Buscar

TEXTOS DE CRONICAS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 164 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 164 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 164 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

PROJETO PEDAGÓGICO DE LEITURA – 2012 
Merece uma crônica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Macaé 
2012 
 
 
 
SUBSECRETARIA DE ENSINO FUNDAMENTAL 
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENSINO FUNDAMENTAL 
COORDENAÇÃO DE ÁREA – 6º AO 9º - LÍNGUA PORTUGUESA 
 
2 
 
Sumário 
 
1. Introdução ............................................................................................................. 3 
2. Crônica .................................................................................................................. 4 
2.1 História das crônicas ............................................................................................. 4 
 2.2 Um olhar atento sobre o cotidiano ....................................................................... 4 
 2.3 Os muitos tons da crônica no Brasil ....................................................................... 5 
 2.4 De gênero jornalístico a gênero literário ............................................................... 5 
3. Sugestões de atividades: 6º e 7º anos ................................................................... 6 
 Sugestão 1 .............................................................................................................. 7 
 Sugestão 2 ............................................................................................................. 16 
 Sugestão 3 ............................................................................................................. 22 
 Sugestão 4 ............................................................................................................. 27 
4. Sugestões de atividades: 8º e 9º anos .................................................................... 36 
 Sugestão 1 .............................................................................................................. 37 
 Sugestão 2 ............................................................................................................. 51 
 Sugestão 3 ............................................................................................................. 55 
 Sugestão 4 ............................................................................................................. 63 
5. Crônicas: 6º ano .................................................................................................... 72 
 Crônicas: 7º ano ..................................................................................................... 88 
 Crônicas: 8º ano ..................................................................................................... 105 
 Crônicas: 9º ano .................................................................................................... 123 
6. Biografias ............................................................................................................. 141 
7. Referências bibliográficas ..................................................................................... 164 
3 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O Projeto Pedagógico de Leitura - 2012, implantado já no 1º bimestre pelas escolas municipais 
de 6º ao 9º ano, teve como tema inicial o tempo. O gênero trabalhado na ocasião foi o poético. 
Dando continuidade ao trabalho já iniciado por professores e responsáveis pelas salas de 
leitura, o projeto, neste segundo bimestre, versará sobre o tema “merece uma crônica”. 
Em um primeiro momento, apresentaremos algumas concepções importantes para a 
compreensão do gênero, um pouco da sua historicidade e características básicas. 
O tema “merece uma crônica” remete a um olhar diferenciado para a realidade que nos cerca, 
permitindo que possamos visualizar com certa literariedade o que se passa em nosso 
cotidiano. Além disso, nos coloca na posição de observadores daquilo que tantas vezes passa 
despercebido aos nossos olhos. 
Nesta segunda parte do projeto apresentamos uma coletânea de sugestões de atividades que 
o professor ou responsável pela sala de leitura pode utilizar em suas aulas. Também 
oferecemos uma série de crônicas, dividas por ano de escolaridade e por época de publicação. 
Quanto à época de publicação, sabemos que toda crônica é um retrato literário de sua época. 
Daí escolhermos autores e tempos distintos: Machado de Assis (1850 a 1920), Rubem Braga 
(1920-1950), Paulo Mendes Campos (anos 50), Stanislaw Ponte Preta (anos 60), Fernando 
Sabino (anos 70), João Ubaldo Ribeiro (anos 80), Luis Fernando Veríssimo (anos 90) e Martha 
Medeiros (anos 2000). 
A escolha deve-se ao legado que cada autor deixou ao representar a sua época. As sugestões 
de atividades abordam uma série de outros autores tão importantes quanto os citados acima. 
Contamos com a participação de todos para a continuação do Projeto Pedagógico de Leitura 
que tem por objetivo auxiliar na criação do hábito de leitura e na inserção da literatura no 
cotidiano de todos os alunos. 
Boa leitura! 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2. Crônica1 
 
Crônica é um gênero de texto tão flexível que pode usar a “máscara” de outros gêneros, como 
o conto, a dissertação, a memória, o ensaio ou a poesia, sem se confundir com nenhum deles. 
É leve, despretensiosa como uma conversa entre velhos amigos, e tem a capacidade de, por 
vezes, nos fazer enxergar coisas belas e grandiosas em pequenos detalhes do cotidiano que 
costumam passar despercebidos. 
 
 
2.1 História das crônicas 
A palavra “crônica”, em sua origem, está associada ao vocábulo “khrónos” (grego) ou 
“chronos” (latim), que significa “tempo”. Para os antigos romanos a palavra “chronica” 
designava o gênero que fazia o registro de acontecimentos históricos, verídicos, na ordem em 
que acontecia, sem pretender se aprofundar neles ou interpretá-los. Com esse sentido ela foi 
usada nos países europeus. 
A crônica contemporânea brasileira, também voltada para o registro jornalístico do cotidiano, 
surgiu por volta do século XIX, com a expansão dos jornais no país. Nessa época, importantes 
escritores, como José de Alencar e Machado de Assis, começaram a usar as crônicas para 
registrar de modo ora mais literário, ora mais jornalístico, os fatos corriqueiros de seu tempo. 
É interessante observar que as primeiras crônicas brasileiras são dirigidas às mulheres e 
publicadas como folhetins, em geral na parte inferior da página de um jornal. 
 
 
 
2.2 Um olhar atento sobre o cotidiano 
A crônica é um gênero que ocupa o espaço do entretenimento, da reflexão mais leve. É 
colocada como uma pausa para o leitor, fatigado de textos mais densos. Nas revistas, por 
exemplo, em geral é estampada na última página. 
Ao escrever, os cronistas buscam emocionar e envolver seus leitores, convidando-os a refletir, 
de modo sutil, sobre situações do cotidiano, vistas por meio de olhares irônicos, sérios ou 
poéticos, mas sempre agudos e atentos. 
 
1
 Abordagens teóricas adaptadas do material da Olimpíada de Língua Portuguesa 2010. 
5 
 
 
 
2.3 Os muitos tons da crônica no Brasil 
A crônica é um gênero que retrata os acontecimentos da vida em tom despretensioso, ora 
poético, ora filosófico, muitas vezes divertido. Nossas crônicas são bastante diferentes 
daquelas que circulam em jornais de outros países. Lá estão relatos objetivos e sintéticos, 
comentários sobre pequenos acontecimentos, e não costumam expressar sentimentos 
pessoais do autor. Os cronistas brasileiros exprimem vivências e sentimentos próprios do 
universo cultural do país. 
No Brasil, há vários modos de escrevê-las. Se usa o tom da poesia, o autor produz uma prosa 
poética, como algumas crônicas escritas por Paulo Mendes Campos. Mas elas podem ser 
escritas de uma forma mais próxima ao ensaio, como as de Lima Barreto; ou ser narrativas, 
como as de Fernando Sabino. As crônicas podem ser engraçadas, puxando a reflexão do leitor 
pelo jeito humorístico, ou ter um tom sério. Outras podem ser próximas de comentários, como 
as crônicas esportivasou políticas. 
 
 
 
2.4 De gênero jornalístico a gênero literário 
Nem todas as crônicas resistem ao tempo. Publicadas em jornais e revistas, são lidas apenas 
uma vez e, em geral, esquecidas pelo leitor. A crônica literária, no entanto, tem longa duração 
e é sempre apreciada pelo estilo de quem a escreve e pelo tema abordado. 
A produção de crônicas literárias é muitas vezes tarefa “encomendada” a escritores já 
reconhecidos pela publicação de outras obras, como contos e romances. São esses autores 
que, usando recursos literários e estilo pessoal, fazem seus textos perdurarem e serem 
apreciados apesar da passagem do tempo. Para conseguir esse efeito, os escritores não 
destacam o fato em si, mas a interpretação que fazem deles, dando-lhes características de 
“retrato” de situações humanas atemporais. Os temas geralmente são ligados a questões 
éticas, de relacionamento humano, de relações entre grupos econômicos, sociais e políticos. 
Em geral, na crônica a narração capta um momento, um flagrante do dia a dia; o desfecho, 
embora possa ser conclusivo, nem sempre representa a resolução do conflito, e a imaginação 
do leitor é estimulada a tirar suas próprias conclusões. Os fatos cotidianos e as personagens 
descritas podem ser fictícias ou reais, embora nunca se espere da crônica a objetividade de 
uma notícia de jornal, de uma reportagem ou de um ensaio. 
 
6 
 
 
 
 
3. Sugestões de 
Atividades : 
6º e 7º anos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Sugestão 12 
 
Dados da Aula 
O que o aluno poderá aprender com esta aula 
 Comparar a retratação do cotidiano em crônicas e fotografias. 
 Identificar e analisar elementos que caracterizam o ofício do cronista. 
 Selecionar uma fotografia para complementar o sentido de uma crônica produzida por 
algum escritor pertencente ao jornalismo e/ ou à literatura brasileira. 
 Produzir uma narrativa informativa ou literária a partir de uma fotografia. 
Duração das atividades 
2 a 3 aulas de 50 minutos. 
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno 
Desde a consagração e definição da crônica como gênero textual, ela esteve associada ao 
radical grego “cronos”, que demarca a abordagem temática do gênero atrelada ao tempo, ao 
transcorrer do cotidiano. Por ser difundida, muitas vezes, em jornais impressos - e aproximar-
se de outros gêneros que circulam nesse contexto, tais como a notícia, a reportagem e o artigo 
de opinião - a crônica está, de certa forma, agregada aos relatos factuais. No entanto, ao longo 
do século XX, esse suporte textual adquiriu outras nuances que apontam para registros entre o 
relato e a ficção, entre o literário e o informativo. Na contemporaneidade, tal como a 
fotografia, a crônica se estabelece, não como registro totalitário ou enquadramento objetivo 
da cena, mas como um recorte instantâneo, criativo, reflexivo, artístico, do cotidiano. 
Para início da discussão acerca do gênero, o professor pode apresentar, em slides em data 
show, algumas notícias ou crônicas ilustradas que dialogam texto verbal e não verbal. Além 
disso, é válido abordar os elementos distintivos entre a crônica e os outros gêneros 
jornalísticos. 
 
Estratégias e recursos da aula 
 
Etapa 1 – Paisagem crônica 
O objetivo desta atividade é apresentar e identificar o ofício de um cronista, a especificidade 
do seu trabalho e a concepção sobre o gênero crônica. 
 
2
 Sugestão adaptada do site http://portaldoprofessor.mec.gov.br/. 
8 
 
 
 
 
O CRONISTA É UM ESCRITOR CRÔNICO 
Affonso Romano de Sant”Anna 
O primeiro texto que publiquei em jornal foi uma crônica. Devia ter eu lá uns 16 ou 
17 anos. E aí fui tomando gosto. Dos jornais de Juiz de Fora, passei para os jornais 
e revistas de Belo Horizonte e depois para a imprensa do Rio e São Paulo. Fiz de 
tudo (ou quase tudo) em jornal: de repórter policial a crítico literário. Mas foi 
somente quando me chamaram para substituir Drummond no Jornal do Brasil, em 
1984, que passei a fazer crônica sistematicamente. Virei um escritor crônico. 
O que é um cronista? 
Luís Fernando Veríssimo diz que o cronista é como uma galinha, bota seu ovo 
regularmente. Carlos Eduardo Novaes diz que crônicas são como laranjas, podem 
ser doces ou azedas e ser consumidas em gomos ou pedaços, na poltrona de casa 
ou espremidas na sala de aula. 
Já andei dizendo que o cronista é um estilita. Não confundam, por enquanto, com 
estilista. Estilita era o santo que ficava anos e anos em cima de uma coluna, no 
deserto, meditando e pregando. São Simeão passou trinta anos assim, exposto ao 
sol e à chuva. Claro que de tanto purificar seu estilo diariamente o cronista estilita 
acaba virando um estilista. 
O cronista é isso: fica pregando lá em cima de sua coluna no jornal. Por isto, há 
uma certa confusão entre colunista e cronista, assim como há outra confusão entre 
articulista e cronista. O articulista escreve textos expositivos e defende temas e 
ideias. O cronista é o mais livre dos redatores de um jornal. Ele pode ser subjetivo. 
Pode (e deve) falar na primeira pessoa sem envergonhar-se. Seu "eu", como o do 
poeta, é um eu de utilidade pública. 
Que tipo de crônica escrevo? De vários tipos. Conto casos, faço descrições, anoto 
momentos líricos, faço críticas sociais. Uma das funções da crônica é interferir no 
cotidiano. Claro que essas que interferem mais cruamente em assuntos 
momentosos tendem a perder sua atualidade quando publicadas em livro. Não tem 
importância. O cronista é crônico, ligado ao tempo, deve estar encharcado, doente 
de seu tempo e ao mesmo tempo pairar acima dele. 
12/6/88 
Texto extraído do jornal "O Globo" - Rio de Janeiro. 
 
 
 
9 
 
 
 Para atividade a seguir, os alunos acessarão no Youtube uma adaptação do texto “A última 
crônica”, de Fernando Sabino. É importante que eles identifiquem no curta-metragem qual o 
aspecto distintivo entre a profissão de um cronista em relação a de um articulista, colunista 
(conforme foi apontado por Affonso Romano Sant”Anna no texto anterior) ou jornalista 
responsável por relatar uma notícia ou reportagem. 
 
 
 
 
 
http://www.youtube.com/watch?v=FgH8XuTv3ZM 
 
Etapa 2 – Crônica: fotografia íntima/ paisagem poética 
Esta etapa contemplará uma das facetas da crônica que é o relato subjetivo, 
descompromissado com o factual e que se apresenta quase como uma fotografia íntima de um 
sujeito ou espaço. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.youtube.com/watch?v=FgH8XuTv3ZM
10 
 
Texto-1 
NO AEROPORTO 
Carlos Drummond de Andrade 
 Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos três horas o seu quadrimotor. Durante 
esse tempo, não faltou assunto para nos entretermos, embora não falássemos da vã e numerosa 
matéria atual. Sempre tivemos muito assunto, e não deixamos de explorá-lo a fundo. Embora Pedro seja 
extremamente parco de palavras, e, a bem dizer, não se digne de pronunciar nenhuma. Quando muito, 
emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões pelos quais se faz entender admiravelmente. É o 
seu sistema. 
Passou dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede ameno. Sorria para os moradores, com ou sem 
motivo plausível. Era a sua arma, não direi secreta, porque ostensiva. A vista da pessoa humana lhe dá 
prazer. Seu sorriso foi logo considerado sorriso especial, revelador de suas boas intenções para com o 
mundo ocidental e oriental, e em particular o nosso trecho de rua. Fornecedores, vizinhos e 
desconhecidos, gratificados com esse sorriso (encantador, apesar da falta de dentes), abonam a 
classificação. 
Devo dizer que Pedro, como visitante, nos deu trabalho; tinha horários especiais, comidas especiais, 
roupas especiais, sabonetes especiais, criados especiais. Mas sua simples presença e seu sorriso 
compensariam providências e privilégios maiores. 
Recebia tudo com naturalidade, sabendo-se merecedor das distinções, e ninguém selembraria de achá-
lo egoísta ou importuno. Suas horas de sono - e lhe apraz dormir não só à noite como principalmente de 
dia - eram respeitadas como ritos sagrados, a ponto de não ousarmos erguer a voz para não acordá-lo. 
Acordaria sorrindo, como de costume, e não se zangaria com a gente, porém nós mesmos é que não nos 
perdoaríamos o corte de seus sonhos. 
Assim, por conta de Pedro, deixamos de ouvir muito concerto para violino e orquestra, de Bach, mas 
também nossos olhos e ouvidos se forraram à tortura da tevê. Andando na ponta dos pés, ou descalços, 
levamos tropeções no escuro, mas sendo por amor de Pedro não tinha importância. 
Objetos que visse em nossa mão, requisitava-os. Gosta de óculos alheios (e não os usa), relógios de 
pulso, copos, xícaras e vidros em geral, artigos de escritório, botões simples ou de punho. Não é 
colecionador; gosta das coisas para pegá-las, mirá-las e (é seu costume ou sua mania, que se há de 
fazer) pô-las na boca. Quem não o conhecer dirá que é péssimo costume, porém duvido que mantenha 
este juízo diante de Pedro, de seu sorriso sem malícia e de suas pupilas azuis — porque me esquecia de 
dizer que tem olhos azuis, cor que afasta qualquer suspeita ou acusação apressada, sobre a razão íntima 
de seus atos. 
Poderia acusá-lo de incontinência, porque não sabia distinguir entre os cômodos, e o que lhe ocorria 
fazer, fazia em qualquer parte? Zangar-me com ele porque destruiu a lâmpada do escritório? Não. 
Jamais me voltei para Pedro que ele não me sorrisse; tivesse eu um impulso de irritação, e me sentiria 
desarmado com a sua azul maneira de olhar-me. Eu sabia que essas coisas eram indiferentes à nossa 
amizade — e, até, que a nossa amizade lhe conferia caráter necessário de prova; ou gratuito, de poesia 
e jogo. 
Viajou meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu 
companheiro já vivido e puído. De repente o aeroporto ficou vazio. 
ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. Reprod. Em: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. 
p.1107-1108 
11 
 
Texto-2 
A RUA 
João do Rio 
Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, 
e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos 
vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não 
porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o 
amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria 
vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia o amor, o ódio, o egoísmo. Hoje é 
mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia. Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os 
acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua. 
(...) 
A verdade e o trocadilho! Os dicionários dizem: "Rua, do latim ruga, sulco. Espaço entre as casas e as 
povoações por onde se anda e passeia." E Domingos Vieira, citando as Ordenações: "Estradas e rua 
pruvicas antigamente usadas e os rios navegantes se som cabedaes que correm continuamente e de 
todo o tempo pero que o uso assy das estradas e ruas pruvicas." A obscuridade da gramática e da lei! Os 
dicionários só são considerados fontes fáceis de completo saber pelos que nunca os folhearam. Abri o 
primeiro, abri o segundo, abri dez, vinte enciclopédias, manuseei in-folios especiais de curiosidade. A 
rua era para eles apenas um alinhado de fachadas, por onde se anda nas povoações... 
Ora, a rua é mais do que isso, a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma! Em Benarès ou em 
Amsterdã, em Londres ou em Buenos Aires, sob os céus mais diversos, nos mais variados climas, a rua é 
a agasalhadora da miséria. Os desgraçados não se sentem de todo sem o auxílio dos deuses enquanto 
diante dos seus olhos uma rua abre para outra rua. A rua é o aplauso dos medíocres, dos infelizes, dos 
miseráveis da arte. Não paga ao Tamagno para ouvir berros atenorados de leão avaro, nem à velha Patti 
para admitir um fio de voz velho, fraco e legendário. Bate, em compensação, palmas aos saltimbancos 
que, sem voz, rouquejam com fome para alegrá-la e para comer. A rua é generosa. O crime, o delírio, a 
miséria não os denuncia ela. A rua é a transformadora das línguas. Os Cândido de Figueiredo do 
universo estafam-se em juntar regrinhas para enclausurar expressões; os prosadores bradam contra os 
Cândido. A rua continua, matando substantivos, transformando a significação dos termos, impondo aos 
dicionários as palavras que inventa, criando o calão que é o patrimônio clássico dos léxicos futuros. A 
rua resume para o animal civilizado todo o conforto humano. Dá-Ihe luz, luxo, bem-estar, comodidade e 
até impressões selvagens no adejar das árvores e no trinar dos pássaros. 
A rua nasce, como o homem, do soluço, do espasmo. Há suor humano na argamassa do seu calçamento. 
Cada casa que se ergue é feita do esforço exaustivo de muitos seres, e haveis de ter visto pedreiros e 
canteiros, ao erguer as pedras para as frontarias, cantarem, cobertos de suor, uma melopéia tão triste 
que pelo ar parece um arquejante soluço. A rua sente nos nervos essa miséria da criação, e por isso é a 
mais igualitária, a mais socialista, a mais niveladora das obras humanas. A rua criou todas as blagues e 
todos os lugares-comuns. Foi ela que fez a majestade dos rifões, dos brocardos, dos anexins, e foi 
também ela que batizou o imortal Calino. Sem o consentimento da rua não passam os sábios, e os 
charlatães, que a lisonjeiam e lhe resumem a banalidade, são da primeira ocasião desfeitos e soprados 
como bolas de sabão. A rua é a eterna imagem da ingenuidade. Comete crimes, desvaria à noite, treme 
com a febre dos delírios, para ela como para as crianças a aurora é sempre formosa, para ela não há o 
despertar triste, e quando o sol desponta e ela abre os olhos esquecida das próprias ações, é, no 
encanto da vida renovada, no chilrear do passaredo, no embalo nostálgico dos pregões - tão modesta, 
tão lavada, tão risonha, que parece papaguear com o céu e com os anjos... 
A rua faz as celebridades e as revoltas, a rua criou um tipo universal, tipo que vive em cada aspecto 
urbano, em cada detalhe, em cada praça, tipo diabólico que tem dos gnomos e dos silfos das florestas, 
tipo proteiforme, feito de risos e de lágrimas, de patifarias e de crimes irresponsáveis, de abandono e de 
12 
 
inédita filosofia, tipo esquisito e ambíguo com saltos de felino e risos de navalha, o prodígio de uma 
criança mais sabida e cética que os velhos de setenta invernos, mas cuja ingenuidade é perpétua, voz 
que dá o apelido fatal aos potentados e nunca teve preocupações, criatura que pede como se fosse 
natural pedir, aclama sem interesse, e pode rir, francamente, depois de ter conhecido todos os males da 
cidade, poeira d’oiro que se faz lama e torna a ser poeira - a rua criou o garoto! 
Essas qualidades nós as conhecemos vagamente. Para compreender a psicologia da rua não basta gozar-
lhe as delícias como se goza o calor do sol e o lirismo do luar. É preciso ter espírito vagabundo, cheio de 
curiosidades malsãs e os nervos com um perpétuo desejo incompreensível; é preciso ser aquele que 
chamamos flâneur e praticar o mais interessante dos esportes - a arte de flanar: É fatigante o exercício? 
Para os iniciados sempre foi grande regalo. A musa de Horácio, a pé, não fez outra coisa nos quarteirões 
de Roma. Sterne e Hoffmann proclamavam-lhe a profunda virtude, e Balzac fez todos os seus preciosos 
achados flanando. Flanar! Aí está um verbo universal sem entrada nos dicionários, que não pertence a 
nenhuma língua! Que significa flanar? Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter 
o vírus da observação ligado ao da vadiagem. Flanar é ir por aí, de manhã, de dia, à noite, meter-se nas 
rodas da populaça, admirar o menino da gaitinha alià esquina, seguir com os garotos o lutador do 
Cassino vestido de turco, gozar nas praças os ajuntamentos defronte das lanternas mágicas, conversar 
com os cantores de modinha das alfurjas da Saúde, depois de ter ouvido dilettanti, de casaca 
aplaudirem o maior tenor do Lírico numa ópera velha e má; é ver os bonecos pintados a giz nos muros 
das casas, após ter acompanhado um pintor afamado até a sua grande tela paga pelo Estado; é estar 
sem fazer nada e achar absolutamente necessário ir até um sítio lôbrego, para deixar de lá ir, levado 
pela primeira impressão, por um dito que faz sorrir, um perfil que interessa, um par jovem cujo riso de 
amor causa inveja... 
[...] 
(A alma encantadora das ruas, 1908) 
Disponível em < http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/a/a_alma_encantadora_das_ruas> 
Acesso em 20 de abril de 2012. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/a/a_alma_encantadora_das_ruas
13 
 
Para a atividade com os dois textos, o professor pode sugerir que os alunos comparem as duas 
concepções dos objetos “fotografados” pelas lentes de Drummond e João do Rio. 
A sala será divida em grupos para a análise dos textos. No entanto, todos lerão as duas 
crônicas. Um grupo de alunos construirá uma tabela que contenha os aspectos de 
caracterização do personagem (adjetivos escolhidos, descrições, repetições, marcadores 
subjetivos) do texto 1. Os mesmos atributos serão empregados para a personificação da rua no 
texto 2. Pode ser sugerido que os alunos consultem dicionários virtuais para tirar dúvidas do 
significado de alguns vocábulos e alguns nomes de escritores e personalidades citadas podem 
ser pesquisados no Google. No final, podem ser comparadas as duas acepções e explicitados 
quais aspectos da dimensão subjetiva da crônica são abordados nos dois textos. 
 
Etapa 3 – Biografando imagens 
Nesta etapa, o professor enviará as imagens a seguir para os alunos e solicitará que cada um 
selecione a fotografia desejada, observe detalhes da imagem e, antes de escrever uma crônica 
sobre a cena escolhida, faça um arquivo rascunho que contenha os direcionamentos: 
a) A crônica será de abordagem: () informativa, () literária ou () híbrida. 
b) É necessário o uso de um narrador ou interventor reflexivo (escritor implícito) que 
“fotografa” e/ ou reflete sobre o que é narrado? 
c) Quem são os personagens? Qual tipo de conflito ou progressão narrativa eles podem 
desencadear? 
d) Que tipo de interação os personagens estabelecem com o espaço no qual eles estão 
inseridos? 
e) Qual seria o possível desfecho para a crônica? Haveria intervenção pessoal, subjetiva do 
escritor/ narrador? 
FOTO 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sebastião Salgado 
Disponível em: <http://ideiasramificadas.zip.net/arch2009-06-01_2009-06-30.html>. Acesso em: 20 de abril de 2012. 
 
http://ideiasramificadas.zip.net/arch2009-06-01_2009-06-30.html
14 
 
FOTO 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Boris Kossoy 
 Disponível em: <http://evolucaofrancesa.com.br/blog/a-gosto-da-fotografia/> Disponível em: 20 de abril de 2012. 
 
FOTO 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cartier-Bresson 
 Disponível em <http://www.saibadesign.com/2010/09/cartier-bresson-um-olhar-lucido/> Acesso em 20 de abril de 
2012. 
 
 
 
 
http://evolucaofrancesa.com.br/blog/a-gosto-da-fotografia/
http://www.saibadesign.com/2010/09/cartier-bresson-um-olhar-lucido/
15 
 
 
 Etapa 4 – Fotografando a crônica 
Como última etapa, o aluno acessará o site http://sitenotadez.net/cronicas/ ou pesquisará na 
biblioteca e selecionará crônicas cujo conteúdo reflita sobre um problema crônico, uma crítica 
social. Em seguida, por meio do Google imagens ou com o auxílio de revistas e jornais, será 
selecionada uma foto que represente o tema ou a crítica destacada pelo escritor escolhido. O 
professor poderá organizar uma exposição dos textos e das imagens. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://sitenotadez.net/cronicas/
16 
 
Sugestão 23 
 
Dados da Aula 
O que o aluno poderá aprender com esta aula 
* Ler e interpretar uma notícia de jornal demonstrando conhecimento sobre o gênero. 
* Produzir uma crônica coletiva observando suas especificidades. 
* Correlacionar as estruturas textuais de cada gênero textual: crônica e notícia. 
 * Elaborar uma crônica, a partir de uma notícia de jornal . 
 
Duração das atividades: aproximadamente 3 aulas de 50 minutos 
 
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno 
Será necessário que o aluno esteja inserido no processo de letramento e que já tenha tido 
contato com o gênero Notícia de Jornal. 
 
Estratégias e recursos da aula 
 
Momento 1 
O professor iniciará a aula projetando o texto abaixo no data-show para ler juntamente com a 
turma: 
 
 
 
 
 
 
3 Aula adaptada do site http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=23180 
 
17 
 
Texto 1 
 
Notícia de Jornal 
Fernando Sabino 
Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, 
30 anos presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno 
centro da cidade, permanecendo deitado na calçada durante 72 horas, para 
finalmente morrer de fome. 
Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos e comentários, uma ambulância do 
Pronto Socorro e uma radiopatrulha foram ao local, mas regressaram sem prestar 
auxílio ao homem, que acabou morrendo de fome. Um homem que morreu de fome. 
Um homem que morreu de fome. O comissário de plantão (um homem) afirmou que o 
caso (morrer de fome) era da alçada da Delegacia de Mendicância, especialista em 
homens que morrem de fome. E o homem morreu de fome. 
O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Anatômico sem ser 
identificado. Nada se sabe dele, senão que morreu de fome. 
Um homem morre de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem 
caído na rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um 
pária, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa - não é um homem. 
 
(Texto na íntegra disponível no site: http://www.fotolog.com.br/spokesman_/70276847) 
 
Momento 2 
O professor conversará com os alunos acerca do conteúdo do texto. Para direcionar essa 
conversa, ele poderá lançar perguntas como: 
 Qual é o assunto do texto? 
 Como era o homem que morreu de fome? 
 Alguém ajudou esse homem? 
 Quem era o homem que morreu? 
 É possível identificar a opinião do autor a respeito desse acontecimento? 
 Qual é, na sua opinião, o sentimento do autor quanto ao fato de um homem morrer de 
fome na rua? 
 No texto fica evidente como o autor ficou sabendo dessa notícia. Como ele se 
informou desse fato? 
http://www.fotolog.com.br/spokesman_/70276847
18 
 
 O que as autoridades fizeram diante desse acontecimento? 
 Na sua opinião, por que o autor repete várias vezes que o homem morreu de fome? 
 
Momento 3 
Após essa primeira conversa, o professor indagará aos alunos se eles identificam algumas 
características nesse texto que podem o tornar diferente de outros textos como histórias 
narradas, poesias, receitas (e outros gêneros que eles conhecem). 
Os alunos deverão concluir que esse texto apresenta uma certa opinião do autor acerca de um 
acontecimento do cotidiano (Neste caso o fato de um homem morrer de fome). 
O professor informará aos alunos, caso eles ainda não conheçam esse gênero, que o texto de 
Fernando Sabino é uma CRÔNICA, e que as crônicas são textos narrativos, ligados à vida 
cotidiana, escritos com uma linguagem coloquial (menos formal) e que deixam transparecer 
opiniões dos autores. Geralmente, as crônicas são textos curtos que podem apresentar humor. 
 
Momento 4 
Para que os alunos possam compreender melhor as especificidades desse gênero, o professor 
apresentará a notícia de jornal abaixo para contrastar as diferençasentre os dois gêneros e 
também para compará-los quanto às semelhanças: 
 
HOMEM MORRE DE FOME NO CENTRO DA CIDADE 
Um homem de cor branca, 30 anos presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome 
ontem, no centro da cidade, depois de ter permanecido por setenta e duas horas deitado 
na calçada. Uma ambulância do Pronto Socorro e uma radiopatrulha, chamadas 
insistentemente por comerciantes instalados nas proximidades, nada fizeram, alegando 
que o caso fugia às suas atribuições, era da alçada da Delegacia de Mendicância. O 
corpo foi recolhido ao Instituto Médico Legal, onde aguarda identificação. 
(Notícia retirada do livro: Português: uma proposta para o Letramento. Livro 7. Autora: Magda Soares) 
Essa notícia será lida e o professor perguntará aos alunos: 
 Qual a semelhança entre os textos lidos? (Ambos apresentam o mesmo conteúdo, ou 
seja, o mesmo fato - um homem morreu de fome) 
 Quais as diferenças entre os textos lidos? (A notícia apenas apresenta o fato com um 
certo distanciamento, já a crônica apresenta o fato sob um outro ângulo, menos 
informativo e acrescido de um comentário implícito do autor) 
Nesse momento, a conversa será conduzida para que os alunos compreendam que ambos os 
textos apresentaram o mesmo fato, mas que a CRÔNICA é um texto que extrapola o campo da 
19 
 
mera exposição de um acontecimento e revela um caráter de questionamento e indagação 
acerca da vida cotidiana. 
Momento 5 
O professor dirá aos alunos: 
 Imaginem a situação: uma mulher é agredida na rua por um homem e ninguém a 
defende. 
A partir desse fato e das considerações acerca das características da crônica, será proposto 
que a turma escreva coletivamente uma crônica, contando, de forma mais detalhada, o 
acontecimento acima, deixando transparecer uma opinião. 
Para tanto, é importante que a turma decida coletivamente e apresente na crônica: 
1. Identidade da mulher 
2. Quando e onde o fato ocorreu. 
3. Por que ninguém a defendeu. 
4. Como a mulher ficou após a agressão. 
5. O que aconteceu no final. 
Esse texto poderá conter quatro parágrafos, sendo importante lembrar que o primeiro deve 
apresentar o fato ocorrido e os demais devem fornecer mais detalhes, ainda contendo 
comentários de forma não explícita, de acordo com as opiniões dos alunos. 
 
Momento 6 
Em um outro momento, a notícia, publicada no jornal VS , no dia 24/05/10, abaixo reportada, 
será apresentada para os alunos: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(Notícia retirada do site: 
http://4.bp.blogspot.com/_2DNDFChJs/TEXg36_97gI/AAAAAAAAABw/IGu_brHzI4Q/s1600/JORNAL.jpg) 
 
http://4.bp.blogspot.com/_2DNDFChJs/TEXg36_97gI/AAAAAAAAABw/IGu_brHzI4Q/s1600/JORNAL.jpg
21 
 
O professor pedirá que os alunos, em duplas, leiam e respondam às seguintes perguntas sobre 
a notícia de jornal. 
1. Quando essa notícia foi escrita? 
2. Em qual jornal ela foi publicada? 
3. Quem é o autor dessa notícia? 
4. Qual é a manchete (Título) da notícia? 
5. Por que, em sua opinião, "mãe assassinada" está em destaque na manchete? 
6. Qual o fato relatado na notícia? 
7. Onde aconteceu o assassinato? 
8. Como a mulher foi encontrada? 
9. Para onde foram levadas as crianças que testemunharam o crime? 
10. Qual outro problema já havia ocorrido com as crianças? 
11. O que você sente ao saber de uma violência como a relatada? 
12. Há informações na notícia a respeito do assassino? 
 
Momento 7 
Após a atividade realizada, a professora pedirá a diferentes duplas que respondam oralmente 
as perguntas, a fim de realizar uma correção e uma discussão do assunto. 
Em seguida, o professor pedirá que as mesmas duplas relatem o acontecimento da notícia lida: 
assassinato de uma mãe testemunhado pelos filhos, em forma de uma crônica. 
Para tanto, será necessário que o professor relembre que uma crônica é um texto narrativo 
que conta um acontecimento da vida social, com uma linguagem simples, não apresentando 
caráter jornalístico de informação (como é o caso da notícia) mas um caráter de narração ou 
contação de caso com criticidade. 
 
Momento 8 
Caso o professor queira ampliar os objetivos da aula e torná-la interdisciplinar poderá propor 
ao professor de História que realize uma discussão com os alunos a respeito da criminalidade 
crescente em nossa sociedade. 
 
Recursos Complementares 
Caso o professor queira complementar a aula poderá ler alguns exemplos de crônicas que podem ser 
encontrados no site: http://www.pensador.info/cronicas_de_luiz_fernando_verissimo/ 
http://
22 
 
Sugestão 34 
 
CRÔNICA: A ARTE DA VIDA NA SALA DE AULA 
Conteúdos 
Literatura, estudo de texto e gêneros textuais 
 
Habilidades: Identificar a estrutura da crônica em diferentes formas e espaços de comunicação 
e desenvolver o hábito da leitura. 
Duração das atividades: 3 aulas 
A crônica é o gênero mais confessional do mundo, pois o cronista tira os seus temas do próprio 
cotidiano e fala de tudo, de política a sentimentos pessoais, aberta ou disfarçadamente, 
deixando ao leitor o prazer do desvendar. Talvez por isso seja um texto dos mais agradáveis de 
ler e uma forma extremamente eficaz de seduzir o aluno para a leitura. Você pode aproveitar o 
texto de Lya Luft publicado em VEJA, para fazer um estudo desse gênero textual, colocando os 
alunos no papel de autores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 Sugestão adaptada da Revista Nova Escola. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/ensino-
medio/cronica-arte-vida-sala-aula-531809.shtml> Acesso em 02 de maio de 2012. 
 
http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/cronica-arte-vida-sala-aula-531809.shtml
http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/cronica-arte-vida-sala-aula-531809.shtml
23 
 
Lya Luft 
Brasileiro não gosta de ler? 
A meninada precisa ser seduzida. Ler pode ser divertido 
e interessante, pode entusiasmar, distrair e dar prazer 
 
 
Não é a primeira vez que falo nesse assunto, o da 
quantidade assustadora de analfabetos deste nosso 
Brasil. Não sei bem a cifra oficial, e não acredito muito 
em cifras oficiais. Primeiro, precisa ser esclarecida a 
questão do que é analfabetismo. E, para mim, 
alfabetizado não é quem assina o nome, talvez embaixo 
de um documento, mas quem assina um documento que 
conseguiu ler e... entender. A imensa maioria dos ditos 
meramente alfabetizados não está nessa lista, portanto 
são analfabetos – um dado melancólico para qualquer 
país civilizado. Nem sempre um povo leitor interessa a 
um governo (falo de algum país ficcional), pois quem 
lê é informado, e vai votar com relativa lucidez. Ler e escrever faz parte de ser gente. 
Sempre fui de muito ler, não por virtude, mas porque em nossa casa livro era um objeto 
cotidiano, como o pão e o leite. Lembro de minhas avós de livro na mão quando não 
estavam lidando na casa. Minha cama de menina e mocinha era embutida em 
prateleiras. Criança insone, meu conforto nas noites intermináveis era acender o abajur, 
estender a mão, e ali estavam os meus amigos. Algumas vezes acordei minha mãe 
esquecendo a hora e dando risadas com a boneca Emília, de Monteiro Lobato, meu 
ídolo em criança: fazia mil artes e todo mundo achava graça. 
E a escola não conseguiu estragar esse meu amor pelas histórias e pelas palavras. Digo 
isso com um pouco de ironia, mas sem nenhuma depreciação ao excelente colégio onde 
estudei, quando criança e adolescente, que muito me preparou para o mundo maior que 
eu conheceria saindo de minha cidadezinha aos 18 anos. Falo da impropriedade, que 
talvez exista até hoje (e que não era culpa das escolas, mas dos programas 
educacionais), de fazer adolescentes ler os clássicos brasileiros, os românticos, seja o 
que for, quando eles ainda nem têm o prazer da leitura. Qualquer menino ou menina se 
assusta ao ler Macedo, Alencar e outros: vai achar enfadonho,não vai entender, não vai 
se entusiasmar. Para mim esses programas cometem um pecado básico e fatal, afastando 
da leitura estudantes ainda imaturos. 
Como ler é um hábito raro entre nós, e a meninada chega ao colégio achando livro uma 
coisa quase esquisita, e leitura uma chatice, talvez ela precise ser seduzida: percebendo 
que ler pode ser divertido, interessante, pode entusiasmar, distrair, dar prazer. Eu sugiro 
crônicas, pois temos grandes cronistas no Brasil, a começar por Rubem Braga e Paulo 
Ilustração Atômica Studio 
 
24 
 
Mendes Campos, além dos vivos como Verissimo e outros tantos. Além disso, cada um 
deve descobrir o que gosta de ler, e vai gostar, talvez, pela vida afora. Não é preciso que 
todos amem os clássicos nem apreciem romance ou poesia. Há quem goste de ler sobre 
esportes, explorações, viagens, astronáutica ou astronomia, história, artes, computação, 
seja o que for. 
O que é preciso é ler. Revista serve, jornal é ótimo, qualquer coisa que nos faça 
exercitar esse órgão tão esquecido: o cérebro. Lendo a gente aprende até sem sentir, 
cresce, fica mais poderoso e mais forte como indivíduo, mais integrado no mundo, mais 
curioso, mais ligado. Mas para isso é preciso, primeiro, alfabetizar-se, e não só lá pelo 
ensino médio, como ainda ocorre. Os primeiros anos são fundamentais não apenas por 
serem os primeiros, mas por construírem a base do que seremos, faremos e 
aprenderemos depois. Ali nasce a atitude em relação ao nosso lugar no mundo, escolhas 
pessoais e profissionais, pela vida afora. Por isso, esses primeiros anos, em que se 
aprende a ler e a escrever, deviam ser estimulantes, firmes, fortes e eficientes (não 
perversamente severos). Já se faz um grande trabalho de leitura em muitas escolas. Mas, 
naquelas em que com 9 ou 10 anos o aluno ainda não usa com naturalidade a língua 
materna, pouco se pode esperar. E não há como se queixar depois, com a eterna 
reclamação de que brasileiro não gosta de ler: essa porta nem lhe foi aberta. 
 Atividades 
 
1ª aula - Apresente à classe uma lista com as características da crônica: 
 é publicada geralmente em jornais ou revistas; 
 relata de forma artística e pessoal fatos colhidos no noticiário jornalístico e no cotidiano; 
 consiste em um texto curto e leve, que tem por objetivo divertir e/ou fazer refletir 
criticamente sobre a vida e os comportamentos humanos; 
 pode apresentar elementos básicos da narrativa - fatos, tempo, personagens e lugar - com 
tempo e espaço não limitados; 
 o narrador pode ser observador ou se constituir em personagem; 
 emprega a variedade informal da língua; 
 pode apresentar discurso direto, indireto e indireto livre. 
Comente que o cronista expõe seu ponto de vista, seus comentários e deduções, suas ironias e 
interpretações a respeito de fatos (notícias ou dia-a-dia pessoal). Ele não tem, no entanto, por 
finalidade apenas a informação, mas sua universalização para que as pessoas aprendam 
alguma coisa com o que é, aparentemente, corriqueiro. Por isso, Lya Luft diz que esse é o 
melhor gênero para trabalhar em sala de aula. 
Lendo alguns trechos de crônicas extraídas de jornais e revistas, mostre que os cronistas 
transformam o cotidiano em literatura,. Depois disso, faça uma leitura coletiva do texto de Lya 
25 
 
Luft, ressaltando algumas características citadas anteriormente. Complete mostrando que a 
crônica nem sempre apresenta uma narrativa. Como neste caso, ela pode comentar, analisar, 
descrever, sugerir, exemplificar, de maneira leve e curta, o cotidiano. Certifique-se de que a 
moçada percebeu que Lya não apenas informa sobre o problema da leitura nas escolas 
brasileiras, mas nos faz refletir e sugere saídas para melhorar. 
2ª aula - De acordo com a disponibilidade da escola, leve os alunos à sala de informática e 
peça que, em pequenos grupos, pesquisem os autores citados em VEJA e alguns outros que o 
professor pode sugerir (de preferência, autores locais). Os jovens devem procurar uma crônica 
que fale sobre um tema que eles considerem interessante. Esta busca pode ser feita também 
em livros de Literatura, na biblioteca, ou em jornais e revistas. 
Depois da escolha feita, eles devem identificar as características gerais da crônica escolhida 
para apresentar aos colegas, por meio de leitura e comentários. Para não ficar muito longo, 
pode-se pedir que cada grupo identifique uma das características, lendo apenas o trecho 
referente a ela. Podem ser lidas por inteiro aquelas que despertarem maior envolvimento da 
turma. 
 
Vá destacando, durante as apresentações, a importância da coesão no desenvolvimento deste 
tipo de narrativa breve. As ideias e os fatos devem ser muito bem "costurados" para que o 
texto atinja seu objetivo. 
Finalmente, para a aula seguinte, encomende a produção individual de uma crônica com tema 
livre, usando os textos pesquisados como referência. 
3ª aula - Cada um lê e comenta sua crônica, explicando por que escolheu aquele assunto. Vale 
a pena fazer uma rápida avaliação oral coletiva. Pode levar umas duas aulas, mas você poderá 
ver o crescimento do interesse em ler as próprias produções e confirmar, a partir disso, a 
teoria de Lya Luft de que as crônicas são um ótimo instrumento a ser usado para estimular a 
leitura e a escrita. Dê um tempo para a exposição de opiniões e um breve debate sobre a tese 
do autor. 
 
Filme baseado na obra clássica de Gabriel Garcia Márquez 
Você pode também desenvolver mais a ideia, fazendo um projeto para um mês ou mesmo um 
bimestre. De qualquer forma, vale a pena fazer uma sessão do filme Crônica de uma Morte 
Anunciada - baseado no clássico de Gabriel Garcia Márquez (veja indicação abaixo) e indicar a 
leitura de paradidáticos da série Para Gostar de Ler, cinco volumes com crônicas selecionadas 
26 
 
que são uma ótima porta de entrada para o mundo da leitura. O ideal é que as escolhas sejam 
feitas de acordo com a faixa etária e a familiaridade do grupo com a leitura. 
Outra atividade complementar que pode servir de conclusão é a transposição dos textos 
produzidos para o teatro ou mesmo para filmes de curta metragem - filmados com telefones 
celulares. É uma boa maneira de deixar bem claro que a crônica representa o cotidiano. 
Quer saber mais? 
BIBLIOGRAFIA 
A Laranja da Crônica, Carlos Eduardo Novaes, em A Cadeira do Dentista e Outras Crônicas, Ed. 
Ática, tel.: (11) 3990-1775 
As Crônicas Revelam Minha Biografia, Raquel de Queiroz, em Cenas Brasileiras, Ed. Ática 
FILMOGRAFIA 
Crônica de Uma Morte Anunciada, de Francesco Rossi, 1987, LK. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
Sugestão 45 
LITERATURA NA ESCOLA - 7º ANO: CRÔNICAS DE LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO 
Objetivos 
Estimular o gosto pela leitura; 
Desenvolver a competência leitora; 
Desenvolver a sensibilidade estética, a imaginação, a criatividade e o senso crítico; 
Estabelecer relações entre o lido/vivido ou conhecido (conhecimento de mundo); 
Revelar o diálogo entre literatura e tradição cultural; 
Perceber as particularidades do gênero Crônica. 
 
Conteúdos 
Forma literária; 
Paráfrase, análise e interpretação; 
Alienação, Personificação e Coisificação; 
Ditadura Militar no Brasil. 
 
Duração das atividades: 5 aulas 
Material necessário 
- Livro O Nariz e Outras Crônicas. Luís Fernando Veríssimo, 112 págs, Editora Ática, Coleção 
Para Gostar de Ler. 
- Se possível, um computador ligado à Internet. 
 
Desenvolvimento 
 
1ª etapa: Sondagem oral 
Pergunte se os alunos já ouviram falar do cronista Luís Fernando Veríssimo. Conhecem alguma 
obra que ele publicou? E sobre Crônica, já ouviram falar? 
A partir desta primeira sondagem, inicie sua aula, apresentando à turma o escritor, bem como 
o gênero crônica. Se julgar necessário, entregue aos alunos o texto do boxe abaixo. 
 
 
 
5 Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/literatura-escola-7o-ano-cronicas-luis-fernando-verissimo-556378.shtmlAcesso em 02 de maio de 2012. 
 
http://www.atica.com.br/
http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/literatura-escola-7o-ano-cronicas-luis-fernando-verissimo-556378.shtml
28 
 
 
Luís Fernando Veríssimo e o gênero Crônica 
Luís Fernando Veríssimo se firmou como escritor por meio da profissão de jornalista. A partir 
de 1970, começou a escrever crônicas para o jornal Folha da Manhã e logo se consagrou como 
escritor. 
A definição do gênero Crônica até hoje é uma questão polêmica. Segundo o autor Jorge de Sá, 
no livro A Crônica, a aparência de simplicidade "decorre do fato de que a crônica surge 
primeiro no jornal, herdando a sua precariedade, esse seu lado efêmero de quem nasce no 
começo de uma leitura e morre antes que se acabe o dia, no instante em que o leitor 
transforma as páginas em papel de embrulho, ou guarda os recortes que mais lhe interessam 
no arquivo pessoal. O jornal, portanto, nasce, envelhece e morre a cada 24 horas. Nesse 
contexto, a crônica também assume sua transitoriedade, dirigindo-se inicialmente a leitores 
apressados, que leem nos pequenos intervalos da luta diária, no transporte ou no raro 
momento de trégua que a televisão lhes permite. Sua elaboração também se prende a essa 
urgência: o cronista dispõe de pouco tempo para datilografar o seu texto, criando-o, muitas 
vezes, na sala enfumaçada de uma redação. Mesmo quando trabalha no conforto e no silêncio 
de sua casa, ele é premiado pela correria com que se faz um jornal, o que acontece mesmo 
com suplementos semanais, sempre diagramados com certa antecedência. 
À pressa de escrever, junta-se a de viver. Os acontecimentos são extremamente rápidos, e o 
cronista precisa de um ritmo ágil para poder acompanhá-los. Por isso a sua sintaxe lembra 
alguma coisa desestruturada, solta, mais próxima da conversa entre dois amigos do que 
propriamente do texto escrito. Dessa forma, há uma proximidade maior entre as normas da 
língua escrita e da oralidade, sem que o narrador caia no equívoco de compor frases frouxas, 
sem a magicidade da elaboração, pois ele não perde de vista o fato de que o real não é 
meramente copiado, mas recriado. O coloquialismo, portanto, deixa de ser a transcriação 
exata de uma frase ouvida na rua, para ser a elaboração de um diálogo entre o cronista e o 
leitor, a partir do qual a aparência simplória ganha sua dimensão exata. 
No livro "O Nariz", de Luis Fernando Veríssimo, há uma crônica intitulada "Ela". Peça que os 
alunos anotem individualmente suas ideias a respeito deste título. O que ele deve significar? 
 
2ª etapa: leitura compartilhada do conto "Ela" e contextualização da obra: a década de 70 no 
Brasil Leia com a turma o conto "Ela" e peça que os alunos comentem suas impressões gerais. 
Em seguida pergunte se, após a leitura, as ideias que tinham a respeito do significado do título 
"Ela" se mantiveram ou foram alteradas? Justifique 
Peça para a moçada elencar todas as referências a fatos históricos e os títulos de 
programações de televisão que aparecem na crônica. Pergunte aos estudantes se entenderam 
essas referências, se sabem, por exemplo, o que era o Sheik de Agadir - título de uma novela 
da década de 1960 - citado na crônica. 
A turma certamente terá dificuldade em entender alguns fatos. Faça, então, a 
contextualização para a classe e apresente as questões político/históricas do Brasil na década 
de 1970 (saiba mais no texto abaixo). Se possível, convide o professor de História para ajudar 
nessa segunda etapa. Lembre-se que, conforme os alunos se aproximam do Ensino Médio, a 
tendência é a escola trabalhar mais com aqueles livros que o adolescente não conseguiria ler 
29 
 
por conta própria, seja por uma linguagem mais elaborada do ponto de vista estético, seja 
porque o livro pertence a uma época cujas referências o estudante desconhece. Cabe ao 
professor fornecer o repertório e os esclarecimentos necessários para que a leitura se torne 
acessível ao aluno. "O Nariz", por ser uma coletânea de crônicas, não apresenta grandes 
desafios do ponto de vista da linguagem, mas muitas narrativas fazem referências a questões 
políticas e sociais do Brasil que devem ser explicadas. 
 
 Na década de 1970, o Brasil ainda vivia sob o peso da ditadura militar e do Ato Institucional 
No 5. Não havia liberdade de imprensa e os opositores ao regime eram perseguidos e 
torturados. 
 Sob interesse dos governos militares e aproveitando o milagre econômico e a vitória da 
seleção brasileira em 1970, surgiam slogans e canções ufanistas como "Brasil, ame-o ou deixe-
o" e "pra frente Brasil" 
 
 
 
 
 
 
 
Foi também um tempo de expansão da indústria televisiva, da publicidade e dos meios de 
comunicação de massa. Toda criação artística que escapasse à censura era submetida a um 
forte esquema comercial. Em 1978, a novela Dancin`Days fazia sucesso com uma trilha sonora 
e figurinos baseados na Disco Music norte americana. 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
3ª etapa: análise da crônica "Ela" 
ELA 
Luís Fernando Veríssimo 
 
Ainda me lembro do dia em que ela chegou lá em casa. Tão pequenininha! Foi uma festa. 
Botamos ela num quartinho dos fundos. Nosso Filho – Naquele tempo só tinha o mais velho – 
ficou maravilhado com ela. Era um custo tirá-lo da frente dela para ir dormir. 
Combinamos que ele só poderia ir para o quarto dos fundos depois de fazer todas as lições. 
- Certo, certo. 
- Eu não ligava muito para ela. Só para ver um futebol ou política. Naquele tempo, tinha 
política. Minha mulher também não via muito. Um programa humorístico, de vez em quando. 
Noites Cariocas… Lembra de Noites Cariocas? 
- Lembro vagamente. O senhor vai querer mais alguma coisa? É, me serve mais um destes. 
Depois decidimos que ela podia ficar na copa. Aí ela já estava mais crescidinha. Jantávamos 
com ela ligada, porque tinha um programa que o garoto não queria perder. Capitão Qualquer 
Coisa. A empregada também gostava de dar uma espiada. José Roberto Kely. Não tinha um 
José Roberto Kely? 
- Não me lembro bem. O senhor não me leva a mal, mas não posso servir mais nada depois 
deste. Vamos fechar. 
- Minha mulher nem sonhava em botar ela na sala. Arruinaria toda a decoração. Nessa época 
já tinha nascido o nosso segundo filho e ele só ficava quieto, para comer, com ela ligada. Quer 
dizer, aos pouco ela foi afetando os hábitos da casa. E então surgiu um personagem novo nas 
nossas casas que iria mudar tudo. Sabe quem foi? 
- Quem? 
- O Sheik de Agadir. Eu, se quisesse, poderia processar o Sheik de Agadir. Ele arruinou o meu 
lar. 
- Certo. Vai querer a conta? 
- Minha mulher se apaixonou pelo Sheik de Agadir. Por causa dele, decidimos que ela poderia 
ir para a sala de visitas. Desde que ficasse num canto, escondida, e só aparecesse quando 
estivesse ligada. Nós tínhamos uma vida social intensa. Sempre iam visitas lá em casa. Também 
saíamos muito. Cinema, Teatro, jantar fora. Eu continuava só vendo futebol e notícia. Mas 
minha mulher estava sucumbindo depois do Sheik de Agadir, não queria perder nenhuma 
novela. 
- Certo. Aqui está a sua conta. Infelizmente temos que fechar o bar. 
31 
 
- Eu não quero a conta. Quero outra bebida. Só mais uma. 
- Está bem… Só mais uma. 
- Nosso filho menor, o que nasceu depois do Sheik de Agadir, não saía de frente dela. Foi 
praticamente criado por ela. É mais apegado a ela do que a própria mãe. Quando a mãe briga 
com ele, ele corre pra perto dela pra se proteger. Mas onde é que eu estava? Nas novelas. 
Minha mulher sucumbiu às novelas. Não queria mais sair de casa. Quando chegava visita, ela 
fazia cara feia. E as crianças, claro, só faltavam bater em visita que chegasse em horário nobre. 
Ninguém mais conversava dentro de casa. Todo mundo de olho grudado nela. E então 
aconteceu outra coisa fatal. Se arrependimento matasse… 
- Termine a sua bebida, por favor. Temos que fechar. 
- Foi a copa do mundo. A de 74. Decidi que para as transmissões da copa do mundo ela deveria 
ser bem maior. E colorida.Foi a minha ruína. Perdemos a copa, mas ela continua lá, no meio 
da sala. Gigantesca. É o móvel mais importante da casa. Minha mulher mudou a decoração da 
casa para combinar com ela. Antigamente ela ficava na copa para acompanhar o jantar. Agora 
todos jantam na sala para acompanhá-la. 
- Aqui está a conta. 
- E, então, aconteceu o pior. Foi ontem, hora do Dancin´Days e bateram na porta. Visitas. 
Ninguém se mexeu. Falei para a empregada abrir a porta, mas ela fez “Shhh!” sem tirar os 
olhos da novela. Mandei os filhos, um por um, abrirem a porta, mas eles nem me 
responderam. Comecei a me levantar. E então todos pularam em cima de mim. Sentaram no 
meu peito. Quando comecei a protestar, abafaram o meu rosto com a almofada cor de tijolo 
que minha mulher comprou para combinar com a maquiagem da Júlia. Só na hora do 
comercial, consegui recuperar o ar e aí sentenciei, apontando para ela ali, impávida no meio da 
sala: “Ou ela, ou eu!”. O silêncio foi terrível. 
- Está bem… mas agora vá para casa que precisamos fechar. Já está quase clareando o dia… 
- Mais tarde, depois da Sessão Coruja, quando todos estavam dormindo, entrei na sala, pé 
ante pé. Com a chave de parafuso na mão. Meu plano era atacá-la por trás, abri-la e retirar 
uma válvula qualquer. Não iria adiantar muita coisa, eu sei. Eles chamariam um técnico às 
pressas. Mas era um gesto simbólico. Ela precisava saber quem é que mandava dentro de casa. 
Precisava saber que alguém não se entregava completamente a ela, que alguém resistia. E 
então, quando me preparava para soltar o primeiro parafuso, ouvi a sua voz. “Se tocar em mim 
você morre”. Assim com toda a clareza. “Se tocar em mim você morre”. Uma voz feminina, 
mas autoritária, dura. Tremi. Ela podia estar blefando, mas podia não estar. Agi depressa. Dei 
um chute no fio, desligando-a da tomada e pulei para longe antes que ela revidasse. Durante 
alguns minutos, nada aconteceu. Então ela falou outra vez. ”Se não me ligar outra vez em um 
minuto, você vai se arrepender”. Eu não tinha alternativa. Conhecia o seu poder. Ela chegara lá 
em casa pequenininha e aos poucos foi crescendo e tomando conta. Passiva, humilde, 
obediente. E vencera. Agora chegara a hora da conquista definitiva. Eu era o único empecilho 
à sua dominação completa. Só esperava um bom pretexto para me eliminar com um raio 
catótico. Ainda tentei parlamentar. Pedi que ela poupasse a minha vida. Perguntei o que ela 
queria, afinal. Nada. Só o que ela disse foi “Você tem 30 segundos”. 
32 
 
- Muito bem. Mas preciso fechar. Vá para casa. 
- Não posso. 
-Por quê? 
- Ela me proibiu de voltar lá. 
 
Disponível em < http://mardepoesia.wordpress.com/2011/03/22/a-televisao-chico-buarque/> Acesso 
em 20 de abril de 2012. 
 
 
 
Em aulas expositivas dialogadas, analise a crônica "Ela" com a turma, obedecendo aos 
procedimentos de análise literária organizados abaixo: 
1) Paráfrase: 
A paráfrase é a primeira parte da análise. Ela é um resumo do enredo, um "contar a história 
com as suas próprias palavras", por isso deve ser curta e objetiva, deve resumir-se apenas ao 
essencial. 
 
Finalizada a leitura compartilhada, pergunte aos alunos do que fala o texto? 
Exemplo: 
A crônica "Ela" conta a história da influência crescente da televisão na vida de uma família 
brasileira, entre as décadas de 1960 e 1970. 
Confirme se a sala está de posse dessa compreensão mínima. Caso não esteja, retome a leitura 
compartilhada. 
2) Análise: 
Analisar é "desmontar" o texto, é verificar quais são as partes que o compõe e como elas se 
articulam. Cada obra literária tem inúmeros elementos que, articulados, a constituem. A ideia 
não é investigar todos - nem seria possível - mas apenas alguns. Quais? A análise deve 
construir argumentos que sustentem a interpretação. É ela que vai conduzir o leitor através do 
seu raciocínio. 
Não podemos nos esquecer também que, em arte, forma é conteúdo. Por isso, é preciso 
ressaltar a contribuição que alguns aspectos formais possam vir a ter na economia da crônica. 
O que são aspectos formais? São elementos que se referem menos diretamente a o que está 
sendo dito e mais ao como está sendo dito. O tipo de narrador, a caracterização de algum 
http://mardepoesia.wordpress.com/2011/03/22/a-televisao-chico-buarque/
33 
 
personagem, o tempo, o espaço e o tipo de discurso são alguns dos elementos formais que 
podem ser fundamentais para desvendar mistérios. 
Ao observar a crônica escolhida, é fácil perceber algo que, em sua forma, lhe chame a atenção. 
Por exemplo, o fato de a crônica "Ela" possuir inúmeras referências históricas não pode passar 
despercebido. Partindo do princípio que o escritor Luís Fernando Veríssimo domina 
plenamente a sua arte, devemos acreditar que tais referências contribuem para o sentido do 
texto. 
Outro elemento formal que chama atenção é o fato de o pronome pessoal "ela" sugerir, desde 
o título, uma personificação do objeto televisor. Tal personificação, que se intensifica ao longo 
do texto, também é produtora de sentido. 
Existem inúmeros elementos passíveis de análise em uma boa obra literária. Se tivermos um 
olhar atento no que se refere à forma, então já será possível traçar um caminho seguro pelo 
qual nossa análise pode seguir. Retomemos o tema depois. 
Exemplo de análise 
O título da crônica "Ela", por ser um pronome pessoal, sugere que a narrativa vai falar de uma 
pessoa do sexo feminino. Tal sugestão é intensificada nas primeiras frases: 
"Ainda me lembro do dia em que ela chegou lá em casa. Tão pequenininha! Foi uma festa." 
Em seguida, temos a impressão de que "Ela" é, na verdade, um animalzinho de estimação: 
"Botamos ela num quartinho dos fundos. Nosso filho - naquele tempo só tínhamos o mais velho 
- ficou maravilhado com ela. Era um custo tirá-lo da frente dela para ir dormir." 
 
Note que foram usadas citações de trechos da crônica. Isso não só é possível como geralmente 
é muito útil. Quanto mais sua análise der voz ao texto, melhor. 
 
Então a crônica realiza uma primeira quebra de expectativa com efeito de humor: percebemos 
que se trata de um aparelho de TV. 
"- Eu não ligava muito pra ela. Só pra ver um futebol, ou política. Naquele tempo tinha política. 
Minha mulher também não via muito. Um programa humorístico, de vez em quando. Noites 
Cariocas... Lembra de Noites Cariocas?- Lembro. Vagamente. O senhor vai querer mais alguma 
coisa." 
A partir do trecho acima, a crônica de Luís Fernando Veríssimo diz a que veio: temos a 
percepção de que o narrador-personagem narra sua história em diálogo com um interlocutor 
que, provavelmente, é um garçom que não parece muito disposto a escutá-lo. Temos uma 
referência ao golpe militar de 1964 ("Naquele tempo tinha política.") e podemos deduzir que 
os acontecimentos narrados têm início antes do Golpe e o narrador fala ao garçom ainda 
durante a repressão. Temos também, completando a referência temporal, a alusão a um 
programa televisivo de 1961: "Noites Cariocas". 
3) Comentário: 
34 
 
 
O comentário se faz necessário no momento em que a análise solicita informações externas à 
obra literária para elucidar seu sentido profundo. Isso porque a Literatura, apesar de sua 
relativa autonomia, faz parte do tecido social em que está inserida. Como explica Antonio 
Candido no livro Na sala de aula: caderno de análise literária, as "circunstâncias de sua 
composição, o momento histórico, a vida do autor, o gênero literário, as tendências estéticas 
de seu tempo, etc. Só encarando-a assim teremos elementos para avaliar o significado da 
maneira mais completa possível (que é sempre incompleta, apesar de tudo)". Nessa crônica as 
referências à história do Brasil são de fundamental importância para a compreensão do leitor. 
 
4) Continuação da análise: 
A partir de então o narrador conta que a família comprou um aparelho maior e o mudou para 
a copa, interferindo nos hábitos da família. Note que ele jamais deixa de personificar a 
televisão: 
"Aí ela já estava mais crescidinha.Jantávamos com ela ligada, porque tinha um programa que 
o garoto não queria perder. (...) A empregada também gostava de dar uma espiada. José 
Roberto Kelly." 
Aqui vale recorrer novamente ao comentário: Na entrada dos anos 60, a popularização dos 
desfiles de carnaval marcou o início da ascensão do samba-enredo e o declínio da marchinha e 
dos blocos. José Roberto Kelly foi um dos últimos compositores que brilharam no gênero, com 
Cabeleira do Zezé e Mulata Iê-Iê-Iê., antes do Ato Institucional no 5, de 1968. 
A narrativa continua contando como a televisão muda os hábitos da casa do narrador, assim 
como os da família brasileira: sua mulher começa a seguir apaixonadamente as telenovelas. 
"Foi então que surgiu um personagem novo nas nossas vidas que iria mudar tudo. Sabe quem 
foi? 
- Quem? 
- O Sheik de Agadir. Eu, se quisesse, poderia processar o Sheik de Agadir. Ele arruinou meu lar." 
Conforme o tempo passa e as novelas despertam interesse da família, a TV avança da copa 
para a sala de visitas, interferindo na vida social do casal. O narrador passa a marcar o tempo 
em função das telenovelas: 
"- Nosso filho menor, o que nasceu depois do Sheik de Agadir, não saía da frente dela. Foi 
praticamente criado por ela." 
Note que, à medida em que aumenta a influência do televisor, o recurso à personificação o 
torna cada vez mais humano e imperativo, enquanto a família, por sua vez, vai se tornando 
cada vez mais objetificada: 
"Minha mulher sucumbiu às novelas. Não queria mais sair de casa." "Ninguém conversava 
dentro de casa." "Agora todos jantam na sala para acompanhá-la." 
A situação chega ao limite com a novela Dancin´Days, de 1978, quando a esposa muda a 
decoração da sala para combinar com a maquiagem de Júlia -a atriz Sônia Braga. O 
narrador/personagem pede à família que escolha entre ele e a TV, mas a família responde com 
35 
 
um terrível silêncio. Quanto mais ele deseja contar sua história, menos seu interlocutor deseja 
escutá-lo, com pressa de fechar o bar: 
"_ Está bem. Mas agora vá para casa que precisamos fechar. Já está quase clareando o dia..." 
Então a crônica entra no registro da fantasia, com o pai de família tentando desligar a televisão 
como quem comete um assassinato. 
"Se tocar em mim, você morre". Uma voz feminina, mas autoritária, dura. Tremi. Ela podia 
estar blefando, mas podia não estar." 
Finalmente a crônica termina com a narrativa do fracasso do homem em se livrar do terrível 
aparelho. 
"- Muito bem. Mas preciso fechar. Vá para casa. 
- Não posso. 
- Por quê? 
- Ela me proibiu de voltar lá." 
6) Interpretação: 
A interpretação corresponde à questão "do que fala o texto?". Ela é a exposição do sentido 
profundo da obra literária. É ele que estamos buscando desde o início. Quando analisamos, 
queremos saber o que está dito por meio dos silêncios, nas entrelinhas; o que se origina da 
relação íntima entre forma e conteúdo. Se na análise desmontamos o texto em partes, na 
interpretação temos de reorganizá-lo como um todo, um todo de sentido capaz de reunir 
forma e conteúdo. Afinal, do que fala a crônica de Luís Fernando Veríssimo? 
Exemplo de interpretação 
"Ela" narra a influência desagregadora da televisão na vida de uma família entre as décadas de 
60 e 80. Mais que isso, as inúmeras referências históricas presentes na crônica permitem 
traçar um paralelo entre a família do narrador e a família brasileira. O humor crítico de L. F. 
Veríssimo mostra como a população brasileira se aliena diante da cultura de massa televisiva, 
tornando-se coisa, enquanto a televisão, personificada, torna-se gente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
 
4. Sugestões de 
Atividades : 
8º e 9º anos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
Sugestão 16 
Dados da Aula 
O que o aluno poderá aprender com esta aula 
 Ler crônicas literárias; 
 estabelecer relações entre a notícia e a crônica literária; 
 reconhecer os efeitos de sentido na (re)construção de notícias de jornal em crônicas 
do autor; 
 reconhecer os elementos de estruturação da crônica; 
 construir crônicas inspiradas em manchetes de jornal. 
Duração das atividades: 4 aulas de 50 minutos. 
Aula 1: 
Nesta aula será feito um estudo do gênero crônica (texto literário) relacionando-o com o 
gênero notícia (texto jornalístico). 
Trabalharemos as crônicas de Moacyr Scliar, publicadas na seção "Cotidiano" do jornal Folha 
de S. Paulo e transpostas para o livro O Imaginário Cotidiano, de 2001. 
Esta relação não é nova, visto que a crônica historicamente se fortalece no mesmo meio de 
publicação das notícias, o jornal impresso, e que a matéria tanto de um quanto de outro 
gênero são os fatos diários e corriqueiros, muitos, inclusive, no caso da crônica, tratados como 
pequenos acontecimentos do dia a dia, que passariam sem ser notados por sua pouca 
importância. 
Porém, tais acontecimentos, nas letras dos grandes escritores tornam-se eternos ou, ao 
menos, relevantes para a reflexão dos leitores. 
A relação entre a crônica de Scliar e a notícia é bastante interessante, como veremos, pois o 
autor baseia-se em acontecimentos publicados no mesmo jornal para criar seu texto literário. 
 
 
 
 
 
 
 
6
 Disponível e: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=30851 > Acesso em 03 de maio 
de 2012. 
 
Capa do livro O Imaginário 
cotidiano de 2001 
http://www.scliar.org/moacyr/l
ivros/livros.htm 
 
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=30851
http://www.scliar.org/moacyr/livros/livros.htm
http://www.scliar.org/moacyr/livros/livros.htm
38 
 
1ª ATIVIDADE 
Antes de adentrarmos o livro de Scliar e conhecermos as notícias que deram inspiração ao 
autor para as crônicas, é importante lembrar aos alunos das características mais comuns nos 
dois gêneros. 
Certamente seus alunos conhecem bem tais gêneros, questione-os sobre o que poderia ser 
apontado como próprio de cada um e registre as informações necessárias para compor um 
quadro comparativo. 
Provavelmente, o quadro comparativo seria como este: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Há outras características que se aplicam a um ou outro gênero e lembremos que pode haver 
muitas comuns entre eles. 
O quadro acima é apenas uma referência para o que se espera do registro após a conversa 
com os alunos. 
Abaixo um link no qual há um resumo sobre a crônica literária. 
http://www.sitedeliteratura.com/Teoria/cronicas.htm 
A relação entre a crônica e a notícia publicadas em jornal é muito próxima se pensarmos que 
os dois gêneros têm relativamente uma vida curta. 
Em meio à dinâmica do cotidiano e à pressa dos leitores, o texto curto e rápido da crônica, de 
linguagem aparentemente simples, perde-se do olhar da maioria dos leitores a cada dia, como 
bem afirma Jorge de Sá: 
 
http://www.sitedeliteratura.com/Teoria/cronicas.htm
39 
 
 
A aparência de simplicidade, portanto, não quer dizer desconhecimento das 
artimanhas artísticas. Ela decorre do fato de que a crônica surge primeiro no jornal, 
herdando a sua precariedade, esse seu lado efêmero de quem nasce no começo de 
uma leitura e morre antes que se acabe o dia, no instante em que o leitor transforma 
as páginas em papel de embrulho, ou guarda os recortes que mais lhe interessam 
num arquivo pessoal. O jornal, portanto, nasce, envelhece e morre a cada 24 horas. 
Nesse contexto, a crônica também assume essa transitoriedade, dirigindo-se 
inicialmente a leitores apressados, que leem nos pequenos intervalos da luta diária, no 
transporte ou no raro momento de trégua que a televisão lhes permite. (...) 
À pressa de escrever, junta-se a de viver. Os acontecimentos são extremamente 
rápidos, e o cronista precisa de um ritmo ágil para poder acompanhá-los. Por isso a 
sua sintaxe lembra alguma coisa desestruturada, solta, mais próxima da conversa 
entre dois amigos do que propriamente do texto escrito. Dessa forma, há uma 
proximidade maior entre as normas da língua escritae da oralidade, sem que o 
narrador caia no equívoco de compor frases frouxas, sem a magicidade da 
elaboração, pois ele não perde de ser a transcriação exata de uma frase ouvida na 
rua, para ser a elaboração de um diálogo entre o cronista e o leitor, a partir do qual a 
aparência simplória ganha sua dimensão exata. (SÁ, p. 10-11). 
 
 
As crônicas escolhidas para esta aula poderiam ser um exemplo desta transitoriedade, se 
tivessem sido apenas publicadas no jornal impresso. 
Mas a partir do momento que seu autor decide transportá-las para as páginas de um livro, as 
crônicas passam a ter um suporte mais sólido, mais sofisticado e mais duradouro. 
 
Portanto, quando a crônica passa do jornal para o livro, sua existência e seu valor 
como texto literário se ampliam, podendo ser lido em qualquer tempo e não apenas 
em um dado momento da história. 
Professor, distribua para os alunos o trecho de Jorge de Sá, citado acima, e, após a 
leitura individual, inicie um debate na sala de aula objetivando analisar o comentário 
do autor, relacionando suas ideias sobre as expectativas do leitor de crônicas e sobre a 
linguagem deste gênero com as características da crônica e da notícia apontadas 
anteriormente no quadro. 
Antes de passar para a segunda atividade, indique para os estudantes a pesquisa dos 
links abaixo que os levarão a um pouco de conhecimento sobre o autor Moacyr Scliar 
entrevistado no programa Roda Viva da TV Cultura. 
"Roda Viva" entrevista Moacyr Scliar: 
40 
 
http://www.youtube.com/watch?v=H2LWNhRDMTk 
http://www.youtube.com/watch?v=mLyyUDnplwM&feature=related 
http://www.youtube.com/watch?v=m1u2I-Ld2HU&feature=relmfu 
http://www.youtube.com/watch?v=j9i91fiaPdQ&feature=related 
Após a pesquisa, pergunte a seus alunos quais as manifestações mais curiosas e 
interessantes do autor sobre sua relação com o texto escrito. 
 
 
2ª ATIVIDADE 
Professor, comente com seus alunos sobre as crônicas escolhidas para esta aula, retiradas do 
livro O imaginário cotidiano, de Moacyr Scliar. 
Tais narrativas foram inspiradas em notícias publicadas no jornal Folha de S. Paulo, e 
inicialmente publicadas também naquele suporte. Apesar disso, o autor deixa claro no prefácio 
que deveria escrever ficção, narrativas imaginárias, e não notícias. Os fatos reais são apenas 
uma luz para iluminar o caminho da imaginação do escritor. 
Abaixo, professor, indicaremos algumas crônicas do autor, retiradas das páginas do acervo 
eletrônico do jornal, assim como as notícias que inspiraram cada criação de Moacyr Scliar. 
Divida a turma em 8 pequenos grupos e estabeleça como tarefa para a atividade a busca da 
notícia e da crônica neste suporte virtual. 
Caso possuam o livro, basta buscar a notícia no site do jornal e fazer a leitura da crônica no 
suporte que desejarem. 
Sorteie e distribua os textos aos grupos, além de algumas questões para a apresentação após a 
leitura: 
a) Qual a relação da crônica com a notícia? Aponte semelhanças temáticas e as diferenças na 
composição dos gêneros. 
b) Encontre nas notícias os dados reais, ou seja, identifiquem uma realidade específica: local 
de ocorrência, data, nome dos personagens envolvidos. 
Discuta com os colegas e conclua se o mesmo ocorre na crônica. 
c) Encontre no texto literário de Moacyr Scliar marcas de uma linguagem menos formal: 
regionalismos, gírias, construções coloquiais etc. 
http://www.youtube.com/watch?v=H2LWNhRDMTk
http://www.youtube.com/watch?v=mLyyUDnplwM&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=m1u2I-Ld2HU&feature=relmfu
http://www.youtube.com/watch?v=j9i91fiaPdQ&feature=related
41 
 
d) Quais os comentários do narrador, situações insólitas ou efeitos estilísticos de humor ou 
ironia presentes na crônica? 
Discuta com os colegas e conclua se o mesmo ocorre na notícia. 
e) Qual é o foco dado ao tema na crônica? O texto literário estimula o leitor a fazer algum tipo 
de reflexão sobre o fato cotidiano? Como vocês a interpretam? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
48 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
49 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
50 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
51 
 
Sugestão 27 
O que o aluno poderá aprender com esta aula 
 Compreender os objetivos do gênero; 
 Conhecer as características do gênero; 
 Identificar as características da crônica argumentativa a partir dos estudos realizados. 
Duração das atividades: 3 horas/ aula 
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno 
Habilidades básicas de leitura; 
Conhecimento sobre o gênero crônica narrativa; 
Noções de texto argumentativo/opinativo. 
Estratégias e recursos da aula 
Primeira parte: 
Professor: inicie a aula apresentado as imagens abaixo para os alunos. Após a observação, 
pergunte-lhes o que elas sugerem, permita que os alunos levantem hipóteses. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7
 Aula retirada do site: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=28486 
 
 
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=28486
52 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagens disponíveis em: 
http://www.google.com.br/images?hl=pt-br&um=1&ie=UTF-
source=og&sa=N&tab=wi&biw=1024&bih=578&q=globaliza%C3%A7%C3%A3o&tbs=isch:1 
Professor: assim que os alunos terminarem as considerações sobre as imagens, distribua cópia 
do texto “Globalização é bom ou ruim? de Hila Rodrigues e selecione alguns alunos para 
realizarem a leitura em voz alta. 
Globalização é bom ou ruim? 
 A palavra “globalização” quer dizer a união de todos os países do mundo em busca de uma 
coisa só: desenvolvimento, crescimento e uma economia forte. Ou seja, muito trabalho, muita 
produção de bens para vender, muitos serviços para oferecer, etc. No fundo, são ações 
voltadas para a geração de riquezas que possam beneficiar a todos. 
 O problema é que, na prática, as coisas ainda não estão acontecendo desta maneira. Os 
países pobres continuam pobres. E os ricos continuam ricos e mais poderosos. O resultado é 
que em alguns lugares, como o Brasil, grande parte das pessoas continua sem emprego e, 
portanto, sem dinheiro para levar uma vida melhor — com boa alimentação, bom 
atendimento na área de saúde, boas escolas, etc. 
 Na opinião das pessoas que organizam o Fórum Social Mundial, a globalização só tem sido 
boa para os países do Primeiro Mundo, como os Estados Unidos, por exemplo. Os 
organizadores afirmam que no Brasil, onde muitas pessoas não têm sequer a chance de ir à 
escola, ainda há muito o que fazer antes de discutir os interesses dos países mais ricos. E foi 
exatamente para chamar a atenção desses países mais desenvolvidos que os organizadores do 
Fórum Social Mundial decidiram realizar suas reuniões na mesma semana em que era 
realizado, na Suíça, o Fórum de Davos, que foi um encontro entre todos os representantes dos 
países mais ricos. Eles se reuniram para discutir o futuro da economia em todo o mundo, ainda 
com base na globalização. 
 
http://www.google.com.br/images?hl=pt-br&um=1&ie=UTF-source=og&sa=N&tab=wi&biw=1024&bih=578&q=globaliza%C3%A7%C3%A3o&tbs=isch:1%20

Continue navegando