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CARIOLOGIA 2 AULA 1AF @ODONTO_RAFA RAFAELLY ALVES OBJETIVOS DA AULA: 1. Discutir o conceito de biofilme dental.; 2. Descrever as etapas de formação do biofilme dental; 3. Descrever a composição do biofilme dental; 4. Conhecer as hipóteses que explicam a formação do biofilme; 5. Entender o papel dos açucares na formação do biofilme dental cariogênico. PASSADO: DOENÇA MULTIFATORIAL, INFECTO CONTAGIOSA E TRANSMISSÍVEL Antes se pensava e ensinava que a cárie dentária era contagiosa e assim passava de uma pessoa para a outra. Ex.: no beijo ocorre a troca das bactérias e se passava cárie. As mães ao soprarem a comida do bebê CÁRIE Doença biofilme-açúcar dependente, que leva a destruição progressiva e localizada do mineral dos dentes, por ácidos produzidos pelo metabolismo bacteriano, quando da exposição a açúcares da dieta. → Dissolução química da superfície dentária causada por eventos metabólicos que ocorrem no biofilme. → O biofilme não leva necessariamente ao desenvolvimento de cárie → precisa em específico da sacarose + o acúmulo de biofilme → Biofilme que cresce sobre o esmalte do dente deve ser “protegido” da abrasão, criando áreas de estagnação microbiana • Aí sim, nasce a cárie CÁRIE DENTÁRIA: ETIOLOGIA → Fator necessário • Acúmulo de biofilme → Determinante negativo • Açúcar- tipo e frequência → Determinante positivo • Saliva uso de fluoretos BIOFILME A formação do biofilme (comunidade de microrganismos aderidos sobre uma superfície e sobre ela crescendo envoltos por uma matriz extracelular) pode ser considerada o estilo de vida de microrganismos vivendo em ambientes líquidos contendo superfícies duras não descamativas. → Em um biofilme complexo, populações de bactérias estão próximas uma das outras e em consequência disso interagem. SISTEMA DE “QUORUM SENSING” Comunicação entre as bactérias medidas através de sinais químicos. ONDE ESTÃO OS BIOFILMES NA BOCA • Próteses fixas e removíveis • Aparelhos ortodônticos; • Implantes e dentes; CARIOLOGIA 2 AULA 1AF @ODONTO_RAFA RAFAELLY ALVES PROPRIEDADES DO BIOFILME • Proteção contra defesas do hospedeiro • Proteção contra o ressecamento (matriz extracelular) • Organização espacial facilita iterações metabólicas • Resistência aumentada a agentes antimicrobianos → Limitação de difusão/reação do agente antimicrobiano → Diferentes fenótipos ao longo do * biofilme → Taxa de crescimento lenta → Inativação e neutralização do agente antimicrobiano por enzimas produzidas no biofilme. COMPOSIÇÃO DO BIOFILME • Mosaico de microambientes • Grande diversidade bacteriana • Células bacterianas = 70% do vol. • Matriz extracelulares: 30% → polissacarídeos extracelulares produzidos pelas bactérias → macromoléculas (proteínas) e outros elementos derivados da saliva e fluido gengival (Ca,Pi,F) COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA PLACA Água = 82% (50% de bactérias e 32% na matriz) Proteínas = 40-50% peso seco Carboidratos = 13-17% peso seco Lipídeos = 10-14% peso seco Composição inorgânica = 5 a 10% peso seco COMPOSIÇÃO INORGÂNICA • Cálcio, fosfato e fluoreto • Saliva e fluido do biofilme em repouso são supersaturados em relação aos fosfatos de cálcio • Princípio para a formação de cálculo ETAPAS NA FORMAÇÃO DO BIOFILME 1. Formação da película adquirida de esmalte (PAE) 2. Adesão de células bacterianas isoladas (0 – 4H) → Adesão reversível → Adesão irreversível 3. Crescimento das bactérias aderidas formando micro colônias (4-24h) 4. Co-agregação e sucessão microbiana (1-14 dias) 5. Biofilme maduro (2 semanas ou +) CARIOLOGIA 2 AULA 1AF @ODONTO_RAFA RAFAELLY ALVES CURVA DE STEPHAN É a curva de Ph do biofilme dental exposto a açúcar em função do tempo. 1. FORMAÇÃO DA PAE • Os microrganismos não colonizam diretamente a superfície dos dentes; • Os dentes são cobertos pela PEA que se forma na superfície “nua” dos dentes em poucos minutos ou horas após a erupção ou limpeza; → Biopelícula acelular • Adsorção das moléculas derivadas da saliva • Fluido crevicular gengival • Remanescentes da parede celular das próprias bactérias. FUNÇÕES DA PEA 1. Permeabilidade seletiva do esmalte; → Restringe que transito de íons 2. Papel importante na Composição da microbiota inicial; →Modula a adsorção de diferentes espécies das bactérias. 3. Fornecimento de aderência e substrato aos microrganismos; 4. Protege o esmalte contra os ataques ácidos → Inibe a desmineralização superficial do esmalte (CÁRIE E EROSÃO) 2. ADESÃO CELULAR • Início da colonização microbianas; • Aderência de células bacterianas isoladas na superfície da película adquirida (0-4 h); • Inicialmente, esta “aderência” se dá de forma inespecífica (reversível), por meio de interações fracas → forças de Van der Waals → Repulsão eletrostática • ADESÃO IRREVERSÍVEL: → Interações fortes envolvendo adesinas da superfície celular microbiana e receptores na película adquirida; ADESINA (BACTÉRIA) X RECEPTOR (PAE) ALTA ESPECIFICIDADE COLONIZADORES INICIAIS • S. sanguinis 55% da microbiota • S. oralis 95% dos estreptococos • S. mitis biovar 1 3. FASE DE CRESCIMENTO: • Multiplicação das bactérias aderidas formando microcolônias (4-24 h); CARIOLOGIA 2 AULA 1AF @ODONTO_RAFA RAFAELLY ALVES • Rápido aumento no número de bactérias (divisão celular), que se espalham pela superfície em camada única; • Ao final de um dia, já é possível diferenciar camadas múltiplas envoltas em uma matriz extracelular. 4.CO-AGREGAÇÃO E SUCESSÃO MICROBIANA: • Reconhecimento célula-célula de tipos de células parceiras, geneticamente distintas (adesão de novas bactérias) → coagregação homotípica: mesma espécie → coagregação heterotípica: espécies diferentes. • Levam a uma alta diversidade de espécies, concomitantemente com o crescimento continuado das microcolônias; • Troca de um biofilme dominado por Streptococcus para um biofilme dominado por actinomyces; PROCESSO DE SUCEÇÃO MICROBIANA: • As bactérias pioneiras criam um ambiente que seja mais atrativo para os invasores secundários ou que seja um ambiente cada vez mais desfavorável para si mesmas devido a falta de nutrientes, ao acúmulo de produtos metabólicos e redução do oxigênio. • troca progressiva das bactérias aeróbias por anaeróbias facultativas. 5.BIOFILME MADURO/ COMUNIDADE CLÍMAX • Formado após 2 semanas ou mais de crescimento não perturbado;• Alguns microorganismos se co-agregam com outras espécies, formando estruturas semelhantes a uma espiga de milho; • Caracterizada pela homeostase microbiana - tende a expulsar espécies invasoras. • Aspecto de “espiga de milho”; POTENCIAL CARIOGÊNICO A placa bacteriana deve ter 2 dias de existência antes da formação de ácidos em respostas ao desafio cariogênico para causar desmineralização do esmalte. ETAPAS DE FORMAÇÃO DO BIOFILME (RESUMO) INTERAÇÃO AÇÚCAR E BIOFILME • O fluido do biofilme possui íons que em jejum são capazes de remineralizar o dente. • Contato com o açúcar fermentável faz com que as bactérias metabolizem mais rapidamente o açúcar. → Queda de PH CARIOLOGIA 2 AULA 1AF @ODONTO_RAFA RAFAELLY ALVES • Produção de ácidos • A saliva durante a alimentação acelera o processo de metabolização do açúcar pelas bactérias → Fartura = refeições → Miséria = intervalo entre refeições HIPÓTESES UTILIZADAS PARA EXPLICAR O PAPEL DA “PLACA” BACTERIANA NA ETIOLOGIA DA CÁRIE DENTÁRIA HIPÓTESE DA PLACA ESPECÍFICA • Dentre as diversas espécies bacterianas presentes na microbiota bucal, apenas algumas estão ativamente envolvidas no desenvolvimento de cárie. → S. mutans → Lactobacilos → A. naeslundi HIPÓTESE DA PLACA INESPECÍFICA • A cárie é resultado da atividade de toda a microbiota do biofilme; uma mistura heterogênea de microrganismos pode ter papel no desenvolvimento da cárie “O conflito entre as teorias específica e não-específica para a etiologia bacteriana data do nascimento da microbiologia oral, e tem levado a discussões inflamadas” “A hipótese da placa ecológica combina elementos de ambas, sendo a que melhor explica a etiologia microbiana tanto de cárie como doença periodontal” THEILADE, J. Dent. Res., 75 (7). 1996 HIPÓTESE DA PLACA ECOLÓGICA CÁRIE DENTAL: BIOFILME-AÇÚCAR DEPENDENTE → O açúcar mais cariogênico da dieta humana POLISSACARÍDEOS EXTRACELULARES E CÁRIE • Aumentam a cariogenicidade do biofilme - Tornam a matriz do biofilme mais volumosa, pegajosa e porosa; - Mais facilidade para a difusão de carboidratos da dieta; - Facilitam a adesão de novos microrganismos; - Dificulta a diluição dos ácidos produzidos na interface dente/biofilme pela saliva (mais volumoso); - Podem servir de reserva energética em períodos de escassez (miséria) de carboidratos FORMAÇÃO DOS PEC • GLICOSILTRANSFERASE /FRUTOSILTRANSFERASE - Enzimas produzidas por S.mutans - Presentes na superfície das bactérias, na saliva e na película; - Possuem alta afinidade pela sacarose • POLÍMERO DE FRUTOSE (FRUTANOS) - LEVANO • Solúvel • Função: reserva energética CARIOLOGIA 2 AULA 1AF @ODONTO_RAFA RAFAELLY ALVES • POLÍMEROS DE GLICOSE (GLUCANOS) - DEXTRANO: • Solúvel • Função: reserva energética - MUTANO: • Insolúvel • Função: aderência bacteriana / estrutura PROPRIEDADES DE S. MUTANS QUE CONTRIBUEM PARA A CARIOGENICIDADE DO BIOFILME RESUMÃO Cárie é uma doença infecciosa? a) Não atende os postulados de Koch Cárie é uma doença transmissível? a) As bactérias que provocam a cárie não são estranhas a boca de nenhuma pessoa; b) Elas são adquiridas do meio ambiente onde as crianças vivem; c) Não há uma espécie bacteriana única responsável pela cárie; d) As bactérias adquiridas não provocam doença; e) O que é TRANSMISSÍVEL são os maus hábitos de higiene e dieta; Como evitar uma doença “infecciosa” e “transmissível”? a) Antimicrobianos! b) Vacinas!!! CONCLUSÕES 1. Biofilmes se formam naturalmente e se acumulam nas superfícies não descamativas da cavidade bucal. 2. Os biofilmes bucais estão adaptados a sobrevivência em um ambiente de fartura e miséria de carboidratos. 3. Uma alta frequência de consumo de açúcares fermentáveis seleciona microrganismos acidogênicos e acidúricos no biofilme dental (hipótese da placa ecológica). 4. O único vilão da cárie é o açúcar proveniente da dieta (doces, refrigerantes, balas, mamadeiras adoçadas), uma vez que as bactérias que se aderem e se acumulam sobre os dentes são naturais da boca de todos. 5. Dentre os açúcares da dieta, sacarose é o mais cariogênico, pois além de fermentável, é o único substrato para a síntese de polissacarídeos extracelulares, que aumentam a cariogenicidade do biofilme. 6. As bactérias mais comumente associadas à doença cárie são S.mutans e Lactobacillus; 7. Por não atender os postulados de Koch, cárie não deve ser considerada uma doença infecciosa; 8. Por ser provocada por bactérias naturalmente presentes na boca de todos os seres humanos (inclusive os saudáveis), cárie não deve ser considerada uma doença transmissível.
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