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UNIVERSIDADE DE VASSOURAS PRÓ-REITORIA DE INTEGRAÇÃO, CIÊNCIAS HUMANAS, SOCIAIS APLICADAS E RELAÇÕES EXTERNAS CURSO DE PEDAGOGIA Letícia Gabriela da Silva Oliveira A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA NA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Vassouras 2020 UNIVERSIDADE DE VASSOURAS PRÓ-REITORIA DE INTEGRAÇÃO, CIÊNCIAS HUMANAS, SOCIAIS APLICADAS E RELAÇÕES EXTERNAS CURSO DE PEDAGOGIA Letícia Gabriela da Silva Oliveira A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA NA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Monografia apresentada como requisito parcial da conclusão do curso de Pedagogia da Universidade de Vassouras, tendo como orientador a Prof.ª Mestra Suely Cristina de Souza Fernandes Crahim. Vassouras 2020 UNIVERSIDADE DE VASSOURAS PRÓ-REITORIA DE INTEGRAÇÃO, CIÊNCIAS HUMANAS, SOCIAIS APLICADAS E RELAÇÕES EXTERNAS CURSO DE PEDAGOGIA Letícia Gabriela da Silva Oliveira A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA NA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Monografia apresentada como requisito parcial da conclusão do curso de Pedagogia da Universidade de Vassouras, tendo como orientador o Prof.ª Mestra Suely Cristina de Souza Fernandes Crahim. Aprovada em ______________ de 2020, com média ___________. Banca Examinadora ____________________________________ Prof. ____________________________________ Prof.ª ____________________________________ Prof. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pela oportunidade de cursar o Ensino Superior, por Ele ter me sustentado diante dos desafios e por ter me agraciado durante toda essa trajetória. A minha mãe, que me ofertou um apoio incansável, nunca mediu esforços para me ajudar, e por seu amor desde sempre. À Universidade por ter sido um espaço agradável e por todos os mestres que passaram em minha formação. Gratidão por todos os conhecimentos e dedicação. Às professoras mestras Suely Crahim – minha orientadora neste Trabalho de Conclusão por me incentivar e acreditar em mim “de olhos fechados” – Paola Groetaers, pelo auxílio – Débora Ribeiro – orientadora do meu primeiro Trabalho de Conclusão no Curso de Capacitação em Educação Especial na fundação CECIERJ, que remodelou meus conceitos sobre apresentação de trabalhos, bem como fazê-los – e ao professor mestre Adiel Ricci. À doutora Naiara Valim, pois me ajudou a refletir acerca do equilíbrio, dentre tantas outras coisas. Às amigas que fiz na Universidade. Nossos caminhos se cruzaram inesperadamente e posso dizer que elas se tornaram pessoas muito importantes. Enfim... agradeço pela vida, pela natureza e por todos que, de certa forma, contribuíram para esse itinerário. “O segredo está em saber como a criança aprende e não como se ensina.” (AGOSTINI, 2020). RESUMO Este trabalho objetivou estudar como a Neurociência dialoga com a Educação, principalmente com a Deficiência Intelectual (D.I.). Portanto, analisou-se a deficiência em questão, apresentou-se os aportes que a ciência mencionada traz para pessoas com a D.I. e suas contribuições de cunho pedagógico para esse público. Para isso, foi realizada uma revisão de literatura baseada em autores como Relvas, Cosenza e Guerra, Fernandes, Vargas, Maia, Grossi, entre outros. A pesquisa está dividida em três grandes áreas: Neurociência (conceito, bases da aprendizagem, inteligência, sua relação com a Educação e com os professores), Deficiência Intelectual (histórico, causas, classificação, diagnóstico, comorbidade e preceitos da inclusão educacional) e a união da Neurociência às propostas pedagógicas – cujo devem se fazer presentes na adaptação curricular, favorecendo, assim, o aprendizado dos indivíduos com D.I. Ao final da análise evidenciou-se que para se estimular corretamente os educandos com Deficiência Intelectual, é preciso fomentar o desenvolvimento das funções executivas, e os docentes, assim como os demais profissionais especializados, devem se imergir em estudos desse cunho, a fim de terem ações mais precisas e trabalhar, de fato, com a Neurociência aplicada à D.I. Palavras-chave: Educação Especial. Neurociência. Neurocognição. Práticas pedagógicas. ABSTRACT This work aimed to study how Neuroscience dialogues with Education, mainly with Intellectual Disability (I.D.). Therefore, the disability in question was analyzed, the contributions that the mentioned science brings to people with I.D. were presented. and their pedagogical contributions to this audience. For this, a literature review was made based on authors such as Relvas, Cosenza and Guerra, Fernandes, Vargas, Maia, Grossi, among others. The research is divided into three main areas: Neuroscience (concept, bases of learning, intelligence, its relationship with Education and with teachers), intellectual disability (history, causes, classification, diagnosis, comorbidity and precepts of educational inclusion) and the union of Neuroscience with pedagogical proposals - whose must be present in the curricular adaptation, thus favoring the learning of individuals with I.D. At the end of the analysis, it became evident that in order to properly stimulate students with intellectual disabilities, it is necessary to encourage the development of executive functions, and teachers, as well as other specialized professionals, must immerse themselves in studies of this nature, in order to have more precise actions and work, in fact, with Neuroscience applied to I.D. Keywords: Special Education. Neuroscience. Neurocognition. Pedagogical practices. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 09 2 A CIÊNCIA DO CÉREBRO: EM PAUTA, A NEUROCIÊNCIA..................... 11 2.1 O processo de aprendizagem sob o olhar neurocientífico.................................... 12 2.1.1 2.2 2.2.1 3 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 Inteligência: há como mensurar?............................................................................... Neurociência e Educação: um diálogo possível..................................................... Formação dos professores e a Neurociência............................................................. DEFICIÊNCIA INTELECTUAL.......................................................................... Contexto histórico................................................................................................... Causas....................................................................................................................... Classificação............................................................................................................. Diagnóstico............................................................................................................... Comorbidades.......................................................................................................... Considerações sobre os preceitos da inclusão...................................................... 14 18 20 22 23 26 27 29 29 30 4 4.1 4.2 4.3 NEUROCIÊNCIA E DEFICIÊNCIA INTELECTUAL...................................... Funções executivas................................................................................................... Adaptação curricular.............................................................................................. Propostas pedagógicas aliadas à Neurociência e Deficiência Intelectual...........33 33 34 36 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 39 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 41 9 1 INTRODUÇÃO Quando há o ingresso em uma instituição escolar, estima-se que a trajetória dos alunos será de sucesso e bons rendimentos, sem nenhum paralelo que possa obstruir o caminho. No entanto isso é praticamente impossível, pois alguns carregam consigo cargas emocionais, físicas, disfunções congênitas ou adquiridas. Ainda que haja essas ocorrências, não se pode ater a elas o fracasso, e sim, ir em busca de soluções que serão benéficas tanto para o estudante e sua família, quanto pata a unidade de ensino. Geralmente essas dificuldades são percebidas na escola, e é necessário o empenho da equipe, e encaminhamento aos demais profissionais, para que quanto mais cedo houver um parecer, mais esse indivíduo poderá evoluir. Ainda no contexto da escola, é importante ressaltar que o processo de ensinar e aprender sofreu mudanças ao longo do tempo. Antes, predominava o absolutismo do professor em relação ao conteúdo, sendo os aprendizes totalmente submissos. Já nos modelos atuais, o aluno deve ser o agente dos conhecimentos. Sem contar que os métodos de ensino zelam pela ludicidade, formação crítica do cidadão e observação do educando a partir das particularidades, integralidades e necessidades educacionais especiais que eles expõem. A Deficiência Intelectual é uma dessas necessidades que acomete pelo menos 1% de crianças em idade escolar (FERNANDES, 2016, p. 20). Como conceitua Fernandes, (2016, p. 20) ela pode ser percebida quando a pessoa apresenta um desempenho cognitivo anormal, antes dos dezoito anos, e tenha pelo menos dois desses comprometimentos em algumas áreas, tais como: fala, tarefas domésticas, relações sócio ou interpessoais, auto orientação, habilidades acadêmicas, dentre outros. O referido autor (p. 22) também expõe que a DI “pode ser considerada uma síndrome clínica”, pois conta com diversos mecanismos causadores, como fatores pré, pós e peri natais, além da influência do ambiente externo. Para Vargas e Maia (2014, p. 45), a D.I. “carrega fatores limitantes que se inserem na questão mesma de sua conceituação e compreensão por parte dos profissionais”, pois se difere das outras necessidades educacionais especiais por não ser “evidente” e ser comumente confundida como preguiça ou imaturidade. Ribeiro e Freitas (2019, [n. p.]) atribuem a essa deficiência um atraso no mecanismo de maturação cerebral, sendo necessárias estimulações nessa área para obtermos um desenvolvimento mais avantajado. Seguindo a linha de estudo das autoras, a Neurociência vem ao encontro dessa perspectiva, uma vez que para Cosenza e Guerra (2011, p. 142) elas “estudam os neurônios e suas moléculas constituintes, os órgãos do sistema nervoso e suas funções específicas e 10 também as funções cognitivas e o comportamento que são resultantes da atividade dessas estruturas”. Portanto, a Neurociência e a Educação devem ter um diálogo extremamente necessário, pois tem a intenção de “colaborar para fundamentar práticas pedagógicas que já se realizam [...] e sugerir ideias para intervenções, demonstrando que as estratégias pedagógicas que respeitam como o cérebro funciona tendem a ser mais eficientes.” (COSENZA; GUERRA, 2011, p. 143). Tendo em vista que a D.I. se caracteriza como limitações na cognição, a Neurociência explica a dinâmica cerebral e processos de aprendizagem e a Educação coloca em prática essa vertente, o diálogo entre as três áreas pode ser muito proveitoso. Dá-se, a partir disso, a relevância dessa pesquisa. A importância de se discutir sobre a Neurociência e a Deficiência Intelectual surge devido ao fato que os dois conceitos, de certa forma, estão interligados, no entanto, não há a recorrente união deles, bem como escassez de recursos bibliográficos. A notabilidade da pesquisa, portanto, encontra-se na junção dessas ponderações, visando intuir o processo cognitivo de um deficiente intelectual com maior refinamento, trazendo à tona informações comumente não expostas. Objetiva-se, primordialmente, compreender como a Neurociência dialoga com a Educação e com a Deficiência Intelectual. Seguido de analisar a D.I em um todo, apresentar os aportes que a ciência em questão traz para com esses indivíduos e propor estratégias pedagógicas em consonância com ela. Esta revisão de literatura contará com autores como Relvas, Cosenza e Guerra, Fernandes, Vargas, Maia, Grossi, entre outros, e está dividido em três grandes áreas: Neurociência (discutir-se-á seu conceito, como ocorre a aprendizagem, os questionamentos sobre inteligência, relação da Neurociência com a Educação e o conhecimento dos professores acerca da Neurociência), Deficiência Intelectual (histórico, causas, classificação, diagnóstico, comorbidade e preceitos da inclusão educacional) e a união da Neurociência e D.I. (função executiva, adaptação curricular e propostas pedagógicas entre os dois eixos principais da pesquisa). 11 2 A CIÊNCIA DO CÉREBRO: EM PAUTA, NEUROCIÊNCIA Em um universo cheio de dinamicidade e possibilidades são necessários subsídios que fortaleçam cada vez mais os conhecimentos existentes, bem como a descoberta de outros. As Neurociências1 vieram com esse intuito: fazer um estudo apurado de aspectos antes não considerados como fundamentais. A Neurociência é a ciência que busca compreender o funcionamento do Sistema Nervoso (SN). Portanto, como está ligada ao SN, direciona seu estudo aos neurônios, as moléculas constituintes, suas funções específicas e cognitivas. Por conseguinte, também tem fundamento nas áreas da Anatomia, Fisiologia, Neurologia, Psicologia, Psiquiatria e até na Educação. Em um contexto mais simples, a Neurociência é a ciência do cérebro (COSENZA; GUERRA; 2011; RELVAS, 2012; RUSSO, 2015). De acordo com Relvas (2015) e Grossi, Lopes e Couto (2014), a Neurociência pode ser dividida: • Molecular: Estuda a física e química das funções neurais. Como exemplo dessas alterações temos as funções humanas como a fala, sensações, compreensão, dentre outros. • Celular: Diferenciação e função entre as células do SN. Também investiga a transmissão e recepção de informações provindas dos neurônios. • Sistêmica (ou de sistemas): Investiga os grupos de neurônios que executam a mesma função através de conexões e circuitos. Aspectos motores, percepção, pensamento, atenção são exemplos comuns. • Comportamental: Estuda a junção dos sistemas que abarcam o comportamento, como controle postural, sensações visuais, vestibulares (nervo auditivo) e proprioceptivas (cinestesia). • Cognitiva: Estudo das capacidades mentais relacionadas à aprendizagem, memória, linguagem e habilidades motoras. 1 Uma vez que engloba aspectos de outras áreas, Grossi, Leroy e Almeida (2015, p. 36) dizem que é mais apropriado se referir a ela como “neurociências”. No entanto, é mais habitual não a usar o termo no plural. 12 Sendo assim, de acordo com o enfoque que se deseja, é necessário a investigação aprofundada em uma das áreas da Neurociência. Por ser uma “nova” ciência, sua maior descoberta é que o cérebro tem uma grande capacidade de modificação. Compreensão essa que não havia no passado. Outro fator que não era explorado, e atualmente vem ganhando espaço, é a importância da neurogênese – formação de neurônios advindos das células-tronco neurais e progenitores neurais –, sinaptogênese – formação de novos neurônios e sinapses que irão completar os circuitos nervosos –, e a neuroplasticidade – habilidade de o cérebro se adaptar às mudanças e se reorganizar, traduzindo-se como relevante para as intervenções psicopedagógicas – para a Educação (COZENZA; GUERRA,2011). Dessa forma, entende-se que o cérebro é uma “central” passível de renovações e geração de novas células. De acordo com Bartoszeck (2013, apud GROSSI; LEROY; ALMEIDA, 2015, p. 37) ao se discutir acerca de Neurociência, é imprescindível conhecer os sete princípios postulados por ele: aprendizagem, modificação do cérebro, períodos do cérebro sensíveis para determinadas aprendizagens, plasticidade neuronal, inúmeras áreas do córtex, evolução do cérebro e a resposta às gravuras, imagens e símbolos, devido aos aspectos primitivos. Para se chegar aos conceitos que temos atualmente, muitas hipóteses e pesquisas foram realizadas desde a antiguidade. Em uma linha histórica, Relvas (2012, p. 29-33) elenca que o primeiro a pensar sobre o cérebro foi Hipócrates – que considerava que a existia a mente no cérebro – e Aristóteles – que afirmava que a sede da mente era no coração. Seguido deles, outros pesquisadores também tiveram sua influência como Gortz e Ferrier cujo dedicaram seus estudos aos fundamentos do cérebro. O posto de pai da Neurociência moderna é de Santiago Ramón y Cajal, em 1906. Ele dedicou se ao estudo do SN a partir da técnica de impregnação da prata. Adiante, descreveu com detalhes a organização do SN e publicou trabalhos sobre anatomia geral e patológica do cérebro, manual de histologia, dentre outros. (FREIRE, 2006, p. 146 – 147) 2.1 O processo de aprendizagem sob o olhar neurocientífico Relvas (2012, p. 53) defende que do ponto de vista educacional, conhecer o caminho que a aprendizagem percorre é um grande desafio, pois demanda unir as vertentes da ciência, aprendizagem, ensino e Educação. Sena (2015) complementa o diálogo dizendo que tanto nós educadores, como cientistas, absorvemos que não há aprendizagem sem cérebro, e por conseguinte, entra em 13 ação os neurônios, neurotransmissores, sinapses entre outros. O percurso não é simples, mas cabe aqui uma breve explicação. Sob a visão de Cosenza e Guerra (2011, p. 17-18), para entender como ocorre a aprendizagem, é preciso se apoderar de como as informações chegam ao SN e atingem o cérebro. O início se dá nos processos sensoriais – que captam uma espécie de energia. Em seguida, um circuito é originado onde uma informação é passada de uma célula à outra até chegar geralmente ao córtex cerebral, que faz o processamento e ativa a consciência. Nas palavras de Relvas, (2015, p. 36-37) o córtex cerebral é divido em quatro lobos com funcionalidades distintas: • Lobo frontal – Localizado no córtex pré-frontal, ele relaciona-se com as funções superiores responsáveis, por exemplo, pela concentração, habilidade intelectual, julgamentos dentre outros • Lobo parietal – Está ligado à interpretação, à integração de informações visuais e sensitivas (principalmente o tato). • Lobo temporal – A parte posterior cuida da recepção e decodificação de estímulos auditivos, que se coordenam com as visuais. Já a anterior se relaciona com atividades de cunho visceral (olfato, gustação). • Lobo occipital – Área visual. De forma sintetizada, A aprendizagem é consequência de uma facilitação da passagem da informação ao longo das sinapses2. Mecanismos bioquímicos entram em ação fazendo com que os neurotransmissores sejam liberados em maior quantidade ou tenham uma ação eficiente na membrana pós sináptica. [...] Do ponto de vista neurobiológico, a aprendizagem se traduz pela formação e consolidação das células nervosas. É fruto de modificações químicas e estruturais no sistema nervoso de cada um, que exigem energia e tempo para se manifestar. (COSENZA, GUERRA, 2011, p. 38). Para os autores (p. 41) nem toda a informação chega a ser processada, pois é desnecessária e o nosso cérebro não tem capacidade de examinar tudo ao mesmo tempo. Nesse contexto, entra a atenção: fenômeno pelo qual direcionamos o foco para cada momento, abstraindo o desnecessário. “Podemos dizer que o cérebro tem uma motivação intrínseca para aprender, mas só está disposto a fazê-lo para aquilo que reconheça como significante” (p. 48). 2 Sinapses corresponde à passagem de informação entre as células (COSENZA; GUERRA, 2011, p. 13). 14 No construto da Educação, (p. 38;48) incumbe aos professores entender que a aprendizagem de cada um passa por uma linha de individualidade. Contudo, um conteúdo estimulante, agradável, bem como minimização de elementos distratores e estratégias mais didáticas tendem a contribuir para o alvo atencional, e, subsequentemente a aprendizagem. 2.1.1 Inteligência: há um jeito correto mensurá-la? Como Cosenza e Guerra (2011, p. 117) dissertam, a inteligência não é algo simples de ser conceituado, pois o conceito é amplo. Além disso, sofre modificações de acordo com a cultura e o decorrer do tempo. Segundo eles (p. 117), pesquisadores sobre o assunto propuseram uma definição da inteligência de modo abrangente: “é uma capacidade muito geral que, entre outras coisas, envolve a habilidade de raciocinar, planejar, resolver problemas. Ela não se limita às performances acadêmicas, ou precisão ao responder testes, e sim, espelha a capacidade de compreender o ambiente, o contexto e os sentidos. Do ponto de vista neurocientífico, [...] a inteligência não tem uma localização cerebral específica, mas é produto do funcionamento de sistemas cerebrais interconectados que dependem da eficiência da substância branca3, que promove a conexão entre os diversos centros nervosos. (COSENZA; GUERRA; 2011, p. 125). Em uma perspectiva histórica, Pereira (s.a., p. 2) explica que o psicólogo Alfredo Binet e Theodore Simon, em 1900, desenvolveram um instrumento para testar as habilidades verbais e lógicas das crianças de Paris. Esse instrumento tinha como base os currículos acadêmicos. Assim surgiram os primeiros testes de inteligência, com a função de segregação entre alunos “normais” dos “com problemas”. Doze anos depois, Stern cria o termo “QI” (Quociente de Inteligência) para representar o nível mental e propor o uso do termo idade cronológica e idade mental. A disseminação do QI. foi a partir da Primeira Guerra Mundial, com o objetivo de medir a inteligência dos soldados (PEREIRA, s.a., p. 2). Em 1916 o psicólogo Lewis Terman, da Universidade Stanford (EUA), adaptou o teste de Binet, nomeando-o como Stanford-Binet. Era avaliado a aritmética, memorização e vocabulário (MOIÓLI, 2020). 3 Substância branca se refere à matéria branca formada por grupos de axônios. Esses, são prolongamentos no corpo celular que transmitem impulsos de um neurônio para outro. (BRANQUINHO-SILVA, 2016) 15 Charles Spearman, em 1927, propõe o fator de inteligência geral (“g”), uma variável que relaciona as diferentes habilidades cognitivas de um indivíduo. Segundo ele, o “g” explicaria até 50% da inteligência nas medições, mas críticos acreditam que Spearman desvaloriza outras aptidões importantes (MOIÓLI, 2020). Já em 1983, Howard Gardner propõe a teoria das inteligências múltiplas, dividindo-se nove categorias: verbal-linguística (usar “bem” as palavras), lógico-matemática (utilizar os números e o raciocínio de uma forma “abstrata”), espacial (desenvolvimento apurado da percepção do mundo de forma espacial e visual), existencial (reflexão sobre a própria existência), musical (expressar-se através do ritmo e músicas), corporal-cinestésica (facilidade em tarefas proprioceptivas, táteis e hápticas), naturalística (sentimento positivo quando se está em contato com a natureza), interpessoal (entender o outro, suas intenções) e intrapessoal (autoconhecimento). (SIMÕES; NOGARO; YUNG, 2018). Em contrapartida, Silva (2003, apud PEIXOTO, 2005, p. 1950) diz que o pesquisador Sternberg sugere que a inteligência poderia ser analisada segundo as habilidades analíticas, criativas e práticas, tendo ou não ligação umas com as outras. Adad e Matos dizem que [...] o quocientede inteligência é avaliado pela utilização de extensas baterias de testes psicométricos, como a escala WAIS-R (Wechsler Adult Intelligence Scale – Revised).Essas escalas de avaliação são constituídas por diferentes subtestes, voltados ao exame de processos cognitivos, tais como nível geral de informação, pensamento lógico e abstrato, habilidades verbais e aritméticas, capacidades viso espaciais e viso-construcionais, atenção, memória e destreza psicomotora. No entanto, os resultados dessas escalas devem ser interpretados com cautela, em função das variáveis envolvidas na realização dos diferentes subtestes. Fatores como nível de instrução formal, faixa etária, presença de doença física ou psiquiátrica e utilização de drogas psicoativas podem interferir no desempenho em vários subtestes cognitivos, alterando de maneira significativa o índice final do quociente de inteligência. (ADAD; MATOS, 2001, p.31). Além dos métodos já citados, também contamos com o apoio da “psicometria”, que como defende Pasquali, [...] procura explicar o sentido que têm as respostas dadas pelos sujeitos a uma série de tarefas, tipicamente chamadas de itens. A TCT4 se preocupa em explicar o resultado final total, isto é, a soma das respostas dadas a uma série de itens, expressa no chamado escore total (T). (PASQUALI, 2009, p. 993) 4 TCT – Classical test theory 16 De acordo com Vasconcelos (2000 apud MARTELETO; FERREIRA; CHIARI; PERISSINOTO, 2012, p. 370), por meio de curvas de referências é possível realizar avaliações. A curva de referência consiste nos limites de normalidade de um indivíduo, comparando-o com aqueles que não estão se desenvolvendo de acordo com a faixa etária. As curvas de referência no âmbito da saúde, [...] são construídas com o objetivo de descrever o comportamento da variável resposta de interesse segundo uma variável explicativa em uma população de referência. As curvas de referência vêm sendo recomendadas desde quando o National Center for Health Statistics (Organização Mundial de Saúde) divulgou para os Estados Unidos, um referencial antropométrico para crianças de 0 a 18 anos de idade de ambos os sexos. (MARTELETO; FERREIRA; CHIARI; PERISSINOTO, 2012, p. 370) Esse padrão foi reconhecido pela OMS em 1995, com a finalidade de avaliar de diferentes grupos raciais. Em seguida, expandiu-se internacionalmente. Por orientação do Ministério da Saúde, esse referencial também foi adotado no Brasil. A construção de curvas de referência pode ser feita pelo método transversal (pequena amostra de uma determinada área de um país, região ou cidade, com um custo financeiro mais baixo) e método longitudinal (feito a longo prazo. Os dados se baseiam em um grupo de pessoas desde o nascimento até a fase adulta.). (MARTELETO; FERREIRA; CHIARI; PERISSINOTO, 2012, p.370). Outro modo de medir a inteligência geral e habilidades do ser humano é o método Stanford-Binet. Criado genuinamente para auxiliar a inserção das crianças nas classes educacionais mais adequadas, uma vez que através do método era possível investigar a ocorrência de problemas de aprendizagem, atrasos de desenvolvimento e retardo mental. A partir dessa “triagem”, os planejamentos seriam adequados e haveria um encaminhamento para uma avaliação neuropsicológica (MARTELETO; FERREIRA; CHIARI; PERISSINOTO, 2012, p. 370). Marteleto et al. (2012, p. 370) afirmam que o teste recorrentemente usado no Brasil por meio de adaptação transcultural e tradução desde os anos 2000 é a quarta edição do Stanford-Binet. Ele avalia o fator inteligência como “único” e composto por habilidades cognitivas específicas. Essa escala mensura o desempenho cognitivo dos dois anos até à idade adulta, pois é composta por subtestes caracterizando as aptidões intelectuais em estudos transversais e longitudinais. 17 Mais recentemente, em 2011, iniciou-se a discussão na University College London e do Centre for Educacional Neuroscience pondo em pauta que o QI pode aumentar ou diminuir durante a adolescência. Sendo assim, a intelectualidade não é fixa, e sim, mutável (MOIÓLI, 2020). Pasquali (2001, apud MARTELETO; FERREIRA; CHIARI; PERISSINOTO, 2012, p. 369) afirma que “quatro parâmetros necessitam ser analisados na aplicação de um teste psicológico: a validade, a precisão ou fidedignidade, a padronização e a normatização”. Diante do exposto, Reconhece-se, hoje, que o uso de metodologias diversificadas no estudo da inteligência poderá proporcionar uma maior ajuda aos sujeitos, contribuindo cada perspectiva de análise com dados específicos. (PEIXOTO, 2005, p. 1950). Daniel Goleman sustenta a teoria da inteligência emocional. Portanto, para o teórico, inteligência é emoção e o raciocínio provem da inteligência emocional de cada indivíduo (RELVAS, 2015, p. 117). Além das teorias já explicitadas, também é importante considerar as múltiplas eficiências do cérebro para ampliarmos as concepções de inteligências. Relvas (2015, p. 43- 44) defende a existência do cérebro individual – localizado na caixa craniana, algo intrínseco e responsável por tarefas intelectuais e decisões –, cérebro social – engloba cultura, sociedade –, cérebro motor, cérebro afetivo-emocional e cérebro criativo. Os próprios nomes remetem as suas respectivas funções. Quanto à predominância dos estilos de aprendizagem (auditivo, visual, cinestésico), Branquinho-Silva (2016) afirma que sob o olhar da Neurociência, não há fundamento empírico para tal. O que acontece, é que cada indivíduo tem determinada preferência. Em virtude disso, os educadores precisam adequar as estratégias de ensino. Ainda no que tange inteligência, Cosenza e Guerra (2011, p. 122) incorporam que fatores culturais, ambientais e genéticos também interferem nesse quesito. Diante do exposto, torna-se explícito que não há um único jeito de medir a cognição, uma vez que não é algo “concreto”, tampouco classificar a inteligência através de um único pressuposto. No entanto, é necessário usar um parâmetro a fim de avaliar determinados comportamentos que causam preocupação. Embora as avaliações baseadas em QIs sejam consideravelmente fidedignas, o sujeito precisa ser avaliado em sua totalidade. 18 2.2 Neurociência e Educação: um diálogo possível Já discutimos o conceito de Neurociência. Agora haverá um redirecionamento à parte pedagógica. À propósito, quando falamos em “pedagógico”, logo pensamos em aprendizagem, sala de aula, Educação. Esse último termo, de acordo com Russo (2015, p. 19) se configura como o estudo direcionado ao ensino-aprendizagem. A união da Neurociência com a Educação resulta em conceitos que abarcam os saberes sobre o cérebro aliado à atuação pedagógica, porquanto estima-se a aplicabilidade de diferentes estímulos, bem como os mais adequados, em momentos categóricos (RELVAS, 2012, p. 58). Geralmente a discussão sobre a Neurociência e aprendizagem/Educação é pautada nos aspectos da Neurociência cognitiva: relação do cérebro, cognição para áreas valiosas para a Educação (VALECUP, 2018). Ademais, a Neuropedagogia também é um ramo que ampara a junção de mecanismos neuronais, sustentando ações cognitivas, motoras, afetivas, sociais e emocionais no que diz respeito à aprendizagem (RELVAS, 2012, p. 53). Relvas (2015, p. 54) considera que com a neuropedagogia é possível entrelaçar ciência com Educação. Por conseguinte, surgem os “sujeitos cerebrais”: aqueles alunos que argumentam e constroem uma certa autonomia para aprendizagem. Esses estudantes cada vez mais estão com seus sentidos biológicos cada vez mais estimulados devido ao mundo contemporâneo, o que faz com que suas conexões nervosas nunca se estanquem. Outrossim, admite-se a existência da neuroeducação: termo criado por Susan Leibig, com fundamentalmente dois propósitos: desenvolvimento de ferramentas para correção de dificuldades escolares ea oferta de uma inclusão social capaz de extrair o potencial de cada educando, baseando-se unicamente em suas capacidades, transformando-as em talento. Essa teoria, segundo a autora, é capaz de diminuir a evasão escolar, promovendo aprendizagens duradouras e significativas (VALECUP, 2018). Apesar das nomenclaturas expostas, a Neurociência colaborando com a Educação possui um desígnio específico: entender como se dá a aprendizagem, para assim atuar de maneira precisa. Através desse raciocínio, Pantano e Assencio-Ferreira (2009, apud RUSSO, 2015, p. 65) aponta que O cérebro é a matéria prima para o processo de aprendizagem. É o principal responsável pela integração do organismo com o seu meio ambiente. Se consideramos a aprendizagem resultante da interação do indivíduo com o 19 meio ambiente, percebemos que é ele que propicia o arcabouço biológico para o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Kandel (2009, p. 32) evidencia que A aprendizagem na verdade é, nada mais, nada menos, que uma série de alterações que ocorrem nas células nervosas que compõem nosso cérebro. Quando uma dada célula está envolvida em aprender, ela literalmente cresce. Esse crescimento está ligado com estímulos, com a plasticidade cerebral, que indica à capacidade de remodelação do cérebro de acordo com as experiências e com a plasticidade sináptica, uma espécie de reforço a cada nova aquisição (RELVAS, 2015, p. 119- 121). Nesse panorama é preciso que os docentes estabeleçam métodos de aprendizagem baseados na emoção, conexões afetivas e emocionais, pois como garante a autora (2015, p. 55), à medida que o sistema nervoso conhece um determinado estímulo, desencadeia uma lembrança, e, por conseguinte, ela promove uma mudança. O oposto desse conjunto libera cortisol e adrenalina, o que promove o estresse e o bloqueio de aprendizagem. Segundo ela, (p. 147) esse “é o melhor conceito neurocientífico para se entender como ocorre a aprendizagem no cérebro humano”. Tão importante quanto os estímulos, As Neurociências têm mostrado que os processos cognitivos e emocionais estão profundamente entrelaçados no funcionamento do cérebro e têm tornado evidente que as emoções são importantes para o comportamento mais adequado à sobrevivência seja selecionado em momentos importantes da vida dos indivíduos. (COSENZA; GUERRA; 2011, p. 76). A fisiologia da aprendizagem, portanto, embasa-se na construção, manutenção e renovação das redes neurais, que representam as interconexões entre os neurônios do cérebro. Toda a mudança que ocorre nelas provém da estimulação ambiental e amadurecimento dos neurônios (RIBEIRO; FREITAS, 2019). Diante do exposto, fica explícito que as ações educacionais resultam em uma estimulação direta. Essa é a mais importante interface entre a Neurociência e a Educação. No entanto, não basta somente que os professores queiram que seus alunos façam a aquisição de conhecimentos, mas que esses sejam construídos, manipulados e utilizados. O resultado provém de atividades, como o cerne da palavra propõe (OLIVEIRA, 2014, p. 20). 20 Cabe avultar que a Neurociência isoladamente não é capaz de realizar a “mágica do ensinar e aprender.” (COSENZA; GUERRA; 2011, p. 143). Todo seu pressuposto deve estar adepto a uma área afim, por se tratar de uma ciência inter e multidisciplinar. 2.2.1 Formação dos professores e a Neurociência Grossi et al. (2014, p. 33-34) realizaram uma pesquisa que revelou um cenário inquietante envolvendo os cursos de Pedagogia do Brasil: de 352 matrizes analisadas, dentre faculdades e universidades públicas e privadas, cerca de 94% não abordam disciplinas que envolvam os aparatos da Neurociência. Cosenza e Guerra (2011, p. 145) assentem com os autores já expostos e dizem que a falta de temas neurocientíficos na formação de educadores é um “urgente desafio”. Para eles, como os professores e gestões, no geral, possuem uma formação primordialmente humanística a fim de compreender a Educação. Essa percepção de um estudo mais voltado às ciências cognitivas é assegurado pelas Diretrizes Nacionais Curriculares para o Curso de Graduação em Pedagogia. No entanto, fica a desejar os aspectos no que tange o atendimento das demandas da aprendizagem e de uma exigência específica nas temáticas relacionadas às Neurociências (GROSSI et al., 2014, p. 35). Embora as disciplinas de cunho neurocientíficos não estejam incluídas nos bancos acadêmicos, Oliveira (2014) afirma que os educadores expressam desejo de conhecer a Neurociência e aplicar seus princípios. Segundo o autor, (2014, p. 15) os professores “estão ansiosos para aprender sobre estas descobertas e para contribuir com ideias e sugestões.” Na perspectiva de Grossi et al. (2014, p. 16), considera-se extremamente necessário que os cursos de Pedagogia deem espaço para disciplinas de Neurociência. Grossi, Leroy e Almeida (2015, p. 39) consentem com esse pensamento, afirmando ser necessário uma mudança no cenário educacional brasileiro, porquanto se os estudos de cunho neurocientífico ofertam mudanças no processo de aprendizagem, é preciso inclui-los nas matrizes. [...] há muito para ser discutido sobre a inclusão de propostas de novas disciplinas nas matrizes curriculares dos cursos analisados neste estudo, pois mesmo no caso das universidades que têm autonomia e um grau de liberdade para organizar sua matriz curricular, existem algumas regras estabelecidas pelo CNE que não podem ser alteradas, como, por exemplo, a carga horária mínima e as disciplinas obrigatórias. Portanto, essa questão deve ser amplamente analisada e discutida em todas as instâncias das universidades e das faculdades. No que diz respeito à produção nacional, a temática 21 Neurociência na Educação ainda se encontra tímida, embora haja um interesse cada vez maior, percebido nos últimos dez anos [...]. (GROSSI, et al., 2014, p. 38). Apesar de a maioria dos docentes não terem domínio formal dos conceitos neurocientíficos aplicados à Educação, Grossi (2018, p. 130) afirma que eles seguem suas práticas pedagógicas concernentes com alguns princípios da Neurociência de Bartoseck (2013 apud GROSSI, 2018, p. 125) como: utilizar jogos e brincadeiras, cartazes e Tecnologias Assistivas, sob o critério do qual a aprendizagem, memória e emoções estão interligadas; utilização de práticas esportivas, aulas à passeio, atendendo o preceito que o cérebro se modifica de maneira estrutural e fisiológica como resultado da experiência etc. Visando a promoção da Neurociência na Educação, Grossi et al. (2014, p. 32) fomentam que há algumas iniciativas que buscam disseminá-la: o Projeto Plural (discussões acerca da Neurociência cognitiva aplicada à Educação), NeuroEduca (capacita e orienta professores sobre os fundamentos neurobiológicos do processo ensino e aprendizagem e intervenções nesse processo), Comunidade Aprender Criança (pioneira no aperfeiçoamento do ensino e aprendizado de acordo com os progressos nas pesquisas sobre o cérebro, no Brasil), dentre outros. Ainda assim é necessário investir e apoiar a qualificação e capacitação dos professores, através de cursos e oficinas, com a finalidade de fortalecer a prática educacional (e as estratégias que já são utilizadas em sala de aula) conhecendo, precisamente, as formas de ensinar, e, por conseguinte, haverá ações mais aperfeiçoadas (GROSSI, 2018). 22 3 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DMS), em sua 5ª edição publicada em 2014, a Deficiência Intelectual pode ser definida como um transtorno, que se inicia ainda no período de desenvolvimento do indivíduo e inclui disfunções intelectuais, funcionais e adaptativos, podendo se ampliar às esferas conceituais, sociais e práticas. Dessa forma, a capacidade mentalpara raciocinar, planejar, pensar de forma abstrata e solucionar problemas abstratos acarretam prejuízos, uma vez que a pessoa com Deficiência Intelectual não consegue atingir padrões de independência pessoal, comunicação e produtividade acadêmica ou profissional. O DSM-5 fomenta que para que haja o “enquadramento” na Deficiência Intelectual, é preciso se encaixar nos seguintes critérios, tidos como características dessa deficiência: A. Déficits em funções intelectuais como raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e aprendizagem pela experiência confirmados tanto pela avaliação clínica quanto por testes de inteligência padronizados e individualizados. B. Déficits em funções adaptativas que resultam em fracasso para atingir padrões de desenvolvimento e socioculturais em relação a independência pessoal e responsabilidade social. Sem apoio continuado, os déficits de adaptação limitam o funcionamento em uma ou mais atividades diárias, como comunicação, participação social e vida independente, e em múltiplos ambientes, como em casa, na escola, no local de trabalho e na comunidade. C. Início dos déficits intelectuais e adaptativos durante o período do desenvolvimento (com início antes dos dezoito anos de idade). (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 33). A falta de concentração, dificuldade de interação e comunicação, déficit nas competências linguísticas, alteração na motricidade fina e ampla e objeção quanto ao equilíbrio e locomoção, além de autocuidado e controle emocional, também são características peculiares da D.I. (VALECUP, 2020). Como se pode perceber, essa deficiência está ligada intimamente com o desenvolvimento cognitivo. Dessa forma, é imprescindível que haja testagens cognitivas para determinar o quociente de inteligência de cada pessoa. É importante ressaltar que o QI não deve ser medido de forma isolada, mas sim de uma forma global, analisando aspectos genéticos, culturais e sociais (FERNANDES, 2016, p. 21). 23 Apesar da Deficiência Intelectual ser uma condição crônica, conforme o indivíduo expande suas vivências e novas aprendizagens são agregadas, é possível melhorar suas condições de aprendizagens. No entanto, isso não significa que terá sua cognição “normalizada” (FERNANDES, 2016, p. 21). Santos (2012, p. 937) defende que a Deficiência Intelectual pode ser entendida como estrutural, pois a organização intelectual sofre danos. Porém, é necessário que haja estímulos para o processo de aprendizagem, pois essa capacidade é intrínseca a todo ser humano. Seguindo a linha de pensamento da autora, embora a D.I. seja, de fato, uma deficiência, não significa, necessariamente, que a pessoa que a tem seja incapaz, afinal, ela tem competência para realizar tarefas, mas dentro de suas peculiaridades. A Deficiência Intelectual acomete 1% de crianças em idade escolar, sendo esse uma das condições que mais interferem prejudicialmente o processo de ensino-aprendizagem (FERNANDES, 2016, p. 20). 3.1 Contexto histórico Historicamente a concepção de deficiência passou por várias fases nas quais envolvia crenças, misticismo, segregação, exclusão, integração até chegar na atual inclusão. A exemplo da Idade Antiga (Grécia), aqueles que possuíam alguma deficiência eram jogados de penhascos, pois não eram capazes de fazer contribuições ao Estado. As crianças eram vistas como um “problema” a ser eliminado. Já na Idade Média, os deficientes eram vistos como seres divinos para a Igreja Católica e “demônios” para Lutero. Na Idade Moderna, apesar do preconceito ainda existir, uma concepção de “reabilitação” dos deficientes ganhou força (MIRANDA, 2008). A Organização Mundial da Saúde (OMS) em sua primeira tentativa a fim de universalizar o conceito de deficiência, postulou que elas se refeririam a toda ou qualquer irregularidade de natureza psicológica, fisiológica ou anatômica. A CIF - Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – em 2001, amplia a definição de deficiência, atribuindo também fatores sociológicos (GARGHETTI; MEDEIROS; NUERNBERG; 2013, p. 103). Acerca da Deficiência Intelectual, 24 [...] até o século XVIII era confundida com doença mental e tratada exclusivamente pela medicina por meio da institucionalização que se caracterizava pela retirada das pessoas com deficiência de suas comunidades de origem, mantendo-as em instituições situadas em localidades distantes de suas famílias, permanecendo isoladas do resto da sociedade, fosse a título de proteção, de tratamento, ou de processo educacional (ARANHA, 2001 apud GARGHETTI; MEDEIROS; NUERNBERG; 2013, p. 103). O precursor do atendimento as pessoas com Deficiência Intelectual foi o médico Jean Marc Itard, no início do século XIX, que começou o atendimento com “débeis mentais” (termo comum à época) na tentativa de educar um “idiota”: o Selvagem de Aveyron. O método consistia na estimulação do cérebro através de atividades físicas e sensoriais (GARGHETTI; MEDEIROS; NUERNBERG; 2013, p. 103; MIRANDA, 2008, p. 2). Edouard Séguin, seguiu a mesma linha de trabalho de Itard, sendo considerado um marco, pois “além dos estudos teóricos e do método educacional, dedicou-se ao desenvolvimento de serviços, criando em 1837 a primeira escola para deficientes intelectuais” (GARGHETTI; MEDEIROS; NUERNBERG; 2013, p.108). Seu método de trabalho se fundava na estimulação do cérebro dos rotulados “idiotas”. Séguin também foi o primeiro presidente da organização de pesquisa dirigida a estudos sobre a deficiência mental, a Associação Americana de Retardo Mental – AAMR –, fundada em 1876 (MIRANDA, 2003; PLETSCH, 2009). Maria Montessori também direcionou seus estudos para a Deficiência Intelectual ao confeccionar materiais concretos que favorecessem a aprendizagem. A médica “realizou com jovens dos arredores de Roma, identificadas com Deficiência Intelectual, relativamente às quais veio a comprovar que as suas dificuldades resultavam, sobretudo, da fraca estimulação sensorial que tinham tido ao longo da sua vida” (SILVA; COELHO, 2014, p. 167). O termo comumente usado até a década de 80 era deficiência mental. Apesar disso, muitos outros termos pejorativos como tonto, imbecil, débil etc. já existiram (SASSAKI, 2005, p. 10). Em 1995, quando a Organização das Nações Unidas – ONU - realizou o simpósio nominado “Intelectual disabilty: programs, policies, and planning for the future” o termo deficiência mental começou a ser mais questionado. No ano de 2002, [...] a Confederação Espanhola para Pessoas com Deficiência Mental aprovou por unanimidade uma resolução substituindo a expressão “deficiência mental” por “Deficiência Intelectual”. Isto significa que agora a Confederação passa a ser chamada Confederação Espanhola para Pessoas 25 com Deficiência Intelectual (Confederación Española de Organizaciones en favor de Personas con Discapacidad Intelectual). Esta organização aprovou também o novo Plano Estratégico de quatro anos para melhorar a qualidade de vida, o apoio institucional e os esforços de inclusão para pessoas com Deficiência Intelectual. (NASCIMENTO; SZMANSKI; 2013, p. 15.680). A até então AAMR carregou o termo “retardo mental” em seu nome. Através das renovações, “American Association on Intellectual and Developmental Disabilities”, foi o novo nome da associação em 2007, popularmente conhecida como AAIDD. Sassaki (2005, p. 10) explica que a troca do termo “mental” por “intelectual” é porque o primeiro se refere ao funcionamento da mente, elemento que faz com que o indivíduo tenha consciência do mundo, lócus do pensamento e emoção. Já o segundo diz respeito ao funcionamento do intelecto, que diz respeito ao processamento de informações, lócus do raciocínio. Paralelo à discussão sobre deficiência mental versus intelectual, também haviacomparação entre doença mental – apoiada nos preceitos da emoção, mudanças, comportamento, pensamentos – e a deficiência, cujo já foi esclarecida nas linhas anteriores. É importante evidenciar que apesar da similaridade das palavras, os contextos são diferentes, e sem relação direta uns com os outros. Para Silva (2016, p. 50) a mudança terminológica está agregada não apenas ao conceito da palavra, mas uma mudança de significados que fazem com que essa anormalidade deixe de ser um traço centrado na pessoa para passar a ser um fenômeno humano correspondente aos coeficientes organicistas e sociais. A autora ainda acrescenta que A importância deste caminho evolutivo é que a Deficiência Intelectual não se considera um traço absoluto, fixo na pessoa. Mas também, a construção sociológica da pessoa com Deficiência Intelectual exemplifica a interação entre a pessoa e o seu ambiente, e centra-se no papel que o apoio individualizado pode desempenhar na melhora do funcionamento humano, não se esquecendo da busca e compreensão dos princípios inerentes ao movimento social da deficiência. (AAIDD, 2010, p. 20, apud SILVA, 2016, p.50). A nova impressão do material da AAIDD torna explicita a preferência pelo “novo” termo, pois a nova conceituação engloba o termo socioecológico de deficiência, abrange práticas profissionais de natureza funcional e contextualizada, apoia bases para oferecer um trabalho individualizado, é um termo mais suave, concerne com as terminologias internacionais (SILVA, 2016, p. 50). De acordo com Santos (2010, apud SILVA; COELHO, 2014, p. 174), 26 [...] a literatura mais recente mostra-nos que nos encontramos numa fase em que se assiste a uma redefinição dos paradigmas, das terminologias e das metodologias sobre a temática, feita à luz das últimas investigações, situando-se a dificuldade intelectual e desenvolvimental dentro dessa redefinição e constituindo, por isso, uma das novas terminologias a adotar. À vista disso, torna-se evidente que a terminologia indica a maneira de como as comunidades se comportam, veem seus semelhantes e adquirem conhecimentos específicos da área afim. Arrisca-se dizer que a terminologia pode influenciar no ponto de vista dos profissionais que vão estar atendendo ao público em questão dependendo do contexto sócio- histórico os quais estão inseridos. A alegação dessas reflexões sobre “terminologias” alude à procura de um conceito o mais eficiente possível que seja capaz de promover o desenvolvimento humano em sua integralidade. 3.2 Causas O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 5 – (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 82) afirma que “a Deficiência Intelectual é uma condição heterogênea com múltiplas causas”. Já Honora e Frizanco (2008), Relvas (2015) e Fernandes (2016) fazem a divisão das causas da Deficiência Intelectual devido às causas pré-natais, perinatais ou pós-natais. O fator pré-natal – anterior ao nascimento – corresponde à desnutrição materna, exposição do feto à substância como álcool, cocaína e determinados medicamentos, poluição ambiental e intoxicações advindas por doenças como sífilis, toxoplasmose, HIV, e contato com radiações e mercúrio (HONORA; FRIZANCO, 2008, p. 4; FERNANDES, 2016, p. 22- 25). As alterações cromossômicas, de acordo com Fernandes (2016, p. 22), causam a Deficiência Intelectual de forma recorrente. O principal exemplo dessas alterações cromossômicas é a síndrome de Down – cujo o comprometimento cognitivo pode ser de leve à moderado – e a síndrome do X-frágil – fazendo que a cognição fique afetada de um grau moderado à intenso. 17% dos casos de D.I. provém de malformações cerebrais. As anormalidades mais graves podem acarretar a lisencefalia, displasia, epilepsia, dentre outros, e as menos graves a disgenesia do corpo caloso. (FERNANDES, 2016, p. 22). A lisencefalia se caracteriza pela ausência das concavidades e saliências do cérebro; displasia é o desenvolvimento anormal dos 27 tecidos; epilepsia é o conjunto de problemas do sistema nervoso; já a disgenesia do corpo caloso é a ausência do corpo caloso, isso é, ausência da estrutura do cérebro que liga o hemisfério direito ao esquerdo. O fator perinatal – do nascimento até cerca de um mês de vida do bebê – relaciona-se com a falta de assistência ou traumas no parto, icterícia grave, hipóxia, anóxia, baixo peso ou prematuridade do recém-nascido (HONORA; FRIZANCO, 2008, p. 4) complicações pulmonares e malformações cerebrais. Icterícia é a coloração amarela da pele devido ao excesso de bilirrubina – elemento formado devido à decomposição da hemoglobina (proteína que transporta o oxigênio); hipóxia é a ausência de oxigenação no cérebro e anóxia é a total falta de oxigenação no cérebro. Dentre as causas perinatais já citadas, Fernandes (2016, p. 24) acrescenta que “[...] a D.I. frequentemente é diagnosticada em crianças com paralisia cerebral (PC), e seu risco de dificuldade de aprendizado é de 40% maior que o verificado entre as crianças sem essa condição clínica.” Ele ainda declara que em sua prática clínica, a prematuridade e o baixo peso após o nascimento vem se tornando uma das principais ocorrências de D.I. Por intermédio das causas perinatais, de 8% a 12% dos indivíduos desenvolvem a Deficiência Intelectual. O fator pós-natal – decorridos 30 dias de vida da criança – traduz-se em traumatismo craniano (devido a alguma queda), desnutrição, desidratação grave, intoxicação devido à ingestão de inseticida, venenos etc., (HONORA; FRIZANCO, 2008, p. 4) infecção do sistema nervoso central (meningite e encefalites), doenças metabólicas e endócrinas (FERNANDES, 2016, p. 25). Os fatores externos também devem ser levados em conta, uma vez que se houver escassez de estímulos no ambiente, declínio de relações familiares e culturais, o indivíduo será menos impulsionado a desenvolver e executar suas funções cognitivas. 3.3 Classificação Redig diz que: [...] a Deficiência Intelectual não é mais classificada em níveis [...] visto que o diagnóstico deve considerar os aspectos sociais e familiares, entre outros. A atual concepção de Deficiência Intelectual proposta pela AAIDD (online), portanto, contempla o sujeito em seu desenvolvimento global. (REDIG, 2010, p. 6-7). 28 No entanto, o DMS-5 (p. 35-36) expõe que a Deficiência Intelectual pode ser leve (prejuízo em habilidades acadêmicas, pensamento abstrato, não fixação de conteúdos etc.), moderada (comprometimento das habilidades conceituais), grave (habilidades conceituais limitadas) e profunda (inexistência das habilidades conceituais). Relvas (2015, p. 85) afirma que a Deficiência Intelectual pode ser dívida em leve – o que ocorre com frequência, mas, às vezes, passa despercebida, agravando a situação escolar – e severa – que ocorre menos comumente e traz consigo a dependência dos indivíduos por toda uma vida. Já Fernandes (2016, p. 21) nivela a D.I. em limítrofe (QI entre 70 e 80), leve (QI entre 50 e 70), moderada (QI entre 40 e 50), grave (QI entre 30 e 40) e profunda (QI menor que 25). A CID (International Classification of Diseases and Related Health Problems), em sua 11ª edição, ainda sem tradução em Português, (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2019), por sua vez, adequa a Deficiência Intelectual nos “distúrbios do desenvolvimento neurológico” com os seguintes códigos e classificações: 6A00.0 – Suave: Distúrbio leve, no qual o comportamento intelectual, comportamental e adaptativo está abaixo da média. Geralmente são capazes de executar atividades vitais; 6A00.1 – Moderada: Também há um prejuízo no funcionamento intelectual, comportamental e adaptativo. Nessa classificação, os indivíduos precisam de apoio para as tarefas diárias e fatores de independência ficam um pouco comprometidos; 6A00.2 – Severa: Os afetados apresentam incapacidades para performancesacadêmicas e as habilidades para comunicação são limitadas. Além disso, podem apresentar deficiências motoras; 6A00.3 – Profunda: Não há consonância entre aquisições acadêmicas e habilidades concretas básicas. Essas pessoas também podem ter deficiências motoras, sensoriais e também necessitam de auxílio diário nas tarefas; 6A00.4 – Provisória: Ocorre quando se percebe uma desordem intelectual de um bebê, ou criança com menos de quatro anos, e não é possível avaliar seu comportamento (adaptativo, comportamental), devido às alterações sensoriais. A classificação expressa na CID 11 é baseada em testes padronizados e a partir deles, percentis – que varia de 0,003 a 2,3, sendo o menor valor atribuído à classificação profunda e o maior valor à suave – são extraídos. 29 3.4 Diagnóstico De acordo com o DMS 5 (p. 39) para se fazer o diagnóstico da Deficiência Intelectual, é preciso haver uma avaliação ampla, englobando o prisma intelectual e adaptativo, etiologia genética, avaliações de saúde, e anamnese do período gestativo e pós- natal, assim como uma investigação metabólica e pela neuroimagem. Os profissionais envolvidos geralmente são da área da saúde, contudo, quando se iniciar a parte de tratamento, é preciso envolver uma equipe multidisciplinar, a fim de contemplar todos os aspectos necessários a serem desenvolvidos. A American Association on Intellectual and Developmental Disabilities – AAIDD – pressupõe que quando um indivíduo passa por avaliações para checar se existe ou não a Deficiência Intelectual, elas [...] devem assumir que as limitações dos indivíduos geralmente coexistem com os pontos fortes e que o nível de funcionamento de uma pessoa melhorará se forem fornecidos apoios personalizados durante um período prolongado. Somente com base nessas avaliações multifacetadas os profissionais podem determinar se um indivíduo tem Deficiência Intelectual e adaptar planos de suporte individualizados. (AAIDD. 2019).5 Por fim, não há um exame padrão, tampouco uma técnica correta. O conjunto de testes aliado às vivências permitirão fazer o diagnóstico dessa deficiência de forma consentânea. 3.5 Comorbidades O termo comorbidade alude àquilo que pode ocorrer paralelamente a uma determinada doença. Sendo assim, no caso específico da Deficiência Intelectual, pode ocorrer transtornos psiquiátricos como ansiedade, comportamento antissocial, automutilatório e disruptivos, agitação psicomotora dentre outros. Fernandes (2016, p.26) conclui que pelo menos um terço das crianças com D.I. possuem algumas dessas desordens. O DMS 5 expõe que: 5 Texto original: “[...]assessments must also assume that limitations in individuals often coexist with strengths, and that a person’s level of life functioning will improve if appropriate personalized supports are provided over a sustained period. Only on the basis of such many-sided evaluations can professionals determine whether an individual has intellectual disability and tailor individualized support plans.” 30 Pessoas com diagnóstico de Deficiência Intelectual, com transtornos mentais comórbidos apresentam risco de suicídio. Elas pensam em suicídio, fazem tentativas suicidas e podem morrer em decorrência delas. Assim, é essencial a investigação de pensamentos suicidas no processo de avaliação. Em decorrência da falta da consciência de riscos e perigos, taxas de lesões acidentais podem ser elevadas.” (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, p. 38). Ademais, pode ocorrer o transtorno do espectro autista (TEA), Transtornos de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), problemas com o sono, transtorno bipolar e depressão. 3.6 Considerações sobre os preceitos da inclusão No Brasil, a primeira vez que a inclusão foi formalmente englobada em um documento, foi através da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases, LDB, em 1971, sob o número de 5.692. De acordo com o artigo 9º, Os alunos que apresentem deficiências físicas ou mentais, os que se encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados deverão receber tratamento especial, de acordo com as normas fixadas pelos competentes Conselhos de Educação. (BRASIL, 1971) Em 1988 com a publicação da Constituição Federal, as pessoas com deficiência também tiveram espaço. Primeiramente porque o Art. 205 explicita que A Educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988. Grifo da autora.) E logo em seguida, no Art. 208, alínea III, encontramos que às pessoas com deficiência será ofertado o “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”. O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – lei nº 8.069/1990, também tem seu parecer acerca da inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais quando em seu Art. 11, § 1º defende que “a criança e o adolescente com deficiência serão atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas necessidades gerais de saúde e específicas de 31 habilitação e reabilitação”. Sendo assim, todos aqueles que apresentassem alguma necessidade educacional especial teriam sua estadia na escola garantida por lei. No ano de 1994 aconteceram três movimentos de suma importância: a Conferência Mundial de Necessidades Educativas Especiais, Declaração de Salamanca e a nova LDB 9.394/96. No que tange pessoas com deficiência, o primeiro evento (idealizado pela ONU) gerou o segundo. Tornou-se epopeico pois rezava que [...] as escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher crianças com deficiência e crianças bem dotadas; crianças que vivem nas ruas e que trabalham; crianças de populações distantes ou nômades; crianças de minorias linguísticas, étnicos ou culturais e crianças de outros grupos e zonas desfavorecidos ou marginalizados. (BRASIL, 2003). Logo, as escolas teriam a incumbência de educar todas as crianças, mesmo que tivessem uma deficiência grave, de forma exitosa. A LDB 9.394/96 dedica seu capítulo V exclusivamente a preceitos sobre a Educação Especial. No Art. 59 ela diz que “os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação”: I - Currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; II - Terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV - Educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V - Acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. (BRASIL, 1996). Outros documentos como as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial Básica, Plano Nacional de Educação Inclusiva, Estatuto dos Portadores de Necessidades Especiais, dentre outros, também asseguraram o direito da plena inclusão de indivíduos comalgum tipo de deficiência tanto nas escolas, como em outros âmbitos da sociedade. 32 Tais legislações representam um avanço para a comunidade de pessoas com deficiência, pois oferta um respaldo amplo que proporciona a inserção por completo desses indivíduos na sociedade, apesar de ainda haver palavras e ações de cunho pejorativo quanto a esse público. Incluir vai além de inserir as pessoas em um determinado contexto, porém, busca a promoção de oportunidades, igualdades e direitos a todos os cidadãos e todas as esferas. Para que a inclusão de pessoas com Deficiência Intelectual aconteça, de fato, é preciso que haja investimentos em projetos de capacitação e aperfeiçoamento das pessoas que lidam com essa deficiência, destruindo os estigmas que surgirem. 33 4 NEUROCIÊNCIA E DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Depois de termos visto o quanto a Neurociência transcende com a Pedagogia, é o momento de fazer as considerações entre essa ciência multidisciplinar e a Deficiência Intelectual. Já ficou explícito que os docentes precisam conhecer a fisiologia do cérebro para ativarem as conexões e assim conceder a aprendizagem a um caminho de sucesso. Porém, quando se trata de ter uma pessoa com deficiência na sala, o assunto se torna mais estreito, uma vez que precisa dar conta de todos e carrega consigo uma bagagem de desconhecimentos teóricos e insegurança quanto ao que lhe é posto (MAIA; TAVARES, 2014). A falha do desenvolvimento, sob o aspecto da Neurociência, das pessoas com Deficiência Intelectual está nos lapsos da maturação cerebral e alteração das sinapses (RIBEIRO; FREITAS, 2019). Ribeiro e Freitas (2019) elencam que o maior construto que vem sendo feito entre a Neurociência e a Deficiência Intelectual é justamente o estudo acerca dos mecanismos de manutenção da plasticidade, representados pelo engajamento cognitivo e atividades físicas aliadas a dietas saudáveis. Segundo as autoras, a combinação desses dois fatores aumenta a capacidade das células neurais e o aumento das sinapses, ampliando o desempenho cognitivo. Mas pensar em apenas atividades físicas, fazendo a analogia com exercícios corporais, é não contemplar em sua totalidade aquilo que a escola pode oferecer. Souza e Gomes (2015, p. 110) corroboram com essa ideia, pois dizem que estratégias diferentes de ensino são eficazes para aguçar a plasticidade cerebral. Pensar em estratégias diferentes de ensino incide, fundamentalmente, em adaptações curriculares, uma vez que tendo a ciência da patologia existente, e das peculiaridades que ela abarca, será traçado um itinerário diferenciado para que as limitações sejam gradativamente superadas, trazendo, por conseguinte, a aprendizagem (GROSSI, 2018, p. 125). 4.1 Funções executivas Ainda no que tange aspectos neurocientíficos, Oliveira (2014, p. 18-19) e Martoni (2016, p. 48) interagem com a importância das funções executivas. Elas, localizadas no córtex pré-frontal, são responsáveis pelo controle motor, planejamento, inteligência geral e memória. 34 Infere-se, portanto, que as funções executivas precisam ser mais trabalhadas em pessoas com a Deficiência Intelectual, dado que as maiores dificuldades derivam desses fatores. Para a estimulação das funções executivas, há a mobilização de diferentes ações, como a memória de trabalho, flexibilidade, planejamento, controle inibitório e atenção seletiva (MARTONI, 2016, p. 48). Nessas condições, seguem algumas estratégias pedagógicas apropriadas, em consonância com as ações derivadas das funções executivas: Tabela 1: Estratégias pedagógicas para estimulação das funções executivas Ação Pressuposto teórico Prática Pedagógica para alunos com D.I. Memória de trabalho Armazenamento e processamento temporário de estímulos do meio externo, assim a atenção, memória, destreza para atividades cognitivas complexas (ex.: linguagem, raciocínio, aprendizagem). Usar situações e formas e dinâmicas de aprendizagens mais concretas possíveis e de forma gradual. Criar situações de aprendizagem significativas. Trabalhar conceitos repetitivamente. Planejamento Resolver problemas de forma vantajosa. Dividir as tarefas em partes. Preestabelecer um momento para descanso. Atenção Seletiva Processamento de informações. Fato de ignorar o que possivelmente é um obstáculo (por exemplo: concentrar-se em uma tarefa, enquanto outros conversam.). Procurar um ambiente com poucos estímulos visuais, e se possível, calmo. Controle inibitório Inibir distrações. É complementar à atenção seletiva. Ao planejar atividades, traçar um objetivo específico. Somente partir para outra quando esse for atingido. Adequar o tempo e aumentá-lo à medida que se observar maturação. Fonte: tabela elaborada pela autora a partir de MARTONI, 2016, p. 49-53; HONORA, FRIZANCO; 2008, p. 5; SANTOS, 2012, p. 940-943. 4.2 Adaptação curricular À medida que se percebe uma necessidade peculiar de um indivíduo nas classes escolares, cabe aos docentes elaborarem, como já previsto em lei, práticas pedagógicas concernentes ao nível em que seu aluno se encontra. As adequações curriculares constituem, pois, possibilidades educacionais de atuar frente às dificuldades de aprendizagem dos alunos. Pressupõem que se realize a adequação do currículo regular, quando necessário, para torná-lo 35 apropriado às peculiaridades dos alunos com necessidades especiais. No um novo currículo, mas um currículo dinâmico, alterável, passível de ampliação, para que atenda realmente a todos os educandos. Nessas circunstâncias, as adequações curriculares implicam a planificação pedagógica e as ações docentes fundamentadas em critérios que definem: o que o aluno deve aprender; como e quando aprender; que formas de organização do ensino são mais eficientes para o processo de aprendizagem; como e quando avaliar o aluno. (BRASIL, 2003). A adequação curricular deve ser exposta no Projeto Político Pedagógico das instituições de ensino, bem como no Plano de Ação que deve ser desenvolvido a fim de contemplar toda a “diversidade” existente e suprir as “carências pedagógicas”. Tratando-se da Deficiência Intelectual, como defende Santos (2012, p. 940), o conteúdo curricular precisa ser destrinchado, levando em conta os aspectos que poderão ser assimilados pelos alunos, que gerará a aquisição, memorização e aplicação. Souza e Gomes (2015, p. 111) defendem, nesse contexto, a importância de um educador especialista e capacitado para atuar com esses educandos, além da participação no Atendimento Educacional Especializado, que é realizado paralelamente à sala de aula comum. A adaptação curricular se reflete no caminho mais fluido que contempla àqueles que possuem alguma necessidade educacional especial no que envolve questões escolares. No entanto, cabe aqui ressaltar que no contexto da Deficiência Intelectual é superimportante traçar um currículo pautado na reabilitação cognitiva (SNELL et al., 2010, apud RIBEIRO; FREITAS, 2019). Esse só deve ser montado após se traçar o perfil neuropsicopedagógico do aluno, envolvendo profissionais da área médica, psicológica e pedagógica. Além disso, precisa ser revisto com periodicidade para se estimar os avanços, análises diversas e a performance mais adequada a cada momento. A reabilitação cognitiva para Ribeiro e Freitas (2019) promove o “desenvolvimento das funções que estão deficientes. Por isso é necessário que a criança seja estimulada e ensinada intencionalmente” [grifo meu]. As pesquisadoras complementam que Em relação à Deficiência Intelectual, a melhor estratégia de reabilitação é o uso de programas educacionais elaborados a partir de modelos de aprendizagem diretiva e individualizada. Associar a reabilitação cognitiva à Educação formal é a forma mais eficiente de potencializar a estimulação cognitiva, que em geral,é realizada durante uma ou duas horas semanais. (RIBEIRO; FREITAS, 2019, [n. p.]). De semelhante modo, Souza e Gomes (2015, p. 111) fomentam que como o desenvolvimento de alunos com Deficiência Intelectual é mais lento, é preciso criar situações facilitadoras para o processo de aprendizagem. É preciso mantê-los sempre ocupados, mas 36 sem cansá-los, pois o excesso de estímulo também pode ser prejudicial (RIBEIRO; FREITAS, 2019). O contraponto recorrente é que existem habilidades inerentes ao ser humano – como sentar-se, levar à comida até a boca – e a Educação formal está preparada para lidar com a transmissão dos conhecimentos que não são adquiridos espontaneamente. Isto é: matérias, conteúdos preestabelecidos. Dessa forma, nem sempre estão preparados para ensinar essas habilidades intrínsecas, mas que dependendo do grau da D.I. ele não é capaz de fazer (RIBEIRO; FREITAS, 2019). Dá-se, aí, a importância da estimulação precoce como afirma Souza e Gomes (2015, p. 111), pois quanto mais cedo se iniciar o apoio, mais estável será seu desenvolvimento. Caso a estimulação precoce não tenha acontecido, cabe aos professores flexibilizar a hierarquização dos conteúdos e assim, treinar as habilidades cognitivas de forma repetida e gradual. Como por exemplo: ensinar a sentar, depois pegar no garfo, e por último comer (RIBEIRO; FREITAS, 2019). 4.3 Propostas pedagógicas aliadas à Neurociência e Deficiência Intelectual Até os dias atuais, as pessoas com Deficiência Intelectual carregam consigo um paradigma histórico baseado em termos pejorativos. Atribuições como “preguiçosos” e “imaturos” fazem com que essa comunidade tenha cada vez mais desvalorização. Por ter causas indeterminadas e não expressar “evidentemente” suas limitações, faz com que os profissionais também tenham dificuldade de compreensão sobre qual o caminho mais eficiente a ser traçado (VARGAS; MAIA, 2014, p. 45). No entanto, não se pode apenas ruminar tais fatos. É preciso partir para ações práticas, pois serão elas que provocarão a açulada dos conhecimentos. Vimos anteriormente que deve haver uma estimulação eficaz ao córtex pré-frontal para que o indivíduo com Deficiência Intelectual tenha mais progressos. De semelhante modo, um outro fator que deve ser incentivado nas salas de aula é a autoestima, uma vez que os alunos com D.I. experienciam fracassos constantes, em relação à expectativa de pais, familiares, colegas e até professores. O trabalho com a autoestima consiste em identificar um hobby do aluno – no qual possa ter mais diversão e menos decepção, o que fará com que perceba em si que é capaz de dominar algo – e o docente também deve estar atento às suas posturas: não expor esses alunos em demasia, tranquilizá-los quando o nervosismo bater assim como não força-los a executar performances que ainda não tenham segurança. 37 Sobretudo, é indispensável que esses alunos tenham a escola como um espaço acolhedor (MAIA, TAVARES, 2014, p. 23-25; 29). Na área motora, é superimportante trabalhar coordenação e manipulação. Na linguagem, uma vez verificado a dificuldade na fala e em seu pragmatismo, a estimulação deve acontecer por meio de imagens e correlações. No socioemocional é fundamental reconhecer a diferença entre a idade mental e a cronológica (BARROS; MAIA, 2014, p. 48 – 49). Nesse sentido, os autores (2014, p. 51) trazem à tona a terminalidade específica: “metas a serem alcançadas, e não apenas os meios de alcançá-las. Serão diferenciadas e adaptadas ao que ela pode aprender naquele momento”. Faz parte desse viés alocar o aluno ou em uma classe compatível com sua idade mental, ou com sua idade cronológica; promover a integração social, pois de acordo com Vygotsky, o indivíduo adquire habilidades através do meio e das pessoas (TEIXEIRA, 2016, p. 91); evitar a infantilização; elaborar um Plano Educacional Individualizado (PEI); e elaborar avaliações diferenciadas, sejam elas formativas, processuais, convencionais ou adaptadas (VARGAS; MAIA, 2014, p. 51-52). Para Ribeiro e Freitas (2019) um aluno com Deficiência Intelectual não deve receber deveres de casa em folhas de papel, pois apresentará pouca significância para ele, apesar de isso ser algo que muitas famílias prezam. Para se treinar a escrita, por exemplo, é mais vantajoso pedir que escreva um bilhete; para se treinar a leitura, ler um folder do mercado. Para que se nomeie objetos, também é preciso se pautar na repetição e sistematização. Essa técnica, segundo as autoras, é ótima para se desenvolver gradualmente a linguagem e comunicação. Além disso, todas as instruções dadas devem ter comandos simples. Antes de se aplicar um conteúdo propriamente dito, é preciso focar no ensino baseado em técnicas comportamentais. Esse, de acordo com Freitas et al. (2016) sustenta-se nos modelos de aprendizagem da psicologia comportamental. Portanto, para a aquisição de comportamentos, é preciso se alicerçar sobre o treino cognitivo, ou seja, regras devem se fazer presentes. Cabe a ressalva que o trabalho com regras não é algo inflexível, mas sim, respeita uma ação de cada vez. À luz disso, os autores dizem que: [...] para cada comportamento alvo, deve ser feito uma modelagem, fracionando o comportamento e repetindo os exercícios dentro de contingências de reforçamento, que aumentem a frequência das respostas desejadas, no qual a instrução direta deve ser baseada em seis elementos: a) 38 foco da instrução; b) domínio da aprendizagem; c) correção de erros; d) prática; e) treino de discriminação; f) revisão cumulativa”. (FREITAS; NISHIYAMA; RIBEIRO; FREITAS, 2016, p. 17). Não se deve confundir que a cópia dê lugar ao copista, pois o aluno deve ser o autor de seu conhecimento. Tornar-se um repetidor de informações não denota aprendizagem (MOLTER, 2014, p. 30). Barros e Maia (2014, p. 49) afirmam que é de suma importância criar uma rede de apoio ao se trabalhar com uma pessoa com D.I., pois as trocas são valiosas para os profissionais que estão lidando com aquele indivíduo. Isso pode resultar em momentos valiosos de trocas. No seio de toda essa discussão, imbui-se a aprendizagem mediada, como defende Teixeira (2016, p. 80-81). Para ela, essa mediação perpassa por três eixos: intencionalidade/reciprocidade, significado e transcendência. Para a autora, a atividade lúdica é a atividade mais eficaz no que tange estimulação cognitiva, pois o “brincar” possui duas naturezas: lazer e ampla fonte de conhecimento. A estudiosa também afirma que o brincar se relaciona com o desenvolvimento da linguagem, pois alguns tipos de brinquedos trabalham a representação simbólica, além de perpassar a esfera da interação social. Assim, “os jogos que trazem figuras, relatos de histórias ou situações favorecem o aumento do vocabulário, estimulando não somente a capacidade de expressão verbal, mas também o desenvolvimento do pensamento.” (TEIXEIRA, 2016, p. 86). Os livros de histórias são excelentes recursos que trabalham essa área. O brincar e o desenvolvimento físico-motor também se entrelaçam, pois são nesses momentos que acontece a exploração de mundo, os limites são testados, há a aquisição de força, velocidade e tamanho, que, por conseguinte, atuam no físico (TEIXEIRA, 2016, p. 86). Friedmann (2006, apud TEIXEIRA, 2016, p. 87) também ressalta a importância de jogos estruturados, que podem ser facilmente confeccionados através de sucatas. Por último, o brincar dialoga com o desenvolvimento afetivo, pois por intermédio disso, há a interiorização de valores e da autoestima. Todas essas ações podem e devem ser aplicadas em pessoas com Deficiência Intelectual. Isso fará com que o ensino se torne menos enfático e cumpra com seu papel principal. 39 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS No decorrer desse estudo foram analisados os preceitos da Neurociência, as bases para
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