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Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) Autor: Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo 30 de Dezembro de 2021 Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 Índice ..............................................................................................................................................................................................1) Noções Iniciais sobre Concurso de Crimes 3 ..............................................................................................................................................................................................2) Concurso Material de Crimes 4 ..............................................................................................................................................................................................3) Concurso Formal de Crimes 5 ..............................................................................................................................................................................................4) Crime Continuado 7 ..............................................................................................................................................................................................5) Disposições Finais sobre Concurso de Crimes 10 ..............................................................................................................................................................................................6) Questões Comentadas - Concurso de Pessoas - FGV 11 ..............................................................................................................................................................................................7) Questões Comentadas - Concurso de Crimes - FGV 18 ..............................................................................................................................................................................................8) Lista de Questões - Concurso de Pessoas - FGV 22 ..............................................................................................................................................................................................9) Lista de Questões - Concurso de Crimes - FGV 26 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 2 29 CONCURSO DE CRIMES Conceito e natureza O concurso de crimes pode ser de três espécies: concurso formal, concurso material e crime continuado. A exata caracterização de cada um dos institutos é bastante importante, pois isso influenciará na adoção do sistema de aplicação da pena. Três também são os sistemas de aplicação da pena: Sistema do cúmulo material – Aqui, ao agente é aplicada a pena correspondente ao somatório das penas relativas a cada um dos crimes cometidos isoladamente. Foi adotado no que tange ao concurso material (art. 69 do CP), no concurso formal impróprio ou imperfeito (art. 70, caput, 2° parte) e no concurso de penas de multa (art. 72 do CP); Sistema da exasperação – Aplica-se ao agente somente a pena da infração penal mais grave, acrescida de determinado percentual. Foi acolhido no que se refere ao concurso formal próprio ou perfeito (art. 70, caput, primeira parte, do CP) e ao crime continuado (art. 71 do CP); Sistema da absorção – Aplica-se somente a pena da infração penal mais grave, dentre todas as praticadas, sem que haja qualquer aumento. Foi adotado (jurisprudencialmente) em relação aos crimes falimentares, quando da legislação falimentar anterior. Não tem previsão no CP. Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 3 29 Concurso material (ou real) de crimes Está regulado pelo art. 69 do CP: Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Nesse fenômeno, o agente pratica duas ou mais condutas e produz dois ou mais resultados. Pode ser homogêneo, quando todos os crimes praticados são idênticos (ex.: dois homicídios), ou heterogêneo, quando os crimes são diferentes (ex.: um homicídio e uma lesão corporal). EXEMPLO: José vai à casa de Maria e atira nesta, matando-a. Após, procura o marido de Maria, que se banhava. Abre a porta do banheiro e dispara contra o marido de Maria, matando-o também. Nesse caso, temos duas condutas e dois resultados, logo, há concurso material de delitos. A solução neste caso é o sistema do cúmulo material, ou seja, as penas serão somadas. O Juiz irá aplicar a pena do crime 1, aplicar a pena do crime 2 e, ao final, irá proceder à soma das duas penas fixadas, chegando ao montante final. Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 4 29 Concurso Formal de crimes No concurso formal, ou ideal, o agente, mediante uma única conduta, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não. Nos termos do art. 70 do CP: Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Primeiramente, deve ser esclarecido a vocês que deve haver unidade de conduta e pluralidade de resultados. No entanto, a unidade de conduta não significa unidade de atos, pois existem condutas que podem ser fracionadas em diversos atos, como no caso de alguém que mata outra pessoa com diversas pauladas na cabeça. Embora neste caso haja diversos atos, há unidade de conduta. O concurso formal será homogêneo se todos os crimes cometidos mediante a conduta única forem idênticos, e será heterogêneo se os crimes praticados forem diversos. O concurso formal pode ser, ainda, perfeito ou imperfeito: Concurso formal perfeito (próprio) – Aqui o agente pratica uma única conduta e acaba por produzir dois resultados, embora não pretendesse realizar ambos, ou seja, não há desígnios autônomos (Ex.: agente perde a direção do veículo e acaba atropelando e matando dois pedestres que estavam na calçada); Concurso formal imperfeito (impróprio) – Aqui o agente se vale de uma única conduta para, dolosamente, produzir mais de um crime (ex.: Agente quer matar duas vítimas. Para poupar seu trabalho, amarra as duas vítimas juntas, coloca ambas no porta-malas de um veículo e ateia fogo). Via de regra, no concurso formal o sistema utilizado é o da exasperação, utilizando-se como base a pena do crime mais grave, aumentada (exasperada) de 1/6 até a metade (art. 70, primeira parte, do CP). Trata-se, portanto, de uma fórmula de aplicação da pena que visa a beneficiar o réu, em razão do menor desvalor de sua conduta. Entretanto, se estivermos diante de concursoformal imperfeito (impróprio), aplica-se a regra estabelecida pelo art. 70, segunda parte, do CP, ou seja, o sistema do cúmulo material, pois o Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 5 29 agente se valeu de uma única conduta para praticar diversos crimes de maneira dolosa, agindo com intenções autônomas (desígnios autônomos). Há, ainda, a figura que se denominou de cúmulo material benéfico, que ocorre quando o sistema da exasperação se mostra prejudicial ao réu em relação ao sistema da cumulação. EXEMPLO: Imaginem que o agente tenha cometido homicídio doloso simples (pena de 06 a 20 anos) e tenha, culposamente, com a mesma conduta, lesionado levemente uma terceira pessoa, cometendo o crime de lesões corporais culposas em concurso formal com o homicídio (art. 129, § 6° do CP, pena de 02 meses a um ano de detenção). Nesse exemplo acima, o sistema da exasperação é muito prejudicial ao réu. Imagine que pelo homicídio doloso o agente tenha recebido pena de 10 anos de reclusão, e pelo crime de lesão corporal leve, tenha recebido pena de 06 meses de detenção. Nesse caso, aplicar o sistema da exasperação será péssimo para o agente, pois resultará em uma pena de 10 anos + 1/6 (pelo menos) = 12 anos. Somar as penas se mostra mais benéfico, logo, deverá o Juiz somar as penas (ao final, ficará em 10 anos e 06 meses). Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 6 29 Crime continuado Também conhecido como continuidade delitiva, é a espécie de concurso de crimes na qual o agente pratica diversas condutas, praticando dois ou mais crimes, que por determinadas condições são considerados pela Lei (por uma ficção jurídica) como crime único. Nos termos do art. 71 do CP: Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) O nosso CP adotou a teoria da ficção jurídica, pois a consideração dos diversos delitos como um único crime se dá apenas para fins de aplicação da pena, tanto que, no que tange à prescrição, eles são considerados crimes autônomos, nos termos do art. 119 do CP. A Doutrina entende serem três os requisitos do crime continuado: a) pluralidade de condutas; b) pluralidade de crimes da mesma espécie; e c) condições semelhantes de tempo, lugar, modo de execução e outras semelhanças. A pluralidade de conduta decorre da redação do art. 71, que fala em “mediante mais de uma ação ou omissão”. A pluralidade de crimes causa polêmica. O que seriam crimes da mesma espécie? A Doutrina e a Jurisprudência não são pacíficas. Parte minoritária entende que crimes da mesma espécie são aqueles que tutelam o mesmo bem jurídico. Assim, para essa corrente, furto, estelionato, apropriação indébita, etc., seriam todos crimes da mesma espécie, pois seriam todos “crimes contra o patrimônio”. No entanto, a corrente que prevalece, inclusive no STJ, é a de que crimes da mesma espécie são aqueles tipificados pelo mesmo dispositivo legal, na forma simples, privilegiada ou qualificada, consumados ou tentados. Assim, seriam crimes da mesma espécie roubo e roubo qualificado. Devem, ainda, proteger o mesmo bem jurídico (ex.: Roubo e Latrocínio NÃO são da mesma espécie, pois no latrocínio se protege também a vida humana ).1 1 HC 449.110/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 02/06/2020, DJe 10/06/2020 Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 7 29 Por fim, a semelhança entre os delitos deve obedecer à conexão de quatro gêneros: temporal, espacial, modal e ocasional. A conexão temporal exige que os crimes tenham sido cometidos na mesma época. Mesma época não implica mesmo momento. A jurisprudência tem entendido que os crimes não podem ter sido cometidos em um lapso temporal superior a 30 dias. No entanto, no que se refere aos crimes contra a ordem tributária, o STF já entendeu que pode haver continuidade delitiva desde que os delitos tenham sido cometidos em lapso temporal não superior a 03 anos. A conexão espacial indica que, para que seja considerada continuidade delitiva, os crimes devem ser cometidos no mesmo local. A Jurisprudência entende que a conexão espacial só estará presente se os crimes forem cometidos na mesma cidade, ou, no máximo, na mesma região metropolitana. A conexão modal se verifica quando o agente pratica o crime sempre da mesma maneira, seja pelo modo de execução, pela utilização de comparsas, etc. A conexão ocasional não possui previsão expressa na Lei, mas parte da Doutrina a entende como a necessidade de que os primeiros crimes tenham proporcionado uma ocasião que gerou a prática dos crimes subsequentes. Com relação à unidade de desígnios, ou seja, a necessidade de que todos os crimes praticados na verdade tenham sido partes de um único projeto criminoso, a Doutrina é dividida, mas a maioria da Doutrina, bem como a Jurisprudência, entendem ser necessária essa unidade de desígnios, de forma que a mera reunião dos demais requisitos não configura a continuidade delitiva se os crimes foram praticados de maneira isolada, sem nenhum vínculo entre eles. Isso significa que a maioria da Doutrina e a Jurisprudência adotam a teoria objetivo-subjetiva, desprezando a teoria objetiva pura, que não prevê a necessidade de unidade de desígnios. Aplicação da pena no crime continuado Existem três espécies de crime continuado: simples, qualificado e específico. Entretanto, em todos os casos se aplica o sistema da exasperação. No crime continuado simples, as penas dos delitos parcelares são as mesmas. Exemplo: 10 furtos simples praticados em continuidade delitiva. Nesse caso, aplica-se a pena de apenas um deles, acrescida de 1/6 a 2/3 (varia conforme a quantidade de delitos). No crime continuado qualificado, as penas dos delitos praticados são diferentes, de modo que se aplica a pena do mais grave deles, aumentada de 1/6 a 2/3. Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 8 29 Por fim, o crime continuado específico está previsto no § único do art. 71 do CP, que trata de crimes dolosos praticados com violência ou grave ameaça à pessoa, com vítimas diferentes (ex.: 03 estupros, contra vítimas diferentes, mas em continuidade delitiva). Nesses crimes, havendo continuidade delitiva, poderá o Juiz aplicar a pena de um deles (ou a mais grave, se diversas), aumentada até o triplo. Vejam que se adotou o mesmo sistema da exasperação, entretanto, o § único previu um quantum maior a ser acrescido à pena-base. A lei não estabelece a quantidade mínima nesse caso, mas a Jurisprudência, inclusive o STF, entende que o mínimo aqui também é de 1/6. No crime continuado, é bom frisar, também se aplica a regra do “concurso material benéfico”, ou seja, se o sistema da exasperação se mostrar mais gravoso, deverá ser aplicado o sistema do cúmulo material. Crime continuado e conflito de leis penais no tempo Se durante a execução do crimecontinuado sobrevir lei nova, mais gravosa ao réu, esta última é aplicada, pois se considera que o crime continuado está sendo praticado enquanto não cessa a continuidade delitiva. Assim, sendo o tempo do crime o momento em que cessa a continuidade, a lei nova chegou a vigorar antes de sua consumação, aplicando-se a este, por ser a lei vigente ao tempo do crime. Este entendimento está, inclusive, sumulado pelo STF (súmula 711). Crime continuado e prescrição Nos crimes continuados, por haver mera ficção jurídica de crime único, apenas para fins de aplicação da pena, a prescrição é calculada em relação a cada crime isoladamente. Entretanto, para o cálculo da prescrição RETROATIVA (a que leva em consideração a pena “em concreto”), leva-se em conta a pena mínima estabelecida para a pena-base, desprezando-se o acréscimo que seria aplicado em decorrência da continuidade delitiva (ex.: José praticou dois furtos em continuidade delitiva, tendo recebido pena de 01 ano para cada um, mas o Juiz aplicou a exasperação e a pena final ficou em 01 ano + 1/6 = 01 ano e 02 meses. Nesse caso, para fins de prescrição, será considerada somente a pena isolada de cada crime, ou seja, 01 ano, sem o acréscimo dos “dois meses”). Esta previsão consta na súmula 497 do STF. Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 9 29 Disposições Finais Prescrição e concurso de crimes O nosso CP adotou a teoria da ficção jurídica, pois a consideração dos diversos delitos como um único crime se dá apenas para fins de aplicação da pena, tanto que, no que tange à prescrição, eles são considerados crimes autônomos, nos termos do art. 119 do CP: Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Aplicação da pena de multa no concurso de crimes Prevê o art. 72 do CP que, no concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente. Assim, ainda que se trate de concurso formal, por exemplo, não haverá aplicação do sistema da exasperação para a pena de multa. Essa aplicação é inquestionável no concurso material e no concurso formal. No entanto, no que se refere ao crime continuado, há forte divergência. Prevalece na Doutrina e na Jurisprudência, inclusive no STJ, que, nesse caso, não se aplica a regra do art. 72, por ter a lei entendido que se trata de crime único, mediante ficção jurídica. Logo, o agente receberia somente uma das multas. Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 10 29 EXERCÍCIOS COMENTADOS 1. (FGV – 2017 – OAB - XXIII EXAME DE ORDEM) Rafael e Francisca combinam praticar um crime de furto em uma residência onde ela exercia a função de passadeira. Decidem, então, subtrair bens do imóvel em data sobre a qual Francisca tinha conhecimento de que os proprietários estariam viajando, pois assim ela tinha certeza de que os patrões, de quem gostava, não sofreriam qualquer ameaça ou violência. No dia do crime, enquanto Francisca aguarda do lado de fora, Rafael entra no imóvel para subtrair bens. Ela, porém, percebe que o carro dos patrões está na garagem e tenta avisar o fato ao comparsa para que este saísse rápido da casa. Todavia, Rafael, ao perceber que a casa estava ocupada, decide empregar violência contra os proprietários para continuar subtraindo mais bens. Descobertos os fatos, Francisca e Rafael são denunciados pela prática do crime de roubo majorado. Considerando as informações narradas, o(a) advogado(a) de Francisca deverá buscar A) sua absolvição, tendo em vista que não desejava participar do crime efetivamente praticado. B) o reconhecimento da participação de menor importância, com aplicação de causa de redução de pena. C) o reconhecimento de que o agente quis participar de crime menos grave, aplicando-se a pena do furto qualificado. D) o reconhecimento de que o agente quis participar de crime menos grave, aplicando-se causa de diminuição de pena sobre a pena do crime de roubo majorado. COMENTÁRIOS Nesse caso, o advogado deve buscar o reconhecimento da “cooperação dolosamente distinta” ou “participação em crime menos grave”, prevista no art. 29, §2º do CP, pois Francisca quis participar apenas de um furto, não de um roubo. Neste caso, Francisca deve responder pelo crime de furto, que foi aquele que efetivamente quis praticar. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA C. 2. (FGV – 2015 – TJ-RO – OFICIAL DE JUSTIÇA) O Código Penal brasileiro traz diversos crimes que podem ser praticados por uma única pessoa, mas também prevê algumas hipóteses em que o concurso de pessoas é necessário. Como regra geral, quando duas ou mais pessoas, unidas em ações e desígnios, praticam em conjunto um delito, pode-se falar em concurso de pessoas. Sobre essa tema, é correto afirmar que o Código Penal adotou, em regra, a Teoria: a) Pluralista, com exceções; Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 11 29 b) Dualista, sem exceções; c) Monista, com exceções; d) Dualista, com exceções; e) Monista, sem exceções. COMENTÁRIOS O CP brasileiro adotou a teoria monista, estabelecendo que todos aqueles que participam de uma empreitada criminosa (em concurso de agentes), respondem pelo mesmo tipo penal (mesmo crime). Todavia, existem exceções, como ocorre no caso do aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante, no qual o terceiro responde por um crime (art. 126 do CP) e a gestante responde por outro (art. 124 do CP). Assim, adotamos uma teoria monista, com exceções. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA C. 3. (FGV – 2015 – TCE-RJ – AUDITOR SUBSTITUTO) Sobre o tema concurso de agentes, é correto afirmar que: a) em regra, aquele que instiga terceira pessoa à prática de um crime, por este responde, ainda que o instigado não tenha iniciado a execução do delito; b) não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, mesmo quando elementares do crime; c) na teoria da acessoriedade limitada, somente haverá a punição do partícipe se o autor houver praticado uma conduta que seja típica, ilícita e culpável; d) se um dos concorrentes quis participar de crime menos grave, a pena deste lhe será aplicada, com o aumento de metade na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave; e) não se exige homogeneidade de elemento subjetivo no concurso de pessoas, admitindo-se participação culposa em crime doloso. COMENTÁRIOS a) ERRADA: Se o agente sequer inicia a execução, não há fato punível, na forma do art. 31 do CP. b) ERRADA: As circunstâncias e as condições de caráter pessoal, quando elementares do crime, se comunicam aos demais agentes, na forma do art. 30 do CP. c) ERRADA: Para a teoria da acessoriedade limitada, haverá a punição do partícipe se o autor houver praticado uma conduta que seja, pelo menos, típica e ilícita. Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 12 29 d) ERRADA: O item foi dado como correto, mas está errado. Tal item trata da cooperação dolosamente distinta, prevista no art. 29, §2º do CP: Art. 29 (...) § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Como se vê, o agente que quis participar do crime menos grave responderá por este, mas sua pena será aumentada ATÉ a metade caso fosse previsível o resultado mais grave. O item fala em aumento DE METADE. Isso está errado, pois aumentar a pena DE METADE significa, necessariamente, mais 50% de pena,ao passo que aumentar ATÉ A METADE significa que o aumento pode CHEGAR A 50% (mas não necessariamente). Item errado, ao meu ver, o que geraria a anulação da questão. e) ERRADA: Item errado, pois o vínculo subjetivo entre os agentes deve ser homogêneo, ou seja, os agentes devem “querer a mesma coisa”, de forma que não há possibilidade de haver participação dolosa em crime culposo, e vice-versa. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA D (MERECIA ANULAÇÃO) 4. (FGV – 2014 – PROCEMPA – ADVOGADO) Com relação ao tema responsabilidade penal no concurso de pessoas, assinale a afirmativa incorreta. a) A responsabilidade penal é individual, devendo cada agente responder na medida de sua culpabilidade. b) Ocorrendo desvio subjetivo entre os agentes, quem quis participar de crime menos grave responde por este e não pelo crime mais grave praticado pelo outro agente. c) Sendo a participação de menor importância, a pena pode ser reduzida de 1/6 a 1/3. d) O Código Penal adotou a Teoria Monista sobre concurso de agentes sem exceção, devendo todos os participantes responder pelo mesmo crime. e) Não há participação dolosa em crime culposo. COMENTÁRIOS a) CORRETA: Item correto, pois esta é a exata previsão do art. 29 do CP. b) CORRETA: Tal item trata da cooperação dolosamente distinta, prevista no art. 29, §2º do CP. Se o agente que quis participar do crime menos grave responderá por este, mas sua pena será aumentada ATÉ a metade caso fosse previsível o resultado mais grave. Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 13 29 c) CORRETA: Item correto, pois esta é a exata previsão contida no art. 29, §1º do CP. d) ERRADA: O CP brasileiro adotou a teoria monista, estabelecendo que todos aqueles que participam de uma empreitada criminosa (em concurso de agentes), respondem pelo mesmo tipo penal (mesmo crime). Todavia, existem exceções, como ocorre no caso do aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante, no qual o terceiro responde por um crime (art. 126 do CP) e a gestante responde por outro (art. 124 do CP). Assim, adotamos uma teoria monista, com exceções (também chamada de “teoria monista mitigada”). e) CORRETA: Item correto, pois o vínculo subjetivo entre os agentes deve ser homogêneo, ou seja, os agentes devem “querer a mesma coisa”, de forma que não há possibilidade de haver participação dolosa em crime culposo, e vice-versa. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA D. 5. (FGV – 2013 – OAB – XI EXAME UNIFICADO) Sofia decide matar sua mãe. Para tanto, pede ajuda a Lara, amiga de longa data, com quem debate a melhor maneira de executar o crime, o melhor horário, local etc. Após longas discussões de como poderia executar seu intento da forma mais eficiente possível, a fim de não deixar nenhuma pista, Sofia pede emprestado a Lara um facão. A amiga prontamente atende ao pedido. Sofia despede-se agradecendo a ajuda e diz que, se tudo correr conforme o planejado, executará o homicídio naquele mesmo dia e assim o faz. No entanto, apesar dos cuidados, tudo é descoberto pela polícia. A respeito do caso narrado e de acordo com a teoria restritiva da autoria, assinale a afirmativa correta. A) Sofia é a autora do delito e deve responder por homicídio com a agravante de o crime ter sido praticado contra ascendente. Lara, por sua vez, é apenas partícipe do crime e deve responder por homicídio, sem a presença da circunstância agravante. B) Sofia e Lara devem ser consideradas coautoras do crime de homicídio, incidindo, para ambas, a circunstância agravante de ter sido, o crime, praticado contra ascendente. C) Sofia e Lara devem ser consideradas coautoras do crime de homicídio. Todavia, a agravante de ter sido, o crime, praticado contra ascendente somente incide em relação à Sofia. D) Sofia é a autora do delito e deve responder por homicídio com a agravante de ter sido, o crime, praticado contra ascendente. Lara, por sua vez, é apenas partícipe do crime, mas a agravante também lhe será aplicada. COMENTÁRIOS A teoria restritiva sustenta a tese de que autor do delito é aquele que pratica a conduta descrita no núcleo do tipo penal (no caso em tela, o verbo “matar”), sendo partícipes todos aqueles que, Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 14 29 não praticando a conduta descrita no núcleo do tipo, prestam algum tipo de auxílio (moral ou material). No caso em tela, apenas Sofia praticou a conduta descrita no núcleo do tipo penal (matar), de forma que apenas esta é considerada AUTORA do delito. Lara, por sua vez, não é considerada autora do delito, mas PARTÍCIPE, por ter prestado auxílio material (emprestando a faca) à Sofia. Com relação à agravante (de ter sido praticado contra ascendente), esta não é extensível à Lara, pois se trata de circunstância agravante de caráter pessoal, aplicável apenas ao infrator que possui laço de parentesco com a vítima, nos termos do art. 65, II, e, C/C art. 30 do CP. Portanto, A ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA A. 6. (FGV – 2015 – OAB – XVI EXAME DE ORDEM) Maria Joaquina, empregada doméstica de uma residência, profundamente apaixonada pelo vizinho Fernando, sem que este soubesse, escuta sua conversa com uma terceira pessoa acordando o furto da casa em que ela trabalha durante os dias de semana à tarde. Para facilitar o sucesso da operação de seu amado, ela deixa a porta aberta ao sair do trabalho. Durante a empreitada criminosa, sem saber que a porta da frente se encontrava destrancada, Fernando e seu comparsa arrombam a porta dos fundos, ingressam na residência diversos objetos. Diante desse quadro fático, assinale a opção que apresenta a correta responsabilidade penal de Maria Joaquina. a) Deverá responder pelo mesmo crime de Fernando, na qualidade de partícipe, eis que contribuiu de alguma forma para o sucesso da empreitada criminosa ao não denunciar o plano. b) Deverá responder pelo crime de furto qualificado pelo concurso de agentes, afastada a qualificadora do rompimento de obstáculo, por esta não se encontrar na linha de seu conhecimento. c) Não deverá responder por qualquer infração penal, sendo a sua participação irrelevante para o sucesso da empreitada criminosa. d) Deverá responder pelo crime de omissão de socorro. COMENTÁRIOS No caso em tela, Maria Joaquina não deverá responder por qualquer infração penal, já que sua conduta foi absolutamente irrelevante para o sucesso da empreitada criminosa. A colaboração de Maria Joaquina não teve qualquer relevância para o fato criminoso, de maneira que não é punível (um dos requisitos da punibilidade da participação é a relevância causal). Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA C. Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 15 29 7. (FGV - 2012 - OAB - VIII EXAME DE ORDEM UNIFICADO) Analise detidamente as seguintes situações: Casuística 1: Amarildo, ao chegar a sua casa, constata que sua filha foi estuprada por Terêncio. Imbuído de relevante valor moral, contrata Ronaldo, pistoleiro profissional, para tirar a vida do estuprador. O serviço é regularmente executado. Casuística 2: Lucas concorre para um infanticídio auxiliando Julieta, parturiente, a matar o nascituro – o que efetivamente acontece. Lucas sabia, desde o início, que Julieta estava sob a influência do estado puerperal. Levando em consideração a legislação vigente e a doutrina sobre o concurso de pessoas (concursus delinquentium), é correto afirmar que A) no exemplo 1, Amarildo responderá pelo homicídio privilegiado e Ronaldo pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe. No exemplo 2, Lucas e Julieta responderão pelo crime de infanticídio. B) no exemplo 1, Amarildo responderá pelo homicídio privilegiado e Ronaldopelo crime de homicídio simples (ou seja, sem privilégio pelo fato de não estar imbuído de relevante valor moral). No exemplo 2, Lucas, que não está influenciado pelo estado puerperal, responderá por homicídio, e Julieta pelo crime de infanticídio. C) no exemplo 1, Amarildo responderá pelo homicídio privilegiado e Ronaldo pelo crime de homicídio simples (ou seja, sem privilégio pelo fato de não estar imbuído de relevante valor moral). No exemplo 2, tanto Lucas quanto Julieta responderão pelo crime de homicídio (ele na modalidade simples, ela na modalidade privilegiada em razão da influência do estado puerperal). D) no exemplo 1, Amarildo responderá pelo homicídio privilegiado e Ronaldo pelo crime de homicídio qualificado pelo motivo fútil. No exemplo 2, Lucas, que não está influenciado pelo estado puerperal, responderá por homicídio e Julieta pelo crime de infanticídio. COMENTÁRIOS Caso 01 – Tendo Amarildo agido mediante relevante valor moral, logo após injusta provocação da vítima, Amarildo responde por homicídio privilegiado, mas essa circunstância, por ser de caráter pessoal, não se comunica a Ronaldo, que responde por homicídio qualificado pelo motivo torpe (mediante paga ou promessa de recompensa); Caso 02 – Embora o delito de infanticídio seja crime próprio, que só pode ser praticado pela mãe contra o próprio filho, durante o estado puerperal, é atualmente pacífico o entendimento no sentido de que é possível concurso de agentes, desde que o comparsa saiba da condição de sua comparsa, ou seja, saiba que ela está matando o próprio filho sob a influência do estado puerperal. Assim, ambos responderão por infanticídio; Assim, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA A. Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 16 29 Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 17 29 EXERCÍCIOS COMENTADOS 1. (FGV – 2018 – MPE-RJ – ESTÁGIO FORENSE) Pretendendo matar seus dois irmãos Mévio e Caio e, com isso, garantir-se como único herdeiro de seus ricos pais, Tício se aproveita do fato de Mévio e Caio estarem enfileirados e efetua um único disparo de fuzil em direção a estes, sabendo que, pelo potencial lesivo do material bélico, aquele único tiro seria suficiente para causar a morte dos dois colaterais, o que efetivamente ocorre. Descobertos os fatos, caberá ao Promotor de Justiça oferecer denúncia contra Tício pela prática de dois crimes de homicídio qualificado em A) concurso material, diante dos dois resultados mortes, devendo as penas serem somadas; B) concurso formal próprio, devendo a pena de um deles (mais grave) ser aumentada; C) concurso formal impróprio, devendo a pena de um deles (a mais grave) ser aumentada; D) concurso formal impróprio, devendo as penas serem somadas; E) continuidade delitiva, devendo a pena de um deles (a mais grave) ser aumentada. COMENTÁRIOS No caso em tela, Tício pretendeu alcançar os dois resultados mediante uma só conduta dolosa. Ou seja, havia desígnios autônomos em relação aos resultados. Aqui temos o chamado concurso formal impróprio ou imperfeito, previsto no art. 70, parte final, do CP, motivo pelo qual será aplicado o sistema do cúmulo material (soma das penas). GABARITO: LETRA D 2. (FGV - 2012 - OAB - EXAME DE ORDEM UNIFICADO - VI - PRIMEIRA FASE) Otelo objetiva matar Desdêmona para ficar com o seguro de vida que esta havia feito em seu favor. Para tanto, desfere projétil de arma de fogo contra a vítima, causando-lhe a morte. Todavia, a bala atravessa o corpo de Desdêmona e ainda atinge Iago, que passava pelo local, causando-lhe lesões corporais. Considerando-se que Otelo praticou crime de homicídio doloso qualificado em relação a Desdêmona e, por tal crime, recebeu pena de 12 anos de reclusão, bem como que praticou crime de lesão corporal leve em relação a Iago, tendo recebido pena de 2 meses de reclusão, é correto afirmar que a) o juiz deverá aplicar a pena mais grave e aumentá-la de um sexto até a metade. b) o juiz deverá somar as penas. c) é caso de concurso formal homogêneo. d) é caso de concurso formal impróprio. Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 18 29 COMENTÁRIOS O Juiz, neste caso, deverá somar as penas, ou seja, aplicar o chamado CONCURSO MATERIAL BENÉFICO. Isso porque, no caso em tela, temos uma espécie de concurso formal, no qual o agente mediante uma só conduta, e com um só intento, acaba por produzir dois resultados. Pela redação do art. 70 do CP, deveria o Juiz tomar a pena do crime mais grave como base e sobre ela aplicar um percentual de exasperação. Contudo, ainda que o Juiz aplicasse o percentual mínimo (1/6), a quantidade de “exasperação” ficaria muito acima daquilo que o agente receberia de pena se estas fossem somadas (dois anos ao invés de dois meses), de forma que a exasperação, no caso, se mostra como um sistema mais prejudicial que o cúmulo material, de forma que deve ser aplicado este, nos termos do art. 70, § único do CP. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA B. 3. (FGV - 2011 - OAB - EXAME DE ORDEM UNIFICADO - V - PRIMEIRA FASE) As regras do concurso formal perfeito (em que se adota o sistema da exasperação da pena) foram adotadas pelo Código Penal com o objetivo de beneficiar o agente que, mediante uma só conduta, praticou dois ou mais crimes. No entanto, quando o sistema da exasperação for prejudicial ao acusado, deverá prevalecer o sistema do cúmulo material (em que a soma das penas será mais vantajosa do que o aumento de uma delas com determinado percentual, ainda que no patamar mínimo). A essa hipótese, a doutrina deu o nome de a) concurso material benéfico. b) concurso formal imperfeito. c) concurso formal heterogêneo. d) exasperação sui generis. COMENTÁRIOS Quando a conduta, por si só, seja hipótese de concurso formal, mas o cálculo de aplicação da pena pelo sistema da exasperação (art. 70 do CP) se demonstrar mais prejudicial que o cálculo de aplicação pelo sistema do cúmulo material (art. 69 do CP), o art. 70, § único do CP, determina que se aplica o sistema do cúmulo material. A esse sistema foi dado o nome de cúmulo material benéfico (concurso material benéfico). Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA A. 4. (FGV - 2010 - OAB - EXAME DE ORDEM UNIFICADO - II - PRIMEIRA FASE) Com relação ao concurso de delitos, é correto afirmar que: a) no concurso de crimes as penas de multa são aplicadas distintamente, mas de forma reduzida. Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 19 29 b) o concurso material ocorre quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes com dependência fática e jurídica entre estes. c) o concurso formal perfeito, também conhecido como próprio, ocorre quando o agente, por meio de uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes idênticos, caso em que as penas serão somadas. d) o Código Penal Brasileiro adotou o sistema de aplicação de pena do cúmulo material para os concursos material e formal imperfeito, e da exasperação para o concurso formal perfeito e crime continuado. COMENTÁRIOS A afirmativa A está errada, eis que no concurso de crimes as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente, nos termos do art. 72. A afirmativa B também está errada, que não há dependência jurídica entre eles. Há, apenas, dependência fática (devem ser praticados num mesmo contexto fático). A letra C caracteriza bem o concurso formal, no entanto, peca quanto às consequências, já que as penas não são somadas, aplicando-se o sistema da exasperação, nos termos do art. 70 do CP. Já a letra D está correta, eis que o sistema do cúmulo material(soma das penas) é aplicado ao concurso material e ao concurso formal imperfeito (agente pratica uma só conduta, atingindo mais de um bem jurídico, só que com a intenção de lesionar os dois), nos termos dos arts. 69 e 70, segunda parte, do CP. Já o sistema da exasperação é previsto para o concurso formal próprio ou perfeito (com uma só conduta atinge dois bens jurídicos, sem a intenção de lesionar ambos) e ao crime continuado, conforme podemos extrair dos arts. 70 e 71 do CP. Portanto, a AFIRMATIVA CORRETA É A LETRA D. 5. (FGV – 2014 – OAB – XV EXAME DE ORDEM) Roberto estava dirigindo seu automóvel quando perdeu o controle da direção e subiu a calçada, atropelando dois pedestres que estavam parados num ponto de ônibus. Nesse contexto, levando-se em consideração o concurso de crimes, assinale a opção correta, que contempla a espécie em análise: a) concurso material. b) concurso formal próprio ou perfeito. c) concurso formal impróprio ou imperfeito. d) crime continuado. COMENTÁRIOS No caso em tela temos o clássico exemplo de concurso formal perfeito, ou concurso formal próprio, pois o agente, mediante uma única ação ou omissão, e agindo sem desígnios autônomos, produziu mais de um resultado, nos termos do art. 70 do CP. Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 20 29 Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA B. Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 21 29 1 EXERCÍCIOS PARA PRATICAR 1. (FGV – 2017 – OAB - XXIII EXAME DE ORDEM) Rafael e Francisca combinam praticar um crime de furto em uma residência onde ela exercia a função de passadeira. Decidem, então, subtrair bens do imóvel em data sobre a qual Francisca tinha conhecimento de que os proprietários estariam viajando, pois assim ela tinha certeza de que os patrões, de quem gostava, não sofreriam qualquer ameaça ou violência. No dia do crime, enquanto Francisca aguarda do lado de fora, Rafael entra no imóvel para subtrair bens. Ela, porém, percebe que o carro dos patrões está na garagem e tenta avisar o fato ao comparsa para que este saísse rápido da casa. Todavia, Rafael, ao perceber que a casa estava ocupada, decide empregar violência contra os proprietários para continuar subtraindo mais bens. Descobertos os fatos, Francisca e Rafael são denunciados pela prática do crime de roubo majorado. Considerando as informações narradas, o(a) advogado(a) de Francisca deverá buscar A) sua absolvição, tendo em vista que não desejava participar do crime efetivamente praticado. B) o reconhecimento da participação de menor importância, com aplicação de causa de redução de pena. C) o reconhecimento de que o agente quis participar de crime menos grave, aplicando-se a pena do furto qualificado. D) o reconhecimento de que o agente quis participar de crime menos grave, aplicando-se causa de diminuição de pena sobre a pena do crime de roubo majorado. 2. (FGV – 2015 – TJ-RO – OFICIAL DE JUSTIÇA) O Código Penal brasileiro traz diversos crimes que podem ser praticados por uma única pessoa, mas também prevê algumas hipóteses em que o concurso de pessoas é necessário. Como regra geral, quando duas ou mais pessoas, unidas em ações e desígnios, praticam em conjunto um delito, pode-se falar em concurso de pessoas. Sobre essa tema, é correto afirmar que o Código Penal adotou, em regra, a Teoria: a) Pluralista, com exceções; b) Dualista, sem exceções; c) Monista, com exceções; Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 22 29 2 d) Dualista, com exceções; e) Monista, sem exceções. 3. (FGV – 2015 – TCE-RJ – AUDITOR SUBSTITUTO) Sobre o tema concurso de agentes, é correto afirmar que: a) em regra, aquele que instiga terceira pessoa à prática de um crime, por este responde, ainda que o instigado não tenha iniciado a execução do delito; b) não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, mesmo quando elementares do crime; c) na teoria da acessoriedade limitada, somente haverá a punição do partícipe se o autor houver praticado uma conduta que seja típica, ilícita e culpável; d) se um dos concorrentes quis participar de crime menos grave, a pena deste lhe será aplicada, com o aumento de metade na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave; e) não se exige homogeneidade de elemento subjetivo no concurso de pessoas, admitindo-se participação culposa em crime doloso. 4. (FGV – 2014 – PROCEMPA – ADVOGADO) Com relação ao tema responsabilidade penal no concurso de pessoas, assinale a afirmativa incorreta. a) A responsabilidade penal é individual, devendo cada agente responder na medida de sua culpabilidade. b) Ocorrendo desvio subjetivo entre os agentes, quem quis participar de crime menos grave responde por este e não pelo crime mais grave praticado pelo outro agente. c) Sendo a participação de menor importância, a pena pode ser reduzida de 1/6 a 1/3. d) O Código Penal adotou a Teoria Monista sobre concurso de agentes sem exceção, devendo todos os participantes responder pelo mesmo crime. e) Não há participação dolosa em crime culposo. 5. (FGV – 2013 – OAB – XI EXAME UNIFICADO) Sofia decide matar sua mãe. Para tanto, pede ajuda a Lara, amiga de longa data, com quem debate a melhor maneira de executar o crime, o melhor horário, local etc. Após longas discussões de como poderia executar seu intento da forma mais eficiente possível, a fim de não deixar nenhuma pista, Sofia pede emprestado a Lara um facão. A amiga prontamente atende ao pedido. Sofia despede-se agradecendo a ajuda e diz que, se tudo correr conforme o planejado, executará o homicídio naquele mesmo dia e assim o faz. No entanto, apesar dos cuidados, tudo é descoberto pela polícia. A respeito do caso narrado e de acordo com a teoria restritiva da autoria, assinale a afirmativa correta. Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 23 29 3 A) Sofia é a autora do delito e deve responder por homicídio com a agravante de o crime ter sido praticado contra ascendente. Lara, por sua vez, é apenas partícipe do crime e deve responder por homicídio, sem a presença da circunstância agravante. B) Sofia e Lara devem ser consideradas coautoras do crime de homicídio, incidindo, para ambas, a circunstância agravante de ter sido, o crime, praticado contra ascendente. C) Sofia e Lara devem ser consideradas coautoras do crime de homicídio. Todavia, a agravante de ter sido, o crime, praticado contra ascendente somente incide em relação à Sofia. D) Sofia é a autora do delito e deve responder por homicídio com a agravante de ter sido, o crime, praticado contra ascendente. Lara, por sua vez, é apenas partícipe do crime, mas a agravante também lhe será aplicada. 6. (FGV – 2015 – OAB – XVI EXAME DE ORDEM) Maria Joaquina, empregada doméstica de uma residência, profundamente apaixonada pelo vizinho Fernando, sem que este soubesse, escuta sua conversa com uma terceira pessoa acordando o furto da casa em que ela trabalha durante os dias de semana à tarde. Para facilitar o sucesso da operação de seu amado, ela deixa a porta aberta ao sair do trabalho. Durante a empreitada criminosa, sem saber que a porta da frente se encontrava destrancada, Fernando e seu comparsa arrombam a porta dos fundos, ingressam na residência diversos objetos. Diante desse quadro fático, assinale a opção que apresenta a correta responsabilidade penal de Maria Joaquina. a) Deverá responder pelo mesmo crime de Fernando, na qualidade de partícipe, eis que contribuiu de alguma forma para o sucesso da empreitada criminosa ao não denunciar o plano. b) Deverá responderpelo crime de furto qualificado pelo concurso de agentes, afastada a qualificadora do rompimento de obstáculo, por esta não se encontrar na linha de seu conhecimento. c) Não deverá responder por qualquer infração penal, sendo a sua participação irrelevante para o sucesso da empreitada criminosa. d) Deverá responder pelo crime de omissão de socorro. 7. (FGV - 2012 - OAB - VIII EXAME DE ORDEM UNIFICADO) Analise detidamente as seguintes situações: Casuística 1: Amarildo, ao chegar a sua casa, constata que sua filha foi estuprada por Terêncio. Imbuído de relevante valor moral, contrata Ronaldo, pistoleiro profissional, para tirar a vida do estuprador. O serviço é regularmente executado. Casuística 2: Lucas concorre para um infanticídio auxiliando Julieta, parturiente, a matar o nascituro – o que efetivamente acontece. Lucas sabia, desde o início, que Julieta estava sob a influência do estado puerperal. Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 24 29 4 Levando em consideração a legislação vigente e a doutrina sobre o concurso de pessoas (concursus delinquentium), é correto afirmar que A) no exemplo 1, Amarildo responderá pelo homicídio privilegiado e Ronaldo pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe. No exemplo 2, Lucas e Julieta responderão pelo crime de infanticídio. B) no exemplo 1, Amarildo responderá pelo homicídio privilegiado e Ronaldo pelo crime de homicídio simples (ou seja, sem privilégio pelo fato de não estar imbuído de relevante valor moral). No exemplo 2, Lucas, que não está influenciado pelo estado puerperal, responderá por homicídio, e Julieta pelo crime de infanticídio. C) no exemplo 1, Amarildo responderá pelo homicídio privilegiado e Ronaldo pelo crime de homicídio simples (ou seja, sem privilégio pelo fato de não estar imbuído de relevante valor moral). No exemplo 2, tanto Lucas quanto Julieta responderão pelo crime de homicídio (ele na modalidade simples, ela na modalidade privilegiada em razão da influência do estado puerperal). D) no exemplo 1, Amarildo responderá pelo homicídio privilegiado e Ronaldo pelo crime de homicídio qualificado pelo motivo fútil. No exemplo 2, Lucas, que não está influenciado pelo estado puerperal, responderá por homicídio e Julieta pelo crime de infanticídio. GABARITO 1. ALTERNATIVA C 2. ALTERNATIVA C 3. ALTERNATIVA D 4. ALTERNATIVA D 5. ALTERNATIVA A 6. ALTERNATIVA C 7. ALTERNATIVA A Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 25 29 1 EXERCÍCIOS PARA PRATICAR 1. (FGV – 2018 – MPE-RJ – ESTÁGIO FORENSE) Pretendendo matar seus dois irmãos Mévio e Caio e, com isso, garantir-se como único herdeiro de seus ricos pais, Tício se aproveita do fato de Mévio e Caio estarem enfileirados e efetua um único disparo de fuzil em direção a estes, sabendo que, pelo potencial lesivo do material bélico, aquele único tiro seria suficiente para causar a morte dos dois colaterais, o que efetivamente ocorre. Descobertos os fatos, caberá ao Promotor de Justiça oferecer denúncia contra Tício pela prática de dois crimes de homicídio qualificado em A) concurso material, diante dos dois resultados mortes, devendo as penas serem somadas; B) concurso formal próprio, devendo a pena de um deles (mais grave) ser aumentada; C) concurso formal impróprio, devendo a pena de um deles (a mais grave) ser aumentada; D) concurso formal impróprio, devendo as penas serem somadas; E) continuidade delitiva, devendo a pena de um deles (a mais grave) ser aumentada. 2. (FGV - 2012 - OAB - EXAME DE ORDEM UNIFICADO - VI - PRIMEIRA FASE) Otelo objetiva matar Desdêmona para ficar com o seguro de vida que esta havia feito em seu favor. Para tanto, desfere projétil de arma de fogo contra a vítima, causando-lhe a morte. Todavia, a bala atravessa o corpo de Desdêmona e ainda atinge Iago, que passava pelo local, causando-lhe lesões corporais. Considerando-se que Otelo praticou crime de homicídio doloso qualificado em relação a Desdêmona e, por tal crime, recebeu pena de 12 anos de reclusão, bem como que praticou crime de lesão corporal leve em relação a Iago, tendo recebido pena de 2 meses de reclusão, é correto afirmar que a) o juiz deverá aplicar a pena mais grave e aumentá-la de um sexto até a metade. b) o juiz deverá somar as penas. c) é caso de concurso formal homogêneo. d) é caso de concurso formal impróprio. 3. (FGV - 2011 - OAB - EXAME DE ORDEM UNIFICADO - V - PRIMEIRA FASE) As regras do concurso formal perfeito (em que se adota o sistema da exasperação da pena) foram adotadas pelo Código Penal com o objetivo de beneficiar o agente que, mediante uma só conduta, praticou dois ou mais crimes. No entanto, quando o sistema da exasperação for prejudicial ao acusado, Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 26 29 2 deverá prevalecer o sistema do cúmulo material (em que a soma das penas será mais vantajosa do que o aumento de uma delas com determinado percentual, ainda que no patamar mínimo). A essa hipótese, a doutrina deu o nome de a) concurso material benéfico. b) concurso formal imperfeito. c) concurso formal heterogêneo. d) exasperação sui generis. 4. (FGV - 2010 - OAB - EXAME DE ORDEM UNIFICADO - II - PRIMEIRA FASE) Com relação ao concurso de delitos, é correto afirmar que: a) no concurso de crimes as penas de multa são aplicadas distintamente, mas de forma reduzida. b) o concurso material ocorre quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes com dependência fática e jurídica entre estes. c) o concurso formal perfeito, também conhecido como próprio, ocorre quando o agente, por meio de uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes idênticos, caso em que as penas serão somadas. d) o Código Penal Brasileiro adotou o sistema de aplicação de pena do cúmulo material para os concursos material e formal imperfeito, e da exasperação para o concurso formal perfeito e crime continuado. 5. (FGV – 2014 – OAB – XV EXAME DE ORDEM) Roberto estava dirigindo seu automóvel quando perdeu o controle da direção e subiu a calçada, atropelando dois pedestres que estavam parados num ponto de ônibus. Nesse contexto, levando-se em consideração o concurso de crimes, assinale a opção correta, que contempla a espécie em análise: a) concurso material. b) concurso formal próprio ou perfeito. c) concurso formal impróprio ou imperfeito. d) crime continuado. GABARITO 1. ALTERNATIVA D Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 27 29 3 2. ALTERNATIVA B 3. ALTERNATIVA A 4. ALTERNATIVA D 5. ALTERNATIVA B Equipe Penal e Processo Penal, Renan Araujo Aula 04 PC-AM (Investigador) Direito Penal - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 28 29
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