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Vida e obra Nem sempre a vida de um pensador é tão elaborada quanto sua obra. Esse parece ser o caso de Immanuel Kant. Mas nem tanto. Nascido no dia 22 de abril de 1724, na cidade de Konigsberg, uma importante cidade por- tuária do Báltico, na Prússia Oriental, quarto irmão de um total de onze, filho de pais esforçados, porém pouco prósperos, teve na rígida educação moral e religiosa, sua principal herança, tanto da família, quanto da escola (Collegium Fridericianum) na qual estudou. Da escola foi para a universidade de Konigsberg. Lá sofreu mais uma influência significativa: a do ra- cionalismo e seu método rigoroso. Igualmente, foi na universidade que Kant descobriu a ciência de Newton e a preocupação de compreensão racional dos tempos presentes dos Iluministas, como Locke. Com a morte do pai, as condições econômicas o obrigaram a deixar a universidade e a dedicar-se a aulas particulares. Continua estudando e escrevendo até obter finalmente seu grau de doutor e poder organizar cursos livres para universitários. Em 1770, torna-se professor titular e exer- ce várias funções acadêmicas – inclusive de reitor – até 1796. Morre em 12 de fevereiro de 1804 e, segundo a crônica, suas últimas palavras foram: Está bem. © W ik im ed ia C om m on s/ Fr ee m an n Casa onde viveu Kant Kant era um homem resoluto, determinado. Apesar de uma aparência física frágil, viveu 80 anos sem nunca ter recorrido a um médico. Acreditava intensamente na força de vontade e na escolha de seus próprios caminhos como responsáveis pelos resultados esperados. E aplicou tal resolução à sua vida. Acordava impreterivelmente às cinco horas da manhã e trabalhava em seus escritos, entre uma xícara de chá e um cachimbo até às sete, quando então saía para dar aulas. Voltava e trabalhava até a uma, quando almoçava, sempre com alguém, com quem con- versava animadamente sobre qualquer assunto (afinal, Kant foi professor de matemática, lógica, metafísica, física, pedagogia, direito natural e geografia!), menos filosofia. Às três e meia, pontualmente, saía para um passeio por uma pequena avenida que hoje tem o nome de “Avenida do Filósofo”. Subia e descia 8 vezes, sempre respirando pelo nariz! De volta a casa, lia e trabalhava, sempre sentado na mesma poltrona junto à lareira, de onde era possível vislumbrar, pela janela, a torre do castelo de Konigsberg. Às dez da noite (pontualmente!) recolhia-se. Sempre, invariavelmente. Sabe-se que somente em duas ocasiões mudou sua rotina: um atraso para o passeio, entretido que estava ao ler uma obra de Rousseau; um desvio de caminho para saber notícias da Revolução Francesa. O curioso de sua vida, uma vida aparentemente marcada pela monotonia e falta de imaginação, esconde, primeiramente, o homem afável, bem falante e apreciador das compa- nhias inteligentes, da boa comida e dos vinhos e, prin- cipalmente, o gênio criativo que mudou a filosofia do Ocidente para sempre. W el lc om e Li br ar y, Lo nd on 1 Kant Aula 13 4 Filosofia “Até agora se assumiu que todo nosso conheci- mento deve acomodar-se aos objetos; mas, nessa suposição, todas as tentativas feitas para apurar sobre eles qualquer coisa “a priori” e por meio de conceitos, e assim ampliar nosso conhecimento, não surtiram o menor resultado. Faça-se pois, uma experiência para ver se não seríamos mais bem-sucedidos nos problemas da metafísica, su- pondo que os objetos devam ajustar-se ao nosso conhecimento. (...) Ocorre aqui o mesmo que se Kant desenvolve sua ideia de crítica, que propôs julgar nosso entendimento, ou seja, as condições sub- jetivas do conhecimento, com muito cuidado e reflexão. Tanto que sua primeira obra neste sentido (Kant já havia publicado muitas outras obras antes!), a Crítica da razão pura, se dá apenas em 1781, aos 57 anos de idade. A pergunta fundamental que Kant faz nesta obra é: Quais são os meios para chegar a um conheci- mento? Como já estudamos, Descartes nos fala das ideias inatas, das noções a priori que constituem, por intuição, nas “primeiras verdades” e que, partindo delas, por dedução, permite-nos conhecer outras verdades “claras e distintas” para a razão. No entanto, o empirismo cético de Hume (filósofo escocês, nascido em 1711 e falecido em 1776, autor, en- tre outras obras, de Investigação sobre o Entendimento Humano) causou um forte abalo nas convicções raciona- listas de Kant, ao afirmar que a razão não pode afirmar conhecer, a priori, uma relação de causa e efeito e que tal “conhecimento” não passa, na verdade, de meras experiências comuns falsamente rotuladas. Ora, partindo de tal “ataque”, ficava exposta a pedra fundamental do racionalismo que era a possibilidade de afirmar como verdadeiro aquilo que era “claro e distinto” para a razão. O que levou Kant a afirmar: “Confesso abertamente haver sido a advertên- cia de David Hume que, já lá vão muitos anos, pela primeira vez, despertou-me de meu sono dogmático e incutiu a minhas pesquisas no do- mínio da filosofia especulativa orientação inteira- mente diferente”. Ro be rt o Bo br ow (B ob R ow ) Hume “ajudando” Kant Em face disso, Kant retoma a proposição socratiana – a mesma que levara a cabo Descartes – de questionar o que pode conhecer a razão e o que não pode conhecer. O racionalismo cartesiano não respondia à dúvida levantada por Hume; o ceticismo de Hume paralisava a possibilidade do conhecimento. Era preciso ir além e refazer o caminho cartesiano, buscando descobrir na própria razão as regras e os limites de sua atividade: “Ela é uma intimação à razão para retomar a mais difícil de todas as suas tarefas: a do conheci- mento de si mesmo, e para instituir um tribunal que, assegurando-lhe as pretensões legítimas, se recuse a seguir todas as exigências carecentes de fundamento; e isso, não com decisões arbitrárias, mas em nome de suas próprias leis eternas e imu- táveis. Esse tribunal outro não é senão a própria crítica da razão pura.” O ponto de partida desse caminho estabeleceu-se com a seguinte consideração: É possível conhecer além da experiência? A resposta é “sim”, visto a matemática e a física que são conhecidas racionalmente e que, como sabemos, foram o referencial do método cartesiano. Mas, é possível estender o nosso conhecimento para além da experiência física, constituindo o que os filósofos chamam de metafísica? Os empiristas dirão que “não”, pois tudo só pode ser conhecido a partir do que existe e que nos causa uma impressão sensorial. Mesmo os racionalistas cartesianos, de certa forma dirão não, pois conhecemos pela razão o que pode ser conhecido pela razão, isto é, apreendemos inteligivelmente as mesmas coisas que os empiristas afirmam apreender pelos sentidos. Mas as coisas reais, os objetos estão sempre lá, como ponto de partida para o conhecimento. A não ser que... e aí Kant fez o que ele mesmo chamou de revolução copernicana: ao invés de ajustar o nosso conhecimento aos objetos dados, devemos ajustar os objetos ao nosso conhecimento dado. Isto é, nossa razão, segundo ele, dispõe de “mecanismos” a priori que nos permitem conhecer algo dos objetos re- ais. E o que resulta não mais dessa apreensão, mas dessa construção, é o que chamamos de nossa realidade. Observe: 2 Extensivo Terceirão Raciocínio transcendental O parágrafo anterior indica como Kant entende que conhecemos coisas. O conhecimento não se dá apenas pelas apreensões sensoriais como queriam os empiristas. Também não é o conhecimento objetivo das coisas que nossa razão pode captar de forma “clara e distinta”, como queria Descartes. Conhecemos o que nossa razão pode conhecer, partindo de uma síntese dos sentidos por meio de “óculos” da razão. Sem tais óculos, não se vê nada. Com eles, não se vê tudo. Mas o que se vê, vê-se. O conhecimento é possível porque o homem possui faculdades que o tornam possível. Funciona assim, segundo Kant: a mente possui conceitos inatos, capazes de discernirtempo, espaço, identidade, números. Kant denomina essa qualidade da mente humana, necessária e universal, de formas sintéticas a priori. Esses esquemas mentais é que permitem o conheci- mento do objeto, naquilo que é “filtrado” por essas faculdades cognitivas existentes a priori. Conhecê-las é, ao mesmo tempo, conhecer as possibilidades e os limites do conhecimento humano do mundo. Assim, quando percebemos os objetos, não podemos dizer o que são por essa percepção, mas em face dessa fil- tragem e tradução por meio desses esquemas cogni- tivos. O conhecimento é o resultado disso: não é nem só percepção e nem só razão, mas como fenômenos, isto é, apenas na medida em que aparecem para o sujeito. Fora do sujeito, há as coisas, mas elas não estão ao alcance da nossa razão. E o conhecimento das coisas abstratas, daquilo que é somente uma ideia? E o conhecimento de Deus? Para Kant, o que há fora da percepção é possível existir, mas não é possível verificar. O conhecimento, para Kant, depende de dois elementos apenas: 1. Da sensibilidade, por meio da qual os objetos são dados na intuição. 2. Do entendimento, por meio do qual os objetos são pensados nos conceitos. N úm er o F en ôm en o? ? Coisa em si Mundo externo Sujeito Se ns aç õe s Pe rc ep çõ es Fo rm as d a se ns ibi lid ad e Es pa ço Te m po Razão Formas do entendimento Conceitos Princípios a priori Coisa para nós Imagine que você está vendo, nesse momento, um quadro na parede de seu quarto ou da sala. As cores do quadro, a forma do quadro, a matéria do que é feito (uma pintura a óleo, por exemplo) são captadas pelos seus sentidos e codificadas pelos conceitos (ou categorias) que existem em sua mente, como se fossem filtros que constroem o que você chama simplesmente de quadro. Essas categorias são representações que reúnem o múltiplo das intuições sensíveis. Segundo Kant, elas são em número de 12: 1. Quantidade: Unidade, Pluralidade e Totalidade. 2. Qualidade: Realidade, Negação e Limitação. 3. Relação: Substância, Causalidade e Comunidade. 4. Modalidade: Possibilidade, Existência e Necessidade. forma intuições matéria objeto a priori a posteriori entendimento conceitos sensibilidade deu com a primeira ideia de Copérnico: perce- bendo que não conseguia explicar os movimentos do céu admitindo que todo o exército de estrelas girasse em volta do espectador, tentou ver se não seria mais bem-sucedido fazendo girar o especta- dor e deixando as estrelas imóveis.” Crítica da Razão Pura Aula 13 3Filosofia 4 “Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendi- mento, tal é o lema do esclarecimento.” “A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma direção estranha, continuem, no entanto de bom grado menores durante toda a vida. São também as causas que explicam por que é tão fácil que os outros se constituam em tutores deles. É tão cômodo ser menor. Se tenho um livro que faz as vezes de meu entendimento, um diretor espiritual que por mim tem cons- ciência, um método que por mim decide a respeito de minha dieta, etc., então não preciso de esforçar-me eu mes- mo. Não tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar; outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis. A imensa maioria da humanidade (inclusive todo o belo sexo) considera a passagem à maioridade difícil e além do mais, perigosa, porque aqueles tutores de bom grado tomaram a seu cargo a super- visão dela. Depois de terem primeiramente embrutecido seu gado doméstico e preservado cuidadosamente estas tranquilas criaturas a fim de não ousarem dar um passo fora do carrinho para aprender a andar, no qual as encer- raram, mostram-lhes em seguida o perigo que as ameaça se tentarem andar sozinhas. Ora, este perigo na verdade Imperativo categórico E a qual imperativo Kant afirma devemos seguir em nossas condutas? “Age somente, segundo uma máxima tal, que possas querer ao mesmo tempo que se torne lei universal.” Pense no roubo, por exemplo. Por que, na perspectiva de Kant, não é correto roubar? Perceba que não há uma interferência religiosa ou subjetiva. O que há é uma ordem da razão que constrange a vontade, sem que seja necessário apelar para circunstâncias ou condicionamentos sociais, econômicos ou quaisquer outros. Se atende ao imperativo, age. Se não atende, não age. Simples assim! Ca lv in & H ob be s, Bi ll W at te rs on © 1 99 3 W at te rs on / D ist . b y An dr ew s M cM ee l S yn di ca tio n A maioridade Kant tinha consciência de que alcançar um nível de entendimento sobre a conduta correta à aplicação do impe- rativo exigia em crescimento intelectual do cidadão. Em outro texto memorável, de 1783, Kant procura responder à pergunta: o que é o esclarecimento? E sobre esse termo afirma o seguinte: Em outra importante obra, A me- tafísica dos costumes, Kant afirmará que certos comportamentos huma- nos são reconhecidos pela nossa consciência como certos ou errados, de forma que não há um relativismo no agir, mas um referencial universal de conduta adequada. É o que o nosso filósofo chama de imperativo categórico: “Se eu penso em um impe- rativo hipotético não sei o que conterá até que ele se apre- sente a mim. Se, ao contrá- rio, penso em um imperativo categórico sei imediatamente o que contém. De fato, o im- perativo, além da lei, não con- tém senão a necessidade, em princípio, de ser conforme a tal lei, sem que a lei se sub- meta a nenhuma condição. Consequentemente, o que resta não é senão a universali- dade de uma lei geral, a qual a máxima da ação deve se con- formar, e é somente essa con- formidade que o imperativo apresenta propriamente como necessária.” 4 Extensivo Terceirão Testes Assimilação 13.01. (UFSM – RS) – A necessidade de conviver em grupo fez o homem desenvolver estratégias adaptati- vas diversas. Darwin, num estudo sobre a evolução e as emoções, mostrou que o reconhecimento de emo- ções primárias, como raiva e medo, teve um papel central na sobrevivência. Estudos antigos e recentes têm mostrado que a moralidade ou comportamento moral está associado a outros tipos de emoções, como a vergonha, a culpa, a compaixão e a empatia. Há, no entanto, teorias éticas que afirmam que as ações boas devem ser motivadas exclusivamente pelo dever e não por impulsos ou emoções. Essa teoria é a ética a) deontológica ou kantiana. b) das virtudes. c) utilitarista. d) contratualista. e) teológica. 13.02. (UEMA) – Fraqueza e covardia são as causas pelas quais a maioria das pessoas permanece infantil mesmo tendo condição de libertar-se da tutela mental alheia. Por isso, fica fácil para alguns exercer o papel de tutores, pois muitas pessoas, por comodismo, não desejam se tornar adultas. Se tenho um livro que pensa por mim; um sacerdote que dirige minha consciência moral; um médico que me prescreve receitas e, assim por diante, não necessito preocupar-me com minha vida. Se posso adquirir orientações, não necessito pensar pela minha cabeça: transfiro ao outro esta penosa tarefa de pensar. I. Kant, O que é a ilustração. In: F. Weffort (org). Os clássicos da política, v. 2, 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. Esse fragmento compõe o livro de Kant que trata da impor- tância da(o) a) juízo. c) cultura. e) experiência. b) razão. d) costume. 13.03. (ENADE) – Mas que lei pode ser então essa, cuja representação, mesmo sem tomar em consideração o efeito que dela se espera, tem de determinar a vontade para que estase possa chamar boa absolutamente e sem restrição? Uma vez que despojei a vontade de todos os estímulos que lhe poderiam advir de obediência a qualquer lei, nada mais resta do que a conformidade a uma lei universal das ações em geral que possa servir de único princípio à vontade, isto é: devo proceder sempre de maneira que eu possa querer também que a minha máxima se torne uma lei universal. KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 115 (adaptado). O texto acima se refere ao imperativo categórico de Kant, que corresponde à seguinte máxima: a) age segundo a máxima que exprime o teu dever. b) age segundo a máxima cuja lei seja escolher o melhor meio para se atingir um fim. c) age apenas segundo a máxima que esteja em conformi- dade com a lei imutável da natureza. d) age apenas segundo a máxima tal que possa, ao mesmo tempo, querer que ela se torne lei universal. e) age segundo a máxima que, mesmo contrária à tua von- tade, possa ser tomada como lei da natureza. 13.04. (UNIOESTE – PR) – Na obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Kant apresenta uma formulação do imperativo categórico: “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 129 Em relação ao pensamento de Kant, é CORRETO afirmar. a) O propósito do imperativo categórico é o de permitir que o indivíduo decida suas ações sem que tenha que se preocupar com os demais. b) O imperativo categórico tem por objetivo desfazer o conflito entre a providência divina, relacionada à cidade de Deus, e o espaço terreno. não é tão grande, pois aprenderiam muito bem a andar finalmente, depois de algumas quedas. Basta um exemplo deste tipo para tornar tímido o indivíduo e atemorizá-lo em geral para não fazer outras tentativas no futuro.” “É difícil portanto para um homem em particular desvencilhar-se da menoridade que para ele se tornou quase uma natureza. Chegou mesmo a criar amor a ela, sendo por ora realmente incapaz de utilizar seu próprio enten- dimento, porque nunca o deixaram fazer a tentativa de assim proceder. Preceitos e fórmulas, estes instrumentos mecânicos do uso racional, ou antes do abuso, de seus dons naturais, são os grilhões de uma perpétua menorida- de. Quem deles se livrasse só seria capaz de dar um salto inseguro mesmo sobre o mais estreito fosso, porque não está habituado a este movimento livre. Por isso são muito poucos aqueles que conseguiram, pela transformação do próprio espírito, emergir da menoridade e empreender então uma marcha segura. (...)”. Mais do que uma leitura, esse texto de Kant é um convite que julgo tentador. O que você acha de aceitá-lo? Aula 13 5Filosofia 4 c) O imperativo categórico vincula a conduta moral a uma norma universal. d) Para Kant, não é possível que o indivíduo constitua um fim em si mesmo. Por isso mesmo, ele precisa espelhar-se na ação dos demais para a sua ação. e) O imperativo categórico corresponde à condição do esta- do de natureza, que é anterior à instituição do Estado civil. Aperfeiçoamento 13.05. (UFU – MG) – Leia a citação a seguir. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma direção estranha, conti- nuem no entanto de bom grado menores durante toda a vida. São também as causas que explicam porque é tão fácil que os outros se constituam em tutores deles. KANT, I. Resposta à pergunta: que é “Esclarecimen- to”? (Aufklarung). In: ______. Textos seletos. Tradução de Rai- mundo Vier. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 64. A menoridade de que fala Kant é a condição daqueles que não fazem o uso da razão. Essa condição evidencia a ausência a) do idealismo necessário para a ampliação dos horizontes existenciais. b) da autonomia para fazer uso próprio da razão sem a tutela de outrem. c) da religião encarregada de fazer feliz o homem indigente de pensamento. d) da ignorância, pois quem se deixa guiar pelos outros acerta sempre. 13.06. (UNESP – SP) – A maior violação do dever de um ser humano consigo mesmo, considerado meramente como um ser moral (a humanidade em sua própria pessoa), é o contrário da veracidade, a mentira [...]. A mentira pode ser externa [...] ou, inclusive, interna. Através de uma mentira externa, um ser humano faz de si mesmo um objeto de desprezo aos olhos dos outros; através de uma mentira interna, ele realiza o que é ainda pior: torna a si mesmo desprezível aos seus próprios olhos e viola a dignidade da humanidade em sua própria pessoa [...]. Pela mentira um ser humano descarta e, por assim dizer, aniquila sua dignidade como ser humano. [...] É possível que [a mentira] seja praticada meramente por frivolidade ou mesmo por bondade; aquele que fala pode, até mesmo, pretender atingir um fim realmente benéfico por meio dela. Mas esta maneira de perseguir este fim é, por sua simples forma, um crime de um ser humano contra sua própria pessoa e uma indignidade que deve torná-lo desprezível aos seus próprios olhos. Immanuel Kant. A metafísica dos costumes, 2010. Em sua sentença dirigida à mentira, Kant a) considera a condenação relativa e sujeita a justificativas, de acordo com o contexto. b) assume que cada ser humano particular representa toda a humanidade. c) apresenta um pensamento desvinculado de pretensões racionais universalistas. d) demonstra um juízo condenatório, com justificação em motivações religiosas. e) assume o pressuposto de que a razão sempre é governada pelas paixões. 13.07. (UFU – MG) – De acordo com o pensamento do filósofo Immanuel Kant (1724-1804), os juízos a priori são todos analíticos e os juízos a posteriori são todos sintéticos. Assinale a alternativa que define corretamente as noções de juízo analítico e juízo sintético. a) O juízo analítico é uma proposição que não pode ser pensada sem ser simultaneamente acompanhada de sua necessidade, já o juízo sintético não é uma proposição necessária. b) No juízo analítico, o sujeito está contido no conceito do predicado, mas, no juízo sintético, o predicado advém da experiência. c) No juízo analítico, o predicado pertence ao sujeito como algo que está contido nele, já no juízo sintético, o predi- cado está totalmente fora do conceito do sujeito. d) O juízo artificial é uma proposição necessária, já no juízo sintético, o predicado vai além do conceito do sujeito, acrescentando algo a esse. 13.08. (UEL – PR) – Leia o texto a seguir. As leis morais juntamente com seus princípios não só se distinguem essencialmente, em todo o conheci- mento prático, de tudo o mais onde haja um elemento empírico qualquer, mas toda a Filosofia moral repou- sa inteiramente sobre a sua parte pura e, aplicada ao homem, não toma emprestado o mínimo que seja ao conhecimento do mesmo (Antropologia). KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Trad. de Guido A. de Almeida. São Paulo: Discurso Editorial, 2009. p. 73. Com base no texto e na questão da liberdade e autonomia em Immanuel Kant, assinale a alternativa correta. a) A fonte das ações morais pode ser encontrada através da análise psicológica da consciência moral, na qual se pes- quisa mais o que o homem é, do que o que ele deveria ser. b) O elemento determinante do caráter moral de uma ação está na inclinação da qual se origina, sendo as inclinações serenas moralmente mais perfeitas do que as passionais. c) O sentimento é o elemento determinante para a ação moral, e a razão, por sua vez, somente pode dar uma direção à presente inclinação, na medida em que fornece o meio para alcançar o que é desejado. d) O ponto de partida dos juízos morais encontra-se nos “propulsores” humanos naturais, os quais se direcionam ao bem próprio e ao bem do outro. e) O princípio supremo da moralidade deve assentar-se na razão prática pura, e as leis moraisdevem ser independen- tes de qualquer condição subjetiva da natureza humana. 6 Extensivo Terceirão 13.09. (UNIOESTE – PR) – O filósofo alemão Immanuel Kant for- mulou, na Crítica da Razão Pura, uma divisão do conhecimento e acesso da razão aos fenômenos. Fenômenos não são coisas; eles nomeiam aquilo que podemos conhecer das coisas, através das formas da sensibilidade (Espaço e Tempo) e das categorias do entendimento (tais como Substância, Relação, Necessidade etc.). Assim, Kant afirma que o conhecimento humano é finito (limitado por suas formas e categorias). Como poderia haver, então, algum conhecimento universalmente válido? Ele afirma que tal conhecimento se formula num “juízo sintético a priori”. Juízos são afirmações; o adjetivo “sintéticos” significa que essas afirmações reúnem conceitos diferentes; “a priori”, por sua vez, indica aquilo que é obtido sem acesso à experiência dos fenômenos, antes deles e para que os fenômenos possam ser reunidos em um conhecimento que tenha unidade e sentido. Com base nisso, indique a alternativa CORRETA. a) Para Kant, o conhecimento humano é diretamente dado pela experiência das coisas, acessíveis pelos sentidos (visão, audição, etc.). b) Juízos sintéticos a priori são afirmações de conhecimento cuja natureza é particular e que se altera caso a caso. c) Se a Metafísica é o conhecimento da essência das coisas elas mesmas, Kant é, na Crítica da Razão Pura, um defensor da Metafísica, e não um defensor da finitude do conhecimento. d) Para Kant, Espaço e Tempo são categorias do entendi- mento mediante as quais conhecemos os fenômenos. e) Juízos sintéticos a priori permitem organizar o conheci- mento, dando a ele validade universal e unicidade. 13.10. (UEL – PR) – Leia o texto a seguir. Kant, mesmo que restrito à cidade de Königsberg, acompanhou os desdobramentos das Revoluções Americana e Francesa e foi levado a refletir sobre as convulsões da história mundial. Às incertezas da Eu- ropa plebeia, individualista e provinciana, contrapôs algumas certezas da razão capazes de restabelecer, ao menos no pensamento, a sociabilidade e a paz entre as nações com vista à constituição de uma federação de povos – sociedade cosmopolita. Adaptado de: ANDRADE, R. C. “Kant: a liberdade, o indivíduo e a república”. In: WEFORT, F. C. (Org.). Clássicos da política. v. 2. São Paulo: Ática, 2003. p. 49-50. Com base nos conhecimentos sobre a Filosofia Política de Kant, assinale a alternativa correta. a) A incapacidade dos súditos de distinguir o útil do preju- dicial torna imperativo um governo paternal para indicar a felicidade. b) É chamado cidadão aquele que habita a cidade, sendo considerados cidadãos ativos também as mulheres e os empregados. c) No Estado, há uma igualdade irrestrita entre os membros da comunidade e o chefe de Estado. d) Os súditos de um Estado Civil devem possuir igualdade de ação em conformidade com a lei universal da liberdade. e) Os súditos estão autorizados a transformar em violência o descontentamento e a oposição ao poder legislativo supremo. Aprofundamento 13.11. (UEL – PR) – Leia os textos a seguir. Exercita-te primeiro, caro amigo, e aprende o que é preciso conhecer para te iniciares na política; an- tes, não. Então, primeiro precisarás adquirir virtude, tu ou quem quer que se disponha a governar ou a administrar não só a sua pessoa e seus interesses par- ticulares, como a cidade e as coisas a ela pertinentes. Assim, o que precisas alcançar não é o poder absoluto para fazeres o que bem entenderes contigo ou com a cidade, porém justiça e sabedoria. PLATÃO. O primeiro Alcebíades. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2004. p. 281-285. Esclarecimento é a saída do homem de sua meno- ridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso do seu entendimento sem a direção de outro indivíduo... Sapere Aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. KANT, I. Resposta à pergunta: que é ‘Esclarecimento’ (‘Aufklärung’). Trad. Floriano de Souza Fernandes, 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1985. p. 100-117. Tendo em vista a compreensão kantiana do Esclarecimento (Aufklärung) para a constituição de uma compreensão tipi- camente moderna do humano, assinale a alternativa correta. a) Fazer uso do próprio entendimento implica a destruição da tradição, na medida em que o poder da tradição im- pede a liberdade do pensamento. b) A superação da condição de menoridade resulta do uso privado da razão, em que o indivíduo faz uso restrito do próprio entendimento. c) A saída da menoridade instaura uma situação duradou- ra, pois as verdadeiras conquistas do Esclarecimento se afiguram como irreversíveis. d) A menoridade é uma tendência decorrente da natureza humana, sendo, por esse motivo, superada no Esclareci- mento, com muito esforço. e) A condição fundamental para o Esclarecimento é a liber- dade, concebida como a possibilidade de se fazer uso público da razão. 13.12. (UEM – PR) – “O propósito desta crítica da razão especulativa pura consiste na tentativa de reformular o procedimento habitual da metafísica, propondo-nos deste modo uma completa revolução em relação a esta segundo o exemplo dos geômetras e pesquisadores da natureza. Ela é um tratado do método e não um sistema da própria ciência; ainda assim desenha o contorno total da metafísica, tanto no que respeita seus limites quanto à estrutura interna total de seus membros”. KANT, I. Crítica da razão pura. In: MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 111. Aula 13 7Filosofia 4 A partir do texto citado, é correto afirmar que o projeto da crítica de Kant 01) busca ater-se apenas aos métodos das ciências teóricas, como a metafísica. 02) reformula o modo como são adquiridos os conhecimen- tos metafísicos. 04) volta-se para a razão especulativa, no tocante aos seus procedimentos mais recorrentes. 08) visa ser tão somente uma ciência pura, haja vista sua preocupação com a definição de um método próprio. 16) busca transformar a razão pura, a razão prática e a estética em um sistema científico. 13.13. (UEM – PR) – “De que todo o nosso conhecimento comece com a experiência, não há a mínima dúvida; pois de que outro modo a faculdade de conhecer de- veria ser despertada para o exercício, se não ocorresse mediante objetos que impressionam os nossos sentidos e em parte produzem espontaneamente representações, em parte põem em movimento a nossa atividade inte- lectual de comparar essas representações, conectá-las ou separá-las, e deste modo transformar a matéria bruta das impressões sensíveis em conhecimento de objetos, que se chama experiência? [...] Mas, ainda que todo o nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso todo ele origina-se da experiência.” KANT, I. Crítica da razão pura. In: MARCONDES, D. Textos básicos de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 117. A partir do texto citado, assinale o que for correto. 01) O conhecimento tem seu início na experiência sensível; isso não significa, todavia, que ele esteja preso à expe- riência e limitado por ela. 02) A faculdade de conhecer está em repouso e é despertada pela experiência sensível, sendo essa a fonte primeira do conhecimento. 04) As representações sensíveis das coisas são espontâneas e não precisam de qualquer interferência dos sentidos. 08) A faculdade de conhecer pode produzir conhecimentos por si mesma, visto que as impressões sensíveis não são a origem de todo o conhecimento. 16) A faculdade de conhecer opera sobre as representações das coisas advindas por meio dos sentidos e produz, assim, novos conhecimentos. 13.14. (PUCPR) – Leia o fragmento que segue. É assim, pois, que a razão humana vulgar, impelida por motivos propriamente práticos e não por qualquer necessidade de especulação (que nunca a tenta, enquan- to ela se satisfaz com ser simples sã razão), se vê levada a sair doseu círculo e a dar um passo para dentro do campo da filosofia prática. Aí encontra ela informações e instruções claras sobre a fonte do seu princípio, sobre a sua verdadeira determinação em oposição às máximas que se apoiam sobre a necessidade e a inclinação. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 2007, p. 38. Na Fundamentação da metafísica dos costumes, Kant toma como tarefa encontrar o princípio supremo da moralidade. Em relação a essa tarefa, por que a razão vulgar necessita adentrar em uma filosofia prática? De acordo com o frag- mento citado acima e com seus conhecimentos, analise as sentenças a seguir e assinale a alternativa CORRETA. a) A filosofia prática é necessária para que as pessoas tenham clareza sobre as inclinações que as fazem felizes, assim optando por elas. b) A filosofia prática é necessária porque ela incentiva as pessoas a serem mais pragmáticas, afastando-as de princípios especulativos sem utilidade na vida cotidiana. c) Segundo Kant, devido ao fato de as pessoas terem se tornado excessivamente intelectualizadas, uma filosofia prática seria a única capaz de reconduzi-las à certeza dos instintos e da felicidade. d) A filosofia prática é necessária para determinar a fonte dos princípios da razão vulgar, único conhecimento capaz de impedir que a razão vulgar se perca na sedução das inclinações. e) A razão humana vulgar, dedicada à reflexão e a encontrar princípios para sua ação, precisa da filosofia prática para prescrever seus princípios às pessoas. 13.15. (PUCPR) – Leia o fragmento de texto a seguir. “uma vez que despojei a vontade de todos os estímu- los que lhe poderiam advir da obediência a qualquer lei, nada mais resta que a conformidade a uma lei universal das ações em geral que possa servir de único princípio à vontade, isto é: devo proceder sempre de maneira que eu possa querer também que a minha máxima se torne uma lei universal. Aqui é, pois, a simples conformidade à lei em geral (sem tomar como base qualquer lei desti- nada a certas acções) o que serve de princípio à vontade, e também o que tem de lhe servir de princípio” KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 34. No primeiro capítulo dessa obra, Kant apresenta que a pessoa dotada de boa vontade tem um compromisso firme com a ação moral. Essa boa vontade tem de ser governada por uma lei. Analise as afirmativas a seguir abaixo e assinale a alternativa CORRETA, levando em conta o fragmento de texto dado do livro Fundamentação da metafísica dos costumes e seus conhecimentos sobre o assunto. a) A lei moral é um imperativo hipotético, no qual a vontade é despojada de qualquer estímulo interno e externo. A ação que é realizada pelo respeito a esse imperativo é universal. b) A lei que a pessoa toma como objeto de respeito é o im- perativo categórico. É uma ação realizada pelo sentimento de respeito à lei moral. c) A boa vontade obediente à lei moral tem conformidade com a lei universal e com as leis específicas das inclinações e assim podem ser tomadas com validade universal. 8 Extensivo Terceirão d) A pessoa quando age de boa vontade, escolhe sempre a felicidade. Essa lei universal presente entre os seres humanos é o que condiciona o valor da ação. e) A lei que rege as ações da pessoa moral exclui qualquer ação por inclinação, ou seja, ações por apetites ou dese- jos naturais. A boa vontade que orienta a ação tem um propósito de conduzir os seres humanos à felicidade. 13.16. (PUCPR) – Leia o texto abaixo. “Só pode ser objeto de respeito e, portanto, man- damento aquilo que está ligado à minha vontade so- mente como princípio e nunca como efeito, não aqui- lo que serve à minha inclinação mas o que a domina ou que, pelo menos a exclui do cálculo na escolha, que dizer a simples lei por si mesma” KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 2011, p. 32. O filósofo Immanuel Kant discute o respeito à lei moral como contrário aos outros sentimentos que nascem das inclinações. Sobre o puro respeito é CORRETO afirmar que a) o reconhecimento imediato daquilo que é a lei para a pessoa se faz com o sentimento de respeito, ou seja, a consciência de subordinação da vontade a uma lei, sem intervenção de outras influências sobre a sensibilidade do sujeito. b) o respeito é a representação de um valor que não causa dano ao amor-próprio do sujeito, pois o objeto do respeito é a lei que o sujeito se impõe e não tem por consequência nenhum dano ao agente da ação. c) o respeito é a causa do porquê a ação tem valor moral universal, porquanto condiciona a ação aos valores reco- nhecidos por aqueles que são objeto da ação. d) o sentimento do respeito à lei moral carece da materiali- dade, que está no propósito da ação. Pelo objeto da ação moral o sujeito sente a verdade derivada do respeito. e) a ação por dever é consequência do sentimento de respeito. O respeito purifica as inclinações e organiza os reais valores das ações, eliminando assim o prejuízo das ações do sujeito. 13.17. (PUCPR) – Leia a seguir. “O apelo de Taylor baseava-se na promessa de que a administração poderia se tornar uma ciência e, os trabalhadores, engrenagens de uma máquina indus- trial. A melhor maneira de aumentar a produtivida- de, ele afirmava, era adotando três normas: fracionar funções complexas em simples; avaliar tudo o que os trabalhadores podem fazer; e vincular o salário ao de- sempenho, concedendo bonificações aos que alcan- çarem os melhores resultados e demitindo os pregui- çosos”. O Estado de S. Paulo, 16/9/15. Todas as indústrias, ofícios e artes ganharam pela divisão do trabalho, com a experiência de que não é um só homem que faz tudo, limitando-se cada um a certo trabalho, que pela sua técnica se distingue de outros, para o poder fazer com a maior perfeição e com mais facilidade. Onde o trabalho não está assim diferenciado e repartido, onde cada qual é homem de mil ofícios, reina ainda nas indústrias a maior das bar- barias. KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes.1785, p. 14. Os trechos anteriores contextualizam dois momentos distin- tos da nossa história, mas que se assemelham aos cânones do entendimento racional. Assinale (V) para as Verdadeiras e (F) paras as falsas. Depois assinale a alternativa que representa a sequência correta sobre como se estabeleceu a divisão do conhecimento de Immanuel Kant. ( ) Deve-se à contraposição, tanto à Filosofia natural como à Filosofia moral a sua parte empírica, porque aquela tem de determinar as leis da natureza como objeto da experiência. ( ) Para identificarmos a natureza da ciência, não é preciso distinguir sempre cuidadosamente a parte empírica da parte racional e que se anteponha à Física propriamen- te dita (empíricuma Metafísica da Natureza, e à Antro- pologia prática uma Metafísica dos Costumes. ( ) É mentira que é da mais extrema necessidade não ela- borar um dia uma pura Filosofia Moral que seja com- pletamente depurada de tudo o que possa ser somen- te empírico e pertença à Antropologia. ( ) Afirma-se que a Física terá, portanto, a sua parte me- tafísica, mas também uma parte da imanência; igual- mente a moral, ainda que nesta a parte metafísica se poderia chamar especialmente Antropologia teórica. ( ) No que concerne a chamar de Filosofia a toda a empi- ria que se baseie em princípios da experiência, àquela, porém, em que o racionalismo se ampara em princí- pios, a posteriori chama-se filosofia pura. a) F, F, V, V, V. b) V, F, V, F, F. c) F, V, V, F, V. d) F, F, F, V, V. e) V, V, F, F, F. 13.18. (PUCPR) – Nas reflexões de Immanuel Kant sobre o conhecimento racional na sua obra “Fundamentação da Metafísica dos Costumes” lemos: “A velha filosofia grega dividia-se em três ciências: a Física, a Ética e a Lógica. Esta divisão está perfeitamente conforme com a natureza das coisas, e nada há a corrigirnela a não ser apenas acrescentar o princípio em que se baseia, para deste modo, por um lado, nos assegurarmos da sua perfeição, e, por outro, podermos determinar exactamente as necessárias subdivisões”. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução de Antônio Pinto de Carvalho. Lisboa: Companhia Editora Nacional. EDIÇÕES 70, 2007. Sobre a Física, a Ética e a Lógica, é CORRETO afirmar que essas subdivisões a) ocupam-se de uma parte empírica em que as leis uni- versais e necessárias do pensar não se assentam em princípios das experiências. Aula 13 9Filosofia 4 b) não se contrapõem à filosofia natural, também não se contrapõem à filosofia moral, pois cada uma não possui parte empírica. c) baseiam-se em princípios da experiência cujas doutrinas se apoiam em princípios a posteriori da filosofia pura. d) não ressaltam a ideia de uma metafísica da Natureza nem de uma Metafísica dos Costumes pelo fato de que não se pode nomeá-las como uma Antropologia prática. e) ocupam-se da forma do entendimento e da razão em estabelecer a distinção das leis da natureza, das leis da liberdade e dos objetos materiais. Desafio 13.19. (PUCPR) – Leia a passagem abaixo. Admitindo pois que o ânimo desse filantropo es- tivesse velado pelo desgosto pessoal que apaga toda a compaixão pela sorte alheia, e que ele continuasse a ter a possibilidade de fazer bem aos desgraçados, mas que a desgraça alheia o não tocava porque estava bastante ocupado com a sua própria; se agora, que nenhuma inclinação o estimula já, ele se arrancasse a esta mortal insensibilidade e praticasse a acção sem qualquer inclinação, simplesmente por dever, só en- tão é que ela teria o seu autêntico valor moral. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 2007, p. 28. Na Fundamentação da metafísica dos costumes, Kant carac- teriza a vontade boa, articulando-a com o puro respeito à lei prática, isto é, com o dever. Conforme o texto citado acima e com seus conhecimentos, analise as sentenças abaixo e assinale a alternativa CORRETA. a) Para Kant, uma ação praticada por dever retira seus móbiles de princípios materiais, os quais são a posteriori. b) De acordo com a teoria kantiana, uma ação praticada conforme o dever acontece levando-se em conta tão somente o princípio do querer, diferenciando-se das ações por dever, as quais dependem de princípios materiais e das inclinações. c) Segundo Kant, uma ação praticada por dever tem seu valor moral unicamente no princípio da vontade, não dependendo de qualquer propósito ou fim que se possa atingir por meio da ação praticada. d) Segundo Kant, o princípio da vontade diz respeito à certeza dos instintos, a qual nos conduz à felicidade de maneira mais segura que a razão. e) Para Kant, uma ação praticada por dever diz respeito à prudência que devemos ter em nossas ações, as quais precisam ser praticadas conforme as leis para que não nos deparemos com possíveis punições. 13.20. (UFSC) – Sobre a relação do ser humano com o meio ambiente e a ética kantiana, é correto afirmar que: 01) a economia de mercado vem, nas últimas décadas, afas- tando a humanidade de um colapso ambiental global porque propõe o pensamento político, econômico e, sobretudo, social voltado ao respeito à natureza. 02) sendo Kant um defensor da lei moral, ele não concordaria com a ação de empresas que poluem o meio ambiente visando ao lucro desordenado. 04) a ética kantiana é utilitarista, deste modo Kant não apoiaria os princípios da agricultura sustentável, pois a maximização dos lucros deve ser o maior bem. 08) para Kant, devemos pensar e agir de tal modo que todas as nossas ações se transformem em lei universal; assim, o uso indiscriminado de agrotóxicos pelas indústrias alimentícias não está de acordo com o imperativo cate- górico de Kant. 16) uma característica marcante do capitalismo é o seu de- senvolvimento por igual no tempo e no espaço, fato que possibilitou a defesa intransigente do meio ambiente ao longo da sua história. 32) na ética kantiana, a mentira só é admitida em situações muito específicas; desse modo, se as empresas mentem quanto aos danos que causam ao meio ambiente para gerar emprego e movimentar a economia, essas men- tiras devem ser aceitas porque auxiliam as pessoas a ter emprego e renda. 64) após a Segunda Guerra Mundial, a questão ambiental emergiu como importante movimento social que se refletiu em mudanças na visão do mundo, pois percebeu- -se que os recursos naturais são finitos e que seu uso incorreto pode representar o seu fim, surgindo, dessa forma, a consciência ambiental. Gabarito 13.01. a 13.02. b 13.03. d 13.04. c 13.05. b 13.06. b 13.07. c 13.08. e 13.09. e 13.10. d 13.11. e 13.12. 06 (02 + 04) 13.13. 27 (01 + 02 + 08 + 16) 13.14. d 13.15. b 13.16. a 13.17. e 13.18. e 13.19. c 13.20. 74 (02 + 08 + 64) 10 Extensivo Terceirão Hegel: uma costura entre Kant e Heráclito de Éfeso Assim como Kant havia buscado fazer com o racio- nalismo e o empirismo, Hegel assume a pretensão de dar uma nova explicação ao mundo. Hegel afirmava que o conhecimento da realidade era resultado da ação da mente racional. O que é racional é real e o que é real é racional, dizia ele. No entanto, diferentemente de Kant, Hegel afirmava que a mente racional não era a nossa mente, mas um espírito universal (denominada por ele de Ideia, Razão, Espírito ou Absoluto) da qual a nossa mente individual seria apenas parte. Esse espírito universal vagava pelo tempo e espaço universais e suas contradições internas manifestavam-se no mundo físico por meio de teses e antíteses, que não são mais nem menos que o movimento da história. Nossa razão capta essa estrutura profunda do mundo real. Daí o racional coincidir com o real, não por expressar o objeto na men- te, mas por apreender o movimento do mundo. Esse movimento foi chamado por Hegel de dialética. A palavra dialética foi recuperada de Platão, mas a ideia do movimento, do devir, do vir a ser (tese-an- títese = síntese) é herdeira de Heráclito, o pensador grego pré-socrático esquecido desde Parmênides. Para Hegel, a vida social humana expressa essa dialética e, por isso, os movimentos de tese, antítese e síntese, que marcam nossa experiência no mundo, são expressões das contradições desse espírito. Não há um movimento em si, um fato em si, mas sempre como parte de uma cadeia de eventos, construindo uma relação que é etapa de outra, enquanto durarem as contradições do Espírito ou Absoluto. No momento em que tais contradições cessarem, pronto, acaba a História. Não há, para Hegel, nada gratuito no mundo. Tudo o que existe, existe como parte de uma ordem maior que enfim se revelaria. Não há dúvida de que aqui há um dedo do enorme interesse do autor ale- mão pela teologia... Senhor e escravo Não é difícil imaginar o senhor e o escravo como par- tes opostas em uma relação. É como a tese e a antítese. Para Hegel, é o que acontece com as ideias no mundo. Enquanto uma não for aceita e incorporada a outra, não há avanço. No caso, o senhor reconhecer o escravo como pessoa livre. Nesse momento, o processo dialético entra de novo em operação. As pessoas livres do contrato jurídico que as aprisionava, lutam agora para diminuir as obrigações que as prendem pelo trabalho ao seu empregador. E a luta vai adiante, até não existirem mais contradições entre ideias oponentes. Nesse momento, a História terminaria e o espírito alcançaria seu ápice, ou melhor dizendo, realizar-se-ia plenamente. Não esque- çamos que, para Hegel, Absoluto é a Razão e ela não é contraposta à Natureza, mas coincidente com ela. Importância de Hegel Em um pensamento marcadamente científico e matemático, Hegel notabilizou-se por incorporar a His- tória como condição para compreensão do homem e da sociedade na qual está inserido. Essa perspectiva menos “exata” e mais contingente permitiu aceitar as particula- ridades de cada época não como uma “irracionalidade”ou uma “ilusão”, mas como um momento de tensão entre contrários na busca de uma nova etapa. É fato que, nesse processo dialético imaginado pelo pensador alemão, ficava claro que o destino da humanidade era o progres- so, o ir adiante. Essa visão de uma linha progressiva rumo à perfeição, representada pelo fim das contradições, em- bute muito do pensamento escatológico da Patrística, de um tempo voltado para o Juízo Final e para a salvação. Mas, enfim, não se pode negar aos pensadores a influên- cia de seus antecessores, como de resto é a tônica na história da filosofia que estamos estudando. Há alguns anos, o pensador norte-americano Francis Fukuyama afirmou que o fim da história pensado por Hegel havia chegado. Fukuyama de- senvolveu uma linha de abordagem da História, desde Platão até Nietzsche, passando por Kant e 11Filosofia 4 Hegel e Marx Aula 14 Filosofia 4 maneira de as pessoas se organizarem socialmente e, principalmente, a forma de produzirem os bens materiais. A filosofia de Marx estava mais preocu- pada com o resultado da ação humana no mundo e menos com a sua capacidade de compreensão do mundo e suas mudanças. Pela primeira vez alguém propunha não apenas compreender as coisas, mas mudá-las efetivamente: “os filósofos apenas inter- pretaram o mundo de diferentes maneiras, trata-se, entretanto, de transformá-lo”. Marx vai perceber que a mudança do pensamento não era suficiente para um mundo cada vez mais mar- cado por diferenças profundas de classes. Por que um operário que trabalhasse 12 horas em uma fábrica iria se importar em saber que sistemas abstratos de ideias con- frontavam-se ao longo do tempo? O tempo do trabalho era o mesmo, repetitivo e embrutecedor. Numa de suas primeiras obras, os Manuscritos econômico-filosóficos, Marx já enfatizava a sua preocupação de que a liberdade para pensar só seria possível com a liberdade material. Não há criatividade possível para o escravo. M us eu d e Ar te d e Ha rw ar d, C am br id ge Karl Heinrich Marx (1818–1883) Assim, Marx promove uma nova virada no pensa- mento. Do idealismo de Kant e Hegel, para o materialis- mo. É no mundo das coisas terrenas que o pensamento é forjado e sua função não é a contemplação, mas a transformação material da sociedade: pelo próprio Hegel, a fim de revigorar a teoria de que o capitalismo e a democracia burguesa consti- tuem o coroamento da história da humanidade. Na sua ótica, após a “destruição” do fascismo, em 1945, e do socialismo, em 1989, a humanidade teria atin- gido o ponto “culminante” de sua “evolução” com o triunfo da “democracia” liberal “ocidental” sobre to- dos os demais sistemas e ideologias concorrentes. Desse modo, o autor concluiu que a “democracia” li- beral “ocidental” firmou-se como a “solução” final do governo humano, significando, nesse sentido, o “fim da história” da humanidade. Marx e a nova revolução copernicana Como se vê, o pensamento ganhava contornos cada vez mais intensos naqueles séculos XVIII e XIX. Desde as revoluções burguesas, passando pela revolução industrial, o desenvolvimento urbano, a consolidação de novas classes sociais, tudo parecia fazer com que a cabeça das pessoas girasse em uma velocidade ainda maior e a pergunta que mais dava voltas era: o que é verdadeiro? Kant, contemporâneo da Revolução Francesa, fará, como vimos, a primeira importante inversão do pen- samento moderno, aliando racionalismo e empirismo em uma nova formulação que ficou conhecida como idealismo. Nossa razão experimentava e por isso o que estava fora do real não podia ser conhecido. Não conhecíamos o real como tal, mas sempre a partir de categorias a priori. Assim, tínhamos ideias das coisas que víamos e íamos nos virando desse jeito. Hegel coloca a História em cena e afirma que o co- nhecimento é o resultado do confronto dessas ideias no tempo, até o momento no qual não haja nada mais a ser confrontado. Até então, porém, o movimento das coisas, presente nas próprias coisas, moveria a humanidade rumo a este porto seguro que chamamos de progresso. O pensamento, como não poderia deixar de ser, refletia o ritmo das mudanças que ocorriam em uma ve- locidade que desafiava a capacidade de compreensão. A filosofia buscava acomodar essa perplexidade em teo- rias e Kant e Hegel fizeram um bom trabalho, mantendo o homem no centro dessa atividade toda, seja como elemento de compreensão e também como responsável pela mudança e pela realização de um mundo melhor. Karl Marx vai promover um novo deslocamento do pensamento europeu, ao afirmar que não são as ideias sobre as coisas que mudam na história, mas a 12 Extensivo Terceirão “A questão se uma verdade objetiva pode ser atribuída ao pensamento humano não é teórica, mas prática. É na prática que o homem deve de- monstrar a verdade, ou seja, a realidade e o poder, o caráter terreno de seu pensamento. A disputa sobre a realidade ou irrealidade do pensamento, quando isolada da prática, é uma questão pura- mente escolástica.” Teses contra Feuerbach “Os homens são os produtores de suas concep- ções, ideias etc. – homens reais, ativos, tal como são condicionados por um desenvolvimento de- terminado das forças produtivas e da interação correspondente a estas, até suas formas mais avançadas. A consciência nunca pode ser outra coisa senão existência consciente, e a existência do homem é seu processo de vida real.” Ideologia alemã Tudo o que é sólido dissolve-se no ar Marx propõe-se ser um filósofo materialista – ao contrário do idealismo de Hegel – ao afirmar que o pensamento é resultado das condições materiais. Daí não ser possível imaginar o pensamento de Marx no império carolíngio, por exemplo. E como o pensamento é forjado em meio às condições materiais, ele não existe sem essa moldura do real. Não há pensamento em si. Nessa convicção é que se situa uma das inversões que Marx propôs ao pensamento idealista: não é a cons- ciência que determina o ser social mas o ser social é quem determina a consciência. Ou como diz o próprio pensador: “A moralidade, a religião, a metafísica, todo o resto da ideologia e suas correspondentes formas de consciência perdem assim sua aparência de autonomia. Elas não têm história, nem desenvol- vimento; porém os homens, desenvolvendo sua produção e interação materiais, alteram junto com isso sua existência real, seu pensamento e os produtos dele. A vida não é determinada pela consciência, mas a consciência pela vida.” Ideologia alemã O principal trabalho de Marx foi, então, o de entender o mundo no qual ele vivia – a Europa do século XIX – e, se possível, alterá-lo. Foi um historiador e uma espécie de “profeta”, além de um ativista. Esse ativismo era ainda uma novidade, embora socialistas utópicos e anarquis- tas já propusessem soluções para o quadro social e eco- nômico (como você já deve ter visto nas suas aulas de História Geral). Marx foi, porém, o primeiro a associar um rigoroso racionalismo ao historicismo, buscando enten- der intelectualmente os elementos atuantes – moeda, salário, trabalho, mercadoria, produção, circulação, lucro – nas condições históricas em que atuavam e suas impli- cações para as formações sociais nas quais ele mesmo vivia. Sua obra de 1848, o Manifesto comunista, escrita em parceria com o amigo Engels, traz um bom exemplo dessa descrição rigorosa de como a economia burguesa – consolidando-se naquela primeira metade de século XIX – distinguia-se dos modelos econômicos anteriores e como, em face de sua própria natureza, forjou as novas classes atuantes, não mais senhores e escravos, nem nobres e servos, mas capitalistas e operários. Segundo Marx, essas classes sociais não existiam em si por seus esforços individuais, mas como resultado de um modo de produção diferente e específico: o modo de produção capitalista: “A burguesia, onde quer que tenha chegado ao poder, liquidou todas as relações feudais, pa- triarcais e idílicas. Dilacerou impiedosamenteos variegados laços feudais que prendiam o homem a seus ‘superiores naturais’, e não deixou subsis- tir entre homem e homem qualquer outra ligação além do interesse próprio nu e cru, do impiedoso ‘pagamento à vista’. Afogou nas águas geladas do cálculo egoísta os mais celestiais êxtases do fervor religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do senti- mentalismo filistino…Numa palavra, em lugar da exploração velada por ilusões religiosas e políti- cas, colocou a exploração aberta, despudorada, direta e brutal… Arrancou da família seu véu de sentimentalismo, e reduziu a relação familiar a mera relação monetária…A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os ins- trumentos de produção, e consequentemente as relações de produção, e com estas todas as rela- ções sociais…O revolucionamento constante da produção, a perturbação ininterrupta de todas as condições sociais, a permanente incerteza e agita- ção distingue a época burguesa de todas as ante- riores. Todas as relações fixas e cristalizadas, com seu séquito de antigos e veneráveis preconceitos e opiniões, são dissolvidas, todas as relações no- vas tornam-se antiquadas antes de se consolidar. Tudo o que é sólido se desmancha no ar, tudo o que é sagrado é profanado, e os homens são por fim forçados a confrontar com sobriedade suas reais condições de vida e suas relações uns com os outros.” Manifesto comunista Aula 14 13Filosofia 4 meios da produção espiritual ficam sujeitas a esta classe. As ideias dominantes são nada mais que a expressão ideal das relações materiais dominan- tes, são as relações materiais dominantes concebi- das como ideias…” Uma teoria econômica da História Não há nada, para Marx, que escape à delimitação de uma infraestrutura econômica. Somos livres? Sim. Temos autonomia? Também. Mas podemos fazer com nossa liberdade e autonomia o que bem quisermos? Não. A chamada superestrutura, que é o espaço da política, da cultura, das leis e mesmo dos pensamentos, para Marx, é condicionada pelas condições materiais de produção. Podemos não enxergar isso em nosso cotidiano e, por isso, pensarmos que somos livres sem limites e que as mudanças do mundo dependem “exclusivamente” de nossa vontade. Marx discorda: “Na produção social de sua existência, os ho- mens entram em relações determinadas, indis- pensáveis e independentes de sua vontade, rela- ções de produção que correspondem a um estágio determinado de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. A totalidade dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base real, sobre a qual se ergue uma superestrutura legal e política e à qual correspon- dem formas determinadas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, político e intelectual em geral. Não é a consciência do homem que deter- mina seu ser, porém, ao contrário, é seu ser social que determina sua consciência.” Crítica à economia política Há como transitar em meio a esta superestrutura, mas, segundo Marx, não é possível modificá-la substan- cialmente sem alterar antes a estrutura econômica que a comporta. Mais do que isso: Marx acreditava que, em uma sociedade sem exploração econômica, não haveria necessidade de uma superestrutura política, jurídica e ideológica. Tal superestrutura, então, segundo ele, existe para mascarar, amenizar, sublimar a exploração econô- mica. Existe porque é importante conquistar “corações e mentes” dos trabalhadores e fazê-los acreditar que esse é o mundo possível e existente e que é nele que é possível “vencer e ser feliz”. Ou, como afirma o próprio autor na sua obra Ideologia alemã: A mais valia Marx foi um estudioso dos pensadores políticos e econômicos de sua época. Aliás, como tudo o que ele afirmava, ele também era produto de seu tempo. No en- tanto, assumiu desde cedo uma postura crítica e buscou desvelar o que ele denominava de “caráter ideológico” do pensamento dominante. Um exemplo desse seu esforço refere-se à determinação do valor das coisas ou o seu preço. Marx busca destacar que o custo de um produto, assim como já estudaram os liberais (Adam Smith, David Ricardo) é o resultado de vários fatores, como matéria- -prima, instrumentos de produção e trabalho. O preço é o resultado disso e o lucro é o que se acrescenta a esse valor como remuneração do dono dos meios de produ- ção (matéria-prima + instrumentos de produção, isto é, máquinas e ferramentas). Mas há algo que não se per- cebe à primeira vista. O valor que se paga pelo trabalho não é o que se gasta peça por peça produzida, mas pelo tempo que o empregado disponibiliza ao empregador. E, por esse tempo, o empregador paga um valor fixo para o empregado. Digamos que esse valor seja X, equivalente ao preço final de 5 peças produzidas. No entanto, esse empregado produz, nesse tempo, 15 peças. O lucro do empregador não era, então, segundo Marx, apenas uma remuneração por ser ele o dono dos meios de produção, mas uma apropriação do que foi produzido pelo empre- gado. Essa mais valia, denominada de absoluta, pode ainda ser ampliada pelo aprimoramento das máquinas e das formas de gestão. Para Marx, quanto mais um empre- gado produz com a mesma quantidade de salário, mais aumenta o lucro do patrão. Assim, com o tempo, novos investimentos podem ser feitos, ampliando a empresa e enriquecendo um pequeno grupo, dos proprietários, enquanto os trabalhadores permanecem na mesma condição a vida inteira. E para mascarar essa realidade, Marx afirma que existe a superestrutura. Para Marx, a superestrutura garante a “legalidade” desse processo e sua aceitação por parte dos trabalhadores, por meio da ideologia e da educação. A mais-valia relativa que é a alcançada pela melhoria técnica explica, segundo o ponto de vista de Marx, a dinâmica de transformações produtivas que o mundo conheceu a partir da Revolução Industrial e a melhoria de condições de vida de parte da população mundial, o que ajuda a legitimar o capitalismo como modo de produção dominante. Todos os que desejam “melhorar” de vida “As ideias da classe dominante são em cada época as ideias dominantes, isto é, a classe que constitui a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força intelectual domi- nante. A classe que dispõe dos meios da produção material detém ao mesmo tempo o controle so- bre os meios de produção espiritual, de tal modo que, em geral, as ideias daqueles que carecem dos 14 Extensivo Terceirão buscam inserir-se nesse modelo e os que não conse- guem acabam amargando a imagem de “fracassados”. Dessa ideologização do funcionamento do modo de produção capitalista é que o próprio modelo se alimenta, segundo o pensador alemão. O capitalismo, estimulando o sucesso individual, quebra os elos das soluções de classe e impede uma revolução que permita oferecer a todos condições de bem-estar e liberdade. Apesar de afirmar ser um pensador realista e his- tórico, Marx não escapou de projetar uma sociedade utópica, sem classes sociais, sem Estado e sem miséria. A força de suas ideias teve um efeito muito intenso sobre o mundo a partir de então, independente dos que concordam ou não com suas análises e predições. O mundo não seria o mesmo após a publicação das obras do pensador alemão. Testes Assimilação 14.01. (UFU – MG) – A dialética de Hegel a) envolve duas etapas, formadas por opostos encontrados na natureza (dia-noite, claro-escuro, frio-calor). b) é incapaz de explicar o movimento e a mudança verifica- dos tanto no mundo quanto no pensamento. c) é interna nas coisas objetivas, que só podem crescer e perecer em virtude de contradições presentes nelas. d) é um método (procedimento) a ser aplicado ao objeto de estudo do pesquisador. 14.02. (UEGO) – Hegel, prosseguindo na árdua tarefa de unificar o dualismo de Kant, substituiu o eu de Fichte e o absoluto de Schelling por outra entidade: a ideia. A ideia, para Hegel, deve ser submetidanecessariamente a um processo de evolução dialética, regido pela marcha triádica da a) experiência, juízo e raciocínio. b) realidade, crítica e conclusão. c) matéria, forma e reflexão. d) tese, antítese e síntese. 14.03. (UFU – MG) – O botão desaparece no desabrochar da flor, e po- deria dizer-se que a flor o refuta; do mesmo modo que o fruto faz a flor parecer um falso ser-aí da planta, pondo-se como sua verdade em lugar da flor: essas formas não só se distinguem, mas também se repelem como incompatíveis entre si [...]. HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 1988. Com base em seus conhecimentos e na leitura do texto aci- ma, assinale a alternativa correta segundo a filosofia de Hegel. a) A essência do real é a contradição sem interrupção ou o choque permanente dos contrários. b) As contradições são momentos da unidade orgânica, na qual, longe de se contradizerem, todos são igualmente necessários. c) O universo social é o dos conflitos e das guerras sem fim, não havendo, por isso, a possibilidade de uma vida ética. d) Hegel combateu a concepção cristã da história ao destituí- -la de qualquer finalidade benevolente. 14.04. (UFU – MG) – Segundo Karl Marx (1818-1883), “não é a cons- ciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a sua consci- ência”. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: M. Fontes, 1977. p. 23. Essa citação sintetiza o pensamento filosófico, político, his- tórico e econômico desse pensador, que se convencionou chamar de a) Liberalismo de esquerda. b) Idealismo dialético. c) Atomismo econômico. d) Materialismo histórico. Aperfeiçoamento 14.05. (UNESP – SP) – A condição essencial da existência e da suprema- cia da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos dos particulares, a formação e o crescimento do capital; a condição de existência do capital é o traba- lho assalariado. [...] O desenvolvimento da grande in- dústria socava o terreno em que a burguesia assentou o seu regime de produção e de apropriação dos pro- dutos. A burguesia produz, sobretudo, seus próprios coveiros. Sua queda e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis. Karl Marx e Friedrich Engels. “Manifesto Comunista”. Obras escolhidas, vol. 1, s/d. Entre as características do pensamento marxista, é correto citar a) o temor perante a ascensão da burguesia e o apoio à internacionalização do modelo soviético. b) o princípio de que a história é movida pela luta de classes e a defesa da revolução proletária. c) a caracterização da sociedade capitalista como jurídica e socialmente igualitária. d) o reconhecimento da importância do trabalho da bur- guesia na construção de uma ordem socialmente justa. e) a celebração do triunfo da revolução proletária europeia e o desconsolo perante o avanço imperialista. Aula 14 15Filosofia 4 14.06. (UNESP – SP) – A genuína e própria filosofia começa no Ocidente. Só no Ocidente se ergue a liberdade da autoconsciên- cia. No esplendor do Oriente desaparece o indivíduo; só no Ocidente a luz se torna a lâmpada do pensa- mento que se ilumina a si própria, criando por si o seu mundo. Que um povo se reconheça livre, eis o que constitui o seu ser, o princípio de toda a sua vida moral e civil. Temos a noção do nosso ser essencial no sentido de que a liberdade pessoal é a sua con- dição fundamental, e de que nós, por conseguinte, não podemos ser escravos. O estar às ordens de outro não constitui o nosso ser essencial, mas sim o não ser escravo. Assim, no Ocidente, estamos no terreno da verdadeira e própria filosofia. Hegel. Estética, 2000. Adaptado. De acordo com o texto de Hegel, a filosofia a) visa ao estabelecimento de consciências servis e repre- sentações homogêneas. b) é compatível com regimes políticos baseados na censura e na opressão. c) valoriza as paixões e os sentimentos em detrimento da racionalidade. d) é inseparável da realização e expansão de potenciais de razão e de liberdade. e) fundamenta-se na inexistência de padrões universais de julgamento. 14.07. (UNIOESTE – PR) – Em sua crítica a Tales de Mileto, o pensador alemão Hegel afirmou que a proposição pela qual o primeiro filósofo ficou conhecido – cuja formulação seria aproximadamente ‘a água é o princípio essencial de todos os seres’ – é filosófica porque enunciaria a concepção de que tudo é um. Assim, a infinda multiplicidade dos seres remeteria a uma unidade essencial. Para Hegel, porém, esse princípio essencial deve ser absolutamente diferente dos seres que ele gera, sustenta e comanda. Com base no que foi dito, é CORRETO afirmar: a) Hegel concorda com a tese de Tales de que a água é o princípio essencial dos múltiplos seres. b) Hegel afirma que a multiplicidade não pode ser subme- tida a um princípio essencial. c) O primeiro filósofo afirma que o princípio essencial é universalmente diferente dos seres gerados. d) Hegel supõe que a filosofia diz a unidade dos seres, mas que a essência não é um ser entre outros. e) Tales se baseou na necessidade da água para os seres vivos, para fundar a filosofia da natureza. 14.08. (UECE) – “É o saber da história como possibilida- de e não como determinação. O mundo não é. O mun- do está sendo. Como subjetividade curiosa, inteligente, interferidora na objetividade com que dialeticamente me relaciono, meu papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre mas também o de que intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas objeto da História mas seu sujeito igualmente. No mundo da História, da cultura, da política, constato não para me adaptar mas para mudar.” FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, p. 76-77. O trecho acima apresenta uma visão acerca da história, que pode ser associada à concepção a) hegeliana, que compreende a história no sentido teleo- lógico, e cujo sujeito é o Espírito absoluto em busca de autoconhecimento – contemplação – no tempo. b) materialista histórica, em que a ação humana se constitui como fundamento da história, capaz de transformá-la ao mesmo tempo em que a conhece. c) positivista, segundo a qual a história é um processo evo- lutivo que o homem deve conhecer e nela conduzir-se em um movimento racional de adaptação. d) conservadora, que se funda na existência de valores universais absolutos e em que a tradição é fundamental para a manutenção de tais valores. 14.09. (UEGO) – O termo alienação é polêmico e possui di- versas interpretações filosóficas e científicas. O filósofo Hegel foi um dos primeiros a oferecer relevância para esse termo. A concepção mais conhecida de alienação, no entanto, é a de Karl Marx, que desenvolveu uma discussão aprofundada sobre o trabalho alienado, que, segundo ele, é a) um processo mental no qual o trabalhador se vê alienado e fora da realidade, ficando completamente alheio ao mundo, tal como diziam os alienistas do século XIX. b) um termo filosófico abstrato e ideológico, que deveria ser substituído pelo conceito de exploração, que revelava a verdadeira relação entre capitalistas e trabalhadores. c) um conceito universal existente em todas as sociedades humanas, pois o ser humano precisa efetivar o trabalho para sobreviver e, assim, é constrangido a fazer o que não gosta. d) uma relação social na qual o não-trabalhador controla a atividade do trabalhador e, por conseguinte, o resultado do trabalho, explicando assim a origem da propriedade. e) uma ideia ultrapassada produzida por filósofos materialis- tas que queriam transferir a alienação da consciência, tal como colocava Hegel, para o trabalho humano. 14.10. (ENADE) – Segundo o meu modo de ver, que somente a expo- sição do próprio Sistema deve justificar, tudo depen- de de apreender e exprimir o verdadeiro não como substância, mas, exatamente na mesma medida, como sujeito. Deve-se igualmente notar que a substanciali- dade contém em si tanto o universal ou a imediatez dopróprio saber, quanto o que é ser ou imediatez para o ser. A substância vivente é também o ser que na verdade é sujeito ou, o que dá no mesmo, é ver- dadeiramente efetivo somente na medida em que é o movimento do pôr-se-a-si mesma, ou é a mediação consigo mesma do tornar-se outra. HEGEL, F. A Fenomenologia do Espírito. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 12-13 (adaptado). 16 Extensivo Terceirão Hegel, no trecho acima, afirma que a verdade a) é particularidade imediatamente dada sem substância universal e apenas sujeito singular. b) é sujeito dinâmico em constante movimento de vir-a-ser, não sendo substância fixa e imutável. c) contrapõe-se ao sujeito em seu permanente dinamismo, por não ser substância vivente. d) é imediatez dada sem nenhuma mediação, intuição pura do sujeito do saber pertencente ao ser. e) é substância efetiva resultante de movimento já termina- do, mas não sujeito em movimento do pôr-se-a-si mesmo. Aprofundamento 14.11. (UNIOESTE – PR) – O pensador Friedrich Hegel, cujas análises filosóficas foram feitas após a Revolução Francesa, esforçou-se por pensar o Estado Soberano como modo de organização ao mesmo tempo necessário e legítimo da existência social. A Hegel, a quem frequentemente se atribui o método dialético, é INCORRETO afirmar que a) segundo Hegel, a dialética não é originalmente um objeto da reflexão filosófica, mas o elemento estrutural essencial da realidade. Hegel queria apreender todo o real como representação pura e perfeita do espírito absoluto. b) a intenção básica de Hegel consistiu, pois, em ver fundada toda realidade no absoluto, em conceber tudo como ma- nifestação do único absoluto. O importante era considerar a realidade do ponto de vista do real, do absoluto. c) para Hegel, ao contrário de Karl Marx, a história não é uma sequência casual de acontecimentos, mas um suceder racional. Para Marx, a realidade não é contraditória e está conciliada com a razão. O verdadeiro sujeito da história é o espírito absoluto. d) segundo Hegel, o espírito absoluto havia alcançado seu objetivo em seu tempo: a perfeita autoconsciência. A própria realidade total seria uma manifestação do espírito absoluto. Com efeito, ambas, razão e realidade, tinham chegado a uma adequação. e) para Hegel, a realidade tinha se conciliado com a razão. Em Hegel, tudo se passa no âmbito do pensamento. Mesmo a realidade que ele fala, é mera realidade pensada. 14.12. (UFU – MG) – Conforme Marx e Engels: “O modo pelo qual os homens produzem seus meios de vida depende, antes de tudo, da própria constituição dos meios de vida já encontrados e que eles têm de reproduzir. Esse modo de produção não deve ser considerado meramente sob o aspecto de ser a reprodução da existência física dos indivíduos. Ele é, muito mais, uma forma determinada de sua ativida- de, uma forma determinada de exteriorizar sua vida, um determinado modo de vida desses indivíduos”. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Huitec, 1999, p. 27. Da leitura do trecho, conclui-se que: a) As ideologias políticas possuem autonomia em relação ao desenvolvimento das forças produtivas. b) A base da estrutura social reside no seu modo de pro- dução material. c) O modo de produção é determinado pela ideologia dominante. d) Toda atividade produtiva é uma forma desumanização. 14.13. (UECE) – As contribuições de Karl Marx e Max Weber formam a base da maioria das análises sociológicas sobre a estruturação e organização da sociedade em classes sociais. Assinale a opção que corresponde ao conceito de classe social na perspectiva de Karl Marx. a) Existe entre as classes uma relação de dominação esta- belecida a partir do lugar que os indivíduos ocupam nas religiões. b) As classes sociais estruturam a sociedade e por meio delas são construídas as relações de interesses harmônicos entre os grupos sociais. c) Classe social é uma invenção teórica e não tem correspon- dência com a dinâmica de estruturação das sociedades contemporâneas. d) Uma classe social é um grupo de pessoas que se encontra em uma relação comum com os meios de produção por meio dos quais elas extraem seu sustento. 14.14. (UPE – PE) – Leia o texto a seguir sobre a concepção do Estado Democrático. Segundo Karl Marx, o Estado é o organismo de dominação de classe, de opressão de uma classe por outra. O Estado representa a violência estabelecida e organizada, a violência legal. Ele é um instrumento, não de conciliação, mas sim de luta das classes. POLITZER, Georges. Princípios Fundamentais de Filosofia. São Paulo: Hemus, 1954, p. 328. Na citação acima, o autor configura uma leitura crítico- -reflexiva sobre a concepção do Estado na perspectiva da filosofia de Karl Marx. Com relação a essa temática, é COR- RETO afirmar que a) o Estado intenta os interesses da classe dominada e estaria a serviço da democracia. b) o Estado representa a síntese do que tende a superar os interesses contraditos da sociedade civil. c) o Estado é um meio suplementar de exploração das classes oprimidas, ou seja, o instrumento de dominação da classe economicamente mais poderosa. d) o Estado é decisivo para defesa de um modo de produção. Trata-se de um instrumento de conciliação e democrati- zação da sociedade. e) o Estado não oprime, mas concilia os meios de produção para a democratização da sociedade civil. Aula 14 17Filosofia 4 14.15. (ENADE) – O valor da força de trabalho, como o de toda outra mercadoria, é determinado pelo tempo de trabalho necessário à produção, portanto também reprodução, desse artigo específico. Enquanto valor, a própria força de trabalho representa apenas deter- minado quantum de trabalho social médio nela obje- tivado. A força de trabalho só existe como disposição do indivíduo vivo. Sua produção pressupõe, portanto, a existência dele. Dada a existência do indivíduo, a produção da força de trabalho consiste em sua própria reprodução ou manutenção. Para sua manutenção, o indivíduo precisa de certa soma de meios de subsis- tência. O tempo de trabalho necessário à produção da força de trabalho corresponde, portanto, ao tempo de trabalho necessário à produção desses meios de sub- sistência ou o valor da força de trabalho é o valor dos meios de subsistência necessários à manutenção do seu possuidor. A soma dos meios de subsistência deve, pois, ser suficiente para manter o indivíduo trabalhador em seu estado de vida normal. MARX, K. (1867). O Capital: crítica da economia política. Volume I, Livro Primeiro, Tomo 1, Capítulo 4. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Coleção Os economistas) (adaptado). Com relação ao texto apresentado, assinale a opção correta. a) O valor de troca da força de trabalho é constante ao longo da vida útil de um trabalhador e corresponde à soma dos meios de subsistência necessários à sua reprodução. b) O valor de troca da força de trabalho é determinado, em última instância, pela contribuição produtiva que o trabalhador oferece ao sistema capitalista. c) A força de trabalho é uma mercadoria como qualquer outra, sem especificidades relacionadas ao seu valor de uso para o modo de produção capitalista. d) O valor da força de trabalho é dado pela soma do valor dos meios de subsistência necessários à manutenção do trabalhador e de sua família, em um contexto historica- mente determinado. e) A reprodução da mercadoria força de trabalho pressupõe o acesso do trabalhador aos meios de subsistência de que ele necessita para se manter individualmente. 14.16. (UEM – PR) – “A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lu- tas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e oficial, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposi- ção, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição
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