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Inserção Curricular da Educação Ambiental Inserção Curricular da Educação Ambiental Vania Alcantara In ser çã o C ur ric ul ar d a E du ca çã o A mb ien tal Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-3029-3 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Inserção Curricular da Educação Ambiental Vania Alcantara IESDE Brasil S.A. Curitiba 2012. Edição revisada Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br © 2007 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ __________________________________________________________________________________ A318i Alcantara, Vania Inserção curricular na educação ambiental / Vania Alcantara. - 1.ed., rev. - Curitiba, PR: IESDE Brasil, 2012. 108p. : 28 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-3029-3 1. Educação ambiental. 2. Educação de crianças. 3. Currículos - Planejamento. 4. Edu- cação - Currículos. 5. Cidadania. I. Título. 12-5838. CDD: 363.7 CDU: 504 15.08.12 22.08.12 038207 __________________________________________________________________________________ Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: Shutterstock IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Sumário Sociedade de consumo e impactos ambientais ........................................................................5 Os modos de produção dos grupos humanos e a relação com os recursos naturais ........................................5 A Revolução Industrial e a sociedade de consumo ......................................................................................6 Recursos naturais .........................................................................................................................................7 Impactos ambientais ....................................................................................................................................8 Recursos naturais e a cultura do desperdício .........................................................................15 Água doce – uma ameaça à soberania das nações .....................................................................................15 Cultura do desperdício ...............................................................................................................................16 Educação Ambiental, conscientização e cidadania ....................................................................................18 Evolução do pensamento ambiental .......................................................................................23 As correntes do pensamento ambiental .....................................................................................................23 Empresa, responsabilidade social e consciência do consumidor ...........................................29 Empresa cidadã ..........................................................................................................................................29 A mudança pela consciência do consumidor .............................................................................................30 Responsabilidade social das empresas .......................................................................................................31 A importância do terceiro setor nas ações ambientais ...........................................................35 Organização da sociedade civil..................................................................................................................35 O empresariamento das ONGs ..................................................................................................................37 As ONGs e as questões ambientais ...........................................................................................................39 Educação Ambiental na prevenção e recuperação de áreas degradadas ................................43 Tipos de ação .............................................................................................................................................43 Gestão Ambiental .......................................................................................................................................43 A institucionalização da Educação Ambiental no espaço escolar ..........................................49 A criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais .....................................................................................50 As práticas de Educação Ambiental no sistema escolar ............................................................................51 A dimensão da Educação Ambiental e o currículo escolar ....................................................57 Projeto Político Pedagógico .......................................................................................................................58 Cotidiano da escola: uma prática sedimentada ..........................................................................................59 A formação do educador ambiental e os novos paradigmas ..................................................65 O educador ambiental e sua formação .......................................................................................................65 A construção de novos paradigmas ............................................................................................................67 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Educação Ambiental e o Projeto Político Pedagógico ...............................................................73 O Projeto Político ......................................................................................................................................73 A Educação Ambiental e o PPP .................................................................................................................74 Os Parâmetros Curriculares Nacionais ......................................................................................................75 A questão interdisciplinar ..........................................................................................................................75 Tecendo a consciência ambiental por meio da educação ...........................................................................77 Questões ambientais, interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transversalidade ..........81 Questões ambientais e a transversalidade ..................................................................................................81 Multidisciplinaridade .................................................................................................................................83 Os temas transversais .................................................................................................................................84 Trabalhando a Educação Ambiental através de projetos .......................................................93 Pedagogia de Projetos ................................................................................................................................93 O que são projetos? ....................................................................................................................................95Etapas na elaboração de um projeto ..........................................................................................................95 Modelo de roteiro para projetos .................................................................................................................97 Referências ...........................................................................................................................103 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Sociedade de consumo e impactos ambientais Vania Alcantara* Os modos de produção dos grupos humanos e a relação com os recursos naturais H á cerca de 2,5 milhões de anos, a espécie humana se integrava com o meio ambiente de forma autossustentável. Na condição de caçadores e coleto-res, os seres humanos primitivos conseguiam a subsistência numa relação equilibrada com o meio ambiente, incondicionalmente integrados como parte dos ecossistemas (SANTOS, 1978). Assim, os recursos naturais eram mantidos quase que intactos sob a óptica da intervenção humana, mas sujeitos às intempéries e aos fenômenos naturais. Até hoje, esse modo de produção sobrevive entre alguns povos. Segundo Haeckel (1989), esse grande leque de grupos humanos costuma ser reunido sob diversas categorias – populações, comunidades, povos, socieda- des, culturas –, denominações que costumam ser acompanhadas dos seguintes adjetivos: tradicionais, autóctones, rurais, locais, residentes (nas áreas protegidas). Os ditos “povos da floresta”, como os quilombolas, indígenas, caiçaras, castanhei- ros e outros, sempre promoveram baixos impactos ambientais na apropriação de recursos naturais necessários à sua sobrevivência. Porém, a sociedade industrial chega ao século XXI e constata, perplexa, o nível de degradação ambiental causa- do ao planeta. São sérios problemas ambientais, provocados principalmente pela forma de produção humana, ou seja, pela maneira com que as sociedades se rela- cionam com os recursos naturais. Na Natureza, existe uma harmonia nas relações entre os seres vivos, entre si e entre os seres vivos e o meio ambiente. É o chamado equilíbrio ecológico. Ao quebrar essa harmo- nia, o homem provoca o que chamamos de impacto ambiental. (ALMEIDA; RIGOLIN, 2003, p. 36) Sendo assim, dizemos que os impactos ambientais são uma espécie de “cho- que” entre o modo de produção humano e os recursos naturais, que rompem o equilíbrio ecológico causando sérios danos ao meio ambiente. Para que possamos compreender a problemática ambiental em toda sua am- plitude, devemos entendê-la como um fenômeno histórico-social, fruto da estru- tura de funcionamento de uma determinada sociedade. O aparecimento do homem e, portanto, da sociedade humana, está diretamente ligado à capacidade que certos seres desenvolveram de produzir a sua própria existência. Esta capacidade supõe uma intermediação entre o homem e a natureza, através das técnicas e dos instrumentos de trabalho inventados para o exercício desse intermédio. (SANTOS, 1978, p. 84) Mestre em Educação pela UCP. Graduada em Geogra- fia pela UFF. Coordenadora de Educação a Distância da Universidade Castelo Branco. 5Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Sociedade de consumo e impactos ambientais 6 Na história da civilização humana, porém, ocorre que o homem realiza trabalho, isto é, cotidianamente cria e reproduz sua existência, e faz isso se apropriando dos recursos naturais. Portanto, diferentemente dos outros animais, “o homem não é apenas um habitante da natureza; ele se apropria e transforma as riquezas da natureza em meios de civilização histórica para a sociedade” (CASSETI, 1995, p. 123). Consequentemente, o homem – visto como um ser dotado da capacidade de produzir sua própria existência – subordinou a Natureza às determinações do desenvolvimento da sociedade. Essa condição de “apropriação” produz uma situ- ação em que ambos, homem e natureza, perdem sua identidade, tornando-se es- tranhos um ao outro, fazendo com que o homem não se veja como parte integrante desta. Tal processo implica uma ação inconsciente do homem na busca permanen- te da transformação dos recursos naturais em bens necessários à sobrevivência e manutenção da existência humana. Conforme Duarte (1986) apud Casseti, no sistema capitalista, “quanto mais o trabalhador se apropria da natureza, mais ela deixa de lhe servir como meio para o seu trabalho e meio para si próprio”. A Revolução Industrial e a sociedade de consumo Destacamos que “todo o desenvolvimento técnico sempre esteve relaciona- do com a evolução da história humana” (SANTOS, 1997, p. 76). As modificações no modo produtivo, decorrentes do avanço tecnológico, ocor- riam e ocorrem até hoje de forma concomitante nas esferas econômica e política. No mesmo momento em que acontecia a Revolução Industrial, as transformações políticas e econômicas na Europa se deram igualmente e de maneira muito rápida. A Revolução Industrial teve início na Inglaterra, na segunda metade do sé- culo XVII, passando por um estágio inicial que propiciou a acumulação de capital, por meio das oficinas artesanais (também chamadas de manufaturas) que eram as responsáveis pela produção da maior parte das mercadorias consumidas na Europa. Esse fator e outros como: a supremacia naval inglesa, a disponibilidade de mão de obra, a disponibilidade de matérias-primas, mercado consumidor interno, entre ou- tras coisas, tornaram a Inglaterra o cenário favorável para o início da Era Industrial. A Era Industrial trouxe em seu bojo novos conceitos e técnicas de produção, como: produção em série, especialização da mão de obra, linha de montagem etc. Essas inovações propiciaram principalmente a produção de “excedentes”, possibi- litando a estruturação do sistema capitalista do século XX e abrindo espaço para um novo mercado de consumo, como nunca antes visto. Na linha de montagem, um produto que inicialmente era produzido por ape- nas um artesão, passa a ser produzido por um conjunto de operários, com a espe- cialização da mão de obra que, embora acelerasse o processo de produção, fazia Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Sociedade de consumo e impactos ambientais 7 com que os operários perdessem a relação do conhecimento de todas as etapas da fabricação. A produção em série causa a produção de excedentes, ou seja, pela primeira vez na história da humanidade, “as indústrias produziam mais do que os consumidores necessitavam” (HOBSBAWM, 1986, p. 57). Esse modelo econômico cria uma nova questão: como escoar o excedente produzido? Tem início aí o estímulo à sociedade de consumo – base do novo siste- ma econômico, o capitalismo – que nasce incentivada a suprir suas necessidades por meio do consumo de bens e serviços. Segundo Portilho (2002), o consumo passa a funcionar “como um miraculoso dispositivo de objetos e sinais para atrair a felicidade, referência absoluta que equivale, talvez, à própria salvação”. Para Baudrillard (1995), o mito da felicidade tornou-se mensurável pelo bem-estar dos objetos, do conforto e dos signos. Ou seja, introjetou-se na cultura da época o pensamento: o homem vale pelo que tem. Ainda sob a óptica desse autor, o consumo funda-se, não apenas em função da satisfação de necessidades individuais e harmoniosas, mas como atividade social, já que as necessidades se organizam segundo uma procura social objetiva por sinais e por diferenciação. Como consequência do modelo econômico adotado a partir da Revolução Industrial, podemos apontar o aumento e a concentração populacional nas cida- des, a degradação ambiental, a miséria e a violência. Segundo Almeida e Rigolin (2003), com a Revolução Industrial e, posteriormente, com a revolução tecnológi- ca, o homem não é mais submisso ao meio natural; ao contrário, exerce sobre ele domínio e exploração para a produçãodo seu bem-estar. Recursos naturais De uma forma bastante simplista e usual, podemos dizer que recursos naturais são matéria e energia que a natureza coloca à nossa disposição e que o homem transforma para seu uso, numa busca in- cessante de mais conforto e qualidade de vida, pois, como o próprio nome já diz, recurso significa alguma coisa a que se possa recorrer para a obtenção de outras coisas. Os recursos naturais são classificados como renováveis ou não renováveis, porém, essa conceituação precisa ser revista. É certo que os recursos naturais, após seu uso, podem ser renováveis, isto é, ficarem novamente disponíveis, ou não renováveis, ou seja, nunca mais ficarem disponíveis. Sendo assim, teoricamente, os vegetais e os animais, de uma forma geral, são exemplos de recursos naturais renováveis, já os minerais, como o minério de ferro ou a bauxita e até mesmo o petróleo, são classificados como recursos naturais não renováveis. Para que os recursos naturais sejam de fato renováveis deve haver vontade política e investimentos. No caso de um rio poluído que corte várias cidades; sem investimentos para a sua recuperação esse recurso natural poderá ficar indisponí- vel para várias gerações das populações dessas cidades ribeirinhas, comprome- tendo o conceito da água como um recurso renovável. Recurso significa alguma coisa a que se possa recorrer para a obtenção de outras coisas Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Sociedade de consumo e impactos ambientais 8 Impactos ambientais A Revolução Industrial e a sociedade de consumo, estimuladas pelo sistema capitalista, vêm promovendo grandes modificações nos ecossistemas do planeta por meio de ações de alto impacto ambiental. Chamamos de impacto ambiental as alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, resultantes das ações antrópicas ou não. Entre as ações mais impactantes destacamos: Poluição É a introdução no meio ambiente de qualquer tipo de matéria ou energia es- tranha a ele, que venha a alterar as propriedades físicas, químicas ou biológicas do ecossistema, podendo afetar a qualidade de vida das espécies de um determinado lugar, ou que venha até mesmo a provocar modificações físico-químicas nos mi- nerais presentes. Desde a Revolução Industrial os impactos ambientais resultantes da poluição são mais frequentes. Citaremos a seguir alguns impactos ambientais que ocorrem em escalas variadas e que são consequências da poluição. Inversão térmica Chamamos de inversão térmica o fenômeno meteorológico que ocorre prin- cipalmente nas metrópoles onde há grande concentração de indústrias e Conse- quentemente grande quantidade de partículas poluentes em suspensão no ar. A inversão térmica ocorre quando uma camada de ar frio se sobrepõe a uma camada de ar quente, impedindo o movimento ascendente do ar e fazendo com que os poluentes se mantenham próximos à superfície. As inversões térmi- cas são fenômenos meteorológicos que ocorrem durante todo o ano, sendo que, no inverno, elas são mais baixas, principalmente no período noturno. Sua área de abrangência é local. Em um ambiente com um grande número de indústrias e de circulação de veículos, como o das cidades, a inversão térmica pode levar a altas concentrações de poluentes, podendo ocasionar sérios problemas respiratórios, atingindo princi- palmente idosos e crianças. Observe o esquema a seguir: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Sociedade de consumo e impactos ambientais 9 Inversão térmica. O fenômeno da inversão térmica vem se tornando um grave problema de saúde pública nos grandes centros urbanos. Chuvas ácidas A combinação dos poluentes em suspensão na atmosfera, principalmente do dióxido de enxofre e de nitrogênio, ao entrar em contato com o nitrogênio presente na atmosfera, acumula-se até atingir o ponto de saturação. Após atingir esse ponto, essas substâncias se precipitam sob a forma de chuvas ácidas. Ao caírem na crosta terrestre carregam uma boa parte dos poluentes que estavam em suspensão. As águas das chuvas, assim como o orvalho, a geada, a neve, e até mesmo a neblina, ficam carregadas de ácido sulfúrico ou ácido nítrico. Ao se precipitarem sobre a superfície, alteram a composição química do solo e das águas, destruindo florestas e lavouras, atacando até mesmo estruturas metálicas como monumentos e edificações. Chuvas ácidas. Efeito estufa Chamamos de efeito estufa o fenômeno de aquecimento do globo terrestre causado por alto grau de poluição atmosférica. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Sociedade de consumo e impactos ambientais 10 Os gases causadores desse efeito impedem a dispersão dos raios solares. Os principais são os dióxidos de carbono, o metano, o óxido nitroso e compostos de clo- rofluorcarbono. A maioria deles é proveniente da queima de combustíveis fósseis. Nos últimos anos, o aumento da industrialização e da população mundial e, consequentemente, o aumento da poluição e a emissão desses gases vêm sen- do apontados como as principais causas desse fenômeno. Outro fator agravante apontado pelos cientistas é o desmatamento de florestas, principalmente quando causado por queimadas. Segundo as estimativas do Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas, a temperatura média global subiu 0,6°C no século XX e esse aumento pode elevar-se em mais 1°C até 2030. Chamo a atenção para o seguinte ponto: na realidade, o efeito estufa já exis- te na Natureza e sem ele o Sol não conseguiria aquecer a Terra o suficiente para que ela fosse habitável. Portanto, o efeito estufa não é maléfico à Natureza. O que é altamente prejudicial ao planeta é a sua intensificação. As principais consequências do aquecimento global do planeta Terra podem ser: derretimento das calotas polares, causando o aumento do nível dos mares e oceanos; a perda da biodiversidade; o aumento da incidência de doenças transmissíveis por mosquitos e ou- tros vetores e a intensificação de fenômenos tais como: secas, inunda- ções, furacões, tempestades tropicais, desertificação, aumento da fome gerado pela perda de áreas agricultáveis; o aumento do fluxo migratório em várias regiões do planeta, problemas com o abastecimento de água doce, entre outros. Parte da energia irradiada volta ao espaço Parte da energia é absorvida Energia radiada Atmosfera Efeito estufa. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Sociedade de consumo e impactos ambientais 11 Impactos ambientais da guerra se multiplicam (GODOY, 2003) A fumaça preta da queima de poços de petróleo e trincheiras em volta de Bagdá e dos incên- dios decorrentes de bombardeios é apenas a face mais visível dos impactos ambientais da guerra no Iraque. Uma extensa gama de consequências, bem menos aparentes, já se espalha pelo solo, água e atmosfera, afetando tanto as pessoas, civis ou militares, quanto os animais, plantas e o fun- cionamento dos ecossistemas. Mesmo que o conflito armado dure pouco tempo, vença quem ven- cer, alguns destes impactos persistirão durante muitos anos e o meio ambiente sairá perdedor. Na baixa atmosfera, a poluição gerada pela queima do petróleo – nos poços ou trincheiras – é altamente tóxica. Contém hidrocarbonetos, furanos, mercúrio, dioxinas e dióxido de enxofre, este mais conhecido como o principal gás da chuva ácida. Os incêndios também emitem os chamados gases do efeito estufa, sobretudo monóxido e dióxido de carbono e óxidos de nitrogênio, que cau- sam danos na alta atmosfera, aumentando a contribuição da região para as mudanças climáticas. Antes da invasão anglo-americana, o Iraque já era o país mais intensivo do Oriente Médio em emissões de carbono por PIB, de acordo com estimativas publicadas pelo World Resources Institute (WRI). Em 1999, emitia 2820 toneladas de CO2 por milhão de dólares do PIB, enquanto o Irã e a Arábia Saudita – emissores mais importantes, em termos absolutos – respondiam por 780 e 1 030 toneladas de CO2/US$ milhão, no mesmo ano. Agora, soma-se também o carbono resultante da queima improdutiva do petróleo. Por enquanto, os incêndios estão restritos a algo entre sete e treze poços já incendiados (o núme- ro varia conforme a fonte de informação). Mas o impacto potencial de novas sabotagens é imenso, sejam quais forem os autores. O Iraque tem 2 mil poços de petróleo em operação e a segunda maior reserva de petróleo do mundo, estimada em 15 bilhões de toneladas ou 112 bilhões de barris, o equi- valente a 11% das reservas totais mundiais (há quem diga que podem ser 300 bilhões de barris). É um poder destrutivo bem maior do que os 750 poços sabotados por Saddam Hussein, em 1991, quando ele retirou suas tropas do Kuwait. Os poços kuwaitianos queimaram cerca de 3 mi- lhões de barris de petróleo por dia – equivalentes a 10% do consumo mundial de petróleo na época – e a maioria ardeu durante 250 dias. Alguns poços continuaram queimando por mais de um ano! O combate aos incêndios mobilizou 10 mil homens de 37 países, obrigados a construir 450km de aquedutos e 361 lagoas (de cerca de 4 milhões de litros cada) para acabar com o fogo. E isso, numa região onde a água é escassa e disputada pela população. As estimativas totais de emissões relacionadas aos incêndios dos poços kuwaitianos chega- ram a meio bilhão de toneladas de carbono, correspondente ao total emitido, em 1991, pelo conjun- to de todos os países do mundo, exceto os oito maiores emissores, ainda de acordo com o WRI. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Sociedade de consumo e impactos ambientais 12 1. Discuta em grupo e liste exemplos concretos de situações de rompimento do equilíbrio ecológico. 2. Justifique o agravamento dos problemas ambientais ao longo da história. 3. Relacione industrialização e impacto ambiental – consequências no nível global. 4. Correlacione: sociedade de consumo X capitalismo. 5. Cite os principais efeitos negativos para o meio ambiente originados pela poluição. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Sociedade de consumo e impactos ambientais 13 Sugiro o filme O Dia Depois de Amanhã (The Day After Tomorrow), com direção de Roland Emmerich (Fox Films, EUA, 2004). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Sociedade de consumo e impactos ambientais 14 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Recursos naturais e a cultura do desperdício N o nosso dia a dia, não nos damos conta da importância dos recursos naturais na vida do plane-ta. Sequer nos damos conta – principalmente no Brasil, onde na maior parte de seu território os recursos naturais são abundantes – que milhões de pessoas no mundo e até mesmo no Brasil têm acesso muito restrito a recursos vitais como a água. Neste capítulo, buscaremos refletir sobre os recursos naturais e a cultura do desperdício. Água doce – uma ameaça à soberania das nações A poluição do meio ambiente – em especial a das águas – é um dos impactos ambientais mais prejudiciais à saúde dos seres vivos. Os principais fatores que desencadeiam isso são: o crescimento populacional mundial; o processo de urbanização como consequência da Revolução Industrial; e a falta de preocupação com o uso inteligente dos recursos naturais. Nas suas mais variadas formas e abrangências, a poluição das águas constitui um verdadeiro desafio para os governos do mundo todo. Embora o planeta Terra tenha sua superfície coberta de água em sua maior parte (75%), apenas uma pequena parte dessa água – da ordem de 113 trilhões de m3 – está à disposição da vida na Terra. É sabido que apenas cerca de 3% da água do globo terrestre é doce, sendo que apenas 0,08% está em regiões acessíveis ao ser humano. Sendo assim, a Terra corre o risco de não mais dispor de água lim- pa, o que em última análise significa comprometer todo tipo de vida do planeta. Recentemente, um estudo da renomada revista internacional Science (julho de 2000) mostrou que aproximadamente 2 bilhões de habitantes do planeta enfrentam a falta de água. Em breve, poderá faltar água para irri- gação em diversos países, principalmente nos mais pobres. As regiões do mundo mais atingidas pela falta de água são a África, a Ásia Central e o Oriente Médio. É curioso observar que, entre os anos de 1990 e 1995, a necessidade por água doce aumentou cerca de duas vezes mais que a população mundial. Esse fato é consequência do alto consumo de água em atividades industriais e zonas agrícolas. Conclui-se que essa inversão é provocada pelo aumento do consumo devido à intensificação da produção industrial e agrícola. Segundo Vesentini (2003), em 2050 a escassez de água afetará até 75% da população mundial, ou seja, cerca de 7 bilhões de pessoas. Para este e outros autores, não é de hoje que se especula que a produção de alimentos não acompanhará o crescimento demográfico. Nas projeções mais pessimis- tas, presume-se que a disputa pelo controle dos mananciais poderá estimular até ações terroristas nas mais variadas partes do planeta. O grande desafio que se impõe para a humanidade neste milênio é o de evitar a falta de água 15Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Recursos naturais e a cultura do desperdício 16 Essas previsões – tidas por muitos como pessimistas ou até “apocalípticas” – servem de alerta para a seriedade do problema de escassez de recursos hídricos e sobre como esta questão deveria ser tratada pelos organismos internacionais. Mesmo os pesquisadores mais otimistas reconhecem que a exploração excessiva das reservas de água doce terá consequências graves nos próximos anos, provo- cando até mesmo tensões entre países. No 1.º Fórum Alternativo Mundial da Água, realizado em Florença (Itália) em março de 2003, um dos pontos discutidos abordava a relação entre controle dos recursos hídricos e soberania nacional. No evento, o economista e professor da Universidade Católica de Lovanio (Bélgica), Riccardo Petrella, destacou a in- sistência das grandes potências econômicas em inserir cláusulas sobre o uso de recursos hídricos em tratados comerciais internacionais. Chamou a atenção para regiões que já apresentam uma situação política e econômica conturbada, como é o caso do Oriente Médio, onde o acesso à água já é limitado para grande parcela da população, seja por questões políticas, religiosas ou econômicas. Sabe-se que esta parte do mundo dispõe de apenas 1% da água doce do planeta, mas concentra 5% da população mundial. Tanto no encontro de Kyoto como no de Florença foi debatido sobre a crescente pressão dos organismos internacionais em favor da privatização dos serviços de abas- tecimento de água. Em paralelo, surgiram vozes denunciando a exploração excessiva dos depósitos superficiais de água doce e dos aquíferos – águas subterrâneas. Cultura do desperdício O estilo de desenvolvimento econômico atual é um convite ao desperdício (SANTOS, 1998), devido ao incentivo ao consumo – base do modelo econômico capitalista, automóveis, eletrodomésticos, roupas e demais utilidades são plane- jados para durar pouco. O apelo ao consumo multiplica a extração de recursos naturais: embalagens sofisticadas e produtos descartáveis (não recicláveis e nem biodegradáveis) aumentam a quantidade de lixo no meio ambiente. Ainda segundo Milton Santos, no Brasil essa situação se agrava ainda mais por se tratar de um extenso território e rico em biodiversidade. Devido à fartura de recursos naturais, a preocupação com o uso adequado destes foi muito pouco trabalhada ao longo do tempo. Nos países periféricos, o ritmodo crescimento demográfico e da urbaniza- ção não é acompanhado pela expansão da infraestrutura, principalmente da rede de saneamento básico. Uma boa parcela dos dejetos humanos e do lixo urbano e industrial ainda é lançada sem tratamento na atmosfera, nas águas e no solo. A necessidade de aumentar as exportações para sustentar o desenvolvimen- to interno estimula a extração dos recursos minerais, agravando ainda mais esse quadro. Esse modelo traz consequências desastrosas para o solo devido à expan- são da agricultura sobre novas áreas, fazendo crescer o desmatamento e a supe- rexploração da terra. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Recursos naturais e a cultura do desperdício 17 Pergunta-se: de que forma o Brasil pode ser afetado com a cultura do des- perdício? Passaremos dificuldades com a escassez de água, sendo detentores de cerca de 11,6% dos 3% da água doce disponível no planeta? A dimensão continental do nosso país, aliada à visão de abundância, de- senvolveu uma “cultura” de inesgotabilidade desse recurso, isto é, um consumo distante dos princípios de sustentabilidade1 e sem preocupação com a escassez por grande parte da população. A elevada taxa de desperdício de água no Brasil, cerca de 70%, comprova o descaso com essa questão que poderá colocar em xeque a soberania de vários países do planeta. Nesse ponto, chamo a atenção para o Encontro de Kyoto e para o Fórum de Florença. Em ambos foram realizados debates acalorados sobre a crescente pressão dos organismos internacionais em favor da privatização dos serviços de abasteci- mento de água. Contra isso, levantaram-se vozes que denunciaram a exploração excessiva dos depósitos superficiais de água doce e dos aquíferos, ou seja, das águas subterrâneas. As atenções dos representantes dos diversos países presentes se voltaram para o Aquífero Guarani, a maior reserva de água doce do planeta. O Aquífero Guarani é o maior manancial de água doce subterrânea trans- fronteiriço do mundo. Observe: Localização do Aquífero Guarani. O Aquífero Guarani está localizado na região centro-leste da América do Sul, entre 12º e 35º de latitude sul e 47º e 65º de longitude oeste. Ele ocupa uma área de 1,2 milhões de km2, estendendo-se pelo Brasil, Paraguai, Uruguai e Ar- gentina. Sua maior ocorrência se dá em território brasileiro. Ele ocupa dois terços da área total e abrange os estados de Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nesse cenário, o Brasil torna-se um alvo vulnerável frente às grandes potên- cias que não dispõe deste recurso em abundância e que poderão vir a sofrer com a escassez. 1 O conceito de sustentabi-lidade envolve as seguin- tes dimensões: sustentabi- lidade social – ancorada no princípio da equidade na dis- tribuição de renda e de bens, no princípio da igualdade de direitos, na dignidade hu- mana e no princípio de soli- dariedade dos laços sociais; sustentabilidade ecológica – ancorada no princípio da solidariedade com o planeta e suas riquezas e com a biosfe- ra que o envolve; sustentabi- lidade econômica – avaliada a partir da sustentabilidade social propiciada pela orga- nização da vida material; sustentabilidade espacial – norteada pelo alcance de uma equanimidade nas relações inter-regionais e na distri- buição populacional entre o rural e o urbano; sustentabi- lidade político-institucional – que representa um pré- -requisito para a continuida- de de qualquer curso de ação a longo prazo; sustentabilida- de cultural – modulada pelo respeito à afirmação do local, do regional e do nacional, no contexto da padronização imposta pela globalização. (BEZERRA; BURSZTYN, 2000). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Recursos naturais e a cultura do desperdício 18 Educação Ambiental, conscientização e cidadania E qual o papel dos especialistas em Educação Ambiental diante desses fa- tos? Conclui-se que, para manter não só a qualidade de vida, mas a continuidade da vida no planeta, as sociedades humanas devem mudar radicalmente sua postu- ra e suas ações em relação à natureza. A criação de novos paradigmas de consumo e da relação homem-meio só será possível através de uma conscientização coletiva sobre a esgotabilidade dos recursos naturais. Sendo assim, a Educação Ambiental torna-se uma ferramenta eficaz para a modificação de comportamentos e a criação de novos paradigmas de consumo e preservação ambiental. Para Jacobi (1999), a relação entre meio ambiente e educação para a cida- dania assume um papel cada vez mais desafiador, demandando a emergência de novos saberes para apreender processos sociais que se tornam cada vez mais com- plexos e riscos ambientais que se intensificam. Para esse autor, as políticas ambientais, e os programas educacionais relacio- nados à conscientização sobre a crise ambiental, demandam cada vez mais novos enfoques integradores de uma realidade contraditória e geradora de desigualda- des, que transcendem a mera aplicação dos conhecimentos científicos e tecnológi- cos disponíveis. O desafio que se coloca é formular uma Educação Ambiental que seja crítica e inovadora, em dois níveis – formal e não formal. Assim, a Educação Ambiental deve ser acima de tudo um ato político voltado para a transformação social. O seu enfoque deve buscar uma perspectiva de ação holística que relaciona o homem, a natureza e o universo, tomando como referência que os recursos natu- rais se esgotam e que o principal responsável por esta degradação é o homem. Ainda para Jacobi, quando nos referimos à Educação Ambiental, a situamos num contexto mais amplo, o da educação para a cidadania, configurando-se como ele- mento determinante para consolidar o conceito de sujeito cidadão. O desafio de for- talecer a cidadania para a população como um todo, e não para um grupo restrito, se concretiza a partir da possibilidade de cada pessoa ser portadora de direitos e deveres, e se converter, portanto, em ator corresponsável pela defesa da qualidade de vida. Sociobiodiversidade – o dia em que a Ciência levar a sério o que o povo sabe de plantas (ELIZABETSKY, 2005) Primeiro Mundo e Terceiro Mundo não são expressões simpáticas pela própria natureza. Mesmo assim, é bom lembrar que uma parte do planeta recebeu, milhões de anos atrás, um pre- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Recursos naturais e a cultura do desperdício 19 sente da natureza que hoje, mais do que nunca, precisa levar a sério. Tudo começou quando o im- pacto da última era glacial no Hemisfério Norte teve como consequência uma maior concentração da diversidade genética no que hoje se convenciona chamar de Terceiro Mundo. Isso significa que dos milhões de espécies que existem na Terra, cada uma contendo milhares de genes, a maioria se encontra, digamos assim, do nosso lado. Há até quem divida o mundo em “nações pobres, mas ricas em genes”. O Brasil seria, nessa visão, um país extremamente rico. Muito se tem falado na riqueza da biodiversidade brasileira – cerca de 20% de todo o pla- neta! –, mas eu gostaria de chamar a atenção para um dado igualmente animador: o Brasil não é apenas rico em diversidade genética, é também um país rico em culturas, em comunidades que, para sobreviver, tiveram de aprender a lidar bem com os recursos naturais do seu meio ambiente. E que, ao fazer isso, desenvolveram inteligentes estratégias de manejo desses recursos naturais, conhecendo-os tanto nos seus detalhes como no todo de suas inter-relações. É essa chamada so- ciobiodiversidade que pode colocar o país em boa posição na economia global, pois hoje o grande propulsor do desenvolvimento industrial é a capacidade de gerar, acessar e rapidamente organizar novos conhecimentos, convertendo-os em processos e produtos de qualidade. Assim, o conheci- mento das propriedadesde recursos genéticos por parte das nossas comunidades tradicionais é uma base valiosa para esse desenvolvimento. Desde criança, a gente aprende que há ervas de grande valor medicinal, já que nove entre dez brasileiros consomem alguma planta em forma de chá, pílula ou creme. O que pouca gente sabe é que 25% de todas as drogas alopáticas, ou seja, de tudo que é comprado em farmácias de Londres, São Paulo, Paris e Nova York, incluem algum tipo de produto natural. Um mercado e tanto. Con- siderando apenas os 25 itens farmacêuticos de maior venda em 1977, o valor dos produtos naturais ou derivados foi, por exemplo, de 17,5 bilhões de dólares. A essa cifra pode-se somar o mercado de fitoterápicos estimado em 22 bilhões de dólares. E mais: o potencial da biodiversidade inclui, além de remédios, toda uma gama de produtos como substâncias anticongelamento, superfícies autolimpantes, detectores de fogo, repelentes, fibras de alta tensão, fibras ópticas, enzimas indus- triais (polpa de papel, têxteis), cerâmicas, cristais, pigmentos, combustíveis... E sabe-se lá o que a chamada bioprospecção vai descobrir. O papel da bioprospecção é identificar, a partir da biodiversidade, novos recursos genéticos de valor econômico ou social. A bioprospecção envolve setores tão variados como o farmacêuti- co, o agrícola, o alimentar, mais as indústrias de cosméticos, manufaturados, construção civil e monitoração ambiental. São mercados respeitáveis. Só o setor de nutracêuticos, ingredientes ou produtos comestíveis com alegados benefícios à saúde, foi estimado em 16,7 bilhões de dólares em 1996. A indústria de cosméticos e higiene pessoal envolve uma série enorme de elementos naturais presentes em produtos de maquiagem, higiene feminina, desodorantes, xampus, cuidados com bebês, unhas e pele, de higiene oral e fragrâncias. Das plantas provêm os óleos, as saponinas, os antioxidantes, as soluções aromáticas... Uma profusão fantástica. Em 1997, o valor de produtos naturais ligados ao mercado de cos- méticos nos Estados Unidos foi estimado em 2,8 bilhões de dólares. Nesse cenário, não é difícil entender o súbito interesse por produtos brasileiros: a Associação Brasileira de Produtores de Cos- méticos (Abihpec) estima em 26,9 milhões de dólares o volume de negócios de empresas brasilei- ras nos próximos 12 meses. O próprio valor da venda do conceito Amazônia, sempre tão associado aos mistérios e à sabedoria de seus povos, não pode ser subestimado. Recentemente, a empresa de cosméticos Shizedo requereu a patente de nada menos que 19 espécies vegetais brasileiras... Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Recursos naturais e a cultura do desperdício 20 Tudo indica que a sociobiodiversidade é um grande bem do Brasil e tem um longo e promis- sor caminho pela frente. A história mostra que menos que 1% das espécies do planeta têm provido a humanidade dos recursos básicos ao seu desenvolvimento. Isso significa que a aplicação de no- vas tecnologias na exploração da imensa maioria das espécies ainda não conhecidas deverá trazer mais benefícios ao planeta. Para o Brasil, significa que investimentos em bioprospecção poderão contribuir grandemente para o manejo sustentável dos nossos recursos naturais, para o desen- volvimento econômico e a redução da pobreza. Isso exige preservação ambiental e um corajoso investimento em ciência e tecnologia. Exige também que se valorize e respeite verdadeiramente o conhecimento de comunidades tradicionais, como índios, caboclos, caiçaras, seringueiros. Essa milenar sabedoria no trato com a natureza pode se constituir num valioso atalho para o desenvolvimento de novos produtos, incluindo os fármacos. Sabe-se que 74% das drogas de origem vegetal usadas na medicina mo- derna tinham o mesmo uso nas mãos de xamãs e raizeiros. No mundo todo, o índice de acertos em programas de investigação de novos fármacos a partir de plantas é significativamente maior quando se parte da tradicional sabedoria popular a respeito desses recursos. Talvez por olharmos a sociobiodiversidade como coisa de caipiras ou românticos é que, hoje, apenas 0,48% das paten- tes internacionais associadas a 1 119 espécies de plantas brasileiras tenham sido registradas por empresas... brasileiras. Não é justo. O Brasil tem suas diversidades preciosas: a bio, propiciada pela natureza, e a sócio, há séculos gestada pela história de seu povo. O que está faltando? Ciência, tecnologia e capacidade de empreender. E você? Será que se preocupa com a questão do meio ambiente? Responda às perguntas, some seus pontos e confira como está sua consciência ambiental. Ecoteste Nunca = 1 Às vezes = 2 Sempre = 3 Joga tickets de compra da padaria, farmácia, supermercado etc. em qualquer lugar? Joga papéis de bala, doce e chiclete na rua sem perceber? Atira papéis, latas de refrigerante ou copos descartáveis pela janela do carro ou do ônibus? Ao sair da sala de aula ou de um restaurante, o espaço à sua volta está mais sujo do que quando entrou? Deixa o lixo jogado em qualquer lugar, por falta de tempo para depositá-lo em local correto? Se encontrar lixo no chão, você o recolhe? Fica irritado(a) quando vê lixo jogado no chão? Está disposto(a) a fazer parte de uma campanha como voluntário(a) para reciclar lixo? Ao sair da sala de aula tem o hábito de apagar as luzes e desligar os ventiladores? TOTAL (O s C am in ho s d a Te rr a. A da pt ad o. ) Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Recursos naturais e a cultura do desperdício 21 27 a 24 pontos – Parabéns! Você pode se considerar “Protetor(a) da Natureza”! 23 a 21 pontos – Você está no caminho certo. Preocupa-se com a questão ambiental. 20 a 17 pontos – Que tal pensar em ampliar sua consciência ecológica? 16 ou menos – O que você acha de começar a se preocupar com a conservação do meio ambiente? Visite o site: <www.comciencia.com.br/comciencia>. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Recursos naturais e a cultura do desperdício 22 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Evolução do pensamento ambiental A crise ambiental é a primeira crise do mundo real produzida pelo desconhecimento do conhecimento; da concepção do mundo e do domínio da natureza [...]. Os problemas ambientais são fundamentalmente problemas de conhecimento [...]. A crise ambiental constitui um chamado à reconstrução social do mundo: apreender a complexidade ambiental. Enrique Leff A crise ambiental vivenciada hoje e expressa no pensamento de Leff, através do desconheci-mento a respeito do meio ambiente, relaciona-se ao fato de que a preocupação com o meio ambiente é uma questão muito recente na história da humanidade. Em que pese que os filósofos gregos já percebessem o ambiente como uma inter-relação entre os seres vivos e o meio físico, e que essa percepção tenha sido objeto de estudo de vários textos hindus, hebraicos e mulçumanos, considera-se que uma das primeiras obras escritas, que revela essa preocu- pação, seja do século passado. Ela data de 1968, no livro intitulado: Os Limites do Crescimento Eco- nômico, de Dennis L. Meadows, publicado pelo Clube de Roma. Na referida obra, o autor evidencia a preocupação com o crescimento econômico pela limitação do uso dos recursos naturais. Mais recente ainda é o locus acadêmico sobre o tema. Para Carvalho (2001), existe um corte geracional de ambientalistas, a saber: a primeira geração é composta pelos fundadores, hoje com mais de 55 anos de idade, ligados à esfera pública; a segunda geração, composta por ambientalistas, hoje com mais de 35 anos de idade, con- siderados educadores ambientais e os responsáveis pelo início do locus acadêmico sobre o tema; e a terceira geração, composta por ambientalistas, com menos de 35 anos, que já se beneficiamdas pesquisas acadêmicas. As correntes do pensamento ambiental O pensamento conservacionista Para entendermos a evolução do pensamento ambiental, precisamos retornar às suas origens. Podemos dizer que a preocupação ecológica nasce ligada à área das Ciências Naturais e que o locus acadêmico deu origem a uma nova área do conhecimento – a Ecologia. 23Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Evolução do pensamento ambiental 24 Tendo em vista que a preocupação ambiental inicialmente se reporta a uma apreensão com os efeitos nocivos ao meio ambiente mais evidentes a partir da Re- volução Industrial, o pensamento conservacionista foi a tônica da Ecologia. Para Pádua (1998), essas áreas – cuja existência distinta nem sempre é percebida com suficiente clareza – foram surgindo de maneira informal à medida que a reflexão ecológica se desenvolvia historicamente, expandindo seu campo de alcance. Segundo esse autor, a Ecologia Natural – que foi a primeira a surgir – é a área do pensamento ecológico que se dedica a estudar o funcionamento dos sis- temas naturais (florestas, oceanos etc.), procurando entender as leis que regem a dinâmica de vida da natureza. Para estudar essa dinâmica, a Ecologia Natural, apesar de estar ligada principalmente ao campo da Biologia, se vale de elementos de várias outras ciências naturais, como a Química, a Física, a Geologia etc. O pensamento ecológico conservacionista, ainda muito presente nos dias atuais, influenciou sobremaneira as primeiras gerações de ambientalistas. Esse período é marcado pela criação de “Unidades de Conservação Ambiental”. A cria- ção do Parque Nacional de Yellowstone, em 1872, nos Estados Unidos, tornou-se um ícone desta época e mostra como esse pensamento se alastrou pelo mundo de- vido a esse modelo. Em seguida, foram criados os parques de Yosemite, General Grant, Sequoia e, finalmente, o de Mount Ranier, em 1899. Outros países segui- ram o exemplo norte-americano, tais como o Canadá – que criou seus parques a partir de 1885 –, a Nova Zelândia, a partir de 1894, a Austrália, a África do Sul e o México, a partir de 1898, a Argentina a partir de 1903, o Chile, a partir de 1926, o Equador, a partir de 1936. No Brasil, a primeira iniciativa para a criação de uma área protegida ocorreu em 1876, como sugestão do engenheiro André Rebouças (inspirado na fundação do Parque de Yellowstone) de se criar dois parques nacio- nais: um em Sete Quedas e outro na Ilha do Bananal. No entanto, data de 1937 a criação do primeiro parque nacional brasileiro: o Parque Nacional de Itatiaia. É importante destacar que o pensamento conservacionista, por ter se origina- do nos efeitos da ação do homem sobre o meio ambiente, aborda com ênfase a ques- tão econômica e reflete as questões capitalistas nas suas formas de reprodução. O pensamento crítico emancipatório Para Lago e Pádua (1998) existem no quadro do atual pensamento ecoló- gico pelo menos quatro grandes áreas: Ecologia Natural, Ecologia Social, Con- servacionismo e Ecologismo. Isso se deve à mudança de paradigmas sociais que vêm tomando corpo nas últimas duas décadas, fazendo com que o pensamento ambiental se aproxime das Ciências Sociais, pois os recursos naturais passaram a ser vistos como finitos, o que exige que se pense numa nova forma na relação produção–consumo. A visão do pensamento crítico emancipatório privilegia a complexidade, o holismo, o sistêmico, o socioambientalismo. Trata-se de uma visão multidiscipli- nar que busca não descontextualizar o homem do meio. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Evolução do pensamento ambiental 25 Para Enrique Leff, um dos maiores representantes dessa corrente de pensa- mento, “a crise ambiental não é crise ecológica, mas crise da razão” (2001, p. 217). Para esse autor, [...] um dos focos privilegiados da crítica ao modelo de desenvolvimento ilimitado a partir de uma base de recursos finita. Essa contradição básica tem sido analisada de diversas perspectivas, todas elas evidenciando a insustentabilidade da proposta a longo prazo. A disponibilidade limitada de matérias-primas, a velocidade de reprodução dos recursos renováveis e a capacidade de absorver os detritos do sistema industrial são insuficientes para acompanhar o ritmo de crescimento acelerado, por um longo tempo. Mais cedo ou mais tarde, tal situação conduziria a um colapso ecológico. Sendo assim, concluímos que a Ecologia Social nasce a partir do momento em que a reflexão ecológica privilegia os múltiplos aspectos da relação entre os homens e o meio ambiente, especialmente a maneira pela qual a ação humana costuma impactar de forma destrutiva a natureza. Essa área do pensamento ecoló- gico, portanto, se aproxima intimamente do campo das ciências sociais e humanas e defende a questão da limitação dos recursos naturais. Lago e Pádua consideram que a terceira grande área do pensamento ecoló- gico – o Conservacionismo – nasceu justamente da percepção da destrutividade ambiental da ação humana. Trata-se de uma área do conhecimento de cunho mais prático e engloba o conjunto das ideias e estratégias de ação voltadas para a luta em favor da conservação da natureza e da preservação dos recursos natu- rais. Para os autores, esse tipo de preocupação deu origem aos inúmeros grupos e entidades que formam o amplo movimento existente hoje em dia em defesa do ambiente natural. Por fim, consideram também outro fenômeno ainda recente, mas cada vez mais importante, do surgimento de uma nova área do pensamento ecológico, denominado Ecologismo, que vem se constituindo como um projeto político de transformação social, calcado em princípios ecológicos e no ideal de uma socie- dade não opressiva e comunitária. A base de pensamento do Ecologismo é de que a resolução da atual crise ecológica não poderá ser concretizada apenas com medidas parciais de conserva- ção ambiental, mas sim através de uma ampla mudança na economia, na cultura e na própria maneira de os homens se relacionarem entre si e com a natureza. Essas ideias têm sido defendidas em alguns países pelos chamados “parti- dos verdes” cujo crescimento eleitoral, especialmente na Alemanha e França, tem sido notável. Consideram ainda que dificilmente uma outra palavra teria expansão tão grande no seu uso social quanto a palavra ecologia. Em pouco mais de um século ela saiu do campo restrito da Biologia, penetrou no espaço das ciências sociais, passou a denominar um amplo movimento social organizado em torno da questão da proteção ambiental e chegou, por fim, a ser usada para designar toda uma nova corrente política. Para sintetizarmos a evolução do pensamento ambiental, vejamos o quadro a seguir: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Evolução do pensamento ambiental 26 Ano Eventos 1968 Publicação do livro: Os Limites do Crescimento Econômico, de Dennis L. Meadows. 1971 Fórum Econômico Mundial, Davos – Suíça. 1971 Manifesto para a Sobrevivência, publicado pela revista The Ecologist. 1972 Conferência de Estocolmo (Suécia). 1977 Conferência de Tbilisi, na Geórgia. 1978 O Partido Verde nasce na Alemanha. 1979 O Partido Verde obtém seu primeiro mandato na Suíça, com a eleição de Daniel Brelós para o parlamento nacional. 1985 Fundação na cidade do Rio de Janeiro do Partido Verde do Brasil. 1987 Publicação do Relatório de Brundtland, chamado Nosso Futuro Comum, pela comissão Mundial sobre Meio Ambiente da ONU (estabelecido o conceito de desenvolvimento sustentável). 1992 ECO-92. 1997 Protocolo de Kyoto – Japão. 2002 Rio+10 – Conferência Mundial realizada em Johannesburgo, África do Sul. 2004 IV Fórum Social Global – Porto Alegre. 2005 V Fórum Social Global – Porto Alegre. Conclui-se então que o pensamento ambiental é recente e seu forte teor conservador explica-se pela proximidade do locus acadêmico fundamentadonas Ciências Naturais. O planeta precisa de uma poderosa ONU ambiental (TRITTIN, 2005) Desde o início de 1970, assuntos relacionados ao meio ambiente vêm, cada vez mais, fazen- do parte da política global. A instituição que gera um alerta para estas questões é o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Apesar do caráter global que apresentam os problemas ambientais, a fundação de uma agência da ONU foi o máximo que se pôde estabelecer Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Evolução do pensamento ambiental 27 em 1972. Desde então, os problemas globais do meio ambiente se multiplicaram, e mesmo que inúmeros acordos internacionais em prol dele tenham sido formulados e ratificados, ainda há um enorme déficit na implementação das políticas ambientais globais. Todos os esforços feitos até agora têm sido ineficientes para evitar que o nosso planeta chegue cada vez mais perto de um colapso ecológico: a superexploração dos recursos naturais continua em curso, a alarmante velocidade da extinção das espécies e a destruição das florestas tropicais persistem e, assim, estamos diminuindo as chances de desenvolvimento das nossas atuais e futu- ras gerações. Mais de 1,2 bilhão de pessoas vivem com menos de um dólar por dia. 2,6 bilhões de pessoas não têm acesso ao saneamento básico. 2 bilhões de pessoas não têm acesso à energia. A resultante disso, para nós, é que a proteção global do meio ambiente e o bem-estar de bilhões de pessoas devem ser colocados no centro das políticas internacionais. Um meio ambiente intacto é um prerrequisito vital para a sobrevivência da humanidade e, consequentemente, uma questão de segurança internacional; visto dessa forma, é tão importante quanto a luta contra o terrorismo. Na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO 92), assim como, mais recentemente, na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+10), realizada em Johannesburgo em 2002, todos os países estipularam medidas concretas. Decidiram implementar metas ambiciosas, particularmente em áreas como as da diminuição da pobreza, do fornecimento de energia, de água e do saneamento básico, da diversidade bioló- gica, do reflorestamento, da poluição marinha, da reformulação da economia de consumo e da segurança química. Um dos resultados mais importantes da Conferência de Johannesburgo foi a decisão de aumentar significantemente a parcela de energia renovável em dimensão global. [...] O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, afirmou por ocasião da apresentação de seu re- latório para reformar o sistema das Nações Unidas que metas e alvos acordados multilateralmente podem ser alcançados; mas somente se os países-membros da ONU quiserem aprovar um pacote de medidas concretas e focadas nesses objetivos. Atualmente, no momento em que nos aproximamos da tomada de decisão da reforma das Nações Unidas, nós recebemos muito bem o que Kofi Annan defendeu, entre outras coisas, uma “estrutura mais integrada” de proteção ao meio ambiente nas Nações Unidas. Após 33 anos do estabelecimento do Pnuma, é evidente que as estruturas institucionais da ONU, no campo das políticas ambientais, não venceram os desafios crescentes. Isto compromete a credibilidade da política ambiental internacional como um todo. As altas demandas da Declaração dos Objetivos do Milênio e da Conferência de Johannes- burgo somente podem ser alcançadas se a proteção ambiental global for colocada nas mãos de uma organização internacional com uma estrutura comparada à de organizações existentes em outras áreas mais políticas. Nesse sentido, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambien- te está no mesmo nível que as outras organizações internacionais – deixando do lado de fora a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Banco Mundial ou o FMI. A arquitetura da gover- nança ambiental internacional deve ser adaptada aos desafios do século XXI. Não é aceitável que a instituição que cuida da sobrevivência de nosso planeta receba pouca atenção junto às Nações Unidas. As tarefas são tão desafiadoras que necessitam de mais autoridade, especialmente numa óptica institucional [...]. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Evolução do pensamento ambiental 28 1. Quais as principais linhas do pensamento ambiental? 2. Diferencie a linha de pensamento conservacionista da linha crítico emancipatória. 3. Explique a influência do pensamento conservacionista na origem da Ecologia. Sugiro que vocês visitem os seguintes sites: <www.ambientebrasil.com.br>. <www.eco21.com.br>. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Empresa, responsabilidade social e consciência do consumidor Jamais ponha em dúvida se um pequeno grupo de cidadãos conscientes e comprometidos pode mudar o mundo; na realidade, são eles os únicos capazes de fazer isso. Margaret Mead Empresa cidadã O pensamento exposto acima, traduzido para a questão ambiental, nos leva a pensar sobre a respon-sabilidade dos cidadãos e das empresas na criação de novos paradigmas de consumo que susten-tem o meio ambiente ecologicamente, economicamente e – principalmente – socialmente. Essa questão passa tanto pelo cidadão comum empregado quanto pelas grandes empresas e corporações. Mas afinal, o que é uma empresa e qual a sua responsabilidade social? Qual o objetivo das empresas? Criar riquezas? Dinamizar a economia? Criar empregos? Atender às necessidades da so- ciedade? Para Peter Koestenbaum, filósofo, consultor e autor do livro Leadership: the inner side of greatness, “o objetivo final de qualquer atividade humana – e toda empresa deveria provar que é capaz de fazer isso – é criar uma ordem ética mundial, uma globalização ética”. Porém, o pensamento apresentado, que expressa a responsabilidade empresarial, para deixar de ser utópico, carece de uma regulamentação, seja de uma política empresarial ou pela ação consciente do consumidor. Uma frase do presidente Roosevelt nunca foi tão atual como agora. Vejamos: “[...] produtos elaborados sob condições que não atendam a padrões mínimos de decência deveriam ser equiparados a contrabando e não poderiam ser comercializados entre os Estados”. Nesse sentido, algumas poucas empresas tiveram a iniciativa de rever seus padrões de produção, que geralmente usam a exploração da mão de obra. Na realidade, vivemos em um mundo que ainda explora o trabalho infantil e que busca o lucro não apenas pela venda de seus produtos e serviços, mas principalmente pagando salários aviltantes. Isso faz com que a ação para a mudança desse quadro e a criação de novos paradigmas de produção e consumo tenham que partir da iniciativa de um consumidor mais consciente. O termo empresa cidadã refere-se ao fenômeno denominado res ponsabilidade social empre- sarial. Isso vem sendo discutido, incessantemente, no meio empresarial e acadêmico e está despertan- do a sociedade para a importância da atuação socialmente responsável por parte das organizações e empresas em geral. 29Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Empresa, responsabilidade social e consciência do consumidor 30 Ciências como a Contabilidade vêm imprimindo modelos para servirem de balizamento e avaliação dos investimentos sociais feitos por parte das empresas e principalmente questionando os montantes de investimentos ambientais que são feitos anualmente por estas. Esse fenômeno deu origem a um ramo específico da Contabilidade, que é a Contabilidade Ambiental. Para Baptista (2004), [...] a Contabilidade Ambiental surge neste contexto como o elemento que pode registrar e mensurar com clareza as transações relacionadas ao meio ambiente, fornecendo informa- ções confiáveis, que auxiliem o gerenciamento da empresa e a elaboração, por parte dos gestores, de planos estratégicosque levem a variados objetivos, tais como: diminuição ou erradicação de danos ambientais; economia na utilização de recursos naturais; recuperação de áreas afetadas; otimização da geração e destinação de resíduos sólidos, líquidos etc. No meio empresarial brasileiro são delineadas visões distintas sobre a atuação social: a visão pós-lucro e a visão pré-lucro da responsabilidade social empresarial. A primeira visão surge da mentalidade clássica da Administração de Em- presas, a da pura e simples maximização dos lucros, na qual a análise ambiental não é utilizada como ferramenta estratégica. A segunda visão tem como objetivo maior o desenvolvimento sustentável da sociedade, fazendo parte do planejamen- to estratégico da organização, apontando para o equilíbrio entre o desempenho corporativo, ética e compromisso social. Observa-se assim que o conceito de Responsabilidade Social Empresarial vem se consolidando como uma iniciativa interdisciplinar, multidimensional e as- sociada a uma abordagem sistêmica, focada nas relações entre os públicos, liga- dos direta ou indiretamente ao negócio da empresa. A mudança pela consciência do consumidor A mudança dos padrões de consumo a respeito das etapas de produção, que vão desde a exploração da mão de obra até a poluição ambiental, passa necessari- amente pela educação. Trata-se de criar uma nova conduta cultural de consumo, respeitando a natureza e o social humano, que é um dos elementos dela. Isso co- loca o consumidor no centro da economia, dando-lhe o poder por meio da escolha do que quer consumir. Para Roddick (1998), um exemplo disso foi a queda nas vendas dos tênis Nike quando os consumidores foram informados que eles eram produzidos na Tailândia por crianças que trabalhavam em condições degradantes. A queda nas vendas e o alto prejuízo fizeram com que a Nike se comprometesse a permitir que as ONGs monitorassem as condições de trabalho de todas as suas fábricas espalha- das pelo mundo, comprometendo-se também a melhorar as condições ambientais de produção e a oferecer capacitação e outros benefícios aos seus empregados. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Empresa, responsabilidade social e consciência do consumidor 31 Cada dia aumenta o número de empresas que buscam satisfazer esses crité- rios estabelecidos por essa nova forma de consumo, buscando colocar na prática o que chamamos de desenvolvimento com sustentabilidade. Consumidor no centro da economia O consumidor observa na hora da compra a durabilidade, quali- dade, preço, utilidade, data de validade, versatilidade e tantas outras características que poderiam aqui ser citadas. E as empresas produzem dentro desses padrões exigidos pelo mercado consumidor, buscando atender a esses anseios, tornando-se cada vez mais competitivas. Mas será que o consumidor mudaria seu padrão de consumo se fosse infor- mado sobre etapas da produção do produto que deseja? Para Henry Ford, as empresas precisam “ter o lucro como objetivo, do con- trário elas morrem. Mas se uma empresa é orientada apenas para ter lucro tam- bém morrerá, porque não terá mais nenhum motivo para existir”. Vale destacar o pensamento de outros grandes empresários que defendem a empresa cidadã, como Anita Roddick, a fundadora da The Body Shop, empresa de cosméticos que forma uma grande corporação estabelecida em várias partes do mundo. Ela cita em seu livro: Um mínimo de responsabilidade empresarial seria suficiente para impedir que se fizessem negócios com tiranos e torturadores. Foi esse motivo que levou Levi Strauss a encerrar as suas operações na China – uma atitude que contribuiu para criar uma imagem mais favorável à empresa junto ao público jovem. O que se pode ouvir nas ruas é que os consu- midores estão esperando por atitudes éticas. E é por isso que nós empresários temos que repensar nossas atitudes, agindo nas pequenas e nas grandes decisões, tendo em vista um crescimento sustentável e saudável, mudando a postura política, deixando de lutar apenas por leis mais tolerantes, custos menores e redução de limitações às ações empresariais. (RODDICK, 1998) Em que pese que essas iniciativas estejam partindo de alguns setores em- presariais, ainda que preocupados com a pressão de um consumidor progressiva- mente mais consciente e exigente, as ações regulatórias por parte do governo no Brasil ainda são muito tímidas. Existe apenas um projeto de lei em tramitação que obriga as empresas à divulgação do balanço anual. Embora ainda não seja lei, muitas empresas já estão fazendo essa divul- gação, principalmente nos aspectos dos investimentos sociais, entendendo assim que isto garante uma melhor visibilidade no mercado. Responsabilidade social das empresas O entendimento de que as empresas consomem recursos naturais renováveis ou não para a produção de bens e geração de lucros, utilizam-se da força do tra- balho do homem, que é parte integrante do meio ambiente, e que usufruem do apoio do Estado por incentivos, e a consideração de que direta ou indiretamente Quais os fatores que o consumidor observa na hora da compra? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Empresa, responsabilidade social e consciência do consumidor 32 os recursos naturais são um patrimônio comum da humanidade, nada seria mais justo que as mesmas prestassem contas à sociedade da eficiência com que utilizam esses recursos. Este é o princípio que fundamenta a responsabilidade social. Segundo pesquisa do Instituto Ethos sobre a responsabilidade social empresarial no Brasil, ficou evidenciado que as empresas brasileiras têm o consumidor como foco principal de suas ações de responsabilidade social — ou seja, das dez ações mais prati- cadas pelas empresas, seis são voltadas ao cliente ou consumidor. Segundo a mesma pesquisa foram elencadas 55 ações de responsabilidade social e empresarial. Vejamos o ranking das empresas nacionais: Estágio % Ações 0 19% das empresas Não realizam nenhuma ação de responsabilidade social. 1 31% das empresas Realizam de 1 a 8 ações. 2 18% das empresas Realizam de 9 a 13 ações. 3 19% das empresas Realizam de 14 a 22 ações. 4 13% das empresas Realizam 23 ou mais ações. Vale ressaltar que o estágio 4 – nível em que se encontram as empresas com melhor desempenho – é majoritariamente composto por grandes em- presas (59%), mas apresenta uma participação razoável de médias (21%) e pequenas (20%). Conclui-se que diante do quadro apresentado, muito embora a ação de regu- lação por parte do estado se faça necessária, tão importante quanto é a conscien- tização do consumidor no sentido de exigir qualidade nos produtos que consome, observando inclusive o seu processo de produção e não apenas avaliando a quali- dade no produto final. A regulamentação legal deverá contemplar que o consu- midor possa ter acesso às informações sobre as fases de produção do referido produto, para que possa optar pela compra deste ou daquele, exercendo sua pode- rosa pressão no setor econômico. (I ns tit ut o Et ho s) As cidades insustentáveis (SINGER, 2006) A sustentabilidade tão esperada por todos não virá através das ações do governo. Esta foi a conclusão de um grupo de 30 executivos de grandes multinacionais que se encontraram recente- mente no Instituto Aspen Wye de Maryland, EUA. Segundo eles, a indústria terá um papel vital na liderança das ações voltadas para a sustentabilidade. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Empresa, responsabilidade social e consciência do consumidor 33 De acordo com a visão dos especialistas em sustentabilidade, da Universidade de Cambridge, Reino Unido, a insustentabilidade está centrada em pontos tais como a orientação da economia para o mercado, o livre comércio, a competição, a orientação para o lucro, o balanço entre a oferta e a demanda, a propriedade privada, o dinamismoe a inovação, a acumulação, perdedores e ga- nhadores e a desigualdade. O grande dilema é se o atual capitalismo poderá realmente promover uma economia sustentável. A “economia justa” foi definida como “o suprimento das necessidades básicas, refletindo os valores da sociedade, sem comprometer os recursos naturais e sendo adaptável às mudanças”. Já os dez principais fatores, que na opinião dos executivos da indústria impedem que esta “economia justa” exista, foram citados como sendo: as ações imediatistas de curto prazo, a falta de prioridade à educação e conscientização, o enfraquecimento das instituições, a prevalência da desigualdade, as estruturas econômicas inadequadas, a corrupção, ganância, a inflexibilidade dos sistemas, os recursos naturais limitados e a imperfeição humana. Viés monetarista, viés da produção, viés do trabalhador, ainda vai levar um tempo para que a nossa sociedade e os líderes que se alternam no poder percebam que somos seres indissociáveis. O que é fato, mas não é perceptível, ou seja, é o oculto do óbvio, é que não dá para pensar em de- senvolvimento sustentável sem considerar todas as partes interessadas no processo de decisão. Responda depressa: por que a sociedade tem de seguir as diretrizes de cuja elaboração não participou? Por que os poucos esclarecidos têm de definir o destino e o rumo da grande maioria? Por que o orçamento é desproporcional às necessidades da população e por que ela não participa deste orçamento? O que ocorre na nossa recente democracia, como frisa o brasilianista Thomas Skidmore, são algumas cabeças acostumadas a decidir pelos outros. Até quando a grande maioria da sociedade bra- sileira viverá a alternância dos vieses? Por que não integramos os vieses e fazemos desaparecê-los? As respostas para as perguntas acima são ocultas, porém óbvias: falta o respeito ao brasileiro, ao que consome, ao que trabalha e para quem a política deveria estar servindo para tornar possível o necessário para a maioria. Segundo Gilberto Dimenstein, foi o respeito à cidadania que o permitiu ver a redução drás- tica da criminalidade em Nova York, ao se respeitar os cidadãos, trazendo-os para o processo decisório de forma democrática e participativa, iniciada nos próprios bairros da Big Apple. A verdadeira parceria patrióptica para o desenvolvimento passa seguramente pela consciên- cia da população. Será a iluminação da sociedade de forma a que todos se engajem na eliminação da pobreza, reduzindo a tamanha desigualdade social do país, que mostrará o caminho da susten- tabilidade ao brasileiro. É necessário que haja uma massiva formação de líderes locais e que também permita o in- teresse e a adesão dos jovens, hoje tão alienados do processo político. Somente assim poderemos pensar em garantir um futuro mais justo e equitativo para o Brasil. Através da “guetorização” da nossa sociedade, estamos privilegiando poucos e des per diçando os recursos substanciais e necessários para darmos o salto quântico desejado para o Brasil do futuro! As entidades proativas são aquelas cujas práticas democráticas e participativas são visíveis e percebidas em 360º. O sequenciamento genético do Brasil precisa ser urgentemente revelado para que evitemos novas doenças, curemos os males existentes e prolonguemos a nossa vida com qua- lidade. O DNA do Brasil mostra que a indissociabilidade e a participação são genes fundamentais. A nossa tarefa é respeitar a genética e trilharmos o caminho da sustentabilidade. O futuro do Brasil é agora! Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Empresa, responsabilidade social e consciência do consumidor 34 1. O que você entende por empresa cidadã? 2. O que é responsabilidade social? 3. Qual o papel do consumidor frente à criação de novos paradigmas de produção e consumo? Religião do consumo (BETTO, 2001. Adaptado.) O Financial Times, de Londres, noticiou que a Young & Rubicam, uma das maiores agências de publicidade do mundo, divulgou a lista das dez grifes mais reconhecidas por 45 444 jovens e adultos de dezenove países. São elas: Coca-Cola (35 milhões de unidades vendidas a cada hora), Disney, Nike, BMW, Porsche, Mercedes-Benz, Adidas, Rolls-Royce, Calvin Klein e Rolex. “As marcas constituem uma nova religião. As pessoas se voltam para elas em busca de sen- tido”, declarou um diretor da Young & Rubicam. Disse ainda que essas grifes “despertam paixão e possuem o dinamismo necessário para transformar o mundo e converter as pessoas em sua maneira de pensar”. Sugiro a leitura do seguinte livro: Meu Jeito de Fazer Negócios, de Anita Roddick. (São Paulo: Negócio, 1998). Visite também o seguinte site: <www.eco21.com.br>. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br A importância do terceiro setor nas ações ambientais Pacato cidadão Samuel Rosa e Chico Amaral Pra que tanta sujeira nas ruas e nos rios Qualquer coisa que se suje tem que limpar Se você não gosta dele, diga logo a verdade Sem perder a cabeça, perder a amizade Pacato cidadão Ô pacato da civilização Se abolir a escravidão do caboclo brasileiro Numa mão educação, na outra dinheiro Pacato cidadão Ô pacato da civilização. E sses versos, extraídos da música “Pacato cidadão”, gravada pelo grupo Skank, nos levam a refletir sobre a passividade que os brasileiros costumavam ter frente aos desafios impostos por uma sociedade de industrialização rápida, tardia e de desenvolvimento desigual. Tal passividade pode ser explicada pela desarticulação dos movimentos sociais promovidos pelos “anos de chumbo”, como ficou conhecido o período da ditadura militar. Para Wöhlke (2003), “os movimentos sociais no Brasil tiveram um importante papel na redemo- cratização do país”. Sua manifestação mais evidente ocorreu na mobilização conhecida como Diretas Já, em 1984. Segundo esse autor, nesse período começou a surgir uma série de manifestações, todas num contexto de ampla diversidade. Eram os direitos das mulheres, luta pela liberdade de expressão, os movimentos pela saúde coletiva, a defesa do meio ambiente, luta pela anistia política e outras mais. Ressalta-se que, mesmo cada um desses movimentos tendo sua especificidade, todos tinham em comum o desejo da abertura política no país, pois este representava o primeiro passo na construção dos objetivos daquelas manifestações. Esse autor afirma que: [...] estes movimentos como contribuição foram fundamentais para, aos poucos, disseminar um perfil mais po- pular de cidadania. Com isso, os movimentos sociais cresceram e as ações voluntárias se solidificaram. É quan- do entraram no cenário as Organizações Não Governamentais (ONGs) que ganharam grande representação na sociedade, criando um espaço novo e apresentando um caráter institucional e pouco burocrático nas questões sociais. (WÖHLKE, 2006) Organização da sociedade civil Ao conceituar Sociedade Civil, Wöhlke refere-se aos filósofos contratualistas, que diziam que a sociedade surgiu através de um pacto formado entre todos os homens, no qual cada um cederia parte 35Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br A importância do terceiro setor nas ações ambientais 36 de sua liberdade para o convívio pacífico e harmonioso entre todos. Assim sendo, formava-se o que hoje denominamos de Estado. Já na Antiguidade, o que não fosse chamado de Estado receberia a denominação de Sociedade Civil. Por isso a dicotomia existente entre as noções de Estado e Sociedade Civil ficou muito evi- dente na época do regime militar. Principalmente as iniciativas tomadas pelos militares (Estado) contra os vários movimentos da então chamada Sociedade Civil. Percebia-se que os movimentos sociais só ganhariam legitimidade caso se instrumentalizassem. Havia a necessidade de se criar organizações com personalidade jurídica e se constituiriam como organização, pois passariam a gozar dos mecanismos legais de acesso
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