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Brazilian Journal of Health Review ISSN: 2595-6825 12392 Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 12392-12401 may./jun. 2021 Tétano acidental: uma revisão dos aspectos clínicos, epidemiológicos e neuroquímicos Accidental tetanus: a review of clinical, epidemiological and neurochemical aspects DOI:10.34119/bjhrv4n3-214 Recebimento dos originais: 08/05/2021 Aceitação para publicação: 08/06/2021 Ana Luiza Silveira Larrubia Graduanda do curso de Medicina - UFMT Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Endereço: Rua Mariano José Rodrigues, 40, Monte Aprazível – SP E-mail: anahluhlarrubia@gmail.com Bruno Zafalon Graduando do curso de Medicina – UFMT Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Endereço: Rua Haiti, 145, Ap 1302, Jardim das Américas, Cuiabá – MT E-mail: brunozafalon96@gmail.com Elias Marcelo Rodrigues Bressan Graduando do curso de Medicina – UFMT Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Endereço: Av Arquimedes Pereira Lima, 688, Jardim das Américas, Cuiabá - MT E-mail: eliasmrbressan@gmail.com Humberto Gessinger Nascimento dos Santos Graduando do curso de Medicina – UFMT Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Endereço: Avenida dos Florais, 06, Condomínio Village do Bosque, Cuiabá - MT E-mail: humbertogessinger2008@gmail.com Kezia Vaz dos Santos Cândido Graduanda do curso de Medicina – UFMT Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Endereço: Rodovia Palmiro Paes de Barros, 1705, Casa 03, Cuiabá – MT E-mail: kezia.vaz.candido@gmail.com Priscylla Rangel Blaszak Graduanda do curso de Medicina – UFMT Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Endereço: Rua 51, 463, Boa Esperança, Cuiabá – MT E-mail: prih_blaszak@hotmail.com Fernando de Mesquita Júnior Prof. Dr. da Faculdade de Medicina – UFMT Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) mailto:prih_blaszak@hotmail.com Brazilian Journal of Health Review ISSN: 2595-6825 12393 Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 12392-12401 may./jun. 2021 Endereço: Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Ciencias Medicas. Av. Fernando Correa da Costa, S/no – CCBS I – Lab. Fisiologia, Cuiabá – MT E-mail: fermes614@gmail.com RESUMO O tétano acidental é uma doença de alta letalidade, a qual é causada pela neurotoxina tetânica (TeNT) liberada na autólise da bactéria Clostridium tetani em condições favoráveis. Essa enfermidade é decorrente do impedimento da liberação do ácido gama- aminobutírico (GABA) e da glicina dos neurônios inibitórios, o que deixa o neurônio motor em estado de hiperatividade, acarretando na paralisia muscular e morte. O nome tétano é derivado da palavra tetéin, que no latim significa rigidez muscular. A etimologia do seu nome é condizente com os sintomas iniciais da enfermidade: o trismo e o riso sardônico, ambos decorrentes da contração involuntária dos músculos do rosto. Apesar de existir imunização para a doença, ainda surgem casos todos os anos. Neste estudo foi realizado uma revisão de literatura, de modo a compreender e relacionar o tétano acidental e sua forma de atuação no corpo com os clássicos sintomas demonstrados, bem como seu padrão epidemiológico. Para isso, foram consultadas plataformas de busca online como: US National Library of Medicine National Institutes of Health – PubMed, portal de teses da UFMG, Scientific Eletronic Library Online – SciELO e a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP. Palavras-Chave: Tétano, Rigidez Muscular, Tetania. ABSTRACT Accidental tetanus is a high lethality disease caused by Tetanus Neurotoxin (TeNT) released in Clostridium tetani autolysis in favorable conditions. This disease inhibits Gamma-Aminobutyric Acid (GABA)’s and glycine’s release by inhibitory neurons eliciting a hyperactivity state of the motoneuron leading to muscle paralyses and the patient death. Tetanus comes from Latin ‘tetéin’ which means muscle rigidity. The etymology coincides with the initial symptoms of the disease: lock-jaw and sardonic laugh due to involuntary contractions of facial’s muscles. In spite of the tetanus’ vaccine there are new cases of the disease discovered every year. In this study, there was a literature review focusing on comprehending the accidental tetanus and relate to the action on the body and the known classic symptoms as well as the epidemiologic pattern. These online platforms were used for the research: National Library of Medicine National Institutes of Health – PubMed, UFMG’s portal of theses, Scientific Electronic Library Online – SciELO and USP’s Digital Library of Theses and Dissertation. Keywords: Tetanus, Muscle Rigidity and Tetany. 1 INTRODUÇÃO No decorrer da história, os primeiros sintomas do tétano foram descritos na Antiguidade, nas regiões do Egito Antigo, da Índia e da Grécia, mas sua etiologia foi descoberta somente em 1884. Posteriormente, a imunização antitetânica passou a ser desenvolvida em meados de 1920. 1,2,3 Brazilian Journal of Health Review ISSN: 2595-6825 12394 Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 12392-12401 may./jun. 2021 Clinicamente, os sintomas característicos da doença se manifestam através da hipertonia muscular (trismo e riso sardônico), além de uma contratura muscular progressiva, a qual pode causar insuficiência respiratória, resultando em óbito do indivíduo. 1,4 Sobre os aspectos epidemiológicos, no Brasil, observou-se a diminuição dos casos de tétano acidental no decorrer dos últimos anos. Contudo, uma preocupação emerge decorrente da alta letalidade da doença juntamente com a negligência da população quanto à imunização. Aliado a esses fatores, ressalta-se o movimento anti-vacina repassado por notícias falsas virtualmente. 5,6 A bactéria Clostridium tetani é classificada como um bacilo gram positivo, anaeróbico obrigatório, o qual produz uma das neurotoxinas mais potentes já conhecidas, a neurotoxina tetânica (TeNT), causadora do tétano. O tétano acidental é caracterizado por um quadro de infecção aguda, no qual a toxina invade o sistema nervoso periférico rumo ao sistema nervoso central. Devido a presença do bacilo nos mais diversos ambientes na forma de esporos, até mesmo na poeira, a principal profilaxia dessa patologia consiste na vacinação. Dessa forma, a não imunização expõe o indivíduo ao risco do acometimento. 1,7 A TeNT é a tetanospasmina e sua liberação ocorre por autólise bacteriana que infiltra nos fluídos corporais.1 Uma vez na corrente sanguínea, a toxina é guiada para a junção neuromuscular, devido a afinidade com proteínas específicas dessa região.3 Em sequência, atoxina adentra o neurônio motor e segue o caminho oposto do potencial de ação, percorrendo do terminal axonal ao soma. Uma vez no soma, a toxina será liberada novamente para a fenda sináptica, mas agora destinada a invasão de um neurônio inibitório. 1,3 Sendo assim, a toxina adentra um neurônio inibitório e o impede de secretar glicina e ácido gama-aminobutírico (GABA), o qual é o principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central, por meio do bloqueio do complexo de proteínas responsável pela exocitose de neurotransmissores, o complexo SNARE. Desse modo, sem estímulos inibitórios, a célula nervosa entra em um estado de hiperatividade, podendo gerar um quadro de paralisia espástica no músculo inervado pela célula nervosa em questão. 1 Brazilian Journal of Health Review ISSN: 2595-6825 12395 Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 12392-12401 may./jun. 2021 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Realizar uma revisão bibliográfica sobre os estudos acerca do tétano acidental, ressaltando a ação neuroquímica e as suas consequências nosistema muscular esquelético em conjuntura com os seus aspectos epidemiológicos. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Compreender as vias neuroquímicas da patologia e a sua relação com as manifestações na musculatura esquelética. Caracterizar os aspectos epidemiológicos do tétano acidental no Brasil. 3 MATERIAIS E MÉTODOS Neste estudo, foi realizada uma revisão bibliográfica a partir da busca e seleção de artigos, monografias, dados oficiais e outras formas de publicação científica nas línguas inglesa ou portuguesa, selecionados no período de publicação entre os anos 2009 a 2019, os quais abordaram o tema tratado nesse trabalho: tétano acidental. Para esse fim, utilizaram-se de plataformas de pesquisa online, como o site de busca Google acadêmico; US National Library of Medicine National Institutes of Health – PubMed; Portal de teses UFMG; Scientific Eletronic Library Online – Scielo e Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP. A busca dos artigos foi realizada a partir dos descritores: “tétano”, “tétano acidental”, “Clostridium tetani”, “neurotoxina tetânica” e “epidemiologia do tétano”, com a seleção dos títulos que apresentaram relação com o tema de tétano acidental. Posteriormente, foi feito a análise dos títulos, excluindo os que não apresentaram relação com o tema proposto. Após a análise minuciosa dos dados apresentados nos trabalhos foram elegidos, como referências bibliográficas, os trabalhos pertinentes a temática proposta nesse estudo. 4 DISCUSSÃO Todo o processo fisiopatológico do tétano manifesta-se clinicamente através da hipertonia muscular, a qual inicia nos músculos da face, principalmente masseter, devido ao menor comprimento dos nervos nessa região, caracterizando o trismo e o riso sardônico, sintomas clássicos da doença. Além disso, podem progredir para outras regiões Brazilian Journal of Health Review ISSN: 2595-6825 12396 Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 12392-12401 may./jun. 2021 do corpo, causando: rigidez de nuca, disfagia, contratura muscular progressiva e generalizada dos membros superiores e inferiores, seguidos de abdome em tábua, opistótono e, por fim, atinge o diafragma, levando a uma insuficiência respiratória, a qual é a causa mais comum de morte por tétano. 1,4,7 Dessa forma, o tétano acidental pode se apresentar de maneira localizada, considerada leve, em que apenas as áreas próximas a lesão são afetadas. O tétano localizado, menos comum, ocorre apenas em pessoas com imunização parcial e pode progredir para o generalizado, que consiste na modalidade mais comum da doença, abrangendo 80% dos casos.1 No tétano generalizado, a toxina atinge o sistema circulatório e linfático afetando outras regiões musculares progressivamente.1,7 Em relação aos aspectos epidemiológicos do tétano acidental no Brasil, observou- se diminuição do número dos casos ao longo dos últimos anos, porém ainda é preocupante em alguns estados como nos do Nordeste. De acordo com o Ministério da Saúde, entre os anos de 2007 e 2016 o país registrou 5.224 casos de notificações compulsórias, nos quais foram confirmados 2.939, dentre esses 1.029 no Nordeste. Esse fato é explicado pelo processo ocupacional de risco, sendo maiores em trabalhadores agropecuários e da construção civil, juntamente ao baixo nível de escolaridade da população descrita. Demonstra assim, o impacto no processo saúde- doença relacionado ao fato educacional deficitário da comunidade.6 Dos casos registrados no Brasil entre os anos de 2007 e 2016, o sexo masculino sobressaiu em relação ao feminino, como confere na figura 1. Além do fato ser justificado pela ocupação de risco no trabalho, é compreendido também pelo das mulheres serem, em sua maioria, imunizadas pelo programa de pré-natal, estabelecido pelo protocolo da Organização Mundial de Saúde (OMS), contemplando, assim, maior cobertura vacinal antitetânica.6,7 Além disso, foi observado que a faixa etária de maior ocorrência foi de 50 a 64 anos, devido à senilidade, a qual gera modificações no sistema imune, diminuindo a atividade das células envolvidas e os níveis de anticorpos contra o tétano. Ocorre também o declínio dos reflexos, da atividade motora e do campo visual, elevando os riscos da ocorrência de acidentes.1,6,7 Sobre o local e o tipo de ferimento, como mostram as figuras 2 e 3, os membros inferiores foram as regiões mais afetadas por meio de perfuração, explicados pela falta de equipamentos de proteção individual de muitos trabalhadores, por trabalhos informais e, possivelmente, pela falta de hábito de andarem calçados. 6 Brazilian Journal of Health Review ISSN: 2595-6825 12397 Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 12392-12401 may./jun. 2021 O quesito preocupante na epidemiologia é a alta letalidade do tétano, que foi demonstrada em torno de 33,1%, sendo necessária internação de alta complexidade nas unidades de terapia intensiva. Ademais, uma baixa cobertura vacinal pode causar um aumento no número de casos. Destaca-se, nos últimos anos um movimento anti-vacina global, resultando no retorno de doenças consideradas erradicadas, como sarampo. A falta de conhecimentos da população, e até mesmo de muitos profissionais da saúde, contribui negativamente para a disseminação de conteúdos errôneos em mídias socias, os quais enfatizam os efeitos deletérios das vacinas, influenciando a não vacinação.5 A vacina contra o tétano é de suma importância, pois o esporo do bacilo tetânico sempre estará no ambiente, sendo a imunização a principal medida profilática. O programa de imunização é um pilar da saúde coletiva e apresenta-se em risco, haja vista as modificações contemporâneas ocorridas por meio da informação via internet, que muitas vezes não são procedentes de fontes seguras, atrapalhando, assim, a saúde coletiva como um todo. 1,5 Figura 1- Distribuição dos casos de tétano acidental segundo o sexo, Brasil 2007-2016 Figura 2- Distribuição dos casos de tétano acidental segundo o local de ferimento, Brasil 2007-2016 Brazilian Journal of Health Review ISSN: 2595-6825 12398 Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 12392-12401 may./jun. 2021 Figura 3- Distribuição dos casos de tétano acidental segundo o tipo de ferimento, Brasil 2006-2017. A tetanospasmina (TeNT) é uma neurotoxina liberada na autólise da C. tetani.3 É composta por uma cadeia leve (LC)- 50 kDa - e uma cadeia pesada (HC) – 100 kDa. As duas cadeias são ligadas por uma ligação dissulfeto.10 A cadeia pesada é dividida em 2 domínios, o carboxi-terminal (Hc) e o amino- terminal (Hn)3,10 conhecidos também como domínio de ligação ao receptor (HCr) e domínio de translocação (HCt), respetivamente, ambos de 50 kDa. Por sua vez, o domínio de ligação ao receptor (localizado na região do fragmento C, por isso também conhecido como Domínio C Terminal ou Fragmento C) apresenta 2 subdomínios denominados subdomínio N-proximal (Hcn) e subdomínio carboxi-extremo (Hcc).1 No subdomínio Hcc, localiza-se a estrutura cristalina, onde estão os sítios de ligação aos gangliosídeos complexos,10 tais formam o primeiro grupo de receptores da TeNT e fazem parte de uma classe de glicoesfingolipídeos compostos de uma cauda de ceramida e um grupo de carboidrato com vários ácidos siálicos acoplados.10 Esses receptores se estendem da superfície da célula, servindo como pontos de ligação. As formas complexas de gangliosídeos contêm N- acetilgalactosamina (GalNAc) e galactose adicionais,10 apresentando maior concentração nas junções neuromusculares, o que explica a maior afinidade do TeNT pela região. 1,3 A cadeia leve é uma protease dependente de zinco10 e é a principal responsável pela neurotoxicidade da tetanospasmina a partir da clivagem de proteínas VAMP do complexo SNARE. A forma ativa da neurotoxina é garantida pelainteração dos resíduos Brazilian Journal of Health Review ISSN: 2595-6825 12399 Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 12392-12401 may./jun. 2021 233 a 237 com o íon zinco, de modo a formar um motivo de ligação His-Glu-XX-His Zn²+.1 A TeNT é liberada após a autólise da bactéria, atinge a corrente sanguínea1 e se espalha pela junção neuromuscular devido a extrema afinidade entre o domínio carboxi- terminal da cadeia pesada e os gangliosídeos complexos presentes lá, em especial os G1b (ponto de divergência entre pesquisadores sobre qual seria o principal gangliosídeo, ora considera-se G1b,3 ora considera-se Gt1b.1 Posteriormente, ocorre a ligação entre o sítio de ligação ao gangliosídeo da Hcc e o gangliosídeo em si.1 Após a ligação inicial com os gangliosídeos, ocorrerá uma série de outras ligações com um conjunto de receptores presentes na membrana pré-sináptica, o APR,3 de modo a deixar a ligação mais estável e induzir o processo de endocitose em conjunto com proteínas e clatrinas.1,3 O pH do endossomo do transporte axonal é diferente da maioria dos endossomos, sendo neutro, o que impede a translocação da cadeia leve, a qual aconteceria em um meio ácido. Essa regulação fina do pH é dependente do complexo ATPase vesicular.3 Logo após a interiorização, o endossomo será direcionado pela proteína Rab 51,3 para o transporte axonal retrógrado, o qual será feito pela formação de um complexo entre a dineína e a diactina, na presença de bicauldal D (BICD).3 As dineínas são as proteínas motoras dependentes de microtúbulos, responsáveis pelo movimento retrógrado de substâncias, como as neurotrofinas, no neurônio. A Rab 7, após ligação com GTP, será responsável pelo transporte rápido.3 Após o deslocamento, o endossomo se desacopla do complexo motor e se direciona para a via exocítica , dessa forma a TeNT é liberada na fenda sináptica, onde é internalizada pelo neurônio inibitório. O modo como ocorre essa internalização ainda não é muito conhecido, mas indícios apontam que ocorra a partir de uma vesícula sináptica.1,3 Depois da endocitose, ocorre um processo de diminuição do pH de neutro para 5,8 pelas V-ATPases que funcionam como bombas de prótons nas vesículas e formam o complexo ATPase vesicular.1,3 Devido às novas condições vesiculares, ocorre uma mudança estrutural da toxina. O Hct (domínio de translocação) se insere na membrana e forma um canal condutor de proteínas, ocorre o desdobramento da cadeia leve (LC) e a translocação para o citosol. No pH neutro, a cadeia leve se redobra e o sistema tiorredoxina-tiorredoxina redutase reduz as ligações dissulfeto, separando a HC da LC.1,3,10 Ocorre, então, o renovelamento da cadeia leve com o auxílio da chaperona citosólica Hsp90.1 Brazilian Journal of Health Review ISSN: 2595-6825 12400 Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 12392-12401 may./jun. 2021 No citosol, a cadeia leve hidrolisa a sinaptobrevina II1 (VAMP2,3,10 uma proteína da superfamília SNARE importante), entre a região da glutamina 76 e da fenilalanina 77, inibindo a liberação de neurotransmissores, no caso GABA e glicina.1,8,9 Com isso, o potencial de repouso da membrana não receberá mais estímulos inibitórios, ficando próximo do limiar de ação, deixando o neurônio mais suscetível a desencadear potencial de ação. Consequentemente, o músculo passa a ser hiperestimulado, apresentando contrações tetânicas.1,3,8,10 5 CONCLUSÃO Conclui-se com a revisão bibliográfica a existência de estudos recentes sobre a ação da toxina tetânica no organismo, ressaltando no aspecto neuroquímico o meio de entrada na junção neuromuscular, o transporte retrógrado axonal e sua atuação no complexo SNARE através da hidrólise da VAMP. Estes aspectos moleculares estão relacionados com os aspectos clínicos graves apresentados de hipertonia progressiva da musculatura esquelética. Quantos aos fatores epidemiológicos, nota-se um decréscimo de tétano acidental, porém esses dados podem estar ameaçados pelo surgimento de um movimento antivacina, tendo em vista que a principal profilaxia é a imunização. Brazilian Journal of Health Review ISSN: 2595-6825 12401 Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 12392-12401 may./jun. 2021 REFERÊNCIAS 1. Sartori GL. 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