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OAB EXAME DE ORDEM DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 02 1 CAPÍTULOS Capítulo 1 – Sistemas Processuais. Princípios. Capítulo 2 (você está aqui!) – Aplicação da Lei Processual Penal. Capítulo 3 – Inquérito policial. Capítulo 4 – Ação penal. Capítulo 5 – Competência Criminal. Capítulo 6 – Das provas. Capítulo 7 – Das prisões. Capítulo 8 – Questões e processos incidentes. Capítulo 9 – Sujeitos e Comunicação dos atos. Capítulo 10 – Processo e Procedimentos. Capítulo 11 – Sentença e Nulidades Capítulo 12 – Recursos Capítulo 13 – Ações Autônomas 2 SOBRE ESTE CAPÍTULO E ai, OABeiro! Tudo certinho? A apostila de número 02 do nosso curso de Direito Processual Penal tratará sobre A Aplicação da Lei processual Penal, matéria que é comumente cobrada no Exame de Ordem ao decorrer desses anos! De acordo com a nossa equipe de inteligência, esse assunto esteve presente 1 VEZ nos últimos 3 anos, sendo considerado um assunto de baixíssima recorrência. Adicionamos questões de outras carreiras jurídicas para que você pudesse assimilar o conteúdo visto, ok? Lembre-se: A resolução de questões é a chave para a aprovação! Vamos juntos! 3 SUMÁRIO DIREITO PROCESSUAL PENAL ............................................................................................................... 5 Capítulo 2 .................................................................................................................................................. 5 2. Lei Processual Penal no Espaço. Lei Processual Penal no Tempo. Interpretação da lei processual penal. ..................................................................................................................................... 5 2.1 Lei processual penal no Espaço ...................................................................................................................... 5 2.1.1 Princípio da territorialidade .............................................................................................................................. 5 2.1.2 Exceções ao princípio da territorialidade ................................................................................................... 6 2.1.3 Tratados, convenções e regras do direito internacional ...................................................................... 7 2.1.4 Prerrogativas de autoridades nos crimes de responsabilidade ........................................................ 8 2.1.5 Processos da competência da Justiça Militar ........................................................................................... 9 2.1.6 Processos de competência do tribunal especial e os crimes de imprensa ................................. 9 2.1.7 Outros casos............................................................................................................................................................ 9 2.2 Lei Processual Penal no Tempo ................................................................................................................... 10 2.2.1 Princípio tempus regit actum ....................................................................................................................... 10 2.2.2 Normas processuais mistas (híbridas ou materiais) ............................................................................ 12 2.2.3 Normas processuais heterotópicas ............................................................................................................ 13 2.3 Interpretação da Lei processual Penal ...................................................................................................... 14 2.3.1 Interpretação extensiva.................................................................................................................................... 14 2.3.2 Analogia ................................................................................................................................................................. 15 2.3.3 Analogia e interpretação analógica ........................................................................................................... 15 2.3.4 Suplemento dos princípios gerais do direito ........................................................................................ 16 QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 17 QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 18 4 GABARITO ............................................................................................................................................... 28 QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 29 GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 30 LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 32 JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................................................... 33 MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 40 . 5 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 2 2. Lei Processual Penal no Espaço. Lei Processual Penal no Tempo. Interpretação da lei processual penal. 2.1 Lei processual penal no Espaço 2.1.1 Princípio da territorialidade O Código de Processo Penal adota o princípio da territorialidade ou da lex fori para reger a sua aplicabilidade no espaço. Atividade jurisdicional é uma das formas de exercer a soberania nacional, por isso, em regra, não pode ser exercida além das fronteiras do respectivo Estado – locus regit actum. Pelo princípio da territorialidade, quando um ato de um processo brasileiro precisa ser praticado no exterior (por exemplo, citar uma testemunha que mora na França), a lei processual a ser aplicada é a do país onde o ato será realizado. Enquanto isso, aplica-se a lei processual brasileira aos atos processuais praticados no Brasil, mas referentes a processos estrangeiros. 6 O direito penal usa o princípio da territorialidade (art. 5º do CP) e da extraterritorialidade incondicionada e condicionada (art. 7º do CP), o direito processual penal usa o princípio da territorialidade ou lex fori (art. 1º do CPP). Portanto, aplicamos o Código de Processo Penal (CPP) a todos os processos que tramitem na justiça brasileira, ainda que o direito material aplicado seja outro. Sempre? Não! A doutrina elenca três situações em que a lei processual penal de um Estado pode ser aplicada fora de seus limites territoriais: a) aplicação da lei processual penal de um Estado em território nullius; b) quando houver autorização do Estado onde deva ser praticado o ato processual; c) em caso de guerra, no território ocupado. 2.1.2 Exceções ao princípio da territorialidade O art. 1º do CPP prevê o princípio da territorialidade no nosso processo penal e, em seguida, estabelece algumas exceções, casos em que não aplicamos o CPP em processos brasileiros. Art. 1º, do CPP – O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados: I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; 7 II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente daRepública, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade; III - os processos da competência da Justiça Militar; IV - os processos da competência do tribunal especial; V - os processos por crimes de imprensa. Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso. Obs.: os incisos IV e V estão riscados porque não foram recepcionados pela CF/88. Também não aplicamos o CPP, pelo princípio da especialização, quando a própria legislação extravagante, específica sobre a matéria, dispõe sobre o processamento e julgamento penal. É o caso dos crimes eleitorais, dos crimes de abuso de autoridade, de competência originária dos Tribunais, das infrações de menor potencial ofensivo, dos crimes falimentares, da Lei Maria da Penha, do Estatuto do Idoso e da Lei de Drogas. Por fim, o art. 5º, § 4º, da Constituição Federal, prevê que “o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”. Temos, portanto, mais uma ressalva à regra do princípio da territorialidade: não aplicamos a lei processual penal brasileira aos crimes praticados no país quando o Brasil reconhecer a jurisdição penal internacional para o caso. 2.1.3 Tratados, convenções e regras do direito internacional O art. 1º do CPP acima citado deixa claro que devemos adotar o respectivo Código para reger todos os processos penais do Brasil. Entretanto, logo após estabelecer essa premissa, elenca algumas exceções, casos em que não vamos usar o CPP, mesmo em processos penais pátrios. 8 A primeira exceção legal ao princípio da territorialidade são as regras do direito internacional, materializadas em tratados e acordos aos quais o Brasil tenha aderido. A partir dessa exceção, o STJ entende que não há ilegalidade quando utilizamos em processo penal brasileiro, com base em acordo de cooperação internacional em matéria penal, provas e informações produzidas a partir da quebra de sigilo bancário determinado por autoridade estrangeira (HC 231.633/PR). Também por força de normas internacionais, especificamente da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, temos que seguir as seguintes regras em detrimento das do CPP: Chefes de governo estrangeiro ou de Estado estrangeiro, suas famílias e membros das comitivas, embaixadores e suas famílias, funcionários estrangeiros do corpo diplomático e suas famílias, e funcionários de organizações internacionais como a ONU, gozam de imunidade diplomática, ou seja, se cometerem delito no Brasil, só podem responder por ele em seu país de origem. Aprofundando o assunto, essa imunidade pode ser expressamente renunciada pelo Estado acreditante, aquele que envia o seu representante. 2.1.4 Prerrogativas de autoridades nos crimes de responsabilidade O crime de responsabilidade na realidade é uma infração política, cometida por uma autoridade no exercício de suas funções. Por isso o nosso ordenamento jurídico atribuiu a essa natureza de crime um julgamento igualmente político. O inciso II do art. 1º do CPP afirma que não será aplicado o respectivo Código aos crimes de responsabilidade cometidos pelo Presidente da República, pelos Ministros de Estado quando o crime de responsabilidade for conexo com o do Presidente, e aqueles cometidos pelos Ministros do Supremo Tribunal Federal. Nesse contexto, a título de exemplo, o art. 52 da CF/88 atribui como competência privativa do Senado Federal processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do 9 Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; e processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado- Geral da União nos crimes de responsabilidade. 2.1.5 Processos da competência da Justiça Militar Não se aplica o CPP no âmbito da Justiça Militar porque ela tem o seu próprio Código Penal Militar e o seu próprio Código de Processo Penal Militar. O CPP comum só deve ser aplicado na Justiça Militar quando houver omissão da lei específica e sua aplicação não causar prejuízo da índole do processo penal militar. 2.1.6 Processos de competência do tribunal especial e os crimes de imprensa Os incisos IV e V do art. 1º do CPP, referentes à competência do tribunal especial e aos crimes de imprensa, respectivamente, não foram recepcionados pena CF/88. Quando o Código fez menção ao tribunal especial, referia-se ao instituto previsto na Constituição de 1937, o antigo Tribunal de Segurança Nacional, extinto pela Constituição de 1946. Atualmente, os crimes contra a segurança nacional são definidos pela Lei 7.170/83 e, segundo o art. 109, IV da CF/88, os processos e julgamentos cabem à Justiça Federal. Os crimes de imprensa eram previstos na Lei 5.250/67, declarada não recepcionada pela CF/88 pelo Supremo através da ADPF 130. 2.1.7 Outros casos Com o surgimento de diversas leis especiais após o início da vigência do CPP, em 1º de janeiro de 1942, foram criados vários procedimentos distintos que, por foça do princípio da especialidade, devem ser aplicados em detrimento do Código de Processo Penal. O Código Eleitoral define a competência da Justiça Eleitoral para julgar os crimes eleitorais nele previstos; a Lei 4.898/65 prevê o processo e julgamento dos crimes de abuso de autoridade; o procedimento dos crimes de competência originária dos Tribunais é previsto em lei especial 10 (Lei 8.038/90); as infrações de menor potencial ofensivo devem ser processadas e julgadas nos Juizados Especiais Criminais, regulamentados pela Lei 9.099/95; o Estatuto do Idoso, a Lei Maria da Penha e a Lei de Drogas também possuem peculiaridades procedimentais que ressalvam a aplicação do CPP. Nesses casos, o CPP deve ser aplicado apenas subsidiariamente. 2.2 Lei Processual Penal no Tempo 2.2.1 Princípio tempus regit actum O estudo do direito intertemporal é extremamente importante tendo em vista as sucessões de alterações normativas que sofremos durante os anos. Sabemos que a norma penal segue a regra da irretroatividade, salvo para beneficiar o réu. Mas como funciona a aplicação da lei processual penal no tempo? Art. 2º, do CPP – A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. O art. 2º do CPP consagra o princípio tempus regit actum, o que significa dizer que a lei processual penal tem aplicabilidade imediata. Mas o que isso quer dizer? A aplicabilidade imediata da norma de processo penal faz com que a nova lei seja aplicada no momento em que entra em vigor, não importando se vai agravar ou beneficiar a situação do réu, sem prejuízo dos atos processuais já praticados. A aplicação imediata da nova lei processual penal se fundamenta porque, em tese, uma nova lei deve ser melhor do que a antiga, mais satisfatória aos interesses da justiça e trazer mais garantias às partes. Você já sabe quem em janeiro de 2020 entrou em vigor a Lei 13.904/19, conhecida como “Pacote Anticrime”, certo? Quando uma lei processual nova entra em vigor, é claro que os novos 11 processos devem seguir o novo procedimento e que os processos conclusos com base na lei anterior devem ser respeitados. Mas o que acontece com os processos que estão em andamento? Esse problema também aconteceu com a reforma processual de 2008, que inovou profundamente o procedimento do Tribunal do Júri e o procedimento comum. Foi assim que a doutrina criou três sistemas distintos em busca de solucionar a questão: Sistema da unidade processual: considera que o processo é uma unidade, apesar de sercomposto por atos distintos. Portanto, para essa corrente doutrinária, um processo só poderia ser regulado por uma única lei. No caso em análise, o processo deve ser regido pela lei mais antiga, com ultratividade, pois se fosse possível a aplicar a lei nova, resultaria em efeitos retroativos da lei processual. Sistema das fases processuais: considera que cada fase processual pode ser regulada por um procedimento diferente. Portanto, no caso de sucessão de leis no tempo, é possível que, a cada nova fase do processo, ele seja regulado pela lei diferente em vigor. Sistema de isolamento dos atos processuais: considera que o ato processual já praticado em observância à lei anterior não pode ser atingido pela lei nova. Entretanto, a lei nova deve ser aplicada aos próximos atos, sem precisar observar a mudança de fase processual. É o sistema adotado pelo Brasil, estabelecido pelo art. 2º do CPP e pelo princípio do tempus regit actum, e que deve ser adotado para os processos penais atuais em relação à parte processual da nova lei do Pacote Anticrime. 12 Não confunda, OABeiro: a aplicação da lei penal considera o momento da prática delituosa (tempus delicti), enquanto a aplicação da lei processual penal considera o momento da prática do ato processual (tempus regit actum). 2.2.2 Normas processuais mistas (híbridas ou materiais) Existem dois tipos de normas processuais: as normas genuinamente processuais e as normais processuais materiais. Essa divisão é doutrinária e tem um enorme efeito prático para a aplicação da lei processual penal no tempo. As normas genuinamente processuais são aquelas que tratam do puramente do procedimento. Nesses casos, aplicamos sem dúvidas a regra do art. 2º do CPP. Quando uma norma atinge ao mesmo tempo matéria de direito penal e de direito processual, a denominamos de norma mista. Diante de uma norma processual mista, devemos usar os mesmos critérios da norma material para a sua sucessão no tempo, ou seja, se for mais benéfica ao agente, deve continuar sendo aplicada para os fatos ocorrido em sua vigência, mesmo depois de revogada – ultratividade da lei processual penal mista mais benéfica; e no caso de a nova lei mista ser mais benéfica ao réu, deve ser adotada retroativamente para regular os fatos ocorridos antes de sua vigência. Concluindo: diante de uma norma híbrida, que apresenta preceitos materiais e processuais, deve prevalecer o aspecto material. 13 2.2.3 Normas processuais heterotópicas As normas heterotópicas podem ocorrer de duas formas: quando normas materiais estão inseridas em leis processuais ou quando normas processuais estão inseridas em leis penais, de direito material. No primeiro caso, aplicamos a regra da retroatividade para beneficiar o réu, mas no segundo caso a norma processual deve ter aplicação imediata, característica das normas processuais penais, mesmo em um diploma de natureza de direito penal. Qual a diferença entre as normas processuais mistas e as normas processuais heterotópicas? As normas heterotópicas possuem natureza material ou processual, apesar de estarem inseridas em uma lei de natureza distinta, enquanto isso, as normas processuais mistas possuem uma dupla natureza – material e processual ao mesmo tempo. Exemplo de norma heterotópica: o direito ao silêncio do acusado durante o seu interrogatório, norma material, está previsto no art. 186 do CPP, diploma processual. Exemplo de norma processual mista: a Lei 9.099/95, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais, é uma norma processual mista ou híbrida tendo em vista que, apesar de prever o procedimento sumaríssimo, nele inclui diversos institutos despenalizadores, como a composição civil dos danos e a transação penal, que implicam diretamente no exercício do jus puniendi. 14 Toda norma, por mais objetiva que seja, precisa ser interpretada. A atividade interpretativa da norma visa entender o seu verdadeiro significado e qual o real alcance dele. O que o intérprete deve procurar é o conteúdo da lei e a sua vontade (mens legis), e não a intenção do legislador (mens legislatoris), pois, uma vez em vigor, a lei passa a ter uma existência autônoma. A lei processual penal deve seguir todas as regras e princípios hermenêuticos das demais leis, mas o art. 3º do CPP expressa uma distinção entre o direito penal material e o direito penal processual: no primeiro não cabe qualquer atividade hermenêutica que vise ampliar o objeto da norma, como a analogia in malam partem, mas no processo penal a própria lei permite a interpretação extensiva, a interpretação analógica e o suplemento dos princípios gerais do direito. Art. 3º do CPP – A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. 2.3 Interpretação da Lei processual Penal 2.3.1 Interpretação extensiva Quanto ao resultado, a interpretação pode ser classificada como: Declaratória: o significado da norma limita-se à sua literalidade, o intérprete não amplia nem restringe o seu alcance; Restritiva: ocorre quando a norma “diz mais do que queria dizer”, cabendo ao intérprete restringir o seu alcance para alcançar o real significado; Extensiva: ocorre quando a norma “diz menos do que queria dizer”, como em uma omissão involuntária do legislador, cabendo ao intérprete ampliar a sua incidência; Progressiva: busca adaptar o alcance da norma às transformações sociais, jurídicas, científicas e morais. A interpretação progressiva visa manter a efetividade da norma diante do novo contexto social. 15 O Código de Processo Penal admite expressamente a interpretação extensiva. Portanto, ela pode ser utilizada pelo aplicador do direito independentemente de beneficiar ou prejudicar o réu. Um exemplo de interpretação extensiva é a que a doutrina aplica ao art. 254 do CPP ao entender que os jurados também estão sujeitos à suspeição. Ora, os jurados, apesar de leigos, são juízes. Na interpretação extensiva, o intérprete amplia o conteúdo do termo para alcançar o verdadeiro sentido da norma. 2.3.2 Analogia A analogia consiste em aplicar uma norma prevista em lei a um caso semelhante para o qual não há previsão legal. A analogia não é uma forma de interpretação, mas sim um método de integração das normas, que objetiva suprir as lacunas do ordenamento jurídico. Por exemplo, o CPP não trata da superveniência de lei processual que altera as regras de competência e, nesse caso, devemos aplicar analogicamente e subsidiariamente as regras do Código de Processo Civil. 2.3.3 Analogia e interpretação analógica A interpretação analógica é a atividade que amplia o alcance da norma, tendo em vista que o legislador não é capaz de prever todas as situações possíveis na sociedade. Para que o uso da interpretação analógica não esbarre no princípio da legalidade, o legislador usa a seguinte fórmula: detalha exemplos que deseja regulamentar e, em seguida, faz um fechamento genérico do dispositivo legal, permitindo que todas as situações semelhantes sejam abrangidas. 16 De forma diversa, a analogia, como já foi dito, é um método de integração das normas, deve ser usada quando há uma omissão involuntária do legislador. Observe que na interpretação analógica, apesar de não ser explicito na literalidade do dispositivo legal, a hipótese de aplicação da norma já está prevista pelo legislador, pois o próprio dispositivo deixa aberta a sua aplicação em casos semelhantes. 2.3.4 Suplemento dos princípios gerais do direito As normas jurídicas são abstratas e, em diante das situações concretas, podem ser insuficientes. Os princípios gerais do direito suprem as lacunas normativas, é uma forma de integração das normas. A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB dispõe em seu art. 4º: Quando a leifor omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Outras normas fazem menção aos princípios gerais do direito, assim como no nosso CPP, em seu art. 3º supracitado. Mas quais são esses princípios? Trata-se de uma expressão bem vaga que nos remete a inumeráveis soluções principiológicas fundamentais de um ordenamento jurídico que, ainda que não positivadas ou escritas em algum lugar, constituem um pressuposto lógico do sistema. 17 QUADRO SINÓTICO Lei Processual no Espaço Princípio da territorialidade - regra Ressalvas: Tratados, convenções e regras de direito internacional; Prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade; Processos da competência da Justiça Militar; Outros casos, pelo princípio da especialidade. Lei Processual no Tempo Princípio tempus regit actum. Aplicação imediata da nova lei; Sem prejuízo da validade dos atos processuais já praticados. Sistema de isolamento dos atos processuais: quando há sucessão de leis processuais no tempo, os processos em andamento devem passar a obedecer a nova norma, mas não precisam repetir os atos já praticados. Normas processuais mistas: possuem natureza processual e material concomitantemente. Devem seguir o regramento das leis materiais quando à sucessão no tempo. Ou seja, retroagem para beneficiar o réu. Interpretação da Lei Processual Penal Interpretação extensiva Aplicação analógica Suplemento dos princípios gerais do direito 18 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (XXII EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) Em 23 de novembro de 2015 (segunda feira), sendo o dia seguinte dia útil em todo o país, Técio, advogado de defesa de réu em ação penal de natureza condenatória, é intimado da sentença condenatória de seu cliente. No curso do prazo recursal, porém, entrou em vigor nova lei de natureza puramente processual, que alterava o Código de Processo Penal e passava a prever que o prazo para apresentação de recurso de apelação seria de 03 dias e não mais de 05 dias. No dia 30 de novembro de 2015, dia útil, Técio apresenta recurso de apelação acompanhado das respectivas razões. Considerando a hipótese narrada, o recurso do advogado é A) intempestivo, aplicando-se o princípio do tempus regit actum (o tempo rege o ato), e o novo prazo recursal deve ser observado. B) tempestivo, aplicando-se o princípio do tempus regit actum (o tempo rege o ato), e o antigo prazo recursal deve ser observado. C) intempestivo, aplicando-se o princípio do tempus regit actum (o tempo rege o ato), e o antigo prazo recursal deve ser observado. D) tempestivo, aplicando-se o princípio constitucional da irretroatividade da lei mais gravosa, e o antigo prazo recursal deve ser observado. Comentário: Pelo princípio do tempus regit actum, a lei processual penal tem aplicação imediata aos processos em curso, mas só se aplica aos ATOS PROCESSUAIS FUTUROS, ou seja, não se aplica àqueles que já foram realizados, nos termos do art. 2º do CPP. No caso do recurso, como o prazo recursal já havia se iniciado antes da entrada em vigor da lei nova, esse prazo será regido pela lei antiga (que vigorava quando o prazo começou a fluir). 19 Assim, a lei processual nova só se aplica aos prazos recursais FUTUROS, não àqueles que já se iniciaram antes de sua vigência. Assim, considerando o prazo antigo (05 dias), o recurso é tempestivo, pois o prazo findou em 28.11.2015, que foi sábado, sendo prorrogado até dia 30.11.2015, dia útil seguinte. Questão 2 (XIX EXAME DE ORDEM – FGV - 2016) João, no dia 2 de janeiro de 2015, praticou um crime de apropriação indébita majorada. Foi, então, denunciado como incurso nas sanções penais do Art. 168, §1º, inciso III, do Código Penal. No curso do processo, mas antes de ser proferida sentença condenatória, dispositivos do Código de Processo Penal de natureza exclusivamente processual sofrem uma reforma legislativa, de modo que o rito a ser seguido no recurso de apelação é modificado. O advogado de João entende que a mudança foi prejudicial, pois é possível que haja uma demora no julgamento dos recursos. Nesse caso, após a sentença condenatória, é correto afirmar que o advogado de João A) deverá respeitar o novo rito do recurso de apelação, pois se aplica ao caso o princípio da imediata aplicação da nova lei. B) não deverá respeitar o novo rito do recurso de apelação, em razão do princípio da irretroatividade da lei prejudicial e de o fato ter sido praticado antes da inovação. C) não deverá respeitar o novo rito do recurso de apelação, em razão do princípio da ultratividade da lei. D) deverá respeitar o novo rito do recurso de apelação, pois se aplica ao caso o princípio da extratividade. Comentário: 20 Importante salientar que a Lei Processual Penal tem aplicação imediata, sem prejuízo dos atos já praticados, a teor do que dispõe o art. 2º do Cógido de Processo Penal: "Art. 2º. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior" Questão 3 (FAURGS - 2016 - TJ-RS - Juiz de Direito Substituto - ADAPTADA) A lei processual penal mais nova aplica-se retroativamente, determinando a necessidade de repetição de todos os atos instrutórios já realizados sob a vigência da legislação revogada. ( ) CERTO ( ) ERRADO Comentário: Como já vimos repetitivamente, a lei processual penal deve respeitar os atos processuais já praticados, devendo ser aplicada imediatamente apenas aos atos produzidos após a sua vigência. Questão 4 (FCC - 2015 - TJ-SE - Juiz Substituto) A lei processual penal, A) não admite aplicação analógica, salvo para beneficiar o réu. B) não admite aplicação analógica, mas admite interpretação extensiva. C) somente pode ser aplicada a processos iniciados sob sua vigência. D) admite o suplemento dos princípios gerais de direito. E) admite interpretação extensiva, mas não o suplemento dos princípios gerais de direito. 21 Comentário: A questão exige do candidato o conhecimento do art. 3º do CPP, que dispõe: “a lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito”. Portanto, a alternativa “A” está errada porque a lei processual penal admite a aplicação analógica, independentemente de beneficiar o réu; a alternativa “B” está errada porque, apesar de realmente admitir a interpretação extensiva, a lei processual penal também admite a aplicação analógica. A letra “C” está errada porque, de acordo com o art. 2º do CPP, a lei processual tem aplicação imediata, ou seja, aplica-se até mesmo nos processos em andamento; por fim, a letra “E” está errada porque a lei processual admite o suplemento dos princípios gerais do direito. Questão 5 (FAPEC - 2015 - MPE-MS - Promotor de Justiça Substituto - ADAPTADA) O princípio da lex fori admite relativização no processo penal. ( ) CERTO ( ) ERRADO Comentário: O princípio da lex fori admite relativização no processo penal. Lembra das exceções elencadas no art. 1º do CPP? Tratados, convenções e regras de direito internacional, as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade, os processos de competência da Justiça Militar e 22 outras situações em função do princípio da especialidade, são casos de relativização do princípio da lex fori, também chamado de princípio da territorialidade, no processo penal. Questão 6 (MPE-SP - 2015 - MPE-SP - Promotorde Justiça) Assinale a alternativa correta: A) A lei processual penal que entrar em vigor, alterando as regras de competência, não é aplicável aos processos em curso. B) Se o ato processual for complexo e iniciar-se sob a vigência de uma lei de natureza processual penal e, antes de se completar, outra for promulgada, modificando-o, devem ser obedecidas as normas da lei antiga. C) A lei processual penal deverá retroagir se for mais favorável ao acusado. D) Se a lei nova tiver natureza mista sua aplicação é imediata e irretroativa, posto que prejudicial ao acusado. E) Todas as alternativas estão incorretas. Comentário: O ato processual complexo pode ser iniciado sob a égide de uma lei e, antes de ser concluído, passar a vigorar outra norma que o altere. A princípio parece complicada a situação, as a doutrina e a jurisprudência são pacíficas e entendem que nesse caso o ato processual complexo deve seguir os preceitos da lei mais antiga. Ademais, a alternativa “B” fala que houve “promulgação” de lei nova. A simples promulgação de uma lei processual em nada altera as regras dos processos em curso. Apenas quando essa lei promulgada entrar em vigor, ou seja, a partir de sua vigência, é que podemos falar na sua aplicação e debater em quais atos processuais ela deve incidir. A lei processual penal que entrar em vigor, alterando as regras de competência, é aplicável aos processos em curso, assegurando-se os atos já produzidos; a lei processual não 23 retroage, mesmo em benefício do réu (irretroatividade da lei processual penal); se as leis mistas, ou híbridas, forem favoráveis ao réu podem retroagir. Questão 7 (FCC - 2015 - TJ-RR - Juiz Substituto) A lei processual penal brasileira: A) admite interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. B) aplica-se desde logo, em prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. C) retroage no tempo para obrigar a refeitura dos atos processuais, caso seja mais benéfica ao réu. D) não admite definição de prazo de vacatio legis. E) será aplicada nos atos processuais praticados em outro território que não o brasileiro, em casos de extraterritorialidade da lei penal. Comentário: Mais uma vez o examinador requer que o candidato conheça os termos do art. 3º do CPP: “a lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito”. A alternativa “B” está incorreta porque, apesar de a lei processual penal ser aplicada desde logo, deve respeitar os atos já praticados sob a vigência da lei anterior (segurança jurídica). A alternativa “C” também aborda o tema da sucessão de leis no tempo. Lembre-se sempre que a lei processual penal não vai retroagir, mesmo que seja em benefício do réu (salvo lei processual penal mista). 24 A aplicação imediata da norma processual penal deve ser feita a partir de sua vigência e não a partir de sua publicação. Portanto, nada impede que ela tenha um prazo de vacatio legis, como afirma a alternativa “D”. Por fim, o princípio adotado para a aplicação da norma processual penal brasileira no espaço é o da territorialidade, previsto no art. 1º do CPP. Por ele, a lei processual penal brasileira deve ser aplicada apenas nos atos processuais praticados em nosso território. Questão 8 (FCC - 2015 - TJ-PE - Juiz Substituto) Antonio está sendo processado pela prática do delito de furto qualificado. É correto dizer que, caso haja mudança nas normas que regulamentam o procedimento comum ordinário, A) a nova lei se aplica ao processo no estágio em que se encontra, se concluída a fase de instrução. B) a nova lei apenas se aplica se benéfica ao acusado. C) os atos praticados sob a vigência da lei anterior são válidos. D) a nova lei se aplica ao processo no estágio em que se encontra, apenas se ainda não recebida a denúncia contra Antonio. E) os atos praticados sob a vigência da lei anterior precisam ser ratificados, caso contrário não serão considerados válidos. Comentário: A alternativa “A” prevê o sistema das fases processuais, mas o nosso ordenamento jurídico adota o sistema de isolamento dos atos. A nova lei processual penal deve ser aplicada ao caso imediatamente, independentemente se ser ou não benéfica ao réu e independentemente da fase processual em que esteja o processo. Ademais, os atos 25 processuais já praticados de acordo com a lei anterior devem ser respeitados e não precisam ser ratificados. Questão 9 (FGV - 2013 - TJ-AM - Juiz) Sobre a aplicação da Lei Processual Penal, é correto afirmar que; A) no Brasil, adota-se integralmente o princípio da irretroatividade da lei processual penal, que impede que as inovações na norma processual penal sejam aplicadas de imediato para fatos praticados antes de sua entrada em vigor. B) ela admitirá interpretação extensiva e o suplemento de princípios gerais do direito, mas não a aplicação analógica. C) o processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, pelo Código de Processo Penal, não havendo qualquer ressalva prevista neste diploma. D) as normas previstas no Código de Processo Penal de natureza híbrida, ou seja, com conteúdo de direito processual e de direito material, devem respeitar o princípio que veda a aplicação retroativa da lei penal, quando seu conteúdo for prejudicial ao réu. E) ela admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, mas não o suplemento dos princípios gerais do direito. Comentário: O sistema jurídico brasileiro adota o princípio da irretroatividade da lei processual penal como regra. As normas processuais híbridas, ou mistas, são exceções que seguem os preceitos das normas materiais quanto à sucessão no tempo, ou seja, se mais benéficas ao réu, devem ser aplicadas de forma retroativa; e se prejudiciais a ele, não devem retroagir. A norma processual penal admite a interpretação extensiva, a aplicação analógica e o suplemento dos princípios gerais do direito, conforme a literalidade do art. 3º do CPP. 26 Por fim, de acordo com o art. 1º do CPP, os processos penais brasileiros devem seguir o estabelecido naquele Código, consagrando o princípio da territorialidade. Entretanto, o próprio dispositivo faz algumas ressalvas, situações em que, mesmo em processos penais brasileiros, não usaremos o CPP como regramento. Questão 10 (CESPE - 2013 - PG-DF - Procurador) No que se refere à lei processual penal no espaço e no tempo, julgue os itens que se seguem. A lei processual penal será aplicada desde logo, sem prejuízo da validade dos atos instrutórios realizados sob a vigência de lei processual anterior, salvo se esta for, de alguma maneira, mais benéfica ao réu que aquela. ( ) CERTO ( ) ERRADO A aplicação do princípio da territorialidade, previsto na lei processual penal brasileira, poderá ser afastada se, mediante tratado internacional celebrado pelo Brasil e referendado internamente por decreto, houver disposição que determine, nos casos que ele indicar, a aplicação de norma diversa. ( ) CERTO ( ) ERRADO Comentário: A lei processual penal será aplicada desde logo (aplicabilidade imediata), sem prejuízo da validade que quaisquer atos, inclusive instrutórios, já realizados sob a vigência de lei processual anterior, mesmo que esta for, de alguma maneira, mais benéfica ao réu. 27 O art. 1º do CPP determina como regra para a aplicação da lei processual penal no espaço o princípio da territorialidade. Em seguida, o mesmo dispositivo elenca algumas ressalvas, entre elas o tratado internacional que o Brasil tenha aderido. Ou seja, se há tratado internacional, celebrado pelo Brasil e referendado internamente por decreto, e nesse tratado houver disposição que determine a aplicação de norma diversa em determinados casos,esta norma será aplicada em detrimento do CPP. 28 GABARITO Questão 1 – ALTERNATIVA B Questão 2 – ALTERNATIVA A Questão 3 – ERRADO Questão 4 – ALTERNATIVA D Questão 5 – CERTO Questão 6 – ALTERNATIVA B Questão 7 – ALTERNATIVA A Questão 8 – ALTERNATIVA C Questão 9 – ALTERNATIVA D Questão 10 – ERRADO / CERTO 29 QUESTÃO DESAFIO Levando-se em conta a classificação doutrinária, quanto à origem ou ao sujeito que a realiza, como pode ser classificada a interpretação da norma processual penal? Responda em até 5 linhas 30 GABARITO QUESTÃO DESAFIO A interpretação/aplicação do direito, quanto à origem, é classificada doutrinariamente em: autêntica ou legislativa, doutrinária ou científica e judicial ou jurisprudencial. Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta: autêntica ou legislativa Segundo os juristas Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar (2017) a interpretação “autêntica ou legislativa: é a realizada pelo próprio legislador que, através de outro texto de lei, faz os esclarecimentos necessários sobre determinado assunto, podendo ser: contextual, leia-se, aquela realizada no corpo do próprio texto interpretado, ou posterior, é dizer, em outro diploma subsequente à norma interpretada. É importante ressaltar que a norma interpretativa, dando a devida acepção ao conteúdo da norma interpretada, tem efeito retroativo. Ex.: o CPP, no -seu art. 302, traz a acepção daquilo que se entende por prisão em flagrante.". doutrinária ou científica Outra classificação doutrinaria da interpretação na norma processual penal levando-se em conta à origem ou ainda o sujeito que realiza essa interpretação, tem-se a interpretação doutrinária ou científica. Conforme os ensinamentos que os professores Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar (2017) expõem em sua obra, a interpretação classificada em “doutrinária ou científica: é aquela realizada pelos estudiosos do direito. Atente-se que a exposição de motivos do Código é forma de interpretação doutrinária, pois não tem conteúdo de lei. judicial ou jurisprudencial Por fim, a classificação da interpretação quanto à origem pode ser judicial ou jurisprudencial. Conforme Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar (2017) essa intepretação “judicial ou jurisprudencial: é a interpretação/aplicação do direito conferida pelos juízes e tribunais. É de se ressaltar que a EC no 45/2004 introduziu o art. 103-A na Carta Magna, prevendo a súmula vinculante no direito brasileiro. Destarte, o Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por 31 provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. Ademais, a súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.” 32 LEGISLAÇÃO COMPILADA Lei Processual Penal no Espaço: CPP: art. 1º; CF/88: Art. 5º, §4º. Lei Processual Penal no Tempo: CPP: art. 2º; Interpretação da Lei Processual Penal: CPP: art. 3º; 33 JURISPRUDÊNCIA Lei Processual Penal no Espaço STJ - HC: 231633 PR 2012/0014377-1, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento: 25/11/2014, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 03/12/2014 (...) CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E LAVAGEM DE DINHEIRO (ARTIGOS 16 E 22 DA LEI 7.492/1986 E ARTIGO 1º, INCISO VI, DA LEI 9.613/1998). VIOLAÇÃO À LEI COMPLEMENTAR 105/2001. QUEBRA DO SIGILO BANCÁRIO DOS PACIENTES NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO DA JUSTIÇA BRASILEIRA. DESNECESSIDADE. MEDIDA QUE FOI IMPLEMENTADA EM INVESTIGAÇÃO EM CURSO EM NOVA IORQUE. COMPARTILHAMENTO DAS PROVAS OBTIDAS COM A JUSTIÇA BRASILEIRA MEDIANTE ACORDO DE COOPERAÇÃO ENTRE OS PAÍSES. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CARACTERIZADO. 1. A competência internacional é regulada ou pelo direito internacional ou pelas regras internas de determinado país acerca da matéria, tendo por fontes os costumes, os tratados normativos e outras regras de direito internacional. 2. Em matéria penal adota-se, em regra, o princípio da territorialidade, desenvolvendo-se na justiça pátria o processo e os respectivos incidentes, não se podendo olvidar, outrossim, de eventuais tratados ou outras normas internacionais a que o país tenha aderido, nos termos dos artigos 1º do Código de Processo Penal e 5º, caput, do Código Penal. Doutrina. 3. No caso dos autos, inexiste qualquer ilegalidade na quebra do sigilo bancário dos acusados, uma vez que a medida foi realizada para a obtenção de provas em investigação em curso nos Estados Unidos da América, tendo sido implementada de acordo com as normas do ordenamento jurídico lá vigente, sendo certo que a documentação referente ao resultado da medida invasiva foi posteriormente compartilhada com o Brasil por meio de acordo existente entre os países. (...). Comentário: Em matéria penal adota-se, em regra, o princípio da territorialidade, desenvolvendo-se na justiça pátria o processo e os respectivos incidentes, não se podendo olvidar, outrossim, de eventuais tratados ou outras normas internacionais a que o país tenha aderido, nos termos dos artigos 1º do Código de Processo Penal e 5º, caput, do Código Penal. STF. ADPF 130/DF, Rel. Min. Carlos Britto, 30/04/2009. EMENTA: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF). LEI DE IMPRENSA. ADEQUAÇÃO DA AÇÃO. REGIME CONSTITUCIONAL DA “LIBERDADE DE INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA”, EXPRESSÃO SINÔNIMA DE LIBERDADE DE IMPRENSA. A “PLENA” LIBERDADE DE IMPRENSA COMO CATEGORIA JURÍDICA PROIBITIVA DE QUALQUER TIPO DE CENSURA PRÉVIA. A PLENITUDE DA LIBERDADE DE IMPRENSA COMO REFORÇO OU SOBRETUTELA DAS LIBERDADES DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E DE 34 EXPRESSÃO ARTÍSTICA, CIENTÍFICA, INTELECTUAL E COMUNICACIONAL. LIBERDADES QUE DÃO CONTEÚDO ÀS RELAÇÕES DE IMPRENSA E QUE SE PÕEM COMO SUPERIORES BENS DE PERSONALIDADE E MAIS DIRETA EMANAÇÃO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. O CAPÍTULO CONSTITUCIONAL DA COMUNICAÇÃO SOCIAL COMO SEGMENTO PROLONGADOR DAS LIBERDADES DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA, CIENTÍFICA, INTELECTUAL E COMUNICACIONAL. TRANSPASSE DA FUNDAMENTALIDADE DOS DIREITOS PROLONGADOS AO CAPÍTULO PROLONGADOR. PONDERAÇÃO DIRETAMENTE CONSTITUCIONAL ENTRE BLOCOS DE BENS DE PERSONALIDADE: O BLOCO DOS DIREITOS QUE DÃO CONTEÚDO À LIBERDADE DE IMPRENSA E O BLOCO DOS DIREITOS À IMAGEM, HONRA, INTIMIDADE E VIDA PRIVADA. PRECEDÊNCIA DO PRIMEIRO BLOCO. INCIDÊNCIA A POSTERIORI DO SEGUNDO BLOCO DE DIREITOS, PARA O EFEITO DE ASSEGURAR O DIREITO DE RESPOSTA E ASSENTAR RESPONSABILIDADES PENAL, CIVIL E ADMINISTRATIVA, ENTRE OUTRAS CONSEQUÊNCIAS DO PLENO GOZO DA LIBERDADE DE IMPRENSA. PECULIAR FÓRMULA CONSTITUCIONAL DE PROTEÇÃO A INTERESSES PRIVADOS QUE, MESMO INCIDINDO A POSTERIORI, ATUA SOBRE AS CAUSAS PARA INIBIR ABUSOS POR PARTE DA IMPRENSA. PROPORCIONALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA E RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS MORAIS E MATERIAIS A TERCEIROS. RELAÇÃO DE MÚTUA CAUSALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA E DEMOCRACIA. RELAÇÃO DE INERÊNCIA ENTRE PENSAMENTO CRÍTICO E IMPRENSA LIVRE. A IMPRENSA COMO INSTÂNCIA NATURAL DE FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA E COMO ALTERNATIVA À VERSÃO OFICIAL DOS FATOS. PROIBIÇÃO DE MONOPOLIZAR OU OLIGOPOLIZAR ÓRGÃOS DE IMPRENSA COMO NOVO E AUTÔNOMO FATOR DE INIBIÇÃO DE ABUSOS. NÚCLEODA LIBERDADE DE IMPRENSA E MATÉRIAS APENAS PERIFERICAMENTE DE IMPRENSA. AUTORREGULAÇÃO E REGULAÇÃO SOCIAL DA ATIVIDADE DE IMPRENSA. NÃO RECEPÇÃO EM BLOCO DA LEI Nº 5.250/1967 PELA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL. EFEITOS JURÍDICOS DA DECISÃO. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. (...) 10- NÃO RECEPÇÃO EM BLOCO DA LEI 5.250 PELA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL. 10.1. Óbice lógico à confecção de uma lei de imprensa que se orne de compleição estatutária ou orgânica. A própria Constituição, quando o quis, convocou o legislador de segundo escalão para o aporte regratório da parte restante de seus dispositivos (art. 29, art. 93 e § 5º do art. 128). São irregulamentáveis os bens de personalidade que se põem como o próprio conteúdo ou substrato da liberdade de informação jornalística, por se tratar de bens jurídicos que têm na própria interdição da prévia interferência do Estado o seu modo natural, cabal e ininterrupto de incidir. Vontade normativa que, em tema elementarmente de imprensa, surge e se exaure no próprio texto da Lei Suprema. 10.2. Incompatibilidade material insuperável entre a Lei n° 5.250/67 e a Constituição de 1988. Impossibilidade de conciliação que, sobre ser do tipo material ou de substância (vertical), contamina toda a Lei de Imprensa: a) quanto ao seu entrelace de comandos, a serviço da prestidigitadora lógica de que para cada regra geral afirmativa da liberdade é aberto um leque de exceções que praticamente tudo desfaz; b) quanto ao seu inescondível efeito 35 prático de ir além de um simples projeto de governo para alcançar a realização de um projeto de poder, este a se eternizar no tempo e a sufocar todo pensamento crítico no País. 10.3 São de todo imprestáveis as tentativas de conciliação hermenêutica da Lei 5.250/67 com a Constituição, seja mediante expurgo puro e simples de destacados dispositivos da lei, seja mediante o emprego dessa refinada técnica de controle de constitucionalidade que atende pelo nome de “interpretação conforme a Constituição”. A técnica da interpretação conforme não pode artificializar ou forçar a descontaminação da parte restante do diploma legal interpretado, pena de descabido incursionamento do intérprete em legiferação por conta própria. Inapartabilidade de conteúdo, de fins e de viés semântico (linhas e entrelinhas) do texto interpretado. Caso-limite de interpretação necessariamente conglobante ou por arrastamento teleológico, a pré-excluir do intérprete/aplicador do Direito qualquer possibilidade da declaração de inconstitucionalidade apenas de determinados dispositivos da lei sindicada, mas permanecendo incólume uma parte sobejante que já não tem significado autônomo. Não se muda, a golpes de interpretação, nem a inextrincabilidade de comandos nem as finalidades da norma interpretada. Impossibilidade de se preservar, após artificiosa hermenêutica de depuração, a coerência ou o equilíbrio interno de uma lei (a Lei federal nº 5.250/67) que foi ideologicamente concebida e normativamente apetrechada para operar em bloco ou como um todo pro indiviso. 11. EFEITOS JURÍDICOS DA DECISÃO. Aplicam-se as normas da legislação comum, notadamente o Código Civil, o Código Penal, o Código de Processo Civil e o Código de Processo Penal às causas decorrentes das relações de imprensa. O direito de resposta, que se manifesta como ação de replicar ou de retificar matéria publicada é exercitável por parte daquele que se vê ofendido em sua honra objetiva, ou então subjetiva, conforme estampado no inciso V do art. 5º da Constituição Federal. Norma, essa, “de eficácia plena e de aplicabilidade imediata”, conforme classificação de José Afonso da Silva. “Norma de pronta aplicação”, na linguagem de Celso Ribeiro Bastos e Carlos Ayres Britto, em obra doutrinária conjunta. 12. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. Total procedência da ADPF, para o efeito de declarar como não recepcionado pela Constituição de 1988 todo o conjunto de dispositivos da Lei federal nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967. Lei Processual Penal no Tempo STF - ADI: 1719/DF, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 18/06/2007, Tribunal Pleno, DJe 072 02-08- 2007. PENAL E PROCESSO PENAL. JUIZADOS ESPECIAIS. ART. 90 DA LEI 9.099/1995. APLICABILIDADE. INTERPRETAÇÃO CONFORME PARA EXCLUIR AS NORMAS DE DIREITO PENAL MAIS FAVORÁVEIS AO RÉU. O art. 90 da lei 9.099/1995 determina que as disposições da lei dos Juizados Especiais não são aplicáveis aos processos penais nos quais a fase de instrução já tenha sido iniciada. Em se tratando de normas de natureza processual, a exceção estabelecida por lei à regra geral contida no art. 2º do CPP não padece de vício de inconstitucionalidade. Contudo, as normas de direito penal que tenham conteúdo mais benéfico aos réus devem retroagir para beneficiá-los, à luz do que 36 determina o art. 5º, XL da Constituição federal. Interpretação conforme ao art. 90 da Lei 9.099/1995 para excluir de sua abrangência as normas de direito penal mais favoráveis aos réus contidas nessa lei. Interpretação da Lei Processual Penal APn 912-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, Corte Especial, por unanimidade, julgado em 07/08/2019, DJe 22/08/2019 QUEIXA-CRIME. ACUSAÇÃO CONTRA DESEMBARGADORA DO TJRJ. PRERROGATIVA DE FORO NO STJ. CRIME DE CALÚNIA CONTRA PESSOA MORTA. QUEIXA PARCIALMENTE RECEBIDA (...) 2. Por se tratar de crime de calúnia contra pessoa morta (art. 138, § 2.º, do Código Penal), os Querelantes – mãe, pai, irmã e companheira em união estável da vítima falecida – são partes legítimas para ajuizar a ação penal privada, nos termos do art. 24, §1º, do Código de Processo Penal ("§ 1.º No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão"). 3. A companheira, em união estável reconhecida, goza do mesmo status de cônjuge para o processo penal, podendo figurar como legítima representante da falecida. Vale ressaltar que a interpretação extensiva da norma processual penal tem autorização expressa no art. 3.º do CPP ("A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito"). 4. Ademais, "o STF já reconheceu a 'inexistência de hierarquia ou diferença de qualidade jurídica entre as duas formas de constituição de um novo e autonomizado núcleo doméstico', aplicando-se a união estável entre pessoas do mesmo sexo as mesmas regras e mesmas consequências da união estável heteroafetiva (...). Comentário: a interpretação extensiva da norma processual penal tem autorização expressa no art. 3.º do CPP ("A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito") STF. Plenário. Inq 3983/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 3/9/2015 (Info 797). É cabível a aplicação analógica do art. 191 do CPC (“Quando os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, ser- lhes-ão contados em dobro os prazos para contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar nos autos”), ao prazo previsto no art. 4º da Lei 8.038/1990 (“Apresentada a denúncia ou a queixa ao Tribunal, far-se-á a notificação do acusado para oferecer resposta no prazo de quinze dias”). Com base nesse entendimento, o Plenário resolveu questão de ordem suscitada pelo Ministro Teori Zavascki (relator) e, em consequência, deferiu, por maioria, o pedido formulado por denunciado no sentido de que lhe fosse duplicado o prazo de oferecimento de resposta à acusação. A Corte reiterou, desse modo, o que decidido na AP 470 AgR-vigésimo segundo e vigésimo quinto/MG (DJe de 24.9.2013 e de 17.2.2014, respectivamente). Vencidos os Ministros Teori Zavascki, Edson Fachin, Roberto 37 Barroso e Rosa Weber, que indeferiam o pleito por considerarem incabível a aplicação analógica do art. 191 do CPC ao prazo previsto no art. 4º da Lei 8.038/1990.38 MAPA MENTAL 39 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. 6ª ed. Salvador – Jus Podivm. 2018. SOUZA, Carlos Fernando Mathias. Princípios Gerais do Direito. Revista de Informação Legislativa – Brasília a. 38 n. 152 out./dez. 2001. DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 2 2. Lei Processual Penal no Espaço. Lei Processual Penal no Tempo. Interpretação da lei processual penal. 2.1 Lei processual penal no Espaço 2.1.1 Princípio da territorialidade 2.1.2 Exceções ao princípio da territorialidade 2.1.3 Tratados, convenções e regras do direito internacional 2.1.4 Prerrogativas de autoridades nos crimes de responsabilidade 2.1.5 Processos da competência da Justiça Militar 2.1.6 Processos de competência do tribunal especial e os crimes de imprensa 2.1.7 Outros casos 2.2 Lei Processual Penal no Tempo 2.2.1 Princípio tempus regit actum 2.2.2 Normas processuais mistas (híbridas ou materiais) 2.2.3 Normas processuais heterotópicas 2.3 Interpretação da Lei processual Penal 2.3.1 Interpretação extensiva 2.3.2 Analogia 2.3.3 Analogia e interpretação analógica 2.3.4 Suplemento dos princípios gerais do direito QUADRO SINÓTICO QUESTÕES COMENTADAS GABARITO QUESTÃO DESAFIO GABARITO QUESTÃO DESAFIO LEGISLAÇÃO COMPILADA JURISPRUDÊNCIA MAPA MENTAL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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