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Michel Foucault
Pablo Ornelas Rosa
Biografia
Michel Paul Foucault nasceu no dia 15 de outubro de 1926, em Poitiers, França, Estudou no Lycée Henri IV e em seguida na École Normale Supérieure, em Paris, onde desenvolveu um interesse pela filosofia.
Foi aluno da Sorbonne, onde se formou em filosofia e psicologia. Em 1954 publicou “Doença Mental e Psicologia”.
Após vários anos como diplomata cultural no exterior, ele retornou à França, e a partir de 1960, passou a lecionar na Universidade de Clemont-Ferrand. Em 1961, publicou sua grande obra: “História da Loucura na Era Clássica”.
Em 1966, após deixar Clemont, Foucault lecionou na Universidade de Tunis, permanecendo até 1968, quando retornou à França e passou a chefiar o departamento de filosofia da nova universidade experimental de Paris.
Em 1970, Foucault passou a lecionar História do Pensamento no Collège de France. Tornou-se um ativista de vários grupos envolvidos em campanhas contra o racismo, contra os abusos dos direitos humanos e em campanhas pela reforma penal.
Michel Foucault veio cinco vezes ao Brasil, a primeira foi em 1965. No final dos anos 70, foi descoberto pela universidade de Berkeley, na Califórnia, onde foi bem acolhido, e realizou palestras.
Três Momentos do pensamento de Foucault
A grande preocupação de michel Foucault em seus estudos sempre esteve voltada a compreender como foi possível fazer com que os sujeitos se constituíssem como se constitiuíram, ou seja, como os sujeitos foram produzidos e se produziram concomitantemente de maneiras distintas em diferentes momentos da história das civilizações. Para isso, ele articulou a produção do sujeito a partir de três distintos momentos de sua trajetória acadêmica. 
Inicialmente, ele propôs uma reflexão acerca de quais os saberes que possibilitaram com que os sujeitos se desenvolvessem na modernidade, propondo, portanto, o que chamou de uma arqueologia dos saberes. Em um segundo momento, Foucault propõe reflexões sobre a produção do sujeito em sua relação com os poderes que o atravessam e que também o constitui, através do que chamou de uma genealogia do poder. E, por fim, proporá uma terceira reflexão acerca da produção dos sujeitos a partir de sua relação consigo mesmo, apresentando uma análise orientada pelo que chamou de ética e estética da existência.
Arqueologia do saber 
A Arqueologia do saber é um tratado metodológico e historiográfico elaborado inicialmente por Foucault em 1969, no qual ele promove a "arqueologia" ou o "método arqueológico” como um método analítico que passa a utilizar implicitamente em seus trabalhos anteriores sobre a história da loucura (1961), O Nascimento da Clínica (1963), e As Palavras e as Coisas (1966).
Nesse momento inicial de sua trajetória acadêmica Foucault parte da premissa de que os sistemas de pensamento e conhecimento ("epistemes" ou "formações discursivas") são governados por regras (além das gramaticais e da lógica) que operam sob a consciência de sujeitos individuais e definem um sistema de possibilidades conceituais que determinam os limites do pensamento e do uso da linguagem em um determinado domínio e período. Foucault também fornece certo tratamento filosófico e crítico acerca das leituras estruturais fenomenológicas e dogmáticas da história e da filosofia, retratando as narrativas contínuas como modos ingênuos de projetar nossa própria consciência sobre o passado, sendo assim exclusivo e excludente.
Arqueologia do saber e história das ideias
Foucault argumenta que o estudo contemporâneo da história das idéias, embora vise momentos de transição entre cosmovisões históricas, depende em última instância de continuidades que se decompõem sob estreita inspeção. A história das idéias marca pontos de descontinuidade entre os modos de conhecimento amplamente definidos, mas a suposição de que esses modos existem como conjuntos deixam de fazer jus às complexidades do discurso. Foucault argumenta que os "discursos" surgem de acordo com um conjunto vasto e complexo de relações discursivas e institucionais, definidas tanto por rupturas como por temas unificados, e não de acordo com visões de mundo comuns e inarticuladas.
Discurso e Enunciado
Foucault define um "discurso" como um "modo de falar". Assim, seu método estuda apenas o conjunto de "coisas ditas" em suas emergências e transformações, sem qualquer especulação sobre o significado coletivo geral dessas afirmações, e carrega sua insistência no discurso em si até a unidade mais básica das coisas: o enunciado. Durante a maior parte de sua fase Arqueológica, Foucault defende e ataca várias noções dos aspectos inerentes a uma afirmação, sem chegar a uma definição abrangente. Entretanto, ele argumenta que os enunciados são as regras que transmitem uma expressão (isto é, uma frase, algum tipo de proposição ou mesmo um ato de fala) discursivamente significativa. Esse conceito de significado difere do conceito de significação, pois embora uma expressão seja significante, por exemplo, "A montanha de ouro está na Califórnia", pode, no entanto, ser discursivamente sem sentido e, portanto, não ter existência dentro de um determinado discurso. Por esta razão, o "enunciado" é uma função de existência para o significado discursivo.
Enunciados e formações discursivas
o "enunciado" possui um significado especial na Arqueologia, já que não é a expressão em si mesma, mas as regras que tornam uma expressão discursivamente significativa. Essas regras não são a sintaxe e a semântica, que fazem uma expressão ser significante, mas são regras adicionais. Em contraste com os autores de tradição estruturalista, Foucault demonstra que a semântica e as estruturas sintáticas não são suficientes para determinar o significado discursivo de uma expressão. Dependendo se está ou não em conformidade com estas regras discursivas de significado, uma frase gramaticalmente correta pode não ter significado discursivo ou, inversamente, uma frase gramaticalmente incorreta pode ser discursivamente significativa - até mesmo letras sem sentido (por exemplo, “LGBTQI+") pode ter significado discursivo. Assim, o significado de expressões depende das condições em que emergem e existem dentro de um campo de discurso; o significado discursivo de uma expressão é dependente da sucessão de enunciados que o precedem e o seguem. Nesse sentido, para Foucault os "enunciados" não são proposições, frases ou discursos. Ao contrário, "enunciados" constituem uma rede de regras que estabelecem quais expressões são discursivamente significativas, e essas regras são pré-condições para proposições significativas, enunciados, ou discursos para que tenham significado discursivo. No entanto, "enunciados" também são 'eventos', pois assim como as outras regras, elas aparecem (e desaparecem) em algum momento.
A análise de Foucault então se volta para à organizada dispersão de enunciados, que ele chama de formações discursivas, reiterando a ideia de que a análise que ele está delineando é um único procedimento possível, e que ele não está buscando substituir outras formas de análise de discurso ou de torná-los como inválidos.
Genealogia do poder
Utilizado pelo filósofo francês Michel Foucault em suas reflexões sobre as tecnologias e dispositivos de saber-poder, o método genealógico consiste em um instrumental de investigação voltado à compreensão da emergência de configurações singulares de sujeitos, objetos e significações nas relações de poder, associando o exame de práticas discursivas e não-discursivas. O desenvolvimento das análises genealógicas contribui para o exame do poder pastoral, poder soberano, poder disciplinar e o biopoder, levando Foucault a investigar diferentes dispositivos, considerados conjuntos articulados de discursos e práticas constitutivos de objetos e sujeitos, produtivos e eficazes tanto no domínio do saber quanto no campo estratégico do poder. Na atualidade, a genealogia do sujeito moderno desdobra-se no exame de três dispositivos distintos: o disciplinar, que toma o corpo como foco de estratégias de saber-poder,desenvolvendo tanto uma microfísica do poder quanto uma anatomia política dos indivíduos; o dispositivo de segurança que desenvolve uma biopolítica das populações, considerando o ser humano como espécie; e o dispositivo da sexualidade, que emerge do questionamento e da intervenção em relação ao sujeito, considerando distintos modos de subjetivação.
Genealogia: De Nietzsche à Foucault
A noção de genealogia é apresentada no ensaio Nietzsche, a Genealogia, a História (1971), quando enfatiza as reflexões do filósofo alemão sobre as relações entre história e filosofia. A discussão conceitual desenvolvida nesse comentário à obra de Friedrich Nietzsche é fundamental para a elaboração da ideia de genealogia, que marca uma inflexão na obra de Foucault com a inclusão mais explícita das relações de poder e das práticas não-discursivas nas análises. Suas investigações a partir daí diferem dos trabalhos anteriores orientados pelo método arqueológico, discutido em A Arqueologia do Saber (1969) - em que procura responder à polêmica gerada em torno de As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas (1966) - e empregado em suas primeiras obras: História da Loucura na Idade Clássica (1961) e O Nascimento da Clínica: uma arqueologia do olhar médico (1963).
Método Genealógico
O método genealógico surge como questionamento de leituras metafísicas da história, segundo as quais a pesquisa sobre a origem das coisas apresentaria como resultado sua essência supra-histórica, o que permitiria tanto o reconhecimento de seu valor solene, quanto a descoberta de sua verdade oculta. Como contraponto, Foucault proporá uma investigação genealógica que problematiza três elementos. Em primeiro lugar, a genealogia é “dissociativa”, buscando refutar a existência de essências e identidades eternas, e procurando apresentar os acontecimentos múltiplos, heterogêneos e disparatados presentes na origem. Em segundo lugar, ela é “paródica”, destruindo os valores e as realidades aceitas, negando-se a venerá-los, o que permitiria a liberação de potências vitais e criativas. Finalmente, a genealogia é “disruptiva” do sujeito de conhecimento e da verdade, não se limitando a inquirir a verdade daquilo que se conhece e questionando também quem conhece, de modo a propor uma crítica do próprio fundamento antropológico do saber, isto é, do sujeito do conhecimento.
Genealogia e Proveniência
Foucault encontrou no projeto genealógico de Nietzsche um uso bem definido dos conceitos de “proveniência” (Herkunft) e “emergência” (Entsteung), ambos voltados à problematização da “origem miraculosa” (Wunderursprung) das coisas, com tudo que ela propõe de metafísico e ilusório às pesquisas históricas, quando pretendem descobrir a essência das coisas, sua identidade primeira, estado de perfeição e verdade. A análise da proveniência refere-se à articulação entre corpo e história, pois é no corpo, segundo Foucault, que os acontecimentos são inscritos. Mas não se trata de buscar o que é geral e constitutivo de uma identidade, mas de mostrar a heterogeneidade e a proliferação de acontecimentos que se encontram na origem das coisas, indicando o que há de acidental e descontínuo na história. Entendida desse modo, a proveniência tende a ser omitida das narrativas históricas que, ao buscarem construir um discurso coerente sobre a origem das coisas, acabam por desconsiderar elementos que podem causar rupturas à unidade proposta. Assim, a tarefa daquele que busca realizar uma “genealogia da ‘alma’ moderna deve partir da análise minuciosa das relações entre corpo e história. O exame do sujeito e de suas identidades remete o genealogista aos diversos acontecimentos heterogêneos pelos quais ele se forma, de modo que a indicação da proveniência permite a dissociação do Eu e das identidades constituídas.
Genealogia e Emergência
A emergência, por sua vez, trata dos acontecimentos, da maneira como se associam suas significações com as relações de poder; sua análise procura determinar, na descontinuidade dos acontecimentos, os diferentes e sempre cambiantes sistemas de submissão a que as coisas estão associadas, tendo em vista que aquilo que emerge nos acontecimentos, e sua significação, dependem do estado das forças em determinado momento. Quando se procura inquirir a emergência, é preciso atentar às lutas, às confrontações dos adversários, às suas estratégias e táticas, ao modo como buscam assegurar sua própria dominação ou então revertê-la, seja pela subversão das regras existentes ou pela instauração de outras, fazendo com que a sucessão dos sistemas de dominação esteja, no limite, sujeita ao acaso das lutas. A análise da emergência propõe uma atenção às relações entre os processos de dominação e de significação, pois a interpretação dos acontecimentos está orientada pelas perspectivas daqueles que combatem.
Verdade, sujeito, poder e seus desdobramentos
Ao enfatizar a análise das relações entre verdade, sujeito e poder, a noção de genealogia tem sido mobilizada em pelo menos três domínios da antropologia: (1) nas discussões sobre o trabalho de campo e a etnografia, como em Writing Culture (1986), organizado por James Clifford e George Marcus - em que é possível destacar a contribuição de Paul Rabinow antropólogo social, divulgador e intérprete da obra de Michel Foucault nos Estados Unidos - e The Predicament of Culture (1988), de James Clifford; (2) nos estudos de gêneros e sexualidade, discutida por Judith Butler em Problemas de Gênero (1990) e Bodies That Matter (1993) e; (3) no domínio da reflexão política, como em The Anthropology of The State (2006), organizado por Aradhana Sharma e Akhil Gupta.
Poder para Foucault
Possivelmente Foucault foi o primeiro autor a apresentar uma crítica ao modo tradicional de tratar o poder como sinônimo de algo que se possui e cuja acepção de seu exercício era a repressão. Ele assinalou que a noção de repressão era parcialmente inadequada para dar conta do que existe justamente de produtor de positividade no poder, uma vez que a acepção dos efeitos do poder através da repressão resulta de uma concepção meramente jurídica deste mesmo poder que era aceito por todos. Uma das principais características da nossa atual sociedade ocidental, chamada por Foucault ora de sociedade de normalização ora de sociedade de segurança, fundamenta-se no fato de que só conseguimos exercer o poder atrav́és da produção da verdade constituída, sobretudo, a partir de dispositivos, tecnologias e mecanismos abalizados em conflitos permeados por relaçõs entre saber e poder. Todos nós somos coagidos a produzir verdade pelo poder, pois ele a exige e necessita dela para poder funcionar. Como temos que dizer a verdade, somos não apenas violentados, mas condenados a encontrá-la e confessá-la. 
Sendo assim, o poder não para de questionar, de inquirir, de registrar; ele institucionaliza a busca pela verdade, ele a profissionaliza e a recompensa. Determina que se produza a verdade da mesma maneira com que se produzem riquezas. Ele aconselha que se produzam verdades para se produzir riquezas. Portanto, não apenas verifica-se que população vive sob a égide da verdade justamente porque ela é a norma, como também é o discurso verdadeiro que, ao menos em parte, delibera e a propaga propulsando efeitos de poder. 
Poder muito além do Estado
A estrutura estatal do direito e seu campo jurídico são entendidos na perspectiva foucaultiana, como constantes veículos das relações de dominação e das técnicas de sujeição polimorfas. Para compreender a operacionalidade dessas relações é necessário examinar o direito não sob o aspecto de uma legitimidade a ser afixada, mas sob o aspecto dos procedimentos de sujeição que ele põe em prática. É somente dessa forma que seria possível evitar o problema central do direito e da obediência dos indivíduos submetidos a essa soberania, fazendo com que apareça, em seu lugar, o problema da dominação e da sujeição. 
A abordagem apresentada pela analítica foucaultiana não procura analisar necessariamenteas formas regula- mentadas e legitimadas pelo poder em seu centro e no que podem ser seus mecanismos gerais ou seus efeitos conjuntos. Ao contrário, versa sobre a apreensão do entendimento acerca do funcionamento do poder em suas extremidades, em seus últimos esboços, onde ele se torna capilar, ou seja, tomar o poder em suas formas e instituições mais locais e, portanto, para além das regras do direito que o organizam e o delimitam. 
Poder funciona em rede
Foucault não tratou do poder como um fenômeno de dominação espesso e homogêneo, compreendido como o exercício da superioridade de um indivíduo, de um grupo ou de uma classe sobre outra. O autor o analisou como algo que circula, trabalhando em cadeia, como algo que jamais estará circunscrito nas mãos de alguns e jamais será confiscado como riqueza ou bem. Para ele, o poder funciona e se exerce em rede. Nela, os indivíduos não somente o circundam como também podem se submeter a esse poder, além de exercê-lo ocasionalmente. Portanto, os indivíduos, que são concomitantemente os efeitos e os intermediários do poder, jamais são o alvo inerte que consente o poder, são sempre os seus mediadores na medida em que o poder não se aplica a eles, mas transita por eles. 
Poder além do direito
A análise foucaultiana sobre a dominação global que se intensifica e repercute até embaixo, mostra como esses processos se deslocam, se estendem, se modificam e, sobretudo, como são investidos e anexados por fenômenos globais. No entanto, ao invés de orientar sua pesquisa genealógica sobre o poder por meio de análises exclusivamente situadas no âmbito jurídico da soberania, dos aparelhos do Estado e das ideologias que o seguem, Foucault buscou construir sua investigação para além das margens do direito na medida em que passou a orientar seus trabalhos para o nível da dominação que ultrapassa a soberania, ou seja, para o plano das formas de sujeições resultantes dos operadores materiais e imateriais, das conexões e utilizações locais permeadas pelos dispositivos de saber. 
Poder além do modelo Leviatã
SegundoFoucault, era de fundamental importância que nos desvencilhássemos da exclusividade do modelo Leviatã de Hobbes envolvido por um modelo de homem artificial, autômato, fabricado e unitário igualmente, que trata dos indivíduos reais, que tem o corpo como cidadãos e a alma como soberania; era preciso estudar o poder fora do campo delimitado pela soberania jurídica e pela instituição do Estado; trata-se de analisá-lo a partir das técnicas e táticas de dominação .
Embora o poder seja exercido nas sociedades moder- nas por meio de um jogo de heterogeneidade perpassado não apenas pela disciplina, mas pela soberania mecânica e polimorfa presente no direito público, não é possível com- provar sua atuação através destes dois elementos de maneira isolada. Ele não é exercido nem por um direito soberano explícito e nem por disciplinas obscuras que agem de ma- neira discreta e profunda. Para Foucault (2000), a mecânica do poder é resultado da atuação concomitante de distintas forças que são equalizadas dependendo das conjunturas, posições e necessidades particulares de seu exercício. 
Tecnologias de poder
 - Poder pastoral
Poder soberano
Poder disciplinar
Biopoder/biopolítica
Poder Pastoral
No Oriente pré-cristão, o poder pastoral é uma forma de governar os outros, baseada na ideia de que o pastor cuida das necessidades do rebanho e de cada ovelha, ao mesmo tempo que conduz a todos para um fim de governo, a subsistência terrestre. No Cristianismo primitivo, no monaquismo cristão e no Cristianismo medieval, o poder pastoral é a arte de governar comportamentos baseada em alguns princípios. Primeiro, conduzir a todos e a cada um para uma finalidade governamental, a salvação da alma em outro mundo. Segundo, atrelar o sujeito a uma verdade de governo, o ser pecador, e fazê-lo reconhecer-se como tal, por meio da técnica da confissão de si, para obter o fim prometido. Terceiro, conhecer o sujeito a ser dirigido, para torná-lo obediente, através da técnica da direção de consciência, exercida pelo exame de consciência e pela confissão de si para outro. Quarto, estabelecer uma separação hierárquica entre quem governa e quem é governado, por meio da diferença entre clero e leigos. O poder pastoral também repercute nas formas modernas de governar os outros, isto é, na polícia, no liberalismo e no neoliberalismo.
Poder Soberano
Por muito tempo, um dos privilégios característicos do poder soberano fora o direito de vida e morte. Sem dúvida, ele derivava formalmente da velha patria potestas que concedia ao pai de família romano o direito de “dispor” da vida de seus filhos e de seus escravos; podia retirar-lhes a vida, já que a tinha “dado”. O direito de vida e morte, como é formulado nos teóricos clássicos, é uma fórmula bem atenuada desse poder. Entre soberanos e súditos, já não se admite que seja exercido em termos absolutos e de modo incondicional, mas apenas nos casos em que o soberano se encontre exposto em sua própria existência: uma espécie de direito de réplica. (Foucault, 1988, p. 147)
O direito que é formulado como “de vida e morte” é, de fato, o direito de causar a morte ou de deixar viver. (Foucault, 1988, p. 148)
O poder era, antes de tudo, nesse tipo de sociedade, direito de apreensão das coisas, do tempo, dos corpos e, finalmente, da vida; culminava com o privilégio de se apoderar da vida para suprimí-la. (Foucault, 1988, p. 148)
Poder disciplinar
O poder disciplinar é com efeito um poder que, em vez de se apropriar e de retirar, tem como função maior “adestrar”; ou sem dúvida adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor. Ele não amarra as forças para reduzi-las; procura ligá-las para multiplicá-las e utilizá-las num todo. Em vez de dobrar uniformemente e por massa tudo o que lhe está submetido, separa, analisa, diferencia, leva seus processos de decomposição até às singularidades necessárias e suficientes. “Adestra” as multidões confusas, móveis, inúteis de corpos e forças para uma multiplicidade de elementos individuais – pequenas células separadas, autonomias orgânicas, identidades e continuidades genéticas, segmentos combinatórios. A disciplina “fabrica” indivíduos; ela é a técnica específica de um poder que toma os indivíduos ao mesmo tempo como objetos e instrumentos de seu exercício (FOUCAULT, 1997, p. 143). 
Biopoder/biopolítica
Pode-se dizer que o velho direito de causar a morte ou deixar viver foi substituído por um poder de causar a vida ou devolver a morte. (Foucault, 1988, p. 150)
Esse poder sobre a vida desenvolveu-se a partir do século XVII, em duas formas principais; que não são antitéticas e constituem, ao contrário, dois pólos de desenvolvimento interligados por todo um feixe intermediário de relações. Um dos pólos, o primeiro a ser formado, ao que parece, centrou-se no corpo como máquina: no seu adestramento, na ampliação de suas aptidões, na extorsão de suas forças, no crescimento paralelo de sua utilidade e docilidade, na sua integração em sistemas de controle eficazes e econômicos – tudo isso assegurado por procedimentos de poder que caracterizam as disciplinas: anátomo-política do corpo. O segundo, que se formou um pouco mais tarde, por volta da metade do século XVIIII, centrou-se no corpo-espécie, no corpo transpassado pela mecânica do ser vivo e como suporte dos processos são assumidos mediante toda uma série de intervenções e controles reguladores: uma bio-política da população. As disciplinas do corpo e as regulações da população constituem os dois pólos em torno dos quais se desenvolveu a organização do poder sobre a vida. (Foucault, 1988, p. 151-152)
Governamentalidade
O que pretendo fazer nestes próximos anos é uma história da governamentalidade. E com esta palavra quero dizer três coisas: 
1 − o conjunto constituído pelas instituições, procedimentos, análises e reflexões, cálculos e táticas que permitem exercer esta forma bastante específica e complexa depoder, que tem por alvo a população, por forma principal de saber a economia política e por instrumentos técnicos essenciais os dispositivos de segurança. 
2 − a tendência que em todo o Ocidente conduziu incessantemente, durante muito tempo, à preemin6encia deste tipo de poder, que se pode chamar de governo, sobre todos os outros − soberania, disciplina, etc. − e levou ao desenvolvimento de uma série de aparelhos específicos de governo e de um conjunto de saberes. 
3 − resultado do processo através do qual o Estado de justiça da Idade Média, que se tornou nos sé́culos XV e XVI Estado administrativo, foi pouco a pouco governamentalizado. 
Governamentalização do Estado
Desde o século XVIII, vivemos na era do governamentalidade. Governamentalização do Estado, que é um fen6omeno particularmente astucioso, pois se efetivamente os problemas da governamentalidade, as técnicas de governo se tornaram a questão política fundamental e o espaço real da luta política, a governamentalização do Estado foi o fenômeno que permitiu ao Estado sobreviver. Se o Estado é hoje o que é, é graças a esta governamentalidade, ao mesmo tempo interior e exterior ao Estado. São as táticas de governo que permitem definir a cada instante o que deve ou não competir ao Estado, o que é público ou privado do que é ou não estatal, etc.; portanto o Estado, em sua sobrevivência e em seus limites, deve ser compreendido a partir das táticas gerais da governamentalidade. 
Problema do Governo
Certamente, na Idade Média ou na Antigüidade greco−romana, sempre existiram tratados que se apresentavam como conselhos ao príncipe quanto ao modo de se comportar, de exercer o poder, de ser aceito e respeitado pelos súditos; conselhos para amar e obedecer a Deus, introduzir na cidade dos homens a lei de Deus, etc. Mas, a partir do século XVI até o final do século XVIII, vê−se desenvolver uma série considerável de tratados que se apresentam não mais como conselhos aos príncipes, nem ainda como ciência da política, mas como arte de governar. De modo geral, o problema do governo aparece no século XVI com relação a questões bastante diferentes e sob múltiplos aspectos: problema do governo de si mesmo − reatualizado, por exemplo, pelo retorno ao estoicismo no século XVI; problema do governo das almas e das condutas, tema da pastoral católica e protestante; problema do governo das crianças, problemática central da pedagogia, que aparece e se desenvolve no século XVI; enfim, problema do governo dos Estados pelos príncipes. Como se governar, como ser governado, como fazer para ser o melhor governante possível, etc. 
Cuidado de si e ética da existência
A ética do “cuidado de si” consiste em um conjunto de regras de existência que o sujeito dá a si mesmo promovendo, segundo sua vontade e desejo, uma forma ou estilo de vida culminando em uma “estética da existência”. O cuidado de si não consiste em uma ética em que o sujeito se isola do mundo, mas sim retorna para si mesmo para depois agir. Portanto, o objetivo do artigo é compreender e expor a concepção ética de Michel Foucault referente ao “cuidado de si” e sua culminância na vida compreendida como obra de arte denominada de “estética da existência”.
A “estética da existência”, que deriva de um processo de trabalho sobre si estabelecido pelo sujeito, é de fundamental importância de ser pensado, pois, ao constituir estilos diferenciados de vida, promove o surgimento de focos de resistência aos mecanismos de poder e dominação que têm como objetivo normalizar e padronizar os modos de vida dos sujeitos.

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