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Tema | Trabalhando com dados | 2 Instrutor: Ana Carolina Moreno Sumário 1. Bases públicas: onde vivem e do que se alimentam a. Catálogo de bases de dados nacionais b. Exemplo: checando fatos usando dados de Educação c. Exemplo: checando fatos usando dados de Saúde d. Exemplo: checando fatos usando dados de Meio ambiente e. Exemplo: checando fatos usando dados de Eleições f. Exemplo: checando fatos usando dados de Previdência e assistência social g. Exemplo: checando fatos usando dados de Economia h. Exemplo: checando fatos usando dados de Orçamento 2. Pista expressa até os dados a. A importância de especialistas e setoristas b. Lista de fontes especialistas 3. Lei de Acesso à Informação: caçando dados a. Transparência ativa b. Transparência passiva c. Miniguia para aprimorar seu pedido via LAI d. Referências 1. Bases públicas: onde vivem e do que se alimentam As bases de dados oficiais vêm em formatos diversos, já que cada órgão tem certa autonomia para definir diretrizes de sua política de dados abertos. Nos últimos anos, a forma mais comum tem sido concentrar conjuntos de dados (ou datasets) em uma única página. O site dadosabertos.gov.br, por exemplo, tem mais de 10 mil datasets e é atualizado quase diariamente (veja ao lado). Ministérios ou órgãos governamentais como empresas estatais, fundações ou institutos podem ter seus próprios datasets em uma página parecida como a mostrada acima. Seu uso é razoavelmente simples: é possível buscar por palavras-chave, temas ou órgão responsável pela publicação. Os resultados mostram os formatos de arquivos disponíveis para baixar e, na maioria das vezes, estão acompanhados de um dicionário de variáveis, um documento que explica do que se trata cada coluna daquela planilha. Mas há outras formas de acessar os dados, como painéis e dashboards feitos com ferramentas como o Google Data Studio, o Tableau ou o PowerBI, onde podemos navegar por gráficos e tabelas de dados consolidados. Embora mais fácil de navegar, esses painéis podem limitar o cruzamento de informações e nem sempre oferecer exatamente o que buscamos. Os órgãos também podem apresentar dados em uma plataforma de consulta personalizada. O exemplo mais conhecido é o Sidra do IBGE, onde é possível criar sua própria tabela escolhendo os conteúdos das linhas e colunas. Outra ferramenta parecida e bastante conhecida é o Tabnet, um formato usado por diversos entes da área da saúde para permitir a criação de tabelas a partir do recorte escolhido pelo próprio usuário. 1a. Catálogo de bases de dados nacionais Para facilitar o seu trabalho, preparamos um catálogo com mais de 50 bases de dados públicos dos mais variados temas. Em seguida, mostraremos alguns exemplos de checagens reais que usaram uma dessas bases no processo de apuração. Recomendados que você acesse o link bit.ly/trabalhando_com_dados e crie uma cópia das planilhas no seu próprio Google Drive. 1c. Exemplo: checagem usando base de EDUCAÇÃO Matéria: É verdade que o Ensino Médio apresentou melhor resultado em 15 anos do Ideb Data: 21/09/2020 Veículo: Comprova/Estadão/UOL Base utilizada: Ideb (Inep) Link de acesso: https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-verdade-que-o-ensino-medio- apresentou-melhor-resultado-em-15-anos-do-ideb/ https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-verdade-que-o-ensino-medio-apresentou-melhor-resultado-em-15-anos-do-ideb/ https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-verdade-que-o-ensino-medio-apresentou-melhor-resultado-em-15-anos-do-ideb/ 1c. Exemplo: checagem usando base de SAÚDE Matéria: É falso que o número de casos de covid-19 seja menor que o oficial Data: 02/06/2020 Veículo: Comprova/Jornal do Commercio Base utilizada: Sivep-Gripe (Ministério da Saúde) Link de acesso: https://jc.ne10.uol.com.br/brasil/2020/06/5611232-projeto-comprova--e-falso-que-o-numero -de-casos-de-covid-19-seja-menor-que-o-oficial.html https://jc.ne10.uol.com.br/brasil/2020/06/5611232-projeto-comprova--e-falso-que-o-numero-de-casos-de-covid-19-seja-menor-que-o-oficial.html https://jc.ne10.uol.com.br/brasil/2020/06/5611232-projeto-comprova--e-falso-que-o-numero-de-casos-de-covid-19-seja-menor-que-o-oficial.html 1d. Exemplo: checagem usando base de MEIO AMBIENTE Matéria: Vídeo distorce dados sobre queimadas na Amazônia Data: 16/09/2020 Veículo: Comprova/UOL/Jornal do Commercio/Zero Hora Base utilizada: BD Queimadas (inpe) e MapBiomas, entre outros Link de acesso: https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-distorce-dados-sobre-que imadas-na-amazonia/ https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-distorce-dados-sobre-queimadas-na-amazonia/ https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-distorce-dados-sobre-queimadas-na-amazonia/ 1e. Exemplo: checagem usando base de ELEIÇÕES Matéria: Diferença entre resultados de pesquisa e de eleição não implica fraude Data: 23/11/2020 Veículo: Comprova/Poder 360/Zero Hora Base utilizada: Resultados das eleições (TSE) e pesquisa do Ibope Link de acesso: https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/diferenca-entre-resultados-de-p esquisa-e-de-eleicao-nao-implica-fraude/ https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/diferenca-entre-resultados-de-pesquisa-e-de-eleicao-nao-implica-fraude/ https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/diferenca-entre-resultados-de-pesquisa-e-de-eleicao-nao-implica-fraude/ 1f. Exemplo: checagem usando base de PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL Matéria: Oposição infla impacto de alternativas à reforma da Previdência Data: 06/05/2019 Veículo: Aos Fatos Base utilizada: Secretaria do Tesouro Nacional, Instituição Fiscal Independente, consultorias legislativas da Câmara e do Senado Link de acesso: https://www.aosfatos.org/noticias/oposicao-infla-impacto-de-alternativas-reforma-da-previd encia/ https://www.aosfatos.org/noticias/oposicao-infla-impacto-de-alternativas-reforma-da-previdencia/ https://www.aosfatos.org/noticias/oposicao-infla-impacto-de-alternativas-reforma-da-previdencia/ 1g. Exemplo: checagem usando base de ECONOMIA Matéria: Bolsonaro erra sobre desemprego e cita remédios ineficazes para covid Data: 20/05/2021 Veículo: UOL Confere Base utilizada: Pnad Contínua Link de acesso: https://noticias.uol.com.br/confere/ultimas-noticias/2021/05/20/bolsonaro-erra-sobre-dese mprego-e-cita-remedios-ineficazes-para-covid.htm https://noticias.uol.com.br/confere/ultimas-noticias/2021/05/20/bolsonaro-erra-sobre-desemprego-e-cita-remedios-ineficazes-para-covid.htm https://noticias.uol.com.br/confere/ultimas-noticias/2021/05/20/bolsonaro-erra-sobre-desemprego-e-cita-remedios-ineficazes-para-covid.htm 1h. Exemplo: checagem usando base de ORÇAMENTO Matéria: Vídeo deturpa informações sobre a atuação do governo na preservação da Amazônia Data: 29/09/2020 Veículo: Comprova/Zero Hora Base utilizada: Siga Brasil Link de acesso: https://gauchazh.clicrbs.com.br/ambiente/noticia/2020/09/video-deturpa-informacoes-sobr e-a-atuacao-do-governo-na-preservacao-da-amazonia-ckfmmau4o0007016vduymdp83.html https://gauchazh.clicrbs.com.br/ambiente/noticia/2020/09/video-deturpa-informacoes-sobre-a-atuacao-do-governo-na-preservacao-da-amazonia-ckfmmau4o0007016vduymdp83.html https://gauchazh.clicrbs.com.br/ambiente/noticia/2020/09/video-deturpa-informacoes-sobre-a-atuacao-do-governo-na-preservacao-da-amazonia-ckfmmau4o0007016vduymdp83.html 2. Pista expressa até os dados 2a. A importância de especialistas e setoristas É nas bases acima que as equipes de checagem de fatos podem encontrar, nas fontes oficiais, as informações que confirmem ou desbanquem afirmações de políticos, autoridades ou outras pessoas. Mas existem também caminhos que podem ser mais rápidos para chegar à resposta certa: os setoristas que cobrem o assunto de perto cotidianamente e as associações que reúnem especialistas sobre ele. Qual foi o índice de desmatamento em 2010? Qual foi a porcentagem dos gastos do Ministério da Educação com creches desde 2015? Qual foi a porcentagem de candidaturas de mulheresde um determinado partido nas eleições de 2020? Existem pessoas que podem saber essa resposta na ponta da língua ou, pelo menos, sabem onde encontrá-la em poucos minutos. Cultivar essas fontes pode te dar uma pista expressa na hora de apurar a informação. 2b. Lista de fontes especialistas Se na sua redação não existir ninguém que acompanha o tema de perto, no mesmo link do catálogo de bases de dados você encontra, em outra aba, uma lista de fontes que mexem cotidianamente com as bases de dados públicas e podem ser úteis nesses momentos: Link de acesso: bit.ly/trabalhando_com_dados 3. Lei de Acesso à Informação: modo de usar O objetivo deste item 3 é oferecer uma breve introdução e macetes simples para quem quiser começar a fazer pedidos via LAI. Se você tiver interesse em conhecer mais, fique com duas dicas de ouro: - Assine a newsletter da Fiquem Sabendo e acompanhe a agência nas redes: https://fiquemsabendo.substack.com/ - Faça gratuitamente o curso “Lei de Acesso à Informação nos municípios”, do projeto independente Painel Jornalismo de Dados, que tem carga horária de 4 horas: https://ead.paineljornalismo.com/mod/page/view.php?id=88 Há dez anos, o Brasil ganhou uma lei moderna com regras para que a população pudesse solicitar e ter o acesso concedido a qualquer dado público e não sigiloso. É a famosa Lei 12.527/2011, também conhecida como Lei de Acesso à Informação (LAI). Desde então, ela se tornou uma importante aliada do jornalismo não só para obter dados, mas também documentos e qualquer outro tipo de informação. Seu uso é gratuito, razoavelmente simples e extremamente incentivado porque, quanto mais jornalistas usam esse mecanismo legal de transparência, mais informações chegarão ao público e mais olhos teremos para fiscalizar e denunciar o descumprimento da lei. É altamente recomendado que você leia a íntegra da LAI pelo menos uma vez: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm Ela reúne o básico das obrigações de qualquer ente público e seus artigos podem e devem ser usados no texto do seu pedido original e nos recursos, caso a informação não seja concedida de primeira. Se na primeira aula usamos alguns conceitos da estatística, agora colocaremos um pé em alguns conceitos jurídicos, mas que podem ser aliados na nossa busca por informação. 3a. Transparência ativa Um dos conceitos fortalecidos pela LAI, embora a redação da lei não tenha essa expressão literal, é o da “transparência ativa”. De todos os artigos da lei, o meu favorito pessoal é o artigo 8, porque ele nos dá respaldo para exigir por parte dos órgãos não só que ele divulgue as informações, mas que as divulgue com qualidade. —> Divulgação espontânea de informações mínimas Nesse artigo 8, a LAI diz que “é dever dos órgãos e entidades públicas promover, independentemente de requerimentos, a divulgação em local de fácil acesso, no âmbito de suas competências, de informações de interesse coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas”. https://fiquemsabendo.substack.com/ https://ead.paineljornalismo.com/mod/page/view.php?id=88 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm Isso quer dizer que os órgãos não podem ficar sentados em cima dessas informações passivamente esperando que alguém peça para vê-las. Essas informações devem já estar públicas para qualquer pessoa ver. A própria lei lista tipos de informação que todos os órgãos devem divulgar ativamente, incluindo repasses, despesas, editais, licitações, contratações, informações de contato e horários de funcionamento e respostas às perguntas mais frequentes da população. E um dos locais onde essas informações devem ser obrigatoriamente divulgadas é a internet. Boa parte dos sites que visitamos no início dessa aula foram criados ou aprimorados justamente por causa desse artigo. Mas outras informações só passaram a ser divulgadas espontaneamente na internet depois que o órgão recebeu tantos pedidos via LAI que decidiu que a transparência ativa otimizaria o trabalho. Essa é uma de muitas contribuições do jornalismo para a transparência da informação no Brasil, e você também pode entrar para essa turma. —> Divulgação de dados abertos Embora a LAI tampouco fale explicitamente sobre o formato em que os dados devem ser divulgados, existe respaldo tanto nesta como em outras legislações e recomendações para que exijamos a divulgação em formato aberto, ou seja, em planilhas .xls, .csv ou .ods, mas não em arquivos pdf. Aqui o artigo 8 é nosso amigo mais uma vez. Um dos incisos afirma que essas informações divulgadas ativamente na internet precisam possibilitar: ● Mecanismo de busca para encontrar a informação ● Modo de salvar os arquivos divulgados, inclusive em arquivos de formatos abertos e não proprietários ● Acesso automatizado por sistemas externos em formatos abertos, estruturados e legíveis por máquina Além da LAI, temos a Lei 12.965/2014, que dispõe sobre direitos e deveres do uso de internet no Brasil e determina, no artigo 24, que todos os entes federais, estaduais ou municipais devam dar “publicidade e disseminação de dados e informações públicos, de forma aberta e estruturada”. Por fim, contamos com a Cartilha Técnica para Publicação de Dados Abertos no Brasil, criada pelo próprio governo federal e que, apesar de não ter força de lei, tem como objetivo orientar sobre as “boas práticas” na divulgação de dados. Citando diretamente da cartilha, temos esse trecho, no qual fica claro que arquivos pdf não são considerados de formato aberto: “Para os dados que são estruturados ou estão em planilhas na sua fonte, deve-se preservar ao máximo a estrutura original. Por exemplo, não deve-se publicar planilhas em arquivo PDF, neste caso utilize CSV ou ODS.” 3b. Transparência passiva Sabemos que o fato de alguma regra estar impressa em uma lei vigente não significa que ela será seguida sempre e por todas as pessoas. O mesmo acontece com a transparência ativa. Nesse caso, tanto para informações que já deveriam estar publicadas quanto para outras informações às quais a população também tem direito de acessar, o mecanismo que usaremos é o pedido de acesso a essa informação. Os pedidos podem ser feitos de várias formas, inclusive pessoalmente, e os sites por onde eles são feitos podem variar. O mais importante, porém, é pedir. —> Pedir via Ascom x pedir via LAI Um dilema frequente é saber quando é melhor pedir a informação para a assessoria de imprensa, e quando o mais indicado é fazer o pedido por meio da LAI. Em tese, é sempre mais rápido pedir para a Ascom, estipular o seu prazo e ir negociando a partir daí. Afinal, o prazo inicial da LAI é de 20 dias (alguns órgãos consideram os dias corridos e já te informam o prazo da resposta, outros são mais “flexíveis”), podendo ser prorrogado por mais 10 dias. Nem sempre após o fim do prazo o link para entrar com recurso fica disponível automaticamente. Em alguns sites, é preciso esperar mais dias até poder pedir novamente a informação. Além disso, o pedido, além de ignorado pelo órgão, pode ser negado, e aí é necessário entrar com recurso e argumentar para tentar reverter a decisão em nova instância. Pode parecer muito trabalho para pouco resultado, especialmente quando se trata do trabalho de checagem, que demanda prazos curtos. Mas é crucial insistir. Cada novo pedido de LAI que obtém a resposta é um pequeno avanço na transparência brasileira. E, em se tratando de checagem, a lei pode ser uma importante aliada no planejamento de coberturas. Por exemplo, pedir informações sobre o cumprimento de promessas de campanha de antemão, para tê-las prontas no início de uma campanha eleitoral, pode ser uma enorme vantagem. Além disso, dependendo da informação e do órgão, seu pedido diretamente para a Ascom pode ser protelado e, quando você percebe, já se passaram mais de dez dias e talvez fosse mais fácil ter pedido pelo formulário da LAI. Para evitar que esse tipo de problema seja frequente, é indicado conhecer bem o órgão e saber que tipo de demandascostumam ser proteladas pela assessoria de imprensa. Caso seja uma informação técnica, ou alguma pauta “fria” em que ter o outro lado não pareça tão crucial para o órgão, ele pode tentar ganhar prazo para te responder, ou mesmo fazer isso como estratégia para não te responder. Nesse caso, vale já enviar o pedido pelas duas vias. —> Insistir no pedido até a última instância Frustração faz parte de lidar com a LAI, mas não podemos deixar os obstáculos nos demoverem de seguir tentando. Segue abaixo uma breve lista de mensagens motivacionais: - Lembre-se que o prazo para o recurso é mais curto que o do pedido original. Por isso, ao receber uma negativa, entre com recurso! É melhor do que começar um pedido do zero. - Antes de desistir, pense em todas as pessoas que também estão lidando com esses obstáculos! Além disso, muitas entidades estão dispostas a ajudar jornalistas com a LAI (elas estão listadas na seção de Referências desta aula) - Cada pedido respondido pode ser um precedente importante para quem vier depois de você, e inclusive pra você mesmo no futuro! 3c. Miniguia para aprimorar seu pedido via LAI Mas existem pedidos e existem pedidos. Aplicar alguns pequenos truques pode te ajudar a tirar mais proveito das suas solicitações de informação. A lista abaixo contempla as seguintes dicas, incluindo modelos de parágrafos que você pode incluir no seu pedido: Forma Conteúdo Texto polido e educado Como pedir dados abertos Texto claro Como evitar pedido recusado porque o órgão não é o responsável pela informação Como entrar com recurso Como evitar pedido recusado por sigilo Como pedir documentos com os trechos sigilosos tarjados —> Um texto educado e solícito aumenta sua chance de resposta Apesar de a população ter direito à informação, a forma como ela é solicitada faz diferença. O servidor público responsável por preparar e enviar as respostas não pode ser submetido a ofensas ou desacatos. Por isso, o texto precisa ser educado e polido, caso contrário ele pode ser ignorado ou recusado. A dica aqui é incluir os termos adequados para que sua mensagem seja bem recebida. Exemplo de introdução: Prezados senhores, Cumprimentando-os cordialmente, escrevo para solicitar que os senhores por favor forneçam as seguintes informações sobre [ASSUNTO]: Exemplo de conclusão: Desde já agradeço pela colaboração dos senhores. Cordialmente, [NOME E SOBRENOME] —> Um texto claro ajuda a te dar a resposta que você quer Certa vez, fiz um pedido a uma Secretaria Estadual de Saúde. Mas, no meu pedido, acabei errando a digitação e, no meio da solicitação, escrevi “SMS” em vez de “SES”. Embora em outros trechos o nome da secretaria estivesse correto, o órgão se negou a me conceder a informação afirmando que eles não tinham dados referentes à Secretaria Municipal de Saúde. Esse é apenas um exemplo de como a redação do pedido deve ser feita com atenção aos detalhes e ser sempre o mais clara possível. Se o pedido for muito confuso, ele pode ter a resposta negada porque a pessoa genuinamente não compreendeu o que você solicitou. Mas, se o texto tiver alguma brecha, pode ser que o órgão se aproveite dela para não conceder a informação. Veja algumas dicas para evitar deixar brechas: - Sempre revisar o pedido antes de enviar - Sempre ser o mais didático e detalhado possível - Numerar os itens do pedido Exemplo de pedido numerado e detalhado: Cumprimentando-os cordialmente, escrevo para solicitar que os senhores por favor forneçam as seguintes informações sobre a inadimplência de contratos do Fies em 2018 e 2019: 1- Número de contratos do Fies em fase de amortização em 2018; 2- Número de contratos do Fies em fase de amortização e inadimplentes há mais de 90 dias em 2018; 3- Número de contratos do Fies em fase de amortização em 2019; 4- Número de contratos do Fies em fase de amortização e inadimplentes há mais de 90 dias em 2019. Notem que o pedido separa cada valor em um item. Caso a resposta só contenha os dados de 2019, você pode entrar rapidamente com um recurso avisando que o pedido foi apenas parcialmente atendido. Lembrando que o prazo do recurso é mais curto e, por isso, é melhor insistir Cada item ainda repete os detalhes (contrato do Fies, que esteja em fase de amortização em um ano específico). Assim, Ele também não solicita apenas os “contratos inadimplentes”, mas sim os contratos “inadimplentes há mais de 90 dias”. Isso acontece porque o conceito de “inadimplência” pode variar e, em anos anteriores, o Fies já respondeu que considera como inadimplente apenas quem atrasou o pagamento em mais de 90 dias. A resposta, então, permitiria comparar os dados desse novo pedido com dados de anos anteriores já divulgados. Às vezes, um pedido inicial perguntando esse tipo de critério, ou outros detalhes ao órgão, já te ajuda a, no futuro, formular pedidos mais certeiros. Um exemplo bastante útil é o do Ministério de Relações Exteriores (MRE), que detém um volume muito grande de telegramas entre as embaixadas pelo mundo. Todos os telegramas desde 2000 estão digitalizados em um banco de dados, e eles são públicos e sujeitos a uma série de pedidos. Como esses pedidos exigem uma consulta ao sistema, o MRE publicou na internet orientações para a realização de pedidos via LAI: http://antigo.itamaraty.gov.br/pt-BR/acesso-a-informacao/17141-orientacoes-para-pedidos- de-informacoes-contidas-em-expedientes-telegraficos http://antigo.itamaraty.gov.br/pt-BR/acesso-a-informacao/17141-orientacoes-para-pedidos-de-informacoes-contidas-em-expedientes-telegraficos http://antigo.itamaraty.gov.br/pt-BR/acesso-a-informacao/17141-orientacoes-para-pedidos-de-informacoes-contidas-em-expedientes-telegraficos —> Como garantir que os dados serão entregues em formato aberto 100% de garantia é impossível ter, mas pelo menos temos nas várias legislações respaldo para pelo menos mostrar que é nosso direito receber os dados de forma que possam ser analisados. Pensando no que aprendemos sobre o artigo 8 e demais documentos oficiais, segue abaixo um parágrafo de modelo que pode ser usado toda vez que você fizer um pedido de dados: Solicito, por gentileza, que a planilha seja encaminhada em formato aberto – planilha em *.xls *.csv,*.ods etc. –, nos termos do art. 8º, §3º, III da Lei Federal 12.527/11 e art. 24, V da Lei Federal 12.965/14. E esclareço que arquivos em formato *.pdf não são abertos (vide o item 6.2 da Cartilha Técnica para Publicação de Dados Abertos no Brasil: http://dados.gov.br/pagina/cartilha-publicacao-dados-abertos) Se todos os órgão seguissem a regra, esse parágrafo não seria necessário. No entanto, mostrar ao órgão que você conhece a regra e que, se ele descumpri-la, ele pode ser cobrado por isso, já pode demovê-lo da ideia de te enviar a informação em um formato impraticável. —> Como evitar que respondam dizendo que o assunto não é com eles Saber para qual órgão você vai enviar o pedido é importante. Por exemplo: um pedido sobre poda de árvore precisa ir para a secretaria correta. Caso você envie a solicitação para o órgão errado e ele for bem intencionado, ele mesmo pode tomar a iniciativa de encaminhar o pedido para quem é responsável pelo assunto. Mas, se você não tiver certeza sobre qual é o órgão responsável, você mesmo pode deixar no seu pedido a ressalva de que ele seja encaminhado a quem for de direito. Isso já economiza o seu tempo: imagine esperar 20 dias para o órgão responder que não é com ele… Exemplo de pedido de encaminhamento: Desde já solicito que, caso o órgão não seja o responsável pelas informações, vocês por favor encaminhe o pedido ao órgão responsável. —> Como interpor recursos para solicitação não respondida ou parcialmente respondida Aqui também vale a polidez e um pouco de juridiquês. Exemplo de interposição de recurso: Interponho, respeitosamente, o presente recurso, com fundamento nos artigos 15 e seguintes da Lei Federal nº 12.527/2011 e pelas razões práticas aduzidas a seguir: [LISTAR AS RAZÕES, NUMERANDO UMA POR UMA] Diantedisso, peço: 1. Que todas as informações solicitadas no pedido ora em análise sejam, finalmente, encaminhadas dentro do prazo legal para a resposta a este recurso. Atenciosamente, [NOME E SOBRENOME] —> Como não aceitar uma justificativa incompleta de que a informação é sigilosa Pela legislação, o sigilo não é uma opinião do servidor público. Ela é um ato administrativo e, por isso, deve ter um Termo de Classificação de Informação correspondente. Existem duas legislações diferentes que você pode citar no seu recurso, caso a resposta seja que a informação solicitada é sigilosa, mas não seja acompanhada do referido documento: Exemplo de recurso: Cumprimentando-os cordialmente, interponho o presente recurso para solicitar resposta às seguintes demandas: 1) Sob qual justificativa, nos termos do artigo 23 da Lei Federal nº 12.527/2011, a informação solicitada foi classificada como sigilosa? 2) Solicito, com base na Súmula CMRI nº 3/2015, que os senhores por favor me forneçam o respectivo Termo de Classificação de Informação. —> Como obter documentos com parte dos trechos sigilosos Documentos como contratos, por exemplo, podem ter trechos não públicos. Mas isso não exime o órgão de divulgar o restante das informações. Exemplo de frase simples, mas suficiente: Caso parte das informações sejam sigilosas, favor tarjá-las e enviar o restante. 3d. Referências Lei de Acesso à Informação: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm Guia de Transparência Ativa (GTA) para os órgãos e entidades do Poder Executivo Federal: https://www.gov.br/acessoainformacao/pt-br/lai-para-sic/guias-e-orientacoes/gta-6a-versao -2019.pdf Cartilha Técnica para Publicação de Dados Abertos no Brasil: https://dados.gov.br/pagina/cartilha-publicacao-dados-abertos Agência Fiquem Sabendo: https://fiquemsabendo.com.br/ Colaboradados: https://colaboradados.com.br/ Sobre a instrutora Ana Carolina Moreno é jornalista formada pela Universidade de São Paulo (USP) em 2006, com pós-graduação em Edição em Jornalismo pela Universidade da Coruña (Espanha) em 2009. Integrou o grupo de Focas do Estadão em 2006 e passou pelas redações do Terra Magazine, Jornal da Tarde, Folha e G1, onde foi repórter de Educação de 2011 a 2019 e venceu o Prêmio Andifes de Jornalismo em 2014 e 2015 e o segundo lugar do Prêmio Impa de Jornalismo em 2019. Desde janeiro de 2020 é jornalista sênior de dados na TV Globo, produzindo reportagens dirigidas por dados para os telejornais. Para isso, usa as linguagens de programação R e SQL. A forma de contato mais rápida é pelo Twitter. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm https://www.gov.br/acessoainformacao/pt-br/lai-para-sic/guias-e-orientacoes/gta-6a-versao-2019.pdf https://www.gov.br/acessoainformacao/pt-br/lai-para-sic/guias-e-orientacoes/gta-6a-versao-2019.pdf https://dados.gov.br/pagina/cartilha-publicacao-dados-abertos https://fiquemsabendo.com.br/ https://colaboradados.com.br/ https://twitter.com/anarina
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