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PROJETO PEDAGÓGICO DE LEITURA – 2012 Merece uma crônica Macaé 2012 SUBSECRETARIA DE ENSINO FUNDAMENTAL COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENSINO FUNDAMENTAL COORDENAÇÃO DE ÁREA – 6º AO 9º - LÍNGUA PORTUGUESA 2 Sumário 1. Introdução ............................................................................................................. 3 2. Crônica .................................................................................................................. 4 2.1 História das crônicas ............................................................................................. 4 2.2 Um olhar atento sobre o cotidiano ....................................................................... 4 2.3 Os muitos tons da crônica no Brasil ....................................................................... 5 2.4 De gênero jornalístico a gênero literário ............................................................... 5 3. Sugestões de atividades: 6º e 7º anos ................................................................... 6 Sugestão 1 .............................................................................................................. 7 Sugestão 2 ............................................................................................................. 16 Sugestão 3 ............................................................................................................. 22 Sugestão 4 ............................................................................................................. 27 4. Sugestões de atividades: 8º e 9º anos .................................................................... 36 Sugestão 1 .............................................................................................................. 37 Sugestão 2 ............................................................................................................. 51 Sugestão 3 ............................................................................................................. 55 Sugestão 4 ............................................................................................................. 63 5. Crônicas: 6º ano .................................................................................................... 72 Crônicas: 7º ano ..................................................................................................... 88 Crônicas: 8º ano ..................................................................................................... 105 Crônicas: 9º ano .................................................................................................... 123 6. Biografias ............................................................................................................. 141 7. Referências bibliográficas ..................................................................................... 164 3 1. INTRODUÇÃO O Projeto Pedagógico de Leitura - 2012, implantado já no 1º bimestre pelas escolas municipais de 6º ao 9º ano, teve como tema inicial o tempo. O gênero trabalhado na ocasião foi o poético. Dando continuidade ao trabalho já iniciado por professores e responsáveis pelas salas de leitura, o projeto, neste segundo bimestre, versará sobre o tema “merece uma crônica”. Em um primeiro momento, apresentaremos algumas concepções importantes para a compreensão do gênero, um pouco da sua historicidade e características básicas. O tema “merece uma crônica” remete a um olhar diferenciado para a realidade que nos cerca, permitindo que possamos visualizar com certa literariedade o que se passa em nosso cotidiano. Além disso, nos coloca na posição de observadores daquilo que tantas vezes passa despercebido aos nossos olhos. Nesta segunda parte do projeto apresentamos uma coletânea de sugestões de atividades que o professor ou responsável pela sala de leitura pode utilizar em suas aulas. Também oferecemos uma série de crônicas, dividas por ano de escolaridade e por época de publicação. Quanto à época de publicação, sabemos que toda crônica é um retrato literário de sua época. Daí escolhermos autores e tempos distintos: Machado de Assis (1850 a 1920), Rubem Braga (1920-1950), Paulo Mendes Campos (anos 50), Stanislaw Ponte Preta (anos 60), Fernando Sabino (anos 70), João Ubaldo Ribeiro (anos 80), Luis Fernando Veríssimo (anos 90) e Martha Medeiros (anos 2000). A escolha deve-se ao legado que cada autor deixou ao representar a sua época. As sugestões de atividades abordam uma série de outros autores tão importantes quanto os citados acima. Contamos com a participação de todos para a continuação do Projeto Pedagógico de Leitura que tem por objetivo auxiliar na criação do hábito de leitura e na inserção da literatura no cotidiano de todos os alunos. Boa leitura! 4 2. Crônica1 Crônica é um gênero de texto tão flexível que pode usar a “máscara” de outros gêneros, como o conto, a dissertação, a memória, o ensaio ou a poesia, sem se confundir com nenhum deles. É leve, despretensiosa como uma conversa entre velhos amigos, e tem a capacidade de, por vezes, nos fazer enxergar coisas belas e grandiosas em pequenos detalhes do cotidiano que costumam passar despercebidos. 2.1 História das crônicas A palavra “crônica”, em sua origem, está associada ao vocábulo “khrónos” (grego) ou “chronos” (latim), que significa “tempo”. Para os antigos romanos a palavra “chronica” designava o gênero que fazia o registro de acontecimentos históricos, verídicos, na ordem em que acontecia, sem pretender se aprofundar neles ou interpretá-los. Com esse sentido ela foi usada nos países europeus. A crônica contemporânea brasileira, também voltada para o registro jornalístico do cotidiano, surgiu por volta do século XIX, com a expansão dos jornais no país. Nessa época, importantes escritores, como José de Alencar e Machado de Assis, começaram a usar as crônicas para registrar de modo ora mais literário, ora mais jornalístico, os fatos corriqueiros de seu tempo. É interessante observar que as primeiras crônicas brasileiras são dirigidas às mulheres e publicadas como folhetins, em geral na parte inferior da página de um jornal. 2.2 Um olhar atento sobre o cotidiano A crônica é um gênero que ocupa o espaço do entretenimento, da reflexão mais leve. É colocada como uma pausa para o leitor, fatigado de textos mais densos. Nas revistas, por exemplo, em geral é estampada na última página. Ao escrever, os cronistas buscam emocionar e envolver seus leitores, convidando-os a refletir, de modo sutil, sobre situações do cotidiano, vistas por meio de olhares irônicos, sérios ou poéticos, mas sempre agudos e atentos. 1 Abordagens teóricas adaptadas do material da Olimpíada de Língua Portuguesa 2010. 5 2.3 Os muitos tons da crônica no Brasil A crônica é um gênero que retrata os acontecimentos da vida em tom despretensioso, ora poético, ora filosófico, muitas vezes divertido. Nossas crônicas são bastante diferentes daquelas que circulam em jornais de outros países. Lá estão relatos objetivos e sintéticos, comentários sobre pequenos acontecimentos, e não costumam expressar sentimentos pessoais do autor. Os cronistas brasileiros exprimem vivências e sentimentos próprios do universo cultural do país. No Brasil, há vários modos de escrevê-las. Se usa o tom da poesia, o autor produz uma prosa poética, como algumas crônicas escritas por Paulo Mendes Campos. Mas elas podem ser escritas de uma forma mais próxima ao ensaio, como as de Lima Barreto; ou ser narrativas, como as de Fernando Sabino. As crônicas podem ser engraçadas, puxando a reflexão do leitor pelo jeito humorístico, ou ter um tom sério. Outras podem ser próximas de comentários, como as crônicas esportivasou políticas. 2.4 De gênero jornalístico a gênero literário Nem todas as crônicas resistem ao tempo. Publicadas em jornais e revistas, são lidas apenas uma vez e, em geral, esquecidas pelo leitor. A crônica literária, no entanto, tem longa duração e é sempre apreciada pelo estilo de quem a escreve e pelo tema abordado. A produção de crônicas literárias é muitas vezes tarefa “encomendada” a escritores já reconhecidos pela publicação de outras obras, como contos e romances. São esses autores que, usando recursos literários e estilo pessoal, fazem seus textos perdurarem e serem apreciados apesar da passagem do tempo. Para conseguir esse efeito, os escritores não destacam o fato em si, mas a interpretação que fazem deles, dando-lhes características de “retrato” de situações humanas atemporais. Os temas geralmente são ligados a questões éticas, de relacionamento humano, de relações entre grupos econômicos, sociais e políticos. Em geral, na crônica a narração capta um momento, um flagrante do dia a dia; o desfecho, embora possa ser conclusivo, nem sempre representa a resolução do conflito, e a imaginação do leitor é estimulada a tirar suas próprias conclusões. Os fatos cotidianos e as personagens descritas podem ser fictícias ou reais, embora nunca se espere da crônica a objetividade de uma notícia de jornal, de uma reportagem ou de um ensaio. 6 3. Sugestões de Atividades : 6º e 7º anos 7 Sugestão 12 Dados da Aula O que o aluno poderá aprender com esta aula Comparar a retratação do cotidiano em crônicas e fotografias. Identificar e analisar elementos que caracterizam o ofício do cronista. Selecionar uma fotografia para complementar o sentido de uma crônica produzida por algum escritor pertencente ao jornalismo e/ ou à literatura brasileira. Produzir uma narrativa informativa ou literária a partir de uma fotografia. Duração das atividades 2 a 3 aulas de 50 minutos. Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno Desde a consagração e definição da crônica como gênero textual, ela esteve associada ao radical grego “cronos”, que demarca a abordagem temática do gênero atrelada ao tempo, ao transcorrer do cotidiano. Por ser difundida, muitas vezes, em jornais impressos - e aproximar- se de outros gêneros que circulam nesse contexto, tais como a notícia, a reportagem e o artigo de opinião - a crônica está, de certa forma, agregada aos relatos factuais. No entanto, ao longo do século XX, esse suporte textual adquiriu outras nuances que apontam para registros entre o relato e a ficção, entre o literário e o informativo. Na contemporaneidade, tal como a fotografia, a crônica se estabelece, não como registro totalitário ou enquadramento objetivo da cena, mas como um recorte instantâneo, criativo, reflexivo, artístico, do cotidiano. Para início da discussão acerca do gênero, o professor pode apresentar, em slides em data show, algumas notícias ou crônicas ilustradas que dialogam texto verbal e não verbal. Além disso, é válido abordar os elementos distintivos entre a crônica e os outros gêneros jornalísticos. Estratégias e recursos da aula Etapa 1 – Paisagem crônica O objetivo desta atividade é apresentar e identificar o ofício de um cronista, a especificidade do seu trabalho e a concepção sobre o gênero crônica. 2 Sugestão adaptada do site http://portaldoprofessor.mec.gov.br/. 8 O CRONISTA É UM ESCRITOR CRÔNICO Affonso Romano de Sant”Anna O primeiro texto que publiquei em jornal foi uma crônica. Devia ter eu lá uns 16 ou 17 anos. E aí fui tomando gosto. Dos jornais de Juiz de Fora, passei para os jornais e revistas de Belo Horizonte e depois para a imprensa do Rio e São Paulo. Fiz de tudo (ou quase tudo) em jornal: de repórter policial a crítico literário. Mas foi somente quando me chamaram para substituir Drummond no Jornal do Brasil, em 1984, que passei a fazer crônica sistematicamente. Virei um escritor crônico. O que é um cronista? Luís Fernando Veríssimo diz que o cronista é como uma galinha, bota seu ovo regularmente. Carlos Eduardo Novaes diz que crônicas são como laranjas, podem ser doces ou azedas e ser consumidas em gomos ou pedaços, na poltrona de casa ou espremidas na sala de aula. Já andei dizendo que o cronista é um estilita. Não confundam, por enquanto, com estilista. Estilita era o santo que ficava anos e anos em cima de uma coluna, no deserto, meditando e pregando. São Simeão passou trinta anos assim, exposto ao sol e à chuva. Claro que de tanto purificar seu estilo diariamente o cronista estilita acaba virando um estilista. O cronista é isso: fica pregando lá em cima de sua coluna no jornal. Por isto, há uma certa confusão entre colunista e cronista, assim como há outra confusão entre articulista e cronista. O articulista escreve textos expositivos e defende temas e ideias. O cronista é o mais livre dos redatores de um jornal. Ele pode ser subjetivo. Pode (e deve) falar na primeira pessoa sem envergonhar-se. Seu "eu", como o do poeta, é um eu de utilidade pública. Que tipo de crônica escrevo? De vários tipos. Conto casos, faço descrições, anoto momentos líricos, faço críticas sociais. Uma das funções da crônica é interferir no cotidiano. Claro que essas que interferem mais cruamente em assuntos momentosos tendem a perder sua atualidade quando publicadas em livro. Não tem importância. O cronista é crônico, ligado ao tempo, deve estar encharcado, doente de seu tempo e ao mesmo tempo pairar acima dele. 12/6/88 Texto extraído do jornal "O Globo" - Rio de Janeiro. 9 Para atividade a seguir, os alunos acessarão no Youtube uma adaptação do texto “A última crônica”, de Fernando Sabino. É importante que eles identifiquem no curta-metragem qual o aspecto distintivo entre a profissão de um cronista em relação a de um articulista, colunista (conforme foi apontado por Affonso Romano Sant”Anna no texto anterior) ou jornalista responsável por relatar uma notícia ou reportagem. http://www.youtube.com/watch?v=FgH8XuTv3ZM Etapa 2 – Crônica: fotografia íntima/ paisagem poética Esta etapa contemplará uma das facetas da crônica que é o relato subjetivo, descompromissado com o factual e que se apresenta quase como uma fotografia íntima de um sujeito ou espaço. http://www.youtube.com/watch?v=FgH8XuTv3ZM 10 Texto-1 NO AEROPORTO Carlos Drummond de Andrade Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos três horas o seu quadrimotor. Durante esse tempo, não faltou assunto para nos entretermos, embora não falássemos da vã e numerosa matéria atual. Sempre tivemos muito assunto, e não deixamos de explorá-lo a fundo. Embora Pedro seja extremamente parco de palavras, e, a bem dizer, não se digne de pronunciar nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões pelos quais se faz entender admiravelmente. É o seu sistema. Passou dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede ameno. Sorria para os moradores, com ou sem motivo plausível. Era a sua arma, não direi secreta, porque ostensiva. A vista da pessoa humana lhe dá prazer. Seu sorriso foi logo considerado sorriso especial, revelador de suas boas intenções para com o mundo ocidental e oriental, e em particular o nosso trecho de rua. Fornecedores, vizinhos e desconhecidos, gratificados com esse sorriso (encantador, apesar da falta de dentes), abonam a classificação. Devo dizer que Pedro, como visitante, nos deu trabalho; tinha horários especiais, comidas especiais, roupas especiais, sabonetes especiais, criados especiais. Mas sua simples presença e seu sorriso compensariam providências e privilégios maiores. Recebia tudo com naturalidade, sabendo-se merecedor das distinções, e ninguém selembraria de achá- lo egoísta ou importuno. Suas horas de sono - e lhe apraz dormir não só à noite como principalmente de dia - eram respeitadas como ritos sagrados, a ponto de não ousarmos erguer a voz para não acordá-lo. Acordaria sorrindo, como de costume, e não se zangaria com a gente, porém nós mesmos é que não nos perdoaríamos o corte de seus sonhos. Assim, por conta de Pedro, deixamos de ouvir muito concerto para violino e orquestra, de Bach, mas também nossos olhos e ouvidos se forraram à tortura da tevê. Andando na ponta dos pés, ou descalços, levamos tropeções no escuro, mas sendo por amor de Pedro não tinha importância. Objetos que visse em nossa mão, requisitava-os. Gosta de óculos alheios (e não os usa), relógios de pulso, copos, xícaras e vidros em geral, artigos de escritório, botões simples ou de punho. Não é colecionador; gosta das coisas para pegá-las, mirá-las e (é seu costume ou sua mania, que se há de fazer) pô-las na boca. Quem não o conhecer dirá que é péssimo costume, porém duvido que mantenha este juízo diante de Pedro, de seu sorriso sem malícia e de suas pupilas azuis — porque me esquecia de dizer que tem olhos azuis, cor que afasta qualquer suspeita ou acusação apressada, sobre a razão íntima de seus atos. Poderia acusá-lo de incontinência, porque não sabia distinguir entre os cômodos, e o que lhe ocorria fazer, fazia em qualquer parte? Zangar-me com ele porque destruiu a lâmpada do escritório? Não. Jamais me voltei para Pedro que ele não me sorrisse; tivesse eu um impulso de irritação, e me sentiria desarmado com a sua azul maneira de olhar-me. Eu sabia que essas coisas eram indiferentes à nossa amizade — e, até, que a nossa amizade lhe conferia caráter necessário de prova; ou gratuito, de poesia e jogo. Viajou meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído. De repente o aeroporto ficou vazio. ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. Reprod. Em: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. p.1107-1108 11 Texto-2 A RUA João do Rio Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia o amor, o ódio, o egoísmo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia. Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua. (...) A verdade e o trocadilho! Os dicionários dizem: "Rua, do latim ruga, sulco. Espaço entre as casas e as povoações por onde se anda e passeia." E Domingos Vieira, citando as Ordenações: "Estradas e rua pruvicas antigamente usadas e os rios navegantes se som cabedaes que correm continuamente e de todo o tempo pero que o uso assy das estradas e ruas pruvicas." A obscuridade da gramática e da lei! Os dicionários só são considerados fontes fáceis de completo saber pelos que nunca os folhearam. Abri o primeiro, abri o segundo, abri dez, vinte enciclopédias, manuseei in-folios especiais de curiosidade. A rua era para eles apenas um alinhado de fachadas, por onde se anda nas povoações... Ora, a rua é mais do que isso, a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma! Em Benarès ou em Amsterdã, em Londres ou em Buenos Aires, sob os céus mais diversos, nos mais variados climas, a rua é a agasalhadora da miséria. Os desgraçados não se sentem de todo sem o auxílio dos deuses enquanto diante dos seus olhos uma rua abre para outra rua. A rua é o aplauso dos medíocres, dos infelizes, dos miseráveis da arte. Não paga ao Tamagno para ouvir berros atenorados de leão avaro, nem à velha Patti para admitir um fio de voz velho, fraco e legendário. Bate, em compensação, palmas aos saltimbancos que, sem voz, rouquejam com fome para alegrá-la e para comer. A rua é generosa. O crime, o delírio, a miséria não os denuncia ela. A rua é a transformadora das línguas. Os Cândido de Figueiredo do universo estafam-se em juntar regrinhas para enclausurar expressões; os prosadores bradam contra os Cândido. A rua continua, matando substantivos, transformando a significação dos termos, impondo aos dicionários as palavras que inventa, criando o calão que é o patrimônio clássico dos léxicos futuros. A rua resume para o animal civilizado todo o conforto humano. Dá-Ihe luz, luxo, bem-estar, comodidade e até impressões selvagens no adejar das árvores e no trinar dos pássaros. A rua nasce, como o homem, do soluço, do espasmo. Há suor humano na argamassa do seu calçamento. Cada casa que se ergue é feita do esforço exaustivo de muitos seres, e haveis de ter visto pedreiros e canteiros, ao erguer as pedras para as frontarias, cantarem, cobertos de suor, uma melopéia tão triste que pelo ar parece um arquejante soluço. A rua sente nos nervos essa miséria da criação, e por isso é a mais igualitária, a mais socialista, a mais niveladora das obras humanas. A rua criou todas as blagues e todos os lugares-comuns. Foi ela que fez a majestade dos rifões, dos brocardos, dos anexins, e foi também ela que batizou o imortal Calino. Sem o consentimento da rua não passam os sábios, e os charlatães, que a lisonjeiam e lhe resumem a banalidade, são da primeira ocasião desfeitos e soprados como bolas de sabão. A rua é a eterna imagem da ingenuidade. Comete crimes, desvaria à noite, treme com a febre dos delírios, para ela como para as crianças a aurora é sempre formosa, para ela não há o despertar triste, e quando o sol desponta e ela abre os olhos esquecida das próprias ações, é, no encanto da vida renovada, no chilrear do passaredo, no embalo nostálgico dos pregões - tão modesta, tão lavada, tão risonha, que parece papaguear com o céu e com os anjos... A rua faz as celebridades e as revoltas, a rua criou um tipo universal, tipo que vive em cada aspecto urbano, em cada detalhe, em cada praça, tipo diabólico que tem dos gnomos e dos silfos das florestas, tipo proteiforme, feito de risos e de lágrimas, de patifarias e de crimes irresponsáveis, de abandono e de 12 inédita filosofia, tipo esquisito e ambíguo com saltos de felino e risos de navalha, o prodígio de uma criança mais sabida e cética que os velhos de setenta invernos, mas cuja ingenuidade é perpétua, voz que dá o apelido fatal aos potentados e nunca teve preocupações, criatura que pede como se fosse natural pedir, aclama sem interesse, e pode rir, francamente, depois de ter conhecido todos os males da cidade, poeira d’oiro que se faz lama e torna a ser poeira - a rua criou o garoto! Essas qualidades nós as conhecemos vagamente. Para compreender a psicologia da rua não basta gozar- lhe as delícias como se goza o calor do sol e o lirismo do luar. É preciso ter espírito vagabundo, cheio de curiosidades malsãs e os nervos com um perpétuo desejo incompreensível; é preciso ser aquele que chamamos flâneur e praticar o mais interessante dos esportes - a arte de flanar: É fatigante o exercício? Para os iniciados sempre foi grande regalo. A musa de Horácio, a pé, não fez outra coisa nos quarteirões de Roma. Sterne e Hoffmann proclamavam-lhe a profunda virtude, e Balzac fez todos os seus preciosos achados flanando. Flanar! Aí está um verbo universal sem entrada nos dicionários, que não pertence a nenhuma língua! Que significa flanar? Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem. Flanar é ir por aí, de manhã, de dia, à noite, meter-se nas rodas da populaça, admirar o menino da gaitinha alià esquina, seguir com os garotos o lutador do Cassino vestido de turco, gozar nas praças os ajuntamentos defronte das lanternas mágicas, conversar com os cantores de modinha das alfurjas da Saúde, depois de ter ouvido dilettanti, de casaca aplaudirem o maior tenor do Lírico numa ópera velha e má; é ver os bonecos pintados a giz nos muros das casas, após ter acompanhado um pintor afamado até a sua grande tela paga pelo Estado; é estar sem fazer nada e achar absolutamente necessário ir até um sítio lôbrego, para deixar de lá ir, levado pela primeira impressão, por um dito que faz sorrir, um perfil que interessa, um par jovem cujo riso de amor causa inveja... [...] (A alma encantadora das ruas, 1908) Disponível em < http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/a/a_alma_encantadora_das_ruas> Acesso em 20 de abril de 2012. http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/a/a_alma_encantadora_das_ruas 13 Para a atividade com os dois textos, o professor pode sugerir que os alunos comparem as duas concepções dos objetos “fotografados” pelas lentes de Drummond e João do Rio. A sala será divida em grupos para a análise dos textos. No entanto, todos lerão as duas crônicas. Um grupo de alunos construirá uma tabela que contenha os aspectos de caracterização do personagem (adjetivos escolhidos, descrições, repetições, marcadores subjetivos) do texto 1. Os mesmos atributos serão empregados para a personificação da rua no texto 2. Pode ser sugerido que os alunos consultem dicionários virtuais para tirar dúvidas do significado de alguns vocábulos e alguns nomes de escritores e personalidades citadas podem ser pesquisados no Google. No final, podem ser comparadas as duas acepções e explicitados quais aspectos da dimensão subjetiva da crônica são abordados nos dois textos. Etapa 3 – Biografando imagens Nesta etapa, o professor enviará as imagens a seguir para os alunos e solicitará que cada um selecione a fotografia desejada, observe detalhes da imagem e, antes de escrever uma crônica sobre a cena escolhida, faça um arquivo rascunho que contenha os direcionamentos: a) A crônica será de abordagem: () informativa, () literária ou () híbrida. b) É necessário o uso de um narrador ou interventor reflexivo (escritor implícito) que “fotografa” e/ ou reflete sobre o que é narrado? c) Quem são os personagens? Qual tipo de conflito ou progressão narrativa eles podem desencadear? d) Que tipo de interação os personagens estabelecem com o espaço no qual eles estão inseridos? e) Qual seria o possível desfecho para a crônica? Haveria intervenção pessoal, subjetiva do escritor/ narrador? FOTO 1 Sebastião Salgado Disponível em: <http://ideiasramificadas.zip.net/arch2009-06-01_2009-06-30.html>. Acesso em: 20 de abril de 2012. http://ideiasramificadas.zip.net/arch2009-06-01_2009-06-30.html 14 FOTO 2 Boris Kossoy Disponível em: <http://evolucaofrancesa.com.br/blog/a-gosto-da-fotografia/> Disponível em: 20 de abril de 2012. FOTO 3 Cartier-Bresson Disponível em <http://www.saibadesign.com/2010/09/cartier-bresson-um-olhar-lucido/> Acesso em 20 de abril de 2012. http://evolucaofrancesa.com.br/blog/a-gosto-da-fotografia/ http://www.saibadesign.com/2010/09/cartier-bresson-um-olhar-lucido/ 15 Etapa 4 – Fotografando a crônica Como última etapa, o aluno acessará o site http://sitenotadez.net/cronicas/ ou pesquisará na biblioteca e selecionará crônicas cujo conteúdo reflita sobre um problema crônico, uma crítica social. Em seguida, por meio do Google imagens ou com o auxílio de revistas e jornais, será selecionada uma foto que represente o tema ou a crítica destacada pelo escritor escolhido. O professor poderá organizar uma exposição dos textos e das imagens. http://sitenotadez.net/cronicas/ 16 Sugestão 23 Dados da Aula O que o aluno poderá aprender com esta aula * Ler e interpretar uma notícia de jornal demonstrando conhecimento sobre o gênero. * Produzir uma crônica coletiva observando suas especificidades. * Correlacionar as estruturas textuais de cada gênero textual: crônica e notícia. * Elaborar uma crônica, a partir de uma notícia de jornal . Duração das atividades: aproximadamente 3 aulas de 50 minutos Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno Será necessário que o aluno esteja inserido no processo de letramento e que já tenha tido contato com o gênero Notícia de Jornal. Estratégias e recursos da aula Momento 1 O professor iniciará a aula projetando o texto abaixo no data-show para ler juntamente com a turma: 3 Aula adaptada do site http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=23180 17 Texto 1 Notícia de Jornal Fernando Sabino Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, 30 anos presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno centro da cidade, permanecendo deitado na calçada durante 72 horas, para finalmente morrer de fome. Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos e comentários, uma ambulância do Pronto Socorro e uma radiopatrulha foram ao local, mas regressaram sem prestar auxílio ao homem, que acabou morrendo de fome. Um homem que morreu de fome. Um homem que morreu de fome. O comissário de plantão (um homem) afirmou que o caso (morrer de fome) era da alçada da Delegacia de Mendicância, especialista em homens que morrem de fome. E o homem morreu de fome. O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Anatômico sem ser identificado. Nada se sabe dele, senão que morreu de fome. Um homem morre de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caído na rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa - não é um homem. (Texto na íntegra disponível no site: http://www.fotolog.com.br/spokesman_/70276847) Momento 2 O professor conversará com os alunos acerca do conteúdo do texto. Para direcionar essa conversa, ele poderá lançar perguntas como: Qual é o assunto do texto? Como era o homem que morreu de fome? Alguém ajudou esse homem? Quem era o homem que morreu? É possível identificar a opinião do autor a respeito desse acontecimento? Qual é, na sua opinião, o sentimento do autor quanto ao fato de um homem morrer de fome na rua? No texto fica evidente como o autor ficou sabendo dessa notícia. Como ele se informou desse fato? http://www.fotolog.com.br/spokesman_/70276847 18 O que as autoridades fizeram diante desse acontecimento? Na sua opinião, por que o autor repete várias vezes que o homem morreu de fome? Momento 3 Após essa primeira conversa, o professor indagará aos alunos se eles identificam algumas características nesse texto que podem o tornar diferente de outros textos como histórias narradas, poesias, receitas (e outros gêneros que eles conhecem). Os alunos deverão concluir que esse texto apresenta uma certa opinião do autor acerca de um acontecimento do cotidiano (Neste caso o fato de um homem morrer de fome). O professor informará aos alunos, caso eles ainda não conheçam esse gênero, que o texto de Fernando Sabino é uma CRÔNICA, e que as crônicas são textos narrativos, ligados à vida cotidiana, escritos com uma linguagem coloquial (menos formal) e que deixam transparecer opiniões dos autores. Geralmente, as crônicas são textos curtos que podem apresentar humor. Momento 4 Para que os alunos possam compreender melhor as especificidades desse gênero, o professor apresentará a notícia de jornal abaixo para contrastar as diferençasentre os dois gêneros e também para compará-los quanto às semelhanças: HOMEM MORRE DE FOME NO CENTRO DA CIDADE Um homem de cor branca, 30 anos presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome ontem, no centro da cidade, depois de ter permanecido por setenta e duas horas deitado na calçada. Uma ambulância do Pronto Socorro e uma radiopatrulha, chamadas insistentemente por comerciantes instalados nas proximidades, nada fizeram, alegando que o caso fugia às suas atribuições, era da alçada da Delegacia de Mendicância. O corpo foi recolhido ao Instituto Médico Legal, onde aguarda identificação. (Notícia retirada do livro: Português: uma proposta para o Letramento. Livro 7. Autora: Magda Soares) Essa notícia será lida e o professor perguntará aos alunos: Qual a semelhança entre os textos lidos? (Ambos apresentam o mesmo conteúdo, ou seja, o mesmo fato - um homem morreu de fome) Quais as diferenças entre os textos lidos? (A notícia apenas apresenta o fato com um certo distanciamento, já a crônica apresenta o fato sob um outro ângulo, menos informativo e acrescido de um comentário implícito do autor) Nesse momento, a conversa será conduzida para que os alunos compreendam que ambos os textos apresentaram o mesmo fato, mas que a CRÔNICA é um texto que extrapola o campo da 19 mera exposição de um acontecimento e revela um caráter de questionamento e indagação acerca da vida cotidiana. Momento 5 O professor dirá aos alunos: Imaginem a situação: uma mulher é agredida na rua por um homem e ninguém a defende. A partir desse fato e das considerações acerca das características da crônica, será proposto que a turma escreva coletivamente uma crônica, contando, de forma mais detalhada, o acontecimento acima, deixando transparecer uma opinião. Para tanto, é importante que a turma decida coletivamente e apresente na crônica: 1. Identidade da mulher 2. Quando e onde o fato ocorreu. 3. Por que ninguém a defendeu. 4. Como a mulher ficou após a agressão. 5. O que aconteceu no final. Esse texto poderá conter quatro parágrafos, sendo importante lembrar que o primeiro deve apresentar o fato ocorrido e os demais devem fornecer mais detalhes, ainda contendo comentários de forma não explícita, de acordo com as opiniões dos alunos. Momento 6 Em um outro momento, a notícia, publicada no jornal VS , no dia 24/05/10, abaixo reportada, será apresentada para os alunos: 20 (Notícia retirada do site: http://4.bp.blogspot.com/_2DNDFChJs/TEXg36_97gI/AAAAAAAAABw/IGu_brHzI4Q/s1600/JORNAL.jpg) http://4.bp.blogspot.com/_2DNDFChJs/TEXg36_97gI/AAAAAAAAABw/IGu_brHzI4Q/s1600/JORNAL.jpg 21 O professor pedirá que os alunos, em duplas, leiam e respondam às seguintes perguntas sobre a notícia de jornal. 1. Quando essa notícia foi escrita? 2. Em qual jornal ela foi publicada? 3. Quem é o autor dessa notícia? 4. Qual é a manchete (Título) da notícia? 5. Por que, em sua opinião, "mãe assassinada" está em destaque na manchete? 6. Qual o fato relatado na notícia? 7. Onde aconteceu o assassinato? 8. Como a mulher foi encontrada? 9. Para onde foram levadas as crianças que testemunharam o crime? 10. Qual outro problema já havia ocorrido com as crianças? 11. O que você sente ao saber de uma violência como a relatada? 12. Há informações na notícia a respeito do assassino? Momento 7 Após a atividade realizada, a professora pedirá a diferentes duplas que respondam oralmente as perguntas, a fim de realizar uma correção e uma discussão do assunto. Em seguida, o professor pedirá que as mesmas duplas relatem o acontecimento da notícia lida: assassinato de uma mãe testemunhado pelos filhos, em forma de uma crônica. Para tanto, será necessário que o professor relembre que uma crônica é um texto narrativo que conta um acontecimento da vida social, com uma linguagem simples, não apresentando caráter jornalístico de informação (como é o caso da notícia) mas um caráter de narração ou contação de caso com criticidade. Momento 8 Caso o professor queira ampliar os objetivos da aula e torná-la interdisciplinar poderá propor ao professor de História que realize uma discussão com os alunos a respeito da criminalidade crescente em nossa sociedade. Recursos Complementares Caso o professor queira complementar a aula poderá ler alguns exemplos de crônicas que podem ser encontrados no site: http://www.pensador.info/cronicas_de_luiz_fernando_verissimo/ http:// 22 Sugestão 34 CRÔNICA: A ARTE DA VIDA NA SALA DE AULA Conteúdos Literatura, estudo de texto e gêneros textuais Habilidades: Identificar a estrutura da crônica em diferentes formas e espaços de comunicação e desenvolver o hábito da leitura. Duração das atividades: 3 aulas A crônica é o gênero mais confessional do mundo, pois o cronista tira os seus temas do próprio cotidiano e fala de tudo, de política a sentimentos pessoais, aberta ou disfarçadamente, deixando ao leitor o prazer do desvendar. Talvez por isso seja um texto dos mais agradáveis de ler e uma forma extremamente eficaz de seduzir o aluno para a leitura. Você pode aproveitar o texto de Lya Luft publicado em VEJA, para fazer um estudo desse gênero textual, colocando os alunos no papel de autores. 4 Sugestão adaptada da Revista Nova Escola. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/ensino- medio/cronica-arte-vida-sala-aula-531809.shtml> Acesso em 02 de maio de 2012. http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/cronica-arte-vida-sala-aula-531809.shtml http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/cronica-arte-vida-sala-aula-531809.shtml 23 Lya Luft Brasileiro não gosta de ler? A meninada precisa ser seduzida. Ler pode ser divertido e interessante, pode entusiasmar, distrair e dar prazer Não é a primeira vez que falo nesse assunto, o da quantidade assustadora de analfabetos deste nosso Brasil. Não sei bem a cifra oficial, e não acredito muito em cifras oficiais. Primeiro, precisa ser esclarecida a questão do que é analfabetismo. E, para mim, alfabetizado não é quem assina o nome, talvez embaixo de um documento, mas quem assina um documento que conseguiu ler e... entender. A imensa maioria dos ditos meramente alfabetizados não está nessa lista, portanto são analfabetos – um dado melancólico para qualquer país civilizado. Nem sempre um povo leitor interessa a um governo (falo de algum país ficcional), pois quem lê é informado, e vai votar com relativa lucidez. Ler e escrever faz parte de ser gente. Sempre fui de muito ler, não por virtude, mas porque em nossa casa livro era um objeto cotidiano, como o pão e o leite. Lembro de minhas avós de livro na mão quando não estavam lidando na casa. Minha cama de menina e mocinha era embutida em prateleiras. Criança insone, meu conforto nas noites intermináveis era acender o abajur, estender a mão, e ali estavam os meus amigos. Algumas vezes acordei minha mãe esquecendo a hora e dando risadas com a boneca Emília, de Monteiro Lobato, meu ídolo em criança: fazia mil artes e todo mundo achava graça. E a escola não conseguiu estragar esse meu amor pelas histórias e pelas palavras. Digo isso com um pouco de ironia, mas sem nenhuma depreciação ao excelente colégio onde estudei, quando criança e adolescente, que muito me preparou para o mundo maior que eu conheceria saindo de minha cidadezinha aos 18 anos. Falo da impropriedade, que talvez exista até hoje (e que não era culpa das escolas, mas dos programas educacionais), de fazer adolescentes ler os clássicos brasileiros, os românticos, seja o que for, quando eles ainda nem têm o prazer da leitura. Qualquer menino ou menina se assusta ao ler Macedo, Alencar e outros: vai achar enfadonho,não vai entender, não vai se entusiasmar. Para mim esses programas cometem um pecado básico e fatal, afastando da leitura estudantes ainda imaturos. Como ler é um hábito raro entre nós, e a meninada chega ao colégio achando livro uma coisa quase esquisita, e leitura uma chatice, talvez ela precise ser seduzida: percebendo que ler pode ser divertido, interessante, pode entusiasmar, distrair, dar prazer. Eu sugiro crônicas, pois temos grandes cronistas no Brasil, a começar por Rubem Braga e Paulo Ilustração Atômica Studio 24 Mendes Campos, além dos vivos como Verissimo e outros tantos. Além disso, cada um deve descobrir o que gosta de ler, e vai gostar, talvez, pela vida afora. Não é preciso que todos amem os clássicos nem apreciem romance ou poesia. Há quem goste de ler sobre esportes, explorações, viagens, astronáutica ou astronomia, história, artes, computação, seja o que for. O que é preciso é ler. Revista serve, jornal é ótimo, qualquer coisa que nos faça exercitar esse órgão tão esquecido: o cérebro. Lendo a gente aprende até sem sentir, cresce, fica mais poderoso e mais forte como indivíduo, mais integrado no mundo, mais curioso, mais ligado. Mas para isso é preciso, primeiro, alfabetizar-se, e não só lá pelo ensino médio, como ainda ocorre. Os primeiros anos são fundamentais não apenas por serem os primeiros, mas por construírem a base do que seremos, faremos e aprenderemos depois. Ali nasce a atitude em relação ao nosso lugar no mundo, escolhas pessoais e profissionais, pela vida afora. Por isso, esses primeiros anos, em que se aprende a ler e a escrever, deviam ser estimulantes, firmes, fortes e eficientes (não perversamente severos). Já se faz um grande trabalho de leitura em muitas escolas. Mas, naquelas em que com 9 ou 10 anos o aluno ainda não usa com naturalidade a língua materna, pouco se pode esperar. E não há como se queixar depois, com a eterna reclamação de que brasileiro não gosta de ler: essa porta nem lhe foi aberta. Atividades 1ª aula - Apresente à classe uma lista com as características da crônica: é publicada geralmente em jornais ou revistas; relata de forma artística e pessoal fatos colhidos no noticiário jornalístico e no cotidiano; consiste em um texto curto e leve, que tem por objetivo divertir e/ou fazer refletir criticamente sobre a vida e os comportamentos humanos; pode apresentar elementos básicos da narrativa - fatos, tempo, personagens e lugar - com tempo e espaço não limitados; o narrador pode ser observador ou se constituir em personagem; emprega a variedade informal da língua; pode apresentar discurso direto, indireto e indireto livre. Comente que o cronista expõe seu ponto de vista, seus comentários e deduções, suas ironias e interpretações a respeito de fatos (notícias ou dia-a-dia pessoal). Ele não tem, no entanto, por finalidade apenas a informação, mas sua universalização para que as pessoas aprendam alguma coisa com o que é, aparentemente, corriqueiro. Por isso, Lya Luft diz que esse é o melhor gênero para trabalhar em sala de aula. Lendo alguns trechos de crônicas extraídas de jornais e revistas, mostre que os cronistas transformam o cotidiano em literatura,. Depois disso, faça uma leitura coletiva do texto de Lya 25 Luft, ressaltando algumas características citadas anteriormente. Complete mostrando que a crônica nem sempre apresenta uma narrativa. Como neste caso, ela pode comentar, analisar, descrever, sugerir, exemplificar, de maneira leve e curta, o cotidiano. Certifique-se de que a moçada percebeu que Lya não apenas informa sobre o problema da leitura nas escolas brasileiras, mas nos faz refletir e sugere saídas para melhorar. 2ª aula - De acordo com a disponibilidade da escola, leve os alunos à sala de informática e peça que, em pequenos grupos, pesquisem os autores citados em VEJA e alguns outros que o professor pode sugerir (de preferência, autores locais). Os jovens devem procurar uma crônica que fale sobre um tema que eles considerem interessante. Esta busca pode ser feita também em livros de Literatura, na biblioteca, ou em jornais e revistas. Depois da escolha feita, eles devem identificar as características gerais da crônica escolhida para apresentar aos colegas, por meio de leitura e comentários. Para não ficar muito longo, pode-se pedir que cada grupo identifique uma das características, lendo apenas o trecho referente a ela. Podem ser lidas por inteiro aquelas que despertarem maior envolvimento da turma. Vá destacando, durante as apresentações, a importância da coesão no desenvolvimento deste tipo de narrativa breve. As ideias e os fatos devem ser muito bem "costurados" para que o texto atinja seu objetivo. Finalmente, para a aula seguinte, encomende a produção individual de uma crônica com tema livre, usando os textos pesquisados como referência. 3ª aula - Cada um lê e comenta sua crônica, explicando por que escolheu aquele assunto. Vale a pena fazer uma rápida avaliação oral coletiva. Pode levar umas duas aulas, mas você poderá ver o crescimento do interesse em ler as próprias produções e confirmar, a partir disso, a teoria de Lya Luft de que as crônicas são um ótimo instrumento a ser usado para estimular a leitura e a escrita. Dê um tempo para a exposição de opiniões e um breve debate sobre a tese do autor. Filme baseado na obra clássica de Gabriel Garcia Márquez Você pode também desenvolver mais a ideia, fazendo um projeto para um mês ou mesmo um bimestre. De qualquer forma, vale a pena fazer uma sessão do filme Crônica de uma Morte Anunciada - baseado no clássico de Gabriel Garcia Márquez (veja indicação abaixo) e indicar a leitura de paradidáticos da série Para Gostar de Ler, cinco volumes com crônicas selecionadas 26 que são uma ótima porta de entrada para o mundo da leitura. O ideal é que as escolhas sejam feitas de acordo com a faixa etária e a familiaridade do grupo com a leitura. Outra atividade complementar que pode servir de conclusão é a transposição dos textos produzidos para o teatro ou mesmo para filmes de curta metragem - filmados com telefones celulares. É uma boa maneira de deixar bem claro que a crônica representa o cotidiano. Quer saber mais? BIBLIOGRAFIA A Laranja da Crônica, Carlos Eduardo Novaes, em A Cadeira do Dentista e Outras Crônicas, Ed. Ática, tel.: (11) 3990-1775 As Crônicas Revelam Minha Biografia, Raquel de Queiroz, em Cenas Brasileiras, Ed. Ática FILMOGRAFIA Crônica de Uma Morte Anunciada, de Francesco Rossi, 1987, LK. 27 Sugestão 45 LITERATURA NA ESCOLA - 7º ANO: CRÔNICAS DE LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO Objetivos Estimular o gosto pela leitura; Desenvolver a competência leitora; Desenvolver a sensibilidade estética, a imaginação, a criatividade e o senso crítico; Estabelecer relações entre o lido/vivido ou conhecido (conhecimento de mundo); Revelar o diálogo entre literatura e tradição cultural; Perceber as particularidades do gênero Crônica. Conteúdos Forma literária; Paráfrase, análise e interpretação; Alienação, Personificação e Coisificação; Ditadura Militar no Brasil. Duração das atividades: 5 aulas Material necessário - Livro O Nariz e Outras Crônicas. Luís Fernando Veríssimo, 112 págs, Editora Ática, Coleção Para Gostar de Ler. - Se possível, um computador ligado à Internet. Desenvolvimento 1ª etapa: Sondagem oral Pergunte se os alunos já ouviram falar do cronista Luís Fernando Veríssimo. Conhecem alguma obra que ele publicou? E sobre Crônica, já ouviram falar? A partir desta primeira sondagem, inicie sua aula, apresentando à turma o escritor, bem como o gênero crônica. Se julgar necessário, entregue aos alunos o texto do boxe abaixo. 5 Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/literatura-escola-7o-ano-cronicas-luis-fernando-verissimo-556378.shtmlAcesso em 02 de maio de 2012. http://www.atica.com.br/ http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/literatura-escola-7o-ano-cronicas-luis-fernando-verissimo-556378.shtml 28 Luís Fernando Veríssimo e o gênero Crônica Luís Fernando Veríssimo se firmou como escritor por meio da profissão de jornalista. A partir de 1970, começou a escrever crônicas para o jornal Folha da Manhã e logo se consagrou como escritor. A definição do gênero Crônica até hoje é uma questão polêmica. Segundo o autor Jorge de Sá, no livro A Crônica, a aparência de simplicidade "decorre do fato de que a crônica surge primeiro no jornal, herdando a sua precariedade, esse seu lado efêmero de quem nasce no começo de uma leitura e morre antes que se acabe o dia, no instante em que o leitor transforma as páginas em papel de embrulho, ou guarda os recortes que mais lhe interessam no arquivo pessoal. O jornal, portanto, nasce, envelhece e morre a cada 24 horas. Nesse contexto, a crônica também assume sua transitoriedade, dirigindo-se inicialmente a leitores apressados, que leem nos pequenos intervalos da luta diária, no transporte ou no raro momento de trégua que a televisão lhes permite. Sua elaboração também se prende a essa urgência: o cronista dispõe de pouco tempo para datilografar o seu texto, criando-o, muitas vezes, na sala enfumaçada de uma redação. Mesmo quando trabalha no conforto e no silêncio de sua casa, ele é premiado pela correria com que se faz um jornal, o que acontece mesmo com suplementos semanais, sempre diagramados com certa antecedência. À pressa de escrever, junta-se a de viver. Os acontecimentos são extremamente rápidos, e o cronista precisa de um ritmo ágil para poder acompanhá-los. Por isso a sua sintaxe lembra alguma coisa desestruturada, solta, mais próxima da conversa entre dois amigos do que propriamente do texto escrito. Dessa forma, há uma proximidade maior entre as normas da língua escrita e da oralidade, sem que o narrador caia no equívoco de compor frases frouxas, sem a magicidade da elaboração, pois ele não perde de vista o fato de que o real não é meramente copiado, mas recriado. O coloquialismo, portanto, deixa de ser a transcriação exata de uma frase ouvida na rua, para ser a elaboração de um diálogo entre o cronista e o leitor, a partir do qual a aparência simplória ganha sua dimensão exata. No livro "O Nariz", de Luis Fernando Veríssimo, há uma crônica intitulada "Ela". Peça que os alunos anotem individualmente suas ideias a respeito deste título. O que ele deve significar? 2ª etapa: leitura compartilhada do conto "Ela" e contextualização da obra: a década de 70 no Brasil Leia com a turma o conto "Ela" e peça que os alunos comentem suas impressões gerais. Em seguida pergunte se, após a leitura, as ideias que tinham a respeito do significado do título "Ela" se mantiveram ou foram alteradas? Justifique Peça para a moçada elencar todas as referências a fatos históricos e os títulos de programações de televisão que aparecem na crônica. Pergunte aos estudantes se entenderam essas referências, se sabem, por exemplo, o que era o Sheik de Agadir - título de uma novela da década de 1960 - citado na crônica. A turma certamente terá dificuldade em entender alguns fatos. Faça, então, a contextualização para a classe e apresente as questões político/históricas do Brasil na década de 1970 (saiba mais no texto abaixo). Se possível, convide o professor de História para ajudar nessa segunda etapa. Lembre-se que, conforme os alunos se aproximam do Ensino Médio, a tendência é a escola trabalhar mais com aqueles livros que o adolescente não conseguiria ler 29 por conta própria, seja por uma linguagem mais elaborada do ponto de vista estético, seja porque o livro pertence a uma época cujas referências o estudante desconhece. Cabe ao professor fornecer o repertório e os esclarecimentos necessários para que a leitura se torne acessível ao aluno. "O Nariz", por ser uma coletânea de crônicas, não apresenta grandes desafios do ponto de vista da linguagem, mas muitas narrativas fazem referências a questões políticas e sociais do Brasil que devem ser explicadas. Na década de 1970, o Brasil ainda vivia sob o peso da ditadura militar e do Ato Institucional No 5. Não havia liberdade de imprensa e os opositores ao regime eram perseguidos e torturados. Sob interesse dos governos militares e aproveitando o milagre econômico e a vitória da seleção brasileira em 1970, surgiam slogans e canções ufanistas como "Brasil, ame-o ou deixe- o" e "pra frente Brasil" Foi também um tempo de expansão da indústria televisiva, da publicidade e dos meios de comunicação de massa. Toda criação artística que escapasse à censura era submetida a um forte esquema comercial. Em 1978, a novela Dancin`Days fazia sucesso com uma trilha sonora e figurinos baseados na Disco Music norte americana. 30 3ª etapa: análise da crônica "Ela" ELA Luís Fernando Veríssimo Ainda me lembro do dia em que ela chegou lá em casa. Tão pequenininha! Foi uma festa. Botamos ela num quartinho dos fundos. Nosso Filho – Naquele tempo só tinha o mais velho – ficou maravilhado com ela. Era um custo tirá-lo da frente dela para ir dormir. Combinamos que ele só poderia ir para o quarto dos fundos depois de fazer todas as lições. - Certo, certo. - Eu não ligava muito para ela. Só para ver um futebol ou política. Naquele tempo, tinha política. Minha mulher também não via muito. Um programa humorístico, de vez em quando. Noites Cariocas… Lembra de Noites Cariocas? - Lembro vagamente. O senhor vai querer mais alguma coisa? É, me serve mais um destes. Depois decidimos que ela podia ficar na copa. Aí ela já estava mais crescidinha. Jantávamos com ela ligada, porque tinha um programa que o garoto não queria perder. Capitão Qualquer Coisa. A empregada também gostava de dar uma espiada. José Roberto Kely. Não tinha um José Roberto Kely? - Não me lembro bem. O senhor não me leva a mal, mas não posso servir mais nada depois deste. Vamos fechar. - Minha mulher nem sonhava em botar ela na sala. Arruinaria toda a decoração. Nessa época já tinha nascido o nosso segundo filho e ele só ficava quieto, para comer, com ela ligada. Quer dizer, aos pouco ela foi afetando os hábitos da casa. E então surgiu um personagem novo nas nossas casas que iria mudar tudo. Sabe quem foi? - Quem? - O Sheik de Agadir. Eu, se quisesse, poderia processar o Sheik de Agadir. Ele arruinou o meu lar. - Certo. Vai querer a conta? - Minha mulher se apaixonou pelo Sheik de Agadir. Por causa dele, decidimos que ela poderia ir para a sala de visitas. Desde que ficasse num canto, escondida, e só aparecesse quando estivesse ligada. Nós tínhamos uma vida social intensa. Sempre iam visitas lá em casa. Também saíamos muito. Cinema, Teatro, jantar fora. Eu continuava só vendo futebol e notícia. Mas minha mulher estava sucumbindo depois do Sheik de Agadir, não queria perder nenhuma novela. - Certo. Aqui está a sua conta. Infelizmente temos que fechar o bar. 31 - Eu não quero a conta. Quero outra bebida. Só mais uma. - Está bem… Só mais uma. - Nosso filho menor, o que nasceu depois do Sheik de Agadir, não saía de frente dela. Foi praticamente criado por ela. É mais apegado a ela do que a própria mãe. Quando a mãe briga com ele, ele corre pra perto dela pra se proteger. Mas onde é que eu estava? Nas novelas. Minha mulher sucumbiu às novelas. Não queria mais sair de casa. Quando chegava visita, ela fazia cara feia. E as crianças, claro, só faltavam bater em visita que chegasse em horário nobre. Ninguém mais conversava dentro de casa. Todo mundo de olho grudado nela. E então aconteceu outra coisa fatal. Se arrependimento matasse… - Termine a sua bebida, por favor. Temos que fechar. - Foi a copa do mundo. A de 74. Decidi que para as transmissões da copa do mundo ela deveria ser bem maior. E colorida.Foi a minha ruína. Perdemos a copa, mas ela continua lá, no meio da sala. Gigantesca. É o móvel mais importante da casa. Minha mulher mudou a decoração da casa para combinar com ela. Antigamente ela ficava na copa para acompanhar o jantar. Agora todos jantam na sala para acompanhá-la. - Aqui está a conta. - E, então, aconteceu o pior. Foi ontem, hora do Dancin´Days e bateram na porta. Visitas. Ninguém se mexeu. Falei para a empregada abrir a porta, mas ela fez “Shhh!” sem tirar os olhos da novela. Mandei os filhos, um por um, abrirem a porta, mas eles nem me responderam. Comecei a me levantar. E então todos pularam em cima de mim. Sentaram no meu peito. Quando comecei a protestar, abafaram o meu rosto com a almofada cor de tijolo que minha mulher comprou para combinar com a maquiagem da Júlia. Só na hora do comercial, consegui recuperar o ar e aí sentenciei, apontando para ela ali, impávida no meio da sala: “Ou ela, ou eu!”. O silêncio foi terrível. - Está bem… mas agora vá para casa que precisamos fechar. Já está quase clareando o dia… - Mais tarde, depois da Sessão Coruja, quando todos estavam dormindo, entrei na sala, pé ante pé. Com a chave de parafuso na mão. Meu plano era atacá-la por trás, abri-la e retirar uma válvula qualquer. Não iria adiantar muita coisa, eu sei. Eles chamariam um técnico às pressas. Mas era um gesto simbólico. Ela precisava saber quem é que mandava dentro de casa. Precisava saber que alguém não se entregava completamente a ela, que alguém resistia. E então, quando me preparava para soltar o primeiro parafuso, ouvi a sua voz. “Se tocar em mim você morre”. Assim com toda a clareza. “Se tocar em mim você morre”. Uma voz feminina, mas autoritária, dura. Tremi. Ela podia estar blefando, mas podia não estar. Agi depressa. Dei um chute no fio, desligando-a da tomada e pulei para longe antes que ela revidasse. Durante alguns minutos, nada aconteceu. Então ela falou outra vez. ”Se não me ligar outra vez em um minuto, você vai se arrepender”. Eu não tinha alternativa. Conhecia o seu poder. Ela chegara lá em casa pequenininha e aos poucos foi crescendo e tomando conta. Passiva, humilde, obediente. E vencera. Agora chegara a hora da conquista definitiva. Eu era o único empecilho à sua dominação completa. Só esperava um bom pretexto para me eliminar com um raio catótico. Ainda tentei parlamentar. Pedi que ela poupasse a minha vida. Perguntei o que ela queria, afinal. Nada. Só o que ela disse foi “Você tem 30 segundos”. 32 - Muito bem. Mas preciso fechar. Vá para casa. - Não posso. -Por quê? - Ela me proibiu de voltar lá. Disponível em < http://mardepoesia.wordpress.com/2011/03/22/a-televisao-chico-buarque/> Acesso em 20 de abril de 2012. Em aulas expositivas dialogadas, analise a crônica "Ela" com a turma, obedecendo aos procedimentos de análise literária organizados abaixo: 1) Paráfrase: A paráfrase é a primeira parte da análise. Ela é um resumo do enredo, um "contar a história com as suas próprias palavras", por isso deve ser curta e objetiva, deve resumir-se apenas ao essencial. Finalizada a leitura compartilhada, pergunte aos alunos do que fala o texto? Exemplo: A crônica "Ela" conta a história da influência crescente da televisão na vida de uma família brasileira, entre as décadas de 1960 e 1970. Confirme se a sala está de posse dessa compreensão mínima. Caso não esteja, retome a leitura compartilhada. 2) Análise: Analisar é "desmontar" o texto, é verificar quais são as partes que o compõe e como elas se articulam. Cada obra literária tem inúmeros elementos que, articulados, a constituem. A ideia não é investigar todos - nem seria possível - mas apenas alguns. Quais? A análise deve construir argumentos que sustentem a interpretação. É ela que vai conduzir o leitor através do seu raciocínio. Não podemos nos esquecer também que, em arte, forma é conteúdo. Por isso, é preciso ressaltar a contribuição que alguns aspectos formais possam vir a ter na economia da crônica. O que são aspectos formais? São elementos que se referem menos diretamente a o que está sendo dito e mais ao como está sendo dito. O tipo de narrador, a caracterização de algum http://mardepoesia.wordpress.com/2011/03/22/a-televisao-chico-buarque/ 33 personagem, o tempo, o espaço e o tipo de discurso são alguns dos elementos formais que podem ser fundamentais para desvendar mistérios. Ao observar a crônica escolhida, é fácil perceber algo que, em sua forma, lhe chame a atenção. Por exemplo, o fato de a crônica "Ela" possuir inúmeras referências históricas não pode passar despercebido. Partindo do princípio que o escritor Luís Fernando Veríssimo domina plenamente a sua arte, devemos acreditar que tais referências contribuem para o sentido do texto. Outro elemento formal que chama atenção é o fato de o pronome pessoal "ela" sugerir, desde o título, uma personificação do objeto televisor. Tal personificação, que se intensifica ao longo do texto, também é produtora de sentido. Existem inúmeros elementos passíveis de análise em uma boa obra literária. Se tivermos um olhar atento no que se refere à forma, então já será possível traçar um caminho seguro pelo qual nossa análise pode seguir. Retomemos o tema depois. Exemplo de análise O título da crônica "Ela", por ser um pronome pessoal, sugere que a narrativa vai falar de uma pessoa do sexo feminino. Tal sugestão é intensificada nas primeiras frases: "Ainda me lembro do dia em que ela chegou lá em casa. Tão pequenininha! Foi uma festa." Em seguida, temos a impressão de que "Ela" é, na verdade, um animalzinho de estimação: "Botamos ela num quartinho dos fundos. Nosso filho - naquele tempo só tínhamos o mais velho - ficou maravilhado com ela. Era um custo tirá-lo da frente dela para ir dormir." Note que foram usadas citações de trechos da crônica. Isso não só é possível como geralmente é muito útil. Quanto mais sua análise der voz ao texto, melhor. Então a crônica realiza uma primeira quebra de expectativa com efeito de humor: percebemos que se trata de um aparelho de TV. "- Eu não ligava muito pra ela. Só pra ver um futebol, ou política. Naquele tempo tinha política. Minha mulher também não via muito. Um programa humorístico, de vez em quando. Noites Cariocas... Lembra de Noites Cariocas?- Lembro. Vagamente. O senhor vai querer mais alguma coisa." A partir do trecho acima, a crônica de Luís Fernando Veríssimo diz a que veio: temos a percepção de que o narrador-personagem narra sua história em diálogo com um interlocutor que, provavelmente, é um garçom que não parece muito disposto a escutá-lo. Temos uma referência ao golpe militar de 1964 ("Naquele tempo tinha política.") e podemos deduzir que os acontecimentos narrados têm início antes do Golpe e o narrador fala ao garçom ainda durante a repressão. Temos também, completando a referência temporal, a alusão a um programa televisivo de 1961: "Noites Cariocas". 3) Comentário: 34 O comentário se faz necessário no momento em que a análise solicita informações externas à obra literária para elucidar seu sentido profundo. Isso porque a Literatura, apesar de sua relativa autonomia, faz parte do tecido social em que está inserida. Como explica Antonio Candido no livro Na sala de aula: caderno de análise literária, as "circunstâncias de sua composição, o momento histórico, a vida do autor, o gênero literário, as tendências estéticas de seu tempo, etc. Só encarando-a assim teremos elementos para avaliar o significado da maneira mais completa possível (que é sempre incompleta, apesar de tudo)". Nessa crônica as referências à história do Brasil são de fundamental importância para a compreensão do leitor. 4) Continuação da análise: A partir de então o narrador conta que a família comprou um aparelho maior e o mudou para a copa, interferindo nos hábitos da família. Note que ele jamais deixa de personificar a televisão: "Aí ela já estava mais crescidinha.Jantávamos com ela ligada, porque tinha um programa que o garoto não queria perder. (...) A empregada também gostava de dar uma espiada. José Roberto Kelly." Aqui vale recorrer novamente ao comentário: Na entrada dos anos 60, a popularização dos desfiles de carnaval marcou o início da ascensão do samba-enredo e o declínio da marchinha e dos blocos. José Roberto Kelly foi um dos últimos compositores que brilharam no gênero, com Cabeleira do Zezé e Mulata Iê-Iê-Iê., antes do Ato Institucional no 5, de 1968. A narrativa continua contando como a televisão muda os hábitos da casa do narrador, assim como os da família brasileira: sua mulher começa a seguir apaixonadamente as telenovelas. "Foi então que surgiu um personagem novo nas nossas vidas que iria mudar tudo. Sabe quem foi? - Quem? - O Sheik de Agadir. Eu, se quisesse, poderia processar o Sheik de Agadir. Ele arruinou meu lar." Conforme o tempo passa e as novelas despertam interesse da família, a TV avança da copa para a sala de visitas, interferindo na vida social do casal. O narrador passa a marcar o tempo em função das telenovelas: "- Nosso filho menor, o que nasceu depois do Sheik de Agadir, não saía da frente dela. Foi praticamente criado por ela." Note que, à medida em que aumenta a influência do televisor, o recurso à personificação o torna cada vez mais humano e imperativo, enquanto a família, por sua vez, vai se tornando cada vez mais objetificada: "Minha mulher sucumbiu às novelas. Não queria mais sair de casa." "Ninguém conversava dentro de casa." "Agora todos jantam na sala para acompanhá-la." A situação chega ao limite com a novela Dancin´Days, de 1978, quando a esposa muda a decoração da sala para combinar com a maquiagem de Júlia -a atriz Sônia Braga. O narrador/personagem pede à família que escolha entre ele e a TV, mas a família responde com 35 um terrível silêncio. Quanto mais ele deseja contar sua história, menos seu interlocutor deseja escutá-lo, com pressa de fechar o bar: "_ Está bem. Mas agora vá para casa que precisamos fechar. Já está quase clareando o dia..." Então a crônica entra no registro da fantasia, com o pai de família tentando desligar a televisão como quem comete um assassinato. "Se tocar em mim, você morre". Uma voz feminina, mas autoritária, dura. Tremi. Ela podia estar blefando, mas podia não estar." Finalmente a crônica termina com a narrativa do fracasso do homem em se livrar do terrível aparelho. "- Muito bem. Mas preciso fechar. Vá para casa. - Não posso. - Por quê? - Ela me proibiu de voltar lá." 6) Interpretação: A interpretação corresponde à questão "do que fala o texto?". Ela é a exposição do sentido profundo da obra literária. É ele que estamos buscando desde o início. Quando analisamos, queremos saber o que está dito por meio dos silêncios, nas entrelinhas; o que se origina da relação íntima entre forma e conteúdo. Se na análise desmontamos o texto em partes, na interpretação temos de reorganizá-lo como um todo, um todo de sentido capaz de reunir forma e conteúdo. Afinal, do que fala a crônica de Luís Fernando Veríssimo? Exemplo de interpretação "Ela" narra a influência desagregadora da televisão na vida de uma família entre as décadas de 60 e 80. Mais que isso, as inúmeras referências históricas presentes na crônica permitem traçar um paralelo entre a família do narrador e a família brasileira. O humor crítico de L. F. Veríssimo mostra como a população brasileira se aliena diante da cultura de massa televisiva, tornando-se coisa, enquanto a televisão, personificada, torna-se gente. 36 4. Sugestões de Atividades : 8º e 9º anos 37 Sugestão 16 Dados da Aula O que o aluno poderá aprender com esta aula Ler crônicas literárias; estabelecer relações entre a notícia e a crônica literária; reconhecer os efeitos de sentido na (re)construção de notícias de jornal em crônicas do autor; reconhecer os elementos de estruturação da crônica; construir crônicas inspiradas em manchetes de jornal. Duração das atividades: 4 aulas de 50 minutos. Aula 1: Nesta aula será feito um estudo do gênero crônica (texto literário) relacionando-o com o gênero notícia (texto jornalístico). Trabalharemos as crônicas de Moacyr Scliar, publicadas na seção "Cotidiano" do jornal Folha de S. Paulo e transpostas para o livro O Imaginário Cotidiano, de 2001. Esta relação não é nova, visto que a crônica historicamente se fortalece no mesmo meio de publicação das notícias, o jornal impresso, e que a matéria tanto de um quanto de outro gênero são os fatos diários e corriqueiros, muitos, inclusive, no caso da crônica, tratados como pequenos acontecimentos do dia a dia, que passariam sem ser notados por sua pouca importância. Porém, tais acontecimentos, nas letras dos grandes escritores tornam-se eternos ou, ao menos, relevantes para a reflexão dos leitores. A relação entre a crônica de Scliar e a notícia é bastante interessante, como veremos, pois o autor baseia-se em acontecimentos publicados no mesmo jornal para criar seu texto literário. 6 Disponível e: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=30851 > Acesso em 03 de maio de 2012. Capa do livro O Imaginário cotidiano de 2001 http://www.scliar.org/moacyr/l ivros/livros.htm http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=30851 http://www.scliar.org/moacyr/livros/livros.htm http://www.scliar.org/moacyr/livros/livros.htm 38 1ª ATIVIDADE Antes de adentrarmos o livro de Scliar e conhecermos as notícias que deram inspiração ao autor para as crônicas, é importante lembrar aos alunos das características mais comuns nos dois gêneros. Certamente seus alunos conhecem bem tais gêneros, questione-os sobre o que poderia ser apontado como próprio de cada um e registre as informações necessárias para compor um quadro comparativo. Provavelmente, o quadro comparativo seria como este: Há outras características que se aplicam a um ou outro gênero e lembremos que pode haver muitas comuns entre eles. O quadro acima é apenas uma referência para o que se espera do registro após a conversa com os alunos. Abaixo um link no qual há um resumo sobre a crônica literária. http://www.sitedeliteratura.com/Teoria/cronicas.htm A relação entre a crônica e a notícia publicadas em jornal é muito próxima se pensarmos que os dois gêneros têm relativamente uma vida curta. Em meio à dinâmica do cotidiano e à pressa dos leitores, o texto curto e rápido da crônica, de linguagem aparentemente simples, perde-se do olhar da maioria dos leitores a cada dia, como bem afirma Jorge de Sá: http://www.sitedeliteratura.com/Teoria/cronicas.htm 39 A aparência de simplicidade, portanto, não quer dizer desconhecimento das artimanhas artísticas. Ela decorre do fato de que a crônica surge primeiro no jornal, herdando a sua precariedade, esse seu lado efêmero de quem nasce no começo de uma leitura e morre antes que se acabe o dia, no instante em que o leitor transforma as páginas em papel de embrulho, ou guarda os recortes que mais lhe interessam num arquivo pessoal. O jornal, portanto, nasce, envelhece e morre a cada 24 horas. Nesse contexto, a crônica também assume essa transitoriedade, dirigindo-se inicialmente a leitores apressados, que leem nos pequenos intervalos da luta diária, no transporte ou no raro momento de trégua que a televisão lhes permite. (...) À pressa de escrever, junta-se a de viver. Os acontecimentos são extremamente rápidos, e o cronista precisa de um ritmo ágil para poder acompanhá-los. Por isso a sua sintaxe lembra alguma coisa desestruturada, solta, mais próxima da conversa entre dois amigos do que propriamente do texto escrito. Dessa forma, há uma proximidade maior entre as normas da língua escritae da oralidade, sem que o narrador caia no equívoco de compor frases frouxas, sem a magicidade da elaboração, pois ele não perde de ser a transcriação exata de uma frase ouvida na rua, para ser a elaboração de um diálogo entre o cronista e o leitor, a partir do qual a aparência simplória ganha sua dimensão exata. (SÁ, p. 10-11). As crônicas escolhidas para esta aula poderiam ser um exemplo desta transitoriedade, se tivessem sido apenas publicadas no jornal impresso. Mas a partir do momento que seu autor decide transportá-las para as páginas de um livro, as crônicas passam a ter um suporte mais sólido, mais sofisticado e mais duradouro. Portanto, quando a crônica passa do jornal para o livro, sua existência e seu valor como texto literário se ampliam, podendo ser lido em qualquer tempo e não apenas em um dado momento da história. Professor, distribua para os alunos o trecho de Jorge de Sá, citado acima, e, após a leitura individual, inicie um debate na sala de aula objetivando analisar o comentário do autor, relacionando suas ideias sobre as expectativas do leitor de crônicas e sobre a linguagem deste gênero com as características da crônica e da notícia apontadas anteriormente no quadro. Antes de passar para a segunda atividade, indique para os estudantes a pesquisa dos links abaixo que os levarão a um pouco de conhecimento sobre o autor Moacyr Scliar entrevistado no programa Roda Viva da TV Cultura. "Roda Viva" entrevista Moacyr Scliar: 40 http://www.youtube.com/watch?v=H2LWNhRDMTk http://www.youtube.com/watch?v=mLyyUDnplwM&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=m1u2I-Ld2HU&feature=relmfu http://www.youtube.com/watch?v=j9i91fiaPdQ&feature=related Após a pesquisa, pergunte a seus alunos quais as manifestações mais curiosas e interessantes do autor sobre sua relação com o texto escrito. 2ª ATIVIDADE Professor, comente com seus alunos sobre as crônicas escolhidas para esta aula, retiradas do livro O imaginário cotidiano, de Moacyr Scliar. Tais narrativas foram inspiradas em notícias publicadas no jornal Folha de S. Paulo, e inicialmente publicadas também naquele suporte. Apesar disso, o autor deixa claro no prefácio que deveria escrever ficção, narrativas imaginárias, e não notícias. Os fatos reais são apenas uma luz para iluminar o caminho da imaginação do escritor. Abaixo, professor, indicaremos algumas crônicas do autor, retiradas das páginas do acervo eletrônico do jornal, assim como as notícias que inspiraram cada criação de Moacyr Scliar. Divida a turma em 8 pequenos grupos e estabeleça como tarefa para a atividade a busca da notícia e da crônica neste suporte virtual. Caso possuam o livro, basta buscar a notícia no site do jornal e fazer a leitura da crônica no suporte que desejarem. Sorteie e distribua os textos aos grupos, além de algumas questões para a apresentação após a leitura: a) Qual a relação da crônica com a notícia? Aponte semelhanças temáticas e as diferenças na composição dos gêneros. b) Encontre nas notícias os dados reais, ou seja, identifiquem uma realidade específica: local de ocorrência, data, nome dos personagens envolvidos. Discuta com os colegas e conclua se o mesmo ocorre na crônica. c) Encontre no texto literário de Moacyr Scliar marcas de uma linguagem menos formal: regionalismos, gírias, construções coloquiais etc. http://www.youtube.com/watch?v=H2LWNhRDMTk http://www.youtube.com/watch?v=mLyyUDnplwM&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=m1u2I-Ld2HU&feature=relmfu http://www.youtube.com/watch?v=j9i91fiaPdQ&feature=related 41 d) Quais os comentários do narrador, situações insólitas ou efeitos estilísticos de humor ou ironia presentes na crônica? Discuta com os colegas e conclua se o mesmo ocorre na notícia. e) Qual é o foco dado ao tema na crônica? O texto literário estimula o leitor a fazer algum tipo de reflexão sobre o fato cotidiano? Como vocês a interpretam? 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 Sugestão 27 O que o aluno poderá aprender com esta aula Compreender os objetivos do gênero; Conhecer as características do gênero; Identificar as características da crônica argumentativa a partir dos estudos realizados. Duração das atividades: 3 horas/ aula Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno Habilidades básicas de leitura; Conhecimento sobre o gênero crônica narrativa; Noções de texto argumentativo/opinativo. Estratégias e recursos da aula Primeira parte: Professor: inicie a aula apresentado as imagens abaixo para os alunos. Após a observação, pergunte-lhes o que elas sugerem, permita que os alunos levantem hipóteses. 7 Aula retirada do site: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=28486 http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=28486 52 Imagens disponíveis em: http://www.google.com.br/images?hl=pt-br&um=1&ie=UTF- source=og&sa=N&tab=wi&biw=1024&bih=578&q=globaliza%C3%A7%C3%A3o&tbs=isch:1 Professor: assim que os alunos terminarem as considerações sobre as imagens, distribua cópia do texto “Globalização é bom ou ruim? de Hila Rodrigues e selecione alguns alunos para realizarem a leitura em voz alta. Globalização é bom ou ruim? A palavra “globalização” quer dizer a união de todos os países do mundo em busca de uma coisa só: desenvolvimento, crescimento e uma economia forte. Ou seja, muito trabalho, muita produção de bens para vender, muitos serviços para oferecer, etc. No fundo, são ações voltadas para a geração de riquezas que possam beneficiar a todos. O problema é que, na prática, as coisas ainda não estão acontecendo desta maneira. Os países pobres continuam pobres. E os ricos continuam ricos e mais poderosos. O resultado é que em alguns lugares, como o Brasil, grande parte das pessoas continua sem emprego e, portanto, sem dinheiro para levar uma vida melhor — com boa alimentação, bom atendimento na área de saúde, boas escolas, etc. Na opinião das pessoas que organizam o Fórum Social Mundial, a globalização só tem sido boa para os países do Primeiro Mundo, como os Estados Unidos, por exemplo. Os organizadores afirmam que no Brasil, onde muitas pessoas não têm sequer a chance de ir à escola, ainda há muito o que fazer antes de discutir os interesses dos países mais ricos. E foi exatamente para chamar a atenção desses países mais desenvolvidos que os organizadores do Fórum Social Mundial decidiram realizar suas reuniões na mesma semana em que era realizado, na Suíça, o Fórum de Davos, que foi um encontro entre todos os representantes dos países mais ricos. Eles se reuniram para discutir o futuro da economia em todo o mundo, ainda com base na globalização. http://www.google.com.br/images?hl=pt-br&um=1&ie=UTF-source=og&sa=N&tab=wi&biw=1024&bih=578&q=globaliza%C3%A7%C3%A3o&tbs=isch:1%20
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