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ENGENHARIA QUÍMICA BRENDHA DUARTE DE AZEVEDO CAIO ROGRIGUES DA SILVA DAUDT JOÃO HENRIQUE SELEM SCUDIERI MARLON GOMES DE ANDRADE YASMIM MONTEIRO CORDEIRO SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO COM RADIOATIVIDADE Macaé 2019 BRENDHA DUARTE DE AZEVEDO CAIO ROGRIGUES DA SILVA DAUDT JOÃO HENRIQUE SELEM SCUDIERI MARLON GOMES DE ANDRADE YASMIM MONTEIRO CORDEIRO SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO COM RADIOATIVIDADE Trabalho apresentado ao Curso de graduação em Engenharia de Química, da Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora, como parte dos requisitos para aprovação na Disciplina de Ergonomia e SST, ministrada pelo professor Sérgio Ricardo da Silva. MACAÉ 2019 FOLHA DE APROVAÇÃO BRENDHA DUARTE DE AZEVEDO CAIO ROGRIGUES DA SILVA DAUDT JOÃO HENRIQUE SELEM SCUDIERI MARLON GOMES DE ANDRADE YASMIM MONTEIRO CORDEIRO SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO COM RADIOATIVIDADE Trabalho apresentado ao Curso de Graduação em Engenharia Química, da Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora, como parte dos requisitos para aprovação na Disciplina de Ergonomia e SST, pelo seguinte examinador: _____________________________________________ Prof. Sérgio Ricardo da Silva Macaé 2019 RESUMO Este trabalho descreve e analisa a Segurança e Saúde no Trabalho com radioatividade, apresentando um breve histórico da radioatividade, como é definida e quais são os tipos, além de abordar as suas aplicações em diversas áreas, como medicina, inspeção e conservação de alimentos. Foi possível analisar que a radioatividade é tida como uma das maiores descobertas da humanidade, visto que possibilitou, de forma significativa, o desenvolvimento de novos conhecimentos no século XX. No entanto, assim como toda tecnologia apresenta os seus prós e contras, a radioatividade também possui. Através do levantamento bibliográfico, verificou-se que as atividades envolvendo a radioatividade vêm sendo associada ao aumento de câncer nos trabalhadores expostos à radiação e, ainda, há um considerável número de acidentes documentados ao longo da história abrangendo esta tecnologia. Diante disso, normas regulamentadoras rigorosas são adotadas para estes locais de trabalho onde é empregada a radioatividade, a fim de garantir um desevolvimento seguro nestes postos de trabalho e fornecendo um nível adequado de proteção para os seres humanos, além de visar a eficiência do sistema produtivo da organização. Palavras-chave: Segurança e Saúde no Trabalho; Radioatividade; Normas Regulamentadoras. . ABSTRACT This work describes and analyzes Safety and Health at Work with radioactivity, presenting a brief history of radioactivity, how it is defined and what are the types, and addressing its applications in various areas, such as medicine, inspection, and food conservation. It was possible to analyze that radioactivity is considered one of the greatest discoveries of humanity, since it made possible, significantly, the development of new knowledge in the twentieth century. However, just as every technology has its pros and cons, so does radioactivity. Through the bibliographic survey, it was found that activities involving radioactivity have been associated with increased cancer in workers exposed to radiation and, still, there are a considerable number of accidents documented throughout history covering this technology. In view of this, strict regulatory standards are adopted for these workplaces where radioactivity is employed in order to ensure safe development in these jobs and providing an adequate level of protection for humans, as well as aiming at the efficiency of the production system of the organization. Keywords: Safety and Health at Work; Radioactivity; Regulatory Standards. LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 – Exemplo da utilização de elementos radioativos na medicina nuclear..19 FIGURA 2 – A irradiação de tecidos lesionados pode proporcionar a cura...............19 FIGURA 3 – Fissuras identificadas em estruturas por meio da utilização de fontes radioativas..................................................................................................................20 FIGURA 4 – Aplicação de raios gama em uma cebola..............................................20 FIGURA 5 – Bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki em 1945........................23 FIGURA 6 – Therac-25..............................................................................................24 FIGURA 7 – Manchete de um dos jornais da época sobre o acidente radioativo em Goiânia.......................................................................................................................25 FIGURA 8 – Cápsula de Césio-137...........................................................................26 FIGURA 9 – Manchete sobre o acidente radioativo no Rio de Janeiro......................27 LISTA DE TABELAS TABELA 1 – Tipos de radioatividade..........................................................................17 TABELA 2 – Campos de aplicação da radioatividade para fins pacíficos..................18 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 – Normas regulamentadoras..................................................................22 LISTA DE ABREVIATURAS E/OU SIGLAS IOHA - International Occupational Hygiene Association - Associação Internacional de Higiene Ocupacional CNEN - Comissão Nacional de Energia Nuclear NR - Norma Regulamentadora SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................11 1.1 Situação Problema...........................................................................................12 1.2 Objetivos...........................................................................................................12 1.2.1 Objetivo Geral..................................................................................................12 1.2.2 Objetivos Específicos......................................................................................13 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...........................................................................15 2.1 Breve Histórico................................................................................................ 15 2.2 Radioatividade: Conceito e Tipos...................................................................16 2.3 Aplicações da Radioatividade.........................................................................17 2.4 Exemplos Práticos............................................................................................21 2.5 Acidentes Radioativos.....................................................................................22 2.5.1 Hiroshima e Nagasaki (1945)...…………………………………………………....22 2.5.2 Máquina Therac-2 (1985-1987)……………………………………………………23 2.5.3 Césio-137, Goiânia (1987)………………………………………………………….24 2.5.4 Kramatorsk, Ucrânia (1989)……………………………………………………..…25 2.5.5 Rio de Janeiro (2011)……………………………………………………………….26 3. CONCLUSÃO……………………………………………………………………………29 REFERÊNCIAS…………………………………………………………………………….31 11 1. INTRODUÇÃO De acordo com a IOHA (2019), a Segurança e Saúde no Trabalho (SST) são definidas como a ciência da antecipação, reconhecimento, avaliação e controle de riscos no local de trabalho que podem colocar em risco ou ameaçar a saúde e o bem-estar dos funcionários, além de considerar as possíveis influências no meio ambiente. A SST se preocupa com o bem-estartotal dos funcionários no trabalho e, além da segurança e bem-estar físico, engloba o bem-estar mental e psicossocial. Do ponto de vista econômico, jurídico e moral, a Segurança e Saúde Ocupacional tornaram-se uma questão crítica aplicada nas empresas para auxiliá-las a permanecerem lucrativas no competitivo mercado global (MOLAMOHAMADI e ISMAIL, 2014). Ainda, segundo Molamahamadi e Ismail (2014), geralmente os locais de trabalho seguros e trabalhadores saudáveis são identificados como pré-requisitos para produtividade, desenvolvimento social, econômico e sustentável. Milhares de trabalhadores em diversas áreas são frequentemente expostos à radiação, tais como medicina, construção, mineração, transporte marítimo, agricultura e energia nuclear. Esses trabalhadores são empregados na geração e desativação comercial de energia nuclear, em pesquisas acadêmicas, processamento de alimentos, imagens industriais, inspeção de defeitos de solda, rastreamento de vazamentos, testes de aço para automóveis, descoberta de depósitos minerais, como cirurgiões e técnicos médicos (IAEA, 2014). A radiação1, ou radiação eletromagnética, pode potencialmente interferir no corpo e causar danos aos trabalhadores, podendo ser expostos a diferentes formas radiação. Com isso, os representantes de saúde e segurança precisam saber quais são os efeitos e o que poderia ser realizado no local de trabalho para minimizar os riscos (OHS REPS, 2015). Sendo assim, há rigorosas normas regulamentadoras de segurança adotadas nas atividades que usam a energia nuclear, a fim de garantir um desevolvimento 1 Propagação de energia na forma de ondas eletromagnéticas ou de partículas, podendo ser classificada em radiação ionizante e não ionizante, de acordo com o efeito produzido na matéria. 12 seguro das mesmas e fornecendo um nível adequado de proteção para os seres humanos (ILO, 2019) (BIODIESELBR, 2014), visto que o trabalho com radioatividade2 pode ser nocivo ao organismo do indivíduo (dependendo da intensidade ou da duração da exposição). Além de que muitos trabalhadores podem estar sendo expostos, sem ter o conhecimento, a elevados níveis de radiação, devido ao acúmulo de elementos radioativos em resíduos de processos industriais (BIODIESELBR, 2014). 1.1 Situação Problema A radioatividade foi uma das maiores descobertas da humanidade. Atualmente, sua utilização é vasta com aplicação em diversas áreas, contribuindo, de maneira significativa, para os conhecimentos desenvolvidos no século XX (PATRÍCIO; SILVA e FILHO, 2012). No entanto, desde a sua descoberta, a radioatividade vem sendo relacionada ao aumento do câncer nas populações expostas tanto a fontes naturais quanto a fontes artificiais empregadas de modo inapropriado, ou em acidentes documentados ao longo da história. Diante de tais fatos, ainda é necessário buscar entender os efeitos da radiação e analisar todos os aspectos da radioatividade no ambiente, apresentar os riscos e perigos nas atividades desenvolvidas, a fim de contribuir para uma integração ideal entre as condições de trabalho, as capacidades e limitações físicas e psicológicas do trabalhador, junto com a eficiência do sistema produtivo. 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo Geral Apresentar os perigos e riscos sobre a radioatividade, relacionando com acontecimentos históricos, assim como, estudar, avaliar e caracterizar as condições ergonômicas existentes no ambiente de trabalho, preservando a saúde e segurança dos envolvidos. 2 Fenômeno pelo qual o núcleo de um átomo instável emite partículas e ondas para atingir a estabilidade. 13 1.2.2 Objetivos Específicos • Apresentar conhecimentos básicos sobre a radioatividade. • Apresentar as normas regulamentadoras que são relacionadas a atividades perigosas, como: 1. Radiações ionizantes e substâncias radioativas (NR16). 2. Uso de EPI específico contra exposição à radiação (NR22). 3. Destinação de resíduos radioativos (NR25). 4. Sinalizações de produtos químicos (NR26). 5. Diretrizes básicas de proteção para trabalhos expostos a radioatividade (NR32). • Apresentar exemplos históricos relacionados a acidentes radioativos. 14 15 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Breve Histórico De acordo com Segrè (1987), o início da descoberta dos fenômenos radioativos foi em 1896, pelo cientista francês Antoine Henri Becquerel (1852-1908). Porém, as suas descobertas só foram possíveis devido aos estudos anteriores sobre os raios X. Logo após o descobrimento da radioatividade dos minérios de urânio (U) por Becquerel, o casal Pierre e Marie Curie constatou a existência de diferentes substâncias com atividade radioativa. Paralelamente com o alemão Gerhard Carl Schmidt, o casal encontrou um elevado índice de radioatividade no tório, elemento químico de símbolo Th (OKUNO e YOSHIMURA, 2010). Posteriormente, ao avaliar alguns minérios de urânio, especialmente as pechblendas3, Marie Curie identificou uma intensidade radioativa maior do que a observada no urânio e supôs que esses minerais continham algum elemento químico radioativo que ainda não havia sido descoberto (GARCIA, 2002). Segundo Garcia (2002), evoluindo em suas experiências, os Curie separaram da pechblenda um elemento 400 vezes mais radioativo que o urânio, recebendo o nome de polônio (Po), em homenagem à terra natal da cientista. Em seguida, conseguiram isolar a partir da pechblenda outro elemento milhares de vezes mais ativo que o urânio, que denominaram rádio (Ra). Nas décadas seguintes, as pesquisas sobre materiais radioativos continuaram e resultaram na descoberta de elementos que, até então, eram desconhecidos, como o actínio (Ac), isolado por André Louis Debierne, em 1899, e por Friedrich Otto Giesel, em 1902, além do mesotório e do radiotório, isótopos do rádio e do tório, respectivamente, descobertos por Otto Hahn (LOCH e GARCIA, 2009). Os estudos sobre o comportamento dessas substâncias, juntamente com os progressos da teoria atômica, resultaram, ao longo das primeiras décadas do século 3 Também designadas por uraninite, é o nome de um mineral, sendo uma variedade, provavelmente impura, da uraninita. Dele é retirado o urânio, purificado e concentrado, sob a forma de um sal, de cor amarela, conhecido como yellowcake. 16 XX, em uma nova concepção sobre a estrutura da matéria e derrubaram a ideia de indivisibilidade do átomo enunciada no início do século XIX. A hipótese estabelecida sobre a radioatividade, definida como a desintegração dos átomos, foi reforçada com a descoberta do nêutron por James Chadwick em 1932 (GARCIA, 2002). A nova partícula, de carga elétrica neutra, complementou uma teoria da estrutura atômica que compreende o átomo como uma combinação equilibrada de dois componentes: o núcleo (composto de nêutrons e prótons, partículas elementares de carga positiva) e os elétrons (partículas fundamentais de carga negativa), distribuídos na região extranuclear, sendo responsáveis pelas propriedades químicas dos elementos. Dessa maneira, a radioatividade é a consequência de uma perda, por parte do átomo, de alguns de seus componentes, ou a emissão de subpartículas por desequilíbrio dos campos de energia internos (GARCIA, 2002). Em 1934, o casal Frédéric Joliot e Irène Curie (filha de Pierre e Marie Curie) informou o descobrimento da radioatividade artificial. O casal constatou que alguns núcleos atômicos, bombardeados com certos tipos de radiações de partículas, possuíam sua estrutura interna modificada e passavam a demonstrar propriedades radioativas. Os processos de transmutação artificial dos elementos químicos sucederam no alcance de isótopos artificiais e radioativos da maioria dos átomos conhecidos e na descoberta de numerosos átomos novos, como os transurânicos (neptúnio (Np), plutônio (Pu), amerício (Am), dentre outros) (OSTERMANN, 1998). A utilizaçãode técnicas de transmutação radioativa possibilita a obtenção de elementos químicos artificiais desconhecidos na natureza. De vida extremamente curta, em razão do seu caráter fortemente radioativo, tais elementos sofrem imediatas transformações, que os convertem em elementos naturais (CARDOSO, 2013). 2.2 Radioatividade: Conceito e Tipos Conforme Garcia (2002), a radioatividade consiste na propriedade que alguns átomos, como urânio e rádio, têm de emitirem, de forma espontânea, energia na forma de partículas e onda, transformando-se em elementos químicos mais estáveis e mais leves. Resulta da emissão de energia por átomos, causada em decorrência 17 de uma desintegração, ou instabilidade, de elementos químicos. Assim, um átomo pode se tornar em outro átomo e, quando isso ocorre, significa que ele é radioativo. De acordo com os tipos, os elementos radioativos podem ser naturais e artificiais. Os naturais dispõem de elementos encontrados na natureza, já com seus núcleos instáveis, como o urânio, o actínio e o rádio. No que tange aos artificiais, os mesmos são produzidos por processos que desestabilizam o núcleo de um átomo. Nesse caso, o ástato (At) e o frâncio (Fr) podem ser citados (LOCH e GARCIA, 2009). Os principais elementos radioativos são: urânio-235, cobalto-60, estrôncio-90, rádio-224 e iodo-131. Devido ao seu largo emprego em usinas nucleares e tratamentos de câncer, esses elementos tendem a aparecer com maior frequência no nosso cotidiano (OSTERMANN, 1998). A radioatividade apresenta-se com duas formas distintas de radiações: partícula - alfa (α) e beta (β); e onda eletromagnética - raios gama (γ), conforme a Tabela 1. TABELA 1 – Tipos de radioatividade TIPO DEFINIÇÃO Raios alfa São partículas positivas constituídas por dois prótons e dois nêutrons e com baixo poder penetração. Raios beta São partículas negativas que não contêm massa constituída por um elétron (massa desprezível), e seu poder de penetração é superior ao dos raios alfa, porém inferior ao dos raios gama. Raios gama São ondas eletromagnéticas de alta energia e, por não serem partículas, também não possuem massa. Fonte: Elaboração própria a partir dos dados de Félix (2015) 2.3 Aplicações da Radiatividade A radioatividade possui três campos de aplicação para fins pacíficos: médico, industrial e científico. Na Tabela 2, é apresentada para quais fins a radioatividade é empregada nestes campos. 18 TABELA 2 – Campos de aplicação da radioatividade para fins pacíficos CAMPO FINALIDADE Médico Quando é aproveitada a sua capacidade de penetração e perfeita definição do feixe emitido para o tratamento de tumores e diversas doenças da pele e dos tecidos em geral. Industrial Nas áreas de obtenção de energia nuclear mediante procedimentos de fissão ou ruptura de átomos pesados. Científico Para o qual fornece, com mecanismos de bombardeamento de átomos e aceleração de partículas, meios de aperfeiçoar o conhecimento sobre a estrutura da matéria nos níveis de organização subatômica, atômica e molecular. Fonte: Elaboração própria a partir dos dados de Loch e Garcia (2009) Os materiais radioativos são empregados também na produção de substâncias fluorescentes e de relógios científicos, que se fundamentam nos princípios da geocronologia4 e da cosmocronologia5 para obter medidas precisas de tempo (CARDOSO, 2013). Na medicina, duas modalidades médicas fazem o emprego dos elementos radioativos, como meicina nuclear e radioterapia. A medicina nuclear é uma modalidade que realiza diagnóstico e terapia por meio da radiação emitida por elementos radioativos. As imagens possibilitam a avaliação do funcionamento de algumas patologias que podem ser obtidas no serviço de medicina nuclear, conforme a Figura 1. 4 Parte da geologia que se ocupa da análise da idade das rochas e de eventos geológicos durante a história geológica de certa área. 5 Consiste em uma técnica utilizada para estimar a idade de objetos e eventos astrofísicos. Esta técnica emprega a abundância de núcleos radiativos, tais como urânio e tório, similar à utilização do carborno-14 na datação de carbono. https://www.wikiwand.com/pt/Astrof%C3%ADsica https://www.wikiwand.com/pt/Ur%C3%A2nio https://www.wikiwand.com/pt/T%C3%B3rio 19 FIGURA 1 – Exemplo da utilização de elementos radioativos na medicina nuclear Fonte: Alves (2019) A radioterapia é uma modalidade médica que realiza terapia através da radiação ionizante emitida por elementos radioativos e outras fontes (acelerador linear), de acordo com a Figura 2. FIGURA 2 – A irradiação de tecidos lesionados pode proporcionar a cura Fonte: Alves (2019) Na inspeção, conforme Parisoto (2012), a radiologia industrial consiste em um método de inspeção não destrutivo que emprega radiação ionizante proveniente de elementos radioativos e outras fontes (aparelho de raios X convencionais e tomógrafo). Tal método pode ser aplicado em carros, aviões, pontes, plataformas 20 petrolíferas; em estruturas metálicas a fim de avaliar a homogeneidade das mesmas (Figura 3). FIGURA 3 – Fissuras identificadas em estruturas por meio da utilização de fontes radioativas Fonte: Alves (2019) Na conservação de alimentos, as radiações ionizantes oriundas de elementos radioativos e de outras fontes (como aparelho de raios X convencional) podem ser aplicadas com o intuito de minimizar as perdas naturais causadas por processos fisiológicos e evitar a proliferação de micro-organismos nos alimentos (ALVES, 2019), de acordo com a Figura 4. FIGURA 4 – Aplicação de raios gama em uma cebola Fonte: Alves (2019) 21 2.4 Exemplos Práticos Conforme Loch e Garcia (2009), os trabalhadores que realizam atividades consideradas perigosas ou permanecem eventualmente em áreas de risco devem estar sujeitos a procedimentos e controles de proteção radiológica, incluindo licença de trabalho e uso dos equipamentos de proteção individual, previstos nas normas expedidas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear. Esses trabalhadores devem ser submetidos a controles médicos específicos, às expensas do empregador, além dos exames já previstos em legislações trabalhistas. No caso dos ex-empregados, as empresas que fazem uso de materiais radioativos devem assegurar que eles se submetam a exames anuais realizados por, no mínimo, 30 anos após o término do contrato de trabalho. Durante esse período, o empregador deverá guardar os registros médicos do trabalhador (LOCH e GARCIA, 2009). Os locais de trabalho e os trabalhadores devem ser monitorados para avaliar se os limites de dose de radiação estão abaixo dos estabelecidos em lei. Os empregadores também devem prestar aos funcionários e seus representantes legais todas as informações sobre os riscos e medidas de controle implementadas, e promover treinamentos periódicos em proteção radiológica e avaliação de riscos aos funcionários expostos às radiações ionizantes (OSTERMANN, 1998). As empresas devem reduzir os riscos de exposição dos trabalhadores às radiações por meio de procedimentos que mantenham o nível de dose o mais baixo possível. Quando as doses de radiação exceder os limites estabelecidos nacionalmente, a atividade será considerada de grave e iminente risco, sujeita à interdição (PARISOTO, 2012). O Quadro 1 apresenta as normas regulamentadoras referentes ao emprego de radioatividade no trabalho. 22 QUADRO 1 – Normas regulamentadoras NR DEFINIÇÃO NR16 Dispõe sobre atividades e operações perigosas com radiações ionizantes ou substâncias radioativas, e suas respectivas áreas de risco. NR22 Expõe sobre organização no ambiente de trabalho, de forma a tornar compatível o planejamento e o desenvolvimento da atividade mineira com equipamentos radioativos com a busca permanente da segurança e saúde dos trabalhadores.NR25 Dispõe sobre a destinação dos resíduos industriais de origem radioativa. Os rejeitos radioativos devem ser dispostos conforme legislação específica da CNEN. NR26 Aborda os tipos de sinalizações de segurança adequada para a utilização de produtos químicos, onde o produto químico deve ser classificado, rotulado e possuir ficha com dados de segurança. NR32 Estabelece as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades com radiações ionizantes. Fonte: Elaboração a partir dos dados de Guia Trabalhista (2019) A CNEN desenvolve a política nacional de energia nuclear. Um órgão superior de planejamento, orientação, supervisão e fiscalização, e é responsável por regular, licenciar e fiscalizar a produção e o uso da energia nuclear no Brasil. Assim como as NR, estabelece normas e regulamentos em radioproteção (CNEN, 2019). 2.5 Acidentes Radioativos 2.5.1 Hiroshima e Nagasaki (1945) Com o final da Segunda Guerra Mundial em 1945, Hiroshima foi bombardeada pela força aérea americana, e logo após o bombardeio de Nagasaki veio a acontecer, conforme a Figura 5. As cidades foram escolhidas por estarem 23 situadas exatamente entre vales, o que facilitaria a avaliação dos danos causados pela nova tecnologia bélica, a qual nunca até então havia sido usada e nem se sabia quais seriam suas consequências. FIGURA 5 – Bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki em 1945 Fonte: Grando (2012) Devido a esse ataque, até o final de 1945, em torno de 145 mil pessoas tinham morrido em Hiroshima e 75 mil em Nagasaki, e milhares de pessoas sofreram ferimentos sérios. Devido aos efeitos da radiação, várias mortes ocorreram nos anos seguintes, e causaram também nascimentos de bebês com má formação genética. 2.5.2 Máquina Therac-25 (1985-1987) O Therac-25 (Figura 6) é o nome dado a uma máquina de radiografia fabricada pela empresa Atomic Energy of Canada (AECL) em 1985. Esse equipamento foi responsável pela morte de três pacientes entre os anos de 1985 e 1987, a causa da morte desses pacientes foi determinada como envenenamento por radiação. 24 FIGURA 6 – Therac-25 Fonte: Kamal (2010) A causa das mortes estava associada à quantidade de radiação emitida durante o funcionamento do equipamento. Os pacientes estavam recebendo em torno de 15 mil e 20 mil rads, quando deveriam estar recebendo apenas 200 rads, ou seja, uma diferença absurda que causou o óbito destes pacientes. Cinco dessas máquinas foram enviadas para os Estados Unidos, e seis delas permaneceram no Canadá. 2.5.3 Césio-137, Goiânia (1987) A cidade de Goiânia, em Goiás, recebeu um dos casos mais recentes de desastre envolvendo a radiação no Brasil, este caso aconteceu em 1987. O acidente ocorreu por conta de dois catadores de lixo curiosos que vieram a serem os responsáveis por desencadear um dos maiores acidentes envolvendo o isótopo Césio-137, conforme a Figura 7. 25 FIGURA 7 – Manchete de um dos jornais da época sobre o acidente radioativo em Goiânia Fonte: Entini (2012) Quando os catadores de lixo vasculharam as antigas instalações do Instituto Goiano de Radioterapia (também conhecido como Santa Casa de Misericórdia), os dois encontraram um aparelho de radioterapia abandonado, e tiveram a infeliz ideia de levar o dispositivo para casa, o que acabou resultando no envenenamento e na morte de centenas de pessoas. A situação só não foi pior, pois a esposa de um dos responsáveis levou a cápsula de Césio-137 para a sede da Vigilância Sanitária, que identificou o elemento e teve a possibilidade de conter o problema. 2.5.4 Kramatorsk, Ucrânia (1989) Em Kramatorsk, na Ucrânia, duas famílias que moravam em um mesmo prédio sentiram na pele o perigo da radiação. E, no ano de 1989, uma das mães presenciou as suas duas crianças morrerem por conta de uma leucemia, que veio a 26 ser contraída de forma desconhecida. Já na segunda família, o filho mais velho também morreu, enquanto outro ficou gravemente ferido. O motivo das mortes foi uma cápsula de Césio-137 (Figura 8) que estava dentro da parede de concreto que divia os dois apartamentos, e só foi descoberto depois que essas duas famílias contrataram especialistas para analisar o ocorrido. O elemento químico Césio-137 é utilizado em dispositivos de controle de processo radioisótopo. FIGURA 8 – Cápsula de Césio-137 Fonte: Academic (2019) 2.5.5 Rio de Janeiro (2011) Uma menina de apenas 7 anos, chamada de Maria Eduarda, estava em tratamento de leucemia no Hospital Venerável da Terceira Ordem de São Francisco da Penitência, no Rio de Janeiro, no ano de 2011. Ela havia sido diagnosticada com a doença em 2010 e já tinha completado um ciclo de quimioterapia quando os médicos indicaram o tratamento radioterápico. Logo após iniciar as sessões, seus pais ficaram preocupados com o repentino aparecimento de queimaduras na pele da menina. Os médicos disseram que a reação era normal, o que veio a despreocupar os responsáveis pela criança. Porém, os ferimentos na cabeça de Maria Eduarda pioraram e logo ela começou a apresentar danos cerebrais, como dificuldade para andar e falar. E foi nesse momento que finalmente diagnosticaram a radiação citânea na menina. Além das graves queimaduras, a radiação também afetou o seu cérebro, o 27 que ocasionou danos irreversíveis no lobo frontal. Infelizmente, Maria Eduarda não resistiu e faleceu em junho de 2012 (Figura 9). FIGURA 9 – Manchete sobre o acidente radioativo no Rio de Janeiro Fonte: Adaptado de G1 - RJ (2012) 28 29 3. CONCLUSÃO Atualmente, a radioatividade é crucial em diversos segmentos da economia e da saúde, sendo considerada um dos maiores avanços tecnológicos. Apesar do excelente custo benefício e do avanço que a radioatividade bem empregada traz, os efeitos da radioatividade no organismo humano podem desencadear reações que originam diferentes tipos de doenças, podendo comprometer gravemente o indivíduo que fica exposto à mesma. Por isto a exposição à radiação deve ser monitorada, e o profissional que trabalha com radioatividade deve estar sempre em alerta aos limites de exposição estabelecidos, para que assim possa realizar seu trabalho normalmente sem causar danos na saúde. No Brasil, existem rigorosas normas regulamentadoras de segurança adotadas nas atividades que usam a energia nuclear, a fim de garantir um desenvolvimento seguro das mesmas e fornecer um nível adequado de proteção para os seres. Entretanto, muitos trabalhadores não têm ciência do risco radioativo inerente em sua função, visto que muitas das vezes não possuem conhecimento do acúmulo de elementos radioativos em resíduos de processos industriais. A ampla divulgação das informações e dos riscos é fundamental para que se evite o risco de exposição inadequada à radioatividade, já que grande parte da população não tem conhecimento do real risco oferecido. 30 31 REFERÊNCIAS ACADEMIC. Umschlossene radioaktive Stoffe. Disponível em: <https://deacademic.com/dic.nsf/dewiki/1432838>. Acesso em: 18 nov. 2019. ALVES, L. Aplicações dos Elementos Radioativos. Disponível em: <https://alunosonline.uol.com.br/fisica/aplicacoes-dos-elementos-radioativos.html>. Acesso em: 17 nov. 2019. BIODIESELBR. Radiação e Radioatividade. 2014. Disponível em: <https://www.biodieselbr.com/energia/nuclear/radiacao-radioatividade>. Acesso em: 11 nov. 2019. ENTINI, C. E. Pesadelo Nuclear em Goiânia. 2012. 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