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Fascículo_7_ 1_Ano_Língua_Portuguesa_[Gêneros textuais - Crônicas]

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Gêneros textuais: 
Crônicas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISDB 
 
GOVERNO de Pernambuco. Secretaria de Educação e Esportes. 
Língua Portuguesa: Gêneros textuais: Crônicas. – Recife: Secretaria de Educação e Esportes, 2020.
17 p.: il. 
1º Ano Ensino Médio. Educa-PE. Fascículo 7. 
1. Literatura. 2. Ensino. 3. Gênero textual. 4. Crônica. I. Título. 
CDU – 869.0:37
 
Elaborado por Hugo Carlos Cavalcanti | CRB-4 2129 
 
Expediente 
 
Governador de Pernambuco 
Paulo Henrique Saraiva Câmara 
Vice-governadora de Pernambuco 
Luciana Barbosa de Oliveira Santos 
Secretário de Educação e Esportes de Pernambuco 
Frederico da Costa Amancio 
 
 
 
 
Autor 
Prof. Italo Batista de Queiroz 
 
Revisão de Língua Portuguesa 
Prof.ª Aline Vieira de Oliveira Couto 
 
Projeto gráfico 
Clayton Quintino de Oliveira 
 
Diagramação 
Hugo Carlos Cavalcanti 
 
 
 
As imagens e ilustrações creditadas foram utilizadas para 
fins exclusivamente educacionais, conforme a Lei 
9.610/98. 
 
 
Introdução ao gênero literário Crônica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Você já leu uma crônica em um jornal ou revista ou ainda em blogs da internet? Alguma 
vez você ouviu crônicas em programas de rádio ou televisão? Ler ou ouvir uma crônica 
é, de forma espontânea, fazê-la sem compromisso, para despertar sensações e emoções 
requintadas e desfrutar de boas risadas, pensar sobre a vida cotidiana, e até quem sabe 
fazer as pazes com certas frustrações da vida moderna. Mas, o que é mesmo uma 
crônica? Seria um relato de experiência? Algum tipo de conto? Ou apenas uma coluna 
produzida em um jornal com um toque de poesia? 
 
 
 
 
 
 
Olá, caro aluno, tudo bem com você? Cá estamos de volta para 
dar continuidade aos estudos sobre os gêneros textuais. Desta 
feita, conheceremos os princípios básicos do gênero literário 
Crônica. Vamos nessa?! 
 
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Venha comigo que juntos iremos descobrir mais sobre 
esse gênero literário tão simples e tão grandioso! 
Fonte: /www.canva.com 
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Para início de conversa, vamos ler um texto publicado por Ivan Ângelo para a Revista 
Veja, em 25 de abril de 2007, que traz explicações bastante decisivas para uma melhor 
compreensão do gênero em questão. Esse texto surgiu da necessidade de distinguir o 
gênero crônica de outros gêneros textuais que logo foram confundidos por seus leitores. 
 
Atente para uma leitura cuidadosa e faça anotações em seu caderno de suas impressões 
sobre o conceito do gênero crônica e suas principais características. Esse exercício de 
reflexão é importante, pois, como diz a educadora Madalena Freire (1996), “O registrar 
de sua reflexão cotidiana significa abrir-se para seu processo de aprendizagem”. 
 
 
Sobre a crônica 
Por Ivan Angelo 
 
Uma leitora se refere aos textos aqui publicados como “reportagens”. Um leitor os 
chama de “artigos”. Um estudante fala deles como “contos”. Há os que dizem: “seus 
comentários”. Outros os chamam de “críticas”. Para alguns, é “sua coluna”. 
 
Estão errados? Tecnicamente, sim – são crônicas –, mas… Fernando Sabino, vacilando 
diante do campo aberto, escreveu que “crônica é tudo que o autor chama de crônica”. 
 
A dificuldade é que a crônica não é um formato, como o soneto, e muitos duvidam que 
seja um gênero literário, como o conto, a poesia lírica ou as meditações à maneira de 
Pascal. Leitores, indiferentes ao nome da rosa, dão à crônica prestígio, permanência e 
 
 
 
 
 
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força. Mas vem cá: é literatura ou é jornalismo? Se o objetivo do autor é fazer literatura 
e ele sabe fazer… 
 
Há crônicas que são dissertações, como em Machado de Assis; outras são poemas em 
prosa, como em Paulo Mendes Campos; outras são pequenos contos, como em Nelson 
Rodrigues; ou casos, como os de Fernando Sabino; outras são evocações, como em 
Drummond e Rubem Braga; ou memórias e reflexões, como em tantos. A crônica tem a 
mobilidade de aparências e de discursos que a poesia tem – e facilidades que a melhor 
poesia não se permite. 
 
Está em toda a imprensa brasileira, de 150 anos para cá. O professor Antonio Candido 
observa: “Até se poderia dizer que sob vários aspectos é um gênero brasileiro, pela 
naturalidade com que se aclimatou aqui e pela originalidade com que aqui se 
desenvolveu”. 
 
Alexandre Eulálio, um sábio, explicou essa origem estrangeira: “É nosso familiar essay, 
possui tradição de primeira ordem, cultivada desde o amanhecer do periodismo 
nacional pelos maiores poetas e prosistas da época”. Veio, pois, de um tipo de texto 
comum na imprensa inglesa do século XIX, afável, pessoal, sem cerimônia e no entanto 
pertinente. 
 
Por que deu certo no Brasil? Mistérios do leitor. Talvez por ser a obra curta e o clima, 
quente. 
 
A crônica é frágil e íntima, uma relação pessoal. Como se fosse escrita para um leitor, 
como se só com ele o narrador pudesse se expor tanto. Conversam sobre o momento, 
cúmplices: nós vimos isto, não é leitor?, vivemos isto, não é?, sentimos isto, não é? O 
narrador da crônica procura sensibilidades irmãs. 
 
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Se é tão antiga e íntima, por que muitos leitores não aprenderam a chamá-la pelo nome? 
É que ela tem muitas máscaras. Recorro a Eça de Queirós, mestre do estilo antigo. Ela 
“não tem a voz grossa da política, nem a voz indolente do poeta, nem a voz doutoral do 
crítico; tem uma pequena voz serena, leve e clara, com que conta aos seus amigos tudo 
o que andou ouvindo, perguntando, esmiuçando”. 
 
A crônica mudou, tudo muda. Como a própria sociedade que ela observa com olhos 
atentos. Não é preciso comparar grandezas, botar Rubem Braga diante de Machado de 
Assis. É mais exato apreciá-la desdobrando-se no tempo, como fez Antonio Candido em 
“A vida ao rés-do-chão”: “Creio que a fórmula moderna, na qual entram um fato miúdo 
e um toque humorístico, com o seu quantum satis de poesia, representa o 
amadurecimento e o encontro mais puro da crônica consigo mesma”. Ainda ele: “Em 
lugar de oferecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos candentes, 
pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade 
insuspeitadas”. 
 
Elementos que não funcionam na crônica: grandiloqüência, sectarismo, enrolação, 
arrogância, prolixidade. Elementos que funcionam: humor, intimidade, lirismo, 
surpresa, estilo, elegância, solidariedade. 
 
Cronista mesmo não “se acha”. As crônicas de Rubem Braga foram vistas pelo sagaz 
professor Davi Arrigucci como “forma complexa e única de uma relação do Eu com o 
mundo”. Muito bem. Mas Rubem Braga não se achava o tal. Respondeu assim a um 
jornalista que lhe havia perguntado o que é crônica: 
 
– Se não é aguda, é crônica. 
 
 
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Origem da Crônica 
 
 
Viu como a crônica é um gênero textual tão flexível e singular que pode se utilizar de 
outras “máscaras”, ou seja, de outras formas textuais típicas de outros gêneros como 
a poesia, o conto, o relato, a memória literária. Contudo, não se confunde com 
nenhum deles, já que este gênero é bastante peculiar, como todos os gêneros do 
discurso. Vamos, então, a mais algumas definições e caracterização deste gênero. 
 
 
 
 
 
 
 
A etimologia da palavra crônica vem do vocábulo “khrónos” (Grego 
- Cronos é o deus grego do tempo) ou “chronos” (latim), que 
significa “tempo”. O sentido desta palavra “tempo” (“chronica”) é 
empregado pelas antigascivilizações romanas devido à função 
comunicativa de fazer registro de acontecimentos históricos 
verídicos, em ordem cronológica. Deste modo, o “tempo” era um gênero que se 
aproxima hoje da notícia, porquanto se limitava apenas aos registros informativos sem, 
contudo, interpretá-los. 
 
No Brasil, por volta do século XIX, a crônica veio nesse formato informativo, com 
publicações direcionadas exclusivamente às mulheres, mas com espaço 
insignificantemente na parte inferior da página de um jornal. A crônica começa a se 
moldar para um formato mais literário conforme as contribuições de grandes escritores 
da época, como Machado de Assis e José de Alencar, que mesclavam suas produções 
com temas do cotidiano de suas gerações ora mais jornalísticas ora mais literárias. 
 
 
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Pertencente ao texto literário, a crônica se constrói em torno da linguagem conotativa 
(figurada), da subjetividade da realidade, da função poética e do uso de figuras de 
linguagem. 
 
 
Entretanto, o que este gênero se distingue dos demais 
gêneros categorizados como literários? 
 
 
 
É que a crônica parece ser o gênero que mais nos aproxima do dia a dia, ao trazer uma 
narrativa com linguagem simples e leve, de forma despretensiosa, partilhando de um 
olhar observador e sutil ao fazer um recorte de um acontecimento para ampliar, como 
uma espécie de lupa, nossa visão daquilo que nos parece ser banal ou vulgar. Assim, a 
crônica nasce e se alimenta dos acontecimentos corriqueiros da vida. 
 
 
Observe esta definição feita pelo escritor e crítico literário brasileiro Davi Arrigucci 
Júnior (1987, p.55): 
 
 
“às vezes a prosa da crônica se torna lírica, como se estivesse tomada 
pela subjetividade de um poeta do instantâneo que, mesmo sem 
abandonar o ar de conversa fiada, fosse capaz de tirar o difícil do 
simples, fazendo palavras banais alçarem vôo”. 
 
 
Que definição precisa sobre o gênero crônica! De fato, a linguagem da crônica é tomada 
por um tom lírico, que emite a singularidade observada pelo narrador, como se fosse 
 
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uma conversa com o leitor, que amplia seus horizontes para enxergar dos eventos 
simples e vulgares o mais sutil detalhe que encanta e emociona. 
 
A Crônica literária busca introduzir alguma tensão junto a um 
desfecho inesperado ao destacar algum evento ou aspecto do 
cotidiano, com o objetivo de provocar a reflexão e de despertar 
sentimentos no leitor. Normalmente, os assuntos cotidianos 
abordam situações como uma viagem, a (re)ação de alguém, uma 
pessoa ou detalhe observados em um local peculiar: no ônibus, na 
rua, na praça, na escola, na padaria, no cemitério, dentre outros. Em 
outros casos, os acontecimentos corriqueiros versam uma narrativa 
singular de mazelas sociais de uma determinada localidade. 
 
Não é uma narrativa que busca moralizar, ou seja, ensinar maneiras de certo e de 
errado. Não anseia instruir sobre comportamentos ou como as pessoas devem viver. Ao 
invés disso, a crônica expõe o acontecimento para propor uma análise de 
comportamentos e de estilos de vida. 
 
Na produção da crônica, é preciso apresentar um 
acontecimento corriqueiro sob uma perspectiva 
particular, recorrendo à linguagem literária e à 
ficcionalidade (verossimilhança, semelhante ao 
que é verdadeiro) da ação do episódio narrado e 
observado pelo autor. Em outros termos, é preciso 
muito mais que relatar um acontecimento, pois o 
autor além de descrever um episódio insere em seu 
texto recursos linguísticos como figuras de linguagem para tornar aquilo que é 
meramente corriqueiro em algo encantador, visto com bastante subjetividade e 
singularidade pelo observador. Em meio a tantos acontecimentos corriqueiros, o 
 
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Fonte: Clipmart.com 
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cronista fixa, por meio de um ajuste em sua lente de observação, aquele evento que 
atrai sua atenção e que pode ser repartido com o leitor, visando acender nele distintas 
sensações e emoções, bem como conduzi-lo à reflexão da vida. Por isso, a importância 
de se trabalhar o gênero crônica em sala de aula é desenvolver a competência crítica do 
aluno com relação ao aprimoramento do seu olhar para a análise dos mais diversos 
episódios vivenciados em seu dia a dia. 
 
 
 
 
 
 
Os textos caracterizados como relatos possuem a tipologia narrativa e descritiva, assim 
como o gênero crônica. São relatos de cenas vividas ou observadas, mas não se 
configuram como crônicas literárias. Já que, em um relato, o narrador apenas organiza 
o tempo e o espaço da ação que observou ou viveu. Ao passo que, a crônica literária 
constroi uma narrativa ao introduzir um conflito e um desfecho. Assim, o enredo se 
apresenta com um olhar bastante singular do autor e busca encaminhar o leitor para 
alguma surpresa. 
 
Quanto à distinção entre a crônica e uma notícia 
jornalística, aquela possui caráter literário, em 
contrapartida a notícia apenas predispõe de um texto 
objetivo que visa informar algum acontecimento. A crônica 
tem a possibilidade de fazer uma releitura pessoal e 
singular de um evento, com a utilização de linguagem 
coloquial, marcas linguísticas de variações regionais, com 
um tom lírico, satírico, humorístico ou crítico. A crônica é um gênero literário porque 
possui uma característica típica das obras literárias: a tentativa de entender o mundo, 
 
Agora, observe algumas distinções entre o gênero crônica, o relato e a notícia 
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Aspectos do gênero literário Crônica 
 
de recortar um episódio vivido a fim de refletir e compreender os acontecimentos, as 
ações, as emoções, os costumes, as crenças. 
 
 
 
 
 
 
 
O cronista ao fazer um recorte de episódio singular, único e especial 
(visto que desvenda muito sobre a vida), utiliza-se da narração em 
primeira ou em terceira pessoa. Assim, é o tipo de narrador quem 
determinará o tempo verbal para a 
construção do enredo. Se o cronista vive o 
evento narrado, a crônica se fará com um 
narrador-personagem, e, portanto, com uso de verbos flexibilizados na 1ª pessoa do 
singular. Caso o cronista seja um observador perspicaz que acompanha de fora da 
história um evento recortado, como um flash fotográfico que captura apenas um 
detalhe de um imenso cenário, a produção literária será traçada por um narrador-
observador. 
 
A narrativa acontece de forma descontraída, com uso de linguagem 
simples, como uma conversa fiada para aproximar ao máximo o 
cronista do leitor, de forma que este desperte emoções e sensações 
distintas frente aos acontecimentos vistos pelo cronista com um 
olhar bastante singular. Desta maneira, há uma reconstrução do 
evento recortado pelo cronista e narrado com marcas linguísticas de 
tempo (predominantemente no passado) e lugar (uma esquina, um 
bar, um cinema, uma feira livre, uma praça, um quarto). 
 
 
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Quanto ao aspecto descritivo, o narrador mostra-se com o olhar atento para o detalhe, 
para os pormenores da vida. Assim, na descrição dos cenários, o narrador nos conduz 
pela narração e/ou descrição como se estivesse utilizando uma “lente de observação” e 
nos fazendo perceber em seu “olhar” a apresentação de uma suposição ou 
interpretação particular para um fato. Deste modo, o observador transforma aquilo que 
parece ser vulgar em um recorte de acontecimento único e revelador. 
 
A descrição é fundamental para a produção de uma crônica, pois é nela que 
acompanhamos os movimentos do observador como se estivéssemos ao seu ladoou 
como se víssemos com seus próprios olhos. Assim, a construção do olhar leva ao leitor 
o sentimento de que o observador captura tudo que está a sua volta. 
 
 
 
 
 
 
O tom é semelhante aos softwares de fotos, que é capaz de produzir os efeitos de fotos 
antigas, de montagens, com pouca ou muita luz, de cores mais embranquecidas ou mais 
amareladas. A manipulação das fotos, assim como a construção de tons no texto, 
provém do efeito que se quer produzir no leitor. Um efeito de sentido que lhe cause 
admiração, um sorriso, uma reflexão, uma compaixão por algo ou por alguém, uma 
sensação de suspense e euforia, uma aspiração de pertencimento e de valor do lugar 
em que vive, etc.. 
 
O público-alvo e a situação de comunicação determinam a escolha e construção de um 
ou outro tom a seu texto, de acordo com os efeitos que pretendem produzir nesse leitor. 
Deste modo, o texto se constrói pela escolha das palavras, ora com um tom crítico ora 
com um tom humorístico. Ainda, podem surgir efeitos de sentido como o irônico ou 
Para finalizar, veremos sobre a caracterização do tom do texto: 
 
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lírico, ou até mesmo a construção de efeito de sentido com um tom saudosista. Desta 
maneira, a construção dos efeitos de humor e do tom lírico devem considerar o contexto 
em que esta produção literária irá circular, com a adequação precisa do tom, de modo 
a provocar no leitor sensações e reflexões. 
 
Iaí?! Gostou de estudar sobre este gênero literário? É realmente único, não 
é mesmo?! Já que a crônica nos faz sentir e refletir de forma encantadora 
coisas que nos são tão corriqueiras. Como você é uma pessoa que gosta de 
um desafio, irei propor a você a seguinte atividade: Leia a crônica a seguir e 
depois responda às questões que se segue. 
 
 
 
 
A última crônica 
Fernando Sabino 
 
A caminho de casa, entro num botequim da 
Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na 
realidade estou adiando o momento de 
escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria 
de estar inspirado, de coroar com êxito mais 
um ano nesta busca do pitoresco ou do 
irrisório no cotidiano de cada um. Eu 
pretendia apenas recolher da vida diária algo 
de seu disperso conteúdo humano, fruto da 
convivência, que a faz mais digna de ser 
vivida. 
 
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Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num 
flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, 
torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. 
 
Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta 
se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e 
estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos 
que merecem uma crônica. 
 
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas 
de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção 
de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três 
anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à 
mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade 
ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional 
da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar 
a fome. 
 
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do 
bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um 
pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente 
ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido 
do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, 
a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha 
a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, 
larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia 
triangular. 
A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o 
garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e 
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filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico 
preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e 
espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os 
observa além de mim. 
 
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do 
bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a 
um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, 
apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, 
cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “Parabéns pra você, 
parabéns pra você...”. 
 
Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente 
o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela 
com ternura – ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao 
colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente 
do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se 
encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba 
sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso. 
 
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso. 
 
 
 
O que achou da crônica? 
 
▶ Você já viveu uma situação como a descrita na crônica? Ou conhece outra pessoa 
que vivenciou algo parecido? 
 
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ANGELO, Ivan. Sobre a crônica. Revista Veja São Paulo [on-line]. 2005. Disponível em: 
<https://vejasp.abril.com.br/cidades/sobre-cronica>. Acesso em 24 jun. 2020. 
 
ARRIGUCCI JUNIOR, David. Fragmentos sobre a Crônica. In: _____. Enigma e comentário: 
ensaios sobre Literatura e Experiência. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p.51-66. 
 
FREIRE, Madalena. Observação, registro e reflexão: instrumentos metodológicos 1. São 
Paulo: Espaço Pedagógico, 1996. 
 
SABINO, Fernando. A última crônica. In: Para gostar de ler: Crônicas. Volume 5. São Paulo: 
Ática, 2003. 
 
 
 
 
▶ Alguma vez já comemorou um aniversário de forma diferente do tradicional bolo 
com velinhas? Como foi? 
▶ Há algo que ficou difícil de entender? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Esse desafio você não pode deixar de realizar. Leia novamente o texto e 
escolha um parágrafo em que o cronista conseguiu mexer com a sua 
emoção para apresentar aos seus familiares. Até a próxima! 
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te
: 
C
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t.
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Fo
n
te: C
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https://vejasp.abril.com.br/cidades/sobre-cronica
 
 
a) Foco narrativo: 
 b) Cenário: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
01 – Qual é o título do texto? Quem é o autor? 
 
02 – Qual era a finalidade do autor ao entrar no botequim? 
 
03 – De acordo com o texto, identifique: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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c) Personagens principais: 
 d) Tempo
: 
 
04 – Qual a profissão do narrador? Retire do texto que justifique a resposta. 
 
05 – O narrador conta que entrou no botequim para tomar um café; mas 
qual era o real motivo? 
 
qual era o real motivo? 
sobre o gênero CRÔNICA, responda as perguntas abaixo: 
Fo
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te: C
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te: C
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C
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mQUESTÃO 01 | “A última crônica”. Fernando Sabino. 
 
QUESTÃO 02| Tomar um café e recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, 
fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. 
 
QUESTÃO 03 | a) Foco narrativo: 1ª pessoa; narrador-personagem. b) Cenário: Um botequim 
na Gávea. c) Personagens principais: Narrador; família (pai, mãe e filha). d) 
Tempo: A duração é o tempo do narrador tomar um café. 
 
QUESTÃO 04 | ESCRITOR. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me 
assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta 
busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. 
 
QUESTÃO 05 | Ele estava sem ideia para escrever uma crônica, adiava o momento. 
 
 
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