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FILOSOFIA PRÉ-VESTIBULAR 7PROENEM.COM.BR MITO E SENSO COMUM01 O QUE É FILOSOFIA? Quando a Filosofia é apresentada no Ensino Médio, a primeira dificuldade que os alunos têm é relativa à compreensão do que é a Filosofia. Afinal, muitos de vocês, estudantes secundaristas, nunca estudaram a disciplina anteriormente, e poucos já leram algum livro de iniciação à Filosofia. Um bom modo de introduzi-la na sala de aula é demarcá-la frente a outras disciplinas. É importante que se perceba, logo de início, as particularidades da Filosofia, e em que aspectos ela é diferente das outras matérias. A partir daí, é possível compreender o que é a Filosofia. COMO COMEÇAR? Em primeiro lugar, definindo um ponto de partida em comum com as outras disciplinas. Todas as disciplinas têm um objeto e um método. O objeto da Biologia, por exemplo, é o conjunto de fenômenos da vida. O objeto da Física é o conjunto de fenômenos da natureza, de fenômenos do universo. O objeto da História é o conjunto de registros do homem no tempo passado que se apresentam em nosso tempo. A palavra filosofia compõe-se de dois termos gregos: philia, que significa amor, e sophia, que significa sabedoria. Portanto, etimologicamente, filosofia significa amor à sabedoria. Contudo, isso não explica muita coisa. O que, de fato, é a Filosofia? A filosofia é uma atividade que tem um objetivo determinado: resolver problemas por meio da argumentação. Problemas filosóficos são os problemas a priori, independentes da experiência e conceituais, pois referem-se aos conceitos que utilizamos em nosso dia a dia e nas ciências. Diferentemente dos problemas científicos, que são resolvidos por meio da experimentação, os problemas filosóficos somente podem ser resolvidos pelo debate, pelo diálogo, pela controvérsia: o método da filosofia é argumentativo. Todas as disciplinas têm, também, um método. O método da Biologia e da Física é o método experimental, ou o método hipotético- dedutivo. O método da História é a análise documental, ou a análise arqueológica, ou o estudo dos registros de várias espécies que podem ser encontrados no momento em que se faz a história. A Filosofia tem o objetivo de alcançar a verdade acerca das noções, dos conceitos e das ideias mais fundamentais. Mas a verdade não é, necessariamente, absoluta. A verdade é provisória. A verdade é a melhor resposta que se tem atualmente. Isso não faz a verdade ser relativa; a verdade é uma consequência necessária da melhor argumentação possível hoje. Por isso, é melhor estudar Filosofia do que não estudar. Ter a certeza de chegar a uma verdade válida, ainda que provisória, é melhor do que não chegar à verdade e viver cheio de opiniões frágeis fundamentadas em preconceitos. Viver com uma verdade provisória, aberta à discussão, é melhor do que viver sem verdade alguma, achando que se tem todas as verdades do mundo. A Filosofia não é, portanto, mera opinião. Não é, também, qualquer argumentação. É a busca pela melhor argumentação, é o contrário da opinião – isso quer dizer que o filósofo não é uma pessoa cheia de opiniões sobre tudo, mas uma pessoa que investiga ideias e noções, utilizando uma técnica (lógica e argumentativa) para estudá-las. Por esse motivo é importante o estudo da lógica e da técnica argumentativa. Você, aluno, deve saber utilizar os argumentos com propriedade na construção de ensaios sobre temas filosóficos. Afinal, a primeira função do estudo da Filosofia é tornar os estudantes capazes de filosofar com alguma competência. Finalmente, a filosofia é uma atividade que todos praticam em vários momentos de todos os dias. A única diferença entre o leigo e filósofo profissional é que este último aprendeu a utilizar uma série de técnicas filosóficas que tornam o filosofar mais eficiente. Aprender algumas dessas técnicas é a primeira tarefa que um aluno de filosofia – quer no Ensino Médio, quer na faculdade – deve cumprir. Para estudar o objeto da filosofia é necessário um método filosófico, método que conduz ao objetivo de encontrar algumas verdades (ainda que provisórias). Em nossa matéria, aprenderemos justamente as ferramentas mais básicas para que possamos filosofar melhor: a lógica, a técnica argumentativa crítica e a história da Filosofia. O MITO Como vimos, a reflexão sistemática, metodológica e argumentativa sobre a realidade é uma característica da Filosofia, mas nem sempre foi esse o caminho utilizado pelos seres humanos à procura de explicações sobre o mundo. O homem tem sua vivência cotidiana, natural, material, psicológica e emocional repleta de dúvidas, insegurança, medos, e angústias. Em outras palavras, a trajetória do ser humano é permeada por eventos e fenômenos que carecem de explicações racionais, palpáveis e claras. Nessa demanda por explicações, surgem os mitos. Os mitos são narrativas em formato de lendas permeadas por elementos sobrenaturais, simbólicos, fantasiosos, deuses e entidades místicas que, ao contrário da lógica racional, não exigem comprovação ou explicação metódica. O mito dá conta de explicar aquilo que o ser humano não entende, mas que o assusta, gera insegurança acerca do desconhecido, daquilo que não é visto, ouvido ou tocado. https://pixabay.com/pt/photos/grécia-estátua-mitologia-grega-1358644/ A tradição filosófica abre caminho para novas formas de compreensão e explicação do mundo, entretanto, cabe destacar que o surgimento da Filosofia não exclui a presença de mitos. As narrativas mitológicas ainda são presentes e vivas em nosso cotidiano com lendas e histórias envolvendo, fantasias, deuses e entidades sobrenaturais. R ep ro du çã o Pr ob id a. A rt .1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR8 FILOSOFIA 01 MITO E SENSO COMUM PROTREINO EXERCÍCIOS 01. Aponte a origem da palavra filosofia. 02. Aponte o objetivo da Filosofia. 03. Qual a principal característica do método filosófico? 04. Aponte as características do mito. 05. Aponte as características do senso comum PROPOSTOS EXERCÍCIOS 01.(UNICAMP) A dúvida é uma atitude que contribui para o surgimento do pensamento filosófico moderno. Neste comportamento, a verdade é atingida através da supressão provisória de todo conhecimento, que passa a ser considerado como mera opinião. A dúvida metódica aguça o espírito crítico próprio da Filosofia. (Adaptado de Gerd A. Bornheim, Introdução ao filosofar. Porto Alegre: Editora Globo, 1970, p. 11.) A partir do texto, é correto afirmar que: a) A Filosofia estabelece que opinião, conhecimento e verdade são conceitos equivalentes. b) A dúvida é necessária para o pensamento filosófico, por ser espontânea e dispensar o rigor metodológico. c) O espírito crítico é uma característica da Filosofia e surge quando opiniões e verdades são coincidentes. d) A dúvida, o questionamento rigoroso e o espírito crítico são fundamentos do pensamento filosófico moderno. 02. (UPE) A filosofia, no que tem de realidade, concentra-se na vida humana e deve ser referida sempre a esta para ser plenamente compreendida, pois somente nela e em função dela adquire seu ser efetivo. VITA, Luís Washington. Introdução à Filosofia, 1964, p. 20. Sobre esse aspecto do conhecimento filosófico, é CORRETO afirmar que a) a consciência filosófica impossibilita o distanciamento para avaliar os fundamentos dos atos humanos e dos fins aos quais eles se destinam. b) um dos pontos fundamentais da filosofia é o desejo de conhecer as raízes da realidade, investigando-lhe o sentido, o valor e a finalidade. c) a filosofia é o estudo parcial de tudo aquilo que é objeto do conhecimento particular. d) o conhecimento filosófico é trabalho intelectual, de caráter assistemático, pois se contenta com as respostas para as questões colocadas. e) a filosofia é a consciência intuitiva sensível que busca a compreensão da realidade por meio de certos princípios estabelecidos pela razão. 03. (UEG) O ser humano, desde sua origem, em sua existência cotidiana, faz afirmações,nega, deseja, recusa e aprova coisas e pessoas, elaborando juízos de fato e de valor por meio dos quais procura orientar seu comportamento teórico e prático. Entretanto, houve um momento em sua evolução histórico-social em que o ser humano começa a conferir um caráter filosófico às suas indagações e perplexidades, questionando racionalmente suas crenças, valores e escolhas. Nesse sentido, pode-se afirmar que a filosofia a) é algo inerente ao ser humano desde sua origem e que, por meio da elaboração dos sentimentos, das percepções e dos anseios humanos, procura consolidar nossas crenças e opiniões. b) existe desde que existe o ser humano, não havendo um local ou uma época específica para seu nascimento, o que nos autoriza a afirmar que mesmo a mentalidade mítica é também filosófica e exige o trabalho da razão. c) inicia sua investigação quando aceitamos os dogmas e as certezas cotidianas que nos são impostos pela tradição e pela sociedade, visando educar o ser humano como cidadão. d) surge quando o ser humano começa a exigir provas e justificações racionais que validam ou invalidam suas crenças, seus valores e suas práticas, em detrimento da verdade revelada pela codificação mítica. 04. (UEMA) Leia a fábula de La Fontaine, uma possível explicação para a expressão ¯ ”o amor é cego”. No amor tudo é mistério: suas flechas e sua aljava, sua chama e sua infância eterna. Mas por que o amor é cego? Aconteceu que num certo dia o Amor e a Loucura brincavam juntos. Aquele ainda não era cego. Surgiu entre eles um desentendimento qualquer. Pretendeu então o Amor que se reunisse para tratar do assunto o conselho dos deuses. Mas a Loucura, impaciente, deu-lhe uma pancada tão violenta que lhe privou da visão. Vênus, mãe e mulher, pôs-se a clamar por vingança, aos gritos. Diante de Júpiter, de Nêmesis – a deusa da vingança – e de todos os juízos do inferno, Vênus exigiu que aquele crime fosse reparado. Seu filho não podia ficar cego. Depois de estudar detalhadamente o caso, a sentença do supremo tribunal celeste consistiu em declarar a loucura a servir de guia ao Amor. Fonte: LA FONTAINE, Jean de. O amor e a loucura. In: Os melhores contos de loucura. Flávio Moreira da Costa (Org.). Rio de Janeiro: Ediouro, 2007. A fábula traz uma explicação oriunda dos deuses para uma realidade humana. Esse tipo de explicação classifica-se como a) estética. b) filosófica. c) mitológica. d) científica. e) crítica. 05. (UEM-PAS 2011- adaptada) Aquilo que se estuda hoje como filosofia nas escolas nasceu na Grécia antiga (aproximadamente no séc. VII a.C.), em um contexto cultural de predomínio do pensamento mítico e da religião politeísta grega. Refletindo sobre a ciência, questiona Chauí: “a Filosofia nasceu realizando uma transformação gradual nos mitos gregos ou nasceu por uma ruptura radical com os mitos?” (CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, p. 34). A respeito do surgimento da filosofia e suas relações com o discurso mítico neste contexto grego, é correto afirmar que a) o discurso filosófico jamais se opôs ao discurso mítico, pois os filósofos eram sábios e sacerdotes; logo, defensores das explicações míticas. b) os primeiros filósofos gregos buscaram construir uma explicação que se aproximasse ao máximo das explicações mítica. c) houve uma ruptura radical entre a mitologia e a filosofia, pois a filosofia dedica-se a problemas distintos da mitologia. d) filosofia e mitologia são discursos contrários, pois a filosofia nega o sobrenatural e busca sempre combater qualquer tipo de divindade. e) nas origens do pensamento filosófico grego se verifica uma substituição gradual, porém, evidente, entre as explicações de natureza mítica, por explicações de caráter racional. R ep ro du çã o Pr ob id a. A rt .1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 01 MITO E SENSO COMUM 9 FILOSOFIA 06. (UFU) A atividade intelectual que se instalou na Grécia a partir do séc. VI a.C. está substancialmente ancorada num exercício especulativo-racional. De fato, “[...] não é mais uma atividade mítica (porquanto o mito ainda lhe serve), mas filosófica; e isso quer dizer uma atividade regrada a partir de um comportamento epistêmico de tipo próprio: empírico e racional”. SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-socráticos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 32. Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na Grécia, assinale a alternativa correta. a) A mentalidade pré-filosófica grega é expressão típica de um intelecto primitivo, próprio de sociedades selvagens. b) A filosofia racionalizou o mito, mantendo-o como base da sua especulação teórica e adotando a sua metodologia. c) A narrativa mítico-religiosa representa um meio importante de difusão e manutenção de um saber prático fundamental para a vida cotidiana. d) A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões culturais típicas de uma mentalidade filosófica elaborada, crítica e radical, baseada no logos. 07.(UEG) A cultura grega marca a origem da civilização ocidental e ainda hoje podemos observar sua influência nas ciências, nas artes, na política e na ética. Dentre os legados da cultura grega para o Ocidente, destaca-se a ideia de que a) a natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários e universais que podem ser plenamente conhecidos pelo nosso pensamento. b) nosso pensamento também opera obedecendo a emoções e sentimentos alheios à razão, mas que nos ajudam a distinguir o verdadeiro do falso. c) as práticas humanas, a ação moral, política, as técnicas e as artes dependem do destino, o que negaria a existência de uma vontade livre. d) as ações humanas escapam ao controle da razão, uma vez que agimos obedecendo aos instintos como mostra hoje a psicanálise. 08. (IFSP) Comparando-se mito e filosofia, é correto afirmar o seguinte: a) A autoridade do mito depende da confiança inspirada pelo narrador, ao passo que a autoridade da filosofia repousa na razão humana, sendo independente da pessoa do filósofo. b) Tanto o mito quanto a filosofia se ocupam da explicação de realidades passadas a partir da interação entre forças naturais personalizadas, criando um discurso que se aproxima do da história e se opõe ao da ciência. c) Enquanto a função do mito é fornecer uma explicação parcial da realidade, limitando-se ao universo da cultura grega, a filosofia tem um caráter universal, buscando respostas para as inquietações de todos os homens. d) Mito e filosofia dedicam-se à busca pelas verdades absolutas e são, em essência, faces distintas do mesmo processo de conhecimento que culminou com o desenvolvimento do pensamento científico. e) A filosofia é a negação do mito, pois não aceita contradições ou fabulações, admitindo apenas explicações que possam ser comprovadas pela observação direta ou pela experiência. 09.(UEL) Leia atentamente os textos abaixo, respectivamente, de Platão e de Aristóteles: [...] a admiração é a verdadeira característica do filósofo. Não tem outra origem a filosofia. (PLATÃO. Teeteto. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: Universidade Federal do Pará, 1973. p. 37.) Com efeito, foi pela admiração que os homens começaram a filosofar tanto no princípio como agora; perplexos, de início, ante as dificuldades mais óbvias, avançaram pouco a pouco e enunciaram problemas a respeito das maiores, como os fenômenos da Lua, do Sol e das estrelas, assim como a gênese do universo. E o homem que é tomado de perplexidade e admiração julga-se ignorante (por isso o amigo dos mitos é, em certo sentido, um filósofo, pois também o mito é tecido de maravilhas); portanto, como filosofavam para fugir à ignorância, é evidente que buscavam a ciência a fim de saber, e não com uma finalidade utilitária. (ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I. Tradução Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969. p. 40.) Com base nos textos acima e nos conhecimentos sobre a origem da filosofia, é correto afirmar: a) A filosofia surgiu, como a mitologia,da capacidade humana de admirar-se com o extraordinário e foi pela utilidade do conhecimento que os homens fugiram da ignorância. b) A admiração é a característica primordial do filósofo porque ele se espanta diante do mundo das ideias e percebe que o conhecimento sobre este pode ser vantajoso para a aquisição de novas técnicas. c) Ao se espantarem com o mundo, os homens perceberam os erros inerentes ao mito, além de terem reconhecido a impossibilidade de o conhecimento ser adquirido pela razão. d) Ao se reconhecerem ignorantes e, ao mesmo tempo, se surpreenderem diante do anseio de conhecer o mundo e as coisas nele contidas, os homens foram tomados de espanto, o que deu início à filosofia. e) A admiração e a perplexidade diante da realidade fizeram com que a reflexão racional se restringisse às explicações fornecidas pelos mitos, sendo a filosofia uma forma de pensar intrínseca às elaborações mitológicas. 10. (UEL 2005) Sobre a passagem do mito à filosofia, na Grécia Antiga, considere as afirmativas a seguir. I. Os poemas homéricos, em razão de muitos de seus componentes, já contêm características essenciais da compreensão de mundo grega que, posteriormente, se revelaram importantes para o surgimento da filosofia. II. O naturalismo, que se manifesta nas origens da filosofia, já se evidencia na própria religiosidade grega, na medida em que nem homens nem deuses são compreendidos como perfeitos. III. A humanização dos deuses na religião grega, que os entende movidos por sentimentos similares aos dos homens, contribuiu para o processo de racionalização da cultura grega, auxiliando o desenvolvimento do pensamento filosófico e científico. IV. O mito foi superado, cedendo lugar ao pensamento filosófico, devido à assimilação que os gregos fizeram da sabedoria dos povos orientais, sabedoria esta desvinculada de, qualquer base religiosa. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II. b) II e IV. c) III e IV. d) I, II e III. e) I, III e IV. R ep ro du çã o Pr ob id a. A rt .1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR10 FILOSOFIA 01 MITO E SENSO COMUM 11. Sobre a singularidade do pensamento filosófico, atente ao texto a seguir: Ao fazer filosofia, o pensamento aprimora sua força de busca, quer dizer, aprende a pensar. Aprender a pensar significa promover o nascimento da realidade. (BUZZI, Arcângelo R. Introdução ao Pensar. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 25) O autor na citação acima sinaliza, com clareza e distinção, que a) o pensamento filosófico aprende a pensar, declinando da realidade. b) o aprender a pensar promove a dimensão acrítica. c) o pensamento crítico substitui a realidade. d) o pensamento filosófico está dissociado da realidade. e) aprender a pensar fomenta o entendimento da realidade na sua inteireza. 12. Referindo-se à Filosofia, Montaigne escreve: “É singular que em nosso século as coisas sejam de tal forma que a filosofia, até para as pessoas inteligentes, seja um nome vão e fantástico, que se considera de nenhum uso e de nenhum valor, tanto por opinião como de fato. Creio que a causa disso são esses ergotismos [que significa abuso de silogismos na argumentação] que invadiram seus caminhos de acesso. É um grande erro pintá- la inacessível às crianças e com um semblante carrancudo, sobranceiro e terrível. Quem a mascarou com esse falso semblante, lívido e medonho? Não há nada mais alegre, mais jovial, mais vivaz e quase digo brincalhão. Ela só prega festa e bons momentos. Uma fisionomia triste e inteiriçada mostra que não é ali sua morada” (MONTAIGNE I, 26, p. 240). Depois de ler o texto acima, atentamente, assinale a alternativa CORRETA. a) Montaigne entende que a filosofia destina-se somente a algumas pessoas muito inteligentes, pois é inacessível para a maioria delas. b) Montaigne considera que a filosofia é carrancuda e triste porque é crítica e precisa assustar as pessoas. c) Montaigne concorda que a filosofia é um nome vão e fantástico: não tem nenhum uso e nenhum valor para as pessoas inteligentes. d) Montaigne argumenta que a filosofia é brincalhona e jovial, aberta a muitos, inclusive para as crianças. e) Montaigne julga que a filosofia deve ser sempre terrível e se contrapor à festa e à alegria. 13. (UFMA 2008) O senso comum se caracteriza por ser: I. um conhecimento valorativo, em que cada coisa ou fato nos afeta de maneira diferente. II. um conhecimento generalizador, pois reúne um certo número de fenômenos sob as mesmas leis. III. um conhecimento subjetivo que expressa um saber da nossa sociedade ou do nosso grupo social. Dos itens acima, pode-se concluir: a) somente I e III estão corretos. b) somente II e III estão incorretos. c) somente I está incorreto. d) todos estão incorretos. e) todos estão corretos. 14. Diante do desprezo dos pragmáticos de plantão, acenamos com a impossibilidade e a necessidade de reflexão filosófica. Com relação à filosofia, pode-se afirmar: a) A filosofia pressupõe constante disponibilidade para a indagação. Platão e Aristóteles disseram que a primeira virtude do filósofo é a admiração. b) A filosofia pressupõe constante disponibilidade para problematizar. Platão e Aristóteles disseram que a primeira virtude do filósofo é a loucura. c) A filosofia pressupõe constante disponibilidade para a indagação. Platão e Aristóteles disseram que a primeira virtude do filósofo é o sonho. d) A filosofia pressupõe constante disponibilidade para a indagação. Platão e Aristóteles disseram que a primeira virtude do filósofo é o destemor. 15. (UEL 2015) Leia os textos a seguir. Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre. HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. 3.ed. Trad. de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995. p.91. Segundo a mitologia ioruba, no início dos tempos havia dois mundos: Orum, espaço sagrado dos orixás, e Aiyê, que seria dos homens, feito apenas de caos e água. Por ordem de Olorum, o deus supremo, o orixá Oduduá veio à Terra trazendo uma cabaça com ingredientes especiais, entre eles a terra escura que jogaria sobre o oceano para garantir morada e sustento aos homens. “A Criação do Mundo”. SuperInteressante. jul. 2008. Disponível em: <http://super.abril. com.br/religiao/criacaomundo-447670.shtm>. Acesso em: 1 abr. 2014. No começo do tempo, tudo era caos, e este caos tinha a forma de um ovo de galinha. Dentro do ovo estavam Yin e Yang, as duas forças opostas que compõem o universo. Yin e Yang são escuridão e luz, feminino e masculino, frio e calor, seco e molhado. PHILIP, N. O Livro Ilustrado dos Mitos: contos e lendas do mundo. Ilustrado por Nilesh Mistry. Trad. de Felipe Lindoso. São Paulo: Marco Zero, 1996. p.22. Com base nos textos e nos conhecimentos sobre a passagem do mito para o logos na filosofia, considere as afirmativas a seguir. I. As diversas narrativas míticas da origem do mundo, dos seres e das coisas são genealogias que concebem o nascimento ordenado dos seres; são discursos que buscam o princípio que causa e ordena tudo que existe. II. Os mitos representam um relato de algo fabuloso que afirmam ter ocorrido em um passado remoto e impreciso, em geral grandes feitos apresentados como fundamento e começo da história de dada comunidade. III. Para Platão, a narrativa mitológica foi considerada, em certa medida, um modo de expressar determinadas verdades que fogem ao raciocínio, sendo, com frequência, algo mais do que uma opinião provável ao exprimir o vir-a-ser. IV. Quando tomado como um relato alegórico, o mito é reduzido a um conto fictício desprovido de qualquer correspondência com algum tipo de acontecimento, em que inexiste relação entre o real e o narrado. R ep ro du çã o Pr ob id a. A rt .1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 01 MITO E SENSO COMUM 11 FILOSOFIA Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 16. (UNIOESTE 2013) “Não é fácil definir se a ideia dos poemas homéricos, segundo a qual o Oceano é a origem de todas as coisas, difere da concepção de Tales, que considera a água o princípio original do mundo; seja como for, é evidente que a representação do mar inesgotável colaborou para a sua expressão. Em todas as partes da Teogonia, de Hesíodo, reina a vontade expressa de uma compreensão construtiva e uma perfeita coerência na ordem racional e na formulação dos problemas. Por outro lado, a sua cosmologia ainda apresenta uma irreprimível pujança de criação mitológica, que, muito mais tarde, ainda age sobre as doutrinas dos “fisiólogos”, nos primórdios da filosofia “científica”, e sem a qual não se poderia conceber a atividade prodigiosa que se expande na criação das concepções filosóficas do período mais antigo da ciência” Werner Jaeger. Considerando o texto acima sobre o surgimento da filosofia na Grécia, seguem as afirmativas abaixo: I. O surgimento da filosofia não coincide com o início do uso do pensamento racional. II. O surgimento da filosofia não coincide com o fim do uso do pensamento mítico. III. Tales de Mileto, no século VI a.C., ao propor a água como princípio original do mundo, rompe, definitivamente, com o pensamento mítico. IV. Mitos estão presentes ainda nos textos filosóficos de Platão (século IV a.C.), como, por exemplo, o mito do julgamento das almas. V. Os primeiros filósofos gregos, chamados “pré-socráticos”, em sua reflexão, não se ocupavam da natureza (Physis). Das afirmativas feitas acima a) apenas a afirmação V está correta. b) apenas as afirmações III e V estão corretas. c) apenas as afirmações II e IV estão corretas. d) apenas as afirmações I, II e IV estão corretas. e) apenas as afirmações I, III e V estão corretas. 17. (UEL 2007) “Há, porém, algo de fundamentalmente novo na maneira como os Gregos puseram a serviço do seu problema último – da origem e essência das coisas – as observações empíricas que receberam do Oriente e enriqueceram com as suas próprias, bem como no modo de submeter ao pensamento teórico e casual o reino dos mitos, fundado na observação das realidades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do mundo.” Fonte: JAEGER, W. Paideia. Tradução de Artur M. Parreira. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 197. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação entre mito e filosofia na Grécia, é correto afirmar: a) Em que pese ser considerada como criação dos gregos, a filosofia se origina no Oriente sob o influxo da religião e apenas posteriormente chega à Grécia. b) A filosofia representa uma ruptura radical em relação aos mitos, representando uma nova forma de pensamento plenamente racional desde as suas origens. c) Apesar de ser pensamento racional, a filosofia se desvincula dos mitos de forma gradual. d) Filosofia e mito sempre mantiveram uma relação de interdependência, uma vez que o pensamento filosófico necessita do mito para se expressar. e) O mito já era filosofia, uma vez que buscava respostas para problemas que até hoje são objeto da pesquisa filosófica. 18. (UPE-SSA 2 2018) Sobre o conhecimento filosófico, considere o texto a seguir: O saber é infinito e difuso; dele se valendo, procura a filosofia aquele centro a que fazíamos referência. O simples saber é uma acumulação; a filosofia é uma unidade. O saber é racional e igualmente acessível a qualquer inteligência. A filosofia é o modo de pensamento, que termina por constituir a essência mesma de um ser humano. (JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo: Cultrix, 1999, p. 13) O autor enfatiza a singularidade do conhecimento filosófico. No alinhamento dessa reflexão, tem-se como CORRETO que a) o conhecimento filosófico se adquire sem ser procurado, surge espontânea e naturalmente, no âmbito da razão. b) a filosofia é um saber de acumulação, bastando tão somente adquiri-lo. c) o conhecimento filosófico é a posse do saber racional no âmbito existencial. d) o saber filosófico é infinito e difuso, valendo-se da sensação para se constituir em essência do ser humano. e) o conhecimento filosófico caracteriza-se pela sua dimensão crítica e sonda a essência mesma das coisas. 19. (UNICENTRO 2012) A prática filosófica exige do sujeito disposição para o questionamento e a indagação. Desconfiar do óbvio é uma das exigências da reflexão filosófica. Com base nessa afirmativa e em seus conhecimentos filosóficos, é correto afirmar que a prática filosófica a) é necessária, pois promove a abertura mental, possibilitando mudanças na vida do ser humano. b) não enxerga nada da realidade, pois seu objeto é apenas transcendental. c) é igual a qualquer outra prática humana, por ser apenas informação. d) não trabalha com o pensamento racional. e) necessita apenas de bom-senso. 20. (UPE 2012) Que representa a Filosofia? É uma das raras possibilidades de existência criadora. Seu dever inicial é tornar as coisas mais refletidas, mais profundas (Heidegger, Martin). Nessa perspectiva, é correto afirmar que a Filosofia a) é uma atividade de crítica e de análise dos valores de uma dada sociedade, na perspectiva de reorientação dos sentidos/ significados da vida e do mundo. b) começa dizendo sim às crenças e aos preconceitos do senso comum e, portanto, começa dizendo que sabemos o que imaginávamos saber. c) não se distingue da ciência pelo modo como aborda seu objeto em todos os setores do conhecimento e da ação. d) é a impossibilidade da transcendência humana, ou seja, a capacidade que só o homem tem de superar a situação dada e não escolhida. e) sempre se confronta com o poder, e sua investigação fica alheia à ética e à política R ep ro du çã o Pr ob id a. A rt .1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR12 FILOSOFIA 01 MITO E SENSO COMUM 05. APROFUNDAMENTO EXERCÍCIOS DE 01. (UDESC) Os atuais filósofos da educação afirmam que o fundamental na educação de nossos alunos é filosofar e não só filosofia. O que é filosofar? 02. (UDESC) Afirma-se, comumente, que as principais características da filosofia são a reflexão e a atitude crítica. Nesse horizonte, estabeleça a diferença entre a filosofia e o senso comum. 03. (UFU) Quais são as principais diferenças entre Filosofia e mito? 04. (UNESP) À medida que a ciência se mostrou capaz de compreender a realidade de forma mais rigorosa, tornando possível fazer previsões e transformar o mundo, houve a tendência a desprezar outras abordagens da realidade, como o mito, a religião, o bom senso da vida cotidiana, a vida afetiva, a arte e a filosofia. A confiança total na ciência valoriza apenas a racionalidade científica, como se ela fosse a única forma de resposta às perguntas que o homem se faz e a única capaz de resolver os problemas humanos. Maria L. de A. Aranha e Maria H.P. Martins. Temas de filosofia, 1992. Com base na ideia de “verdade absoluta”, explique a diferença entre mito e ciência. Considerando a expressão “confiança total na ciência”, explique como o próprio conhecimento científico pode se transformar em mito. 05. (UNESP) O pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em que vive: a origem do mundo, o funcionamento da natureza e as origens desse povo, bem como seus valores básicos. As lendas e narrativas míticas não são produto de um autor ou autores, mas parte da tradição cultural e folclórica de um povo. Sua origem cronológica é indeterminada e sua forma de transmissão é basicamente oral. O mito é, portanto, essencialmente fruto de uma tradição cultural e não da elaboração de um determinado indivíduo. O mito não se justifica, não se fundamenta, portanto, nem se presta ao questionamento, à crítica ou à correção. Um dos elementos centrais dopensamento mítico e de sua forma de explicar a realidade é o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia. As causas dos fenômenos naturais são explicadas por uma realidade exterior ao mundo humano e natural, superior, misteriosa, divina, a qual só os sacerdotes, os magos, os iniciados, são capazes de interpretar, ainda que apenas parcialmente. (Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001. Adaptado.) A partir do texto, explique como o pensamento filosófico característico da Grécia clássica diferenciou-se do pensamento mítico. GABARITO EXERCÍCIOS PROPOSTOS 1.D 2.B 3.D 4.C 5.E 6.C 7.A 8.A 9.D 10.D 11.E 12.D 13.A 14.A 15.D 16.D 17.C 18.E 19.A 20.A EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO 01. Filosofar pode ser considerado como a atitude de reflexão e de problematização das verdades incorporadas pelo senso comum e pelo pensamento dogmático, além da busca por critérios válidos de investigação das verdades e da origem das coisas para que os estudantes criem uma autonomia no seu pensamento e não sejam facilmente enganados e manipulados. 02. A Filosofia propriamente dita surge no momento em que o exercício do pensar torna- se objeto de reflexão, ou seja, no instante em que o homem retoma o significado de seus atos e dos seus pensamentos e nesta hora é chamado a pensar o já pensando. A atitude crítica na filosofia não faz afirmação apenas, mas se obriga a justificar o pensamento com argumentos que evita contradições e ambiguidades. Senso comum é aquele conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados ao qual, ao longo da experiência vivida acrescentamos seus resultados a partir do coletivo em que vivemos. Este conjunto de ideias permite-nos interpretar a realidade, bem como de um corpo de valores que nos ajuda a avaliar, julgar e agir. 03. A filosofia possui uma tendência à racionalidade, isto é, a razão é o seu critério de verdade. Já o mito não possui uma tendência à racionalidade, e sim uma tendência à irracionalidade, isto é, os deuses e as fantasias sobre coisas incontroláveis que não podemos acessar normalmente, definem o valor da crença. 04. A diferença entre mito e ciência consiste no modo a partir do qual cada um entende que se dá o processo do conhecimento acerca da realidade: enquanto no mito esse processo se fundamenta no sobrenatural e no dogmatismo, na ciência é a experimentação metódica e a formulação de teorias e leis gerais que possibilita o conhecimento. Com o aumento da importância da ciência como paradigma da vida humana e do universo, sobretudo a partir do século XIX, passou a predominar a ideia de que apenas o conhecimento científico possuiria legitimidade e seria capaz de fornecer uma verdade absoluta. No entanto, a confiança total na ciência pode levar a um processo contraditório no qual ocorre a mitificação da ciência, na medida em que busca-se explicações científicas para aspectos da condição humana que escapam ao entendimento da mesma e/ou entende-se as produções da ciência como verdades absolutas inquestionáveis, ou seja, como dogmas. 05. O pensamento mítico e o pensamento filosófico buscam responder a questionamentos acerca da natureza e do homem que muitas vezes coincidem, ou seja, ambos os pensamentos buscam o entendimento do mundo que cerca os indivíduos. No entanto, enquanto o pensamento mítico se baseia na atribuição de caráter sobrenatural às explicações fornecidas, o que dispensa o uso da postura crítica investigativa, o pensamento filosófico é fundamentado na aplicação do paradigma do raciocínio lógico na formulação das interpretações acerca dos questionamentos considerados, o que impõe o uso de uma perspectiva racional na observação dos fenômenos. ANOTAÇÕES R ep ro du çã o Pr ob id a. A rt .1 84 d o CP . FILOSOFIA PRÉ-VESTIBULAR 13PROENEM.COM.BR SURGIMENTO DA FILOSOFIA02 O CONTEXTO GREGO E A FILOSOFIA A Filosofia surge na Grécia, mas não por acaso, essa pequena parte da atual Europa conjugava uma série de fatores necessários para surgimento dessa disciplina. • Existência da pólis. • Viagens Marítimas. • Uso da escrita. • Uso do calendário. • Uso da moeda. • Não existência de um livro sagrado da religião grega. A PÓLIS E A DEMOCRACIA GREGA A consolidação da pólis, a cidade-Estado grega no contexto do início do séculoVII a.C é um acontecimento fundamental para entender o surgimento da Filosofia. Nela foram apresentados elementos que compuseram e até hoje compõem o pensar filosófico. A pólis era espaço do debate. As discussões nas ágoras eram permeadas por questões acerca da justiça, poder e moral. Esses debates tinham como característica fundamental a natureza política do processo, em outras palavras, os temas discutidos eram de natureza coletiva, isto é, falavam sobre a dinâmica da coletividade, das cidades, daquilo que era comum a todos. Além disso, o espaço da ágora era o local da palavra, da primazia da argumentação e da oposição de ideias. A natureza do debate colocava de lado as explicações mitológicas, aquilo que era proferido por deuses e as verdades absolutas e inquestionáveis. Outro elemento importante trata de como ocorria o processo de participação no debates. A democracia ateniense, que influenciou as outras cidades-Estado, é marcada pela participação direta, isto é, cada pessoa tinha a possibilidade de falar diretamente nos espaço de discussão, ao contrário da lógica da escolha de representantes. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/ad/Parthenon_from_west. jpg/800px-Parthenon_from_west.jpg É sabido que a participação não era direito de todos, era vetada a segmentos da sociedade como mulheres, estrangeiros e escravos, mas vale ressaltar a relevância de uma lógica de participação na qual o poder da palavra e da tomada de decisões estavam garantidos a diversos membros da coletividade e não apenas a um grupo específico. O USO DA ESCRITA E A MOEDA A escrita não surgiu associada à pólis, ela já existia antes do século XII a.C, mas voltou a ganhar força por volta do século VIII a.C. O uso da escrita tem relevância para o surgimento da lógica filosófica por diversos motivos como: • os escritos eram submetidos à avaliação pública • aquilo que estava escrito era passível de crítica, debate e oposição • na escrita, a palavra dita ganha uma natureza perene, que dura • a permanência do escrito exigiu maior rigor sobre o que era dito, cobrando reflexões mais profundas. De modo paralelo ao fortalecimento da pólis e do estabelecimento da democracia, surge a moeda. O contexto grego era marcado por uma aristocracia que devia, em grande medida, parte da sua posição social de superioridade baseada em argumentos divinos e ancestrais. Dessa maneira, as noções de valor no sistema de troca de mercadorias eram afetadas por esses privilégios e visões de superioridades. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8a/Naxos-02.jpg O surgimento da moeda grega, por volta do século VII a.C, teve a função de estabelecer um padrão para o cálculo dos valores que tinha como grande novidade ter sido construído e estabelecido pelo homem, tirando de critérios sagrados o papel dessas convenções que favoreciam valores aristocráticos. PROTREINO EXERCÍCIOS 01. Aponte duas características que contribuíram para o surgimento da Filosofia. 02. Apresente uma importante característica da democracia grega 03. Aponte uma contribuição do uso da escrita no mundo grego 04. Aponte uma elemento importante do surgimento da moeda na Grécia. 05. O que eram as ágoras? R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR14 FILOSOFIA 02 SURGIMENTO DA FILOSOFIA PROPOSTOS EXERCÍCIOS 01.(UNIMONTES) A passagem da mentalidade mítica para o pensamento racional e filosófico foi gestada por fatores considerados relevantes para a construção de uma nova mentalidade. Algumas novidades do período arcaico ajudaram a transformar a visão que o mito oferecia sobre o mundo e aexistência humana. Nesse aspecto, são todos fatores relevantes: a) a invenção da escrita e da moeda, a lei escrita e a imprensa. b) a invenção da escrita e do telefone, a lei escrita e o nascimento da pólis. c) a invenção da escrita e da moeda, a lei escrita e o nascimento da pólis. d) a invenção da escrita e da religião, a lei escrita e o nascimento da pólis. 02. (UEAP) A filosofia surge na Grécia por volta do século VI a.C. Mudanças sociais, políticas e econômicas favoreceram o seu surgimento. Dentre estas mudanças, pode-se mencionar: a) a estruturação do mundo rural, desenvolvimento do sistema escravagista e o estabelecimento de uma aristocracia proprietária de terras. b) a expansão da economia local fundada no desenvolvimento do artesanato, o fortalecimento dos “demos” e da organização familiar patriarcal. c) as disputas entre Atenas e Esparta, o desenvolvimento de Mecenas e do comércio jônico. d) o uso da escrita alfabética, as viagens marítimas e a evolução do comércio e do artesanato. e) o predomínio do pensamento mítico. 03. (UNICENTRO) A passagem do Mito ao Logos na Grécia antiga foi fruto de um amadurecimento lento e processual. Por muito tempo, essas duas maneiras de explicação do real conviveram sem que se traçasse um corte temporal mais preciso. Com base nessa afirmativa, é correto afirmar: a) O modo de vida fechado do povo grego facilitou a passagem do Mito ao Logos. b) A passagem do Mito ao Logos, na Grécia, foi responsabilidade dos tiranos de Siracusa. c) A economia grega estava baseada na industrialização, e isso facilitou a passagem do Mito ao Logos. d) O povo grego antigo, nas viagens, se encontrava com outros povos com as mesmas preocupações e culturas, o que contribuiu para a passagem do Mito ao Logos. e) A atividade comercial e as constantes viagens oportunizaram a troca de informações/conhecimentos, a observação/ assimilação dos modos de vida de outros povos, contribuindo, assim, de modo decisivo, para a construção da passagem do Mito ao Logos. 04. (UEG) Tales foi o iniciador da reflexão sobre a physis, pois foi o primeiro filósofo a afirmar a existência de um princípio originário e único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que esse princípio de tudo é a água. Tudo se origina a partir dela. Essa proposta é importantíssima [...] podendo com boa dose de razão ser qualificada como a primeira proposta filosófica daquilo que se costuma chamar de começo da formação do universo. REALE, Giovanni. História da filosofia. São Paulo: Loyola, 1990. A passagem do mito à filosofia iniciou-se com os pré-socráticos. O primeiro deles foi Tales de Mileto, que iniciou o estudo da cosmologia. A cosmologia é definida como: a) a investigação racional do agir humano. b) a investigação acerca da origem e da ordem do mundo. c) o estudo do belo na arte. d) o estudo do estado civil e natural e seu ordenamento jurídico. 05. (UNIOESTE) “O mito é uma narrativa. É um discurso, uma fala. É uma forma de as sociedades espelharem suas contradições, exprimirem seus paradoxos, dúvidas e inquietações. Pode ser visto como uma possibilidade de se refletir sobre a existência, o cosmos, as situações de ‘estar no mundo’ ou as relações sociais”. Everardo Rocha. Mediante essa definição geral de mito é correto afirmar que a) as sociedades com conhecimentos científico, tecnológico e filosófico complexamente constituídos não possuem mitos, pois eliminaram as dúvidas e os paradoxos. b) Platão, um dos filósofos mais estudados e influentes do pensamento ocidental, não recorria aos mitos em seus diálogos, apesar de ter sido o primeiro a utilizar o termo mitologia. c) alguns mitos oferecem modelos de vida e podem servir como referências para a vida de muitas pessoas mesmo no século XXI. d) as sociedades antigas, ocidentais e orientais, foram fundadas sobre o mesmo mito primitivo, variando, apenas, os nomes de seus personagens. e) todas as afirmações acima estão corretas. 06. (ENEM PPL 2016) O aparecimento da pólis, situado entre os séculos VIII e VII a.C., constitui, na história do pensamento grego, um acontecimento decisivo. Certamente, no plano intelectual como no domínio das instituições, a vida social e as relações entre os homens tomam uma forma nova, cuja originalidade foi plenamente sentida pelos gregos, manifestando-se no surgimento da filosofia. VERNANT, J.-P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 2004 (adaptado). Segundo Vernant, a filosofia na antiga Grécia foi resultado do(a) a) constituição do regime democrático. b) contato dos gregos com outros povos. c) desenvolvimento no campo das navegações. d) aparecimento de novas instituições religiosas. e) surgimento da cidade como organização social. 07. (UEL 2014)Observe a figura a seguir e responda à questão. R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 02 SURGIMENTO DA FILOSOFIA 15 FILOSOFIA A figura mostra Atenas na atualidade. Observam-se as ruínas da Acrópolis – onde ficavam os templos como o Parthenon –, o Teatro de Dionísio e a Asthy – com a Ágora (Mercado/Praça Pública) e as casas dos moradores. Sobre a relação entre a organização da cidade de Atenas, a ideia de polis e o aparecimento da filosofia na Grécia Clássica, considere as afirmativas a seguir. I. A filosofia surgiu simultaneamente à cidade-Estado, ambiente em que predominava o discurso público baseado na troca de opiniões e no desenvolvimento da argumentação. II. A filosofia afastava-se das preocupações imediatas da aparência sensível e voltava-se para as questões do espírito. III. O discurso proferido pelo filósofo era dirigido a pequenos grupos, o que o distanciava da vida pública. IV. O discurso da filosofia no contexto da polis restringia-se ao mesmo tipo de discurso dos guerreiros e dos políticos ao desejar convencer em vez de proferir a verdade. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 08. (UPE-SSA 1 2017) Observe o texto a seguir sobre a gênese do pensamento filosófico. Com a filosofia, novo critério de verdade se impunha: o critério da logicidade. Verdade é aquilo, que concorda com as leis do lógos (pensamento, razão). É a razão, que nos dá garantia da verdade, porque o real é racional. LARA, Tiago Adão. A Filosofia nas suas origens gregas, 1989, p. 54. Sobre a gênese do pensamento filosófico, está CORRETO afirmar que a) a evidência da verdade com o crivo da racionalidade tem resposta no mito. b) o critério da logicidade está presente na adesão à crença e ao mito. c) a gênese do pensar filosófico e a inspiração criadora de sentidos consistem na fantasia. d) a origem do pensamento filosófico surge entre os gregos, no século VI a.C., na busca por explicação do sobrenatural com a força do divino. e) o despertar da filosofia grega surge na verdade argumentada da razão com o critério da interpretação. 09. (UNIOESTE) “Reflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno a si mesmo. A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo. A reflexão filosófica é radical porque é um movimento de volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como é possível o próprio pensamento. Não somos, porém, somente seres pensantes. Somos também seres que agem no mundo. [...] A reflexão filosófica também se volta para essas relações que mantemos com a realidade circundante, para o que dizemos e para as ações que realizamos nessas relações.” (M. Chauí) Sobre a Filosofia, conforme o texto acima, seguem as seguintes afirmações: I. Independentemente de seu conteúdo ou objeto, uma característica fundamental da Filosofia é a indagação, a interrogação. II. A Filosofia direciona perguntascomo “o que é?”, “por que é?” e “como é?” ao mundo que nos cerca, ao próprio homem e às relações que o homem estabelece. III. A Filosofia não é algo importante porque não somos apenas seres pensantes. IV. A reflexão sobre o conhecer e o agir humanos fazem parte da reflexão filosófica. V. A reflexão filosófica é radical porque é feita sem nenhum tipo de objetivo. Das afirmações feitas acima a) apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. b) apenas as afirmativas I, II e III estão corretas. c) apenas as afirmativas I, II, III e V estão corretas. d) todas as afirmativas estão corretas. e) todas as afirmativas estão incorretas. 10. (UEL 2007) Leia o texto a seguir: “Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre dos imortais que têm a cabeça do Olimpo nevado e Tártaro nevoento no fundo do chão de amplas vias e Eros: o mais belo entre Deuses imortais.” Fonte: HESÍODO. Teogonia. Tradução de Jaa Torrano. 3ª ed. São Paulo: Iluminuras, 1995, p. 111. Sobre o exposto acima, podemos afirmar que se trata de um texto: I. Do período cosmológico, que compreende as escolas pré- socráticas, cujo interesse era perseguir a unidade que garantia a ordem do mundo e a possibilidade do conhecimento humano. II. De caráter ético, cuja narrativa revela a preocupação com a conduta dos homens e dos deuses. III. De caráter cosmogônico, cuja reflexão busca tornar concebível a origem das coisas e a força que as produziu. IV. Anterior à cosmologia filosófica, cuja narrativa reflete ainda a mentalidade mítica. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e III. b) III e IV. c) II e IV. d) I, II e III. e) I, II e IV. 11. (UNICENTRO 2010) No século V a.C. Atenas esteve sob o governo de Péricles, um dos grandes estrategos do mundo grego. Naquele período, Atenas vivenciou o grande florescimento das artes, ciência, filosofia e política. Segundo alguns autores, é a partir do governo de Péricles que os gregos traçaram as linhas mestras daquilo que viria a ser a política enquanto atividade (e dever) de todos os cidadãos que vivem na pólis (cidade-estado). A partir desta e outras informações sobre o governo de Péricles, assinale a alternativa correta. a) No governo de Péricles, somente as classes mais favorecidas tinham direito a voz nas assembleias. b) Somente aos sábios caberia o dever de governar a pólis grega, porque apenas eles teriam condições de “contemplar” a verdadeira ideia de justiça. c) Péricles propõe, como melhor regime político, a sofocracia, governo nas mãos do sábio. d) Péricles desenvolveu uma concepção política muito restrita, na qual o governo da pólis seria mantido somente por um pequeno número de pessoas. e) O governo, próprio de Atenas, recebeu, a partir de Péricles, o nome de “democracia”, porque a sua direção (poder - cratós) não está na mão de um pequeno grupo, mas sim da maioria (o demos). R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR16 FILOSOFIA 02 SURGIMENTO DA FILOSOFIA 12. Sobre o conceito Filosofia, assinale a alternativa CORRETA. a) É o exame do conhecimento em sua generalidade que se desdobra por meio da dialética humana: da prática ao conhecimento e desse conhecimento de retorno à prática. b) É um exercício sistemático do pensar com clara inspiração científica. c) É, por si mesma, uma interface sistemático-conceitual que busca ser a extensão do conhecimento rigoroso e sistematizado. d) É uma análise lógico-crítica da realidade. 13. Texto 1 Eis aqui, portanto, o princípio de quando se decidiu fazer o homem, e quando se buscou o que devia entrar na carne do homem. Havia alimentos de todos os tipos. Os animais ensinaram o caminho. E moendo então as espigas amarelas e as espigas brancas, Ixmucaná fez nove bebidas, e destas provieram a força do homem. Isto fizeram os progenitores, Tepeu e Gucumatz, assim chamados. A seguir decidiram sobre a criação e formação de nossa primeira mãe e pai. De milho amarelo e de milho branco foi feita sua carne; de massa de milho foram feitos seus braços e as pernas do homem. Unicamente massa de milho entrou na carne de nossos pais. (Adaptado: SUESS, P. Popol Vuh: Mito dos Quiché da Guatemala sobre sua origem do milho e a criação do mundo. In: A conquista espiritual da América Espanhola: 200 documentos – Século XVI. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 32-33.) Texto 2 “Se você é o que você come, e consome comida industrializada, você é milho”, escreveu Michael Pollan no livro O Dilema do Onívoro, lançado este ano no Brasil. Ele estima que 25% da comida industrializada nos EUA contenha milho de alguma forma: do refrigerante, passando pelo Ketchup, até as batatas fritas de uma importante cadeia de fast food – isso se não contarmos vacas e galinhas que são alimentadas quase exclusivamente com o grão. O milho foi escolhido como bola da vez ao seu baixo preço no mercado e também porque os EUA produzem mais da metade do milho distribuído no mundo. (Adaptado: BURGOS, P. Show do milhão: milho na comida agora vira combustível. Super Interessante. Edição 247, 15 dez. 2007, p.33.) Com base nos textos 1 e 2 e nos conhecimentos sobre as relações entre organização social e mito, é correto afirmar. a) Os deuses maias criaram os homens dotados de livre arbítrio para, a partir dos princípios da razão e da liberdade, ordenarem igualitariamente a sociedade. b) A exemplo das narrativas que predominavam no período homérico da Grécia antiga, os mitos expressam uma forma de conhecimento científico da realidade. c) Na busca de um princípio fundante e ordenador de todas as coisas, como ocorre na mitologia grega, a narrativa mítica justifica as bases da legitimação de organização política e de coesão social. d) Assim como nos povos Quiché da Guatemala, também os mitos gregos procuram explicar a arché, a origem, a partir de um elemento originário onde está presente o milho. e) Para certas tradições de pensamento, como a da escola de Frankfurt, o iluminismo representa a superação completa do mito. 14. “A filosofia surgiu quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos materiais e as ações dos seres humanos podem ser conhecidos pela razão humana” (CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2011. p.32). Considerando o exposto, assinale o que for correto. a) A filosofia surgiu na Grécia durante o séc. VI a.C.. Apesar de seu nascimento ser considerado o “milagre grego”, é conhecida a frequentação de Atenas por outros sábios que viveram no século VI a.C., como Confúcio e Lao Tse (provenientes da China), Buda (proveniente da Índia) e Zaratustra (proveniente da Pérsia), fazendo da filosofia grega uma espécie de comunhão dos saberes da antiguidade. b) O surgimento da filosofia é coetâneo ao advento da pólis (cidade). Novas estruturas sociais e políticas permitiram o desenvolvimento de formas de racionalidade, modificadoras da prática do mito. c) Por serem os únicos filósofos a praticar a retórica, os sofistas representam, indiscutivelmente, o ponto mais alto da filosofia clássica grega (séculos V e IV a.C.), ultrapassando Sócrates, Platão e Aristóteles. d) Filósofo é aquele que busca certezas sem garantias de possuí- las efetivamente. Por essa razão, o filósofo não deseja o conhecimento do mundo e das práticas humanas por meio de critérios aproximativos e compartilhados (de aceitação comum), através do debate. e) A atividade filosófica pode ser definida, entre outras habilidades, pela capacidade de generalização e produção de conceitos, encontrando, sob a multiplicidade de objetos do mundo, relações de semelhança e de identidade. 15. Leia o texto a seguir: Mesmo quando se pretendeu a política, a filosofia sempre teve significado político. Filosofando,o homem chega a si mesmo e encontra razão para moldar e julgar politicamente sua associação com os outros homens. (JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico, São Paulo: Cultrix, 1999, p. 55. Adaptado) O texto acima retrata, com clareza, a dimensão do saber filosófico no âmbito da política. Sobre esse assunto, assinale a alternativa CORRETA. a) No âmbito da política, a filosofia tem valor secundário no julgar politicamente. b) Julgar politicamente é declinar do filosofar no moldar a experiência coletiva. c) A filosofia e a política estão ligadas ao julgar e moldar a esfera dos assuntos públicos. d) A política e a filosofia dão ênfase ao espaço do individual em detrimento do coletivo. e) No julgar politicamente, a esfera do individual se sobrepõe ao valor da significância do coletivo. 16. (UPE-SSA 1 2016) Sobre a gênese da filosofia entre os gregos, observe o texto a seguir: Seja como termo, seja como conceito, a filosofia é considerada pela quase totalidade dos estudiosos como uma criação própria do gênio dos gregos. Quem não levar isso em conta não poderá compreender por que, sob o impulso dos gregos, a civilização ocidental tomou uma direção completamente diferente da oriental. (ANTISERI, Dario e RELAE, Giovanni. História da Filosofia, 1990, p. 11). Sobre a gênese do pensamento filosófico entre os gregos, é CORRETO afirmar que a) a experiência concreta da racionalidade estava isenta da vida política na Pólis Grega. b) a prática político-democrática, atrelada ao enfoque irracional da vida em sociedade, foi o terreno fértil para a gênese do pensamento filosófico. R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 02 SURGIMENTO DA FILOSOFIA 17 FILOSOFIA c) sob o impulso dos gregos, a dimensão racional se impõe como critério de verdade. A filosofia é fruto desse projeto da razão. d) a filosofia é fruto do momento cultural em que a sensibilidade e a fantasia impõem-se sobre a razão. e) na gênese do pensamento filosófico grego, na civilização ocidental, a forma de sabedoria que se sobrepunha à ciência filosófica, eram as convicções religiosas fundamentadas na razão pura. 17. (UPE-SSA 1 2016) Atente ao texto a seguir: Sobre o pensamento grego Apesar de a filosofia possuir data e local de nascimento, suas origens não são um fato simples, mas, objeto de controvérsias (o que, aliás, é muito próprio da filosofia). A causa da controvérsia é, justamente, o conteúdo da filosofia nascente, isto é, a cosmologia. CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia, 1994. No tocante ao pensamento grego, assinale a alternativa CORRETA. a) O pensamento grego, no enfoque da filosofia, é a expressão máxima da racionalidade no trato com o conhecimento. b) No pensamento grego, a singularidade da filosofia está imbuída na tarefa de uma explicação sensível sobre a origem e a ordem do mundo. c) Os primeiros filósofos gregos pretenderam explicar, apenas, a origem das coisas e da ordem do mundo sem atentar para o fluxo das mudanças e repetições. Eles buscavam, pelo simples discurso, o estudo do cosmos. d) Desde o seu início, o problema cosmológico é o último a destacar- se claramente como objeto de pesquisa e sistematização. Ou seja, a cosmologia estava em segundo plano. e) No pensamento grego, os primeiros filósofos acreditavam que o princípio de todas as coisas se encontrava na substância imaterial e desprezavam a natureza material – o enfoque na cosmologia. 18. (UNCISAL 2011) Segundo Marilena Chauí, a resposta à pergunta “O que é filosofia?” poderia ser: “a decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido”. (Convite à filosofia) Após ler com atenção essa definição, assinale a alternativa correta. a) A filosofia identifica-se inteiramente com o senso comum. b) As reflexões filosóficas apresentam o mesmo nível qualitativo das reflexões cotidianas. c) Filosofar significa apresentar um ponto de vista crítico sobre a realidade. d) A filosofia deve, necessariamente, apresentar um ponto de vista místico ou religioso sobre a realidade. e) Todo filósofo é necessariamente ateu. 19. (UECE 2019) “É no plano político que a Razão, na Grécia, primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se. A experiência social só pôde tornar-se entre os gregos objetos de uma reflexão positiva, porque se prestava, na cidade, a um debate público de argumentos. O declínio do mito data do dia em que os primeiros Sábios puseram em discussão a ordem humana, procuraram defini-la em si mesma, traduzi-la em fórmulas acessíveis à sua inteligência, aplicar-lhe a norma do número e da medida.” VERNANT, J.-P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1989, p. 94. Com base nessa citação, é correto afirmar que a filosofia nasce a) após o declínio das ideias mitológicas, não havendo nenhuma linha de continuidade entre estas últimas e as novas ciências gregas. b) das representações religiosas míticas que se transpõem nas novas representações cosmológicas jônicas. c) da experiência do espanto, a maravilha com um mundo ordenado e, portanto, belo. d) da experiência política grega de debate, argumentação e contra- argumentação, que põe em crise as representações míticas. e) da racionalidade intuitiva e natural do ser humano que gradualmente exclui as explicações mitológicas do seu cotidiano. 20. (UFPA 2013) “Em Atenas [...] o povo exercia o poder, diretamente, na praça pública [...]. Todos os homens adultos podiam tomar parte nas decisões. Hoje elegemos quem decidirá por nós. A democracia antiga é vista, geralmente, como superior à moderna. Mas a democracia moderna não é uma degradação da antiga: ela traz uma novidade importante – os direitos humanos. A questão crucial dos direitos humanos é limitar o poder do governante. Eles protegem os governados dos caprichos e desmandos de quem está em cima, no poder.” JANINE, Renato. A democracia, São Paulo, Publifolha, 2001, p. 8-10, texto adaptado. A superioridade da democracia antiga com relação à moderna pode ser atribuída ao (à) a) poder dado aos homens mais velhos, dotados de virtude e sabedoria, para decidirem sobre os destinos da cidade. b) condução, de forma justa, da vida em sociedade e garantia do direito de todos os habitantes da cidade de participarem das assembleias. c) poder dado aos homens que se destacaram como os mais corajosos nas guerras e aos mais capazes nas ciências e nas artes, para estes tomarem as decisões nas assembleias realizadas em praça pública. d) fato de o povo eleger seus representantes políticos para tomar decisões sobre os destinos da cidade e definir os seus direitos, em praça pública, de modo a evitar atitudes arbitrárias e injustas dos governantes. e) participação direta dos cidadãos nas decisões de interesse do todo no âmbito do espaço público. 05. APROFUNDAMENTO EXERCÍCIOS DE 01. (UNESP) Dogmatismo vem da palavra grega dogma, que significa: uma opinião estabelecida por decreto e ensinada como uma doutrina, sem contestação. O dogmatismo é uma atitude autoritária e submissa. Autoritária porque não admite dúvida, contestação e crítica. Submissa porque se curva a opiniões estabelecidas. A ciência distingue-se do senso comum porque esta é uma opinião baseada em hábitos, preconceitos, tradições cristalizadas, enquanto a ciência baseia-se em pesquisas, investigações metódicas e sistemáticas e na exigência de que as teorias sejam internamente coerentes e digam a verdade sobre a realidade. (Marilena Chaui. Convite à filosofia, 1994. Adaptado.) a) Cite duas implicações políticas do dogmatismo. b) Do ponto de vista da objetividade, explique por que o conhecimento científico é superior ao senso comum. R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR18 FILOSOFIA02 SURGIMENTO DA FILOSOFIA 02. (UFPR) Leia o excerto a seguir: “A Grécia se reconhece numa certa forma de vida social, num tipo de reflexão que define a seus próprios olhos sua originalidade, sua superioridade sobre o mundo bárbaro. No lugar do Rei cuja onipotência se exerce sem controle, sem limite, no recesso de seu palácio, a vida política grega pretende ser o objeto de um debate público em plena luz do sol, na ágora, da parte de cidadãos definidos como iguais e de quem o Estado é a questão comum [...]”. (VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: DIFEL, 2013.) Tendo como base as afirmações expostas por Vernant, identifique os traços principais da polis grega, o sistema político que ela substituiu e os principais problemas que ela apresenta. 03. (UNIFESP) (...) é no último quartel do século VII [a.C.] que a economia das cidades (...) volta-se decididamente para o exterior; o tráfico por mar vai então amplamente ultrapassar a bacia oriental do Mediterrâneo, entregue a seu papel de via de comunicação. A zona dos intercâmbios estende-se a oeste até a África e à Espanha, a leste até ao Mar Negro. (Jean-Pierre Vernant. As origens do pensamento grego. São Paulo: Difel, 1991.) O texto fala da expansão das cidades gregas no século VII a.C. Explique a) por que o autor chama o Mar Mediterrâneo de “via de comunicação”. b) os principais motivos dessa expansão. 04. (UFJF-PISM 1) Leia atentamente o trecho e as informações no quadro a seguir: Nas cidades gregas e em Roma durante a Antiguidade, existiram duas principais maneiras de governar. Numa, a sociedade era governada por uma só pessoa: o rei ou monarca. Era a monarquia. Noutra, a sociedade era dirigida por um grupo pequeno de homens ricos. Era a aristocracia. Em algumas cidades da Grécia, como em Atenas, foi experimentada uma terceira forma de governo. Era a democracia. KONDER, Leandro. Muito além das Urnas. Revista Ciência hoje das crianças, nº 64. Adaptado Disponível em: http://chc.cienciahoje.uol.com.br/muito-alem-das-urnas - Acessado 04/09/2015 Dados estatísticos aproximados População Total Indivíduos com direito a voto Números absolutos % ATENAS (Vº século a.C.) 240 mil 38 mil 15,8% Brasil – 2014 203 milhões 143 milhões 70,4% Com base no texto, no quadro e em seus conhecimentos, responda ao que se pede: a) O que era necessário para que um indivíduo participasse das decisões políticas durante a democracia em Atenas? b) Analise as motivações que explicam a diferença do percentual existente entre indivíduos com direito a voto na democracia ateniense e no modelo democrático existente no Brasil atual. 05. (UFPR) Estabeleça duas diferenças entre o conceito de democracia vigente em Atenas no período antigo e o conceito de democracia vigente no Brasil atual. GABARITO EXERCÍCIOS PROPOSTOS 1.C 2.D 3.E 4.B 5.C 6.E 7.A 8.E 9.A 10.B 11.E 12.A 13.C 14.B 15.C 16.C 17.A 18.C 19.D 20.E EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO 01. a) O dogmatismo pode gerar uma submissão a regimes autoritários e totalitários, na medida em que não reconhece a existência da pluralidade entre os homens. Além disso, ele também pode impedir o desenvolvimento da ciência, uma vez que estabelece uma série de verdades incontestes. b) O conhecimento científico é baseado na comprovação metódica, empírica e racional. Além disso, um dos seus princípios é a falseabilidade. Ou seja, uma teoria, uma vez provada falsa, pode ser abandonada em prol de outra. O senso comum, em contrapartida, corresponde a verdades tradicionais, surgidas de forma irrefletida e imediata, que independem de comprovação empírica e racional. 02. Durante o período Arcaico da Grécia, VIII-VI a.C, predominava um governo aristocrático monopolizado pela elite agrária que possuía o domínio político e econômico. No período Clássico, V-IV a.C, foi implantada a democracia e o poder foi transferido para os cidadãos. A ágora, praça pública, passou a ser o cenário do debate político dos cidadãos visando criar leis para a polis. Vale lembrar que polis era uma cidade estado que possuía autonomia política, a democracia era direta e participativa e a cidadania era muito restrita, apenas 10% da população exercia seus direitos políticos. Mulheres, escravos e estrangeiros estavam excluídos 03. Porque o mar Mediterrâneo era a principal via de circulação de navios do mundo antigo, integrando diferentes regiões e povos da Europa, Ásia e África. Muitos historiadores contemporâneos apontam como causa para a expansão das cidades gregas no século VII a.C, necessidades comerciais e o grande crescimento demográfico que se iniciara no final do Período Homérico. Porém, há discordância quanto aos motivos comerciais, pois muitas das regiões colonizadas não tinham nenhum atrativo comercial para os gregos. Observa-se que bons portos, excelentes pontos para o desenvolvimento da atividade comercial, não foram ocupados por nenhuma colônia grega, indicando que nem sempre o objetivo mercantil era o principal para a expansão das cidades. Assim sendo, pode-se apontar que o principal motivo da expansão territorial grega tenha sido a busca de uma solução para a crise decorrente da explosão populacional iniciada no século VIII a.C. As condições geográficas da área continental da Grécia, um solo pouco fértil e pedregoso e o relevo montanhoso, não atendiam as demandas de uma população crescente. Esse movimento é conhecido como Segunda Diáspora Grega. 04. Em Atenas eram considerados cidadãos os homens, maiores de 21 anos e que fossem atenienses natos, ou seja, 15% da população; No Brasil atual, o acesso à cidadania, no que tange ao direito ao voto, é amplo: todo e qualquer cidadão brasileiro (nascido ou naturalizado), ao atingir a idade mínima necessária, pode votar. 05. O conceito de democracia ateniense era direto e excludente: os poucos cidadãos (homens, maiores de 21 anos e atenienses natos) participavam diretamente das tomadas de decisão da cidade-Estado. O conceito de cidadania do Brasil atual é indireto ou representativo e abrangente: todos somos cidadãos e elegemos um representante para tomar as decisões políticas. ANOTAÇÕES R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt . 1 84 d o CP . FILOSOFIA PRÉ-VESTIBULAR 19PROENEM.COM.BR PRÉ-SOCRÁTICOS I03 O INÍCIO DO FILOSOFAR Os primeiros filósofos eram naturais da cidade de Mileto. Foram chamados por Aristóteles, tempos depois, de “físicos” porque o problema central com o qual lidavam era a questão da physis. Atualmente, damos aos primeiros filósofos a qualidade de “pré-socráticos”, pois investigam questões diferentes das que passaram a ser abordadas pela filosofia após Sócrates. As mais importantes perguntas que os pré-socráticos faziam eram: • Como surgiu o cosmos? • Como a physis é ordenada? • Quais são os elementos fundamentais da physis, ou seja, qual é o arché? A resposta apresentada por cada um dos três principais filósofos milesianos foi baseada na ideia de que a physis tinha um arché unitário. Em outras palavras, um único princípio deve ser utilizado para explicar todas as coisas no cosmos. O "PRINCÍPIO” DE TODAS AS COISAS Tales (624-546 a.C.) foi considerado o primeiro filósofo. Em contraste com as antigas explicações mitológicas, Tales tentou encontrar explicações naturalistas para o mundo, sem referência a coisa alguma sobrenatural. Explicou, por exemplo, os terremotos por meio da teoria de que a Terra flutua na água; os terremotos seriam causados pelo encontro da Terra com ondas. Tales procurava pelo “princípio” de todas as coisas, ou seja, pelo arché. O arché seria aquilo de que todas as coisas seriam compostas, em que todas as coisas subsistem e para que todas as coisas tendem. Segundo a cosmologia de Tales, a arché seria a água. Todas as coisas seriam compostas por água. Devido ao fato de ter sido o primeiro pensador a procurar um princípio natural observável (a água) para explicar todas as coisas, muitas vezes, Tales é consideradoo primeiro cientista. Contudo, provavelmente o que Tales tinha em mente com a ideia de água não era o mesmo que nós, que pensamos na substância H2O. Provavelmente, o que Tales tinha em mente era algo como o elemento líquido, o princípio líquido como a fonte de todas as coisas na natureza. Este elemento ou princípio líquido, considerado de modo unitário, seria a fonte, o fim e o substrato de todos os seres individuais e múltiplos. Assim, o princípio líquido universal é aquilo de que todas as coisas surgem, em que todas as coisas existem e para o que todas as coisas se encaminham. Evidentemente, esta ideia, embora seja naturalista, pois o princípio líquido é parte da natureza, não é materialista. Tales não era um filósofo para quem a única realidade era material; na verdade, a realidade substancial é natural, é una, mas não é material. Note- se que não material não significa sobrenatural. Mesmo quando diz que o ímã tem alma, não utiliza aqui um princípio sobrenatural; apenas justifica o movimento do ímã na direção do ferro (ou o contrário) por um princípio natural, o princípio da vida (a alma), pois apenas o que tem vida poderia mover-se autonomamente. Embora não material, o princípio fundamental é parte da physis. Neste sentido, podemos também compreender a tese mais conhecida de Anaximandro (610-546 a.C.). Aluno de Tales, professor de Anaxímenes e de Pitágoras, foi o primeiro filósofo a escrever seus estudos, embora apenas um fragmento de seu trabalho ainda exista. Anaximandro seguiu a mesma linha de Tales e foi além. Afirmou que a natureza é regida por leis, como as sociedades humanas, e nada que cause distúrbio ao balanço da natureza pode durar muito tempo. Suas contribuições à filosofia envolvem várias disciplinas. Na astronomia, tentou descrever a mecânica dos corpos celestes em relação à Terra. Também desenhou um mapa do mundo que contribuiu grandemente para o avanço da geografia. Esteve envolvido com a política de Mileto e foi enviado como líder de uma de suas colônias. Contudo, foi a respeito do princípio fundamental que Anaximandro fez suas mais duradouras contribuições para a filosofia. Ao contrário de Tales, que propôs que o arché fosse o princípio líquido, ou seja, a água, Anaximandro defendeu que o princípio não era líquido, nem sólido, nem gasoso (mesmo que líquido, sólido ou gasoso fossem tomados como princípios muito gerais e quase metafóricos). Sua proposta foi de que o arché não pode ter limite, determinação nem forma. Afinal, se o arché tiver forma, todas as coisas criadas dele terão necessariamente a forma do arché. Contudo, se o arché não tiver forma, limite ou determinação, pode vir a se tomar a forma, ter o limite e determinar-se como qualquer outra coisa. Anaximandro deu a esse arché indefinido, indeterminado e ilimitado o nome ápeiron. O ápeiron está presente em todos os lugares; assim como o líquido para Tales, é do ápeiron que tudo surgiu, é no ápeiron que tudo existe e para o ápeiron tudo segue – o ápeiron é o início, o meio e o fim. Aqui torna-se evidente que estamos diante de algo novo: o ápeiron é um princípio natural que nos lembra a ideia de Deus – num momento em que ninguém ainda havia pensado em Deus desse modo. Mesmo a primeira religião monoteísta, o judaísmo, não tinha ainda naquela época adotado de modo inequívoco a concepção da tradição sacerdotal hebraica de um Deus universal, onisciente, onipresente e onipotente, a concepção que ficaria consagrada após alguns séculos. Em outras palavras, a concepção racional e naturalista de Anaximandro a respeito do arché precedeu e, possivelmente, influenciou a concepção de Deus que se teria posteriormente na Grécia, no judaísmo e no cristianismo. Estamos diante de uma concepção naturalista de Deus – um Deus desumanizado, desantropomorfizado, universal, fonte, fim e substrato de todos os seres; em suma, estamos diante da primeira concepção de um Ser que puramente É – conceito que a Escola Eleata desenvolveu mais profundamente ainda nos primórdios da filosofia grega. Anaxímenes (585-525 a.C.) foi aluno de Anaximandro. Suas ideias são próximas a dos dois outros milesianos, mas em lugar do princípio líquido ou do ápeiron, era o ar a ser tomado como arché. Esta ideia parece, à primeira vista, um retrocesso de um princípio bastante complexo, como o ápeiron, de volta a um princípio material (como aparentemente é a água). Contudo, assim como a água a que Tales faz referência não é o que nós chamamos comumente água, o que Anaxímenes chama ar não é o que nós chamamos ar. Anaxímenes não se referia à mistura química gasosa entre o oxigênio, o nitrogênio e o gás carbônico: o ar, para os gregos, era considerado algo infinito que preenche todos os lugares em todo o cosmos. Além disso, tanto para os gregos quanto para talvez todas as civilizações da Antiguidade, o ar, o sopro, o hálito, era considerado o princípio vital. Isso parece evidente: a respiração, ou a falta dela, indica se um ser vivo vive ou morre; quando um bebê nasce, precisa começar a respirar; a morte vem frequentemente acompanhada de um último suspiro; e é muito comum na religiosidade antiga que a vida seja dada pela divindade com um sopro vital (“Então Iahweh Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente”; Gn 2,7); na própria tradição judaica e cristã, Deus é, às vezes, visto como uma brisa ou um vento suave (“e depois do terremoto um fogo, mas Iahweh não estava no fogo; e depois do fogo o murmúrio R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR20 FILOSOFIA 03 PRÉ-SOCRÁTICOS I de uma brisa suave. Quando Elias o ouviu, cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta”; I Reis 19,12-13). Isso significa que também Anaxímenes propõe um princípio natural que não é, a despeito do que possa parecer à primeira vista, material. Pode-se dizer que este princípio, assim como o proposto por Tales, tem uma manifestação material – mas o princípio uno e universal não o é. Grande parte dos textos dos primeiros filósofos milesianos se perdeu no tempo. A maior fonte de conhecimento sobre suas teses vem de filósofos e historiadores posteriores que relataram as posições defendidas pelos filósofos anteriores. Esses relatos foram chamados doxografia, palavra que deriva de doxa, que significa opinião na língua grega, e graphia, que significa escrita. Então, doxografia de um filósofo é o conjunto de opiniões sobre a filosofia de um determinado filósofo da Antiguidade. TALES DE MILETO Afirmava que a ÁGUA é a substância básica, “tudo é água”, filósofo e matemático, é considerado o pai da filosofia, sendo o primeiro a expor a ideia de um princípio original. ANAXÍMENES DE MILETO Anaximenes, discípulo de Tales, acreditava que o AR era o princípio original, que através de processos de rarefação e condensação formava o mundo em que vivemos. ANAXIMANDRO DE MILETO Anaximandro acredito que tudo é ÁPEIRON, o infinito, o indeterminado, na falta de uma matéria específica que deu origem a tudo, Anaximandro acreditava em uma matéria indeterminada. PITÁGORAS DE SAMOS Acreditava que a origem de tudo são os NÚMEROS, o famoso matemático acreditava que tudo pode ser calculado, matematizado e respondido através de cálculos, sendo assim somente os números poderiam trazer a resposta da origem do universo. DEMÓCRITO DE ABDERA Acreditava na ideia de ÁTOMO, entendendo como princípio original, Demócrito acreditava que o átomo estava presente em todas as coisas, partículas indivisíveis e de variadas formas. EMPÉDOCLES DE ARIGENTO Acreditava que a árche é uma conjunção de elementos, água, fogo, ar e terra, como fundamentais para o mundo e a concepção de universo que possuímos. Tudo existia na junção desses 4 elementos. PROTREINO EXERCÍCIOS 01. O que é a physis? 02. Defina arché. 03. Aponte o arché para Tales de Mileto 04. Aponte o arché para Pitágoras de Samos
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