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Apostila-Fundamentos-Etimológicos-do-Espanhol

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FUNDAMENTOS ETIMOLÓGICOS DO 
ESPANHOL 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4 
2 INTRODUÇÃO À LÍNGUA ESPANHOLA ............................................................... 5 
2.1 Cultura ................................................................................................................ 5 
2.2 Comunicação em espanhol .............................................................................. 12 
2.3 Língua espanhola no cenário mundial .............................................................. 17 
3 O PERCURSO HISTÓRICO ................................................................................. 22 
3.1 Língua espanhola: a caminhada para se tornar idioma nacional ...................... 22 
3.2 Origem da língua espanhola ............................................................................. 23 
3.3 Do latim ao espanhol: um longo percurso ......................................................... 24 
3.4 O romance: mais um capítulo dessa complexa história .................................... 26 
3.5 Consolidação da língua espanhola ................................................................... 28 
3.6 A língua espanhola segue o seu rumo .............................................................. 30 
4 ESBOÇO HISTÓRICO DA LÍNGUA ESPANHOLA ............................................... 33 
4.1 A língua como objeto científico ......................................................................... 34 
4.2 Tradição, renovação e influência da teoria sintática de Nebrija ........................ 38 
4.3 O surgimento da teoria sintática de Nebrija ...................................................... 41 
4.4 A sintaxe e a evolução do seu conceito ............................................................ 43 
4.5 Abordagem tradicionalista ................................................................................ 44 
4.6 Abordagem gerativista ...................................................................................... 44 
4.7 Abordagem funcional-discursiva ....................................................................... 45 
5 A IMPORTÂNCIA DO LATIM PARA A LÍNGUA ESPANHOLA ............................. 46 
5.1 Identidade nacional: uma questão de língua .................................................... 47 
5.2 A chegada do Império Romano à Península Ibérica ......................................... 48 
5.3 O processo de romanização linguística ............................................................ 50 
5.4 A língua romance: legado da romanização ....................................................... 53 
 
3 
 
5.5 Língua espanhola: a filha do latim .................................................................... 55 
6 MODELO COMUNICATIVO .................................................................................. 57 
6.1 Linguagem e interação humana ........................................................................ 57 
6.2 Função dos interlocutores e da interação linguística ........................................ 59 
6.3 Tematização — informação compartilhada pelo emissor e pelo receptor ......... 61 
6.4 Língua e cultura — duas abordagens indissociáveis ........................................ 63 
7 A SONORIDADE DA LÍNGUA ESPANHOLA GEOGRAFICAMENTE .................. 67 
7.1 Diferentes modos de fala .................................................................................. 72 
7.2 Léxico variacional escrito .................................................................................. 76 
8 A GRAMÁTICA DA LÍNGUA ESPANHOLA E A CONSTRUÇÃO TEXTUAL ........ 78 
8.1 Verbos e produção textual ................................................................................ 78 
8.2 Sintaxe e produção de texto ............................................................................. 83 
8.3 Ortografia e produção textual ........................................................................... 87 
9 NOÇÕES DE FONÉTICA DA LÍNGUA ESPANHOLA .......................................... 90 
9.1 Objeto de estudo da fonética ............................................................................ 91 
9.2 Importância da fonética no estudo da língua .................................................... 96 
9.3 Diferentes pronúncias da língua espanhola a partir da análise fonética ........... 98 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 101 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
2 INTRODUÇÃO À LÍNGUA ESPANHOLA 
A língua espanhola é o idioma oficial de 21 países de três continentes 
diferentes, e cada um deles tem o seu conjunto de tradições e costumes, que 
constituem a sua cultura (BIZELLO,2018). 
Nesse contexto de diversidade, como reconhecer a língua espanhola como 
elemento cultural? Como o espanhol atinge determinada importância no panorama 
mundial? A cultura da língua espanhola, os diferentes modos de comunicação nesse 
idioma e a posição do espanhol no cenário mundial. 
Fonte: www.trabalhosescolares.net 
2.1 Cultura 
A língua espanhola surgiu numa região que vivia em guerra e que, por isso, era 
cheia de fortificações e castelos de pedra — motivo pelo qual esse lugar passou a se 
chamar Castela (em espanhol, Castilla). As pessoas que viviam nessa região falavam 
o latim de forma diferente: misturavam termos germânicos e romanos. 
 
6 
 
Fonte: educalingo.com 
 
No período da reconquista, houve uma desagregação dos povos, que fez com 
que não houvesse mais comunicação entre eles. Essa não comunicação gerou muitas 
diferenças e, por isso, surgiram o galego, o catalão, o basco e o castelhano (língua de 
Castela). Entretanto, devido à força política e literária de Castela, o castelhano passou 
a ser considerado mais importante (BIZELLO,2018). 
Dessa forma, o latim vulgar falado antes se modificou. Outras línguas se 
misturaram a ele e, ao contrário do que ocorreu com os seus vizinhos, surgiram mais 
ditongos, e os falantes diminuíram as vogais postônicas e introduziram sons guturais 
e velares. 
É importante destacar, porém, que essas mudanças eram predominantemente 
orais. Na escrita, a chamada língua romance ganhou mais espaço na época dos reis 
católicos, pois passou a ser tratada como língua oficial da corte e, assim, foi se 
desprendendo das regras latinas. 
Dessa forma, o castelhano apareceu na literatura, nas crônicas reais e na 
legislação. Outra mudança significativa do período do Rei Alfonso X foi a ordem da 
frase, que passou a se basear em sujeito, verbo e complemento. Além disso, o latim 
culto passou cada vez mais a se misturar com o latim vulgar.Nessa época, também houve a mistura com o galego, o catalão, o italiano e o 
francês. Durante a conquista da América, embora os espanhóis impusessem a sua 
 
7 
 
língua como oficial, o contato com os povos conquistados levou esse idioma a mais 
transformações. 
No período depois da conquista da América, o espanhol se assemelhava mais 
ao que é hoje. Nessa época, surgiram as regras de bom uso da língua e, para isso, 
Antonio de Nebrija escreveu a Gramática castellana e Juan Valdés escreveu o Diálogo 
de la lengua. 
Na literatura, a obra de Cervantes, além da sua importância literária, surgiu 
como modelo de perfeição de linguagem: ele mesclou a linguagem culta do 
personagem Quixote com a língua do povo do personagem Sancho. 
Outro fato que contribuiu para a força da língua espanhola foi a fundação da 
Real Academia Española (RAE), em 1713, indo ao encontro do momento do espanhol 
no mundo. Embora a Espanha como país não estivesse em evidência, o espanhol era 
considerado a língua da ciência e da educação. De acordo com o Portal do Governo 
da Espanha (2017, documento on-line), o país: 
[…] contaba en 1492 con una potente maquinaria de guerra, una sólida 
economía, una proyección exterior, una experiencia marinera y exploradora 
de rutas mercantiles y un notable potencial científico-técnico: matemáticos, 
geógrafos, astrónomos y constructores navales. 
A conquista da América gerou uma questão a ser resolvida: como nomear a 
língua? Castelhano, por ser a língua de Castela, ou espanhol, por ser a língua da 
Espanha? Ainda que as duas denominações sejam adequadas, os hispanohablantes 
da América costumam dizer que falam castelhano, e não espanhol — que seria a 
língua da Espanha (BIZELLO,2018). 
Veja na Figura 1 os países que falam espanhol (SÓ ESPANHOL, 2018). 
 
8 
 
 
Fonte: www.soespanhol.com.br 
Um aspecto que merece destaque é que, ao longo da história do castelhano, 
houve uma mistura com outras línguas que se adequaram ao espanhol. 
Segundo Fuentes (1991, p. 97), “[…] a partir de la revolución industrial del siglo 
XIX, y con la intensificación del comercio anglosajón, se adoptaron muchos términos 
del inglés que se adecuaron al español”. Nesse contexto, foi construída a identidade 
cultural da língua espanhola: com diversidade e mistura de valores. 
Aliás, a própria história da Espanha se fundamenta na diversidade e na 
influência de diferentes povos, que deixaram as suas marcas nas tradições, na língua 
e na arquitetura do país. 
Uma das tradições mais conhecidas da Espanha é a tourada, um evento ocorre 
em Plazas de Toros espalhadas por todo o país. Entretanto, na atualidade esse 
aspecto cultural tem sofrido modificações e é inclusive proibido em várias regiões. De 
acordo com Jokura (2018, documento on-line): 
É um espetáculo sangrento em que um toureiro enfrenta, quase sempre até 
a morte, um touro selvagem dentro de uma arena. A fiesta nacional da 
Espanha tem origem em caçadas a touros que rolavam já no século 3 a.C. 
No fim do século 18 — quando assumiu seu formato atual —, a distração já 
havia caído definitivamente no gosto popular. 
 
9 
 
Além disso, a Espanha é conhecida pelas suas festas populares. 
 Las Fallas: ocorre em Valência como uma competição de grandes 
esculturas, que são conhecidas como fallas. 
 Semana Santa: no sul da Espanha, durante a Páscoa, várias procissões 
percorrem as cidades, principalmente Sevilha e Granada, as quais são 
decoradas com flores e símbolos religiosos. 
 Feira de Abril: em Sevilha, ocorre uma festa com comidas e bebidas 
típicas, apresentações culturais e passeios de carruagem com trajes 
típicos. 
 Fiestas de San Fermín: ocorrem em Pamplona como uma homenagem 
ao padroeiro da região. Os participantes se vestem de branco e usam um 
lenço vermelho no pescoço, antes de saírem correndo diante dos touros 
que são soltos nas ruas estreitas da cidade. 
 La Tomatina: trata-se de uma batalha de tomates que ocorre em Buñol, 
a qual começa às 11h e dura o dia todo. Surgiu em 1945, quando um 
grupo de amigos fez uma guerra de tomates. 
 
A Argentina, na época das imigrações europeias, recebeu muitos estrangeiros, 
e a sua cultura é resultado dessa mistura. O tango, uma das suas maiores marcas, 
era considerado no início impróprio a ambientes familiares, pois surgiu nos subúrbios 
e bordéis. Quando passou a ser admitido nos salões, abdicou das coreografias mais 
extravagantes e sensuais. Outras marcas desse país são o futebol, o churrasco e o 
vinho. 
A Bolívia é um dos países colonizados pela Espanha que mais apresenta uma 
cultura autóctone. A tradição artística indígena aparece no exterior dos edifícios, 
geralmente revelando a flora e a fauna locais. O Chile é um país que apresenta uma 
mistura cultural: há uma forte presença indígena (especialmente os mapuches) junto 
aos costumes católicos herdados dos espanhóis. 
Uma curiosidade a respeito desse país é que ele foi conquistado pela Espanha 
apenas no século XVII. A partir disso, teve uma grande exploração dos recursos 
naturais, que o levou a um auge econômico (BIZELLO,2018). 
A literatura chilena conta com prêmios Nobel (Pablo Neruda e Gabriela Mistral) 
e com muitas vendas internacionais, principalmente com as obras de Isabel Allende. 
 
10 
 
A Colômbia é um país marcado pelas festas culturais. O carnaval de negros e brancos 
ocorre em Pasto, a partir da primeira semana de janeiro, desde 1546, reunindo 
tradições étnicas andinas e do pacífico (BIZELLO,2018). 
Em 2009, foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela 
UNESCO. O carnaval de Barranquilla é o principal festival colombiano, sendo 
reconhecido internacionalmente, e se destaca entre outros importantes festivais da 
América Latina. 
As Festas de Padroeiro (em San Andrés) envolvem todo o complexo de ilhas, 
com muita música caribenha e pratos típicos dessa região insular. Vale ressaltar 
também que, na Colômbia, há touradas em muitas festas. A Costa Rica é um grande 
mosaico cultural. Há uma mistura da cultura africana, trazida pelos escravos, da 
caribenha, da espanhola e da jamaicana, resultado da imigração de trabalhadores. 
 Cuba é um país conhecido pela implementação e manutenção do regime 
socialista, e pouco se fala nas mídias sobre a sua cultura. Ela é fruto da mistura dos 
aspectos espanhóis com costumes africanos, e a música é a expressão mais 
destacada nessa cultura: a rumba e a salsa são dançadas em todos os espaços. O 
Equador tem na sua cultura a expressão da mistura de povos indígenas. 
As culturas pré-colombianas se destacam em cerâmica, confecção, escultura, 
pintura e trabalhos com ouro e prata. Na arte religiosa, presente em museus e igrejas, 
destacam-se as obras coloniais religiosas realizadas pelos indígenas. Em El 
Salvador, há uma mistura da cultura indígena (representada pelo legado do mundo 
maia) com a cultura espanhola (representada pelas construções arquitetônicas 
religiosas). 
Na Guatemala, a cultura maia está na religião, na arquitetura, nos costumes e 
nas vestimentas. Entretanto, a presença espanhola na época da colonização fez com 
que aspectos europeus se misturassem a essa cultura e formasse o que hoje é a 
cultura guatemalteca. 
A Guiné Equatorial está localizada na África Ocidental. Como foi inicialmente 
colonizada por portugueses, tem raízes portuguesas na sua cultura — alguns 
habitantes da região falam português, mas cerca de 90% da população fala espanhol. 
Essa mistura de colonizadores deixou marcas, como o legado ibérico na gastronomia: 
a preferência por frutos do mar e o uso de azeite estão muito presentes. 
 
11 
 
O cristianismo é a religião com mais praticantes, mas também há influências 
africanas. Em Honduras, o espanhol é a língua predominante, embora alguns 
habitantes usem o inglês, e há misturas com dialetos indígenas e com o dialeto 
garifuna. 
Mistura é a palavra-chave para definir a cultura hondurenha: as ilhasda Baía 
têm população composta quase que totalmente por ingleses, contrastando com as 
ilhas de Bata, cuja população é em sua maioria negra. México foi território de muitas 
civilizações, das quais se destacam os maias e os astecas; logo, a sua cultura é 
marcada pelo legado desses povos e pela colonização espanhola. 
Uma evidência da pluralidade mexicana é a gastronomia, que foi reconhecida 
como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2010. De acordo com o 
Portal Universia ([201-?], documento on-line), 
[...] a cozinha mexicana mistura ingredientes típicos da época pré-hispânica, 
como o milho, o chile, o cacau, o abacate e o nopal, com outros que foram 
introduzidos durante a época colonial, como as carnes, o arroz e o trigo. O 
pulque, a tequila e o mescal são as bebidas mais características. 
Uma festa popular no México é a que celebra o dia dos mortos: nos cemitérios, 
as pessoas comem, bebem, tocam músicas e realizam oferendas. Na Nicarágua, não 
há religião oficial, mas a maioria da população é católica. A literatura nicaraguense 
projetou-se no mundo com o modernista Rubén Darío, considerado um dos maiores 
poetas hispano-americanos. 
O Panamá apresenta uma cultura em que há uma mistura das tradições 
espanholas, africanas, ameríndias e norte-americanas. De acordo com Nadale (2018, 
documento on-line), “No Corpus Christi, uma das tradições são os ‘diabinhos sujos’: 
figuras com máscara de papel machê, mortalha (geralmente preta e vermelha), 
castanholas e um sininho. Eles dançam pelas ruas, jogam água nas pessoas e fazem 
bagunça com as crianças”. 
A principal língua falada no Peru é o espanhol, a segunda mais falada é o 
quéchua — a língua antiga dos incas. Essa coexistência de culturas se manifesta em 
todos os aspectos da sociedade peruana, como a religião: a maioria da população 
peruana é católica, mas muitas crenças e costumes tradicionais permanecem. 
Há vários festivais tradicionais que mostram isso; o exemplo mais famoso é o 
festival Inti Raymi, quando Inti, o deus do Sol da cultura inca, é honrado em uma 
procissão. 
 
12 
 
Porto Rico tem uma cultura marcada pela colonização espanhola e pela 
condição contraditória de, mesmo após a independência, sofrer intervenções dos 
Estados Unidos. 
Essa peculiaridade surge também na língua. De acordo com as informações do 
Portal São Francisco ([201-?]), a “guerra da língua” demonstra que a população quer 
defender a sua identidade todas as vezes em que algum dos governadores tenta 
mudar a Lei da língua oficial única (1949), a qual determina que o ensino na escola 
pública seja feito somente em espanhol. 
“Porto Rico não é uma ilha bilíngue, mas um centro significativo, criador de 
cultura hispânica, onde é utilizado também o inglês como instrumento de 
comunicação”, frisa Ramón-Darío Molinary (apud PORTAL SÃO FRANCISCO ([201-
?], documento on-line). 
A República Dominicana tem como principal aspecto da sua identidade o 
merengue. Esse ritmo musical, que tem origem na fusão das músicas africanas com 
o pasodoble espanhol, era considerado vulgar, mas atualmente é a principal 
manifestação cultural da ilha. 
O Uruguai tem forte tradição na figura do gaúcho, de onde surgem algumas 
danças e músicas folclóricas, como a milonga. Contudo, as danças e os rituais de 
origem africana revelam um rico folclore afro-uruguaio. O candomblé é uma dança 
que surgiu dessa tradição. 
Na Venezuela, a música é uma forte expressão da sua cultura. Trata-se de uma 
mistura de espanhol com ritmos africanos e indígenas. Em resumo, a língua espanhola 
é um elemento cultural de vários países de diferentes continentes. 
Essa diversidade e mistura caracterizam as manifestações culturais de todas 
as regiões e contribuem com as variações linguísticas. 
2.2 Comunicação em espanhol 
Como em qualquer língua, há diferentes maneiras de expressar a mesma ideia 
em espanhol. Contudo, há as mais usuais e mais adequadas, de acordo com o 
contexto. Segundo Raúl Prada (2018, documento on-line): 
[…] se puede definir la comunicación como el encuentro de un organismo 
viviente con su medio ambiente o entorno, cuando se entiende por dicho 
encuentro la recepción de informaciones sobre el mundo circundante y una 
 
13 
 
reacción ante la información recibida. Esta fórmula abarca todas las 
posibilidades de "encuentro" del hombre con su medio ambiente físico, social 
y cultural; las relaciones humanas en sus diversas manifestaciones: 
económicas, políticas, deportivas, etc.; donde caben también niveles de 
relación con los productos de la tecnología: comunicación hombre máquina 
en la industria, en los procesos de aprendizaje y en los del entretenimiento. 
Incluye, asimismo, la relación del hombre con los medios masivos. Cubre el 
entorno variado y complejo que rodea al ser humano, esfera dentro de la cual 
actúa reaccionando objetos, hechos, funciones y relaciones son agentes 
emisores de mensajes para el receptor. Del entorno parten señales de 
variada índole que el hombre acomoda a sus necesidades. 
 
Nesse sentido, quem deseja se comunicar em outra língua, nesse caso, em 
espanhol precisa conhecer e praticar formas simples de comunicação. Por exemplo, 
para perguntar um nome, podem-se usar as seguintes interrogações: 
¿Cómo te llamas? 
 ¿Cuál es tu/su nombre? 
¿Cómo se llama usted? 
 
Observe que as duas primeiras formas, com o uso de se, são utilizadas em 
contextos formais. Para dizer o seu nome, uma pessoa pode dizer: 
¡Hola! Me llamo... 
Mi nombre es... 
Soy... 
 
Contudo, a segunda forma indicada é pouco aplicada no dia a dia, surgindo 
mais em contextos formais. Para saudar alguém, usa-se: 
¡Buenos días! ¡Buenas tardes! ¡Buenas noches! 
¿Cómo está usted? ¿Cómo tú estás?¿Como está vos? 
Hola, ¿qué tal? 
 
Note que, ao contrário do que ocorre na língua portuguesa, as saudações de 
acordo com o turno do dia (primeiro exemplo), em espanhol, são feitas no plural. As 
indicações que constituem o segundo exemplo são utilizadas tanto na finalidade social 
(isto é, apenas para saudar) como para realmente obter a resposta de como a pessoa 
está (BIZELLO,2018). 
Usted é usado em situações formais e pode ser substituído, por exemplo, por 
¿Cómo la señora está?. 
 
14 
 
Tú indica um tratamento mais informal e íntimo, enquanto vos ocorre em 
localidades em que se usa o voseo. Verifique no Quadro 1 as maneiras formais e 
informais de perguntar e de responder como uma pessoa está. 
 
 
Observe que os formais se relacionam com os pronomes de tratamento, que 
são flexionados na terceira pessoa. Já os informais são flexionados na segunda 
pessoa (BIZELLO,2018). 
Os verbos são conjugados de acordo com o pronome utilizado. Há também 
diferentes formas de perguntar sobre o estado civil de alguém. Veja os exemplos a 
seguir. 
¿Cuál es el estado civil de tu hermana? 
¿Tu abuela está casada? 
¿Tu primo está soltero? 
¿Estás soltera o casada? 
 
Observe que uma pessoa pode estar soltera ou casada e ser viúda ou 
divorciada. Para conversar sobre a profissão das pessoas, pode-se recorrer a 
diferentes perguntas: 
¿A qué te dedicas? 
¿En qué trabajas? 
¿Qué haces? 
 
Para responder a essas perguntas, o interlocutor pode dizer: 
Soy... 
Trabajo en... 
 
15 
 
A comunicação pode ter como tema as datas. Nesse caso, podem surgir 
questões como: 
¿Qué día es hoy? 
¿Qué día de la semana...? 
 ¿Cuándo es...? 
 
Num diálogo, os interlocutores podem fazer perguntas referentes a descrições, 
como: 
¿Cómo es? 
 ¿De qué número/talla? 
¿De qué color? 
¿Con qué estampa? 
¿De qué está hecho? 
¿Cómo está? 
 
Veja no Quadro 2 como seria uma conversa sobre pedidos de comida 
 
 
Há diferentes formas de pedir informações sobre uma localização. Veja: 
¿Cómo se llega a ...? 
 ¿Hay una... cerca de aquí? 
 
Você notou que há situações em que se usa o verbo tener e, em outras, o verbo 
haber? Geralmente, o verbo tener é utilizado paraindicar posse, já haber é aplicado 
para mostrar a existência (BIZELLO,2018). 
Além disso, haber nunca vai para o plural, enquanto tener nunca aparece com 
preposição. Assim, observe os exemplos a seguir: 
 
16 
 
Mi barrio no tiene árboles. 
En la sala, hay dos alumnos. 
Las salas tienen aire condicionado. 
En este barrio hay muchas flores. 
 
Ao contrário do que ocorre na língua portuguesa, o verbo tener é utilizado diante 
de hambre, sed, sueño e ganas (BIZELLO,2018). Veja: 
 
Tengo hambre. 
Todos tienen sed aquí. 
Ella tiene sueño. 
Tengo ganas de pasear. 
 
Há situações em que a comunicação se relaciona com convites. Veja a seguir 
como fazer para convidar alguém: 
¿Quieres ir? 
 ¿Te gustaría ir conmigo? 
 ¿Te apuntas? 
 
Observe que a segunda pessoa é sempre a forma escolhida. Para aceitar, o 
interlocutor pode dizer: 
¡Claro! 
 ¡Por supuesto! 
 ¡Sí! 
¡Cuenta conmigo! 
 
Para recusar, o interlocutor pode dizer: 
No va a ser posible. 
No, perdona, tengo otro compromiso. 
 Lo siento, no puedo. 
 
Em situações de comunicações comerciais, costuma-se perguntar: 
¿Cuánto vale? 
 
17 
 
 ¿Cuánto cuesta? 
¿A cuánto está? 
 
De forma geral, essas diferenças referem-se ao estilo do falante e à situação 
de comunicação. Todavia, os diferentes modos de comunicação podem ser oriundos 
das variações linguísticas. 
Nesse sentido, encontram-se, na língua espanhola, diferenças de léxico (na 
Espanha, abacaxi é designado como piña; na América, como ananá) e de pronúncia 
(a letra y pode ser pronunciada como fonema vocálico ou como fonema consonantal 
palatal). 
Em resumo, a observação e a aplicação dessas estruturas são fundamentais 
para o desenvolvimento da aprendizagem de uma língua estrangeira. Segundo 
Rosales Bremont, Zarate Ortiz e Lozano Rodríguez (2018, documento on-line): 
En el aprendizaje de una segunda lengua son importantes dos términos: uno 
de ellos es el aprendizaje de una lengua en sí, entendido éste como el 
desarrollo de conocimiento consciente de la segunda lengua; es decir, el 
dominio de sus reglas y fórmulas por medio de un estudio formal. 
Portanto, para que haja uma comunicação eficiente em língua espanhola, é 
necessário conhecer a cultura, os costumes e as variedades desse idioma. 
2.3 Língua espanhola no cenário mundial 
Quando se fala em comunicação, é inegável o papel da linguagem na 
compreensão e na possibilidade de relações políticas, financeiras, comerciais e 
profissionais. Em um mundo globalizado, a comunicação eficiente é uma exigência. 
Para isso, utilizar ou conhecer os mesmos sinais e símbolos que o interlocutor 
é fundamental para emissores e receptores de mensagens. Assim, num mundo 
composto por tantas línguas diferentes e culturas diversificadas, é importante 
conhecer idiomas e culturas que podem facilitar ou engrandecer as relações. 
 
 
18 
 
 
Fonte:actualiteespagnole.com 
Apontar uma língua predominante ou mais importante é uma atitude complexa, 
visto que há vários aspectos envolvidos, tanto nos critérios de escolha quanto nos 
elementos que promovem um idioma. 
De acordo com Xoán Lagares (2018, documento on-line): 
[...] ao pensarmos as relações entre línguas no espaço mundial, devemos 
prestar atenção nas relações entre os falantes, no modo como eles interagem 
entre si, com falantes da sua mesma língua e de outros idiomas. Essas 
relações são mediadas, por sua vez, por todo tipo de representações em 
torno de ideias de beleza, utilidade, identidade, representatividade etc., e 
mesmo por interdições sociais que têm a ver com os âmbitos de uso, as 
funções comunicativas ou os gêneros discursivos implicados na utilização de 
uma ou de outra língua. Assim, por exemplo, as "escolhas" de uso de falantes 
bilíngues, em situações de línguas em contato, estão condicionadas por toda 
uma história de coerções sociais construídas na relação entre grupos 
humanos e pelas relações de poder existentes. 
O espanhol soma um total de 480 milhões de falantes no mundo, segundo o 
relatório do Instituto Cervantes de Madri (2018). Dessa forma, revela-se como o 
segundo idioma mundial em termos de nativos perde apenas para o chinês. Se 
considerarmos ainda os aprendizes distribuídos em todos os continentes, esse 
número supera os 577 milhões. 
Isso significa que “[...] el español es la segunda lengua materna del mundo por 
número de hablantes, tras el chino mandarín, y también la segunda lengua en un 
cómputo global de hablantes (dominio nativo + competencia limitada + estudiantes de 
español)” (INSTITUTO CERVANTES, 2018, p. 5). Veja outros dados indicados pelo 
Instituto Cervantes (2018, p. 14): 
 
19 
 
En 2018, el 7,6% de la población mundial es hispanohablante (esos 577 
millones de usuarios potenciales de español mencionados en la primera 
línea). Las previsiones estiman que el peso de la comunidad hispanohablante 
en 2050 será ligeramente superior al actual (concretamente el 7,7% de la 
población mundial). Sin embargo, dichas previsiones también pronostican 
que, en 2100, este porcentaje se situará en el 6,6%, debido 
fundamentalmente al descenso de la población de los países 
hispanohablantes. Más de 21 millones de alumnos estudian español como 
lengua extranjera em 2018. En concreto 21.815.280. 
Além desses números, que mostram a relevância do idioma, o espanhol é o 
segundo idioma mais utilizado na comunicação internacional e o terceiro oficial no 
campo da política, da economia e da cultura internacional. 
Veja a seguir os números indicados pelo Instituto Cervantes (2018, p. 25). 
La contribución del conjunto de los países hispanohablantes al PIB mundiales 
del 6,9%. El PIB generado por el conjunto de los países hispanohablantes es 
superior al generado por el conjunto de los países donde el francés tiene 
estatus de lengua oficial. 
Norteamérica (México, Estados Unidos y Canadá) y España suman el 78% 
del poder de compra de los hispanohablantes. En 2016, el poder de compra 
de la población hispana de Estados Unidos era de 1,4 billones de dólares y 
se espera que en 2021 este alcance los 1,66 billones. En el caso del español, 
la lengua común multiplica por cuatro las exportaciones bilaterales entre los 
países hispanohablantes. El 79% de las empresas exportadoras españolas 
cree que el hecho de que en el mercado de destino se hable en español 
puede facilitar su actividad internacional. 
Parte desses números se deve à influência dos latinos na sociedade: dos 21 
países nos quais o espanhol é a língua oficial, 19 são da América Latina. Estes 
mostram um grande crescimento econômico, e isso gera a necessidade de parcerias 
para negócios e o desenvolvimento de negociações. 
Nesse sentido, amplia-se a importância da língua espanhola no cenário 
mundial. Para quem negocia com esses países, é fundamental conhecer as suas 
particularidades, isto é, a sua cultura. Esse conhecimento torna-se uma importante 
ferramenta, já que quem desconhece a cultura de um povo pode cometer erros e gafes 
nas relações cotidianas de trabalho, numa imigração a um país de fala hispânica ou 
até mesmo num simples turismo no exterior. 
Conhecer a cultura de um povo garante o respeito à identidade da população e 
uma adaptação menos traumática para quem chega com outros costumes e vivências. 
Vale ressaltar que algumas empresas têm exigido o diploma de espanhol como língua 
estrangeira (DELE) para que possam se certificar do nível de conhecimento que os 
seus colaboradores têm do espanhol. 
 
20 
 
Para os brasileiros, a importância desse conhecimento é ainda maior, porque, 
com os acordos firmados com o Mercosul, ampliou-se o número de negócios entre 
empresas brasileiras e estrangeiras que têm o espanhol como principal idioma. Essa 
necessidade de desenvolver a língua dos hermanos é ratificada pelas exigências de 
um mundo globalizado. Afinal, a comunicação com pessoas de diferentes lugares do 
mundo é não só uma realidade, mas também uma exigência.Conhecer outras línguas é, portanto, indispensável, seja no trabalho, seja nos 
estudos, seja para o lazer, seja para o simples contato com pessoas de outros países. 
Nesse sentido, vale ressaltar que o espanhol é a terceira língua mais utilizada nas 
redes sociais. Veja os resultados de pesquisas do Instituto Cervantes (2018, p. 40). 
El español es la tercera lengua más utilizada en la Red. El 8,1% de los 
usuarios de Internet se comunica en español. El uso del español en la Red 
ha experimentado un crecimiento del 1.696% entre los años 2000 y 2017. 14 
Introdução à língua espanhola Solo un país de habla hispana, México, se 
encuentra entre los diez con el mayor número de usuarios en Internet. El 
español es la segunda lengua más utilizada en Wikipedia, en Facebook y em 
Twitter. El número de usuarios de Facebook en español coloca a este idioma 
a gran distancia del portugués y del francés. El español es la segunda lengua 
más utilizada en Twitter en ciudades mayoritariamente anglófonas como 
Londres o Nueva York. 
O Brasil está muito próximo de países que têm o espanhol como o idioma 
oficial. Além disso, em algumas regiões dos Estados Unidos, essa também é uma 
língua importantíssima nas relações comerciais — 15% da população do país têm o 
espanhol como a sua primeira língua. 
Portanto, conhecê-la facilita também os negócios financeiros e profissionais 
com a maior potência do mundo. Há ainda muitos estudantes de espanhol nos 
Estados Unidos: “[…] el número de alumnos matriculados en cursos de español en las 
universidades estadounidenses supera al número total de alumnos matriculados en 
cursos de otras lenguas” (INSTITUTO CERVANTES, 2018, p. 15). 
Na África, desde 2001 o espanhol é considerado uma das línguas oficiais da 
Organização da Unidade Africana (OUA), juntamente com o árabe, o francês, o inglês 
e o português. Isso significa que, nesse contexto, a língua espanhola se revela como 
uma das escolhas mais vantajosas para as questões profissionais, acadêmicas e 
culturais. 
No mundo acadêmico, principalmente no âmbito dos cursos de pós-graduação, 
há muita bibliografia escrita em espanhol e que não tem tradução para o português. 
 
21 
 
Vale ressaltar a forte presença do espanhol na ciência e na cultura. Veja a seguir os 
dados apresentados pelo Instituto Cervantes (2018, p. 49). 
El porcentaje de participación del conjunto de los países hispanohablantes en 
la producción científica mundial ha experimentado un crecimiento constante 
desde 1996. El principal actor en la difusión científica en español sigue siendo 
España, seguido a gran distancia de México. Casi el 75% de la producción 
científica en español se reparte entre tres áreas temáticas principales: 
ciencias sociales, ciencias médicas y artes y humanidades. Tres países 
hispanohablantes (España, Argentina y México) se encuentran entre los 
quince principales países productores de películas del mundo. España es el 
tercer país exportador de libros del mundo. Dos países hispanohablantes 
(España y Argentina) se encuentran entre los 15 principales productores de 
libros del mundo. El español científico y técnico se encuentra relegado a un 
plano secundario en el ámbito internacional. 
Quando se analisa o âmbito acadêmico, nota-se também a gama de 
oportunidades de estudos no exterior. Para os brasileiros, é mais próximo e mais 
barato estudar nos países vizinhos do que, por exemplo, ir aos Estados Unidos ou à 
Europa. Porém, como no Brasil há o costume de valorizar e seguir a cultura norte-
americana, pouco se aproveita para imergir na cultura dos países hispanohablantes. 
Quando brasileiros se permitem conhecer esse universo, notam não só uma 
variedade de folclores, tradições, festividades, valores, mas também a similaridade 
com a diversidade cultural brasileira. Somos latino-americanos, colonizados por 
europeus, oriundos da mistura com povos pré-colombianos, marcados pela 
escravidão. 
Essa percepção é construída também pelos turistas: cresce cada vez mais o 
número de turistas no mundo hispânico. No entanto, o espaço político do espanhol no 
mundo está relacionado também à valorização dada a esse idioma em cada país no 
qual ele é língua oficial. Segundo Xoán Lagares (2018), esse espaço está em 
permanente mutação, num jogo dinâmico de confrontos e de solidariedades. 
A crise econômica na Espanha e os sucessivos recortes orçamentários em 
políticas públicas provocaram nos últimos anos uma evidente desaceleração das 
ações de expansão ideadas pelos agentes da política linguística do espanhol. Por 
outro lado, novas iniciativas muitas delas calcadas no modelo de ação inaugurado 
pela própria Espanha surgem em diversos pontos do mundo hispânico. 
A Colômbia e a Argentina, por exemplo, têm investido no turismo idiomático, 
promovendo cursos para estrangeiros e buscando destacar a importância do espanhol 
no cenário mundial. Em síntese, a língua espanhola está crescendo e ocupando um 
 
22 
 
lugar de destaque no cenário mundial. Assim, os aprendizes desse idioma têm 
maiores chances de se inserir na comunicação em âmbito global. 
3 O PERCURSO HISTÓRICO 
Você sabia que a língua espanhola é a segunda língua mais falada no mundo? 
Em termos de quantidade de falantes nativos de espanhol, esse número passa de 500 
milhões, abaixo somente do mandarim (o idioma falado na China). 
Originado na Espanha, hoje esse idioma é falado em países das Américas 
Central e do Sul, assim como em países da Ásia e da África. Além disso, a língua 
espanhola é a segunda mais estudada como língua estrangeira, só ficando atrás do 
inglês (ALVES, 2018). 
Vale lembrar ainda que o espanhol também é muito falado nos Estados Unidos, 
em função da grande imigração latina. Portanto, aprender espanhol traz várias 
vantagens, como conhecer muitos lugares pelo mundo usando-o para se comunicar. 
Assim, neste capítulo, você conhecerá o caminho que o idioma espanhol 
percorreu, ao longo da sua história, para se constituir como língua. Além disso, verá 
os aspectos que a transformaram no que ela é hoje, identificando as etapas e as 
influências sofridas. 
3.1 Língua espanhola: a caminhada para se tornar idioma nacional 
Começaremos essa história de trás para a frente. Atualmente, o idioma 
espanhol é a língua oficial adotada por 21 países em todo o mundo. Só nas Américas, 
são 20 países todos ex-colônias da Espanha, que falam espanhol ou castelhano ainda 
hoje. No entanto, há outros países que, durante muito tempo, tiveram o espanhol como 
segunda língua, como é o caso das Filipinas, que foram uma colônia espanhola. 
 Outros países têm ainda um grande convívio com a língua espanhola, por 
exemplo, os Estados Unidos. Segundo o informe produzido pelo Instituto Cervantes, 
El español: una lengua viva, estima-se que há mais de 21 milhões de pessoas 
estudando espanhol como língua estrangeira no mundo, somando os estudantes dos 
106 países que não têm o espanhol como língua oficial (INSTITUTO CERVANTES, 
2016). 
 
23 
 
 Assim, são mais de 500 milhões de pessoas que falam espanhol, seja como 
língua materna, como segunda língua ou como língua estrangeira. Além de ser a 
segunda língua materna mais falada, esse idioma ocupa também a segunda posição 
como idioma de comunicação internacional. 
Portanto, de uma maneira ou de outra, o espanhol possui um espaço 
significativo no cenário mundial. Mas de onde vem o espanhol? Basicamente, ele vem 
do Latim; porém, passaram-se séculos de história até que ele alcançasse o status de 
língua e fosse conhecido como língua espanhola. Neste capítulo, vamos usar a 
terminologia língua espanhola, sem adentrarmos a discussão política em relação ao 
seu nome: castelhano ou espanhol. 
3.2 Origem da língua espanhola 
Depois da invasão romana à Península Ibérica, datada de 218 a.C., esse 
território passou por um processo de romanização, sobretudo a romanização 
linguística. 
Essencialmente, esse processo consiste em tornar romanosos espaços 
conquistados, e é esse processo que determinou o destino, não só da língua 
espanhola, mas de todas as línguas românicas ou neolatinas, como o português, o 
francês, o romeno e outros (ALVES, 2018). 
Fonte: vocesa.abril.com.br 
 
24 
 
O Império Romano foi um dos maiores impérios, e perdurou aproximadamente 
mil anos, desenvolvendo-se como grande potência militar, política, econômica, 
legislativa e tecnológica de seu tempo. Essa superioridade influenciou a cultura, a 
religião, a filosofia e a língua dos povos das regiões conquistadas. 
Na Península Ibérica, não foi diferente. A Península Ibérica era constituída por 
vários povos, como os célticos, os celtiberos, os lusitanos e os vascões — cuja 
sociedade não era tão bem estruturada como a romana. Eles tinham poucos recursos, 
eram pobres em tecnologia militar e organizados em clãs ou tribos, o que foi um fator 
importante para a adoção dos costumes romanos. Portanto, o mesmo aconteceu com 
a língua. 
 O Império Romano se movimentou até esse território, a fim de conquistar a 
região dominada por Cartago, enfraquecendo as suas forças. Depois dessa conquista, 
o processo de romanização foi fundamental para a formação da língua. De certa 
forma, os povos autóctones conquistados viram vantagem em aprender o latim e 
foram adotando-o pouco a pouco, à sua maneira, para se comunicar com aqueles que 
passaram a exercer o comando e as leis (ALVES, 2018). 
A exceção foi a região norte da Hispania, já que a língua vascuense (também 
conhecida como eusquera) não deixou de existir assim como a Grécia, que também 
foi conquistada pelos romanos, mas manteve o grego como a sua língua. Logo, o 
espanhol se origina no latim. Mas de qual latim? 
3.3 Do latim ao espanhol: um longo percurso 
O latim que chegou à região da Península Ibérica era uma variedade conhecida 
como latim vulgar. Era a língua falada pelos soldados, colonos, comerciantes, 
funcionários públicos, ou seja, falada pelo povo. Sua base era oral e, como toda língua 
oral, sofreu alterações de diversos fatores: geográficos, culturais, de uso por falantes 
de variados níveis de instrução e por influência de outras línguas. 
 
 
25 
 
 
Fonte: jornalri.com.br 
Como acompanhava o povo, era uma língua que estava em constante mudança 
e, por isso, não era uniforme. Essa peregrinação linguística fazia com que novas 
incorporações fonéticas, semânticas e vocabulares fossem sendo acrescentadas 
(ALVES, 2018). 
Esse fator é fundamental para entender a predisposição à evolução. Por outro 
lado, o que contrabalanceava e de certa maneira freava as mudanças era o latim 
clássico (ou literário), que convivia com o latim vulgar. 
O latim clássico era falado e escrito, estando presente em documentos 
religiosos, jurídicos, administrativos e nas obras literárias, como em Eneida, de 
Virgílio. Era uma língua estilizada, que acabava tendo diferenças em sua forma oral, 
falada em ambientes mais protocolares e por pessoas eruditas e de classes sociais 
mais altas. 
 A forma clássica do latim se preservou graças às obras e aos documentos 
escritos, o que contribuiu para a formação gramatical das línguas descendentes, 
principalmente a língua espanhola. 
Outro documento importante é o Appendix probi: uma obra escrita no século IV 
d.C., sem autor determinado, e que consistia em compilar os desvios da língua falada 
em relação à norma culta e corrigi-los, ou seja, apontar como a palavra era usada e 
como deveria ser usada, segundo a norma do latim clássico. 
 
26 
 
O Appendix probi [200-?] é um documento importantíssimo, que comprova o 
distanciamento entre o latim clássico a língua produzida e estilizada e o latim vulgar 
falado por todo tipo de gente do povo (sermo vulgaris). 
Até Cícero (séc. I a.C.) fazia distinção entre latim vulgar e latim clássico em 
seus escritos: usava um estilo diferente e relaxado nos escritos familiares, como em 
suas cartas, e o latim clássico em suas obras filosóficas ou discursos políticos 
(CARDOSO, 2002). 
Essas características diafásicas (por registros distintos) e diastrática (por 
fatores socioculturais), que evidenciam a espontaneidade e a dinâmica da língua, vão 
contribuindo, nesse caso, para a evolução do latim para o romance que, mais tarde, 
viria a ser a própria língua espanhola. O romance é uma variedade intermediária, 
antes da consolidação da língua espanhola. 
3.4 O romance: mais um capítulo dessa complexa história 
A língua é um organismo vivo e em constante processo de mudança. O latim 
foi fruto de evolução linguística do indo-europeu, assim como o espanhol é evolução 
linguística a partir do latim. Devemos também levar em consideração os fatores 
diatópicos, isto é, fatores relativos às diferentes formas de falar, nas diferentes regiões 
existentes na Hispania, e fatores diacrônicos, ou seja, fatores históricos e evolutivos 
que fizeram parte da construção do que hoje conhecemos como Espanha. 
Dessa maneira, passada a romanização, compreende-se que a língua 
espanhola é oriunda de uma variedade do romance que se falava em Castela, durante 
a Idade Média. Depois da queda do Império Romano, a Hispania sofreu invasões que 
contribuíram para as mudanças linguísticas. Duas das principais foram a invasão 
visigoda (séc. V) e a árabe (séc. VIII). 
Os visigodos se localizavam no sul da Europa e se estenderam pela região 
central e sul da Península Ibérica. Esse povo foi muito influenciado pela cultura, 
religião e língua romana, reforçando ainda mais a tradição linguística trazida pelos 
romanos; entretanto, também deixou a sua marca na língua, com palavras como 
yelmo, espuela e também topônimos como Alfonso, Rodrigo, Fernando, Gonzalo 
(ALVES, 2018). 
 
 
27 
 
A herança árabe deixada no léxico consiste em milhares de palavras, entre elas 
jarabe, tarifa, alfombra, alcalde, cid, e topônimos como La Mancha, Guadalquivir, 
Andalucía. Há também casos de duplo significante coexistindo na língua, ou seja, 
duas palavras de origens diferentes para designar o mesmo conceito. 
 
 
Em comparação com a incorporação de palavras oriundas do latim, não foram 
muitos os vocábulos tomados do árabe (cerca de quatro mil), pois houve muita 
rejeição à cultura, principalmente depois da expulsão dos árabes da região da 
Hispania. 
Os árabes chegaram na Península Ibérica no ano 711 d.C. e rapidamente 
ocuparam todo o território da Hispania, exceto a região norte, devido à dificuldade 
geográfica (região montanhosa) (ALVES, 2018). 
Essas invasões tiveram uma grande contribuição para o romance (o início da 
criação da língua espanhola), uma vez que, assim como na romanização, a Península 
Ibérica passou novamente, durante a invasão árabe, por um processo de bilinguismo, 
mas agora a partir do romance. 
Durante muitos séculos, esse território ficou dividido em duas grandes regiões: 
a do norte (reinos cristãos, de onde iniciou o processo de reconquista) e a do sul 
(ocupada pelos árabes). 
A partir do século X, os cristãos se organizaram para dar início à reconquista 
do território sul. Nesse período, devido ao isolamento geográfico, a influência do 
substrato e a romanização propiciaram diferentes evoluções linguísticas em cada 
reino do norte: Leon, Galícia, Castela, Navarra, Aragão e Catalunha. 
Nesses reinos, surgiram as três línguas faladas na atual Espanha: galego, 
castelhano e catalão (além da língua eusquera, falada no País Basco). Nas regiões 
conquistadas pelos árabes (centro e sul), falavam-se dialetos moçárabes, que 
 
28 
 
desapareceram durante o processo de reconquista. Entretanto, como já foi dito, a sua 
contribuição para o vocabulário da língua espanhola foi importantíssima. 
O processo de reconquista da região centro-sul da Península Ibérica pelos 
cristãos foi fundamental para a consolidação da formação linguística desse território. 
Foram quase cinco séculos de avanços militares, ampliação do território, instituiçãodo governo e é claro imposição linguística. 
Dessa forma, os cristãos estabeleceram zonas autônomas, com organização 
política própria, novos reinos e realidades linguísticas diferenciadas, que deram lugar 
a dialetos romances, como o galego-português, o asturo-leonês, o navarro-aragonês, 
o catalão e o castelhano (ALVES, 2018). 
O dialeto navarro-aragonês era utilizado na confluência dos três reinos: 
Castela, Navarra e Aragão. Esse é o dialeto romance que, no século XI, aparece as 
primeiras anotações, à mão, na margem de um códice: as Glosas Emilianenses e 
Silenses. 
A intenção dos monges copistas era de aclarar o que se estava lendo em latim; 
assim, temos os primeiros documentos escrito nessa variedade linguística. Dessa 
forma, conclui-se a primeira parte da formação da língua espanhola, a fase do 
romance, composta de três etapas: substrato (contato das línguas dialetais pré-
romanas existentes na Península Ibérica), romanização (processo de aculturação e 
assunção da língua latina) e superstrato (período das invasões visigodas e árabes). 
3.5 Consolidação da língua espanhola 
As invasões visigodas e árabes serviram de suprimento para a formação da 
língua, mas foram três as etapas fundamentais para a consolidação do espanhol: 
etapa medieval (séc. X–XV), imperial (séc. XVI– XVII) e contemporânea (a partir do 
séc. XVIII). Partindo da etapa medieval, o primeiro texto escrito integralmente em 
espanhol foi uma obra literária. 
 
29 
 
 
Fonte: www.facsimilefinder.com 
O Cantar de mío Cid foi um texto anônimo, cuja versão original está datada do 
século XII, mas a versão que se conhece, copiada por Per Abatt, é de 1207. Outra 
grande obra literária e fundamental para a consolidação da língua é Grande e General 
Estoria de España, escrita pelo rei Alfonso X, o Sábio (rei de Castela entre 1252 e 
1284), e um grupo de intelectuais que o auxiliaram na escrita e tradução de um 
cancioneiro e de obras jurídicas e astronômicas. 
O rei Alfonso X promoveu o uso da língua espanhola no lugar do latim, 
convertendo-a em língua culta e oficial; com isso, impulsionou o avanço linguístico. 
Outros autores foram importantes para essa consolidação: Don Juan Manuel (El 
conde Lucanor) e Arcipreste de Hita (Libro de buen amor), que, por meio de seus 
escritos, ofertaram uma estruturação mais fixada da língua. 
A segunda etapa, a imperial, configura-se com a união monárquica de Castela 
e Aragão, com os reis católicos Isabel e Fernando. O ano de 1492 é um marco desse 
período, pois foi quando se concluiu o processo de reconquista e recuperação do reino 
de Granada, de posse dos muçulmanos (ALVES, 2018). 
Além disso, foi a data do anúncio do decreto de expulsão dos judeus (Sefardís) 
do território espanhol, da chegada de Cristóvão Colombo à América e da criação da 
Gramática Castelhana, por Elio Antonio de Nebrija. 
 
30 
 
 
Fonte: www.apoioescolar24horas.com.br 
Todos esses acontecimentos impulsionaram a língua num processo de grande 
difusão. É nesse contexto de florescimento que se configurou o Siglo de Oro da 
literatura espanhola, outro marco de estruturação e difusão da língua, cujas 
modificações a levaram à atual configuração. 
A etapa contemporânea é marcada pela criação da Real Academia Española 
(RAE), em 1713, por ordem do rei Felipe V. Ela surgiu com a tarefa de fixar a língua, 
com base nos escritos literários dos principais autores. Assim, entre 1726 e 1739, 
foram compostos o Diccionario de Autoridades (1741) e Ortografía e sua Gramática 
(1771). 
Nos séculos seguintes, ocorreram muitas transformações e incorporações à 
língua espanhola, principalmente no léxico. A humanidade segue o seu caminho rumo 
aos avanços sociais, científicos e tecnológicos, e a língua acompanha esse processo. 
Por isso, a evolução e as transformações pelas quais as línguas passas, como a 
inclusão de termos e neologismo, são contínuas e perpétuas. 
3.6 A língua espanhola segue o seu rumo 
Conforme você viu, até a configuração do espanhol que conhecemos hoje, 
muitas etapas fizeram parte do processo: a etapa pré-romana (substrato), a 
 
31 
 
romanização, as invasões visigodas e árabes (superstrato), a etapa medieval 
(consolidação do território espanhol até a reconquista), a etapa imperial (reis católicos, 
Siglo de Oro) e etapa contemporânea (que se inicia com a criação da Real Academia 
Espanhola). 
Todavia, em todas essas etapas, há um fator comum e muito importante, que 
influenciou a configuração da língua espanhola: os empréstimos linguísticos. Ao longo 
de toda a evolução da língua, podemos ver que o fator empréstimo foi transformando 
a língua e tornando-a mais complexa e rica (ALVES, 2018). 
Assim, para além do que já foi apresentado nas etapas de formação e 
consolidação da língua espanhola, veremos outros desses empréstimos. São eles: 
 Helenismos: no tempo de Alexandre Magno, a cultura grega possuía 
muita força e prestígio, e isso caracterizou a absorção de termos dessa 
cultura. Alguns elementos foram traduzidos pelos romanos ao latim e 
outros acabaram por se transformar em um duplo significante, como é o 
caso da palavra metamorfosis (grega), que se traduziu ao latim por 
transformatio. Assim, temos metamorfosis e transformación. 
 Germanismos: esses empréstimos são procedentes do latim 
incorporado pelos povos bárbaros no período da invasão visigoda, como 
perro, yelmo, bigote. Outros germanismos entraram mais tarde, no 
período do Siglo de Oro, por exemplo, jabón, Gonzalo, vals (proveniente 
do romance-francês). 
 Arabismos: proveniente das invasões árabes e dos muitos anos de 
domínio na região da Península Ibérica, o árabe é a voz que mais 
emprestou termos à língua espanhola, depois do latim. Foram 
emprestados principalmente vocábulos de guerra (alférez, almirante), de 
ofício (alcalde, alguacil), da agricultura (limón, albaricoque, algodón, 
azucena, zanahoria, arroz), da construção (albañil, alcantarilla, aldea, 
azulejo), da ciência (alcohol, algoritmo, ámbar, alambique) e até mesmo 
termos referentes a cores (carmesí e azul). 
 Galicismos: as relações religiosas e políticas com a França, no início 
dos séculos XI e XII, propiciaram entradas, principalmente, de âmbito 
culinário e de costumes: restaurante, croqueta, buqué, acordeón. 
 
32 
 
 Italianismos: nos séculos XIV e XVII, o Humanismo e a vasta produção 
de arte, música e literatura da Itália aportaram novas palavras ao 
vocabulário espanhol, como madrigal, terceto, soneto, capricho, 
melodrama. 
 Americanismos (línguas pré-colombianas): o descobrimento da 
América propiciou a incorporação de muitas novas palavras, oriundas 
dos povos pré-colombianos: aguacate, patata, cacahuete, canoa, caoba, 
cigarro, loro, maíz e tomate. 
 Anglicismos: iniciam-se no século XIX, mas é no século XX que se 
intensificam esses empréstimos, devido aos avanços científicos e 
tecnológicos, predominantemente norte-americanos: formatear, 
disquetes, escáner, electroshock. Há alguns oriundos do inglês britânico, 
principalmente vocábulos relacionados ao esporte: fútbol, córner, ping-
pong, golf. 
 
Assim, o tempo e o movimento do homem na história propiciaram essa gama 
de empréstimos linguísticos, que foram incorporados, muitas vezes com resistências 
de literatos e linguistas, mas muito comuns em seu uso (ALVES, 2018). 
O processo de empréstimo ocorre quando uma expressão ou palavra que 
pertence a determinada língua passa a ser adotada por muitos falantes de outra, 
ganhando força e visibilidade na língua que a acolhe, como hot-dog, hamburger, 
online, email, drag queen, shopping, etc. 
 Possivelmente, todos esses exemplos citados devem ter um correspondente 
na língua espanhola. No entanto, a forma emprestada recebe mais atenção da mídia, 
tem mais força publicitária e, de certa forma, é mais aceita popularmente, devido a 
uma pressão social, que eleva quem a usa a um status social de conhecedor e 
moderno.Mas o que dizer de formas como tuits, tuitear e tuitero? Estas foram criadas a 
partir da adoção, por empréstimo, da palavra inglesa Twitter (microblog), em conjunto 
com processos de formação de palavras que já existem na língua — nesses exemplos, 
temos a sufixação. 
 
33 
 
Assim também acontece com as palavras oriundas da informática (como você 
viu nos casos de anglicismos), a partir das quais se formaram muitos verbos: 
formatear, escanear, deletar, chatear, etc. 
Porém, não é só por derivação de palavras estrangeiras que se forma um 
neologismo: ele pode ocorrer a partir da necessidade da própria língua e se servir de 
palavras (radicais) já existente na língua, como o verbo recepcionar, que vem do 
substantivo recepción. 
4 ESBOÇO HISTÓRICO DA LÍNGUA ESPANHOLA 
Até o século XIX, acreditava-se que o conhecimento da estrutura da língua 
(morfologia e sintaxe) garantiria o domínio das habilidades de produção e 
compreensão de textos, em quaisquer instâncias de comunicação. Além disso, 
considerava-se apenas uma variante como correta: a variante culta. 
Com o passar dos séculos, foi possível perceber que a língua é viva, e a sua 
sintaxe está em constante evolução. Logo, a noção de complexidade sintática evoluiu 
para uma perspectiva que concebe a sintaxe como reflexo de uma atividade mental 
que vai além da superfície da linguagem (SPESSATO, 2008). 
Assim, estudos da língua com base apenas em sua estrutura morfossintática 
embora tenham trazido inúmeras contribuições ao desenvolvimento da linguística 
tornaram-se insuficientes para explicar o seu funcionamento pragmático e discursivo. 
 Com isso, fez-se necessária a busca pela compreensão de elementos externos 
ao sistema linguístico que fossem atuantes no seu uso. Neste capítulo, você 
aprenderá a origem dos estudos sintáticos na história da língua espanhola, entenderá 
o percurso sintático histórico da língua espanhola desde Antonio de Nebrija em 1492 
até os dias atuais e perceberá que a sintaxe tem uma abordagem muito além das 
gramáticas escolares. 
 Esse novo conhecimento dará lugar a um ponto de vista que integra a 
complexidade sintática não apenas em um texto complexo e bem elaborado, mas 
também dentro do evento comunicativo em que ela ocorre. 
 
34 
 
4.1 A língua como objeto científico 
Ao analisar a língua na sua concepção de evolução na história dos estudos 
linguísticos, Neves (2004, p. 51) nos apresenta o surgimento das primeiras 
investigações sobre a natureza da linguagem, ainda de caráter filosófico, 
desenvolvidas pelos gregos por volta do século V a.C. 
Naquela época, a língua ainda era vista apenas como expressão do 
pensamento; dessa forma, qualquer atividade linguística centrava-se nas técnicas do 
discurso e na sua retórica. Portanto, estudar a língua era mais um exercício de 
compreensão textual do que uma análise dela como objeto único. 
 
 
Fonte: saberatualizado.com.br 
No entanto, paulatinamente, as pesquisas foram tomando novos rumos e novas 
análises, ultrapassando um caráter mais filosófico, em favor de um mais linguístico, 
como discussões sobre gênero das palavras e classes gramaticais. Um século depois 
(IV a.C.), surgiram questionamentos sobre tempos verbais e sobre o conceito de 
conjunção, seguidos por análises acerca dos artigos e do seu caráter articulador. 
O critério morfológico da flexão, no final do século II a.C., foi o modelo para a 
organização das classes de palavras da gramática ocidental. Entretanto, ainda não 
havia, nesse momento, espaço para os estudos da sintaxe, uma vez que os 
 
35 
 
estudiosos da época buscavam garantir um caráter puramente linguístico e 
acreditavam que estudar sentenças fazia referência ao caráter filosófico da linguagem. 
Condicionados por sua finalidade prática e visando à concretude linguística, os 
estudiosos da linguagem, de início, fixaram-se principalmente na fonética e na 
morfologia. Contudo, no século II d.C., Apolônio Díscolo deu início a pesquisas 
relacionadas a fenômenos sintáticos. Todavia, segundo Neves (2004), a sintaxe era 
vista como o conjunto de regras que regem a síntese dos elementos que constituem 
a língua e era delimitada pela oração. 
De acordo com Silva (1996), os primeiros estudos gramaticais de uma língua 
diferente do grego ocorreram com o latim clássico, em Roma, no século I d.C. Na 
Idade Média, tiveram destaque as pesquisas em fonética de Donato (século IV d.C.), 
comparando o latim com o grego, e os estudos de Prisciano (século V d.C.), os quais 
representaram a primeira definição de sintaxe do Ocidente: “[...] a disposição que visa 
à obtenção de uma oração perfeita” (SILVA, 1996). 
Os estudos de Donato e Prisciano serviram como base e inspiração aos 
estudos linguísticos durante toda a Idade Média e, posteriormente, no Renas cimento, 
quando começaram a surgir as gramáticas das línguas vernáculas. De acordo com 
Azeredo (2001), no Renascimento (séculos XV a XVIII), surgiram gramáticas das 
línguas vernáculas como a Gramática de la lengua castellana em 1942, de Antonio de 
Nebrija, a Gramática da Linguagem Portuguesa em 1536, de Fernão de Oliveira, e a 
Gramática de João de Barros em 1540, fortemente inspiradas nas gramáticas 
clássicas. 
Ainda segundo Azeredo (2001), o racionalismo dos séculos XVII e XVIII 
reforçou a ligação entre a linguagem e o pensamento, considerando “abusos” ou 
“imperfeições” tudo o que estivesse fora dessa concepção de língua. Em essência, 
nessa definição de sintaxe, é possível perceber aspectos da concepção de língua que 
os gregos tinham, ainda vinculada à representação do pensamento e à busca de uma 
oração gramaticalmente “perfeita”. 
Com essa breve análise sobre a história da língua como objeto de estudo, é 
possível entender os motivos pelos quais o ensino gramatical das línguas neolatinas 
o português e o espanhol, por exemplo, baseiam-se principalmente na análise de sua 
estrutura, no apego à nomenclatura e no objetivo de se alcançar o “bom uso”. Isso se 
dá porque os estudos sobre a língua, até a consolidação da linguística como ciência, 
 
36 
 
eram motivados pela observação e pela descrição de um modelo padrão escolhido e 
pelo estabelecimento de paradigmas. 
Foi somente no século XIX que os estudos linguísticos começaram a se 
desvincular da tradição gramatical, desenvolvendo as suas próprias tecnologias e 
constituindo, aos poucos, a linguística moderna. Todavia, tais avanços foram pouco 
contemplados no ensino, já que, até os dias atuais, o ensino escolar considera a 
tradição gramatical, e não a linguística. 
Nesse momento do século XIX, segundo Azeredo (2001, p. 23), buscou-se 
comparar as línguas, com o objetivo de deduzir os princípios gerais de sua 
organização, para que fosse possível explicar a natureza da linguagem. A gramática 
histórico-comparativa ocupou-se essencialmente da investigação das unidades 
lexicais, gramaticais e sonoras das línguas. 
O estruturalismo, por sua vez, iniciou o estudo sincrônico das línguas; 
entretanto, embora esse movimento tenha significado certo rompimento com as 
concepções historicistas da gramática tradicional, o foco ainda era a estrutura da 
língua, a partir do princípio de que todo significado se estabelecia pela oposição entre 
os elementos do sistema. 
No que diz respeito à ciência da linguagem, se considerarmos o longo período 
em que as suas bases vêm sendo construídas, desde a Antiguidade Clássica até o 
século XX, podemos dizer que apenas no final do século XIX é que se operou uma 
verdadeira revolução científica. 
Somente então a linguagem passou a ser vista como ciência propriamente dita. 
No século XX, com a obra Curso de Linguística Geral em 1916, de Ferdinand de 
Saussure, a língua passou a ser reconhecida como uma ciência, ou seja, a ciência da 
linguagem, vulgo linguística. 
A sua análise buscava a observação e a descrição da língua, a qual deu origem 
à distinção de linguagem, língua efala. Para Saussure (1975), “[...] a linguística tem 
por único objeto a língua considerada em si mesma e por si mesma”. Portanto, a língua 
é um “sistema de signos”: um conjunto de unidades que se relacionam 
organizadamente dentro de um todo. 
 
 
 
37 
 
Com isso, Saussure (1975), o pai da linguística moderna, estabeleceu a noção 
de que a língua formava um sistema de signos independente. Isso só lhe foi possível 
graças às formulações anteriores, que foram desencadeadas principalmente por 
William Jones em suas pesquisas sobre as relações entre o sânscrito, o grego e o 
latim e que, segundo Faraco (1991, p. 29), constituíram “[...] o marco simbólico do 
início da Linguística como ciência”. Após Saussure, segundo Azeredo (2001), novos 
linguistas e novas análises sobre a linguagem surgiram. 
Por exemplo, Harris, reconhecido como um dos mais importantes linguistas no 
campo da fonologia, deixou um pouco a desejar na sintaxe. Sua proposta no campo 
sintático estabeleceu classes de palavras mais bem definidas que a gramática 
tradicional, pois, por meio de suas análises, determinou constituintes imediatos e 
formulou regras sintagmáticas, as quais buscavam descrever a estrutura interna da 
oração. 
No entanto, convém salientar que, por mais que suas análises contemplassem 
grande parte da sintaxe, revelaram-se inadequadas para alguns fenômenos, como a 
topicalização e a ambiguidade. Inclusive, Azeredo (2001) afirma que os estudos 
linguísticos estavam tão latentes que, nessa época, o conceito de gramática 
praticamente se fundiu ao de estrutura. 
Na metade do século XX, um novo modelo, proposto pelo linguista americano 
Chomsky (1957, 1976), conseguiu, por meio de uma proposta mais elaborada, dar 
conta de fenômenos linguísticos não explicados até então. De acordo com Cervoni 
(1989), a principal crítica de Chomsky aos estudos linguísticos da época foi não 
considerar a criatividade como característica da linguagem. 
Embora a abordagem de Chomsky pretendesse considerar aspectos subjetivos 
da linguagem, mostrou-se também limitada, por atribuí-los unicamente ao sistema e 
por assumir a linguagem como um módulo mental autônomo. Sua importância para a 
sintaxe é inegável: ele a colocou como elemento central nos estudos linguísticos, 
assumindo a frase como unidade fundamental da gramática e ampliando 
definitivamente o escopo das investigações. 
Dessa forma, a sintaxe, nesse momento, constituía-se como objeto de estudo 
da ciência linguística. Contudo, cabe ressaltar que se tratava de uma sintaxe 
autônoma, desvinculada da semântica e das intenções comunicativas. 
 
38 
 
4.2 Tradição, renovação e influência da teoria sintática de Nebrija 
A sintaxe na língua espanhola foi muito importante, não apenas para o avanço 
das gramáticas neolatinas, mas também para o âmbito linguístico de modo geral. 
Nebrija, em 1492, o autor da primeira gramática oficial neolatina, publicou a sua obra 
baseando-se em trabalhos e pensamentos anteriores. 
Então, vamos tentar compreender de onde vêm as ideias sintáticas de Nebrija 
e, especificamente, de que maneira a tradição linguística influenciou a sua abordagem 
sintática. 
 
 
Fonte:hdnh.es/antonio-de-nebrija-primera-gramatica-del-espanol/ 
Em essência, você verá qual conjunto de princípios teóricos foi importante na 
compreensão da relação de dependência entre elementos sintáticos, em que um deles 
aparece como “principal” e outro como “subordinado”. 
Segundo Calero Vaquera (2007, p. 92), o régimen — que, de acordo com o 
dicionário da Oxford (SPANISH OXFORD LIVING DICTIONARIES, c2018, documento 
on-line), representa a forma de dependência existente entre as palavras, tem sido uma 
das questões-chave dos primeiros séculos da sintaxe ocidental. 
A importância da visão gramatical de Nebrija impulsionou os gramáticos a 
analisarem de forma mais atenta e crítica a sintaxe na língua espanhola. Segundo 
 
39 
 
Girón Alconchel (2001, p. 66), para alguns autores, a sintaxe é a parte menos 
desenvolvida da sua gramática. 
Já Esparza Torres (1995, p. 229) afirma que, para outros gramáticos, a sintaxe 
é uma seção extremamente valiosa de seus estudos, que foram tratados de forma 
injusta. A principal questão é que a sintaxe dos gramáticos da Europa Renascentista 
ocupava inicialmente uma posição secundária, perdendo espaço para a fonética e 
para a morfologia. 
Essa situação mudou ao longo dos séculos, de modo que, entre 1492 (data da 
Gramática de Nebrija) e 1796 (data da segunda Gramática da Real Academia 
Española – RAE), a sintaxe era feita com mais de um terço do “espaço” de gramática 
normativa. 
O contexto em que Nebrija elaborou a sua gramática o novo paradigma 
cientista da Renascença, favoreceu os avanços linguísticos que vinham sendo feitos 
nos séculos anteriores, a partir da gramática latina, da humanista e da medieval, por 
exemplo. 
De acordo com Esparza Torres (2006), Nebrija não começou do zero em suas 
posições gramaticais, pois teve de se estabelecer como gramático na tradição latina 
medieval, cuja influência na Renascença nunca deixou de ser enfatizada. 
Nesse sentido, segundo Girón Alconchel (2001, p. 61), percebe-se que Nebrija 
foi um gramático preso à tradição, que, de acordo com Rico (1978), acrescentou ao 
novo clima intelectual da Renascença essa nova visão. Não devemos esquecer que, 
entre os séculos XII e XIII, a sofisticação dos estudos linguísticos colocava a gramática 
como ciência teórica no nível da física ou da matemática. 
A redescoberta das obras de Aristóteles dedicadas à lógica e obras como o De 
scientiis, de Al-farabi, foram uma revolução metodológica no desenvolvimento do 
conhecimento científico. Gramáticos medievais introduziram uma visão científica da 
linguagem que poderia ser estendida a todas as línguas possíveis, e não apenas a 
uma delas. 
Al-farabi distinguia, por exemplo, certas regras “sintáticas” gerais de caráter 
mais ou menos universal. Em meados do século XIII, um grupo de filósofos acariciou 
a ideia de que a gramática era vista como ciência, e que a representação de regras 
universais estava relacionada, acima de tudo, à sintaxe (KENNY; BARBARO, 2008). 
Quanto à sintaxe, os gramáticos medievais tomaram como referência as ideias 
 
40 
 
incluídas nos trabalhos de Donato e Prisciano, mas elaboraram sobre eles propostas 
que revisavam as partes da sentença e seus acidentes, especialmente a questão da 
aceitabilidade das sentenças ou, em termos mais precisos e práticos, a “colocação de 
palavras”. De fato, segundo Robins (1984[1969], p. 90), esse critério influenciou 
significativamente na ordem das palavras das línguas românicas, que aceitaram como 
modelo a ordem das palavras das línguas românicas atuais, isto é, nome–verbo–
substantivo ou sujeito–verbo–objeto, em vez do usual nome–verbo–nome (sujeito–
objeto–verbo) do latim clássico. 
Na tradição linguística hispânica, a Gramática de la Lengua Castellana (REAL 
ACADEMIA ESPAÑOLA, 1771, p. 235) afirma que o régimen sempre foi um fato 
sintático ligado à ordem lógica de seus elementos, de modo que a palavra importante 
é colocada antes e a palavra secundária, depois. 
Logo, pode-se perceber que essa ideia de dependência como relação 
hierárquica entre as palavras tenha sido ligada à linearidade, e a ordem rígida em suas 
relações condicionaria a sintaxe durante os primeiros séculos de sua existência. 
Segundo Closa Farrés (1977, p. 53), Esparza Torres e Calvo Fernández (1994) e 
Esparza Torres (1995), Nebrija não foi apenas um gramático que tentou unir gramática 
filosófica e humanista: ele atuou (sem saber esse conceito) como um linguista à frente 
de seu tempo, uma vez que usou o cenário “social”, em que certos textos gramaticais 
escritos no vernáculo (e não em latim clássico) serviram como base pedagógica, tanto 
para o ensino do latim, como para a disseminação de certas terminologias linguísticas 
e gramaticais. 
Nebrijarecebeu uma influência significativa da gramática especulativa, que 
serviu para renovar a concepção pedagógica das gramáticas do século XV. Com essa 
influência propriamente científica, um estado de opinião favorável a um uso mais 
didático dos recursos gramaticais influenciaria a organização e divisão de sua 
gramática. 
Para Ridruejo (2006, p. 93), o trabalho de Nebrija, em espanhol, não pode ser 
dissociado desse “contexto acadêmico” de aplicação teórica de ideias gramaticais, 
desenvolvidas desde a Antiguidade para a gramática latina, que deveria ser adaptada 
para ser aplicada a uma linguagem vulgar. 
Nesse contexto, segundo Tovar (1983, p. 209), é preciso acrescentar a 
publicação, o reprocessamento e a remissão que apresentou a sua obra 
 
41 
 
Introductiones Latinae, que se estende de 1481 a 1522, dentro de um contexto pessoal 
da criação e difusão da sua gramática espanhola, com provável influência entre 
ambas as obras. 
Nesse sentido, queremos mostrar que a gramática de Nebrija é, em parte, 
oriunda de seu trabalho gramatical em latim. Várias seções da sintaxe de 
Introductiones Latinae, evento dedicado à combinação das partes do discurso, classes 
de verbos e construção, os gerúndios e nomes de construção deram origem a seu 
trabalho gramatical em espanhol. 
4.3 O surgimento da teoria sintática de Nebrija 
Como outros gramáticos do Humanismo, Nebrija não se afastou da influência 
da gramática latina medieval, de modo que, de acordo com Percival (1975, p. 231), as 
suas ideias gramaticais sobre régimen, ordem e subordinação devem ser vistas como 
uma “[...] evolução da teoria gramatical da Idade Média”. No entanto, como observado 
por García Pérez (1960), não podemos esquecer que nem todas as regras gramaticais 
latinas vêm de Nebrija. 
De acordo com Girón Alconchel (2001, p. 61), as relações gramaticais 
morfológicas e sintáticas de Nebrija foram influenciadas por Thomas de Erfurt, um dos 
responsáveis pela aplicação da teoria modista ao ensino da gramática latina nas 
escolas. De fato, o conceito de régimen era familiar a todos os estudantes de 
gramática durante a Idade Média. 
Certamente, Nebrija perdeu a oportunidade de se aprofundar na sintaxe, por 
não conseguir se afastar da corrente linguística medieval tradicional da teoria de casos 
latinos, mas é inegável o quanto a sua contribuição foi fundamental para todos os 
estudos gramaticais e linguísticos posteriores. 
A concepção do régimen, segundo Moure (1995, p. 110–111), evoluiu em 
relação à tradição gramatical somente depois do século XVIII, quando uma concepção 
mais lógica e não tão filosófica daria plenitude ao sentido. A partir desse momento, a 
sintaxe avançou na distinção entre régimen direto e indireto. 
A sintaxe de Nebrija é uma continuação de toda a sua obra gramatical e 
lexicográfica, como o próprio autor afirma: “[...] todo el negocio de la grammatica… o 
 
42 
 
esta en cada una de las partes de la oración, considerando ellas, apartadamente, o 
esta en la orden i untura de ellas” (CORREAS, 1981). 
Sarmiento (1989, p. 425) afirmou que a organização formal e sistemática do 
pensamento gramatical, o qual surgiu da análise da língua latina, era tão forte, que os 
gramáticos concebiam inevitavelmente a língua como uma estrutura de conexões 
obrigatórias, impostas pela morfologia. 
Para Nebrija, a sintaxe está relacionada a “orden” (ordem), “concierto” (que 
representa a organização das palavras) e “aiuntamento” (ação ou efeito de juntar ou 
unir partes da gramática), de modo que o sentido de uma sequência estaria ligado a 
um arranjo apropriado das palavras (CORREAS, 1981). 
Esse foi o valor que Prisciano deu à sintaxe, estabelecendo uma 
correspondência entre sentido e ordem. Desde a Idade Média, os gramáticos usaram 
esse critério da ordem das palavras na sentença em relação aos elementos de 
governo e as regras para estabelecer os componentes das orações. Nebrija levou ao 
conceito de régimen um nome que é usado expressamente para “a construção de 
nomes depois de si” (CORREAS, 1981). 
Esse termo foi usado, como vimos, durante os tempos medievais, para indicar 
a relação de preposições com nomes de casos oblíquos e, finalmente, para indicar a 
relação que fazia uma palavra assumir determinado caso. Essa perspectiva explica 
por que Nebrija usa os nomes dos casos para se referir às funções sintáticas. Além 
disso, ele atribuiu ao régimen uma relação direta com a ordem na qual os elementos 
dependentes seguem. 
Na sua Gramática de la lengua castellana (CORREAS, 1981), todo o livro IV é 
expressamente dedicado à sintaxe, o que configura algo bastante especial para a 
época, já que os gramáticos medievais nunca haviam enaltecido determinada parte 
dessa maneira. 
 Nebrija dedicou dois capítulos especificamente ao conceito genérico de 
construção, porque, como Calero Vaquera (2007, p. 95) aponta, a sintaxe e a 
construção foram usadas como termos equivalentes no começo (até o século XVIII e 
os avanços feitos pela gramática francesa), quando a concepção de construção 
estaria subordinada à seção da sintaxe. O uso do conceito de construção está ligado, 
em Nebrija, àquelas construções geradas pelas principais categorias lexicais 
especificamente verbos e nomes. 
 
43 
 
 Por essa razão, Nebrija intitulou dois dos seus capítulos sintáticos como 
“construção dos verbos depois de si” (capítulo III) e “construção dos nomes depois de 
si” (capítulo IV) (CORREAS, 1981). 
Essa tradição gramatical latina centrada na distribuição aleatória das relações 
sintáticas, que Nebrija sistematizou pela primeira vez em língua românica, foi mantida 
até as gramáticas dos séculos XVIII e XIX. Por exemplo, Bello (1970[1847]) continuou 
classificando a complementação verbal em complementos acusativos, dativos e 
outros sem denominação clara. 
Na verdade, o conceito de régimen de Nebrija foi reproduzido em muitas 
gramáticas, como Arte de la Lengua Castelhana, de Gonzalo de Correas em 1626, 
Gramática da Lengua Castellana, de Martinez Gomez Gayoso em 1743 e El Arte del 
Romance Castelhano, de Benito de San Pedro em 1769. Somente nas primeiras 
gramáticas acadêmicas da Real Academia Española, de 1771 e 1796, podemos falar 
de certa “estratificação” da sua teoria, mas, em qualquer caso, aquele que abriu o 
caminho para os outros, com suas intuições, confusões e sugestões, foi Nebrija. 
4.4 A sintaxe e a evolução do seu conceito 
Por mais que a sintaxe tenha oficialmente nascido na língua espanhola com 
Antonio de Nebrija, em 1492, hoje a sua concepção tem variado de acordo com as 
teorias linguísticas nas quais ela é baseada. Segundo Berman (2004), essa discussão 
teórica é de suma importância quando se trata de explicar tanto a aquisição inicial, 
quanto o desenvolvimento tardio da linguagem. 
De acordo com Ravid e Tolchinsky (2002), o desenvolvimento linguístico é 
constante e evolui com a interação entre a alfabetização e a escolarização dos 
falantes. Os estudos sintáticos atuais, como se pode perceber, perpassam a 
gramática. Em outras palavras, a noção de complexidade sintática é importante no 
sentido de que, com ela, pode-se conceber as formas e os métodos de aprendizagem, 
não só da língua materna, mas também de uma segunda língua. 
Com base nisso, você vai estudar três importantes abordagens sintáticas e as 
suas principais contribuições na evolução sintática: a tradicionalista, a gerativista e a 
funcional-discursiva. 
 
44 
 
4.5 Abordagem tradicionalista 
Os primeiros estudos que analisaram a complexidade sintática e a sua 
evolução não são atribuídos a uma única proposta teórica. É possível, no entanto, 
identificar influências de duas correntes que compartilham uma suposição 
fundamental sobre a linguagem: a complexidade gramatical é baseada na aparência 
das categorias morfológica e sintática. A primeira dessas influências é a gramática 
tradicional; a segunda, o distribucionalismo.

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