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Prof. Márcio Dourado. 1 Prof. Márcio Dourado Rocha Texto – Aula Presencial : A CIÊNCIA "ECONOMIA" 1. DEFINIÇÕES: Nesta aula serão apresentadas definições de ECONOMIA, propondo destacar seu conteúdo enquanto ciência, sua relação com as demais ciências (política, história, geografia, matemática e estatística); seu objeto; métodos de investigação e a identificação dos problemas econômicos básicos. 1.1. PRIMEIRAS DEFINIÇÕES: A primeira definição de economia foi utilizada por ARISTÓTOLES (384 a.C.), considerado o primeiro analista econômico. A Economia era a Ciência da administração da comunidade doméstica, a ciência do abastecimento, que trata da arte da aquisição. Sua própria etimologia nos oferece uma reflexão: OIKONOMIA, de OIKOS = CASA e NOMOS = LEI. Com as mudanças no curso da história, as questões econômicas vão paulatinamente assumindo importância, principalmente no período pós-renascentista e com o desenvolvimento de novos Estados-Nações (França, Alemanha, Inglaterra, Portugal e posteriormente a descoberta da América). Dois fatores podem ser destacados desta nova fase: o alargamento das dimensões do mundo econômico e à consolidação da figura política do Estado-Nação. Neste sentido a ECONOMIA passa a ter nova definição: "seria um ramo do conhecimento essencialmente voltado para melhorar a administração do Estado, sob o objetivo central de promover seu fortalecimento. Portanto, atendia aos objetivos políticos do Estado. 1.2. DEFINIÇÕES CLÁSSICAS A partir do século XVII, a ECONOMIA passa a ingressar em sua fase científica, os princípios fundamentais da economia foram reformulados por pensadores econômicos. As principais obras publicadas foram Prof. Márcio Dourado. 2 a) 1758 - FRANÇOIS QUESNAY (Francês), o Tableau Economique (Quadro Econômico), tendo como fundamento que toda riqueza se extraía da natureza e a agricultura seria a única atividade geradora de excedentes. A vida econômica obedecia a leis naturais que deveriam ser respeitadas pelos governantes, como o direito à propriedade e a liberdade de ação segundo os interesses individuais de cada pessoa. b) 1776 - ADAM SMITH (escocês), A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua Natureza e suas Causas, que segundo o autor haveria uma "mão - invisível" responsável pela regulação da economia. Essas duas obras representaram o passo inicial para que os pensadores econômicos dedicassem suas atenções aos estudos sobre a descoberta, análise dos princípios, teorias e leis que pudessem ser estabelecidas para os três compartimentos da atividade econômica: FORMAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E CONSUMO das riquezas. As definições da ECONOMIA fundamentaram-se nessa chamada trilogia teórica (formação, distribuição e consumo), os principais representantes foram: MALTHUS, LAW, STUART MILL, QUESNAY, CANTILLON, DAVID RICARDO E JEAN BAPTISTE SAY. 1.3. DEFINIÇÕES CONTEMPORÂNEAS: As definições baseadas na trilogia teórica prevaleceram até as últimas décadas do século XIX, quando o teórico ALFREDO MARSHAL, em seu livro publicado em 1890 "Princípios de Economia", propôs uma nova definição: a ECONOMIA é a ciência que examina a parte da atividade individual e social essencialmente consagrada a atingir e utilizar as condições da escassez das nações, produzindo bens e serviços a fim de atender as ilimitadas necessidades das pessoas". A definição de Marshall constitui uma divisória entre as definições clássicas e contemporâneas; os clássicos não se ocupavam com as causas e conseqüências das depressões, escassez e atraso econômico, já os contemporâneos atribuíam à ECONOMIA a análise das causas das prosperidades e recessão, examinando os problemas decorrentes da escassez em face às ilimitadas necessidades humanas e a investigação das condições necessárias para universalização do bem-estar dos povos. O autor LIONEL ROBBINS, em sua obra em 1932, "Ensaios, Natureza e Significado da Ciência Econômica", incorporou definitivamente à nova definição da ECONOMIA o problema da e escassez, uma vez considerada as necessidades ilimitadas das pessoas. Definiu ECONOMIA: "como sendo a ciência que estuda as formas do comportamento humano, resultante da relação existente entre as ilimitadas necessidades a satisfazer e os recursos que, embora escassos, se prestam a usos alternativos". O autor PAUL SAMUELSON, definiu assim ECONOMIA: "é a ciência que se preocupa com o estudo das leis econômicas indicadoras do caminho que deve ser seguido para que seja mantida em nível elevado a produtividade, melhorando o padrão de vida das populações e empregados corretamente os recursos escassos". A ECONOMIA passa a ser considerada a "Ciência da Escassez, e os teóricos contemporâneos observaram que, o atendimento a quaisquer objetivos de bem-estar e universalização do desenvolvimento econômico, dependeria, essencialmente, da melhor administração dos recursos escassos. Portanto, é o estudo da escassez e dos problemas dela decorrentes. Na evolução das definições pode-se observar que a trilogia clássica (formação, distribuição e consumo das riquezas) foi contemporaneamente substituída pela dicotomia: recursos escassos e necessidades ilimitadas. Prof. Márcio Dourado. 3 1.4. CONCEPÇÕES E DEFINIÇÕES SOBRE CIÊNCIA ECONÔMICA O marco inicial da etapa científica da Teoria Econômica coincidiu com os grandes avanços da técnica e das ciências físicas e biológicas, nos séculos XVIII e XIX. Nesse notável período da evolução do conhecimento humano, a Economia construiu seu núcleo científico, estabeleceu sua área de ação e delimitou suas fronteiras com outras ciências sociais. A construção de seu núcleo científico fundamentou-se no enunciado de um apreciável volume leis econômicas, desenvolvidas a partir das concepções mecanicistas, organicistas e posteriormente humanas, através das quais os economistas procuraram interpretar os principais fenômenos da atividade econômica. Os economistas do grupo Organicista pretendiam que o organismo econômico se comportasse como um órgão vivo. Os problemas de natureza econômica eram expostos numa terminologia retirada da Biologia, tais como "órgão", "função", circulação, "fluxos", "fisiologia", etc. A concepção Organicista da Economia se faz presente em vários textos históricos, por exemplo: "as partes principais da Economia Social são relacionadas com os órgãos dos quais a sociedade se serve para a criação, a distribuição e o consumo dos bens, do mesmo modo como as partes principais da fisiologia do homem são os órgãos que se relacionam com a nutrição, o crescimento e o desenvolvimento do corpo humano". 1 Já os mecanicistas pretendiam que as leis da economia se comportassem como determinadas leis da Física e a terminologia usada era: "estática", "dinâmica", "aceleração", rotação", "fluidez", "força", etc. Os textos referentes são: "A Economia deveria se ocupar dos resultados produzidos por uma combinação de forças e esses resultados deveriam ser descobertos com o auxilio da natureza mecânica das atividades individuais." 22 Todavia, as concepções Organicista e mecanicista, hoje, foram ultrapassadas pela concepção humana da Economia, a qual coloca no plano superior os móveis psicológicos da atividade humana. A Economia repousa sobre os atos humanos e é por excelência uma ciência social. Apesar da tendência atual ser a de se obter resultados cada vez mais precisos para os fenômenos econômicos, é quase que impossível se fazer análises puramente frias e numéricas, isolando as complexas reações do homem no contexto das atividades econômicas. Felizmente, porém, o economista não precisa dar respostas com aproximação de muitas casas decimais, pelo contrário, se apenas conseguir determinar o sentido geral de causas e efeitos já terá dado um formidável passo avante. Após todos esses enfoques a respeito da concepção daeconomia sua melhor definição foi dada pelo economista americano Paul Samuelson: "Economia é uma ciência social que estuda a administração dos recursos escassos entre usos alternativos e fins competitivos." Para complementar pode-se lembrar das palavras do Professor Antônio Delfim Netto: "Economia é a arte de pensar". Apesar de especificado seu objeto, a Economia relaciona-se com as demais áreas do conhecimento humano. A seguir discutiremos a inter-relação da Economia com as demais ciências. Veremos que a Economia é uma ciência social, ou seja, poderemos afirmar que ela não tem como agir sozinha, depende das outras ciências sociais como, a Geografia, História, Direito, Política, Sociologia matemática, Estatística, para a solução dos problemas. 2. OBJETO DA ECONOMIA: 1 Texto de Jean B. Say - Século XVIII. 2 Texto de Hermann H. Gossen - século XIX: Prof. Márcio Dourado. 4 Seguindo o curso das definições, o OBJETO DA ECONOMIA, também evoluiu historicamente, desde as primeiras escolas econômicas do século XVIII até os dias atuais, analisaremos a seguir essa evolução: Para ADAM SMITH, em seu livro "A Riqueza das Nações", esclarece que o OBJETO da economia era o de empreender pesquisa sobre a natureza e as origens das riquezas das nações, dizia respeito à formação das riquezas; Para DAVID RICARDO, o OBJETO da economia dizia respeito ao terreno das investigações sobre a repartição da riqueza, ou seja, sua distribuição; Para KEYNES, em seu livro "A Teoria Geral" de 1936, o OBJETO da economia deveria centralizar na pesquisa das forças que governam o volume da produção e do emprego em seu conjunto , estava analisando o plano da produção, através da análise das flutuações da atividade econômica, por isso a economia deveria primordialmente preocupar-se em corrigir os desajustes e desequilíbrios. O OBJETO central da Economia Contemporânea mantém-se ligado à dicotomia entre recursos escassos e necessidades ilimitadas. Após a 2ª Guerra Mundial o OBJETO da economia passa a ser estabelecido pelo exame das condições necessárias à promoção do desenvolvimento econômico das nações. Na ECONOMIA MODERNA o objetivo é promover simultaneamente o progresso e a satisfação de produção de seus frutos, ou seja, desenvolvimento e repartição. EVOLUÇÃO DO SIGNIFICADO DO OBJETO DA ECONOMIA TEÓRICOS SÉCULO XVIII TEÓRICOS SÉCULO XIX MODERNOS ECONOMISTAS Formação da Riqueza Repartição da Riqueza Objeto Duplo: Estudo das flutuações da atividade econômica e da promoção do desenvolvimento; Investigação sobre a repartição da riqueza 2.1 . OBJETO DA CIÊNCIA ECONÔMICA. A LEI DA ESCASSEZ "Os recursos são limitados e as necessidades humanas são ilimitadas." Em Economia tudo se resume a uma restrição quase que física - a lei da escassez, isto é, produzir o máximo de bens e serviços a partir dos recursos disponíveis a cada sociedade. Se uma quantidade infinita de cada bem pudesse ser produzida, se os desejos humanos pudessem ser completamente satisfeitos, não importaria que uma quantidade excessiva de certo bem fosse de fato produzida. Nem importaria que os recursos disponíveis, trabalho, terra e capital (este deve ser entendido como máquinas, edifícios, matérias-primas, etc.), fossem combinados irracionalmente para a produção de bens. Não havendo o problema da escassez, não faz sentido se falar em desperdício ou em uso irracional dos recursos e na realidade só existiriam os "bens livres". Bastaria fazer um perdido e, pronto, um carro apareceria de graça. Prof. Márcio Dourado. 5 Na realidade, ocorre que a escassez de recursos disponíveis acaba por gerar a escassez dos bens - chamados "bens econômicos". Por exemplo: as jazidas de minério de ferro são abundantes, porém, o minério pré-usinável, as chapas de aço e finalmente o automóvel são bens econômicos escassos. Logo, o conceito de escassez econômica deve ser entendido como a situação gerada pela razão de se produzir bens com recursos limitados, a fim de satisfazer as ilimitadas necessidades humanas. Todavia, somente existirá escassez se houver uma procura para a aquisição do bem. Por exemplo: o hino nacional na cabeça de um alfinete é um bem raro, mas não é escasso porque não existe uma procura para aquisição. Poder-se-ia perguntar: porque são os bens procurados (desejados)? A resposta é relativamente simples: um bem é procurado porque é útil. Por UTILIDADE entende-se "a capacidade que tem um bem de satisfazer uma necessidade humana.". Desta última definição resta-nos conceituar o que são bem e necessidade humana. BEM é tudo aquilo capaz de atender uma necessidade humana. Eles podem ser: MATERIAIS - pois se pode atribuir-lhes características física de peso, forma, dimensão, etc. Por exemplo: automóvel, moeda, borracha, relógio, etc.; IMATERIAIS - são os de caráter abstrato, tais como: a aula ministrada, a hospedagem prestada, a vigilância do guarda-noturno, etc. (em geral todos os serviços prestados são bens imateriais, ou seja, se acabam quase que simultaneamente à sua produção). O conceito de necessidade humana é concreto, neutro e subjetivo, porém, para não se omitir da questão, definir-se á "NECESSIDADE HUMANA" como qualquer manifestação de desejo que envolva a escolha de um bem econômico capaz de contribuir para a sobrevivência ou para a realização social do indivíduo. Assim sendo, ao economista interessa a existência das necessidades humanas a serem satisfeitas com bens econômicos, e não a validade filosófica das necessidades. Para se perceber a dificuldade da questão, é melhor exemplificar: para os muitos pobres, a carne seca pode ser uma necessidade e não o ser para os mais ricos; para os pobres um carro pode não ser uma necessidade, porém, para os da classe média já o é; para os ricos a construção de uma mansão pode ser uma necessidade, ao passo que pode não o ser para os de renda média. O fato concreto é que no mundo de hoje todos pensam que desejam e "necessitam" de geladeiras, esgotos, carros, televisão, rádios, educação, cinemas, livros, roupas, cigarros, relógio, etc. As ilimitadas necessidades já se expandem para fora da esfera biológica da sobrevivência. Poder-se-ia pensar que o suprimento dos bens destinados a atender às necessidades biológicas das sociedades modernas seja um problema solucionado com ele também o problema da escassez. Todavia, numa contra-argumentação dois problemas surgem: o primeiro é que essas necessidades renovam-se dia a dia e exigem contínuo suprimento dos bens a atendê-las; segundo é a constante criação de novos desejos, e necessidades, motivadas pela perspectiva que se abre a todos os povos, de sempre aumentarem o padrão de vida. Da noção biológica, devemos evidentemente passar à noção psicológica da necessidade, observando que a saturação das necessidades, e, sobretudo dos desejos humanos, está muito longe de ser alcançada, mesmo nas economias altamente desenvolvida de nossa época. Consequentemente, também o problema de escassez se renova. Uma vez explicado o sentido econômico de escassez e necessidade, torna-se fácil entender que "ECONOMIA é a ciência social que ocupa da administração dos recursos escassos entre usos alternativos e fins competitivos", ou "ECOPNOMIA é o estudo da organização social, através da qual os homens satisfazem suas necessidades de bens e serviços escassos". As definições trazem de forma explícita que o objeto da Ciência Econômica é o estudo da escassez e que ela se classifica entre as Ciências Sociais. Prof. Márcio Dourado. 6 3. PROBLEMAS ECONÔMICOS BÁSICOS Nas bases de qualquer comunidade se encontra sempre a seguinte tríade de problemas econômicos básicos: O QUE e QUANTO produzir? - Isto significa quais os produtos deverão ser produzidos (carros, cigarros,café, roupa, etc.) e em que quantidades deverão ser colocadas à disposição dos consumidores. COMO produzir? - Isto é, por quem serão os bens e serviços produzidos, com que recursos e de que maneira ou processo técnico. PARA QUEM produzir? - Ou seja, para quem se destina a produção, fatalmente para os que têm renda. É muito fácil entender que: QUAIS, QUANTO, COMO e PARA QUEM produzir não seriam problemas se os recursos utilizáveis fossem ilimitados. Todavia, na realidade existem ilimitadas necessidades e limitados recursos disponíveis e técnicas de fabricação. Baseada nessas restrições, a Economia deve optar dentre os bens a serem produzidos e os processos técnicos capazes de transformar os recursos em produção. 3.1. A TRÍADE DOS PROBLEMAS CENTRAIS: O QUE E QUANTO, COMO E PARA QUEM PRODUZIR Dentro desta linha de análise, observamos então que todas as sociedades sempre se defrontaram, além dos dilemas básicos, com uma tríade de problemas fundamentais, que se inter-relacionam nos níveis econômico, tecnológico e social. A questão econômica só será plenamente solucionada se houver eficiência tecnológica convenientemente dosada, completando-se através de eficiente sistema distributivo. A solução da questão tecnológica somente alcançará sua plenitude se as opções econômicas e sociais se revelarem lógicas e pertinentes. Como registra Shackle, a eficiência técnica pressupõe a eficiência econômica; nenhum método de produção pode atingir seu mais alto grau de eficiência econômica se não alcançar, para determinada combinação de quantidades de produção, seu mais elevado grau de eficiência técnica. De igual forma, a questão social, intimamente ligada aos problemas do bem-estar, só será também satisfatoriamente solucionada quando integrada à solução das questões econômicas e tecnológicas. Na Tabela 7.1 resumimos, a partir de seus níveis de referência, os esquemas básicos de solução aplicáveis à tríade dos problemas econômicos fundamentais. Como aí se observa, a solução do problema o que e quanto produzir (ECONÔMICO) implica a adoção de lógicas opções, situadas necessariamente sobre as fronteiras de produção econômica. As unidades de produção instaladas no sistema somente deverão dedicar-se à produção de chá, amendoim, revistas, lã, medicamentos, eletrodomésticos (ou quem por ela esteja decidindo) julgar que esses bens, nas quantidades que estão sendo produzidos, são os que atendem mais adequadamente às necessidades e desejos existentes. Caso contrário, como a finalidade essencial do aparelho produtivo da economia é atender, em escala ótima, as prioridades sociais manifestadas, se esses bens não satisfizerem plenamente às aspirações coletivas, outras Prof. Márcio Dourado. 7 opções deverão ser adotadas, até que as unidades de produção realmente se ajustem às escalas ideais de preferência. De outro lado, a solução da questão como produzir (TECNOLÓGICO) implica a obtenção de máxima eficiência na combinação e na alocação dos recursos disponíveis. Como os recursos são escassos e as necessidades ilimitadas, os estoques de fatores produtivos devem ser combinados com vistas à realização de níveis ótimos de produção. As técnicas de produção empregadas devem conduzir à máxima relação entre a produção total obtida e a quantidade empregada de recursos. Se a combinação e a alocação dos recursos mobilizados não conduzem aos máximos níveis possíveis, então novos métodos de produção deverão ser praticados, para que não se desperdicem as potencialidades existentes. Por fim, a solução da questão para quem produzir (SOCIAL) implica a obtenção de eficiência distributiva. Aqui não se trata de alcançar as fronteiras de produção, mas sim as do bem-estar social e individual. Maximizar o produto é, sem dúvida, uma importante meta, mas distribuí-lo satisfatoriamente entre os que participam do processo produtivo é também um objeto de importância fundamental. Defrontam-se, assim, os sistemas econômicos constituídos não apenas com os problemas relacionados à otimização das opções de produção e de emprego dos recursos, mas ainda com os decorrentes da atribuição, aos proprietários dos recursos mobilizados, de parcelas justas e compatíveis com as contribuições individuais. TABELA 6.1 NÍVEIS DE REFERÊNCIA E ESQUEMA DE SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS ECONÔMICOS FUNDAMENTAIS 1. O QUE E QUANTO PRODUZIR ECONÔMICO Adoção de opções lógicas, que satisfaçam plenamente às necessidades e aos desejos da coletividade. Pressupõe que as fronteiras de produção sejam atingidas. 2. COMO PRODUZIR TECNOLÓGICO Obtenção de eficiência produtiva. Pressupõe eficiente combinação, ótima alocação dos recursos e maximização dos níveis de produção pela plena mobilização dos fatores disponíveis. 3. PARA QUEM SOCIAL Obtenção da eficiência distributiva. Pressupõe que as fronteiras do bem- estar individual e social sejam alcançadas. Essas considerações indicam que a constituição de um Sistema Econômico Ideal, capaz de harmonizar a solução dos três problemas econômicos centrais, talvez represente o objeto-síntese da organização econômica das nações. Como indicamos na Figura 7.1, os três problemas econômicos fundamentais encontram-se fortemente inter-relacionados, de tal sorte que - conseguindo compatibilizar as soluções envolvidas - um sistema ideal deveria obter elevada eficiência produtiva, combinada com apreciável eficiência distributiva. A primeira seria alcançada através de corretas opções econômicas e tecnológicas; a Segunda, através de correta repartição da produção elaborada. Prof. Márcio Dourado. 8 Em tal sentido, a solução integrada dos problemas envolvidos deverá ser conduzida ao seu ponto máximo, de tal forma que se eleve à mais alta expressão possível a área representada pelo intercruzamento dos três círculos da figura em referência. Numa situação extrema, se houvesse perfeita harmonização e compatibilização no encaminhamento dos três problemas fundamentais, os três círculos ficariam justapostos e a área de intercruzamento alcançaria sua mais alta expressão. FIGURA 6.1 INTER-RELAÇIONAMENTO DA TRÍADE DOS PROBLEMAS ECONÔMICOS CENTRAIS Numa outra situação extrema - naturalmente desaconselhável sob todos os aspectos - se não houvesse qualquer harmonização no encaminhamento e na solução dos três problemas fundamentais, cada um dos três círculos estaria afastados dos outros dois. A total falta de intercruzamento evidenciaria, nesse caso, um sistema incapaz de harmonizar a solução dos três problemas econômicos fundamentais - em seus níveis econômicos, tecnológicos e sociais. Essa esquematização sugere que, se fosse possível medir o grau de perfeição de um sistema econômico, certamente a medição seria feita através de elementos que possibilitassem O QUE E QUANTO PRODUZIR Adoção de opções que satisfaçam plenamente às necessidades coletivas. COMO PRODUZIR Combinação eficiente e ótima locação dos recursos PARA QUEM PRODUZIR Correta repartição da produção obtida com vista à justiça distributiva A constituição de um sistema econômico ideal implica a gradativa ampliação desta área do cruzamento. Prof. Márcio Dourado. 9 a correta delimitação da área de intercruzamento dos três círculos - quanto maior ela se apresentar, maior o grau de perfeição do sistema. Inversamente, quanto mais os círculos estiverem afastados entre si, menor a área de inter-cruzamento e menor o grau de perfeição correspondente. Evidentemente, a harmonização dos três problemas fundamentais não é fácil de ser alcançada. Ela constitui a própria razão de ser da Análise Econômica. Cada um dos três problemas básicos é de difícil solução, uma vez que resumem objetivos econômicos, tecnológicose sociais nem sempre plenamente alcançados, mesmo isoladamente. Há sistemas que talvez tenham conseguido, sobretudo em períodos de plena mobilização,, elevadíssimos graus de eficiência econômica e tecnológica. Outros talvez se tenham aproximado da execução de programas distributivos aparentemente justos. Mas, certamente serão menos comuns os exemplos de sistemas que tenham conseguido no passado ou que consigam nos dias atuais uma satisfatória combinação da necessidade eficiência tecnico-produtiva com a reclamada justiça distributiva. 4. 2. AS OPÇÕES TECNOLÓGICAS. CONCEITOS DE CURVA DE TRANSFORMAÇÃO E CUSTO DE OPORTUNIDADE A análise conjunta da escassez dos recursos e das ilimitadas necessidades humanas conduz à conclusão de que a Economia é uma ciência ligada a problemas de escolha. Com a limitação do total de recursos capazes de produzir diferentes mercadorias impõe-se uma escolha para a produção entre mercadorias relativamente escassas. Ao decidir "o que" deverá ser produzido e "como", o sistema econômico terá realmente decidido como alocar ou distribuir os recursos disponíveis entre os milhares de diferentes possíveis linhas de produção. Quanta terra destinar-se-á ao cultivo do café? Quanto à pastagem? Quantas fábricas para a produção de camisas? Quantas ao automóvel? Analisar todos esses problemas simultaneamente é por demais complicado. Para simplificar, suponha- se que somente dois bens econômicos deverão ser produzidos: camisas e carros. Haverá sempre uma quantidade máxima de carros (camisas) produzida anualmente, quando todos os recursos forem destinados à sua produção e nada à produção de camisas (carros). A quantidade exata depende da quantidade e da qualidade dos recursos produtivos existentes na Economia e do nível tecnológico com que sejam combinados. Evidentemente, fora das quantidades máximas existem infinitas possibilidades de combinações intermediárias entre carros e camisas a serem produzidos. Analisaremos a tabela abaixo: TABELA 6.2 BENS QUANTIDA DE MÁXIMA DE CARROS Possibilidades Intermediárias Quantidade Máxima de camisas A B C D E F Carros(milha res) 150 140 120 90 70 0 0 10 20 30 40 50 Prof. Márcio Dourado. 10 Pode-se representar tal tabela conforme gráfico abaixo: F 50 - 40 - 30 - 20 - 10 - 0 50 100 150 computadores (milhares) Unindo-se os pontos tem-se a chamada "curva das possibilidades de produção" ou curva de transformação, na medida em que se passa do ponto A para B, de B para C e assim por diante, até F, em que se estará transformando carros em camisas. È óbvio que a transformação não é física, mas sim transferindo-se recursos de um processo de produção para outro. A curva de transformação representa um importante fato: "Uma economia em pleno emprego precisa sempre, ao produzir um bem, desistir de produzir um tanto de outro bem". Aparece aqui a chance de se definir um dos conceitos mais importantes da Economia: "O Custo Oportunidade". Tome-se o exemplo das camisas e dos carros. Devido à limitação de recursos, os pontos de maior produção aparecem sobre a curva de transformação (A;B;:::F). Assim sendo, para a fabricação de carros - A - estar-se-ia sacrificando toda a produção de camisas. Logo, o custo de oportunidade corresponde exatamente ao sacrifício do que se deixou de produzir, ou, em outras palavras, o custo ou a perda do que não foi escolhido e não o ganho do que foi escolhido. Da mesma forma, se estivesse em B (carros = 140, camisas = 10) e passasse a C (carros = 120, camisas = 20), o custo de oportunidade seria o sacrifício de se deixar de produzir 20 mil carros. De uma forma geral ele "é o sacrifício de se transferir os recursos de uma atividade para outra." Todo aluno tem seu custo de oportunidade, que é o sacrifício de se estar estudando no curso de Administração, Economia, Processamento de Dados, etc. em vez de estar trabalhando e recebendo um salário. Sumarizando: as condições básicas para a existência do custo de oportunidade são: recursos limitados; pleno emprego dos recursos. O Que acontecerá se houver desemprego geral de fatores: homens desocupados, terras inativas, fábricas ociosas? Para esse caso, os pontos de possibilidade de produção não se encontrarão sobre a curva de transformação, mas sim em algum lugar dentro da área limitada pela curva e pelos eixos coordenados. Camisas (milhões) E D C B A Curva da Transformação da Produção Prof. Márcio Dourado. 11 Por exemplo, poderá ser o ponto dentro da área, conforme o gráfico abaixo: 50 40 30 20 15 10 0 50 100 150 A produção em P significa 100mil carros e 15 milhões de camisas. Poder-se-ia mover para o ponto C apenas pondo os recursos ociosos a trabalhar, aumentando a produção de carros e camisas a um só tempo. O custo oportunidade para o ponto P é zero, porque não há sacrifício algum para se produzir mais ambos os bens. Razão da curva de transformação ser decrescente se deve ao fato de os recursos disponíveis serem limitados. O formato da curva mostra que se decresce a taxas crescentes, isto significa que a substituição entre quantidade dos dois bens se torna cada vez mais difícil. Isto quer dizer que, na medida em que está consumindo (produzindo) pouco de um bem, o sacrifício de se consumir (produzir) menos ainda é muito grande. Por exemplo, passando de B para C, ganham-se 10 milhões de camisas e sacrificam-se 20 mil carros. Agora, se passar de D para E, ganham-se 10 milhões de camisas, porém, sacrificam-se 40 mil carros. Este fenômeno dos custos crescentes surge na medida em que se transferem recursos adequados e eficientes de uma atividade para outra, onde eles se apresentam ineficientes e inadequados. Assim, se insistir somente na produção de camisas, tem-se que recorrer aos soldadores de chapas de aço para passarem a pregar mangas de camisas, ainda que muitos poucos consigam fazê-lo. Essa é a razão de se esperar a vigência da lei dos custos crescentes, ou dos rendimentos decrescentes.
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