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Lisossomos: Origem, Estrutura e Funções Você já ouviu falar sobre lisossomo? Tem ideia do que é e para que serve esta organela celular? Não? Antes de começar a estudar sobre os lisossomos, assista o vídeo abaixo. Em 1949, um citologista belga chamado Christian de Duve, utilizando uma técnica conhecida como fracionamento celular, conseguiu isolar um novo componente celular que apresentava membrana e que apresentava grande quantidade e variedade de enzimas hidrolíticas em seu interior. Por esta razão, esta nova estrutura celular foi denominada lisossomo. A origem da palavra é grega: lise = quebra e soma = corpo. Em 1974, de Duve recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina por sua descoberta. Os lisossomos apresentam como origem principal o complexo de Golgi (CG). Este é responsável pela formação da membrana lisossômica. Entretanto, como acabamos de ver, o interior dos lisossomos possui grande variedade de enzimas hidrolíticas responsáveis pela digestão celular. Como vimos nos módulos anteriores, as proteínas são sintetizadas no retículo endoplasmático rugoso (RER) e transportadas para o CG, onde são selecionadas, processadas e empacotadas em vesículas. As enzimas hidrolíticas são marcadas com uma molécula de manose-6-fosfato, transportadas para o CG em vesículas e, em seguida, acondicionadas nos lisossomos. Uma das vesículas originadas do CG é o lisossomo. Após ser liberado pela face trans do Golgi e ficar livre no citoplasma, prótons (H+) são bombeados para dentro do lisossomo, tornando o seu conteúdo ácido e ativando as enzimas digestivas, denominadas hidrolases ácidas. Portanto, os lisossomos se originam pelo brotamento de vesículas a partir de membranas da rede trans do Golgi, responsável por selecionar e endereçar proteínas recém-sintetizadas no RER e marcadas com manose-6-fosfato, direcionando-as para os lisossomos. Origem do lisossomo. Os lisossomos são organelas cuja forma e tamanho é bastante variável dependendo do estado fisiológico da célula. Sendo assim, é muito difícil identificar os lisossomos apenas levando em consideração sua morfologia, pois sua forma muda constantemente. O tamanho dos lisossomos pode variar, geralmente, de 0,4 a 0,8 µm. Entretanto, podem alcançar tamanhos muito maiores em tipos celulares específicos, como por exemplo em células especializadas em eliminar partículas estranhas, denominadas fagócitos. Semelhante a outras estruturas citoplasmáticas, os lisossomos são pequenos corpúsculos, geralmente esféricos, de estrutura e dimensões muito variáveis. Esta organela celular é delimitada por membrana e contém em seu interior grande quantidade e variedade de enzimas hidrolíticas com atividade máxima em pH ácido, sendo por isso chamadas de hidrolases ácidas. Estas enzimas são capazes de degradar praticamente todos os tipos de biomoléculas orgânicas, incluindo proteínas, ácidos nucleicos, lipídeos e carboidratos, sendo nomeadas de acordo com as moléculas que elas decompõem. Por exemplo, as proteases quebram proteínas e as nucleases quebram ácidos nucleicos. O fato do lisossomo ser uma organela membranosa é extremamente importante, pois a membrana lisossômica permite que as enzimas fiquem isoladas dentro da organela. Se as enzimas hidrolíticas não ficassem isoladas dentro do lisossomo, as células seriam facilmente destruídas, uma vez que estas enzimas são capazes de degradas biomoléculas orgânicas. https://cead.uvv.br/conteudo/wp-content/uploads/2018/09/aula_biocel_top7_img01.jpg Estrutura do lisossomo. Os lisossomos contêm uma grande variedade de enzimas, sendo que até o presente momento cerca de 40 enzimas foram isoladas em vários tipos de tecidos. Algumas enzimas comuns são β-galactosidase, β-glicuronidase, β-N-acetil- glicosaminidase, α-glicosidase, α-manosidase; catepsina B, arilsulfatase A, arilsulfatase B, ribonuclease ácida, desoxirribonuclease ácida, fosfatase ácida, lipase ácida, fosfolipase A, fosfatase ácida, hialuronidase, aminopeptidase A, dextranase, lisozima, entre outras. A maioria destas enzimas funciona mais eficientemente em meio ligeiramente ácido, tendo pH ótimo em torno de 5,0, como tal, são coletivamente denominadas hidrolases ácidas. Enzimas lisossômicas Por ser uma organela membranosa, a estrutura da membrana lisossômica é semelhante à membrana plasmática, ou seja, consiste em uma bicamada lipídica com proteínas inseridas. Entretanto, como esta organela contém grande quantidade de enzimas digestivas em seu lúmen, a face interna da membrana do lisossomo é revestida por carboidratos para evitar que as enzimas lisossômicas degradem a membrana da organela. Os lisossomos são geralmente muito pequenos e têm uma estrutura basteante simples. São esferas compostas por uma bicamada lipídica que envolve um fluido que contém uma variedade de enzimas hidrolíticas. Os lipídeos que compõem a bicamada são, principalmente, fosfolipídeos, que são moléculas que possuem cabeças de grupos fosfato hidrofílicos, uma molécula de glicerol e caudas de ácidos graxos hidrofóbicos. A membrana lisossômica é impermeável ao substrato das enzimas contidas no lisossomo. Entretanto, algumas substâncias são capazes de alterar a permeabilidade da membrana lisossômica. Hormônios sexuais, digitonina e alguns tipos de vitamina (A, B e K) são capazes de causar instabilidade da membrana lisossômica, levando à liberação de enzimas digestivas no citoplasma da célula. Outras substâncias, como colesterol, heparina, cortisona e anti-histamínicos, apresentam ação oposta, ou seja, são substâncias consideradas estabilizadoras da membrana lisossômica. É importante ressaltar que a permeabilidade da membrana do lisossomo é bastante limitada e isso ajuda a explicar o fato de que as enzimas lisossômicas não têm acesso direto aos componentes celulares, prevenindo a digestão descontrolada do conteúdo celular. Os lisossomos podem ser classificados, basicamente, como lisossomos primários, secundários e terciários. O lisossomo primário, também conhecido como verdadeiro, é aquele recém-formado pelo CG e que contém apenas as enzimas hidrolíticas em seu interior. O lisossomo secundário, é aquele que se associou à uma vesícula (fagossomo, pinossomo ou autofagossomo) contendo material para ser digerido. O lisossomo terciário é aquele que contém o material que não foi digerido, formando o chamado corpo residual. Como vimos, os lisossomos são as organelas responsáveis pela degradação de macromoléculas em suas partes constituintes (monômeros), que são então recicladas. O lúmen do lisossomo é mais ácido que o citoplasma da célula, pois apresenta pH de aproximadamente 5. Esse ambiente ácido ativa as hidrolases e confina sua ação destrutiva ao lisossomo, protegendo a célula da auto degradação em caso de vazamento ou ruptura lisossomal, uma vez que o pH da célula é ligeiramente alcalino (pH=7,4) . Em plantas e fungos, os lisossomos são chamados de vacúolos ácidos. Como os lisossomos são formados no CG, existe um sistema de triagem no CG de reconhece sequências específicas de aminoácidos que endereçam as enzimas hidrolíticas e as direcionam para os lisossomos. Sabe-se que os lisossomos são encontrados em praticamente todos os tipos de células humanas, exceto nas hemácias que são as células vermelhas do sangue. Estima-se que uma célula humana possua cerca de 300 lisossomos. Agora que já vimos a origem e a estrutura dos lisossomos, vamos aprender sobre as suas funções na célula? https://cead.uvv.br/conteudo/wp-content/uploads/2018/09/aula_biocel_top6_img08.jpg https://cead.uvv.br/conteudo/wp-content/uploads/2018/09/aula_biocel_top7_img03-768x448.jpg Os lisossomos são vesículas encontradas no citoplasma das células especializadas na digestão de moléculas. De maneira geral, esta organela é responsável pela digestão de moléculas complexas, como carboidratos, lipídeos, proteínas e ácidos nucleicos, que a célula pode reciclar, aproveitando para outros fins.O pH dos lisossomos é ácido porque suas enzimas hidrolíticas, que quebram grandes moléculas através de hidrólise, funcionam melhor em pH ácido. Durante o processo de hidrólise, uma molécula de água é adicionada a uma substância, fazendo com que ela se quebre. Por exemplo, a lactose, o açúcar do leite, é um dissacarídeo formado pela união de uma molécula de glicose e uma de galactose, através da formação de uma ligação glicosídica. A hidrólise da molécula de lactose, leva à produção de uma glicose e uma galactose. Hidrólise da lactose em galactose e glicose. Como o sistema digestivo do corpo humano, que decompõe os alimentos que ingerimos usando enzimas, o lisossomo pode ser considerado o “sistema digestivo” da célula, uma vez que ele é responsável por quebrar moléculas grandes em pequenas moléculas usando para isso enzimas (hidrolases). Os lisossomos digerem vários tipos diferentes de moléculas. Eles podem digerir moléculas que são internalizadas pela célula em vesículas endocíticas, ou seja, vesículas que trazem partículas para dentro da célula, ao se fundirem com estas vesículas. Este processo de internalização de partículas externas pela célula é chamado de endocitose, é um excelente exemplo de tráfego de vesículas e desempenha papel importante na nutrição e imunidade, assim como na reciclagem de membranas. Veremos em detalhes em um próximo módulo o processo de endocitose. Os lisossomos também podem realizar autofagia, que é a destruição de organelas citoplasmáticas que não estão funcionando corretamente ou que estão velhas. Além disso, os lisossomos são essenciais para o processo de fagocitose, que ocorre quando uma célula engloba uma partícula (que pode ser um microrganismo) para destruí-la. Por exemplo, os glóbulos brancos chamados fagócitos ingerem bactérias invasoras para destruí-las. Para isso, as bactérias são fagocitadas, envolvidas em uma vesícula (fagossomo) aonde os lisossomos se fundem, liberam suas enzimas hidrolíticas e destroem a bactéria. Os lisossomos se fundem com vesículas originadas na membrana plasmática e que derivam de uma de três vias: endocitose, autofagocitose e fagocitose. Na endocitose, as macromoléculas extracelulares são captadas pela célula para formar vesículas ligadas à membrana, chamadas endossomos, que se fundem com os lisossomos. Autofagocitose é o processo pelo qual antigas organelas e partes celulares com mau funcionamento são removidas da célula. Estas organelas são envolvidas por membranas internas que se fundem com os lisossomos. A fagocitose é realizada por células especializadas (fagócitos) que englobam grandes partículas extracelulares, tais como células mortas ou invasores estranhos (bactérias), e as dirigem para a degradação dos lisossomos. Muitos dos produtos da digestão lisossômica, como aminoácidos e nucleotídeos, são reciclados pela célula sendo utilizados na síntese de novos componentes celulares. A principal função dos lisossomos é participar diretamente dos processos de digestão de partículas. Grandes moléculas são levadas para dentro da célula por fagocitose. A célula engloba estas moléculas dentro de uma vesícula conhecida como fagossomo. Este então se move em direção ao lisossomo. A exposição do material englobado às hidrolases lisossômicas ocorre pela fusão do fagossomo com um lisossomo, resultando na formação de um lisossomo secundário. O processo pode parecer a um observador como um lisossomo descarregando enzimas em um fagossomo ou como um fagossomo que libera seu conteúdo em um lisossomo, como pode ser o caso em células do parênquima hepático; ou simplesmente como um compartilhamento mútuo do conteúdo das duas vesículas, se eles forem de tamanhos comparáveis. Agora as enzimas do lisossomo podem entrar em contato com as moléculas trazidas para a célula no fagossomo e a digestão ocorre. Uma vez que as moléculas são digeridas, os produtos digeridos podem se difundir em uma vesícula digestiva que se move para a membrana celular onde ocorre a chamada exocitose, que como veremos em um próximo módulo, é uma atividade celular comum que pode ocorrer para eliminação de produtos da digestão, assim como para a liberação de moléculas importantes no meio extracelular (como neurotransmissores, hormônios, proteínas secretórias, entre outras coisas). Como falamos anteriormente, em algumas situações organelas citoplasmáticas podem ser destruídas pelos lisossomos através de um processo denominado autofagia celular. Durante períodos de inanição, as células precisam de biomoléculas para sobreviver. Sendo assim, os lisossomos participam do processo de autofagia com o objetivo de fornecer energia para a célula. https://cead.uvv.br/conteudo/wp-content/uploads/2018/09/aula_biocel_top7_img05--768x688.jpg Quando uma célula morre, a membrana lisossômica se rompe e as enzimas hidrolíticas são liberadas no citoplasma e digerem rapidamente toda a célula. Acredita-se que este seja um mecanismo para remover células mortas. Em animais multicelulares, muitas células estão constantemente sendo formadas, vivem por um curto período de tempo e depois morrem. A autólise ou autodigestão pode ocorrer de forma patológica, por exemplo, quando uma célula perde seu suprimento de oxigênio e a membrana lisossômica se rompe, liberando as hidrolases no citoplasma e permitindo que estas enzimas dissolvam a célula. Nos últimos anos, evidências começaram a se acumular para sugerir o papel dos lisossomos na formação de produtos secretórios em células secretoras. O fenômeno da secreção de hormônios tireoidianos mediada por lisossomos é o exemplo mais conhecido do envolvimento direto dos lisossomos no processo secretório. As células epiteliais da tireoide são ricas em lisossomos. Os folículos da glândula tireóide contêm a proteína de alto peso molecular, tireoglobulina, que é armazenada como colóide no lúmen. Os hormônios tireoidianos tiroxina (T4) e triiodotironina (T3) estão ligados a esta proteína. O colóide contendo tireoglobulina entra na célula epitelial por pinocitose. As gotículas coloidais se fundem com os lisossomos primários para formar lisossomos secundários. Os hormônios da tireóide são separados da tireoglobulina e liberados na corrente sanguínea. Assim, os hormônios tireoidianos são liberados pela hidrólise da tireoglobulina. T3 e T4 são os hormônios produzidos e secretados pela glândula tireoide. Estes hormônios estão relacionados ao metabolismo celular. Para entender um pouco melhor sobre a síntese e secreção dos hormônios tireoideanos . Os lisossomos também desempenham papel importante no desenvolvimento do organismo. Evidências apontam que os lisossomos são diretamente responsáveis pela involução do útero e das glândulas mamárias no período pós-parto. Além disso, durante a fertilização, o espermatozoide libera enzimas hidrolíticas armazenadas no acrossomo. Essas enzimas ajudam na penetração do espermatozoide no óvulo. Estudos realizados por microscopia de fluorescência mostraram que as enzimas encontradas no acrossomo também são encontradas nos lisossomos, sugerindo que o acrossomo seja um lisossomo gigante. Alguns distúrbios metabólicos hereditários podem causar problemas no funcionamento adequado dos lisossomos. Esses distúrbios são chamados de doenças de armazenamento lisossomal (DAL). Existem cerca de 50 DALs diferentes, entretanto, todas são doenças consideradas raras, ocorrendo em menos de 1 em 100.000 nascimentos. As DALs geralmente ocorrem quando o indivíduo apresenta deficiência em uma enzima que quebra moléculas grandes como prote ínas ou lipídeos. Como esta enzima não funciona, as grandes moléculas não podem ser quebradas, acumulando dentro da célula e podendo induzir a sua morte. A maioria das DALs é herdada em um padrão autossômico recessivo. Isso significa que a condição pode ser mascarada por uma cópia de um alelo sem a mutação (alelo dominante) e é causada por uma mutação em um dos cromossomos autossômicos,que são todos os cromossomos, exceto os cromossomos sexuais X e Y. A Doença de Tay-Sachs é um exemplo de DAL bem conhecido . É considerada uma gangliosidose causada por uma alteração genética que leva a diminuição ou ausência de atividade da enzima hexosaminidase A. Esta enzima é encontrada nos lisossomos e realiza a degradação de gangliosídeos que, devido à doença, se acumulam nas células nervosas e interferem no seu funcionamento normal diminuindo a capacidade mental do indivíduo. Não há cura para a doença de Tay-Sachs e a morte geralmente ocorre aos quatro anos de idade. Algumas DALs são ligadas ao X, ou seja, se devem a uma mutação no cromossomo X. Um exemplo é a doença de Fabry. A doença de Fabry é rara, ocorrendo em 1 em 40.000- 120.000 nascidos vivos. Pessoas com doença de Fabry são deficientes na enzima α-galactosidase A, responsável pela remoção do glicolipídeo globotriaosilceramida que acaba acumulando no corpo. Os sintomas incluem fadiga, ardor nas extremidades ou dor no corpo inteiro, zumbidos, náuseas, complicações cardíacas e renais e pápulas na pele chamadas angioceratomas. Um outro exemplo de DAL é a doença de Pompe, um distúrbio neuromuscular hereditário raro (1 em 10.000 nascidos) que causa fraqueza muscular progressiva. A doença de Pompe é ocasionada pela deficiência da enzima α-glicosidase ácida que é responsável pela degradação do glicogênio. Com isso, ocorre acúmulo de glicogênio dentro dos lisossomos levando à fraqueza muscular e deterioração da função respiratória e morte prematura. Além de doenças causadas por erros genéticos, existem enfermidades relacionadas ao mal funcionamento dos lisossomos. Um exemplo é a silicose ocasionada pela inalação de partículas estranhas e muito pequenas, caracterizada por inflamação e deposição de tecido fibroso (cicatrização) em forma de lesões nodulares nos pulmões. Esta doença, sem cura e progressiva, é comum em trabalhadores do setor de rochas, mineração, confecção de prótese dentária, construção civil e ceramistas que não utilizam equipamentos de proteção. Os minúsculos cristais de sílica ficam em suspensão no ar inalado e atingem os pulmões, onde ficam retidos nos alvéolos e são fagocitados por macrófagos, células de defesa, e se acumulam nos lisossomos. Por ser um cristal, a sílica perfura os lisossomos e causa a liberação das enzimas hidrolíticas no citoplasma, levando à destruição da célula e culminando em inflamação pulmonar. Nos locais onde a sílica se acumula são formados nódulos que podem ser visualizados em exames de imagem. A silicose é uma doença ocupacional muito antiga e grave. Estima-se que no Brasil cerca de 6 milhões de trabalhadores estejam expostos ao risco de desenvolver a doença. Peroxissomos: Estruturas e Funções Peroxissomo e lisossomo Os peroxissomos se parecem com os lisossomos que vocês terminaram de estudar. Será que eles são iguais? Claro que não. Eles são parecidos porque são organelas com formato esférico e com enzimas no seu interior, porém as enzimas são totalmente diferentes e com diferentes funções. Então vamos lá conhecer mais essa organela que pouco se fala, mas que é muito importante para nosso organismo, em especial para as pessoas que gostam de ingerir bebida alcoólica. Os peroxissomos são organelas citoplasmáticas presentes em células eucariotas. Eles têm uma forma esférica e são delimitados por uma membrana que é formada por uma bicamada lipídica e por proteínas conforme foi estudado no módulo 2. Eles estão distribuídos em todo citoplasma celulares (média de 100 por célula) sendo em maior quantidade em algumas células de alguns órgãos tais como o fígado e rins. Em seu interior possui várias enzimas que estão envolvidas no metabolismo de espécies reativas de oxigênio, dos ácidos graxos e de substâncias tóxicas como o álcool . As enzimas presentes em seu interior são oriundas, na sua grande maioria, da síntese de proteínas realizada nos ribossomos livres no citosol (organela abordada no módulo 5). São em média 50 enzimas diferentes, pertencentes às oxidases e às catalases, envolvidas em uma variedade de rotas bioquímicas. As oxidases pertencem à classe de enzimas que são responsáveis pela oxidação de substratos resultando assim na produção do peróxido de hidrogênio (H2O2) que é uma substância toxica para célula Metabolismo com a produção de peróxido de hidrogênio (H2O2) As enzimas oxidases estão presentes no metabolismo de lipídios, do ciclo do ácido glioxílico e no processo de fotorespiração nos vegetais. Como o produto final das oxidases é peróxido de hidrogênio, aí entra a outra classe de enzimas que são as catalases que irão degradá-lo em água e oxigênio, ou seja, em uma substância não prejudicial à célula que nesse caso é a água. Como é isso? O peroxissomo produz a peróxido de hidrogênio (H2O2) em uma reação e depois ele mesmo vai decompor este produto toxico? Vamos explicar melhor a seguir. As enzimas presentes no peroxissomo oxidativas vão transferir átomos de hidrogênio (H2), de diversos substratos (por exemplo, o ácido úrico, os aminoácidos, os ácidos graxos, o metanol e as purinas), para o oxigênio (O2) formando o peróxido de hidrogênio (H2O2), conforme mostrado abaixo. oxidases RH2 + O2 ---------------- → R + H2O2 O peróxido de hidrogênio, produzido na reação acima, é toxico, logo há necessidade de transformá-lo. Ai entra a enzima mais comum e mais falada que é a catalase. Ela tem a função de decompor o peróxido de hidrogênio (H2O2) em água (H2O) e oxigênio (O2), ou seja, uma substância toxica a célula em uma não toxica que é a água conforme é mostrada abaixo. catalase 2 H2O2 ------------------ → 2 H2O + O2 O peróxido de hidrogênio é um problema quando se encontra no interior da célula por ser um elemento toxico, mas os géis clareadores, utilizados pelos cirurgiões dentistas, contem concentrações de peróxidos em torno de 30 a35% promovendo assim clareamento dos nossos dentes. Estudos têm demonstrado que esses produtos clareadores são eficientes e suficientemente seguros quando as recomendações do fabricante são seguidas. https://cead.uvv.br/conteudo/wp-content/uploads/2018/09/aula_biocel_top7_img11_.jpg https://cead.uvv.br/conteudo/wp-content/uploads/2018/09/aula_biocel_top7_img06_.jpg O peróxido de hidrogênio não é produzido somente pelo peroxissomo, ele é também um produto das reações que ocorrem na mitocôndria, retículo endoplasmático e no citosol, sendo que nesses lugares as oxidações produzem pequenas quantidades de ânions superóxido (O2 –) conhecidos como radicais livres. A enzima superóxido dismutase vai atuar formando o peróxido de hidrogênio conforme equação abaixo. Este peróxido de hidrogênio é encaminhado para o peroxissomo onde será convertido, conforme citada acima, em água e oxigênio. Superóxido dismutase 2 (O2 –) + 2 H2 -------------------------- ------ → H2O2 + O2 A enzima catalase além da função de decompor o peróxido de hidrogênio (H2O2) em água e oxigênio ela tem outra função muito importante, nas células do fígado e dos rins, que é a de desintoxicação. Nestas células a catalase atua como enzima desintoxicante, pois vai utilizar o peróxido de hidrogênio para neutralizar a toxidade, por exemplo, do etanol, do ácido fórmico e dos fenóis conforme equação abaixo. catalase H2O2 + ST2 ------------------ → 2 H2O + SO ST= substância tóxica SO= substância oxidada não tóxica Um exemplo prático da reação mostrada acima é quando uma pessoa ingere bebida alcoólica, cerca de metade do etanol (ST) é oxidada a acetaldeído (SO), sendo assim neutralizada parte da substância tóxica pela enzima catalase presenteno peroxissomo. Como já relatado, o peroxissomo possui várias enzimas, em torno de 50, e além da catalase há as enzimas oxidativas, por exemplo, as enzimas da β-oxidação dos ácidos graxos, urato- oxidase e D-aminoácido-oxidase que estão relacionadas à metabolização dos ácidos graxos, do ácido úrico e aminoácidos, respectivamente. A oxidação dos ácidos graxos é uma importante fonte de energia metabólica e nas células animais ela ocorre tanto nos peroxissomos como nas mitocôndrias (organela estudada no módulo 4), enquanto que nas leveduras e nas plantas ocorre somente no peroxissomo. Na degradação dos ácidos graxos, os peroxissomos produzem acetil-CoA. O acetil-CoA produzido pode migrar para as mitocôndrias onde participara da produção de energia (ATP) por meio do ciclo do Krebs, ou então ele pode migrar para ser utilizado em outros compartimentos para produção de diversas moléculas. Estima- se que 30% dos ácidos graxos sejam oxidados em acetil -CoA nos peroxissomos. β-oxidação dos ácidos graxos Nas células vegetais os peroxissomos desempenham duas importantes funções, sendo uma nas sementes (síntese de carboidrato a partir dos ácidos graxos) e outra nas folhas (fotorrespiração). Os peroxissomos presentes nos tecidos de armazenagem de gordura de germinação de sementes são chamados de glioxissomos. Estes vão converter os ácidos graxos em carboidratos, para fornecimento de energia e matéria prima para o crescimento da planta em germinação. Essa conversão ocorre por meio de um ciclo chamado de ciclo do glioxilato que é uma variante do ciclo de Krebs. Neste ciclo o acetil-CoA combina-se com o oxaloacetato formando citrato que é convertido em isocitrato como no ciclo de Krebs. O isocitrato então será convertido em succinato e glioxilato, e este reage com outra molécula de acetil-CoA fomando malato que é convertido em oxaloacetato e utilizado na síntese de glicose. A interação entre o ciclo do glioxilato e o ciclo de Krebs (ácido cítrico) Já os peroxissomos presentes nas folhas verdes das plantas participam no processo de fotorrespiração, além das organelas cloroplastos e mitocôndrias. Na fotossíntese o CO2 é convertido em carboidratos no ciclo de Calvin. Neste ciclo ocorre a adição de CO2 à ribulose-1,5 bisfosfato. A enzima envolvida às vezes utiliza O2 ao invés de CO2 o que resulta na síntese do fosfoglicolato que é convertido em https://cead.uvv.br/conteudo/wp-content/uploads/2018/09/aula_biocel_top7_img0_8_-768x259.jpg https://cead.uvv.br/conteudo/wp-content/uploads/2018/09/aula_biocel_top7_img09-2-768x375.jpg glicolato e transferido para peroxissomos onde é oxidado (produz H2O2 que é decomposto pela catalase) e convertido em glicina. Esta é transferida para mitocôndria onde é convertida em serina, a qual retorna aos peroxissomos para ser convertida em glicerato que é transportado para o cloroplasto. Esse processo chama de fotorrespiração porque para síntese e oxidação do glicolato há a utilização do O2 e da luz e liberação do CO2. Fotorrespiração na planta arabidopsis: participação das três organelas – cloroplasto, mitocôndria e peroxissomo .A metabolização do ácido úrico, proveniente das bases púricas (purina e guanina), pela enzima urato-oxidase resulta em alantoína. Já a enzima D-aminoácido-oxidase participa da metabolização dos D-aminoácidos da parede das bactérias que penetram no organismo uma vez que nos mamíferos existe apenas L-aminoácidos. O conteúdo enzimático dos peroxissomos pode variar de célula para célula sendo que até na mesma célula os peroxissomos podem possuir composição enzimática diferente. As enzimas presentes dentro dos peroxissomos são provenientes, na sua maioria, dos ribossomos livres presentes no citosol. As enzimas são traduzidas nos ribossomos livres presentes no citosol e migradas, como cadeias polipeptídicas completas, para interior dos peroxissomos preexistentes, resultando assim em seu crescimento que posteriormente vão se dividir, por divisão binária, e formar novos peroxissomos. A orientação das enzimas para o interior do peroxissomos acontece por sinais de endereçamento que são sequências específicas de aminoácidos conhecidas como PTS (peroxissomal targetting signal). Existem dois tipos de sinais, o PTS1 e PTS2. O PTS1 tem em sua extremidade o carboxi terminal Ser-Lys-Leu (aminoácidos serina, lisina e leucina), e o PTS2 o N-terminal, sendo que dos dois o PTS1 é o mais utilizado pelas enzimas. Quando essas enzimas chegam à organela elas vão atravessar os canais de proteínas, presentes na membrana, e assim serem depositadas no interior, ou seja, na matriz peroxissomal. O peroxissomo, além de todas as funções já descritas, ele também está envolvido, na célula animal, na produção dos lipídios colesterol e dolicol (lembra que os lipídios são sintetizados na organela chamada de retículo endoplasmático liso estudado no módulo 5?). Logo, os lipídios colesterol e dolicol são sintetizados tanto no REL como nos peroxissomos. Só relembrando que o colesterol é um importante lipídio na produção dos hormônios esteroides (testosterona e progesterona) e para síntese dos sais biliares. Também é importante relatar que os peroxissomos possuem enzimas necessárias à síntese de plasmalógenos (família de fosfolipídios) que são componentes importantes na membrana de alguns tecidos tais como cerebral e cardíaco. Pode-se obervar que os peroxissomos são organelas importantes e caso ocorra algum distúrbio/disfunção pode levar o indivíduo a ter algumas doenças como, por exemplo, a Síndrome de Zellweger e a Adrenoleucodistrofia (ADL). A síndrome de Zellweger é uma doença de origem genética que afeta os genes da produção de algumas enzimas do peroxissomo. Os peroxissomos se apresentam sem as enzimas na matriz peroxissomal, incapacitando assim a ocorrência da beta-oxidação de ácidos graxos de cadeia longa, o que leva a acúmulo de lipídios e problemas na síntese de sais biliares. Adrenoleucodistrofia (ADL) é uma doença genética recessiva ligada ao cromossomo X que leva a deficiência de uma enzima que é a ligase acil-CoA gordurosa. Esta é a responsável pela importação de ácidos graxos para a matriz peroxissomal afetando principalmente as células do cérebro e da glândula adrenal. Essa é uma doença que acomete mais o sexo masculino por ser ligada ao cromossomo X. Ela causa deterioração neurológica, disfunção adrenal, perda da memória, entre outros sintomas, e pode se manifestar nos primeiros meses de vida, ou até mesmo no início da adolescência. Essa doença foi retratada no filme “Óleo de Lorenzo” . https://cead.uvv.br/conteudo/wp-content/uploads/2018/09/aula_biocel_top7_img10_-768x416.jpg
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