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NOTA TÉCNICA CONJUNTA DA Asbran / CFN 01/2019 ÍN D IC E RESTRIÇÃO DOS ÁCIDOS GRAXOS TRANS ................................................................................. 2CARACTERIZAÇÃO E USO DE ÁCIDOS GRAXOS TRANS .......................................................... 3 PANORAMA INTERNACIONAL ........................................................................................................ 5 PANORAMA NACIONAL ................................................................................................................... 10 CENÁRIO REGULATÓRIO NA REGIÃO E NO MUNDO ............................................................... 14 CENÁRIO REGULATÓRIO NO BRASIL ........................................................................................... 17 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................ 23 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 24 SIGLAS %VD: Percentual dos Valores Diários ABIA: Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação AGT: Ácidos graxos trans AGTI: Ácidos graxos trans industriais AGTR: Ácidos graxos trans de ruminantes Anvisa: Agência Nacional de Vigilância Sanitária AP: Audiência Pública Asbran: Associação Brasileira de Nutrição CCJC: Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania CDEICS: Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviço CFN: Conselho Federal de Nutricionistas DCNT: Doenças crônicas não transmissíveis DCV: Doenças cardiovasculares GGALI: Gerência-Geral de Alimentos INC: Informação nutricional complementar MS: Ministério da Saúde NUPPRE: Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições OCDE: Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ODS: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável OGPH: Óleos e gorduras parcialmente hidrogenados OMS: Organização Mundial da Saúde ONU: Organização das Nações Unidas OPAS: Organização Pan-Americana da Saúde PIB: Produto Interno Bruto PNAE: Programa Nacional de Alimentação Escolar POF: Pesquisa de Orçamentos Familiares PL: Projeto de Lei PLS: Projeto de Lei do Senado Federal UFSC: Universidade Federal de Santa Catarina UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro VET: Valor Energético Total Considerando as robustas evidências científicas a respeito dos impactos negativos à saúde relativos ao consumo de ácidos graxos trans industriais (AGTI), as reco- mendações dos organismos internacionais sobre a eliminação desta substância do sistema alimentar até 2023, o esforço de 30 países em todo globo em restringir seu uso, a determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em priorizar o tema na agenda regulatória de 2019 e as manifestações da sociedade civil e de universidades brasileiras, reforçando a necessidade de regulação dos AGTI, a Associação Brasileira de Nutrição (Asbran) e o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) divulgam o seu posicionamento técnico-científico com o objetivo de contribuir para a escolha da mais efetiva opção regulatória para restri- ção dos AGTI no Brasil: RESTRIÇÃO DOS ÁCIDOS GRAXOS TRANS NO BRASIL Adoção de um modelo híbrido de restrição dos ácidos graxos (gordura) trans industriais que con- temple: Limite de 2% de ácidos graxos trans industriais sobre o total de gorduras em todos os alimentos, óleos e gorduras des- tinados ao consumidor final e aos serviços de alimentação e; Banimento da produção de óleos e gorduras parcialmente hidrogenados (OGPH) e seu uso em todos os alimentos. 2 CARACTERIZAÇÃO E USO DE ÁCIDOS GRAXOS TRANS Os ácidos graxos trans (AGT) são ácidos graxos insatu- rados que apresentam pelo menos uma ligação dupla carbono-carbono na configuração trans. A obtenção do AGT industrialmente acontece, principalmente, pela hidrogenação parcial de óleos vegetais e de peixes, mas eles também são encontrados, em pequenas quantida- des, de forma natural, na carne e produtos lácteos de animais ruminantes (por exemplo, gado bovino, ovelhas, cabras, camelos). A Figura 1 resume as características dos AGT relativas à origem, métodos de obtenção e suas principais fontes alimentares. Origem Biológica (AGTR) Biohidrogenação microbiana dos ácidos graxos insaturados no rúmem Síntese de ácidos graxos na glândula mamária Alimentos derivados de animais ruminantes como: carnes, banha, leite integral, manteiga, iogurtes, queijos Figura 1. Características dos AGT relativas à origem , m étodos de obtenção e as principais fontes alim entares. Anvisa, 2018. Origem tecnológica (AGTI) Hidrogenação parcial de óleos Desodorização de óleos Fritura dos alimentos Isomerização alcalina do ácido linoléico Óleos e gorduras parcialmente hidrogenados (OGPH), óleos refinados, alimentos fritos ou industrializados com OGPH As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são responsáveis por 72% das causas de morte no mundo7. Em 2016, estima-se que elas foram responsáveis por quase 40 milhões de mortes. Das principais DCNT, as doenças cardiovas- culares (DCV) foram as principais causas de morte, sendo responsáveis por quase metade (45%) de todas elas. Altos níveis de ingestão de ácidos graxos trans produzidos industrialmente estão fortemente associados ao desenvolvi- mento de DCV e morte ⁸ ¹¹. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), meio milhão de pessoas morrem a cada ano por causa da presença de AGT em sua comida¹². Aproxima- damente 160.000 dessas mortes ocorreram na região das Américas e repre- sentaram 17,9% de todas as mortes por DCV no Canadá e nos EUA, e 10,7% das mortes na América Latina e no Caribe¹³. Adultos mais jovens geralmente apresentam taxas mais altas de mortalidade por doenças coronarianas atribuí- veis ao AGTI ¹² ¹³. Como essas estimativas não incluem mortes causadas por outros efeitos adversos do consumo de AGTI na saúde, como diabetes ou even- tos não fatais, as estimativas são consideradas conservadoras quanto ao seu impacto negativo na saúde. O impacto socioeconômico das doenças crônicas é crescente, sendo considerado um problema para a saúde pública mundial. Além das mortes prematuras, as DCNT são responsáveis por incapacidade laboral, redução das rendas familiares e redução da produtividade¹⁴ ¹⁵. Estudos metabólicos demonstram que os AGT tornam o perfil lipídico plasmático ainda mais aterogênico do que os ácidos graxos saturados, não só elevando o colesterol total e a lipoproteí- na de baixa densidade – LDLc a níveis semelhantes, mas também diminuindo a lipoproteína de alta densidade – HDLc, aumentan- do a relação colesterol total/HDL, a ação pró-inflamatória e a disfunção endotelial ¹⁶ ¹⁸. Há também evidências sobre aumento do risco de infertilidade, endometriose, cálculos biliares, doença de Alzheimer, diabetes e alguns tipos de câncer¹⁹. Por isso, a qualidade da gordura na dieta tem sido reconhecida mundialmente como mais importante do que a quantidade total de gordura para a prevenção de doenças cardiovasculares e mortalidade ²⁰. Meta-análises de estudos prospectivos de coorte encontraram associações entre menor ingestão de AGT e redução do risco de mortalidade por todas as causas, mortalidade por doença coronariana e eventos coronarianos em adultos ¹⁰ ²¹. Estima-se que uma redução de 4,5g/dia no consumo de AGTI no México, na América Central e na América do Sul evitaria de 30.000 a 130.000 eventos de doen- ças coronarianas anualmente; e uma redução mais restritiva, de 9g/dia preveniria entre 62.000 e 225.000 eventos de doenças coronarianas anualmente ²². A redução do consumo de AGTI é considerada uma prioridade políti- ca da OMS. Desde 2003, é recomendada uma redução de ingestão até o limite de 1% do total calórico diário8. No entanto, o consumo de ácidos graxos trans na Região das Américas estava entre os mais altos do mundo em 2010,repre- sentando 2,9% do consumo total de energia no Canadá e nos Estados Unidos e 1,9% do consumo total de energia na América Latina e no Caribe²³. Ainda, enquanto a mortalidade global por doença cardíaca coronária relacionada à ingestão insuficiente de ácidos graxos poli-insaturados n-6 (PUFA) e a ingestão de gordu- ra saturada diminuiu entre 1990 e 2010, os impactos negativos sobre a saúde por comer AGT aumentou globalmente em 4%²⁴. Por fim, destaca-se que as evidências científicas sobre os efeitos adversos do consumo dos AGTI na saúde são convincentes e a opção regulatória que restringe ao máximo a quantidade da subs- tância nos alimentos é considerada, do ponto de vista técnico- -científico, a mais eficaz para a diminuição do consumo e a promoção da saúde. 3 A substituição do AGTI por óleos e gorduras mais saudáveis, especialmente ricas em ácidos graxos poli-insaturados e pobres em ácidos graxos saturados, é possível. Assim, a eliminação do suprimen- to global de alimentos com AGTI foi identificada como uma das metas prioritárias do plano estratégico da OMS para os anos de 2019 e 2023, aprovado durante a 57ª Assembleia Mundial da Saúde²⁵. No escopo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), os países membros, incluindo o Brasil, se comprometeram a reduzir em um terço, até 2030, as mortes prematuras por DCNT – Objeti- vo 3.4²⁶. Ademais, um dos objetivos da Agenda de Saúde Sustentável das Américas (2008-2030) é reduzir o risco de eventos e mortes relacionadas com as doenças coronarianas²⁷. Nesse sentido, a restrição efetiva das AGTI contribuirá para que cada país atinja esses objetivos e fortalecerá os compromissos assumidos no âmbito da Década de Ação das Nações Unidas sobre Nutrição (2016-2025)²⁸. Os AGTI não fazem parte naturalmente da dieta humana, não trazem benefícios para a saúde e são totalmente subs- tituíveis. São encontrados comumente em margarinas, produtos de panificação e confeitaria, salgadinhos, sorve- tes, biscoitos, ou seja, disseminado em diversos alimentos ultraprocessados, inclusive naqueles destinados para as crianças. Óleos e gorduras parcialmente hidrogenados (OGPH) também são frequentemente utilizados como ingredientes culinários em restaurantes ou no setor infor- mal de alimentos 1 3. Embora existam desafios técnicos e financeiros para a redução do uso de ácido graxo trans industrial nos alimen- tos, existem diversas alternativas tecnológicas que podem ser utilizadas e a experiência internacional mostra que é possível. Além disso, é possível substituir o AGT no uso culinário, embora a reformulação de receitas, especial- mente para panificação e confeitaria, possa exigir tempo e esforço por parte dos produtores de alimentos para otimi- zar a qualidade e minimizar as gorduras saturadas. As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são responsáveis por 72% das causas de morte no mundo7. Em 2016, estima-se que elas foram responsáveis por quase 40 milhões de mortes. Das principais DCNT, as doenças cardiovas- culares (DCV) foram as principais causas de morte, sendo responsáveis por quase metade (45%) de todas elas. Altos níveis de ingestão de ácidos graxos trans produzidos industrialmente estão fortemente associados ao desenvolvi- mento de DCV e morte ⁸ ¹¹. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), meio milhão de pessoas morrem a cada ano por causa da presença de AGT em sua comida¹². Aproxima- damente 160.000 dessas mortes ocorreram na região das Américas e repre- sentaram 17,9% de todas as mortes por DCV no Canadá e nos EUA, e 10,7% das mortes na América Latina e no Caribe¹³. Adultos mais jovens geralmente apresentam taxas mais altas de mortalidade por doenças coronarianas atribuí- veis ao AGTI ¹² ¹³. Como essas estimativas não incluem mortes causadas por outros efeitos adversos do consumo de AGTI na saúde, como diabetes ou even- tos não fatais, as estimativas são consideradas conservadoras quanto ao seu impacto negativo na saúde. O impacto socioeconômico das doenças crônicas é crescente, sendo considerado um problema para a saúde pública mundial. Além das mortes prematuras, as DCNT são responsáveis por incapacidade laboral, redução das rendas familiares e redução da produtividade¹⁴ ¹⁵. Estudos metabólicos demonstram que os AGT tornam o perfil lipídico plasmático ainda mais aterogênico do que os ácidos graxos saturados, não só elevando o colesterol total e a lipoproteí- na de baixa densidade – LDLc a níveis semelhantes, mas também diminuindo a lipoproteína de alta densidade – HDLc, aumentan- do a relação colesterol total/HDL, a ação pró-inflamatória e a disfunção endotelial ¹⁶ ¹⁸. Há também evidências sobre aumento do risco de infertilidade, endometriose, cálculos biliares, doença de Alzheimer, diabetes e alguns tipos de câncer¹⁹. Por isso, a qualidade da gordura na dieta tem sido reconhecida mundialmente como mais importante do que a quantidade total de gordura para a prevenção de doenças cardiovasculares e mortalidade ²⁰. Meta-análises de estudos prospectivos de coorte encontraram associações entre menor ingestão de AGT e redução do risco de mortalidade por todas as causas, mortalidade por doença coronariana e eventos coronarianos em adultos ¹⁰ ²¹. Estima-se que uma redução de 4,5g/dia no consumo de AGTI no México, na América Central e na América do Sul evitaria de 30.000 a 130.000 eventos de doen- ças coronarianas anualmente; e uma redução mais restritiva, de 9g/dia preveniria entre 62.000 e 225.000 eventos de doenças coronarianas anualmente ²². A redução do consumo de AGTI é considerada uma prioridade políti- ca da OMS. Desde 2003, é recomendada uma redução de ingestão até o limite de 1% do total calórico diário8. No entanto, o consumo de ácidos graxos trans na Região das Américas estava entre os mais altos do mundo em 2010, repre- sentando 2,9% do consumo total de energia no Canadá e nos Estados Unidos e 1,9% do consumo total de energia na América Latina e no Caribe²³. Ainda, enquanto a mortalidade global por doença cardíaca coronária relacionada à ingestão insuficiente de ácidos graxos poli-insaturados n-6 (PUFA) e a ingestão de gordu- ra saturada diminuiu entre 1990 e 2010, os impactos negativos sobre a saúde por comer AGT aumentou globalmente em 4%²⁴. Por fim, destaca-se que as evidências científicas sobre os efeitos adversos do consumo dos AGTI na saúde são convincentes e a opção regulatória que restringe ao máximo a quantidade da subs- tância nos alimentos é considerada, do ponto de vista técnico- -científico, a mais eficaz para a diminuição do consumo e a promoção da saúde. 4 Dentre os substitutos de OGPH comumente utilizados, ressalta-se os potenciais efeitos negativos à saúde das gorduras interesterificadas. O processo de interesterificação consiste, de forma simplificada, no rearranjo de ácidos graxos no triacilglicerol, geralmente pela incorpora- ção de ácidos graxos saturados para gerar o grau de plasticidade necessá- rio. Em animais, por exemplo, há evidência dos efeitos deletérios no tecido adiposo⁴. Estudo recente5 publicado na Revista “Therapeutic Advances in Cardiovascular Disease” aponta que a troca de um ácido graxo insaturado por um saturado na interesterificação é prejudicial; diminui a deformabilidade do eritrócito e aumenta a viscosidade do sangue. Revisão de Hayes and Pronczuk (2010)6, que reúne evidências sobre a resposta humana a várias quantidades e formas de gordura interesterificada, apresenta estudos que revelam que sua alta ingestão exerce uma influência negativa no metabolismo das lipoproteínas, da glicose e da insulina, afetando também a função imune e as enzimas hepáticas. Face ao exposto, a alternativa de substituição de OGPH por gorduras interesterificadas não é vantajosa para a saúde, não sendo, portanto, uma solução aceitável para a eliminação de AGTI. - A substituição do AGTI por óleose gorduras mais saudáveis, especialmente ricas em ácidos graxos poli-insaturados e pobres em ácidos graxos saturados, é possível. Assim, a eliminação do suprimen- to global de alimentos com AGTI foi identificada como uma das metas prioritárias do plano estratégico da OMS para os anos de 2019 e 2023, aprovado durante a 57ª Assembleia Mundial da Saúde²⁵. No escopo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), os países membros, incluindo o Brasil, se comprometeram a reduzir em um terço, até 2030, as mortes prematuras por DCNT – Objeti- vo 3.4²⁶. Ademais, um dos objetivos da Agenda de Saúde Sustentável das Américas (2008-2030) é reduzir o risco de eventos e mortes relacionadas com as doenças coronarianas²⁷. Nesse sentido, a restrição efetiva das AGTI contribuirá para que cada país atinja esses objetivos e fortalecerá os compromissos assumidos no âmbito da Década de Ação das Nações Unidas sobre Nutrição (2016-2025)²⁸. PANORAMA INTERNACIONAL As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são responsáveis por 72% das causas de morte no mundo7. Em 2016, estima-se que elas foram responsáveis por quase 40 milhões de mortes. Das principais DCNT, as doenças cardiovas- culares (DCV) foram as principais causas de morte, sendo responsáveis por quase metade (45%) de todas elas. Altos níveis de ingestão de ácidos graxos trans produzidos industrialmente estão fortemente associados ao desenvolvi- mento de DCV e morte ⁸ ¹¹. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), meio milhão de pessoas morrem a cada ano por causa da presença de AGT em sua comida¹². Aproxima- damente 160.000 dessas mortes ocorreram na região das Américas e repre- sentaram 17,9% de todas as mortes por DCV no Canadá e nos EUA, e 10,7% das mortes na América Latina e no Caribe¹³. Adultos mais jovens geralmente apresentam taxas mais altas de mortalidade por doenças coronarianas atribuí- veis ao AGTI ¹² ¹³. Como essas estimativas não incluem mortes causadas por outros efeitos adversos do consumo de AGTI na saúde, como diabetes ou even- tos não fatais, as estimativas são consideradas conservadoras quanto ao seu impacto negativo na saúde. O impacto socioeconômico das doenças crônicas é crescente, sendo considerado um problema para a saúde pública mundial. Além das mortes prematuras, as DCNT são responsáveis por incapacidade laboral, redução das rendas familiares e redução da produtividade¹⁴ ¹⁵. Estudos metabólicos demonstram que os AGT tornam o perfil lipídico plasmático ainda mais aterogênico do que os ácidos graxos saturados, não só elevando o colesterol total e a lipoproteí- na de baixa densidade – LDLc a níveis semelhantes, mas também diminuindo a lipoproteína de alta densidade – HDLc, aumentan- do a relação colesterol total/HDL, a ação pró-inflamatória e a disfunção endotelial ¹⁶ ¹⁸. Há também evidências sobre aumento do risco de infertilidade, endometriose, cálculos biliares, doença de Alzheimer, diabetes e alguns tipos de câncer¹⁹. Por isso, a qualidade da gordura na dieta tem sido reconhecida mundialmente como mais importante do que a quantidade total de gordura para a prevenção de doenças cardiovasculares e mortalidade ²⁰. Meta-análises de estudos prospectivos de coorte encontraram associações entre menor ingestão de AGT e redução do risco de mortalidade por todas as causas, mortalidade por doença coronariana e eventos coronarianos em adultos ¹⁰ ²¹. Estima-se que uma redução de 4,5g/dia no consumo de AGTI no México, na América Central e na América do Sul evitaria de 30.000 a 130.000 eventos de doen- ças coronarianas anualmente; e uma redução mais restritiva, de 9g/dia preveniria entre 62.000 e 225.000 eventos de doenças coronarianas anualmente ²². A redução do consumo de AGTI é considerada uma prioridade políti- ca da OMS. Desde 2003, é recomendada uma redução de ingestão até o limite de 1% do total calórico diário8. No entanto, o consumo de ácidos graxos trans na Região das Américas estava entre os mais altos do mundo em 2010, repre- sentando 2,9% do consumo total de energia no Canadá e nos Estados Unidos e 1,9% do consumo total de energia na América Latina e no Caribe²³. Ainda, enquanto a mortalidade global por doença cardíaca coronária relacionada à ingestão insuficiente de ácidos graxos poli-insaturados n-6 (PUFA) e a ingestão de gordu- ra saturada diminuiu entre 1990 e 2010, os impactos negativos sobre a saúde por comer AGT aumentou globalmente em 4%²⁴. Por fim, destaca-se que as evidências científicas sobre os efeitos adversos do consumo dos AGTI na saúde são convincentes e a opção regulatória que restringe ao máximo a quantidade da subs- tância nos alimentos é considerada, do ponto de vista técnico- -científico, a mais eficaz para a diminuição do consumo e a promoção da saúde. 5 - A substituição do AGTI por óleos e gorduras mais saudáveis, especialmente ricas em ácidos graxos poli-insaturados e pobres em ácidos graxos saturados, é possível. Assim, a eliminação do suprimen- to global de alimentos com AGTI foi identificada como uma das metas prioritárias do plano estratégico da OMS para os anos de 2019 e 2023, aprovado durante a 57ª Assembleia Mundial da Saúde²⁵. No escopo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), os países membros, incluindo o Brasil, se comprometeram a reduzir em um terço, até 2030, as mortes prematuras por DCNT – Objeti- vo 3.4²⁶. Ademais, um dos objetivos da Agenda de Saúde Sustentável das Américas (2008-2030) é reduzir o risco de eventos e mortes relacionadas com as doenças coronarianas²⁷. Nesse sentido, a restrição efetiva das AGTI contribuirá para que cada país atinja esses objetivos e fortalecerá os compromissos assumidos no âmbito da Década de Ação das Nações Unidas sobre Nutrição (2016-2025)²⁸. - As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são responsáveis por 72% das causas de morte no mundo7. Em 2016, estima-se que elas foram responsáveis por quase 40 milhões de mortes. Das principais DCNT, as doenças cardiovas- culares (DCV) foram as principais causas de morte, sendo responsáveis por quase metade (45%) de todas elas. Altos níveis de ingestão de ácidos graxos trans produzidos industrialmente estão fortemente associados ao desenvolvi- mento de DCV e morte ⁸ ¹¹. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), meio milhão de pessoas morrem a cada ano por causa da presença de AGT em sua comida¹². Aproxima- damente 160.000 dessas mortes ocorreram na região das Américas e repre- sentaram 17,9% de todas as mortes por DCV no Canadá e nos EUA, e 10,7% das mortes na América Latina e no Caribe¹³. Adultos mais jovens geralmente apresentam taxas mais altas de mortalidade por doenças coronarianas atribuí- veis ao AGTI ¹² ¹³. Como essas estimativas não incluem mortes causadas por outros efeitos adversos do consumo de AGTI na saúde, como diabetes ou even- tos não fatais, as estimativas são consideradas conservadoras quanto ao seu impacto negativo na saúde. O impacto socioeconômico das doenças crônicas é crescente, sendo considerado um problema para a saúde pública mundial. Além das mortes prematuras, as DCNT são responsáveis por incapacidade laboral, redução das rendas familiares e redução da produtividade¹⁴ ¹⁵. Estudos metabólicos demonstram que os AGT tornam o perfil lipídico plasmático ainda mais aterogênico do que os ácidos graxos saturados, não só elevando o colesterol total e a lipoproteí- na de baixa densidade – LDLc a níveis semelhantes, mas também diminuindo a lipoproteína de alta densidade – HDLc, aumentan- do a relação colesterol total/HDL, a ação pró-inflamatória e a disfunção endotelial ¹⁶ ¹⁸. Há também evidências sobre aumento do risco de infertilidade, endometriose, cálculos biliares, doença de Alzheimer, diabetes e alguns tipos de câncer¹⁹. Por isso, a qualidade da gordura na dietatem sido reconhecida mundialmente como mais importante do que a quantidade total de gordura para a prevenção de doenças cardiovasculares e mortalidade ²⁰. Meta-análises de estudos prospectivos de coorte encontraram associações entre menor ingestão de AGT e redução do risco de mortalidade por todas as causas, mortalidade por doença coronariana e eventos coronarianos em adultos ¹⁰ ²¹. Estima-se que uma redução de 4,5g/dia no consumo de AGTI no México, na América Central e na América do Sul evitaria de 30.000 a 130.000 eventos de doen- ças coronarianas anualmente; e uma redução mais restritiva, de 9g/dia preveniria entre 62.000 e 225.000 eventos de doenças coronarianas anualmente ²². A redução do consumo de AGTI é considerada uma prioridade políti- ca da OMS. Desde 2003, é recomendada uma redução de ingestão até o limite de 1% do total calórico diário8. No entanto, o consumo de ácidos graxos trans na Região das Américas estava entre os mais altos do mundo em 2010, repre- sentando 2,9% do consumo total de energia no Canadá e nos Estados Unidos e 1,9% do consumo total de energia na América Latina e no Caribe²³. Ainda, enquanto a mortalidade global por doença cardíaca coronária relacionada à ingestão insuficiente de ácidos graxos poli-insaturados n-6 (PUFA) e a ingestão de gordu- ra saturada diminuiu entre 1990 e 2010, os impactos negativos sobre a saúde por comer AGT aumentou globalmente em 4%²⁴. Com uma população de mais de 200 milhões de pessoas, o Brasil é o quinto país mais populoso do mundo. As DCNT correspondem a 72% das causas de morte; as doenças cardiovasculares causaram aproxima- damente 30% de todas as mortes prematuras, mais do que qualquer outro grupo de doenças ²⁹ ³⁰. Em 2010, aproximadamente 19.000 mortes foram atribuíveis à alta ingestão de AGT¹². De acordo com recente estudo³¹ realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o impacto econômico causado por DCV vêm aumentando a cada ano, em consonância com o número de casos de DCV. Segundo os autores, os custos estimados por DCV foram de R$37,1 bilhões no ano de 2015, o que representa um aumento percen- tual de 17% no período de 2010 a 2015. Os custos estimados pela morte prematura por DCV representam 61% do total de custo estima- dos. Já os custos diretos com internações e consultas foram de 22% e os custos pela perda da produtividade relacionados à doença foram de Por fim, destaca-se que as evidências científicas sobre os efeitos adversos do consumo dos AGTI na saúde são convincentes e a opção regulatória que restringe ao máximo a quantidade da subs- tância nos alimentos é considerada, do ponto de vista técnico- -científico, a mais eficaz para a diminuição do consumo e a promoção da saúde. 15% do total. Os gastos com saúde no Brasil são estimados em 9,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e o custo médio das DCV foi estimado em 0,7% do PIB. Embora apresentem causas multifatoriais, as DCNT compartilham quatro fatores de risco comportamentais modificáveis: a alimentação inadequada, o uso abusivo de álcool, o tabagismo e o sedentarismo³². Sendo que a alimentação inadequada lidera o ranking de fatores de risco mais importantes para a carga global de doenças no país³³. Ressalta-se que o alto consumo de AGT leva a hipercolesterolemia, fator de risco metabólico independente para as DCV e que ocupa o sétimo lugar no ranking dos fatores mais relevantes para a carga global de doenças no Brasil7. Dados relacionados ao consumo de AGT pela população brasileira são limitados. No entanto, resultados da última Pesquisa de Orça- mentos Familiares (POF) - 2008/2009³⁴ revelam que seu consumo médio é elevado em todas as faixas etárias avaliadas (10 anos ou mais), sendo que o maior consumo ocorre entre os adoles- centes (14 a 18 anos) do sexo masculino (3,1 g/dia ou 1,4% em um total de 2000 calorias/dia). A POF também demostra que o consumo médio de AGT é maior nas áreas urbanas em ambos os sexos e em todos os grupos de idade, e que as regiões Sul e Sudes- te apresentam médias mais altas de consumo. Outra pesquisa, publicada em 2015, com base nos dados de consumo alimentar da POF 2008/2009, identificou um consu- mo médio de AGT pela população é de 2,9 g/dia ou 1,4% do VET (valor energético total). Esse estudo revelou que a fração da dieta constituída de alimentos ultraprocessados contém oito vezes mais AGT do que a fração composta por alimentos in natura e minima- mente processados, fazendo com que a quantidade ingerida desta gordura aumente significativamente com o aumento da participa- ção de ultraprocessados na alimentação³⁵. Um estudo de 2009 na cidade de São Paulo apontou que a ingestão média diária de AGT foi de 5g, equivalente a 2,4% da ingestão total de energia diária. O maior consumo foi observado em adolescentes, com 7,4g por dia, ou 2,9% da ingestão total diária de energia³⁶. Estudo internacional que estimou a ingestão de AGT em 186 países para avaliar a carga global sobre a mortalidade por doenças coronarianas, apontou uma ingestão de AGT pela população brasileira equivalente a 1,8% do VET, em 2010. De acordo com os autores, esse consumo excessivo foi responsável por 18.576 mortes anuais por doenças corona- rianas, o que representa 11,5% desses óbitos¹³. Estudos conduzidos no Brasil também indicam que alguns óleos vegetais refinados podem ter até 5% de ácidos graxos trans de origem industrial ³⁷ ³⁹. Isso pode ser o resultado de falhas no controle da etapa de desodoriza- ção dos óleos durante seu refinamento⁴⁰. 6 - - - A substituição do AGTI por óleos e gorduras mais saudáveis, especialmente ricas em ácidos graxos poli-insaturados e pobres em ácidos graxos saturados, é possível. Assim, a eliminação do suprimen- to global de alimentos com AGTI foi identificada como uma das metas prioritárias do plano estratégico da OMS para os anos de 2019 e 2023, aprovado durante a 57ª Assembleia Mundial da Saúde²⁵. No escopo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), os países membros, incluindo o Brasil, se comprometeram a reduzir em um terço, até 2030, as mortes prematuras por DCNT – Objeti- vo 3.4²⁶. Ademais, um dos objetivos da Agenda de Saúde Sustentável das Américas (2008-2030) é reduzir o risco de eventos e mortes relacionadas com as doenças coronarianas²⁷. Nesse sentido, a restrição efetiva das AGTI contribuirá para que cada país atinja esses objetivos e fortalecerá os compromissos assumidos no âmbito da Década de Ação das Nações Unidas sobre Nutrição (2016-2025)²⁸. As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são responsáveis por 72% das causas de morte no mundo7. Em 2016, estima-se que elas foram responsáveis por quase 40 milhões de mortes. Das principais DCNT, as doenças cardiovas- culares (DCV) foram as principais causas de morte, sendo responsáveis por quase metade (45%) de todas elas. Altos níveis de ingestão de ácidos graxos trans produzidos industrialmente estão fortemente associados ao desenvolvi- mento de DCV e morte ⁸ ¹¹. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), meio milhão de pessoas morrem a cada ano por causa da presença de AGT em sua comida¹². Aproxima- damente 160.000 dessas mortes ocorreram na região das Américas e repre- sentaram 17,9% de todas as mortes por DCV no Canadá e nos EUA, e 10,7% das mortes na América Latina e no Caribe¹³. Adultos mais jovens geralmente apresentam taxas mais altas de mortalidade por doenças coronarianas atribuí- veis ao AGTI ¹² ¹³. Como essas estimativas não incluem mortes causadas por outros efeitos adversos do consumo de AGTI na saúde, como diabetes ou even- tos não fatais, as estimativas são consideradas conservadoras quanto ao seu impacto negativo na saúde. O impacto socioeconômico das doenças crônicas é crescente, sendo considerado um problema para a saúde pública mundial. Além das mortes prematuras, as DCNTsão responsáveis por incapacidade laboral, redução das rendas familiares e redução da produtividade¹⁴ ¹⁵. Estudos metabólicos demonstram que os AGT tornam o perfil lipídico plasmático ainda mais aterogênico do que os ácidos graxos saturados, não só elevando o colesterol total e a lipoproteí- na de baixa densidade – LDLc a níveis semelhantes, mas também diminuindo a lipoproteína de alta densidade – HDLc, aumentan- do a relação colesterol total/HDL, a ação pró-inflamatória e a disfunção endotelial ¹⁶ ¹⁸. Há também evidências sobre aumento do risco de infertilidade, endometriose, cálculos biliares, doença de Alzheimer, diabetes e alguns tipos de câncer¹⁹. Por isso, a qualidade da gordura na dieta tem sido reconhecida mundialmente como mais importante do que a quantidade total de gordura para a prevenção de doenças cardiovasculares e mortalidade ²⁰. Meta-análises de estudos prospectivos de coorte encontraram associações entre menor ingestão de AGT e redução do risco de mortalidade por todas as causas, mortalidade por doença coronariana e eventos coronarianos em adultos ¹⁰ ²¹. Estima-se que uma redução de 4,5g/dia no consumo de AGTI no México, na América Central e na América do Sul evitaria de 30.000 a 130.000 eventos de doen- ças coronarianas anualmente; e uma redução mais restritiva, de 9g/dia preveniria entre 62.000 e 225.000 eventos de doenças coronarianas anualmente ²². A redução do consumo de AGTI é considerada uma prioridade políti- ca da OMS. Desde 2003, é recomendada uma redução de ingestão até o limite de 1% do total calórico diário8. No entanto, o consumo de ácidos graxos trans na Região das Américas estava entre os mais altos do mundo em 2010, repre- sentando 2,9% do consumo total de energia no Canadá e nos Estados Unidos e 1,9% do consumo total de energia na América Latina e no Caribe²³. Ainda, enquanto a mortalidade global por doença cardíaca coronária relacionada à ingestão insuficiente de ácidos graxos poli-insaturados n-6 (PUFA) e a ingestão de gordu- ra saturada diminuiu entre 1990 e 2010, os impactos negativos sobre a saúde por comer AGT aumentou globalmente em 4%²⁴. Com uma população de mais de 200 milhões de pessoas, o Brasil é o quinto país mais populoso do mundo. As DCNT correspondem a 72% das causas de morte; as doenças cardiovasculares causaram aproxima- damente 30% de todas as mortes prematuras, mais do que qualquer outro grupo de doenças ²⁹ ³⁰. Em 2010, aproximadamente 19.000 mortes foram atribuíveis à alta ingestão de AGT¹². De acordo com recente estudo³¹ realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o impacto econômico causado por DCV vêm aumentando a cada ano, em consonância com o número de casos de DCV. Segundo os autores, os custos estimados por DCV foram de R$37,1 bilhões no ano de 2015, o que representa um aumento percen- tual de 17% no período de 2010 a 2015. Os custos estimados pela morte prematura por DCV representam 61% do total de custo estima- dos. Já os custos diretos com internações e consultas foram de 22% e os custos pela perda da produtividade relacionados à doença foram de Por fim, destaca-se que as evidências científicas sobre os efeitos adversos do consumo dos AGTI na saúde são convincentes e a opção regulatória que restringe ao máximo a quantidade da subs- tância nos alimentos é considerada, do ponto de vista técnico- -científico, a mais eficaz para a diminuição do consumo e a promoção da saúde. 15% do total. Os gastos com saúde no Brasil são estimados em 9,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e o custo médio das DCV foi estimado em 0,7% do PIB. Embora apresentem causas multifatoriais, as DCNT compartilham quatro fatores de risco comportamentais modificáveis: a alimentação inadequada, o uso abusivo de álcool, o tabagismo e o sedentarismo³². Sendo que a alimentação inadequada lidera o ranking de fatores de risco mais importantes para a carga global de doenças no país³³. Ressalta-se que o alto consumo de AGT leva a hipercolesterolemia, fator de risco metabólico independente para as DCV e que ocupa o sétimo lugar no ranking dos fatores mais relevantes para a carga global de doenças no Brasil7. Dados relacionados ao consumo de AGT pela população brasileira são limitados. No entanto, resultados da última Pesquisa de Orça- mentos Familiares (POF) - 2008/2009³⁴ revelam que seu consumo médio é elevado em todas as faixas etárias avaliadas (10 anos ou mais), sendo que o maior consumo ocorre entre os adoles- centes (14 a 18 anos) do sexo masculino (3,1 g/dia ou 1,4% em um total de 2000 calorias/dia). A POF também demostra que o consumo médio de AGT é maior nas áreas urbanas em ambos os sexos e em todos os grupos de idade, e que as regiões Sul e Sudes- te apresentam médias mais altas de consumo. Outra pesquisa, publicada em 2015, com base nos dados de consumo alimentar da POF 2008/2009, identificou um consu- mo médio de AGT pela população é de 2,9 g/dia ou 1,4% do VET (valor energético total). Esse estudo revelou que a fração da dieta constituída de alimentos ultraprocessados contém oito vezes mais AGT do que a fração composta por alimentos in natura e minima- mente processados, fazendo com que a quantidade ingerida desta gordura aumente significativamente com o aumento da participa- ção de ultraprocessados na alimentação³⁵. Um estudo de 2009 na cidade de São Paulo apontou que a ingestão média diária de AGT foi de 5g, equivalente a 2,4% da ingestão total de energia diária. O maior consumo foi observado em adolescentes, com 7,4g por dia, ou 2,9% da ingestão total diária de energia³⁶. Estudo internacional que estimou a ingestão de AGT em 186 países para avaliar a carga global sobre a mortalidade por doenças coronarianas, apontou uma ingestão de AGT pela população brasileira equivalente a 1,8% do VET, em 2010. De acordo com os autores, esse consumo excessivo foi responsável por 18.576 mortes anuais por doenças corona- rianas, o que representa 11,5% desses óbitos¹³. Estudos conduzidos no Brasil também indicam que alguns óleos vegetais refinados podem ter até 5% de ácidos graxos trans de origem industrial ³⁷ ³⁹. Isso pode ser o resultado de falhas no controle da etapa de desodoriza- ção dos óleos durante seu refinamento⁴⁰. 7 A substituição do AGTI por óleos e gorduras mais saudáveis, especialmente ricas em ácidos graxos poli-insaturados e pobres em ácidos graxos saturados, é possível. Assim, a eliminação do suprimen- to global de alimentos com AGTI foi identificada como uma das metas prioritárias do plano estratégico da OMS para os anos de 2019 e 2023, aprovado durante a 57ª Assembleia Mundial da Saúde²⁵. No escopo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), os países membros, incluindo o Brasil, se comprometeram a reduzir em um terço, até 2030, as mortes prematuras por DCNT – Objeti- vo 3.4²⁶. Ademais, um dos objetivos da Agenda de Saúde Sustentável das Américas (2008-2030) é reduzir o risco de eventos e mortes relacionadas com as doenças coronarianas²⁷. Nesse sentido, a restrição efetiva das AGTI contribuirá para que cada país atinja esses objetivos e fortalecerá os compromissos assumidos no âmbito da Década de Ação das Nações Unidas sobre Nutrição (2016-2025)²⁸. As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são responsáveis por 72% das causas de morte no mundo7. Em 2016, estima-se que elas foram responsáveis por quase 40 milhões de mortes. Das principais DCNT, as doenças cardiovas- culares (DCV) foram as principais causas de morte, sendo responsáveis por quase metade (45%) de todas elas. Altos níveis de ingestão de ácidos graxos trans produzidos industrialmente estão fortemente associados ao desenvolvi- mento de DCV e morte ⁸ ¹¹. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), meio milhão de pessoas morrem a cada ano por causa da presença de AGT em sua comida¹². Aproxima-damente 160.000 dessas mortes ocorreram na região das Américas e repre- sentaram 17,9% de todas as mortes por DCV no Canadá e nos EUA, e 10,7% das mortes na América Latina e no Caribe¹³. Adultos mais jovens geralmente apresentam taxas mais altas de mortalidade por doenças coronarianas atribuí- veis ao AGTI ¹² ¹³. Como essas estimativas não incluem mortes causadas por outros efeitos adversos do consumo de AGTI na saúde, como diabetes ou even- tos não fatais, as estimativas são consideradas conservadoras quanto ao seu impacto negativo na saúde. O impacto socioeconômico das doenças crônicas é crescente, sendo considerado um problema para a saúde pública mundial. Além das mortes prematuras, as DCNT são responsáveis por incapacidade laboral, redução das rendas familiares e redução da produtividade¹⁴ ¹⁵. Estudos metabólicos demonstram que os AGT tornam o perfil lipídico plasmático ainda mais aterogênico do que os ácidos graxos saturados, não só elevando o colesterol total e a lipoproteí- na de baixa densidade – LDLc a níveis semelhantes, mas também diminuindo a lipoproteína de alta densidade – HDLc, aumentan- do a relação colesterol total/HDL, a ação pró-inflamatória e a disfunção endotelial ¹⁶ ¹⁸. Há também evidências sobre aumento do risco de infertilidade, endometriose, cálculos biliares, doença de Alzheimer, diabetes e alguns tipos de câncer¹⁹. Por isso, a qualidade da gordura na dieta tem sido reconhecida mundialmente como mais importante do que a quantidade total de gordura para a prevenção de doenças cardiovasculares e mortalidade ²⁰. Meta-análises de estudos prospectivos de coorte encontraram associações entre menor ingestão de AGT e redução do risco de mortalidade por todas as causas, mortalidade por doença coronariana e eventos coronarianos em adultos ¹⁰ ²¹. Estima-se que uma redução de 4,5g/dia no consumo de AGTI no México, na América Central e na América do Sul evitaria de 30.000 a 130.000 eventos de doen- ças coronarianas anualmente; e uma redução mais restritiva, de 9g/dia preveniria entre 62.000 e 225.000 eventos de doenças coronarianas anualmente ²². A redução do consumo de AGTI é considerada uma prioridade políti- ca da OMS. Desde 2003, é recomendada uma redução de ingestão até o limite de 1% do total calórico diário8. No entanto, o consumo de ácidos graxos trans na Região das Américas estava entre os mais altos do mundo em 2010, repre- sentando 2,9% do consumo total de energia no Canadá e nos Estados Unidos e 1,9% do consumo total de energia na América Latina e no Caribe²³. Ainda, enquanto a mortalidade global por doença cardíaca coronária relacionada à ingestão insuficiente de ácidos graxos poli-insaturados n-6 (PUFA) e a ingestão de gordu- ra saturada diminuiu entre 1990 e 2010, os impactos negativos sobre a saúde por comer AGT aumentou globalmente em 4%²⁴. Com uma população de mais de 200 milhões de pessoas, o Brasil é o quinto país mais populoso do mundo. As DCNT correspondem a 72% das causas de morte; as doenças cardiovasculares causaram aproxima- damente 30% de todas as mortes prematuras, mais do que qualquer outro grupo de doenças ²⁹ ³⁰. Em 2010, aproximadamente 19.000 mortes foram atribuíveis à alta ingestão de AGT¹². De acordo com recente estudo³¹ realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o impacto econômico causado por DCV vêm aumentando a cada ano, em consonância com o número de casos de DCV. Segundo os autores, os custos estimados por DCV foram de R$37,1 bilhões no ano de 2015, o que representa um aumento percen- tual de 17% no período de 2010 a 2015. Os custos estimados pela morte prematura por DCV representam 61% do total de custo estima- dos. Já os custos diretos com internações e consultas foram de 22% e os custos pela perda da produtividade relacionados à doença foram de Por fim, destaca-se que as evidências científicas sobre os efeitos adversos do consumo dos AGTI na saúde são convincentes e a opção regulatória que restringe ao máximo a quantidade da subs- tância nos alimentos é considerada, do ponto de vista técnico- -científico, a mais eficaz para a diminuição do consumo e a promoção da saúde. PANORAMA NACIONAL 15% do total. Os gastos com saúde no Brasil são estimados em 9,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e o custo médio das DCV foi estimado em 0,7% do PIB. Embora apresentem causas multifatoriais, as DCNT compartilham quatro fatores de risco comportamentais modificáveis: a alimentação inadequada, o uso abusivo de álcool, o tabagismo e o sedentarismo³². Sendo que a alimentação inadequada lidera o ranking de fatores de risco mais importantes para a carga global de doenças no país³³. Ressalta-se que o alto consumo de AGT leva a hipercolesterolemia, fator de risco metabólico independente para as DCV e que ocupa o sétimo lugar no ranking dos fatores mais relevantes para a carga global de doenças no Brasil7. Dados relacionados ao consumo de AGT pela população brasileira são limitados. No entanto, resultados da última Pesquisa de Orça- mentos Familiares (POF) - 2008/2009³⁴ revelam que seu consumo médio é elevado em todas as faixas etárias avaliadas (10 anos ou mais), sendo que o maior consumo ocorre entre os adoles- centes (14 a 18 anos) do sexo masculino (3,1 g/dia ou 1,4% em um total de 2000 calorias/dia). A POF também demostra que o consumo médio de AGT é maior nas áreas urbanas em ambos os sexos e em todos os grupos de idade, e que as regiões Sul e Sudes- te apresentam médias mais altas de consumo. Outra pesquisa, publicada em 2015, com base nos dados de consumo alimentar da POF 2008/2009, identificou um consu- mo médio de AGT pela população é de 2,9 g/dia ou 1,4% do VET (valor energético total). Esse estudo revelou que a fração da dieta constituída de alimentos ultraprocessados contém oito vezes mais AGT do que a fração composta por alimentos in natura e minima- mente processados, fazendo com que a quantidade ingerida desta gordura aumente significativamente com o aumento da participa- ção de ultraprocessados na alimentação³⁵. Um estudo de 2009 na cidade de São Paulo apontou que a ingestão média diária de AGT foi de 5g, equivalente a 2,4% da ingestão total de energia diária. O maior consumo foi observado em adolescentes, com 7,4g por dia, ou 2,9% da ingestão total diária de energia³⁶. Estudo internacional que estimou a ingestão de AGT em 186 países para avaliar a carga global sobre a mortalidade por doenças coronarianas, apontou uma ingestão de AGT pela população brasileira equivalente a 1,8% do VET, em 2010. De acordo com os autores, esse consumo excessivo foi responsável por 18.576 mortes anuais por doenças corona- rianas, o que representa 11,5% desses óbitos¹³. Estudos conduzidos no Brasil também indicam que alguns óleos vegetais refinados podem ter até 5% de ácidos graxos trans de origem industrial ³⁷ ³⁹. Isso pode ser o resultado de falhas no controle da etapa de desodoriza- ção dos óleos durante seu refinamento⁴⁰. 10 A substituição do AGTI por óleos e gorduras mais saudáveis, especialmente ricas em ácidos graxos poli-insaturados e pobres em ácidos graxos saturados, é possível. Assim, a eliminação do suprimen- to global de alimentos com AGTI foi identificada como uma das metas prioritárias do plano estratégico da OMS para os anos de 2019 e 2023, aprovado durante a 57ª Assembleia Mundial da Saúde²⁵. No escopo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), os países membros, incluindo o Brasil, se comprometeram a reduzir em um terço, até 2030, as mortes prematuras por DCNT – Objeti- vo 3.4²⁶. Ademais, um dos objetivos da Agenda de Saúde Sustentável das Américas (2008-2030) é reduzir o risco de eventos e mortes relacionadas com as doenças coronarianas²⁷. Nesse sentido, a restrição efetiva das AGTI contribuirá para que cada país atinja esses objetivos e fortalecerá os compromissosassumidos no âmbito da Década de Ação das Nações Unidas sobre Nutrição (2016-2025)²⁸. - Com uma população de mais de 200 milhões de pessoas, o Brasil é o quinto país mais populoso do mundo. As DCNT correspondem a 72% das causas de morte; as doenças cardiovasculares causaram aproxima- damente 30% de todas as mortes prematuras, mais do que qualquer outro grupo de doenças ²⁹ ³⁰. Em 2010, aproximadamente 19.000 mortes foram atribuíveis à alta ingestão de AGT¹². De acordo com recente estudo³¹ realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o impacto econômico causado por DCV vêm aumentando a cada ano, em consonância com o número de casos de DCV. Segundo os autores, os custos estimados por DCV foram de R$37,1 bilhões no ano de 2015, o que representa um aumento percen- tual de 17% no período de 2010 a 2015. Os custos estimados pela morte prematura por DCV representam 61% do total de custo estima- dos. Já os custos diretos com internações e consultas foram de 22% e os custos pela perda da produtividade relacionados à doença foram de 15% do total. Os gastos com saúde no Brasil são estimados em 9,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e o custo médio das DCV foi estimado em 0,7% do PIB. Embora apresentem causas multifatoriais, as DCNT compartilham quatro fatores de risco comportamentais modificáveis: a alimentação inadequada, o uso abusivo de álcool, o tabagismo e o sedentarismo³². Sendo que a alimentação inadequada lidera o ranking de fatores de risco mais importantes para a carga global de doenças no país³³. Ressalta-se que o alto consumo de AGT leva a hipercolesterolemia, fator de risco metabólico independente para as DCV e que ocupa o sétimo lugar no ranking dos fatores mais relevantes para a carga global de doenças no Brasil7. Dados relacionados ao consumo de AGT pela população brasileira são limitados. No entanto, resultados da última Pesquisa de Orça- mentos Familiares (POF) - 2008/2009³⁴ revelam que seu consumo médio é elevado em todas as faixas etárias avaliadas (10 anos ou mais), sendo que o maior consumo ocorre entre os adoles- centes (14 a 18 anos) do sexo masculino (3,1 g/dia ou 1,4% em um total de 2000 calorias/dia). A POF também demostra que o consumo médio de AGT é maior nas áreas urbanas em ambos os sexos e em todos os grupos de idade, e que as regiões Sul e Sudes- te apresentam médias mais altas de consumo. Outra pesquisa, publicada em 2015, com base nos dados de consumo alimentar da POF 2008/2009, identificou um consu- mo médio de AGT pela população é de 2,9 g/dia ou 1,4% do VET (valor energético total). Esse estudo revelou que a fração da dieta constituída de alimentos ultraprocessados contém oito vezes mais AGT do que a fração composta por alimentos in natura e minima- mente processados, fazendo com que a quantidade ingerida desta gordura aumente significativamente com o aumento da participa- ção de ultraprocessados na alimentação³⁵. Um estudo de 2009 na cidade de São Paulo apontou que a ingestão média diária de AGT foi de 5g, equivalente a 2,4% da ingestão total de energia diária. O maior consumo foi observado em adolescentes, com 7,4g por dia, ou 2,9% da ingestão total diária de energia³⁶. Estudo internacional que estimou a ingestão de AGT em 186 países para avaliar a carga global sobre a mortalidade por doenças coronarianas, apontou uma ingestão de AGT pela população brasileira equivalente a 1,8% do VET, em 2010. De acordo com os autores, esse consumo excessivo foi responsável por 18.576 mortes anuais por doenças corona- rianas, o que representa 11,5% desses óbitos¹³. Estudos conduzidos no Brasil também indicam que alguns óleos vegetais refinados podem ter até 5% de ácidos graxos trans de origem industrial ³⁷ ³⁹. Isso pode ser o resultado de falhas no controle da etapa de desodoriza- ção dos óleos durante seu refinamento⁴⁰. 11 Com uma população de mais de 200 milhões de pessoas, o Brasil é o quinto país mais populoso do mundo. As DCNT correspondem a 72% das causas de morte; as doenças cardiovasculares causaram aproxima- damente 30% de todas as mortes prematuras, mais do que qualquer outro grupo de doenças ²⁹ ³⁰. Em 2010, aproximadamente 19.000 mortes foram atribuíveis à alta ingestão de AGT¹². De acordo com recente estudo³¹ realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o impacto econômico causado por DCV vêm aumentando a cada ano, em consonância com o número de casos de DCV. Segundo os autores, os custos estimados por DCV foram de R$37,1 bilhões no ano de 2015, o que representa um aumento percen- tual de 17% no período de 2010 a 2015. Os custos estimados pela morte prematura por DCV representam 61% do total de custo estima- dos. Já os custos diretos com internações e consultas foram de 22% e os custos pela perda da produtividade relacionados à doença foram de 15% do total. Os gastos com saúde no Brasil são estimados em 9,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e o custo médio das DCV foi estimado em 0,7% do PIB. Embora apresentem causas multifatoriais, as DCNT compartilham quatro fatores de risco comportamentais modificáveis: a alimentação inadequada, o uso abusivo de álcool, o tabagismo e o sedentarismo³². Sendo que a alimentação inadequada lidera o ranking de fatores de risco mais importantes para a carga global de doenças no país³³. Ressalta-se que o alto consumo de AGT leva a hipercolesterolemia, fator de risco metabólico independente para as DCV e que ocupa o sétimo lugar no ranking dos fatores mais relevantes para a carga global de doenças no Brasil7. Dados relacionados ao consumo de AGT pela população brasileira são limitados. No entanto, resultados da última Pesquisa de Orça- mentos Familiares (POF) - 2008/2009³⁴ revelam que seu consumo médio é elevado em todas as faixas etárias avaliadas (10 anos ou mais), sendo que o maior consumo ocorre entre os adoles- centes (14 a 18 anos) do sexo masculino (3,1 g/dia ou 1,4% em um total de 2000 calorias/dia). A POF também demostra que o consumo médio de AGT é maior nas áreas urbanas em ambos os sexos e em todos os grupos de idade, e que as regiões Sul e Sudes- te apresentam médias mais altas de consumo. Outra pesquisa, publicada em 2015, com base nos dados de consumo alimentar da POF 2008/2009, identificou um consu- mo médio de AGT pela população é de 2,9 g/dia ou 1,4% do VET (valor energético total). Esse estudo revelou que a fração da dieta constituída de alimentos ultraprocessados contém oito vezes mais AGT do que a fração composta por alimentos in natura e minima- mente processados, fazendo com que a quantidade ingerida desta gordura aumente significativamente com o aumento da participa- ção de ultraprocessados na alimentação³⁵. Um estudo de 2009 na cidade de São Paulo apontou que a ingestão média diária de AGT foi de 5g, equivalente a 2,4% da ingestão total de energia diária. O maior consumo foi observado em adolescentes, com 7,4g por dia, ou 2,9% da ingestão total diária de energia³⁶. Estudo internacional que estimou a ingestão de AGT em 186 países para avaliar a carga global sobre a mortalidade por doenças coronarianas, apontou uma ingestão de AGT pela população brasileira equivalente a 1,8% do VET, em 2010. De acordo com os autores, esse consumo excessivo foi responsável por 18.576 mortes anuais por doenças corona- rianas, o que representa 11,5% desses óbitos¹³. Estudos conduzidos no Brasil também indicam que alguns óleos vegetais refinados podem ter até 5% de ácidos graxos trans de origem industrial ³⁷ ³⁹. Isso pode ser o resultado de falhas no controle da etapa de desodoriza- ção dos óleos durante seu refinamento⁴⁰. Diante dos acordos voluntários da indústria de alimentos, detalha- dos na Seção “Cenário Regulatório no Brasil”, o conteúdo de AGT vem sendo reduzido nos alimentos industrializados, o que tem levado à redução da ingestão desses lipídios pela população. Apesardos avanços obtidos, o mercado nacional ainda possui muitos produtos adicionados de OGPH, que podem ter um preço inferior aos equivalentes sem AGT. Essa situação pode estimular o consu- mo de AGT em detrimento a opções mais saudáveis, especialmen- te quando não fica claro para o consumidor que a diferença entre os preços pode estar relacionada à presença desses ácidos graxos. Essa e outras limitações relativas à presença e à rotulagem de AGT nos alimentos industrializados são demonstradas em pesquisas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em 2009, um levantamento realizado em um minimercado e um supermercado localizados em regiões de Florianópolis com diferentes níveis socioeconômicos e próximas a escolas públicas identificou, com base na lista de ingredientes, a presença de AGT em oito catego- rias de alimentos: balas, barras de cereais, bebidas (leite e bebidas à base de soja), cookies, biscoitos, chocolates, doces e snacks. Os alimentos (tabela nutricional) e os valores encontrados na análise da composição dos mesmos alimentos. Nos estudos, foram analisados o perfil de ácidos graxos, por cromatografia, de 49 amostras de alimentos com ingredientes passíveis de conter ácido graxo trans industrial, comparando-os com o teor de ácidos graxos trans declarado nos rótulos. Houve diferença entre o valor declarado nos rótulos e o valor encon- trado na análise em 82% (n=40) dos alimentos industrializa- dos analisados, dos quais 92% (n=37) apresentaram maior conteúdo de AGT na análise laboratorial. Por fim, de acordo com o Documento de base para discussão regulatória sobre AGT elaborado pela Anvisa, estimativas populacionais indicam um consumo médio de AGT superior a 1% do VET, atual limite máximo de consumo estabelecido pela OMS, sendo que grupos que apresentam maior consumo de alimentos industrializados, podem atingir valores ainda maiores. 12 resultados revelaram que 447 (69%) desses produtos tinham AGT. As categorias que apresentaram maior proporção desses lipídios, em ordem decrescente, foram os biscoitos (92%), os cookies (89%), os chocolates (78%), as barras de cereais (63%), os doces e as balas (42%), os snacks (39%) e as bebidas (33%)⁴¹. Silveira (2013)⁴², analisando rótulos de 2.327 alimentos embala- dos, encontrou 14 diferentes denominações para ácido graxo trans industrial na lista de ingredientes, tais como ‘gordura hidro- genada’, ‘gordura parcialmente hidrogenada’, ‘óleo vegetal hidro- genado’, e mais nove denominações alternativas de ingredientes passíveis de conterem ácido graxo trans industrial, por exemplo, ‘creme vegetal’, ‘gordura vegetal’ e ‘margarina’. Outra limitação é que o conteúdo apresentado como porção, por ser muitas vezes pequeno, possibilita que a indústria alimentícia não notifique a presença de ácidos graxos trans na informação nutricional do alimento quando estes não alcançam o valor de 0,2 g na porção,⁴¹ ⁴³ ⁴⁶ comprometendo o direito dos consumidores à informação. Estudos de Hissanaga-Himelstein (2014; 2016)⁴⁷ ⁴⁸ comprovam divergências entre os teores de AGT apresentados nos rótulos de - - Com uma população de mais de 200 milhões de pessoas, o Brasil é o quinto país mais populoso do mundo. As DCNT correspondem a 72% das causas de morte; as doenças cardiovasculares causaram aproxima- damente 30% de todas as mortes prematuras, mais do que qualquer outro grupo de doenças ²⁹ ³⁰. Em 2010, aproximadamente 19.000 mortes foram atribuíveis à alta ingestão de AGT¹². De acordo com recente estudo³¹ realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o impacto econômico causado por DCV vêm aumentando a cada ano, em consonância com o número de casos de DCV. Segundo os autores, os custos estimados por DCV foram de R$37,1 bilhões no ano de 2015, o que representa um aumento percen- tual de 17% no período de 2010 a 2015. Os custos estimados pela morte prematura por DCV representam 61% do total de custo estima- dos. Já os custos diretos com internações e consultas foram de 22% e os custos pela perda da produtividade relacionados à doença foram de 15% do total. Os gastos com saúde no Brasil são estimados em 9,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e o custo médio das DCV foi estimado em 0,7% do PIB. Embora apresentem causas multifatoriais, as DCNT compartilham quatro fatores de risco comportamentais modificáveis: a alimentação inadequada, o uso abusivo de álcool, o tabagismo e o sedentarismo³². Sendo que a alimentação inadequada lidera o ranking de fatores de risco mais importantes para a carga global de doenças no país³³. Ressalta-se que o alto consumo de AGT leva a hipercolesterolemia, fator de risco metabólico independente para as DCV e que ocupa o sétimo lugar no ranking dos fatores mais relevantes para a carga global de doenças no Brasil7. Dados relacionados ao consumo de AGT pela população brasileira são limitados. No entanto, resultados da última Pesquisa de Orça- mentos Familiares (POF) - 2008/2009³⁴ revelam que seu consumo médio é elevado em todas as faixas etárias avaliadas (10 anos ou mais), sendo que o maior consumo ocorre entre os adoles- centes (14 a 18 anos) do sexo masculino (3,1 g/dia ou 1,4% em um total de 2000 calorias/dia). A POF também demostra que o consumo médio de AGT é maior nas áreas urbanas em ambos os sexos e em todos os grupos de idade, e que as regiões Sul e Sudes- te apresentam médias mais altas de consumo. Outra pesquisa, publicada em 2015, com base nos dados de consumo alimentar da POF 2008/2009, identificou um consu- mo médio de AGT pela população é de 2,9 g/dia ou 1,4% do VET (valor energético total). Esse estudo revelou que a fração da dieta constituída de alimentos ultraprocessados contém oito vezes mais AGT do que a fração composta por alimentos in natura e minima- mente processados, fazendo com que a quantidade ingerida desta gordura aumente significativamente com o aumento da participa- ção de ultraprocessados na alimentação³⁵. Um estudo de 2009 na cidade de São Paulo apontou que a ingestão média diária de AGT foi de 5g, equivalente a 2,4% da ingestão total de energia diária. O maior consumo foi observado em adolescentes, com 7,4g por dia, ou 2,9% da ingestão total diária de energia³⁶. Estudo internacional que estimou a ingestão de AGT em 186 países para avaliar a carga global sobre a mortalidade por doenças coronarianas, apontou uma ingestão de AGT pela população brasileira equivalente a 1,8% do VET, em 2010. De acordo com os autores, esse consumo excessivo foi responsável por 18.576 mortes anuais por doenças corona- rianas, o que representa 11,5% desses óbitos¹³. Estudos conduzidos no Brasil também indicam que alguns óleos vegetais refinados podem ter até 5% de ácidos graxos trans de origem industrial ³⁷ ³⁹. Isso pode ser o resultado de falhas no controle da etapa de desodoriza- ção dos óleos durante seu refinamento⁴⁰. Diante dos acordos voluntários da indústria de alimentos, detalha- dos na Seção “Cenário Regulatório no Brasil”, o conteúdo de AGT vem sendo reduzido nos alimentos industrializados, o que tem levado à redução da ingestão desses lipídios pela população. Apesar dos avanços obtidos, o mercado nacional ainda possui muitos produtos adicionados de OGPH, que podem ter um preço inferior aos equivalentes sem AGT. Essa situação pode estimular o consu- mo de AGT em detrimento a opções mais saudáveis, especialmen- te quando não fica claro para o consumidor que a diferença entre os preços pode estar relacionada à presença desses ácidos graxos. Essa e outras limitações relativas à presença e à rotulagem de AGT nos alimentos industrializados são demonstradas em pesquisas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em 2009, um levantamento realizado em um minimercado e um supermercado localizados em regiões de Florianópolis com diferentes níveis socioeconômicos e próximas a escolas públicas identificou,com base na lista de ingredientes, a presença de AGT em oito catego- rias de alimentos: balas, barras de cereais, bebidas (leite e bebidas à base de soja), cookies, biscoitos, chocolates, doces e snacks. Os alimentos (tabela nutricional) e os valores encontrados na análise da composição dos mesmos alimentos. Nos estudos, foram analisados o perfil de ácidos graxos, por cromatografia, de 49 amostras de alimentos com ingredientes passíveis de conter ácido graxo trans industrial, comparando-os com o teor de ácidos graxos trans declarado nos rótulos. Houve diferença entre o valor declarado nos rótulos e o valor encon- trado na análise em 82% (n=40) dos alimentos industrializa- dos analisados, dos quais 92% (n=37) apresentaram maior conteúdo de AGT na análise laboratorial. Por fim, de acordo com o Documento de base para discussão regulatória sobre AGT elaborado pela Anvisa, estimativas populacionais indicam um consumo médio de AGT superior a 1% do VET, atual limite máximo de consumo estabelecido pela OMS, sendo que grupos que apresentam maior consumo de alimentos industrializados, podem atingir valores ainda maiores. 13 resultados revelaram que 447 (69%) desses produtos tinham AGT. As categorias que apresentaram maior proporção desses lipídios, em ordem decrescente, foram os biscoitos (92%), os cookies (89%), os chocolates (78%), as barras de cereais (63%), os doces e as balas (42%), os snacks (39%) e as bebidas (33%)⁴¹. Silveira (2013)⁴², analisando rótulos de 2.327 alimentos embala- dos, encontrou 14 diferentes denominações para ácido graxo trans industrial na lista de ingredientes, tais como ‘gordura hidro- genada’, ‘gordura parcialmente hidrogenada’, ‘óleo vegetal hidro- genado’, e mais nove denominações alternativas de ingredientes passíveis de conterem ácido graxo trans industrial, por exemplo, ‘creme vegetal’, ‘gordura vegetal’ e ‘margarina’. Outra limitação é que o conteúdo apresentado como porção, por ser muitas vezes pequeno, possibilita que a indústria alimentícia não notifique a presença de ácidos graxos trans na informação nutricional do alimento quando estes não alcançam o valor de 0,2 g na porção,⁴¹ ⁴³ ⁴⁶ comprometendo o direito dos consumidores à informação. Estudos de Hissanaga-Himelstein (2014; 2016)⁴⁷ ⁴⁸ comprovam divergências entre os teores de AGT apresentados nos rótulos de http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/5313808/Documento+de+discuss%C3%A3o+sobre+gordura+trans_vers%C3%A3o+final.pdf/e2604d4a-9434-4bc4-b511-1c76ce7396ab adm-proativa Realce Em decorrência dos impactos nocivos à saúde cardiovascular provocados pelos AGT, 30 países já implementaram medidas obrigatórias para restringir o uso ou o consumo dessas gorduras, atingindo, atualmente, 2,4 bilhões de pessoas (31% de cobertura global da população). A Dinamarca foi o primeiro país que, há mais de 15 anos, determinou o limite de 2% de ácido graxo trans de origem industrial sobre o total de gorduras em todos os alimen- tos no mercado, incluindo importados e aqueles servidos em restaurantes. Desde então, medidas semelhantes de restrição já foram adotadas por diversos países da Europa, Ásia, África e na Região das Américas: Chile (2009), Argentina (2010), Colômbia (2012), Equador (2013), Estados Unidos da América (2015), Peru (2016), Canadá (2017), Uruguai (2017)¹². CENÁRIO REGULATÓRIO NA REGIÃO E NO MUNDO A OMS¹² considera que os países que adotaram as melhores práti- cas de restrição do AGTI são: Áustria, Canadá, Chile, Dinamarca, Guam, Hungria, Islândia, Letônia, Ilhas Marianas do Norte, Noruega, Eslovênia, África do Sul, Tailândia e Estados Unidos da América, uma vez que suas iniciativas regulatórias limitam o AGTI em alimentos em todos os ambientes e atendem a pelo menos uma das alternativas recomendadas de estabelecer: Um limite nacional obrigatório de 2 g de AGT produzido industrialmente por 100 gramas de óleos e gorduras totais em todos os alimentos; e A proibição nacional obrigatória da produção ou uso de OGPH como ingrediente em todos os alimentos. 1 2 14 Em 2018, foi lançado pela OMS o pacote de ações “REPLACE” com um roteiro de estratégias para os países eliminarem os ácidos graxos trans produzidos industrialmente do suprimento global de alimentos até 2023. Esse pacote delineia seis áreas de ação para apoiar a pronta, completa e sustentada elimina- ção do AGTI, reunindo, também, as lições aprendidas dos países. Em maio deste ano, a OMS desenvolveu e lançou o “TFA COUNTRY SCORE CARD” (AGTI Cartão de Pontuação do País – tradução livre) para moni- torar continuamente o desempenho dos países na implementação de medidas legislativas e outras medidas para reduzir e eliminar o AGTI (Figura 2). Nele, é possível conhecer os países que apresentam as melhores práticas de restrição de AGTI, citadas acima, os que implementam limites menos restritivos (ex: limite de 2% de AGTI apenas em óleos e gorduras ou limite de 2% em óleos e gorduras e de 5% em outros alimentos ou limite de 5% em óleos e gorduras), outras medidas complementares (ex: declaração de AGT nos rótulos, sistema de rotulagem frontal que inclui os AGT) ou algum compromisso no âmbito da política nacional para sua eliminação (estratégias ou planos de ação que expressam o compromisso de reduzir o AGTI no suprimento de alimentos). Compromisso de política nacional para eliminar o AGT: Políticas, estratégias ou planos de ação nacionais expressam o compromisso de reduzir o AGT produzido industrialmente no suprimento de alimentos Outras medidas complementares: Foram adotadas medidas legislativas ou outras para incentivar os consumidores a fazer escolhas mais saudáveis em relação aos AGT produzidos industrialmente ou a limites obrigatórios para os AGT produzidos industrialmente em alimentos em contextos específicos Limites menos restritivos de AGT: Foram adotadas medidas legais para limitar o AGT produzido industrial- mente em alimentos em todos os locais, mas estas são menos restritivas que a abordagem recomendada Políticas de melhores práticas do AGT: Foram adotadas medidas legislativas para limitar o AGT produzido industrialmente em alimentos em todos os contextos, e elas estão de acordo com a abordagem recomendada Mecanismo de monitoramento para limites obrigatórios de AGT Política de melhores práticas do AGT aprovada, mas ainda não está em vigor Figura 2. Desempenho dos países com relação às iniciativas para redução/eliminação do AGTI12. OMS, 201915 https://www.who.int/nutrition/topics/replace-transfat adm-proativa Realce https://extranet.who.int/nutrition/gina/en/scorecard/TFA adm-proativa Realce Um estudo realizado na Argentina estimou que o impacto da redução do consumo de AGT devido à lei do país evitaria até 1.517 mortes, 5.373 eventos coronarianos agudos e U$87 milhões nos custos anuais de sistemas de saúde⁴⁹. Ainda sobre o impacto das medidas regula- tórias na saúde, a Dinamarca conseguiu diminuir a mortalidade cardiovascular 4,2% mais rápido do que em países comparáveis da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) após a implementação da primeira proibi- ção nacional da AGT em 2003⁵⁰. 16 O Brasil também tem regras estabelecidas pelo Ministério da Educação para o atendimento da alimentação escolar aos alunos da educação básica no âmbito do Programa Nacional de Alimen- tação Escolar (PNAE) que definem que as preparações diárias da alimentação escolar devem observar o limite de AGT de 1% do VET, entretanto, não há um sistema de monitoramento pleno de seu cumprimento. Entre as ações voluntárias de reformulação, destacam-se o Acordo de Cooperação Técnica assinado pelo Ministério das Saúde (MS) e pela Associação Brasileira das Indústrias da Alimen- tação (ABIA) e a Declaração do Rio de Janeiro para as Américas Livres de ácidos graxos trans da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que estabeleceu como meta um conteúdo máximode AGTI nos óleos e margarinas de 2% do total de gordu- ras e nos alimentos processados de 5% do total de gorduras⁵¹. Apesar de alguns avanços obtidos por tais medidas, explicitados previamente, constata-se que o mercado nacional ainda apresenta muitos produtos industrializados com adição de gordura parcial- mente hidrogenada e que esses produtos possuem um preço inferior ao de alimentos equivalentes sem adição deste constituinte. Ademais, os dados disponíveis revelam um consumo elevado de AGT pela população brasileira. Nesse sentido, o impacto dessa iniciativa, tem sido insuficiente em seu alcance. Ainda, pondera-se que os maiores fabricantes de alimentos industrializados já realiza- ram reformulações voluntárias por influência das medidas de rotula- gem nutricional e de pactuação com o MS. Portanto, não parece provável que o movimento voluntário de redução dos AGT realizado por parcela do setor produtivo em resposta às medidas regulatórias adotadas continue a ocorrer em um ritmo e magnitude capazes de reduzir o consumo de AGT aos valores recomendados. Em 2017, na Reunião dos Ministros da Saúde do Mercosul, foi assinado um acordo em que os países se comprometeram em fomentar a adoção de medidas regulatórias para a eliminação gradu- al de AGTI dos alimentos, em um prazo inferior a quatro anos⁵². A Anvisa, comprometida com seus objetivos estratégicos, vem, desde 2016, discutindo e analisando o tema, de forma transparen- te e participativa, com a presença de organizações da sociedade civil, pesquisadores acadêmicos, representantes do governo e do setor regulado (indústria de alimentos) para se chegar à melhor opção regulatória para restrição dos ácidos graxos trans industriais no Brasil. O uso de AGTI em alimentos é um dos temas prioritários da sua Agenda Regulatória 2017-2020 – tema 4.11. Em 2016, foi realizada Audiência Pública (AP) sobre o assunto (nº 2/2016), em que se constatou que as iniciativas destinadas a reduzir o consumo de AGTI no país não estão sendo suficientes para atingir um nível adequado de proteção à saúde da população. Em complementação à AP, foram coletadas opiniões da sociedade sobre o tema, por meio de um formulário eletrônico que ficou aberto por 15 dias. Dentre os resultados encontrados, foi observado que 95% dos participantes apoiavam a implementação de medidas mais efetivas para reduzir o consumo de ácido graxo trans e, dessas, 86,6% responderam que a melhor forma de atuação regu- latória é a proibição do uso de gordura trans. Entretanto, as regras vigentes apresentam limitações significativas no que diz respeito às declarações dos ingredientes fontes de AGTI ou à quantidade total desses lipídios nos produtos. Na Figura 3, estão listadas as principais falhas regulatórias identificadas na decla- ração de AGT na lista de ingredientes e na rotulagem nutricional. Dentre elas, destaca-se que quantidades iguais ou inferiores a 0,2g de AGT na porção podem ser declaradas como zero na tabela nutri- cional, além disso, alimentos que contem ácido graxo trans abaixo de 0,1g na porção e são baixos em gordura saturada podem utilizar alegações de que são isentos da substância (“0% ácido graxo trans”, “Livre de ácido graxo trans”, etc.). Além disso, existe uma tolerância de 20% para a precisão dos valores declarados na tabela e de 30% do tamanho da porção definida para alimentos apresentados em embalagem individual, em unidades de consumo ou fracionados. O Brasil possui iniciativas regulatórias relacionadas ao AGT, no entanto, nenhuma das medidas existentes estabelece um limite de AGTI ou proíbe a produção ou uso dos OGPH. A tentativa de adoção de uma medida normativa de restrição de AGTI vem sendo conduzida de forma legítima e participativa no âmbito da Anvisa, agência reguladora com competência legal e capacida- de técnica de regulamentar, fiscalizar e controlar os produtos e serviços que envolvam risco à saúde, incluindo os alimentos e seus constituintes, com base nas mais recentes evidências científicas. Uma das medidas já existentes relacionadas aos AGT é a rotulagem. Esta compreende, entre outros elementos, a lista de ingredientes, que traz a descrição, por ordem decrescente, dos ingredientes presentes na formulação do alimento, e a rotulagem nutricional, que inclui a declaração da quantidade absoluta de AGT presente na porção do alimento pronto para o consumo e as alegações nutricio- nais. Essas medidas visam informar aos consumidores sobre as princi- pais características de composição dos alimentos, de forma a auxiliar na realização de escolhas alimentares conscientes e adequadas. CENÁRIO REGULATÓRIO NO BRASIL 17 O Brasil também tem regras estabelecidas pelo Ministério da Educação para o atendimento da alimentação escolar aos alunos da educação básica no âmbito do Programa Nacional de Alimen- tação Escolar (PNAE) que definem que as preparações diárias da alimentação escolar devem observar o limite de AGT de 1% do VET, entretanto, não há um sistema de monitoramento pleno de seu cumprimento. Entre as ações voluntárias de reformulação, destacam-se o Acordo de Cooperação Técnica assinado pelo Ministério das Saúde (MS) e pela Associação Brasileira das Indústrias da Alimen- tação (ABIA) e a Declaração do Rio de Janeiro para as Américas Livres de ácidos graxos trans da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que estabeleceu como meta um conteúdo máximo de AGTI nos óleos e margarinas de 2% do total de gordu- ras e nos alimentos processados de 5% do total de gorduras⁵¹. Apesar de alguns avanços obtidos por tais medidas, explicitados previamente, constata-se que o mercado nacional ainda apresenta muitos produtos industrializados com adição de gordura parcial- Os alimentos que tipicamente são adicionados de OGPH são aqueles que apresentam menores porções definidas pela legislação. Soma-se a isso que as regras atuais da lista de ingredientes não estabelecem uma padronização para a declaração dos OGPH, sendo encontrados no mercado diversas denominações distintas na lista de ingredientes e o escopo das normas se limitam aos alimentos embalados, não garantindo que o consu- midor tenha acesso a informações sobre a presença e a quantidade de AGT nos alimentos consumidos fora do lar. Cobre apenas alimentos embalados. Uso de termos genéricos. Desassociada da tabela nutricional. Legibilidade inadequada LISTA DE INGREDIENTES Dispensa da declaração dos OGPH por ordem decrescente em certos casos. Omissão dos OGPH em certos casos. Cobre apenas alimentos embalados. Alimentos com alto teor de nutrientes negativos podem destacar sua ausência de AGT. ALEGAÇÕES NUTRICIONAIS Alguns alimentos com AGT conseguem destacar sua ausência. Podem mascarar qualidade nutricional. Cobre apenas alimentos embalados. Porções de referência muito pequenas, que podem ser reduzidas em até 30% e não refletem o consumo habitual. Sem % VD para AGT. TABELA NUTRICIONAL Quantidades < 0,2 gramas de AGT são declarados como zero. Presença de AGT pode ser ocultada. Figura 3. Principais falhas regulatórias identificadas na declaração de AGT na lista de ingredientes e na rotulagem nutricional. Anvisa, 2018. mente hidrogenada e que esses produtos possuem um preço inferior ao de alimentos equivalentes sem adição deste constituinte. Ademais, os dados disponíveis revelam um consumo elevado de AGT pela população brasileira. Nesse sentido, o impacto dessa iniciativa, tem sido insuficiente em seu alcance. Ainda, pondera-se que os maiores fabricantes de alimentos industrializados já realiza- ram reformulações voluntárias por influência das medidas de rotula- gem nutricional e de pactuação com o MS. Portanto, não parece provável que o movimento voluntário de redução dos AGT realizado por parcela do setor produtivo em resposta às medidas regulatórias adotadas continue a ocorrer em um ritmo e magnitude capazes de reduzir o consumo de AGT aos valores
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