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Sonhos: função e formação Aula 4 Dra. Fernanda Otoni “A interpretação dos sonhos é a via régia que conduz ao conhecimento do inconsciente da vida psíquica” (Freud, 1900, pág. 517). Para Freud... ...O sonho é uma atividade psíquica, organizada, diferente da atividade de vigília e que tem suas próprias leis. ...Em a Interpretação dos Sonhos: o sonho é uma produção própria de quem sonha, não provem de uma fonte estranha ou imposta de fora. Biografia e história: A partir de seus próprios sonhos • Ainda na infância Freud menciona, um caderno de anotações onde registrava suas reflexões sobre esse tema, em uma carta de 18 de julho de 1883 à sua noiva Martha. • Interesse pelo estudo cientifico dos sonhos: assim que passou a aplicar seu método de associação livre em pacientes histéricos. • Abordagem que lhe permitiu descobrir as estreitas ligações existentes entre sonhos, fantasias (o que não pertence ao “mundo real”) e sintomas. • No mês de julho de 1895, ele fez a análise completa de um de seus sonhos, “a injeção de Irma”, primeiro sonho que examinou detalhadamente em A interpretação dos sonhos. Biografia e história: A morte do pai de Freud e sua autoanálise • Ainda que as ideias de Freud sobre os sonhos já́ estivessem bem presentes em sua mente em 1895, a elaboração da obra propriamente dita levou quase quatro anos. • Após a morte de seu pai, Jakob Freud, ocorrida em 1896, que ele iniciou pesquisas sistemáticas nesse domínio, analisando em particular seus próprios sonhos, trabalho de elaboração que serviu de fermento para sua autoanálise. • O tema da morte de seu pai e as inúmeras lembranças relacionadas a ele apareceram de maneira recorrente em seus sonhos durante os meses que se seguiram. • Sua relação com Fliess teve um papel muito importante na elaboração do manuscrito. Biografia e história: A interpretação dos sonhos • A interpretação dos sonhos contém 700 páginas na sua edição completa. • Nelas Freud analisa quase 200 sonhos, dos quais 47 são seus, e os outros provêm de seu círculo e de colegas. • Sobre o sonho (Freud, 1901) Sobre o sonho Sonhos: significado obscuro Sonhar: atividade psíquica (algo experimentado na realidade) Psicanálise Análise dos sonhos: Para Freud esse é melhor caminho para descobrir e entender o inconsciente. O sentido dos sonhos é dado pelas associações livres da pessoa que sonha • Compreender o conteúdo de um sonho tomado isoladamente, é difícil captar seu sentido. • Com o método de associação livre descobriu que os sonhos têm um sentido e podem ser interpretados. A partir de inúmeros fragmentos dispersos, busca-se estabelecer as ligações entre imagens, pensamentos e lembranças que se desencadeiam sucessivamente e ganham sentido para o analisando. Função do sonho • Tentativa de satisfazer um desejo inconsciente; • Maneira de elaborar situações traumáticas; • Função elaborativa – modo de pensar durante o sono; • Processo criativo e gerador de sentidos e de novos significados. Conteúdo dos sonhos Conteúdo manifesto: sonho tal como é relatado do sonho – sentido geralmente obscuro. Conteúdo latente: significado só aparece com clareza depois que o sonho é decifrado à luz de associações do paciente (desejos inconscientes). Estabelecem conexões estreitas: a partir do significado que liga um ao outro e que a análise consegue revelar. Conteúdo dos sonhos Relato do sonho de uma paciente de Freud Conteúdo dos sonhos A paciente era casada com um açougueiro, por quem estava muito apaixonada. Tratava-se de um homem mais rude, de fala direta. Ela costumava implicar com ele. Surge, então, um elemento curioso, que parece sem muito sentido com o resto do relato: ela lhe pedira que não lhe desse nenhum caviar. O que significaria isto, visto que a paciente diz que há muito deseja comer sanduíche de caviar todas as manhãs? Mais ainda: se pedisse, o marido certamente a satisfaria. Mas não: ela não quer que ele lhe dê para poder continuar implicando com ele. A Freud esses comentários pareceram despropositados. Mas ela continua com as associações, trazendo a visita que fizera, no dia anterior, a uma amiga de quem sentia ciúme por pensar que ela agradava a seu marido — mas por sorte era magra, e ele preferia formas rechonchudas. Essa amiga fica também associada a outro elemento do sonho: o salmão é seu prato preferido. Considerações do sonho de uma paciente de Freud Conteúdo dos sonhos Freud dá duas explicações ao sonho: uma, na sua relação direta, mais ligada ao conteúdo manifesto, que refere que no sonho a paciente realiza o desejo de não ver a amiga engordar com seu jantar, para assim não ter o risco de que ela lhe arrebatasse o marido. Em algumas ocasiões, a amiga lhe havia sugerido que a convidasse para jantar, porque em sua casa se comia bem. A outra explicação é indireta: Freud sugere que a paciente tinha necessidade de manter um desejo insatisfeito e que essa amiga também mantinha essa mesma posição. O desejo insatisfeito surgia na relação da paciente com o caviar — ela preferia que o marido não a satisfizesse — tanto quanto na relação da amiga com o salmão. Interpretação do sonho de uma paciente de Freud Conteúdo dos sonhos Trabalho do sonho: conjunto de operações que transformam o conteúdo latente em conteúdo manifesto com o objetivo de torna-lo irreconhecível. Trabalho de análise: operação inversa, que visa a encontrar seu sentido oculto a partir do conteúdo manifesto. A tarefa da interpretação dos sonhos é desfazer o que o trabalho do sonho teceu (p. 60). Mecanismos em jogo na formação dos sonhos Quais são os meios utilizados pelo trabalho do sonho para dissimular a realização do desejo a fim de que ele não apareça no conteúdo manifesto? 1. Condensação 2. Deslocamento 3. Representação/Representabilidade 4. Elaboração secundária 5. A dramatização A partir dos impulsos reprimidos do ID: disfarce e distorção (conteúdo latente): sonho manifesto. Mecanismos em jogo na formação dos sonhos Condensação: consiste em reunir um único elemento em vários elementos – imagens, pensamentos – pertencentes a diferentes cadeias de associação. Cria atalhos entre diferentes pensamentos, procedendo a aproximações inesperadas (sintomas, lapsos ou chistes). Cada elemento do sonho é sobredeterminado. Injeção de Irma Condensação A condensação pode ser vista nas figuras combinadas, bastante comum em sonhos. O sonhador pode identificar sem dúvidas que determinada figura no sonho é seu pai. Contudo, está vestido igual a seu professor e fala como um antigo amigo. Ou seja, o Trabalho do Sonho condensou em uma só personagem as três pessoas. Segundo Freud, quando isso acontece o significado desta figura está relacionado a algo que essas três pessoas possuem em comum. Condensação Uma jovem sonha que sai com uma amiga que se chama NoNo, a interpretação do sonho revelara que sonhou, na realidade, com duas amigas suas: Nora e Noêmia e, por isso, a pessoa da imagem do conteúdo manifesto do seu sonho tem por nome a silaba comum ao nome de ambas. Condensação Jovem sonha que carrega com muita raiva uma naja em sua bolsa. A naja diz que a jovem não tem como se livrar dela (a fala é em inglês). No sonho, a jovem fecha a bolsa, a joga no chão, pisoteia e a entrega para um anjo. A realidade... Condensação A jovem vivencia situação em que se sente traída pelas colegas no ambiente de trabalho (bolsa de valores); entretanto não pode fazer nada, pois teme perder o emprego já que estas a ajudam nas tarefas que exigem o domínio do inglês, idioma que ela não domina. A jovem também não pode abandonar o emprego, pois depende deste para o sustento de seu filho, seu “anjinho”. Condensação Perder o emprego, não dominar o idioma, depender das amigas “traiçoeiras”, ter que sustentar o filho. Ex: bolsa, naja que fala inglês, anjo para quem tem que entregar a bolsa, carregar bolsa com raiva, jogar bolsa no chão. Mecanismos em jogo na formação dos sonhos Deslocamento:consiste na substituição dos pensamentos mais significativos de um sonho por pensamentos acessórios, de modo que o conteúdo importante de um sonho é desfocado e dissimula a realização do desejo. A condensação e o deslocamento podem se combinar para formar um compromisso/informação. Injeção de Irma Nesse sonho trata-se de uma injeção de propileno, ele estabeleceu uma aproximação significativa entre o amileno e a lembrança de Propileus que viu em um museu. Este último elemento associativo diz respeito ao amigo Fliess, que está no elemento trimetilamina como um derivativo de substâncias sexuais. Fliess era alguém com quem Freud partilhava suas descobertas, supondo que as mesmas tinham algo em comum com temas que o amigo trabalhava. Uma dessas suposições dizia respeito à sexualidade, em relação à qual Fliess tinha uma teoria muito particular, que incluía modificações na secreção nasal e ciclos diferenciais para homens e mulheres. Mecanismos em jogo na formação dos sonhos Representação/Representabilidade: operação pela qual o trabalho do sonho transforma os pensamentos do sonho em imagens, sobretudo visuais. “Imaginemos que alguém nos pede para substituir as frases de um editorial politico ou de uma defesa perante um tribunal por uma série de desenhos”. Elaboração secundária: consiste em apresentar o conteúdo onírico sob a forma de um cenário coerente e inteligível. Quando procuramos a nos lembrar dos sonhos para contar a alguém, consequentemente, distorcermos esse conteúdo. Dramatização: transformação de um pensamento em uma situação. Os restos da véspera A formação de um sonho responde igualmente a um principio fundamental, segundo o cenário do sonho se articula sempre em torno de acontecimentos ocorridos na véspera, ou seja, “restos diurnos”. “Quando se recorre à análise, pode-se demonstrar que todo sonho, sem exceção possível, está ligado a uma impressão que se teve dias antes – sem dúvida, seria mais correto dizer: do último dia antes do sonho (o dia do sonho)”. Esses restos diurnos têm uma relação mais ou menos próxima com o desejo inconsciente que se realiza no sonho. Restos diurnos e a formação dos sonhos É tudo aquilo que não foi concluído durante o dia por algum obstáculo; O que não foi resolvido por insuficiência pessoal; O que foi rejeitado ou reprimido; O que foi estimulado em nosso inconsciente pelos estímulos recebidos durante o dia (é o mais poderoso); O que foi indiferente durante o dia. Restos diurnos Restos diurnos Realização do desejo Sonhos O principal motivo para a deformação dos sonhos está ligado à CENSURA (Superego). No sono, uma parte da censura sofre um relaxamento e o que está recalcado sofre modificações. Restos diurnos Injeção de Irma Formação dos sonhos Origem dos Desejos: • Desejos despertados durante o dia e repudiados, jogados no Ics. • Desejos despertados durante o sono, provenientes do Ics (reprimidos), nada tendo a ver com a vida diurna. Capazes de produzir sonhos Formação dos sonhos • Desejos despertados durante o dia por motivos externos e não satisfeitos, permanecendo no Pré-consciente. • Desejos provenientes de necessidades orgânicas e corporais. Precisam encontrar desejos inconscientes do mesmo teor para produzir sonhos O papel da censura O principal motivo da deformação do sonho provém da censura. Para Freud, está se trata de uma instância particular, situada na fronteira entre consciente e inconsciente, que deixa passar unicamente o que lhe é agradável e retem o resto. O que é evitado pela censura encontra-se em estado de repressão e constitui o reprimido. Mesmo no sonho, o reprimido deverá sofrer modificações para não se chocar com a censura. O papel da censura Injeção de Irma Realização dos desejos Ex p re ss õ es d e u m d es ej o d e fo rm ad o p e la c e n su ra Sonhos Lapsos Devaneios Ex p re ss õ es d e u m d es ej o p el a d e so rg an iz aç ão d o E go Alucinações Delírios Ex p re ss õ es d e d o is d e se jo s o p o st o s Id e S u p e re go Sintomas Sonhos desagradáveis As ideias desagradáveis são substituídas por ideias opostas e os afetos desagradáveis são suprimidos: ▪ Ideias desagradáveis, modificadas, penetram no sonho: Sonhos de realização de desejo comum Quando os restos diurnos são constituídos por material desprazerosos: O papel da censura Freud liga a construção do sonho à culpa — algo que surge ligado à censura —, e o desejo em causa no sonho seria o de desculpabilizar-se: Irma seria responsável por não ter aceitado a “solução”, seus padecimentos não seriam psíquicos e sim orgânicos, e o responsável pelo mal de que ela se queixava teria sido Otto, pela aplicação inapropriada da injeção. Ou seja, fosse da maneira que fosse, nenhuma culpa caberia a Freud. Injeção de Irma Próxima aula Todo sonho é a realização de um desejo? O sonho é o guardião do sono o que isso quer dizer? Porque seguidamente não nos recordamos dos nossos sonhos? Sonhos infantis, de angustia e de comodidade. O método de interpretar sonhos. Falaremos sobre...
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