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1 LIBRAS Prof.ª Dr. Clélia Maria Ignatius Nogueira Prof. Esp. Marcelo Meister Carneiro 2 Objetivos de Aprendizagem • Compreender a Libras em seus aspectos gerais. • Compreender a Libras em seus aspectos fonológicos. • Instrumentalizar os licenciandos para o estabelecimento de uma comunicação funcional com pessoas surdas. 3 Plano de Estudo • Paralelos entre Libras e a Língua Portuguesa. • Aspectos fonológicos da Libras. • Léxico de categorias semânticas I – Tempo e Elementos da Natureza. 4 • A Libras é uma língua com gramática própria e com condições de proporcionar não apenas a comunicação efetiva entre os surdos, como, também, a expressão de sentimentos; a composição de poesias; a discussão filosófica, enfim, um idoma completo. Porém, principalmente devido às suas características icônicas é comum o pensamento de que as línguas de sinais são iguais em todo o mundo. 5 • Comum aos ouvintes pressupor que as línguas de sinais sejam versões sinalizadas das línguas orais. No entanto, embora haja semelhanças ou aspectos comuns entre as diferentes línguas de sinais, e entre as línguas de sinais e as orais, os chamados “universais linguísticos”, as línguas de sinais são autônomas, possuindo peculiaridades que as distinguem umas das outras e das línguas orais. 6 Usando sinais • Sinais exigem movimento para serem executados � observe atentamente as fotos � duas ou mais fotos que não estão separadas por um espaço em branco � a primeira foto é como o sinal começa e a segunda indica com que configuração de mão ele termina � setas indicam a direção do movimento �Repita, atentamente, cada sinal � fundamental praticar muito. 7 PARALELOS ENTRE LIBRAS E LÍNGUA PORTUGUESA • Não ouvir faz o surdo criar uma maneira própria de se comunicar, mas não o impede de adquirir uma língua e nem de desenvolver sua capacidade de representação. Isso provavelmente envolve mecanismos mentais, diferentes dos da pessoa ouvinte. Todavia, a comunicação com as mãos não teve início com os surdos e nem é exclusividade deles. 8 • Homens pré-históricos � gestos � ocupar as mãos � começaram a utilizar a comunicação oral � Antes da palavra � usavam as mãos � a naturalidade da comunicação por sinais. • Processo é inverso � a passagem da língua oral para a manual foi reinventado pelo homem, sempre que necessário e não apenas no caso dos surdos. 9 • Você sabia que existem varias linguagens manuais criadas em diversos momentos da história da humanidade, para uso em contextos variados, tendo em vista possibilitar a comunicação e a interação em situações em que a fala era inviável, proibida ou impossível? 10 Linguagem, língua e fala • Linguagem � sistema abstrato, articulado, fenômeno universal, independente da situação cultural, que diferencia o ser humano das demais espécies. • Língua � sistema abstrato, articulado utilizado por um grupo ou uma comunidade específica. • Fala � modo particular e individualizado de exercitar a língua. 11 Línguas de sinais • Para poderem chegar à conclusão de que as línguas de sinais constituem um idioma, foram feitos muitos estudos linguísticos. • Linguística � estudo científico das línguas naturais e humanas. • Língua natural � arbitrária e/ou como algo que nasce com o homem. • As línguas de sinais são naturais. 12 Diferenças entre Libras e Língua Portuguesa • Libras: visual-espacial � Língua Portuguesa: oral-auditiva. • Línguas de sinais � experiências visuais das comunidades surdas mediante as línguas orais � sons. • LS : sintaxe espacial � LP: sintaxe linear. • LS: não tem marcação de gênero � Língua Portuguesa - o gênero é marcado a ponto de ser redundante � A MULHER é professora. 13 Diferenças entre Libras e Língua Portuguesa • LS: valor gramatical às expressões faciais � substituídas pela prosódia nas LO. • Coisas que são ditas na língua de sinais não são ditas usando o mesmo tipo de construção gramatical na Língua Portuguesa. Assim, às vezes uma grande frase em Língua Portuguesa é necessária para dizer poucas palavras em Libras e vice-versa. • A escrita da língua de sinais, denominada Signwriting , não é alfabética. 14 Diferenças entre Libras e Língua Portuguesa • A língua de sinais utiliza a estrutura tópico- comentário � associada à marcação não- manual com a elevação das sobrancelhas � para destacar o tópico (de que ou quem se fala), do argumento (o que se está falando) � expressão facial de elevação das sobrancelhas � João gosta de futebol � Libras: FUTEBOL JOÃO GOSTAR � sinal para João � acompanhado da elevação das sobrancelhas. 15 Diferenças entre Libras e Língua Portuguesa • A língua de sinais utiliza a estrutura de foco � envolve construções duplas em que o elemento duplicado ocupa a posição final � destaca a parte mais importante da conversa � por meio de repetições sistemáticas. � Ex: Eu ter dois cachorros dois. A ênfase está na quantidade de cachorros, portanto, ela se repete. 16 Diferenças entre Libras e Língua Portuguesa • A língua de sinais utiliza as referências anafóricas, isto é, sobre quem se está falando, mostrando ou indicando pontos específicos no espaço, o que exclui ambiguidades que são possíveis na Língua Portuguesa. A língua de sinais usa apontamentos para indicar um referente e isso não cria ambiguidades como na Língua Portuguesa. 17 Semelhanças entre Libras e Língua Portuguesa • Arbitrariedade �não se depreende a palavra simplesmente pelo sua representatividade � necessário conhecer o seu significado. • A iconicidade � presente nas línguas de sinais, mais do que nas orais � arbitrariedade dominante � impossível, depreender o significado da grande maioria dos sinais, apenas pela sua representação. • Comunidade � língua materna � desenvolvimento � variações linguísticas. 18 Semelhanças entre Libras e Língua Portuguesa • Sistema linguístico � línguas orais e de sinais são sistemas regidos por regras. • Produtividade � possível aos seus falantes nativos produzirem e compreenderem um número infinito de enunciados, mesmo que estes nunca tenham sido produzidos antes. • Aspectos contrastivos � pares de palavras (sinais), em que a substituição de uma unidade fonológica por outra altera o significado �parra e barra �aprender e sábado. 19 Semelhanças entre Libras e Língua Portuguesa • Evolução e renovação � modificam-se, como no caso das palavras (sinais) que caem em desuso, outras que são adquiridas, a fim de aumentar o vocabulário e ainda no caso da mudança de significado das palavras. Aquisição � natural, desde que haja um ambiente propício desde nascença. • Funções da linguagem � as mesmas. • Processamento � modalidades diferentes � processadas na mesma área cerebral. 20 Semelhanças entre Libras e Língua Portuguesa • Dupla articulação : tanto as línguas orais possuem um número finito de unidades (fonemas para as primeiras e quiremas para as segundas) que não possuem significado quando consideradas isoladamente. Por exemplo, os sons f, v, c, e a, não possuem significado por si só, mas quando combinados, por exemplo, como vaca, cava e faca, adquirem sentidos diferentes. 21 Aspectos gerais • Sinais não são gestos � equivalente a descrever uma língua oral como “ruídos” feitos com a boca. � gestos são traços paralinguísticos das línguas orais � acompanham as línguas orais e favorecem a comunicação • As línguas de sinais � naturais e complexas quanto as orais � recursos expressivos � qualquer assunto, situação, domínio do conhecimento e esfera de atividade. 22 Aspectos gerais • As línguas de sinais �modalidade viso-motora ou espaço- visual, visuoespacial � a informação linguística é produzida pelas mãos e recebida pelos olhos. • A língua de sinais não é artificial � comunicação manual é inerente ao ser humano � existia na pré-história �natural. • Língua artificial � construída com um objetivo específico �Esperanto e Gestuno . 23 Aspectosgerais • A língua de sinais não é icônica � apesar da relação direta, quase transparente entre um sinal e o conceito que este representa, as modificações por eles sofridas ao longo do tempo e na combinação com outros sinais resultam em perda de iconicidade, se tornando, portanto, arbitrários. • A Libras é uma língua, com gramática própria � não é conjunto de gestos, mímica Português sinalizado. 24 Aspectos gerais • As línguas de sinais não são universais � língua brasileira de sinais é denominada Libras e é, portanto, brasileira, não podendo ser considerada como uma língua estrangeira � não é subordinada à língua oral majoritária do país � independentes das línguas orais dos países onde são produzidas � Libras e ASL possuem uma raiz comum, a língua de sinais francesa �Português e o Inglês não possuam as mesmas raízes. 25 Aspectos Gerais • A semelhança mais importante entre as línguas de sinais e as orais é que todas seguem os mesmos princípios pelo fato de possuírem um léxico, isto é, um conjunto de símbolos convencionais, e uma gramática, ou seja, um sistema de regras que rege o uso desses símbolos. 26 Aspectos Fonológicos • Stokoe �década de 1960 � ASL � léxico, sintaxe e uma capacidade de gerar uma quantidade infinita de sinais e sentenças. • Sinal não é holístico � não se constitui em um “todo indivisível” � combinação � movimentos das mãos � determinado formato e orientação das palmas � determinado lugar do corpo ou do espaço à frente do sujeito que sinaliza � unidades mínimas � parâmetros � combinam segundo regras. 27 Aspectos Fonológicos • Stokoe � três parâmetros básicos: a configuração das mãos (CM); o movimento das mãos (M) e o ponto de articulação (PA) ou Locação (L), que é o lugar do espaço onde as mãos se movem. • Parâmetros � correspondem aos fonemas nas línguas orais � década de 1970 � quarto parâmetro: a orientação (O) � posteriormente � as componentes não manuais ou expressões não manuais (ENM). 28 Alguns aspectos Fonológicos • As línguas de sinais são visuoespaciais � a informação linguística é recebida pelos olhos e produzida pelas mãos. • Os parâmetros são processados simultaneamente e não linearmente como ocorre na língua oral. • Os articuladores primários das línguas de sinais são as mãos, que se movimentam no espaço em frente ao corpo e articulam sinais em determinadas locações nesse espaço. 29 Aspectos Fonológicos • Os movimentos do corpo e da face também desempenham funções gramaticais. • Um sinal pode ser articulado com uma ou duas mãos. No caso de uma mão, a articulação ocorre pela mão dominante. • Um mesmo sinal pode ser produzido pela mão esquerda ou direita. 30 Aspectos Fonológicos • Resumindo : A Libras têm sua estrutura gramatical organizada a partir de cinco parâmetros que estruturam sua formação nos diferentes níveis linguísticos: a Configuração da(s) mão(s)-(CM), o Movimento - (M), o Ponto de Articulação ou Locação - (PA) ou (L) e a Orientação das mãos (O) e as Componentes não manuais ou Expressões não manuais (CNM) ou (ENM) que são as expressões faciais e corporais. 31 Aspectos Fonológicos • Configuração de mão (CM): o ponto de partida da articulação do sinal. São as formas que as mãos assumem na produção dos sinais que podem ser as do alfabeto digital ou outras. Uma mesma configuração de mão possibilita a produção de vários sinais �r configuração mão em “L” : “televisão”, “trabalho”, “papel”, “educação”, � dicionário digital de Libras � Acessibilidade Brasil apresenta 73 configurações �QRCODE 32 Aspectos Fonológicos • A Libras não se resume a escrever as palavras utilizando o alfabeto digital � escrita datilológica � utilizada para nomes próprios ou para palavras que ainda não possuem um sinal ou que não pode ser facilmente representada por um classificador icônico � a escrita datilológica não é a escrita de sinais � datilologia é uma forma de comunicação em Libras fundamentada essencialmente no alfabeto datilológico. 33 Aspectos Fonológicos • Uma observação: como a Libras não admite flexão de gênero, na transcrição dos sinais utilizamos o símbolo @, isto é, o símbolo @ está sendo utilizado para representar sinais que, diferentemente do Português, não possuem marca para gênero (masculino/feminino). Assim, o sinal traduzido por fei@ pode tanto ser usado para feio ou feia. 34 Aspectos Fonológicos • Ponto de Articulação (PA) ou Localização (L): lugar do corpo ou do espaço em que é realizado o sinal � quatro pontos de articulação: tronco, cabeça, mão e espaço neutro � dois sinais possuem a mesma configuração de mão e mesmo movimento, mas pontos de articulação diferentes, eles são diferentes � amar, ouvir, aprender e laranja, diferem entre si apenas pelo ponto de articulação. 35 Aspectos Fonológicos • Movimento : importante unidade mínima � participa ativamente na produção do sinal � graça, beleza e dinamismo. • Parâmetro complexo que pode envolver uma vasta rede de formas e direções, desde o movimento interno da mão, os movimentos dos pulsos e os movimentos direcionais no espaço �ouvintes ao usarem a língua de sinais o fazem, normalmente, de maneira mais estática. 36 Aspectos Fonológicos • Para que haja movimento é preciso haver espaço � movimento é indissociável do espaço � um sinal também pode ser realizado sem movimento � ajoelhar, em pé, sentar. 37 Aspectos Fonológicos • Os movimentos se diferenciam pela direcionalidade, tipo, maneira e frequência. Vamos abordar aqui, apenas a direcionalidade e o tipo. • Quanto à direcionalidade um movimento pode ser: • Unidirecional: movimento em uma única direção no espaço, durante a realização de um sinal. Ex.: PROIBID@, MANDAR. 38 Aspectos Fonológicos • Bidirecional : movimento realizado por uma ou ambas as mãos, em duas direções diferentes. Ex.: JULGAMENTO, GRANDE, DISCUTIR, TRABALHAR, BRINCAR. • Multidirecional: movimentos que exploram várias direções no espaço, durante a realização de um sinal. Ex.: INCOMODAR, PESQUISAR. 39 Aspectos Fonológicos • Tipos de movimentos � seis tipos diferentes de movimento � contorno ou forma geométrica; interação; contato, torcedura, dobramento e interno das mãos. Vamos abordar aqui, apenas o tipo que se refere ao contorno ou forma geométrica, que é a forma do movimento no espaço. Nesta categoria de contorno ou forma geométrica os movimentos podem ser: 40 Aspectos Fonológicos • Movimento Retilíneo: Ver, Mandar e Dever. • Movimento Helicoidal: Alt@, Importante, Macarrão. • Movimento Circular: Brincar, Bicicleta, Nadar. • Movimento Semicircular: Saúde, Surd@, Coragem. • Movimento Sinuoso: navio, Brasil. • Movimento Angular: difícil, raio. 41 Aspectos Fonológicos • Orientação das mãos : é a direção para a qual a palma da mão aponta na produção do sinal. É possível identificar seis tipos de orientações da palma da mão na Língua Brasileira de Sinais: para cima, para baixo, para o corpo, para frente, para a direita ou para a esquerda. • Também pode ocorrer a mudança de orientação durante a execução de um sinal. Exemplo: MONTANHA. 42 Aspectos Fonológicos • Componentes ou Expressões não manuais (CNM ou ENM) � muitas vezes podem definir ou diferenciar significados entre sinais � envolvem movimento da face, dos olhos, da cabeça e do tronco �podem traduzir alegria, tristeza, raiva, amor, encantamento etc � mais sentido à Libras � muito importante linguisticamente � marca estabelece tipos de frases � Silêncio, Cala a Boca 43 Aspectos Fonológicos • Duas expressões podem ocorrer ao mesmo tempo � marcas de interrogação e negação, � franzir de sobrancelhas e projeção da cabeça. • CNM � duas funções � marcação de construções sintáticas (marcam sentenças interrogativas sim-não, interrogativas QU: que, quem, qual, quando) e diferenciação de itens lexicais �sinal convencional é modificado � Roubo (ladrão), Ato-sexual 44 Aspectos Fonológicos • As unidadesmínimas de um sinal � parâmetros � configuração de mãos, ponto de articulação, movimento, orientação das mãos e componentes não manuais � não possuem significado isoladamente � se compõem, passam a constituir sentido � composição não é livre � regras que restringem ou limitam a formação de sinais � impostas pelo sistema perceptual (visual) e pelo sistema articulatório (fisiologia das mãos). 45 Aspectos Fonológicos • Sinais que utilizam apenas uma das mãos podem ser produzidos indistintamente pela mão direita ou esquerda. • Condições de restrição se referem aos sinais produzidos por ambas as mãos. Para sinais produzidos com as duas mãos, temos duas possibilidades: (a) as duas mãos são ativas ( condição de simetria) e (b) uma mão é ativa (mão dominante) e a outra serve como locação (condição de dominância) . 46 Condições de restrição • Condição de simetria: caso as duas mãos se movam na produção de um sinal, então determinadas restrições aparecem, a saber: a CM deve ser a mesma para as duas mãos, a locação de ser a mesma ou simétrica, e o movimento deve ser simultâneo ou alternado. • Condição de dominância: se as mãos apresentam distintas CM, então a mão ativa produz o movimento, e a mão passiva serve de apoio. 47 Condições de Restrição • Condição de simetria � percepção visual � duas mãos sendo ativas seria muito difícil a percepção dos movimentos, se eles não fossem simétricos � sistema articulatório visto ser extremamente difícil a produção simultânea de sinais distintos para cada uma das mãos. • Com o estudo das restrições na formação de sinais, encerramos esta parte relacionada à fonologia das línguas de sinais em geral e da Libras em particular. 48 LIBRAS Prof.ª Dr. Clélia Maria Ignatius Nogueira Prof. Esp. Marcelo Meister Carneiro
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