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Processo nº 0362749-45.2012.8.05.0001 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Segunda Câmara Cível ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ MK4/E Páginas 1 de16 Processo : Apelação nº 0362749-45.2012.8.05.0001 Foro de Origem: Comarca de Salvador Órgão Julgador : Segunda Câmara Cível Apelante : Banco Pan S.A. ( Atual denominação de Banco Panamericano S/A) Advogado : Cristiane Belinati Garcia Lopes (OAB: 25579/BA) Advogado : Flaviano Bellinati Garcia Perez (OAB: 24102BP/R) Advogado : Virginia Neusa Costa Mazzucco (OAB: 42595/BA) Apelante : Raul Gonçalves de Almeida Costa Advogado : Luis Renato Leite de Carvalho (OAB: 7730/BA) Apelado : Banco Pan S.A. ( Atual denominação de Banco Panamericano S/A) Apelado : Raul Gonçalves de Almeida Costa Relator : Mauricio Kertzman Szporer ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. APELAÇÕES SIMULTÂNEAS. DESERÇÃO CONFIGURADA NO RECURSO DO RÉU. ART. 511 DO CPC. INADMISSIBILIDADE. Na forma das disposições contidas no art. 511 do CPC, o recorrente comprovará, no ato de interposição do recurso, assim quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção. Desse modo, em havendo previsão de custas para o oferecimento do recurso, configura-se deserto o apelo quando protocolado sem os comprovantes originais de efetuação do preparo. RECURSO DO AUTOR CONHECIDO PARCIALMENTE. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. FALTA DE INTERESSE RECURSAL. Não poderá a parte recorrer daquilo em que aproveita totalmente da decisão de primeiro grau. JUROS REMUNERATÓRIOS. ABUSIVIDADE NÃO CONFIGURADA. Tendo os juros remuneratórios valor não superior a taxa média de mercado à época do contrato, não restará configurada a abusividade da cláusula. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. POSSIBILIDADE. A capitalização de juros é permitida quando expressamente pactuada em contrato. HONORÁRIOS DE ADVOGADO. FIXADOS EM 15% SOBRE O VALOR DA CONDENAÇÃO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. Vistos, relatados e discutidos os autos do Apelação nº 0362749-45.2012.8.05.0001, da Comarca de Salvador em que é recorrente Banco Pan S.A. ( Atual denominação de Processo nº 0362749-45.2012.8.05.0001 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Segunda Câmara Cível ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ MK4/E Páginas 2 de16 Banco Panamericano S/A) e Raul Gonçalves de Almeida Costa e recorrido Banco Pan S.A. ( Atual denominação de Banco Panamericano S/A) e Raul Gonçalves de Almeida Costa. ACORDAM, os Desembargadores integrantes da Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça da Bahia, à unanimidade NEGAR SEGUIMENTO ao recurso do réu, CONHECER PARCIALMENTE e DAR PROVIMENTO PARCIAL ao recurso do autor, nos termos do voto do relator. Salvador/BA, __ de _______________ de 2015. Presidente Mauricio Kertzman Szporer Relator Procurador(a) de Justiça Processo nº 0362749-45.2012.8.05.0001 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Segunda Câmara Cível ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ MK4/E Páginas 3 de16 Processo : Apelação nº 0362749-45.2012.8.05.0001 Foro de Origem: Comarca de Salvador Órgão Julgador : Segunda Câmara Cível Apelante : Banco Pan S.A. ( Atual denominação de Banco Panamericano S/A) Advogado : Cristiane Belinati Garcia Lopes (OAB: 25579/BA) Advogado : Flaviano Bellinati Garcia Perez (OAB: 24102BP/R) Advogado : Virginia Neusa Costa Mazzucco (OAB: 42595/BA) Apelante : Raul Gonçalves de Almeida Costa Advogado : Luis Renato Leite de Carvalho (OAB: 7730/BA) Apelado : Banco Pan S.A. ( Atual denominação de Banco Panamericano S/A) Apelado : Raul Gonçalves de Almeida Costa Relator : Mauricio Kertzman Szporer RELATÓRIO Adoto o relatório da sentença (fls. 176/180) proferida pelo juízo da 27ª Vara dos Feitos de Relações de Consumo, Cíveis e Comercias da Comarca de Salvador que, nos autos da Ação Revisional, julgou parcialmente procedente a demanda, determinando o afastamento de taxas de abertura de crédito e emissão de boleto, restituindo-se o valor pago indevidamente e limitando a exigência de comissão de permanência à não cumulação com os juros, correção monetária e multa, podendo ser exigida isoladamente. Da sentença, interpôs recurso de apelação o réu, às fls. 182/208, sustentando, em síntese, a legalidade da cobrança da TAC; a legitimidade da cobrança da tarifa de emissão de carnê e da comissão de permanência; pugna pela inexistência de cobrança indevida e acréscimo de taxas ilegais ou cumulação de comissão de permanência com juros remuneratórios ou índices de correção monetária; afirma obedecer a lei quanto à fixação da multa e juros moratórios; conclui entendendo não haver valores pagos a maior pelo consumidor, o que resultaria na inexistência de indébito a ser repetido. Do mesmo decisum, apelou o autor, RAUL GONÇALVES DE ALMEIDA COSTA, Processo nº 0362749-45.2012.8.05.0001 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Segunda Câmara Cível ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ MK4/E Páginas 4 de16 visando a reforma da sentença no que concerne ao afastamento da comissão de permanência cumulada a outros encargos, assim como o da capitalização de juros; que sejam considerados abusivos os juros remuneratórios aplicados, concluindo pela repetição dos valores pagos a maior. Embora tenham sido devidamente intimados, ambas as partes não apresentaram contrarrazões ao recursos dos seus respectivos adversários processuais. Este é o relatório, que encaminho ao crivo do eminente Desembargador Revisor. Salvador/BA, __ de _______________ de 2015. Mauricio Kertzman Szporer Relator Processo nº 0362749-45.2012.8.05.0001 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Segunda Câmara Cível ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ MK4/E Páginas 5 de16 Processo : Apelação nº 0362749-45.2012.8.05.0001 Foro de Origem: Comarca de Salvador Órgão Julgador : Segunda Câmara Cível Apelante : Banco Pan S.A. ( Atual denominação de Banco Panamericano S/A) Advogado : Cristiane Belinati Garcia Lopes (OAB: 25579/BA) Advogado : Flaviano Bellinati Garcia Perez (OAB: 24102BP/R) Advogado : Virginia Neusa Costa Mazzucco (OAB: 42595/BA) Apelante : Raul Gonçalves de Almeida Costa Advogado : Luis Renato Leite de Carvalho (OAB: 7730/BA) Apelado : Banco Pan S.A. ( Atual denominação de Banco Panamericano S/A) Apelado : Raul Gonçalves de Almeida Costa Relator : Mauricio Kertzman Szporer VOTO 1. Do Recurso do Réu. Deixo de dar seguimento ao recurso, pois ausente pressuposto de admissibilidade. A irresignação não merece seguimento e comporta julgamento monocrático, a teor do quanto disposto no caput do art. 557, do Código de Processo Civil. A propósito, confira-se: "Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivotribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior". Nas lições de Barbosa Moreira, in "O juízo de admissibilidade no sistema dos recursos cíveis", Revista de Direito da Procuradoria Geral do Estado da Guanabara, vol. 19, pág. 195: "Ao proferi-lo, o que faz o órgão judicial é verificar se estão ou não satisfeitos os requisitos indispensáveis à legítima apreciação do mérito do recurso", pelo que justificada a aplicação do art. 557 do CPC. Processo nº 0362749-45.2012.8.05.0001 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Segunda Câmara Cível ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ MK4/E Páginas 6 de16 Isso porque, o presente apelo fora apresentado sem a regular comprovação de recolhimento das custas recursais e porte de remessa e retorno. Veja. Compulsando os autos do apelo verifica-se que o apelante foi intimado, nos termos do despacho de fl. 258, para apresentar no prazo de 05 (cinco) dias, o comprovante original do recolhimento das custas recursais, sob pena de negativa de seguimento em razão da sua deserção. Consta, da petição de fl. 260, que o apelante, apesar de regularmente intimado, quedou- se inerte, deixando de atender o comando acima exarado, não apresentando os comprovantes originais de recolhimento das custas recursais, em vez disso, juntou petição informando a impossibilidade de fazê-lo, justificando-se no lapso temporal entre a interposição do recurso e o despacho e requerendo o Tribunal para que, em caso de dúvida acerca dos pagamentos, oficiasse o sacado da guia para que fosse informada a autenticidade dos mesmos. Dispõe o caput do artigo 511 do Código de Processo Civil que “o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção.” A propósito, leciona a professora TERESA ARRUDA ALVIM WAMBIER, em sua obra: "Os Agravos no CPC Brasileiro, 4ª edição revista ampliada e atualizada, Ed. RT, ano 2006, pág. 283", verbis: "[...] O preparo, como se sabe é um dos pressupostos do exame do mérito dos recursos em geral. É um requisito extrínseco de admissibilidade dos recursos, que consiste no pagamento antecipado, com que tem de arcar a parte, das custas do recurso, que serão pagas, a final, pelo vencido. Esta quantia deve abranger as custas do juízo a quo, do juízo ad quem e do porte de retorno. A Lei 8.950/94 modificou o sistema anterior, passando a exigir que o preparo do Processo nº 0362749-45.2012.8.05.0001 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Segunda Câmara Cível ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ MK4/E Páginas 7 de16 recurso (quando determinado pela legislação pertinente) fosse feito anteriormente à sua interposição e que este pagamento fosse comprovado no momento em que o recurso fosse interposto”. De outro lado, o não cumprimento daquele item obrigatório implica, como implicado está, em deserção da apelação, como se depreende dos julgados do colendo Superior Tribunal de Justiça trazidos à ilustração: "RECURSO EXTRAORDINÁRIO – DESERÇÃO. Constatando-se a inexistência do preparo, descabe observar a intimação prevista no artigo 511, § 2º, do Código de Processo Civil, impondo-se a conclusão sobre a deserção do recurso. AGRAVO – ARTIGO 557, § 2º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – MULTA. Se o agravo é manifestamente infundado, impõe-se a aplicação da multa prevista no § 2º do artigo 557 do Código de Processo Civil, arcando a parte com o ônus decorrente da litigância de má-fé". (STF - ARE: 731230 RJ , Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 20/08/2013, Primeira Turma, Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-184 DIVULG 18-09-2013 PUBLIC 19-09-2013) “AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL. DESERÇÃO CONFIGURADA. ART. 511 DO CPC. I - Na forma das disposições contidas no art. 511 do CPC, o recorrente comprovará, no ato de interposição do recurso, assim quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção. II - Desse modo, em havendo previsão de custas para o oferecimento do recurso, configura-se deserto o apelo quando protocolado sem os comprovantes de efetuação do preparo, nomeadamente por violar a regra do preparo imediato. III - Agravo regimental desprovido.” (AgRg no Ag 996.558/RS, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 03/02/2009, DJe 02/03/2009) Injustificável seria a adoção de nova medida que ensejasse a flexibilização da norma inserta no caput do artigo 511 do Código de Ritos, oportunizando-se, agora, ao apelante a justificação da ausência da apresentação do comprovante original de pagamento do Processo nº 0362749-45.2012.8.05.0001 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Segunda Câmara Cível ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ MK4/E Páginas 8 de16 aludido DAJE e a apresentação da respectiva guia. Certo é que não se trata de obstar o acesso à justiça, mas de proporcionar tratamento igualitário às partes, pois a falha de uma corresponde ao direito da outra no sistema de preclusão dos atos processuais. Ademais, como resta fundamentado, não é de responsabilidade do Poder Judiciário comprovar a autenticidade das custas pagas pela parte suplicante através de ofício ao sacado, cabendo a ela mesma fazê-lo. Sobre o tema, colaciono os seguintes julgados: "CIVIL E PROCESSO CIVIL. AÇÃO REVISIONAL. APELAÇÃO. CÓPIA DO RECURSO DE APELAÇÃO SEM O COMPROVANTE DO PAGAMENTO DO PREPARO RECURSAL. DESERÇÃO. ART. 511 DO CPC. O preparo é um dos requisitos extrínsecos de admissibilidade dos recursos e consiste no prévio pagamento das custas relativas ao processamento do recurso. A ausência ou irregularidade ocasiona o fenômeno da preclusão, fazendo com que seja aplicada a pena de deserção, que impede o conhecimento do recurso. Tal regra é mitigada nos casos de preparo insuficiente ou apresentação de justo impedimento, quando então, o magistrado deverá abrir novo prazo para suprir o referido preparo, o que não ocorreu, na hipótese. Considerando que o apelante foi devidamente intimado a apresentar o recurso de apelação original protocolado com o número do processo equivocado, e mesmo assim quedou-se inerte, limitando-se a juntar a cópia do referido recurso (fls. 120/133), sem contudo, apresentar o comprovante da guia de recolhimento do preparo recursal, tem-se por deserto o recurso de apelação interposto, ensejando o seu conhecimento. Recurso não conhecido". (TJ-BA - APL: 01543716020078050001 BA 0154371-60.2007.8.05.0001, Relator: Rosita Falcão de Almeida Maia, Data de Julgamento: 08/10/2013, Terceira Câmara Cível, Data de Publicação: 15/10/2013) "AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. PREPARO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO SIMULTÂNEA COM A PROTOCOLIZAÇÃO DO RECURSO. DESERÇÃO CARACTERIZADA. ART. 511 DO CPC. “A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é pacífica no sentido de que, nos termos Processo nº 0362749-45.2012.8.05.0001 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Segunda Câmara Cível ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ MK4/E Páginas 9 de16 do art. 511 do Código de Processo Civil, a comprovação do preparo há que ser feita antes ou concomitantemente com a protocolização do recurso, sob pena de caracterizar-se a sua deserção...” (STJ, AgRg no REsp 1248160/PB, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, j. em 16.06.2011, DJe de 24.06.2011). “A comprovação do preparodeve ser feita no ato de interposição do recurso, conforme determina o art. 511 do Código de Processo Civil - CPC, sob pena de preclusão, não se afigurando possível a comprovação posterior...” (STJ, Segunda Turma, REsp 655418/PR, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 30.05.2005, p. 308). Conforme ressaltado pela decisão hostilizada, apesar de devidamente intimado o agravante não colacionou aos autos o comprovante de pagamento ou de autenticação bancária originais, o que impossibilita concluir que o recolhimento do preparo foi devidamente efetivado. O agravante regimental não trouxe à balha fatos e circunstâncias capazes de alterar o convencimento firmado pelo prolatora da decisão. Agravo Regimental improvido". (TJ-BA - AGR: 01522381120088050001 BA 0152238-11.2008.8.05.0001, Relator: Gardenia Pereira Duarte, Data de Julgamento: 26/06/2012, Quarta Câmara Cível, Data de Publicação: 16/11/2012) Desta forma, considero deserto o recurso do réu, ante à ausência de devida comprovação do pagamento do preparo. 2. Do Recurso do Autor. 2.1. Dos Juros Remuneratórios. Acerca dos juros remuneratórios, é legal a cláusula contratual que estipula taxa acima 12% ao ano, consoante disposto na Súmula 382 do STJ. Todavia, acolher tal posicionamento não significa admitir que as instituições financeiras possam aplicar as taxas de juros que lhes aprouver, pois nos casos em que houver abusividade cabe ao Poder Judiciário promover a devida revisão. Nesse particular, o art. 39, V, do CDC, disciplina que é vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas, exigir do consumidor vantagem manifestamente abusiva. Ademais, são nulas de pleno direito as cláusulas contratuais que estabeleçam obrigações Processo nº 0362749-45.2012.8.05.0001 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Segunda Câmara Cível ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ MK4/E Páginas 10 de16 consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade, conforme disposto no art. 51, IV, do CDC. O exagero é presumido nos casos em que a vantagem se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso, conforme art. 51, §1°, III, do CDC. Com efeito, incumbe ao Poder Judiciário perquirir se a cláusula contratual concernente aos juros remuneratórios é excessivamente exagerada para o consumidor. A dificuldade reside em saber qual o parâmetro, ou quais são os parâmetros, que melhor municiam o Magistrado para, no caso concreto, verificar se os juros remuneratórios contratados são exorbitantes ou não. Durante muitos anos, a doutrina e a jurisprudência se debruçaram sobre o tema, na tentativa de chegar a um consenso. O STJ, recentemente, deu resolução ao assunto ao apreciar o RESP N. 1.061.530 - RS (2008/0119992-4) e submetê-lo ao rito dos recursos repetitivos, previsto no art. 543-C. No aludido Recurso Especial ficou sedimentado que a taxa média de mercado é um valioso referencial para aferir se os juros contratados são abusivos, ou não. Em outras palavras, para constatar se a taxa entabulada no contrato é excessivamente onerosa basta confrontá-la com a taxa média de mercado. A taxa média de mercado não é um parâmetro estanque que deve ser aplicado em todos os contratos. Esse é apenas um importante critério para verificar se a taxa aplicada é excessiva, de modo que nada obsta que o magistrado se valha de outros critérios que melhor atenda às peculiaridades do caso concreto. Neste sentido: “APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO C/C CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO - TAXA DE JUROS Processo nº 0362749-45.2012.8.05.0001 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Segunda Câmara Cível ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ MK4/E Páginas 11 de16 REMUNERATÓRIOS SUPERIOR A 12% AO ANO - POSSIBILIDADE, DESDE QUE LIMITADA A TAXA MÉDIA DE MERCADO - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA - POSSIBILIDADE - CAPITALIZAÇÃO DE JUROS - IMPOSSIBILIDADE - RESTITUIÇÃO DE VALORES - RECURSOS IMPROVIDOS. A fixação de juros remuneratórios em patamar superior a 12% ao ano não implica, por si só, na abusividade de sua cobrança. No caso em tela, foram eles pactuados em patamar inferior à taxa média apurada pelo Banco Central do Brasil, o que não demonstra sua excessividade. É reconhecida a legalidade da cobrança da capitalização de juros em periodicidade inferior a um ano, desde que os contratos tenham sido celebrados após 31 de março de 2000 e que ela tenha sido expressamente pactuada. É legal a cobrança da comissão de permanência nos contratos bancários, desde que incidente após o vencimento do débito e à taxa média de mercado, apurada pelo Banco Central do Brasil, e não cumulada com juros remuneratórios, correção monetária, juros moratórios ou multa contratual. Configurada a cobrança de encargos ilegais é reconhecido o direito à restituição dos valores.” (TJ-MS - APL: 08090286320118120001 MS 0809028-63.2011.8.12.0001, Relator: Des. Divoncir Schreiner Maran, Data de Julgamento: 24/09/2013, 1ª Câmara Cível, Data de Publicação: 15/05/2014) “PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL.CAPÍTULOS AUTÔNOMOS. IMPUGNAÇÃO PARCIAL. CABIMENTO. INAPLICABILIDADEDA SÚMULA 182/STJ. JUROS REMUNERATÓRIOS. TAXA SUPERIOR A 12% AO ANO.POSSIBILIDADE. CAPITALIZAÇÃO MENSAL. CABIMENTO. INEXISTÊNCIA DECONTRATO ESCRITO. ÓBICE DA SÚMULA 7/STJ. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA.INVIABILIDADE. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. CABIMENTO. 1. Inaplicabilidade da Súmula 182/STJ ao agravo regimental queimpugna capítulos autônomos da decisão monocrática. Preclusão quantoaos capítulos não impugnados. 2. "A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano,por si só, não indica abusividade" (Súmula 382/STJ). 3. "É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferiora um ano em contratos celebrados após 31.3.2000, data da publicaçãoda Medida Provisória n. 1.963-17/2000 (em vigor como MP2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada" (REsp n.º 973.827,submetido ao art. 543-C do CPC). 4. Inviabilidade de acolher a alegação de inexistência de contratoescrito, quando este é expressamente referido no acórdão recorrido,circunstância incontrastável nesta instância especial, a teor daSumula 7/STJ. 5. "Não descaracteriza a mora o ajuizamento isolado de açãorevisional, nem mesmo quando o reconhecimento de Processo nº 0362749-45.2012.8.05.0001 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Segunda Câmara Cível ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ MK4/E Páginas 12 de16 abusividade incidirsobre os encargos inerentes ao período de inadimplência contratual"(REsp n.º 1.061.530, submetido ao art. 543- C do CPC). 6. "Não é potestativa a cláusula contratual que prevê a comissão depermanência, calculada pela taxa média de mercado apurada pelo BancoCentral do Brasil, limitada à taxa do contrato" (Súmula 294/STJ). 7. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS PARA CONHECER DO AGRAVOREGIMENTAL E NEGAR-LHE PROVIMENTO.(STJ - EDcl no AgRg no Ag: 864272 RS 2007/0024470-9, Relator: Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data de Julgamento: 27/11/2012, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 04/12/2012) Registre-se, que o Banco Central do Brasil publica periodicamente taxa média aplicada em diversos contratos. Segundo consta no sítio do Banco Central do Brasil, a divulgação das taxas de juros praticadas pelas instituições financeiras nas operações de crédito realizadas com recursos livres são segregadas deacordo com tipo de encargo (prefixado, pós-fixado, taxas flutuantes e índices de preços) e com a categoria do tomador (pessoas físicas e jurídicas). Como se vê, no caso dos autos foi firmado entre as partes um contrato de financiamento de veículo, inexistindo onerosidade ou abusividade na cobrança da taxa de juros aplicada (vide fls. 126), estando dentro dos parâmetros acima mencionados. Dessa forma, determino que a aplicação da taxa de juros deva ser pactuada. Mantenho a sentença neste ponto. 2.2. Da Capitalização de Juros. Sob esta prisma, outra questão a ser analisada consiste no questionamento quanto a capitalização de juros, que, no entendimento do autor/recorrente, somente é admitida a anual e incabível a mensal, em face dos dispositivo do Decreto nº 22.626/33 e da Súmula 121 do STF. E ainda, de que independe de prova para sua caracterização, devendo, pois, coibir sua incidência em sentença de natureza declaratória, pois se há Processo nº 0362749-45.2012.8.05.0001 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Segunda Câmara Cível ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ MK4/E Páginas 13 de16 tabela Price, resta impor o seu afastamento, independentemente de perícia contábil, sendo que esta só devera ocorrer em fase de liquidação de sentença. Nesta seara, razão não assiste ao autor, ora apelante, uma vez que restou demonstrada a expressa previsão contratual (fls. 126), na qual percebe-se que a taxa anual de juros supera o valor do duodécuplo da mensal. Sabe-se que desde a edição originária da medida provisória nº. 1.963-17, em 31/03/2000, atualmente vigente sob o número 2.170-36, a capitalização de juros em periodicidade inferior à anual é admitida nos contratos celebrados no âmbito do sistema financeiro, restando assente que tal admissão, em relações consumeristas, se condiciona à expressa previsão contratual. Esse é o entendimento já assentado no âmbito do Superior Tribunal de Justiça: AGRAVO REGIMENTAL - AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU SEGUIMENTO AO RECURSO ESPECIAL. 1- O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp nº 973.827/RS, Relª para acórdão Minª Maria Isabel Gallotti, submetido ao procedimento dos recursos repetitivos (art. 543-C do CPC), assentou entendimento de que é permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos celebrados após 31/3/2000, data da publicação da Medida Provisória nº 1.963-17/2000, em vigor como MP nº 2.170-01, desde que expressamente pactuada. 2 - A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para caracterizar a expressa pactuação e permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada. 3- Agravo regimental provido. (AgRg no AREsp 63.478/SC, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 06/11/2012, DJe 14/11/2012). PROCESSUAL CIVIL. BANCÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS. AUSÊNCIA DE PACTUAÇÃO EXPRESSA. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS N. 5 E 7 DO STJ.PRECEDENTE SUBMETIDO AO RITO DO ART. 543-C DO CPC. RECURSO MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE. Processo nº 0362749-45.2012.8.05.0001 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Segunda Câmara Cível ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ MK4/E Páginas 14 de16 IMPOSIÇÃO DE MULTA. ART. 557, § 2º, DO CPC. 1. A Segunda Seção desta Corte, no julgamento do REsp n. 973.827/RS (Relatora para o acórdão Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, julgado em 8/8/2012, DJe 24/9/2012), submetido ao rito dos recursos especiais repetitivos (art. 543-C do CPC), firmou as seguintes orientações sobre a capitalização de juros: "É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos celebrados após 31.3.2000, data da publicação da Medida Provisória n.1.963-17/2000 (em vigor como MP 2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada". "A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada". 3. No caso, o Tribunal de origem consignou expressamente que não foi pactuada a capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual. Afastar tal conclusão demandaria o reexame da matéria fática e do contrato, o que é vedado pelas Súmulas n. 5 e 7 do STJ.4. A interposição de recurso manifestamente inadmissível ou infundado autoriza a imposição de multa, com fundamento no art. 557, § 2º, do CPC. [...]. (AgRg no AREsp 158.855/PR, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 06/11/2012, DJe 13/11/2012) . Portanto, no esteio dos entendimentos exemplificados nos arestos aqui transcritos, não merece reforma a sentença neste capítulo, admitindo-se a legalidade da capitalização de juros, tendo em vista que o autor, ora apelante, não conseguiu se desvencilhar do seu ônus probatório nesse sentido, nos termos do art. 333 do CPC. Recurso improvido nesta parte. 2.3. Da Comissão de Permanência. Verifico que em relação à comissão de permanência o juízo a quo julgou pela a impossibilidade da sua cumulação com outros encargos contratuais, como consoante na decisão de fls. 176/180. Não obstante, o autor apelou deste capítulo da sentença em que obteve total proveito. Processo nº 0362749-45.2012.8.05.0001 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Segunda Câmara Cível ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ MK4/E Páginas 15 de16 Desta forma, observo a impossibilidade de fazê-lo, devido a ausência de interesse recursal. Verifique-se: "Art. 499. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público." Logo, não merece seguimento o pedido de reforma da sentença em relação ao capítulo concernente à comissão de permanência. 2.4. Da Assistência Judiciária Gratuita. No tocante ao pedido de deferimento dos benefícios da justiça gratuita, verifico que a apelante já se encontra coberto pelo manto da gratuidade, nos termos da decisão terminativa de fls. 176/180, não havendo nada a ser modificado nesse sentido. 2.5. Dos Honorários de Advogado. Por fim, em relação aos honorários sucumbenciais, verifico que o resultado do recurso afeta a proporcionalidade de decaimento das partes, o que por si só autoriza o redimensionamento das verbas de sucumbência, pelo que determino o ônus sucumbencial para condenar o banco-réu no pagamento das custas e honorários, estes na razão de 15% sobre o valor da causa. Dou provimento parcial ao pedido. Conclusão: Ante o exposto, com fulcro no art. 557, do CPC, NEGO SEGUIMENTO à apelação do banco-réu, por sua manifesta inadmissibilidade, nos termos lançados acima e, em relação ao recurso do autor, NÃO CONHEÇO do pedido concernente à comissão de Processo nº 0362749-45.2012.8.05.0001 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Segunda Câmara Cível ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ MK4/E Páginas 16 de16 permanência e DOU PROVIMENTO PARCIAL ao pedido pertinente aos honorários de advogado, determino o pagamento, por parte do banco-réu, a importância de 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação, mantendo a sentença em todos os demais capítulos, pelos seus próprios fundamentos. Publique-se. Intimem-se. Salvador/BA, __ de _______________ de 2015. Mauricio Kertzman SzporerRelator 2015-03-31T17:35:55+0000 Not specified
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