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ANÁLISE NO ℝn AULA 1 Prof. Guilherme Augusto Pianezzer CONVERSA INICIAL Caro aluno, seja bem-vindo. Temos, ao longo deste curso, dois objetivos principais. Inicialmente, generalizar os principais resultados discutidos ao longo de estudos sobre Análise Real ao definirmos um espaço euclidiano vetorial dimensional. Na sequência, formalizar os resultados conceituados informalmente ao longo de estudos sobre Cálculo Diferencial e Integral a Várias Variáveis. Assim, iremos tratar de vetores, limites de várias variáveis, derivadas direcionais e tantos outros conceitos comuns às disciplinas previamente discutidas. Iniciamos nossa aula redefinindo alguns conceitos de Análise Real, oriundos dos estudos de Geometria Analítica e Álgebra Linear, já explorando o conceito de limite de funções de várias variáveis. TEMA 1 – TOPOLOGIA DO ESPAÇO EUCLIDIANO Para iniciarmos as discussões sobre Análise no , precisamos relembrar características do espaço vetorial -dimensional, conhecido como espaço euclidiano. 1.1 O ESPAÇO EUCLIDIANO N-DIMENSIONAL Consideremos , definimos o espaço euclidiano -dimensional como . Assim, podemos expandir o conceito de reta, identificando cada elemento como um vetor dado por identificado por um determinado conjunto de coordenadas. Assim, trazemos aqui os conjuntos explorados em Geometria Analítica e Álgebra Linear. Por exemplo, para o caso particular em que , estamos tratando do conjunto dos números reais, e recaímos nos estudos realizados nas disciplinas de Análise Real. Quando tratamos , estamos investigando o plano cartesiano, enquanto para , investigamos o espaço euclidiano tridimensional. Claro que, neste curso, faremos o estudo de qualquer um desses ou outros espaços possíveis em que . Como se trata de um espaço vetorial, definimos duas operações básicas: a adição e a multiplicação de número real por escalar. Assim, dados dois vetores, por exemplo, e , e dado um escalar, digamos, , definimos: Note que as nomenclaturas utilizadas em Álgebra Linear se preservam, de forma que representa a origem deste espaço; é o vetor oposto (simétrico) a . Além dessas duas operações, vale recordar, de Geometria Analítica, a operação de produto interno (ou produto escalar) que gera, a partir de dois vetores, um escalar. Nesse caso, a definimos como: Ao longo da disciplina, também discutiremos a construção do espaço vetorial a partir de uma determinada base. Assim, os vetores formam a base canônica e qualquer outro vetor, digamos , pode ser escrito como combinação linear dos vetores de qualquer base, i.e., A base canônica, entre outras, é um dos exemplos de base ortogonais. Isso porque, quando dois vetores são ortogonais, verificamos que Além de verificar ortogonalidade, o produto escalar auxiliar na construção da projeção ortogonal de um vetor sobre a reta que contém outro vetor e em sua norma euclidiana (ou comprimento). Assim, definimos: Por fim, podemos utilizar o conceito de norma euclidiana para definirmos distância entre dois pontos: 1.2 BOLAS E CONJUNTOS LIMITADOS Em vários cenários que analisaremos, precisaremos definir subconjuntos de convenientes. Assim, definimos a bola aberta, a bola fechada (disco) e a esfera, todos com centro e raio , como os conjuntos, respectivamente: Note que a diferença em cada um dos termos diz respeito às características em relação às suas fronteiras e pontos interiores. Com base nessas topologias, definimos que é um conjunto limitado quando . De forma equivalente, note que em que . Assim, podemos verificar que é um conjunto limitado quando tal que . Para uma aplicação que leva , dizemos que é limitada quando o seu conjunto imagem é um conjunto limitado. De outra forma, é limitada quando tal que . Também usaremos os conceitos de reta e segmento de reta construindo-os com base em dois pontos, digamos, e . Assim temos, respectivamente: Além disso, definimos um conjunto convexo quando qualquer segmento de reta unindo quaisquer dois pontos do conjunto também pertencem ao conjunto. Assim, dado , devemos garantir que: TEMA 2 – TIPOS DE CONJUNTOS Para a análise no , devemos definir alguns conjuntos, entre eles: conjuntos abertos, conjuntos fechados e conjuntos compactos. 2.1 CONJUNTOS ABERTOS Dizemos que um ponto é um ponto interior se . Dessa forma, determina um parâmetro para que qualquer ponto suficientemente próximo de também esteja contido dentro do conjunto . Note que um ponto que não interior é ponto exterior ou ponto de fronteira. Em ambos os casos, qualquer escolha de não cria uma bola aberta inteiramente contida em O conjunto de todos os pontos interiores de um conjunto é o conjunto interior, também denotado por . De acordo com essa noção, definimos o conjunto aberto como qualquer conjunto que tem todos os seus pontos interiores, ou seja, . Note também que definimos a fronteira como: Como consequência, todo ponto de fronteira, qualquer bola de centro nele, possui pontos de e de . Vale lembrar, de estudos sobre Análise Real, que dado é um conjunto aberto, então qualquer reunião também é um conjunto aberto. 2.2 SEQUÊNCIAS EM ℝn A generalização de sequência para define-a como uma função . Como cada resultado de uma sequência é um vetor de , pode-se verificar sequências de números reais. Assim, gera a sequência , a qual é representada pelas sequências Para que tal sequência seja limitada, deve existir uma bola aberta que contenha todos os termos . Ou, de forma equivalente, Além disso, é consequência desse resultado que, sendo , temos que também são limitadas, visto que Dada uma sequência, definimos uma subsequência, como uma sequência gerada por uma escolha de de tal forma que . Assim, definimos o limite da sequência como o ponto tal que Ou ainda, que . E utilizamos a mesma notação já conhecida: Note que esse conceito, dessa forma generalizada, nos permite inferir que qualquer bola escolhida com centro em contém todos os pontos para um valor de razoavelmente grande. Quando esse limite existe, dizemos que a sequência é convergente. E podemos notar que, por esse critério, toda sequência convergente também é limitada. Como cada sequência em é um conjunto de sequências em para cada uma de suas coordenadas, vemos que, necessariamente, converge se, e somente se, também converge. Entre as sequências, vale ressaltar a sequência de Cauchy em que Sabe-se que essa sequência é, necessariamente, limitada. E também que toda sequência em que converge é, necessariamente, uma sequência de Cauchy. 2.3 CONJUNTOS FECHADOS De Análise Real, generalizaremos alguns termos: um ponto é definido como ponto aderente ao conjunto se, O conjunto de todos os pontos aderentes é chamado fecho do conjunto , denotado por . Assim, é um conjunto fechado quando . Note que o fecho de toda bola aberta é a sua bola fechada. Além disso, podemos definir a distância de um ponto a um conjunto como: Em que representa o ínfimo de um determinado conjunto Note que dado um conjunto fechado, , então dada por assume um valor mínimo em algum ponto Assim, simplificamos: Definimos um conjunto denso , se e Além disso, definimos ponto de acumulação como o ponto em que qualquer bola de centro contém algum ponto diferente de Não sendo ponto de acumulação, trata-se de um ponto isolado. Se todos os pontos são isolados, trata-se de um conjunto discreto. 2.4 CONJUNTOS COMPACTOS Definimos um conjunto compacto como , que é limitado e fechado. Sendo compacto, qualquer sequência possui uma subsequência que converge para um ponto de TEMA 3 – APLICAÇÕES CONTÍNUAS Vejamos a generalização das aplicações quando tratamos de análise no 3.1 APLICAÇÕES CONTÍNUAS Definimos uma função (ou aplicação) , para um conjunto , como uma associação entre os pontos e os valores de . Note que , em que cada coordenada representa uma função real. De forma resumida, escrevemos: . Para queum ponto faça a função ser contínua, devemos garantir que Assim, qualquer bola aberta com centro em e raio implica a existência de outra bola aberta com centro em e raio , tal que Para a função ser contínua como um todo, é necessário que seja contínua em todos os seus pontos. Um resultado similar ao desenvolvido na Análise Real é verificar que se é contínua no ponto se, e somente se, para toda sequência de pontos e se, e somente se, toda suas funções também são continuas nesse ponto. A generalização do Teorema de Weierstrass é definida para um conjunto compacto. Se definirmos uma função real e contínua, então, 3.2 CONTINUIDADE UNIFORME Para determinada aplicação , dizemos que se trata de uma uniformemente contínua se, e somente se, para qualquer par de sequências de pontos , quando independentemente do valor de Note que esse resultado só acontece quando, para qualquer par de sequências definida acima, Além disso, toda aplicação contínua para um conjunto compacto é, necessariamente, uniformemente contínua. TEMA 4 – HOMEOMORFISMO E CONJUNTOS CONEXOS Vejamos como generalizar outros dois conceitos discutidos ao longo do curso de Álgebra Moderna e Análise Real: o homeomorfismo e os conjuntos conexos. 4.1 HOMEOMORFISMO Definimos o homeomorfismo como o tipo de aplicação de um conjunto para um conjunto em que é uma bijeção contínua com inversa também contínua. Assim, definimos o gráfico de uma bijeção com o conjunto de pontos definido por Note que, para compacto, temos que qualquer aplicação contínua que tenha a propriedade injetora, levando elementos de para elementos de , é um homeomorfismo sobre sua imagem, quando compacta. 4.2 CONJUNTOS CONEXOS Definimos uma cisão de determinado conjunto como uma decomposição de em dois conjuntos, tais que . Dessa forma, verificamos que, em uma cisão, nenhum ponto de é aderente a e vice-versa. Note que, entre as cisões possíveis, existe a cisão trivial, definida como Quando um conjunto admite apenas a cisão trivial, dizemos que há um conjunto conexo. Caso contrário, é um conjunto desconexo. Vale lembrar, de Análise Real, que os únicos subconjuntos que são conexos em são os intervalos. Esse resultado pode ser utilizado para investigar que é conexo, visto que, se é conexo, então também é conexo. Além disso, dado um conjunto conexo , então a imagem de qualquer função real contínua é um intervalo. Note que esse resultado é o similar ao Teorema do Valor Intermediário, de forma que, dado um conjunto qualquer, se é um conjunto conexo e contém um ponto e um ponto , então, necessariamente, contém um ponto que pertence à fronteira de X. Não sendo necessariamente conexa, podemos definir a conexidade por caminhos, desde que definamos um caminho como uma aplicação contínua , definida em um intervalo Assim, um conjunto é conexo por caminhos quando, para qualquer , e podem ser ligados por um caminho em Note que um conjunto aberto é conexo, se e somente se, é conexo por caminhos. TEMA 5 – LIMITES Finalmente podemos generalizar uma das principais operações do Cálculo Diferencial e Integral, que é o limite de uma função, agora para variáveis. 5.1 LIMITES Para definir a operação de limite, precisamos de uma aplicação que leva elementos de um conjunto para elementos de , i.e., . O resultado do limite é um ponto de acumulação . Assim, afirmamos que é limite de quando tende a quando e utilizamos como notação que: Note que o ponto não pertence, necessariamente, ao conjunto , tanto que o teste de continuidade explora essa condição, visto que uma função é contínua quando . Além disso, a existência ou não de limite continua a não depender se a função existe ou não no ponto. Agora, em relação à generalização para não faz sentido, com exceção de (i.e., da Análise Real), discutir limites laterais à esquerda ou à direita, visto que existem infinitas direções (ou formas) de se aproximar do ponto Entretanto, ao tratarmos de em que , podemos afirmar que se, e somente se, Note que, sendo , então, qualquer sequência construída, que tenha , também terá Note, também, que as propriedades relativas a limites de funções também se preservam, quais são: , Também observamos que, definidas duas aplicações, digamos para algum conjunto , se e, existindo e , então, necessariamente, Isso, porque, não sendo assim, chegaríamos a uma contradição de que 5.2 EXEMPLO 1 Considere algumas funções vetoriais, por exemplo: Podemos calcular . Para isso, é necessário verificar que se, e somente se, Assim sendo, podemos encontrar: Dessa forma: De forma equivalente, podemos considerar a função vetorial dada por: E encontrar, também, Nesse caso, obtemos: Dessa forma: 5.3 EXEMPLO 2 Considere duas funções vetoriais definidas por , em que: Considere também uma função escalar em que: Podemos encontrar novas funções a partir das operações conhecidas oriundas do espaço euclidiano. Assim, definimos: E assim: 5.4 EXEMPLO 3 Considere a função vetorial definida por: Podemos encontrar: Assim, verificamos que se, e somente se, e calculamos: Assim: NA PRÁTICA Para todo conjunto , prove que é um conjunto aberto, isto é, . FINALIZANDO Com essa introdução, já levantamos alguns termos que serão necessários para nossa discussão de Análise no . Também tivemos a chance de definir a operação de limite de funções que será base para a generalização das operações de derivação e integração. REFERÊNCIAS LIMA, E. L. Análise Real, Volume 2. 6. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2016. ANTON, H.; CHRIS, R. Álgebra Linear Com Aplicações. 10. ed. Bookman Companhia Editora, 2010. GUIDORIZZI, H. L. Um Curso de Cálculo – Volume 2. 6. ed. LTC, 2018.
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