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Copyright © Tiese Rodrigues Teixeira Júnior Capa: Ubaldino Scardino Foto da capa: Acervo Editora Paka-Tatu Editoração Eletrônica: Acervo Editora Paka-Tatu Desenvolvimento em ePub: Sílvio Pereira Filho Revisão: Rodrigo Gerdulli Ficha Catalográfica: Ana Negrão do Espírito Santo Editora Paka-Tatu Ltda. Rua Oliveira Belo, 386, salas 8 e 9 - Umarizal CEP: 66.050-380 - Belém - Pará - Brasil Fonefax: (91) 3242-5403 E-mail: contato@paka-tatu.com.br Site: www.editorapakatatu.com.br CDD: 981.15 T564e Tiese Júnior Estudos amazônicos: ensino fundamental/ Tiese Júnior . _ Belém: Paka-Tatu, 2010. ePub ISBN: 978-85-7803-071-1 1.Amazônia – História I.Título mailto:%20contato@paka-tatu.com.br http://www.editorapakatatu.com.br À Dona Maria, minha mãe, uma autêntica cabocla ribeirinha da Amazônia. PREFÁCIO A História regional passou a ser bastante valorizada no Brasil, a partir de 1970, em virtude de contribuir com explicações mais específicas sobre as transformações econômicas, sociais, políticas e cultural de uma região. Ela trata das características e das multiplicidade da Amazônia, distinguindo-se da História nacional por abordar o estudo no seu aspecto singular. Nesse sentido, o estudo regional contribui para o aprofundamento da História nacional. A região Amazônica tem uma importância fundamental para o Brasil, principalmente devido a seus recursos ambientais, que a tornaram centro da atenção mundial, uma vez que os estudos e debates sobre preservação ambiental vêm adquirindo prioridade em todo o mundo, sempre enfatizando a necessidade de se criar uma política de desenvolvimento de forma sustentável. Esta obra tem como objetivo tratar não só da região Amazônica em seu aspecto ambiental, mas, também, analisar as características sociais, fruto de um amplo processo de imigração e miscigenação, além dos aspectos econômico, político e religioso e das várias manifestações culturais presentes no nosso cotidiano amazônico. Além disso, é importante ressaltar que esta obra aborda as características de todos os estados que compõem a região Amazônica, mas dando uma ênfase maior na história, na geografia, na sociologia e na antropologia do Estado do Pará. Assim, oferece um suporte didático aos professores que trabalham com a disciplina de Estudos Amazônicos nas séries do 6º ao 9º ano do ensino fundamental, os quais carecem de material apropriado, sendo necessário reescrever textos acadêmicos, adequando-os à uma linguagem específica para esse nível de ensino. Aos demais interessados, a obra oferece um panorama significativo da essência da cultura da terra das Amazonas. Cultura popular e erudita se entrelaçam, compondo um painel rico em detalhes, da vida de quem vive na Amazônia. Estudos Amazônicos: ensino fundamental é uma obra bem-vinda! Paulo César Alves da Silva Historiador APRESENTAÇÃO Caro(a) colega professor(a), Em tempos em que o pensador Edgar Morin nos lembra da necessidade que a educação tem de “... ensinar a identidade terrena e o destino planetário do gênero humano...”, é muito importante estabelecer um diálogo com você sobre a Amazônia Um diálogo por meio dos textos que compõem este livro. No Estado do Pará, a disciplina que atende ao artigo da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) chama-se Estudos Amazônicos e, até onde sabemos, a falta de livros didáticos sobre a Amazônia brasileira e particularmente sobre o Estado do Pará é um desafio a ser enfrentado pela maioria dos professores e professoras que trabalham com as questões pertinentes aos temas amazônicos. Desejo profundamente a breve mudança dessa realidade. Por tais razões, tomei a iniciativa de escrever este livro, elaborado com muito esforço, para ser utilizado nas aulas de Estudos Amazônicos, do 6º ao 9º ano, séries finais do Ensino Fundamental. Sei que há municípios do interior do Estado do Pará que retiraram da matriz curricular a disciplina Estudos Amazônicos, em boa parte por falta de material didático adequado. Aos gestores desses municípios, meu desejo de que reincluam a disciplina em suas escolas. Afinal, é muito importante conhecermos a nossa casa, a Amazônia. Espero que os assuntos aqui selecionados, bem como as propostas de trabalho docente apresentadas, possam ajudar meus colegas professores e professoras e seus alunos e alunas nas aulas de Estudos Amazônicos. A título de ilustração, incluímos neste livro algumas músicas como introdução ou fechamento dos temas estudados. Algumas delas são toadas dos Bois de Parintins — Caprichoso e Garantido. Outras, retiramos do repertório musical paraense. Preocupamo-nos, também, em incluir outros gêneros de nosso imaginário cultural, tais como a prosa e a poesia. Muitas informações constantes deste livro estão sustentadas na pesquisa acadêmica. Estudos Amazônicos é um livro que tem o propósito de fornecer subsídios que permitam aprimorar a construção de conhecimentos mais sólidos sobre a região amazônica, em particular sobre o Estado do Pará. Espero que este livro possa contribuir para despertar o interesse pela Amazônia brasileira. O Autor SUMÁRIO 6º ANO I UNIDADE – A AMAZÔNIA PRÉ-COLONIAL A AMAZÔNIA PRÉ-COLONIAL O MEIO FÍSICO AMAZÔNICO O INÍCIO DA OCUPAÇÃO HUMANA NA AMAZÔNIA AGRICULTURA E CERÂMICA SOCIEDADES COMPLEXAS: ASCENSÃO E QUEDA SOBRE OS PRIMEIROS CONTATOS ENTRE EUROPEUS E NATIVOS A RELIGIÃO E A MITOLOGIA ENTRE OS NATIVOS DA AMAZÔNIA II UNIDADE – AMAZÔNIA COLONIAL: OS ESPANHÓIS NA AMAZÔNIA AMAZÔNIA COLONIAL: OS ESPANHÓIS NA AMAZÔNIA OS PORTUGUESES NA AMAZÔNIA LEMBRANÇAS DA FUNDAÇÃO DE BELÉM OS FRANCESES NA AMAZÔNIA A COLONIZAÇÃO DO PARÁ: FUNDOU-SE BELÉM O PAPEL DA IGREJA CATÓLICA NA COLONIZAÇÃO AMAZÔNICA III UNIDADE – OS EUROPEUS E O PRIMEIRO PROJETO COLONIAL PARA A AMAZÔNIA OS EUROPEUS E O PRIMEIRO PROJETO COLONIAL PARA A AMAZÔNIA SOBRE OS MORADORES DE BELÉM NO SÉCULO XVII UM IMPORTANTE RELIGIOSO UM IMPORTANTE NAVEGADOR A JUNTA DAS MISSÕES LENDA DO BOTO A MANDIOCA 7º ANO IV UNIDADE – A ECONOMIA EXTRATIVISTA A ECONOMIA EXTRATIVISTA AMAZÔNIA NO SÉCULO XVIII: O PROJETO DO MARQUÊS DE POMBAL SOBRE AS CIDADES COLONIAIS AMAZÔNICAS AS FRONTEIRAS COLONIAIS DA AMAZÔNIA BRASILEIRA V UNIDADE – O PARÁ NO PERÍODO IMPERIAL O ROMPIMENTO DO PACTO COLONIAL: VINTISMO A ADESÃO DO PARÁ À INDEPENDÊNCIA DO BRASIL (15 DE AGOSTO DE 1823) UMA ECONOMIA DE POLICULTURA VI UNIDADE – OS NEGROS NA AMAZÔNIA BRASILEIRA SOBRE OS NEGROS NA AMAZÔNIA BRASILEIRA A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA NO PARÁ A ECONOMIA NA ÉPOCA DA ABOLIÇÃO A CABANAGEM ( 1835-1840) VII UNIDADE – DIALOGANDO COM A CULTURA POPULAR AMAZÔNICA BOI-BUMBÁ DE PARINTINS AS TRIBOS DE JURUTI 8º ANO VIII UNIDADE – AMAZÔNIA NO SÉCULO XX AMAZÔNIA NO SÉCULO XX: A SOCIEDADE DA BORRACHA (1870-1912) ANTÔNIO LEMOS E A BELLE ÉPOQUE BELENENSE A AMAZÔNIA E AS MIGRAÇÕES O ESTADO NOVO E O BARATISMO IX UNIDADE – O PARÁ EM TEMPOS DE DITADURA GUERRILHA DO ARAGUAIA (1972-1975) X UNIDADE – AMAZÔNIA E MODERNIDADE A FERROVIA MADEIRA-MAMORÉ MARECHAL RONDON NA AMAZÔNIA A CIDADE EMPRESARIAL DE HENRY FORD NA AMAZÔNIA BRASILEIRA A BATALHA DA BORRACHA SOBRE AS MULHERES AMAZÔNICAS XI UNIDADE – CAPITAL E DEVASTAÇÃO NA AMAZÔNIA CAPITAL E DEVASTAÇÃO NA AMAZÔNIA AS FACES DA NOSSA AGRICULTURA EXPERIÊNCIAS COM AGRICULTURA FAMILIAR AGRICULTURA INTENSIVA – AGROINDÚSTRIA-PECUÁRIA O EXTRATIVISMO XII UNIDADE – AMAZÔNIA: URBANIZAÇÃO, MEIO AMBIENTE, CULTURA E RESISTÊNCIA A URBANIZAÇÃO NA AMAZÔNIA ÁGUAS E RIOS DA AMAZÔNIA A LENDA DA COBRA GRANDE O CÍRIO DE NAZARÉ RUY BARATA, UM ENCANTADO DA POESIA 9º ANO XIII UNIDADE – O ESPAÇO AMAZÔNICO CONTEMPORÂNEO A AMAZÔNIA LEGAL POLÍTICAS PÚBLICAS NA AMAZÔNIA PROJETO SIVAM — SISTEMA DE VIGILÂNCIA DA AMAZÔNIA O QUE É O SIVAM? PROJETO CALHA NORTE XIV UNIDADE – MIGRAÇÃO E EDUCAÇÃO NA AMAZÔNIA MIGRANTES NA AMAZÔNIA EDUCAÇÃO NOS CAMPOS DA AMAZÔNIA XV UNIDADE –AMAZÔNIA BRASILEIRA LOCALIZAÇÃO DA AMAZÔNIANA AMÉRICA DO SUL E NO BRASIL CARACTERÍSTICAS MAIS GERAIS SOLOS DA AMAZÔNIA CLIMAS DA AMAZÔNIA PESCA NA AMAZÔNIA XVI UNIDADE – ESTADOS DA REGIÃO AMAZÔNICA: ASPECTOS GEOGRÁFICOS E CULTURAIS AMAZONAS: CAPITAL MANAUS SOBRE A ZONA FRANCA DE MANAUS AMAPÁ: CAPITAL MACAPÁ ACRE: CAPITAL RIO BRANCO CHICO MENDES MARANHÃO: CAPITAL SÃO LUÍS CULTURA PARÁ: CAPITAL BELÉM - SOBRE A FUNDAÇÃO DA NOSSA BELÉM SOBRE A ILHA DO MARAJÓ SOBRE O REI DO CARIMBÓ: PINDUCA TOCANTINS: CAPITAL PALMAS SOBRE PALMAS, A CIDADE CAPITAL RONDÔNIA: CAPITAL PORTO VELHO ÍNDIOS, OS PRIMEIROS HABITANTES DE RONDÔNIA RORAIMA: CAPITAL BOA VISTA REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS HINO DO PARÁ MAPAS 6º ANO I UNIDADE A AMAZÔNIA PRÉ-COLONIAL II UNIDADE AMAZÔNIA COLONIAL: OS ESPANHÓIS NA AMAZÔNIA III UNIDADE OS EUROPEUS E O PRIMEIRO PROJETO COLONIAL PARA A AMAZÔNIA I UNIDADE - A AMAZÔNIA PRÉ-COLONIAL Dialogando com a música Amazônica. CABOCLO CERAMISTA Em eras primevas Amazônia Índios e os primeiros cacicados Veio uma cultura rica e rara Ananatuba, Mangueiras e Formigas E o esplendor da cerâmica marajoara Tapajônicos e Santarenos Esculpindo o barro emoldando a vida Na habilidade das mãos Expressam o amor Os mitos e religiões Com o esplendor da cultura marajoara Nas pinturas Com o negro das fuligens Urucum e caulim E em cada traço geométrico O início e o fim O belo, o rude e o tétrico E o caprichoso em sua arte infinita, infinita Relembra os nossos ancestrais e a sua herança bendita Que ainda hoje vive nas mãos do caboclo ceramista. (Boi Caprichoso, Parintins, Amazonas) REFLETINDO SOBRE A LEITURA 1- O que você sabe sobre os mitos e religiões dos povos indígenas da Amazônia? 2- Quais tribos indígenas são mencionadas no texto? 3- De acordo com o texto, quais aspectos dos povos da Amazônia estão presentes na arte marajoara? 4- Como se chamam os bois–bumbá de Parintins? A AMAZÔNIA PRÉ-COLONIAL A região brasileira onde vivemos e que o mundo conhece pelo nome de Amazônia é considerada por muitos como uma das mais ricas do planeta. Aqui temos uma grande reserva de água doce, ar puro, plantas medicinais, frutas, flores, animais, metais, comidas, formas de falar, comer, vestir-se... Enfim, diversas formas de viver. Diferenças que nos embelezam e nos enriquecem mas que despertam o interesse e a cobiça de estrangeiros. Nesse mesmo espaço, encontramos motivos para ficarmos tristes. Convivemos com enormes desigualdades sociais, como a fome, as doenças e a violência. Faces de uma realidade que precisa ser mais bem compreendida, para que os habitantes locais possam encontrar formas de vida mais dignas. Para entender um pouco mais a realidade de quem vive na Amazônia, daremos uma olhada mais de perto no passado dessa parte do Brasil. Observando aspectos históricos, geográficos, sociológicos, filosóficos e antropológicos, talvez possamos descobrir maneiras de viver melhor. O MEIO FÍSICO AMAZÔNICO As nascentes do rio Amazonas estão nos Andes, território peruano, de formação geológica recente, com apenas seis milhões de anos — considera-se a história do planeta com mais de quatro bilhões de anos. As montanhas das cordilheiras sofrem um processo erosivo intenso causado pelo regime de chuvas e variações climáticas que levam ao derretimento das geleiras. Como consequência de sua juventude geológica, os sedimentos transportados pela erosão são muito ricos em nutrientes. O transporte pelos rios e a disposição em áreas mais baixas realiza um intenso processos de fertilização dos solos a cada cheia anual. Algo parecido ao verificado no rio Nilo. No século XIX ficaram conhecidos como “rios de água branca”, devido à sua coloração barrenta. Os rios Negro e o xingu têm suas áreas de cabeceiras em regiões geológicas mais antigas, no planalto das Guianas e no planalto Central; são conhecidos como rios de “águas pretas” e não são ricos em nutrientes, logo pouco fertilizam os solos que inundam. Quando sobrevoamos a floresta Amazônica, somos levados a crer que os solos são bastante férteis. Essa impressão é um engano. Os solos da Amazônia, em geral, são pouco férteis, pois, segundo pesquisadores, como Betty Meggers, são expostos a chuvas torrenciais e evaporações causadas pelo forte sol equatorial, tornando-se ácidos e incapazes de manter seus nutrientes, em um fenômeno conhecido como lixiviação. Mas, ainda assim, a floresta desenvolve-se devido a um importante processo de reciclagem em que folhas e troncos caídos são decompostos e reabsorvidos, com a ajuda de micorrizos e fungos que vivem nas raízes das plantas. Essa reciclagem, no entanto, só ocorre na camada mais superficial do solo. Os desmatamentos interrompem esses processos de reciclagem, retardando a recomposição florestal. As populações nativas que viviam e vivem da caça preferem os animais que habitam as copas das árvores; as exceções são os porcos-do-mato, que andam em bandos. Antas, pacas e capivaras são presas valiosas, mas são solitárias e de comportamento imprevisível, o que dificulta a caça. Nesse cenário, os macacos são presas preferidas por serem barulhentos, andarem em bandos e possuírem um comportamento territorial marcado. Nesse universo de caça, a zarabatana constitui-se em uma indispensável ferramenta para os caçadores. Por outro lado, os animais aquáticos representam uma fonte previsível e abundante de recursos alimentares. Assim, as áreas ribeirinhas são mais ricas em alimentos para as populações do que a terra firme. A marcante biodiversidade da Amazônia corresponde a uma enorme sociodiversidade, prova disso são as inúmeras línguas indígenas aqui faladas, que derivam de ao menos quatro grandes famílias distintas: tupi-guarani, arawak, carib e gê. A diversidade social também mostra que alguns grupos humanos têm uma ideologia voltada para a guerra; há sociedades nômades com economia voltada para a caça e a pesca vivendo ao lado de grupos sedentários que vivem da agricultura. Essa variação do presente é confirmada por estudos arqueológicos do passado. Portanto, não podemos pensar que as populações pré-colombianas da Amazônia tinham um comportamento social homogêneo. REFLETINDO SOBRE A LEITURA Responda em seu caderno: 5- Segundo o texto, por que os solos da Amazônia são pouco férteis? 6- De acordo com o texto, o que é lixiviação? 7- Quais línguas indígenas são mencionadas no texto? 8- O que são sociedades nômades? O INÍCIO DA OCUPAÇÃO HUMANA NA AMAZÔNIA Os recentes estudos arqueológicos do passado amazônico têm revelado que essa região já era habitada há aproximadamente 11.000 anos. Os indícios encontrados na Caverna da Pedra Pintada, em Monte Alegre, no baixo-Amazonas, e a cerâmica do povo marajoara, no estado do Pará, têm apontado novos caminhos, no sentido de um melhor entendimento do passado comum amazônico. Um aspecto importante a considerar está relacionado à diversidade econômica, social e cultural dos povos daqueles tempos. As populações dividiam-se basicamente em sedentárias, ligadas mais à agricultura, e nômades, a maioria, mais ligadas a pesca, caça e coleta de frutas. Dentre os principais alimentos da dieta daqueles povos estavam: mandioca, mamão, abacate, abóbora, amendoim, batata, maracujá, milho, pimenta vermelha, pupunha e tomate, entre outros — alimentos que foram domesticados por diferentes nações ao longo dos tempos (NEVES, 2006). Nesse painel gastronômico, a mandioca merece destaque; domesticada na Amazônia, hoje é consumida em larga escala pela America Latina, Caribe, áfrica e ásia. Da mandioca, nossos antepassados amazônidos produziam: beiju, farinha, tapioca e o caxiri. A domesticação de plantas e frutas representa umadas maiores contribuições daqueles povos para os nossos dias. AGRICULTURA E CERÂMICA O centro das civilizações que desenvolveram a agricultura na Amazônia pré-colonial foi o alto rio Madeira e seus afluentes, onde hoje se encontra o estado de Rondônia. Esse centro de domesticação é considerado o mais importante da região, a qual também é apontada por estudiosos como o possível centro de desenvolvimento das línguas tupis. Quintais e hortas suspensas, em geral sobre canoas abandonadas, serviam de local para o cultivo de plantas medicinais e temperos, como os diferentes tipos de pimenta. Nessa região também encontravam-se grandes porções de terra preta, solos que foram modificados pelos assentamentos humanos, tornando-se solos extremamente férteis. É importante ressaltar que essas populações não dispunham, na época, de machados ou facões para a derrubada das matas. Esses instrumentos somente foram introduzidos nas sociedades amazônicas a partir do século XVI. O modelo de agricultura básico era de coivara, que consistia na derrubada e queima da área para o posterior plantio. As cinzas, resultantes das queimadas, ainda hoje contribuem para fertilizar os solos da região, que em sua maioria são pouco férteis. A vida útil de uma roça de coivara é relativamente curta: após dois ou três anos, a fertilidade do solo diminui profundamente. As cerâmicas mais antigas das Américas foram encontradas na Amazônia nos anos 1980 pela pesquisadora Anna roosevelt, na região do tapajós e no Marajó. A cerâmica do Marajó é rica em diversidade de formas e data do ano 5000 a.C. Os estudos têm mostrado que a produção da cerâmica na Amazônia antecedeu, em alguns casos, ao desenvolvimento da agricultura, a qual foi beneficiada pelos artefatos criados no interior das sociedades. Nesse sentido, é necessário adquirirmos um importante conceito, o de domesticação de plantas e frutas: é o processo pelo qual características genéticas de plantas selvagens são intencionalmente modificadas até o surgimento de novas espécies, em muitos casos dependentes da intervenção humana para a sua reprodução. (NEVES, 2006) REFLETINDO SOBRE A LEITURA Responda em seu caderno: 9- De acordo com o texto, que é agricultura de coivara? 10- O que caracteriza os solos de terra preta? 11- Qual a importância da domesticação de plantas e frutos na Amazônia? ARQUEOLOGIA DA AMAZÔNIA Uma característica notável das ocupações humanas iniciais na Amazônia é a presença precoce da produção cerâmica, com datas que estão entre as mais antigas da América do Sul. tais cerâmicas foram identificadas no atual estado do Pará, em uma região que começa no baixo Amazonas, próxima às atuais cidades de Santarém e Monte Alegre, passa pelo Baixo rio xingu e chega à chamada zona do Salgado, que de fato é o litoral atlântico desse estado. Eduardo Góes Neves. Arqueologia da Amazônia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006, p. 46. SOCIEDADES COMPLEXAS: ASCENSÃO E QUEDA A ocupação humana na Amazônia pré-colonial não foi um processo regular e crescente. Ela foi caracterizada por períodos de estabilidade e outros de grandes mudanças. As populações estavam envolvidas em redes políticas, econômicas e sociais muito amplas, fato que tem sido mostrado pelos registros arqueológicos. Artefatos como o muiraquitã são encontrados em regiões muito distantes umas das outras, assim como cerâmicas de decoração e armas de guerra. A partir de 2000 anos atrás são encontradas no Alto rio Negro e no Alto xingu estruturas defensivas de sociedades guerreiras. A partir do ano 1000, fortes mudanças climáticas foram responsáveis diretas pela expansão de grupos de língua tupi, pois o aumento pluviométrico expandiu as áreas férteis da região, possibilitando uma agricultura de melhor qualidade. As bases econômicas dessas sociedades eram familiares, grupos nucleares que caçavam, pescavam e plantavam em sua grande maioria. As formações sociais eram marcadas pela instabilidade política e seu apogeu demográfico ocorreu aproximadamente no século 12 a.C. No século XVI, a região foi invadida pelos europeus e o processo de destruição das sociedades nativas locais teve início. Os índios, como foram chamados, tiveram que abandonar suas terras e fugir para o interior da floresta. Tanto que, nos dias de hoje, é comum as reservas indígenas localizarem-se nas cabeceiras dos rios, como as do Alto rio Negro e do Alto xingu. É preciso ressaltar que a Amazônia pré- colonial era densamente povoada, inclusive por sociedades complexas, com economias e políticas desenvolvidas, e que os nativos foram mortos ou expulsos de suas terras. Isso não nos permite admitir que os europeus, quando aqui chegaram, ocuparam terras que não tinham donos. REFLETINDO SOBRE A LEITURA Responda em seu caderno: 12- Quais as bases econômicas das sociedades complexas mencionadas no texto? 13- Por que essas sociedades são chamadas de complexas? SOBRE OS PRIMEIROS CONTATOS ENTRE EUROPEUS E NATIVOS No século XVI, a região amazônica era habitada por diferentes povos, que além da semelhança física possuíam costumes parecidos. A arte de pintar o corpo, a prática da caça e da pesca, a crença em espíritos e uma relação de respeito com a natureza eram traços importantes dos povos que habitavam a região, mas que não os tornavam iguais. Dentre as muitas diferenças existentes entre os povos que habitavam a região amazônica, destacam- se as línguas faladas por eles. Acredita-se que, à época em que os primeiros exploradores europeus chegaram à Amazônia, as populações que aqui viviam falavam cerca de 1300 diferentes línguas. Naquelas sociedades, a divisão das tarefas era muito respeitada. Cada membro do grupo realizava seu trabalho. Existiam tarefas que eram realizadas somente por homens, como caçar e pescar, e outras só por mulheres, como preparar os alimentos e os utensílios domésticos. Nas moradias, chamadas de aldeias, as crianças aprendiam brincando. Convivendo com os adultos elas descobriam os costumes e os modos de viver de seu povo. Acredita-se que, nessas sociedades, os jovens aprendiam muito com as histórias contadas pelos mais velhos. O pajé da tribo era considerado o mais sábio, pois acumulava conhecimentos de curas espirituais e corporais. Era respeitado. Em geral, era o membro mais velho da comunidade. No século XVI, o povo Manaús, a nação de Ajuricaba, era considerado uma das maiores populações amazônica. No início desse mesmo século, os primeiros europeus invadiram nossa região e, logo que chegaram, já chamaram os nativos de índios e perceberam que para aqui sobreviverem precisariam primeiramente estabelecer alianças com os donos do lugar. A RELIGIÃO E A MITOLOGIA ENTRE OS NATIVOS DA AMAZÔNIA A religião indígena é chamada de religião de encantamento, pois, quando um membro da comunidade morre, transforma-se em um elemento da natureza — uma árvore, uma pedra, um rio, um pássaro ou uma planta. Um dos principais deuses é tupã, o criador do mundo. Existe a adoração de pedras, árvores e animais. Os fenômenos da natureza são controlados pelo deus tupã. trovões, ventanias, chuvas fortes, relâmpagos são sinais de que deus estava bravo, que algo errado foi feito. Os mitos são narrativas orais que têm o objetivo de explicar as origens de um povo ou aspectos de sua cultura. Um conjunto de vários mitos é chamado mitologia. Essas narrativas foram registradas pela primeira vez pelos gregos no Mundo Antigo. Aqui, em nossa Amazônia, os mitos também aparecem desde longa data. é comum encontramos narrativas sobre a origem da terra, dos rios, das matas e dos animais. Entre o povo amazônico usa-se mais a palavra “lenda”. Entre os antigos moradores da Amazônia,as lendas eram e são histórias verdadeiras, que ainda povoam o imaginário de parte da população ribeirinha; dentre as mais famosas da região encontramos a do rio Pará com a Vitória-régia, a lenda da Cobra Grande, a lenda do Boto e da Yara, a Mãe d’água. Por meio da mitologia amazônica, herdada em grande parte dos povos indígenas, é possível ainda hoje identificarmos partes importantes da cultura dos povos da Amazônia. REFLETINDO SOBRE A LEITURA Responda em seu caderno: 14- De acordo com o texto, como era a relação dos nativos com a natureza? 15- Quais as principais lendas amazônicas apontadas no texto? 16- Como estava dividida as tarefas sociais entre os povos nativos da Amazônia? 17- Quais fenômenos deuses? AJURICABA Ajuricaba, informado da tragédia, retorna à maloca manaú e assume a chefia. Durante três dias, os manaús e seus aliados comemoraram o fato. Começava a trajetória de lutas que iria imortalizar o tuxaua manaú. Ele estava com 22 anos, tinha duas mulheres, filhos, era um guerreiro completo. Mas ele amava mesmo era inhambu, filha de Poararé, o tuxaua xirianá, seu maior inimigo. (...) Ajuricaba colocou em movimento seus guerreiros, realizando diversos ataques aos colonos isolados, às fazendas, aos engenhos e até mesmo às malocas de chefes que compactuavam com os portugueses. Foi assim que ele capturou inhambu. Márcio Souza. Ajuricaba, o caudilho das selvas. São Paulo: Callis, 2006, p. 33. II UNIDADE - AMAZÔNIA COLONIAL: OS ESPANHÓIS NA AMAZÔNIA Dialogando com a música amazônica. A CONQUISTA Um dia chegou nessa terra um conquistador, Manchando de sangue no solo que ele pisou, Não respeitou a cultura do lugar, Nem a história desse povo milenar. Queria ouro, riqueza e tesouro, Depois a terra e também a escravidão, Tibiriçá, Arariboia, Ajuricaba disseram não. Um dia o índio lutou contra o branco invasor, E a guerra de bravos guerreiros então começou, Arcos e flechas contra a força do canhão, Guerra dos ímpios dizimou minha nação... Trouxeram cruz, mas usavam arcabuz E o ameríndio resistiu à invasão Chamaram a morte e o massacre do meu povo Civilização Chegou o branco pra conquistar, chegou o negro para trabalhar Unindo raças e crenças de povos vindos de além mar. (Boi Garantido, Parintins, Amazonas) REFLETINDO SOBRE A LEITURA Responda em seu caderno: 18- Releia com atenção o texto A conquista. 19- De acordo com o texto, quem é o conquistador? 20- O que o conquistador buscava? 21- Quais guerreiros nativos são mencionados no texto? 22- Quais armas mencionadas no texto são usadas por brancos e nativos? AMAZÔNIA COLONIAL: OS ESPANHÓIS NA AMAZÔNIA No ano de 1541, o capitão espanhol Francisco Orellana partiu de quito, no Equador, na companhia de vinte e um homens, dentre os quais frei Gaspar de Carvajal, que se tornou o cronista oficial daquela expedição. Orellana iria encontrar-se com Gonzallo Pizarro, seu irmão, que havia partido em fevereiro daquele ano rumo a um suposto reino da canela. No século XVI, a canela era uma das especiarias mais valiosas do mundo. Utilizavam-na para fabricar perfumes, temperar alimentos e, principalmente, fazer remédios. Quando os exércitos de Gonzallo Pizarro e Francisco Orellana juntaram suas forças, passaram a contar com duzentos cavalos, mil cães e quatro mil escravos indígenas, além de duzentos e cinquenta soldados. Em novembro de 1541, após uma jornada exaustiva, metade desta quantidade já havia morrido. Em janeiro de 1542, Orellana e Pizarro entraram na gigantesca e misteriosa floresta Amazônica. Logo perceberam que as árvores de canela eram poucas e de pouco valor comercial. revoltado, Pizarro jogou aos cães metade dos índios e queimou o restante. Os viajantes perderam-se na floresta. A comida acabou. Construíram embarcações e subiram os rios na esperança de encontrar tribos para serem saqueadas. A expedição separou-se. Em seguida, Pizarro voltou a quito achando que tinha sido abandonado de propósito pelo irmão. Em julho daquele ano, Orellana entrava no rio trombetas e ali, de acordo com os relatos de viagem de Gaspar de Carvajal, a expedição foi atacada por uma tribo de mulheres guerreiras que usavam arco e flecha e corriam com extrema agilidade. Essas mulheres foram chamadas de amazonas, as mulheres guerreiras, fazendo referência às amazonas da Grécia. Orellana voltou para a Espanha sem encontrar o reino da canela. Em 1545, organizou uma nova viagem em direção ao rio das amazonas. Dessa vez não voltaria ao seu país natal; no meio da floresta a expedição foi dizimada por cobras, mosquitos, falta de alimentos, doenças mortais e nativos canibais. O reino da canela foi encontrado, mas aquela expedição, assim como outras, foi “devorada” pela imensa Amazônia verde. A partir desse período, começam os encontros de duas culturas diferentes: a dos europeus, que se diziam “civilizados e donos de uma cultura superior”, e a dos nativos da Amazônia, que seriam aos poucos destruídos pelos invasores. REFLETINDO SOBRE A LEITURA Responda em seu caderno: 23- Quem foi Gaspar de Carvajal? 24- O que buscavam os exploradores? 25- Quais os rios mencionados no texto? 26- Quem eram as mulheres guerreiras? 27- Quais os maiores desafios enfrentados pelos exploradores? ARQUEOLOGIA DA AMAZÔNIA II De meados do século XVI ao início do século XVII, quando os primeiros europeus visitaram ou se estabeleceram na Amazônia, era comum a referência à presença de grandes aldeias, algumas ocupadas por milhares de pessoas, integradas em amplas redes regionais de comércio e em federações políticas regionais. já no início do século XVIII, tais referências desapareceram dos registros históricos. isso está diretamente ligado ao processo de diminuição populacional. (...) consequência da transmissão de doenças, da guerra e da escravidão. Eduardo Góes Neves. Arqueologia da Amazônia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006, p. 8. OS PORTUGUESES NA AMAZÔNIA No século XVI, Espanha e Portugal eram dois reinos europeus que viviam em constante guerra por causa de terras. No final do século XV, mais precisamente em 1492, um navegador genovês chamado Cristóvão Colombo, financiado pelos reis de Castela, na Espanha, encontrou um novo continente, que mais tarde foi batizado com o nome de América . imediatamente, os portugueses procuraram os reis espanhóis e exigiram uma parte das novas terras. Foi assinado, então, o Tratado de Tordesilhas (1494), um documento com o qual se traçava uma linha imaginária dividindo as terras da América: uma parte para a Espanha e uma parte para Portugal. No ano de 1580, o rei português, Dom Sebastião, foi morto em batalha e o trono de Portugal ficou vazio. O rei da Espanha, Felipe ii, tomou posse do reino e transformou os dois territórios em um único reino espanhol. Pelo tratado de tordesilhas, a região do rio das Amazonas não era de Portugal, mas, a partir de 1580, como não havia mais a separação dos reinos, os portugueses foram aos poucos entrando na imensa floresta verde e construindo fortes. Os fortes eram bases militares criadas para protegerem-se dos inimigos. Construíam uma pequena casa de madeira e palha, com um muro e canhões de frente para o mar. Naquela época, várias nações invadiram a região: franceses, holandeses e ingleses. todos queriam dominar esse território. As guerras eram constantes. Cada nação europeia tentava dominar os nativos para poder usá-los contra seus inimigos, pois os habitantes da região conheciam as matas, os animais e as plantas e sabiam como sobreviver na floresta. Dessa forma, em 1612 os franceses fundaram São Luís e, em 1616, o capitão português Francisco Caldeira Castelo Branco entrou na Amazônia e fundou o forte do Presépio (hoje forte do Castelo). Batizou a região com o nome de Feliz Lusitânia, que no futuro transformou-se no Estadodo Grão-Pará. Os povos da Amazônia chamavam o principal rio dessa parte da Amazônia de Pará, palavra indígena que significa “mar”. Os portugueses, quando aqui chegaram, acharam que o rio era muito grande e chamaram-no de Grão-Pará (grande-mar). REFLETINDO SOBRE A LEITURA Responda em seu caderno: 28- Qual a importância do tratado de tordesilhas para a expansão de nossas fronteiras? 29- Qual a importância dos fortes no processo de colonização da região? 30- Quais as consequências da morte de Dom Sebastião para a Amazônia? LEMBRANÇAS DA FUNDAÇÃO DE BELÉM Agora, convido você a fazer um exercício de imaginação, de como seria a capital do Estado do Pará há aproximadamente quatro séculos. Nesse sentido, faremos a única volta no tempo possível até o momento, aquela que os estudos históricos nos permitem. A história da fundação da principal capital da Amazônia, Belém, tem início bem antes de 12 de janeiro de 1616, data de sua fundação. Para entender o significado histórico daqueles acontecimentos, voltaremos a uma época em que o Grão-Pará, o “grande rio”, era apenas uma vaga referência e não existia nem na cabeça daqueles que um dia fundariam a Santa Maria de Belém. Tudo começou quando os reinos ibéricos, Portugal e Espanha, decidiram recuperar o tempo perdido. Naquela época, século XVII, a grande região Norte do Brasil era bem mais conhecida por ingleses, franceses e irlandeses do que por Portugal e Espanha, seus “verdadeiros donos”, de acordo com o tratado de tordesilhas. As rotas comerciais que mais interessavam aos monarcas ibéricos eram as que ligavam Salvador às índias e o Rio de Janeiro ao rio da Prata, na Argentina. Portanto, o interesse das nações ibéricas pelo Norte da colônia foi tardio. Sabiam, porém, que se não povoassem a região Norte certamente a perderiam para outras nações. O descuido de Portugal com a parte Norte da colônia acontecia por motivos justos, diziam alguns. O rei estava mais preocupado com as decadentes possessões nas índias e com a possibilidade de conseguir ganhos comerciais com as capitanias do Sul do Atlântico. O gasto com a fundação de novas cidades não era uma boa ideia. Em 1612, o governador do Brasil avaliava a situação e dizia que, se fosse povoar o extremo Norte, seria com gastos “moderados”. Diogo de Menezes conhecia muito bem o quanto teria que gastar. A coroa não vivia seus melhores tempos; era preciso fazer economias. Povoar a região exigiria embarcações, pagamentos de soldados, oficiais e religiosos, e, obviamente, mobilizar muitos índios aliados, pois só os soldados portugueses não eram o suficiente. Mais tarde, viriam os gastos com construção e manutenção de prédios públicos, igrejas e fortificações, sendo assim criar novas cidades definitivamente não estava nos planos do governo de Portugal, a não ser que algo de muito importante viesse a acontecer. Neste ponto, faz-se necessário uma importante explicação: mesmo com a União ibérica (1580-1640) entre os reinos português e espanhol, os portugueses mantinham certa autonomia no processo de colonização. Sempre que um novo território era conquistado, os soldados faziam questão de deixar bem claro que tudo era feito em nome da Coroa portuguesa. talhavam o brasão da coroa, para registrar a posse. Claro que não deixavam de mostrar o devido respeito pelo rei da Espanha, Felipe ii. Antes de Belém existir, havia apenas um grande território, que foi batizado pelos franceses de Maranhão. Essa imensa região pertencia aos portugueses, pelo tratado de tordesilhas, mas os donos não conheciam as terras que possuíam. OS FRANCESES NA AMAZÔNIA “Franceses no Maranhão!” Pipocavam notícias por todos os lados de que os franceses haviam invadido, dominado, e que fundariam uma nova França na região — seria a “França Equinocial”, no extremo Norte das terras lusas. Os relatos diziam que os franceses firmaram alianças com tribos indígenas, falavam a língua dos nativos e conheciam como ninguém as rotas marítimas. Nesse cenário, ganharam destaque os desbravadores franceses jacques riffault e Charles de Vaux. Quando esses relatos chegaram a Portugal, os soberanos concluíram logo que algo precisava ser feito. No começo, decidiram que era possível administrar o extremo Norte do Brasil a partir das colônias do litoral de Pernambuco ou da Bahia. Essa ideia logo foi descartada quando começaram a perceber a enorme distância que separava os extremos da colônia. Era muito tempo de viagem. relatos da época contam que muitas viagens de Salvador para Belém demoraram anos. Um dos principais desafios enfrentados pelos navegadores portugueses era o total desconhecimento das rotas marítimas da região. inúmeras embarcações e homens perderam-se nas viagens para cá. Fato que ajudou na decisão de povoar a região. Outro elemento natural que representava barreira era o vento, que na época era o principal responsável pelo movimento das embarcações; conhecer a direção do vento significava vida ou morte. A distância, como já foi comentado, entre o Pará e as capitanias mais velhas era muito grande e representava um importante motivo para que Portugal colonizasse essa região. Em 1614, o governador do Brasil na época, Gaspar de Sousa, estava convencido da necessidade de fundar uma cidade no extremo Norte e criar um governo separado para administrar a região. Faltava era convencer o rei dessa necessidade. Os relatos dos viajantes mostravam que, sempre que desafiavam o vento, acabavam sem querer nos mares do Caribe. O caso era simples: ou Portugal colonizava a região ou a perdia definitivamente para outras nações. Pelo menos era a propaganda que os navegadores e os comerciantes interessados no negócio faziam. A coroa decidiu, então, fundar duas fortificações: uma no Maranhão e outra no extremo Norte, que viria a ser Belém. Você já percebeu que falar da fundação de Belém é falar da fundação de São Luís, ou forte de São Felipe, como chamavam os franceses. Nesta parte é importante destacar a forte presença dos pernambucanos na fundação de Belém. inúmeros comerciantes, soldados e índios vieram na empreitada, até mesmo o governador Gaspar de Sousa, que transferiu o governo da Bahia para recife, pois as notícias da conquista chegavam mais depressa em Pernambuco do que em Salvador. Para o então governador, a primeira etapa da conquista consistia em expulsar os invasores, depois em criar um novo Estado. Partiram então de Pernambuco nas embarcações Santa Maria da Candelária, Santa Maria da Graça e Assumpção em direção ao norte. já foi dito que os portugueses não conheciam os aspectos físicos da região, fato explicado pelo interesse tardio por essa parte da colônia. A falta de experiência era o maior inimigo dos lusos. Baías, canais estreitos e ventos fortes nos meses de dezembro e janeiro foram inimigos ferrenhos. Outro desafio presente era a conquista dos nativos. todos sabiam que sem o apoio dos índios, a tarefa era impossível. Em 12 de janeiro de 1616, sob o comando de Francisco Caldeira Castelo Branco, os lusos chegaram à região onde fundaram a cidade de Belém. O local escolhido para a construção do forte do Presépio, feito de madeira e palha, foi uma região repleta de acidentes geográficos, cheia de ilhas, igarapés e pântanos — barreiras naturais que facilitavam a proteção. O forte ficou entre o rio, com bancos de areia, e o pântano. A região foi chama de Feliz Lusitânia. A COLONIZAÇÃO DO PARÁ: FUNDOU-SE BELÉM A primeira rua criada na cidade foi a rua do Norte, hoje ladeira do Castelo. A cidade, então, começou a crescer à sombra do forte, como era comum na época. Aos poucos as habitações foram sendo construídas às margens do rio Guamá, casas cobertas de palha, que eram restauradas periodicamente. O primeiro bairro constituído ficou conhecido como “Cidade”, hojeCidade Velha. Em seguida, a outra margem do igarapé Piri foi povoada, dando origem ao bairro da Campina. Nessa época, já se faziam presentes no povoado os padres franciscanos, conhecidos como capuchos ou capuchinhos. Logo deram início às atividades comerciais e às plantações de tabaco e cana-de-açúcar, para os engenhos. As plantações tomaram largas áreas da Feliz Lusitânia naqueles tempos. A expansão territorial tinha como consequência básica o choque com as tribos indígenas. quando chegaram aqui, os lusos não encontraram tantos inimigos estrangeiros. Depararam-se mesmo com diversas nações indígenas que se revelaram fortes obstáculos à ocupação territorial. Conter a fúria dos nativos foi o principal desafio. Afinal, as terras já tinham dono, e os portugueses eram os invasores. Tupinambás, tabajaras e Nheengaíbas não davam trégua aos europeus. Em 1618, ocorreu um grande ataque ao Forte do Presépio, episódio que trouxe consequências amargas aos colonizadores. Os índios de São Luís e do Pará foram duramente reprimidos pelas forças militares, as quais, por sua vez, aprenderam com franceses e holandeses que os índios catequizados podiam tornar-se importantes aliados. A quantidade de índios aliados era sempre inferior ao número de soldados. Os portugueses sabiam de suas limitações na relação com os nativos. A língua era uma barreira dificílima para os lusitanos. No começo, eles ficavam espantados com a destreza com que os franceses se comunicavam com os índios. Nesse processo, os portugueses sabiam que os religiosos eram de grande valor, infelizmente os clérigos eram poucos para atuar na conversão do nativo ao cristianismo, fato lamentado por muitos. Apesar dos conflitos ao longo do século XVII, os padres das diversas ordens religiosas aceitaram fazer parte do projeto colonizador da Coroa portuguesa na região. Era cada vez maior o número de pedidos para que a Coroa enviasse de Portugal mais religiosos para o Pará, pois o número de índios não cristãos era muito grande. Muitos preferiam o trabalho dos jesuítas, considerados os melhores no processo de catequese. Nos primeiros tempos faltava de tudo na cidade: padres, armas, munição e comida, que era escassa, pois para tudo se necessitava do índio. Com o passar dos anos não mudou muito, eram constantes as cartas enviadas ao rei em que os moradores queixavam-se da falta de redes para pescar e açougues que vendessem carne. Nos primeiros anos, a maioria dos moradores era militar; faltavam ferreiros, carpinteiros, sapateiros, pedreiros e funcionários letrados. Por isso, outro desafio foi convencer outros portugueses a vir morar aqui. Um dos primeiros propagandistas da região foi Simão Estácio da Silveira, capitão que escreveu, em 1624, uma verdadeira apologia aos estados do Maranhão e Grão-Pará. Seu objetivo era convencer moradores pobres do reino de que a vida aqui era promissora. O céu, a água e a fertilidade do solo estavam entre os maiores atrativos da propaganda e, claro, o tucupi, a tapioca e o beiju. REFLETINDO SOBRE A LEITURA Responda em seu caderno: 31- Qual o principal motivo que levou os reis ibéricos a colonizarem, no século XVI, a região que hoje chamamos de Amazônia? 32- Quais eram as outras nações europeias que invadiram a Amazônia no século XVI? 33- Quais foram as primeiras tribos indígenas enfrentadas pelos europeus? 34- Em que data e por quem Belém foi fundada? 35- “Falar da fundação de Belém é falar da fundação de São Luís.” Comente essa afirmação. 36- Quais as maiores dificuldades enfrentadas pelos primeiros moradores, de acordo com o texto? 37- Quais as profissões que aparecem no texto? 38- Quais os maiores atrativos da região de acordo com a propaganda? O PAPEL DA IGREJA CATÓLICA NA COLONIZAÇÃO AMAZÔNICA Graças à atuação dos padres franciscanos que vieram com Francisco Caldeira, o contato inicial entre portugueses e tupinambás foi pacífico. Foram os padres franciscanos que organizaram os primeiros aldeamentos e iniciaram a conversão dos nativos ao cristianismo. também atraíram indígenas para lutar ao lado dos portugueses na expulsão de holandeses, ingleses e franceses da região. Em 1640, terminou a União ibérica. As terras da Amazônia, nessa época, já estavam quase todas em mãos portuguesas, e delas não mais sairiam. A partir de 1653, época em que os padres jesuítas instalaram-se no Pará, as relações entre índios e colonos já não eram tão pacíficas. Assim, como ocorreu nos primeiros tempos de colonização no restante do território brasileiro, também no Pará os portugueses quiseram escravizar os nativos e encontraram a resistência dos jesuítas. Mas quem eram os jesuítas? Os jesuítas eram padres da Companhia de jesus, uma ordem religiosa criada por inácio de Loiola, no século XVI, para conter o avanço do protestantismo religioso na Europa. quando os europeus vieram para a América, trouxeram esses religiosos para ensinar o cristianismo para os nativos. Desde o início, os europeus não respeitaram a cultura dos povos da América. Logo estabeleceu-se um conflito. De um lado, os colonos portugueses, que queriam e utilizavam o índio como escravo. Esses índios eram caçados na mata, em expedições denominadas descimento, porque subiam até o alto dos rios e depois desciam pela mata prendendo os nativos. Do outro lado, os padres jesuítas, que não concordavam com a escravidão e defendiam o trabalho livre dos nativos em comunidades, que recebiam o nome de missões. Nessas comunidades, os índios aprendiam a comportar-se como os brancos: vestiam roupas, comiam, bebiam, rezavam e trabalhavam como os brancos. Esses índios, depois que passavam por esse processo, eram chamados de tapuios, índios destribalizados pela ação dos jesuítas. Esse conflito transformou-se em uma batalha sangrenta em 1681, quando os irmãos tomás e Manoel Beckman, comerciantes e moradores do Maranhão, lideraram uma revolta contra o governo, exigindo escravos africanos. Os revoltosos tomaram a capital São Luís, queimaram igrejas e mataram padres. Essa revolta foi motivada pela falta de mão de obra para o trabalho em canaviais e engenhos que produziam açúcar na Amazônia. A falta de alimentos também provocou a revolta, pois os portugueses ricos consumiam alimentos importados de Portugal, vinhos, pães, bacalhau e uvas. As companhias de comércio responsáveis pelo abastecimento desses produtos nem sempre abasteciam os moradores da Amazônia. A revolta durou aproximadamente um ano e, em 1682, os Beckman foram presos e mandados para Portugal. Os padres jesuítas continuaram a ação missionária na Amazônia. Os conflitos também continuaram. Nessas lutas, centenas de nativos eram mortos. REFLETINDO SOBRE A LEITURA Responda em seu caderno: 39- Qual ordem religiosa é mencionada no texto? 40- Por que os portugueses precisavam estabelecer uma relação de amizade com os tupinambás? 41- Quem eram e o que faziam os irmãos Beckman? 42- Quais as razões dos conflitos entre os colonos e os jesuítas? 43- O que foi a revolta de Beckman de 1681? III UNIDADE - OS EUROPEUS E O PRIMEIRO PROJETO COLONIAL PARA A AMAZÔNIA OS EUROPEUS E O PRIMEIRO PROJETO COLONIAL PARA A AMAZÔNIA Na segunda metade do século XVI, diversas nações da Europa invadiram a região que hoje conhecemos como Amazônia. O projeto inicial era conquistar a posse das terras para, em seguida, montar um aparelho de exploração das riquezas da época, dentre elas as drogas do sertão. Nessa empreitada, os espanhóis saíram na frente, mas logo perderam o posto para franceses, ingleses, irlandeses e holandeses. Entre a conquista da terra e os europeus estavam as centenas de tribos indígenas, que já eram as donas do lugar. O elemento surpresa foi a capacidade que os invasores tiveram de aprender as línguas nativas e, por meiode um astucioso jogo de sedução, transformar os nativos em aliados. Obviamente, nem todos os povos deixaram-se seduzir; muitas nações lutaram até a morte. Os conquistados tornaram-se a principal mão de obra do projeto colonizador europeu na região. Os lusitanos, ao tomarem a região, a partir de 1612, fizeram uso das mesmas artimanhas utilizadas por outras nações da Europa; vale considerar o fato de que os ibéricos contavam com o apoio das diversas ordens religiosas da igreja católica: franciscanos, capuchos, jesuítas, etc. Vieram para a Amazônia obedecendo às ordens da Coroa de Portugal e da Espanha, para ajudar no processo de conquista dos nativos, pois aqui tinham muitas almas que precisavam ser salvas. Naquele momento, os reis queriam as riquezas terrenas e a igreja, as riquezas espirituais. No primeiro projeto colonial português para a região Amazônica, que vigorou da segunda década do século XVII à metade do XVIII, eram exploradas as drogas do sertão e produzidos tabaco, arroz e açúcar em grandes plantações. tudo feito com a mão de obra indígena, que também faziam trabalhos domésticos e em obras públicas, além de estarem na linha de combate, nas guerras. Nesse sentido é importante lembrar que a criação do Estado do Maranhão e Grão Pará, em 1621, o domínio da língua geral (nheengatu) e a criação da junta de Missões são elementos chave dentro desta que é considerada a primeira grande investida portuguesa no sentido de conquistar, e manter conquistada, a região, que, por estar mais próxima de Portugal do que o resto do Brasil, exigiu e possibilitou que outros projetos coloniais fossem colocados em prática aqui, no decorrer dos séculos seguintes. O que fica evidente nesse primeiro momento é que foi o braço de trabalho indígena que, por caminhos variados, e em boa parte ainda desconhecidos, começou a erguer a civilização colonial portuguesa, implantada na Amazônia ao longo do século XVII. REFLETINDO SOBRE A LEITURA 44- Quais as principais características do primeiro projeto de colonização colocado em prática pelos europeus na Amazônia? SOBRE OS MORADORES DE BELÉM NO SÉCULO XVII Em 1620, o rei Felipe ii, por meio de uma carta-patente, decidiu criar um estado independente no Norte do Brasil, chamado Estado do Maranhão e Grão-Pará. Entre os principais argumentos para tal ato estava a dificuldade de navegação na região; saindo daqui, era mais fácil e rápido chegar a Lisboa do que a Salvador. A partir de então, ora a região era governada de São Luís, ora de Belém. Os estudiosos da época dividiam os moradores de Belém do século XVII em quatro grandes grupos: o primeiro eram os portugueses, ricos e pobres; o segundo eram os índios (cristãos ou não) e os africanos; o terceiro era o grupo formado a partir das misturas dessas diferentes raças, os mamelucos; e o quarto eram os estrangeiros. Os ricos daqueles tempos possuíam escravos, plantações de tabaco e cana- de-açúcar. Esse grupo também detinha o poder político da região, eram os cidadãos, apenas eles podiam portar armas, votar e ser votados — eram “a nobreza da terra”. O fato de pertencer à nobreza não significava que viviam com fartura. Eram tempos difíceis. As casas eram rudimentares, em geral de taipa revestida de barro, contando apenas com um pavimento e com poucos móveis e utensílios. Nesse ambiente, nobreza rimava muitas vezes com pobreza. A quantidade da população da época ainda é difícil de precisar, pois os censos realizados só contavam os moradores nobres; dizia-se que Belém possuía apenas quinhentos habitantes no início do século XVII. Obviamente, as contagens não levavam em consideração negros, índios e miscigenados. Nos primeiros tempos, aqueles que exerciam o poder político eram os mesmos que detinham o poder econômico, tinham escravos e grandes plantações ou viviam do comércio de drogas do sertão. O principal poder da cidade era a Câmara Municipal, composta por um juiz, um procurador e vários vereadores. Às vezes, os interesses da câmara, eleita por meio de voto na cidade, entravam em choque com os do Governo e dos comerciantes e religiosos, em geral autoridades nomeadas pelo rei. Nesse cenário, nem todos viviam nas cidades; muitos moradores, pela força de suas atividades, viviam afastados dos centros urbanos. Grande parte dos religiosos vivia nas matas socorrendo doentes, realizando a catequese, e muitos senhores viviam nos engenhos, que ficavam longe, cuidando da produção do açúcar ou da coleta das drogas do sertão. Em 1655, o monarca de Portugal, dom joão iV, concedeu aos portugueses que viviam em Belém e possuíam posses os mesmos privilégios dos cidadãos do Porto, como portar armas e isentar-se do serviço militar, tudo por obra dos serviços dispensados à Coroa na defesa do território. Outro grupo social importante nesse cenário era o dos religiosos, que estiveram presente desde o início da colonização das terras da Amazônia. Lembremos que a ação deles era fundamental no momento de estabelecer os contatos com os nativos e firmar as alianças, tão importantes para todo o processo da colonização. quando falamos em religiosos na colônia, de imediato nos vem à cabeça os jesuítas, que realmente tiveram uma participação muito importante na vida colonial. Nos primeiros anos do século XVII após a fundação de Belém, não havia ordens religiosas estabelecidas. Os padres vinham por indicação do rei, para atender uma solicitação especial da capitania; os religiosos eram encarregados de cuidar das doenças da alma. Aos poucos, as ordens foram se estabelecendo por aqui: mercedários, carmelitas, jesuítas e franciscanos. A doutrina cristã e a conversão a fé católica não seriam possíveis na região sem esses importantes personagens, que também se ocupavam de cuidar das vilas fundadas pelos portugueses no interior. inicialmente, eram poucos padres para muitas almas doentes, pois nem só de catequizar índios vivam os padres. tinham que cuidar, ainda, dos lusitanos, que também careciam de atenção espiritual. Nesse cenário, as diferentes ordens religiosas vivam conflitos internos, buscavam por caminhos diferentes aumentar a influência na região e recorriam aos poderosos da época para conseguir privilégios e riquezas materiais. Muitas vezes foi necessária a intervenção do governador da província e até mesmo do rei, para minimizar os conflitos. importantes construções religiosas, como a igreja de São Francisco de Assis, hoje igreja de Santo Alexandre, onde funciona o MAS (Museu de Arte Sacra), igreja do Carmo e Convento de Santo Antônio remontam suas origens àquele período. As ordens religiosas vieram para o estado do Maranhão e GrãoPará com o objetivo de converter os índios à fé católica. Na época, o rei de Portugal era estimulado pelo “padroado régio”, direito que a coroa tinha de interferir nas questões religiosas e tomar para si as terras que fossem conquistadas pelos padres. Os primeiros padres que chegaram à região foram os capuchos, em 1617, que se revelaram insuficientes para as pretensões dos portugueses. Era “muito índio para pouco padre”. Portanto, foram enviados pedidos ao rei que mandasse mais religiosos para a região. O trabalho dos padres ocorria de fato no interior da Colônia, e logo começou a interferir na cultura dos índios: religião, língua, vestuário, fala, etc., tudo começou a ser alterado pela intervenção dos padres. O contato com o branco foi nefasto para os índios. Começaram a ser fundadas vilas no interior, que mais tarde transformaram-se em cidades, muitas com nomes conhecidos dos portugueses, como óbidos e Santarém, nomes de cidades lusitanas. UM IMPORTANTE RELIGIOSO Padre Antônio Vieira nasceu em Lisboa no dia 6 defevereiro de 1608. Aos seis anos chegou ao Brasil com a família. Foi aluno do colégio jesuíta da Bahia, onde descobriu sua vocação para a religião. Foi ordenado padre em 1635 e, em 1652, foi enviado para o Maranhão como missionário, de onde foi expulso em 1661, sendo preso pela inquisição e proibido de pregar. Em 1669, chegou a roma, pregou vários sermões, que lhe deram grande notoriedade. Foi isentado da inquisição em 1675. Voltou ao Brasil e, em 1688, faleceu na Bahia, aos 89 anos. Os inúmeros e diferentes conflitos que ocorriam no estado do Grão-Pará da época requeriam a interferência constante das autoridades de Lisboa. Nações indígenas das mais diversas, como os Muras, Caicaises, jumas, Barbados, Guaranês, Xotins, Copinhorons e Abacaxis, estavam no centro dos acontecimentos. Lembremos que eles eram a principal mão de obra. Faziam de tudo: remavam, caçavam, pescavam, colhiam as drogas do sertão, labutavam nos engenhos, etc. Outro foco constante dos conflitos eram os religiosos. Os padres brigavam entre si, principalmente quando iam fazer a repartição das aldeias. Os moradores, por outro lado, frequentemente questionavam as legislações do período, que sempre beneficiavam os religiosos. Por conta disso, as fugas de escravos eram constantes, assim como a destruição de muitas vilas. UM IMPORTANTE NAVEGADOR O capitão Pedro teixeira foi um importante navegador português que ajudou na conquista lusa na região. Acompanhou de perto a jornada de Francisco Caldeira Castelo Branco, tornando-se governador da capitania do Pará entre 1620-1621 e, depois, do estado do Brasil, entre 1640-1641. Realizou uma importante viagem de reconhecimento, em 1637, saindo de Cametá, no Pará, indo em direção a quito, no então Peru, realizando significativas conquistas para a Coroa de Portugal. Na ocasião, foram escritas importantes crônicas sobre os povos indígenas encontrados. Foi, também, traçado o primeiro mapa da região, fato que muito ajudou no conhecimento das rotas de navegação naqueles tempos. A JUNTA DAS MISSÕES A Junta das Missões era um tribunal formado por representantes das diversas ordens religiosas e por militares, presidido pelo governador da capitania. Era responsável por organizar o direcionamento da mão de obra indígena para as diversas atividades coloniais: construção de fortalezas e igrejas, enviar homens e mulheres para o serviço nas fazendas, sendo que às índias cabia, dentre outras coisas, a função de amas de leite. Eram encaminhados índios, também, para compor a linha de frente das tropas de resgate, sendo escravizados pelo exército para exercer essa função. Além disso, procuravam responder às disputas entre os religiosos que brigavam por terra e pelos índios. Era comum o líder de determinada tribo indígena fazer uma solicitação de paz durante os conflitos com os brancos. A língua geral (nheengatu) era utilizada para estabelecer a comunicação; era mais conhecida pelos padres, que levavam vantagem no contato com os nativos. Após o contato com índios, a junta fazia o exame linguístico e encaminhava os índios para seus novos destinos. Se fossem considerados inimigos, iam para o cativeiro; se fossem aliados, eram libertados, para fazer trabalhos sob a direção dos brancos, que duravam de dois a cinco anos. O pagamento que recebiam era tecido de algodão. infelizmente, muitas nações indígenas ficaram fora dos registros, sobretudo as inimigas, que não se rendiam ao invasor branco. Percebe-se, dessa forma, que a junta das Missões era um tribunal que funcionava no interior da Amazônia com a desafiadora responsabilidade de legislar de forma eficiente, em um mundo colonial que respondia em última instância a um império ultramarino que enfrentava conflitos de toda ordem em suas imensas possessões territoriais, nas quais, na maioria das vezes, suas leis não eram respeitadas. Assim, a junta formou-se entre caçada de índios, tráfico de peças e briga entre vereadores das câmaras municipais. Lembremos que muito da história dos índios ainda está escondida e precisa vir à luz. Os recentes estudos têm mostrado que os índios enfrentaram os invasores brancos de várias formas: fugindo, queimando aldeias, destruindo casas, afundando canoas, etc. Muito ainda precisa ser dito e feito para que os índios de fato encontrem seu lugar na história da Amazônia. REFLETINDO SOBRE A LEITURA Responda em seu caderno: 45- Quais eram os principais moradores de Belém no século XVII, de acordo com o texto? 46- Quais eram as principais riquezas exploradas na região à época? 47- O que era a junta das Missões? 48- Quais eram as principais ordens religiosas da época? 49- O que era o nheengatu? 50- Quem foi Antônio Vieira? Qual a sua importância no processo de colonização da Amazônia? 51- Quem foi Pedro Teixeira? “olho de boto no fundo dos olhos de toda a paisagem...” (Letra: Cristóvam Araújo; música: Nilson Chaves) LENDA DO BOTO Segundo os povos antigos da Amazônia, o boto é um animal encantado, podendo assumir a forma humana sempre que desejar. Nos rios da Amazônia é possível encontrar o boto branco, o boto tucuxi (o mais cruel) e o boto cor-de-rosa. As populações ribeirinhas da região de Cametá, no estado do Pará, contam que nas festas do interior, quando chega à meia-noite, um rapaz bonito, todo vestido de branco e calçando um sapato em forma de ouriço de castanha, com os pés virados para trás, aparece nas festas e dança com a moça mais bonita. Os outros homens, zangados, vão tirar satisfação, e ele então corre em direção à ponte e joga-se no rio, assumindo a forma de um boto, e sai espirrando água para cima, zombando dos homens que o perseguiam. Na região da cidade de Santarém, as moças não podiam andar sozinhas pelos rios, pois corriam o risco de serem engravidadas pelo boto. No rio Moju, na década de 1970, crianças eram assombradas pelo boto e assumiam a forma do animal. Muitos zombavam do boto fazendo barulho para ver o animal dar saltos para fora da água. Os pescadores, que utilizavam malhadeiras para capturar peixes, não gostavam do boto, pois ele comia os peixes e ainda rasgava as redes de pesca. Essas e outras histórias ainda hoje são contadas por moradores das margens dos rios da região. Em outras partes do Brasil contam-se outras lendas, que tornam a nossa cultura popular altamente rica. REFLETINDO SOBRE A LEITURA 52- Você acha que as lendas são importantes? Por quê? 53- Nos textos anteriores, quais cidades do estado do Pará são citadas? 54- Você saberia fazer um relato sobre a lenda do boto? A MANDIOCA A mandioca é um dos mais importantes alimentos dos povos da Amazônia. Ela foi domesticada pelos índios da região e hoje é consumida em vários países. Na mitologia dos povos da região, há um lugar especial para a história de Mani, moça bela de uma tribo indígena que morreu e renasceu em forma de alimento para seu povo. Nos dias atuais, a mandioca continua representando uma fonte importante de alimento para grande da população amazônica. Ao longo de sua história, a mandioca foi produzida em grades e pequenas plantações. Na culinária paraense, um dos pratos mais conhecidos é a maniçoba, que traz na sua essência a folha da mandioca, o tucupi (líquido extraído do fruto que, após um tratamento adequado, é utilizado também como molho para pratos especiais) e molho de pimenta. A mandioca ainda é consumida cozida e frita. Mas, o principal alimento feito com ela é a farinha. As variações mais conhecidas da mandioca no estado do Pará são: a mandioca branca, a mandioca amarela e a macaxeira. Da tapioca extraída da mandioca é possível fazer beiju, farinha de tapioca, doces, sorvetes, bolos, etc. Os métodos de produção domésticos ainda são feitos nos retiros de farinha, em fornos de cobre ou em chapas, de forma bem artesanal. As indústriasproduzem-na em grande escala, em geral para o mercado externo. O método tradicional de fazer a farinha na Amazônia é: coloca--se a mandioca de molho em um tanque, que pode ser de madeira, e após três dias tira-se da água, descasca-se e coloca na masseira, mistura-se com a mandioca ralada, que não ficou de molho, coloca-se no tipiti para tirar o excesso de água, coa-se e leva-se ao forno. Após passar pelo processo de cozimento, mexe-se com um rodo de madeira até a farinha secar, tendo o devido cuidado com a temperatura do forno, para não queimar o produto. REFLETINDO SOBRE A LEITURA 55- De acordo com o texto, como a mandioca pode ser consumida? 56- Qual alimento feito da mandioca você conhece e/ou consome? 7º ANO IV UNIDADE A ECONOMIA EXTRATIVISTA V UNIDADE O PARÁ NO PERÍODO IMPERIAL VI UNIDADE OS NEGROS NA AMAZÔNIA BRASILEIRA VII UNIDADE DIALOGANDO COM A CULTURA POPULAR AMAZÔNICA IV UNIDADE - A ECONOMIA EXTRATIVISTA Dialogando com a música Amazônica. Porto seguro Porto seguro, erro primeiro Índio sorriu pro estrangeiro Num mês de abril E abriu a porta, do litoral Que era todo encarnado De pau-brasil Ibirapitanga virou fumaça E a desgraça Veio através do oceano Com um pano preto no mastro Deixando um rastro vermelho No azul atlântico Trouxe o cântico Da saudade africana Aos engenhos e canaviais Fez dançar o açoite de dia De noite dançavam orixás E a região, verde do norte Sorte era longe dos olhos feitores Sem vias de acesso Ida, regresso e morte Poucas entradas Tantas bandeiras Milhas e mil ambições estrangeiras Rompendo a linha de tordesilhas Brancos e índios cativos Buscavam riqueza Pra encher a mão da distante nobreza Que nunca viveu ou pisou neste chão Grita nação, bate os tambores Pinta tua cara com as cores da arara Faz guerra Esta terra é terra bendita Grita! (Lucinha Bastos, composição Maria Lídia) REFLETINDO SOBRE A LEITURA 1- Quais aspectos da história do nosso pais você conseguiu identificar no texto? A ECONOMIA EXTRATIVISTA As primeiras expedições que os europeus fizeram rumo à Amazônia, ainda no século XVI, foram motivadas, em geral, pela busca das drogas do sertão, especiarias que a Europa apreciava, mas não tinha. Naquela época, a canela era uma dessas especiarias muito apreciadas pelos europeus, pois dela era possível fazer perfume, remédios e temperos alimentícios. As expedições espanholas não encontraram o sonhado Vale das Caneleiras, mas abriram a rota da região para que outros povos entrassem e encontrassem outros produtos apreciados no mercado capitalista da Europa. Canela, urucu, anil, pimenta-do-reino, cacau e algodão são exemplos de produtos que ficaram conhecidos comercialmente como drogas do sertão. Na extração das drogas utilizava-se, em larga escala, o braço de trabalho de índios escravizados. Os índios também foram utilizados na lavoura da cana-de-açúcar e nos engenhos instalados na região para a produção açúcar. AMAZÔNIA NO SÉCULO XVIII: O PROJETO DO MARQUÊS DE POMBAL Até aqui, esperamos que tenha ficado claro para você que as atividades desenvolvidas na região amazônica, nessa época, dependiam totalmente das decisões tomadas em Portugal. De lá vinham os governadores da capitania, muitos dos quais nem tomavam posse, pois a viagem era tão longa que, por inúmeras vezes, o rei nomeava outro em seu lugar, antes mesmo que o anterior chegasse a seu destino. Em muitos casos, chegavam dois governadores para ocuparem o mesmo cargo, fato que gerava desavenças, que logo eram resolvidas, pois ficava no cargo aquele que tivesse sido nomeado por último. A partir do século XVIII, os fortes ventos da região trouxeram, além de embarcações, novidades para o estado do Grão-Pará e Maranhão. Começava a haver mudanças no projeto colonizador dos portugueses. Nesse período, a colônia brasileira vivia seu auge; com as descobertas das Minas Gerais, éramos a menina dos olhos dos lusitanos, com toneladas de ouro, prata e diamantes sendo levadas todos os meses do Brasil. Por aqui, era intensa a coleta de drogas do sertão, plantação de tabaco, algodão arroz e açúcar, este último em pequena quantidade. Nesse sentido, é valido lembrar que a Coroa de Portugal possuía poucos recursos econômicos e humanos para o seu projeto de colonização, fato que ajuda a explicar por que a economia de monocultura não havia se estabelecido, até então, nesta região. Vamos lembrar que monocultura é a produção de um único produto, por exemplo o açúcar. Os maiores investimentos humanos e financeiros eram feitos na plantação da cana, matéria-prima do açúcar. A Amazônia estava distante. Os recursos eram poucos e, por outro lado, as Minas Gerais estavam oferecendo enormes ganhos. Logo, os lusitanos resolveram deixar a Amazônia para mais tarde. Alguns ainda tentaram produzir açúcar por aqui, mas a qualidade era inferior ao do produzido nas Antilhas, portanto os engenhos passaram a produzir apenas cachaça, ainda que as leis proibissem. Desse modo, por causas externas, a região escapou à monocultura. Seu destino era outro. Em 1750, foi assinado pelos reinos de Portugal e Espanha o tratado de Madri, importante documento que objetivava resolver o impasse das fronteiras das duas nações, em especial sobre a Colônia do Sacramento e Sete Povos das Missões, motivo de disputas diplomáticas e guerras declaradas entre as potências ibéricas. O tratado de Madri também ajudou a definir as fronteiras amazônicas. Devemos lembrar que, pelo tratado de tordesilhas (1494), as terras amazônicas não pertenciam da Coroa portuguesa, fato que explica por que, nesse período, os lusos não estimulavam a prática da mineração, nestas terras. Nesse momento, foi nomeado para governar o Estado do Maranhão e Grão-Pará Mendonça Furtado, irmão de Sebastião josé de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, que era o primeiro ministro do rei de Portugal, D. josé i. A partir essa nomeação, os lusitanos poderiam explorar ainda mais as riquezas minerais da região e elaborar um novo plano de desenvolvimento econômico, dentro da proposta iluminista, que estava chegando ao reino português pelas mãos de Pombal. O Marquês de Pombal foi o principal responsável pela definição de um novo projeto de colonização para a região amazônica ao longo das décadas de 1750 e 1760 do século XVIII. Pombal era um homem de origem simples, que foi aos poucos se aproximando da corte portuguesa. tornou-se embaixador da Coroa e viveu muitos anos fora, especialmente na França e na inglaterra. Foi o principal responsável pela assinatura do tratado de Madri, que muito beneficiou Portugal, além de solucionar questões de diplomacia religiosa em roma. Com a coroação do jovem D. josé i, Pombal voltou ao reino português, totalmente influenciado pela forma de governar de ingleses e franceses. Foi na inglaterra e na França que ele teve contato com as ideias do liberalismo econômico e do iluminismo, para então tentar colocá-las em prática no atrasado reino de Portugal. Portugal era um reino, em certos aspectos, atrasado e, como diziam alguns, fortemente influenciado pelos jesuítas. Pombal, desde muito cedo, não se relacionou bem com a igreja católica, que era vista por ele como a principal responsável pelo atraso econômico de seu país. Ele acreditava que a influência que os religiosos exerciam sobre o rei era prejudicial, pois por causa da igreja católica, dizia-se que as ciências não se desenvolveram no reino como tinham se desenvolvido em nações como a França e a Inglaterra. Lembremos que na França e na inglaterra houve uma forte reforma protestante, e a igreja reformada era maioria nesses países. Em território protestante, o trabalho, o dinheiro e as ciênciaseram vistos como motores do desenvolvimento nacional, coisa bem diferente da realidade de Portugal. Assim que assumiu o posto de primeiro-ministro, Marquês de Pombal começou a colocar em prática suas ideias de progresso econômico para o país. O ensino, que era todo de caráter religioso e controlado pelos padres jesuítas, com o tempo passou a ser laico, ou seja, ministrado por professores que, em geral, nada tinham a ver com a igreja. isso foi um golpe para a igreja católica e um choque para a sociedade de Lisboa. Desse momento em diante, foi declarada uma verdadeira guerra entre Pombal, a nobreza, que o odiava, e a igreja católica. O ministro tinha carta branca do rei para colocar seu plano em prática, que era desenvolver a economia do reino e tornar Portugal uma nação competitiva no mercado mundial; era preciso recuperar o atraso. Durante o período em que Pombal foi primeiro-ministro, Portugal sofreu um terremoto e Lisboa teve que ser praticamente toda reconstruída. O Marquês revelou-se um administrador de primeira qualidade, abrigando vítimas, socorrendo os feridos e trabalhando incansavelmente para recuperar a nação, fato que chamou a atenção de toda Europa para os seus dotes de estadista; até seus inimigos foram obrigados a reconhecer seu valor. As reformas do Marquês de Pombal não tardaram a chegar à Amazônia. Foi pensado um grande projeto para a região. Pombal sabia que o desafio era muito grande, mas estava convencido de que algo tinha de ser feito, ou Portugal estaria destinado ao fracasso. Lembremos que o reino português tinha pouca terra e pouca gente. A realidade da Amazônia era bem diferente. Havia muita terra, muita mão de obra e estava bem próxima de Lisboa. Começaram, então, as mudanças. Primeiramente, foi decretado fim da escravidão dos índios, depois criado um diretório, órgão que administrava o trabalho dos nativos, já que os jesuítas foram expulsos da região em 1759. Foram incentivados os casamentos inter-raciais e cidades inteiras, como Mazagão, foram transplantadas da áfrica para a Amazônia, tudo com o objetivo de fortalecer o braço de trabalho na região. Essas mudanças estavam na base do novo projeto português. Era preciso fazer uma revolução urgente na agricultura e produzir alimentos, pois tanto Portugal quanto as duas principais cidades da Amazônia sofriam uma grande escassez. Por outro lado, era preciso desenvolver uma política demográfica de branqueamento da população e criar uma população nativa da região, fruto dos casamentos entre índios e brancos, pois para desenvolver a agricultura era preciso ter gente para trabalhar, e essa mão de obra viria da união dos povos que aqui viviam. A expulsão dos jesuítas era justificada pelo fato de essa ordem representar uma ameaça política, uma vez que toda a educação do reino de Portugal e do Brasil estava nas mãos dos religiosos. Com a saída dos jesuítas, a educação sofreu um duro golpe, pois não havia gente com a formação necessária na região; muitas obras de arte e livros foram levados embora pelos padres. Começaram os casamentos inter-raciais, fato que causava espanto em muitos, pois até o momento um branco casar-se com uma índia era considerado grave transgressão. A direção dos aldeamentos dos índios saiu das mãos da igreja e passou para comerciantes, que em muitos casos exploravam os índios bem mais do que os padres. Enquanto Pombal foi primeiro-ministro de Portugal (17501777), as reformas foram mantidas, no entanto quando Dom josé i faleceu, logo Pombal perdeu o poder. tudo voltou a ser igual, ou pior do que era antes. Os inimigos de Pombal invalidaram suas ações. Desterraram-no de Lisboa e condenaram-no por muitos crimes contra a nobreza. Assumiu o trono D. Maria i, que logo restaurou a antiga forma de exploração da região amazônica. Os índios voltaram a ser oficialmente escravizados e utilizados como principal mão de obra na exploração das riquezas regionais. Eram os anos finais do século XVIII e as águas dos rios da região traziam novas ideias. Ficaram as lembranças do segundo grande projeto de colonização português para a Amazônia. REFLETINDO SOBRE A LEITURA Responda em seu caderno: 2- De acordo com o texto, como se deu a relação entre os jesuítas e o Marquês de Pombal? 3- Por que a cidade de Mazagão foi “transplantada” da áfrica para a Amazônia? 4- Por que os casamentos inter-raciais foram importantes para o projeto de Pombal? 5- Após a morte de Pombal, quais rumos foram dados aos seus projetos políticos e econômicos na Amazônia? SOBRE AS CIDADES COLONIAIS AMAZÔNICAS O processo geral da formação das cidades no Brasil está ligado à ocupação dos espaços vazios. Na Amazônia, não foi diferente. As pesquisas arqueológicas têm mostrado que na Amazônia pré-colonial havia sociedades sedentárias vivendo em grandes núcleos populacionais desenvolvidos, mas as primeiras cidades no sentido moderno da palavra foram fundadas na região pelos europeus. Ficavam, em sua maioria, às margens dos rios largos, o que possibilitava a navegação, o embarque e o desembarque de mercadorias. Os interesses territoriais e comerciais eram colocados como os mais importantes. As cidades tinham suas origens nos fortes ou nas missões. Diversas, receberam nomes de cidades portuguesas, por exemplo Santa Maria de Belém, Santarém e Óbidos. As cidades que foram originadas das missões dos jesuítas eram diferentes em alguns aspectos: não eram portos de embarque e desembarque de mercadoria, as construções eram mais simples, geralmente de madeira e barro. Os moradores, tapuios, trabalhavam na agricultura para a subsistência, produzindo frutas e legumes, tecendo roupas de algodão e construindo embarcações. Essas cidades recebiam nomes indígenas, quase sempre das tribos que deram origem ao lugar, por exemplo tucuruí, Marabá, Moju e Cametá. No período da administração do Marquês de Pombal várias cidades foram criadas, com o objetivo de povoar, com europeus e seus descendentes, a região. A vida nas cidades era simples, pois a maioria da população branca vinha para cá obrigada. Era gente que tinha dívidas financeiras com a Coroa, criminosos desterrados e mulheres acusadas de bruxaria condenadas a viver em uma terra distante e inóspita. A falta de alimentos e a luta diária contra os índios e os animais da floresta representavam os maiores desafios dos moradores. As cidades que foram originadas das missões, em geral, ficavam bem distantes das grandes cidades, para evitar que os comerciantes aprisionassem os índios e os transformassem em escravos. Nas regiões de Cametá, no Baixo tocantins, foram constantes as lutas dos religiosos com os comerciantes. À medida que iam avançando no território amazônico, os portugueses fundavam cidades, o símbolo maior da posse das terras da região. REFLETINDO SOBRE A LEITURA Responda em seu caderno: 6- Com quais finalidades foram fundadas as primeiras cidades amazônicas? 7- O que caracterizou as cidades fundadas pelos padres jesuítas? 8- Quais os maiores desafios enfrentados pelos missionários? 9- O que caracterizava as cidades originadas das missões religiosas? AS FRONTEIRAS COLONIAIS DA AMAZÔNIA BRASILEIRA O século XVIII também conheceu de perto uma intensa disputa entre as nações europeias pelo domínio das fronteiras do vale amazônico. Um caso exemplar dessa luta foi travado entre Portugal e a França. A colônia de caiena, parte da Amazônia Francesa, foi palco de disputas ferrenhas. Na ocasião, a falta de homens para guardar as fronteiras era um sério problema para a Coroa lusitana. Os franceses aproveitaram-se desse fato para praticar o extrativismo das drogas do sertão, saquear as missões portuguesas mais distantes da vigilância e roubar escravos africanos para suas possessões. Ao longo do século, as lutas foram
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