Prévia do material em texto
Indaial – 2021 SiStemaS elétricoS de Potência i Prof.ª Julia Grasiela Busarello Wolff 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof.ª Julia Grasiela Busarello Wolff Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: W855s Wolff, Julia Grasiela Busarello Sistemas elétricos de potência I. / Julia Grasiela Busarello Wolff – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 217 p.; il. ISBN 978-65-5663-659-7 ISBN Digital 978-65-5663-655-9 1. Máquinas e equipamentos. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 621 aPreSentação Caro acadêmico! Bem-vindo à disciplina de Sistemas elétricos de potência I! Aqui, iremos estudar os aspectos relacionados às máquinas e equipamentos que compõem o sistema elétrico de potência nacional, os cálculos e as transformações para o sistema por unidade (também conhecido como sistema p.u.), os cálculos de curto-circuito simétrico e assimétrico e as regulamentações de concessionárias. As linhas de transmissão, as subestações, as centrais geradoras que produzem, transmitem e alimentam as cargas consumidoras garantem que as residências e as indústrias tenham energia elétrica full time. Por este motivo, o sistema elétrico de potência é considerado um grande sistema complexo, que deve ser organizado e coordenado constantemente a fim de garantir que a energia elétrica seja transmitida aos consumidores com qualidade, estabilidade e confiabilidade. As disciplinas Sistemas Elétricos de Potência I e Sistemas Elétricos de Potência II abrem possibilidades para o aluno conhecer áreas fascinantes da Engenharia. Ademais, este Livro Didático se destina a mostrar, de forma clara, objetiva e resumida o conteúdo, e de maneira nenhuma ele substitui os livros textos clássicos, os quais serão recomendados para leitura ao longo desta disciplina. Este livro também servirá como uma revisão para os alunos que já fizeram curso em máquinas elétricas ou como um livro básico para estudos iniciais na área de sistemas de potência. Em cada unidade será apresentado seu plano de estudos, acompanhado dos objetivos de aprendizagem. Em cada tópico são apresentados exemplos resolvidos para auxiliá-los posteriormente na resolução das autoatividades. Este Livro Didático tem como objetivo tratar, na Unidade 1, da evolução do Sistema Elétrico Brasileiro compreendendo o modelo organizacional nacional, detalhar o funcionamento do mercado de energia elétrica e os ambientes de comercialização com suas respectivas regras, o funcionamento das contratações no ambiente livre em comparação com o ambiente de contratação regulada. Ainda objetiva levantar quais são as classificações dos consumidores para migração, e a visão estratégica dos consumidores e do governo. Na Unidade 2 vamos apresentar informações gerais relativas à estrutura e à forma de funcionamento de um sistema elétrico de potência, bem como, sua representação no sistema por unidades. Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA E finalizando, na Unidade 3, vamos abordar os tipos de curtos- circuitos que ocorrem nos sistemas de potência, bem como, a forma de calculá-los em p.u. Acadêmico, espero auxiliá-lo nesta caminhada e dar uma maior visão da dimensão dos problemas em sistemas de potência. Sugerimos a leitura e o estudo do livro e a realização dos exercícios disponibilizados nas autoatividades, bem como as consultas de materiais de apoio e vídeos sugeridas a cada etapa. O assunto é abrangente e remete a um conteúdo repleto de detalhamentos e diferenciações que devem ser interiorizadas pelo aluno. Cada passo requer consultas às obras consideradas básicas e nenhuma delas esgota os temas abordados. Por esta razão, sugerimos consultar as Referências, os vídeos no YouTube e as Leituras Complementares, que levarão a um maior domínio do assunto. Desejamos-lhe muito sucesso na construção deste conhecimento! Prof.ª Julia Grasiela Busarello Wolff Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE Sumário UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO.......... 1 TÓPICO 1 — SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO ........................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 O SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA ....................................................................................... 4 2.1 PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS DE UM SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA ................. 9 2.2 A EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS DE POTÊNCIA NO BRASIL E NO MUNDO ................. 10 2.3 MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA E MUNDIAL ............................................................. 14 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 18 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 20 TÓPICO 2 — MERCADO DE ENERGIA ......................................................................................... 25 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 25 2 AMBIENTE DE CONTRATAÇÃO REGULADA (ACR) ........................................................... 26 2.1 MODELOS DE CONTRATAÇÃO DE ENERGIA (ACR) ........................................................ 26 2.2 LEILÕES DE ENERGIA (ACR) ................................................................................................... 27 2.3 AMBIENTE DE CONTRATAÇÃO LIVRE (ACL) .................................................................... 30 2.4 REQUISITOS DE MIGRAÇÃO .................................................................................................. 30 2.5 ESTRUTURA E PAPEL DO COMERCIALIZADOR.............................................................. 30 2.6 CONTRATO DE ENERGIA NO ACL ....................................................................................... 31 2.7 TIPOS DE CONTRATOS ............................................................................................................. 31 2.8 AGENTE VAREJISTA ................................................................................................................... 34 2.9 ESTRATÉGIAS PARA MERCADO LIVRE DE ENERGIA ...................................................... 34 2.10 VISÃO ESTRATÉGICA DO GOVERNO ................................................................................. 36 2.11 FORMAÇÃO DE PREÇOS ....................................................................................................... 37 2.12 FATORES QUE AFETAM ESTES PREÇOS E SUAS DINÂMICAS ..................................... 40 2.13 ENCARGOS DE TRANSMISSÃO ............................................................................................ 42 2.14 MIX DE COMPRA DE ENERGIA ............................................................................................ 43 2.15 RISCOS EM ENERGIA ............................................................................................................... 43 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 46 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 48 TÓPICO 3 — ÓRGÃOS REGULAMENTADORES E CONCESSIONÁRIAS POR REGIÃO BRASILEIRA ..................................................................................... 51 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 51 2 O SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL (ONS) ..................................................................... 52 2.1 ELETROBRAS................................................................................................................................ 52 2.2 CÂMARA DE COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA – CCEE ......................... 55 2.3 COMITÊ DE MONITORAMENTO DO SETOR ELÉTRICO (CMSE) ................................... 57 3 CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA ENERGÉTICA – CNPE ......................................... 58 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 59 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 65 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 66 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 69 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) .................................................................................. 77 TÓPICO 1 — REPRESENTAÇÃO DOS SISTEMAS DE POTÊNCIA ........................................ 79 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 79 2 DIAGRAMAS UNIFILARES E SIMBOLOGIA DE SEP’s ......................................................... 80 2.1 GRANDEZAS EM PU .................................................................................................................. 83 2.1.1 Valor percentual e valor por unidade ............................................................................... 83 2.1.2 Definições .............................................................................................................................. 83 2.1.3 Escolha de Bases................................................................................................................... 84 2.1.4 Escolha de bases para circuitos monofásicos ................................................................... 85 2.1.5 Escolha de bases para circuitos trifásicos ......................................................................... 85 2.1.6 Representação das grandezas de base e mudanças de bases ........................................ 87 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 91 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 92 TÓPICO 2 — REPRESENTAÇÃO EM PU DE TRANSFORMADORES ................................... 95 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 95 2 REPRESENTAÇÃO DE TRANSFORMADORES POR FASE EM PU ..................................... 95 3 TRANSFORMADORES DE TRÊS ENROLAMENTOS POR FASE EM PU ........................ 100 4 REPRESENTAÇÃO DO BANCO DE TRANSFORMADORES POR FASE EM PU ............. 101 5 REPRESENTAÇÃO DAS LINHAS AÉREAS DE TRANSMISSÃO POR FASE EM PU ...................................................................................................................................... 102 5.1 MODELO PARA LINHA DE TRANSMISSÃO CURTA ....................................................... 104 5.2 MODELO PARA LINHA DE TRANSMISSÃO MÉDIA ....................................................... 104 5.3 MODELO PARA LINHA DE TRANSMISSÃO LONGA ...................................................... 105 6 REPRESENTAÇÃO DE GERADORES POR FASE EM PU ..................................................... 106 7 REPRESENTAÇÃO DE CARGAS EM PU .................................................................................. 107 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 118 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 119 TÓPICO 3 — CÁLCULO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO .................................................... 123 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 123 2 PROGAGAÇÃO EM LINHAS DE TRANSMISSÃO .............................................................. 125 2.1 TIPOS DE LINHA DE TRANSMISSÃO .................................................................................. 126 2.1.1 Linha Paralela ..................................................................................................................... 126 2.1.2 Par Trançado ....................................................................................................................... 127 2.1.3 Par Blindado ....................................................................................................................... 127 2.1.4 Cabo Coaxial ....................................................................................................................... 127 3 ESTRUTURA DA LINHAS AÉREAS DE TRANSMISSÃO ................................................... 128 3.1 TORRES ........................................................................................................................................ 128 3.2 TERRENOS .................................................................................................................................. 130 3.3 FUNDAÇÕES .............................................................................................................................. 130 3.4 MONTAGEM DE ESTRUTURAS METÁLICAS .................................................................... 132 3.5 ISOLADORES ..............................................................................................................................133 3.6 CABOS .......................................................................................................................................... 133 3.7 CONDUTORES ........................................................................................................................... 135 3.8 PARA-RAIOS ............................................................................................................................... 136 3.9 FERRAGENS E ACESSÓRIOS .................................................................................................. 137 4 EFEITO CORONA ........................................................................................................................... 138 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 140 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 144 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 146 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 148 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA ....... 149 TÓPICO 1 — CURTO-CIRCUITOS SIMÉTRICOS ..................................................................... 151 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 151 2 CURTO-CIRCUITO TRIFÁSICO OU SIMÉTRICO ................................................................. 152 3 TIPOS DE CURTOS-CIRCUITOS ............................................................................................... 153 4 CURTO-CIRCUITO VIA COMPONENTES SIMÉTRICAS ................................................... 155 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 162 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 163 TÓPICO 2 — CURTO-CIRCUITOS ASSIMÉTRICOS ............................................................... 165 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 165 2 COMPONENTES SIMÉTRICAS .................................................................................................. 166 2.1 TEOREMA DE FORTESCUE .................................................................................................... 166 2.2 EXPRESSÃO ANALÍTICA DO TEOREMA DE FORTESCUE ............................................. 168 2.3 ANÁLISE DE SEQUÊNCIA ZERO .......................................................................................... 170 2.3.1 Sistema Trifásico Estrela Aterrado .................................................................................. 170 2.3.2 Sistema Trifásico Estrela ................................................................................................... 171 2.3.3 Sistema Trifásico Delta (Triângulo)................................................................................. 171 2.3.4 Sistema Trifásico Estrela ................................................................................................... 172 2.3.5 Sistema Trifásico Delta (triângulo) .................................................................................. 172 3 REPRESENTAÇÃO DOS COMPONENTES DO SISTEMA ELÉTRICO NAS SEQUÊNCIAS POSITIVA, NEGATIVA E ZERO ..................................................................... 173 3.1 GERADOR SÍNCRONO ............................................................................................................ 173 3.2 LINHA DE TRANSMISSÃO ..................................................................................................... 176 3.3 TRANSFORMADORES ............................................................................................................. 177 3.4 DESLOCAMENTO DE 30° EM UM TRANSFORMADOR Y-∆ ........................................... 181 4 CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO NO GERADOR SÍNCRONO ....................................... 181 4.1 CURTO-CIRCUITO TRIFÁSICO .............................................................................................. 181 5 CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO BIFÁSICO ........................................................................ 183 6 CURTO-CIRCUITO BIFÁSICO-TERRA .................................................................................... 185 7 CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO MONOFÁSICO .............................................................. 187 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 190 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 192 TÓPICO 3 — PROGRAMAS COMPUTACIONAIS E SIMULAÇÃO EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA ................................................................................... 195 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 195 2 ANAFAS ............................................................................................................................................. 196 3 ANAREDE ......................................................................................................................................... 196 3.1 ALINHAMENTO DO CIRCUITO ............................................................................................ 202 3.2 LAKU ............................................................................................................................................ 205 3.3 CCTRI ........................................................................................................................................... 206 3.4 POWERWORLD ......................................................................................................................... 206 3.5 SMARTGRIDS ............................................................................................................................. 206 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 208 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 214 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 215 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 217 1 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • explicar com as próprias palavras o que é um sistema elétrico de potência; • determinar a estrutura dos sistemas elétricos de potência; • reconhecer o histórico dos sistemas elétricos de potência; • analisar os componentes do sistema elétrico de potência; • identificar a constituição e operação do sistema elétrico de potência e a regulamentação do setor elétrico brasileiro. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO TÓPICO 2 – MERCADO DE ENERGIA TÓPICO 3 – ÓRGÃOS REGULAMENTADORES E CONCESSIONÁRIAS POR REGIÃO BRASILEIRA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procureum ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO 1 INTRODUÇÃO Os sistemas elétricos de potência compõem um dos pilares do desenvolvimento dos países industrializados, independentemente de serem de primeiro mundo ou não. O Brasil, devido ao seu extenso território, é um grande produtor e consumidor de energia elétrica. A produção de energia no território brasileiro também é muito diversificada. A produção nacional é considerada uma das mais limpas do mundo, sendo que 45,3% da matriz energética vem de energias renováveis, nas quais o índice mundial apresenta uma média de 13% (BRASIL, 2021). O modelo atual nem sempre foi assim e, em grande parte da história, o modelo era vertical, ou seja, o estado tinha monopólio de toda a tarifa de consumo e todos os consumidores eram considerados cativos. Mesmo com todas as regulamentações o Sistema Elétrico Brasileiro ainda tem como base o decreto do Código de Águas de 1934. Somente na década de 1990 iniciou-se o processo de reestruturação para as formas atuais (BANDEIRA, 2003). No final da década de 1990, com a coordenação do Ministério de Minas e Energia (MME), deu-se início a Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro (RE-SEB) definindo o formato atual no qual as empresas foram divididas como geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia. O governo ficou responsável pela transmissão e distribuição e, incentivou a competição no segmento de geração e, a comercialização de energia. Ainda na década de 1990, seguindo o projeto RE-SEB, foram criados três órgãos de regulação e operação, sendo eles a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e o Mercado Atacadista de Energia (MAE). Em 15 de março de 2004, com a alteração das leis n° 5.655, 8.631, 9.074, 9.427, 9.478, 9.648, 9.991, 10.438, foram criados dois ambientes para celebração de contratos de compra e venda de energia elétrica (BRASIL, 2004a). O primeiro denominado como Ambiente de Contratação Regulada (ACR), com participação dos agentes de geração e distribuição de energia elétrica que contemplam a compra de energia para a distribuição aos clientes cativos. E o segundo, denominado de Ambiente de Contratação Livre (ACL), com participação dos agentes concessionários e autorizados de geração, comercializadores e importadores de energia elétrica e os consumidores que atendem as condições de consumidor livre. UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO 4 Após as regras definidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica, possibilitou ao consumidor maior autonomia na negociação do seu contrato, melhorando economicamente o valor final pago pela demanda e, também, garantir a qualidade e a segurança do serviço contratado. O tema abordado neste tópico foi incentivado devido à grande demanda de consumo potencial de migração para o mercado livre de energia e a grande dificuldade da disponibilidade de material sobre esse tema. Também abordaremos um histórico de linha do tempo facilitando o entendimento de como chegamos a atual matriz energética. 2 O SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA O sistema elétrico de potência (SEP) é definido como: “o conjunto de todas as instalações e equipamentos destinados à geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Iniciando com uma linha de transmissão ligando uma usina a uma carga industrial ou de iluminação de uma cidade” (BICHELS, 2018, p. 24). Segundo Stevenson (1975), um sistema elétrico de potência possui três componentes principais, que são: a estação geradora, as linhas de transmissão, e os sistemas de distribuição. No Brasil, chamamos este sistema de Sistema Interligado Nacional (SIN), o qual é responsável por interligar unidades geradoras de potência e os centros consumidores por extensas malhas de transmissão. “O sistema interligado brasileiro possui dimensões e características que o fazem ser considerado um dos maiores e mais complexos sistemas elétricos do mundo” (STEVENSON, 1975, p. 88). O sistema de geração de energia no Brasil é hidrotérmico, com predominância de usinas hidroelétricas e que são responsáveis por 68,9% da produção nacional e, em 2013, somavam 2800 empreendimentos em operação (Boletim mensal de monitoramento, 2013). A rede de geração e de transmissão que constitui o sistema interligado nacional, é responsável por 98% do abastecimento dos centros consumidores, sendo que o restante dessa parcela não está ligado ao sistema devido às condições geográficas, pois estas estão localizadas majoritariamente na região amazônica, então, pequenas unidades produtoras abastecem centros pontuais de consumo nesta região. Atualmente, o Brasil conta com uma capacidade instalada de potência de 122,9 GW. Isso representa um aumento de 64,3% em relação ao ano de 2001, o que reflete o crescimento substancial do país nos últimos anos. TÓPICO 1 — SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO 5 A Figura 1 mostra o processo de um sistema elétrico de potência desde a barragem até a transmissão residencial. FIGURA 1 – SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA FONTE: <https://bit.ly/3jltAyC>. Acesso em: 26 jul. 2021. Segundo dados de 2013 da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o governo federal deverá dispor de mais de 52 GW de potência até o ano de 2021 para sustentar o seu desenvolvimento, sem o perigo de sofrer com problemas de abastecimentos. Ainda, segundo a EPE (ANO), esse adicional de potência a ser integrado ao sistema, deve vir de fontes renováveis como hidrelétrica, eólica e termoelétrica. Como exemplo pode-se citar as usinas de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte. O sistema elétrico funcionando de forma integrada proporciona diversas vantagens tais como: • Garantia de energia mínima que permite a operação contínua das plantas hidroelétricas. • Riscos mínimos de interrupção do fornecimento nos períodos de baixa hidrologia. • Níveis adequados de confiabilidade da rede elétrica. • Utilização de energia elétrica em todos os pontos do sistema, abaixando os custos de operação do sistema e o preço final ao consumidor. • Reprogramação da geração em função da demanda e hidrologia. FONTE: SATO, A. K. C. Transmissão de potência em corrente contínua e em corrente alternada: estudo comparativo. 2013. 90 f. Trabalho (Graduação e, Engenharia Elétrica) – Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, Guaratinguetá, 2013. p. 23- 24. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/121076/000734882. pdf?sequence=1. Acesso em: 27 jul. 2021. UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO 6 A Figura 2 mostra os três pilares do SEP, que são: a geração, a transmissão e a rede de distribuição de energia elétrica. FIGURA 2 – GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. FONTE: <https://core.ac.uk/download/pdf/287004058.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2021. A energia elétrica é gerada em usinas, e é transmitida aos consumidores por meio de uma rede de transmissão de energia. O sistema de transmissão é divido em sistemas de subtransmissão. É uma prática comum se dividir a rede elétrica relativa ao transporte de energia, nos seguintes subsistemas: • sistema de transmissão; • sistema de subtransmissão; • sistema de distribuição. O sistema de transmissão interconecta todos os grandes centros de geração, aos principais centros de carga. Ele forma a parte por onde circula grandes blocos de potência e opera com os níveis de tensão mais elevados. Tipicamente com tensões maiores ou iguais a 230 kV. As tensões de geração encontram-se na faixa entre 11 a 20 kV. Esse nível de tensão é transformado por meio de transformadores elevadores a níveis quepossibilitam a transmissão de um grande bloco de potência. Ao chegar nas chamadas subestações do sistema, a energia deve ser retransmitida, porém, podendo agora ser em outro nível de tensão. Portanto, tanto ao nível do sistema de geração, quanto das subestações rebaixadoras, devem existir transformadores adequadamente projetados, a fim de permitir o fluxo de energia desde a geração até os centros de consumo. O sistema de subtransmissão permite a transmissão de potência em blocos mais reduzidos a partir das subestações de transmissão, para as subestações de distribuição. TÓPICO 1 — SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO 7 Grandes cargas industriais podem ser supridas diretamente por um sistema de subtransmissão. Em alguns sistemas não há uma distinção clara entre sistemas de transmissão e de subtransmissão, sendo ambos um só. O sistema de distribuição representa o estágio final envolvendo a transferência de energia para os consumidores individuais. A tensão primária de distribuição (a denominada alta tensão do sistema de distribuição) é compreendida na faixa entre 1 e 34,5 kV. Pequenos consumidores industriais são atendidos por alimentadores primários que se encontram nessa faixa de tensão. Os alimentadores de distribuição secundários suprem consumidores residenciais e comerciais em faixas que podem variar de 110 a 240 V, em valores padronizados pelo órgão regulador do setor elétrico. A Figura 3 mostra a estrutura básica de um sistema elétrico de energia. FIGURA 3 – ESTRUTURA DE UM SEP FONTE: Leão (2009, p. 17) A transmissão de energia elétrica geralmente é feita em corrente alternada (ca), não somente no Brasil, mas no mundo, sendo que a transmissão em corrente contínua (cc) é menos empregada. A facilidade e flexibilidade em alterar os níveis de tensão através de transformadores constitui um dos maiores atrativos dos sistemas cas (juntamente com os geradores trifásicos dos sistemas cas e com os geradores trifásicos síncronos), o que justifica sua ampla utilização. Em um sistema de transmissão cc, os geradores ca alimentam a linha cc através de um transformador, e de um retificador eletrônico (de alta potência). Um inversor eletrônico transforma a corrente contínua em corrente alternada no fim da linha de transmissão, para que a tensão possa ser reduzida pelo transformador. A transmissão em cc desempenha um papel importante quando utilizada de maneira complementar a um sistema de ca. Para distâncias longas, a transmissão em cc torna-se uma alternativa atraente. Além disso, oferecem UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO 8 melhores possibilidades de controlar o fluxo de potência em condições normais de operação e também em situações transitórias (como controle de estabilidade) (BICHELS, 2018). Os principais elementos e suas funções da rede de distribuição de energia elétrica são: • Subestação abaixadora ou subestação de distribuição: para ser distribuída pelos fios da cidade, a eletricidade tem sua tensão reduzida em subestações abaixadoras através de transformadores. A tensão de linha de transmissão é baixada para valores padronizados nas redes de distribuição primária – 6, 11, 13.8, 15 e 34.5 kV. Uma subestação de distribuição geralmente tem como características: o transformadores que reduzem a tensão de transmissão para a tensão de distribuição; o um "barramento" que pode direcionar a energia para várias cargas; e o geralmente há disjuntores e chaves, visando desconectar a subestação da rede de transmissão ou desligar linhas que saem da subestação de distribuição quando necessário. • Redes de distribuição: das subestações de distribuição primária (alta tensão), partem as redes de distribuição secundária (baixa tensão). Finalmente a energia elétrica é transformada novamente para os padrões de consumo local e chega às residências e outros estabelecimentos – tensão 220/127 V. No Brasil, há cidades onde a tensão fase neutro é de 220 V – região norte e nordeste –; e outras em 110, 120 ou 127 V como: região sul, São Paulo e Rio de Janeiro. As redes de distribuição nos centros urbanos também podem ser aéreas ou subterrâneas. Nas redes aéreas, os transformadores são montados nos próprios postes ou em subestações abrigadas. A entrada de energia nas edificações é chamada de ramal de entrada. Como vimos as redes de distribuição são trifásicas, mas as ligações para consumo podem ser monofásicas, bifásicas ou trifásicas de acordo com a carga necessária: o até 15 kW – monofásica (uma fase e um neutro); o de 15 kW a 25 kW – bifásica (dois fases e um neutro); o maior que 25 kW – trifásica (três fases e um neutro). No alto dos postes, os três cabos que normalmente observamos são os três cabos para a energia trifásica. O quarto cabo mais abaixo é o fio terra. Muitas vezes veem-se cabos extras, normalmente fios de telefone ou de TV a cabo, que utilizam os mesmos postes. Essa subestação em particular produz dois níveis de tensão, a tensão mais alta precisa ser reduzida novamente, o que geralmente acontecerá em outra subestação ou em transformadores menores em algum lugar da linha. Em alguns postes, vemos também transformadores cuja função é diminuir ainda mais a tensão, de modo que a energia possa ser usada nas edificações, chegando à tensão de 127/220 V. TÓPICO 1 — SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO 9 • Terminais: uma casa precisa de apenas uma das três fases; então, é comum terminais para uma ou duas das fases escoarem pelas ruas laterais. • Na residência: fora de uma casa comum existe um conjunto de postes com um condutor fase e um fio condutor terra (embora às vezes haja duas ou três fases no poste, dependendo de onde a casa está localizada na rede de distribuição). Em cada casa ou trecho de rua há um transformador. O trabalho do transformador é reduzir a voltagem de transmissão para os 220 ou 127 volts usados nas instalações elétricas residenciais normais. Os 220 ou 127 volts entram em sua casa através de um típico wattímetro. 2.1 PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS DE UM SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA Os dispositivos de controle atuam sobre equipamentos, muito deles responsáveis pela geração ou pela transmissão de grandes blocos de energia. Podem ser mencionados alguns dispositivos, tais como: • geradores; • linhas de transmissão; • transformadores de potência; • capacitores em derivação (shunt) e em série; • reatores em derivação; • sistemas de transmissão CA flexíveis – Flexible AC Transmission Systems (FACTS); • compensadores síncronos. O risco da ocorrência de uma falha considerando-se um componente isoladamente é pequeno, entretanto, globalmente, pode ser bastante elevado, aumentando também a repercussão numa área considerável do sistema, podendo causar o que comumente é conhecido como blackout. Para evitar os blackouts utilizamos dispositivos para proteção dos SEPs, pois não seria possível operar o sistema sem os equipamentos de proteção, de redução de medidas para instrumentos, de manobra e de proteção, tais como: • transformadores de potencial (TPs), • divisores capacitivos de potencial (DCPs); • transformadores de corrente (TCs); • chaves, seccionadoras, disjuntores; • relés de proteção, filtros; • para-raios. Os sistemas de proteção são aqueles que tem o objetivo de desligar a parcela do sistema elétrico de potência que se encontra defeituosa, ou operando fora das suas condições normais. Nesse contexto, os sistemas de proteção devem atuar rapidamente para minimizar riscos à vida humana, e danos aos equipamentos UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO 10 que compõem os sistemas elétricos de potência; normalmente, há duas situações que podem produzir danos: sobrecargas de longa duração e curtos-circuitos(BICHELS, 2018). A Figura 4 mostra dispositivos de proteção de sistemas de potência. FIGURA 4 – COMPONENTES DE PROTEÇÃO DE UMA SUBESTAÇÃO ELÉTRICA FONTE: BICHELS (2018) 2.2 A EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS DE POTÊNCIA NO BRASIL E NO MUNDO A partir de 1930 foi organizado no cenário nacional, sob proteção do capital privado, os serviços de geração, transmissão e distribuição de energia. Os modelos desses sistemas eram independentes e isolados, atendendo os maiores centros urbanos, formando uma organização industrial com regulamentação básica, sem referências, iniciada do zero (PRAÇA; FURST, 2012). Inicialmente, os sistemas elétricos de maior porte foram implantados em torno de grandes cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo, pelas concessionárias canadenses Holding Brazilian Traction e Light and Power. As concessionárias do grupo norte americano American & Foreign Power (Amforp) formavam o segundo maior parque gerador de energia elétrica, no qual tinha como subsidiaria a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), responsável por atender o interior de São Paulo. As demais empresas subsidiárias atendiam as cidades de Natal, Recife, Maceió, Salvador, Vitória, Belo Horizonte, Niterói, Curitiba, Porto Alegre e cidades vizinhas. TÓPICO 1 — SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO 11 Em 1939, o Estado iniciou a intervenção no setor elétrico criando o Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica (CNAEE) para tratar de todos os assuntos do setor. Em 1943, o governo do Rio Grande do Sul criou a comissão Estadual de Energia Elétrica (CEEE), que reformulou o primeiro plano de eletrificação regional do país. Já em 1945, foi criada a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), a qual ficou registrada como primeira intervenção direta do governo federal no campo da produção e transmissão de energia elétrica. Em 1952, o governo de Minas Gerais fundou a Centrais Elétricas de Minas Gerais (Cemig), como sociedade de economia mista com participação majoritária da administração estadual. Ainda nesse ano, foi fundado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) responsável pela coordenação de investimento público na área de energia elétrica e responsável pela administração dos recursos do fundo Federal de Eletrificação. (PRAÇA; FURST, 2012). Em 1953, o governo de São Paulo iniciou a criação de uma séria de empresas que, posteriormente, foram unificadas em torno da empresa Centrais Elétricas de São Paulo (Cesp). (PRAÇA; FURST, 2012). Em 1957, o governo federal criou a Central Elétrica de Furnas, garantindo energia ao processo de industrialização e urbanização nacional. Em 1960, com a expansão do setor produtivo estatal na área de energia, houve a necessidade de criação do Ministério de Minas e Energia (MME), deixando sob a responsabilidade da administração federal todos os estudos e assuntos relativos à energia e à produção mineral. Em 1961, após longos sete anos de discussão no Congresso Nacional, ficou formalizado a criação da Eletrobras – Centrais Elétricas Brasileiras S.A. Em 1962, a Eletrobras foi oficialmente instalada passando a administrar o fundo Federal de Eletrificação e a carteira de aplicações efetuadas pelo BNDE, junto às concessionárias. Além de financiar o Sistema Elétrico Brasileiro, a Eletrobras assumiu as características de uma holding, ancorada inicialmente em algumas empresas subsidiárias, incluindo a Chesf e Furnas, de caráter regional, e por ter feito investimentos em algumas empresas associadas, a Eletrobras também tinha participação minoritária na Cemig e CEEE, entre outras. Em 1964 a Eletrobras comprou as concessionárias do grupo Amforp, e as entidades governamentais passaram a deter participação majoritária na produção nacional de eletricidade. Em 1965, foi promulgada a Lei n° 4.904, que transformou a antiga Divisão de Águas do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) no departamento Nacional de Águas e Energia (DNAE), o qual, três anos mais tarde, recebeu a denominação de Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE), com base no decreto n° 63.951. UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO 12 Em 1967, com o Decreto n° 60.824, se estabeleceu o sistema nacional de eletrificação, limitando a ação da Eletrobras em empresas de eletricidade, principalmente aquelas de caráter regional. Em 1968, quase todas as antigas subsidiárias da Amforp passaram para gestão das concessionárias estaduais, fazendo com que o processo demorasse em torno de sete anos para ser concluído. Com exceção do Espírito Santo, que os serviços de eletricidade foram reorganizados e criaram uma nova subsidiária da Eletrobras (Escelsa). Também no mesmo ano, a Eletrobras passou a contar com uma terceira subsidiária de âmbito regional, a Centrais Elétricas do Sul do Brasil (Eletrosul). Somente em 1973, foi constituída a quarta subsidiária da Eletrobras, a Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte), responsável por coordenar o programa de energia da Amazônia incluindo a construção e a operação de centrais elétricas e sistemas de transmissão. Em 1980, foi aprovado uma resolução para criação do Grupo de Coordenadores de Planejamento do Sistema Elétrico (GCPS), com a finalidade de estudar alternativas de desenvolvimento dos sistemas elétricos das concessionárias, e elaborar pareceres e proposições para ajustar os programas de expansão das empresas. Em 1985, foi aprovado pelo governo federal o Plano de Recuperação Setorial (PRS), com o objetivo de promover o saneamento financeiro das concessionárias com ajuda dos recursos da união, tendo em vista que nesse período o país passou por uma crise econômica. Em 1987, com a intenção de reestruturar o setor elétrico, foi criado o projeto Revisão Institucional do Setor Elétrico (REVISE). Em 1990, com a Lei nº 8.031/1990, instituiu-se o Programa Nacional de Desestatização (PND) e a criação do Fundo Nacional de Desestatização, transferindo atividades para o setor privado, mas, somente em 1995, iniciaram as desestatizações. Em 1993 foi promulgada a Lei n° 8.631 – lei da Desequalização Tarifária –, que dispõe sobre a fixação dos níveis tarifários para o serviço público de energia elétrica, e estabeleceu que os níveis das tarifas a serem praticados no suprimento de energia elétrica eram propostos pelo concessionário supridor, garantindo a prestação de serviço adequado. No período de 1994 e 1995, outras duas importantes leis para o setor elétrico foram aprovadas, a Lei 8.967/1994, que regulamentou os preceitos de licitação para concessões e deu, assim, início a competição no setor elétrico, e a Lei 9.074/1995, que implantou a figura do produtor Independente de Energia Elétrica (PIE). TÓPICO 1 — SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO 13 Em 1997, foi criada a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), autarquia em regime especial vinculada ao Ministério de Minas e Energia, com intuito de regular o setor elétrico brasileiro, por meio da Lei nº 9.427/1996 e do Decreto nº 2.335/1997. E, no mesmo ano, foi criado o Conselho Nacional Política Energética (CNPE). Em 1998, foi criado o Mercado Atacadista de Energia (MAE), atual Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Também foi criado o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Em 1999, foi criado o Comitê Coordenador do Planejamento de Expansão (CCPE). Em 2004, foi criada a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). A Tabela 1 demonstra a evolução das tensões de transmissão, em corrente alternada. TABELA 1 – AUMENTO DE TENSÃO NOS SISTEMAS DE POTÊNCIA AO REDOR DO MUNDO Ano Tensão elétrica [kVca] 1882 2,4 1889 4 1891 12 1907 100 1913 150 1923 220 1926 244 1936 287 1953 345 1965 5001969 765 1985 1150 FONTE: Glover e Sarma (1994, p. 25 apud BICHELS, 2018, p. 20). UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO 14 TABELA 2 – CAPACIDADE INSTALADA DE USINAS HIDRELÉTRICAS EM ALGUNS PAÍSES País Capacidade instalada de usinas hidrelétricas [GW] Capacidade instalada de usinas hidrelétricas (%), em relação à capacidade instalada total do País Japão 24,5 8,5 China 22,6 1,8 Estados Unidos 20,5 1,9 Itália 7,1 5,7 Espanha 6,8 6,6 Alemanha 6,3 3,5 França 5,8 4,4 Índia 5,0 2,2 Áustria 4,8 21,0 Grã-Bretanha 2,7 3,0 Suíça 2,5 12,0 Portugal 1,1 6,1 FONTE: Glover e Sarma (1994, p. 36) 2.3 MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA E MUNDIAL O conceito de matriz energética é toda energia disponível para o consumo, passando inicialmente pelo processo de transformação e, depois, distribuição para o consumo, ou seja, todo o conjunto de fonte de energia disponível para captar e distribuir para as indústrias, o comércio e as residências. Em referências mundiais, a matriz energética é composta, em sua maioria, por fontes não renováveis: combustíveis fósseis, carvão mineral e gás natural, conforme mostra o Gráfico 1. GRÁFICO 1 – MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL FONTE: <https://bit.ly/3CbKVTc>. Acesso em: 26 jul. 2021. TÓPICO 1 — SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO 15 Atualmente, a Matriz Energética Brasileira, ao contrário do índice mundial, é considerada uma das mais limpas do mundo, sendo que 48% da matriz energética vem de energias renováveis. O Gráfico 2 mostra o percentual de potência da matriz energética brasileira, com o percentual da potência instalada em operação, em [MW]. GRÁFICO 2 – MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA: POTÊNCIA INSTALADA EM OPERAÇÃO (MW) FONTE: <http://totumcom.com.br/wp-content/uploads/2019/03/Imagem1.png>. Acesso em: 26 jul. 2021. A Tabela 3 mostra a capacidade instalada e o número de usinas no Brasil em megawatts (MW). O Brasil acaba de superar a marca de 2.000 megawatts (MW) de potência operacional em sistemas de geração centralizada solar fotovoltaica, ou seja, usinas de grande porte conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Segundo o mapeamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), a fonte solar fotovoltaica, baseada na conversão direta da radiação solar em energia elétrica de forma renovável, limpa, sustentável e cada vez mais competitiva, atingiu um total de 2.056 MW de potência instalada operacional, o equivalente a 1,2% da matriz elétrica do País. Com isso, passa a ocupar a posição de 7ª maior fonte do Brasil, ultrapassando a nuclear, com 1.990 MW (1,2%) provenientes das usinas de Angra I e Angra II, localizadas no Rio de Janeiro. FONTE: <https://www.absolar.org.br/noticia/fonte-solar-fotovoltaica-assume-7a-posicao-na- matriz-eletrica-brasileira-e-ultrapassa-nucleares/>. Acesso em: 27 jul. 2021. IMPORTANT E UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO 16 TABELA 3 – CAPACIDADE INSTALADA POR FONTE EM VALORES ABSOLUTOS (MW) FONTE: Libanori (2017, p. 20) A Tabela 4 mostra a capacidade instalada, e o número de usinas no Brasil em megawatts (MW). TABELA 4 – CAPACIDADE INSTALADA POR FONTE EM TERMOS PERCENTUAIS FONTE: Libanori (2017, p. 20) O Gráfico 3 mostra a diversidade de operação da matriz energética no Brasil. Observa-se que a fonte hídrica ainda corresponde a maior parte de produção de energia elétrica brasileira. TÓPICO 1 — SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO 17 GRÁFICO 3 – CAPACIDADE DE OPERAÇÃO NO BRASIL FONTE: <https://bit.ly/3ynyXUp>. Acesso em: 28 jul. 2021. No Brasil, dados do PDE 2024 indicam que as fontes renováveis devem diminuir sua participação percentual em termos de capacidade instalada, passando de 86,4% em 2018 para 84,0% em 2024, como mostra o [Gráfico 4]. No entanto, tal queda deve-se à diminuição da participação percentual de fontes hidrelétricas, uma vez que outras fontes renováveis devem aumentar sua participação (LIBANORI, 2017, p. 18). GRÁFICO 4 – PARTICIPAÇÃO DE FONTES DE PRODUÇÃO NA CAPACIDADE INSTALADA FONTE: Brasil (2015, p. 93 apud LIBANORI, 2017, p. 19). 18 Neste tópico, você aprendeu que: • Um sistema elétrico de potência é um conjunto de equipamentos físicos e circuitos elétricos conectados, que atuam com o objetivo de gerar, transmitir e distribuir energia elétrica. • O Sistema Elétrico Brasileiro ainda tem como base o decreto do Código de Águas de 1934. • Somente na década de 1990 iniciou-se o processo de reestruturação para as formas atuais. • Geração perfaz a função de converter alguma forma de energia (hidráulica, térmica etc.) em energia elétrica. • A transmissão é responsável pelo transporte de energia elétrica dos centros de produção aos centros de consumo, ou até outros sistemas elétricos, interligando-os. • A etapa distribuição serve para distribuir a energia elétrica recebida do sistema de transmissão aos grandes, médios e pequenos consumidores. • A matriz energética brasileira está baseada em hidráulica, termo e eólica, vemos a tendência do crescimento mundial da nuclear e as fontes renováveis. • A ANEEL promove, mediante delegação com base no plano de outorgas e diretrizes aprovadas pelo Ministério de Minas e Energia, os procedimentos licitatórios para a contratação de concessionárias e permissionárias de serviço público para produção, transmissão e distribuição de energia elétrica e para a outorga de concessão para aproveitamento de potenciais hidráulicos. • O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é o órgão responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN), e pelo planejamento da operação dos sistemas isolados do país, sob a fiscalização e regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). • O sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil, é um sistema hidro-termo-eólico de grande porte, com predominância de usinas hidrelétricas e com múltiplos proprietários. • O Sistema Interligado Nacional é constituído por quatro subsistemas: sul, sudeste/centro-oeste, nordeste e a maior parte da região norte. RESUMO DO TÓPICO 1 19 • A interconexão dos sistemas elétricos, por meio da malha de transmissão, propicia a transferência de energia entre subsistemas, permite a obtenção de ganhos sinérgicos e explora a diversidade entre os regimes hidrológicos das bacias. • A integração dos recursos de geração e transmissão permite o atendimento ao mercado com segurança e economicidade. • A capacidade instalada de geração do SIN é composta, principalmente, por usinas hidrelétricas distribuídas em dezesseis bacias hidrográficas nas diferentes regiões do país. • Nos últimos anos, a instalação de usinas eólicas, principalmente nas regiões Nordeste e Sul, apresentou um forte crescimento, aumentando a importância dessa geração para o atendimento do mercado. • As usinas térmicas, em geral localizadas nas proximidades dos principais centros de carga, desempenham papel estratégico relevante, pois contribuem para a segurança do SIN. • As usinas térmicas são despachadas em função das condições hidrológicas vigentes, permitindo a gestão dos estoques de água armazenada nos reservatórios das usinas hidrelétricas, para assegurar o atendimento futuro. • Os sistemas de transmissão integram as diferentes fontes de produção de energia e possibilitam o suprimento do mercado consumidor. 20 1 O setor elétrico brasileiro está estruturado para garantir a segurança do suprimento de energia elétrica, promover a inserção social, por meio de programas de universalização do atendimento e a escolha das modalidades tarifárias. Com isso, explique o que é um sistema elétrico de potência: FONTE: <https://bit.ly/2WMsAvP>. Acesso em: 30 jul. 2021. 2 A distribuição de energiaelétrica no Brasil é feita por meio da integração da produção, transmissão e distribuição ao consumidor final. Essa integração é motivada pela industrialização e urbanização, pelo aumento da demanda e pela origem das hidrelétricas. Com base nesse contexto, como funciona a geração, transmissão e distribuição de potência no Brasil? FONTE: <https://www.universidadetrisul.com.br/etapas-construtivas/como-e-feita-a-distribuicao- de-energia-eletrica-no-brasil>. Acesso em: 30 jul. 2021. 3 No Brasil, 80% da geração de energia elétrica advém de fontes e hidrelétricas, 11% de termoelétricas e o restante por outros processos. A partir da usina, a energia é transformada em subestação elétricas, elevadas a níveis de tensão (69/88/138/240/440 kV) e transportada em corrente alternada através de cabos elétricos, até as subestações rebaixadoras, delimitado a fase de transmissão. Com isso, quais são os componentes básicos de um SEP? FONTE: <https://www.mundodaeletrica.com.br/um-pouco-mais-sobre-o-sistema-eletrico-de- potencia-sep/>. Acesso em: 30 jul. 2021. 4 “A viabilidade de grandes sistemas de potência interligados foi possível com uma série de desenvolvimentos tecnológicos de materiais e equipamentos, em conjunto com a transmissão em CA de altas e extra-altas tensões” (BICHLES, 2018, p. 25). Com base nesse contexto, quais são as vantagens do SEP transmitindo em cc e em ca? FONTE: BICHELS, A. Sistemas elétricos de potência: métodos de análise e solução. Curitiba: EDUTFPR, 2018. p. 25. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/287004058.pdf. Acesso em: 26 jul. 2021. 5 Apagão ou blecaute é o corte ou colapso temporário do suprimento de energia elétrica em uma determinada área geográfica, que pode variar desde uma localidade ou bairro, até uma grande área metropolitana ou regiões inteiras de um ou mais países. Para evitar esse tipo de fenômeno, o SEP deve estar protegido por equipamentos que evitem que o sistema falhe. Com base no exposto, cite quais são os equipamentos de proteção usados nos SEPs: FONTE: <https://educalingo.com/pt/dic-pt/blecaute>. Acesso em: 30 jul. 2021. 6 O sistema elétrico de potência consiste num conjunto formado por centrais elétricas, subestações de transformação e de interligação, linhas e receptores, ligados eletricamente entre si. São grandes sistemas de energia que englobam geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. AUTOATIVIDADE 21 Com base no exposto, o que há em comum e quais as diferenças nas três principais formas de geração no Brasil? Cite três motivos porque o Brasil adotou a interligação do seu sistema de energia. FONTE: <https://bit.ly/3Cbob5S>. Acesso em: 30 jul. 2021. 7 A matriz energética do Brasil é muito diferente da mundial. Por aqui, apesar do consumo de energia de fontes não renováveis ser maior do que o de renováveis, usamos mais fontes renováveis que no resto do mundo. Somando lenha e carvão vegetal, hidráulica, derivados de cana e outras renováveis, nossas renováveis totalizam 46,2%, quase metade da nossa matriz energética. Com isso, qual é a Matriz Energética do Brasil e quais são as tendências mundiais das formas de geração de energia elétrica? Você tem alguma ideia diferente das que existem hoje? FONTE: <https://www.epe.gov.br/pt/abcdenergia/matriz-energetica-e-eletrica>. Acesso em: 30 jul. 2021. 8 A matriz energética representa um conjunto de fontes de energia disponíveis no país para suprir as demandas energéticas. É por meio dela que será possível captar e distribuir energia para os setores comerciais, industriais e residenciais. Assim, a matriz energética representa a quantidade de energia disponível, bem como a origem dessa energia, se ela é de uma fonte renovável ou não. Descreva o funcionamento de três formas de geração de energia. O que há em comum e as diferenças entre essas formas de geração de energia? FONTE: <https://www.gnpw.com.br/matriz-energetica/quais-as-principais-matrizes-energeticas- do-brasil/>. Acesso em: 30 jul. 2021. 9 A distribuição se caracteriza como o segmento do setor elétrico dedicado à entrega de energia elétrica para um usuário final. Como regra geral, o sistema de distribuição pode ser considerado como o conjunto de instalações e equipamentos elétricos que operam, geralmente, em tensões inferiores a 230 kV, incluindo os sistemas de baixa tensão. Com base nesse contexto, descreva a rede de distribuição, quais os principais elementos e suas funções: FONTE: <https://www.aneel.gov.br/regulacao-da-distribuicao>. Acesso em: 30 jul. 2021. 10 O Brasil deve investir em matrizes energéticas renováveis, pois ao produzir a energia em solo brasileiro, não ficamos dependentes de importações e nem suscetíveis a crises mundiais. Além disso, esse investimento em fontes limpas contribui com o meio ambiente e polui menos. Com base no exposto, como seria o mundo sem a descoberta da energia elétrica? Em sua opinião, a sustentabilidade social e econômica seria baseada em que forma de tecnologia? FONTE: <https://bit.ly/3yACC1n>. Acesso em: 30 jul. 2021. 11 Os sistemas elétricos de potência é um conjunto constituído por centrais elétricas, subestações de transformação e de interligação, linhas e receptores, ligados eletricamente entre si. São grandes sistemas de energia que englobam geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Com base no exposto, analise as assertivas a seguir: FONTE: <https://bit.ly/3fry3id>. Acesso em: 30 jul. 2021. 22 I- O sistema elétrico de potência é definido como o conjunto de todas as instalações e equipamentos destinados à geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Iniciando com uma linha de transmissão ligando uma usina a uma carga industrial ou de iluminação de uma cidade. II- No Brasil, chamamos este sistema de Sistema Interligado Nacional (SIN), o qual o responsável por interligar unidades geradoras de potência e os centros consumidores por extensas malhas de transmissão. III- Um sistema elétrico de potência possui três componentes principais, que são: a estação geradora, as linhas de transmissão e os sistemas de distribuição. É CORRETO apenas o que se afirma em: a) ( ) I, II e III. b) ( ) II e III. c) ( ) I e III. d) ( ) I e II. 12 “Hoje em dia, os sistemas elétricos de potência representam as maiores e mais complexas máquinas já construídas pelo homem, o que exige técnicas e estudos cada vez mais precisos e refinados para construir, manter e operar estas máquinas. Além disso, eles estão expostos a condições adversas e imprevisíveis que podem levar a situações de falha ou má operação, causando transtornos e problemas a todos que dependem da energia elétrica” (SILVA et al., 2016, p. 2). Com base no exposto, analise as assertivas a seguir: FONTE: SILVA, H. A. B. da. Simulador com mini subestação para ensino da disciplina sistemas de potência em cursos de engenharia e eletricidade. In: Conferência de Estudos em Engenharia Elétrica, 14., 2016, Uberlândia. Anais [...]. Uberlândia: UFU, 2016. Disponível em: https://bit. ly/2Vjs7ku. Acesso em: 30 jul. 2021. I- O modelo atual do SEP nem sempre foi assim, e, em grande parte da história, o modelo era vertical, ou seja, o estado tinha monopólio de toda a tarifa de consumo e todos os consumidores eram considerados cativos. II- Mesmo com todas as regulamentações, o Sistema Elétrico Brasileiro ainda tem como base o decreto do Código de Águas de 1934. III- Somente nos anos 1970 iniciou-se o processo de reestruturação para as formas atuais do SEP. É CORRETO apenas o que se afirma em: a) ( ) I, II e III. b) ( ) I e II. c) ( ) I e III. d) ( ) II e III. 23 13 “A geração de energia elétrica se faz em usinas localizadas em função de suas características próprias. Usinashidrelétricas que usam represamento de rios e lagos são localizadas nos pontos dos rios e lagos considerados mais eficientes para o armazenamento do volume ideal de água. Usinas térmicas podem ser localizadas em pontos mais convenientes para a transmissão e controle. Geradores eólicos são localizados em pontos com maior volume de ventos” (SILVA et al., 2016, p. 2). Com base no exposto, analise as assertivas a seguir: FONTE: SILVA, H. A. B. da. Simulador com mini subestação para ensino da disciplina sistemas de potência em cursos de engenharia e eletricidade. In: Conferência de Estudos em Engenharia Elétrica, 14., 2016, Uberlândia. Anais [...]. Uberlândia: UFU, 2016. Disponível em: https://bit. ly/37gRPZ4. Acesso em: 30 jul. 2021. I- Atualmente, a Matriz Energética Brasileira ao contrário do índice mundial, é considerada uma das mais limpas do mundo, sendo que 88% da matriz energética vem de energias renováveis. II- Segundo mapeamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), a fonte solar fotovoltaica, baseada na conversão direta da radiação solar em energia elétrica de forma renovável, limpa, sustentável e cada vez mais competitiva, atingiu um total de 3.056 MW de potência instalada operacional, o equivalente a 2,2% da matriz elétrica do País. III- O Brasil acaba de superar a marca de 2.000 megawatts (MW) de potência operacional em sistemas de geração centralizada solar fotovoltaica, ou seja, usinas de grande porte, conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN). É CORRETO apenas o que se afirma em: a) ( ) III. b) ( ) II. c) ( ) I. d) ( ) I, II e III. 24 25 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 MERCADO DE ENERGIA 1 INTRODUÇÃO Conforme a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o setor elétrico brasileiro possui um modelo de operação diferenciado em relação ao restante do mundo. Devido ao seu extenso território, o Brasil é um grande produtor e consumidor de energia (ENTENDA [...], 2020). A produção de energia no território brasileiro também é muito diversificada. Existe um potencial energético a ser explorado principalmente no que diz respeito às fontes renováveis, o que implica em constantes inovações tecnológicas. A busca por um modelo sustentável está na pauta do mercado de energia, estruturado para garantir a segurança no suprimento, incentivar a expansão da geração, diversificar a matriz energética e atender a demanda dos consumidores ao menor custo. [...] As empresas responsáveis pela produção e transmissão de energia compõem o Sistema Interligado Nacional (SIN) que atualmente abrange as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da região Norte do Brasil. De grande porte, o SIN é interligado por linhas de alta tensão. Neste sistema ocorrem as negociações de compra e venda de energia. Isso significa que, uma vez que um agente de mercado (distribuidor, gerador, comercializador, consumidor livre ou especial) se torne membro do SIN, pode negociar energia com qualquer outro agente, independentemente das restrições físicas de geração e transmissão. No Brasil, a energia é proveniente, principalmente, de hidrelétricas de grande porte. As usinas térmicas também desempenham papel fundamental, pois complementam a geração hidrelétrica em períodos de estiagem e, em horários de pico. O sistema é atualmente dividido em quatro submercados (sul, sudeste/ centro-oeste, nordeste e norte) (ENTENDA [...], 2020, s. p.). Submercados são divisões do Sistema Integrado Nacional (SIN), para as quais são estabelecidos os Preços de Liquidação de Diferenças (PLDs) específicos, e cujas fronteiras são definidas em razão da presença e duração de restrições relevantes de transmissão aos fluxos de energia elétrica no SIN. “Cada um deles concentra regiões do país onde a energia circula livremente. A linha que divide cada submercado, é determinada por limites de intercâmbio presentes no sistema de transmissão, ou seja, restrições elétricas no fluxo de energia entre as diversas regiões do país” (ENTENDA [...], 2020, s. p.). Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) é o preço a ser divulgado pela CCEE, calculado antecipadamente, com periodicidade máxima semanal e com base no custo marginal de operação, limitado por preços mínimo e máximo, vigente para cada período de apuração e para cada submercado, pelo qual é valorada a energia comercializada no Mercado de Curto Prazo. 26 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO A estrutura brasileira de transmissão de energia possui linhas com tensão de 230 kV a 750 kV, os agentes de transmissão não participam da comercialização de energia. As relações comerciais no atual modelo se estabelecem em duas esferas: no Ambiente de Contratação Regulada (ACR) e no Ambiente de Contratação Livre (ACL). A compra e venda de energia no ambiente regulado é formalizada por meio de contratos celebrados entre os geradores e os distribuidores, que participam dos leilões de compra e venda de energia. Os contratos desse ambiente têm regulação específica para aspectos como preço da energia, submercado de registro do contrato e vigência de suprimento, não passíveis de alterações bilaterais pelos agentes. Já no ambiente livre, os geradores, comercializadores, importadores e exportadores de energia, consumidores livres e especiais têm liberdade para negociar e estabelecerem em contratos, os volumes de compra e venda de energia e seus respectivos preços. Todos os contratos firmados nos ambientes livre e regulado são registrados na CCEE. (ENTENDA [...], 2020, s. p.). Todas as operações referentes às atividades para a viabilização da comercialização de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN) são gerenciadas pela CCEE. 2 AMBIENTE DE CONTRATAÇÃO REGULADA (ACR) Segmento do mercado no qual se realizam as operações de compra e venda de energia elétrica entre agentes vendedores e agentes de distribuição, precedidas de licitação, ressalvados os casos previstos em lei, conforme regras e procedimentos de comercialização específicos, de acordo com o disposto no Decreto n° 5.163, de 30 de julho de 2004 (SRT, 2015). 2.1 MODELOS DE CONTRATAÇÃO DE ENERGIA (ACR) Os compradores e vendedores de energia participantes dos leilões, formalizam suas relações comerciais por meio de contratos registrados no âmbito do ACR. Nos leilões estruturantes definidos pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), os leilões são realizados diretamente pela ANEEL. Os contratos desse ambiente têm regulação específica para aspectos como preço da energia, submercado de registro do contrato e vigência de suprimento, os quais não são passíveis de alterações bilaterais por parte dos agentes. Apesar de não ser contratada em leilões, a energia gerada pela usina binacional de Itaipu e a energia associada ao Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) são enquadradas no ACR, pois sua contratação é regulada com condições específicas definidas pela ANEEL. TÓPICO 2 — MERCADO DE ENERGIA 27 2.2 LEILÕES DE ENERGIA (ACR) Os leilões são a principal forma de contratação de energia no Brasil. Por meio desse mecanismo, concessionárias, permissionárias e autorizadas de serviço público de distribuição de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN), garantem o atendimento à totalidade de seu mercado no Ambiente de Contratação Regulada (ACR). Quem realiza os leilões de energia elétrica é a CCEE, por delegação da ANEEL (TIPOS, 2020, s. p.). Os leilões são divididos em nove modalidades, são eles: • Leilão de Venda O objetivo do leilão de venda realizado em 2002, foi tornar disponíveis aos agentes distribuidores e comercializadores,os lotes de energia ofertados por empresas geradoras federais, estaduais e privadas, assegurando-se igualdade de acesso aos interessados. O MAE, antecessor da CCEE, responsável pela implementação e pela execução de todo o processo, desenvolveu uma sistemática própria para esse leilão, utilizando sistema do Banco do Brasil para que os interessados pudessem comprar e vender energia por meio eletrônico, via internet, de forma clara, eficaz e segura. O leilão público atendeu ao disposto no artigo 27 da Lei n.º 10.438/2002. • Leilão de Fontes Alternativas O leilão de fontes alternativas foi instituído com o objetivo de atender ao crescimento do mercado no ambiente regulado, e aumentar a participação de fontes renováveis – eólica, biomassa e energia proveniente de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) – na matriz energética brasileira. O leilão de fontes alternativas foi regulamentado por meio do Decreto nº 6.048, de 27 de fevereiro de 2007, o qual altera a redação do Decreto nº 5.163, de 30 de julho de 2004 (BANDEIRA, 2017). • Leilão de Excedentes O leilão de excedentes foi realizado pelo MAE em 2003, e teve como objetivo a venda dos excedentes de energia elétrica das concessionárias e autorizadas de geração decorrentes da liberação dos contratos iniciais, bem como os montantes estabelecidos nas Resoluções ANEEL nº 267, 450 e 451, todas de 1998, compreendidos como energia de geração própria. 28 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO Somente os consumidores que atenderam aos critérios definidos nos artigos 15 e 16 da Lei nº 9.074/1995, e cujo atendimento não gerasse custos adicionais provenientes de reforços, ampliações ou adequações nos sistemas de distribuição e transmissão, puderam comprar a energia ofertada nesse leilão. • Leilão Estruturante Leilões estruturantes destinam-se à compra de energia proveniente de projetos de geração indicados por resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e aprovados pelo presidente da República. Tais leilões se referem a empreendimentos que tenham prioridade de licitação e implantação, tendo em vista seu caráter estratégico e o interesse público. Buscam assegurar a otimização do binômio modicidade tarifária e confiabilidade do sistema elétrico, bem como garantir o atendimento à demanda nacional de energia elétrica, considerando o planejamento de longo, médio e curto prazos. A previsão para realização destes leilões é dada pelo inciso IV do § 1º do art. 19 do Decreto nº 5.163, de 30/07/2004, com redação dada pelo Decreto nº 6.210, de 18/09/2007, e estão de acordo com a atribuição do CNPE prevista no inciso VI do art. 2º da Lei nº 9.478, de 06/08/1997, com redação dada pela Lei nº 10.848, de 15/03/2004. • Leilão de Energia de Reserva A contratação da energia de reserva foi criada para elevar a segurança no fornecimento de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN), com energia proveniente de usinas especialmente contratadas para esta finalidade seja de novos empreendimentos de geração ou de empreendimentos existentes. A energia de reserva é contabilizada e liquidada no mercado de curto prazo operado pela CCEE. Sua contratação é viabilizada por meio dos leilões de energia de reserva, conforme §3º do art. 3º e no art. 3º-A da Lei nº 10.848, de 15 de março de 2004, os quais foram regulados pelo Decreto nº 6.353/2008. Esta espécie de “seguro” no suprimento de energia, gerou o Encargo de Energia de Reserva (EER), destinado a cobrir os custos decorrentes da contratação da energia de reserva – incluindo os custos administrativos, financeiros e tributários. Esses custos são rateados entre todos os usuários da energia de reserva. O Decreto nº 337/2008 define quem são os usuários de energia de reserva: agentes de distribuição, consumidores livres, consumidores especiais, autoprodutores (na parcela da energia adquirida), agentes de geração com perfil de consumo e agentes de exportação participantes da CCEE. TÓPICO 2 — MERCADO DE ENERGIA 29 • Leilão de Energia Nova O leilão de energia nova tem como finalidade atender ao aumento de carga das distribuidoras. Neste caso, são vendidas e contratadas energia de usinas que ainda serão construídas. Este leilão pode ser de dois tipos: A -5 (usinas que entram em operação comercial em até cinco anos) e A -3 (em até três anos). Os leilões de compra de energia elétrica, proveniente de novos empreendimentos de geração, estão previstos nos parágrafos 5º ao 7º do art. 2º da Lei nº 10.848, de 15 de março de 2004, com redação alterada conforme art. 18 da Lei nº 11.943, de 28 de maio de 2009, e nos arts. 19 a 23 do Decreto nº 5.163, de 30 de julho de 2004. • Leilão de Energia Existente O leilão de energia existente, foi criado para contratar energia gerada por usinas já construídas e que estejam em operação, cujos investimentos já foram amortizados e, portanto, possuem um custo mais baixo. Os leilões de energia elétrica de empreendimentos existentes, estão previstos no artigo 19 do Decreto nº 5.163, de 30 de julho de 2004, com redações modificadas conforme o Decreto nº 5.271, de 16 de novembro de 2004, e o Decreto nº 5.499, de 25 de julho de 2005. • Leilão de Compra Os leilões de compra foram realizados nos anos 2003 e 2004. Sua implantação deu-se em virtude da Lei nº 9.648/1998, que estabeleceu a liberação do volume de energia atrelado aos contratos iniciais à proporção de 25% ao ano, considerando o montante contratado em 2002. Os distribuidores e comercializadores puderam, então, comprar energia dos geradores, produtores independentes e comercializadores/distribuidores que possuíam sobras contratuais. O leilão de compra permitiu a criação de um mecanismo competitivo para a venda de lotes de energia por esses agentes. • Leilão de Ajuste Os leilões de ajuste visam a adequar a contratação de energia pelas distribuidoras, tratando eventuais desvios oriundos da diferença entre as previsões feitas pelas distribuidoras em leilões anteriores, e o comportamento de seu mercado. 30 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO Como resultado desse leilão, são firmados contratos de curta duração (de três meses a dois anos). Os leilões de ajuste estão previstos no artigo 26 do Decreto nº 5.163, de 30 de julho de 2004. A Resolução Normativa ANEEL nº 411/2010 aprova o modelo de edital dos Leilões de Ajuste e delega a sua realização à CCEE. FONTE: <https://bit.ly/373uASh>. Acesso em: 26 jul. 2021. 2.3 AMBIENTE DE CONTRATAÇÃO LIVRE (ACL) Segmento do mercado no qual se realizam as operações de compra e venda de energia elétrica, objeto de Contratos Bilaterais livremente negociados, conforme regras e procedimentos de comercialização específicos, de acordo com o disposto no Decreto nº 5.163/2004 (SRM, 2015). 2.4 REQUISITOS DE MIGRAÇÃO Existem dois tipos de consumidores livres: os consumidores livres “tradicionais” e os consumidores especiais. Os consumidores livres possuem no mínimo 3.000 kW de demanda contratada e podem contratar energia proveniente de qualquer fonte de geração. A única restrição é que, além do nível de demanda contratada (demanda de potência ativa a ser obrigatória e continuamente disponibilizada pela concessionária, no ponto de entrega), as empresas que se conectaram ao sistema elétrico antes de 7 de julho de 1995 têm de receber a energia em tensão superior a 69 KV. Já os consumidores especiais, possuem demanda contratada igual ou maior que 500 e menor que 3.000 kW, independentemente do nível de tensão; podem contratar energia proveniente apenas de usinas eólicas, solares, biomassa, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) ou hidráulica de empreendimentos com potência inferior ou igual a 50.000 kW, as chamadas fontes especiais de energia (STEFANELLO,2019). 2.5 ESTRUTURA E PAPEL DO COMERCIALIZADOR Os geradores e os consumidores de energia têm, muitas vezes, objetivos distintos. Os geradores desejam maximizar preço de venda, o volume vendido e vender conforme sua produção. Eles procuram contratos de longo prazo para lastrear financiamentos. Já os compradores buscam minimizar preço de compra, TÓPICO 2 — MERCADO DE ENERGIA 31 segurança no atendimento, comprar conforme suas curvas de carga, e prazos menores de contratação. Todos querem reduzir a possibilidade de estarem expostos a riscos e penalidades. Cabe aos comercializadores atuar reduzindo os chamados custos de transação, fazendo o encontro eficiente entre geradores e consumidores. Viabilizam, com sua atividade, o preço de equilíbrio e dão racionalidade econômica ao “rateio” de sobras e déficits. Permitem o ajuste dos portfólios de compra e venda. Assumem o risco de crédito do consumidor e o risco de performance do produtor. Oferecem liquidez ao mercado, viabilizando a competição. Os comercializadores desenvolvem produtos e associam serviços ao produto energia, em um mercado cada vez mais competitivo, inovador e com foco nas necessidades de seus clientes (O PAPEL [...], 2021, s. p.). 2.6 CONTRATO DE ENERGIA NO ACL O autoprodutor é o titular de concessão, permissão ou autorização para produzir energia elétrica para seu uso exclusivo. O produtor Independente é a pessoa jurídica ou consórcio de empresas titulares de concessão, permissão ou autorização para produzir energia elétrica destinada ao comércio de toda ou parte da energia produzida, por sua conta e risco. O agente de geração é o titular de concessão, permissão ou autorização para fins de geração de energia elétrica. Agente de importação é o titular de autorização para fins de importação de energia elétrica. No ambiente de contratação livre, os geradores a título de serviço público, autoprodutores, produtores independentes, comercializadores, importadores e exportadores de energia e os consumidores livres e especiais têm liberdade para negociar a compra de energia, estabelecendo volumes, preços e prazos de suprimento. Essas operações são pactuadas por meio de Contratos de Compra de Energia no Ambiente Livre. Esses contratos devem ser, obrigatoriamente, registrados na CCEE, instituição responsável por realizar a liquidação financeira das diferenças entre os montantes contratados e os montantes efetivamente consumidos. 2.7 TIPOS DE CONTRATOS A comercialização de energia elétrica no Brasil é realizada pela CCEE com aval da ANEEL, para tanto, são firmados contratos de compra e venda de energia, a fim de formalizar o negócio. Com isso, temos os seguintes tipos de contratos: 32 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO • Contrato de Compra de Energia Incentivada (CCEI) Tem como objetivo a compra e venda de energia elétrica entre agentes de geração de energia elétrica, a partir de fontes incentivadas e comercializadores, ou consumidores especiais. Fontes incentivadas são empreendimentos de geração de energia renovável com potência instalada não superior a 30 MW, como centrais geradoras eólicas, termelétricas a biomassa e usinas de fonte solar, além de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). • Contrato de Compra e Venda de Energia Elétrica no Ambiente de Contratação Livre (CCEAL) Tem como objetivo a compra e venda de energia entre agentes de geração e comercializadores ou consumidores livres. • Contratos bilaterais Os contratos bilaterais formalizam a compra e venda de energia elétrica entre agentes da CCEE, estabelecendo preços, prazos e montantes de suprimento em intervalos temporais determinados. Os termos desses contratos são negociados livremente entre os agentes de mercado, sem a interferência da CCEE. Os contratos bilaterais podem ser de longo prazo ou de curto prazo. O registro desses contratos na CCEE contém informações dos montantes contratados em MWh. Contratos não validados pelo comprador não são contabilizados, assim como os contratos entre agentes e terceiros que não sejam agentes da CCEE. • Contratação da energia de reserva Esse tipo de contratação foi criado para aumentar a segurança no fornecimento de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN), com energia proveniente de usinas especialmente contratadas para esta finalidade, seja de novos empreendimentos de geração ou de empreendimentos existentes. A energia de reserva é contabilizada e liquidada exclusivamente no mercado de curto prazo da CCEE. Sua contratação é viabilizada por meio dos Leilões de Energia de Reserva. Esta modalidade de contratação é formalizada por meio de dois contratos: o CER e o Conuer. Os Contratos de Energia de Reserva (CER) são firmados entre os agentes vendedores nos leilões e a CCEE, na condição de representante dos agentes de consumo, tanto do ACR como no ACL. • Contratos de Uso de Energia de Reserva (CONUER) São celebrados entre a CCEE e os agentes de consumo do ACR e do ACL – distribuidores, autoprodutores na decorrência dos Contratos de Energia de Reserva (CER). TÓPICO 2 — MERCADO DE ENERGIA 33 • Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (PROINFA) Conforme descrito no Decreto nº 5.025, de 2004, foi instituído com o objetivo de aumentar a participação da energia elétrica produzida por empreendimentos concebidos com base em fontes eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCH) no Sistema Elétrico Interligado Nacional (SIN). De acordo com a Lei nº 11.943, de 28 de maio de 2009, o prazo para o início de funcionamento desses empreendimentos encerra em 30 de dezembro de 2010. O intuito é promover a diversificação da Matriz Energética Brasileira, buscando alternativas para aumentar a segurança no abastecimento de energia elétrica, além de permitir a valorização das características e potencialidades regionais e locais. Coube ao Ministério de Minas e Energia (MME), definir as diretrizes, elaborar o planejamento do Programa e definir o valor econômico de cada fonte e à Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras), o papel de agente executora, com a celebração de contratos de compra e venda de energia (CCVE) (PROINFA, 2021, s. p.). Para tanto, foi estabelecido que o valor pago pela energia elétrica adquirida, além dos custos administrativos, financeiros e encargos tributários incorridos pela Eletrobras na contratação desses empreendimentos, fossem rateados entre todas as classes de consumidores finais atendidas pelo SIN, com exceção dos consumidores classificados na Subclasse Residencial Baixa Renda (consumo igual ou inferior a 80 kWh/mês). • Contrato padrão ABRACEEL As condições gerais, quando incorporadas pelas partes, definem as operações necessárias para a atuação no mercado livre de energia elétrica brasileiro, em conformidade com a legislação aplicável e a regulação própria, tendo em vista a responsabilidade de cada parte, em toda e qualquer operação. As partes são: agente vendedor – agente de geração, agente de comercialização ou agente de importação, que seja habilitado em documento específico para tal fim. Em conformidade com as regras e os procedimentos de comercialização vigentes no momento de cada transação, as partes deverão especificar qual tipo de energia elétrica contratada (convencional, convencional especial, incentivada de cogeração qualificada ou incentivada especial), qual a quantidade contratada, ponto de entrega, cronograma de entrega e períodos de suprimento, modulação, sazonalização e flexibilidade mensal. Quanto ao Acordo Operacional de Compra e Venda de Energia Elétrica e a minuta das Condições Comerciais de Transação, estes documentos visam, fundamentalmente, orientar o relacionamento bilateral entre comercializadores de energiaelétrica, os quais podem ser utilizados em quaisquer casos de contratação no mercado livre. 34 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO Referente ao Acordo Comercial de Compra e Venda de Energia Elétrica, este documento visa, fundamentalmente, orientar o relacionamento entre comercializadores de energia elétrica e os respectivos consumidores, o qual poderá ser utilizado em quaisquer casos de contratação no mercado livre. 2.8 AGENTE VAREJISTA Esse tipo de agente foi criado há cerca de três anos e regulamentado na virada de 2015 para 2016, com o objetivo de simplificar o processo de migração, e operação dos consumidores, para o mercado livre. 2.9 ESTRATÉGIAS PARA MERCADO LIVRE DE ENERGIA Abordaremos a classificação de consumidores e modalidade de tarifa. Grupo “A” é o grupamento composto de unidades consumidoras, com fornecimento em tensão igual ou superior a 2,3 kV, ou, ainda, atendidas em tensão inferior a 2,3 kV a partir de sistema subterrâneo de distribuição e faturadas neste grupo nos termos definidos no art. 82, da Resolução n.º 456, de 29 de novembro de 2000, caracterizado pela estruturação tarifária binômia e subdividido em subgrupos, que são: • Subgrupo A1, é a classificação por tensão de fornecimento igual ou superior a 230 kV. • Subgrupo A2, é a classificação por tensão de fornecimento de 88 kV a 138 k. • Subgrupo A3, é classificada como tensão de fornecimento de 69 kV. • Subgrupo A3a, é classificada como tensão de fornecimento de 30 kV a 44 kV. • Subgrupo A4, é classificada como tensão de fornecimento de 2,3 kV a 25 kV. O Subgrupo AS é classificado como tensão de fornecimento inferior a 2,3 kV, atendidas a partir de sistema subterrâneo de distribuição e faturadas neste Grupo em caráter opcional. O Grupo “B”, é o grupamento composto de unidades consumidoras, com fornecimento em tensão inferior a 2,3 kV, ou, ainda, atendidas em tensão superior a 2,3 kV e faturadas neste grupo nós termos definidos nos arts. 79 a 81, da Resolução n.º 456, de 29 de novembro de 2000, caracterizado pela estruturação tarifária monômia e subdividido também em subgrupos, que são: • Subgrupo B1, classificação residencial. • Subgrupo B1, classificação residencial baixa renda. • Subgrupo B2, classificação rural. • Subgrupo B2, classificação cooperativa de eletrificação rural. • Subgrupo B2 é a classificação de serviço público de irrigação. • Subgrupo B3 são as demais classes. • Subgrupo B4 classificação de iluminação pública. TÓPICO 2 — MERCADO DE ENERGIA 35 O Horário de ponta (P) é o período definido pela concessionária e composto por três horas diárias consecutivas, exceção feita aos sábados, domingos, terça- feira de carnaval, sexta-feira da Paixão, Corpus Christi, dia de finados e os demais feriados definidos por lei federal, considerando as características do seu sistema elétrico. O horário fora de ponta (F) é o período composto pelo conjunto das horas diárias consecutivas e complementares àquelas definidas no horário de ponta. As modalidades tarifárias são um conjunto de tarifas aplicáveis às componentes de consumo de energia elétrica e demanda de potência ativas, considerando as modalidades Azul, Verde, Convencional Binômia, Convencional Monômia e Branca. A modalidade Azul é aplicada às unidades consumidoras do grupo “A”, caracterizada por tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica e de demanda de potência, de acordo com as horas de utilização do dia. A modalidade Verde é aplicada às unidades consumidoras do grupo “A”, caracterizada por tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica, de acordo com as horas de utilização do dia, assim como de uma única tarifa de demanda de potência. A modalidade Convencional Binômia é aplicada às unidades consumidoras do grupo “A”, caracterizada por tarifas de consumo de energia elétrica e demanda de potência, independentemente das horas de utilização do dia. Esta modalidade será extinta a partir da revisão tarifária da distribuidora. A modalidade Convencional Monômia é aplicada às unidades consumidoras do grupo “B”, caracterizada por tarifas de consumo de energia elétrica, independentemente das horas de utilização do dia. A modalidade Branca é aplicada às unidades consumidoras do grupo “B”, exceto para o subgrupo B4 e para as subclasses Baixa Renda do subgrupo B1, caracterizada por tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica, de acordo com as horas de utilização do dia. O período seco é o período de sete meses consecutivos, compreendendo os fornecimentos abrangidos pelas leituras do consumo de energia, de maio a novembro de cada ano. O período úmido é o período de cinco meses consecutivos, compreendendo os fornecimentos abrangidos pelas leituras do consumo de energia, de dezembro de um ano a maio do ano seguinte. A unidade consumidora é o conjunto de instalações e equipamentos elétricos caracterizada pelo recebimento de energia elétrica em um só ponto de entrega, com medição individualizada e correspondente a um único consumidor. O fator de carga (FC) é a razão entre a demanda média, e a demanda máxima da unidade consumidora, ocorridas no mesmo intervalo de tempo especificado (FC = kWh / kW * Nº Horas). Ele demonstra o quanto a energia elétrica é utilizada de forma eficiente. 36 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO A Tabela 5 mostra o subgrupo tarifário, tensão, contrato e opções de faturamento. TABELA 5 – OPÇÃO DE FATURAMENTO GRUPO “A” Subgrupo Tarifário Tensão [kV] Contrato [kW] Opções de Faturamento A1 V≥230 DC<3000 Cativo-Azul-Livre DC≥3000 Cativo-Azul-Livre A2 88 ≤V≤138 DC<3000 Cativo-Azul-Livre DC≥3000 Cativo-Azul-Livre A3 V = 69 DC<3000 Cativo-Azul-Livre DC≥3000 Cativo-Azul-Livre A3a 30 ≤V≤44 DC<300 Cativo – Convencional Cativo-Azul Cativo-Verde DC≥300 Cativo-AzulCativo-Verde DC≥500 Cativo-Azul Cativo-Verde Livre DC≥3000 (ligado após 07/08/1995) Cativo-Azul Cativo-Verde Livre A4 2,3 ≤V≤25 30 ≤DC<300 Cativo – Convencional Cativo-Azul Cativo-Verde 300 ≤DC<500 Cativo-AzulCativo-Verde DC≥500 Cativo-Azul Cativo-Verde Livre DC≥3000 (ligado após 07/08/1995) Cativo-Azul Cativo-Verde Livre FONTE: Florezi (2009, p. 41) 2.10 VISÃO ESTRATÉGICA DO GOVERNO A Agência Nacional de Energia Elétrica participa dos Planos Plurianuais (PPA) da Presidência da República. O PPA orienta o Planejamento Estratégico da Agência, juntamente com o atendimento global de competências legais a que a ANEEL se vincula. TÓPICO 2 — MERCADO DE ENERGIA 37 Conforme previsto no Decreto nº 2.335/1997 e no Regimento Interno da ANEEL, o Planejamento e a Gestão Estratégica são de responsabilidade do Comitê de Planejamento Estratégico (CPE), liderado pelo Diretor-Geral e composto pelos diretores e responsáveis pelas unidades organizacionais (superintendências e órgãos ligados à Diretoria/ processo decisório). Integrando-se ao planejamento governamental (políticas públicas, diretrizes gerais e setoriais, plano plurianual, lei orçamentária anual), está em vigor o Planejamento Estratégico para o ciclo 2014-2017, concebido a partir da orientação estratégica e dos objetivos de governo, aos quais se vinculam os objetivos setoriais para o setor de energia elétrica. 2.11 FORMAÇÃO DE PREÇOS Os gastos do setor industrial com energia elétrica podem representar mais de 40% de seus custos de produção. Nesse sentido, estudos e ações que mostrem seu atual patamar, a evolução desses valores e sua composição são imprescindíveis para uma atuação focada na promoção da competitividade da indústria. O custo da energia elétrica para o setor industrial encontra-se no patamar de 487,14 R$/MWh. O Gráfico 5 apresenta a evolução desse custo desde 2010. GRÁFICO 5 – CUSTO MÉDIO DE ENERGIA ELÉTRICA PARA INDÚSTRIA NO BRASIL FONTE:<https://bit.ly/370ONZ7>. Acesso em: 26 jul. 2021. O custo médio da energia elétrica pode ser dividido em cinco componentes: geração, transmissão e distribuição (GTD), perdas técnicas e não técnicas, encargos setoriais, bandeiras tarifárias, e tributos estaduais e federais. A Tabela 4 mostra a divisão de custo na formação de preço. 38 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO TABELA 6 – COMPOSIÇÃO DE CUSTO Item Reais/MWh % GTD 288,78 59,30 Perdas 35,75 7,30 Encargos 23,20 4,80 Bandeiras 7,73 1,60 Tributos 131,79 27,00 Total 487,14 100,00 FONTE: <https://bit.ly/3rZf3wE>. Acesso em: 26 jul. 2021. A parcela GTD representa a maior parte do custo médio, estando ligada efetivamente à cadeia produtiva da eletricidade. A geração diz respeito ao custo de produção da energia e é repassada integralmente aos consumidores pelas distribuidoras que compram o insumo majoritariamente em leilões regulados com contratos de longo prazo. Transmissão e distribuição, por sua vez, estão relacionadas ao transporte da energia até as unidades consumidoras, e seus custos referem-se ao pagamento das despesas com operação e manutenção dessas atividades, além de remunerar o capital investido. O item perdas refere-se tanto às perdas técnicas, quanto às não técnicas. As técnicas são aquelas inerentes ao sistema elétrico, e estão relacionadas à perda física de eletricidade nas redes de transmissão e de distribuição. As perdas não técnicas são as comerciais, derivadas de furtos e fraudes na medição. Os encargos setoriais são custos instituídos por lei, com a finalidade de remunerar serviços prestados, como apoiar o funcionamento do sistema elétrico, financiar o desenvolvimento e tornar viável a implantação de políticas públicas para o setor. O Sistema de Bandeiras Tarifárias, por sua vez, entrou em vigor em janeiro de 2015 e sinaliza aos consumidores os custos da geração de energia elétrica no país. A bandeira varia mensalmente, podendo ser verde, amarela ou vermelha. O último item refere-se aos tributos estaduais e federais. No âmbito federal, incide sobre a tarifa de energia elétrica o PIS/COFINS, enquanto no nível estadual é cobrado o ICMS. Os tributos correspondem por, em média, 27% do custo total de energia elétrica para a indústria nacional, representando grande perda de competitividade para o setor produtivo. No caso do PIS e da COFINS, por se tratarem de tributos federais, a alíquota é a mesma para todas as unidades federativas. Já para o ICMS, há diferenciação. TÓPICO 2 — MERCADO DE ENERGIA 39 O estado do Rio de Janeiro apresenta a maior carga tributária, em função do elevado ICMS local (32%), seguido pelo Paraná (29%) e Goiás (29%). A Bahia possui a menor tributação, com ICMS no patamar de 13%. O Gráfico 6 demonstra a incidência do ICMS sobre o custo de energia elétrica para a Indústria. GRÁFICO 6 – ICMS NACIONAL FONTE: <https://bit.ly/3rASEFH>. Acesso em: 26 jul. 2021. As diferenças nas alíquotas de ICMS influenciam o custo médio da energia, havendo grandes disparidades entre os estados. O Gráfico 7 demonstra a influência do ICMS no valor final da energia elétrica. GRÁFICO 7 – CUSTO MÉDIO DE ENERGIA (ICMS) FONTE: <https://bit.ly/3xb0V4h>. Acesso em: 26 jul. 2021. 40 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO No mercado livre, o consumidor tem gestão sobre o custo da energia, porém, os custos do transporte continuam sendo cobrados pelas distribuidoras. Consumidores especiais aferem desconto na tarifa fio. Consumidores convencionais que adquirem energia incentivada também têm direito à desconto na tarifa fio. A Figura 5 mostra as diferenças no custo final da energia. FIGURA 5 – CUSTO ACR X ACL FONTE: <https://bit.ly/2WTid9F>. Acesso em: 26 jul. 2021. A Tabela 7 mostra a expectativa de preço no ACL. TABELA 7 – EXPECTATIVA DE PREÇO ACL Ano Convencional [R$/MWh] Incentivada [R$/MWh] 2016 102 125 2017 135 195 2018 142 195 2019 140 195 2020 140 195 2021 140 195 FONTE: A autora 2.12 FATORES QUE AFETAM ESTES PREÇOS E SUAS DINÂMICAS Publicado em julho de 2016 pela Firjan, o estudo disposto na sequência mostra quais são os fatores que mais afetam preços e, também, suas dinâmicas. TÓPICO 2 — MERCADO DE ENERGIA 41 QUANTO CUSTA A ENERGIA ELÉTRICA PARA A PEQUENA E MÉDIA INDÚSTRIA NO BRASIL? A energia elétrica é insumo fundamental e estratégico, sendo o principal energético utilizado por 79% das empresas, e podendo representar mais de 40% de seus custos de produção. Em vista disso, seu fornecimento com segurança, qualidade adequada e a custos módicos é imprescindível para a garantia da competitividade da indústria nacional. Entretanto, nos últimos anos, o setor tem seguido no sentido oposto, com constantes elevações no custo da energia elétrica. Esta elevação se deve tanto a questões estruturais quanto conjunturais. Por um lado, a análise da matriz elétrica brasileira mostra uma elevada participação de fontes renováveis e tradicionalmente de menor custo, como as hidrelétricas (cerca de 65% da capacidade instalada). Entretanto, quase metade dessas usinas são as chamadas “a fio d’agua”, ou seja, não possuem grandes reservatórios de acumulação, o que deixa o sistema cada vez mais vulnerável a hidrologia. As chuvas abaixo da média histórica, no biênio 2014/2015, agravaram ainda mais esse quadro, provocando a necessidade de intensificação do acionamento termelétrico. Com isso, sua participação passou de um patamar de 9% em 2011 para mais de 25% em 2015, conforme mostra o Gráfico [8. Tal situação elevou o preço da energia elétrica, uma vez que a geração termelétrica é mais cara. O cenário desfavorável foi ainda pressionado com a exposição involuntária que se colocou nas distribuidoras. GRÁFICO 8 – PARTICIPAÇÃO NA GERAÇÃO TOTAL POR FONTE FONTE: Quanto [...] (2016, p. 2) A combinação de contratos de compra de energia em vencimento com leilões de contratação fracassados, levou à necessidade de aquisição de eletricidade pelas distribuidoras no mercado de curto prazo, que também se encontrava com preços em níveis elevados. 42 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO 2.13 ENCARGOS DE TRANSMISSÃO O pagamento do uso do sistema de transmissão é feito por meio da aplicação das Tarifas de Uso do Sistema de Transmissão (TUST), conforme Resolução Normativa ANEEL nº 559/2013, as tarifas são reajustadas anualmente no mesmo período em que ocorrem os reajustes da RAP (Receita Anual Permitida) das concessionárias de transmissão. Esse período tarifário inicia em 1º de julho do ano de publicação das tarifas até 30 de junho do ano subsequente. O cálculo da TUST é realizado a partir de simulação do Programa Nodal, que utiliza como dados de entrada a configuração da rede, representada por suas linhas de transmissão, subestações, geração e carga e a RAP total a ser arrecadada no ciclo. A parcela principal da TUST, a TUST-RB refere-se às instalações de transmissão integrantes da Rede Básica, com nível de tensão igual ou superior a 230 kV, utilizada para promover a otimização dos recursos elétricos e energéticos do sistema e, portanto, é aplicável a todos os usuários. O serviço de transmissão prestado pelas unidades transformadoras, previstas no art. 2º da REN nº 67/2004 é pago por distribuidoras que dele se beneficiam, mediante parcela específica da TUST, denominada TUST-FR, que incorpora, ainda, os custos de transporte associados às Demais Instalações de Transmissão (DITs) compartilhadas entre as concessionárias de distribuição. Outra tarifa calculada é a Tarifa de Transporte de Itaipu, aplicável às distribuidoras cotistas, que remunera as instalações de transmissão de uso exclusivo associado à usina Itaipu Binacional. Para exportadores e importadores de energia, sãocalculadas tarifas específicas para remunerar a Rede Básica (TUST exportação/importação) e, caso utilizem, para remunerar as instalações necessárias aos intercâmbios internacionais (TUII). As concessionárias não conseguiram arcar com as despesas destes novos e elevados custos, tornando necessária a concessão de subsídios do Tesouro Nacional, e segundo o Bloco Especial sobre Indústria e Energia da Sondagem Empresarial, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 2015, empréstimos em bancos comerciais, que estão sendo repassados às tarifas, impactando diretamente o custo da produção. FONTE: QUANTO custa a energia elétrica? Publicações Sistemas Firjan, Pesquisa e Estudos Socioeconômicos, Ambiente de Negócios, Rio de Janeiro, jul. 2016. Disponível em: http:// www.firjan.com.br/publicacoes/publicacoes-de-economia/quanto-custa-a-energia-eletrica. htm. Acesso em: 26 jul. 2021. TÓPICO 2 — MERCADO DE ENERGIA 43 A REN nº 666/2015 disciplina as regras de contratação do uso da Rede Básica, bem como regulamenta as disposições relativas às instalações de transmissão de energia elétrica destinadas a interligações internacionais, de que tratam os § 6º e 7º do art. 17 da Lei nº 9.074, de 7 de julho de 1995 (SGT, 2015). 2.14 MIX DE COMPRA DE ENERGIA O Brasil dispõe do maior mix de energia renovável no mundo industrializado, com mais de 45.5% de seu abastecimento originando-se de fontes como mananciais d’água, biomassa e etanol, além de energia solar e eólica. Usinas hidrelétricas são responsáveis por mais de 75% da energia elétrica gerada no país. Espera-se que a capacidade instalada do Sistema Interligado Nacional de energia deverá evoluir de aproximadamente 110 mil MW, em dezembro de 2010, para 171 mil MW, em dezembro de 2020, com a priorização de fontes renováveis como a hidráulica, a eólica e a biomassa. As medidas incluídas no Plano Decenal de Expansão de Energia brasileiro (PDE) pretendem reduzir a emissão de CO2 em 234 milhões de toneladas até 2020. Apesar de se esperar uma redução de 76% para 67% na participação da energia hidrelétrica em sua matriz energética, a geração oriunda de fontes alternativas, como a de usinas eólicas, de térmicas à biomassa e pequenas usinas hidrelétricas irá dobrar de 8% para 16% durante o decênio. A geração eólica será destaque, e sua participação na matriz energética brasileira deverá aumentar de 1% para 7% no mesmo período de tempo. Como resultado, a participação de fontes renováveis permanecerá em torno de 46,3% do total do mix energético até 2020, com uma demanda de investimento de aproximadamente US$ 120,8 bilhões. Grande parte destes investimentos refere-se a empreendimentos já autorizados, incluindo as usinas com contratos assinados nos leilões de energia nova. O montante a ser investido em novas é da ordem de US$ 63,6 bilhões, sendo 55% destes investimentos em usinas hidrelétricas e 45% no conjunto de outras fontes renováveis (BRASIL, 2011). 2.15 RISCOS EM ENERGIA “A partir do momento em que a empresa passa a realizar a compra de energia elétrica livremente, esta passa a ter os benefícios bem como passa a ter de administrar os riscos envolvidos nesta tomada de decisão” (RODRIGUES, 2017, s. p.). As vantagens e desvantagens são distintas e diretamente proporcionais nos riscos de mercado e operacionais. Na sequência foram listadas as vantagens e desvantagens: 44 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO • Livre negociação Apenas os consumidores livres podem negociar os preços da energia, diferente do mercado cativo. Se bem utilizada a ferramenta de negociação, o custo da energia livre pode ser mais atrativo que o preço do mercado regulado, gerando competitividade aqueles que souberem aproveitar bons momentos de compra de energia (RODRIGUES, 2017). • Controle de custos Somente no mercado livre de energia é possível ter controle de custos, sabendo exatamente o valor que será pago pela energia durante o tempo de contrato firmado. As alterações de tarifas de energia da ANEEL não surtirão efeito, visto que o contrato de suprimento de energia já foi realizado com um gerador ou comercializador de energia. No caso das tarifas de distribuição, seja o consumidor livre ou cativo, estas serão aplicadas da mesma forma (RODRIGUES, 2017). • Possibilidade de venda de energia elétrica Em momentos de alto preço de geração de energia no país, aqueles que detém sobras contratuais de energia podem ter grandes benefícios, vendendo excedentes a preços de mercado que podem ser muito maiores que o preço pago em contrato de compra. Apenas consumidores livres ou especiais tem direito a negociar excedentes de energia, ao passo que ao consumidor cativo não existe essa possibilidade (RODRIGUES, 2017). • Compra de energia no perfil do consumidor Mesmo havendo algumas preocupações que se deve ter em relação à energia elétrica quando se está atuando no mercado livre de energia, uma gestão ativa destes contratos, com constante monitoramento de consumo, preços e condições de contratação podem significar um grande salto na lucratividade da indústria. Situação bastante diferente do mercado regulado, no qual sua empresa não tem muitas alternativas. Apenas empresas no mercado livre de energia podem adequar produtos e condições de compra que se enquadrem no perfil de risco desejado, além de ser possível que a empresa garanta o consumo de 100% de energia renovável (RODRIGUES, 2017). • Exposição à preços voláteis Mesmo que no longo prazo, a energia no mercado livre tem se mostrado muito mais vantajosa que no mercado cativo, existe a possibilidade de que o valor seja desvantajoso em relação ao cativo em momentos de estresse de geração ou de alta demanda do setor. TÓPICO 2 — MERCADO DE ENERGIA 45 Porém, o segredo neste ponto é saber criar uma estratégia de compra que leve em consideração pontos de gatilhos de compra/venda, conforme alguns indicativos de preços sejam atingidos. Caso o valor de energia livre esteja muito atrativo, recomenda-se realizar uma compra futura de longo prazo, tirando qualquer risco de oscilação de preços que possam prejudicar a lucratividade da indústria (RODRIGUES, 2017). • Montantes de energia contratados maiores ou menores que o consumo Podemos chamar uma desvantagem do mercado livre de energia, o volume de energia a ser contratado pelo consumidor, que será um montante referente a projeções e seu perfil de consumo, podendo gerar sobras ou faltas de energia que não existem no mercado regulado. Isso porque o consumidor passa a ser responsável pela determinação do volume de energia que será contratado, e pelo seu consumo. Como uma indústria pode sofrer diferenças de volume de produção, o consumidor pode ficar exposto em alguns momentos a preços de energia mais caros na reposição de energia consumida maior que o contratado (RODRIGUES, 2017). Assista à playlist de vídeos do Prof. Luís César Emanuelli sobre Estrutura do Setor Elétrico Nacional (ONS, ANEEL, CCEE, EPE), disponível em: https://bit.ly/37nYD7u DICAS 46 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), criada pela Lei nº 10.848, de 15 de março de 2004, e regulamentada pelo Decreto nº 5.177, de 12 de agosto de 2004, tem por finalidade viabilizar a comercialização de energia elétrica no mercado de energia brasileiro. • O governo brasileiro estabeleceu, em 2004, um novo marco regulatório para o setor elétrico, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) começou a operar em 10 de novembro de 2004, sucedendo ao Mercado Atacadista de Energia (MAE) que já havia sucedido a Administradora de Serviços do Mercado Atacadista de Energia (ASMAE). • A CCEE efetua acontabilização e a liquidação financeira das operações realizadas no mercado de curto prazo. • As regras e os procedimentos de comercialização que regulam as atividades realizadas na CCEE são aprovados pela ANEEL. • As bandeiras tarifárias constituem um sistema que sinaliza aos consumidores os custos reais da geração de energia elétrica. • O funcionamento das bandeiras tarifárias é simples: as cores das bandeiras (verde, amarela ou vermelha) indicam se a energia custará mais ou menos em função das condições de geração de eletricidade. • Com as bandeiras, a conta de energia fica mais transparente e o consumidor tem a melhor informação para usar a energia elétrica de forma mais consciente. • É importante entender as diferenças entre as bandeiras tarifárias e as tarifas propriamente ditas. As tarifas representam a maior parte da conta de energia dos consumidores, e dão cobertura para os custos envolvidos na geração, transmissão e distribuição da energia elétrica, além dos encargos setoriais. • As Bandeiras Tarifárias, por sua vez, refletem os custos variáveis da geração de energia elétrica. Dependendo das usinas utilizadas para gerar a energia, esses custos podem ser maiores ou menores. Antes das bandeiras, essas variações de custos só eram repassadas no reajuste seguinte, o que poderia ocorrer até um ano depois. Com as bandeiras, a conta de energia passou a ser mais transparente e o consumidor tem a informação no momento em que esses custos acontecem. • As bandeiras refletem a variação do custo da geração de energia, quando ele acontece. 47 • Quando a bandeira está verde, as condições hidrológicas para geração de energia são favoráveis e não há qualquer acréscimo nas contas. Se as condições são um pouco menos favoráveis, a bandeira passa a ser amarela e há uma cobrança adicional, proporcional ao consumo, na razão de R$ 1,50 por 100 kWh (ou suas frações). • Já em condições ainda mais desfavoráveis, a bandeira fica vermelha e o adicional cobrado passa a ser proporcional ao consumo na razão de R$ 4,00 por 100 kWh (ou suas frações), para a bandeira vermelha – patamar 1; e na razão de R$ 6,00 por 100 kWh (ou suas frações), para a bandeira vermelha – patamar 2. A esses valores, são acrescentados os impostos vigentes. • A Resolução Normativa nº 547, de 16 de abril de 2013, estabelece os procedimentos comerciais para aplicação do sistema de bandeiras tarifárias. Além disso, ressaltamos que as os valores das bandeiras tarifárias serão publicados pela ANEEL, a cada ano civil, em ato específico. 48 1 Os consumidores livres pagam às companhias de distribuição pelo acesso e uso de suas redes, em valores equivalentes aos que são pagos pelos consumidores cativos. A diferença está na compra da energia. Com base nesse contexto, explique qual é a diferença entre os consumidores livres e cativos: FONTE: <https://bit.ly/3lBjg8j>. Acesso em: 30 jul. 2021. 2 A decisão de migrar para o mercado livre de energia é individual de cada consumidor. Alguns fatores devem ser contabilizados na tomada de decisões, são eles: a importância de energia para o processo produtivo, o valor da energia quando comparado com os custos dos insumos e com a rentabilidade de seu negócio, fatores específicos, tais como a compatibilidade do perfil de consumo com tarifas do cativo, elasticidade do consumo, capacidade de reduzir ou ampliar o consumo, de implementar projetos de eficiência, de consumir outros tipos de energéticos etc. Para tanto, o consumidor também deverá atender aos requisitos estabelecidos em lei para ter o direito de escolher o tipo de mercado que fará parte. Com base no exposto, explique o que é o mercado livre de energia: 3 “Para efeito de tarifação, o ano é dividido em dois períodos, um período seco que compreende os meses de maio a novembro (sete meses) e um período úmido, que compreende os meses de dezembro a abril (cinco meses). Em algumas modalidades tarifárias, no período seco o consumo tem preços mais elevados” (PROCEL, 2001, p. 6). Com base no exposto, explique com suas palavras o que é o período seco? FONTE: PROCEL – PROGRAMA NACIONAL DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. Manual de tarifação da energia elétrica. Brasília, DF: ELETROBRAS, 2001. p. 6. Disponível em: http://www.sef.sc.gov.br/arquivos_portal/assuntos/9/manual_de_tarifacao.pdf. Acesso em: 30 jul. 2021. 4 No Brasil existem mais de uma modalidade de tarifa de energia, que são definidas de acordo com o consumo e demanda de potência da unidade consumidora. Além disso, os consumidores são divididos em dois grupos distintos. Com base nesse contexto, disserte sobre a modalidade de tarifa branca: FONTE: <https://www.briskcom.com.br/blog-quais-sao-as-modalidades-de-tarifa-de-energia/>. Acesso em: 30 jul. 2021. 5 A ANEEL desenvolve metodologias de cálculo tarifário para os diversos segmentos do setor elétrico (geração, transmissão, distribuição e comercialização), considerando fatores como a infraestrutura, fatores econômicos de incentivos à modicidade tarifária e sinalização ao mercado. Vale ressaltar que estamos tratando aqui da tarifa do consumidor cativo, aquele que, compulsoriamente, compra energia da concessionária regional. AUTOATIVIDADE 49 Este consumidor não tem poder de negociação e para ter acesso a energia elétrica deve se sujeitar a tarifa estipulada pela ANEEL. O consumidor livre de energia, por outro lado, escolhe o fornecedor que melhor atende as suas expectativas e com ele pode negociar o preço que irá pagar pela energia consumida. Com base no exposto, disserte sobre a diferença entre a modalidade de tarifa azul e a modalidade de tarifa verde: FONTE: <https://www.briskcom.com.br/blog-quais-sao-as-modalidades-de-tarifa-de-energia/>. Acesso em: 30 jul. 2021. 6 O MAE, antecessor da CCEE, responsável pela implementação e pela execução de todo o processo, desenvolveu uma sistemática própria para esse leilão, utilizando sistema do Banco do Brasil para que os interessados pudessem comprar e vender energia por meio eletrônico, via internet, de forma clara, eficaz e segura. O leilão público atendeu ao disposto no artigo 27 da Lei nº 10.438/2002. Com base no exposto, analise as sentenças seguintes: FONTE: <https://bit.ly/37joE7Y>. Acesso em: 30 jul. 2021. I- O leilão de fontes alternativas foi instituído com o objetivo de atender ao crescimento do mercado no ambiente regulado e aumentar a participação de fontes renováveis – eólica, biomassa e energia proveniente de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) – na matriz energética brasileira. II- O leilão de fontes alternativas foi regulamentado por meio do Decreto nº 9.048, de 29 de fevereiro de 2008, o qual altera a redação do Decreto nº 7.163, de 30 de julho de 2004. III- O leilão de excedentes foi realizado pelo MAE em 2003, e teve como objetivo a venda dos excedentes de energia elétrica das concessionárias e autorizadas de geração decorrentes da liberação dos contratos iniciais, bem como os montantes estabelecidos nas Resoluções Normativas da ANEEL nº 297, 454 e 455, todas de 1999, compreendidos como energia de geração própria. É CORRETO apenas o que se afirma em: a) ( ) I. b) ( ) II. c) ( ) III. d) ( ) I, II e III. 7 O fornecimento da energia elétrica com segurança, qualidade adequada e a custos módicos é imprescindível para a garantia da competitividade da indústria nacional. Entretanto, nos últimos anos, o setor tem seguido no sentido oposto, com constantes elevações no custo da energia elétrica. Com base no exposto, analise as sentenças seguintes: FONTE: <https://www.firjan.com.br/publicacoes/publicacoes-de-economia/quanto-custa-a- energia-eletrica.htm>. Acesso em: 30 jul. 2021. 50 I- A energia elétrica é insumo fundamental e estratégico, sendo o principalenergético utilizado por 79% das empresas e podendo representar mais de 40% de seus custos de produção. II- A elevação da tarifa de energia elétrica não se deve tanto a questões estruturais e conjunturais. III- Quase um terço das usinas são as chamadas “a fio d’agua”, ou seja, não possuem grandes reservatórios de acumulação, o que deixa o sistema cada vez mais vulnerável a hidrologia. É CORRETO apenas o que se afirma em: a) ( ) I. b) ( ) II. c) ( ) III. d) ( ) I, II e III. 8 O Sistema Interligado Nacional (SIN) é um sistema de coordenação e controle que congrega o sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil, um sistema hidrotérmico de grande porte, com predominância de usinas hidrelétricas e proprietários múltiplos, estatais e privados. Foi criado em 1998 através da Resolução nº 351 do Ministério das Minas e Energia, em conformidade com a Lei 9.648/1998 e o Decreto 2.655/1998. Apenas 1,7% da capacidade de produção de eletricidade do país encontra-se fora do SIN, em pequenos sistemas isolados localizados principalmente na região amazônica. Com base no exposto, classifique em V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A análise da matriz elétrica brasileira mostra uma elevada participação de fontes renováveis e tradicionalmente de menor custo, como as hidrelétricas (cerca de 65% da capacidade instalada). ( ) No Brasil, a energia é proveniente, principalmente, de hidrelétricas de grande porte. As usinas térmicas também desempenham papel fundamental, pois complementam a geração hidrelétrica em períodos de estiagem e, em horários de pico. ( ) O sistema é atualmente dividido em três submercados (sudeste, nordeste e norte). ( ) Submercados são divisões do Sistema Integrado Nacional (SIN) para as quais são estabelecidos os Preços de Liquidação de Diferenças (PLDs) iguais e cujas fronteiras são definidas em razão da presença e duração de restrições relevantes de transmissão aos fluxos de energia elétrica no SIN. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – V – F – V. b) ( ) F – F – V – V. c) ( ) V – F – V – F. d) ( ) V – V – F – F. 51 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 ÓRGÃOS REGULAMENTADORES E CONCESSIONÁRIAS POR REGIÃO BRASILEIRA 1 INTRODUÇÃO As atividades relacionadas ao setor elétrico brasileiro são conduzidas por normas e leis sugeridas pelos poderes legislativo e executivo e pelos órgãos reguladores. O sistema elétrico de potência brasileiro é composto por diversos órgãos regulamentadores e fiscalizadores, são eles: • A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) possui um site muito rico em conhecimento e sempre disponibiliza relatórios e a legislação do setor atualizada, bem como notícias de novas pesquisas. • O site do Operador Nacional do Sistema (ONS) possui diversas informações do sistema de transmissão monitorado por ele, bem como seu planejamento de expansão. • A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) é responsável por viabilizar a comercialização de energia elétrica no Brasil, controlando e fiscalizando os contratos firmados no mercado livre de energia. • Ministério de Minas e Energia (MME) estabelece o planejamento do setor elétrico nacional, e pela formulação da implementação de políticas energéticas. É um órgão do governo federal que é responsável pela condução das políticas energéticas do Brasil. • Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) também é presidido pelo Ministro de Estado de Minas e Energia. Ele é um órgão de assessoramento do Presidente da República para formulação de políticas e diretrizes de energia. As associações do setor elétrico brasileiro são: • ABCE - Associação Brasileira de Concessionárias de Energia Elétrica. • ABRADEE - Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica. • ABRAGE - Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica. • ABRATE - Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica. • APINE - Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica. Mas há ainda outros órgãos relacionados ao setor energético, que são: 52 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO • ANA - Agência Nacional de Águas. • ANP - Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. • Eletrobras - Centrais Elétricas Brasileiras S.A. • Governos Estaduais. • IBAMA -Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. • Sistemas meteorológicos locais da concessionária de energia em questão. 2 O SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL (ONS) O sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil é um sistema hidro-termo-eólico de grande porte, com predominância de usinas hidrelétricas e com múltiplos proprietários. O Sistema Interligado Nacional é constituído por quatro subsistemas: sul, sudeste/centro-oeste, nordeste e a maior parte da região norte. A interconexão dos sistemas elétricos, por meio da malha de transmissão, propicia a transferência de energia entre subsistemas, permite a obtenção de ganhos sinérgicos e explora a diversidade entre os regimes hidrológicos das bacias. A integração dos recursos de geração e transmissão permite o atendimento ao mercado com segurança e economicidade. A capacidade instalada de geração do SIN é composta principalmente por usinas hidrelétricas distribuídas em 16 bacias hidrográficas nas diferentes regiões do país. Nos últimos anos, a instalação de usinas eólicas, principalmente nas regiões Nordeste e Sul, apresentou um forte crescimento, aumentando a importância dessa geração para o atendimento do mercado. As usinas térmicas, em geral localizadas nas proximidades dos principais centros de carga, desempenham papel estratégico relevante, pois contribuem para a segurança do SIN. Essas usinas são despachadas em função das condições hidrológicas vigentes, permitindo a gestão dos estoques de água armazenada nos reservatórios das usinas hidrelétricas, para assegurar o atendimento futuro. Os sistemas de transmissão integram as diferentes fontes de produção de energia e possibilitam o suprimento do mercado consumidor. 2.1 ELETROBRAS A criação da Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras) foi proposta em 1954 pelo presidente Getúlio Vargas. O projeto enfrentou grande oposição e só foi aprovado após sete anos de tramitação no Congresso Nacional. TÓPICO 3 — ÓRGÃOS REGULAMENTADORES E CONCESSIONÁRIAS POR REGIÃO BRASILEIRA 53 Em 25 de abril de 1961, o presidente Jânio Quadros assinou a Lei 3.890-A, autorizando a União a constituir a Eletrobras. A instalação da empresa ocorreu oficialmente no dia 11 de junho de 1962, em sessão solene do Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica (CNAEE), no Palácio Laranjeiras, no Rio de Janeiro, com a presença do presidente João Goulart (ORGANOGRAMA, 2021). A Eletrobras recebeu a atribuição de promover estudos, projetos de construção e operação de usinas geradoras, linhas de transmissão e subestações destinadas ao suprimento de energia elétrica do país. A nova empresa passou a contribuir decisivamente para a expansão da oferta de energia elétrica e o desenvolvimento do país. As reformas institucionais e as privatizações na década de 1990 acarretaram a perda de algumas funções da estatal e mudanças no perfil da Eletrobras. Nesse período, a companhia passou a atuar também, por determinação legal e transitoriamente, na distribuição de energia elétrica, por meio de empresas nos estados de Alagoas, Piauí, Rondônia, Acre, Roraima e Amazonas. A Eletrobras encerrou suas atividades no setor de distribuição em 2018. A Eletrobras é líder em geração e transmissão de energia elétrica no país e contribuímospara que a matriz energética brasileira seja uma das mais limpas e renováveis do mundo. Também atuamos nos segmentos de comercialização e eficiência energética, além de programas como o Procel, o Programa Luz para Todos e o Proinfa. Maior companhia do setor elétrico da América Latina, a Eletrobras é uma empresa de capital aberto, que tem como acionista majoritário o Governo Federal. Ela adota estratégias voltadas para governança e conformidade, excelência operacional, disciplina financeira, atuação sustentável e valorização das pessoas e, por meio das empresas conjuntas e do centro de pesquisas, a Eletrobras está presente em todas as regiões do Brasil (SOBRE [...], 2021). Sobre a Eletrobras, pode-se citar que (SOBRE [...], 2021): • é a maior empresa de geração de energia elétrica brasileira, com capacidade geradora equivalente a cerca de 1/3 do total da capacidade instalada do país; • possui mais de 90% da capacidade instalada provinda de fontes com baixa emissão de gases de efeito estufa; • é a empresa líder em transmissão de energia elétrica no Brasil, com aproximadamente metade do total de linhas de transmissão do país em sua rede básica, em alta e extra alta tensão. • os investimentos previstos de R$ 19,756 bilhões entre 2018 e 2022. A Figura 6 mostra o organograma da Eletrobras: 54 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO FIGURA 6 – ORGANOGRAMA DA ELETROBRAS FONTE: <https://eletrobras.com/pt/PublishingImages/Paginas/Organograma/organograma.jpg>. Acesso em: 26 jul. 2021. A Eletrobras (Centrais Elétricas Brasileiras S/A) é a empresa líder em geração e transmissão de energia elétrica na América Latina. Responsável por 29% da capacidade geradora instalada no Brasil, contribui para que a matriz elétrica do país seja uma das mais limpas do mundo, já que 97% de nossa capacidade instalada têm origem em fontes com menor emissão de gases de efeito estufa. Em transmissão, são 76 mil quilômetros de linhas considerando empreendimentos corporativos e linhas que são sociedades de propósitos específicos. Se consideradas apenas as linhas da rede básica, são 70 mil quilômetros, correspondendo a 43,54% do Sistema Interligado Nacional. Empresa de capital aberto, tem o governo federal como controlador. Está presente em todo o território nacional e gera 13.803 empregos diretos. Foi criada pela Lei n.º 3.890- A, datada de 25 de abril de 1961. A Eletrobras, que entrou em operação no Rio de Janeiro em 1962, controla como principal acionista seis subsidiárias, além de ser a principal patrocinadora da CEPEL. É dona, em nome do governo brasileiro, de 50% do capital da Itaipu Binacional. Até dezembro de 2020, ela possuía oito projetos internacionais, mantendo 4,7 GW em geração. Na área de transmissão, opera com linhas que interligam o país com: Argentina, Uruguai e Venezuela, totalizando 1,5 mil quilômetros. A Eletrobras ainda possui estudos para o projeto Arco Norte, que prevê a construção de uma linha de transmissão de cerca de 1,9 mil quilômetros passando por Brasil, Guiana, Guiana Francesa e Suriname. TÓPICO 3 — ÓRGÃOS REGULAMENTADORES E CONCESSIONÁRIAS POR REGIÃO BRASILEIRA 55 2.2 CÂMARA DE COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA – CCEE A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) é a entidade responsável por gerir o mercado de energia elétrica no Brasil. Sem fins lucrativos, ela foi criada pela Lei nº 10.848, de 15 de março de 2004, e é regulamentada pelo Decreto nº 5.177, de 12 de agosto de 2004. A CCEE viabiliza as atividades de compra e venda de energia elétrica no país e realiza a contabilização e a liquidação financeira no mercado de curto prazo. Assim, a entidade faz o cálculo do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), divulgado semanalmente e usado para valorar as operações de compra e venda de energia no Brasil. Conforme a própria entidade, são responsabilidades da CCEE: • Implantar e divulgar regras e procedimentos de comercialização. • Fazer a gestão de contratos do Ambiente de Contratação Regulada (ACR) e do Ambiente de Contratação Livre (ACL). • Manter o registro de dados de energia gerada e de energia consumida. • Realizar leilões de compra e venda de energia no ACR, sob delegação da ANEEL. • Realizar leilões de Energia de Reserva, sob delegação da ANEEL, e efetuar a liquidação financeira dos montantes contratados nesses leilões. • Apurar infrações que sejam cometidas pelos agentes do mercado e calcular penalidades. • Servir como fórum para a discussão de ideias e políticas para o desenvolvimento do mercado, fazendo a interlocução entre os agentes do setor com as instâncias de formulação de políticas e de regulação. A CCEE é uma entidade sem fins lucrativos, sendo mantida pelas empresas que compram e vendem energia no Brasil, como as empresas geradoras (concessionárias de serviço público, produtores independentes e autoprodutores), distribuidoras, comercializadoras, importadoras e exportadoras de energia elétrica, além dos consumidores livres. Um conselho de administração, composto por cinco membros eleitos pela Assembleia Geral dos Associados, é responsável pela gestão da entidade. Já a superintendência da CCEE, garante a execução das decisões e diretrizes estratégicas adotadas pelo conselho de administração, e atua como responsável pelas questões operacionais da instituição. O organograma da entidade é composto ainda pelo conselho fiscal, cuja função é zelar pelo cumprimento dos deveres estatutários e fiscaliza os atos administrativos. Em julho de 2020, a CCEE chegou à marca de 10 mil associados. Entre eles, mais de 69% são compostos por consumidores especiais, ou seja, aqueles que têm demanda entre 500 kW e 1,5 MW. Já os consumidores livres – que têm demanda mínima de 1.500 kW – compunham pouco menos de 10% dos associados da CCEE. Os demais agentes são: produtores independentes (15,3%); comercializadoras (3,7%); autoprodutores (0,7%); e geradores a título de serviço público (0,4%). 56 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO A CCEE é responsável pela contabilização, e pela liquidação financeira no mercado de curto prazo de energia. A entidade realiza o cálculo e da divulgação do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), o qual é usado como referência de valores nas operações de compra e venda de energia. De acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, “o PLD é um valor determinado semanalmente para cada patamar de carga com base no Custo Marginal de Operação, limitado por um preço máximo e mínimo vigentes para cada período de apuração e para cada submercado” (VOCÊ SABE [...], 2021, s. p.). Para o cálculo do PLD, a CCEE leva em consideração que a maior parte do parque de energia elétrica do Brasil é formado por hidrelétricas. O objetivo é manter o equilíbrio entre a capacidade de energia atual das águas e a capacidade futura de armazenamento, medido em termos da economia esperada dos combustíveis das usinas termelétricas. Embora o máximo consumo de energia hidrelétrica possa minimizar os custos de combustível e ser a alternativa mais econômica, esse raciocínio poderia levar a riscos futuros. A confiabilidade de fornecimento de energia elétrica no Brasil, depende justamente de manter o nível dos reservatórios o mais elevado possível. Por isso, é feito o uso de gerações térmicas, o que aumenta os custos de operação. Assim, para definir a geração hidráulica e a geração térmica de cada submercado, a CCEE utiliza modelos matemáticos que consideram: • condições hidrológicas; • demanda de energia; • preços de combustível; • custo de déficit; • entrada de novos projetos; • disponibilidade de equipamentos de geração e transmissão. A partir da análise desses fatores e da definição das gerações elétrica e térmica,são alcançados os Custos Marginais para Operação (CMO) para o período estudado. Para o cálculo do PLD, não são consideradas restrições de transmissões em cada submercado. A CCEE considera a energia comercializada como disponível de forma igualitária em todos os pontos de consumo. Dessa forma, é praticado o mesmo preço para todas as regiões. O Preço de Liquidação das Diferenças é divulgado semanalmente e impacta no valor que os consumidores do mercado livre de energia negociam com geradoras ou comercializadoras. TÓPICO 3 — ÓRGÃOS REGULAMENTADORES E CONCESSIONÁRIAS POR REGIÃO BRASILEIRA 57 2.3 COMITÊ DE MONITORAMENTO DO SETOR ELÉTRICO (CMSE) O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico foi criado em 2004. O CMSE é um órgão sob coordenação do Ministério de Minas e Energia, tendo como sua principal função acompanhar a segurança do suprimento de energia elétrica em todo o território nacional. Integram permanentemente o conselho membros do Ministério de Minas e Energia (MME), do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Este órgão sofre algumas críticas por parte do mercado, consumidores e empresas, pois todos os seus membros são vinculados ao governo, e há falta de transparência por parte do comitê, pois as suas atas não eram publicadas, levando o desconhecimento quanto ao cenário de suprimentos discutidos. Entretanto, as associações do setor uniram suas forças exercendo pressão política para inserir um membro permanente no CMSE, sendo que a decisão por parte do MME veio em julho de 2012, permitindo a participação de um membro que represente as associações do setor elétrico nacional. Curiosamente, pouco tempo depois de enviarem um ofício permitindo a participação de um membro permanente representante das associações, foi retirada a permissão, através de uma carta, e retornaram ao modelo anterior, convidando esporadicamente um membro representante das associações de acordo com a vontade do Conselho. Após pressão para divulgarem as atas, estas acabaram sendo publicadas, entretanto, ainda sob protestos de pouca transparência no que foi discutido nas reuniões. Compete ao CMSE: • acompanhar o desenvolvimento das atividades da cadeia produtiva do SEP – geração, distribuição, transmissão, comercialização, importação e exportação de energia elétrica, gás natural, petróleo e seus derivados; • avaliar as condições de atendimento e abastecimento, em relação aos itens anteriores em horizontes pré-determinados; • analisar periodicamente a segurança no abastecimento em relação ao mercado de energia elétrica, gás natural e petróleo, em relação à demanda, oferta, qualidade dos insumos energéticos e transporte; • identificar possíveis entraves técnicos, ou administrativos, que possam afetar a segurança no abastecimento de energia; • elaborar propostas para sanar ou prevenir eventuais dificuldades supracitadas. 58 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO 3 CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA ENERGÉTICA – CNPE O CNPE é o órgão de assessoramento do presidente da República para formulação de políticas nacionais e diretrizes de energia, que visa, dentre outros, o aproveitamento racional dos recursos energéticos do país, a revisão periódica da matriz energética e o estabelecimento de diretrizes para programas específicos. É o órgão interministerial presidido pelo Ministro de Minas e Energia (MME). É de responsabilidade do CNPE a formulação de políticas que garantem o suprimento de insumos energéticos nas mais diversas áreas do país, bem como revisar periodicamente as matrizes energéticas das regiões do país. Também é de sua competência estabelecer diretrizes com as mais diversas fontes energéticas, a exemplo do gás natural, biocombustíveis, carvão, energia solar e eólica, entre outras. Destaca-se como atuação do CNPE, a indicação dos empreendimentos das usinas hidrelétricas de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte. O CNPE promove o aproveitamento racional dos recursos energéticos com base nos seguintes princípios: • assegurar o desenvolvimento sustentado bem como a valorização dos recursos energéticos; • preservação dos interesses do país; • proteção dos interesses do consumidor de energia; • proteção do meio ambiente e conservação de energia; • enumerar soluções adequadas para o suprimento de energia às mais diversas regiões do país; • utilização racional de fontes renováveis de energia; • promover a livre concorrência; • atrair investimentos na geração de energia; • ampliar a competitividade do país frente ao mercado internacional. Para um maior conhecimento do assunto, sugerimos a leitura dos seguintes materiais: • ELGERD, O. I. Introdução à teoria de sistemas de energia elétrica. New York: McGrawHill, Inc., 1981. • GLOVER, J. D.; SARMA, M. S. Power system analysis and design. 3 ed. Belmont, CA: Thomson Learning, Inc., 2002. • GRAINGER, J. J.; STEVENSON Jr, W. D. Power system analysis. New York: McGraw-Hill, Inc., [201?]. • DAS, J. C. Power system analysis: short-circuit load flow and harmonics. 2. ed. Boca Raton, FL: CRC Press, 2016. • MONTICELLI, J.; GARCIA, A. V. Introdução a sistemas de energia elétrica. Campinas: Editora da Unicamp, 2003. DICAS TÓPICO 3 — ÓRGÃOS REGULAMENTADORES E CONCESSIONÁRIAS POR REGIÃO BRASILEIRA 59 • OLIVEIRA, C. C. B. de et al. Introducão a sistemas elétricos de potência: componentes simétricas. São Paulo: E. Blucher, 2000. 467 p. • STEVENSON Jr., W.D. Elementos de análise de sistemas de potência. 2. ed. New York: McGraw-Hill, 1986. • ZANETTA Jr., L. C. Fundamentos de sistemas elétricos de potência. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2006. 312 p. ISBN: 8588325411. A ECONOMIA COMPORTAMENTAL E O APERFEIÇOAMENTO DAS BANDEIRAS TARIFÁRIAS DA ENERGIA ELÉTRICA Daniel Danna Luís Henrique Paiva [...] Embora a fatura seja um dos principais meios de comunicação com o consumidor, não é o único. A bandeira tarifária que será vigente para o mês seguinte, por exemplo, é divulgada mensalmente, na última sexta do mês. A ANEEL publica em sua página web texto sobre a bandeira, outras mídias, como LinkedIn, e disponibilização para canais de imprensa de releases sobre as mudanças. A Agência disponibiliza ainda vídeos informativos das bandeiras em redes como o YouTube. Na imprensa, a repercussão da bandeira é ampla, sendo possível observar nos jornais impressos e televisivos divulgação da cor da bandeira para o próximo mês. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – IDEC também se notabiliza pelo seu empenho em prestar a melhor informação ao consumidor. Em sua página web é possível encontrar explicação do funcionamento das bandeiras. A crítica feita pelo Instituto está relacionada à possível redução de consumo com a bandeira vermelha e a necessidade de verificação por parte da ANEEL. [...] RESULTADOS E ANÁLISE: PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO RELACIONADAS ÀS BANDEIRAS TARIFÁRIAS Possíveis elementos comportamentais que afetam a compreensão e a avaliação das bandeiras tarifárias LEITURA COMPLEMENTAR 60 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO Como afirmamos, o mecanismo das bandeiras tarifárias deveria ser compreensível e bem avaliado, caso os consumidores fossem racionais. Foi visto, no entanto, que as bandeiras são pouco compreendidas e, como regra, mal avaliadas, o que sugere a presença de elementos comportamentais. Sugere-se que as limitações de atenção e de capacidade de processamento de informação por parte dos agentes comportamentais possam explicar a aparente incoerência entre a grande quantidade de informações disponíveis sobre as bandeiras tarifárias e o fato de que, apesar disso, elas não serem plenamente compreendidas. Ainformação existe e está disponível, mas longe do formato apropriado para agentes comportamentais com Sistemas 2 sobrecarregados e atenção limitada – o que exigiria uma comunicação simplificada, salientando os pontos mais relevantes. A heurística da disponibilidade pode contribuir para a má avaliação das bandeiras. Com efeito, com todos os problemas de comunicação existentes, ainda assim pode-se supor que a saliência da informação das bandeiras amarelas e vermelhadas seja muito maior do que da bandeira verde. Para muitos consumidores, a frequência com a qual tais bandeiras são acionadas parece ser muito maior do que a frequência efetiva. Outros dois elementos comportamentais podem contribuir para a incompreensão e a má avaliação das bandeiras tarifárias. A aversão à perda parece ser um elemento comportamental relevante. As entrevistas apresentadas anteriormente sugerem que parte dos consumidores não veem as bandeiras como um mecanismo de sinalização, mas como um mecanismo de penalização, que impõe perdas aos consumidores. Uma intervenção que tenha como objetivo melhorar a avaliação das bandeiras certamente terá que levar isso em conta. Finalmente, um último elemento comportamental talvez tenha relevância para entender a má avaliação do mecanismo das bandeiras tarifárias, o desconto hiperbólico, definido como um desconto intertemporal a taxas decrescentes (LOEWENSTEIN e PRELEC, 1992). Esse tipo de desconto intertemporal faz com que a utilidade (ou desutilidade) imediata seja muito maior do que a utilidade (ou desutilidade) posterior. Isso gera uma valorização excessiva do presente, o que explicaria, por exemplo, a dificuldade de realizar sacrifícios presentes em nome de benefícios futuros ou a facilidade em procrastinar tarefas desagradáveis. O mecanismo das bandeiras tarifárias tem o mérito de suavizar o processo de revisão anual das tarifas. Isso ocorre, entretanto, por meio da antecipação, para o consumidor, de certos custos variáveis (mais especificamente, o custo adicional do despacho da energia térmica em períodos de pouca chuva). Consumidores afetados pelo desconto hiperbólico nos seus cálculos intertemporais, entretanto, poderiam avaliar que os ganhos de médio prazo (uma alteração tarifária anual mais baixa) teriam utilidade muito menor do que a desutilidade provocada pelo aumento da conta de energia elétrica provocado, no curto prazo, pelo acionamento das bandeiras amarela e vermelha. TÓPICO 3 — ÓRGÃOS REGULAMENTADORES E CONCESSIONÁRIAS POR REGIÃO BRASILEIRA 61 O grupo composto por servidores da ANEEL e do Gnova, mencionado anteriormente e do qual os autores foram integrantes, discutiu propostas para aperfeiçoamento das bandeiras levando em conta alguns desses insights comportamentais. Essa discussão envolveu mudanças na fatura, a comunicação de forma ampla com a sociedade, bem como a regra de acionamento da bandeira. Serão apresentadas duas propostas de intervenção lastreadas nos fundamentos da economia comportamental. Ambas são relevantes sob os aspectos da comunicação e o bom entendimento dos consumidores, assim como preservam o sistema como garantia de equilíbrio econômico das distribuidoras. Essas propostas buscam o aperfeiçoamento das bandeiras. Por afetarem normas regulatórias, não é possível implementá-las de forma imediata, dado que são necessárias alterações nas regras previstas no PRORET e no PRODIST e, portanto, necessitam de ampla discussão, por meio da realização de consulta pública. Este processo de legitimação e validação das regras com participação pública não será explorado neste estudo, sendo o escopo aqui delimitado à avaliação comportamental e à elaboração de propostas comportamentalmente alinhadas. Proposta de Intervenção 1: vinculação da bandeira ao período de faturamento A primeira proposta de intervenção comportamental está relacionada à alteração do período de vigência da bandeira. Atualmente seu anúncio ocorre toda última sexta feira do mês e sua vigência é para todo mês civil seguinte, ou seja, do primeiro ao último dia de determinado mês. Este anúncio de véspera permite, por um lado, que o consumidor mais atento possa adequar seu consumo de energia a partir do dia 1º, se assim for desejado por ele, mas causa grande confusão ao ver como esta informação está refletida na fatura. Conforme exposto, a informação sobre bandeira é apresentada na fatura quando é mostrado o cálculo do adicional tarifário. O ciclo de faturamento varia de consumidor a consumidor: ele tem a opção de escolher 6 possíveis datas para o vencimento de sua fatura. Em outras palavras, o ciclo de faturamento não corresponde necessariamente ao mês civil. Mesmo que haja o propósito de se informar a bandeira vigente na fatura, consumidores com datas próximas ao início ou ao fim do mês interpretarão de maneiras distintas a informação, sendo aquele faturado no início beneficiado com informação da bandeira para o restante do mês. Para o consumidor faturado no fim do mês, restará pouca possibilidade de reação. Portanto, na primeira proposta, a bandeira tarifária deveria coincidir com o ciclo de faturamento, de tal sorte que na fatura seja visualizada o cálculo do valor relativo a apenas uma única bandeira, quando for o caso. Assim, a proposta em si é desvincular a bandeira tarifária do mês civil e passar a tratá-la por ciclo de faturamento, permitindo (i) que o faturamento de um ciclo seja feito na vigência 62 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO de uma única bandeira e (ii) que a informação da bandeira tarifária vigente possa ser mais facilmente transmitida ao (e compreendida pelo) consumidor, que poderá alterar seu de consumo, caso queira. Tal proposta foi discutida em alguma medida no grupo de trabalho da ANEEL e Gnova e, até a data de realização deste trabalho, está em fase de refinamento e amadurecimento. A proposta de vincular a bandeira ao período de faturamento diminui a quantidade de informações a serem processadas, possibilita um meio de comunicação simples da bandeira vigente, por meio da fatura, e facilita uma compreensão mais rápida e intuitiva. A associação da bandeira vigente ao período de faturamento faria mais sentido do que o sistema atual. Aquela bandeira, anunciada publicamente, estará refletida em sua integralidade no período que para o consumidor faz mais sentido, que é justamente o período entre faturas. Isso permitiria que a bandeira do próximo período viesse bem destacada na fatura, de forma que, ao ver sua conta, não seria necessário acionar o Sistema 2 – deliberativo e lógico, mas preguiçoso, nos termos definidos por Kahneman (2012). Ao contrário, a identificação da próxima bandeira seria rápida e automática, o que ela representa em termos de condições de geração e o resultado do esforço para a redução de consumo, se for a opção do consumidor, estaria bem identificado e livre de contaminação entre bandeiras distintas numa mesma conta. Pelas razões apresentadas, vincular a bandeira ao ciclo de faturamento é uma solução comportamental bastante relevante, capaz de simplificar informações e facilitar o processo cognitivo dos consumidores. Proposta de Intervenção 2: alteração no cálculo da bandeira tarifária A segunda proposta tem o objetivo de alterar o funcionamento das bandeiras. Hoje, sempre que uma bandeira é acionada, um custo (uma perda, portanto) é imposto ao consumidor. A proposta redesenha as bandeiras e permite que o consumidor tenha, a depender da situação hidrológica, ganhos ou perdas quando as bandeiras forem acionadas. Para tanto, o patamar de neutralidade da bandeira seria fixado no nível que hoje corresponde à cor amarela. Todo o cálculo original seria,portanto, alterado, o que levaria a uma elevação do custo de geração nos cálculos do reajuste/revisão tarifária. Dessa forma, seria possível que o consumidor recebesse um desconto quando as condições de geração estivessem mais favoráveis que o estimado no cálculo inicial. Se as condições estiverem conforme a previsão não haveria acionamento de bandeira, e se estiverem desfavoráveis, dependendo da TÓPICO 3 — ÓRGÃOS REGULAMENTADORES E CONCESSIONÁRIAS POR REGIÃO BRASILEIRA 63 intensidade, seria acionada bandeira amarela (que ficaria no lugar hoje ocupado pela bandeira vermelha patamar 1) ou vermelha (que ficaria no lugar hoje ocupado pela bandeira vermelha patamar 2). Um ponto relevante neste caso é que, existem dois patamares na mesma cor vermelha, o que dificulta a plena compreensão das bandeiras. Se compreender o mecanismo parece hoje uma tarefa que exige do consumidor certo nível de atenção, utilizar dois patamares de uma mesma cor pode sobrecarregar ainda mais o sistema cognitivo. Nesse sentido, a neutralidade proposta simplifica e torna a bandeira mais intuitiva. Por isso, a proposta de intervenção comportamental é alterar a lógica das bandeiras tarifárias, deixando de serem apenas adicionais ao valor da conta para serem descontos ou adicionais, conforme as condições mais ou menos favoráveis de geração. Isso abre a possibilidade de que a bandeira também seja percebida como benefício. Para tanto, o estado padrão dos custos com geração estimados nas tarifas seria alterado para considerar no cálculo da próxima alteração tarifária, reajuste ou revisão, valores superiores aos contratados, de tal sorte que os custos de geração considerariam aqueles da bandeira amarela. Importante destacar novamente que esta proposta elimina os patamares 1 e 2 da bandeira vermelha. Esta cor patamar 2 seria identificada apenas como vermelha; o patamar 1 seria a cor amarela; a antiga cor amarela seria a situação de neutralidade; por último, a bandeira verde seguiria da mesma forma, mas passaria a implicar desconto em relação ao valor da neutralidade. Em condições muito desfavoráveis de geração haveria cobrança adicional com bandeira vermelha. A bandeira amarela representaria condições ainda desfavoráveis, mas menos críticas; haveria um adicional com valor inferior. O não acionamento da bandeira representaria condições próximas das ideais de geração e não haveria cobranças. Por último, a bandeira verde indicaria as condições favoráveis de geração, o pleno uso das hidrelétricas e de reservatórios em níveis esperados, no qual seria concedido desconto ao consumidor. Tal proposta foi bastante discutida no grupo de trabalho da ANEEL e Gnova e foi resultado de consenso entre os participantes. Permitir ganhos é um insight relevante, tendo em vista que os agentes comportamentais são avessos a perdas (KAHNEMAN & TVERSKY, 1979). A ideia de alterar a perspectiva dos agentes por meio do “enquadramento” de uma determinada situação é uma das possíveis aplicações da teoria prospectiva. Note o leitor que, se o objetivo fosse maximizar a reação do consumidor, no sentido de reduzir seu consumo, o enquadramento de perda poderia ser o mais adequado. Mas a alteração do comportamento do consumidor é, na melhor das hipóteses, um objetivo secundário do mecanismo de bandeiras tarifárias. 64 UNIDADE 1 — PANORAMA DO SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA BRASILEIRO O seu objetivo mais importante é o de sinalizar as condições de geração de energia elétrica, para o qual o enquadramento de perda pouco contribui. De fato, agentes sentem mais perdas do que ganhos da mesma magnitude – mas ele não sentirá nem perdas, nem ganhos, se não conseguir processar adequadamente essa informação. Para isso, o enquadramento de perda parece ter efeito limitado. Outro objetivo relevante das bandeiras tarifárias é suavizar os reajustes de energia, algo que pode ser definido como de interesse do consumidor, já que seu reajuste anual será inferior. Aqui, entretanto, pode-se dizer que o enquadramento de perda é prejudicial para a política pública: o consumidor que consegue processar a informação do acionamento das bandeiras amarela ou vermelhas sentirá mais as perdas (que, adicionalmente, ocorrem no valorizado presente) do que os ganhos que terá (no desprezado futuro). Reduzir o elemento de perda e introduzir um elemento de ganho no mecanismo da bandeira pode contribuir para corrigir a aversão à perda e o viés do presente que distorcem a avaliação que os consumidores têm do mecanismo das bandeiras tarifárias. Isto leva a outra questão comportamental relevante, o desconto intertemporal hiperbólico, que leva ao viés do presente, e que nos faria sentir mais pagamentos feitos no presente do que aqueles postergados para o futuro. Muito embora o custo de geração seja pago pelo consumidor, seja por meio das bandeiras, ou na próxima alteração tarifária anual, este não consegue perceber a neutralidade existente no pagamento. Tanto a aversão a perdas como o viés do presente contribuem para que o mecanismo das bandeiras tarifárias, que seria do interesse de um agente racional, acabe sendo negativamente avaliado por um consumidor comportamental típico. FONTE: Adaptada de <https://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/regen/article/viewFile/5154/2039>. Acesso em: 9 jun. de 2021. 65 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) é uma autarquia em regime especial vinculada ao Ministério de Minas e Energia, e foi criada para regular o setor elétrico brasileiro por meio da Lei nº 9.427/1996 e do Decreto nº 2.335/1997. • A ANEEL, por delegação do Governo Federal, promove leilões e concede, permite e autoriza empreendimentos e serviços de energia elétrica. Ela também atua na fiscalização econômica e financeira do serviço de geração e dos serviços de eletricidade, buscando atingir todas as empresas concessionárias, permissionárias e autorizadas em operação no País. • O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é o órgão responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN), e pelo planejamento da operação dos sistemas isolados do país, sob a fiscalização e regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). • A Eletrobras é uma sociedade de economia mista e de capital aberto sob controle acionário do Governo Federal brasileiro. Atua como uma holding, dividida em geração, transmissão e distribuição, criada em 1962 para coordenar todas as empresas do setor elétrico. • As empresas que decidem atuar no mercado livre de energia no Brasil devem se vincular à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Essa é a entidade que regula a compra e venda de energia elétrica no Brasil. • Atualmente, a CCEE conta com mais de 10 mil associados. Entender o seu funcionamento é fundamental para compreender como é definido o preço de energia elétrica no Brasil, e identificar quais são as melhores condições de negociação no Mercado Livre de Energia. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 66 1 A Agência Nacional de Energia Elétrica é uma autarquia sob regime especial, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, com sede e foro no Distrito Federal. Com base no exposto, explique o que é a ANEEL, qual a lei que a regulamenta e cite algumas de suas atribuições: 2 A ideia de progresso e desenvolvimento que marcou o século XIX teve, em grande parte, relação com o avanço técnico que se instalava no Brasil – a energia elétrica. A necessidade veio emdecorrência da implantação da República, em 1889, quando se buscou suprir cada vez mais a crescente necessidade de energia pública e industrial. Entretanto, era por meio de pequenas usinas geradoras de energia que a eletricidade era alcançada, sendo a primeira UHE (usina hidrelétrica) à fio d´água a ser instalada em Minas Gerais. Dessa maneira, houve um esperado interesse por parte de empresas estrangeiras em investir na área de energia elétrica, levando em consideração o crescimento vertiginoso em potencial das grandes cidades brasileiras, notadamente, São Paulo e Rio de Janeiro. Com base no exposto, explique o que é o ONS: 3 O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), presidido pelo Ministro de Estado de Minas e Energia, é o órgão de assessoramento do Presidente da República para formulação de políticas e diretrizes de energia. Com base no exposto, descreva quais são as atribuições do CNPE: FONTE: <https://www.gov.br/mme/pt-br/assuntos/conselhos-e-comites/cnpe>. Acesso em: 30 jul. 2021. 4 “O Setor Elétrico Brasileiro é bastante complexo na sua estrutura organizacional. No início do século XX, quando a energia elétrica começou a ser instalada no país, a indústria elétrica era majoritariamente explorada por empresas estrangeiras, com destaque a empresa canadense Light e a norte-americana Amforp. Não havia uma legislação específica ou segurança institucional no país. A participação do Estado nos contratos de concessão de energia era bastante tímida” (TOLMASQUIM, 2011, p. 4 apud ALMEIDA, 2012, p. 1). Com base no exposto, descreva a estrutura organizacional do setor energético brasileiro: FONTE: ALMEIDA, C. O. de. O desafio institucional do setor elétrico brasileiro. 2012. 94 f. Monografia (Bacharelado em Ciência Política) – Instituto de Ciência Política, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2012. p. 1. Disponível em: https://bdm.unb.br/ bitstream/10483/3957/1/2012_CamilaOliveiradeAlmeida.pdf. Acesso em: 30 jul. 2021. 5 A Eletrobras, que entrou em operação no Rio de Janeiro em 1962, controla, como principal acionista, seis subsidiárias, além de ser a principal patrocinadora da CEPEL. Em nome do governo brasileiro, é dona de 50% do capital da Itaipu Binacional. Com base no exposto, descreva o que é a Eletrobras: AUTOATIVIDADE 67 6 “A geração bruta de energia elétrica no país, em 2001, foi de 296.237 GWh, o que significou um recuo ao montante alcançado a quatro anos antes, em 1998 de 301.160 GWh. Esse recuo deve-se ao racionamento decorrente da crise de maio de 2001 e à geração hidroelétrica, responsável por cerca de 90% da matriz brasileira. Em que pese a pequena ponderação da geração térmica na matriz, cabe registrar seu expressivo crescimento, de 127%, no período entre 1999 e 2001, conforme dados do Sistema de Informações Estatísticas do Setor Elétrico (SIESE), da ELETROBRAS” (TAVARES, 2003, p. 19). Com base no exposto, analise as sentenças a seguir: FONTE: TAVARES, S. R. R. O papel da ANEEL no setor elétrico brasileiro. 2003, 109 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003. p. 19. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/ bitstream/REPOSIP/263925/1/Tavares_SilvioRomeroRibeiro_M.pdf. Acesso em: 30 jul. 2021. I- A criação da Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras) foi proposta em 1954 pelo presidente Getúlio Vargas. II- O projeto enfrentou grande oposição e só foi aprovado após sete anos de tramitação no Congresso Nacional. III- A Eletrobras é uma sociedade de economia mista e de capital aberto sob controle acionário do Governo Federal brasileiro e atua como uma holding, dividida em geração, transmissão e distribuição, criada em 1500 para coordenar todas as empresas do setor elétrico. É CORRETO apenas o que se afirma em: a) ( ) I e II. b) ( ) II e III. c) ( ) I e III. d) ( ) I, II e III. 7 O modelo do setor elétrico brasileiro pressupõe competição, participação do capital privado e um Estado regulador. Nesse modelo, assume importância o papel da agência reguladora com todos os seus pressupostos de autonomia adotada, que foi a alternativa por entidade da administração indireta, seguindo-se a experiência usual de outros países” (TAVARES, 2003, p. 30). Com base no exposto, analise as sentenças a seguir: FONTE: TAVARES, S. R. R. O papel da ANEEL no setor elétrico brasileiro. 2003, 109 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003. p. 30. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/ bitstream/REPOSIP/263925/1/Tavares_SilvioRomeroRibeiro_M.pdf. Acesso em: 30 jul. 2021. I- O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico foi criado em 2004, o CMSE é um órgão sob coordenação do Ministério de Minas e Energia, tendo sua principal função acompanhar a segurança do suprimento de energia elétrica em todo o território nacional. II- Integram permanentemente o conselho membros do Ministério de Minas e Energia (MME), do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). 68 III- As associações do setor uniram suas forças exercendo pressão política para inserir um membro permanente no CMSE, sendo que a decisão por parte do MME veio em julho de 2020. É CORRETO apenas o que se afirma em: a) ( ) I e II. b) ( ) II e III. c) ( ) I e III. d) ( ) I, II e III. 69 REFERÊNCIAS ABRACEEL – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE COMERCIALIZADORES DE ENERGIA. Cartilha mercado livre de energia elétrica: um guia básico para consumidores potencialmente livres e especiais. Brasília, DF: ABRACEEL, 2021. Disponível em: http://www.abraceel.com.br/archives/files/Abraceel_Cartilha_ MercadoLivre_V9.pdf. Acesso em: 21 mar. de 2021. ALMEIDA, C. O. de. O desafio institucional do setor elétrico brasileiro. 2012. 94 f. Monografia (Bacharelado em Ciência Política) – Instituto de Ciência Política, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2012. Disponível em: https://bdm.unb.br/ bitstream/10483/3957/1/2012_CamilaOliveiradeAlmeida.pdf. Acesso em: 30 jul. 2021. ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Resolução Normativa nº 281, de 1 de outubro de 1999. Estabelece as condições gerais de contratação do acesso, compreendendo o uso e a conexão, aos sistemas de transmissão e distribuição de energia elétrica. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 1999a. Disponível em: https://www.legisweb. com.br/legislacao/?id=96656. Acesso em: 26 jul. 2021. ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Resolução Normativa nº 286, de 1 outubro de 1999. Estabelece as tarifas de uso dos sistemas de distribuição de energia elétrica. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 1999b. Disponível em: http://www.zonaeletrica. com.br/legislacao/resolucoes/res_aneel/1999/1999_RESOLUCAO_ANEEL_N286. pdf. Acesso em: 26 jul. 2021. ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Resolução Normativa nº 594, de 21 de dezembro de 2001. Estabelece a metodologia de cálculo das tarifas de uso dos sistemas de distribuição de energia elétrica. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 2001. ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Resolução Normativa nº 666, de 29 de novembro de 2002. Estabelece procedimentos para a determinação das tarifas de energia elétrica de concessionária ou permissionária de serviço público de distribuição [...]. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 2002a. Disponível em: https://www.legisweb.com.br/ legislacao/?id=97858. Acesso em: 26 jul. 2021. ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Resolução Normativa nº 790, de 27 de dezembro de 2002. Estabelece a metodologiapara o cálculo do reajuste das tarifas de uso dos sistemas de distribuição de energia elétrica [...]. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 2002b. 70 ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Resolução Normativa nº 166, de 10 de outubro de 2005. Estabelece as disposições consolidadas relativas ao cálculo da tarifa de uso dos sistemas de distribuição (TUSD) e da tarifa de energia elétrica (TE). Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 2005. Disponível em: https://www.legisweb. com.br/legislacao/?id=102484. Acesso em: 26 jul. 2021. ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Atlas de energia elétrica do Brasil. 3. ed. Brasília, DF; ANEEL, 2008. 236 p. Disponível em: https://www.aneel.gov.br/documents/656835/14876406/2008_AtlasEnergiaEl etricaBrasil3ed/297ceb2e-16b7-514d-5f19-16cef60679fb. Acesso em: 26 jul. 2021. ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Resolução Normativa nº 414, de 9 de setembro de 2010. Estabelece as Condições Gerais de Fornecimento de Energia Elétrica de forma atualizada e consolidada. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 2010. Disponível em: https://bit.ly/3lE6KVU. Acesso em: 26 jul. 2021 ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Resolução Normativa nº 547, de 10 de maio de 2013. Estabelece os procedimentos comerciais para aplicação do sistema de bandeiras tarifárias. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 2013a. Disponível em: https://www. legisweb.com.br/legislacao/?id=254181. Acesso em: 26 jul. 2021 ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Resolução Normativa nº 559, de 27 de junho de 2013. Estabelece o procedimento de cálculo das Tarifas de Uso do Sistema de Transmissão – TUST. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 2013b. Disponível em: https:// bit.ly/3rAtXck. Acesso em: 26 jul. 2021 ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (Brasil). Resolução Normativa nº 67, de 8 de junho de 2004. Estabelece critérios para a composição da Rede Básica do Sistema Interligado Nacional, e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 2013. Disponível em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=101119. Acesso em: 26 jul. 2021 BANDEIRA, F. de P. M. Análise das alterações propostas para o modelo do setor elétrico brasileiro. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, 2003. Disponível em: http://www.abraceel.com.br/_anexos/09092003101118.pdf. Acesso em: 26 jul. 2021. BICHELS, A. Sistemas elétricos de potência: métodos de análise e solução. Curitiba: EDUTFPR, 2018. Disponível em: https://core.ac.uk/download/ pdf/287004058.pdf. Acesso em: 26 jul. 2021. BRASIL. Decreto nº 24.643, de 10 de julho de 1934. Decreta o Código de Águas. Rio de Janeiro: Diário Oficial [da] República dos Estados Unidos do Brasil, 1934. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d24643compilado. htm. Acesso em: 26 jul. 2021. 71 BRASIL. Lei nº 3.890-A, de 25 de abril de 1961. Autoriza a União a constituir a empresa Centrais Elétricas Brasileiras S. A. – ELETROBRAS, e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 1961. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3890acons.htm. Acesso em: 26 jul. 2021. BRASIL. Lei nº 4.904, de 17 de dezembro de 1965. Dispõe sobre a organização do Ministério das Minas e Energia, e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 1965. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d24643compilado.htm. Acesso em: 26 jul. 2021. BRASIL. Decreto nº 60.824, de 7 de junho de 1967. Define o Sistema Nacional de Eletrificação e estabelece suas áreas de competência [...]. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 1967. Disponível em: https://www2. camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-60824-7-junho-1967-401750- publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 26 jul. 2021. BRASIL. Lei nº 8.031, de 12 de abril de 1990. Cria o Programa Nacional de Desestatização, e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/L8031.htm. Acesso em: 26 jul. 2021. BRASIL. Lei nº 8.631, de 4 de março de 1993. Dispõe sobre a fixação dos níveis das tarifas para o serviço público de energia elétrica, extingue o regime de remuneração garantida e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 1993. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/l8631.htm. Acesso em: 26 jul. 2021. BRASIL. Lei nº 8.967, de 28 de dezembro de 1994. Altera a redação do parágrafo único do art. 23 da Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 1994. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1989_1994/L8967.htm. Acesso em: 26 jul. 2021. BRASIL. Lei nº 9.074, de 7 de julho de 1995. Estabelece normas para outorga e prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 1995. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9074cons.htm. Acesso em: 26 jul. 2021. BRASIL. Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996. Institui a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, disciplina o regime das concessões de serviços públicos de energia elétrica e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 1996. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/l9427cons.htm. Acesso em: 26 jul. 2021. 72 BRASIL. Decreto nº 2.335, de 6 de outubro de 1997. Constitui a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL [...]. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/decreto/d2335.HTM. Acesso em: 26 jul. 2021. BRASIL. Medida Provisória nº 144, de 11 de dezembro de 2003. Dispõe sobre a comercialização de energia elétrica [...]. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/mpv/Antigas_2003/144.htm. Acesso em: 26 jul. 2021. BRASIL. Lei nº 10.848, de 15 de março de 2004. Dispõe sobre a comercialização de energia elétrica [...]. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 2004a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2004/lei/l10.848.htm. Acesso em: 26 jul. 2021. BRASIL. Decreto nº 5.163, de 30 de julho de 2004. Regulamenta a comercialização de energia elétrica [...]. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 2004b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004- 2006/2004/Decreto/D5163compilado.htm. Acesso em: 26 jul. 2021. BRASIL. Decreto nº 5.177, de 12 de agosto de 2004. Regulamenta os arts. 4o e 5o da Lei nº 10.848, de 15 de março de 2004 [...]. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 2004c. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5177.htm. Acesso em: 26 jul. 2021. BRASIL. Ministério de Minas e Energia, Empresa de Pesquisa Energética. Plano decenal de expansão de energia 2020. Brasília: MME/EPE, 2011. Disponível em: https://bit.ly/2VvneVp. Acesso em: 26 jul. 2021. BRASIL. Ministério de Minas e Energia, Empresa de Pesquisa Energética. Plano decenal de expansão de energia 2024. Brasília: MME/EPE, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3AgSA0N. Acesso em: 26 jul. 2021. CHINAN, L.; NASSA, T. Energia livre: como a liberdade de escolha no setor elétrico pode mudar o Brasil. São Paulo: ABRACEEL, 2014. Disponível em: https://abraceel.com.br/wp-content/uploads/2019/05/Livro_Energia_Livre.pdf. Acesso em: 26 jul. 2021.COMERCIALIZAÇÃO. CCEE – Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. São Paulo, c2020. Disponível em: https://bit.ly/3yovLb3. Acesso em: 26 jul. 2021. CONCEITO. Mercado Livre de Energia, [s. l.], c2021. Disponível em: http:// www.mercadolivredeenergia.com.br/consumidores-livres-e-especiais/ conceito/>. Acesso em: 26 jul. 2021. CONTRATO padrão ABRACEEL. ABRACEEL, Brasília, DF, 17 maio 2019. Disponível em: https://abraceel.com.br/contrato-padrao-abraceel/. Acesso em: 21 mar. de 2021. 73 DANNA, D. e PAIVA, L. H. A economia comportamental e o aperfeiçoamento das bandeiras tarifárias da energia elétrica. Regen, Brasília, DF, v. 1, n. 1, p. 130-156, 2020. Disponível em: https://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/regen/ article/viewFile/5154/2039. Acesso em: 26 jul. 2021. DIFERENÇAS entre consumidores livres e cativos. ABRACEEL, Brasília, DF, 15 maio 2019. Disponível em: https://abraceel.com.br/mercado-livre/diferencas- entre-consumidores-livres-e-cativos/. Acesso em: 21 mar. de 2021. ENERGIA ELÉTRICA: custo e qualidade para a competitividade da indústria nacional. Firjan, Pesquisa e Estudos Socioeconômicos, Ambiente de Negócios, Rio de Janeiro, jun. 2017. Disponível em: https://bit.ly/3lHblqb. Acesso em: 26 jul. 2021. ENTENDA o mercado e a CCEE. CCEE – Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. São Paulo, c2020. Disponível em: https://bit.ly/37ooAUr. Acesso em: 26 jul. 2021. FLOREZI, G. Consumidores livres de energia elétrica: uma visão prática. 2009. 159 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) – Escola politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. Disponível em: https://bit. ly/3i4BrBi. Acesso em: 26 jul. 2021. GDG – GABINETE DO DIRETOR GERAL. Planejamento Estratégico 2014- 2017. ANEEL, Planejamento Estratégico, Institucional, Brasília, DF, 23 maio 2019. Disponível em: https://www.aneel.gov.br/planejamento-estrategico- ciclo-2014-2017. Acesso em: 26 jul. 2021. GLOSSÁRIO de energia. Brasília, DF: ABRACEEL, c2019. Disponível em: https://abraceel.com.br/biblioteca/glossario-de-energia/. Acesso em: 9 jul. 2021. GLOVER, J. D.; SARMA, M. S. Power system analysis and design. 2. ed. Boston: PWS Publishing Company, 1994. GOMES, R. A gestão do sistema de transmissão do Brasil (2012). LEÃO, R. GTD – Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Fortaleza: UFCE; Centro de Tecnologia; Departamento de Engenharia Elétrica, 2009. Disponível em: https://silo.tips/download/gtd-geraao-transmissao-e- distribuiao-de-energia-eletrica. Acesso em: 26 jul. 2021. LIBANORI, G. H. D. Modelagem numérica de otimização aplicada a sistemas combinados de geração de energia elétrica por fontes intermitentes e usinas hidrelétricas reversíveis. 2017. 100 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2017. Disponível em: https:// bit.ly/3lBxDtr. Acesso em: 26 jul. 2021. 74 MARTINS, B G. Simulador de custos de contratação de energia para grandes consumidores. In: SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA PUC-RIO, 22., 2014, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2014. Disponível em: http://www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2014/relatorios_pdf/ctc/ELE/ ELE-%20Bruna%20dos%20Guaranys%20Martins.pdf. Acesso em: 26 jul. 2021. MERCADO LIVRE DE ENERGIA, [s. l.], c2021. Disponível em: http://www. mercadolivredeenergia.com.br/. Acesso em: 26 jul. 2021. PROINFA. Mercado Livre de Energia, [s. l.], c2021. Disponível em: https://www. mercadolivredeenergia.com.br/proinfa/. Acesso em: 26 jul. 2021. NOGUEIRA, D. Entenda como funciona o mercado livre de energia. O Globo, Economia, Rio de Janeiro, 14 ago. 2016. Disponível em: https://oglobo.globo. com/economia/entenda-como-funciona-mercado-livre-de-energia-19911909. Acesso em: 26 jul. 2021. O PAPEL das comercializações. ABRACEEL, Brasíla, DF, c2021. Disponível em: https://abraceel.com.br/mercado-livre/o-papel-das-comercializadoras/. Acesso em: 26 jul. 2021. ORGANOGRAMA. Eletrobras, Rio de Janeiro, c2021. Disponível em: https:// eletrobras.com/pt/Paginas/Organograma.aspx. Acesso em: 26 jul. 2021. PROCEL – PROGRAMA NACIONAL DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. Manual de tarifação da energia elétrica. Brasília, DF: ELETROBRAS, 2001. Disponível em: http://www.sef.sc.gov.br/arquivos_portal/ assuntos/9/manual_de_tarifacao.pdf. Acesso em: 30 jul. 2021. QUANTO custa a energia elétrica? Publicações Sistemas Firjan, Pesquisa e Estudos Socioeconômicos, Ambiente de Negócios, Rio de Janeiro, jul. 2016. Disponível em: http://www.firjan.com.br/publicacoes/publicacoes-de-economia/ quanto-custa-a-energia-eletrica.htm. Acesso em: 26 jul. 2021. QUEM PODE ser consumidor livre. ABRACEEL, Brasília, DF, 15 maio 2019. Disponível em: https://abraceel.com.br/mercado-livre/quem-pode-ser- consumidor-livre/. Acesso em: 26 jul. 2021. RELACIONAMENTOS. ONS – Operador Nacional de Sisema Elétrico, [s. l.], c2021., Disponível em: http://www.ons.org.br/paginas/sobre-o-ons/ relacionamentos. Acesso em: 26 jul. 2021. RODRIGUES, I. Vantagens e desvantagens do mercado livre de energia. Interenergia, São Paulo, 2017. Disponível em: http://www.interenergia.com.br/single-post/ Vantagens-e-Desvantagens-do-Mercado-Livre-de-Energia. Acesso em: 26 jul. 2021. 75 SATO, A. K. C. Transmissão de potência em corrente contínua e em corrente alternada: estudo comparativo. 2013. 90 f. Trabalho (Graduação e, Engenharia Elétrica) – Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, Guaratinguetá, 2013. p. 23-24. Disponível em: https://bit.ly/3lDh2pe. Acesso em: 27 jul. 2021. SGT – SUPERINTENDÊNCIA DE GESTÃO TARIFÁRIA. Tarifa de uso e transmissão. ANEEL, Planejamento Estratégico, Institucional, Brasília, DF, 25 nov. 2015. Disponível em: https://bit.ly/3eYndjg. Acesso em: 26 jul. 2021. SILVA, H. A. B. da. et al. Simulador com mini subestação para ensino da disciplina sistemas de potência em cursos de engenharia e eletricidade. In: Conferência de Estudos em Engenharia Elétrica, 14., 2016, Uberlândia. Anais [...]. Uberlândia: UFU, 2016. Disponível em: https://bit.ly/3lyALGx. Acesso em: 30 jul. 2021. SOBRE a Eletrobras. Eletrobras, Rio de Janeiro, c2021. Disponível em: https:// eletrobras.com/pt/Paginas/Sobre-a-Eletrobras.aspx. Acesso em: 26 jul. 2021. SRM – SUPERINTENDÊNCIA DE REGULAÇÃO ECONÔMICA E ESTUDOS DE MERCADO. Ambiente de contratação livre (ACL). ANEEL, Mercado de Eletricidade, Regulação do Setor Elétrico, Informações Técnicas, Brasília, DF, 30 nov. 2015. Disponível em: https://www.aneel.gov.br/ambiente-de-contratacao- livre-acl-. Acesso em: 26 jul. 2021. SRT – SUPERINTENDÊNCIA DE REGULAÇÃO DOS SERVIÇOS DE TRANSMISSÃO. Ambiente de contratação regulada (ACR). ANEEL, Mercado de Eletricidade, Regulação do Setor Elétrico, Informações Técnicas, Brasília, DF, 30 nov. 2015. Disponível em: https://www.aneel.gov.br/ambiente-de- contratacao-livre-acl-. Acesso em: 26 jul. 2021. STEFANELLO, L. Mercado livre de energia: por que e como migrar. Beenergy, Florianópolis, 26 fev. 2019. Disponível em: https://beenergy.com.br/mercado- livre-de-energia/. Acesso em: 28 jul. de 2021. STEVENSON Jr., W. D. Elementos de análise de sistemas de potência. 1. ed. New York: McGraw-Hill, 1975. TAVARES, S. R. R. O papel da ANEEL no setor elétrico brasileiro. 2003, 109 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003. Disponível em: https://bit.ly/2VlMLR7. Acesso em: 30 jul. 2021. TIPOS de leilões. CCEE – Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. São Paulo, c2020. Disponível em: https://bit.ly/2Vyft0Z. Acesso em: 26 jul. 2021. VOCÊ SABE o que é PLD e como ele funciona? Focus, energia para a vida, [s. l.], 22 abr. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3AmTtFn. Acesso em: 26 jul. 2021. 76 77 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partirdo estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • proporcionar conhecimentos teóricos e práticos de sistemas de energia elétrica; • explicar com as próprias palavras como representar um sistema elétrico de potência; • identificar e saber desenhar um diagrama unifilar equivalente a um sistema trifásico; • conhecer a simbologia dos diagramas unifilares em SEP’s e a diferença entre impedância elétrica e reatância elétrica; • saber representar um diagrama de impedâncias ou de reatâncias e resolver sistemas elétricos de potência em pu. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – REPRESENTAÇÃO DOS SISTEMAS DE POTÊNCIA TÓPICO 2 – REPRESENTAÇÃO EM PU DE TRANSFORMADORES TÓPICO 3 – CÁLCULO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 78 79 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Nesta unidade, no Tópico 1, você vai aprender a analisar e representar os sistemas elétricos de potência trifásicos como diagramas unifilares e seus circuitos equivalentes como diagramas de impedâncias ou reatâncias. No Tópico 2 vamos discutir os tipos de linhas aéreas de transmissão e como calculá-las para sistemas elétricos de potência. Já no Tópico 3 explicaremos como representar um Sistema Elétrico de Potência (SEP) como uma matriz de admitâncias, ou seja, a admitância é o inverso da reatância. Você deve se lembrar que uma impedância (Z) é representada com uma parte real denominada resistência (R) e, uma parte imaginária denominada reatância (X). A expressão matemática para a impedância é: Z = R + jX. Na admitância Y, representa-se a parte real como condutância (G) que é o inverso da resistência (R) e, susceptância (B) que é o inverso da reatância (X). A expressão matemática para a admitância é: Y = G + jB. No final dos anos 1980, a flexibilização dos sistemas passou a ser associada aos controladores do sistema que utilizavam eletrônica de potência, denominados FACTS (MASUDA, 2006, p. 11). Como leitura complementar no final da Unidade sugerimos o tema FACTS. FACTS significa Flexible AC Transmission System e eles foram propostos por Hingorani. São dispositivos instalados no sistema de transmissão, que elevam a capacidade de transmissão das linhas a partir da compensação de reativos, e ainda, agregam amortecimento às oscilações eletromecânicas de baixa frequência, se devidamente controlado. A proposta de Hingorani é utilizar de dispositivos da eletrônica de potência para o controle do fluxo de potência em sistemas de corrente alternada, através da atuação de chaves eletrônicas (com pequeno tempo de atuação), proporcionando flexibilidade operativa ao SEP (WATANABE et al., 1998). Através do controle dos fasores de tensão, corrente e potência, os dispositivos FACTS podem atuar na capacidade de transmissão das linhas aéreas de transmissão. Os FACTS foram criados para identificar os controladores eletrônicos usados na flexibilização de sistemas de corrente alternada, tomando- se o cuidado de deixar de fora a transmissão em cc. Os controladores FACTS tem a vantagem de fornecer maior velocidade e precisão no controle de parâmetros dos TÓPICO 1 — REPRESENTAÇÃO DOS SISTEMAS DE POTÊNCIA UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) 80 SEP’s, como por exemplo, na tensão, na corrente, nas potências ativas e reativas, bem como, nos ângulos de transmissão. Acadêmico: sugiro que você invista um tempo do seu estudo para aprender sobre os FACTS. Vamos iniciar o estudo sobre os componentes e a representação deles nos SEP’s? 2 DIAGRAMAS UNIFILARES E SIMBOLOGIA DE SEP’s Na representação de sistemas elétricos de potência, pode-se desenhar integralmente à rede, inclusive o fio neutro (caso exista), resultando nos chamados diagramas multifilares. Um sistema trifásico equilibrado pode ser resolvido por meio de um circuito monofásico composto por uma das três linhas e pelo neutro. Frequentemente, suprime-se o neutro e indica-se os componentes por símbolos padronizados ao invés dos circuitos equivalentes. O diagrama unifilar indica por uma única linha e símbolos apropriados, uma linha de transmissão com os dispositivos a ela associados. A Figura 1 mostra um exemplo de diagrama unifilar. Claro que os valores numéricos serão diferentes para cada exemplo de sistema de potência, porém, a representação do diagrama unifilar é semelhante ao esquema da Figura 1. FIGURA 1 – DIAGRAMAS UNIFILARES REPRESENTANDO UM SISTEMA DE POTÊNCIA FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3lLIRtX>. Acesso em: 22 set. 2021. O objetivo é fornecer, de maneira concisa, os dados mais significativos de um SEP. É apropriado indicar uma determinada máquina por um símbolo base seguido de informações sobre o seu tipo e regime de fornecimento. No diagrama unifilar também são indicados os tipos de ligação, fornecendo os dados mais significativos e importantes do sistema elétrico de potência representado. TÓPICO 1 — REPRESENTAÇÃO DOS SISTEMAS DE POTÊNCIA 81 O American National Standards Institute (ANSI) e o Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE) publicaram um conjunto de símbolos padronizados para os diagramas elétricos. Entretanto, nem todos os autores seguem esses símbolos de forma consistente, especialmente, na representação de transformadores. A Tabela 1 mostra alguns símbolos padronizados utilizados nos diagramas unifilares: TABELA 1 – SIMBOLOGIA UTILIZADA EM SEP’S FONTE: Almeida e Freitas (1995, p. 102) A Figura 2 é o diagrama unifilar de um sistema de potência muito simples. Dois geradores, um aterrado através de um reator e outro através de um resistor, são interligados a uma barra e, através de um transformador elevador, a uma linha de transmissão. Outro gerador, aterrado através de um reator, é ligado a uma barra e, através de um transformador, à extremidade oposta da linha de transmissão. Uma carga é ligada a cada barra. No diagrama também estão representadas as conexões dos dois transformadores. UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) 82 FIGURA 2 – PARTE DE UM SEP REPRESENTADO POR DIAGRAMA UNIFILAR FONTE: Stevenson Jr. (1975, p. 139) Nos geradores, o neutro é aterrado através de resistores ou bobinas de indutância. As reatâncias para os geradores são chamadas de reatâncias subtransitórias. A reatância do circuito equivalente de uma máquina girante está em série com a f.e.m. interna gerada pela máquina. A partir do diagrama unifilar, utilizando os modelos dos componentes do sistema elétrico, obtém-se o Diagrama de Impedâncias, conforme mostra a Figura 3, utilizado nos cálculos de análise de sistemas de potência. FIGURA 3 – DIAGRAMA DE REATÂNCIAS (X) E DIAGRAMA DE IMPEDÂNCIAS (Z = R + JX) FONTE: Stevenson Jr. (1975, p. 146) Quando se deseja analisar o comportamento de um sistema em condições de carga ou durante a ocorrência de um curto-circuito o diagrama unifilar deve ser transformado em diagrama de impedâncias, mostrando o circuito equivalente de cada componente do sistema, referido ao mesmo lado de cada um dos transformadores. TÓPICO 1 — REPRESENTAÇÃO DOS SISTEMAS DE POTÊNCIA 83 Se os dados forem fornecidos com o diagrama unifilar, pode-se determinar todos os valores em pu e, assim, obter o diagrama de reatâncias em pu. A grande vantagem em se utilizar os valores em pu é que não são necessários cálculos para referir uma impedância de um lado do transformador para o outro. Em pu, os valores são os mesmos. 2.1 GRANDEZAS EM PU Os sistemas de energia elétrica são operados em níveisde tensão onde o kV é a unidade mais conveniente para expressar a tensão. Para a potência transmitida, MW e MVA são termos comuns. Entretanto, essas quantidades, bem como ampères ou ohms, são comumente expressas como porcentagem ou como por unidade (pu) de uma base ou valor de referência especificado para cada grandeza. O valor pu de qualquer quantidade é definido como a relação da quantidade dividida pelo valor base, expresso em decimal, conforme mostra a expressão a seguir: Os cálculos utilizando valores em pu são mais simples do que os que usam os valores em unidades reais. Tensão, corrente, potência e impedância estão relacionadas entre si de modo que a escolha de valores bases para quaisquer duas delas determina os valores bases das demais. Para sistemas trifásicos, escolhe-se a tensão de linha (Vbase, em kV) e a potência aparente trifásica (Nbase, em MVA) como bases. 2.1.1 Valor percentual e valor por unidade O uso de valores relativos em Sistemas Elétricos de Potência, proporciona ao engenheiro eletricista muitas vantagens, tais como: • simplificação de cálculos; • facilidade de comparação entre equipamentos e máquinas similares; • memorização de valores correspondentes a grandezas características de equipamentos. 2.1.2 Definições Na sequência, vamos introduzir alguns conceitos importantes em Engenharia Elétrica, que são, o valor absoluto, o valor relativo e o valor por unidade ou valor normalizado. UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) 84 O valor absoluto de uma grandeza é o valor que resulta da sua medição, ou seja, é o valor que resulta da sua comparação com a unidade escolhida para efetuar a medição. Exemplos: 4 A; 220 V, 110 V, 60 Hz, 10 W etc., ou seja, se omitirmos o símbolo da unidade, o valor absoluto perde a sua significação. Já o valor relativo de uma grandeza é a relação entre o seu valor absoluto e o valor absoluto de outra grandeza, da mesma espécie, escolhida como referência, ou seja, adotada como base. O valor relativo pode ser expressado em percentual (%) ou por unidade (em pu). O valor por unidade (pu) ou valor normalizado de qualquer grandeza é a relação entre o valor absoluto da grandeza e o valor base, e essa relação é mostrada em fração decimal. Na prática, é mais frequente o uso dos valores em pu, ao invés de valores percentuais. O produto de valores em pu é também, um valor em pu, todavia, o produto de dois valores percentuais deve ser, no final, dividido por 100, para que se tenha o resultado em percentual. 2.1.3 Escolha de Bases Ao se calcular um valor relativo, é indispensável que o valor absoluto e o valor base sejam expressos na mesma unidade. Ao contrário do valor absoluto, o número que exprime o valor relativo não é, portanto, seguido do nome de nenhuma unidade. No cálculo de valores relativos, quando se consideram ao mesmo tempo diversos valores absolutos de uma mesma grandeza, a escolha da base é arbitrária. No entanto, quando são consideradas simultaneamente várias grandezas diferentes, tal escolha não pode ser arbitrária para todas elas. Devem ser respeitadas, na escolha das bases, as relações de dependência impostas pelas leis físicas que ligam aquelas grandezas. Com isso, temos: • tensão (V); • corrente (I); • potência (S); • impedância (Z). O valor percentual é igual a 100 vezes o valor em pu. IMPORTANT E TÓPICO 1 — REPRESENTAÇÃO DOS SISTEMAS DE POTÊNCIA 85 Então, podemos fixar duas dessas grandezas como base, geralmente, fixamos a potência base e a tensão base, em valores que simplificam os cálculos. As demais bases terão que levar em conta as relações existentes entre as quatro grandezas. Com as bases bem escolhidas provoca-se poucas mudanças de base nas grandezas conhecidas, possibilitando economia de tempo. Costumeiramente, utilizamos o índice subscrito “b” ou “base” para indicar os valores de base das grandezas. 2.1.4 Escolha de bases para circuitos monofásicos Normalmente se escolhe a tensão de base (Vb) igual a tensão do circuito e a potência de base (Sb) igual a potência do circuito, por razões óbvias: isso faz com que sejam reduzidos os cálculos. Você verá isso no quarto exemplo do subtópico 2.1.7. Com isso, temos as seguintes equações para circuitos monofásicos: • para a corrente elétrica de base monofásica: • para a impedância elétrica de base monofásica: Levando em conta que: . Agora, vamos estudar as equações de base para os circuitos trifásicos. 2.1.5 Escolha de bases para circuitos trifásicos Ao trabalharmos com circuitos trifásicos, admitimos que sejam circuitos equilibrados. Um circuito é dito equilibrado quando são idênticas entre si as amplitudes das três fases, assim como o desfasamento entre elas. Quando tal não acontece, designa-se por sistema trifásico desequilibrado, conforme mostra a Figura a seguir: UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) 86 FIGURA 4 – SISTEMA TRIFÁSICO EQUILIBRADO (À ESQUERDA) E SISTEMA TRIFÁSICO DESEQUILIBRADO (À DIREITA) FONTE: <https://bit.ly/3Axo6IE>. Acesso em: 22 set. 2021. Na representação dos sistemas em pu, geralmente, utilizamos uma fase do sistema em estrela equivalente, aproveitando a simetria inerente aos circuitos em questão. Desse modo, os sistemas trifásicos podem ser resolvidos trabalhando-se como se fossem monofásicos. O uso do sistema pu elimina o efeito de partição dos transformadores, ou seja, seções com diferentes níveis de tensão. É usual adotar as seguintes bases: • potência de base: a potência de base deve ser igual a potência aparente do sistema trifásico, ou seja, a soma das potências bases das fases. • tensão de base: a tensão de base é igual a tensão de linha, ou seja, √3 vezes a tensão de base de fase da estrela equivalente. Em termos, a equação da tensão de base para circuitos trifásicos é: A equação para a potência de base em circuitos trifásicos é dada por: Em consequência dessa equação, podemos escrever: Como não se pode conceituar uma impedância trifásica, a impedância base de um sistema trifásico é definida, a partir de uma fase do sistema em estrela equivalente por: TÓPICO 1 — REPRESENTAÇÃO DOS SISTEMAS DE POTÊNCIA 87 Lembrando que Ilinha= Ifase no sistema trifásico em estrela e introduzindo na equação acima os valores de V base monofásico e de I base monofásico, obtemos: Multiplicando-se o numerador da fração pelo inverso do denominador, temos que: 2.1.6 Representação das grandezas de base e mudanças de bases As bases para as demais grandezas são determinadas pela equação para a corrente elétrica de base, dada por: E, pela equação seguinte para a impedância elétrica de base: Como todas as impedâncias devem ser expressas na mesma base de impedância, é necessário converter impedâncias pu de uma base para outra. Para calcular a impedância em pu, divide-se o valor real da impedância pelo valor de base. Portanto, podemos escrever as equações a seguir como: e E, ainda, podemos representar a nova impedância elétrica, em pu, conforme mostra a equação seguinte: UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) 88 A impedância base antiga é mostrada na primeira equação a seguir e a impedância de base nova é expressa como mostra a segunda equação a seguir: e Substituindo as Equações anteriores, obtemos: Com essa Equação, pode-se modificar o valor de uma impedância em pu de uma base antiga para uma base nova. 2.1.7 Dados dos equipamentos utilizados nos cálculos em pu Os fabricantes de equipamentos costumam fornecer, seja através de placas de identificação nas máquinas, catálogos, datasheets, aplicativos ou mesmo via internet, alguns dados de interesse para cálculos em pu, referentes a sistemas de potência. Por exemplo, em um alternadorou gerador monofásico são fornecidos: • potência aparente nominal; • tensão nominal; • frequência; • reatâncias subtransitória (x”), transitória (x’) e síncrona (xd), expressas em valores percentuais ou em valores em pu, tendo como bases a potência nominal da máquina e sua tensão nominal. Já para o motor monofásico os valores fornecidos são referentes a: • potência nominal mecânica disponível no eixo; • tensão nominal; • frequência; TÓPICO 1 — REPRESENTAÇÃO DOS SISTEMAS DE POTÊNCIA 89 • reatâncias subtransitória (x”), transitória (x’) e de regime (x), expressas em valores percentuais ou em valores em pu, tendo como bases a potência nominal e a potência aparente correspondente à potência mecânica nominal fornecida no eixo da máquina. As potências dos motores são especificadas em HP (horse power) ou em CV (cavalo vapor), no eixo e, portanto, a potência aparente pode ser determinada a partir do conhecimento do rendimento e do fator de potência da máquina. Exemplo: em uma base de corrente Ibase = 90 A, a corrente I = 30 A terá o valor de: Exemplo: em uma base de corrente Vbase = 10 V, a corrente V = 100 V terá o valor de: Exemplo: a reatância transitória de um alternador de 80 MVA, 15 kV é x' = 10%. As bases da rede são, na zona do alternador, Sbase = 100 MVA e Vbase = 10 kV. Usando a expressão de mudança de base, o valor da reatância em pu, nas bases da rede, é dado por: Exemplo: a reatância transitória de um gerador de 500 MVA, 30 kV é x' = 16%. As bases da rede são, na zona do alternador, Sb = 100 MVA e Vb = 30 kV. Usando a expressão de mudança de base, o valor da reatância em pu, nas bases da rede, é dado por: UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) 90 Acadêmico, note que nesses dois últimos exemplos as grandezas de potência de base e potência do equipamento estavam ambas em MVA e as tensões de base e dos equipamentos estavam ambas em KV. Isso faz com que essas unidades sejam “cortadas” ou “canceladas”, entretanto se elas estivessem, por exemplo, Sbase = 100 MVA e Sequivalente = 500 kVA teríamos: Resultando em um não cancelamento automático dos prefixos das unidades, ou seja: Com isso, concluímos que o aluno deve sempre prestar atenção nos prefixos e nos cálculos das grandezas. Exemplo: em um sistema monofásico adotou-se os seguintes valores de base: Vb = 10 kV e Sb = 180 kVA. Com base nesses dados, obtenha: (a) A corrente de base. (b) A impedância de base. Solução: (a) Ib = 18 A. (b) Zb = 0,5556 ohms 91 Neste tópico, você aprendeu que: • O sistema por unidade ou sistema pu consiste na definição de valores de base para as grandezas tensão, corrente, potência etc., seguida da substituição dos valores das variáveis e constantes (expressas no Sistema Internacional de unidades) pelas suas relações com os valores de base pré-definidos. • Para uma grandeza G o valor em pu numa grandeza de base Gb obtém-se, então, através da expressão Gpu = G/Gb. • Os cálculos serão realizados no sistema pu., e os resultados finais novamente convertidos para o S.I. através de G = Gpu.Gb, ou seja, multiplicando o valor em pu pelo valor da base. • Dadas as relações existentes entre as unidades, só poderão definir-se duas bases independentes, a partir das quais se calculam todas as outras. • Num sistema de energia, definem-se como bases independentes a potência aparente total Sb para o sistema e a tensão composta Vb num barramento determinado. • A partir desses valores, definem-se trivialmente as bases de potência por fase (Sb/3) e de tensão simples (Vb/3), e as bases para a potência ativa e reativa, numericamente iguais à base de potência aparente. • As equações de transformação em pu para cada equipamento constituinte de um sistema de potência são mostradas no conteúdo dessa unidade, bem como, nos exemplos resolvidos. RESUMO DO TÓPICO 1 92 1 Os componentes de um sistema de potência propiciam a geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, adequadamente supervisionados por mecanismos de controle em usina e subestações. Com base nisso, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Na representação de sistemas elétricos de potência geralmente utilizamos diagramas unifilares a fim de representar uma única fase de um sistema trifásico. b) ( ) Na representação de sistemas elétricos de potência geralmente utilizamos diagramas multifilares a fim de representar uma única fase de um sistema trifásico. c) ( ) Na representação de sistemas elétricos de potência geralmente utilizamos diagramas bifilares a fim de representar uma única fase de um sistema trifásico. d) ( ) Na representação de sistemas elétricos de potência geralmente utilizamos diagramas trifilares a fim de representar uma única fase de um sistema trifásico. 2 Embora os Sistemas Elétricos de Potência em corrente alternada sejam trifásicos, é comum representá-los utilizando apenas uma das fases e o neutro (ou terra). Dessa forma todos os componentes (ou os mais importantes) de um sistema elétrico são agrupados em um diagrama unifilar e representados através de símbolos padronizados. Para efeito de cálculos e análise em Sistemas Elétricos de Potência, torna-se conveniente apresentar o diagrama unifilar com os componentes essenciais do sistema e suas respectivas impedâncias ou reatâncias. Com base nesse assunto, analise as sentenças seguintes: I- Há uma padronização dos símbolos utilizados nos diagramas unifilares a fim de representar os equipamentos do SEP. II- Um diagrama de reatâncias, geralmente, contém os valores das reatâncias dos equipamentos em pu, uma vez que podemos desprezar os valores das resistências desses equipamentos, por elas serem muito menores que os valores das reatâncias deles. III- Não há uma padronização dos símbolos utilizados nos diagramas unifilares a fim de representar os equipamentos do SEP e, ainda, o uso dos cálculos doas grandezas dos equipamentos do SEP em pu não é necessária. Trata-se de uma prática antiga utilizada pelos engenheiros e, que, atualmente com o advento da internet essa prática tem caído em desuso. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) As sentenças I e III estão corretas. c) ( ) As sentenças II e III estão corretas. d) ( ) As sentenças Somente III estão corretas. AUTOATIVIDADE 93 3 A geração de energia elétrica é realizada em usinas localizadas em função de suas características próprias. Usinas hidrelétricas, que utilizam o represamento de rios e lagos, são localizadas nos pontos dos rios e lagos considerados mais eficientes para o armazenamento do volume ideal de água. Usinas térmicas podem ser localizadas em pontos mais convenientes para a transmissão e controle. O SEP engloba todos os setores da geração, transmissão e da distribuição de energia elétrica. Para que isso acontece de forma satisfatória, são necessários vários atores e vários equipamentos para controle e manutenção do SEP. Com base no exposto, marque V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Os fabricantes fornecem os valores pu dos seus equipamentos, tendo por bases as grandezas nominais dos produtos fornecidos. ( ) A grande diversidade desses equipamentos de potência, num mesmo SEP, exige a mudança de bases, com o intuito de padronizar os cálculos em pu. ( ) Um valor por unidade de uma grandeza é o valor que resulta da sua medição, ou seja, é o valor que resulta da sua comparação com os valores de alta tensão do transformador do SEP. ( ) O valor por unidade de qualquer grandeza é a relação entre o valor absoluto da grandeza e o valor base, relação essa expressa em fração decimal. Assinale a alternativa que contém a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – F – V. b) ( ) F – V – F – F. c) ( ) V – F – V – F. d) ( ) F – F – V – V. 4 Em engenhariaelétrica, na área de sistemas de potência, o uso de valores relativos (percentuais ou por unidade) proporciona inúmeras vantagens, que são: a simplificação dos cálculos, a facilidade de comparação de equipamentos e máquinas semelhantes e, a possibilidade de memorização de valores correspondentes a grandezas características de equipamentos. Com base nisso, disserte sobre o sistema pu. 5 A partir do diagrama unifilar, fazendo uso dos modelos representativos dos componentes de um sistema elétrico de potência (SEP), o engenheiro deve elaborar um diagrama de impedâncias em pu, que passa a usado nos cálculos e análises do SEP. Com base nesse assunto, disserte sobre o diagrama de impedâncias ou reatâncias. 94 95 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Dando continuidade à representação de grandezas de equipamentos do SEP em pu, agora vamos estudar os transformadores. Para um transformador monofásico de dois enrolamentos são fornecidos pelo fabricante os seguintes valores: • potência aparente nominal; • tensão nominal do lado de alta; • tensão nominal do lado de baixa; • reatância de dispersão equivalente, em % ou em pu. A placa de identificação ou o catálogo de um transformador apresentam apenas um valor único em pu, para sua reatância de dispersão. 2 REPRESENTAÇÃO DE TRANSFORMADORES POR FASE EM PU Os transformadores de potência possibilitam a utilização de diversos níveis de tensão em um sistema elétrico. Do ponto de vista de eficiência e de transferência de potência, a tensão de transmissão deve ser elevada, porém não é usual se gerar ou consumir energia nesse mesmo nível de tensão. Em sistemas elétricos modernos, desde a geração até os centros de consumo, a tensão pode passar por até uns cinco estágios de transformação. Consequentemente, a quantidade em MVA nominal de todos os transformadores no sistema é cerca de cinco vezes a potência nominal de todos os geradores. Além de permitir a transformação de tensões, os transformadores são frequentemente usados para controle de tensão e de fluxo de potência reativa. Portanto, praticamente todos os transformadores utilizados nos sistemas de transmissão e na entrada dos alimentadores de sistemas de distribuição apresentam taps (derivações). A variação de taps permite compensar variações de tensões no sistema. Dois tipos de componentes para variação de taps são encontrados: o que permite a variação sem carga (off-load) e o sob carga (under-load tap changing) (ULTC), ou on- load tap changing (OLTC), ou simplesmente, load tap changing (LTC). Para alteração TÓPICO 2 — REPRESENTAÇÃO EM PU DE TRANSFORMADORES 96 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) na relação do primeiro tipo, é necessário que o transformador seja desenergizado. São usados quando a relação de taps precisa ser alterada somente após longos períodos. Por exemplo, quando houver crescimento em tempos mais espaçados da carga (período de longo termo), expansão da demanda ou variações sazonais. O LTC é utilizado quando há necessidade de alterações frequentes na relação de transformação. Por exemplo, para acompanhar as mudanças diárias de carga. Os taps normalmente permitem uma variação de na relação de transformação. Os transformadores podem ser unidades trifásicas ou três unidades monofásicas constituindo um banco trifásico. A última opção é preferida para sistemas em extra-alta tensão e sistemas de distribuição. Quando a relação de transformação é pequena (por exemplo 500 kV para 230 kV), a melhor opção é utilizar autotransformadores. Comparado ao transformador de dois enrolamentos convencional, o autotransformador apresenta menor custo, maior eficiência, e melhor regulação. Em sistemas interligados, algumas vezes torna-se necessário efetuar conexões que formam circuitos em malhas em um ou mais subsistemas. No caso de existirem vários transformadores entre duas determinadas zonas, escolha um qualquer deles. A fim de controlar o fluxo de potência ativa e prevenir sobrecarga em algumas linhas, são introduzidos os chamados transformadores defasadores. Em certos casos, além da transformação de fase, é necessário realizar também transformação do módulo de tensão, via uso de taps. Fluxo de potência em um sistema elétrico de potência é o estudo de sistemas de potência em uma condição em regime permanente. É um estudo que demanda uma análise numérica extensa, que para grandes sistemas, são necessárias técnicas simplificadas, como o uso do sistema pu e o uso de programas computacionais, tal como, o ANAREDE. Os métodos numéricos para solução de fluxo de carga ou fluxo de potência são o Método de Gauss, Método Desacoplado e o Método de Newton-Raphson. Existem outros, mas esses são os mais usados. Nesse estudo, a partir de alguns dados do SEP, estima-se numericamente as potências ativa, reativa e aparente, bem como, tensões e defasagens em diversas barras do SEP. Trabalhamos sempre com álgebra de números complexos na forma polar, a fim de facilitar as representações e não perder dados importantes como os ângulos de tensões, correntes, impedâncias e potências. IMPORTANT E TÓPICO 2 — REPRESENTAÇÃO EM PU DE TRANSFORMADORES 97 Geralmente, estuda-se o fluxo de potência em uma disciplina de SEP II, mas o leitor interessado no assunto, pode ler o livro Fluxo de Carga em Redes de Energia Elétrica (1983) do Eng. Alcir José Monticelli ou ainda, assistir a playlist de vídeos do Prof. Enf. Luís César Emanuelli. Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=th6iEkxb-uk. DICAS Os ensaios dos transformadores são feitos a vazio e sob curto-circuito. Os transformadores defasadores permitem a interligação de sistemas de transmissão com ângulo de defasamento entre as linhas. Eles são usados para controlar o fluxo de potência entre as linhas de transmissão do SEP e são fabricados de acordo com os requisitos específicos de cada aplicação, indicados pela concessionária no ato da encomenda. As impedâncias de transformadores de dois enrolamentos ocorrem em ambos os lados, entretanto, normalmente as impedâncias são referidas em um dos lados onde são representadas. A Figura 5 mostra o circuito equivalente de um transformador de dois enrolamentos. FIGURA 5 – REPRESENTAÇÃO COMPLETA DO CIRCUITO DO TRANSFORMADOR NO “TAP” NOMINAL POR FASE FONTE: Almeida e Freitas (1995, p. 104) Onde: • R₁: resistência elétrica EQUIVALENTES do enrolamento primário; • X₁: reatância equivalente do enrolamento primário, representando o fluxo disperso na bobina; • R₂: resistência elétrica do enrolamento secundário; • X₂: reatância equivalente do enrolamento secundário, representando o fluxo disperso na bobina; 98 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) • Rf: resistência elétrica equivalente que produz a mesma perda no núcleo que as perdas por histerese e correntes parasitas; • Xm: reatância equivalente de excitação, representando o fluxo resultante no núcleo, necessário à operação normal do transformador. O circuito equivalente por fase do transformador pode ser simplificado da Figura 5 para a Figura 6, pois como a corrente que flui é alta, a corrente de excitação do núcleo é pequena podendo ser desprezada. O modelo simplificado consiste em uma resistência em série com uma reatância como mostra a Figura 6: FIGURA 6 – MODELO POR FASE DO TRANSFORMADOR FONTE: Almeida e Freitas (1995, p. 104) As expressões para RT e XT são dadas por: RT = R₁ + R₂ e XT = X₁ + X₂ Onde: • RT: resistência equivalente do transformador; • XT: reatância equivalente do transformador. A impedância série do equivalente de transformadores normalmente são valores muito menores que a impedância paralela. As resistências ôhmicas, tanto da impedância série quanto da paralela são muito menores que a reatância indutiva. O efeito indutivo da impedânciasérie de transformadores é denominado de reatância de dispersão e o efeito resistivo é provocado pela denominada "perdas no cobre". O efeito resistivo da impedância paralela é provocado pela denominada "perdas no ferro". TÓPICO 2 — REPRESENTAÇÃO EM PU DE TRANSFORMADORES 99 Exemplo: os valores nominais de um transformador trifásico de dois enrolamentos são os seguintes: potência: 5 MVA; tensão: 138 kV-estrela/13,8 kV- triângulo; reatância de dispersão por fase: xd = 12%. Com base nesses dados, responda qual é o valor da reatância de dispersão em ohms nas seguintes situações: (a) Referida ao lado de alta tensão. (b) Referida ao lado de baixa tensão. Solução: (a) (b) As perdas no ferro, conforme vistas no Caderno de Estudos de Conversão Eletromecânica de Energia, são compostas por correntes que provêm de variações de indução nas massas ferromagnéticas das máquinas. Elas compreendem as perdas Foucault e as perdas por histerese. Demonstra-se que os núcleos laminados, submetidos a induções variáveis, e segundo direções paralelas às faces das chapas laminadas, tornam-se sedes de perdas Foucault, que podem ser expressas pela Equação a seguir: pf = Kf . V(f . Bm . e)2. Por sua vez, as perdas histeréticas são expressas pela Equação: ph = Kh . V . f .Bmx; onde: Kf e Kh são os coeficientes que dependem das propriedades dos materiais; V é o volume total de núcleos ou de peças de material ferromagnético; f é a frequência das variações das induções; Bm é p valor máximo das induções variáveis; x é um expoente que depende das propriedades dos materiais e do próprio valor de Bm. Varia entre 1,5 e 2,5. Para materiais ferromagnéticos de uso corrente, submetidos a induções máximas compreendidas entre 0,15 e 1,2 [Wb/m2], recomenda-se x = 1,6; e é a espessura das chapas laminadas. Em certos casos, admite-se x da ordem de 2. Nessas condições, as perdas no ferro podem ser traduzidas, aproximadamente, pela Equação seguinte: pF = pf + ph = V (Kf . f . e2 + Kh) f. Bm2, mostrando-se proporcionais aos quadrados das induções máximas. IMPORTANT E 100 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) 3 TRANSFORMADORES DE TRÊS ENROLAMENTOS POR FASE EM PU Os transformadores de dois enrolamentos têm potências idênticas em ambos terminais. Enquanto os transformadores de três enrolamentos podem ter potências distintas em cada um dos terminais. Os transformadores de três enrolamentos são usados em subestações com mais de dois níveis de tensão. Da mesma forma que nos transformadores de dois enrolamentos, a determinação das impedâncias de dispersão se faz através de ensaios com um dos terminais em curto-circuito. Os terminais dos transformadores de três enrolamentos são denominados de primário, secundário e terciário e os respectivos ensaios permitem a determinação das seguintes impedâncias de dispersão: zps = impedância medida no primário com o secundário em curto circuito e o terciário em aberto; zpt = impedância medida no primário com o terciário em curto circuito e o secundário em aberto; zst = impedância medida no secundário com o terciário em curto circuito e o primário em aberto. FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO DE UM TRANSFORMADOR DE TRÊS ENROLAMENTOS FONTE: A Autora TÓPICO 2 — REPRESENTAÇÃO EM PU DE TRANSFORMADORES 101 O modelo do circuito monofásico equivalente em pu de transformadores de três enrolamentos deve conter pelo menos três nós correspondentes a cada um dos terminais. Assim, o modelo equivalente pode ser um circuito Y ou ∆. Com isso, obtém-se as seguintes equações para determinar as impedâncias do transformador de três enrolamentos: Exemplo: determine as impedâncias de um transformador de três enrolamentos cujos dados são: Xpt = 8,94%, com primário em 69 kV, terciário em 13,8 kV e potência de 10 MVA; Xps = 5,53%, com primário em 69 kV, secundário em 34,5 kV e potência de 10 MVA; Xst = 3,43%, com secundário em 34,5 kV, terciário em 13,8 kV e potência de 10 MVA. Solução: os dados de impedância se referem a uma mesma potência de base igual a 10 MVA. Adotando-se uma potência de base, para o diagrama em pu, de 100 MVA e uma tensão de base de 69 kV no primário, tem-se que: Xp = 0,5.(0,0894 + 0,0553 – 0,0343).100/10 = 0,552 pu; Xs = 0,5.(0,0553 + 0,0343 – 0,0894).100/10 = 0,001 pu; Xt = 0,5.(0,0894 + 0,0343 – 0,0553).100/10 = 0,342 pu. 4 REPRESENTAÇÃO DO BANCO DE TRANSFORMADORES POR FASE EM PU O banco de transformadores consiste em um conjunto de três transformadores monofásicos funcionando como um transformador trifásico. A utilização de um banco de transformadores é viável em casos especiais ou nos casos de transformadores que necessitam trabalhar com uma potência mais elevada. Os parâmetros dos bancos de transformadores como potência, tensão e impedâncias, são referidas às unidades monofásicas devendo ser calculadas de forma adequada, conforme mostraremos no exemplo a seguir. Ao se avaliar os diagramas de impedância de sistemas com bancos de transformadores, o primeiro passo é a determinação das características do transformador trifásico equivalente. 102 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) Exemplo: determinar a reatância em pu de um banco de transformadores constituído de unidades monofásicas, conforme mostra a Figura 8. O lado de alta tensão do transformador é ligado em delta e o lado de baixa tensão em Y aterrado. Cada unidade monofásica é de MVA, 230 kV/79,7 kV e reatância de dispersão de 5,1%. Considere uma base de 100 MVA e 138 kV no lado de baixa do transformador trifásico equivalente. FIGURA 8 – TRÊS UNIDADES MONOFÁSICAS FONTE: Stevenson Jr. (1975, p. 160) Solução: a potência do transformador trifásico equivalente é a soma das três unidades monofásicas, ou seja, P = 150 MVA. O lado de alta do transformador trifásico está conectado em delta (∆), portanto, a tensão entre as fases nesse mesmo lado corresponde à tensão da unidade monofásica que é de 230 kV. O lado de baixa do transformador está conectado em Y, portanto, a tensão entre as fases é de √3 x 79,7=138 kV. Portanto, a relação de transformação do transformador equivalente é de 230 kV/138 kV. A reatância em pu do transformador trifásico é de: 5 REPRESENTAÇÃO DAS LINHAS AÉREAS DE TRANSMISSÃO POR FASE EM PU A representação das linhas de transmissão em um diagrama unifilar é feita por um circuito monofásico equivalente, por fase. Supõe-se que a linha opere em regime permanente, a uma frequência, que no Brasil é igual a 60 Hz. A linha tem quatro parâmetros característicos: uma condutância, G; uma resistência, R; uma reatância, X = ϖL, sendo L a indutância da linha; e uma susceptância, Y = ϖC, onde C é a capacitância da linha. TÓPICO 2 — REPRESENTAÇÃO EM PU DE TRANSFORMADORES 103 O primeiro dos parâmetros é desprezível para a faixa usual de frequência dos estudos em regime permanente e de análise de estabilidade em baixas frequências. Assim, considerar-se-á G = 0 para fins de modelagem. Os parâmetros das linhas de transmissão são, em geral: • parâmetros em série: indutância e resistência; • em shunt (paralelo ou derivação): condutância e capacitância. Como as linhas aéreas trifásicas são suficientemente equilibradas nos sistemas de energia, podem ser representadas por circuitos unipolares, constituídos de fase e neutro. O neutro é representado sem parâmetros elétricos, pois, INeutro = 0 em sistemas equilibrados. Em linhas aéreas a condutância pode ser desprezada, restando na parte shunt apenas o efeito capacitivo. As linhas de transmissão podem ser classificadas em linha curta, média e longa. A proposta da classificação é baseada no comprimento da linha e no nível de tensão. Em outros textos, a classificação é feita de forma mais simples, como segue: (a) linha curta: comprimentos até 80 km; (b) linhamédia: 80 a 240 km; (c) linha longa: mais de 240 km. O emprego de uma ou outra classificação depende do grau de precisão desejado nos cálculos. Na dúvida, pode-se recorrer à classificação mais rigorosa. Cada tipo de linha está associado a um modelo de circuito a parâmetros concentrados, ou seja, tem-se um modelo para linha curta, outro para linha média e outro para linha longa. Esses modelos atendem aos propósitos de estudos como, por exemplo, fluxo de carga, curto-circuito e estabilidade. Vale ressaltar que nas linhas, em geral, a impedância série varia com o seu comprimento. Para sistemas com tensões elevadas, por exemplo, 500 kV ou 750 kV, a reatância série XL é bem maior que a resistência série R (da ordem de 20 a 30 vezes maior). Para níveis mais baixos, o valor relativo da resistência aumenta e, para sistemas de distribuição, esses valores são comparáveis. A admitância capacitiva Yc em um circuito elétrico é o inverso da reatância capacitiva Xc, ou seja: IMPORTANT E 104 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) 5.1 MODELO PARA LINHA DE TRANSMISSÃO CURTA As linhas curtas são representadas por um circuito no qual a resistência equivalente dos condutores, R, é conectada em série com a reatância indutiva, X. A Figura 9 mostra um circuito equivalente para uma LT onde mostramos uma LT curta, onde R e XL são os valores totais da linha. FIGURA 9 – MODELAGEM DE LT CURTA FONTE: A Autora A Tabela 2 mostra os comprimentos das linhas de transmissão de acordo com as tensões de linha da rede. TABELA 2 – COMPRIMENTOS DAS LINHAS DE TRANSMISSÃO FONTE: Kindermann (2007. p. 88) 5.2 MODELO PARA LINHA DE TRANSMISSÃO MÉDIA Uma linha aérea média pode ser representada por uma impedância composta por parâmetros concentrados R e L série e, por uma admitância em derivação que contempla o efeito capacitivo C. Um modelo muito utilizado é o modelo π-nominal, no qual a admitância total é dividida em duas partes iguais, colocadas nas extremidades, como mostra a Figura 10: TÓPICO 2 — REPRESENTAÇÃO EM PU DE TRANSFORMADORES 105 FIGURA 10 – MODELAGEM PARA LT MÉDIA FONTE: A Autora • Sendo a admitância total: Y = j/Xc, em siemens, então em cada extremo: Y/2 = j/(2Xc) Onde Xc é a reatância capacitiva total da linha (em ohms). • Caso queira expressar usando a impedância (ohms) tem-se: impedância total da linha: ZcTotal = - jXc. Então, em cada extremo: Zc = - 2jXc. 5.3 MODELO PARA LINHA DE TRANSMISSÃO LONGA Nesse caso, o circuito equivalente representa a linha com precisão desde que se esteja em interesse apenas as medidas dos valores de tensões, correntes, potências nas extremidades da linha. A maioria dos programas de computador adotam o modelo π para estudos de fluxo de potência, curto-circuito e estabilidade, mesmo para linhas longas. Nessas ocasiões, para manter-se a precisão, adota-se o circuito π- equivalente, o qual possui também uma impedância em série agora simbolizada por Z` e duas admitâncias em derivação Y`/2 em cada extremidade, como mostra a Figura 11. FIGURA 11 – MODELAGEM PARA LT LONGA FONTE: A Autora Esse modelo é adequado para a representação das linhas longas em regime permanente, no qual utilizamos as seguintes equações: 106 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) e Onde: Z e Y são a impedância e admitância totais da linha, respectivamente. 6 REPRESENTAÇÃO DE GERADORES POR FASE EM PU O gerador síncrono converte energia mecânica em elétrica quando operado como gerador, e energia elétrica em mecânica quando operado como motor. A origem do nome é devido à operação da máquina ser com velocidade de rotação constante sincronizada com frequência da tensão elétrica alternada aplicada nos seus terminais. O modelo do gerador síncrono mostrado na Figura 12 consiste em uma fonte de tensão em série com a reatância subtransitória. FIGURA 12 – MODELO POR FASE DO GERADOR SÍNCRONO FONTE: Kindermann (2007, p. 28) Onde: G – Fonte de tensão; X”d – Reatância subtransitória do eixo direito. Exemplo: dois geradores são ligados em paralelo à mesma barra e têm reatâncias subtransitórias de x” = 10%. O gerador 1 é de 2500 kVA e 2,4 kV e o gerador 2 é de 5000 kVA e 2,4 kV. Determine a reatância por unidade de cada gerador numa base de S = 15000 kVA e 2,4 kV. Qual deve ser a reatância por unidade de um único gerador equivalente aos dois em paralelo na base dada? Solução: Dados: x” = 10%; Sbase = 15000 kVA; Vbase = 2,4 kV. TÓPICO 2 — REPRESENTAÇÃO EM PU DE TRANSFORMADORES 107 (a) (b) 7 REPRESENTAÇÃO DE CARGAS EM PU Aqui se apresenta modelos para o emprego das cargas em um circuito elétrico que representa um sistema de potência em estudo. Os modelos usuais para as cargas são: • modelo de potência constante, no qual utiliza-se valores constantes de potências ativa e reativa usado em estudos de fluxo de potência por exemplo); • impedância (ou admitância) constante, representado cargas passivas; • impedância em série com força eletromotriz (representa máquinas rotativas as quais contribuem para alimentar correntes de curto-circuito); • de corrente constante. A Figura 13 mostra a representação de três tipos de cargas em um diagrama unifilar de sistemas de potência. FIGURA 13 – MODELOS DE CARGAS FONTE: A Autora Causas do baixo fator de potência na indústria: 108 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) • Motores de indução operando em vazio: tais motores consomem praticamente a mesma energia reativa, quer operando em vazio, quer operando à plena carga. A energia ativa, entretanto, é diretamente proporcional à carga mecânica aplicada ao eixo do motor. Nessas condições, quanto menor a carga, menor a energia ativa consumida e menor o fator de potência. • Transformadores operando em vazio ou com pequenas cargas: analogamente aos motores, os transformadores, quando superdimensionados para a carga que devem alimentar, consomem uma quantidade de energia reativa relativamente grande, se comparada à energia ativa, contribuindo para um fator de potência baixo. • Lâmpadas de descarga: as lâmpadas de descarga (vapor de mercúrio, vapor de sódio, fluorescentes etc.) necessitam do auxílio de um reator para funcionar. Os reatores magnéticos, como os motores e os transformadores, possuem bobinas que consomem energia reativa, contribuindo para a redução do fator de potência. O uso de reatores compensados (com alto fator de potência) pode contornar o problema. Os reatores eletrônicos, de boa procedência e especificação, apresentam um bom comportamento relativo ao fator de potência, alguns até próximos de 100%. • Grande quantidade de motores de pequena potência: provoca muitas vezes, um baixo fator de potência, pois o correto dimensionamento de tais motores em função das máquinas a eles acopladas (dependente do tipo de indústria) pode apresentar dificuldades. • Tensão acima da nominal (sobretensão): a potência reativa é proporcional ao quadrado da tensão aplicada. No caso dos motores de indução, a potência ativa só depende, praticamente, da carga mecânica aplicada ao eixo do motor. Assim, quanto maior a tensão aplicada aos motores, maior a energia reativa consumida e menor o fator de potência. • Na indústria podem-se citar as seguintes cargas típicas que contribuem para o baixo fator de potência: injetoras, fornos de indução ou a arco, sistemas de solda, prensas, guindastes, pontes rolantes, bombas, compressores, ventiladores, tornos, retíficas, sistemas de galvanoplastia e eletrólise, entre outros. No contexto de sistemas elétricos de potência, para os motores trifásicos, devem ser informados os valores correspondentes a: • potência nominal (mecânica, total, disponível no eixo); • tensão de linha nominal; • frequência; • reatâncias subtransitória (X”d e X”q), transitórias (X’d e X’q) e de regime permanente(Xd e Xq), por fase, expressas em valores percentuais ou em pu, tendo como bases a tensão nominal do motor e a potência aparente correspondente à potência nominal fornecida no eixo da máquina. As potências dos motores são especificadas em HP ou em CV, no eixo, e, portanto, a potência aparente pode ser determinada a partir do conhecimento do rendimento e do fator de potência (fp) da máquina. TÓPICO 2 — REPRESENTAÇÃO EM PU DE TRANSFORMADORES 109 Na falta de dados completos, alguns autores sugerem adotar as seguintes relações (valores médios): • Motor de indução: kVA = HP. • Motor síncrono com fator de potência unitário: kVA = 0,85.HP. • Motor síncrono com fator de potência 0,8: kVA = 1,10.HP. Exemplo: certo motor síncrono suja tensão nominal é de 6,9 kV, tem potência de 3000 HP, reatância subtransitória X”d igual a 15% e fp = 0,8. Determine: (a) Valor em ohms da reatância subtransitória. (b) Valor em pu da reatância subtransitória, nas bases 5000 kVA e 12,5 kV. Solução: (a) (b) Agora, vamos ensinar você, acadêmico, a calcular todas essas grandezas em pu, em um SEP. Vamos lá? 1º Exemplo: determinar o diagrama de impedâncias do diagrama unifilar equivalente monofásico em ohms e em pu do sistema da Figura 14, adotando como base 69 kV e 100 MVA na linha de transmissão. O gerador de 13,8 kV tem uma potência de 12 MVA e reatância transitória de 30%. Os dois transformadores são idênticos com uma relação de 13,8 kV/69 kV, potência de 15 MVA e reatância de dispersão de 7%. A linha de transmissão tem 90 km de extensão, resistência ôhmica de 0,24 ohms/km, reatância indutiva de 0,50 ohms/km e reatância capacitiva de 300 kΩ/km. A carga do sistema é de 8,0 MW com um fator de potência de 0,92 em atraso, com uma tensão de operação de 13,2 kV. FIGURA 14 – DIGRAMA UNIFILAR FONTE: Stevenson (1975, p. 122) Solução (a) – Diagrama de impedâncias em ohms (Ω): a resistência ôhmica e a reatância indutiva da linha de transmissão são: 110 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) R = (0,24) . (90)∴ R = 21,6 XL= (0,50).(90)∴ XL = 45,0 A reatância capacitiva da linha de transmissão, considerando o circuito equivalente é: A reatância subtransitória do gerador de 30% equivale a 0,30 pu na base de 13,8 kV e 12 MVA. Portanto, a impedância de base do gerador é conhecida, o que permite o cálculo da reatância subtransitória em ohms. Com isso, temos: A reatância de dispersão do transformador é de 7% o que equivale a 0,07 pu, na base de 15 MVA e 69 kV ou 13,8 kV. No cso de transformadores a base de tensão corresponde ao lado em que a reatância em ohms é representada. Se a reatância for representada no lado de 13,8 kV, o valor em ohms é de: Se a reatância do transformador for localizada no lado de 69 kV, o valor em ohms é de: A carga do sistema de 8 MW e o fator de potência de 0,92 corresponde a uma potência aparente de S = S = 8,70 MVA. . Se o fator de potência da carga está em atraso significa que a potência ativa e reativa tem o mesmo sinal, portanto, a parte reativa da carga é: Q = 8,7.sen(arc cos(0,92) ) = 3,41 MVAr A tensão de operação na carga é de 13,2 kV o que equivale, em termos monofásicos, a V = V= 7,62 kV. A seguir temos o diagrama de impedâncias do equivalente monofásico. TÓPICO 2 — REPRESENTAÇÃO EM PU DE TRANSFORMADORES 111 Solução (b) – Diagrama de impedâncias em pu: sendo a base de tensão de 69 kV na linha de transmissão, tem-se como base de tensão 13,8 kV no gerador e na carga. Assim, a impedância da linha em pu é: Da mesma forma obtém-se que a reatância capacitiva da linha é 140 pu. Sabendo que as bases do sistema no gerador são 13,8 kV e 100 MVA, a reatância do gerador em pu é: A reatância em pu do gerador pode também ser obtida diretamente a partir do valor em pu de 0,30 pu na base dos valores nominais do gerador, nesse caso faremos: A equação anterior resulta no mesmo valor que é 2,5 pu para a reatância do gerador. A reatância do transformador pode ser encontrada com uma equação semelhante, ou seja: 112 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) A carga em pu pode ser obtida como: A correspondente tensão de operação na barra de carga é dada por: As relações de transformação dos transformadores se tornam em relações unitárias. A seguir mostramos o diagrama de impedâncias em pu. Desde que as relações de transformação são unitárias, elas podem ser removidas do circuito. Assim, o diagrama de impedâncias em pu se comporta como se não existissem transformadores no sistema, conforme mostramos a seguir: 2º Exemplo: determinar o diagrama de impedâncias do sistema em pu da Figura 15, empregando uma base de potência de 100 MVA e 13,2 kV no lado de baixa tensão dos transformadores. Considere que um dos transformadores esteja conectado no tap de 135 kV e o outro no tap nominal. Os transformadores são de 25 MVA, 138 kV/13,8 kV e cada um tem reatância de dispersão de 6,5%. A fonte supridora tem uma reatância equivalente de 17%, na tensão de 132 kV e 200 MVA. A carga é de 30 MVA com fator de potência de 0,98 em atraso. TÓPICO 2 — REPRESENTAÇÃO EM PU DE TRANSFORMADORES 113 FIGURA 15 – TRECHO DE UM SEP CONTENDO UM GERADOR E DOIS TRANSFORMADORES. A CARGA É INDICADA PELA SETA FONTE: Stevenson (1975, p. 198) Solução: a tensão de base no lado de baixa dos transformadores é de 13,2 kV, portanto, a tensão de base no lado de alta é de 132 kV. As reatâncias em pu dos transformadores são: A reatância da fonte supridora é: As relações de transformação em pu dos transformadores são, respectivamente: pu 114 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) e A carga ativa do sistema em pu é: O fator de potência em atraso implica que as potências ativas e reativa têm o mesmo sinal, então: O diagrama de impedâncias em pu é mostrado a seguir: No modelo da figura, somente podem ser removidas as relações de transformação unitárias, O diagrama de reatâncias desse trecho do SEP é mostrado a seguir: TÓPICO 2 — REPRESENTAÇÃO EM PU DE TRANSFORMADORES 115 3º Exemplo: desenhe o diagrama de impedâncias do sistema elétrico de potência da Figura 16, usando como base as características nominais do gerador síncrono G1: FIGURA 16 – DIAGRAMA UNIFILAR DO SEP FONTE: A Autora Solução: como a base é no gerador G1, temos que: Vbase = 13,8 kV e Sbase = 30 MVA. Com isso, a impedância do gerador G1 é x = 0,15 pu, pois está na própria base do gerador. Já para o transformador T1 faremos uma mudança de base no lado ∆, usando: Para a linha de transmissão localizada no trecho b-c faremos os seguintes cálculos. A tensão de base no nível de tensão da linha de transmissão é dada por: E, 116 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) A impedância de base é calculada usando: A impedância da linha de transmissão no trecho c-e é dada por: Para o transformador T2 faremos a mudança de base usando o lado de alta tensão, tem-se que: O cálculo da tensão base no nível de tensão do gerador síncrono G2, pela relação de transformação T2, tem-se: Efetuando-se a mudança de base, tem-se que: Já para o transformador T3 faremos a mudança de base no lado de alta tensão: O cálculo da tensão base no nível de tensão do motor síncrono M, é mostrado a seguir: TÓPICO 2 — REPRESENTAÇÃO EM PU DE TRANSFORMADORES 117 Fazendo-se a mudança de base, temos que: O diagrama unifilar por fase do sistema com os rspectivos valores em pu é mostrado a seguir: 118 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Numa rede com vários níveis de tensão, cujas zonas são definidas pelos transformadores existentes, haverá uma base de tensão para cada zona, sendo conveniente que as relações entre as bases de zonas adjacentes sejam iguaisàs relações de transformação dos transformadores que as ligam (nessa hipótese, os transformadores terão, em pu, uma relação de transformação 1:1, o que é extremamente cômodo). • As bases de impedância e corrente serão também diferentes em cada zona, como é óbvio. • Numa rede complexa, o procedimento a seguir para a definição das bases será o seguinte: (a) Definir a base de potência total Sb para todo o sistema. (b) Identificar as diferentes zonas de tensão. (c) Definir a base de tensão composta Vb1 para uma das zonas de tensão (designada arbitrariamente por zona 1). (d) Em cada zona k ainda sem base definida, que esteja ligada a uma zona com base Vbi através de um transformador1 com razão de transformação Vi /Vk, definir como base a tensão Vbk = (Vk/Vi).Vbi. (e) Calcular as bases de impedância e de corrente para cada zona, a partir das bases de potência e de tensão. 119 1 (PETROBRÁS, 2004) Acerca da representação de grandezas por valor por unidade (pu) em um sistema elétrico de potência, julgue as sentenças a seguir: FONTE: Adaptada de <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/ f4c3c5ed-87>. Acesso em: 22 set. 2021. I- Essa representação é aplicada somente a estudos em sistemas elétricos de potência trifásicos e monofásicos. II- Por meio dessa representação, escolhendo-se uma base de tensão e outra de corrente, é possível calcular bases de impedância e de potência, entre outras. III- Para fins de cálculo de valores pu em um transformador trifásico de dois enrolamentos, a impedância base é maior no lado cujo enrolamento apresenta maior tensão. IV- Ao ser convertida em valor pu de outra base, a reatância em pu de um gerador depende da potência em MW do gerador. V- O valor em pu da impedância de um transformador trifásico de potência – constituído a partir de um banco de transformadores monofásicos idênticos – é igual ao valor em pu da impedância de um transformador monofásico do banco. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I, IV e V estão corretas. b) ( ) As sentenças II e I estão corretas. c) ( ) As sentenças II, III e V estão corretas. d) ( ) As sentenças III e V estão corretas. 2 (INPI 2002) Um gerador síncrono trifásico, 130 MVA, 13,8 kV, tem reatância síncrona igual a 1,87 pu em sua própria base. Esta máquina é ligada a um transformador de 13,2 kV/126 kV, de potência nominal também igual a 130 MVA. A reatância do transformador vale 9,7% em sua própria base. A impedância equivalente série do sistema de transmissão como vista dos terminais de alta tensão do transformador é de 15% na base 100 MVA, 120 kV. A reatância série total dos três elementos (gerador + transformador + sistema) que pode ser usada nas equações de transferência de potência entre o gerador e o sistema, expressa em pu na base 130 MVA, 120 kV, é de: FONTE: <https://www.estudegratis.com.br/questao-de-concurso/411196>. Acesso em: 22 set. 2021. a) ( ) 2,.234 b) ( ) 2,555. c) ( ) 2,835. d) ( ) 3,112. e) ( ) 3,426. AUTOATIVIDADE 120 3 (PETROBRAS, 2004) a Figura III a seguir mostra uma rede elétrica constituída de um gerador ideal, um transformador de potência, uma linha de transmissão e uma carga equivalente, devidamente conectados, formando um sistema elétrico de potência trifásico. A Figura IV mostra o circuito elétrico correspondente ao diagrama unifilar da rede e dos dados informados. Em relação à modelagem dos equipamentos, o gerador é representado pela tensão em seus terminais. O transformador e a linha de transmissão são representados por suas reatâncias equivalentes e a carga por uma impedância constante z. O circuito equivalente é utilizado para a determinação de grandezas como tensão, corrente e potência em operação normal e regime permanente. Considere que o gerador é ajustado para operar gerando tensão nominal em seus terminais. FONTE: Adaptada de <https://www.tecconcursos.com.br/questoes/1420693>. Acesso em: 22 set. 2021. A partir do diagrama unifilar da rede elétrica e do seu circuito elétrico equivalente em pu da base de 100 MVA e tensão de 10 kV no gerador G1, analise as sentenças que seguem: I- A impedância z representativa da carga é composta de uma componente resistiva e de outra indutiva. II- Para a condição de operação do gerador, o módulo da tensão V3 nos terminais da carga é igual a 1,0 pu. III- O valor em pu da reatância da linha de transmissão é igual a 0,4 pu. IV- Para a condição de operação do gerador, a potência ativa necessária para atender à carga é igual a 64 MW. 121 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e IV estão corretas. b) ( ) As sentenças II e I estão corretas. c) ( ) As sentenças II, III e V estão corretas. d) ( ) As sentenças I e III estão corretas. 4 Certa máquina trifásica tem em cada fase reatância igual a 1,5 pu, com potência base e tensão base iguais a, respectivamente, 300 MVA e 25 kV. Determine: (a) o valor em ohms da reatância. (b) o valor em pu da reatância, nas bases de 100 MVA e 20 kV. 5 Determine a reatância subtransitória, em ohms, de um alternador monofásico de 150 kVA, 600 V, cujo fabricante informa ser esta reatância igual a 20%. 122 123 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Este tópico aborda a modelagem analítica das linhas aéreas de transmissão. As redes de transmissão têm sido readequadas e ampliadas. O acelerado crescimento da demanda por capacidade de transmissão está conduzindo a rápida expansão das linhas de transmissão pelas Américas. A infraestrutura de transmissão tem tido uma renovação e ampliação em um ritmo sem precedentes. A construção de linhas de transmissão de energia elétrica é de suma importância para o desenvolvimento do Brasil, não somente porque transporta a energia necessária aos centros de carga, mas também porque oferece diversas possibilidades de emprego direto nos canteiros de obra, nas empresas transmissoras de energia e, indiretamente, nas indústrias e empresas fornecedoras de materiais, equipamentos e serviços. Trata-se de uma atividade bastante complexa, que exige diversos estudos preliminares, além da execução de inúmeras atividades de campo, onde é necessário organização e planejamento para que a entrega do empreendimento seja realizada dentro do prazo e com a qualidade esperada. Dentre as atividades desenvolvidas, são observados serviços jurídicos e de engenharia, obras civis e montagens eletromecânicas, além de gerenciamento e supervisão do projeto. Um conjunto de linhas de transmissão interligadas a subestações, cortando várias regiões geográficas do Brasil, forma o que comumente se chama de Sistema de Transmissão. Por exemplo, podemos citar a rede básica de FURNAS. Ela é configurada em linhas com tensões de 138, 230, 345, 500, 750 e ± 600 kV, que passam por oito estados e o Distrito Federal. Com isso, podemos concluir que o comprimento de uma linha de transmissão é muito importante. Os comprimentos caracterizam uma linha de transmissão, conforme segue: • linhas de transmissão longas: l > 240 km; • linhas de transmissão médias: 80 km < l < 240 km; • linhas de transmissão curtas: l < 80 km. A Figura 17 ilustra o abastecimento de energia elétrica a residências e indústrias através das linhas de transmissão. TÓPICO 3 — CÁLCULO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO 124 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) FIGURA 17 – LINHAS DE TRANSMISSÃO FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3u4rlVz / https://bit.ly/3kAgRtT>. Acesso em: 10 abr. 2021. O Sistema FURNAS é supervisionado pelo Centro de Operação do Sistema, em articulação com os centros de operação regionais. Informações das mais remotas áreas regionais são transmitidas por meio de tecnologias de comunicação que levama esses centros de operação um panorama on-line completo de todo o sistema, utilizando sistemas computacionais de tempo real e tecnologias de última geração videowall. Os centros de operação regionais têm como principais encargos a coordenação de manobras e a normalização do sistema elétrico após eventuais perturbações. São eles: • Centro Regional Minas, localizado na Usina Hidrelétrica de Furnas, em cuja área de responsabilidade estão incluídas as usinas do Rio Grande. • Centro Regional Rio, localizado na Subestação de Jacarepaguá, em cuja área de responsabilidade encontram-se os troncos de alimentação dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. • Centro Regional São Paulo, localizado na Subestação de Campinas, com responsabilidade sobre os troncos de alimentação da grande São Paulo e o Sistema de Transmissão proveniente da Usina Hidrelétrica de Itaipu. TÓPICO 3 — CÁLCULO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO 125 • Centro Regional Goiás, localizado na Usina de Itumbiara, em cuja área de responsabilidade destacam-se os troncos de alimentação aos estados de Goiás, Mato Grosso, parte do Tocantins e do Distrito Federal. O Centro de Operação do Sistema e o Centro de Supervisão de Telecomunicações localizam-se no Rio de Janeiro. O papel de FURNAS é gerar e transmitir a energia e não distribui-la. Outros exemplos de empresas geradoras e/ou transmissoras são: Chesf, Eletrosul, Eletronorte, Eletronuclear e Itaipu Binacional. Já, a distribuição é realizada por empresas locais, tais como Light, Enel, Elektro, EDP e Equatorial, e pode ser feita através de redes aéreas, por meio de postes, ou por redes subterrâneas, em que cabos elétricos são instalados sob o solo, no interior de dutos. Isso é comum em zonas urbanas e zonas rurais em que os regulamentos de segurança exijam. Entre os empreendimentos construídos e operados por FURNAS destaca- se o Sistema de Transmissão de Itaipu, integrado por cinco linhas de transmissão, que cruzam 900 km desde o Estado do Paraná até São Paulo. Esse sistema possui três linhas em corrente alternada 750 kV e duas linhas em corrente contínua ± 600 kV, necessárias para contornar o problema de diferentes frequências utilizadas por Brasil e Paraguai. O propósito de uma rede de transmissão é fornecer energia para unidades geradoras em vários locais para sistemas de transmissão, cujos quais em última instância suprem as cargas. As linhas de transmissão também interconectam utilitários vizinhos que permitem não somente o despacho ótimo de potência dentro das regiões durante condições normais, como também, transferem a potência entre regiões quando há emergências, tais como, apagões, faltas etc. Vamos iniciar nosso estudo sobre LT’s? 2 PROGAGAÇÃO EM LINHAS DE TRANSMISSÃO As linhas de transmissão (LT) são dispositivos usados para a transmissão de sinais (informação) ou de energia através da propagação guiada de ondas eletromagnéticas. Uma linha de transmissão é caracterizada pelos seguintes parâmetros: • resistência; • indutância; • condutância (que é o inverso da resistência), e; • capacitância. 126 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) A indutância e a capacitância são devido aos efeitos dos campos elétrico e magnético ao redor do condutor. Esses parâmetros são essenciais para o desenvolvimento dos modelos de linhas de transmissão usados em análise de sistemas de potência. A condutância shunt leva em conta as correntes de acoplamento (leakage) fluindo através de isolantes e de caminhos ionizados no ar. As correntes são desprezíveis se comparadas as correntes fluindo através das linhas de transmissão e devem ser negligenciadas. 2.1 TIPOS DE LINHA DE TRANSMISSÃO As linhas de transmissão são formadas por conjuntos de condutores metálicos com diversas disposições. Conforme a disposição desses condutores e o meio que exista isolando-os, a linha apresentará comportamentos elétricos específicos. Assim, na prática encontramos diversos tipos de linhas de transmissão cujas características vão determinar o modo como elas são utilizadas na prática. Para descrever uma linha de transmissão de acordo com suas características usamos termos como: • Impedância de entrada (Zin), sendo definida como a relação entre a tensão de entrada e a corrente de entrada (Vin/Iin). • Impedância de saída (Zout), sendo definida como a relação entre a tensão de saída e a corrente de saída (Vin/Vout). Para uma linha de transmissão de comprimento infinito é utilizado o termo “impedância característica”. A unidade de impedância é o ohm. 2.1.1 Linha Paralela Um dos tipos de linha de transmissão mais conhecidos é o formado por dois condutores que correm paralelos, mantidos a uma distância constante através de espaçadores feitos de material isolante. A separação entre os condutores varia, dependendo do tipo de aplicação e, também, do tipo de sinal que deve ser conduzido. As aplicações mais comuns em telecomunicações são em linhas telefônicas e telegráficas rurais e eventualmente usadas para conectar um transmissor a um sistema de antenas. A principal desvantagem no uso desse tipo de linha de transmissão está na sua perda por irradiação, além da possibilidade de captação de ruídos, já que não existe blindagem. Uma variação dessa linha de transmissão é a fita paralela, muito comum na conexão de antenas a televisores. Nesse tipo de linha paralela temos dois condutores separados por um material isolante (dielétrico) de baixa perda. TÓPICO 3 — CÁLCULO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO 127 2.1.2 Par Trançado Outro tipo de linha de transmissão formada por dois fios de mesmas características é a formada por um par de condutores trançados. Bastante usada em telefonia, esse tipo de linha de transmissão não é indicado para a transmissão de sinais de frequências elevadas, dadas suas perdas. Além disso, suas características mudam quando a linha está molhada. 2.1.3 Par Blindado Nessa linha de transmissão temos dois fios condutores paralelos, isolados por um material dielétrico e em torno deles existe uma blindagem metálica, formada por uma tela de condutores finos. Em torno dessa tela pode ou não existir um isolante externo. A grande vantagem desse tipo de linha de transmissão está no fato de que os condutores podem ser mantidos balanceados em relação ao terra de modo que a capacitância se mantém constante ao longo de seu comprimento. Outra vantagem está no fato de haver uma imunidade à captação de ruídos devido à blindagem que também evita as perdas por irradiação. 2.1.4 Cabo Coaxial Existem dois tipos de cabos coaxiais. Os cabos coaxiais rígidos que possuem como dielétrico o ar e os cabos coaxiais flexíveis que usam uma substância sólida como dielétrico. O condutor interno é mantido a uma distância constante do condutor externo (que funciona como blindagem) através de arruelas isolantes. As arruelas são espalhadas ao longo do cabo, mantendo uma separação constante entre elas. A grande vantagem desse tipo de linha está no fato de que o campo magnético do condutor interno não consegue sair de seu interior devido à presença da blindagem. Esse fato também impede que o condutor interno capte interferências. Um problema prático que esse tipo de linha encontra está na dificuldade em se manter a separação entre os condutores quando se necessita de uma trajetória curva. Caro acadêmico, você não deve confundir esse tipo de linha de transmissão com os cabos ou linhas coaxiais que veremos a seguir. IMPORTANT E 128 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) Além disso, ela é sensível à umidade, pois em seu interior existe ar, o que pode mudar suas características causando perdas e são caras. Limitando suasaplicações a percursos pequenos. Nos casos em que existe a sensibilidade a umidade pela entrada de ar, os espaços internos são preenchidos por um gás inerte como o hélio ou mesmo o argônio sob pressão. Um tipo muito mais usado e melhor é o cabo coaxial flexível em que, em lugar do ar como dielétrico é usada um material sólido como plásticos escolhidos de acordo com suas propriedades, de modo a causar um mínimo de perdas. Nesse tipo de cabo, o isolador interno é normalmente feito de diversos tipos de polietileno. 3 ESTRUTURA DA LINHAS AÉREAS DE TRANSMISSÃO As estruturas das linhas aéreas de transmissão têm por objetivo sustentar os cabos condutores e elementos associados, como isoladores, ferragens, cabos, para-raios. Elas podem ser encaradas como uma viga vertical engastada no solo. Agora, vamos definir e escrever, de maneira breve e geral, os elementos integrantes deste estudo, ou seja, os tipos de suportes mais comuns em projetos de linhas de transmissão, o terreno da região e os tipos de fundação mais usuais nessa classe de projeto. 3.1 TORRES As estruturas de suporte das linhas de transmissão têm como finalidade sustentar os cabos condutores e pára-raios, respeitando uma distância adequada de segurança, desempenho e custo. Tais estruturas são, em geral, construídas em treliças com perfis de aço galvanizado ou em postes de aço, concreto ou madeira. No Brasil, é comum o uso de postes de madeira para tensões de 33 kV e 69 kV e postes de concreto para o intervalo de 69 a 230 kV. Para tensões superiores a 138 kV, as estruturas mais usuais são as do tipo treliçado. Todavia, observa-se, na região norte do país, o uso de postes de concreto para tensões entre 138 kV e 230 kV. No Brasil, as torres metálicas treliçadas são mais usuais, pois permitem, em um espaço limitado, obter uma estrutura alta, esbelta, mais leve e versátil. Além disso, as estruturas dessas torres têm composição modular, a fim de melhor se ajustarem aos locais de sua implantação. Resulta disso que o seu projeto deve considerar, necessariamente, além das diversas hipóteses de carregamento, as muitas hipóteses de composição da torre, com diferentes alturas associadas a diversas extensões das pernas, que podem estar niveladas ou com desníveis. Vários aspectos permitem agrupar os tipos de torres metálicas existentes, sendo a funcionalidade estrutural e a forma de resistir às cargas os mais importantes para este estudo. Segundo a forma de resistir aos esforços que lhe são impostos, as estruturas são ditas autoportantes ou estaiadas. A Figura 18 mostra torres: (a) autoportante e (b) estaiada. TÓPICO 3 — CÁLCULO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO 129 FIGURA 18 – EXEMPLOS DE TORRES FONTE: <https://bit.ly/3EGQMkJ>. Acesso em: 22 set. 2021. A função estrutural define estruturas de suspensão, de ancoragem, para ângulos e fim de linha, de derivação e de transposição de fases. As estruturas de suspensão em alinhamento ou pequenas deflexões são suportes dimensionados para resistir aos esforços verticais devido ao vento e ao peso dos cabos e dos isoladores e suas ferragens. As estruturas de ancoragem são de dois tipos: para deflexões grandes e terminais e para deflexões médias. As primeiras são utilizadas no início e no fim das linhas e em grandes deflexões, sendo mais reforçadas por serem mais solicitadas. As estruturas de ancoragem para deflexões médias são semelhantes às primeiras, porém são empregadas no meio das linhas, com trações longitudinais equilibradas, sendo menos reforçadas, pois devem resistir unilateralmente apenas aos reforços decorrentes do tensionamento dos cabos durante a montagem ou após a ruptura de alguns deles. As estruturas de transposição ou rotação de fase asseguram equilíbrio magnético da linha com rotação de fases, exigindo estruturas especiais. E, finalmente, as estruturas de derivação são utilizadas em casos de se efetuarem sangrias na linha para alimentar um ramal, sem necessidade de pátio de seccionamento e manobras. Além das classificações supracitadas, deve ser considerada no projeto de construção de LTs a inserção de estruturas de transposição. Essas estruturas autoportantes com silhuetas diferentes das demais são utilizadas quando há a necessidade de inverter as posições das fases de um circuito. Tal imposição é consequência da configuração assimétrica das fases da LT, que origina indutâncias diferentes em cada fase. Como não existe simetria elétrica entre elas, mesmo com as cargas equilibradas, as quedas de tensão nas três fases são desequilibradas e essa inconveniência pode ser solucionada alternando as posições entre os condutores em intervalos regulares ao longo da linha, como mostra a Figura 19. 130 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) FIGURA 19 – TRANSPOSIÇÃO DE FASES FONTE: <https://bit.ly/39tMpLt>. Acesso em: 22 set. 2021. 3.2 TERRENOS A seleção das fundações a serem adotadas em projetos de linhas de transmissão depende principalmente do terreno. Geralmente, para cada projeto de linha de transmissão, são definidos tipos de solo e de rocha, de acordo com as propriedades encontradas nos maciços da região. Recomenda-se consultar a documentação da concessionária da região para maiores esclarecimentos sobre os trâmites de construção fundações para as LT’s. 3.3 FUNDAÇÕES Os tipos de fundações de emprego corrente em estruturas de suportes de linhas de transmissão dependem, em geral, do tipo de solo e do dimensionamento da torre e seu carregamento. O carregamento proveniente dos suportes de sustentação de LT’s, especialmente em torres autoportantes, pode ser transmitido às fundações através de um elemento metálico de ligação denominado “stub”. Para o dimensionamento da fundação, considera-se como ponto de aplicação desse carregamento o último furo de ligação das pernas da torre com o “stub”. TÓPICO 3 — CÁLCULO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO 131 Os desenhos do stub e da silhueta da torre apresentam importantes informações para o projeto das fundações, tais como composição e dimensão do stub, ângulos de inclinação das faces e dos montantes da torre e forma e dimensões dos módulos de composição da torre. Muitos desses elementos são considerados essenciais ao cálculo das cargas nas fundações. A Figura 20 mostra a ligação entre a torre autoportante e a fundação em concreto, com materialização do ponto de aplicação dos esforços. FIGURA 20 – LIGAÇÃO ENTRE A TORRE AUTOPORTANTE E A FUNDAÇÃO EM CONCRETO FONTE: <https://bit.ly/2XJaQCD>. Acesso em: 22 set. 2021. Usualmente, as estruturas de suporte das linhas de transmissão são dimensionadas para suportar as seguintes cargas: cargas provenientes dos cabos condutores e para-raios e da cadeia de isoladores; peso próprio da estrutura e carga de vento incidente diretamente sobre a torre. Normalmente essas cargas são agrupadas em desenhos esquemáticos, denominados “árvores de cargas”, e correspondem às várias hipóteses de carregamento da estrutura da torre. 132 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) 3.4 MONTAGEM DE ESTRUTURAS METÁLICAS As estruturas são transportadas até o canteiro de obras, normalmente por meio de caminhões, em lotes de peças que são separados de acordo com seu tipo. Depois de armazenadas em locais limpos e seguros é elaborado o Plano de Montagem, que descreve todas as atividades aplicadas no procedimento, incluindo o método de trabalho, controle de qualidade, a produção esperada e a composição das equipes, além de todas as técnicas de içamento e estaiamento provisórios. Esse planejamento também deve ser bastante cuidadoso quanto ao aspecto ambiental, de modo que todas as normas e recomendações têm de ser respeitadas a fim de evitar impactos degradantes. A montagem pode ser realizada por meio de trêsmétodos tradicionais: montagem manual, montagem com guindaste e montagem mista. Em circunstâncias especiais pode ser observada a montagem através de helicópteros em áreas de difícil acesso ou que apresentem rígidas restrições ambientais. Esse último método é bem mais custoso e com aplicações bem esporádicas no Brasil. A montagem manual é dividida em três etapas: pré-montagem, montagem propriamente dita e revisão da torre, compostas por equipes de encarregados, montadores e ajudantes. A pré- montagem nada mais é do que o espalhamento e posicionamento das peças da torre sobre o solo e tem o objetivo de facilitar o içamento das torres no momento da montagem propriamente dita. Feito isso, outra equipe inicia o içamento dos montantes (com o auxílio de um trator sobre rodas, no caso de conjuntos mais pesados) e esse procedimento é repetido diversas vezes até que todas as peças da torre sejam fixadas aos conjuntos, de acordo com a especificação do projeto. Trata-se de uma tarefa de grande risco aos montadores, que precisam estar, a todo o momento, conectados à estrutura através de equipamentos de proteção individual e coletivos (EPI’s e EPC’s) necessários à sua segurança, para realizar o perfeito engate das peças a alturas elevadas. Durante a montagem os parafusos não são apertados com o torque requisitado no projeto são apenas ajustados suficientemente para garantir a estabilidade da estrutura, assim, após a montagem uma nova equipe faz o aperto final com o auxílio de um torquímetro e verifica se todas as peças estão corretamente instaladas. Somente após uma verificação criteriosa, desde a parte inferior da torre até as mísulas superiores, é que o palnut (dispositivo que impede o afrouxamento dos parafusos) é inserido, juntamente com a tinta de alumínio anticorrosiva. Há, também, a montagem com guindaste, que é feita de modo semelhante à montagem manual, porém aumenta-se a produtividade e eleva-se o custo com o equipamento. A montagem mista, por sua vez, é a combinação da manual com a mecânica, sendo utilizada em casos em que a lança do guindaste não alcança os pontos mais altos da torre, exigindo, por isso, que os dois métodos sejam intercalados. A análise quanto à técnica mais vantajosa cabe à gerência do projeto. TÓPICO 3 — CÁLCULO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO 133 3.5 ISOLADORES O desempenho das linhas de transmissão está diretamente relacionado com o comportamento dos seus isoladores. Esses equipamentos têm a função de sustentar os cabos e mantê-los eletricamente isolados das estruturas. Em linhas aéreas, os cabos são suspensos e isolados da torre por cadeias de isoladores que estão sujeitas a forças verticais e horizontais. O número de isoladores por cadeia é determinado de acordo com a tensão da linha e o isolamento deve suportar tensões maiores que a tensão normal de operação, resistindo, inclusive, a surtos atmosféricos e surtos de manobras. Podem ser fabricados em material cerâmico, como porcelana vitrificada ou vidro temperado, ou baseados em compostos poliméricos, como a borracha de silicone em torno de um núcleo de fibra de vidro. Ambos os materiais são dielétricos e visam garantir a confiabilidade do sistema, tanto no isolamento entre os condutores e a estrutura, quanto na sustentação e fixação dos cabos, suportando os esforços mecânicos. Atualmente os isoladores de vidro são os mais utilizados em linhas de transmissão de extra-alta tensão (EAT) devido ao seu menor custo de manutenção e experiência de funcionamento comprovada. Os isoladores de porcelana, apesar de serem bastante vistos em linhas de distribuição, possuem limitações de comprimento para uso em tensões muito elevadas. Os isoladores poliméricos são fabricados em uma só peça para qualquer classe de tensão. Apesar de serem mais leves (e, portanto, mais fáceis de manusear e transportar), além de possuírem um menor custo imediato em relação à cadeia completa de isoladores de vidro, ainda possuem elevado custo de manutenção, pois as técnicas de inspeção desses materiais são caras e, ainda, pouco confiáveis. Apesar disso, têm excelente desempenho tanto em áreas com níveis elevados de poluição quanto em regiões marítimas e são bastante utilizados em áreas suscetíveis a vandalismo. 3.6 CABOS Os cabos das linhas de transmissão são formados por um conjunto de fios metálicos encordoados que interligam as subestações de energia elétrica e caracterizam-se por possuir alta condutibilidade e resistência mecânica satisfatória, podendo ser classificados como condutores ou para-raios. Após a montagem das estruturas é iniciada a etapa de instalação dos cabos para-raios e condutores, que compreende as atividades de lançamento, emenda, flechamento e grampeação de acordo com as especificações técnicas e normas de segurança. 134 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) O lançamento dos cabos é realizado com base no Plano de Lançamento. Nele são avaliadas todas as condições e obstáculos do traçado da LT, com o objetivo de encontrar a melhor distribuição das bobinas no campo para que a instalação dos cabos seja realizada sem desperdício de material e o aproveitamento da atividade ocorra de forma otimizada. É elaborado com base nas informações de planta e perfil e lista de construção, além das tabelas das bobinas disponíveis. Depois de estipulados os locais de início e fim do lançamento em cada trecho, ordem de posicionamento das bobinas, locais de emendas, vãos de controle de flechas e locais das proteções nas travessias sobre rodovias, ferrovias ou outras LTs/LDs, é iniciado o lançamento. Primeiro são lançados os cabos para- raios, que se situam em um plano mais alto, e posteriormente são lançados os condutores. Normalmente, em linhas de transmissão de extra alta tensão, os cabos Flechamento em linhas de transmissão significa a distância vertical entre a linha que liga os suportes dos cabos e o ponto de tangência do colo do cabo com a paralela à linha que liga os suportes e passa por esse ponto. FONTE: A autora A Catenária é a curva formada por todo material altamente flexível e uniforme (cabo, corrente etc.) suspenso entre dois suportes. Grampeação em linhas de transmissão consiste na substituição das roldanas pelos grampos de suspensão. Todas as empresas de eletricidade adotam critérios quanto ao posicionamento dos contra pinos e sentido de colocação dos parafusos durante a grampeação. Isso tem como objetivo facilitar a manutenção em linha viva, de modo que melhor se ajuste aos seus equipamentos. É utilizado um acessório denominado canga, para fixação dos cabos antes da retirada das roldanas de lançamento, visando manter o paralelismo e a sustentação dos cabos condutores na mesma posição. IMPORTANT E TÓPICO 3 — CÁLCULO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO 135 são lançados sob tensão controlada, ou seja, há primeiramente o lançamento de um cabo de aço (cabo piloto) de menor peso que os cabos estipulados em projeto, para uma posterior conexão deles no piloto através de um balancim (arraia). Os cabos são puxados por um guincho localizado na extremidade do tramo denominada praça do guincho, enquanto, na outra extremidade (praça do freio) os cabos saem das bobinas e passam pelo freio, onde é feito o controle da tensão do lançamento. A Figura 21 mostra o lançamento de cabos numa linha de transmissão. FIGURA 21 – LANÇAMENTO DE CABOS SOB TENSÃO CONTROLADA FONTE: <https://bit.ly/3CC4nbe>. Acesso em: 23 set. 2021. A quantidade de bobinas utilizadas na construção depende da extensão da LT e são enroladas, geralmente, em suportes de madeira com capacidade de transportar 2000 metros de cabo. Em linhas de transmissão com comprimento maior que uma bobina, devem ser realizadas emendas continuamente para conectar dois segmentos de cabos. Para esse serviço são utilizadas luvas, confeccionadas de acordocom a matéria-prima do cabo, com o cuidado de adicionar uma pasta antioxidante no caso de o condutor possuir alma de aço. As emendas podem ser pré-formadas, que são instaladas manualmente, ou à compressão, que utilizam o auxílio de uma prensa hidráulica para a instalação. A emenda do cabo OPGW, diferentemente das demais, é realizada dentro da caixa de emenda, que são acessórios fixados na própria estrutura metálica a cada 5000 metros de fibra ótica. 3.7 CONDUTORES Uma linha de transmissão (LT) eficaz otimiza a geração e a transmissão de energia elétrica, entretanto, as linhas são constituídas por condutores, com o objetivo de conduzir a eletricidade provinda das usinas hidrelétricas até os consumidores finais, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas. Victor Menezes (2015) define e explica os condutores: 136 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) [...] são os elementos ativos propriamente ditos das linhas de transmissão. É através deles que as cargas elétricas se deslocam, transmitindo a energia da geração até os centros de carga. O cobre foi a matéria-prima utilizada nas primeiras LT’s devido a sua elevada condutividade, mas, atualmente, as linhas aéreas utilizam condutores compostos basicamente de alumínio, tanto em forma de liga ou em conjunto com o aço, o que se deve principalmente ao seu menor custo em relação ao cobre ou qualquer outro material condutor. Os condutores de alumínio nu com alma de aço (formados por um grupo de fios de alumínio dispostos concentricamente em torno de um fio de aço) são os mais utilizados nas LT’s do Brasil devido a sua elevada condutividade e boa resistência mecânica. Apesar de possuírem resistência mecânica regular, o uso das ligas de alumínio tem se intensificado, pois apresentam boa condutividade e maior resistência a ambientes agressivos, além de menor custo. Apenas em sistemas de cabos subterrâneos ainda se utiliza o cobre como material condutor, porém a transmissão subterrânea ainda se mostra desprezível em termos de quilometragem em comparação a linhas aéreas” (MENEZES, 2015, p. 59). Além dos materiais já citados, algumas inovações têm sido aplicadas em instalações específicas, como os condutores em alumínio reforçado por compósito ou os formados com alma de fibra de carbono. Essas soluções, apesar de possuírem um custo bastante superior aos cabos tradicionais, possuem algumas características particulares vantajosas como o baixíssimo peso e a elevada carga de ruptura, que permite uma redução de flecha considerável mesmo em altas temperaturas, além de alta condutividade e resistência à corrosão, sendo uma opção concebível para grandes travessias. A seleção adequada do condutor é uma das tarefas mais significativas e complexas em um projeto de linhas de transmissão, já que provoca um impacto direto na escolha da torre, na isolação empregada e nos esforços mecânicos envolvidos, tanto nas estruturas quanto nas fundações. Também interfere consideravelmente nos custos e nas perdas ao longo da vida útil da LT. 3.8 PARA-RAIOS Ocupando a parte superior das estruturas, acima dos condutores das fases e com diâmetro muito menor, existem cabos eletricamente conectados à torre e, portanto, ao mesmo potencial da terra. Esses cabos são chamados de cabos para-raios (ou cabos guarda) e protegem o circuito das descargas atmosféricas, descarregando- as para o solo e evitando que causem danos e interrupções ao sistema. Sua localização nas estruturas, em relação aos cabos condutores, é fundamental no grau de proteção oferecido à linha, sendo inclusive alvo de estudos específicos de coordenação de isolamento de linhas de transmissão para indicar qual a configuração ótima para a instalação. Normalmente são utilizados cabos de aço que são conectados à torre através das ferragens de fixação e, desse modo, as eventuais descargas atmosféricas circulam pelo cabo de aço, pela torre e pelo sistema de aterramento (cabo contrapeso). TÓPICO 3 — CÁLCULO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO 137 Contudo, nos últimos anos, diversas transmissoras têm adotado a estratégia de substituir um dos cabos para-raios por cabo OPGW (Optical Ground Wires). A utilização desses cabos óticos, apesar de seu preço ser, em alguns casos, quatro vezes mais caro que os tradicionais, agrega valor ao sistema devido à capacidade da fibra ótica de transmitir voz, dados e imagens a altas taxas por meio digital, aumentando a confiabilidade da rede e facilitando o gerenciamento do sistema de transmissão, além de possibilitar o envio de sinais de telecomunicação e telecontrole (MENEZES, 2015, p. 61). 3.9 FERRAGENS E ACESSÓRIOS As ferragens das linhas de transmissão são constituídas de elementos metálicos, como o aço e o alumínio e são projetadas tanto para resistir aos esforços eletromecânicos quanto para reduzir efeitos elétricos, como rádio interferência (RIV) e corona. Existem diversos tipos de ferragens com funções específicas nas linhas de transmissão, mas suas especificações e desenhos dependem do fabricante, que deve atender aos requisitos normativos. Os grampos realizam a interligação mecânica entre a cadeia de isoladores e a estrutura, além de transmitirem cargas distintas às torres. São utilizados tanto nas cadeias de suspensão como nas de ancoragem e, de acordo com o engate, podem ter as extremidades em formato de bola, concha, elo, gancho, garfo ou olhal. As ferragens nas cadeias de suspensão, além de sustentarem os condutores, transmitem à estrutura o peso dos cabos e das cargas devidas ao vento, em uma disposição vertical e em forma de “I” ou “V”. Já as ferragens de ancoragem, através de uma disposição horizontal, transmitem para a estrutura a carga de tração dos cabos, além das cargas devidas ao vento. Além das ferragens de cadeia supracitadas, alguns acessórios são imprescindíveis para o bom funcionamento das linhas de transmissão. As luvas de emenda, por exemplo, destinam-se a unir mecânica e eletricamente duas extremidades de condutores, enquanto as luvas de reparação restabelecem a integridade eletromecânica de um condutor parcialmente danificado (MENEZES, 2015, p. 66). Já para limitar os efeitos mecânicos da ação do vento sobre os condutores e para-raios são utilizados espaçadores, amortecedores e espaçadores- amortecedores, instalados após o flechamento e grampeação dos cabos condutores. A função dos espaçadores é manter distâncias seguras entre os subcondutores, impedindo o choque, enquanto os amortecedores têm a missão de absorver a vibração dos cabos, evitando, assim, danos por fadiga. Os espaçadores- amortecedores conjugam as funções de ambos em um único acessório, sendo normalmente utilizados em linhas onde há mais de um condutor por fase. 138 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) 4 EFEITO CORONA À medida que a tensão elétrica em uma linha de transmissão for aumentada, ela alcança um valor no qual o ar que envolve o condutor torna-se ionizado, devido a força elétrica na superfície exceder um valor limite. A camada ionizada envolve o condutor, com isso, aumentando o seu diâmetro até um ponto em que as forças elétricas sejam insuficientes para causar mais ionização. Esse tipo de descarga elétrica e os seus efeitos associados são chamados de efeito corona. A Figura 22 mostra uma rede elétrica com a manifestação do efeito corona. FIGURA 22 – EFEITO CORONA FONTE: <https://alugagera.com.br/noticias/efeito-corona>. Acesso em: 23 set. 2021. Pode-se dizer que o efeito corona ocorre em virtude de o campo elétrico na superfície do condutor ter superado a capacidade disruptiva do ar. Essa condição pode ocasionar uma série de consequências, tais como: • eflúvios visíveis; • geração de ondas eletromagnéticas de baixafrequência (ruído de rádio); • ruídos audíveis; • perdas de energia; • geração de gases (ozonal); • vibrações mecânicas; Leia mais sobre linhas de transmissão em: https://www.furnas.com.br/ subsecao/77/linhas-de-transmissao. DICAS TÓPICO 3 — CÁLCULO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO 139 O efeito ótico do fenômeno de coroa ou efeito corona se dá quando o campo elétrico é maior que o campo elétrico do ar, ou seja, E > E₀, sendo: • E o campo elétrico na superfície e; • E₀ a capacidade disruptiva do ar. Sabe-se que o gradiente crítico disruptivo do ar atmosférico é da ordem de 30,5 kV/cm, valor máximo em atmosfera padrão de 20ºC e pressão barométrica de 770 mm de Hg (mercúrio). Fora desses padrões, podemos utilizar a equação a seguir: Onde P é a pressão barométrica em polegadas de mercúrio e T é a temperatura em graus Fahrenheit. De acordo com Peek (1929), o gradiente crítico visual pode ser calculado pela equação seguinte: Essa expressão é dada em valores eficazes e sendo “r” o raio do condutor, em centímetros. Miller Jr. (1956) sugere utilizar a equação a seguir: Para um condutor de uma polegada de diâmetro, por exemplo, as expressões citadas levariam a valores de 27,36 [kV/cm] e 26,81 [kV/cm], respectivamente; com diferença da ordem de 2%. A expressão anterior também pode ser usada para condutores múltiplos, desde que se faça uma correção, determinando o diâmetro de um condutor cilíndrico que, colocado na posição do eixo do condutor múltiplo, possua em sua superfície o mesmo gradiente de potencial que os subcondutores. Fogo de Santelmo também é o nome dado ao efeito corona, em razão da ocorrência do efeito de ionização de mastros de navios em regiões tropicanas antes das tempestades, sendo Saint Elmo é o padroeiro dos marinheiros. IMPORTANT E 140 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) ESTRUTURAS BÁSICAS DE CONDICIONAMENTO: DISPOSITIVOS FACTS S. M. Deckmann J. A. Pomilio Durante a década de 1990 realizou-se, em níveis federal e estadual, a venda de partes do setor elétrico. A ideia básica foi privatizar a geração e a distribuição, mantendo sob controle estatal apenas a transmissão da energia elétrica. Essa ação estava de acordo com a política de privatização e desestatização implementada pelos governos para captar recursos para pagamento de dívidas e investimentos e eram consistentes com uma visão ideológica de minimizar a presença do Estado na economia. Ao mesmo tempo existiam mudanças tecnológicas que apontavam a possibilidade de promover mudanças na gestão do setor elétrico. Dentre essas razões pode-se destacar: • globalização da economia; • crise energética mundial; • pressões ambientalistas; • desenvolvimento sustentado; • geração distribuída de pequena potência; • avanços tecnológicos. A primeira crise energética que começou nos anos 1970 com o boicote do petróleo árabe, impôs uma dependência maior da indústria em relação à energia elétrica, forçando uma mudança na maneira de gerenciar os recursos naturais. A conscientização acerca da limitação dos recursos materiais e energéticos teve muitos reflexos na economia mundial e na política de desenvolvimento dos países em geral. Restrições econômicas e preocupações com a conservação e recuperação do meio ambiente começaram a surgir em todo o mundo, forçando técnicos e autoridades a pensar em projetos de desenvolvimento autossustentados, utilizando recursos renováveis. Novos modelos de desenvolvimento, por sua vez, requerem novas soluções para sua implementação, estimulando o desenvolvimento de novas tecnologias. NECESSIDADE DE FLEXIBILIZAÇÃO DO SISTEMA ELÉTRICO A ordem econômica mundial que se impôs nas últimas décadas criou um grande impacto sobre o setor energético em geral e, especialmente no setor elétrico em todos os países, uma vez que tanto a geração (nuclear, termoelétrica, hidroelétrica ou de fontes alternativas) como a transmissão e a distribuição interferem bastante no meio ambiente, seja pela matéria prima utilizada na conversão da energia, seja no espaço físico ocupado para a sua transmissão e distribuição aos centros urbanos. LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 3 — CÁLCULO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO 141 A história dos sistemas elétricos já tem mais de 100 anos e desde seu início a expansão do sistema vinha sendo feita com vistas apenas aos interesses econômicos e a viabilidade técnica dos projetos de interligação dos centros de geração e de consumo. Como consequência desse enfoque, podem-se apontar alguns projetos no Brasil que hoje parecem ter recebido tratamento inadequado como, por exemplo, o afogamento do Salto de Sete Quedas pela barragem de Itaipu, a inundação de enormes regiões de terras férteis e de florestas tropicais (barragens de Balbina, no Amazonas e Tucuruí, no Pará), sem que estudos de impacto ambiental mais amplos se realizassem e sem que a população fosse devidamente consultada, recompensada e esclarecida sobre a relação custo/benefício social desses projetos na região envolvida. Projetos mais recentes, como a recuperação da cachoeira de Paulo Afonso, mostram que não se precisa destruir patrimônios naturais para obter a energia elétrica necessária, ou que, pelo menos, há alternativas que minimizam tais impactos. A sociedade atual já está mais atenta a esse tipo de intervenção no meio ambiente e começa a contestar a instalação de usinas térmicas e nucleares próximas de centros urbanos, assim como os impactos dos reservatórios das hidrelétricas. Tem até questionado o direito de passagem para novas linhas de transmissão em regiões habitadas, preocupada com seus efeitos sobre a população próxima. Se, por um lado, esses questionamentos colocam barreiras para o atual modelo de expansão da rede, por outro lado forçam uma busca de soluções alternativas para essa nova situação. É o que vem acontecendo em praticamente todos os países em vários níveis. No nível gerencial, uma mudança que já se solidificou em grande parte dos países foi a passagem da administração dos setores de geração e distribuição para empresas privadas, criando um efetivo mercado de energia elétrica, da produção ao consumo. Nessa nova estrutura, a transmissão da energia elétrica pode ou não continuar de responsabilidade estatal. Esse arranjo teria o benefício de garantir aos governos a possibilidade de disciplinar o mercado, através de agências reguladoras, de uma maneira muito mais enxuta e eficiente. Com as novas regulamentações do setor elétrico, a meta é proporcionar o livre acesso dos agentes de geração e de consumo ao sistema de transmissão. Idealmente os consumidores passam a poder comprar o produto energia elétrica em bases competitivas, exigindo qualidade e preço. Contratos de produção e de consumo de energia podem ser feitos diretamente entre os interessados finais. As empresas gestoras do sistema de transmissão seriam responsáveis pela circulação da potência, taxando o uso da rede pela transferência da energia entre o produtor e o consumidor. Outro aspecto que ganha cada vez mais relevância nesse cenário é a geração distribuída, principalmente de média e baixa potência. Tais fontes de energia tipicamente se situam nos locais onde, tradicionalmente, tinham-se apenas cargas. Os próprios procedimentos de gestão de redes nas quais se tenham esses geradores precisam de novos tratamentos, uma vez que aspectos de fluxo de carga, proteção, qualidade de energia etc. são fortemente afetados por esta nova (e irremediável) realidade. Também a legislação precisa se adequar a estes novos paradigmas de produção de energia, fato que vai se consolidando, principalmente nos países que lideram esse movimento, como os países da Europa, a Índia e os Estados Unidos. 142 UNIDADE 2 — REPRESENTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS NO SISTEMA POR UNIDADES (SISTEMA pu.) FACTS E “CUSTOM POWER” - NOVASPERSPECTIVAS DE CONTROLE PARA O SISTEMA ELÉTRICO Para viabilizar esse novo modelo de gestão e operação do sistema elétrico não basta apenas a reestruturação administrativa. É necessário desenvolver as tecnologias que permitam o controle das variáveis elétricas em jogo, visando monitorar o fluxo de potência através das linhas, otimizar o uso dos equipamentos, garantir a qualidade da energia suprida e aumentar a proteção e segurança do usuário, bem como a preservação do meio ambiente. Em 1988, N. G. Hingorani, pesquisador do EPRI (Electrical Power Research Institute) dos EUA, lançou o conceito básico de FACTS - "Flexible Alternating Current Transmission Systems" [4], no qual a noção de flexibilização do sistema estava claramente associada à capacidade do controle direto do fluxo de potência no nível de transmissão de energia elétrica. A chave para essa flexibilização está no uso do controle através de eletrônica de alta potência, em conversores de HVDC, compensadores estáticos reativos, controladores de fluxo de potência, conversores de frequência e sistemas CA/CC, viabilizando o casamento direto entre sistemas de corrente alternada e de corrente contínua em todos os níveis de tensão e de potência. A incorporação de dispositivos FACTS na operação de sistemas elétricos, além de abrir um enorme campo para a aplicação da tecnologia de controle de alta potência, ao mesmo tempo permite utilizar melhor a infraestrutura de transmissão já disponível. Os principais benefícios que a tecnologia FACTS pode trazer são os seguintes: • ampliar a capacidade de transmissão das linhas já existentes; • operar linhas em paralelo, mesmo que tenham diferentes capacidades; • dirigir o fluxo de potência por caminhos mais adequados; • ajustar rapidamente o suporte de reativos durante a operação; • estabilizar eficientemente oscilações de tensão e ângulo; • fazer a integração entre sistemas CC e CA, aproveitando as vantagens de ambos. O IEEE define “Custom Power” como o conceito de utilizar conversores estáticos controlados, baseados em eletrônica de potência, na faixa de 1 kV a 38 kV (sistema de distribuição), de modo a suprir os consumidores com energia elétrica com qualidade adequada ao desempenho dos equipamentos e processos alimentados. Esse conceito é uma extensão do conceito de FACTS, aplicado a redes de distribuição, nas quais os aspectos de qualidade de energia se tornam muito mais relevantes do que na rede de transmissão. [...] Definimos anteriormente como condicionamento de energia elétrica todo o processo que visa melhorar a qualidade da energia suprida. Vimos alguns métodos para avaliação da potência elétrica em termos médios e instantâneos, sob condições não senoidais, apontando as principais dificuldades teóricas para a compensação de cargas não-lineares e variáveis. Iremos agora estudar alguns dos dispositivos de condicionamento que estão em uso ou sendo desenvolvidos para TÓPICO 3 — CÁLCULO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO 143 atenuar os efeitos indesejáveis, associados com a operação dessas cargas variáveis. Genericamente esses dispositivos, quando aplicados na rede de transmissão de energia, são designados por FACTS, sigla resultante da expressão inglesa "Flexible AC Transmission Systems" introduzida por Hingorani em 1991. Iremos tratar especificamente dos seguintes dispositivos e de suas funções de controle: (a) Reator Controlado por Tiristores (RCT). (b) Capacitor Chaveado por Tiristores (CCT). (c) Compensador Estático de Tensão (SVC – Static var Compensator). (d) Compensador Estático de Reativos (STATCOM). (e) Compensador Série Controlado (CSC). (f) Controlador Universal de Fluxo de Potência (UPFC). Os três primeiros dispositivos (RCT, CCT e SVC) utilizam tiristores como interruptor eletrônico e operam como cargas reativas controláveis, sendo, portanto, conectados em paralelo com outras cargas e atuando como compensadores "shunt". O STATCOM cumpre a mesma função de compensação, mas, por utilizar transitores, possibilita um controle mais preciso das formas de onda, praticamente eliminando problemas de harmônicos na corrente injetada no sistema. O CSC controla a reatância ou o ângulo de abertura da linha, sendo, portanto, conectado em série com a linha cuja reatância se deseja compensar. O UPFC, por sua vez, combina a ação de controle "shunt" e série, resultando daí a capacidade de controle do fluxo de potência ativo e reativo na linha. Veremos inicialmente os princípios básicos da compensação paralela e série para depois analisar a aplicação dos diversos dispositivos. FONTE: <https://www.dsce.fee.unicamp.br/~antenor/pdffiles/it741/cap5.pdf>. Acesso em: 27 mar. de 2021. 144 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A geração de energia pode ser realizada por distintos tipos de usinas: hidráulica, eólica, térmica, fotovoltaica etc., até o ponto em que há a conversão na forma de eletricidade. Para conduzir a energia elétrica obtida dessas fontes até o limite dos sistemas de distribuição são utilizadas as linhas de transmissão. • Além das linhas de transmissão transportarem em elevadas tensões toda a energia gerada, elas também têm a função de realizar a interligação de múltiplos sistemas de transmissão, possibilitando o intercâmbio de energia e permitindo a continuidade do fornecimento às cargas, mesmo em casos de emergência. • A transmissão de energia pode ser realizada através de linhas aéreas, subterrâneas ou subaquáticas. • A condução convencional é realizada através de linhas aéreas, que são caracterizadas por utilizarem condutores nus em sua extensão, conectados nas estruturas por isoladores. • As linhas subterrâneas utilizam cabos isolados e instalados em redes de dutos, sendo uma boa solução para grandes centros urbanos, apesar do custo mais elevado. • As linhas subaquáticas, por sua vez, têm grandes limitações técnicas e econômicas, mas são úteis em projetos especiais de travessias de rios e canais com vãos muito grandes, que dificultam a escolha de outra alternativa. • As LTs podem transportar energia em corrente alternada ou corrente contínua. O sistema em corrente alternada (CA) utiliza redes trifásicas com um ou mais subcondutores por fase e é o mais utilizado por ser mais flexível, pois permite gerar, transmitir, distribuir e utilizar a energia elétrica na tensão mais econômica e segura. • Já a transmissão em corrente contínua (CC) tem sido aproveitada ultimamente para transportar grandes blocos de potência a elevadas distâncias, através de um ou dois polos com diversos condutores por polo. • Nesse caso, apresenta menores custos e perdas do que a transmissão CA para uma mesma potência transmitida. • Também podem ser utilizadas para a interligação de sistemas de frequências diferentes, como é o caso do Elo CC em Itaipu que conecta a energia produzida na frequência de 50 Hz ao modelo de geração brasileiro, em 60 Hz. 145 Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA • O que caracteriza a escolha do sistema é o custo de sua instalação. • Apesar de o foco desse texto ser a abordagem de linhas aéreas de transmissão de extra-alta tensão em corrente alternada, é importante compreender onde se aplica cada um dos sistemas existentes. • É mais vantajoso investir em linhas CC para comprimentos de linha acima de 600 km e, caso contrário, o investimento em linhas CA é o mais recomendado. • As LTs CA podem ser curtas, médias ou longas, se tiverem comprimentos até 80 km, entre 80 km e 240 km e maiores que 240 km, respectivamente. • As linhas curtas são modeladas através dos parâmetros série:resistência e indutância. • Algumas expressões para cálculo do campo crítico devido ao efeito corona foram sugeridas no texto. 146 1 Um dos primeiros modelos a representar a linha de transmissão diretamente no domínio do tempo foi desenvolvido por H. W. Dommel. Baseou-se no método das características ou método de Bergeron e consiste em combinar o método das características com o método numérico de integração trapezoidal. Resultou em um algoritmo capaz de simular transitórios eletromagnéticos em redes cujos parâmetros são discretos ou distribuídos. Esse algoritmo sofreu sucessivas evoluções e atualmente é conhecido como Eletromagnetic Transients Program, ou simplesmente EMTP. Com base no exposto, disserte sobre as linhas de transmissão: 2 Em linhas de transmissão podem ocorrer descargas elétricas, devido ao efeito corona, entre o condutor fase e o solo. Essas descargas ocorrem quando a diferença de potencial entre uma fase da linha e o solo excede o valor do gradiente crítico disruptivo do ar. Com base no exposto, disserte sobre o efeito corona em linhas de transmissão: 3 As linhas de transmissão (LT) são dispositivos usados para a transmissão de sinais (informação) ou de energia através da propagação guiada de ondas eletromagnéticas. Com base no exposto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Uma linha de transmissão é caracterizada pelos seguintes parâmetros: resistência; indutância; condutância e capacitância. b) ( ) Uma linha de transmissão é caracterizada pelos seguintes parâmetros: resistência; indutância; condutância e impedância. c) ( ) Uma linha de transmissão é caracterizada pelos seguintes parâmetros: resistência; indutância; condutância e susceptância. d) ( ) Uma linha de transmissão é caracterizada pelos seguintes parâmetros: resistência; indutância; condutância e reatância. 4 À medida que a tensão elétrica em uma linha de transmissão for aumentando, alcançasse um valor no qual o ar que envolve o condutor torna-se ionizado, devido à força elétrica na superfície sobre ele exceder um valor limite. A camada ionizada envolve o condutor, com isso, aumentando o seu diâmetro até um ponto em que as forças elétricas sejam insuficientes para causar mais ionização. Com base no exposto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Esse tipo de fenômeno é conhecido como efeito corona. b) ( ) Esse tipo de fenômeno é conhecido como efeito Joule. c) ( ) Esse tipo de fenômeno é conhecido como efeito Dommel. d) ( ) Esse tipo de fenômeno é conhecido como efeito Peek. AUTOATIVIDADE 147 5 Para viabilizar o novo modelo de gestão e operação do sistema elétrico não basta apenas uma reestruturação administrativa. É necessário desenvolver tecnologias que permitam o controle das variáveis elétricas em questão, visando monitorar o fluxo de potência através das linhas, otimizar o uso dos equipamentos, garantir a qualidade da energia suprida e aumentar a proteção e segurança do usuário, bem como a preservação do meio ambiente. Com base no exposto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Em 1988, N. G. Hingorani, pesquisador do EPRI (Electrical Power Research Institute) dos EUA, lançou o conceito básico de FACTS - "Flexible Alternating Current Transmission Systems”. b) ( ) Em 1978, N. G. Hingorani, pesquisador do EPRI (Electrical Power Research Institute) do UK, lançou o conceito básico de FACTS - "Flexible Alternating Current Transmission Systems”. c) ( ) Em 1998, N. G. Hingorani, pesquisador do EPRI (Electrical Power Research Institute) da Alemanha, lançou o conceito básico de FACTS - "Flexible Alternating Current Transmission Systems”. d) ( ) Em 2008, N. G. Hingorani, pesquisador do EPRI (Electrical Power Research Institute) da Rússia, lançou o conceito básico de FACTS - "Flexible Alternating Current Transmission Systems”. 148 REFERÊNCIAS ALMEIDA, W. G. DE; FREITAS, F. D. Circuitos Polifásicos. Brasília: FINATEC, 1995. ALUGAGERA. Alugagera, c2021. O que é efeito corona? Disponível em: https:// alugagera.com.br/noticias/efeito-corona. Acesso em: 10 abr. 2021. FURNAS. Eletrobrás Furnas. c2021. Furnas em destaque. Disponível em: https:// www.furnas.com.br/. Acesso em: 18 de jun. 2021. KINDERMANN, G. Curto-circuito. 4 ed. Florianópolis: UFSC, 2007. MASUDA, M. Aplicação do Dispositivo FACTS (Flexible AC Transmission Systems) em sistema de distribuição – simulação de desempenho. 2006, 83f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) – São Paulo: USP, 2006. MENEZES, V. P. DE. Linhas de transmissão de energia elétrica aspectos técnicos, orçamentários e construtivos. TCC (Graduação de Engenharia Elétrica) – Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: UFRJ, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3ihcyCb. Acesso em: 23 set. 2021. MILLER JR., C.J. Mathematical Prediction of Radio and Corona Characteristics of Smooth, Bundled Conductors. AIEE Transactions, Nova Iorque, v. 75, parte III, p. 1029–1037, 1956. PEEK, F. W. Dielectric Phenomena in High Voltage Engineering. 3. ed. McGraw – Hill Book Co., Nova Iorque, 1929. POMILIO, J. A.; DECKMANN, S. M. Condicionamento de Energia Elétrica e Dispositivos FACTS. Notas de Aula. Campinas: UNICAMP, 2009. Disponível em:https://bit.ly/3AZydWD. Acesso em: 27 mar. de 2021. POMILIO, J. A.; DECKMANN, S. M. Estruturas básicas de condicionamento: dispositivos FACTS. Notas de Aula. Campinas: UNICAMP, 2009. Disponível em: https://bit.ly/3mcTZQF. Acesso em: 27 mar. de 2021. STEVENSON JR., WILLIAM D. Elementos de análise de sistemas de potência. São Paulo: McGraw-Hill, 1975. WATANABE et al. Tecnologia Facts – tutorial. SBA Controle & Automação, [s.l.], v. 9, n. 1, jan./fev.; mar./abr. 1998. Disponível em: https://www.sba.org.br/ revista/vol9/V9p39.pdf. Acesso em: 22 set. 2021. 149 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • identificar os diferentes tipos de curto-circuito; • saber calcular o curto-circuito trifásico em sistemas de potência; • conhecer as componentes simétricas e os casos nos quais elas devem ser aplicadas; • distinguir os curto-circuito simétricos dos assimétricos; Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CURTO-CIRCUITOS SIMÉTRICOS TÓPICO 2 – CURTO-CIRCUITOS ASSIMÉTRICOS TÓPICO 3 – PROGRAMAS COMPUTACIONAIS E SIMULAÇÃO EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 150 151 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Nessa Unidade, acadêmico, você vai aprender a analisar e caracterizar os tipos de curto-circuito simultâneo nos sistemas elétricos, passando pelos diferentes tipos de falta simultânea, além de determinar os principais fatores necessários para o seu equacionamento. Você saberá, também, como identificar as consequências das faltas e descrever sua importância como ferramenta de análise em sistemas de potência. Um dos tipos mais complicados de resolução de falta dentro do sistema elétrico é aquele que envolve dois ou mais tipos de falta, que ocorrem de forma simultânea. Esses tipos de ocorrência acontecem, por exemplo, por meio de descargas atmosféricas ou acidentes causados por pessoas, forçando uma ou mais faltas em determinado ponto do sistema elétrico. As faltas simultâneas podem ocorrer ao mesmo tempo, mas em pontos diferentes do sistema elétrico. O cálculo da corrente de curto-circuito é necessário para a especificação dos equipamentos de um sistema elétrico. Durante o curto-circuito, altas correntes são estabelecidas, coma elevação de temperaturas e solicitações térmicas, além dos esforços mecânicos e deformações de materiais. Os sistemas de proteção de sistemas elétricos são ajustados para operar o mais rápido possível, porém a atuação coordenada de relés de proteção e disjuntores pode levar a permanência do curto-circuito por alguns ciclos. Além disso, como os sistemas de proteção estão sujeitos a falhas, os equipamentos que compõem a rede devem ser dimensionados para suportar essas correntes elevadas, até que algum dispositivo de proteção de retaguarda acione o disjuntor. Com isso, os equipamentos e disjuntores devem ser especificados para os níveis de corrente de curto e durações correspondentes, o que é fundamental para uma operação segura e sem danos ao sistema elétrico. Em uma abordagem mais avançada, o tratamento do curto-circuito é feito matricialmente, inclusive por meio de matrizes trifásicas, que representam os acoplamentos entre fases quando necessário. No entanto, nessa Unidade serão introduzidos o cálculo matricial e a metodologia convencional, com a aplicação das componentes simétricas, que é ferramenta essencial ao engenheiro eletricista em sistemas de potência. Os cálculos mais complexos não serão vistos nesse livro, pois, ele é direcionado aos alunos TÓPICO 1 — CURTO-CIRCUITOS SIMÉTRICOS UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA 152 do ensino a distância. De qualquer forma, o acadêmico que quiser aprofundar seus conhecimentos em sistemas de potência poderá consultar as bibliografias sugeridas ao longo de todo o livro. Vamos iniciar o estudo de curtos-circuitos em SEP’s? 2 CURTO-CIRCUITO TRIFÁSICO OU SIMÉTRICO Na Unidade 2, mostramos a representação de sistemas elétricos de potência por diagramas unifilares e valores em p.u. A maioria dos cálculos em sistemas de potência utiliza esses recursos para a maioria dos estudos. Um deles, a análise de curtos-circuitos, é de fundamental importância para a proteção de sistemas. O curto-circuito consiste em um contato entre condutores sob potenciais diferentes. Tal contato pode ser direto (metálico) ou indireto (através de arco voltaico). Os curtos-circuitos são, geralmente, chamados de defeitos ou faltas. Além disso, ocorrem de maneira aleatória nos sistemas de potência. Suas consequências podem ser extremamente danosas ao sistema, se não forem eliminados pelos dispositivos de proteção. O estudo de curtos-circuitos tem por finalidade: • Permitir o dimensionamento dos diversos componentes do sistema, quando sujeitos às solicitações dinâmicas e efeitos térmicos decorrentes das correntes de curto-circuito. • Possibilitar a seleção de disjuntores. • Permitir a execução da coordenação de relés de proteção. • Possibilitar a especificação de para-raios. A Figura 1 mostra um circuito elétrico simples com uma indicação de curto-circuito. FIGURA 1 – CURTO-CIRCUITO EM CIRCUITO ELÉTRICO FONTE: Siqueira (2017, p. 23) Na ocorrência de uma falta no meio da linha, como o valor dessa diminui significativamente, e para a manutenção da tensão fornecida deverá ocorrer o aumento da corrente: Vg = I. (RLT + RC ). TÓPICO 1 — CURTO-CIRCUITOS SIMÉTRICOS 153 Onde: • Vg é a tensão do gerador síncrono; • I é a corrente circulante do sistema; • RLT e RC são respectivamente as resistências da linha de transmissão e de carga. Se a resistência da linha de transmissão tender a zero, terá como consequência o aumento do valor de corrente mantendo a tensão do gerador constante. Conclui-se que independentemente do tipo de curto-circuito, tem-se a ocorrência do aumento da corrente circulante em relação à corrente nominal do circuito. 3 TIPOS DE CURTOS-CIRCUITOS Existem alguns tipos de curtos-circuitos, que são: • Curto-circuito Trifásico ou simétrico (3ϕ ou 3ϕ-g): não provoca desequilíbrio no sistema e envolve as três fases. Admite-se que todos os condutores da rede são solicitados de modo idêntico e conduzem o mesmo valor eficaz da corrente de curto. Por isso é classificado como simétrico ou equilibrado. Seu cálculo pode ser efetuado por fase, considerando apenas o circuito equivalente de sequência positiva (sequência direta), sendo indiferente se o curto envolve ou não o condutor neutro ou a terra. • Curto-circuito Bifásico (2ϕ): é curto assimétrico, ou seja, desequilibrado, envolvendo duas fases do sistema. Seu cálculo é realizado com o uso de componentes simétricas. • Curto-circuito Bifásico-Terra (2ϕ-g): também é assimétrico, envolvendo contato com a terra. • Curto-circuito Monofásico (1ϕ): curto assimétrico, envolvendo uma das fases do sistema e a terra. A Figura 2 mostra os quatro tipos de curtos-circuitos. FIGURA 2 – TIPOS DE CURTOS-CIRCUITOS. FONTE: Kindermann (2007, p. 28) A Tabela 1 mostra os tipos de curtos-circuitos mais recorrentes e a frequência em que ocorrem em sistemas elétricos de potência. UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA 154 TABELA 1 – TIPOS DE CURTO E PERCENTUAL DE OCORRÊNCIA EM SEP’S FONTE: Siqueira (2017. p. 24) O curto-circuito trifásico, como o mais severo embora se tenha menor frequência de ocorrência, seguindo-se dos curtos bifásico, bifásico-terra e, finalmente, o curto-circuito fase-terra. Embora seja menos provável de ocorrência, em termos de análise de falta o curto-circuito trifásico é o mais usual em estudos de operação e projeto, pois envolve a interrupção de fornecimento de energia em caso de sua ocorrência além de apresentar, quase sempre, a maior magnitude de corrente de curto dentre todos os tipos. A magnitude da corrente de falta depende de vários fatores, dentre eles o tipo de curto-circuito, capacidade do sistema de geração, topologia da rede elétrica, tipo de aterramento dos equipamentos. No momento do distúrbio a corrente circulante é determinada pelas forças eletromotrizes internas das máquinas geradoras do circuito, por suas impedâncias e pelas impedâncias do circuito, situadas entre a geração e o ponto de falta. O curto-circuito trifásico é um tipo de defeito onde as correntes estão equilibradas, ou seja, as três fases estão ligadas a um aterramento, o que significa que as tensões das três fases serão zero. A determinação das correntes de curto-circuito é fundamental para o dimensionamento de disjuntores e ajuste do sistema de proteção. Seu cálculo pode ser feito a partir da modelagem do sistema em componentes simétricos ou componentes de fase, conforme resumido nas seções seguintes. O curto-circuito fase-terra e o curto-circuito monofásico são o mesmo evento. INTERESSA NTE TÓPICO 1 — CURTO-CIRCUITOS SIMÉTRICOS 155 4 CURTO-CIRCUITO VIA COMPONENTES SIMÉTRICAS Por serem equilibrados e simétricos, tanto nas condições normais de funcionamento como no decorrer de curtos trifásicos, os sistemas trifásicos podem ser representados e calculados utilizando-se uma de suas fases e o neutro. Entretanto, esse procedimento não pode ser adotado quando ocorrem faltas assimétricas (fase-terra, fase-fase e fase-fase-terra), as quais provocam desequilíbrios nos sistemas elétricos de potência. Foi observado que nesses casos, os métodos tradicionais de cálculo pelas leis de Kirchhoff revelam-se muito trabalhosos e complexos, devido à presença de máquinas rotativas (ALMEIDA; FREITAS, 1995, p. 93). Portanto, o método das componentes simétricas facilita esses cálculos de curtos assimétricos devido a sua simplicidade de aplicação. O método das componentes simétricas se baseia no estudo de C. L. Fortescue, em 1918, publicados no anuário do AIEE. Após essa publicação, outros pesquisadores contribuíram para o avanço desse estudo, principalmente, R. P. Evans e C. F. Wagner. Contudo, o teorema de Fortescue diz que: “qualquer grupodesequilibrado de “n” fasores associados, do mesmo tipo, pode ser resolvido em “n” grupos de fasores equilibrados, denominados de componentes simétricas dos fasores originais” (ALMEIDA; FREITAS, 1995, p. 153). As faltas assimétricas em sistemas de potência ocorrem com mais frequência que as faltas simétricas. Elas podem ser constituídas por curtos-circuitos assimétricos francos, faltas assimétricas através de impedâncias e fases em aberto. O método das componentes simétricas será usado no estudo das faltas assimétricas, tendo em vista a circulação de correntes desequilibradas provocadas pela ocorrência desse tipo de curto-circuito. Esse método permite o uso de correntes e tensões, em qualquer parte do sistema, após o surgimento de faltas. O cálculo das correntes de curto-circuito baseado na teoria das componentes simétricas traz uma série de vantagens desde que a rede, na sua condição pré- falta, possa ser considerada perfeitamente equilibrada. Nesse caso, o método dos componentes simétricos é muito útil para a análise de defeitos simétricos e assimétricos e permite, de forma relativamente simples, a determinação das correntes e das tensões em todas as partes do sistema durante a ocorrência da falta (STEVENSON JR., 1975, p. 264). O algoritmo comumente usado consiste na prática dos seguintes passos: • montar os circuitos equivalentes de sequência positiva, negativa e zero; • calcular as condições pré-falta do sistema; • obter a matriz de admitância da barra (Ybarra) e, a partir dela, encontrar a matriz de impedância da barra (Zbarra); UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA 156 • a partir das impedâncias equivalentes de Thévenin obtidas de Zbarra, calcular as correntes de curto-circuito; • aplicar o teorema da superposição para calcular as condições de defeito nos circuitos equivalentes de sequência positiva, negativa e zero; • obter matricialmente os valores de tensão e corrente em componentes de fase. Os conceitos de matriz de admitância da barra (Ybarra) e de matriz de impedância da barra (Zbarra) geralmente são estudados em uma disciplina de SEP II. Contudo, vamos explicá-los aqui resumidamente: Inicialmente considere o sistema de potência com três barras e três linhas mostrado a seguir: As linhas de transmissão serão representadas pelo circuito “π” equivalente. Os geradores e a carga representados por fontes de corrente. Assim o sistema de três barras pode ser transformado num circuito com três nós conforme mostrado na figura a seguir. Observe que a análise nodal requer as impedâncias transformadas em admitâncias. A matriz de admitâncias nodal, ou matriz de admitâncias de barramento, do circuito será uma matriz quadrada de terceira ordem, simétrica, cuja estrutura é mostrada a seguir: TÓPICO 1 — CURTO-CIRCUITOS SIMÉTRICOS 157 Onde os elementos da diagonal principal são obtidos pala soma de todas as admitâncias conectadas ao respectivo nó, ou barra, ou seja: Os elementos fora da diagonal principal são obtidos invertendo-se o sinal da admitância do elemento de circuito, obtendo-se: As equações nodais obtidas com a aplicação da lei de corrente de Kirchhoff a cada barra são dadas por: Com as equações nodais organizadas na forma matricial, obtém-se: Onde I é o vetor das correntes em cada barramento, e V é o vetor das tensões de barramento. Assim, a relação entre as tensões de barra e as correntes pode ser expressa na forma matricial reduzida como: UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA 158 Onde YBARRA é a matriz de admitância de barramento. E, com isso, concluímos que ZBARRA é o inverso de YBARRA. Esse método considera que o sistema pré-falta é perfeitamente equilibrado, o que faz com que a matriz de impedâncias de uma linha ou carga seja uma matriz diagonal. Isso resulta no desacoplamento entre as sequências, permitindo considerá-las individualmente, facilitando muito o cálculo do curto-circuito. Em sistemas de transmissão, o erro cometido com a premissa de equilíbrio é, normalmente, irrelevante, especialmente por conta da transposição das linhas de transmissão. Por outro lado, nas redes de distribuição, o desequilíbrio é, geralmente, significativo. Nesses casos, um método que garante maior precisão é o cálculo do curto- circuito via componentes de fase. Esse método será visto no Tópico 2 desta Unidade. As correntes de curto-circuito, ao longo de todo o período de permanência da falta, assumem formas diversas quanto à sua posição em relação ao eixo dos tempos. A corrente simétrica de curto-circuito é aquela em que o componente senoidal da corrente se forma simetricamente em relação ao eixo dos tempos. Conforme mostra a Figura 3, essa forma de onda é característica das correntes de curto-circuito permanentes. Devido ao longo período em que essa corrente se estabelece no sistema, ela é utilizada nos cálculos a fim de determinar a capacidade que devem possuir os equipamentos para suportar os efeitos térmicos correspondentes. Sugerimos a você, acadêmico, que deseja se aprofundar no estudo de fluxo de potência ou fluxo de carga em SEP’s a ler e analisar as seguintes obras: STEVENSON, Jr. W. D. Elementos de análise de sistemas de potência. 2. ed. São Paulo: McGraw-Hill, c1986. - 458p. WEEDY, B. M. Sistemas elétricos de potência. Trad. Prof. Ernesto João Robba. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo: 1973. ELGERD, O. I. Introdução a teoria de sistemas de energia elétrica. trad. Ademaro Alberto Machado Bittencourt Cotrim. São Paulo: McGraw Hill do Brasil, 1976. MONTICELLI, A. J. Fluxo de carga em redes de energia elétrica. São Paulo: E. Blucher; 1983. DICAS TÓPICO 1 — CURTO-CIRCUITOS SIMÉTRICOS 159 FIGURA 3 – CORRENTE DE CURTO SIMÉTRICA FONTE: Anderson (1973, p. 109) A corrente assimétrica de curto-circuito é aquela em que a componente senoidal da corrente se forma de maneira assimétrica em relação ao eixo do tempo (x), e pode assumir as seguintes características: corrente parcialmente assimétrica e corrente totalmente assimétrica. Nesse caso, a assimetria é de forma parcial, conforme mostra a Figura 4. FIGURA 4 – CORRENTE DE CURTO PARCIALMENTE ASSIMÉTRICA FONTE: Anderson (1973, p. 109) A corrente de curto inicialmente assimétrica torna-se posteriormente simétrica. Nesse caso, toda a onda senoidal se situa acima do eixo dos tempos, conforme a Figura 5. FIGURA 5 – CORRENTE DE CURTO-CIRCUITO TOTALMENTE ASSIMÉTRICA FONTE: Anderson (1973, p. 110) UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA 160 Na Figura 6, nos primeiros instantes de ocorrência do defeito, a corrente de curto-circuito assume a forma assimétrica e, em seguida, devido aos efeitos atenuantes, adquire a forma simétrica. FIGURA 6 – CORRENTE DE CURTO-CIRCUITO INICIALMENTE SIMÉTRICA/ASSIMÉTRICA FONTE: Anderson (1973, p. 110) A Figura 7 mostra as componentes contínua simétrica e assimétrica durante o evento de curto-circuito. FIGURA 7 – COMPONENTES EM UM CURTO-CIRCUITO FONTE: Anderson (1973, p. 115) TÓPICO 1 — CURTO-CIRCUITOS SIMÉTRICOS 161 No próximo tópico vamos estudar os curtos-circuitos assimétricos, eles ocorrem com maior frequência que os curtos simétricos, e são muito importantes em sistemas de potência. KINDERMANN, G. Curto-circuito. 4. ed, Florianópolis: UFSC, 2007. KINDERMANN, G. Proteção de circuitos elétricos. 3.ed. Florianópolis: UFSC, 2012. DICAS As faltas simultâneas podem ocorrer de duas maneiras: em um mesmo ponto do sistema, mas de naturezas diferentes ou iguais, ou em pontos diferentes do sistema ao mesmo instante de naturezas diferentes, que chamamos de falta crossover. Essas faltas são mais comuns do que se imagina e seu equacionamento requer bastante cuidado e atenção, pois as influências de sua causa são nítidas e preocupantes. IMPORTANTE 162 Neste tópico, você aprendeu que: • Curto-circuito ocorre quando há uma redução abrupta da impedância do circuito entre dois pontos de potenciais diferentes gerando um aumento grande do valor da corrente. • Há quatro tipos principais de curtos-circuitos em sistemas elétricos de potência: trifásico, bifásico, bifásico à terra e monofásico. • A simulação numérica de correntes de curto-circuito em pontos da rede elétrica tem enorme importância no planejamento e coordenação da proteção de um sistema elétrico de potência, pois, ela permite prever as consequências dos mais diversos defeitos. • Esse conhecimento possibilita a tomada das medidas necessárias para minimizar essas consequências, incluindo a instalação, ajuste e coordenação de dispositivos que promovem a interrupção dos circuitos defeituosos, mas também, garantem que todos os componentes da rede são capazes de suportar os seus efeitos enquanto elas persistirem. • O valor da corrente de curto-circuito independe das cargas da instalação, dependendo, na maior parte, da fonte e capacidade do sistema. • Os cálculos das correntes de curto-circuito são utilizados para coordenação e dimensionamento da proteção, evitando destruições e acidentes. • Sempre que houver um aumento da capacidade geradora ou mudança do sistema eles devem ser refeitos. • O curto-circuito trifásico ou simétrico é o mais simples de ser calculado e não requer o uso da técnica de componentes simétricas. RESUMO DO TÓPICO 1 163 1 Sabe-se que todo curto-circuito trifásico apresenta uma componente alternada simétrica e uma componente contínua decrescente. A corrente de curto-circuito próxima a um gerador, nos seus terminais, por exemplo, apresenta um decaimento no seu valor, tanto da componente alternada simétrica quanto da componente contínua. Nesse caso, a reatância varia ao longo do tempo, de forma que o curto passa pelos períodos subtransitório, transitório e permanente. Com base no exposto, explique o que é um curto- circuito trifásico: 2 Os curtos-circuitos são os eventos indesejados mais comuns em sistemas de potência. Um curto-circuito consiste em um contato entre condutores sob potenciais diferentes. Esse contato pode ser direto entre os condutores ou através de impedância ou indireto.Com base no exposto, quais são os tipos de curto-circuito mais comuns? 3 Curto-circuito é a passagem de corrente elétrica acima do normal em um circuito devido à redução abrupta da impedância dele. Normalmente o curto-circuito provoca danos tanto no circuito elétrico em que ocorre como no elemento que causou a redução de impedância. Com base no exposto, marque V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Se a resistência da linha de transmissão tender a zero, terá como consequência o aumento do valor de corrente mantendo a tensão do gerador constante. ( ) Independentemente do tipo de curto-circuito, se tem ocorrência do aumento da corrente circulante em relação à corrente nominal do circuito. ( ) Se a resistência da linha de transmissão tender a infinito, terá como consequência o aumento do valor de corrente mantendo a tensão do gerador constante. ( ) Dependentemente do tipo de curto-circuito, se tem ocorrência do aumento da corrente circulante em relação à corrente da carga do circuito. Assinale a alternativa que contém a sequência correta: a) ( ) V – V – F – F. b) ( ) F – F – V – V. c) ( ) V – F – V – F. d) ( ) F – V – F – V. 4 O fenômeno curto-circuito pode ser definido como uma conexão de impedância muito baixa entre pontos de potenciais diferentes num circuito elétrico. Através de análise estatística dos dados sobre curtos-circuitos, foram constatados os seguintes valores médios para a ocorrência dos tipos de defeitos: curtos-circuitos trifásicos: 5%; curtos-circuitos dupla-fase: 15%; curtos-circuitos dupla-fase-terra: 10%; curtos-circuitos fase-terra: 70%. Com base no exposto, analise as sentenças a seguir: AUTOATIVIDADE 164 I- Curto-circuito Trifásico é assimétrico, não provoca desequilíbrio no sistema e envolve as três fases. II- O Curto-circuito Bifásico-Terra é assimétrico, envolvendo contato com a terra. III- O Curto-circuito Monofásico envolve uma das fases do sistema e a terra. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) As sentenças I e III estão corretas. c) ( ) As sentenças II e III estão corretas. d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. 5 Um curto-circuito ocorre quando a corrente elétrica atravessa um condutor ou um dispositivo com resistência desprezível, causando um superaquecimento. Os curtos-circuitos são assim chamados porque representam o caminho mais curto que a corrente elétrica pode realizar em um circuito. Com base no exposto, analise as sentenças a seguir: I- Os cálculos das correntes de curto-circuito são utilizados para coordenação e dimensionamento da proteção, evitando destruições e acidentes. II- Os cálculos de curto-circuito podem ser realizados uma única vez pelo engenheiro eletricista e elas podem sempre ser utilizadas em todos os casos de curto-circuito em SEP’s. III- O curto-circuito trifásico ou simétrico é o mais simples de ser calculado e não requer o uso da técnica de componentes simétricas. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) As sentenças I e III estão corretas. c) ( ) As sentenças II e III estão corretas. d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. 165 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Como vimos, os curtos-circuitos podem ser classificados como simétricos, que são os curtos trifásicos e os curtos assimétricos, que são os curtos bifásico, bifásico à terra e monofásico. Vários incêndios são provocados por curtos-circuitos que ocorrem em circuitos elétricos, nos quais a corrente elétrica é rapidamente elevada. Podemos dizer que o curto-circuito ocorre porque a corrente elétrica que sai do gerador percorre todo o circuito e volta com a intensidade muito elevada. Ele pode causar vários danos nos circuitos elétricos, pois provoca reações muito violentas em virtude da dissipação instantânea de energia. Nessas reações ocorrem explosões, dissipação de calor, produção de faíscas etc. (COSTA, [202-?]). Para o estudo dos curtos-circuitos assimétricos precisamos compreender alguns conceitos importantes: • O sistema trifásico simétrico corresponde a um sistema cujas defasagens entre as fases são de um terço do período da frequência fundamental. • O de sistema trifásico assimétrico que consiste em um sistema cujas defasagens entre as fases não sejam de um terço do período da frequência fundamental. Os sistemas equilibrados e desequilibrados também devem ser vistos. Um sistema trifásico equilibrado significa um sistema cujas amplitudes das fases da frequência fundamental sejam iguais entre si, bem como as amplitudes das fases das harmônicas entre si do sistema trifásico, ou seja, corresponde ao sistema trifásico cujos valores RMS (Root Mean Square) das três fases são iguais. Um sistema trifásico desequilibrado consiste num sistema cujas amplitudes das fases ou da frequência fundamental não sejam iguais entre si, ou das harmônicas não sejam iguais entre si, ou seja, corresponde ao sistema trifásico cujos valores RMS são diferentes entre as três fases. Para tratar dos sistemas trifásicos desequilibrados utilizaremos as componentes simétricas que foram desenvolvidas na forma matricial pelo Dr. Fortescue, em 1918. TÓPICO 2 — CURTO-CIRCUITOS ASSIMÉTRICOS 166 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA 2 COMPONENTES SIMÉTRICAS A utilização de componentes simétricas é necessária para a caracterização do desbalanço da rede em sistemaspolifásicos ocasionado pelo curto-circuito. Formulado por Fortescue, esse recurso é essencial no cálculo de curto-circuito, para sua simplificação, pois utiliza o cálculo monofásico. O Teorema de Fortescue consiste na decomposição dos elementos de tensão, ou corrente das fases, em parcelas iguais, mas com ângulos de fase diferentes. Dessa forma, é possível desmembrar o circuito polifásico em "n" circuitos monofásicos, supondo válido o princípio da superposição, ou seja, que os circuitos sejam lineares (KINDERMANN, 2007). 2.1 TEOREMA DE FORTESCUE Fortescue, por meio do teorema intitulado de “método de componentes simétricas aplicando a solução de circuitos polifásicos”, estabeleceu que um sistema de n fasores desequilibrados pode ser decomposto em n sistemas equilibrados, denominado de componentes simétricas do sistema original. Em componentes simétricas, utiliza-se o operador imaginário “j” e o rotacional “a”, que gira 120º um fasor. As expressões matemáticas a seguir serão muito úteis nesse estudo: Pelo foco desse estudo ser sistemas trifásicos, as fases serão decompostas em três sistemas de fasores balanceados (componentes simétricas) totalmente desacoplados: sequência positiva, negativa e zero. A sequência positiva ou direta (índice 1) é o conjunto de três fasores iguais em módulo, girando no mesmo sentido e velocidade síncrono do sistema original, defasados 120º entre si com a mesma sequência de fases dos fasores originais, mostrada na Figura 45. Presentes durante condições trifásicas equilibradas. FIGURA 8 – SEQUÊNCIA DIRETA OU POSITIVA FONTE: Almeida e Freitas (1995, p. 99) TÓPICO 2 — CURTO-CIRCUITOS ASSIMÉTRICOS 167 As expressões seguintes representam a sequência positiva: A sequência negativa ou indireta (índice 2) é o conjunto de três fasores girando em uma direção contrária ao sistema original com as fases em módulo, defasadas 120º entre si com sequência oposta à sequência de fases dos fasores originais, conforme mostra a Figura 9. Os fasores medem a quantidade de desbalanço existente no sistema de potência. FIGURA 9 – SEQUÊNCIA INDIRETA OU NEGATIVA FONTE: Almeida e Freitas (1995, p. 101) As expressões seguintes representam a sequência negativa: A sequência zero (índice 0) é o conjunto de três fasores gerados por um campo magnético estático pulsatório com fases iguais em módulo, defasados 0º entre si, em fase, como mostra a Figura 10. Comumente associados ao fato de se envolverem a terra em condições de desbalanço. 168 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA FIGURA 10 – SEQUÊNCIA ZERO FONTE: Almeida e Freitas (1995, p. 102) A expressão seguinte representa a sequência zero: Vamos apresentar algumas considerações sobre as componentes de sequência zero: • Não existem componentes simétricas de sequência zero se for nula a soma dos fasores que constituem o sistema trifásico desequilibrado original. Nesse caso, o sistema original de fasores é decomposto em um sistema de sequência positiva e outro de sequência negativa. • Em sistemas trifásicos, qualquer que seja o desequilíbrio, a soma dos fasores tensões de linha é nula, e em consequência, não existem componentes de sequência zero nas tensões de linha. Tal particularidade é aplicada no estudo de máquinas trifásicas girantes. Para exemplificar: um motor de indução trifásico submetido a tensões não equilibradas pode ter seu comportamento analisado com base em dois sistemas equilibrados de tensões, de sequência de fases opostas. • Em sistemas trifásicos, a soma das tensões de fase não é necessariamente igual a zero e, portanto, essas tensões podem conter componentes de sequência zero, mesmo não existindo tais componentes nas tensões de linhas. 2.2 EXPRESSÃO ANALÍTICA DO TEOREMA DE FORTESCUE O sistema trifásico equilibrado resulta na superposição dos sistemas trifásicos equilibrados descritos anteriormente (sequência positiva, negativa e zero). Sabe-se que: Utilizando-se as equações anteriores, chega-se à equação matricial: TÓPICO 2 — CURTO-CIRCUITOS ASSIMÉTRICOS 169 Isolando-se as componentes simétricas da equação matricial anterior, teremos a equação das componentes simétricas em função do sistema trifásico desbalanceado: A mesma análise feita com a tensão pode ser realizada com a corrente. Dessa análise, pode-se retirar a expressão: Em sistemas trifásicos a 4 fios, a soma das correntes de linha é igual a corrente de retorno, In, pelo neutro. Do mesmo modo, em sistemas trifásicos a 3 fios com ligação estrela aterrada, a soma das correntes de linha é igual a corrente de retorno, In, pela terra. Nas duas situações é valido escrever que: Logo, a corrente de retorno (pelo fio neutro ou pelo fio terra) é igual a três vezes a corrente de corrente zero. A corrente de sequência zero só existe se houver um circuito fechado na qual possa circular. Em sistemas trifásicos a 3 fios, com carga em estrela ou com carga em triângulo, a soma das correntes de linha é zero e, portanto, nenhuma componente de sequência zero está presente nas correntes de linha. Então, comparando as duas equações anteriores podemos concluir que: 170 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA 2.3 ANÁLISE DE SEQUÊNCIA ZERO Conclusões importantes são retiradas da análise da corrente e da tensão de sequência zero. O estudo da corrente de sequência zero tem grande importância, pois a partir de sua interpretação são obtidas conclusões de aplicação físicas, diretamente utilizadas na proteção de sistemas elétricos. Os próximos subtópicos descrevem a análise de cada caso da corrente de sequência zero. 2.3.1 Sistema Trifásico Estrela Aterrado Aplicando-se a primeira lei de Kirchhoff no nó da estrela tem-se: A Figura 11 mostra as características das três sequências das componentes simétricas, bem como, o seu equacionamento: FIGURA 11 – REPRESENTAÇÃO DAS COMPONENTES SIMÉTRICAS Recomendamos assistir aos seguintes vídeos sobre esse assunto. Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=ZaEzawKhEWc. https://www.youtube.com/watch?v=7xR0SgNxF18. https://www.youtube.com/watch?v=-ScbT4ksmUg. https://www.youtube.com/watch?v=ZRIChPR_guI. DICAS TÓPICO 2 — CURTO-CIRCUITOS ASSIMÉTRICOS 171 FONTE: UFPR (2021) Substituindo-se as expressões, tem-se que: A partir desse resultado, conclui-se que só é possível existir corrente de sequência zero em um Sistema de Neutro Aterrado. 2.3.2 Sistema Trifásico Estrela Aplicando-se a primeira lei de Kirchhoff no nó da estrela, tem-se: Em um sistema estrela não aterrado, não há corrente de sequência zero. 2.3.3 Sistema Trifásico Delta (Triângulo) Aplicando-se a primeira lei de Kirchhoff no delta (soma das correntes que entram é igual à soma das que saem), tem-se: Em um sistema delta, também não há corrente de sequência zero. 172 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA • Tensão Os próximos subtópicos descrevem a análise de cada caso da tensão de sequência zero. 2.3.4 Sistema Trifásico Estrela Como a expressão supracitada não é necessariamente nula, há possibilidade de se ter tensão de sequência zero. 2.3.5 Sistema Trifásico Delta (triângulo) Da equação 4.12, obtém-se a expressão: Aplicando-se a lei das malhas no delta, tem-se: A partir das equações, conclui-se que, como o sistema delta não é aterrado, não há possibilidade de se ter tensão de sequência zero. A seguir, mostraremos uma tabela-resumo com os conjuntos ordenados de três fasores para as sequências positiva, negativa e zero, respectivamente. TABELA 2 – QUADRO-RESUMO FONTE: UNESP (2021) TÓPICO 2 — CURTO-CIRCUITOS ASSIMÉTRICOS 173 3 REPRESENTAÇÃO DOS COMPONENTES DO SISTEMA ELÉTRICO NAS SEQUÊNCIAS POSITIVA, NEGATIVA E ZERO Devido à grande necessidade do mercado de energia elétrica em garantir a continuidade de abastecimento deenergia para indústrias e residências, os sistemas elétricos operam interligados, formando redes complexas que, são conhecidas por sistema elétrico. Portanto, o comportamento do sistema deve ser acompanhado periodicamente a fim de garantir o suprimento e para, também, prever o planejamento de demandas futuras, a fim de evitar blecautes ou apagões. O sistema elétrico deve ser representado através de modelagens matemáticas adequadas ao tipo de estudo a ser realizado, seja estudo de curto-circuito, de transitórios em redes de energia ou, ainda, de estabilidade. Para estudos de proteção, por exemplo, valores das correntes de curto- circuito deverão ser calculadas. Portanto, cada componente do sistema deve ser modelado e representado visando o seu comportamento frente às correntes de curto. Essa modelagem é relativamente fácil, devido às simplificações feitas nos circuitos equivalentes dos componentes do SEP, conforme veremos neste tópico. A adequação da modelagem para estudos de curto-circuito é feita com a utilização de componentes simétricas. Essa teoria fornece a representação de três modelos do sistema, a saber, modelo de sequência positiva, modelo de sequência negativa e modelo de sequência zero. Vamos aprender sobre isso? 3.1 GERADOR SÍNCRONO O gerador síncrono tenta fornecer às cargas uma tensão estável, garantindo continuidade e estabilidade ao sistema. Na ocorrência do curto-circuito, ele injeta correntes altas no sistema para compensar a queda de impedância, sendo, portanto, o elemento ativo do curto. Na sequência positiva, o gerador é um elemento ativo, gerando corrente. Na sequência negativa e zero, ele é um elemento passivo. Para que haja fluxo de corrente de sequência zero, é necessário um aterramento no neutro do gerador. Para obterem-se as reatâncias de sequência positiva, negativa e zero do gerador síncrono, é necessário analisar as correntes que passam pelo gerador quando submetido a um curto-circuito trifásico. As correntes de curto-circuito são assimétricas compostas por uma componente contínua e uma alternada. Desconsiderando-se a componente contínua, nota-se que a forma de onda de curto-circuito está contida em uma envoltória decrescente que vai decaindo ciclo a ciclo até se estabilizar. Pode-se caracterizar essa envoltória decrescente da corrente como uma reatância interna variável subdividida no tempo: período 174 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA subtransitório, transitório e regime permanente. Como no período subtransitório a corrente de curto-circuito é a mais elevada, utiliza-se esta reatância para modelar o gerador síncrono nas sequências positiva, negativa e zero: A Tabela 3 mostra o modelo do gerador síncrono para a sequência positiva, negativa e zero e para cada sequência suas quatro possíveis ligações: Y, Y aterrado, Y aterrado com impedância e delta. TABELA 3 – MODELO DE GERADOR SÍNCRONO PARA AS TRÊS SEQUÊNCIAS TÓPICO 2 — CURTO-CIRCUITOS ASSIMÉTRICOS 175 FONTE: Kindermann (2007, p. 146) Onde: • Ėa1: tensão de fase no terminal do gerador síncrono girando a vazio; • a₁: tensão da fase em relação ao neutro da sequência positiva; • İa1: corrente de sequência positiva da fase “a" que sai dos enrolamentos da máquina para o sistema; • X”d: reatância subtransitória do gerador por fase; • X₂: reatância de sequência negativa por fase; • a₂: tensão de sequência negativa da fase “a" em relação ao neutro; • İa2: corrente de sequência negativa que sai pela fase “a" do gerador; • X₀: reatância de sequência zero por fase; • a₀: tensão de sequência zero da fase “a" em relação ao neutro; • İa0: corrente de sequência zero que sai pela fase “a" do gerador; • ŻN – impedância de aterramento. Para motores síncronos, utilizam-se modelos equivalentes ao gerador síncrono. O motor de indução de grande porte se comporta como gerador elétrico quando curto-circuitado. Se os dispositivos atuam com tempo maior que os dois ciclos, o motor de indução pode ser desconsiderado. A Tabela 4 apresenta o modelo do motor de indução para a sequência positiva, negativa e zero. TABELA 4 – MODELO DE MOTOR DE INDUÇÃO PARA AS TRÊS SEQUÊNCIAS FONTE: Kindermann (2007, p. 150) 176 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA Onde: • Ėa1: tensão de fase no terminal do motor síncrono; • a₁:tensão de sequência positiva; • İa1: corrente de sequência positiva; • a₂: tensão de sequência negativa; • İa2: corrente de sequência negativa; • Xs: reatância de dispersão da bobina do estator; • Xr: reatância de dispersão da bobina do rotor referida ao estator. 3.2 LINHA DE TRANSMISSÃO A linha de transmissão é um elemento passivo que conecta todo o sistema elétrico, por isso possui grande extensão e está exposta a todos os tipos de risco de curto-circuito. Outra característica importante das LT’s é o fato de possuírem alta impedância, sendo um elemento limitador da corrente de curto-circuito. A impedância de sequência positiva da linha é própria impedância normal da LT. O comportamento de uma linha de transmissão não se altera com as diferentes sequências de fase, por isso, a impedância e o circuito equivalente de sequência negativa são os mesmos da sequência positiva: O circuito equivalente para sequência zero, assim como o da sequência negativa, não se altera. Entretanto, como os fasores da corrente de sequência zero estão em fase, eles induzem tensões no cabo de cobertura da linha de transmissão e no solo, originando a circulação de corrente por esses elementos. Assim, a corrente de sequência zero pode retornar por qualquer caminho que não seja formado pelos próprios condutores da linha. Desse modo, a impedância de sequência zero depende do local do curto- circuito, da impedância equivalente da LT, cabo de cobertura e resistividade do solo. A Tabela 5 apresenta o modelo de linha de transmissão para a sequência positiva, negativa e zero: TABELA 5 – MODELO DE LINHA DE TRANSMISSÃO PARA AS TRÊS SEQUÊNCIAS FONTE: Kindermann (2007, p. 158) TÓPICO 2 — CURTO-CIRCUITOS ASSIMÉTRICOS 177 Onde: • Ż₀: impedância de sequência zero da LT; • Ż₁: impedância de sequência positiva da LT; • Ż₂: impedância de sequência negativa da LT. 3.3 TRANSFORMADORES O transformador é um elemento passivo no curto-circuito e se opõe à passagem de corrente. Dependendo da sequência (positiva, negativa ou zero), as impedâncias das três sequências se modificam. A impedância de sequência positiva e negativa são as mesmas. O transformador é um elemento passivo, portanto qualquer sequência de fase é vista pelo transformador como positiva. Contudo, quanto à impedância de sequência zero, deve-se observar que, para existir corrente de sequência zero no primário, deve existir caminho no secundário para circulação dela. Assim, a representação de transformadores na sequência zero depende do tipo de transformador, da ligação e da quantidade de enrolamentos. Os transformadores são classificados quanto a: tipo (Shell ou núcleo envolvente e Core ou núcleo envolvido); número de enrolamentos (2 eu 3 enrolamentos) e ligação (estrela aterrado/estrela aterrado, delta/delta, estrela/ estrela, estrela aterrado/delta, delta/estrela, estrela aterrado/estrela etc.). O transformador do tipo Core é mais barato e fácil de fabricar, porém menos eficiente. A Figura 12 apresenta um esquema monofásico desse tipo de transformador: FIGURA 12 – TRANSFORMADOR TIPO CORE FONTE: A Autora O transformador do tipo Shell é mais eficiente, porém mais caro, pois necessita de mais tecnologia para sua construção. A Figura 13 apresenta um esquema monofásico desse tipo de transformador. 178 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA FIGURA 13 – TRANSFORMADOR TIPO SHELL FONTE: A Autora A Tabela 6 apresenta o modelo do transformador tipoShell e Core para as sequências positiva e negativa. TABELA 6 – MODELO DE TRANSFORMADOR TIPO SHELL E CORE PARA A SEQUÊNCIA POSITIVA E NEGATIVA FONTE: Kindermann (2007, p. 162) A Tabela 7 apresenta o modelo do transformador tipo Shell para a sequência zero. TÓPICO 2 — CURTO-CIRCUITOS ASSIMÉTRICOS 179 TABELA 7 – MODELO DE TRANSFORMADOR TIPO SHELL PARA SEQUÊNCIA ZERO FONTE: Kindermann (2007, p. 166 e 171) 180 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA A Tabela 8 apresenta o modelo do transformador tipo Core para a sequência zero. TABELA 8 – MODELO DE TRANSFORMADOR TIPO CORE PARA A SEQUÊNCIA ZERO FONTE: Kindermann (2007, p. 176) Onde: • RT: resistência do transformador; • XT: reatância do transformador; • ŻP: impedância do transformador com três enrolamentos do circuito primário; • ŻS: impedância do transformador com três enrolamentos do circuito secundá- rio; • Żt: impedância do transformador com três enrolamentos do circuito terciário; • X₀ – reatância de sequência zero; • Ẋ₁: reatância de sequência positiva. TÓPICO 2 — CURTO-CIRCUITOS ASSIMÉTRICOS 181 3.4 DESLOCAMENTO DE 30° EM UM TRANSFORMADOR Y-∆ No caso de um transformador possuir a conexão Y-Δ (estrela - delta), as correntes de linha na conexão estrela e na conexão delta ficam defasadas em trinta graus uma em relação à outra. Essa defasagem pode ser de mais ou menos trinta graus e depende de como a bobina do lado delta está conectada. Sendo a sequência de fase “abc”, para o caso do começo da bobina da fase “a” do delta estar ligada no fim da bobina da fase “b”, o deslocamento será de +30° na sequência positiva e -30° na negativa. 4 CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO NO GERADOR SÍNCRONO A análise e a dedução das equações do cálculo de curto-circuito são realizadas para o modelo de um gerador síncrono, pois todas as conclusões obtidas a partir desses cálculos podem ser estendidas a todo circuito elétrico através do Teorema de Thevènin, cujo equivalente é análogo ao do gerador síncrono. Os tipos de curto-circuitos a serem implementados e analisados são o trifásico, fase-fase, fase-terra e fase-fase-terra. A ocorrência de curtos-circuitos é mais comum nas linhas de transmissão e distribuição do sistema elétrico (em média 89% dos casos). A falta trifásica é causadora de maiores danos ao sistema elétrico principalmente quanto à estabilidade transitória, porém de ocorrência rara, em torno de 6% das vezes. Já a falta fase-terra é a mais corriqueira, pois ocorre em torno de 63% das ocorrências. Pode ser causado por envelhecimento de isoladores, vento, queda de árvores ou galhos, descargas atmosféricas, queimadas etc. 4.1 CURTO-CIRCUITO TRIFÁSICO O curto-circuito trifásico possui apenas as componentes de sequência positiva, pois é equilibrado, as três fases são levadas a terra conforme mostra a Figura 14. Um sistema trifásico desequilibrado é composto por três sistemas trifásicos equilibrados de sequência zero, positiva e negativa. Portanto, fazendo a superposição dos três sistemas equilibrados, obtém-se como resultado real o sistema desbalanceado original. IMPORTANT E 182 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA FIGURA 14 – CURTO-CIRCUITO TRIFÁSICO NO GERADOR FONTE: Kindermann (2007, p. 78) As condições do curto-circuito trifásico nos terminais do gerador síncrono a vazio são: Onde: • A: fasor tensão na fase a; • B: fasor tensão na fase b; • C: fasor tensão na fase c. Substituindo-se os valores da expressão acima, obtém-se: Portanto, o circuito equivalente da sequência positiva apresentado na figura anterior está representado na Figura 15: TÓPICO 2 — CURTO-CIRCUITOS ASSIMÉTRICOS 183 FIGURA 15 – CURTO-CIRCUITO NO GERADOR FONTE: A Autora Conclui-se que: Como o curto-circuito trifásico é equilibrado, as correntes de sequência zero e negativa são iguais a zero. A impedância representa a soma das impedâncias de sequência positiva da fonte e dos condutores, por fase, até o ponto de falta. Utilizando-se a equação referente à corrente e substituindo os valores das correntes, tem-se a equação para calcular as correntes nas fases A, B e C: 5 CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO BIFÁSICO O curto-circuito bifásico ocorre quando duas fases entram em curto- circuito como, por exemplo, as fases B e C, conforme mostra a Figura 16. Como o curto-circuito bifásico não possui ligação ao terra, não há como a corrente de sequência zero circular, portanto, não possui a sequência zero. FIGURA 16 – CURTO-CIRCUITO BIFÁSICO FONTE: A Autora 184 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA O curto-circuito bifásico possui as seguintes condições de contorno: Substituindo-se as condições do curto-circuito bifásico na equação a seguir: Resolvendo-se a matriz, obtém-se: Pode-se concluir que, no caso do curto-circuito bifásico, o circuito equivalente das sequências positiva e negativa pode ser ligado em paralelo, como mostra a Figura 17: FIGURA 17 – CIRCUITO EQUIVALENTE PARALELO DO CURTO-CIRCUITO BIFÁSICO FONTE: A Autora As correntes nas fases A, B e C do gerador síncrono são obtidas através de: Resolvendo-se a equação acima, as correntes nas fases B e C são: Analisando-se o circuito, obtém-se: TÓPICO 2 — CURTO-CIRCUITOS ASSIMÉTRICOS 185 Considerando Z₁ = Z₂, tem-se: Substituindo-se os valores de I₁ e I₂, na relação de Fortescue, obtêm-se: 6 CURTO-CIRCUITO BIFÁSICO-TERRA O curto-circuito bifásico-terra ocorre quando duas fases entram em curto- circuito juntamente com a terra, por exemplo, as fases B e C mostradas na Figura 18. Esse tipo de curto é desequilibrado e envolve a terra. Portanto, no seu circuito de sequência, têm as componentes de sequência zero, positiva e negativa. FIGURA 18 – CURTO-CIRCUITO BIFÁSICO À TERRA FONTE: A Autora As características deste defeito são: Substituindo-se as condições do curto-circuito bifásico: 186 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA Resolvendo-se a matriz, obtém-se: Aplicando-se o Teorema de Fortescue junto às características desse curto- circuito, obtém-se: Analisando-se as equações pode-se concluir que, no caso do curto-circuito bifásico-terra, os circuitos equivalentes das sequências positiva, negativa e zero podem ser representados como se estivessem em paralelo, conforme vemos na Figura 19: FIGURA 19 – CIRCUITO EQUIVALENTE PARALELO DO CURTO-CIRCUITO BIFÁSICO À TERRA FONTE: A Autora Através da análise do circuito da figura anterior podem-se calcular as correntes através do método do divisor de corrente. Aplicando-se os valores obtidos anteriormente nas equações, é possível calcular as correntes nas fases A, B, C do gerador através da equação matricial seguinte: De acordo com a Figura 18, obtêm-se as seguintes relações: TÓPICO 2 — CURTO-CIRCUITOS ASSIMÉTRICOS 187 Substituindo-se os valores de I₀, I₁ e I₂ na equação de Fortescue, resultam: Como Z₁ = Z₂, então: 7 CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO MONOFÁSICO A Figura 20 mostra o esquema de um curto-circuito monofásico no gerador síncrono: FIGURA 20 – CURTO-CIRCUITO MONOFÁSICO TERRA NO GERADOR SÍNCRONO FONTE: A Autora As condições de contorno para o curto-circuito fase-terra na Fase A são: Substituindo-se as condições do curto-circuito fase-terra na equação referente à corrente: 188 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA Para representar essa igualdade das correntes de sequência, colocam-se os circuitos equivalentes das sequências positiva, negativa e zero em série, como mostra a Figura 21: FIGURA 21 – CIRCUITO EQUIVALENTE SÉRIE DO CURTO-CIRCUITO FASE-TERRA NO GERADOR FONTE: A Autora Sendo assim, tem-se: Como: Z1 = Z2 Substituindo-se os valores das componentes simétricas, obtém-se: O curto monofásico ou curto-circuito fase-terra é o mais frequente em sistemas de potência, ocorre quando há contato entre uma fase e a terra.Esse tipo de curto-circuito é conhecido como franco (ou metálico) quando não existe resistência de falta entre a fase e a terra; diz-se que o curto-circuito apresenta resistência de falta se ela existir no ponto de defeito. TÓPICO 2 — CURTO-CIRCUITOS ASSIMÉTRICOS 189 Normalmente a corrente de carga é desprezada logo após a falta, uma vez que a sua intensidade é bem menor que a intensidade da corrente de curto- circuito. Por outro lado, considera-se para efeitos de simplificação, que a tensão equivalente de Thevenin seja igual a 1,0 pu, tendo em vista que o sistema opera à tensão nominal antes da falta. Após terem sido analisados os diferentes tipos de faltas, podemos concluir que: • O curto trifásico do ponto de vista da estabilidade é o mais crítico, porque bloqueia a capacidade de transmissão das três fases. • Pode-se garantir que o curto fase-fase tem sempre intensidade inferior à do curto trifásico. • A corrente de defeito em faltas fase-terra é maior que a de curto trifásico nos sistemas que tenham a presença de fontes de terra. • A exemplo do curto monofásico, o curto bifásico à terra tende a ser o mais severo à medida que a impedância de sequência zero diminui. Essas conclusões podem ser facilmente comprovadas calculando-se as correntes para os quatro tipos de curtos-circuitos e comparando-as à corrente de curto trifásica. 190 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O Teorema de Fortescue é semelhante ao teorema de Fourier relativo a ondas complexas. • O Teorema de Fortescue é usado para representar as componentes simétricas. Ele consiste em decompor um sistema trifásico não equilibrado em três sistemas equilibrados. • Com isso, qualquer sistema de vetores trifásicos não equilibrados pode ser resolvido com a adição de três sistemas equilibrados. • O desequilíbrio em um sistema elétrico trifásico é uma condição na qual as três fases apresentam diferentes valores de tensão em módulo ou defasagem angular entre fases diferentes de 120º elétricos ou, ainda, as duas condições simultaneamente. • As origens desses desequilíbrios geralmente são nos sistemas de distribuição, os quais possuem cargas monofásicas distribuídas inadequadamente, fazendo surgir no circuito tensões de sequência negativa. • Esse problema se agrava quando consumidores alimentados de forma trifásica possuem uma má distribuição de carga em seus circuitos internos, impondo correntes desequilibradas no circuito da concessionária. • Tensões desequilibradas podem também ser resultados da queima de fusíveis em uma fase de um banco de capacitores trifásicos. • O desequilíbrio de tensão é analisado com base no fator de desequilíbrio, que exprime a relação entre as componentes de sequência negativa e sequência positiva da tensão expressa em termos percentuais da componente de sequência positiva. • Todo conjunto de fasores (tensão ou corrente) desequilibrado pode ser decomposto em três conjuntos de fasores equilibrados, que são: um de sequência positiva, um de sequência negativa e um de sequência zero. • O Sistema Trifásico de Sequência Positiva é um conjunto de três fasores balanceados, ou seja, de mesmo módulo, defasados de 120º, com sequência de fase idêntica à do sistema trifásico original desbalanceado. O índice 1 representa a sequência positiva. 191 • O Sistema Trifásico de Sequência Negativa é um conjunto de três fasores balanceados, girando numa sequência de fase contrária à do sistema original desbalanceado, em velocidade síncrona contrária à da sequência positiva. O índice 2 representa a sequência negativa. • O Sistema Trifásico de Sequência Zero é um conjunto de três fasores iguais, em fase, girando no mesmo sentido da sequência do sistema original desbalanceado, isto é, da sequência positiva. O índice “0” representa a sequência zero. 192 1 Em 1918 o Dr. Fortescue apresentou um trabalho intitulado "Método de Componentes Simétricos aplicado a solução de circuitos polifásicos". Desde então, o teorema de Fortescue tem sido largamente usado em sistemas desiquilibrados, CC entre uma e duas fases. De acordo com o teorema um sistema trifásico desequilibrado pode ser substituído por três sistemas equilibrados de fasores. Com base no exposto, explique o que é o Teorema de Fortescue: 2 As componentes simétricas são utilizadas em circuitos trifásicos desequilibrados a fim de resolver os curtos-circuitos bifásico, bifásico à terra e monofásico. Com base no exposto, explique o que são as componentes simétricas e para que elas servem: 3 Um circuito trifásico está em equilíbrio se as três tensões senoidais tiverem a mesma magnitude e frequência e cada tensão estiver 120° fora de fase com as outras duas. As correntes na carga também devem estar em equilíbrio. Com base no exposto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Para circuitos trifásicos equilibrados não há componente de sequência zero. b) ( ) Para circuitos trifásicos desequilibrados não há componente de sequência zero. c) ( ) Para circuitos bifásicos equilibrados não há componente de sequência zero. d) ( ) Para circuitos monofásicos equilibrados não há componente de sequência zero. 4 O trabalho de Fortescue é aplicável a soluções analíticas ou aos analisadores de rede. Provando que um sistema desequilibrado de n fasores correlacionados pode ser decomposto em “n” sistemas de fasores equilibrados, sendo denominados de componentes simétricas dos fasores originais. Com base no exposto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As componentes simétricas dos fasores originais são compostas por componentes de sequência positiva, componentes de sequência negativa e componentes de sequência zero. b) ( ) As componentes assimétricas dos fasores originais são compostas por componentes de sequência inversa, componentes de sequência negativa e componentes de sequência zero. c) ( ) As componentes simétricas dos fasores originais são compostas por componentes de sequência indireta, componentes de sequência negativa e componentes de sequência zero. d) ( ) As componentes simétricas dos fasores originais são compostas por componentes de sequência positiva, componentes de sequência direta e componentes de sequência zero. AUTOATIVIDADE 193 5 No ano de 1918, é apresentado o trabalho intitulado como “Método de Componentes Simétricos Aplicados à Solução de Circuitos Polifásicos”, apresentado pelo Doutor Fortescue. Esse trabalho apresentou o método de componentes simétricas que são utilizadas para resolução dos curtos-circuitos de tipo assimétrico. Com base no exposto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O trabalho de Fortescue é aplicável a soluções analíticas ou aos analisadores de rede. b) ( ) O trabalho de Fortescue é aplicável a soluções analíticas ou aos analisadores de espectro. c) ( ) O trabalho de Fortescue é aplicável a soluções numéricas ou aos analisadores de impedância. d) ( ) O trabalho de Fortescue é aplicável a soluções numéricas ou aos analisadores de potência. 194 195 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Os sistemas elétricos de potência têm como principal objetivo o de gerar, transmitir e distribuir energia elétrica atendendo a padrões de confiabilidade, disponibilidade e qualidade. Esses sistemas estão constantemente sujeitos a variações de cargas e a ocorrências que possam causar perturbações em seu estado normal, alterando as grandezas elétricas, tais como corrente, tensão, frequência e potencias que podem colocar em risco a integridade dos equipamentos das instalações e o fornecimento de energia. O porte de um SEP é usualmente caracterizado pelo número de barramentos e conexões que integram a rededos sistemas. Com o aumento do porte se tem também o aumento da complexidade, exigindo, assim, muitas vezes um aprofundamento do grau de conhecimento dos fenômenos que afetam o funcionamento. Como as linhas de transmissão são a maior parte física dos SEP’s análises e estudos devem ser feitos para que se possa conseguir cumprir os objetivos aos quais foram projetados para se realizar, isto é, fornecer energia de forma ininterrupta. Estudos de curto-circuito são feitos a fim de se determinar as correntes circulantes nos equipamentos elétricos, quando na decorrência de condições de falhas, defeitos ou distúrbios não previstos, como descargas atmosféricas, e com base nessas, ajustar as proteções para evitar danificar os equipamentos. O estudo de curto-circuito permite fazer diversas outras análises para que se possa ter um sistema mais robusto, tais como: • Especificação da capacidade de interrupção de dispositivos de chaveamento. • Seleção da suportabilidade térmica de equipamentos. • Ajuste de dispositivos de proteção. O estudo de casos que envolve faltas é realizado utilizando cálculos analíticos, mediante calculadoras científicas ou programas como Matlab ou Octave. Entretanto, do ponto de vista prático esse procedimento se torna inviável. A evolução da computação digital marcou uma nova etapa em estudos dos SEP’s, programas computacionais desenvolvidos em linguagem de alto nível foram gradativamente substituindo analisadores de redes por aplicativos e simuladores digitais, que são mais flexíveis e econômicos. TÓPICO 3 — PROGRAMAS COMPUTACIONAIS E SIMULAÇÃO EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA 196 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA O uso de ferramentas computacionais para estudos em sistemas elétricos físicos complexos é requerido em um curso superior de engenharia elétrica. Os programas computacionais aproximam os problemas de cálculo de curto-circuito com os problemas da vida real. Embora existam várias ferramentas para esse fim, vamos apresentar nesse livro o software ANAFAS e o ANAREDE, desenvolvidos pela CEPEL. 2 ANAFAS O programa ANAFAS da CEPEL é um programa computacional para cálculo de curtos-circuitos em sistemas elétricos de potência. Segundo o manual (CEPEE, 2017): “O ANAFAS permite a execução automática de grande variedade de faltas, [sejam elas shunt, abertura ou simultâneas], e possui facilidades, como estudo automático de superação de disjuntores [do sistema], obtenção de equivalentes de rede, redução de nível de curto em uma barra e cálculo automático da evolução dos níveis de curto, permitindo a geração de resultados orientados a pontos de falta ou de monitoração”. O programa ANAFAS está integrado ao SAPRE (Sistema de Análise e Projeto de Redes Elétricas), que dispõe de editores gráficos de diagramas unifilares, o que possibilita a interação direta sobre os elementos do diagrama e a fácil visualização de seus resultados. A análise por meio do ANAFAS permite: avaliação de superação de equipamentos frente a correntes de curto-circuito; realização de estudos de acesso; auxílio na localização de faltas em linhas de transmissão; e auxílio na definição dos ajustes em sistemas de proteção. Os equivalentes de rede obtidos pelo programa são utilizados para estudos envolvendo transitórios eletromecânicos ou eletromagnéticos. Há mais de uma década, o ANAFAS vem sendo amplamente utilizado por empresas, como Eletrobras, Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Ministério de Minas e Energia (MME), Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), empresas concessionárias que operam redes de transmissão ou subtransmissão, dentro das universidades, empresas de consultoria em engenharia elétrica etc. 3 ANAREDE Nesse subtópico será apresentado o programa ANAREDE 10.00.02 e suas funções para as devidas simulações. O programa computacional ANAREDE 10.00.02 (Análise de Redes Elétricas) desenvolvido pela CEPEL (CENTRO DE PESQUISAS DE ENERGIA ELÉTRICA) possibilita a realização de estudos em operações e planejamento de Sistemas Elétricos de Potência. O programa ANAREDE é o mais utilizado TÓPICO 3 — PROGRAMAS COMPUTACIONAIS E SIMULAÇÃO EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA 197 no Brasil para análise de Sistemas Elétricos de Potência. Ele reúne programas de fluxo de potência, equivalente de redes, análise de contingências, análise de sensibilidade de tensão e de fluxo e análise de segurança de tensão. Os principais usuários do ANAREDE são entidades setoriais, como Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e Empresa de Pesquisa Energética (EPE); Ministério de Minas Energia (MME); Empresas Eletrobrás; Agentes de geração, transmissão e distribuição; grandes consumidores industriais; produtos independentes; universidades (versão acadêmicas) e empresas de consultorias. A Figura 22 mostra o site da CEPEL, no qual se pode obter o programa computacional ANAREDE. FIGURA 22 – TELA INICIAL DO DEPARTAMENTO DE REDES ELÉTRICAS (DRE) DO CEPEL FONTE: Eletrobrás Cepel (2021a, s.p.) Os softwares da CEPEL podem ser obtidos em: http://www.cepel.br/pt_br/ produtos/programas-computacionais-por-categoria/analise-de-redes-eletricas.htm. IMPORTANT E 198 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA A obtenção do software só pode ser solicitada por universidades e demais órgãos. Um exemplo de três barras foi inserido no programa ANAREDE para mostrar funções de como inserir os dados do software e fazer suas simulações. A Tabela 9 apresenta os dados de uma rede simples de três barras e a sua representação gráfica. TABELA 9 – DADOS DA BARRA FONTE: A Autora (2021) A Figura 23 apresenta a representação gráfica de três barras do exemplo da Tabela n. FIGURA 23 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA FONTE: Adaptada de Eletrobrás Cepel (2021b, s.p.) Para inserir os dados da barra clica-se em F3 ou na barra menu no ícone no formato de um lápis, em seguida no primeiro item – Barra CA, conforme registrado na Figura 24. TÓPICO 3 — PROGRAMAS COMPUTACIONAIS E SIMULAÇÃO EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA 199 FIGURA 24 – MENU ELEMENTOS DE REDE FONTE: Adaptada de Eletrobrás Cepel (2021b, s.p.) Na área de trabalho do Anarede clica-se com o botão esquerdo do mouse para posicionar a barra, após o usuário pode girar a barra clicando com o botão direito do mouse, conforme mostrado na Figura 25. FIGURA 25 – INSERINDO BARRAS FONTE: Adaptada de Eletrobrás Cepel (2021b, s.p.) Para fixar a barra clica-se duas vezes com o botão esquerdo do mouse na área de trabalho. Após, abrirá automaticamente uma janela onde o usuário poderá inserir os dados da barra, conforme demonstra a Tabela 10. O usuário deve sempre colocar ponto para separar número inteiro de número decimal. TABELA 10 – DADOS DA BARRA CA 200 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA FONTE: Adaptada de Eletrobrás Cepel (2021b, s.p.) Caso o usuário sentir necessidade de rever alguns dados da barra, clica- se novamente com o botão esquerdo do mouse na barra de menus no ícone em forma de “i”, ao lado do lápis ou em F2 e na barra. As barras CA podem ser modeladas, de acordo com o seu tipo, da seguinte maneira, conforme o Manual do ANAREDE: • A barra PQ, onde as cargas e as gerações ativa e reativa são especificadas. A magnitude de tensão nessa barra não é regulada, exceto para os casos em que são controladas por um transformador LTC ou uma barra PV remota. • A barra PV onde as cargas ativas e reativas e a geração ativa são especificadas. A geração reativa é variável entre limites especificados para manter a magnitude da tensão da barra constante em um valor especificado, ou controlar a magnitude da tensão em uma barra remota. • A barra de referência (“slack”) onde as cargas ativas e reativas,a magnitude e o ângulo de fase da tensão são especificados. Em qualquer sistema interconectado existe, normalmente, uma barra de referência cujo ângulo é a referência de fase do sistema. No entanto, podem ser definidas mais de uma barra de referência com a finalidade de atender os requisitos de determinados tipos de estudos. O usuário também pode definir o local dos objetos gráficos na área de trabalho, já que ele divide a tela com linhas pontilhadas. Utilizando o grid e em seguida F7 aparece uma cruz na barra de menus que permite mover os elementos, conforme mostrado na Figura 26. TÓPICO 3 — PROGRAMAS COMPUTACIONAIS E SIMULAÇÃO EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA 201 FIGURA 26 – POSICIONANDO OS ELEMENTOS NA GRADE FONTE: Adaptada de Eletrobrás Cepel (2021b, s.p.) Após inseridos os dados do circuito é possível fazer as simulações. Para simular o fluxo de potência clica-se no ícone de cor verde FP. Outro acesso é no menu “dados/gerenciador de dados”, conforme mostra a Figura 27. FIGURA 27 – GERENCIADOR DE DADOS FONTE: Adaptada de Eletrobrás Cepel (2021b, s.p.) 202 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA 3.1 ALINHAMENTO DO CIRCUITO Caso o usuário perceba a necessidade de aumentar o tamanho da barra, poderá utilizar a função Grid, para isso pressiona-se F11 ou o ícone “<< >>”, clica- se com o botão esquerdo e direito para aumentar ou diminuir o tamanho da barra. Para alinhamento das barras o usuário deve entrar com a função “#”, dessa forma o simulador deixa quadriculada a área de trabalho, podendo assim fazer o devido alinhamento das barras, conforme mostrado na Figura 28. FIGURA 28 – GRID – ALINHAMENTO DAS BARRAS FONTE: Adaptada de Eletrobrás Cepel (2021b, s.p.) Após usar a função GRID e posicionar o alinhamento das barras, o usuário pode fazer o alinhamento das linhas utilizando as funções F10, conforme mostrado na Figura 29. Dessa forma, torna-se mais visível o alinhamento da simulação. FIGURA 29 – ALINHAR ELEMENTO FONTE: Adaptada de Eletrobrás Cepel (2021b, s.p.) TÓPICO 3 — PROGRAMAS COMPUTACIONAIS E SIMULAÇÃO EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA 203 Outra simulação possível é a apresentação do modelo “shunt” de linha através de uma representação gráfica, obtendo-se a linha 1-2 da Tabela a seguir, que tem 8.2 Mvar de carregamento capacitivo total. Utilizando a função F2, alterou- se para zero “0”, conforme mostra a Figura 30, para se ter a referência de “shunt”. FIGURA 30 – DADOS DO CIRCUITO FONTE: Adaptada de Eletrobrás Cepel (2021b, s.p.) O modelo utilizado pelo ANAREDE para linha de transmissão é o π, assim o valor fica divido para cada linha em 4,1 Mvar. Como já informado anteriormente, para inserir o shunt clica-se em F3 onde irá abrir função “desenho” e seleciona-se o shunt na rede, conforme mostra a Figura 31. 204 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA FIGURA 31 – SISTEMA SHUNT DE TRÊS BARRAS FONTE: Adaptada de Eletrobrás Cepel (2021b, s.p.) Para apagar um elemento utiliza-se a tecla “F5”, a qual apaga somente a parte gráfica deixando os dados na memória. O usuário também pode utilizar a forma de caveira “F4” que apaga o elemento gráfico e o dado numérico. Uma forma de controlar os dados do simulador ANAREDE é clicar em menus/opções de legenda, de acordo com a Figura 32. TÓPICO 3 — PROGRAMAS COMPUTACIONAIS E SIMULAÇÃO EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA 205 FIGURA 32 – OPÇÕES DE LEGENDA FONTE: Adaptada de Eletrobrás Cepel (2021b, s.p.) Considerados tais procedimentos, em seguida é apresentada a simulação desenvolvida, orientada ao programa de fluxo de potência sistema de cinco barras. 3.2 LAKU Criado pelo engenheiro Hans-Detlef Pannhorst, o LAKU é um programa para calcular fluxo de cargas e curto-circuitos de redes de transmissão de energia elétrica. O programa desenvolvido para PC’s pode rodar em Windows Vista, Windows XP e Windows 2000 e ser usado em alemão e inglês. A inserção de dados pode ser feita com melhores resultados utilizando o editor gráfico NETDRAW (programa gráfico para estudos de redes de energia elétricas). Os dois programas podem se comunicar entre si, isto é, LAKU pode ser trazido diretamente do editor de gráficos depois de serem trocados os dados da rede. Esse programa só pode ser usado para fins educacionais, não sendo permitido o uso comercial. Não é permitida a modificação dos códigos e dados e não é garantida a qualidade dos resultados obtidos. Esse programa deve ser distribuído sem nenhum custo. Veja mais sobre esse programa em: http://www.dpannhorst.de/netdrw_pt.php. DICAS 206 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA 3.3 CCTRI O CCTRI é um programa disponível em micros para cálculo de curto- circuito trifásico em sistemas elétricos industriais. A limitação do programa ao cálculo de curto-circuito trifásico torna-o defasado em relação à concorrência. O curto-circuito trifásico apesar de mais severo é o de mais rara ocorrência. É de essencial importância o conhecimento das correntes de um curto-circuito fase- terra, sendo o de mais frequente ocorrência, tornando-se imprescindível para o cálculo das proteções. 3.4 POWERWORLD O PowerWorld Simulator é ideal para ensinar operações e análises de sistemas de energia e para realizar pesquisas. Na verdade, a versão original do software Simulador foi construída como uma ferramenta para ensinar sistemas de potência e apresentar os resultados da análise de sistemas de potência para públicos técnicos e não técnicos. Desde então, o Simulator evoluiu para uma plataforma de visualização e análise de sistemas de energia altamente poderosa que é hoje. O simulador foi, e continua a ser usado efetivamente em classes de graduação e pós-graduação em operação, controle e análise de sistemas de potência. Os conceitos são apresentados de forma simples, mas o software tem detalhes suficientes para desafiar os alunos avançados de engenharia. A versão gratuita para estudantes que comporta até 13 barramentos para simulação pode ser baixada em: https://www.powerworld.com/solutions/students. DICAS 3.5 SMARTGRIDS Em âmbito mundial, o desenvolvimento de SmartGrids é uma resposta consistente ao problema de entrega eficiente e sustentável de energia elétrica por meio de redes de distribuição. SmartGrids são uma combinação de tecnologias de informação e comunicação e novas tecnologias de energia. Existem muitas definições diferentes do conceito de SmartGrids e, portanto, parece indispensável reunir o conhecimento disponível da indústria e dos laboratórios de pesquisa em um livro. A geração distribuída está recebendo, com razão, uma quantidade cada vez maior de atenção e se tornará parte integrante dos sistemas de energia urbanos, fornecendo aos consumidores e fornecedores de energia serviços de energia seguros, baratos, limpos, confiáveis, flexíveis e prontamente acessíveis. TÓPICO 3 — PROGRAMAS COMPUTACIONAIS E SIMULAÇÃO EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA 207 O projeto tradicional de sistemas de controle de rede com uma estrutura centralizada não está em linha com o paradigma do sistema elétrico desagregado e controle descentralizado; isso é destacado ao observar como as futuras redes ativas vincularão com eficiência fontes de energia de pequena e média escala com as demandas dos consumidores, permitindo que sejam tomadas decisões sobre a melhor forma de operar em tempo real. Ele também analisa o nível de controle necessário: avaliação de fluxo de energia, controle de tensão e proteção requerem tecnologias de custo competitivo e novos sistemas de comunicação com mais sensores e atuadores do que os usados atualmente, certamente em relação aos sistemas de distribuição. Para gerenciar redes ativas, é criada uma visão de computação em grade que garante o acesso universal aos recursos de computação. Uma infraestrutura de rede inteligenteoferece mais flexibilidade em relação à demanda e ao fornecimento, fornecendo novos instrumentos para uma operação de rede otimizada e econômica ao mesmo tempo. A Figura 33 mostra um exemplo de smartgrids em cidades. FIGURA 33 – CIDADE ABASTECIDA COM SMARTGRIDS FONTE: <https://bit.ly/3o9P1qn>. Acesso em: 10 abr. 2021. Podemos ler mais sobre o cenário de Smartgrids ou redes inteligentes na Leitura Complementar; vamos lá? 208 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA SMART GRIDS E MICROREDES: O FUTURO JÁ É PRESENTE Djalma M. Falcão INTRODUÇÃO Sistemas de energia elétrica existem como tal há pouco mais de 120 anos. Em sua infância, esses sistemas confrontaram-se com o dilema de um desenvolvimento distribuído ou centralizado. A primeira vertente, defendida por Thomas Alva Edison, preconizava o atendimento da demanda através de instalações de corrente contínua, nas quais os geradores (dínamos) localizavam- se próximos aos pontos de consumo. A segunda opção, defendida pelo jovem Nikola Tesla, com suporte de George Westinghouse, propunha a construção de centrais geradoras próximas às fontes de energia primária (rios ou minas de carvão) e transmissão a longas distâncias (para a época), utilizando corrente alternada e transformadores. A solução vitoriosa, por razões que não cabem ser discutidas aqui, mas estão bem explicadas em [1], é conhecida de todos. Durante quase um século, os sistemas de energia elétrica cresceram e evoluíram tecnologicamente, porém mantendo o paradigma proposto por Tesla e Westinghouse. As centrais geradoras ficaram cada vez maiores e os sistemas de transmissão elevaram sua tensão nominal, para atender as grandes distâncias e os grandes blocos de potência transmitidos. Os sistemas isolados se interligaram para usufruir das vantagens de maior segurança e economia, a transmissão em corrente contínua ressurgiu como opção para grandes distâncias graças ao desenvolvimento da eletrônica de potência, a qual também permitiu a introdução dos dispositivos FACTS. Progressos notáveis foram introduzidos também na proteção e controle dos sistemas, as quais se valeram da evolução da tecnologia da eletrônica digital e da informática. Uma primeira alteração de paradigma iniciou-se por volta da década de 1980 com a introdução do conceito de produtor independente, para acomodar a vantagem econômica de novos equipamentos de geração, que evoluiu para propostas de reestruturações completas do setor elétrico, as quais foram implementadas em vários países, com maior ou menor intensidade. A reestruturação do setor elétrico introduziu mudanças consideráveis na forma de produção e comercialização da energia elétrica, principalmente no atacado, mas trouxe poucas alterações nas características tecnológicas do sistema. Também, a comercialização da energia no varejo, particularmente no tocante aos consumidores residenciais, sofreu alterações menores, restritas a poucos países. Uma novidade tecnológica importante foi a generalização do uso da geração distribuída, particularmente conectada aos sistemas de distribuição. Também digna de nota foi a introdução de novas fontes de energia tais como a eólica, biomassa, solar etc., ainda que essas chamadas fontes alternativas tivessem LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 3 — PROGRAMAS COMPUTACIONAIS E SIMULAÇÃO EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA 209 limitada capacidade de competição do ponto de vista econômico. O processo de reestruturação do setor elétrico apresenta-se como irreversível na maioria de suas modificações, embora suas vantagens sejam discutíveis em vários aspectos. Um ponto no qual a reestruturação certamente não apresentou vantagens aparentes foi na segurança do sistema, pois blecautes de grandes proporções continuam acontecendo, mesmo nos países desenvolvidos, indicando que o sistema elétrico atual é intrinsecamente vulnerável a esse tipo de falha catastrófica. Presentemente, percebe-se a introdução de mudanças de natureza tecnológica, estrutural e regulatória, que têm o potencial para uma nova alteração do paradigma. Essas mudanças acontecem tanto ao nível do grande sistema (grandes unidades de geração e transmissão) quanto nos pequenos sistemas (sistema de distribuição, geração distribuída, microgeração e uso final). Em particular, as mudanças incorporam um conceito tanto novo quanto revolucionário: o poder de o consumidor decidir sobre seu consumo, e até contribuir para o atendimento dos demais consumidores pela venda de energia ao sistema. As mudanças são movidas pela incorporação maciça de tecnologia de computação e comunicação ao controle e supervisão dos sistemas de energia elétrica, pela introdução de novos dispositivos para geração e microgeração, pela conscientização da vulnerabilidade dos sistemas atuais a situações catastróficas (blecautes), inaceitáveis por uma sociedade altamente dependente da continuidade e qualidade do suprimento de energia elétrica, e pela consciência socioambiental, cada vez mais presente nas decisões da sociedade moderna. Este artigo apresenta uma revisão crítica das principais tendências presentes nessa mudança. Em particular, serão comentados dois dos conceitos mais importantes nesse movimento: Smart Grids e Microredes. Um livro recente, de grande repercussão, considera os sistemas elétricos atuais totalmente anacrônicos e com potencial para causar grandes danos à sociedade. Em particular, para fazer um contraponto com a crise do mercado financeiro americano, refere-se a esses sistemas como um equivalente elétrico da “subprime mortgage.” Exageros à parte, muitos estudiosos do assunto consideram que, apesar dos bons serviços prestados à sociedade até agora, os sistemas de energia elétrica deixaram de incorporar muitos avanços tecnológicos, disponíveis a custo relativamente baixo, e que poderiam proporcionar níveis de confiabilidade e qualidade de suprimento mais adequados à sociedade digital em que vivemos. O homem é capaz de controlar um robô em Marte, porém, em muitos casos, depende de telefonemas de consumidores desesperados e deslocamentos de turmas de manutenção para restaurar o fornecimento de energia em pequenas áreas de uma grande cidade. Outra área de críticas aos sistemas atuais localiza-se na forma de produzir a energia elétrica. As grandes centrais geradoras sejam hidrelétricas, termelétricas convencionais ou nucleares, apresentam cada vez mais dificuldades para sua construção devido aos impactos sócioambientais que inevitavelmente causam. O mesmo pode-se dizer dos grandes sistemas de transmissão. Alternativas de geração distribuída, utilizando fontes não convencionais de energia, cada vez mais se tornam competitivas se considerarmos não apenas o custo econômico, 210 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA mas também vantagens de outras naturezas. Novas tecnologias, como o carro elétrico híbrido plug-in (Plug-In Hybrid Electric Vehicle – PHEV), estão próximas de se tornarem de uso generalizado e apresentam potencial para armazenamento de grandes blocos de energia produzidos por fontes renováveis não despacháveis. Finalmente, a possibilidade de alterar a demanda de energia através da disponibilização de equipamentos de medição e controle do consumo/produção de energia (Smart Meters) tem o potencial de alterar profundamente o perfil da demanda, tornando a mesma um elemento do planejamento da operação e expansão do sistema. Este fenômeno, denominado de empoderamento do consumidor, dá ao consumidor de energia elétrica uma voz ativa no processo de geração, transporte e consumo de energia elétrica e, é considerado por muitos, o fator principal da mudançade paradigma que se aproxima. Os fatores motivadores da introdução das modificações nos sistemas de energia elétrica estão sintetizados na Figura 1. A expressão Smart Grid deve ser entendida mais como um conceito do que uma tecnologia ou equipamento específico. Ela carrega a ideia da utilização intensiva de tecnologia de informação e comunicação na rede elétrica, através da possibilidade de comunicação do estado dos diversos componentes da rede, o que permitirá a implantação de estratégias de controle e otimização da rede de forma muito mais eficiente que as atualmente em uso. Uma tentativa abrangente de definição do conceito, apresentada em [6], é: A expressão Smart Grid pode ser entendida como a sobreposição dos sistemas unificados de comunicação e controle, à infraestrutura de energia elétrica existente, para prover a informação correta para a entidade correta (equipamentos de uso final, sistemas de controle de T&D, consumidores, etc.), no instante correto, para tomar a decisão correta. É um sistema que otimiza o suprimento de energia, minimizando perdas de várias naturezas, é autorrecuperável (self-healing), e possibilita o surgimento de uma nova geração de aplicações energeticamente eficientes. Algumas das características geralmente atribuídas à Smart Grid são: TÓPICO 3 — PROGRAMAS COMPUTACIONAIS E SIMULAÇÃO EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA 211 • Autorrecuperação: capacidade de automaticamente detectar, analisar, responder e restaurar falhas na rede; • Empoderamento do Consumidor: habilidade de incluir os equipamentos e comportamento dos consumidores nos processos de planejamento e operação da rede; • Tolerância a Ataques Externos: capacidade de mitigar e resistir a ataques físicos e ciberataques; • Qualidade de Energia: prover energia com a qualidade exigida pela sociedade digital; • Acomodar uma Grande Variedade de Fontes e Demandas: capacidade de integrar de forma transparente (plug and play) uma variedade de fontes de energia de várias dimensões e tecnologia; • Reduzir o impacto ambiental do sistema produtor de eletricidade: reduzindo perdas e utilizando fontes de baixo impacto ambiental; • Viabilizar e beneficiar-se de mercados competitivos de energia: favorecer o mercado varejista e a microgeração. • Essas características poderão ser alcançadas através da introdução das seguintes áreas de inovação tecnológica: o automação e controle digital da rede elétrica, utilizando controles eletrônicos inteligentes, capazes de antecipar-se a perturbações e corrigi- las antes que as mesmas ocorram; o introdução de medição inteligente com a capacidade de funcionar como um portal inteligente do consumidor que permitirá a disponibilização de sinais de preço e outras informações; o integração de um grande número de fontes de geração e armazenamento de energia de pequena e média capacidade, intermitentes ou contínuas, permitindo ao consumidor comprar e vender energia da rede. A viabilização do conceito de Smart Grid é possível através das seguintes áreas tecnológicas: • Enpoderamento dos Consumidores (Enpowerment) Estrutura Regulatória e de Mercado Favoráveis: o Dispositivos de Eletrônica de Potência: dispositivos capazes de controlar o sistema de energia elétrica com a velocidade e precisão dos microprocessadores, porém atuando em níveis de potência milhões de vezes maior; o Geração Distribuída e Microgeração: localização da geração próxima ao uso final, com potencial para melhorar a confiabilidade e segurança de comunidades e consumidores individuais; o Dispositivos de Armazenamento de Energia: melhoram o suprimento a carga sensíveis a flutuações na qualidade de energia da rede; o Sistema Integrado de Comunicação: permite comunicação instantânea entre todos os equipamentos críticos do sistema, permitindo o monitoramente, controle e correção; o Sensores: redes de sensores inteligentes. 212 UNIDADE 3 — CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA SEGMENTOS DA APLICAÇÃO DE SMART GRID A tecnologia Smart Grid se aplica aos vários segmentos que compõem o sistema de energia elétrica com maior ou menor intensidade. Além disso, algumas técnicas hoje consideradas como integrando esse conceito surgiram antes mesmo do conceito ser identificado e nomeado. O processo de automação do sistema elétrico é antigo e tem sido desenvolvido ao longo dos anos. Entretanto, o enorme desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação ocorrido nos últimos anos, aliado a mudanças estruturais na organização dos sistemas elétrico e fatores sócioambientais, vem produzindo modificações substanciais nesse processo. [...] CENÁRIO INTERNACIONAL Esforços para a introdução do conceito de Smart Grid vêm ocorrendo em várias partes do mundo. Em geral esses esforços têm sido apoiados por associações com participação da indústria tais como GridWise, Modern Grid Initiative (DOE) e IntelliGrid (EPRI) nos Estados Unidos e Smart Grid Europe na Europa. Iniciativas similares podem ser encontradas na Austrália, China e Japão. No caso dos Estados Unidos, o recém empossado governo do Presidente Obama anunciou a destinação de cerca de US$ 4 bilhões para projetos de pesquisa e desenvolvimento visando a modernização do sistema de energia elétrica americano. O leque de participação de empresas de grande porte no negócio de Smart Grid é bastante amplo. Além das tradicionais empresas de tecnologia de energia elétrica (ABB, Siemens, Areva etc.) encontram-se também empresas da área de informática, tais como IBM, Oracle, Cisco etc., além de um grande número de empresas de base tecnológica de menor porte. Recentemente, a Google anunciou sua entrada nesse negócio através do sistema piloto Google PowerMeter. Várias organizações não-governamentais também têm dedicado grande esforço na divulgação das ideias de Smart Grid. Uma das mais destacadas é o Galvin Electricity Institute nos Estados Unidos. Alguns exemplos, de diferentes amplitudes e profundidade, de aplicações do conceito de Smart Grid em várias partes do mundo são: • Itália: a Enel tem operado remotamente, através de um sistema de gerenciamento automático, cerca de 31 milhões de medidores eletrônicos (Telegestores). Está prevista a instalação de medidores eletrônicos para todos os consumidores até 2011. • Portugal: a EDP, em consórcio com institutos de pesquisa e empresas de base tecnológica, está desenvolvendo o projeto InovGrid cujo objetivo é desenvolver um novo sistema elétrico de distribuição inteligente. O projeto prevê um ciclo completo, incluindo a telegestão de energia (baseada no terminal inteligente do consumidor – Energy Box), integração da microgeração na rede e aumento da inteligência de serviço da rede. TÓPICO 3 — PROGRAMAS COMPUTACIONAIS E SIMULAÇÃO EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA 213 • Estados Unidos: a primeira Cidade Smart Grid do mundo em desenvolvimento pela Xcel Energy em Boulder, Colorado. A Duke Energy desenvolve projeto de longo alcance com aplicações já implementadas em sua área de concessão. O projeto de demonstração de uma smart-microgrid em desenvolvimento no Illinois Institute of Technology (IIT) em Chicago. A futurística comunidade de Mesa del Sol, Novo México, em colaboração com Sandia National Laboratories, prevê uso intensivo do conceito Smart Grid e energia solar. Cenário Nacional Ao nível do grande sistema, esquemas especiais de proteção têm sido implementados no sistema elétrico brasileiro os quais podem ser classificados dentro da categoria geral de Wide Area Protection Schemes. Recentemente o ONS iniciou estudos visando a instalação de unidades de PMUs em pontos estratégicos do sistema interligado nacional com o objetivo, entre outros, de melhorar a capacidade de oscilografia e estimação de estado. Ainda dentro desse projeto, o ONS e o Cepel vêm realizandoum trabalho de pesquisa conjunto visando o desenvolvimento de aplicações de PMU na segurança do sistema. FONTE: Adaptada de <https://www.researchgate.net/publication/228473062_Smart_Grids_e_ Microredes_o_futuro_ja_e_presente>. Acesso em: 10 abr. 2021. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 214 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • O Programa de Análise de Redes Elétricas (ANAREDE) é um programa de solução e análise de sistemas de regime permanente, desenvolvido pelo Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL) e utilizado por várias empresas do setor elétrico brasileiro. • Sua manutenção é constante, com novas implementações e manutenção periódicas. • Por ser um programa de utilização nacional, os agentes do setor elétrico que o utilizam podem apresentar sugestões de melhorias e de novas metodologias que são avaliadas e, atestadas suas validades e viabilidades de uso, são implementadas. • O programa computacional ANAFAS (Análise de Faltas Simultâneas) é utilizado para cálculo de curtos-circuitos na rede elétrica. • O software ANAFAS permite a execução automática de grande número de faltas, inclusive deslizantes, resultados orientados a pontos de falta ou de monitoração, estudo automático de superação de disjuntores, obtenção de equivalentes e cálculo automático da evolução dos níveis de curto. • Há outros softwares para simulação de sistemas de potência e correntes de curto-circuito, como por exemplo, o PowerWorld. • No Octave, Scilab ou Freemat também podemos obter valores de parâmetros de circuitos elétricos provenientes de sistemas de potência, porém, precisamos desenvolver os códigos ou buscá-los na web. • Smartgrids ou redes inteligentes consistem na modernização das tecnologias de geração, transformação, transmissão, distribuição e uso final da energia, onde elementos de telecomunicação agregam à tradicional infraestrutura de rede elétrica uma capacidade de gerenciar, monitorar e supervisionar esse sistema mediante a incorporação de infraestruturas de comunicação digital e processamento de dados nos diversos setores do sistema elétrico, transformando-o em um sistema mais inteligente. • Essa rede inteligente interliga diversos dispositivos como medidores, sensores, controladores e equipamentos microprocessados instalados nos sistemas elétricos. 215 1 Entre os principais usuários do ANAFAS estão: entidades setoriais, como Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e Empresa de Pesquisa Energética (EPE); empresas Eletrobras; agentes de geração, transmissão e distribuição; grandes consumidores industriais; produtores independentes; universidades (versões acadêmicas). Com base no exposto, disserte sobre o ANAFAS: 2 Entre os principais usuários do ANAREDE estão: entidades setoriais, como Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e Empresa de Pesquisa Energética (EPE); Ministério de Minas e Energia (MME); empresas Eletrobras; agentes de geração, transmissão e distribuição; grandes consumidores industriais; produtores independentes; universidades (versões acadêmicas); empresas de consultoria. Com base no exposto, disserte sobre o ANAREDE: 3 O software referido foi desenvolvido pela DRE (Departamento de Redes Elétricas) do CEPEL, ele é utilizado para cálculo de curtos-circuitos na rede elétrica, permitindo a execução automática de grande número de faltas. No Brasil, os seus usuários destacam-se as empresas regionais do setor elétrico agrupados no sistema Eletrobrás (Eletro-Sul, Furnas e EPE), o Operador Nacional do Sistema (ONS) e atualmente já existe uma versão estudantil de tal software permitindo o seu uso nas Universidades públicas, contribuindo dessa forma na formação e consolidação dos engenheiros nela formados. Com base no exposto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O software referido no texto é o ANAFAS. b) ( ) O software referido no texto é o OCTAVE. c) ( ) O software referido no texto é o MATLAB. d) ( ) O software referido no texto é o POWERWORLD. 4 As faltas ocorrem nos sistemas de energia geralmente na parte mais expostas dele, ou seja, majoritariamente nas linhas de transmissão. Também ocorrem faltas nos geradores e transformadores e demais equipamentos tais como nos sistemas de compensação estática. Com base no exposto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Um curto-circuito se caracteriza pela diminuição do valor da resistência do local em que ocorreu a falta. b) ( ) Um curto-circuito se caracteriza pelo aumento do valor da resistência do local em que ocorreu a falta. c) ( ) Um curto-circuito se caracteriza pela diminuição do valor da indutância do local em que ocorreu a falta. d) ( ) Um curto-circuito se caracteriza pelo aumento do valor da capacitância do local em que ocorreu a falta. AUTOATIVIDADE 216 5 O Sistema Interligado Nacional (SIN) sofre modificações a todo tempo, com entrada e saída de elementos da rede. Essas modificações se dão, devido às alterações e ampliações nos sistemas de geração e transmissão, bem como alterações de carregamento do sistema. Visando minimizar os impactos causados por essas modificações e acessos, e garantir a correta conexão por parte dos acessantes, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) propõe regras de acesso à rede consolidadas em Procedimentos de Rede. Com o intuito de atender aos critérios estabelecidos nos Procedimentos de Rede e facilitar os estudos de acesso, o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL) desenvolveu o ANAFAS (Análise de Faltas Simultâneas). Integrado ao ANAFAS, o SAPRE (Sistema de Análise e Projeto de Redes Elétricas) que oferece uma interface de edição de diagramas, facilitando as análises dos fenômenos elétricos. Com base no exposto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) É um software de análise de curto-circuito na rede elétrica, capaz de simular faltas simultâneas, orientar resultados a ponto de falta ou a ponto de monitoração, realizar equivalentes de rede, estudo de superação de disjuntores, entre outros. b) ( ) É um software de análise de estabilidade da rede elétrica, capaz de calcular o fluxo ótimo de potência através de métodos como Newton Raphson e Gauss simplificado, gerar relatórios, fazer análise de contingência, entre outros. c) ( ) É um software de análise de transitórios na rede elétrica, capaz de simular faltas simultâneas, orientar resultados a ponto de falta ou a ponto de monitoração, realizar equivalentes de rede, estudo de superação de disjuntores, entre outros. d) ( ) É um software de análise de sensibilidade de tensão e de fluxo de potência na rede elétrica, capaz de simular equivalente de redes, fluxo de potência continuada, redespacho de potência ativa e aparente, entre outros. 217 REFERÊNCIAS ALMEIDA, W. G. de; FREITAS, F. D. Circuitos polifásicos: teoria e ensaios. Brasília: FINATEC, 1995. ANDERSON, P. M. Analysis of Faulted Power System. Iowa: The Iowa State University Press, 1973. COSTA, EDUARDO COELHO MARQUES DA. Tipos de curtos-circuitos. Slides de aula. São Paulo: USP, [202-?]. Disponível em: https://bit.ly/3myhML5. Acesso em: 22 jul. 2021. ELETROBRÁS Cepel. Eletrobrás Cepel, c2021a. Redes elétricas. Disponível em: http://www.cepel.br/pt_br/. Acesso em: 5 set. de 2018. ELETROBRÁS Cepel. Eletrobrás Cepel, c2021b. Análise de Redes Elétricas (ANAREDE). Disponível em: https://bit.ly/3oI7mve. Acesso em: 3 out. de 2021. KINDERMANN, G. Curto-circuito. 4. ed., Florianópolis: UFSC EEL LabPlan, 2007. SIQUEIRA, V. Tutorial sobre o software de Análise de Faltas. 2017, 75f. Monografia (Engenharia de Energia) – Universidade de Brasília, Brasília: UnB, 2017.