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LATE-UFRJ|2015 1 7ª Edição Atualização 2014 Primeiros Socorros 10ª Edição Atualização 2017 Prevenção e LATES-UFRJ|2017 2 “Se alguém procura a saúde, pergunta-lhe primeiro se está disposto a evitar no futuro as causas da doença (...)” Sócrates, Filósofo grego “O destino do traumatizado está nas mãos daquele que faz o primeiro curativo. ” Nicholas Senn, Cirurgião Norte-americano LATES-UFRJ|2017 3 AGRADECIMENTOS A todos os colegas já formados que iniciaram esse projeto, essa família, e que ainda lutam pela mudança da triste realidade do trauma e emergências no país, agora não mais somente como meros espectadores. A todos os orientadores, que nos guiam e auxiliam nesta incessante busca pelo conhecimento. Aos acadêmicos da UFRJ que apoiam o nosso trabalho, incentivando-nos a aprimorar nossas atividades, sempre em busca da excelência. . LATES-UFRJ|2017 4 APRESENTAÇÃO DA LIGA DE TRAUMA, EMERGÊNCIA E SIMULAÇÂO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO O trauma, considerado hoje uma doença, é a principal causa de óbito em indivíduos de 20 a 40 anos e representa um enorme e crescente desafio ao País em termos sociais e econômicos. Entende-se por trauma todo tipo de lesão ao organismo, causada por energias externas. Os acidentes e os eventos de violência no Brasil configuram um problema de saúde pública, de abordagem interdisciplinar, de grande magnitude e transcendência, que tem provocado forte impacto na morbimortalidade da população. Por todo o Brasil, há mais de 10 anos, vêm sendo criadas organizações em Universidades com o intuito de discutir, treinar e educar estudantes e sociedade a respeito da real situação do trauma no Brasil, bem como o desenvolvimento de estratégias de prevenção, combate ao acontecimento de tais eventos. No início de 2006, por iniciativa do acadêmico do curso de Medicina Rodrigo Rego Barros, formou-se um pequeno grupo de alunos interessados em discutir e se aprofundar nos temas de Trauma e Emergência, tendo como fatores motivadores o grande interesse pelas áreas e a experiência prévia em resgate e suporte básico e avançado de atendimento ao trauma, obtida ao longo da graduação por alguns dos membros do grupo. Nascia, assim, o embrião da LATE-UFRJ, uma ideia amadurecida ao longo de inúmeras reuniões que se seguiram. Em 13 de março de 2007, com a estruturação dos estudos desenvolvidos pelos membros do grupo, com o apoio recebido de professores- orientadores da UFRJ e com a ampliação do campo de relacionamento com outras Ligas Acadêmicas de Trauma e Emergência em nível nacional (VII Congresso Brasileiro de Atendimento Integrado ao Trauma e o CoBraLT- Comitê Brasileiro das Ligas de Trauma), os elementos necessários para a criação de uma nova entidade estavam reunidos e, assim, foi realizada a Cerimônia de Inauguração da LIGA ACADÊMICA DE TRAUMA E EMERGÊNCIA DA UFRJ. Durante toda a sua história, a simulação foi parte da LATE-UFRJ. Em cada aula prática, nos eventos de extensão, e, claro, nos Simulados de Atendimento Integral ao Trauma, utilizávamos os métodos de simulação realística para aprimorar o nosso ensino. Com essa consciência e tendo em vista o crescimento da simulação como uma ferramenta de ensino no LATES-UFRJ|2017 5 país, em 05 de setembro de 2015, nos reinventamos. Nascia a LIGA ACADÊMICA DE TRAUMA, EMERGÊNCIA E SIMULAÇÂO DA UFRJ. Seus principais objetivos são: I - Contribuir para a formação teórico-prática dos membros, propiciando-lhes oportunidades de amplo e correto domínio dos procedimentos a adotar, diante do trauma e correlatos, desde sua prevenção até ao atendimento pré e intra-hospitalar; II - Contribuir para o desenvolvimento de trabalhos científicos, com o intuito de traçar, periodicamente, o perfil epidemiológico, no Estado do Rio de Janeiro e, também, promover pesquisas que visem aprimorar técnicas e procedimentos de abordagem ao trauma e correlatos; III - Zelar por uma atuação eficiente, eficaz e efetiva, individual ou coletiva, utilizando-se de seus membros ou em conjunto com outros órgãos competentes, por meio da aplicação de medidas que objetivem melhorar a situação do trauma e correlatos no estado do Rio de Janeiro, diminuindo, substancialmente, sempre que possível, os índices de morbimortalidade relativos a essas áreas de atuação da Medicina. IV - Realizar atividades de simulação realística a fim de aprimorar os conhecimentos técnicos e humanísticos da prática de atendimento em saúde. Ao longo dos seus nove anos de existência, a LATES-UFRJ realizou e realizará ainda inúmeras atividades de extensão sempre contando com o apoio de diversas entidades parceiras de nossa luta. Agradecemos pelo apoio e confiança em nós depositados durante todos esses anos, desde a nossa criação. Temos agora uma grande responsabilidade por toda expectativa e potencial que desenvolvemos, pelas atividades que pretendemos e iremos realizar. Gostaríamos que você viesse fazer parte dessa iniciativa e família, a fim de perpetuar nossa eterna busca pela excelência. Cordialmente, Direção LATES-UFRJ LATES-UFRJ|2017 6 CARTA AO LEITOR Caro leitor, Ao longo desses 11 anos de existência, a LATES-UFRJ vem trabalhando incessantemente para levar a informação para o maior número possível de pessoas. Sabemos que a principal maneira de reduzir o número de vítimas de trauma é através de estratégias prevenção. Muitas mortes também podem ser evitadas, simplesmente ao saber lidar com essas situações no tempo certo. Essas fatalidades são rotineiras no nosso cotidiano, e o momento de errar é agora. Somente agora. No ano de 2016 participamos da organização do Dia Nacional da Reanimação Cardiopulmonar na cidade do Rio de Janeiro. Um evento ímpar, que acontece nas principais cidades do nosso país, e que já capacitou mais de 20.000 pessoas ao longo de suas três edições. Agora, essas 20.000 pessoas podem mudar o destino de tantas outras. Esse é o nosso principal objetivo. Esse é o nosso lema. A nossa liga vem buscando sempre o melhor para o aprendizado e vivência de vocês, alunos da UFRJ. Realizamos o Simpósio de Trauma e Emergência anualmente, treinamos os ligantes com manequins de simulação realística de última geração no LabSim, montamos o Simulado de Atendimento Integrado ao Trauma, para que todos consigam viver um pouco a dinâmica de um acidente com múltiplas vítimas. E além disso, começamos o projeto de Parada Cardiorrespiratória na Atenção Primária, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde. Em dezembro, nossos diretores fizeram parte da primeira turma do PHTLS (Pre hospitalar Trauma Life Support) da cidade do Rio de Janeiro, com o objetivo de levar o que há de mais novo nos protocolos de atendimentos à vítima de trauma. Espero que vocês consigam aproveitar todas as oportunidades que essa liga oferece aos alunos, assim como eu aproveitei e continuo aproveitando. Já são 4 anos dentro da LATES-UFRJ , que fizeram toda a diferença durante a minha graduação. Além de aprender e praticar os temas que envolvem o trauma e a emergência , criamos aqui dentro uma verdadeira família. Alunos de diversos cursos e períodos de dentro da UFRJ que possuem o desejo de elevar a realidade das emergências da nossa cidade e país à excelência. Ver o envolvimento de cada um de vocês, me faz ter a certeza de que estamos no caminho certo! Boa leitura e boa sorte. Atenciosamente, Fernanda Turque Martins Presidente LATES-UFRJ LATES-UFRJ|2017 7 PREFÁCIO Preparamos esse novo material de forma mais objetiva, com o intuito de tornar a sua leituramais dinâmica e aprazível. Vale destacar que nossa apostila não pretende encerrar todos os assuntos selecionados, mas sim introduzir o leitor aos pontos essenciais na abordagem de aspectos do trauma e da emergência na forma de um guia prático. Nesse sentido, pretendemos, despertar o seu interesse na busca de um conhecimento mais profundo ao longo deste ano, principalmente junto a nós. Essa é somente uma das diversas modificações que estabelecemos em nossas atividades cotidianas a fim de reinventar a Liga como um todo, para estimular os nossos futuros membros a participarem cada vez mais de nossos eventos, discussões e pesquisas, tornando- os, portanto, mais ativos e próximos da direção LATES-UFRJ. Esperamos que aprecie o material. LATES-UFRJ|2017 8 IDEALIZADOR Dr. Rodrigo Rego Barros (Pará) MEMBROS FUNDADORES Adriana Ouverney Braz Ana Carolina de Alvarenga Menezes Gil Ana Caroline Arouche Gomes de Souza Bruno Duarte Silva Cláudio Alberto Mule Monteiro Diego Martins Ferreira Helder Vilela de Oliveira e Silva João Marcos Fonseca e Fonseca José Manoel Couto Junior Paulo Henrique Pereira Conte Samara Pimentel de Souza ORIENTADORES Prof. Marcos Alpoim Freire Orientador Geral Enfª Adriana Ouverney Braz & Enfª. Juliana Faria Campos Orientadora da Área de Prevenção e Primeiros Socorros Dr. Rodrigo Rego Barros & Enfª. Graciele Oroski Paes Orientador da Área de Atendimento Pré-Hospitalar Prof. Eduardo Kanaan & Dr. Bruno Vaz de Melo Orientadores da Área de Atendimento Intra-Hospitalar LATES-UFRJ|2017 9 DIREÇÃO 2017 Presidência Fernanda Turque Martins Vice-presidência Kiane Werneck Assumpção Bruno Diretoria de Infraestrutura, Logística e Finanças Danilo Araujo Schitkoski Werther Halpern de Pinho Diretoria Científica Daiane de Oliveira Soares William Simões Rangel Junior Diretoria de Extensão Ana Carolina Robadelo da Silva Paula Ferreira Brasil Diretoria de Simulação Thamíris Gomes Pontes da Silva Guilherme Kokot Arcari Diretoria de Atividades Teóricas da Área de Prevenção e Primeiros Socorros Clarissa Castrighini Macedo de Sousa Diretoria de Treinamentos Práticos da Área de Prevenção e Primeiros Socorros Leonam Vieira da Silva Diretoria de Atividades Teóricas da Área de Atendimento Pré- Hospitalar Dener Cruz Soldati Diretoria de Treinamentos Práticos da Área de Atendimento Pré- hospitalar Adlae Geraldo da Silva Junior Diretoria de Atividades Teóricas da Área de Atendimento Intra- Hospitalar Raíssa Pontes Chaves Diretoria de Treinamentos Práticos da Área de Atendimento Intra- hospitalar Gabriel Neves dos Santos Mosqueira Gomes Marcelo de Castro Lopes LATES-UFRJ|2017 10 MEMBROS 2016 (TURMA 10) PREVENÇÃO E PRIMEIROS SOCORROS ATENDIMENTO PRÉ- HOSPITALAR ATENDIMENTO INTRA- HOSPITALAR Andre Luiz Ribeiro Del Caro Adlae Geraldo da Silva Junior Andreia Amanajas Loureiro Bruno Dussoni Moreira dos Santos Alan Johnes Marçal Augusto Felipe Modesto Ferreira Clarissa Castrighini M. de Sousa Amanda Talho Catarina Lee Moraes Fernanda Gomes Barros Antunes Ana Carolina Robadelo da Silva Danilo Araujo Schitkoski Helena Basilio Vieira Ana Paula Bastos Nogueira de Luca Fernanda Turque Martins Igor da Fonseca Rangel Ângelo Alves de Moura Gabriel Neves dos S. M. Gomes Igor Lobato do Nascimento Camila Alves Lopes Gabriela Bueno Loria Kethlyn Goutsis Fernandes Caroline Marques Baía Guilherme Kokot Arcari Lara Mariana Monteiro de S. Rosa Daiane de Oliveira Soares Isabella Rachel Ferreira Bomfim Larissa Cristina Rangel Santoro Daniel Silva Cavalho Curi Ismael Ferreira dos Santos Leonam Vieira da Silva Dener Cruz Soldati Lais Marques Bottino Luan Figueiredo Rodrigues Fabiana de Mello Barros Mariana Alves Bellezzia Luan Vanoni de Souza Felipe de Almeida Costa Mariana Miranda Ludimila Ribeiro Vieira Felipe Rebeschini Binda Namibia Pimenta Guevara Mariana Affonso Melo Geraldo Rocha Borelli Natália Deoclecio Bonfá Matheus dos Santos Mantuano Graziela Pereira Raíssa Pontes Chaves Matheus Victor de Souza N. da Silva Isabela Ferreira Sara Roberta Antunes da Silva Nathan Gonçalves M. dos Santos Isadora Arantes Monteiro Yárina Rangel Vieira Paula Ferreira Brasil Juliana Prado Ferreira Riane Wanzeler de Oliveira Kiane Werneck A. Bruno Rosana Helena Vicente Pereira Mateus Lins de Moraes Sarah Elis Schollmeier Layra Faria de Oliveira Vanessa Rodrigues da Silva Lucas dos Santos Brandão Werther Halpern de Pinho Marcella Aparecida Carvalho Garcês Natália Larissa M. Lisbôa Priscila Carvalho de Souza Renan Machado Martins Tainara Ferreira da Costa Thamíris Gomes P. da Silva Thane Timbó Sousa Vanessa Ramos Martins Willy Vitória Benfica LATES-UFRJ|2017 11 REVISORES 2017 Clarissa Castrighini Macedo de Sousa Leonam Vieira da Silva Paula Ferreira Brasil Werther Halpern de Pinho William Simões Rangel Junior LATES-UFRJ|2017 12 SUMÁRIO (O número da página possui um link que leva ao seu respectivo capítulo) 1. Suporte Básico de Vida, 13 2. Doenças Súbitas, 25 3. Perda de Consciência, 39 4. Corpos Estranhos, 48 5. Afogamento, 54 6. Hemorragias e Feridas, 64 7. Lesões Musculoesqueléticas, 80 8. Queimaduras, 91 9. Trauma Elétrico, 101 10. Desidratação e Emergências Relacionadas ao Frio, 108 11. Prevenção de Acidentes Domésticos, 121 12. Intoxicações, 130 13. Reações Alérgicas, 142 14. Acidentes com Animais, 147 15. Trauma no Trânsito, 160 16. Avaliação de Múltiplas Vítimas, 174 LATES-UFRJ|2017 13 INTRODUÇÃO O infarto agudo do miocárdio é primeira causa de mortes no Brasil, de acordo com a base de dados do DATASUS, de Departamento de Informática do SUS, que registra cerca de 100 mil óbitos anuais devidos à doença. A principal causa da parada abrupta da função do coração é Síndrome Coronariana Aguda (SCA), ou mais especificamente o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). No entanto, também são causas comuns: a parada respiratória, o choque elétrico, o afogamento, o estrangulamento e o trauma. Deve-se atentar a fatores de risco para ajudar no diagnóstico imediato da síndrome. Os fatores de risco mais importantes para IAM são: sexo masculino, idade avançada, obesidade, tabagismo, etilismo, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia (presença de xantelasmas) e estresse. O reconhecimento desses pode ajudar no diagnóstico imediato da síndrome, o que é essencial; uma vez que, a morte por parada cardíaca pode ocorrer minutos após o início dos sintomas. Entre os sinais e sintomas clássicos de SCA, que geralmente duram mais de 15 minutos, estão: • Dor em aperto no peito; • Desconforto na nuca, pescoço e braços; • Respiração ofegante (dispneia); • Sudorese intensa (diaforese); • Pulso fraco e rápido; • Náuseas e vertigem que duram em geral mais que 15 minutos. A precocidade do reconhecimento, diagnóstico e tratamento de um infarto agudo do miocárdio é de suma importância para limitar os danos ao coração; sendo mais eficazes se realizados até algumas horas após o início dos sintomas. Corrida contra o relógio O que acontece com o coração infartado quando a vítima é atendida em até 3h, 6h, 12h e 24h a partir dos primeiros sintomas: Até três horas: quanto mais rápido for o atendimento médico, menor será a quantidade de músculo cardíacoatingido e maiores as chances de recuperação. Até seis horas: as primeiras seis horas (contadas a partir dos primeiros sintomas) são críticas. Além da oclusão da artéria, o paciente pode sofrer arritmias, às vezes fatais, e distúrbios elétricos na estimulação cardíaca. Até 12 horas: quanto maior o retardo do atendimento médico, maior a perda muscular devido à oclusão arterial coronária em andamento. Caso o paciente seja atendido após 12 horas dos primeiros sintomas, “Tempo é vida, Tempo é cérebro. Tempo é coração.” LATES-UFRJ|2017 14 evidencia-se uma perda significativa da musculatura do coração. Acima de 12 horas e até as primeiras 24 horas: ocorrerá a necrose, perda definitiva da contração muscular na artéria afetada. Apesar da grande ameaça à vida em casos de parada cardíaca, a maioria das pessoas se sentem incapazes de oferecer ajuda nessa situação. O desconhecimento da conduta correta pela população se torna ainda mais preocupante pelo fato de que 88% dos episódios ocorrem fora de hospitais, se dando principalmente em casa. Internacionalmente, as taxas de realização de BLS variam de 1% a 44%, mostrando o custo da deficiência de conhecimento. Desta forma, é preciso que haja conhecimento e treinamento das técnicas de atendimento básico - conjuntamente chamadas de Suporte Básico de Vida, do inglês, Basic Life Support (BLS) - visando à redução da morbimortalidade resultante de parada cardíaca. SUPORTE BÁSICO DE VIDA O Suporte Básico de Vida (SBV) consiste na realização de ações sequenciais essenciais no atendimento inicial da vítima que visam à manutenção da vida através de procedimentos acessíveis tanto ao profissional de saúde quanto ao cidadão, até que a vítima receba assistência especializada e suporte avançado. Esse atendimento deve ser de urgência, ou seja, o mais rápido possível para evitar agravos e/ou de emergência quando se visa manter e/ou recuperar os sinais vitais da vítima sob risco de morte. Dessa forma, o atendimento básico pode, e deve ser efetuado por qualquer pessoa, desde que possua orientação e treinamento adequados, de modo que, seja possível ajudar e, sobretudo, não piorar o estado da vítima. SEQUÊNCIA SBV PARA ADULTOS PRIMEIRO PASSO: Segurança da cena e responsividade da vítima Primeiramente, todo socorrista deve prezar pela própria segurança, antes de decidir tomar qualquer atitude em relação a uma vítima em potencial parada cardiorrespiratória (PCR). Assim, torna-se essencial a avaliação das condições de segurança do local para entrar em ação, evitando que ele próprio se torne mais uma vítima. Em caso de condições adversas, o socorrista deve aguardar ou tomar providências para poder acessar a vítima e, se possível, retirá-la do ambiente de perigo. Para verificar a responsividade da vítima, o socorrista deve posicionar suas mãos sobre os ombros da vítima e chamando-a alto, manobra conhecida como shake and shout. Ao executar essa manobra, uma vítima consciente pode levantar subitamente e, assustada, acabar ferindo o socorrista. Por esse motivo, o socorrista deve ajoelhar-se mantendo sempre a perna mais próxima ao corpo da vítima em flexão de quadril com pé no chão e a outra com o joelho ao solo, permitindo que esse se levante rapidamente caso seja necessário. Deve-se considerar em parada cardíaca uma vítima inconsciente que não esteja respirando, ou que não o faça eficientemente, ou seja, respira com muita dificuldade ou respira ofegantemente, com irregularidade e ruído (comum nos primeiros minutos Fig. 1.2 “Elos” de sobrevivência para adultos. LATES-UFRJ|2017 15 da parada, perceptível em até 40% das vítimas). SEGUNDO PASSO: Chamar o serviço médico de emergência INFORMAÇOES Uma vez percebida a situação de emergência, ou seja, quando a vítima está inconsciente e sem respiração ou apresentando respiração anormal, o socorrista deve acionar, ou pedir que outro acione o serviço médico de emergência, ligando para o número 193 (Corpo de Bombeiros), caso esteja em ambiente externo, como praias, ruas ou estacionamentos, ou para 192 (SAMU), quando a emergência ocorre em ambientes fechados como residências ou locais de trabalho, no Rio de janeiro tanto faz o número para o qual ligamos, ambos vão para a mesma central. Ao acionar esses serviços, o socorrista, ainda que leigo, deve informar corretamente: o endereço do local onde se encontra, com referências adequadas; o tipo de emergência (desmaio, queda, etc.); o número de vítimas e suas condições; condições do ambiente ao redor; e o nome e telefone para contato. Não se deve desligar o telefone até a confirmação e permissão do atendente. Após o socorro acionado o que podemos fazer também antes de iniciarmos a massagem é verificar o pulso carotídeo por no mínimo de 5s e máximo 10s. TERCEIRO PASSO: A sequência da vida REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR Segundo os parâmetros para o suporte básico de vida, estabelecidos pela American Heart Association em 2014, deve-se preconizar a circulação adequada de sangue para os órgãos vitais. Estudos recentes mostraram que um melhor resultado para os pacientes é obtido se as compressões torácicas forem iniciadas o mais cedo possível e com o mínimo de interrupções. Isso porque, durante os primeiros minutos de uma súbita parada cardíaca por fibrilação ventricular (mecanismo elétrico mais comum da parada cardíaca, 65-80%), a pressão de oxigênio no sangue não circulante permanece a mesma até que a RCP seja iniciada e continua se mantendo adequada durante os primeiros minutos de RCP. As compressões torácicas podem, então, ser iniciadas imediatamente em caso de emergência, enquanto posicionar a cabeça, preparar e iniciar corretamente as ventilações de resgate levam tempo e atrasam as compressões, reduzindo a sobrevida do miocárdio. Além disso, estudos mostraram que a maioria dos leigos, e, espantosamente, alguns profissionais de saúde não eram capazes de identificar corretamente uma parada cardíaca e por isso não iniciavam a RCP, ou faziam-no tardiamente, perdendo um tempo precioso para a vítima. Desse modo, uma vez que a vítima esteja inconsciente, o socorrista deve iniciar as manobras de reanimação cardiopulmonar. Caso a vítima não respire, ou apresente respiração agônica, o socorrista também deve assumir que há parada cardíaca. Portanto, os mais recentes Guidelines da American Heart Association para a RCP recomendam a sequência CAB (Compressões, Abertura de vias aéreas, Boa ventilação). COMPRESSÕES TORÁCICAS Essa manobra consiste em imprimir força e pressão de maneira rítmica sobre a metade inferior do esterno, criando um fluxo sanguíneo devido ao aumento da pressão intratorácica e a compressão direta do coração, permitindo assim o aporte de oxigênio para o cérebro e para o miocárdio. Para a realização eficaz das compressões, é necessário que a vítima se encontre deitada em uma superfície rígida e o socorrista deve posicionar-se ao LATES-UFRJ|2017 16 lado da vítima, ajoelhando-se caso a vítima esteja deitada no chão ou de pé ao seu lado, se ela estiver em uma maca. Os braços do socorrista devem estar estendidos à frente do tronco, ficando perpendiculares a ele; deve posicionar suas mãos uma sobre a outra, tendo por cima a mão dominante. Nessa posição, deve-se posicionar a parte inferior loja tenar e hipotenar (metade inferior da palma da mão) sobre a metade inferior do osso esterno, ou entre os mamilos da vítima. A aplicação correta e eficaz da manobra implica deprimir o esterno no mínimo 5 centímetros, evitando ultrapassar 6cm e permitir que ele volte totalmente, sem fletir os cotovelos. A força deve ser gerada na coluna lombar e somente transmitida aos braços. O ritmo de compressõesdeve ser de, no mínimo, 100 a 120 por minuto, seguindo-se um ciclo de 30 compressões seguidas de duas ventilações. ABERTURA DE VIAS AÉREAS Um socorrista treinado que se sentir capaz de realizar tanto compressões quanto ventilações, deve promover a abertura das vias aéreas usando a chamada head tilt - chin lift, que consiste em apoiar a palma de uma das mãos sobre a testa da vítima, fazendo pressão para trás, enquanto os dedos da outra se apoiam no queixo, elevando a mandíbula. Um profissional de saúde treinado deve aplicar essa manobra em vítimas em que não há evidência de traumatismo cranioencefálico ou cervical. Figs. 1.4 e 1.5 Abertura de vias aéreas pela manobra head tilt – chin lift. Fig. 1.3 Posicionamento e execução corretos das compressões torácicas. LATES-UFRJ|2017 17 3. BOA VENTILAÇÃO Uma vez iniciadas as compressões, deve-se realizar a manobra de ventilação. O socorrista deve inclinar- se sobre a vítima, abrindo suas vias aéreas, segurando a testa e puxando-a para trás com uma das mãos e comprimindo as narinas com a mesma, enquanto a outra segura o queixo elevado, mantendo a boca aberta. Depois, deve inspirar normalmente e colocar os lábios ao redor da boca da vítima, vedando-a totalmente. O modo correto de efetuar as ventilações requer uma expiração lenta, com duração de 1 segundo, assegurando-se que o tórax da vítima se expanda a cada respiração (observação visual). O tempo de expiração não deve ser maior que 2 segundos, para evitar que o aumento da pressão intratorácica reduza o retorno venoso para o coração e diminua o débito cardíaco. Além disso, um grande volume de ar pode resultar em expansão gástrica, ocasionando refluxo e possível broncoaspiração do conteúdo gástrico. Também podem ser utilizados mecanismos de barreira para a realização da ventilação, evitando assim um contato direto com a boca da vítima. Eles estão disponíveis em dois tipos: “face shield” e “face mask/pocket mask”. Infelizmente, no Brasil, esses equipamentos são caros. O ciclo realizado é o de 30 compressões para 2 ventilações e deve ser mantido até que: • O desfibrilador externo automático esteja disponível; • A vítima mostre reação, sinais de vida; • A equipe de emergência assuma o controle da situação; • O socorrista esteja muito cansado para continuar. DESFIBRILAÇÃO O ritmo cardíaco que ocorre inicialmente em parada cardíaca com maior frequência é a fibrilação ventricular. Neste ritmo, os ventrículos contraem-se desordenadamente, não resultando em pulsação. Sendo assim, a desfibrilação rápida é de suma importância, pois o choque permite que os marcapassos naturais do coração voltem a disparar ordenadamente. No entanto, o choque não é capaz de recomeçar o coração, logo, se o coração parar (assistolia), a desfibrilação não será viável. Além disso, após o choque, o coração pode tomar um ritmo ordenado, porém lento (bradicardia), que não é eficiente para bombear o sangue. Neste caso o RCP deve ser retomado. Atualmente existem desfibriladores automáticos externos (DEA), que são de fácil utilização, já que o próprio aparelho instrui o socorrista como utilizá-lo, e percebe o ritmo da vítima, informando se o choque é ou não recomendado. Fig. 1.6 e 1.7 Face shield e pocket mask LATES-UFRJ|2017 18 Quadros 1.2 PASSOS COMUNS PARA UTILIZAÇÃO DO D.E.A. 1) Ligar o D.E.A. 2) Aplicar os eletrodos (pás) auto-adesivos nos locais indicados 3) Afastar -se da vítima e aguardar a análise do ritmo pelo aparelho 4) Caso o choque seja recomendado- ritmo chocável-, afastar-se da vítima e garantir que todos também o façam 5) Pressionar o botão “choque” 6) Reiniciar o RCP por 5 ciclos, deixando a máquina analisando o ritmo da vítima. Caso um novo choque seja recomendado, realizar os passos 4 e 5 Todas as manobras devem ser realizadas com o intuito de reduzir ao máximo as interrupções nas compressões. A meta em termos de minimizar as interrupções é garantir que as compressões torácicas ocorram em ao menos 60% do tempo da RCP. Isso significa evitar interromper as compressões por mais de 10 segundos; SBV EM CASO DE TRAUMA Quando há trauma de múltiplos sistemas ou trauma de cabeça e pescoço, a coluna cervical deve ser estabilizada. A manobra jaw thrust, deve ser utilizada ao invés da head tilt-chin lift para manter as vias aéreas pérvias. Esse procedimento consiste na tração anterior da mandíbula, e é executado posicionando-se os polegares sobre os processos zigomáticos e os dedos sob os ângulos da mandíbula, deslocando-a para frente. Em um paciente com respiração inadequada e o rosto ensanguentado, a ventilação deve ser feita com o uso de dispositivos como a pocket mask ou face shield, enquanto a estabilização da coluna cervical é mantida. Nesse caso, procure estancar diretamente hemorragias visíveis usando compressas apropriadas. Caso o paciente esteja completamente irresponsivo, inicie o RCP e a desfibrilação como indicado. Fig. 1.8 Manobra jaw thrust ( à esquerda) Fig. 1.9 Imobilização da coluna cervical (à direita) LATES-UFRJ|2017 19 Protocolo de BLS de adultos Não responsivo Sem respiração ou em respiração agônica Acionar o serviço de salvamento de emergência Providenciar um DEA (ou mandar um segundo socorrista fazê-lo) Checar pulso: encontrado em até 10 segundos? Iniciar ciclo de 30 COMPRESSÕES e 2 VENTILAÇÕES •Fazer uma ventilação a cada 5 ou 6 segundos •Rechecar o pulso a cada 2 minutos Checar ritmo Ritmo chocável? Aplicar 1 choque Reiniciar RCP imediatamente (por 2 minutos) Reiniciar RCP imediatamente (por 2 minutos) Checar o ritmo a cada 2 minutos; continuando até que a equipe de emergência assuma Pulso ausente Pulso presente Ritmo chocável Ritmo não chocável © 2010 American Heart Association RCP de alta qualidade •Ritmo de 100/min •Compressões com aprox. 5cm de profundidade •Permitir que o tórax se expanda após cada compressão •Minimizar as interrupções entre as compressões •Evitar ventilação excessiva OBS:Os boxes de linha tracejada são recomendados para profissionais de saúde e não para socorristas leigos. 1 Chegada do DEA/ desfibrilador 2 3 3a 4 6 7 5 Fig. 1.10 Algoritmo SBV para adultos LATES-UFRJ|2017 20 SEQUÊNCIA SBV PEDIÁTRICO Em bebês e crianças, a parada cardíaca por asfixia é mais comum do que a parada cardíaca por fibrilação ventricular, e as ventilações são de extrema importância no SBV pediátrico. No entanto, não é comprovada se há diferença prática entre a sequência iniciada pelas ventilações (ABC) ou pelas compressões torácicas (CAB). A sequência CAB para bebês e crianças é então recomendada no intuito de simplificar o treinamento, com a esperança de que mais vítimas de parada cardíaca súbita irão receber a RCP de qualquer cidadão treinado. O guideline discrimina uma série de ações que funcionam como uma sequência de passos do algoritmo SBV pediátrico. No entanto, eles devem ser executados simultaneamente (ex. iniciar a RCP e acionar o serviço médico de emergência), na presença de mais de 1 socorrista. A sequência do SBV para adultos e crianças é semelhante, porém com algumas peculiaridades que serão mostradas aqui. Os dois passos iniciais são os mesmos, checar a segurança da cena e a responsividade da vítima. Os socorristas profissionais devem checar também o pulso periférico ou central – pulso braquial em crianças menores de um ano e pulsos carotídeo ou femoral em crianças maiores de um ano – da vítima, verificando (em até 10 segundos) se este não está presente, indicando uma parada cardiorrespiratória. Caso o pulso esteja <60bpm (bradicardia) e estejam presentes sinais de má perfusão como palideze cianose, apesar do suporte ventilatório e de oxigênio, também é necessário iniciar as compressões. Se a criança estiver apenas desacordada, coloque deitada sobre um dos lados (em posição de recuperação), o que ajuda a manter as vias aéreas pérvias e diminui o risco de broncoaspiração. O socorrista deve considerar em parada cardíaca uma vítima não responsiva e em respiração agônica ou ausente, e então iniciar as compressões cardíacas efetivas, ou seja, com ritmo e profundidade apropriados. Para isso, o socorrista deve: • Realizar, no mínimo, 30 compressões em um ritmo de 100 a 120/min; • Exercer força suficiente para deprimir, no mínimo, esterno em 4 a 5 cm, dependendo do tamanho da criança/bebê; • Permitir que o tórax se expanda após cada compressão, facilitando o reenchimento do coração; • Para garantir o retorno do tórax após cada compressão o socorrista não deve apoiar-se no tórax entre as compressões • Evitar ventilação excessiva. Para minimizar ventilações excessivas, uma vez colocada a via aérea avançada, a proporção de ventilações foi simplificada para 10 respirações por minuto (uma ventilação a cada seis segundos). Em bebês até 1 ano, as compressões são realizadas com dois dedos de uma das mãos, ou os dois polegares (recomendada na presença de mais de 1 socorrista), posicionados sobre o tórax imediatamente abaixo da linha intermamilar. Em crianças até 10 anos, utiliza-se apenas uma das mãos ou mesmo as duas, evitando o uso de força excessiva. Fig. 1.11 Compressão em bebês até 1 ano LATES-UFRJ|2017 21 Após as 30 compressões iniciais, deve-se abrir as vias aéreas usando a manobra head tilt – chin lift, realizar duas ventilações efetivas, certificando-se de que houve enchimento do tórax em cada uma delas. Quanto à técnica, a ventilação em adultos e crianças é muito semelhante, exceto pelo volume de ar exalado, que deve ser menor, respeitado o tamanho da criança. Em relação aos bebês, o socorrista deve tentar selar a boca e as narinas do bebê com a sua boca e então oferecendo somente o volume de ar suficiente para encher uma de suas bochechas. Caso não tenha sucesso, ele pode efetuar o boca-a-boca semelhante ao SBV adulto, comprimindo lateralmente o nariz do bebê, ou soprar pelo nariz do bebê, fechando sua boca. Para um socorrista sozinho, a relação compressão-ventilação deve ser de 30:2; no caso de dois socorristas, essa relação passa a ser de 15:2. No primeiro caso, ele deve realizar cinco ciclos de RCP completos antes de acionar o sistema médico de emergência (193 ou 192) e/ou buscar um DEA, se houver algum próximo; e então retornar para a vítima assim que possível e reiniciar a RCP, continuando até que os socorristas profissionais cheguem ou a vítima comece a respirar espontaneamente. Essas ações podem ser feitas simultaneamente caso estejam presentes dois socorristas, ou seja, enquanto um deles realiza a RCP, o outro aciona 193/192 e providencia um DEA. DESFIBRILAÇÃO EM CRIANÇAS Quando uma criança entra em colapso súbito, por exemplo, durante uma atividade esportiva, é provável que ela esteja em fibrilação ventricular e taquicardia ventricular sem pulso (definidos como ritmos chocáveis), e então necessite de RCP imediata e rápida desfibrilação. Para a desfibrilação em crianças, o aparelho a ser utilizado deve conter pás pediátricas que se adequam tanto no tamanho quanto na carga a ser oferecida a vítima (2J/kg). Além disso, outro cuidado deve ser tomado quanto a colocação dos eletrodos que também é diferenciada: um é colocado anteriormente no tórax, sobre o coração, enquanto o outro, posteriormente na mesma direção. Na ausência de desfibriladores adaptados, o novo guideline recomenda a utilização do desfibrilador comum (adulto), porém o contrario não é verdade. Fig. 1.12 Compressões em crianças a partir de 1 ano. Fig. 1.13 “Elos” de sobrevivência para crianças. LATES-UFRJ|2017 22 Protocolo de BLS pediátrico Não responsivo Sem respiração ou em respiração agônica Designar alguém p/ acionar o serviço de salvamento de emergência, providenciar um DEA/ desfibrilador Checar pulso: encontrado em até 10 segundos? Um socorrista: Iniciar ciclos de 30 COMPRESSÕES e 2 VENTILAÇÕES •Fazer uma ventilação a cada 3 segundos •Incluir compressões caso o pulso permaneça <60/min com pefusão pobre apesar de oxigenação e ventilação adequadas •Rechecar o pulso a cada 2 minutos Checar ritmo Ritmo chocável? Aplicar 1 choque Reiniciar RCP imediatamente (por 2 minutos) Reiniciar RCP imediatamente (por 2 minutos) Checar o ritmo a cada 2 minutos; continuando até que a equipe de emergência assuma Pulso ausente Pulso presente Ritmo chocável Ritmo não chocável RCP de alta qualidade •Ritmo de 100/min •Compressões com metade do diâmetro do tórax (4cm/5cm aprox.) de profundidade •Permitir que o tórax se expanda após cada compressão •Minimizar as interrupções entre as compressões •Evitar ventilação excessiva OBS:Os boxes de linha tracejada são recomendados para profissionais de saúde e não para socorristas leigos. 1 2 3 3a 4 7 8 5 Socorrista sozinho: Para COLAPSO SÚBITO, acionar o serviço médico de emergência, providenciar um DEA Dois socorristas: Iniciar ciclos de 15 COMPRESSÔES E 2 VENTILAÇÔES Após aprox. 2 minutos, acionar o serviço de emergência e providenciar o DEA (caso não tenha sido feito). Usar o DEA assim que disponível 6 Fig. 1.14 Algoritmo SBV pediátrico. LATES-UFRJ|2017 23 HANDS ONLY (RCP SEM VENTILAÇÃO) Pesquisas recentes mostram que os índices de sobrevivência de vítimas de parada cardíaca que receberam primeiros socorros de leigos com a RCP completa e com a técnica sem ventilação são muito semelhantes. Algumas pessoas e até profissionais de saúde demonstram certa relutância em realizar respiração “boca-a-boca” em pessoas desconhecidos; mas, muitas vezes, o maior obstáculo ao atendimento básico eficaz é o pânico do socorrista. O Hands Only, por ser mais simples, pode ajudar a superar o pânico e a hesitação para agir em momento de emergência. No entanto, para vítimas de parada cardíaca prolongada, tanto as ventilações quanto as compressões são necessárias, porque o oxigênio do sangue é consumido e o volume pulmonar desse gás se torna insuficiente. Além disso, a manobra de RCP sem ventilações não é recomendada para: crianças vítimas de parada cardíaca; e vítimas de parada cardíaca de origem não-cardíaca como trauma, afogamento, obstrução de via aérea. Isso porque, na maioria desses casos, as vítimas já estão com baixa pressão de oxigênio no sangue (hipoxemia) no momento da parada cardíaca. LATES-UFRJ|2017 24 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERG et al. 2010 American Heart Association Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Part 5: Adult Basic Life Support. Circulation [online]. 2010, v. 122; S685-S705. HANDS OF TIME: Celebrating 50 years of CPR. American Heart Association. 1 vídeo. VANDEN, H. et al. 2010 American Heart Association Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Part 12.11: Drowning. Circulation [online]. 2010, v. 122, n. 183, S829. BERG et al. 2010 American Heart Association Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Part 13: Pediatric Basic Life Support. Circulation [online]. 2010, v. 122, n. 183, S862. GUIMARÃES H. P.; LANE J. C. Uma Breve História da Ressuscitação Cardiopulmonar Revista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica [online]. 2009, v. 7, pp. 177-187. American Heart Association, Suporte Básico de Vida (BLS): Novas Diretrizes 2015. Encontrado em:https://eccguidelines.heart.org/wp- content/uploads/2015/10/2015-AHA-Guidelines- Highlights-Portuguese.pdf. 2015, pp 5-10. Assessoria de imprensa do hospital são luiz. Velocidade do atendimento após o infarto diminui danos. Encontrado em: https://coracaoalerta.com.br/fique-alerta/velocidade- do-atendimento-apos-o-infarto-diminui-danos/. 2015. https://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2015/10/2015-AHA-Guidelines-Highlights-Portuguese.pdf.%202015 https://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2015/10/2015-AHA-Guidelines-Highlights-Portuguese.pdf.%202015 https://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2015/10/2015-AHA-Guidelines-Highlights-Portuguese.pdf.%202015 https://coracaoalerta.com.br/fique-alerta/velocidade-do-atendimento-apos-o-infarto-diminui-danos/ https://coracaoalerta.com.br/fique-alerta/velocidade-do-atendimento-apos-o-infarto-diminui-danos/ LATES-UFRJ|2017 25 INTRODUÇÃO A transição epidemiológica ocorrida neste século, em decorrência do aumento do controle de doenças transmissíveis, fez com que houvesse um aumento da expectativa de vida em todos os países. Isso fez com que as doenças não transmissíveis passem a ter maior importância quando se pensa em morbidade e mortalidade. A cada ano morrem em média 17,5 milhões pessoas pelo que é definido como “doenças não transmissivas crônicas degenerativas”. Nesse contexto, destacam-se as doenças cardiovasculares (DCV), principalmente, o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e o Acidente Vascular Encefálico (AVE), também conhecido por AVC. Essas são as doenças de maior relevância, não só pela sua importância sob o ponto de vista epidemiológico, mas também pelos altos custos requeridos no seu tratamento e na reabilitação dos pacientes acometidos, pois em geral elas estão associadas à comorbidades e, por isso, demandam assistência de alta complexidade. As DCV prevalecem como a principal causa mundial de mortalidade e incapacidade, respondendo por mais de 300 mil óbitos anuais no Brasil e sendo responsável por 45% das mortes na faixa etária acima de 45 anos. No país, 40% das aposentadorias precoces são devido à AVE ou ao IAM. Em 2013, as DCV responderam por 37,1% de todas os óbitos, contabilizando 1 morte a cada 26 segundos. As DCV atualmente respondem por mais óbitos todos os anos do que câncer, doenças respiratórias crônicas e acidentes juntos. Em 2009, os gastos com internações pelo SUS totalizaram R$ 1,2 milhão e, com o envelhecimento da população e mudança dos hábitos de vida, a prevalência das DCV tende a aumentar nos próximos anos, gerando ainda mais custos para os cofres públicos. As doenças cardíacas de origem isquêmica são as principais doenças de sintomatologia súbita que aparecem na emergência hospitalar. Assim como as anginas e o IAM perfazem este ambiente, há outras ocorrências que devem ser encaminhadas rapidamente para um serviço de emergência. Neste sentido, é importante estudarmos os seus fatores de risco, de modo que possamos planejar adequadamente medidas de prevenção e controle. Portanto, trataremos neste capítulo das principais doenças súbitas, focando na sua identificação e medidas de primeiros socorros. INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO (IAM) E ANGINAS A Doença Arterial Coronariana (DAC) compreende a angina estável (forma crônica da doença) e a Síndrome Coronariana Aguda (SCA), e esta engloba a angina instável e o infarto agudo do miocárdio (IAM). O mecanismo da DAC, frequentemente, relaciona-se com a obstrução da LATES-UFRJ|2017 26 artéria coronária por uma placa de ateroma, reduzindo o fluxo sanguíneo, que passa a ser insuficiente para uma determinada região do miocárdio. A maioria dos casos de SCA decorre de redução súbita no fluxo sanguíneo coronariano causado por aterosclerose com trombose sobreposta. Na sua evolução natural, as placas de ateroma, principalmente as ricas em lipídios, podem sofrer ruptura abrupta (placas instáveis) com consequente exposição de substâncias que promovem ativação e agregação plaquetária, e, por último, formação de trombo. A oclusão pelo trombo pode ser intermitente (trombo oclui e libera o fluxo para a artéria, se mantendo assim por algum tempo), podendo evoluir para uma oclusão definitiva. O trombo interrompe o fluxo sanguíneo coronário, causando um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio do músculo cardíaco. A necrose miocárdica (morte do tecido) ocorre quando essa interrupção é severa e prolongada. Podem ser citadas como causas de IAM sem aterosclerose coronária as arterites de coronária, trauma, embolização para coronárias (p. ex.: endocardites), anormalidades congênitas, hipotensão prolongada, coagulação intravascular disseminada, abuso de cocaína, etc. As doenças cardiovasculares afetam especialmente indivíduos adultos e idosos. Particularmente o IAM possui relevante impacto na mortalidade, no número de internações e na letalidade hospitalar. Todo ano, estima-se que 785 mil americanos sofrerão um novo infarto, e 470 mil terão um ataque recorrente. Nos EUA, ocorre um infarto a cada 34 segundos. Em 2008, a DAC causou 1 a cada 6 mortes nos EUA, e a porcentagem de mortes por isso foi de 70%. Das 1.133.761 mortes ocorridas no Brasil em 2010, 99.408 foram atribuídas às doenças isquêmicas do coração, das quais 79.297 são decorrentes do infarto agudo do miocárdio, o que representa 6,9% de todas as mortes (www.datasus.gov.br). Um número significativo de mortes ocorre fora do ambiente hospitalar, com destaque para o domicílio do paciente, sendo frequente o óbito antes da prestação de socorro médico, geralmente por fibrilação ventricular. A admissão em uma unidade de terapia intensiva, o tempo decorrido entre o início dos sintomas e o primeiro atendimento contribuem para a redução da letalidade por IAM. O tempo é essencial na assistência ao paciente infartado antes de sua chegada ao hospital, visto que mais de 50% dos óbitos ocorrem na primeira hora de evolução. Assim, o retardo no tratamento de pacientes com suspeita de IAM é um fator crítico de redução na sobrevida. Diante disso, concluímos que o rápido reconhecimento dos sintomas e o pronto atendimento médico são de fundamental importância para um melhor prognóstico da doença, bem como para evitar complicações e mortes. Fig. 2.1 Artéria coronária ocluída, levando à isquemia, gerando angina instável e/ou infarto do miocárdio. LATES-UFRJ|2017 27 ANGINA ESTÁVEL Síndrome clínica decorrente de isquemia miocárdica transitória, caracterizada por dor pré- cordial em aperto, que melhora em menos de 10 minutos com repouso ou com uso de nitrato (isordil) sublingual. Pode ser desencadeada normalmente por esforço físico, ou também pelo estresse. Indica má perfusão do miocárdio, geralmente por doença aterosclerótica, mas que em repouso é assintomática, e só agudiza frente ao aumento da demanda de O2 pelo miocárdio (exercício físico). Não denota urgência no atendimento. ANGINA INSTÁVEL Refere-se a um padrão de dor pré-cordial em aperto, irradiada para braço esquerdo e/ou mandíbula, de duração variável (geralmente é prolongada, podendo exceder 10 minutos), que ocorre com uma frequência crescente. Pode ser precipitada por esforços progressivamente menores, podendo ocorrer durante o repouso (diagnóstico diferencial em relação à angina estável), e melhora com isordil sublingual. A angina instável representa um estado mais grave que a angina estável, necessitando, assim, de maior atenção do socorrista. Importante notar que nem toda dor torácica significa infarto, mas que a angina é um alerta que predispõe a este quadro. INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO Consiste na morte do miocárdio, resultante deisquemia grave prolongada. Caracteriza-se por dor pré-cordial em aperto (sinal de Levine), porém não melhora com repouso nem isordil sublingual. Tem duração maior, e com frequência há sintomas como náusea e vômitos, podendo haver desmaio, sensação de morte, diaforese (transpiração excessiva) e palidez cutânea. Em casos raros, pode apresentar desconforto epigástrico (sintomatologia atípica). É um quadro grave, devendo-se acionar o serviço de emergência imediatamente. FATORES DE RISCO São fatores de risco: sexo masculino, idade avançada (>55 anos em homens e >60 anos em mulheres), obesidade, tabagismo, etilismo, estresse, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia e estresse. PRIMEIROS SOCORROS Acionar imediatamente o serviço de Fig. 2.2 Sinal de Levine – mão em garra sobre o peito. Fig. 2.3 Zonas de dor no IAM: vermelho-escuro = área mais típica / vermelho-claro = outras áreas possíveis. LATES-UFRJ|2017 28 emergência, acalmar o paciente e não lhe oferecer alimentos ou líquidos. Se for constatada parada cardiorrespiratória, iniciar o Suporte Básico de Vida (SBV). No caso da ocorrência de angina instável e se a vítima já for ciente de sua condição, deve-se estimular a administração do isordil sublingual pela mesma. Tendo certeza do diagnóstico de infarto, o socorrista deve administrar 300mg de aspirina (3 comprimidos de AAS infantil que devem ser mastigados antes de engolir) e 5mg de isordil sublingual (dose máxima de 3 comprimidos com intervalo de 3 a 5 minutos entre eles). Geralmente o cardiopata anda com esses medicamentos no bolso. ATENÇÃO! Alguns pontos importantes devem ser considerados: O infarto pode ter apresentações atípicas, como dor no estômago, dor apenas no braço, ou até ausência de dor (é mais comum em diabéticos e mulheres). Deve-se estar atento para outras doenças que também cursam com dor no peito como pneumonia, espasmo esofagiano, dissecção aguda de aorta, entre outras. Dessa forma, havendo dúvida no diagnóstico, não deve ser administrado nenhum medicamento. O melhor hospital para transportar a vítima é o hospital mais próximo. PREVENÇÃO Os objetivos da prevenção envolvem redução do risco de eventos isquêmicos clinicamente relevantes, com consequente diminuição da mortalidade e da incapacitação prematuras, e prolongamento da sobrevida. Os indivíduos com maior risco devem ser precocemente identificados para intervenções de estilo de vida (e, quando apropriado, para intervenções farmacológicas), no sentido de se obter um maior controle e tratamento dos fatores de risco. As principais recomendações incluem: Seguir uma dieta balanceada, rica em frutas e verduras e com baixa quantidade de gorduras e sal; Perder peso, em caso de obesidade ou sobrepeso; Parar de fumar. Praticar atividades físicas regularmente, sob orientação médica; Tratar adequadamente doenças como o colesterol alto, hipertensão arterial e Diabetes Mellitus. ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO (AVE) O AVE, popularmente chamado de “derrame”, é uma perda aguda, focal ou generalizada, da função cerebral (ou da retina), de origem vascular e com duração superior a 24h, que resulta no aparecimento de déficit neurológico. Pode até mesmo ocorrer uma perda súbita da consciência, resultante da falta de oxigênio no cérebro devido à ruptura ou oclusão de um vaso sanguíneo. O AVE caracteriza-se por ser uma das principais doenças na população idosa, sendo a maior causa de mortalidade, seguido da DAC (Doença Arterial Crônica), em todo o mundo. Em 2008, a estimativa era de que fosse responsável por cerca de 10% do total de mortes no mundo, com aproximadamente 6 milhões de óbitos, concentrados principalmente em países pobres (dados de mortalidade indicam que o AVC foi responsável por 1 a cada 18 mortes nos EUA). Nos EUA, ocorre, em média, um AVC a cada LATES-UFRJ|2017 29 40 segundos, e uma morte relacionada ao AVC a cada 3-4 minutos. Todo ano, aproximadamente 795 mil pessoas sofrem um novo, ou recorrente, AVC, sendo que 610 mil são casos novos e 185 mil são casos recorrentes. Projeções mostram que até 2030, mais 4 milhões de pessoas terão tido um derrame, o que significa um aumento de 24,9% com relação à prevalência de 2010. No Brasil, há uma média de 68 mil mortes anuais por AVC. Além das mortes, o distúrbio pode levar a sequelas graves, que atingem em torno de 50% dos sobreviventes a um derrame. Outro ponto a ser destacado é que parte considerável das mortes por AVC no Brasil acontece em uma faixa etária precoce – abaixo dos 65 anos de idade. Isto leva a um prejuízo econômico muito grande por morte ou incapacitação de uma pessoa produtiva. O AVE é classificado em subtipos, e o prognóstico e tratamento dessa doença diferem de acordo com o subtipo. A incidência e distribuição dos subtipos de AVC têm variações geográficas moderadas que estão provavelmente relacionadas à prevalência de fatores de risco cardiovasculares, estrutura social e diferenças étnicas. Assim como para as doenças coronarianas, a identificação correta e rápida dos sintomas, e o pronto atendimento médico, são fundamentais para obtermos um melhor prognóstico da doença, evitando complicações e mortes. SINTOMATOLOGIA A sintomatologia é variada, pois depende da região anatômica do cérebro afetada: Desvio de rima labial; Dificuldade para falar ou entender comandos simples; Confusão mental; Perda visual em ambos ou dois olhos; Crise convulsiva; Perda de força e/ou sensibilidade em um ou ambos os lados do corpo (85% dos casos); Perda de equilíbrio, coordenação ou dificuldade para andar; Anisocoria (tamanho desigual das pupilas); Ptose palpebral; Cefaléia intensa Fig. 2.5 Anisocoria Fig. 2.6 AVE isquêmico. Fig. 2.4 Ptose palpebral LATES-UFRJ|2017 30 AVE ISQUÊMICO No AVE isquêmico, ocorre disfunção neurológica causada pela obstrução de um vaso sanguíneo sem haver hemorragia, resultando em redução da perfusão (isquemia). Esse é o subtipo mais comum, responsável por 85% dos casos. A oclusão aguda de um vaso intracraniano reduz o fluxo sanguíneo para a região cerebral que ele supre, causando necrose neuronal com perda imediata da função celular (os neurônios não dispõem de reserva de fonte de energia). Com isso, os sintomas são instantâneos e dependem da região que foi afetada pela isquemia. A região vascularizada pela artéria ocluída apresenta uma parte central, a mais afetada e onde pode haver necrose, e a periférica, a menos afetada, podendo ter algum aporte de oxigênio de um vaso vizinho. A região periférica é a que se tenta salvar no tratamento do AVE. As causas principais são: arritmia cardíaca, tromboembolismo arterial, trombose, IAM, hipotensão medicamentosa, aumento da pressão intracraniana (PIC) e choque, principalmente hipovolêmico. ACIDENTE ISQUÊMICO TRANSITÓRIO (AIT) O AIT é semelhante ao AVE isquêmico, mas os sintomas têm duração mais curta (sintomas passageiros) e denota um baixo risco ao paciente. Assim, se caracteriza como um episódio breve de disfunção neurológica súbita causada por isquemia focal cerebral ou da retina, devido à perfusão cerebral ou oftálmica inadequada, com sintomas clínicos que duram tipicamente menos de 1h. Resulta de uma isquemia transitória, geralmente autolimitada, como uma oclusão arterial seguida de desobstrução momentos depois, ou uma hipotensão arterial manifestando sintomas neurológicos, que desaparecem depois da normalização da pressão arterial. O prognóstico é muito mais favorável em comparação a um AVE, porém pode ser fator de risco para o mesmo. AVE HEMORRÁGICO É a disfunção neurológica causada pela ruptura de um vasointracraniano, resultando em um sangramento intra ou extraparenquimatoso. É um AVE geralmente mais grave, com maior risco de morbimortalidade. Representa 13% dos casos de AVE. Os sintomas são similares aos citados anteriormente. Para diferenciar um AVE hemorrágico de um isquêmico, é necessário um exame complementar de neuroimagem. Fig. Ptose Palpebral. Fig.2.7 AVE hemorrágico LATES-UFRJ|2017 31 FATORES DE RISCO Os AVEs têm em comum o seguinte grupo de fatores de risco: hipertensão arterial sistêmica (HAS), Diabetes Mellitus, hipercolesterolemia, tabagismo, aterosclerose de carótidas e fibrilação atrial. Todos esses fatores são agravantes para a formação de trombos que, se embolizados, podem ocluir uma artéria cerebral, configurando a causa mais comum de AVE. PRIMEIROS SOCORROS Muitas vezes, o paciente com AVE não percebe que há algo errado (anosognosia), por isso é mais comum que um espectador ou familiar peça ajuda. É crucial que o serviço de emergência seja acionado o mais rapidamente possível para que a conduta terapêutica seja iniciada. Até a chegada da ambulância, deve-se fazer o suporte básico da vida, não oferecer comida ou líquidos para o paciente, e não deixá-lo ficar em pé, pois há risco de queda. O AVE muitas vezes pode ser confundido com uma crise epilética (e vice-versa), portanto, é válido perguntar aos espectadores se houve alguma crise convulsiva e prover essa informação aos profissionais do serviço de emergência. IMPORTANTE! Existem alguns sinais típicos indicadores de AVE: paralisia facial, alteração de força nos braços e fala enrolada. Para detectar anormalidades nesses parâmetros, peça para a vítima: 1. Sorrir (se a pessoa mover a face só para um dos lados, pode estar tendo um AVC) 2. Levantar os braços (se houver dificuldade para levantar um dos braços, ou após levantar os dois, um deles cair, a pessoa pode estar tendo um AVC) 3. Repetir uma frase simples (como: “Hoje o dia está bonito”) ou cantar um trecho de uma música (se a pessoa não responder ou falar enrolado, pode estar tendo um AVC) Esses procedimentos são essenciais para a identificação de um AVE. Ao perceber qualquer alteração em um desses parâmetros, procurar imediatamente o serviço médico de emergência (1 só sintoma é suficiente). Fig. 2.8 Fatores de risco para AVE LATES-UFRJ|2017 32 PREVENÇÃO A prevenção se baseia na mudança dos hábitos de vida para um estilo mais saudável, visando controlar e tratar os fatores de risco que podem levar o indivíduo a sofrer um acidente vascular. Esse é ponto muito importante, pois, embora também seja uma doença cardiovascular, o tratamento do AVE é mais complexo do o que o do IAM, visto que não só altera o funcionamento cerebral como incapacita o indivíduo. As recomendações são: Seguir uma dieta balanceada, rica em frutas e verduras, e de preferência com baixos teores de gorduras e sal (a hipertensão arterial é o fator de risco para doença cerebrocardiovascular mais importante); Parar de fumar; Praticar atividades físicas regularmente, sob orientação médica; Tratar adequadamente doenças pré-existentes como o colesterol alto, hipertensão arterial e diabetes mellitus, que podem evoluir para um AVE; TROMBOSE VENOSA PROFUNDA (TVP) EMBOLIA Consiste na existência de um corpo (êmbolo) sólido, líquido ou gasoso transportado pelo sangue e capaz de obstruir um vaso. Em mais de 90% dos casos os êmbolos se originam de trombos. No entanto, existem outros tipos de embolia: gasosa, gordurosa, de líquido amniótico, tumoral, entre outras. TROMBOSE A trombose é o processo patológico que resulta na formação de um trombo. O trombo é caracterizado pela formação de um coágulo Fig. 2.9 Sinais de AVE LATES-UFRJ|2017 33 sanguíneo dentro do espaço vascular, no indivíduo vivo. Esta característica é importante para diferenciarmos trombo de coágulo. O trombo resulta da ativação patológica do processo normal de coagulação. Essa ativação pode ocorrer em três situações (Tríade de Virchow): Lesão endotelial; Alteração de fluxo sanguíneo; Hipercoagulabilidade do sangue. TROMBOEMBOLIA VENOSA (TEV) É um distúrbio caracterizado pela formação de trombos no sistema venoso, que se rompem e liberam fragmentos (êmbolos). Os êmbolos, por sua vez, irão causar entupimento de vasos de pequeno calibre, resultando em consequências na perfusão tecidual. Existem dois tipos de TEV: trombose venosa profunda (TVP) e trombose venosa superficial. A TVP tem maior importância no que diz respeito aos males súbitos, pois os êmbolos que se originam dos trombos em veias profundas do membro inferior podem causar embolia pulmonar (EP), ao contrário daqueles originados de veias superficiais. FISIOPATOLOGIA E COMPLICAÇÕES A embolia ocorre quando os trombos venosos se desalojam dos locais de formação, para a circulação arterial pulmonar, ou, paradoxalmente, para a circulação arterial por uma comunicação interatrial. A embolia pulmonar ocorre quando o êmbolo obstrui um vaso pulmonar, gerando consequências na microcirculação, na circulação sistêmica e na capacidade de trocas gasosas. Cerca de 50% dos pacientes com trombose de veias pélvicas apresenta EP. É um mal súbito que acomete pacientes de qualquer idade, possivelmente letal, de diagnóstico bastante difícil (os sinais e sintomas podem ser muito gerais) e que exige intervenção terapêutica imediata. FATORES DE RISCO Além dos fatores genéticos, os fatores adquiridos que predispõem TEV são viagens aéreas de longa distância, obesidade, tabagismo, uso de anticoncepcionais orais, gravidez, reposição hormonal pós-menopausa, cirurgia, trauma, câncer, HAS e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Fig. 2.10: A – fluxo sanguíneo normal / B – Trombose em veia profunda / C – Desprendimento do êmbolo. Fig.2.9: Sinais de TEV LATES-UFRJ|2017 34 São passíveis de desenvolver EP: pacientes de grandes cirurgias, acamados a mais de 3 dias, com imobilização de membro inferior, com câncer ativo, tabagismo e obesidade. PREVENÇÃO Deve-se evitar situações em que temos de permanecer sentados durante muitas horas, como em longas viagens de avião (daí a TVP também ser conhecida como “Síndrome da Classe Econômica”). Nestas situações, devemos nos levantar a cada 2h e caminhar por alguns segundos. DIFICULDADE RESPIRATÓRIA A dificuldade respiratória pode resultar de traumatismos ao tórax ou à cabeça, e de doenças como infarto, anafilaxia ou asma. Hiperventilação é a respiração rápida, que pode ser causada por estresse emocional, ansiedade e afecções clínicas. RECONHECIMENTO DA DIFICULDADE RESPIRATÓRIA Respiração anormalmente rápida ou lenta; Respiração anormalmente profunda (ofegante) ou superficial; Respiração ruidosa, incluindo sibilos (observados na asma) ou sons gorgolejantes, sons roucos ou abafados ou roncos; Lábios arroxeados; Necessidade de fazer uma pausa durante a fala para recuperar o fôlego; PRIMEIROS SOCORROS Deve-se ajudar a vítima a encontrar a posição mais confortável, que é geralmente sentada com as costas retas, e procurar atendimento médico. Caso a vítima apresente quadro de hiperventilação (respiração rápida) devido à ansiedade, peça que ela inspire pelo nariz, segure a respiração por alguns segundos e, a seguir, solte lentamente a respiração. ATENÇÃO! Nunca peça a uma vítima com hiperventilação para respirar dentro de um saco. Isso não funciona e pode ser perigoso. CRISE ASMÁTICA A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas inferiores, caracterizada por hiperresponsividade e por limitaçãovariável ao fluxo aéreo, reversível espontaneamente ou com tratamento. Essa doença que surge na infância, sua origem é desconhecida, mas com um componente genético bem demonstrado, sendo, portanto, comum em pessoas de família com grande número de asmáticos (68% de chance). Demonstra-se como resultado de uma interação entre genética, exposição ambiental e outros fatores específicos que levam ao desenvolvimento e à manutenção dos sintomas. Frequentemente, ela coexiste com bronquite ou enfisema, e a combinação de doenças pode causar dano tecidual severo. A asma afeta cerca de 300 milhões de pessoas no mundo, e a frequência dessa doença tem aumentado significativamente nos últimos anos. Há indícios de que a prevalência da asma esteja aumentando em todo o mundo, inclusive no Brasil. Anualmente, ocorrem cerca de 350.000 internações por asma no Brasil, constituindo-se na quarta causa de hospitalização pelo SUS e sendo a terceira causa entre crianças e adultos jovens. A mortalidade por asma ainda é baixa, mas apresenta magnitude LATES-UFRJ|2017 35 crescente em diversos países e regiões, como nos países em desenvolvimento. FISIOPATOLOGIA Pacientes asmáticos sofrem ataques súbitos incontroláveis de constrição brônquica, com estímulo à produção de secreção (espessa), o que leva à obstrução brônquica por tampão mucoso, exacerbando a dificuldade respiratória (o estreitamento das vias aéreas e o acúmulo de muco na luz do brônquio dificultam as trocas gasosas). A inflamação por si só, e também o estímulo à formação de microvasos, leva à formação de edema nas vias aéreas, contribuindo para a obstrução. O processo de inflamação crônica leva a várias alterações estruturais. Há lesão na superfície de contato com o ar, facilitando a exposição aos microrganismos como bactérias e vírus. A inflamação crônica leva à fibrose das vias aéreas, com alteração das vias, resultando em prejuízos para a função pulmonar em longo prazo. A inflamação brônquica constitui o mais importante fator fisiopatogênico da asma, sendo resultante de uma reação de hipersensibilidade do tipo I (mediada por Imunoglobulina E - IgE), em que ocorrem interações complexas entre células inflamatórias das vias aéreas, com liberação de citocinas. Cerca de 70% dos casos de asma se devem à hipersensibilidade imediata mediada por IgE. Nos 30% restantes, a asma pode não estar associada a essa reação de hipersensibilidade, podendo ser desencadeada por estímulos não-imunológicos como drogas, frio e exercício. O processo inflamatório apresenta a seguinte tríade clinico-patológica: Obstrução intermitente e reversível das vias aéreas; Inflamação brônquica crônica com infiltração eosinofílica; Hipertrofia e hiperreatividade das fibras musculares lisas brônquicas frente ao uso de substâncias broncoconstritoras. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Estridor; Sibilo (chiado) à respiração; Tosse seca ou produtiva, com dificuldade de expectoração; Falta de ar; Taquipneia; Sensação de aperto ou dor no peito; Cansaço. A tosse apresenta intensidade variável, ocorrendo particularmente à noite e pela manhã ao despertar. As crianças podem ter predomínio de tosse seca. Os pacientes podem referir dificuldade de encher os pulmões de ar, e apresentar hiperventilação e utilização dos músculos acessórios da respiração. Quando a asma está controlada, o paciente pode ter exame físico normal. PRINCIPAIS FATORES DESENCADEADORES Poeira; Mofo; Pólen; Pelos de animais; Poluição (fumaça de cigarro e carro); Alterações climáticas; Gripes, resfriados, infecções respiratórias; Ingestão de alguns alimentos; Medicamentos (ex.: aspirina, betabloqueadores); Fig.2.11: Constrição brônquica. LATES-UFRJ|2017 36 Estresse emocional. PRIMEIROS SOCORROS Como em muitos casos a pessoa já teve esse quadro antes, provavelmente ela saberá identificar, e até mesmo saberá a necessidade de procura por auxílio médico. Ainda assim, é importante mantê-la calma para que a crise não seja exacerbada, pois estresse físico e emocional também podem ser fatores desencadeadores. A hidratação deve ser mantida normalmente. Caso a vítima possua um inalador para asma (bombinha de aerossol), prescrito por um médico, devemos ajudá-la a usá-lo. Se necessário, a vítima pode usar o inalador novamente dentro de 5 a 10 minutos. Entretanto, se sua condição não melhorar com o tempo ou após o uso do medicamento, ou mesmo piorar, procure atendimento médico imediatamente para o tratamento hospitalar da crise. Enquanto a ajuda médica não chega, observe a evolução do quadro, atentando para a ocorrência de uma possível parada respiratória, no caso de a crise se intensificar e a vítima não melhorar com nenhuma das medidas acima. Ocorrendo uma parada respiratória, iniciar o Suporte Básico de Vida (SBV) e procurar ajuda médica o mais rapidamente possível, não esquecendo de que o quadro pode ainda evoluir também para uma parada cardiorrespiratória. PREVENÇÃO Não há como prevenir a existência da doença, mas sim as suas exacerbações e seus sintomas diários. Segue algumas medidas de prevenção: Evitar qualquer contato com alérgenos que possam desencadear uma crise asmática; Encapar colchões e travesseiro; Lavar semanalmente as roupas de cama; Retirar cortinas, tapetes, carpetes; Evitar contato com animais domésticos e plantas; Arejar os ambientes da casa; Não fumar perto de crianças (a fumaça do cigarro favorece em cinco vezes o desenvolvimento de asma); Evitar exercícios em dias muito frios. A prática de esportes, preferencialmente os de resistência, devem ser estimulados. O esporte por excelência recomendado é a natação, sobretudo se for praticada em atmosfera quente e úmida. No entanto, devem-se evitar os esportes de inverno, pois podem desencadear a asma devido ao esforço e ao frio. Os esportes de esforço esporádico também devem ser evitados. LATES-UFRJ|2017 37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO CIVIL DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM SAÚDE (ACINDES). Doenças Súbitas. In: ______. Primeiros socorros, RCP e DEA Padrão: Primeira edição em português. 1. ed. São Paulo: Editorial Médica A.W.W.E., 2008. cap. 12. p. 102. HARRISON. Medicina Interna. 17. ed. Rio de Janeiro: Mc Graw-Hill Interamericana do Brasil, 2008. LUZ, C. de C.; JUNGER, W. L. e CAVALINI, L. T.. Análise da atenção pré-hospitalar ao acidente vascular cerebral e ao infarto agudo do miocárdio na população idosa de minas gerais. Rev. Assoc. Med. Bras. [online]. 2010, vol.56, n.4, pp. 452-457. ISSN 0104-4230. MELO, E. C. P.; TRAVASSOS, C. M. R.; CARVALHO, M. de Sá. Infarto agudo do miocárdio no Município do Rio de Janeiro: qualidade dos dados, sobrevida e distribuição espacial. Epidemiol. Serv. Saúde [online]. 2007, vol.16, n.2, pp. 121-123. ISSN 1679-4974. ROBBINS & COTRAN. Patologia, Bases Patológicas das Doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. ROSA, T. E. da C. et al. Integralidade da atenção às doenças cardiovasculares e diabetes mellitus: o papel da regionalização do Sistema Único de Saúde no estado de São Paulo. Rev. bras. epidemiol. [online]. 2009, vol.12, n.2, pp. 158-171. ISSN 1415-790X. RUMEL, D.; et al. Infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral associados à alta temperatura e monóxido de carbono em área metropolitana do sudeste do Brasil. Rev. Saúde Pública [online]. 1993, vol.27, n.1, pp. 15-22. ISSN 0034-8910. SANTORO, D. C. Situações de Urgência & Emergência: Manual de Condutas Práticas. Rio de Janeiro: Águia Dourada, 2011. 295 p. <http://www.olharvital.ufrj.br/2006/index.php?id_edica o=128&codigo=9>. Acesso em 03 mai. 2011. <http://www.amrigs.com.br/revista/46-03/III%20Consenso%20Brasileiro%20no%20Manejo %20da%20Asma%20(2002).pdf>. Acesso em 02 mai. 2011. <http://pt.scribd.com/doc/6550198/Epidemiologia-Do- Iam>. Acesso em 03 mai. 2011. <http://www.bancodesaude.com.br/infarto- miocardio/prevencao-infarto-agudo-miocardio>. 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Acesso em 13 fev. 2012. http://www.projetotime.com.br/apostilas/Cap.04.pdf http://stroke.ahajournals.org/content/40/6/2276.full.pdf http://stroke.ahajournals.org/content/40/6/2276.full.pdf LATES-UFRJ|2017 39 INTRODUÇÃO A Consciência é definida como a capacidade do indivíduo de reconhecer a si mesmo e aos estímulos do ambiente. As alterações da consciência podem ocorrer no nível de consciência ou no conteúdo da consciência; ambas juntas englobam as funções mentais e cognitivas do indivíduo. O conteúdo de consciência é o somatório das funções nervosas superiores e cognitivas do indivíduo, como atenção, memória e linguagem. Já o nível de consciência é relacionado com o grau de alerta do indivíduo. As alterações do nível de consciência podem variar entre dois extremos, desde uma desorientação têmporo-espacial até um estado de coma profundo. Coma seria definido como o estado de inconsciência de si mesmo e do ambiente, mesmo após estímulos de diversas modalidades e intensidades, em que o paciente permanece inerte. Estados intermediários de alteração da consciência podem anteceder a instalação do quadro e precisam ser reconhecidos. A sonolência ou letargia é considerada um estado de diminuição do nível de consciência em que o paciente consegue ser acordado com estímulos brandos. O estupor é considerado um estado de sonolência mais profunda em que o indivíduo precisa receber estímulos vigorosos e repetidos para despertar. Entre os estados que levam a alteração do conteúdo da consciência encontra-se o delirium. Caracteriza-se por desorientação, déficit de atenção, sensação de medo, irritabilidade e alterações da percepção de estímulos sensoriais, como as alucinações visuais. As alterações são mais evidentes no conteúdo da consciência, embora os pacientes possam inverter o seu ciclo sono-vigília e alternar períodos de alerta e agitação com períodos de sonolência. A demência é caracterizada como um quadro de perda permanente e progressiva, em geral, evoluindo em meses a anos, das funções cognitivas, sem alteração do estado de alerta ou nível de consciência. Morte encefálica ocorre quando o dano encefálico é tão extenso que não há potencial para recuperação estrutural e funcional do encéfalo e o mesmo não pode manter a homeostase interna (funções cardiovasculares, respiratórias, gastrointestinais e controle da temperatura corpórea). Embora haja métodos artificiais para preservação de órgãos periféricos (medidas de suporte cardiovascular e ventilação mecânica), um corpo em morte encefálica desenvolve falência cardiovascular em alguns dias, raramente em algumas semanas, apesar do mais meticuloso cuidado intensivo. O que separa o estado de coma do diagnóstico de morte encefálica é a irreversibilidade do último, com repercussões sistêmicas sobre a homeostase de órgãos vitais, baseadas em danos permanentes estruturais focais ou difusos no encéfalo. LATES-UFRJ|2017 40 COMA POSSÍVEIS CAUSAS DE COMA Para manutenção da vigília é essencial o funcionamento adequado do Sistema Reticular Ativador Ascendente (SRAA) que coordena as funções superiores do córtex. Logo, quase todos os casos de redução da vigília podem ser correlacionados com anormalidades dos hemisférios cerebrais ou com atividade reduzida do SRAA, seja por lesões que danificam o SRAA ou suas projeções, destruição de extensas áreas dos hemisférios cerebrais e supressão da função reticulo cerebral por fármacos, toxinas ou anormalidades metabólicas. A entrada em um estado comatoso pode ocorrer de duas maneiras distintas. A primeira é lesar apenas a área de ativação cerebral, localizada no tronco. Essa lesão pode ser causada pela presença de um tumor, por hemorragia, por isquemia ou por outras causas menos comuns. A segunda maneira é lesar todo o córtex. Essa lesão extensa só acontece quando há uma isquemia generalizada no cérebro (como ocorre na parada cardíaca), quando há ausência de algum nutriente essencial para o encéfalo ou quando alguma substância nociva ao cérebro está presente no organismo. Estas duas últimas causas são denominadas "causas metabólicas de coma". I. AFECÇÕES PRIMITIVAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E SEUS ENVOLTÓRIOS Acidentes vasculares cerebrais; Traumatismos cranioencefálicos; Infecções do SNC e seus envoltórios (meningite, encefalite); Processos expansivos intracranianos (neoplasias, abscessos); Encefalopatias metabólicas primárias e desmielinizante. II. AFECÇÕES METABÓLICA: Diabetes mellitus e estados hiperosmolares; Endocrinopatias (mixedema, hipopituitarismo); Hipoglicemia; Uremia; Hepatopatias; Hipercalcemia e hipocalcemia; Anormalidades hidro-eletrolíticas e do equilíbrio ácido-base. III. INTOXICAÇÕES EXÓGENAS Álcool Drogas ilicitas IV. INFECÇÕES SISTÊMICAS V. ALTERAÇÕES CARDIOVASCLARES VI. TRAUMATISMOS CRÂNIOENCEFÁLICOS (TCE) Entre homens maiores de 35 anos de idade, em geral, as colisões de veículos motorizados são uma grande causa de mortes. Em mais de 70% dos casos TCE. Fig. 3.1 Pesquisa realizada na UTI do Hospital Souza Aguiar LATES-UFRJ|2017 41 TIPOS DE TCE CONCUSSÃO Ocorre perda imediata (porém transitória) de consciência associada a um curto período de amnésia ou confusão mental. A concussão grave pode desencadear uma crise epiléptica breve ou sinais autônomos como palidez facial, bradicardia, síncope com hipotensão discreta e reação pupilar lenta a luz. CONTUSAO Na contusão, existem graus variáveis de hemorragia, edema e destruição tecidual. Os sinais incluem hemiparesia, coma quando a contusão é bilateral e delirium quando na região temporal FRATURA DE CRÂNIO As fraturas são indicadoras do local e da gravidade da lesão. Configuram-se como porta de entrada para bactérias e como possíveis áreas de extravasamento de líquor. IDENTIFICAÇÃO E MANEJO DO TCE Deve-se desconfiar de TCE quando estão presentes os seguintes sinais e sintomas: deformidade do crânio, sangramento pela orelha ou nariz, fluido rosáceo aguado saindo da orelha ou do nariz (líquido cefalorraquidiano), Sinal do guaxinim (escurecimento da região ao redor dos olhos depois de algumas horas decorridas após o trauma), Sinal de Battle (equimose que escurece a região posterior das orelhas horas após o trauma), pupilas desbalanceadas, sangramento profuso de escalpo se houver ferimento aberto, ferimento perfurante produzido por
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