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Talento vs. Doping no Esporte

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Texto Complementar 
 
“Talento vs. Doping” 
Cassio Marcos Vilicev 
O caminho por um desfecho de alto nível está cada vez mais frequente 
no esporte de alto rendimento. O elevado valor dos investimentos envolvidos 
nos esportes e as políticas das competições fazem com que atletas busquem 
resultados e rendimentos melhores, que os conduzam sempre para as 
conquistas e os recordes. Por esse motivo, muitos atletas valem-se aos 
suplementos, os medicamentos ou artifícios ilícitos para conseguir um 
desempenho melhor. Um desses artifícios é a utilização de eritropoetina. 
A eritropoetina é um hormônio endógeno, glicoproteico, sintetizado 
principalmente nos rins e em uma quantidade menor no fígado. Seu principal 
papel é regular a eritropoiese. A eritropoiese é o processo de formação de 
eritrócitos, que acontece na medula óssea, pela diferenciação de células de 
linhagem eritrocitária. A hemoglobina está abrangida dentro dos eritrócitos e 
apresenta como papel o transporte de oxigênio. 
Os eritrócitos possuem uma vida de aproximadamente 120 dias. A 
eritropoetina tem grande relevância para a renovação dos eritrócitos. O 
essencial estímulo para a produção da eritropoetina é a hipóxia tecidual, que 
geralmente está ligada diretamente com o número de eritrócitos circulantes. As 
moléculas de eritropoetina produzidas são conduzidas pela circulação do 
sangue até a medula óssea, onde se encontram as células progenitoras 
eritrocitárias. O aumento do número dos eritrócitos produzidos se advém de um 
a dois dias após o nível de eritropoetina estar elevado no organismo. 
 
Por cumprir um relevante papel na regulação da eritropoiese, qualquer 
modificação na produção da eritropoetina irá causar uma desregulação na 
homeostase do sistema hematocitopoietico. São causas de elevação da 
produção e concentração de eritropoetina: hemodiluição, ou seja, a elevação 
no volume de plasma em relação aos eritrócitos, com a consequente 
diminuição da concentração desses eritrócitos na circulação do sangue; os 
diversos tipos de hipóxia, ou seja, a redução das taxas de oxigênio no sangue 
arterial ou nos tecidos; e as anemias. A redução de concentração de 
eritropoetina deriva de policitemia, ou seja, a alteração sanguínea 
caracterizada por grande aumento da quantidade de eritrócitos circulantes, e 
algumas doenças renais que impossibilitam o organismo para a produção da 
eritropoetina. 
A ética agregada ao esporte ganhou o termo “Espírito Esportivo ou Fair 
Play” em 1975, quando foi criado o Comitê Olímpico Internacional para o Fair 
Play. O Fair Play é um código de ética do esporte e das posturas dos atletas. 
Um dos conceitos que pode ser cultivado a terminologia “ética desportiva” é a 
diferença entre “o certo e o errado”, ou seja, a conduta correta da incorreta. 
Entende-se essa terminologia como o conjunto de valores morais existentes na 
sua prática, combatendo a violência, a corrupção, a dopagem e a discriminação 
social. A prática esportiva carece de valores éticos e morais, como, por 
exemplo, a solidariedade, a honestidade, a disciplina, a paciência, a 
compreensão, o respeito com o outro e pela regra, a superação e o trabalho. A 
obtenção desses valores e preceitos deve estar presente em todas as esferas 
do esporte, de modo independente da conquista ou do rendimento esportivo. 
 
O doping é definido pelo utilização de artifícios ilícitos pela 
regulamentação esportiva, e que possibilitam elevar sinteticamente e 
incorretamente a performance física e/ou mental do atleta. O primeiro caso de 
doping aconteceu na antiguidade, quando os atletas faziam a utilização de 
ervas, fungos e testículos de touro para elevar a sua aptidão física. Desde o 
primeiro relato o doping vem tornando-se discutível e cada vez mais 
requintado, chamando a atenção dos meios de comunicação e da sociedade, 
como a utilização comum e controverso da gestação planejada. Já o doping 
sanguíneo é caracterizado pela elevação da concentração de hemoglobina, 
sendo usado, por exemplo, em esportes de resistência. Este pode ser motivado 
pelas metodologias de reinfusão do próprio sangue, ou seja, autólogo; a 
infusão de sangue de um doador, ou seja, heterólogo; pelos transportadores 
artificiais de oxigênio; e pela utilização da eritropoetina desenvolvida pela 
engenharia genética e amplamente usada pela Medicina. 
A permuta de genes que colaboram para uma melhor performance 
esportiva é chamada de doping genético, e se expressa pelo produto endógeno 
resultante do gene inserido. Entretanto, esse difere da terapia gênica quanto o 
seu propósito, pois esse último modifica o gene visando o tratamento, enquanto 
o doping genético não objetiva a modificação de tão-só um gene e sim de 
muitos genes que quando modificados melhoram a performance do atleta, 
colaborando para um progresso do seu metabolismo energético, um ganho na 
captação de oxigênio e de ganho muscular, além de redução de massa 
corporal. 
O doping genético é resultado da terapia gênica, uma vez que inserir 
DNA num individuo com um gene danificado ou deletado; por meio da terapia 
 
gênica, o doping esportivo abrange a injeção de DNA para conseguir melhores 
resultados. De tal modo, o atleta incorpora o gene adicional através de 
processos gene-terapêuticos, envolvendo a biotecnologia nessa modificação. 
Na terapia gênica a proteína selecionada é transferida e inserida na célula-alvo, 
esse sistema de inserção consiste em uma técnica sem usar diretamente o 
vírus. 
A utilização de doping genético tornou-se realizável devido ao estudo do 
genoma humano, que identificou os genes e suas respectivas proteínas como, 
por exemplo, a leptina (redução de massa corporal), a eritropoetina 
(resistência), o hormônio do crescimento – GH (força), as endorfinas e as 
encefalinas (analgésicos), os bloqueadores de miostatina (crescimento da 
musculatura) e o fator de crescimento do endotélio vascular – VEGF (energia). 
Todavia, o doping genético levanta a questão do eugenismo, ou seja, teoria 
que busca produzir uma seleção nas coletividades humanas, baseada em leis 
genéticas, uma vez que, colabora para o surgimento de um ser humano 
melhorado não tão-só nas qualidades atléticas, porém na seleção de 
determinadas características biológicas, estéticas e intelectuais. 
Alguns atletas produzem naturalmente um elevado número de 
eritrócitos. Um caso especialmente conhecido é o do atleta finlandês Eero 
Mäntyranta (1937-2013). Por conta de uma mutação genética, Mäntyranta tinha 
um número de eritrócitos bastante superior ao dos demais atletas contra os 
quais competia. Os atletas que tiveram menos sorte do que Mäntyranta na 
loteria genética podem elevar o número de eritrócitos, por exemplo, treinando 
em altitudes elevadas. Nessas condições, o organismo produz mais eritrócitos 
para contrabalançar os níveis mais baixos de oxigênio disponíveis na 
 
atmosfera. Uma opção a esse método consiste na utilização de câmaras 
hipobáricas, que simulam altitudes elevadas. Um outro método para a elevação 
do número de eritrócitos, mais modesto do que uma câmara hipobárica, 
consiste na utilização de eritropoetina sintética, em geral, indicada para o 
tratamento de anemia. A WADA (World Anti-Doping Agency – Agência Mundial 
Antidoping), não proíbe o treinamento em altitudes elevadas, nem a utilização 
de câmaras hipobáricas, contudo proíbe a utilização de eritropoetina. 
Como vimos anteriormente, a eritropoietina é sintetizada pelos rins que 
tem como papéis a regulação da síntese de eritrócitos e de hemoglobina, por 
consequência eleva a captação de oxigênio para os tecidos. 
Este hormônio atua nas células formadoras de eritrócitos, acometendo a 
formação de novos eritrócitos. Indivíduos que fazem a utilização de 
eritropoietina recombinante estabelecem eficiência elevada no transporte e 
difusão de gases pelos tecidos, desse modo, atletas que realizam exercícios 
físicos com grande duração,
usam hegemonicamente respiração aeróbia, 
favorecendo-se deste recurso. 
Agrega-se a utilização da eritropoetina com efeitos adversos, como, por 
exemplo, o aumento da viscosidade sanguínea decorrente do acréscimo de 
hematócritos, sendo capaz de diminuir a velocidade do fluxo e débito cardíaco. 
Bem assim, o suprimento de oxigênio na periferia reduzido, pode-se levar a 
hipertensão arterial e a trombose arteriovenosa. 
Os atletas que frequentemente recorrem à utilização de eritropoetina, 
são os praticantes de desportos de grande resistência, como, por exemplo o 
ciclismo e o atletismo. Mesmo com todos os esforços feitos pelas organizações 
mundiais, com intuito de acabar com o doping esportivo, uma grande parte da 
 
população de atletas de elite faz a utilização de drogas ou estão dispostos a 
arriscar a sua saúde visando ganhar vantagem em eventos desportivos. 
REFERÊNCIAS 
 
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FERREIRA, C. F. M. et al. Dopping sanguíneo. Cadernos UniFOA, v. 6, n. 2 
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LEAL, Letícia Araújo. Análise do doping genético nos esportes e seu aspecto 
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MARTINÓ, Túlia Marques. Luta contra a dopagem no desporto: o impacto 
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2018. Dissertação de Mestrado. Universidade de Évora. 
 
 
SIMIONI, Patricia Ucelli; DA SILVA, Natallia Oliveira; APARECIDO, Luiz 
Antonio. A Eritropoetina Recombinante no “Doping”: uma Atualização da 
Literatura. Ciência & Inovação, v. 4, n. 1, 2019. 
 
ZONATTO, Hiago Augusto et al. Análise do polimorfismo R577X do gene 
alfa actina 3 como possível preditor de desempenho físico em mulheres 
ultramaratonistas. 2018. Dissertação de Mestrado. Universidade Tecnológica 
Federal do Paraná.

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