxe nova redação ao § 1º do artigo 175 da Constituição Federal e a posterior aprovação da Lei do Divórcio. TÓPICO 2 | A MEDIAÇÃO E A RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS EM ÂMBITO FAMILIAR 27 Art. 1º O § 1º do artigo 175 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação: "Art. 175 - § 1º - O casamento somente poderá ser dissolvido, nos casos expressos em lei, desde que haja prévia separação judicial por mais de três anos". Art. 2º A separação, de que trata o § 1º do artigo 175 da Constituição, poderá ser de fato, devidamente comprovada em Juízo, e pelo prazo de cinco anos, se for anterior à data desta emenda (BRASIL, 1977, s.p.). Outro dispositivo legal importante de ressaltar é a Lei 6.515/1977, a qual regula os casos de dissolução da sociedade conjugal e do casamento, seus efeitos e respectivos processos, tendo como artigo mais pertinente o artigo 2º, inciso IV e o § único, que versa a respeito das causas que dissolvem a sociedade conjugal e o casamento: “Art. 2º - A Sociedade Conjugal termina: IV- pelo divórcio. Parágrafo único - O casamento válido somente se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio” (BRASIL, 1977, s.p.). O Código Civil brasileiro trouxe no capítulo X, da dissolução da sociedade e do vínculo conjugal, no artigo 1.571, IV e § único: “Art. 1.571. A sociedade conjugal termina: IV- pelo divórcio. § 1º O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente” (BRASIL, 2002, s.p.). O texto da Emenda Constitucional (EC 66/2010), a qual trouxe nova redação ao § 6º do artigo 226 da Constituição Federal, dispondo sobre a dissolução do casamento civil pelo divórcio, suprimiu o requisito de prévia separação judicial por mais de um ano ou de comprovada separação de fato por mais de dois anos e facilitou sua realização: “as Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do art. 60 da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto Constitucional: Art. 1º O § 6º do art. 226 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação: § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio" (BRASIL, 2010). A palavra “divórcio” vem do latim divortium, que quer dizer "separação", que por sua vez é derivada de divertere, que significa "tomar caminhos opostos, afastar-se". E prossegue, o nesse contexto de significações, entende-se o divórcio como um processo que ocorre no ciclo vital da família, desafiando sua estrutura e sua dinâmica relacional, a estrutura se altera com a dissolução da conjugalidade, embora a família, enquanto organização, se mantenha (CANO et al., 2009, p. 2). Ocorre que, em alguns casos, após passar pelo divórcio, tanto o homem quanto a mulher decidiram partir para um novo relacionamento e, em muitos casos, pelo recasamento. A palavra recasamento está longe de ser a melhor expressão para designar essa nova união, haja vista que o uso do prefixo "re" traz a ideia de repetição, de reformulação e de recriação, o que, por sua vez, nos remete a pensar em remendo UNIDADE 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS DA FAMÍLIA 28 e reconstituição, trazendo uma conotação negativa, como se antes existisse uma união mais original ou verdadeira. Entretanto, diferentemente da primeira união, a família recasada encontra outros desafios que envolvem os sistemas familiares. Apresentam-se questões relacionadas à associação dos membros, ou seja, à ponderação sobre quem faz ou não parte dessa família. Ademais, há variações nos aspectos de autoridade dos pais em frente aos filhos, isto é, sobre qual é o espaço de cada um na família (CANO et al., 2009, p. 3-4). Em suma, quando ocorre um divórcio e, posteriormente, um novo casamento, existem alguns elementos presentes nesse novo rearranjo familiar, tais como: o processo de divórcio, o fato de um dos cônjuges desse recasamento ainda não ter sido casado, a família que foi anteriormente formada e a nova família e o espaço de tempo entre os casamentos. 4 O DIREITO DE FAMÍLIA O Direito de Família é um ramo do Direito privado, pertencente ao Direito Civil e estuda as relações pessoais oriundas, por exemplo, das relações de parentesco, filiação, casamento, alimentos e demais: sendo o ramo do Direito Civil que tem como conteúdo o estudo dos seguintes Institutos jurídicos: a) casamento;
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