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Evolução gráfica da revista Veja 
em três décadas de existência
Kelma Jucá
77janus, lorena, ano 2, nº 2, 1º semestre de 2005
Introdução
Palavras-Chave
resumo
A pesquisa visa examinar a evolução 
gráfica da revista Veja face a um 
mercado em constante expansão. 
Em síntese, a função desta análise 
é identificar os elementos gráficos 
que se alteraram em Veja nos anos 
de 1984, 1994 e 2004. 
Diagramação é a arte de organizar, de forma harmônica e atraente, 
os elementos gráficos da página e o conteúdo informativo. São eles: 
títulos, tabelas, fotos, publicidades, fios, tarjas. Na verdade, o ato de 
diagramar visa conciliar estética com técnica. Estética no sentido de 
deixar a página leve, suave e com uma bonita apresentação. Já a téc-
nica diz respeito aos recursos práticos que têm a finalidade de tornar 
o processo de leitura algo coerente, lógico e agradável.
Com efeito, a diagramação é um processo criativo que como resul-
tado final proporciona uma beleza plástica e um valor visual à página, 
bem como o equilíbrio e a identidade do jornal. “A preocupação do 
programador visual e, conseqüentemente, sua tarefa específica, é dar 
a tais mensagens a devida estrutura visual a fim de que o leitor possa 
discernir, rápida e confortavelmente, aquilo que para ele representa 
algum interesse” (SILVA, 1985: 43).
Desse modo, é sob a perspectiva visual que a pesquisa é fundamen-
tada. O objeto de estudo é a revista impressa Veja, hoje considerada o 
produto semanal de maior tiragem no país. Na década de 80, a tiragem 
Revista Veja - Evolução gráfica - 
Meios eletrônicos de comunicação - 
Elementos gráficos - Projeto gráfico 
- Diagramação
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hebdomadária era de 500 mil exemplares. No ano vigente, uma média 
de 1.250.000 revistas é impressa por semana. 
Durante trinta e seis anos de existência, Veja operou mudanças 
gráficas externa e internamente. Porém, essas alterações não se deram 
de forma abrupta e sim de modo gradual. A identidade visual de Veja 
não lhe permite modificar bruscamente sua linguagem icônica. Existe, 
pois, um padrão que a revista segue. “Esta padronização representará 
para o consumidor (leitor) a imagem do jornal, com embalagem e 
conteúdo eficientes” (SILVA, 1985: 46). Além da linha editorial (ética, 
política); todo jornal ou revista possui uma linha gráfico-editorial. 
O objetivo principal da análise é mostrar, por meio de uma leitura 
gráfica, como a revista Veja evoluiu em três décadas mantendo-se tec-
nicamente atualizada e garantindo sua identidade visual. Para tanto, 
faz-se necessário identificar os elementos gráficos apresentados na capa 
da revista e internamente durante três décadas; apresentar a dinâmica 
visual explorada pela revista; levantar os elementos gráficos que marcam 
sua identidade e demonstrar a ligação existente entre exemplares de 
três décadas diferentes.
Optou-se pelo tema em epígrafe porquê a diagramação de um meio 
impresso é, assim como o próprio texto, um elemento de persuasão. 
O leitor antes de ler qualquer assunto, primeiro observa a disposição 
dos elementos gráficos. “No jornalismo impresso, o texto transmite a 
informação semântica através dos seus signos compreensíveis, mas 
ao mesmo tempo produz uma informação visual de reforço estético 
através dos símbolos gráficos que atuam na sensibilidade do receptor” 
(SILVA, 1985: 26). A capa da revista, por exemplo, pode influenciar na 
compra da publicação, pois este é o primeiro contato que o leitor tem 
com o produto. 
Além da linguagem icônica da primeira página, existe o conteúdo 
não-verbal interno da revista que também incute no ato de compra 
do leitor-consumidor. Afinal, “Embora seja imprescindível o aprimora-
mento do texto, não se deve desprezar o valor da parte gráfica como 
instrumento de persuasão na leitura” (SILVA, 1985: 15).
É mister que a mensagem impressa se destaque das demais, a fim 
de manter sua própria sobrevivência. Somente algo impactante é capaz 
de despertar interesse no receptor. Destacando ainda que o século 20 
impôs agilidade à transmissão da informação escrita. As letras e as pa-
lavras são expostas a todo o momento em néons na área urbana, a TV 
tornou as informações mais rápidas e por isso mesmo, mais efêmeras, 
enquanto a internet oferece um salto no processo de aprendizagem 
infantil. As crianças hoje já partem da fase oral para a audiovisual, 
saltando, então, a fase escrita. Nessa perspectiva, a evolução gráfica 
da revista Veja evidencia uma questão pertinente para os estudiosos 
79janus, lorena, ano 2, nº 2, 1º semestre de 2005
A linguagem gráfica ou discurso gráfico1
de comunicação ou mesmo para os leitores comuns. Como a revista 
Veja se mantém popular durante 36 anos, atualizando a tecnologia de 
produção gráfica e reforçando sua identidade visual?
A pesquisa faz um estudo acerca do projeto gráfico da revista Veja. 
Para tanto, são analisados três exemplares do impresso nos anos de 
1984, 1994 e 2004; todos do mês de janeiro. A opção por trabalhar 
com as revistas desse mês está vinculada ao fato de que janeiro é o 
início de um novo ano e período de férias escolares, indicando, então, 
um momento ideal para a revista conquistar novos públicos para a 
leitura assídua. 
A partir dos resultados obtidos com as revistas analisadas, tais con-
clusões são extendidas para toda a década que o exemplar representa. 
Para a década de 80, trata-se da revista de 18 de janeiro de 1984. Para 
os anos 90, a revista de 12 de janeiro de 1994. Por fim, para o novo sé-
culo XXI, a revista de 7 de janeiro de 2004. As características verificadas 
em cada um desses exemplares foram admitidas como características 
da época vigente. 
Com o intuito de averiguar Veja de modo generalista, optou-se por 
investigar cinco seções do impresso: capa, entrevista, ponto de vista, 
matéria principal e publicidade. O uso de fios, tarjas e cores também 
são questionados. A importância de estudar a capa diz respeito a ela 
ser a embalagem do produto, o que exige que a mesma seja atrativa e 
convidativa à leitura. As páginas amarelas ou entrevista têm hoje o peso 
de uma matéria de capa. Ponto de vista é um artigo de opinião que se 
manteve presente em três décadas de existência. A matéria principal 
como o nome sugere é o destaque da semana, o que significa que é uma 
seção que requer mais apuração. A publicidade faz parte do jornalismo 
brasileiro, como tal merece um estudo acerca de sua evolução. É válido 
destacar que a análise feita levou em consideração a parte gráfica da 
revista, não sua estrutura de conteúdo.
Conforme já foi mencionado, os componentes de uma página são 
chamados elementos gráficos, tais como fios, tarjas, títulos, fotos, etc. 
É da perfeita união desses componentes que irá resultar uma página 
equilibrada esteticamente. É verdade que “Os espaços entre as palavras, 
as linhas, os pontos, o itálico, entre outros, são marcas constitutivas 
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e convencionais da escrita, que ficam invisíveis como um fundo em 
que se destaca a figura” (GRUSZYNSKI, 2000: 98), porém isso tudo 
só é possível se houver uma utilização coerente dos recursos gráficos, 
através da qual surge uma composição ideal.
O diagramador deve estabelecer harmonia e ritmo à leitura. Esses 
dois conceitos são aplicados quando o leitor ao se deparar com o texto 
de revista ou jornal ou mesmo livro consegue estabelecer uma leitura 
fluida, livre e desenvolta. O ato de ler deve ser cadenciado; o percurso 
dos olhos, suave e o entendimento do conteúdo, exato. Alguns exem-
plos de elementos gráficos seguem abaixo junto com o seu respectivo 
conceito ou noção geral.
· Fios: traços finos ou grossos que são utilizados para se-
parar ou unir conteúdos, além da função de destaque. 
· Tarjas: traços espessos coloridos ou pretos onde a palavra 
é inserida. A tarja pode ainda vir em efeito positivo ou 
negativo. 
· Efeito positivo: uso da letra na cor preta ou colorida sobre 
o branco, istoé, a letra se apresenta colorida ou não so-
bre o papel branco. Esse efeito proporciona uma melhor 
legibilidade.
· Efeito negativo: ocorre o contrário do caso anterior, há a 
utilização da letra branca sobre o preto ou outra cor, isto 
é, a letra se mostra na cor branca e o papel apresenta 
fundo colorido ou preto. Esse efeito é usado para destacar 
palavras. 
· Fonte: tipo da letra. A letra é classificada em famílias: Ro-
manos, Lineares, Incisos, Manuais, Manuscritos e Góticos. 
Cada tipo possui uma característica específica.
· Corpo: altura, tamanho da letra.
· Caixa alta (Ca): letra em maiúscula.
· Caixa baixa (Cb): letra em minúscula.
· Versalete: quando uma palavra possui todas as letras em 
caixa alta, porém a inicial se apresenta maior que as de-
mais letras.
· Alinhamento à esquerda: o texto começa sempre da es-
querda, estando totalmente retificado nesse lado.
· Alinhamento à direita: exatamente o oposto do alinhado à 
esquerda, estando o texto totalmente retificado no lado 
direito.
· Alinhamento justificado: o texto se apresenta retificado 
nos lados direito e esquerdo.
· Alinhamento centralizado: o texto aparece com as margens 
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direita e esquerda irregulares, um eixo central é que guia 
a disposição das palavras.
· Olho: pequeno espaço da página, que pode ter qualquer 
forma geométrica, o qual contém um mini- texto a fim de 
destacar um trecho do conteúdo apresentado. Estimula 
o leitor a ler toda a matéria.
· Vinheta: decorativo que associa idéias. Exemplo: um pe-
queno quadrado no fim da página de Veja indica que a 
matéria acabou. 
· Capitular: letra em destaque que indica o começo da ma-
téria. Ela é maior, podendo ser até de outro tipo de fonte 
e outra cor.
· Mancha gráfica: espaço pré-determinado onde fica todo 
o conteúdo da página. Delimitada pelas margens.
· Chapéu: o nome de cada editoria de uma revista ou jor-
nal.
· Margem: pode ser superior, inferior, esquerda e direita. 
Ela indica até onde os elementos visuais podem começar 
ou terminar.
· Foto sangrada: ocorre quando a fotografia ultrapassa a 
margem, finalizando além da página.
· Imagem em contorno: recorte aplicado para destacar ob-
jetos.
Outro elemento visual é a cor, que em comunicação também inte-
gra a linguagem não-verbal. Sempre que alguém se depara com alguma 
cor, ocorre uma reação psicológica, a qual dependerá, necessariamente, 
da bagagem cultural, das vivências, da formação religiosa, do lugar onde 
nasceu e viveu essa pessoa. Porém, estudiosos no assunto garantem 
que há sensações específicas transmitidas por cada tipo de cor.
As cores podem, inclusive, despertar o calor ou o frio em quem 
as observa. “De fato, chamamos de ‘quentes’ as cores que integram o 
vermelho, o laranja, e pequena parte do amarelo e do roxo; e de ‘frias’ 
as que integram grande parte do amarelo e do roxo, o verde e o azul” 
(FARINA, 1986: 102). As chamadas cores quentes provocam uma sen-
sação de despertar, de calor, de proximidade e de vibração. As cores 
frias são mais claras, leves e, portanto, estão ligadas ao equilíbrio, à 
profundidade, ao distanciamento, à calma.
A cor é utilizada no jornalismo de acordo com o contexto do tema 
apresentado. Existe uma relação direta entre o conteúdo apresentado 
pelo veículo impresso e a cor que este utiliza em bordas, fios, fundos, 
etc. Nada é colocado por acaso, a própria cor que compõe a página 
também faz parte da mensagem que o diagramador que repassar para 
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o leitor. Uma breve amostra de como as cores são utilizadas no produto 
impresso segue abaixo, tendo como base os estudos de FARINA (1986) 
E COLLARO (1996).
· Branco: ordem, simplicidade, pureza, inocência, paz, di-
vindade.
· Preto: pessimismo, miséria, dor, morte, luto, infortúnio.
· Cinza: tristeza, passado, seriedade, sabedoria, tédio, de-
cadência.
· Vermelho: força, violência, ira, emoção, paixão, cora-
gem.
· Laranja: energia, euforia, tentação, advertência, prazer, 
senso de humor.
· Amarelo: conforto, alerta, ciúme, orgulho, inveja, idealis-
mo.
· Verde: saúde, bem-estar, tranqüilidade, abundância, ado-
lescência, descanso.
· Verde-azulado: persistência, obstinação, amor próprio, 
arrogância.
· Azul: verdade, intelectualidade, fidelidade, confiança, 
afeto, viagem.
· Roxo: espiritualidade, misticismo, dignidade, mistério, 
fantasia, justiça.
· Marrom: melancolia, resistência, vigor, desconforto, sen-
sualidade.
· Violeta: agressão, engano, calma, dignidade, auto-con-
trole, miséria.
No jornalismo impresso não existe somente o cuidado com o texto, 
mas também com a parte gráfica. Diferentemente de um discurso oral, 
onde apenas a arte da palavra é necessária, em um escrito, além da 
estrutura coerente do texto, a distribuição dos elementos gráficos têm 
importância significativa. 
Uma página de revista tem que ser bonita, agradável e atraente, 
isto é, ela deve ser esteticamente harmoniosa. “A palavra estética vem 
do grego aisthesis e significa ‘faculdade de sentir’, ‘compreensão pelos 
sentidos’, ‘percepção totalizante’ “(ARANHA; MARTINS, 1992: 200). 
Desse modo, pode-se afirmar que coexiste no jornalismo impresso 
dois tipos de leitura: uma textual e outra gráfica. “O discurso gráfico 
(...) possui a qualidade de ser significável; para se compreender um 
jornal não é necessário ler” (PRADO apud SILVA, 1985: 39). Elementos 
bem distribuídos no papel como, título, subtítulo, olho, legenda e 
foto são capazes de transmitir ao leitor um resumo de todo o texto. O 
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receptor entende do que se trata o assunto tendo uma visão geral da 
página (leitura visual), caso ele se interesse pelo conteúdo abordado, 
ele continua a leitura, agora textual. A diagramação é, pois, utilizada 
para combinar o “material gráfico com o material jornalístico” (SILVA, 
1985: 45), objetivando persuadir o leitor. 
O texto escrito, uma vez que é impresso no papel, ainda é caracteri-
zado por possuir as chamadas zonas de visualização. Essas zonas foram 
definidas por Edmund C. Arnold em seu livro “Tipografía y Diagramado 
para Periódicos”, de 1965. “Assim como a visão instintivamente se 
desloca com rapidez em diagonal para o lado inferior oposto, a rota 
básica da vista se projeta do lado superior esquerdo para o lado inferior 
direito” (SILVA, 1985: 47-48).
 “A rigor, qualquer coisa possui identidade visual, ou seja, com-
ponentes que a identificam visualmente. A identidade visual é o que 
singulariza visualmente um dado objeto; é o que o diferencia dos de-
mais por seus elementos visuais” (PEÓN, 2001: 11). São os elementos 
gráficos que fazem com que uma pessoa distinga uma revista de um 
jornal, ou ainda, uma revista de outra revista. O tipo do papel, o for-
mato, a fonte, as cores, as tarjas e os fios; tudo isso auxilia a criar no 
leitor uma identificação com o meio impresso. Logo, qualquer tipo de 
alteração deve ser feito de modo cuidadoso.
A identidade visual de qualquer empresa é marcada notadamente 
pelos chamados elementos primários: logotipo, símbolo e marca. O 
símbolo é “um sinal gráfico que substitui o registro do nome da institui-
ção” (PEÓN, 2000: 28). O logotipo é “a forma particular e diferenciada 
com a qual o nome da instituição é registrado nas aplicações” (op. cit., 
2000: 28). Já a marca pode ser definida como “o conjunto formado 
pelo símbolo e pelo logotipo, normatizado quanto à posição de um 
relacionado ao outro e a proporção entre eles...” (op. cit., 2000: 28).
No jornalismo, a padronização gráfica reside na escolha inicial do 
diagrama (lauda que define as margens, as colunas, o local de fotos) que 
irá ser reproduzido em série. Isto é, ela representa a estrutura visual a 
ser seguida em todas as edições de um veículo impresso. A diagramação 
é determinada pela linha gráfico - editorial da empresa. 
Alterações bruscas no padrão visual do impresso tendem a causar 
uma refutação por parte do público-leitor, pois este sehabitua a en-
contrar sempre nas mesmas páginas as mesmas editorias, por exemplo. 
A cada nova edição, o veículo mantém sua identidade visual, o que é 
positivo para o leitor que se torna cada vez mais capaz de reconhecer 
o produto e diferenciá-lo de seus concorrentes, como também é bom 
para a empresa que conquista aos poucos a fidelidade de seu público-
alvo. Afinal, a credibilidade de uma revista resulta em lealdade por 
parte dos leitores.
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O perfil da revista Veja2
A primeira edição de Veja data de 11 de setembro de 1968, com 
tiragem de 695.000 exemplares. É verdade que esse número teve uma 
queda para 50.000 exemplares, somente depois de uma década inteira 
Veja se reestruturou; hoje a revista chega a marca média de 1.250.000 
exemplares. O modelo de Veja é inspirado na revista norte-americana 
Time, produto criado por Henry Luce em 1922. 
No primeiro editorial da revista, seu editor anuncia a chegada de 
uma revista inédita no país. No texto, o autor coloca para que finalidade 
a revista nasceu. Os trechos da carta que segue abaixo foram extraídos 
da página eletrônica da revista, www.vejaonline.abril.com.br 
Prezado leitor:
Onde quer que você esteja, na vastidão do território na-
cional, estará lendo estas linhas praticamente ao mesmo 
tempo que todos os demais leitores do País. Pois VEJA 
quer ser a grande revista semanal de informação de todos 
os brasileiros.
(...) No decorrer dos últimos três meses, preparamos treze 
edições experimentais completas — com capa, texto, fotos 
e anúncios —, a fim de treinarmos para a grande jornada 
que hoje se inicia.
(...) Devemos esta revista — em primeiro lugar — aos 
milhões de leitores que através dos anos têm prestigiado 
nossas publicações. Às classes governantes, produtoras, 
intelectuais que reclamaram da Abril êste lançamento. Aos 
jornalistas, que com dedicação e espírito profissional o 
tornaram possível. Aos quase mil gráficos que participam, 
entusiàsticamente, de seu complexo esquema de produção 
semanal. Aos distribuidores, jornaleiros e transportadores 
que aceitaram o desafio de vencer as enormes distâncias 
nacionais na corrida até as bancas, tôda segunda-feira. E 
às agências e aos anunciantes que tomaram todo o nos-
so espaço disponível sem sequer conhecerem o projeto 
final da revista, numa comovedora prova de confiança. 
Conscientes da responsabilidade assumida ao editar VEJA, 
dedicamos a revista a tôdas essas pessoas. Ao Brasil de 
hoje e de amanhã.
85janus, lorena, ano 2, nº 2, 1º semestre de 2005
Vencido o desafio de integrar o Brasil com informações a nível 
nacional e internacional, a revista publica hoje mais de 11 mil pági-
nas de anúncios por ano, o equivalente a 2,5% do volume total dos 
investimentos em publicidade no Brasil. Atualmente, Veja atinge cinco 
milhões de leitores. 
O produto semanal dispõe de editorias fixas variadas: Brasil (no-
tícias nacionais), Internacional (mundo), Economia e Negócios, Artes 
e Espetáculos (televisão, cinema, teatro, livros, etc.), Geral (ciência e 
tecnologia, educação, saúde, estilo, moda, comportamento etc.). A re-
vista ainda possui também seções como Radar (notas), Veja essa (frases 
impactantes da semana), Gente (notas), Cartas, Holofote e Contexto (no-
tas). Além disso, artigos de opinião integram as páginas de Veja: Ponto 
de Vista, Em foco, Diogo Mainardi e Ensaio. Nomes como o jornalista 
Roberto Pompeu de Toledo, os economistas Gustavo Franco e Cláudio 
de Moura Castro, entre outros, integram a lista dos articulistas.
VEJA em números: 900.547 de assinantes; 11.111 páginas de 
anúncios; 2,5% do volume total da receita de publicidade no Brasil; 
1.093.813 exemplares semanais (IVC - Maio/2003) . (Dados extraídos 
de www.vejaonline.abril.com.br).
Contato com a Editora Abril (GARCIA: 2004) forneceu o seguinte 
perfil do leitor de Veja: total estimado de leitores: cerca de 5 milhões 
(em média, 4 leitores por exemplar); carteira de assinantes: 940 mil; 52% 
dos leitores são mulheres; 68% (3.415.000) dos leitores pertencem à 
classe A e B; 47% dos leitores têm entre 20 e 39 anos; 55% dos leitores 
têm nível superior; 80% dos leitores têm casa própria; 80% dos leitores 
têm automóvel no lar; 51%dos leitores têm TV a cabo; 28% dos leitores 
costumam correr ou andar; (Obs: números de outubro/2002 – Fontes: 
Estudos Marplan)
As características gráficas de Veja
em três décadas3
 “A primeira página de um jornal representa a embalagem de 
todo o produto. É importante que esta página reúna características e 
atrativos individuais para que o leitor possa identificar o jornal através 
dela”(SILVA, 1985: 46). Não é digno de crédito um veículo impresso 
que modifica sua estrutura gráfica bruscamente, fazendo com que o 
seu público perca a identificação. A capa de Veja no intervalo analisado 
86 janus, lorena, ano 2, nº 2, 1º semestre de 2005
exibe, quase que continuamente, uma manchete (destaque da revista) 
e uma pequena chamada sobre outro assunto. Apesar do estudo se 
referir às revistas citadas (18 de janeiro de 1984, 12 de janeiro de 1994 
e 7 de janeiro de 2004), pôde-se observar através de outros exemplares 
que as características de capa da revista tem pequenas alterações regu-
lares. Todavia, Veja mantém como identidade visual as características 
explicitadas nesta pesquisa.
O nome da revista é fixo: faz-se presente na zona morta superior 
(quadrante superior direito). Uma característica quase permanente 
da capa é a chamada para a matéria secundária no canto superior 
esquerdo da página, a qual aparece sempre com uma tarja. Esse fato 
proporciona um certo equilíbrio, porque se a manchete toma quase 
toda a capa, a reportagem de segunda maior importância é exposta 
na zona principal.
Em 84, o título (manchete) e subtítulo vinham, freqüentemente, 
na região central inferior. Porém, nos anos seguintes a manchete passa 
a compor também a página, não possuindo, assim, local fixo. Já em 
relação ao subtítulo, é perceptível que ele foi crescendo gradativamente. 
Hoje a revista tem bem mais texto na capa do que em 84. No exemplar 
de 2004 analisado há cinco linhas de subtítulo, enquanto em 84 havia 
somente uma linha. Ainda sobre o título, a capa de 84 possui objetivi-
dade: “O terror nuclear” o que destaca, então, uma ligação direta entre 
título e foto. Ainda que pareça fora da realidade atual; o título e a foto 
diziam respeito a um filme norte-americano que acabara de chegar no 
Brasil. Em 94, Veja começa a explorar a interpretação dos conteúdos: 
“E agora Fernando?” Há um destaque interpretativo com a inserção 
de montagens. Em 2004, a capa passa a ser mais ilustrativa: “Beleza 
para todos”. Nesse período, a capa possui imagens que acompanham 
o título e que não necessariamente são indispensáveis.
A década de 90 é marcada pela utilização de caricaturas e ilustra-
ções desenhadas a mão. É nesse período que Veja começa a utilizar 
a arte juntamente com a foto. Contudo, já em 2004 o que antes era 
criação passa a ser manipulação. A computação gráfica tomou o 
espaço de desenhistas, agora a arte inserida na revista tem origem 
informatizada. 
As cores da primeira página também se alteraram. Nos anos de 84 
e 94, pôde-se observar a predominância de cores quentes e escuras. 
No ano de 2004, Veja começa a inovar com a aplicação de cores frias 
e mais claras e com o uso de dégradé. 
Ora, “a cor é uma das características da moda, estando, portanto, 
intrinsecamente ligada ao estilo de vida, isto é, à maneira que cada 
sociedade tem de ser e de fazer determinadas coisas” (FARINA, 1982: 
167). Logo, essa transformação de cores na capa está evidenciada pela 
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própria mudança de século. A terceira revista estudada é resultado do 
início do século XXI, tempo marcado pela evolução da informática. 
Se no século anterior o mundo viu o despontar da informatização, 
agora nesse terceiro milênio observa-se a união de técnicas cada vez 
mais sofisticadas com o bom senso dodiagramador ou designer. “O tem-
po exige ainda mais que cada um seja um homem afinado às questões 
de sua época, que se mantenha sempre renovando, progredindo (...), 
gerando produtos que sejam expressão do seu tempo” (GRUSZYNSKI, 
2000: 63 – 64). 
As revistas de hoje possuem na capa um apelo publicitário maior. 
A primeira página é, essencialmente, impactante e atraente, a fim de 
vender o produto impresso. Afinal, dentro de um mercado competitivo 
como é o universo da comunicação, Veja tem que se destacar, se dife-
renciar de seus concorrentes. Até mesmo porque na atualidade existem 
revistas de informação semanais que competem diretamente com Veja 
como, Isto é, de 1976, Época, de 1998, e Carta Capital, de 1994. 
Analisando-se a página de Entrevista, percebe-se que a seção está, 
progressivamente, deixando de fazer parte das primeiras folhas da 
revista. Propagandas publicitárias estão se antepondo, cada vez mais, 
às opiniões do entrevistado da semana. No ano de 84, este trecho do 
impresso começava logo nas primeiras páginas, geralmente, na de nú-
mero cinco. As entrevistas de 94 passaram a ter início nas páginas sete. 
Já no ano de 2004, as chamadas páginas amarelas ficam ainda mais para 
trás, agora elas chegam a se apresentar até mesmo na página 13. 
O número de páginas da Entrevista, no intervalo de 1984 a 2004, 
se manteve: três. Contudo, em 94 aparece uma novidade – publicidade 
no meio da seção (característica verificada em exemplares dessa década, 
porém na revista de 18 de janeiro de 1984 esse detalhe não aparece). 
Nesse período, apenas uma tímida página emergia entre as frases do 
entrevistado. Já em 2004, a publicidade dentro das páginas amarelas 
cresce. Hoje, observa-se duas folhas de propaganda, com o detalhe de 
que um único anunciante aproveita duas páginas de publicidade. Essa 
exclusividade, provavelmente, não deve ser barata.
Junto com a publicidade dentro da Entrevista surge uma vinheta 
representada por uma seta, indicando que as perguntas e as respostas 
continuariam depois da publicidade. Ora, se nos anos 80 o leitor está 
habituado a ler toda a seção sem qualquer interferência, faz-se necessá-
rio, então, que o leitor fique sabendo que a matéria se estende mesmo 
após um anúncio publicitário. A forma que Veja utilizou e ainda utiliza 
para fazer isso é uma vinheta, a seta.
Outro elemento alterado na revista é que no ano de 84 a Entrevista 
era subdividida em temas. Essa característica foi perdida em 94, período 
em que surge o “olho”. A segmentação da entrevista quebrava o livre 
88 janus, lorena, ano 2, nº 2, 1º semestre de 2005
fluir da leitura. Hoje, nota-se que a entrevista possui um enredo, há 
uma continuidade da conversa o que torna essa seção mais linear. De 
acordo com Modesto Farina, o preto sobre o amarelo tem uma boa 
margem de visibilidade. Em relação ao fundo, o ano de 2004 traz uma 
revista com tom de amarelo mais suave, propiciando uma suavização 
visual e, em conseqüência, uma leitura mais confortável. Lembrando 
que o recurso de “olho” também clareia a leitura.
A variação das margens (superior, inferior, externa e interna) ope-
rou uma diminuição da mancha gráfica. Essa transformação está em 
consonância com o encurtamento das três colunas que compõem a 
página, evidenciando que o texto diminuiu, uma vez que o corpo da 
fonte continua o mesmo. 
A introdução da entrevista, onde o repórter coloca dados signifi-
cativos do entrevistado também diminuiu gradativamente. Em 84, ela 
ocupava uma coluna e meia; em 94, pouco mais que uma coluna; em 
2004, passa a ocupar menos que uma coluna. Ou seja, as chamadas 
páginas amarelas estão cada vez mais dinâmicas, rápidas e diretas. 
Afinal, se a página é de entrevista por que gastar espaço com texto de 
repórter? O leitor quer saber as opiniões do entrevistado.
A foto da pessoa que responde às perguntas ping-pong de Veja 
cresceu. Destacando-se que em 84 a imagem era em preto e branco 
e centralizada e a legenda aparecia embaixo da foto. Nessa década, a 
fotografia ocupava pouco mais que uma coluna (em relação à largura). 
Nos anos 90, a foto passa a ser colorida, a legenda passa a vir dentro 
de um fundo branco e a imagem continua centralizada, porém, agora 
começa a ser bem maior que uma coluna (em relação à largura).
Em 2004, a foto passou a ser alinhada à direita na região superior, 
aproveitando a chamada zona morta de visualização. Já em relação 
ao tamanho, a foto continuou a crescer, agora passou a ocupar duas 
colunas (em relação à largura). Podendo-se afirmar que a imagem do 
entrevistado também aumentou verticalmente. Além disso, parte do 
corpo do entrevistado foge do enquadramento formal da fotografia 
evidenciando-se uma imagem em 3D, com volume e massa. 
Em 84, Veja aproveitava, nas páginas amarelas, apenas o centro 
ótico como recurso para estabelecer uma leitura dinâmica; nessa região 
se apresentava a foto do entrevistado. Em 94, Veja continua a manter 
a foto no centro ótico na primeira página e nas duas páginas seguin-
tes nota-se a presença de “olhos” (um em cada página). Além disso, 
observa-se o uso de capitular na região primária (quadrante superior 
esquerdo). 
Atualmente, as zonas de visualização são mais aproveitadas: na 
zona primária aparece o subtítulo em negrito, na zona morta (quadrante 
superior direito) tem-se foto, destacando-se nesse quadrante o rosto 
89janus, lorena, ano 2, nº 2, 1º semestre de 2005
da pessoa. Sob a perspectiva da teoria de Arnold, a revista está cada 
vez explorando melhor as zonas de visualização. Ou seja, a leitura das 
páginas amarelas evoluiu, tornando a leitura mais ágil e confortável. 
Como o próprio nome sugere a seção Ponto de Vista é um artigo 
de opinião que também teve modificações ao longo de três décadas. 
Nas duas primeiras décadas estudadas, constata-se que Ponto de Vista 
aparecia na última página. Em contrapartida, em 2004, passa a ser 
impresso nas vinte primeiras páginas. 
Possivelmente, essa mudança na localização do artigo deve-se ao 
crescimento do número de textos opinativos da revista. Em 84, havia 
somente dois artigos: Luiz Fernando Veríssimo e Ponto de Vista. No 
ano de 94, já se observa três: Jô Soares, Marcos Sá Côrrea e Ponto de 
Vista. Hoje existem quatro artigos de opinião: Ponto de Vista, Em foco, 
Diogo Mainardi e Ensaio. 
Apesar de Ponto de Vista não possuir “olho” nos anos 80, a legenda 
da foto funcionava como tal. Se na primeira década estudada havia 
fotografia seguida de “legenda-olho”, em 2004 aparece ilustração e 
olho. A provável intenção da evolução gráfica dessa seção diz respeito à 
busca pela agilidade e legibilidade. Progressivamente, a revista teve uma 
melhora significativa nesses dois quesitos. Contudo, o Ponto de Vista 
de 2004 mostra-se mais semelhante com o de 1984, o que sugere uma 
manutenção da identidade da revista. Uma característica do artigo de 
94 era sua fragmentação, recurso para maior velocidade de leitura.
É válido destacar que na atualidade uma publicidade de página 
dupla se antecipa ao artigo. Assim como na entrevista, o Ponto de Vista 
teve sua mancha gráfica diminuída. Isto é, o texto está mais conciso, 
porém com começo, meio e fim; seguindo a tendência do atual jorna-
lismo que impõe que a notícia deve ser breve e não segmentada. Além 
de maior leiturabilidade, o articulista dessa página conta com recursos 
gráficos para que o seu receptor disponha de um entendimento mais 
eficaz. Como exemplo tem-se a arte aplicada sempre em consonância 
com o conteúdo do artigo. 
 A diagramação segue agora a orientação que o jornalista 
Alberto Dines destaca: “A grafia ocidental da esquerda para a direita, 
no sentido horizontal, é um dos alicerces do percurso obrigatório dos 
olhos, influindo decisivamente em nosso comportamento” (DINES apud 
SILVA, 1985: 47). 
Qualquer pessoa ocidental ao se deter a ler algum escrito corre seu 
olhar da esquerda para a direita e de cima para baixo, o que seria, na 
verdade, em linha diagonal. Portanto, um bom planejamento gráfico 
deveaproveitar esse “percurso obrigatório dos olhos”, colocando nas 
chamada zonas de visualização elementos que chamem a atenção do 
leitor. Fato este observado no Ponto de Vista de 2004.
90 janus, lorena, ano 2, nº 2, 1º semestre de 2005
Ainda sobre o artigo de opinião, o impresso de 84 trazia no centro 
ótico a legenda da fotografia que era uma citação do autor. Em 94, a 
revista apresenta nessa zona de visualização o “olho”. As atuais revistas 
continuam a expor no centro ótico o “olho”, sendo que agora também 
aproveitam a zona primária com a foto do escritor e uso de capitular. 
É notória, então, a manutenção de um padrão visual: o centro ótico 
apresenta um pequeno texto que atrai a atenção do leitor. Concluindo-
se que no Ponto de Vista, a evolução gráfica de Veja não impediu 
que o seu público perdesse a identificação com o veículo jornalístico. 
Destacando-se ainda que o nome do articulista sempre aparece duas 
vezes na página.
“A composição, para que cumpra sua finalidade, tem que ser artís-
tica na sua forma e científica nas técnicas de realização e apresentação” 
(COLLARO, 2000: 112). A revista de 2004 utiliza o tom neutro do cinza 
e do salmão como molduras, sugerindo também uma neutralidade da 
editoria da revista em relação à opinião do articulista, ou seja, não neces-
sariamente as idéias expressas pelo articulista são as mesmas de Veja. 
Quanto ao quesito imagem, as fotos que integram a matéria prin-
cipal foram, gradativamente, diminuindo em quantidade e crescendo 
em tamanho. O que significa que as fotografias são escolhidas com 
mais critério. A foto deve, necessariamente, representar o que o texto 
quer repassar. Na atualidade, a harmonia que se exige entre imagem 
e texto limita o uso de inúmeras fotos, que por vezes pode ser até 
desnecessário. Afinal, uma ilustração, se bem colocada, dispensa o uso 
de inúmeras imagens que em alguns casos mais “poluem” a página 
do que informam.
Nos anos de 84 e 94, as imagens aparecem dentro de enquadra-
mento, somente em 2004 fotos em contorno aparecem. Contudo, já 
nos anos 80 as fotos se utilizam de recursos criativos onde a imagem 
ultrapassa o limite da página e é cortada além das margens. Esta ten-
dência de “sangrar” a foto por inteira só surge em 2004.
O uso da arte gráfica já começa em 94, que apesar de possuir 
foto enquadrada já fornece à página dinamismo e modernidade. Nesse 
mesmo ano, nota-se a presença de caricaturas. Interessante destacar 
que foi nos dias atuais que a manchete da capa passa a ter o chapéu 
fixo de “Especial”. Nos anos anteriores, essa denominação dependia 
do assunto abordado, podendo ser “Ensaio”, “Brasil”, “Economia & 
Negócios”. Hoje existe a editoria “Especial”, essa seção fixa ajuda o 
leitor a localizar a matéria da capa.
As revistas estudadas indicam que houve um aproveitamento 
progressivo das zonas de visualização. Valendo-se ressaltar que esta 
análise observou as duas primeiras páginas da matéria principal como 
uma página dupla, pois essa característica perdura de 84 até os dias 
91janus, lorena, ano 2, nº 2, 1º semestre de 2005
atuais.
Em 2004, percebe-se que os quadrantes da página são melhores 
explorados: o título da matéria e a foto passam a compor a página. 
Interessante colocar que as fotos foram ganhando dinamismo. De início, 
apareciam de forma monótona e estática, em seguida a imagem passa 
a compor a página juntamente com arte e, finalmente, a fotografia em 
contorno dá vida à página – os olhos passeiam por toda a folha.
Em 1984, as fotografias são panorâmicas, menos dinâmicas e 
aparecem dentro de enquadramento padrão, o que fornece formalida-
de à página. Nessa década, o efeito de “sangramento” já é utilizado, 
podendo ser superior, inferior ou externo. Em geral, as fotos desse 
período se apresentam enquadradas e com imagens distantes (sem 
close). Importante destacar que as fotos coloridas competem com 
fotos preto e branco. Nessa década, cerca de 39% da revista continha 
fotos preto e branco.
Na década de 90, as fotografias começam a se mostrar menos 
estáticas e mais próximas. Em geral, com um fino contorno preto. O 
“sangramento” continua, mas agora ele pode aparecer, inclusive, com 
a união dos três tipos (inferior, superior e externo). Ou seja, a foto pode 
ultrapassar simultaneamente as margens inferior, superior e externa 
da página. As fotos (todas coloridas) possuem mais dinamismo e suas 
legendas podem até aparecer dentro da própria imagem. 
Em 2004, as fotografias começam a se mostrar fora do enquadra-
mento padrão, fato este que dá mais modernidade à revista. As fotos 
flagrantes são características desse momento, enquanto as imagens 
posadas perdem cada vez mais espaço. Além disso, a própria legenda, 
em alguns casos, passa a compor também a página, perdendo o lugar 
fixo de se apresentar sempre abaixo da imagem. A novidade da foto 
em contorno fornece ainda a possibilidade de se manipular a imagem, 
como no exemplo da matéria principal de 2004, onde a moça que ilustra 
a matéria apóia sua mão na letra “e” da palavra beleza que compõe o 
título da reportagem “É de lei: o direito à beleza”.
As fotos de hoje “além de embelezarem plasticamente, (...) car-
regam toda a carga emocional e informativa de uma ação ou de um 
fato qualquer, dispensando outro tipo de informação complementar, 
seja ele através de um texto, título ou legenda” (SILVA, 1985: 120). As 
fotografias atuais têm mais dramaticidade, emoção; elas estão mais 
ricas. Em suma, as composições fotográficas de 2004 diferem das 
anteriores por possuírem profundidade, volume, perspectiva e, além 
disso, um valor artístico.
É notório que a Veja de 84 não possuía um padrão visual marcante 
para identificar suas editorias. As seções de Entrevista, Ponto de Vista 
e a matéria de destaque tinham tipos de fontes diferentes. E mais, o 
92 janus, lorena, ano 2, nº 2, 1º semestre de 2005
chapéu das páginas amarelas e da matéria da capa possuíam um fio 
central inferior na cor preta. Já o artigo de opinião não trazia fio nenhum 
abaixo do nome Ponto de Vista. No ano de 94, porém, observa-se que a 
revista começa a utilizar um recurso uniforme, a fim de identificar cada 
seção. Nessa década, Veja passou a delimitar o espaço da editoria por 
dois fios pretos (superior e inferior), com o detalhe de um fio vermelho 
superior mais grosso. Podendo-se constatar que a revista já passa a ser 
mais cuidadosa em sua organização gráfica.
Em 2004, as editorias passam a ser destacadas por tarjas na cor 
vermelha, realçando-se o fato de que esse tom de vermelho é utilizado 
apenas para identificar as editorias. Por mais que a revista contenha 
tons vermelhos, nenhum irá ser igual àquele que destaca cada editoria 
do impresso. A tarja ainda aparece em efeito negativo, isto é, a letra 
se apresenta na cor branca, acentuando o destaque para a editoria. 
Essa técnica colabora para despertar a atenção do leitor, destacando 
e realçando uma mensagem em relação a outra na mesma página 
impressa. O efeito negativo é bastante utilizado na publicidade, e é 
exatamente essa a intenção de seu uso na revista: anunciar de forma 
sobressalente cada editoria. 
Em síntese, houve uma suavização das cores em geral. Em 84 e 
94, predominavam cores mais quentes, mais fortes, com pouco ou 
nenhum dégradé. Em 2004, as cores são mais alegres, suaves, claras 
e com nuanças. Essa transformação é reflexo do próprio conteúdo da 
revista. Associa-se às cores escuras e quentes temas polêmicos, densos. 
Enquanto é feita a associação das cores claras e frias a assuntos mais 
suaves. 
O tamanho da publicação diminuiu. A revista de janeiro de 84 
media aproximadamente 27,4 cm x 21 cm, perfazendo uma área de 
575,4 cm2. Em 1994, esses números foram para 27,3 cm x 20,7 cm, 
com uma área de 565,11 cm2. Hoje, o impresso mede 26,6 cm x 20,1 
cm, com área de 534,66 cm2. Tendo uma diminuição de cerca de 7% 
de área. Contudo, deve-se salientar que o número de páginas também 
mudou. De acordo com os exemplares estudados, verifica-se que no 
primeiro anoeram 108 páginas. No segundo ano, 88. Em 2004, a revista 
analisada tem 116 páginas.
Em relação à publicidade, pode-se afirmar que esta se manteve 
em um número equilibrado. No ano de 2004, cerca de 38% da revista 
contém propaganda. Em 94, esse número era de 40%. No ano de 84, 
39% de Veja continha algum anúncio publicitário. 
A grande diferença na revista é o aumento de páginas duplas de 
propaganda. A Veja de 84 tinha oito páginas duplas de publicidade. A 
revista de 94, passa a ter nove páginas duplas de propaganda. Hoje, 
esse número subiu para 15. Essa mudança está em consonância com 
93janus, lorena, ano 2, nº 2, 1º semestre de 2005
o aumento de tiragem do impresso. A Veja de 18 de janeiro de 84 teve 
uma tiragem de 527.000 exemplares. A revista de 12 de janeiro de 94 
teve 837.526 exemplares publicados. Enquanto Veja de 7 de janeiro de 
2004 teve 1.229.164 exemplares.
Ora, para manter semanalmente uma revista com tiragens cada vez 
maiores, somente com o auxílio de publicidades. Nesse caso, a revista 
optou por aumentar significativamente o número de propagandas 
duplas, afinal, uma publicidade dessa natureza em um veículo de am-
plitude nacional não é barata. Somente anunciantes de peso têm capital 
para utilizar duas páginas de Veja, a fim de anunciar seu produto. 
Conclusão
Observando-se as revistas Veja selecionadas, pôde-se constatar 
que o impresso de 1984 se assemelha ao de 1994, porém é bastante 
distinto do de 2004. Em contrapartida, a Veja de 1994 é parecida com 
a revista de 2004. Isto é, a evolução gráfica deu-se de forma gradativa. 
O produto editorial teve um significativo progresso no que diz respeito 
aos seus recursos gráficos, todavia não houve mudanças bruscas e sim 
alterações regulares.
Um leitor comum ao comparar revistas de duas décadas consecu-
tivas, dentro do intervalo estudado nessa pesquisa, conclui que exis-
tem pequenos elementos que fornecem um aspecto visual diferente à 
revista, como por exemplo: tamanho da margem, fotos, uso de tarjas 
e fios, etc.
A diagramação está mais atenta para questões de visualização, no 
sentido de facilitar a leitura. As zonas de Arnold estão progressivamente 
94 janus, lorena, ano 2, nº 2, 1º semestre de 2005
sendo mais aproveitadas em cada página da revista estudada. A própria 
capa evoluiu. Ela está mais comercial, pois suas ilustrações são sempre 
imagens impactantes.
Nos anos 90, quando o computador se tornou aparelho de uso 
doméstico, a revista buscou na evolução da informática técnicas mo-
dernas com o intuito de apresentar um material em conformidade com 
a época. Em 2004, Veja utilizou mais abundantemente fotos coloridas 
e implantou definitivamente uma novidade – o infográfico. 
Nesse início do século XXI, a revista demonstra maturidade gráfica 
quando coloca em suas páginas recursos modernos da computação 
gráfica aliados ao bom senso. “A informática ao ser introduzida como 
ferramenta de design, causou um momento inicial de certa padroni-
zação nos layouts, assentada na utilização desmedida dos recursos de 
vários softwares” (GRUSZYNSKI, 2000: 63). Sumida a primeira euforia 
gerada pela novidade da informatização, as publicações impressas 
partiram para o uso da técnica com o auxílio da estética; Veja acom-
panhou essa tendência.
É válido destacar que são recentes os materiais que abordam ques-
tões sobre diagramação. Os próprios livros que baseiam esse estudo 
são atuais. Rafael Souza Silva publicou seu livro em 1985 e Collaro, em 
2000; os dois são hoje autores que guiam pesquisas e planejamentos 
gráficos.
Por fim, chega-se a conclusão de que Veja evoluiu graficamente 
sem perder sua identidade visual. A revista tem se mostrado produto de 
seu tempo, transformando-se sempre que a sociedade se altera. Veja, 
progressivamente, tem apresentado mais atratividade para a leitura, 
motivo talvez pelo qual ela continue sendo aceita e vendida em todo 
o território nacional.
Referências
ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Temas de Filosofia. São Paulo: 
Moderna, 1992. 
COLLARO, A. C. Projeto Gráfico: teoria e prática da diagramação. 4. 
ed. São Paulo: Summus, 2000.
FARINA, M. Psicodinâmica das Cores em Comunicação. 2. ed. São Paulo: 
Edgar Blücher, 1986.
95janus, lorena, ano 2, nº 2, 1º semestre de 2005
GARCIA, G. Como surgiu Veja [mensagem pessoal]. Mensagem recebida 
por <kelma.juca@bol.com.br > em 05 de nov. 2004.
GRUSZYNSKI, A. C. Design Gráfico: do invisível ao legível. Rio de Janeiro: 
2AB, 2000. 
MAIA, T. L. Metodologia Básica. Fortaleza: Universidade de Fortaleza, 
1994.
NIEMEYER, L. Tipografia: uma apresentação. 2. ed. Rio de janeiro: 2AB, 
2001.
PEÓN, M. L. Sistemas de Identidade Visual. 2. ed. Rio de janeiro: 2AB, 
2001.
RAMPAZZO, L. Metodologia Científica: para alunos dos cursos de gra-
duação e pós-graduação. São Paulo: Loyola, 2002.
SILVA, R. S. Diagramação: o planejamento visual gráfico na comunicação 
impressa. 5. ed. São Paulo: Summus, 1985.
SOBRE Veja. Disponível em: <http://www.vejaonlie.abril.com.br>. 
Acesso em: 03 nov. 2004.
VEJA. São Paulo: Abril Cultural, n. 802, 18 jan. 1984.
_______. São Paulo: Abril Cultural, n. 1322, 12 jan. 1994.
_______. São Paulo: Abril Cultural, n. 1835, 7 jan. 2004. 
Abstract
The research intends to show as the Veja magazine, 
by means of its graphical evolution, if has kept firm 
in a journalistic market in expansion and ahead of the 
competitiveness of the half electronic. It detaches in the 
function of the typographer or to graphical designer in 
the production of the message the mediation between 
journalistic text and graphical language. The analysis 
intends to present the graphical elements that if they 
modify in Veja magazine in the years of 1984, 1994 
and 2004.
96 janus, lorena, ano 2, nº 2, 1º semestre de 2005
Kelma Jucá é aluna do 3° ano de jornalismo da Universidade 
de Taubaté
Professora orientadora Viviane Fushimi Velloso, mestre 
em Ciências da Comunicação e especialista em Gestão de 
Processos Comunicacionais pela Escola de Comunicações 
e Artes da Universidade de São Paulo.

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