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MODERNISMO NO BRASIL SEGUNDA GERAÇÃO (poesia) Professora Janylce Costa CONTEXTO HISTÓRICO Era Vargas Quebra da Bolsa de Nova Iorque (1929) Segunda Guerra Mundial Período rico na produção poética e também na prosa. O universo temático se amplia. Há preocupação com o destino dos homens, com as dores do mundo. 2 1930 a 1945 Professora Janylce Costa CARACTERÍSTICAS FASE DE CONSOLIDAÇÃO - Amadurecimento das conquistas de 1922 (Aprimoramento de novas variações) Verso livre e poesia sintética: Stop A vida parou ou foi o automóvel? (Cota Zero, Carlos Drummond de Andrade) 3 Professora Janylce Costa CARACTERÍSTICAS Construção e politização poética (Foco no contexto sociopolítico). Abordagem da história nacional com humor e ironia. Em outubro de 1930 Nós fizemos — que animação! — Um pic-nic com carabinas. (Festa Familiar - Murilo Mendes) 4 Professora Janylce Costa CARACTERÍSTICAS Reflexão sobre o sentido de estar no mundo e o papel do poeta. Aprofundamento das relações do eu com o mundo. Nomes de destaque: Cecília Meireles, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana. 5 Professora Janylce Costa CARACTERÍSTICAS Consciência da fragilidade do eu. Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo (Carlos Drummond de Andrade - Sentimento do Mundo) Perspectiva única para enfrentar os tempos difíceis é a união (as soluções coletivas). O presente é tão grande, não nos afastemos, Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. (Carlos Drummond de Andrade - Mãos dadas) 6 Professora Janylce Costa CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE Problemas do mundo. Saudade de Minas Gerais. Família e infância (Origens). Existência. Cotidiano. Questionamento crítico Papel social do poeta. Algumas obras: “Alguma poesia”; “A rosa do povo”; “Claro enigma”; “Poesia Completa”; “Confissões de Minas”; “Autorretrato e outras crônicas”; “Poesia até agora”. 7 O poeta do finito e da matéria Professora Janylce Costa 8 Professora Janylce Costa Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada. O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode. Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo. O poema das sete faces 9 Professora Janylce Costa Cidadezinha qualquer Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar. Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar. Devagar... as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus. 10 No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho Tinha uma pedra No meio do caminho tinha uma pedra Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra. No meio do caminho Professora Janylce Costa 11 Infância Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. Minha mãe ficava sentada cosendo. Meu irmão pequeno dormia. Eu sozinho menino entre mangueiras lia a história de Robinson Crusoé, comprida história que não acaba mais. No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu chamava para o café. Café preto que nem a preta velha café gostoso café bom. Minha mãe ficava sentada cosendo olhando para mim: - Psiu... Não acorde o menino. Para o berço onde pousou um mosquito. E dava um suspiro... que fundo! Lá longe meu pai campeava no mato sem fim da fazenda. E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé. Professora Janylce Costa 12 Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente. Mãos dadas Professora Janylce Costa CECÍLIA MEIRELES - Corrente espiritualista (neossimbolismo) - Intimismo e introspecção (Viagem interior). - Misticismo. - Sonho, fantasia, solidão. - Efemeridade e fugacidade. - Redondilhas menores e/ou maiores. - Passado - Imagens da natureza. Algumas obras: “Espectros”; “Baladas para El-Rei”; “Vaga Música”; “Romanceiro da Inconfidência”; “Antologia Poética”. 13 A vida efêmera e transitória Professora Janylce Costa 14 Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, – não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: – mais nada. Motivo Professora Janylce Costa 15 Esta menina tão pequenina quer ser bailarina. Não conhece nem dó nem ré mas sabe ficar na ponta do pé. Não conhece nem mi nem fá Mas inclina o corpo para cá e para lá Não conhece nem lá nem si, mas fecha os olhos e sorri. Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar e não fica tonta nem sai do lugar. A bailarina Professora Janylce Costa Põe no cabelo uma estrela e um véu e diz que caiu do céu. Esta menina tão pequenina quer ser bailarina. Mas depois esquece todas as danças, e também quer dormir como as outras crianças. 16 Eu não tinha este rosto de hoje, Assim calmo, assim triste, assim magro, Nem estes olhos tão vazios, Nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, Tão paradas e frias e mortas; Eu não tinha este coração Que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, Tão simples, tão certa, tão fácil: — Em que espelho ficou perdida a minha face? Retrato Professora Janylce Costa 17 Neste mês, as cigarras cantam e os trovões caminham por cima da terra, agarrados ao sol. Neste mês, ao cair da tarde, a chuva corre pelas montanhas, e depois a noite é mais clara, e o canto dos grilos faz palpitar o cheiro molhado do chão. Mas tudo é inútil, porque os teus ouvidos estão como conchas vazias, e a tua narina imóvel não recebe mais notícias do mundo que circula no vento. Elegia Professora Janylce Costa VINÍCIUS DE MORAES - Sensualismo erótico - Carpe diem - Classicismo (sonetos) - Poesia social - MPB (Bossa Nova): em 1958, é lançado o LP Canção do Amor Demais, que inclui a música Chega de Saudade, composta com Tom Jobim, marco do movimento da Bossa Nova. - Teatro (Orfeu da Conceição) - Música infantil. Algumas obras: “O caminho para a distância”, “Forma e Exegese”; “Poemas, Sonetos e Baladas”; “Livro de Sonetos”; “A Arca de Noé” 18 O cantor do amor maior Professora Janylce Costa 19 Chega de saudade Vai minha tristeza E diz a ela Que sem ela não pode ser Diz-lhe numa prece Que ela regresse Por que eu não posso mais sofrer Chega de saudade A realidade É que sem ela não há paz Não há beleza É só tristeza E a melancolia Que não sai de mim Não sai de mim, não sai Mas se ela voltar, se ela voltar Que coisa linda, que coisa louca FELICIDADE Tristeza não tem fim Felicidade sim... A felicidade é como a plumaQue o vento vai levando pelo ar Voa tão leve Mas tem a vida breve Precisa que haja vento sem parar. A felicidade do pobre parece A grande ilusão do carnaval A gente trabalha o ano inteiro Por um momento de sonho Pra fazer a fantasia De rei, ou de pirata, ou jardineira E tudo se acabar na quarta-feira. Pois há menos peixinhos a nadar no mar Do que os beijinhos Que eu darei na sua boca Dentro dos meus braços Os abraços Hão de ser milhões de abraços Apertado assim Colado assim, calado assim Abraços e beijinhos E carinhos sem ter fim Que é pra acabar com esse negócio De você viver sem mim Não quero mais esse negócio De você viver sem mim Professora Janylce Costa 20 Tarde em Itapuã Um velho calção de banho O dia pra vadiar O mar que não tem tamanho E um arco-íris no ar Depois, na Praça Caymmi Sentir preguiça no corpo E numa esteira de vime Beber uma água de coco É bom! Passar uma tarde em Itapuã Ao sol que arde em Itapuã Ouvindo o mar de Itapuã Falar de amor em Itapuã Passar uma tarde em Itapuã Ao sol que arde em Itapuã Ouvindo o mar de Itapuã Falar de amor em Itapuã FELICIDADE Tristeza não tem fim Felicidade sim... A felicidade é como a pluma Que o vento vai levando pelo ar Voa tão leve Mas tem a vida breve Precisa que haja vento sem parar. A felicidade do pobre parece A grande ilusão do carnaval A gente trabalha o ano inteiro Por um momento de sonho Pra fazer a fantasia De rei, ou de pirata, ou jardineira E tudo se acabar na quarta-feira. Professora Janylce Costa Depois sentir o arrepio Do vento que a noite traz E o diz-que-diz-que macio Que brota dos coqueirais E nos espaços serenos Sem ontem nem amanhã Dormir nos braços morenos Da lua de Itapuã É bom! Passar uma tarde em Itapuã Ao sol que arde em Itapuã Ouvindo o mar de Itapuã Falar de amor em Itapuã Passar uma tarde em Itapuã Ao sol que arde em Itapuã Ouvindo o mar de Itapuã Falar de amor em Itapuã 21 De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. Soneto da fidelidade Professora Janylce Costa 22 Porque na casa Não tinha parede Ninguém podia Fazer pipi Porque penico Não tinha ali Mas era feita Com muito esmero Na Rua dos Bobos Número Zero. A casa Era uma casa Muito engraçada Não tinha teto Não tinha nada Ninguém podia Entrar nela não Porque na casa Não tinha chão Ninguém podia Dormir na rede Professora Janylce Costa 23 O pato Lá vem o pato Pata aqui, pata acolá Lá vem o pato Para ver o que é que há Lá vem o pato Pata aqui, pata acolá Lá vem o pato Para ver o que é que há O pato pateta Pintou o caneco Surrou a galinha Bateu no marreco Professora Janylce Costa Pulou do poleiro No pé do cavalo Levou um coice Criou um galo Comeu um pedaço De genipapo Ficou engasgado Com dor no papo Caiu no poço Quebrou a tigela Tantas fez, o moço Que foi pra panela 24 Da rosa da rosa Da rosa de Hiroxima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida. A rosa com cirrose A antirrosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada. Rosa de Hiroxima Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas oh não se esqueçam Professora Janylce Costa 25 Orfeu da Conceição Adaptação do mito grego de Orfeu ao cotidiano suburbano do Rio de Janeiro. A história serve de pano de fundo para a realização do roteiro de Orfeu Negro (filme de Marcel Camus), premiado em Cannes e no Oscar de 1959. Espetáculo grandioso, com participação de nomes como Tom Jobim, Carlos Scliar e Oscar Niemeyer, a peça torna-se um marco no teatro brasileiro. Professora Janylce Costa MURILO MENDES - Guerra. - O “eu” e o mundo. - Realidade social. - Religiosidade. - Humor. - Criador de um estilo próprio: uniu futurismo e surrealismo com imagens do catolicismo. Algumas obras: “Poemas”; “A poesia em pânico”; “As Metamorfoses’; “Mundo Enigma”; “Poesia Liberdade” 26 O católico visionário Professora Janylce Costa 27 Quando o almirante Cabral Pôs as patas no Brasil O anjo da guarda dos índios Estava passeando em Paris. Quando ele voltou da viagem O holandês já está aqui. O anjo respira alegre: "Não faz mal, isto é boa gente, Vou arejar outra vez." O anjo transpôs a barra, Diz adeus a Pernambuco, Faz barulho, vuco-vuco, Tal e qual o zepelim Mas deu um vento no anjo, Ele perdeu a memória... E não voltou nunca mais. O farrista Professora Janylce Costa 28 A mulher do fim do mundo Dá de comer às roseiras, Dá de beber às estátuas, Dá de sonhar aos poetas. A mulher do fim do mundo Chama a luz com assobio, Faz a virgem virar pedra, Cura a tempestade, Desvia o curso dos sonhos, Escreve cartas aos rios, Me puxa do sono eterno Para os seus braços que cantam. Metade pássaro Professora Janylce Costa JORGE DE LIMA - Verso livre. - Prosa em verso (narrativa). - Poesia social. - Poesia religiosa. - Para ele, a poesia está nas coisas mais simples. - Denúncia do preconceito profundo e disfarçado da sociedade brasileira. Algumas obras: “XIV Alexandrinos”; “Tempo e Eternidade”; “Poemas Negros”; “O Anjo”. 29 O católico engajado Professora Janylce Costa 30 Ó Fulô! Ó Fulô! (Era a fala da Sinhá) vem me ajudar, ó Fulô, vem abanar o meu corpo que eu estou suada, Fulô! vem coçar minha coceira, vem me catar cafuné, vem balançar minha rede, vem me contar uma história, que eu estou com sono, Fulô! Essa negra Fulô! "Era um dia uma princesa que vivia num castelo que possuía um vestido com os peixinhos do mar. Entrou na perna dum pato saiu na perna dum pinto o Rei-Sinhô me mandou que vos contasse mais cinco". Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Essa negra Fulô Ora, se deu que chegou (isso já faz muito tempo) no banguê dum meu avô uma negra bonitinha, chamada negra Fulô. Essa negra Fulô! Essa negra Fulô Ó Fulô! Ó Fulô! (Era a fala da Sinhá) — Vai forrar a minha cama pentear os meus cabelos, vem ajudar a tirar a minha roupa, Fulô! Essa negra Fulô! Essa negrinha Fulô! ficou logo pra mucama pra vigiar a Sinhá, pra engomar pro Sinhô! Essa negra Fulô! Essa negra Fulô Professora Janylce Costa 31 (A vista se escureceu que nem a negra Fulô). Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! Cadê meu lenço de rendas, Cadê meu cinto, meu broche, Cadê o meu terço de ouro que teu Sinhô me mandou? Ah! foi você que roubou! Ah! foi você que roubou! Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! O Sinhô foi açoitar sozinho a negra Fulô. A negra tirou a saia e tirou o cabeção, de dentro dêle pulou nuinha a negra Fulô. Essa negra Fulô Ó Fulô! Ó Fulô! Vai botar para dormir esses meninos, Fulô! "minha mãe me penteou minha madrasta me enterrou pelos figos da figueira que o Sabiá beliscou". Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! (Era a fala da Sinhá Chamando a negra Fulô!) Cadê meu frasco de cheiro Que teu Sinhô me mandou? — Ah! Foi você que roubou! Ah! Foi você que roubou! Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! O Sinhô foi ver a negra levar couro do feitor. A negra tirou a roupa, O Sinhô disse: Fulô! Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! Cadê, cadê teu Sinhô que Nosso Senhor me mandou? Ah! Foi você que roubou, foi você, negra fulô? Essa negra Fulô! Professora Janylce Costa MÁRIO QUINTANA A morte, a desilusão, o pessimismo, a angústia, realidade imprecisa, amargura: dissolvidos em névoas na cidade que adotara, Porto Alegre. Poeminha do Contra Todos esses que aí estão atravancando meu caminho, eles passarão... eu passarinho! Algumas obras: “Melhores Poemas”; “Caderno H”. 32 O poeta multifacetado ProfessoraJanylce Costa 33 Tenta esquecer-me... Ser lembrado é como evocar-se um fantasma... Deixa-me ser o que sou, o que sempre fui, um rio que vai fluindo... Em vão, em minhas margens cantarão as horas, me recamarei de estrelas como um manto real, me bordarei de nuvens e de asas, às vezes virão em mim as crianças banhar-se... Um espelho não guarda as coisas refletidas! E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar, as imagens perdendo no caminho... Deixa-me fluir, passar, cantar... toda a tristeza dos rios é não poderem parar! Deixa-me seguir para o mar Professora Janylce Costa 34 A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são 6 horas: há tempo… Quando se vê, já é 6ª-feira… Quando se vê, passaram 60 anos! Agora, é tarde demais para ser reprovado… E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade, eu nem olhava o relógio seguia sempre em frente… E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas. O tempo Professora Janylce Costa 35 Da vez primeira em que me assassinaram, Perdi um jeito de sorrir que eu tinha. Depois, a cada vez que me mataram, Foram levando qualquer coisa minha. Hoje, dos meus cadáveres eu sou O mais desnudo, o que não tem mais nada. Arde um toco de Vela amarelada, Como único bem que me ficou. Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada! Pois dessa mão avaramente adunca Não haverão de arrancar a luz sagrada! Aves da noite! Asas do horror! Voejai! Que a luz trêmula e triste como um ai, A luz de um morto não se apaga nunca! A rua dos cataventos Professora Janylce Costa
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