Prévia do material em texto
INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS DA SAÚDE I Módulo 1 Técnico em Farmácia FICHA TÉCNICA Preparação de Conteúdo: Professor César Souza Formatação e Normalização (ABNT): Ediane Souza Revisão Gramatical, Semântica e Estilística: Ediane Souza Capas: Aporte Comunicação Folhas de Rosto: Thomas Arraes Editoração e Revisão Técnica/Final: Ediane Souza Diagramação: Ediane Souza Impressão: Provisual Gráfica e Editora Avenida Conde da Boa Vista, 1209 Soledade – Recife/PE – Brasil CEP: 50060-003 Telefone: (81) 4062-9222 www.grautecnico.com.br Este material é exclusivo para uso do aluno Grau Técnico. Para dúvidas ou sugestões, envie-nos um e-mail: contato@grautecnico.com.br http://www.grautecnico.com.br/ mailto:contato@grautecnico.com.br Técnico em Farmácia Módulo 1 5 REGULAMENTO INTERNO – VERSÃO 20181 Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a)! Para que possamos desenvolver as atividades de formação técnica com profissionalismo e excelência, se faz necessário o cumprimento de algumas normas, as quais estão descritas a seguir. 1 MATRÍCULA 1.1 O(a) aluno(a) deverá, no ato da matrícula, fazer a leitura do regulamento interno e do contrato de prestação de serviços com bastante atenção, para que possa conhecer seus direitos e deveres no decorrer do curso. 2 DIAS/HORÁRIOS 2.1 Turmas de segunda, quarta e sexta-feira, nos turnos da manhã, tarde e noite. 2.2 Turmas de terça e quinta-feira, nos turmas da manhã e noite, e aos sábados, pela manhã e tarde. 2.3 O curso de Enfermagem, exclusivamente, tem turmas de segunda à sexta, nos turnos da manhã, tarde e noite. Em breve, terá o formato de três dias, assim como os demais cursos. 2.4 A pontualidade e a assiduidade, bem como a postura pessoal serão pontuadas como indicadores do processo de avaliação. Atenção: observe em seu contrato os dias e horários das aulas. 3 ATIVIDADES COMPLEMENTARES 3.1 As atividades extraclasses (palestras, seminários, Visitas Pedagógicas Orientadas (VPOs) serão obrigatórias para o complemento da carga horária, sendo realizados nos mesmos horários das aulas, em dias alternados ou de acordo com a disponibilidade da escola ou da empresa (no caso das VOPs). 3.2 As visitas pedagógicas orientadas acontecerão de acordo com a disponibilidade da escola e das empresas parceiras. Cabe ao aluno interessado realizar o pagamento da taxa de transporte na secretaria, se houver. 3.3 O uso do fardamento é obrigatório para todas as visitas e aulas práticas (dentro e fora da instituição). 4 CERTIFICAÇÃO 4.1 A frequência nas aulas deve ser igual ou superior a 75% (setenta e cinco por cento) em cada disciplina. 4.2 A média em cada disciplina deve ser igual ou superior a 7,0 (sete). 4.3 O(a) aluno(a) que for reprovado(a) em alguma das disciplinas deverá pagar o valor de uma parcela para cursar novamente a disciplina, a fim de obter frequência e nota necessárias para a aprovação e para o recebimento do certificado. 4.4 Estar com todas as parcelas pagas. 4.5 Estar com toda documentação exigida pela Secretaria Estadual de Educação, conforme orientado no ato da matrícula. 4.6 Solicitar, por escrito, a emissão do diploma. O prazo de entrega, após solicitação, será de até 60 (sessenta) dias. 4.7 Os cursos que possuem estágio obrigatório terão os seus diplomas entregues após o 1 O regimento em vigor será sempre a última versão, informada no título deste documento. Módulo 1 Técnico em Farmácia 6 cumprimento da carga horária total, incluindo estágio. 5 REPOSIÇÃO DE AULA 5.1 Em caso de falta justificada, o(a) aluno(a) terá o direito de realizar a aula ou atividade perdida em outra turma, de acordo com a disponibilidade da escola, sem custo adicional. 5.2 A falta só poderá ser justificada perante atestado médico ou documento comprovando o motivo da ausência. 5.3 Em caso de falta sem justificativa, o(a) aluno(a) poderá requerer na secretaria a reposição da aula ou atividade, efetuando o pagamento referente à taxa do serviço. 5.4 Observa-se que a justificativa não anula a falta, apenas faz valer o direito de reposição da aula ou atividade. 6 CONSERVAÇÃO 6.1 No caso de danos ao espaço da escola ou a equipamentos pertencentes à mesma, o(a) aluno(a) ou seu representante legal será responsabilizado pelos gastos com o reparo, bem como, se necessário, submetido(a) às medidas disciplinares quando for cabível. 6.2 Ao término de cada aula, teórica ou prática, a sala ou laboratório utilizado deverá ser deixado organizado para a próxima turma. 7 SAÚDE E BEM-ESTAR GERAL 7.1 Não será permitida a utilização de aparelhos celulares ou fones de ouvido na sala de aula. 7.2 Não será permitida a permanência de pessoas em salas de aula e dependências internas da escola, a não ser alunos, instrutores ou funcionários em seus respectivos horários. 7.3 Não será permitida a entrada de alimentos ou bebidas nas salas de aula, laboratórios ou biblioteca. 7.4 Deve-se manter a limpeza, organização e conservação da escola como um todo. Devem-se utilizar os cestos de lixo disponibilizados em cada ambiente. 7.5 A escola não se responsabilizará por perdas ou danos de pertences dos alunos. 7.6 É obrigatório tratar os demais alunos, docentes e funcionários com respeito e civilidade, sob pena de aplicação de medida disciplinar de advertência, suspensão ou expulsão, a depender da gravidade da infração. 7.7 Temos câmeras sendo utilizadas em toda escola, a fim de proporcionar maior segurança aos nossos alunos. 8 BIBLIOTECA/ACESSO À INTERNET 8.1 A utilização da biblioteca será mediante agendamento com a coordenação pedagógica, fora do horário normal, com apresentação de documento para uso de livros. 8.2 O uso desta sala é exclusivo para estudo e pesquisa, portanto deverá ser mantido o silêncio e a disciplina, para não interferir na concentração dos demais alunos. 8.3 O uso dos computadores para pesquisa tem o tempo máximo de 30 minutos. 8.4 Não é permitida a retirada de livros para empréstimo. 9 AVALIAÇÃO 9.1 As provas serão realizadas durante o turno que o aluno estuda e sempre na última aula da disciplina, tendo a duração média de 1h30. 9.2 O(a) aluno(a) que faltar à prova deverá comparecer à coordenação pedagógica da escola para requerer a avaliação em segunda chamada, agendar uma data para a realização desta, bem como efetuar o pagamento da taxa na secretaria. Técnico em Farmácia Módulo 1 7 9.3 As provas de recuperação ou segunda chamada acontecem na última semana de cada mês, conforme informado pela coordenação, no site e nos quadros de avisos. 10 CANCELAMENTO DO CONTRATO 10.1 O cancelamento do contrato poderá ocorrer a qualquer momento, sob autorização da diretoria da escola, em caso de indisciplina por parte do(a) aluno(a). Quanto a sua defesa, caberá aos dispositivos legais vigentes. 10.2 O cancelamento por parte do(a) aluno(a) deverá ser feito na coordenação da escola, mediante requerimento e pagamento da multa de cancelamento, conforme contrato de prestação de serviços. 10.3 O(a) aluno(a) que cancelar e desejar retornar ao curso poderá reverter sua multa em pagamentos de parcelas, sendo o valor descontado das últimas parcelas restantes. 10.4 Para o(a) aluno(a) retornar, deverá ser efetuado o pagamento do valor de uma parcela. 10.5 O aluno que for cancelado por motivo de indisciplinanão poderá voltar a estudar no Grau Técnico. 11 PORTAL ACADÊMICO 11.1 Todos os informativos, notas, oportunidades e materiais extras serão disponibilizados Portal Acadêmico, no Website do Grau Técnico. 11.2 O acesso ao portal acadêmico é por meio do endereço eletrônico: www.grautecnico.com.br, no qual o(a) aluno(a) colocará o seu número de matrícula tanto no campo ‘usuário’, como naquele referente à ‘senha’. 11.3 Para a solicitação de declarações, deve-se respeitar o prazo de até 05 dias. 12 TRANSFERÊNCIA DE TURMA/SALA/INSTRUTOR/UNIDADES 12.1 A transferência de turma estará sujeita à disponibilidade de vagas nas turmas em andamento. 12.2 A transferência de Unidade terá o valor de uma parcela com desconto. Para tanto, o(a) aluno(a) tem que estar com as parcelas em dia, bem como a transferência deverá estar condicionada à confirmação da unidade destino, conforme disposição nas turmas. 12.3 O (a) aluno(a) que requerer transferência de Unidade sem nunca ter cursado na unidade de origem e desejar outro curso adiantará uma parcela com desconto na Unidade de origem e efetuará matrícula na unidade destino, se adequando ao plano de pagamento desta. 12.4 Para a otimização do espaço e aproveitamento das turmas, o Grau Técnico poderá mudar de sala durante o decorrer do curso, bem como unir duas ou mais turmas. 12.5 Durante o decorrer do curso, pode haver mudança de instrutor. Tendo em vista que os nossos cursos seguem um plano de aula, os alunos não terão nenhum prejuízo em relação ao aprendizado. 13 DIAS E HORÁRIOS DE RECEBIMENTO DA ESCOLA 13.1 As parcelas do curso terão descontos de pontualidade, para os pagamentos efetuados até a data de vencimento. Para pagamentos após o vencimento, será cobrado o valor integral, mais multa acrescida de juros. 13.2 O desconto de pontualidade só será válido para pagamentos em espécie. Para todo tipo de cartão, a parcela será cobrada em valor integral. 13.3 A solicitação de declarações, diploma e histórico escolar é gratuita para a primeira via. As emissões extras destes documentos devem ser feitas mediante o pagamento de taxa de serviços, cujo valor será informado na secretaria da escola. 13.4 No ato da matrícula, será impresso o primeiro boleto do seu curso. Os demais deverão ser impressos a partir do portal acadêmico, no site www.grautecnico.com.br, acessando-o com o seu login e senha, no item financeiro, no link ‘Impressão de Boletos’, ou solicitando a sua http://www.grautecnico.com.br/ Módulo 1 Técnico em Farmácia 8 impressão na secretaria da escola. O pagamento do boleto poderá ser realizado em qualquer banco ou caixa de pagamentos diversos. 14 AGÊNCIA DE ENCAMINHAMENTO GRAU TÉCNICO 14.1 Os alunos do Grau Técnico dispõem de uma Agência de Encaminhamento Profissional, que tem como objetivo realizar parceria com empresas para disponibilizar vagas de estágio e/ou emprego. Para participar, basta estar dentro do seguinte regulamento: apresentar nota igual ou superior a 7,0 (sete), ter frequência nas aulas igual ou superior a 75%, ter idade superior a 16 anos, ter concluído o primeiro módulo, estar em dia com as parcelas e participar e, no mínimo, 50% do ciclo de palestras disponibilizadas pela agência de encaminhamento. 14.2 O compromisso de encaminhamento profissional não é garantia de emprego ou de estágio, visto que a decisão da contratação é da empresa contratante e não do Grau Técnico. 14.3 Para os cursos de estágio não obrigatório, os alunos terão acesso às vagas disponíveis por meio da coordenação e por agências de integração entre empresa e escola. O estágio deverá ser feito fora do horário no qual o aluno esteja estudando. 14.4 Para os cursos de estágio obrigatório, os alunos deverão seguir o planejamento, conforme orientado pela coordenação pedagógica. 15 ENFERMAGEM/RADIOLOGIA/ANÁLISES CLÍNICAS 15.1 O estágio é obrigatório para os cursos de Enfermagem e Radiologia, podendo ser realizado no decorrer ou ao final do curso, em qualquer turno (manhã, tarde e noite), ocorrendo de acordo com a disponibilidade das unidades de saúde em dias e horários diferentes (hospitais, postos de saúde, clínicas, UPA, etc.), ficando o aluno ciente que não há garantia quanto ao turno e local onde serão ministrados os estágios, podendo ocorrer, inclusive, dentro da região metropolitana ou em municípios circunvizinhos, haja vista que as vagas disponíveis dependem de terceiros (hospitais, clínicas, UPAs, etc.). 15.2 Caso o aluno não conclua a disciplina do estágio, deverá realizar o pagamento de uma taxa referente a uma parcela, para poder refazer a disciplina. 15.3 É vedado ao aluno exigir que sejam ministrados nos estágios conteúdo pedagógico diverso daquele que foi ofertado pela instituição responsável. 15.4 O estágio para Análises Clínicas atenderá à regulamentação local vigente. 15.5 Materiais imprescindíveis para as aulas práticas (laboratório) – sob total responsabilidade do aluno: No caso de Enfermagem: luvas de procedimento, luvas estéreis, seringas, agulhas, gazes, esparadrapo, máscaras, toucas, gorros, jelco calibre 22, scalp calibre 21 (verde), estetoscópio, tensiômetro, garrote, termômetro (digital). No caso de Análises Clínicas: luvas de procedimento, luvas estéreis, seringas, agulhas, gazes, esparadrapo, máscaras, toucas, gorros, jelco calibre 22, scalp calibre 21 (verde), garrote. 15.6 Materiais Necessários para os estágios curriculares: No caso de Enfermagem: todo e qualquer material necessário às atividades práticas serão de responsabilidade do aluno e deverão ser entregues antecipadamente para garantia dos campos, tais como: luvas de procedimento, máscaras, propés, toucas, gorros, capote descartável, toalhas de papel, sabão ou sabonete líquido, ou quaisquer outros materiais solicitados pela instituição de saúde. No caso de Radiologia: dosímetro (disponibilizado pela escola, mas, em caso de perda, será de responsabilidade do aluno). Técnico em Farmácia Módulo 1 9 16 ELETROTÉCNICA/ELETRÔNICA/INFORMÁTICA/MANUTENÇÃO E SUPORTE DE INFORMÁTICA/REDE DE COMPUTADORES 16.1 Materiais imprescindíveis para as aulas práticas (laboratório) – sob total responsabilidade do aluno: No caso de Eletrotécnica: chave de fenda (8x200mm), chave Phlips (8x200mm), alicate de corte; alicate de bico; alicate universal; alicate desencapador, chave teste e 1 rolo de fita isolante. No caso de Eletrônica: protoboard 1x, resistores 5 de cada(100R,220R, 330R, 1k, 2k, 100k de 1/4W), capacitores 2 de cada(470uF, 10uF, 1uF, 1nF de 50V), jumpers 20 macho-macho, Leds 3x (alta potência: verde, amarelo, vermelho e baixa potência: verde, amarelo, vermelho), Botão 3 push button, diodo silício 5x 1N14007, multímetro 1x e potenciômetro 2 de cada (10k, 100k). No caso de Informática, Manutenção e Suporte de Informática e Rede de Computadores: 1 chave Phillips nº2, 1 alicate de crimpagem, 20 conectores RJ-45, 1 multímetro digital, 10 DVDs virgens e 1 pen drive. Ciente e de acordo. _____________________________________________ Aluno(a)/Responsável Para sugestões e informações, enviar e-mail para: contato@grautecnico.com.br SEJA BEM-VINDO(A)! Atenciosamente, A Direção. mailto:contato@grautecnico.com.br Módulo 1 Técnico em Farmácia 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 11 2 OBJETIVO DO CURSO................................................................................................. 11 3 TÉCNICO EM FARMÁCIA- MÓDULO 1 ...................................................................... 13 4 INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS FARMACÊUTICOS ....................................................... 17 5 ANATOMIA E FISIOLOGIA .......................................................................................... 45 6 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL.................................................................................. 159 7 BIOSSEGURANÇA ..................................................................................................... 191 8 SAÚDE COLETIVA ..................................................................................................... 223 9 QUÍMICA .................................................................................................................. 303 TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 11 1 INTRODUÇÃO O avanço tecnológico é inevitável. No mundo todo, ele vem quebrando fronteiras econômicas, sociais e culturais, trazendo consigo toda uma facilidade no acesso à informação, à liberdade de expressão e à inclusão social. Ao mesmo tempo, também se lida com certa desintegração dos valores humanos, com o consumo desenfreado, a marginalização social e a agressão ao meio ambiente. É necessário despertar o ser humano para a importância do conhecimento técnico e suas consequências. Também é preciso conscientizá-lo para a solidariedade, o respeito a si mesmo e ao outro e o trabalho em equipe. A atuação do Grau Técnico, portanto, é abrir caminho para oportunidades que beneficiem tanto o indivíduo, quanto o coletivo. É orientar para a realização profissional e inserção social, por meio de uma educação estimuladora e operadora de inovações na sociedade. 2 OBJETIVO DO CURSO O Curso de Técnico em Farmácia do Centro de Ensino Grau Técnico tem como objetivo geral formar profissionais técnicos em Farmácia, com capacidade técnica para atuar em equipe multidisciplinar, supervisionados por um profissional farmacêutico por meio de conhecimentos teóricos e práticos voltados para à assistência farmacêutica, promoção em saúde, controle de estoque e armazenamento de produtos e insumos farmacêuticos, preparação de produtos farmacêuticos e afins, de acordo com as Boas Práticas de Fabricação e Controle, pautados pelos princípios da ética, da qualidade, humanização, desenvolvendo suas atividades baseadas em competências e habilidades, atendendo ao contexto das ações da farmácia de manipulação; drogarias; postos de saúde e de medicamentos; indústrias farmacêuticas; unidades básicas de saúde; hospitais; distribuidoras de medicamentos, insumos e correlatos. Pautados nestas ações, atenderão também às necessidades da clientela em um mercado de trabalho dinâmico e competitivo. Além disso, em seus objetivos específicos, o curso propicia ao aluno: formação sólida que assegure o domínio dos conteúdos, correspondendo às exigências do mundo do trabalho; condições para desempenhar o seu papel de agente, tanto para a promoção individual, como para a transformação social; uma ação educativa, capaz de conectar teoria e prática voltadas para a percepção das relações entre os contextos, social, econômico, político e cultural; a sensibilidade para a execução de atividades que atendam às normas de segurança, proteção ao meio ambiente, saúde, agindo de acordo com os preceitos éticos e profissionais; a preparação para a correta aplicação da legislação que regulamenta as atividades pertinentes à área de atuação; a avaliação, o reconhecimento e a certificação de Módulo 1 Técnico em Farmácia 12 conhecimentos adquiridos profissionalmente na área da saúde, para fins de prosseguimento e conclusão de estudos. APROVEITE BEM O CURSO E TRANSFORME O CONHECIMENTO ADQUIRIDO NAS AULAS EM OPORTUNIDADES DE TRABALHO! Atenciosamente, Ruy Maurício Loureiro Porto Carreiro Filho Diretor Geral TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 13 3 TÉCNICO EM FARMÁCIA - MÓDULO 1 O primeiro módulo do curso de técnico em Farmácia propõe enriquecer e aprimorar o conhecimento geral, preparando o aluno para os módulos subsequentes. É pré- requisito para o Módulo II, e não tem caráter de terminalidade. 3.1 Competências Identificar a diferença entre os estabelecimentos farmacêuticos; Reconhecer a história da Farmácia; Distinguir os tipos de estabelecimentos farmacêuticos; Relacionar a história do medicamento com conceitos básicos e evolução; Compreender a constituição e o funcionamento do corpo humano; Identificar as estruturas anatômicas que compõe o aparelho locomotor, cardiovascular, respiratório, urinário, digestivo, reprodutor, nervoso, sensorial, endócrino, imunológico e sanguíneo; Compreender o princípio de anatomia e fisiologia do corpo humano, correlacionando-os com os princípios científicos do exercício da prática profissional; Compreender os processos de comunicação; Linguagem e língua; Conhecer as funções da linguagem; Conhecer a língua oral e língua escrita. As variantes linguísticas; Identificar a tipologia e gêneros textuais. A adequação do texto à finalidade comunicativa; Identificar a produção textual: (in)textualidade, coerência e coesão textual; Utilizar a redação técnica. A adequação vocabular; Conhecer textos técnicos e suas funções: relatório, ofício, requerimento, ata, memorando, comunicação interna; O texto publicitário e suas especificidades; Ter consciência de autoproteção, aplicando as medidas de prevenção dentro de um ambiente farmacêutico; Trabalhar seguindo normas e leis relacionadas à prática da biossegurança; Aplicar o plano de gerenciamento de resíduos; Conhecer a Política Nacional de Atenção Básica; Identificar a abordagem coletiva como modelo de atenção à saúde prioritária; Conhecer os programas desenvolvidos na estratégia saúde da família; Compreender as atividades de educação em saúde; Compreender a atenção básica; Avaliar instrumentos de notificação de agravos e morbidades e realizar notificação; Conhecer e discutir o Programa Nacional de Imunizações; Executar aplicação das vacinas obrigatórias do calendário vacinal em todas as faixas etárias, conhecendo suas respectivas vias de administração e dosagens; Conhecer a rede de armazenamento e preservação de imunobiológicos (rede de frios); Módulo 1 Técnico em Farmácia 14 Conhecer os Programas de Hanseníase e Tuberculose, Hipertensão e Diabetes, Atenção integral à Saúde da Mulher, Atenção integral à Saúde da Criança, Atenção à Saúde do Adolescente, DST/AIDS, assistência a População Negra, assistência à saúde do Idoso, Saúde Mental, atenção à Saúde do Homem, e doenças e agravos não transmissíveis; Conhecer a dinâmica de funcionamento da Unidade de Saúde da família e as relações com outros profissionais; Aplicar os conceitos gerais e princípios da química, as reações químicas e os tipos de ligações químicas; Compreender a preparação de soluções; Analisar as propriedades periódicas dos elementos químicos; Aplicar a formulação e nomenclatura dos compostos inorgânicos de acordo com as regras da União Internacional de Química Pura e Aplicada-IUPAC; Identificar a ocorrência de reações químicas; Aplicar as relações estequiométricas entre reagentes e produtos numa reação química. INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS FARMACÊUTICOS TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 17 4 INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS FARMACÊUTICOS 4.1 História da Farmácia e da profissão Farmacêutica Como observado por Dias (2005), citando Folch; Suñé; Valverde (198), as práticas voltadas aos estudos farmacêuticos datam desde 2500 a.C., a partir de produtosnaturais (minerais, vegetais e animais), tendo sido iniciadas na China. Os gregos e egípcios, conforme autores (Op. cit.), foram os primeiros que desenvolveram os métodos para a cura de doenças, a partir do uso da botânica, associando-a a elementos místicos e religiosos. A Figura 1 ilustra como eram as farmácias em décadas passadas. Figura 1- Antiga farmácia europeia Fonte: http://isabelsilvaphotography.blogspot.com.br/2014/02/dubrovnik-farmacia-mais-antiga-da- europa.html (Acesso em 13/12/2017) As primeiras sociedades com escrita surgiram a partir do 4º milênio a.C., de acordo com Pandit (2008). Os conceitos terapêuticos estavam embasados no entendimento de que todos os fenômenos, fossem eles terrenos ou cósmicos, se uniam de forma estreita, estando subordinados à vontade dos deuses. As doenças, assim como suas curas, eram explicadas mediante complexa relação entre deuses, gênios benéficos e/ou maléficos, que partilhavam os seus segredos entre si, como ilustra a Figura 2. http://isabelsilvaphotography.blogspot.com.br/2014/02/dubrovnik-farmacia-mais-antiga-da-europa.html http://isabelsilvaphotography.blogspot.com.br/2014/02/dubrovnik-farmacia-mais-antiga-da-europa.html Módulo 1 Técnico em Farmácia 18 Figura 2- Segredos médicos partilhados na antiguidade Fonte: http://nova-acropole.pt/a_segredos_medicos_antiguidade.html (Acesso em 13/12/2017) Galeno (200 – 131 a.C.), ilustrado pela Figura 3, é considerado o Pai da Farmácia. Ele combatia as doenças por meio de substâncias ou compostos que se opunham diretamente aos sinais e sintomas das enfermidades, tendo sido o precursor da alopatia (PANDIT, 2008). Figura 3- Galeno, o pai da Farmácia Fonte: http://www.ahistoria.com.br/galeno/. (Acesso em 13/12/2017). Galeno estudou e escreveu bastante acerca de farmácia e medicamentos. Suas obras contemplam quatro centenas e meia de referências a fármacos, como observado por Dias (2005). Ele criou uma lista de remédios vegetais, aos quais denominou de "galênicos", sendo a maioria deles composta com vinho. Como estudioso, observador e metódico que era, Galeno classificou e usou as ervas de forma magistral, fazendo uso de preparações http://nova-acropole.pt/a_segredos_medicos_antiguidade.html http://www.ahistoria.com.br/galeno/ TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 19 denominadas "teriagas", que eram feitas com vinho e ervas (DIAS, 2005). A primeira escola de farmácia data do século I, que deu início, inclusive, à legislação para o exercício da profissão. No século X, de acordo com Folch; Suñé; Valverde (1986 apud DIAS, 2005), foram criadas as primeiras boticas, assim chamadas há época, em países da Europa, como Espanha e França. São consideradas as precursoras das farmácias atuais. Aos boticários, os farmacêuticos da época, eram responsáveis por conhecer e curar as doenças, devendo cumprir, para o exercício da profissão uma série de requisitos e ter local e equipamentos adequados para a feitura e guarda dos remédios. Os autores (Op. cit.) observaram também que no século XVI, o estudo dos remédios ganhou impulso notável, com a pesquisa sistemática dos princípios ativos das plantas e dos minerais capazes de curar doenças. No século XVII, os mercadores de drogas, plantas medicinais e outros produtos propiciavam os ingredientes necessários ao boticário para a preparação das suas formulações. Com o advento das especialidades farmacêuticas industrializadas, que datam do início do século XX, o mercado passou a ser mais estruturado e economicamente interessante, uma vez que abriu espaço para que novas empresas fossem surgindo, de forma organizada. As décadas que se seguiram trouxeram um número crescente de especialidades farmacêuticas, crescimento do consumo de medicamentos e, finalmente, a extensão da segurança social a toda a população, como observa Dias (2005). 4.2 A História da Farmácia no Brasil Como observa Pandit (2008), os primeiros povoadores, náufragos, degredados, aventureiros e colonos deixados por Martim Afonso se valeram de recursos da natureza para combater as doenças, curar ferimentos e neutralizar picadas de insetos. Como forma de combater a agressividade do ambiente e a hostilidade de algumas tribos indígenas, os primeiros europeus tiveram de contornar a adversidade com amabilidade, e foram aprendendo com os pajés a preparar os remédios da terra para tratar seus próprios males. Quando surgiam os remédios da "civilização", como assim chamavam, isto se dava quando expedições portuguesas, francesas ou espanholas apareciam com suas esquadras, e nelas sempre havia um cirurgião barbeiro ou algum tripulante com uma botica portátil, composta por drogas e medicamentos. Àquela época, a coroa portuguesa resolveu instituir no Brasil o governo geral, nomeando governador Thomé de Souza, que veio para a colônia com uma armada de três naus, trazendo ao todo aproximadamente mil pessoas que se instalaram na Bahia. O corpo sanitário da grande armada era composto apenas de um boticário, Diogo de Castro, com função oficial e com salário. Não havia nesta armada, porém, nenhum físico, denominação de médico na época. O físico-mor, só viria a ser instituído no segundo governo de Duarte da Costa, como observou Dias (2005). Dentre os irmãos destinados ao sul do País estava José de Anchieta, que logo Módulo 1 Técnico em Farmácia 20 tratou, junto com os demais jesuítas, de instituir enfermarias e boticas em seus colégios, colocando um irmão para cuidar dos doentes e outro para preparar remédios. José de Anchieta, Figura 4, foi o responsável por São Paulo, sendo considerado o primeiro boticário de Piratininga. Figura 4- Padre José de Anchieta Fonte:https://marcoaureliofarma.blogspot.com.br/2014/04/jose-de-anchieta-um-santo- boticario.html (Acesso em 13/12/2017) Em princípio, como Pandit (2008) observou em seus estudos, os medicamentos vinham do reino já preparados. Entretanto, a pirataria do século XVI e as dificuldades da navegação impediam com frequência a vinda de navios de Portugal, sendo necessário reservar grandes provisões, como acontecia com São Vicente e São Paulo. Por estas razões, os jesuítas foram considerados os primeiros boticários da nova terra, e nos seus colégios as primeiras boticas onde o povo encontrava drogas e medicamentos vindos da metrópole bem como, remédios preparados com plantas medicinais nativas por meio da terapêutica dos pajés. As mais importantes boticas sob a direção dos jesuítas se localizaram na Bahia, Olinda, Recife, Maranhão, Rio de Janeiro e São Paulo. No Maranhão, a botica era flutuante, como observou Pandit (2008): Por muito tempo, diz o padre Serafim Leite, as farmácias da companhia foram as únicas existentes em algumas cidades. E quando se estabeleceram outras, as dos padres, pela sua notável experiência e longa tradição, mantiveram a primazia. O colégio do Maranhão possuía uma farmácia flutuante, a Botica do Mar, bem provida, que abastecia de medicamentos os lugares da costa, desde o Maranhão até Belém do Pará. A botica mais importante dos jesuítas foi a da Bahia, que se tornou um centro distribuidor de medicamentos para as demais boticas dos vários colégios de Norte a Sul do País. Como a Bahia mantivesse maiores contatos com a metrópole, os padres conservavam a botica bem sortida e aparelhada para o preparo de medicamentos, iniciando-se nela, inclusive, o aproveitamento das matérias-primas indígenas. Os jesuítas possuíam um receituário particular, nos quais se podiam observar não só as fórmulas dos medicamentos como seus processos de preparação. Além disso, dispunham https://marcoaureliofarma.blogspot.com.br/2014/04/jose-de-anchieta-um-santo-boticario.htmlhttps://marcoaureliofarma.blogspot.com.br/2014/04/jose-de-anchieta-um-santo-boticario.html TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 21 também método de obtenção de certos produtos químicos, como a pedra infernal (nitrato de prata), como observou Dias (2005) Os jesuítas chamavam de Tríaga Brasílica a penicilina da época. Eles conservavam secreta a sua forma de manipulação, usando-a contra mordidas de animais peçonhentos, além de várias doenças febris e, de modo especial, como antídoto contra venenos, à exceção dos corrosivos, como descrevem Folch; Suñé; Valverde (1986 apud DIAS, 2005). Considerada tão boa quanto aquela utilizada em Veneza, agia de forma rápida e eficaz, tendo ainda a vantagem de ser composta por várias drogas nacionais, de eficiência já comprovada. O colégio dos jesuítas da Bahia sofreu um terrível saque em meados de 1760, se imaginava encontrar algumas receitas particulares, dentre elas a famosa Tríaga Brazílica. Entretanto, tal receita não fora encontrada, tendo este feito ocorrido tempos mais tarde, quando do achado de uma coleção de várias receitas, incluindo os segredos particulares das principais boticas da companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do Brasil, compostas e experimentadas pelos melhores médicos e boticários mais célebres (FOLCH; SUÑÉ; VALVERDE, 1986 apud DIAS, 2005). 4.3 As Boticas do Brasil Pandit (2008) observou que a partir de 1640 as boticas tiveram o seu funcionamento autorizado, enquanto comércio. Naquele mesmo período, a sangria foi legalizada, resultando em competição entre os cirurgiões-barbeiros e os escravos sangradores. Uma vez tendo o seu funcionamento comercial autorizado, as boticas se multiplicaram, de Norte a Sul, sendo dirigidas por boticários aprovados em Coimbra pelo físico-mor, ou por seu delegado comissário na capital do Brasil, Salvador. Estes boticários obtinham com a máxima facilidade a sua "carta de aprovação". Tratava-se de profissionais empíricos, às vezes analfabetos, as que possuíam conhecimento de medicamentos corriqueiros. Pandit (2008), acerca disto, traz a seguinte ressalva: Por causa de toda essa "facilidade", muitas vezes lavadores de vidros ou simples ajudantes de botica requeriam exame perante o físico-mor ou seu delgado e, uma vez aprovados, o que geralmente acontecia, arvoravam-se em boticários, estabelecendo-se por conta própria ou associando-se a um capitalista ou comerciante, normalmente do ramo de secos e molhados, que alimentava a expectativa dos bons lucros no novo negócio. As primeiras farmácias no Brasil se configuravam conforme ilustra a Figura 5 a seguir. Módulo 1 Técnico em Farmácia 22 Figura 5- Configuração das primeiras farmácias brasileiras Fonte: http://portalhistoriadafarmacia.com.br/a-farmacia-no-Brasil Acesso em (13/12/2017) Em todas as cidades do Brasil, desde os primeiros tempos da colonização, os comerciantes de secos e molhados negociavam com drogas e medicamentos, não só para uso humano como para tratamento dos animais domésticos, aos cuidados dos alveitares, como eram chamados os veterinários da época. Raras eram as boticas legalmente estabelecidas, como advoga Pandit (2008), que diz: O comércio das drogas e medicamentos era privativo dos boticários, segundo o que estava nas "Ordenações", conjunto de leis portuguesas que regeram o Brasil durante todo o período colonial, reformada por D. Manuel e em vigor desde o princípio do século XVI, bem como por leis e decretos complementares. Foi com base nesta legislação que o físico-mor do reino, por intermédio de seu comissário de São Paulo, ordenou o cumprimento integral do regimento baixado em maio de 1744. Neste sentido a fiscalização do exercício dessa profissão passou a ser intensificada, uma vez que o regimento proibia terminantemente o comércio ilegal das drogas e medicamentos, estabelecendo pesadas multas e sequestro dos respectivos estoques. “Houve, busca e apreensões das mercadorias proibidas, que foram depositadas nas boticas locais. Foi um Deus nos acuda", assim afirma Pandit (2008). O referido regimento foi crido a partir de uma ordem do Conselho Ultramarino, cuja ordem fora dada ao Dr. Cypriano de Pinna Pestana, físico-mor do reino. Conforme a ordem, ele não deveria dar comissão a pessoa alguma, que no Brasil servisse por ele, devendo esta comissão ser dada a um médico formado pela Universidade de Coimbra. Deu-se ordem também para que se fizesse um regimento para os Boticários do dito estado, com atenção às distâncias, que ficavam as terras litorâneas, advertendo que tanto os ganhos dos seus comissários como os preços dos medicamentos nunca deveriam exceder o dobro dos preços praticados no reino e que, uma vez o regimento fosse elaborado, o mesmo deveria ser http://portalhistoriadafarmacia.com.br/a-farmacia-no-Brasil TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 23 remetido ao Conselho. Tudo se faria de acordo com o regimento, desde o exame prestado pelos candidatos a boticários, bem como a inutilização das drogas eventualmente deterioradas, desde a sua chegada aos portos, e a fiscalização das boticas, até a legalização do profissional responsável, existência de balança, pesos e medidas, estado de conservação das drogas vegetais, principalmente as importadas, medicamentos galênicos, produtos químicos, vasilhames e, bem como, ocasionalmente, a existência de alguns livros. As inspeções das boticas seriam rigorosas, devendo ser realizadas a cada três anos. Este regimento foi considerado um modelo para a sua época. Apesar disto, os boticários de Portugal e das colônias portuguesas viviam em completo atraso e carência de reparo, tendo como guia a obsoleta Farmacopeia Ulissiponense Galênica e Química, de Joan Vigier, datada de 1716. Só em 1735 surgiu a Farmacopeia Tubalense Química Galênica, teórica e prática, de Manoel Rodrigues Coelho, boticário da corte, que visava ter seu trabalho autorizado pelo governo, o que, entretanto, não conseguiu. No ano de 1772 surgiu a obra de Frei João de Jesus Maria, monge beneditino e boticário do convento, sendo finalmente publicada por ordem de D. Maria I. Em 7 de abril de 1794 foi mandada adotar a Farmacopeia Geral para o Reino de Portugal e Domínios, de autoria de Francisco Tavares, professor da Universidade de Coimbra, obra cujos preceitos não eram lícitos ao profissional se afastar, mesmo quando o próprio autor a reconheceu insuficiente, sendo por isso, o mesmo autor, levado a escrever uma Farmacologia, de acordo com o que observou Pandit (2008). A cidade de São Paulo, no ano de 1765 tinha três boticários, Francisco Coelho Aires, estabelecimento e moradia na Rua Direita, Sebastião Teixeira de Miranda na atual Rua Álvares Penteado e José Antônio de Lacerda, hoje a Praça da Sé. A Real Botica de São Paulo estava instalada onde hoje está o Vale do Anhangabaú, mais precisamente, onde hoje está o prédio central dos Correios e Telégrafos. O prédio para instalar esta primeira farmácia oficial da cidade foi construído em 1796 e demolido em 1916, como afirma Pandit (2008). Pandit afirma ainda que (2008): No tempo da Real Botica os remédios eram, na sua grande maioria, plantas medicinais, porém desde 1730 o brasileiro usava o mercúrio e o arsênico importados da Europa. O ópio, a escamoneia, a rosa, o sene, o manacá e a ipeca já faziam parte dos remédios necessários para funcionamento de uma botica. Pomadas e linimentos tinham grande consumo, aliás, o produto mais consumido era a pomada alvíssima, além do bálsamo católico, de Copaíba, e a Água Vienense, que só entrou em desuso no começo do século XX. Módulo 1 Técnico em Farmácia 24 Na Figura 6 a seguir, podemos observar a BoticaReal Militar, que foi criada por dom João VI em 1808, e atendia aos exércitos da Coroa. (Foto: Acervo Exército) Figura 6- Botica Real Militar Fonte: Acervo do Exército. Disponível em: https://agencia.fiocruz.br/pesquisadoras-recuperam- história-do-surgimento-do-farmacêutico-no-século-19 Acesso em 20/08/2018 As Boticas do Rio de Janeiro, conforme Dias (2005), apresentavam um estilo de muito bom gosto, em relação ao comércio da época. Em vez de balcão, tinham bem no meio uma espécie de altar, com a frente ornamentada com pinturas e dourados. Era comum trazer na pintura alguma paisagem, um naufrágio ou um simples ramalhete de flores. Acima, no altar, a balança, os pesos, dois ou três livros velhos, oráculos, sem dúvida, da arte de curar. 4.4 Os Estudos de Farmácia De acordo com Pandit, quando a família real portuguesa rumou para a colônia não havia ainda o País qualquer avanço científico, ao contrário de países como Alemanha, França e Itália. Não havia faculdades e as ciências de uma maneira geral eram privilégios daqueles que podiam ir estudar em Lisboa, Paris ou Londres. Com a vinda da família real, em 1803, o País, que ainda era colônia, adquiriu o direito de acompanhar os movimentos culturais e científicos que aconteciam no Velho Continente há mais de um século. “O primeiro passo largo rumo à modernidade foi encabeçado pelo príncipe regente D. João VI, que admirava os estudos de história natural, bem como o trabalho dos naturalistas” (PANDIT, 2008). Fazendo uma linha do tempo, Pandit (2008) destaca: 1808: Foram instituídos os estudos médicos no Hospital Militar da Bahia, por sugestão do cirurgião-mor do reino, Dr. José Correia Pincanço, futuro Barão de Goiana, com ensino de anatomia e cirurgia, porém o ensino de farmácia só se iniciou em 1824. 1809: com a intenção de formar médicos e cirurgiões para o Exército e Marinha, onde se concentrava a elite econômica da época, D. João VI instituiu o curso de medicina no Rio de Janeiro, composto pelas cadeiras de Medicina, Química, https://agencia.fiocruz.br/pesquisadoras-recuperam-história-do-surgimento-do-farmacêutico-no-século-19 https://agencia.fiocruz.br/pesquisadoras-recuperam-história-do-surgimento-do-farmacêutico-no-século-19 TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 25 Matéria Médica e Farmácia. 1814: publicação do primeiro livro oriundo do curso supracitado, escrito por José Maria Bontempo, primeiro professor de farmácia do Brasil, denominado "Compêndios de Matéria Médica". 1818: o farmacêutico português instalado no Rio de Janeiro, José Caetano de Barros abriu o ensino gratuito, voltado para médicos, boticários e estudantes no laboratório de sua farmácia. 1832: foi criada a Faculdade de Medicina, regularizando-se o ensino de farmácia. 1835: mediante decreto imperial, sancionado em 8 de maio, a Sociedade de Medicina foi transformada em Academia Imperial, e nela ficou instituída a seção de farmácia, o que elevou a classe farmacêutica à hierarquia científica, colocando- a em igualdade aos demais ramos das ciências médicas. 1839: a Assembleia Legislativa de Minas Gerais decretou a lei nº 140, sancionada pelo então conselheiro Bernardo Jacinto da Veiga, criando duas Escolas de Farmácia, uma em Ouro Preto (Figura 7) e outra em São João Del Rei, destinada ao ensino de farmácia e da matéria médica brasileira. 1925: consolidação do ensino de farmácia, quando o curso passou a ser Faculdade de Farmácia, filiando-se à Universidade do Rio de Janeiro. Figura 7- Escola de Farmácia de Ouro Preto Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Farm%C3%A1cia_de_Ouro_Preto (Acesso em 13/12/2017) 4.5 De Boticário a Farmacêutico Apesar da criação de diversas instituições de ensino de farmácia no País, vale ressaltar que, no século passado, a passagem do comércio de botica para farmácia, não foi nada fácil, sobretudo em função do hábito advindo da cultura popular, que criava dificuldades em relação às mudanças que se estabeleciam. Pandit (2008) observa que a própria lei que regulamentava o efetivo exercício da profissão persistia em chamar os farmacêuticos de boticários. O Regimento da Junta de Higiene Pública, aprovado pelo decreto imperial número 829, de 29 de setembro de 1851, documento que regulamentava a profissão, fazia menção ao técnico da preparação dos medicamentos por meio da palavra "boticário", e não se pense que a expressão dissesse https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Farm%C3%A1cia_de_Ouro_Preto Módulo 1 Técnico em Farmácia 26 respeito a profissionais sem diploma, pois o artigo 28 do referido regimento é claro: "os médicos, cirurgiões, boticários, dentistas e parteiras apresentarão seus diplomas..." (PANDIT, 2008). Esta confusão entre as nomenclaturas, farmacêuticos e boticários, teve o seu fim, quando surgiu o Decreto 2055, de dezembro de 1857, que estabelecia as condições para que os farmacêuticos, não habilitados, tivessem licença para continuar a ter suas boticas. A partir da segunda metade do século XIX, as boticas começam a ceder seu lugar às farmácias. As farmácias significavam a introdução de um novo padrão para o exercício dessa atividade, com espaços mais modernos, nos quais o cliente supunha uma formação acadêmica para o farmacêutico, como explana Pandit (2008). As maiores transformaões, no entanto, se deram entre o final do século XIX e o século XX, a partir do reconhecimento legal da profissão de farmacêutico, da especialização do saber com a criação das quatro primeiras escolas de farmácia mineiras – Ouro Preto, Juiz de Fora, Belo Horizonte, Alfenas, além da interação desta atividade com a pesquisa e com a indústria química. Até a década de 1930, a indústria nacional de medicamentos era em sua maioria de reduzidas dimensões, de origem familiar. Baseava-se no emprego de matérias-primas de origem vegetal e mineral, apresentando condições adequadas ao suprimento do mercado existente, àquela época bastante reduzidas. 4.6 Criação dos Conselhos A criação do Conselho de Farmácia foi uma ordem dos farmacêuticos após a 2ª Semana de Farmácia em São Paulo, ocorrida em 1936. Já em 1957 foi encaminhado um projeto ao governo e em 11 de novembro de 1960 foram criados os Conselhos Federal de Farmácia (CFF) e o Conselho Regional de Farmácia (CRF). No ano de 1969, houve a reforma universitária com implantação do currículo mínimo. 4.6.1 O Símbolo da Farmácia Como se pode observar na Figura, 8, a taça com a serpente nela enrolada é internacionalmente conhecida como símbolo da profissão farmacêutica. Sua origem remonta à antiguidade, sendo parte das histórias da mitologia grega. De acordo com as literaturas antigas, assim observou Pandit (2008), o símbolo da Farmácia ilustra o poder (cobra) da cura (taça). TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 27 Figura 8- Símbolo de farmácia Fonte: http://pharmaceuticoemfoco.blogspot.com.br/2011/10/significado-do-simbolo-da- farmacia.html (Acesso em 13/12/2017) 4.7 Conceitos Importantes Nesta seção tomaremos conhecimento acerca de alguns conceitos importantes fomentaram os estudos de farmácia. 4.7.1 Plantas Medicinais Gomes e Reis (2003) observaram em seus estudos que a primeira forma de uso dos medicamentos efetuada pelo homem foi feita a partir da manipulação de plantas medicinais. Certamente que muitas descobertas foram feitas durante a procura por novas fontes de alimentos, mas, provavelmente, um número significativo foi devido à curiosidade e desejo natural de investigação, que é inerente ao ser humano. Algumas plantas foram reconhecidas como venenos, outras passaram a ter uso medicinal e outras para fins recreacionais (uva do vinho). Dentre os estudiosos da antiguidade, devemos destacar Galeno, que se aprofundou no estudo das plantas medicinais, escrevendovários livros sobre farmácia e farmacologia clínica. Na Figura 9 a seguir, podemos observar as plantas medicinais nativas da Amazônia http://pharmaceuticoemfoco.blogspot.com.br/2011/10/significado-do-simbolo-da-farmacia.html http://pharmaceuticoemfoco.blogspot.com.br/2011/10/significado-do-simbolo-da-farmacia.html Módulo 1 Técnico em Farmácia 28 Figura 9- Plantas medicinais da Amazônia Fonte: https://www.vix.com/pt/bdm/medicina-alternativa/2257/plantas-medicinais-da-amazonia-e- seus-beneficios (Acesso em 13/12/2017) Na atualidade, as plantas mais consumidas no mundo são: Coffea arabica = café; Nicotiana tabacu = tabaco; Cola acuminata= bebidas tipo cola (Coca Cola, Pepsi, etc.). No Brasil: Paulinia cupana = guaraná; Ilex paraguariensis = mate. De acordo com Gomes e Reis (2003), existem cerca de 127 mil espécies diferentes de plantas no Brasil, sendo um grande número delas usadas com fins medicinais. Imaginando um rendimento de 0,001% na descoberta de novos remédios a partir de plantas brasileiras, se pode imaginar o surgimento de mais de 100 medicamentos genuinamente nacionais. São exemplos de plantas medicinais: camomila, boldo-do-chile, alecrim, alho, arnica, carqueja, erva-cidreira, malva, e sálvia. 4.7.2 Medicamentos Os medicamentos (Figura 10) são produtos especiais, elaborados com a finalidade de diagnosticar, prevenir, curar doenças ou aliviar seus sintomas, sendo produzidos com rigoroso controle técnico, para atender às especificações determinadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). https://www.vix.com/pt/bdm/medicina-alternativa/2257/plantas-medicinais-da-amazonia-e-seus-beneficios https://www.vix.com/pt/bdm/medicina-alternativa/2257/plantas-medicinais-da-amazonia-e-seus-beneficios TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 29 Figura 10- Medicamentos Fonte: http://www.hipolabor.com.br/blog/2014/12/19/hipolabor-explica-qual-diferenca-entre- remedios-e-medicamentos/ (Acesso em 13/12/2017) Como observam Gomes e Reis (2003), o efeito do medicamento está atrelado a uma ou mais substâncias ativas com propriedades terapêuticas, que são reconhecidas cientificamente, fazendo parte da composição do produto, denominadas fármacos, drogas ou princípios ativos. Para tanto, são seguidas normas rígidas, de modo que os medicamentos sejam utilizados, desde a sua pesquisa e desenvolvimento, até a sua produção e comercialização. Finalidade dos medicamentos: Os medicamentos têm como finalidade o alívio dos sintomas, a cura e prevenção das doenças, além do diagnóstico, conforme observaremos a seguir. No que diz respeito ao alívio dos sintomas, os medicamentos têm a função de diminuir ou até eliminar os sintomas, tais como: dor, febre, inflamação, tosse, coriza, vômitos, náuseas, ansiedade, insônia, etc., embora não atuem nas causas. Uma vez os sintomas sejam aliviados, o medicamento pode mascarar a doença, dando a falsa impressão de cura. Neste sentido, é importante que o médico seja consultado, bem como o farmacêutico. Quanto à cura das doenças, os medicamentos têm como função eliminar a causa de determinadas enfermidades, como infecções e infestações. São exemplos destes medicamentos os antibióticos, antihelmínticos (medicamentos contra vermes), antiprotozoários (medicamentos contra malária, giardíase e amebíase). Além disso, os medicamentos podem corrigir a função corporal deficiente, a partir de suplementos hormonais, vitamínicos, minerais e enzimáticos, etc. Os medicamentos atuam também na prevenção das doenças, auxiliando o organismo a se proteger de determinadas doenças. Alguns exemplos são: soros, vacinas, antissépticos, complementos vitamínicos, minerais e enzimáticos, profiláticos da cárie, etc. No que tange ao diagnóstico, os medicamentos auxiliam na detecção de determinadas doenças, além de avaliar o funcionamento de órgãos. Neste grupo estão os contrastes radiológicos, por exemplo. http://www.hipolabor.com.br/blog/2014/12/19/hipolabor-explica-qual-diferenca-entre-remedios-e-medicamentos/ http://www.hipolabor.com.br/blog/2014/12/19/hipolabor-explica-qual-diferenca-entre-remedios-e-medicamentos/ Módulo 1 Técnico em Farmácia 30 4.7.3 Diferenças entre Remédio e Medicamento Nos estudos de Bresolin e Cechinel Filho (2010), observamos que no dia a dia é comum confundir as nomenclaturas remédio e medicamento, como se fossem sinônimas. No entanto, elas não significam a mesma coisa. Como afirmam os autores (Op. cit.), a ideia de remédio está associada a todo e qualquer tipo de cuidado utilizado para curar ou aliviar doenças, sintomas, desconforto e mal-estar. São chamados de remédios: banho quente ou massagem para diminuir as tensões; chás caseiros e repouso, em caso de resfriado; hábitos alimentares saudáveis e prática de atividades físicas, para evitar o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis; medicamentos para curar doenças, entre outros. Denominam-se medicamentos as preparações tecnicamente elaboradas em farmácias (medicamentos manipulados) ou indústrias (medicamentos industriais), que devem seguir determinações legais de qualidade, segurança e eficácia. Resumindo, um preparado caseiro com plantas medicinais pode ser um remédio, mas ainda não é um medicamento. Este, por sua vez, deve atender uma série de exigências do Ministério da Saúde, visando garantir a segurança dos consumidores. 4.7.4 Como é Desenvolvido um Medicamento Atualmente? Bresolin e Cechinel Filho (2010) nos fazem lembrar de que antigamente, os medicamentos eram provenientes da natureza, em especial das plantas. Quanto a sua eficácia, só se poderia saber após o uso. Uma vez não eram testados cientificamente, nem sempre se podia ter certeza quanto a esta eficácia. Alguns medicamentos são empregados há muitos anos, como o ácido salicílico, por exemplo, extraído da casca do salgueiro, que é até hoje utilizado como esfoliante dermatológico. No final do século XIX, serviu como base para o desenvolvimento de outros fármacos, como o ácido acetilsalicílico (a aspirina). Este e outros medicamentos não passaram por processos e testes para verificar sua atividade, mas são respaldados pela tradição do seu uso e o seu “passado” (BRESOLIN; CECHINEL FILHO, 2010). Entretanto, se observa a importância de assegurar que sua fabricação seja feita com qualidade, além de continuar observando seu uso pela população, para ver se ocorrem efeitos indesejáveis ou perigosos nas pessoas. Atualmente, os medicamentos surgem em função de novas doenças ou de novas formas de combater aquelas já conhecidas. Acerca do seu uso, os autores observaram. Como foram introduzidos em uma época de maior desenvolvimento tecnológico, temos capacidade técnica para garantir que sejam seguros e eficazes. Assim, usá-los será mais vantajoso do que não usá-los. No século XX, a partir de meados dos anos 50, métodos específicos de pesquisa e avaliação de medicamentos começaram a ser desenvolvidos para atestar TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 31 propriedades fundamentais, como segurança, eficácia e qualidade (BRESOLIN; CECHINEL FILHO, 2010). Todo e qualquer medicamento, seja novo ou antigo, tem que ser: (1) Seguro, isto é, ter níveis aceitáveis de toxicidade; ser incapaz de representar uma ameaça ao usuário, porque a possibilidade de causar efeitos tóxicos injustificados é pequena; (2) Eficaz, isto é, que atinge os efeitos propostos; (3) De qualidade: esta é uma característica que precisamos conhecer e entender melhor. 4.8 Formas Farmacêuticas (FF) A forma como um fármaco ou princípio ativo se apresenta como medicamento, é chamada de forma farmacêutica. Estaleva o fármaco até o organismo. Nas formas farmacêuticas, os fármacos e os auxiliares de formulação podem ser escolhidos e combinados de várias maneiras, podendo fornecer o melhor resultado. Muitas são as possibilidades de classificar as formas farmacêuticas, conforme será observado a seguir (Figura 11). Sólidas: Comprimidos, drágeas, cápsulas, pós e pílulas são formas orais; Supositórios são formas para administração retal, ou seja, pelo ânus; Óvulos devem ser introduzidos na vagina; Existem ainda formas sólidas, que podem ser implantadas sob a pele, como alguns hormônios contraceptivos. Semissólidas: Unguentos, pomadas, cremes e pastas para aplicar na superfície do corpo. Líquidas: Soluções, xaropes e suspensões (via oral); Emulsões e loções para a pele; Colírios para os olhos; Líquidos para injeção (devem ser estéreis). Gases: Líquidos inalatórios, que dão origem às formas gasosas, como alguns anestésicos, e gases medicinais (o oxigênio, por exemplo). Módulo 1 Técnico em Farmácia 32 Figura 11- Formas farmacêuticas (FF) Fonte: https://falecomofarmaceutico.wordpress.com/2015/01/03/formas-farmaceuticas-por-que- existem-medicamentos-em-forma-de-capsulas-suspensao-cremes-e-tantas-outras/ (Acesso em 13/12/2017) As diferentes formas existem para: Para facilitar a administração; Garantir a precisão da dose; Proteger a substância durante o percurso pelo organismo; Garantir a presença no local de ação; e, Facilitar a ingestão da substância ativa. Em alguns casos, as formas farmacêuticas servem para facilitar a administração de medicamentos por pacientes de faixas etárias diferentes ou em condições especiais. Para uma criança, por exemplo, é mais fácil engolir gotas em um pouco de água do que engolir um comprimido, assim observaram Bresolin e Cechinel Filho (2010). 4.9 Vias de administração A via de administração é a maneira como o medicamento entra em contato com o organismo, é a porta de entrada, podendo ser via oral (boca), retal (ânus), parenteral (injetável), dermatológica (pele), nasal (nariz), oftálmica (olhos), sublingual (embaixo da língua), dentre outras, como ilustra a Figura 12. Cada via é indicada para uma situação específica, e apresenta vantagens e desvantagens. Uma injeção, por exemplo, é sempre incômoda e muitas vezes dolorosa, mas, por outro lado, apresenta efeito mais rápido (BRESOLIN; CECHINEL FILHO, 2010). https://falecomofarmaceutico.wordpress.com/2015/01/03/formas-farmaceuticas-por-que-existem-medicamentos-em-forma-de-capsulas-suspensao-cremes-e-tantas-outras/ https://falecomofarmaceutico.wordpress.com/2015/01/03/formas-farmaceuticas-por-que-existem-medicamentos-em-forma-de-capsulas-suspensao-cremes-e-tantas-outras/ TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 33 Figura 12- Vias de administração Fonte: Elaborado pelo autor (2018) 4.9.1 Tipos de Medicamentos Bresolin e Cechinel Filho (2010) estudaram os tipos de medicamentos, tais como alopatas, homeopatas, fitoterápicos, e suas diferentes funções e aplicações, conforme observaremos a seguir. Alopatia: A Alopatia é a medicina tradicional, que consiste em utilizar medicamentos que vão produzir no organismo do doente uma reação contrária aos sintomas que ele apresenta, a fim de diminuí-los ou neutralizá-los. Observa-se, por exemplo, que se o paciente tem febre, o médico receita um remédio que faz baixar a temperatura. Em caso de dor, um analgésico. Os principais problemas dos medicamentos alopáticos são os seus efeitos colaterais e a sua toxicidade. Homeopatia: A Homeopatia é uma palavra de origem grega, que significa Doença ou Sofrimento Semelhante. Trata-se de um método científico para tratamento e prevenção de doenças agudas e crônicas, no qual a cura se dá por meio de medicamentos não agressivos que estimulam o organismo a reagir e fortalecem seus mecanismos de defesa naturais. Os medicamentos homeopáticos (Figura 13) podem ser utilizados com segurança em qualquer idade, até mesmo em recém-nascidos ou pessoas com idade avançada, desde que com acompanhamento do clínico homeopata. Os medicamentos homeopáticos são preparados a partir de substâncias extraídas da natureza, que são provenientes dos reinos: mineral, vegetal ou animal. Módulo 1 Técnico em Farmácia 34 Figura 13- Medicamentos homeopáticos Fonte: http://www.renascerhomeopathia.com.br/Tira-duvidas/homeopatia-e-o-mesmo-que- fitoterapia.html (Acesso em 13/12/2017) A homeopatia é um método de tratamento criado pelo médico alemão Samuel Hahnemann, em 1796, com base na Lei dos Semelhantes, citada pelo Pai da Medicina, Hipócrates no ano 450 a.C. De acordo com esta lei, os semelhantes se curam pelos semelhantes, isto é, para tratar um indivíduo que está doente, é necessário aplicar um medicamento que apresente (quando experimentado no homem sadio) os mesmos sintomas que o doente apresenta. Por exemplo, se uma pessoa sã ingerir doses tóxicas de certa substância, irá apresentar sintomas como dores gástricas, vômitos e diarreia. Contudo, se, por outro lado, for administrada essa mesma substância, preparada homeopaticamente, ao enfermo que apresenta dores gástricas, vômitos e diarreia, com características semelhantes àquelas causadas pela substância em questão, obtém-se, como resultado, a cura desses sintomas. Fitoterapia: Fitoterapia vem do grego e quer dizer tratamento das doenças por meio das plantas. É uma cultura já conhecida e praticada desde as antigas civilizações. Alicerça-se no conhecimento e na experiência. Sabe-se que as plantas têm a capacidade de curar diversas doenças, em especial por conter princípios ativos. O medicamento fitoterápico é obtido empregando-se exclusivamente matérias- primas ativas vegetais. Caracteriza-se pelo conhecimento da espécie vegetal, de sua eficácia e dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. Bresolin e Cechinel Filho (2010) chamam a atenção para o fato de que “não se considera medicamento fitoterápico aquele que, em sua composição, inclua substâncias ativas isoladas, ou seja, princípios ativos, de qualquer origem, nem as associações dessas com extratos vegetais”. Os medicamentos fitoterápicos apresentam efeitos terapêuticos, superiores aos medicamentos convencionais, mas com efeitos colaterais minimizados. A Valeriana (Valeriana officinalis), por exemplo, vem sendo usada no tratamento da insônia e depressão http://www.renascerhomeopathia.com.br/Tira-duvidas/homeopatia-e-o-mesmo-que-fitoterapia.html http://www.renascerhomeopathia.com.br/Tira-duvidas/homeopatia-e-o-mesmo-que-fitoterapia.html TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 35 leve e, ao contrário dos medicamentos convencionais, não provoca dependência e tolerância. No entanto, se ingerida em grandes quantidades e por tempo prolongado, pode ser tóxica para o fígado, donde se pode concluir que o fato de ser natural que não quer dizer que não possa fazer mal. 4.9.2 Medicamentos de Referência, Genéricos, Similares e Manipulados A seguir, trataremos dos medicamentos denominados de referência, genéricos e similares, conforme estudos de Bresolin e Cechinel Filho (2010). Medicamento de referência: Diz-se dos medicamentos de referência: [...] produto inovador, registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária e comercializado no País, cuja eficácia, segurança e qualidade foram comprovadas cientificamente junto ao órgão federal competente, por ocasião do registro, conforme a definição do inciso XXII, artigo 3º, da Lei n. 6.360, de 1976 (com redação dada pela Lei nº 9.787 de 10 de fevereirode 1999. Disponível em: http://e- legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=245). A inclusão de um produto farmacêutico na Lista de Medicamentos de Referência é uma forma de qualificá-lo como parâmetro de eficácia, segurança e qualidade para os registros de medicamentos genéricos e similares no Brasil, mediante a utilização deste produto como comparador nos testes de equivalência farmacêutica e/ou bioequivalência quando aplicáveis. Existem listas de medicamentos de referência que a Anvisa disponibiliza no seu endereço eletrônico, classificadas em A e B, como se observa a seguir. A Lista A contém medicamentos de referência para fármacos isolados. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/2c937f0041bd09b69645d79d63c1a 945/Lista+A+F%C3%A1rmacos+Isolados+05-11-2013.pdf?MOD=AJPERES, atualizada em 05/11/2013. A Lista B relaciona os medicamentos de referência para as associações. Disponível em http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/f60f400041bd0a59964ed79d63c1a 945/Lista+B+Associa%C3%A7%C3%B5es+05-11-2013.pdf?MOD=AJPERES, atualizada em 05/11/2013. São os medicamentos que, geralmente, se encontram há bastante tempo no mercado e têm uma marca comercial conhecida, como, por exemplo, a Novalgina®, que é o medicamento de referência para o genérico Dipirona. http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=245 http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=245 http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/2c937f0041bd09b69645d79d63c1a945/Lista+A+F%C3%A1rmacos+Isolados+05-11-2013.pdf?MOD=AJPERES http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/2c937f0041bd09b69645d79d63c1a945/Lista+A+F%C3%A1rmacos+Isolados+05-11-2013.pdf?MOD=AJPERES http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/f60f400041bd0a59964ed79d63c1a945/Lista+B+Associa%C3%A7%C3%B5es+05-11-2013.pdf?MOD=AJPERES http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/f60f400041bd0a59964ed79d63c1a945/Lista+B+Associa%C3%A7%C3%B5es+05-11-2013.pdf?MOD=AJPERES Módulo 1 Técnico em Farmácia 36 Medicamento genérico: O medicamento genérico tem como principais características: É igual ao medicamento de referência e possui qualidade, eficácia terapêutica e segurança comprovadas através de testes científicos; Não possui nome de marca, somente a denominação química de acordo com a Denominação Comum Brasileira (DCB); Pode ser substituído pelo medicamento de referência pelo profissional farmacêutico ou vice-versa. De acordo com Bresolin e Cechinel Filho (2010), os genéricos podem ser produzidos a partir da renúncia da patente, que são concedidas por até 20 anos. Vencida a patente, essa tecnologia passa a ser de domínio público, quando poderão ser registrados medicamentos genéricos. Os autores afirmam ainda: A intercambialidade, ou seja, a segura substituição do medicamento de referência pelo seu genérico é assegurada por testes de bioequivalência realizados em seres humanos (o que garantem que serão absorvidos na mesma concentração e velocidade que os medicamentos de referência) e equivalência farmacêutica (que garantem que a composição do produto é idêntica ao do medicamento inovador que lhe deu origem). Essa intercambialidade somente poderá ser realizada pelo farmacêutico responsável, pela farmácia ou drogaria e deverá ser registrada na receita médica. Graças a estes testes, os medicamentos genéricos são intercambiáveis. Ou seja, acobertados pela lei, podem substituir os medicamentos de referência indicados nas prescrições médicas. A troca, quando o médico não prescrever diretamente o genérico, pode ser recomendada pelo farmacêutico responsável, nas drogarias, com absoluta segurança para o consumidor. Os medicamentos genéricos são identificados por uma grande letra "G" azul impressa sobre uma tarja amarela e, pela frase "Medicamento Genérico - Lei nº 9.787, de 1999" logo abaixo do nome do princípio ativo que os identifica, como ilustra a Figura 14, podem. Os genéricos são, em média, 40% mais baratos que os medicamentos de Referência (ou inovadores), basicamente porque os fabricantes de medicamentos genéricos não necessitam fazer investimentos em pesquisas para o seu desenvolvimento, visto que as formulações já estão definidas pelos medicamentos de referência. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 37 Figura 14- Medicamento genérico Fonte: http://www.farmaceuticas.com.br/medicamentos-genericos-similares-intercambiaveis-e- referencia-confuso/ (Acesso em 13/12/2017) Outro motivo para os preços reduzidos dos genéricos diz respeito ao marketing uma vez que os seus fabricantes não necessitam fazer propaganda, já que não há marca a ser divulgada. O programa de medicamentos genéricos foi criado no Brasil em 1999, com a promulgação da Lei 9.787, formulada com o objetivo de implementar uma política consistente de auxílio ao acesso a tratamentos medicamentosos no País. Com preços no mínimo 35% menores que os medicamentos de marca, os genéricos já estão colaborando para que muitos brasileiros encontrem uma alternativa viável e segura para seguir as prescrições médicas corretamente. É importante ressaltar que as aquisições de medicamentos e as prescrições médicas e odontológicas de medicamentos, no que tange ao Sistema Único de Saúde (SUS), adotarão obrigatoriamente a Denominação Comum Brasileira (DCB), ou seja, pelo nome do princípio ativo. Por outro lado, na rede privada de saúde, a prescrição fica a critério do médico responsável, podendo ser realizada sob nome genérico ou comercial. Caso o prescritor tenha ressalvas quanto à substituição de medicamentos, deve explicitá-las na própria prescrição, de próprio punho, de forma clara, legível e inequívoca. Medicamento similar: O medicamento similar possui as características descritas a seguir: São produzidos após vencer a patente dos medicamentos de referência, sendo identificados por um nome de marca; Possuem eficácia, segurança e qualidade comprovadas a partir de testes científicos; São registrados pela Anvisa. Os produtos similares são aqueles que têm apenas equivalência farmacêutica com os produtos inovadores. Por lei, são obrigados a apresentar testes que comparam a sua http://www.farmaceuticas.com.br/medicamentos-genericos-similares-intercambiaveis-e-referencia-confuso/ http://www.farmaceuticas.com.br/medicamentos-genericos-similares-intercambiaveis-e-referencia-confuso/ Módulo 1 Técnico em Farmácia 38 biodisponibilidade com a biodisponibilidade dos inovadores, mas sem a exigência de que sejam estatisticamente iguais. Eles possuem o mesmo fármaco e indicação terapêutica do medicamento de referência, entretanto podem diferir em características relativas ao tamanho e forma do produto, prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes e veículos. Os medicamentos similares não podem ser substituídos pelo medicamento de referência nem pelo medicamento genérico. Comparando o exemplo anterior, o similar da NOVALGINA® pode ser, por exemplo, Anador, Dipigina, Nevraldor, Magnopyrol, etc. Medicamento manipulado: São aqueles produzidos mediante apresentação de receita médica, com dose e quantidade adequadas evitando que o paciente tome várias cápsulas ao mesmo tempo (Figura 15). Observam-se a seguir as suas principais características (Figura 16): As doses são individualizadas; Além de ter um custo mais acessível, é prescrito na quantidade e doses exatas para o tratamento, evitando perdas; Propicia o uso de medicamentos não disponibilizados pela indústria farmacêutica; Associa, quando viável, princípios ativos diferentes em uma mesma fórmula, evitando que o paciente utilize vários medicamentos. Figura 15- Medicamentomanipulado Fonte: https://goldmedicamentos.wordpress.com/ (Acesso em 13/12/2017) https://goldmedicamentos.wordpress.com/ TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 39 Figura 16- Características dos medicamentos manipulados Fonte: Elaborada pelo autor (2018) 4.9.3 Farmácias e Drogarias Como observaram Gomes e Reis (2003), os medicamentos, por serem produtos que necessitam de uso especial, possuem uma Lei Federal que determina que somente devam ser comercializados em locais específicos, ou seja, farmácias e drogarias, que são considerados estabelecimentos de saúde, devendo possuir um farmacêutico como responsável técnico, com autorização da Vigilância Sanitária e do Conselho de Farmácia. Diferença entre Farmácias e Drogarias: Farmácias: estabelecimentos de saúde que comercializam e orientam sobre o uso de medicamentos manipulados. Drogarias: estabelecimentos de saúde que comercializam e orientam sobre o uso de medicamentos industriais. Serviços farmacêuticos que podem ser prestados nas farmácias e drogarias: Orientação sobre o uso do medicamento; Administração de medicamentos (nebulização, aplicação de injetáveis e uso oral); Acompanhamento da pressão arterial e temperatura; Monitoramento da glicemia capilar por meio de autoteste. Módulo 1 Técnico em Farmácia 40 REFERÊNCIAS BRESOLIN, T.M.B.; CECHINEL FILHO, V. (Organizadores). Fármacos e medicamentos: uma abordagem multidisciplinar. São Paulo: Santos, 2010. DIAS, J. P. S. A farmácia e a história uma introdução à história da farmácia, da farmacologia e da terapêutica. História e sociologia da farmácia. Lisboa: Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, 2005. GOMES, M. J. V. M.; REIS, A. M. M. Ciências farmacêuticas: uma abordagem em farmácia hospitalar. São Paulo: Atheneu, 2003. PANDIT, N. K. Introdução às ciências farmacêuticas. Porto Alegre: Artmed, 2008. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 41 ANOTAÇÕES: _____________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ Módulo 1 Técnico em Farmácia 42 ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ANATOMIA E FISIOLOGIA TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 45 5 ANATOMIA E FISIOLOGIA A Anatomia pode ser considerada uma ciência que estuda macroscopicamente a constituição do corpo humano pela dissecação de peças de cadáveres já fixadas com soluções apropriadas. A palavra é de origem grega, que significa ana = em partes; tomein – cortar. Os sistemas que, em conjunto, compõem o organismo do indivíduo são os seguintes: Sistema tegumentar, sistema esquelético (ossos, músculos e articulações), o sistema digestivo, sistema respiratório, circulatório, sanguíneo, urinário, genital feminino e masculino, nervoso, sensorial e endócrino. 5.1 Composição do Organismo De acordo com Thibodeau; Patton (2002), o organismo humano consiste em um complexo conjunto de órgãos agrupados em aparelhos ou sistemas. Os órgãos são formados por pequenas unidades vivas chamadas células. Todas as células do organismo humano necessitam de um suprimento de oxigênio e outros nutrientes para obter energia, para manter sua integridade estrutural e para sintetizar as substâncias essenciais a sua função e a do organismo. A produção de energia, a regulação da atividade celular e a síntese de substâncias são realizadas mediante reações químicas, e o conjunto destas reações químicas que ocorrem no organismo é chamado de metabolismo. As reações químicas intracelulares produzem substâncias (resíduos ou catabólicos), entre as quais o dióxido de carbono, que necessitam ser eliminados porque o seu acúmulo leva à disfunção celular e finalmente à morte celular. Tanto o suprimento de oxigênio e nutrientes quanto à retirada dos resíduos é feita pelo sangue. O sangue se abastece de oxigênio e se desfaz do dióxido de carbono nos pulmões e se abastece de nutrientes por meio da absorção de alimentos digeridos no tubo digestivo. Certas células são mais dependentes de um suprimento contínuo de oxigênio do que outras: as fibras musculares cardíacas toleram apenas alguns segundos sem oxigênio, enquanto os neurônios cerebrais podem suportar de 4 a 6 minutos. Algumas outras células podem passar períodos maiores sem oxigênio e ainda assim sobreviverem como as células musculares e da pele, por exemplo. A falta de oxigênio por um tempo acima do tolerável leva à morte celular que, por conseguinte leva à morte de órgãos e finalmente à morte do organismo. 5.2 Divisão do Corpo Humano De acordo com Lacerda (2009), o corpo humano divide-se em cabeça, tronco e membros, como ilustra a Figura 1 a seguir. Módulo 1 Técnico em Farmácia 46 Figura 1 - Esqueleto humano Fonte: Brasil (2003a) Cabeça: A cabeça é dividida em duas partes: crânio e face. Como preconiza Lacerda (2009), uma linha imaginária passando pelo topo das orelhas e dos olhos é o limite aproximado entre estas duas regiões. O crânio contém o encéfalo no seu interior, na cavidade craniana. A face é a sede dos órgãos dos sentidos da visão, audição, olfato e paladar e abriga as aberturas externas do aparelho respiratório e digestivo. Tronco: O tronco é dividido em pescoço, tórax e abdome, conforme descrito a seguir. Pescoço: O pescoço contém várias estruturas importantes. É suportado pela coluna cervical que abriga no seu interior a porção cervical da medula espinhal. As porções superiores do trato respiratório e digestivo passam pelo pescoço em direção ao tórax e abdome. O pescoço contém, ainda, vasos sanguíneos calibrosos, que são responsáveis pela irrigação da cabeça. Tórax: Quanto ao tórax, o seu interior, na chamada cavidade torácica, contempla a parte inferior do trato respiratório (vias aéreas inferiores), os pulmões, o esôfago, o coração e os grandes vasos sanguíneos, que chegam ou saem do coração. É sustentado por uma estrutura TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 47 óssea da qual fazem parte a coluna vertebral torácica, as costelas, o esterno, as clavículas e a escápula. Abdome: O abdome está separado internamente do tórax pelo músculo diafragma e contém basicamente órgãos do aparelho digestivo e urinário. Possui grandes vasos no seu interior, que irrigam as vísceras abdominais e os membros inferiores. Membros: Dos membros, dois são superiores ou torácicos e dois são inferiores ou pélvicos. Possuem uma raiz, que se une ao tronco e uma parte livre. A raiz do membro superior corresponde ao ombro e a parte livre divide-se em: braço, antebraço e mão, a parte anterior da mão é o dorso e a posterior a palma. A raiz do membro inferior é chamada quadril e a parte livre divide-se em coxa, perna e pé, onde se encontra a planta e o dorso do pé. 5.3 Variação Anatômica e Normal Uma vez que anatomia utiliza como material de estudo o corpo do animal e, no caso da anatomia humana, o homem, torna-se necessário fazer alguns comentários sobre este material. A simples observação de um grupamento humano evidencia, de imediato, diferenças morfológicas entre os elementos que compõem o grupo. Estas diferenças morfológicas são denominadas variações anatômicas e podem apresentar-se externamente ou em qualquer dos sistemas do organismo, sem que isso traga prejuízo funcional para o indivíduo. 5.3.1 Fatores Gerais de Variação Anatômica As variações anatômicas individuais são acrescentadas a alguns fatores decorrentes da idade, do sexo, da raça, do biótipo, e da evolução humana (PIRES, 2012). a) idade: notáveis modificações anatômicas ocorrem desde a fase intrauterina até a fase senil. Exemplo: o timo, que atinge seu máximo na vida fetal e com o progredir da idade regride, até desaparecer na vida adulta; b) sexo: é o caráter do masculino ou feminino. Mesmo os órgãos que são comuns a ambos os sexos podem apresentar variações. Por exemplo, a disposição de tecido gorduroso subcutâneo, habitualmente mais frequente no sexo feminino; c) raça: cada agrupamento humano possui caracteres físicos comuns, externa e internamente relacionados às raças branca, negra e amarela. Um exemplo é a vascularização do coração que é muito mais abundante no negro do que no branco; d) biótipo: é o resultado da soma dos caracteres herdados e dos caracteres adquiridos por influência do meio e da sua inter-relação. Distinguem-se os grupos chamados de longilíneos, mediolíneos e brevelíneos; e) evolução: sugere o aparecimento de diferenças morfológicas, no decorrer dos tempos. Módulo 1 Técnico em Farmácia 48 5.3.2 Anomalias e Monstruosidade Quando a modificação do padrãoanatômico causa prejuízo funcional, no entanto permite a continuidade da vida do indivíduo, diz-se que se trata de uma anomalia. Se esta for acentuada, de modo a deformar profundamente a construção do corpo do indivíduo, sendo, em geral, incompatível com a vida, denomina-se monstruosidade. Como exemplo de monstruosidade tem-se a agenesia, que quer dizer a não formação do encéfalo. O estudo deste assunto é feito em Teratologia. 5.3.3 Posição Anatômica Para evitar o uso de termos diferentes nas descrições anatômicas, considerando-se que a posição pode ser variável, optou-se por uma posição padrão, denominada posição de descrição anatômica, conforme ilustra a Figura 2 a seguir. Figura 2 - Posição anatômica Fonte: Pires (2012) 5.3.4 Planos Anatômicos Para efeitos de estudo, utilizam-se vários planos de divisão do corpo, os chamados planos anatômicos, como ilustra a Figura 3 abaixo. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 49 Figura 3 - Planos anatômicos Fonte: Brasil (2003a) Plano sagital mediano: É um plano imaginário que passa longitudinalmente pelo corpo e o divide em metades direita e esquerda. O plano sagital mediano atravessa as superfícies ventral e dorsal do corpo nas chamadas linhas medianas ou médias anteriores e linhas medianas ou médias posteriores, respectivamente. Plano frontal ou coronal: É todo plano que intercepta o plano sagital mediano em um ângulo reto e divide o corpo em metades anterior e posterior. Plano transversal ou horizontal: É todo plano que divide o corpo em metades superior e inferior. Vários termos são utilizados para se descrever as posições dos elementos anatômicos. O termo medial significa mais próximo à linha mediana, e lateral o mais afastado dele. Como exemplos: na mão, o polegar é lateral ao dedo mínimo, enquanto que no pé, o hálux (dedo grande) é medial ao dedo mínimo. Na perna, a face correspondente à tíbia é a face medial e a correspondente à fíbula a face lateral; Módulo 1 Técnico em Farmácia 50 O termo proximal significa mais próximo da raiz do membro ou origem do órgão e distal o mais afastado. Assim, no membro superior, onde o ombro é a raiz, tem-se como exemplo o cotovelo e o punho, sendo o cotovelo mais proximal da raiz em relação ao punho, e este seria mais distal. O termo superior significa o mais próximo da extremidade superior e inferior o mais próximo da extremidade inferior. Assim, tem-se o lábio superior e o inferior; a pálpebra superior e a inferior. 5.3.5 Eixos Imaginários O corpo humano também é dividido em três eixos imaginários, os quais serão ilustrados pela Figura 4 e descritos a seguir. Figura 4 - Eixos imaginários Fonte: Elaborada pelo autor (2014) Eixo vertical ou longitudinal: une a cabeça aos pés, classificado como heteropolar. Na posição de pé, situa-se em ângulo reto em relação ao solo. Eixo de profundidade ou anteroposterior: une o ventre ao dorso, classificado como heteropolar. Dispõe-se em ângulo reto em relação ao eixo longitudinal. Eixo de largura ou transversal: une o lado direito ao lado esquerdo, classificado como homopolar. Forma um ângulo reto com ambos os eixos, anteriormente mencionados. Os termos aferente e eferente indicam direção e são usados em anatomia para vasos e nervos. Aferente significa que impulsos nervosos ou o sangue são conduzidos da periferia para o centro, enquanto que eferente se refere à condução do centro para a periferia. 5.4 Anatomia e Fisiologia do Sistema Ósseo O termo osteologia significa o estudo dos ossos. Apesar de sua aparência simples, o osso é um tecido vivo, complexo e dinâmico, formado por um conjunto de tecidos distintos e TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 51 especializados que contribuem para seu arranjo final. Entre eles destacam-se o tecido ósseo, cartilaginoso, epitelial, tecidos formadores de sangue, nervoso e adiposo. Por esta razão, cada osso individual é um órgão. Partindo-se do princípio que um conjunto de órgãos que atuam com o mesmo objetivo funcional constitui um sistema, conclui-se que o conjunto formado por ossos e cartilagens dará origem ao Sistema Ósseo. As funções do sistema ósseo são: a) sustentação do organismo (apoio para o corpo); b) proteção de estruturas vitais (coração, pulmões, cérebro); c) base mecânica para o movimento; d) armazenamento de sais (cálcio, por exemplo); e) hematopoiese (produção de novas células sanguíneas). Os ossos podem ser classificados, de acordo com o formato, em quatro tipos: a) longos: comprimento maior que a largura e a espessura. Possuem uma parte média longa, chamada de diáfise e extremidades chamadas de epífise. Nas crianças existe uma camada entre a epífise e a diáfise chamada de placa epifisária, que é responsável pelo crescimento em comprimento do osso. Exemplos: fêmur, rádio, ulna e falanges; b) curtos: comprimento, largura e espessura que são aproximadamente iguais: Exemplo: ossos do carpo; c) chatos: comprimento e largura, que se equivalem e predominam sobre a espessura. Exemplos: escápula; d) irregulares: são ossos que não equivalem nem em comprimento, nem em largura e nem em espessura. Exemplos: ossos da base do crânio. 5.4.1 Divisão do Esqueleto O esqueleto é dividido em axial, que é composto pelos ossos da cabeça, pescoço e tronco, constituindo um total de 74 ossos (22 ossos do crânio, 26 da coluna vertebral, 1 osso hioide, e 25 das costelas e esterno); e apendicular, que é composto pelos membros superiores e inferiores, constituindo um total de 64 132 ossos (64 ossos dos membros superiores, 62 dos membros inferiores e 6 ossos dos ossículos da orelha). A união do esqueleto axial com o apendicular se faz mediante cinturas escapular e pélvica. Diante do exposto, afirma-se que o corpo humano é constituído por, aproximadamente, 206 ossos (BRASIL, 2003). A seguir apresenta-se a descrição da composição do esqueleto axial. Módulo 1 Técnico em Farmácia 52 Cabeça: Figura 5 - Ossos da cabeça Fonte: Brasil (2003a) Como ilustrado pela Figura 5 acima, a cabeça é formada pela face e crânio. O crânio é uma caixa óssea rígida que dá proteção ao encéfalo e possui orifícios de saída para os nervos cranianos e para a medula espinhal, além de fornecer abrigo para órgãos dos sentidos. É composto de vários ossos que formam junturas imóveis. Sua parte superior é convexa e recebe a denominação de calvária, enquanto que sua parte inferior é denominada base do crânio. Seus ossos pares são: parietais e temporais e os ímpares são: frontal, occipital, etmoide e esfenoide. Figura 6 - Esqueleto da face Fonte: Brasil (2003a) A face, como demonstra a Figura 6, é a parte anterior da cabeça, da fronte até ao mento, e de uma orelha externa até à outra. O formato básico da face é determinado pelos ossos subjacentes. Seus ossos estão basicamente fundidos e o único osso móvel da cabeça é a mandíbula, que é responsável pela mastigação. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 53 Localizam-se na face as cavidades onde se abrigam os órgãos dos sentidos do paladar, do olfato e da visão (em conjunto com o crânio). As cavidades nas quais se abrigam os olhos são chamadas de órbitas e são formadas por partes de vários ossos do crânio e da face. O nariz é formado pelos ossos nasais e na sua maior parte por tecido cartilaginoso. Os dentes se implantam no maxilar e na mandíbula. Os ossos pares da face são: nasais, lacrimais, cornetos, zigomáticos, palatinos, maxilas e os ímpares são: o vômer e a mandíbula. Tronco: No tronco estão a coluna vertebral e a caixa torácica. A coluna vertebral é constituída pela superposição de umasérie de ossos isolados denominados vértebras. Superiormente, se articula com o osso occipital (crânio); inferiormente, articula-se com o osso do quadril (Ilíaco). Figura 7 - Coluna vertebral Fonte: Brasil (2003a) Como ilustra a Figura 7, a coluna vertebral (Figura 7) é dividida em cinco regiões: Cervical, Torácica, Lombar, Sacral e Coccígea. São 7 vértebras cervicais, sendo as duas primeiras denominadas Atlas e Axis, respectivamente, 12 orácicas, 5 lombares, 5 sacrais e cerca de 4 coccígeas. Cada vértebra possui um espaço no centro, conhecido como forâmen vertebral, como ilustra a Figura 8. O posicionamento das vértebras, umas sobre as outras, permite a formação do canal vertebral, por onde passa a medula espinhal. Módulo 1 Técnico em Farmácia 54 Figura 8 - Forâmen vertebral Fonte: Brasil (2003a) A Figura 9 a seguir ilustra a caixa torácica, que é composta por vinte e quatro costelas, além do osso esterno. As costelas têm forma chata e alongada e o espaço entre elas é chamado de intercostal. Na sua maioria, fixa-se posteriormente nas vértebras da região torácica ou dorsal e anteriormente no osso esterno - osso achatado composto pelo manúbrio (parte superior), corpo (parte mediana) e apêndice xifoide (parte inferior). Figura 9 - Caixa torácica Fonte: Brasil (2003a) Aquelas diretamente articuladas ao osso esterno são denominadas costelas verdadeiras (da 1ª a 7ª); as costelas falsas (da 8ª a 10ª) são aquelas que se articulam com as TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 55 cartilagens do osso esterno, e não diretamente a ele. Já as costelas flutuantes (11ª e 12ª) são aquelas que não têm contato com o osso esterno, sendo fixadas nas vértebras da região dorsal. A caixa torácica óssea, além das costelas e esterno, inclui as vértebras torácicas e seus discos intervertebrais, formando um arcabouço ósteo-cartilaginoso que protege o coração, pulmões e alguns órgãos abdominais, como o fígado, por exemplo. A seguir, apresentam-se os estudos acerca da composição do esqueleto apendicular, os membros superiores e inferiores. O esqueleto dos membros superiores é composto pela cintura escapular (cíngulo peitoral) e pelos ossos dos braços e mãos. A cintura escapular une-se anteriormente ao manúbrio esternal e é formada pelas clavículas e escápulas. Embora seja muito móvel, a cintura escapular é sustentada e estabilizada por músculos inseridos nas costelas, esterno e vértebras. A região do braço inicia-se no ombro ou cintura escapular, de onde parte a clavícula – osso longo e fino, situado na parte anterior do corpo. A escápula, de forma achatada e triangular, localiza-se na sua parte posterior. O úmero, que é osso do braço situado na porção proximal, apresenta forma longa e tem uma das extremidades encaixada na escápula – gerando a articulação que permite a realização de movimentos diferenciados em várias direções. O antebraço (porção distal), por sua vez, é composto por dois ossos denominados rádio e ulna, que se articulam com o úmero em uma de suas extremidades, formando o cotovelo. Para se distinguir os ossos do antebraço, basta esticar o braço com a palma da mão voltada para cima e observar que o osso do mesmo lado do dedo polegar é o rádio; o outro, na direção do dedo mínimo, é a ulna. Estes dois ossos possuem forma longa, porém são mais finos quando comparados ao úmero, como se pode observar na Figura 10 a seguir. Módulo 1 Técnico em Farmácia 56 Figura 10 - Ossos dos membros superiores Fonte: Brasil (2003a) Nas mãos, como ilustra a Figura 11, encontram-se três diferentes grupos de ossos. O punho ou carpo é formado por oito pequenos ossos. Na palma da mão ou metacarpo, somam-se cinco ossos pequeninos. Os dedos compõem-se de três ossículos denominados falange proximal, falange medial e falange distal – exceto o polegar, formado por apenas dois ossículos (não há falange medial). Figura 11 - Ossos da mão Fonte: Brasil (2003a) O quadril ou cintura pélvica, como se observa na Figura 12 abaixo, é considerado parte integrante do esqueleto dos membros inferiores. É formado por três ossos - ilíaco, ísquio e púbis – que, juntamente, com o sacro e o cóccix, constituem a bacia ou pelve. O íleo é o maior osso do quadril e situa-se na parte superior lateral da pelve, oferecendo suporte para as vísceras abdominais. Forma a parte superior do acetábulo (depressão côncava) na TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 57 face lateral do osso do quadril, onde se articula com a cabeça do fêmur. Sua parte superior é conhecida como crista ilíaca. O ísquio forma a parte póstero-inferior da pelve e é o principal ponto de apoio quando a pessoa está sentada. O púbis situa-se na parte anterior da pelve e liga-se ao ílio e ao ísquio, originando o que se denomina sínfise púbica. Figura 12 - Ossos da cintura pélvica Fonte: Brasil (2003a) Na coxa, encontra-se o fêmur, o mais longo osso do corpo humano, que tem uma de suas extremidades articuladas com o quadril e a outra, com o joelho. A patela fica localizada no joelho, o qual une a coxa com a perna. A tíbia localiza-se na parte anterior da perna; a fíbula, na parte posterior. Podem ser diferenciadas pela espessura: a primeira é mais grossa que a segunda (também conhecida como osso da canela). A extremidade distal da fíbula forma o maléolo externo, chamado de osso do tornozelo, como ilustra a Figura 13 a seguir. Figura 13 - Ossos dos membros inferiores Fonte: Thais Arraes (2016) Módulo 1 Técnico em Farmácia 58 Os pés, principais pontos de apoio de todo o esqueleto, são compostos por três divisões distintas: tarso, metatarso e falange. Tarso (com sete ossos) é a parte articulada com a perna, onde também se encontra o calcanhar; o metatarso (com cinco ossos) é a região mediana do peito do pé; a falange (com quatorze ossos) é a extremidade do corpo e divide-se em proximal, média e distal. O hálux só possui a falange proximal e distal. Em um pé, totalizam-se 26 ossos, conforme ilustra a Figura 14. Figura 14 - Ossos do pé Fonte: Brasil (2003a) 5.5 Anatomia e Fisiologia do Sistema Articular Articulação ou juntura é a união entre duas peças (ossos ou cartilagens), que agem como alavancas na movimentação óssea, promovendo o crescimento de ossos longos, formando elementos que amortecem o movimento, entre outras funções. Embora as articulações apresentem diferenças significativas entre si, é possível classificá-las de diversas formas, como quanto ao tipo de movimento que elas promovem, o tipo de tecido que interpõe as peças articuláveis, a dependência dos antímeros para a articulação e também de acordo com os componentes da articulação. 5.5.1 Classificação das Articulações De acordo com o tecido que interpõe as peças articuláveis, podem-se classificar as articulações em três grandes grupos: as articulações fibrosas, cartilagíneas e sinoviais, conforme descrito a seguir. Fibrosas: Unidas por tecido fibroso, possui pequeno grau de mobilidade. São do tipo: a) suturas: são junturas fibrosas onde os ossos estão próximos. São encontradas nos ossos do crânio. Podem ser do tipo plana, quando as margens dos ossos são planas (ossos frontais); denteada ou serrátil, quando as margens dos ossos são em forma de dente de serra (a maioria das junturas dos ossos da cabeça); e TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 59 escamosa, quando as margens dos ossos são em forma de escama (osso parietal e osso temporal); b) sindesmoses: são junturas cuja união dos ossos ocorre por umalonga faixa de tecido fibroso, formando, assim, ligamentos ou membranas interósseas. Apresenta baixo grau de movimentação. Um dos exemplos é a membrana interóssea entre o osso rádio e a ulna; c) gonfose: este tipo de articulação fibrosa é específico da ligação entre os dentes e os alvéolos dentários, e tem a função precípua de firmar o dente no seu receptáculo. É uma articulação imóvel, e caso haja movimentos maiores que 0,5mm, consideram-se patológicos; d) esquindelese: é uma articulação fibrosa na qual uma parte a se articular forma uma calha e a outra parte uma crista, fazendo, assim, a articulação. Ela é exemplificada pela articulação vômero-esfenoidal. Cartilagíneas: As articulações cartilaginosas são caracterizadas pela interposição de tecido cartilaginoso, seja fibrocartilagem, cartilagem hialina ou ambas. A seguir, seguem exemplos deste tipo de articulação. a) sincondroses: os ossos de uma articulação do tipo sincondrose estão unidos por uma cartilagem hialina. Muitas sincondroses são articulações temporárias, com a cartilagem sendo substituída por osso com o passar do tempo (isso ocorre em ossos longos e entre alguns ossos do crânio). As articulações entre as dez primeiras costelas e as cartilagens costais são sincondroses permanentes; b) sínfises: as superfícies articulares dos ossos unidos por sínfises estão cobertas por uma camada de fibrocartilagem. Entre os ossos da articulação há um disco fibrocartilaginoso (é característica distintiva da sínfise). Esses discos, por serem compressíveis, permitem que a sínfise absorva impactos. A articulação entre os ossos púbicos e a articulação entre os corpos vertebrais são exemplos de sínfises. Outros exemplos: manúbrio-esternal; intervertebrais; sacrais; púbica; do mento. Sinoviais: As articulações sinoviais são unidas por cartilagem com uma membrana sinovial que circunda a cavidade articular. Para a obtenção de um desempenho adequado e sem atritos, a maioria dessas articulações possui um lubrificante denominado líquido sinovial, razão de seu nome. Ressalta-se que as articulações sinoviais são as mais comuns e proporcionam o movimento livre entre os ossos que une, caracterizando-se pela presença em quase todas as articulações dos membros. Na composição dessas articulações encontra-se a cartilagem articular que reveste as superfícies articulares dos ossos. A união dos ossos ocorre por meio da cápsula articular e dos ligamentos. Na cápsula articular é encontrado o líquido sinovial (sinóvia), que ocupa a cavidade articular e lubrifica a juntura. Este tipo de articulação também apresenta componentes chamados de acessórios, http://pt.wikipedia.org/wiki/Dente Módulo 1 Técnico em Farmácia 60 ou seja, não estão presentes em todas as articulações sinoviais. Um deles são os discos e meniscos, que tem como função reduzir os impactos mecânicos na articulação. Os lábios ou orlas aumentam a profundidade da cavidade articular, permitindo melhor contato entre as superfícies que irão se articular. Bolsas sinoviais são estruturas saculares que contêm líquido similar ao sinovial, e estão situadas entre a pele e os ossos, tendão e osso, músculo e osso e ligamento e osso, cuja função é aliviar o atrito em algumas articulações como joelho e ombro. As bainhas dos tendões são estruturas tubulares que envolvem os tendões nas regiões onde o atrito é maior, como se pode observar na Figura 15 a seguir. Figura 15 - Componentes da articulação sinovial Fonte: Thais Arraes (2016) 5.5.2 Movimentos Articulares Os principais movimentos articulares serão descritos a seguir e ilustrados pela Figura 16. Flexão: Movimento no plano sagital, em que dois segmentos do corpo (proximal e distal) aproximam-se um do outro. Extensão: Movimento no plano sagital, em que dois segmentos do corpo (proximal e distal) afastam-se um do outro. Quando este movimento ultrapassa a posição anatômica é chamada de Hiperextensão. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 61 Abdução: Movimento no plano frontal, quando um segmento move-se para longe da linha central (média) do corpo. Adução: Movimento no plano frontal, a partir de uma posição de abdução de volta à posição anatômica, podendo até ultrapassá-la – Adução além da linha média. Circundução: Movimento circular de um membro que descreve um cone, combinando os movimentos de flexão, extensão, abdução e adução. Rotação externa: Movimento no plano horizontal, em que a face anterior volta-se para o plano mediano do corpo. Rotação interna: Movimento no plano horizontal, em que a face anterior volta-se para o plano lateral do corpo. Figura 16 - Movimentos articulares Fonte: Brasil (2003a) Módulo 1 Técnico em Farmácia 62 Para classificar as articulações quanto à funcionalidade, leva-se em consideração se a movimentação é feita em um, dois ou três eixos, chamados de articulação monoaxial, biaxial ou triaxial. Articulação monoaxial: Considera-se monoaxial quando uma articulação realiza movimentos apenas em torno de um eixo (1 grau de liberdade). As articulações que só permitem a flexão e extensão, como a do cotovelo, são monoaxiais. As principais variações monoaxiais são: a) gínglimo ou articulação em dobradiça, quando as superfícies articulares permitem movimento em um só plano. As articulações são mantidas por fortes ligamentos colaterais. Por exemplo: articulações interfalangeanas e úmero-ulnar; e, b) trocoide ou articulação em pivô, quando o movimento é exclusivamente de rotação. A articulação é formada por um processo em forma de pivô, rodando dentro de um anel ou um anel sobre um pivô. Por exemplo: articulação rádio- ulnar proximal e atlanto-axial. Articulação biaxial: Diz-se biaxial, quando uma articulação realiza movimentos em torno de dois eixos (2 graus de liberdade). As articulações que realizam extensão, flexão, adução e abdução, como a rádio-cárpica (articulação do punho) são biaxiais. Algumas variações das articulações biaxiais são: a) condilar, quando uma superfície articular ovoide ou condilar é recebida em uma cavidade elíptica, de modo a permitir os movimentos de flexão e extensão, adução e abdução e circundação, ou seja, todos os movimentos articulares, menos a rotação axial. Por exemplo: articulação do pulso; e, b) selar, quando as faces ósseas são reciprocamente côncavo-convexas. Permitem os mesmos movimentos das articulações condilares. Por exemplo: carpo- metacárpicas do polegar. Articulação triaxial: Quando uma articulação realiza movimentos em torno de três eixos (3 graus de liberdade). As articulações, que além de flexão, extensão, abdução e adução, permitem também a rotação, são ditas triaxiais, cujos exemplos típicos são as articulações do ombro e do quadril. Há uma variedade onde o movimento é poliaxial, chamada articulação esferoide ou enartrose, que é uma forma de articulação na qual o osso distal é capaz de movimentar- se em torno de vários eixos, que tem um centro comum. Existe ainda outro tipo de articulação chamada articulação plana, que permite apenas movimentos deslizantes. Exemplos: articulações dos corpos vertebrais e em algumas articulações do carpo e do tarso. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 63 5.6 Anatomia e Fisiologia do Sistema Muscular As células musculares, chamadas de fibras musculares, são especializadas em realizar a contração e o relaxamento. Estas fibras se unem em feixes para formar músculos, os quais se encontram fixados por suas extremidades. Assim, músculos são estruturas que movem os segmentos do corpo por encurtamento da distância que existe entre suas extremidadesfixadas, ou seja, por contração. Dentro do aparelho locomotor, os músculos são elementos ativos do movimento. Porém, a musculatura não assegura só a dinâmica, mas também a estática do corpo humano, pois mantém unida as peças ósseas determinando a posição e a postura do esqueleto. O músculo, constituído por fibras, possui forma alongada. A parte central é alargada, conhecida como ventre (porção carnosa contrátil) e as extremidades são afuniladas e se fixam aos ossos ou órgãos por meio de tendões (cordões fibrosos) ou aponeuroses (lâminas fibrosas). Tanto tendões quanto aponeuroses são esbranquiçados e brilhantes, muito resistentes, e praticamente inextensíveis, constituídos por tecido conjuntivo denso, rico em fibras colágenas. Ainda existe a fáscia muscular, que é uma lâmina de tecido conjuntivo que envolve cada músculo. Sua espessura pode variar de acordo com a função desempenhada. A função da fáscia é promover proteção e contenção durante os movimentos de tração, além de facilitar o deslizamento dos músculos entre si. Cada fibra muscular é uma célula longa e fina, com vários núcleos e filamentos microscópicos a preencher seu citoplasma. O conjunto de fibras constitui o feixe muscular e cada músculo possui numerosos feixes. Existem três tipos de músculos no corpo humano: músculos esqueléticos, músculos lisos e músculo cardíaco. Cada tipo tem características próprias e desempenha funções distintas. Músculos esqueléticos: São chamados de esqueléticos porque estão ligados aos ossos do esqueleto, como ilustra a Figura 17. Podem ser denominados de músculos voluntários por serem responsáveis pelos movimentos voluntários e de estriados, porque apresentam estriações quando vistos ao microscópio. Figura 17 - Músculo esquelético Fonte: Brasil (2003a) Módulo 1 Técnico em Farmácia 64 Estão sob o controle do sistema nervoso central. Áreas específicas do cérebro enviam suas ordens por meio de estímulos nervosos que seguem pela medula espinhal e pelos nervos periféricos até chegarem ao músculo, que se contrai ou relaxa dependendo do tipo de movimento desejado. Todos os movimentos corporais resultam da contração ou relaxamento dos músculos esqueléticos. Certos movimentos mais complexos envolvem a ação de vários músculos simultaneamente. Músculos lisos: São chamados de lisos por não apresentarem estriações à microscopia. Estão sob o controle do sistema nervoso autônomo, o que os caracteriza por músculos involuntários, visto que sua atividade independe de comando central consciente. A Figura 18 a seguir apresenta um exemplo de músculo liso. Figura 18 - Músculo liso Fonte: Brasil (2003a) Os músculos lisos são encontrados na parede da maioria dos órgãos tubulares do organismo, como os do tubo digestivo, aparelho urinário, vasos sanguíneos e brônquios. A contração e o relaxamento destes músculos alteram o calibre dos órgãos tubulares influindo, assim, no fluxo de substâncias por meio da sua luz (parte oca do órgão). São responsáveis, por exemplo, pela vasoconstrição e vasodilatação dos vasos sanguíneos, como também da motilidade gastrointestinal que promove a progressão do bolo alimentar a partir do tubo digestivo. Músculo cardíaco: Tipo de músculo especial que possui estriações à microscopia, como ilustra a Figura 19, mas que é involuntário. Está presente apenas no coração. A massa muscular cardíaca recebe o nome de miocárdio e é responsável pela função de bombeamento do coração. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 65 Figura 19 - Músculo cardíaco Fonte: Brasil (2003a) 5.6.1 Principais Músculos do Corpo Os principais músculos do corpo humano são aqueles da face e pescoço, e os músculos dos membros superiores e inferiores. Músculos da face e pescoço: Os músculos da face, ilustrados pela Figura 20, contraem-se e relaxam-se inúmeras vezes, o que os permite expressar sensações como sorrir, chorar, espantar-se, sentir dor, raiva, etc. Cada uma dessas expressões envolve movimentos de diversos músculos faciais, também conhecidos como mímicos. Módulo 1 Técnico em Farmácia 66 Figura 20 - Músculos da face e do pescoço Fonte: Brasil (2003a) Os principais músculos da face e do pescoço são: frontal, músculo do supercilio, orbicular dos olhos, músculo do nariz, bucinador, masseter, orbicular dos lábios, músculo depressor do lábio inferior e músculos platisma e esternocleidomastoides, conforme descrito a seguir. a) frontal: situa-se na testa e forma rugas quando elevado; b) músculo do supercílio: realiza os movimentos de elevação e aproximação das sobrancelhas; c) orbicular dos olhos: localiza-se em torno das pálpebras e realiza os movimentos de abrir e fechar os olhos; d) músculo do nariz: responsável pelo movimento de franzir o nariz; e) bucinador: situa-se na bochecha e atua nos movimentos de inflar e contrair; f) masseter: localiza-se nos lados da face, movimentando-se durante a mastigação. g) orbicular dos lábios: situa-se em volta dos lábios e é responsável pelo sopro, sucção, beijo estalado e assobio; h) músculo depressor do lábio inferior: atua na projeção do lábio inferior e na contração do queixo; i) músculos platisma e esternocleidomastoide: encontrados no pescoço, são responsáveis pela rotação da cabeça. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 67 Músculos dos membros superiores: A Figura 21 a seguir ilustra os músculos dos membros superiores, do tronco e dos membros inferiores. Figura 21 - Músculos dos membros superiores, do tronco e dos membros inferiores Fonte: Brasil (2003a) Na região do braço localizam-se os músculos com grandes massas, responsáveis pela força. Os principais são descritos a seguir. a) deltoide: encontra-se na articulação do ombro e produz a elevação do braço - é nele que se aplica a injeção intramuscular; Módulo 1 Técnico em Farmácia 68 b) bíceps: localiza-se na parte anterior do braço, sendo responsável pela flexão do antebraço sobre si mesmo – é bem delineado em pessoas que exercem práticas esportivas; c) tríceps: situa-se na parte posterior do braço e afasta o antebraço do bíceps; d) flexor dos dedos: situa-se na parte anterior do antebraço e promove a flexão dos dedos; e) extensor dos dedos: localiza-se na parte posterior do antebraço, sendo responsável pelo afastamento dos dedos. Músculos do tórax: Os principais são músculos do tórax encontram-se descritos a seguir e ilustrados pela Figura 21 acima exibida. a) trapézio: localiza-se na região superior das costas, sendo responsável pela elevação dos ombros - é nele que se realiza a massagem de conforto; b) grande dorsal: situa-se na região inferior das costas, tendo como função principal levar o braço para trás; c) peitoral maior: como o nome indica, localiza-se no peito, permitindo o movimento do braço para a frente; d) grande denteado: situa-se na parte lateral do tórax, promovendo a elevação das costelas, ajudando, dessa forma, o processo de respiração. Músculos do abdome: A seguir descrevem-se os principais são músculos do tórax ilustrados pela Figura 21 exibida anteriormente. a) reto abdominal: localiza-se na frente do abdome ou barriga, sendo responsável por dobrar o tórax sobre o abdome, ajudando na inspiração (entrada de ar no organismo) forçada; b) oblíquo externo: situa-se nos lados do abdome. Atua comprimindo as vísceras e inclinando o tórax para frente; c) diafragma: separa o tórax do abdome e ajuda na inspiração. A musculatura abdominal é também responsável pela sustentaçãodo peso e pressão dos órgãos viscerais. Músculos dos membros inferiores: Por fim, apresentam-se os músculos dos membros inferiores já ilustrados na Figura 21 exibida acima. a) grande glúteo ou glúteo superior: localiza-se nas nádegas e permite a extensão da coxa; b) quadríceps: situa-se na parte anterior da coxa, sendo responsável pela extensão da perna; TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 69 c) costureiro: é o músculo mais longo do corpo. Inicia-se no quadril, cruza a coxa e termina na lateral interna do joelho. Sua função é aproximar a coxa do abdome; d) bíceps crural ou femoral: localiza-se na face posterior da coxa, permitindo o movimento de flexão das pernas; e) gêmeos ou gastrocnêmicos: situam-se na face posterior da perna (“batata” da perna) e são responsáveis pela extensão dos pés. Por sua vez, os pés apresentam movimentos de extensão, flexão e rotação – possíveis devido à utilização dos músculos extensores e flexores neles inseridos por meio dos tendões, conforme ilustra a Figura 22 a seguir. Figura 22 - Músculos do pé Fonte: Brasil (2003a) 5.7 Anatomia e Fisiologia do Sistema Tegumentar Como preconizado em Brasil (2003a), a pele reveste todo o corpo humano, exercendo funções indispensáveis para a manutenção da vida, tais como a manutenção da temperatura corporal, a proteção contra agressões físicas, químicas e biológicas, a captação de sensações e a participação da síntese de vitamina D, pela utilização dos raios solares. A pele é composta pela mucosa, que é nome dado ao tegumento que reveste internamente as cavidades como, por exemplo, a mucosa oral. A coloração da pele depende da espessura (quanto mais espessa mais amarela), do grau de irrigação sanguínea (o que a torna mais ou menos rosada), da presença de melanina (um pigmento que escurece a pele) e da absorção do caroteno (responsável pela tonalidade amarela). Quanto maior a quantidade de melanina existente, mais intensa será a cor. 5.7.1 As Camadas da Pele De acordo com Brasil (2003a), a pele é formada por três camadas: a epiderme, a derme e a hipoderme ou tecido celular subcutâneo, conforme descrito a seguir. Módulo 1 Técnico em Farmácia 70 Epiderme: Formada por cinco camadas, a epiderme tem a camada córnea, a quinta delas, como sendo a mais rica em queratina. Esta compõe as palmas das mãos e das plantas dos pés. A camada responsável pelo surgimento das células epiteliais é a aquela mais interna, que se situa acima da derme. É chamada de germinativa ou basal. À medida que as células vão surgindo na camada basal, as outras vão amadurecendo e sendo empurradas para a as camadas superiores por aquelas mais jovens, sofrendo um processo de queratinização que as torna mais resistentes e impermeáveis, até que se depositem na camada superior da epiderme, momento em que estarão mortas e serão eliminadas por um processo chamado de descamação. A melanina, que é responsável pela coloração da pele, também está localizada nesta camada. Nas pessoas da raça negra a melanina exerce maior concentração. A epiderme é responsável pela impermeabilidade da pele, e isto dificulta a evaporação da água pela superfície do corpo. Derme: Ainda conforme Brasil (2003a), a derme está localizada logo abaixo da epiderme. Trata-se de um tipo de tecido conjuntivo que também possui fibras elásticas. Esta é uma camada bem vascularizada, onde se encontram as terminações nervosas, os vasos linfáticos, as glândulas sebáceas e alguns folículos pilosos. Na derme se desenvolvem as defesas contra os agentes nocivos foram capazes de vencer a primeira camada, que é a epiderme. Nesta camada, que é bem vascularizada, encontram-se as terminações nervosas, vasos linfáticos, glândulas sebáceas e alguns folículos pilosos. Nela se desenvolvem as defesas contra agentes nocivos que tenham vencido a primeira barreira, ou seja, a epiderme. A maioria dos testes cutâneos é realizada na derme, bem como a administração de vacinas, tais como a BCG. A derme mantém a pele em constante tensão elástica e forma impressão digital pela projeção das papilas dérmicas para a epiderme, em formato de cristas, separadas por sulcos. Hipoderme: O tecido celular subcutâneo ou hipoderme encontra-se logo abaixo da derme. Trata-se de um tecido conjuntivo, gorduroso, que representa uma importante reserva calórica para o organismo. Além disso, em algumas partes do corpo funciona como um coxim (uma espécie de almofada), chamado de panículo adiposo. Na hipoderme encontram-se os excessos de gordura. Em contrapartida, o panículo adiposo protege contra o fio. Distribui-se por toda a superfície do corpo e varia de acordo com a idade, sexo, estado nutricional e taxa de hormônios. A hipoderme é mais vascularizada que a derme, e, neste sentido, é capaz de absorver mais rapidamente as substâncias nela injetadas. Por esta razão é que recebe a administração de determinadas medicações, tais como a insulina, no caso de pacientes diabéticos (BRASIL, 2003a). TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 71 5.7.2 Os Anexos da Pele Os anexos da pele são: os pelos, glândulas sebáceas, glândulas sudoríparas e unhas, conforme se pode observar na Figura 23 a seguir. Figura 23 - Camadas e anexos da pele Fonte: Brasil (2003a) Pelos: Constituídos por células queratinizadas produzidas por folículos pilosos, os pelos se localizam na derme ou hipoderme, onde se abrem as glândulas sebáceas. Um pelo é composto pela raiz, que é a parte implantada na pele, e pela haste, que é a porção que se projeta da superfície. A função principal dos pelos é proteger as áreas de orifícios e olhos, pois possui rica inervação que lhes confere, também, o papel de aparelho sensorial cutâneo. Os tamanhos, a cor e a disposição dos pelos variam de acordo com a raça e com a região do corpo. Exceto por algumas regiões delimitadas, os pelos estão presentes em quase toda a superfície da pele. Glândulas sebáceas: Aos órgãos glandulares, pequenos e saculiformes, que se encontram presentes em quase toda a pele, abundantemente no couro cabeludo e na face, dá-se o nome de glândulas sebáceas. Elas se formam junto aos pelos. Nas regiões como o lábio, a glande e os pequenos lábios da vagina, os ductos das glândulas sebáceas se abrem diretamente na pele. Sua função é promover a secreção de gorduras que lubrificam e protegem a superfície da pele, exceto nas palmas das mãos e nas plantas dos pés, de acordo com estudos publicados em Brasil (2003a). Módulo 1 Técnico em Farmácia 72 Glândulas sudoríparas: São encontradas em toda a pele, exceto em certas regiões, como a glande. As glândulas sudoríparas têm como função secretar o suor – solução extremamente diluída, que contém pouquíssima proteína -, além do sódio, potássio, cloreto, da amônia e do ácido úrico. São mais numerosas nas palmas das mãos e nas plantas dos pés, pois se abrem diretamente na superfície cutânea. Uma vez atingindo a pele, o suor evapora, causando a diminuição da temperatura corporal. Daí o seu importante papel no controle da temperatura do corpo. As glândulas sudoríparas também exercem função excretora, visto que se observa a presença de catabólitos no suor. Uma vez desembocam nos folículos pilosos, são chamadas de glândulas sudoríparas apócrinas, localizando-se nas regiões axilares, perianal e pubiana. São estimuladas pela tensão emocional e sua secreção é ligeiramente viscosa e sem cheiro, porém, com a ação das bactérias da pele, o odor passa a ser desagradável. Unhas: As unhas recobrem a última falange dos dedos. São formadas por queratina dura e fixadas sobre a epiderme nos denominados leitos ungueais.As unhas crescem apenas em uma direção, longitudinalmente. Protegem as pontas dos dedos, o que evita traumatismos, e possuem em seu contorno uma espécie de selo denominado cutícula, que impede a entrada de agentes infecciosos, tais como bactérias. 5.7.3 Terminações Nervosas De acordo com Vilela (2003), toda a superfície cutânea é provida de terminações nervosas capazes de captar estímulos térmicos, mecânicos ou dolorosos. Tais terminações nervosas, ou receptores cutâneos, são especializadas na recepção de estímulos específicos. Além disso, alguns podem captar estímulos de natureza distinta. Entretanto, na epiderme não existem vasos sanguíneos. Os nutrientes e oxigênio chegam à epiderme por difusão, a partir de vasos sanguíneos da derme. Nas regiões da pele providas de pelo, há terminações nervosas específicas nos folículos capilares e outras, que são chamadas terminais ou receptores de Ruffini. As primeiras, formadas por axônios que envolvem o folículo piloso, captam as forças mecânicas aplicadas contra o pelo. Os terminais de Ruffini, com sua forma ramificada, são receptores térmicos de calor, conforme Vilela (2003). Na pele desprovida de pelo, e também naquela coberta por ele, encontram-se, ainda, três tipos de receptores comuns: os corpúsculos de Paccini, os discos de Merkel e as terminações nervosas livres, como ilustra a Figura 24 abaixo. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 73 Figura 24 - Receptores de pele Fonte: Bear; Connors; Paradiso (2002 apud VILELA, 2003) Corpúsculos de Paccini: Os corpúsculos de Paccini captam em especial os estímulos vibráteis e táteis. São formados por uma fibra nervosa cuja porção terminal é recoberta por várias camadas que correspondem a diversas células de sustentação, de acordo com Vilela (2003). A camada terminal é capaz de captar a aplicação de pressão, que é transmitida para as outras camadas e enviada aos centros nervosos correspondentes. Discos de Merkel: Os discos de Merkel possuem sensibilidade tátil e de pressão. Uma fibra aferente costuma estar ramificada com vários discos terminais destas ramificações nervosas. Estes discos englobam uma célula especializada, cuja superfície distal se fixa às células epidérmicas por um prolongamento de seu protoplasma. Assim, os movimentos de pressão e tração sobre epiderme desencadeiam o estímulo. Terminações nervosas livres: No caso das terminações nervosas livres, estas são sensíveis aos estímulos mecânicos, térmicos, em especial aos dolorosos. São formadas por um axônio ramificado, que é envolto por células de Schwann, sendo, por sua vez, ambos envolvidos por uma membrana basal. Na pele sem pelo, encontram-se, ainda, outros receptores específicos, descritos a seguir. Módulo 1 Técnico em Farmácia 74 Corpúsculos de Meissner: Os corpúsculos de Meissner são táteis e se encontram nas saliências da pele sem pelos, como nas partes mais altas das impressões digitais, por exemplo. São formados por um axônio mielínico, cujas ramificações terminais se entrelaçam com células acessórias. Bulbos terminais de Krause: Estes bulbos são receptores térmicos de frio. São formados por uma fibra nervosa, cuja terminação possui forma de clava. Estão situados nas regiões limítrofes da pele com as membranas mucosas, ao redor dos lábios e dos genitais, por exemplo. Para o profissional de saúde, a pele deve ser objeto de atenção especial, pois sua coloração, textura e aparência podem ser indicativos de alterações no organismo. Por outro lado, os cuidados básicos de higiene e hidratação são essenciais para a manutenção da saúde de uma forma geral. 5.8 Anatomia e Fisiologia do Sistema Respiratório De acordo com Pires (2012), a respiração é uma das características básicas dos seres vivos. Consiste na absorção, pelo organismo, de oxigênio, e a eliminação do gás carbônico resultante de oxidações celulares, enquanto que sangue é um elemento intermediário entre as células do organismo e o meio, servindo como condutor de gases entre eles. O pulmão é o órgão respiratório por excelência, embora, para facilitar a condução do ar, se desenvolvam órgãos especiais que promovem o rápido intercâmbio entre o ar e o sangue. O sistema respiratório é constituído por este conjunto de órgãos. 5.8.1 Divisão Anatômica do Sistema Respiratório Anatomicamente, o sistema respiratório pode ser dividido em duas partes: vias aéreas superiores e vias aéreas inferiores. As vias aéreas superiores são constituídas por órgãos tubulares, cuja principal função é a de conduzir o ar inspirado, filtrando-o, aquecendo-o e umidificando-o para facilitar o processo de troca gasosa, bem como conduzir o ar a ser expirado, eliminando, assim, o dióxido de carbono. Das vias aéreas superiores, fazem parte: o nariz, a cavidade nasal, a faringe, a laringe e os terços, superior e médio, da traqueia. Além de condutores de ar, a cavidade nasal, a faringe e a laringe cumprem as funções olfatórias, de via de condução de alimento e de fonação, respectivamente (PIRES, 2012). As vias aéreas inferiores têm início a partir do terço inferior da traqueia, e se estendem até os alvéolos pulmonares, passando por brônquios principais, lobares e segmentares e bronquíolos terminais, respiratórios e ductos alveolares. 5.8.2 Divisão Funcional do Sistema Respiratório Funcionalmente, o sistema respiratório também pode ser dividido em duas partes: TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 75 Zona condutora e Zona respiratória. A primeira é a porção do sistema respiratório, cuja função é a de levar o ar inspirado até a porção respiratória. Estende-se desde o nariz até os bronquíolos terminais. A zona respiratória é constituída pelos bronquíolos respiratórios, ductos alveolares e alvéolos pulmonares, onde já acontecem as trocas gasosas (hematose). Boca e nariz: A boca participa do sistema respiratório, dado que tem a necessidade de liberar o ar interno durante a fala, enquanto que o nariz é o órgão que comunica o meio externo ao interno. As fossas nasais iniciam-se nas narinas e se estendem até a faringe, dividindo-se por uma parede cartilaginosa chamada septo nasal. A inspiração (condução do ar para dentro) filtra as impurezas do ar, possibilitando que este chegue mais limpo aos pulmões. É um processo que ocorre porque no interior das fossas nasais encontram-se os pelos e o muco (secreção da mucosa nasal), cuja função é reter substâncias do ar, manter a umidade da mucosa e aquecer o ar, facilitando o desempenho dos outros órgãos, conforme ilustra a Figura 25 a seguir. Figura 25- Cavidade nasal e bucal Fonte: Netter (2000 apud DANTAS, 2011) Módulo 1 Técnico em Farmácia 76 Faringe: A faringe, como ilustra a Figura 26, é um tubo muscular associado a dois sistemas, respiratório e digestório, situando-se posteriormente à cavidade nasal, cavidade da boca e à laringe, o que faz com que ela seja dividida em três partes: parte nasal, também chamada nasofaringe, parte oral ou orofaringe e parte laríngea ou laringofaringe. Figura 26 - Partes da faringe Fonte: Brasil (2003a) Na parede lateral nasofaringe existe uma comunicação deste tubo com a orelha média, chamada óstio faríngeo da tuba auditiva, que na sua extremidade medial é revestida por uma cartilagem chamada torus tubário, que visa minimizar a entrada de corpos estranhos no pavilhão auditivo. Nesta região, também se pode encontrar uma estrutura anatômica cuja função é a de proteção chamada tonsila faríngea, que após episódios repetitivos de inflamações se hipertrofia, aumentando de tamanho e dificultando a passagem do ar e sendo chamada, neste momento, deadenoide (carne esponjosa). Laringe: A laringe é um órgão tubular, situado no plano mediano e anterior do pescoço. Além de via aérea, é também um órgão da fonação, ou seja, é responsável pela produção do som. Situa-se anteriormente à faringe e é continuada diretamente pela traqueia. O esqueleto da laringe é cartilaginoso, possuindo as cartilagens cricoidea, tireoidea, aritenoidea e epliglótea. A tireoidea, a maior delas, é constituída de duas lâminas que se unem anteriormente para formar a proeminência laríngea. A cartilagem cricoidea é impar, tem forma de anel, limitando inferiormente a laringe, enquanto que a cartilagem aritenoidea é par e posterior, apresentando-se na forma piramidal e articulando-se inferiormente com a cartilagem cricoidea. A cartilagem epiglótica, ímpar e mediana, é uma cartilagem importante, pois impede a passagem de líquidos e sólidos para as vias respiratórias. As TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 77 cartilagens cuneiformes e corniculadas completam o esqueleto da laringe, como se pode observar na Figura 27 a seguir. Figura 27 - Laringe (vista anterior e posterior) Fonte: Netter (2000 apud DANTAS, 2011) Na anatomia interna da laringe, como ilustra a Figura 28, se pode observar a presença de uma fenda anteroposterior, que leva a uma pequena invaginação, o ventrículo da laringe, que é limitado superiormente pela prega vestibular e inferiormente pela prega vocal. Módulo 1 Técnico em Farmácia 78 Figura 28 - Anatomia interna da laringe Fonte: Brasil (2003a) O espaço que vai do adito da laringe (abertura da laringe) até a prega vestibular é chamado de vestíbulo da laringe, já o espaço aéreo compreendido entre as pregas vestibular e vocal é conhecido como glote. As pregas vocais são constituídas pelo ligamento e músculos vocais, e o espaço existente entre elas é denominado rima glótica. As pregas vestibulares possuem função protetora. Traqueia: A traqueia inicia na região cervical, situada anteriormente ao esôfago, localizada no mediastino superior. Como se pode observar na Figura 29, trata-se de estrutura mediana composta anteriormente por anéis cartilaginosos unidos entre si por ligamentos anulares, visndo impedir um possível colapso do tubo aéreo. A parte posterior da traqueia possui uma parede membranácea constituída principalmente por músculo liso e por tecido fibroelástico. A traqueia bifurca-se, dando origem aos brônquios principais direito e esquerdo. O local da bifurcação da traqueia chama-se carina. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 79 Figura 29 - Traqueia Fonte: Brasil (2003a) Brônquios e bronquíolos: De acordo com Dantas (2011), existem dois brônquios principais, o esquerdo e o direito. Os principais fazem a ligação da traqueia com os pulmões. A traqueia e os brônquios extrapulmonares são constituídos de anéis incompletos de cartilagem hialina, tecido fibroso, fibras musculares, mucosa e glândulas. Os brônquios e bronquíolos são ilustrados pela Figura 30 a seguir. Módulo 1 Técnico em Farmácia 80 Figura 30 - Brônquios e bronquíolos Fonte: Netter (2000 apud DANTAS, 2001) O autor afirma ainda que o brônquio principal esquerdo é mais longo, mais horizontalizado e tem menor calibre do que o direito, enquanto que o brônquio principal direito é quase a continuação da direção da traqueia e, portanto, é mais vertical, mais calibroso e também mais curto. Por esta razão, corpos estranhos que passam pela traqueia penetram no brônquio principal direito mais facilmente. Os brônquios principais entram nos pulmões na região chamada hilo. Ao atingirem os pulmões correspondentes, os brônquios principais subdividem-se nos brônquios lobares. Os brônquios lobares são tubos aéreos que apresentam as mesmas características morfológicas que os brônquios principais tendo como função ventilar os lobos pulmonares. O pulmão direito possui três lobos e, consequentemente, três brônquios lobares, o superior, o médio e o inferior, enquanto que o pulmão esquerdo possui apenas dois lobos, que são ventilados por dois brônquios lobares, o superior e o inferior. Os brônquios lobares subdividem-se em brônquios segmentares, cada um destes distribuindo-se a um segmento pulmonar. Sua função é ventilar os segmentos broncopulmonares. São nomeados de acordo com o respectivo segmento broncopulmonar em que atuam. Os brônquios dividem-se, respectivamente, em tubos cada vez menores denominados bronquíolos. As paredes dos bronquíolos contêm músculo liso e não possuem cartilagem. Os bronquíolos se ramificam repetidamente em tubos ainda menores, chamados de bronquíolos terminais. É neste tubo aéreo que termina a chamada zona condutora do sistema respiratório. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 81 Bronquíolos respiratórios: Os bronquíolos respiratórios são tubos aéreos que já apresentam nas suas paredes a presença de alvéolos, portanto, onde ocorrem, a esta altura, as trocas gasosas (hematose). Os bronquíolos respiratórios, por sua vez, se subdividem em diversos ductos alveolares. Da traqueia até chegar aos ductos alveolares, o ar passa por cerca de vinte e cinco divisões. Alvéolos: Em torno da circunferência dos ductos alveolares encontram-se numerosos alvéolos e sacos alveolares. O alvéolo, conforme ilustrado pela Figura 31 a seguir, é uma invaginação caliciforme, revestida por epitélio escamoso simples e sustentada por uma fina membrana basilar elástica. Sacos alveolares são dois ou mais alvéolos que compartilham uma abertura comum. Figura 31 - Alvéolos Fonte: Brasil (2003a) Pulmões: Ilustrado pela Figura 32, apresenta-se a seguir o pulmão. Trata-se de um órgão duplo e elástico, localizado no interior da caixa torácica. O pulmão direito é composto por três partes, denominadas lobo superior, lobo médio e inferior, enquanto que o pulmão esquerdo possui apenas dois lobos: o superior e o inferior. Estão suspensos dentro da cavidade torácica por alguns ligamentos e pelos hilos, que contêm seus vasos e brônquios e os ligam às estruturas do mediastino (BRASIL, 2003a). Sustentados pelo diafragma, os pulmões são recobertos por uma fina membrana denominada pleura, responsável por sua proteção na caixa torácica. A pleura que reveste os pulmões é chamada de pleura visceral, e aquela que reveste a cavidade torácica é chamada de pleura parietal. Entre uma e outra existe um espaço potencial chamado de espaço pleural. Diz-se potencial porque as duas superfícies da pleura estão praticamente em contato uma com a outra, separadas apenas por uma delgada camada de líquido. Módulo 1 Técnico em Farmácia 82 Figura 32 - Pulmão Fonte: Brasil (2003a) 5.8.3 Fisiologia do Sistema Respiratório A respiração é o processo biológico por meio do qual ocorre a troca de oxigênio e gás carbônico entre a atmosfera e as células do organismo. Possui dois componentes: a ventilação, que é o processo mecânico a partir do qual o ar, rico em oxigênio, entra pelas vias áreas até os pulmões e o ar rico em dióxido de carbono segue o caminho inverso; e a perfusão, que consiste na passagem do sangue por meio dos capilares pulmonares. Estes estão em íntimo contato com os alvéolos pulmonares e, consequentemente, com o ar alveolar. O sangue venoso chega aos capilares pulmonares, libera dióxido de carbono e capta oxigênio do ar alveolar, e se transforma em sangue arterial rico em oxigênio. Esta troca de dióxido de carbono por oxigênio nos pulmões é chamada de hematose. De acordo com Brasil(2003a), a ventilação pulmomar é dividida em duas fases: a inspiração e a expiração. Durante a inspiração, o diafragma e os músculos intercostais se contraem fazendo com que o diafragma se rebaixe e se retifique e a caixa torácica aumente de volume. Com o aumento de volume da caixa torácica, ocorre uma queda da pressão intratorácica para abaixo do nível da pressão atmosférica, fazendo com que ocorra fluxo de ar para dentro das vias aéreas e pulmões, até que se equilibre este gradiente de pressão. Durante a expiração, o diafragma e os músculos intercostais relaxam fazendo com que o diafragma se eleve e as costelas retomem a sua posição original. Com isso, o volume da caixa torácica diminui, e o ar é forçado para fora do pulmão e das vias aéreas. A inspiração é um ato ativo que requer contração muscular, enquanto a expiração é um ato passivo. Este mecanismo de ventilação é automático e realizado a uma frequência de 12 a 20 movimentos por minuto por um adulto em repouso. A esta frequência dá-se o nome de respiratória. Chama-se de taquipneia a frequência respiratória acima dos limites normais, e de bradipneia abaixo dos limites normais. A ausência de movimentos respiratórios é chamada de apneia. A frequência respiratória é normalmente maior nas crianças. A frequência respiratória pode se elevar pelo exercício, por alterações emocionais, pela febre, TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 83 devido à dor e por outras condições. 5.9 Anatomia e Fisiologia do Sistema Digestório De acordo com Brasil (2003a), os alimentos só podem ser absorvidos pelo organismo uma vez sofram modificações químicas que possibilitem sua absorção pela corrente circulatória. O aparelho digestivo processa estes alimentos, produzindo substâncias em uma forma que possa ser absorvida e aproveitada pelas células. A este processo dá-se o nome de digestão. Os nutrientes não absorvidos são eliminados sob a forma de fezes. Na digestão, as grandes moléculas orgânicas presentes nos alimentos, como proteínas, carboidratos, lipídios, entre outros, são quebradas em moléculas menores pela ação de enzimas digestivas, num processo chamado de catabolismo. Estas enzimas diferem entre si pela substância que irão digerir (substrato), locais de atuação ao longo do tubo digestivo e condições de acidez (pH) ideais para seu funcionamento. 5.9.1 Composição do Tubo Digestivo O tubo digestivo, ilustrado pela Figura 33, é constituído pela boca, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, ampola retal ou reto e ânus, e por órgãos auxiliares da digestão denominados órgãos anexos: o pâncreas, a vesícula biliar e o fígado. Figura 33 - Tubo digestivo Fonte: Brasil (2003a) Módulo 1 Técnico em Farmácia 84 Os órgãos digestivos são revestidos por células epiteliais, cuja função é fabricar o muco que permite o deslizamento do bolo alimentar e secretar as enzimas que irão quebrar as grandes moléculas. A abertura pela qual o alimento entra no tubo digestivo é a boca, como ilustra a Figura 34. A boca é constituída por: rima bucal, que é uma fissura que comunica a boca com o meio externo anteriormente; istmo das fauces (localizado na orofaringe), abertura que delimita a boca posteriormente; o vestíbulo da boca, que é o espaço limitado por um lado pelos lábios e bochechas e por outro pelas gengivas e dentes; língua; palato duro (céu da boca); palato mole (região onde se situa a úvula ou “campainha” da garganta); e três pares de glândulas: as parótidas, as submandibulares e as sublinguais, que são responsáveis pela liberação da saliva, denominadas glândulas salivares maiores, porque além delas existem pequenas glândulas salivares esparsas. Estas glândulas secretam cerca de um litro e meio de saliva diariamente – a qual é basicamente composta por água, o que auxilia a diluir o bolo alimentar, e enzimas. Figura 34 - Boca Fonte: Brasil (2003a) O alimento é triturado pelos dentes com o auxílio da língua e posteriormente empurrado em direção à faringe, num processo denominado de deglutição. Ainda na boca, além da trituração, o alimento começa a sofrer a atuação de uma enzima liberada pelas glândulas salivares, chamadas amilase salivar ou ptialina, que tem a função de começar a digerir o amido e os carboidratos do bolo alimentar. O sistema nervoso autônomo controla as glândulas salivares, no entanto, fatores químico-físicos e psíquicos podem interferir em sua secreção. Como ilustra a Figura 35 a seguir, os dentes são estruturas duras, calcificadas, presas ao maxilar superior e mandíbula, tendo a mastigação como atividade principal. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 85 Figura 35 - Estrutura dos dentes Fonte: Brasil (2003a) Os dentes estão implicados, de forma direta, na articulação das linguagens. Os nervos sensitivos e os vasos sanguíneos do centro de qualquer dente estão protegidos por várias camadas de tecido. A mais externa, o esmalte, é a substância mais dura. Sob o esmalte, circulando a polpa, da coroa até a raiz, situa-se uma camada de substância óssea chamada dentina. A cavidade pulpar é ocupada pela polpa dental, que é um tecido conjuntivo frouxo, ricamente vascularizado e inervado. O que separa a raiz do ligamento peridental é um tecido duro, chamado cemento, que na estrutura e composição química se assemelha ao osso. Dispõe-se como uma camada fina sobre as raízes dos dentes. Por meio de um orifício aberto na extremidade da raiz penetram os vasos sanguíneos, os nervos e o tecido conjuntivo. A glândula parótida está situada lateralmente na face, anterior ao pavilhão auricular. O ducto parotídico, que é seu canal excretor, se abre no vestíbulo da boca ao nível do segundo molar superior. A glândula submandibular está situada anteriormente à parte mais inferior da parótida. Seu ducto submandibular se abre no assoalho da boca, abaixo da língua. A glândula sublingual está situada lateralmente e inferiormente à língua. Módulo 1 Técnico em Farmácia 86 Figura 36 - A língua Fonte: Brasil (2003a) A Figura 36 acima ilustra a língua. Esta exerce importantes funções na mastigação, na deglutição, como órgão gustativo e na articulação das palavras. A língua é dividida em duas porções: o corpo, parte anterior, e a raiz, parte posterior. Esta divisão é feita pelo sulco terminal. Na mucosa que reveste a língua é possível identificar uma série de projeções, as papilas linguais, que são de vários tipos. As maiores são denominadas papilas valadas que se localizam nos receptores gustativos (BRASIL, 2003a). Na superfície da língua existem dezenas de papilas gustativas, cujas células sensoriais percebem os quatro sabores primários: amargo, azedo ou ácido, salgado e doce. Durante a deglutição, o alimento passa por uma válvula denominada epiglote – responsável, a partir de mecanismos reflexos, pelo fechamento da laringe, impedindo, desse modo, que o bolo alimentar penetre nas vias aéreas. Posteriormente, passará pela faringe, situada no final da cavidade bucal, é um canal comum aos sistemas digestório e respiratório. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 87 Figura 37 - O esôfago Fonte: Brasil (2003a) O esôfago, ilustrado pela Figura 37 acima, é o canal que liga a faringe ao estômago. Localiza-se entre os pulmões, atrás do coração, e atravessa o músculo diafragma, que separa o tórax do abdômen. Possui três porções: cervical, torácica e abdominal. A porção torácica é a maior delas e situa-se ventralmente a coluna vertebral e dorsalmente a traqueia. O bolo alimentar leva de 5 a 10 segundos para percorrê-lo. Esse transporte se dá por meio dos movimentos peristálticos (inclusão e reorganizaçãode conteúdo). Ao se dirigir ao estômago o alimento ainda passa por outra válvula denominada cárdia, cuja função é impedir o refluxo do bolo alimentar para o esôfago. Em crianças recém- nascidas, cuja cárdia ainda não está bem formada, o refluxo é frequente (BRASIL, 2003a). Figura 38 - O estômago Fonte: Brasil (2003a) O estômago, conforme ilustra a Figura 38, é um órgão que digere os alimentos e secreta hormônios. Tem como principal função continuar a digestão dos hidratos de carbono, iniciada na boca, e transformar os alimentos ingeridos, mediante contração muscular, em uma massa semilíquida e altamente ácida, de nome quimo. Módulo 1 Técnico em Farmácia 88 O estômago divide-se em: fundo, que é uma região superior que se projeta para o diafragma; corpo, a sua maior parte; antro pilórico, que é a parte final que se comunica com o duodeno e que se abre e fecha alternadamente, liberando pequenas quantidades de quimo para intestino delgado. O estômago possui dois esfíncteres, sendo o superior a cárdia, que se comunica com o esôfago; e o inferior, que é o piloro, é a parte que se comunica com o duodeno e que se abre e fecha alternadamente, liberando pequenas quantidades de quimo para intestino delgado. Como exposto em Brasil (2003a), no estômago, o bolo alimentar sofre a ação de uma secreção estomacal denominada suco gástrico, rica em ácido clorídrico e em duas enzimas, a pepsina e a renina, secretadas pela mucosa estomacal. Uma vez que passa pelo estômago, o alimento alcança o intestino delgado, um tubo com pouco mais de 6m de comprimento por 4cm de diâmetro, e que é dividido em três regiões: duodeno se inicia no óstio pilórico e termina na flexura duodeno jejunal; Jejuno e Íleo (cerca de 1,5cm). O duodeno é a primeira porção do intestino delgado, que se inicia no óstio pilórico e termina na flexura duodeno jejunal. Ele recebe este nome por ter seu comprimento aproximadamente igual à largura de doze dedos (25cm). É a única porção do intestino delgado que é fixa. Não possui mesentério. Jejuno é a parte do intestino delgado que faz continuação ao duodeno, recebe este nome porque sempre que é aberto se apresenta vazio. É mais largo (aproximadamente 5cm), sua parede é mais espessa, mais vascular e de cor mais forte que o íleo. Este é o último segmento do intestino delgado que faz continuação ao jejuno. Recebe este nome por possuir relação anatômica com o osso ilíaco. É mais estreito e suas túnicas são mais finas e menos vascularizadas que o jejuno. Distalmente, o íleo desemboca no intestino grosso, num orifício que recebe o nome de óstio ileocecal. Juntos, o jejuno e o íleo medem 6 a 7 metros de comprimento. A maior parte do jejuno situa-se no quadrante superior esquerdo, enquanto a maior parte do íleo situa-se no quadrante inferior direito. O jejuno e o íleo, ao contrário do duodeno, são móveis. A superfície do intestino delgado é coberta por projeções em forma de dedo com 0.5 a 1.5mm, chamadas vilosidades que, por sua vez, são cobertas por microscópicas microvilosidades. A função desta estrutura é aumentar enormemente a superfície de absorção do Intestino Delgado. A digestão do quimo ocorre predominantemente no duodeno e nas primeiras porções do jejuno. É nele que desembocam os ductos colédocos (traz a bile) e o pancreático (traz a secreção pancreática). No duodeno, ilustrado pela Figura 39 a seguir, o bolo alimentar é neutralizado pelo bicarbonato de cálcio liberado pela mucosa intestinal, induzido por um hormônio denominado secretina; nesse momento, já neutralizada sua acidez, o bolo alimentar recebe o nome de quilo. Posteriormente, o quilo sofrerá a ação do suco entérico, liberado por milhares de glândulas existentes na mucosa intestinal, que contêm as enzimas enteroquinases, cuja função é ativar a tripsina (uma enzima pancreática), e peptidases, que atuam na digestão dos peptídeos. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 89 Figura 39 - Duodeno Fonte: Brasil (2003a) Produzido no pâncreas, o suco pancreático é levado até o duodeno pelo canal colédoco. Nele, encontram-se as enzimas tripsina e quimiotripsina, que irão digerir as proteínas; a lipase pancreática, que digere lipídios; e a amilase pancreática, que continuará a digerir o amido não digerido na boca pela ptialina. É também no duodeno que o bolo alimentar receberá a ação da bile. Produzida no fígado e armazenada na vesícula biliar, a bile não é uma enzima, mas sais que irão emulsificar, ou seja, quebrar, moléculas grandes de gordura em moléculas menores, possibilitando, assim, a ação da lipase. Figura 40 - Intestino grosso Fonte: Brasil (2003a) O intestino grosso, ilustrado pela Figura 40 acima, pode ser comparado com uma ferradura, aberta para baixo. Mede cerca de 6,5cm de diâmetro e 1,5m de comprimento. Ele se estende do íleo até o ânus e está fixo à parede posterior do abdômen pelo mesecolo. O intestino grosso absorve a água com tanta rapidez que, em cerca de 14 horas, o material Módulo 1 Técnico em Farmácia 90 alimentar toma a consistência típica do bolo fecal. Este apresenta algumas diferenças em relação ao intestino delgado: o calibre, as tênias, os haustros e os apêndices epiploicos. O intestino grosso é mais calibroso que o intestino delgado, por isso recebe o nome de grosso. O calibre vai gradativamente afinando, conforme vai chegando ao canal anal. A tênias do cólon (fitas longitudinais) são três faixas de aproximadamente 1cm de largura, que percorrem o intestino grosso em toda sua extensão. São mais evidentes no ceco e no cólon ascendente. Os haustros do cólon (saculações) são abaulamentos ampulares separados por sulcos transversais. Os apêndices epiploicos são pequenos pingentes amarelados constituídos por tecido conjuntivo rico em gordura. Aparecem principalmente no cólon sigmoide. O intestino grosso é dividido em 4 partes principais: ceco (cecum), cólon (ascendente, transverso, descendente e sigmoide), reto e ânus. A primeira parte é o ceco, que é o segmento de maior calibre, que se comunica com o íleo. Para impedir o refluxo do material proveniente do intestino delgado, existe uma válvula localizada na junção do íleo com o ceco - válvula ileocecal (iliocólica). No fundo do ceco, encontra-se o Apêndice Vermiforme. A porção seguinte do intestino grosso é o cólon, segmento que se prolonga do ceco até o ânus. Divide-se em: a) colo ascendente: é a segunda parte do intestino grosso. Passa para cima do lado direito do abdome, a partir do ceco para o lobo direito do fígado, onde se curva para a esquerda na flexura direita do colo (flexura hepática); b) colo transverso: é a parte mais larga e mais móvel do intestino grosso. Ele cruza o abdome a partir da flexura direita do colo até a sua flexura esquerda, onde se curva inferiormente para tornar-se colo descendente. A flexura esquerda do colo (flexura esplênica) é normalmente mais superior, mais aguda e menos móvel do que a flexura direita do colo; c) colo descendente: passa retroperitonealmente a partir da flexura esquerda do colo para a fossa ilíaca esquerda, onde ele é contínuo com o colo sigmoide; d) colo sigmoide: é caracterizado pela sua alça em forma de “S”, de comprimento variável. O colo sigmoide une o colo descendente ao reto. A terminação das tênias do colo, aproximadamente a 15cm do ânus, indica a junção reto-sigmoide; e) flexura hepática: entre o cólon ascendente e o cólon transverso; f) flexura esplênica: entre o cólon transverso e o cólon descendente. O reto recebe este nome por ser quase retilíneo. Este segmento do intestino grosso termina ao perfurar o diafragma da pelve (músculos levantadores do ânus), passando a se chamarde canal anal. O canal anal, apesar de bastante curto (3 cm de comprimento), é importante por apresentar algumas formações essenciais para o funcionamento intestinal, das quais citam-se os esfíncteres anais. O esfíncter anal interno é o mais profundo, e resulta de um espessamento de fibras musculares lisas circulares, sendo consequentemente involuntário. O esfíncter anal externo é constituído por fibras musculares estriadas, que se dispõem circularmente em torno do esfíncter anal interno, sendo este voluntário. Ambos os esfíncteres devem relaxar antes que a defecação possa ocorrer. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 91 Figura 41 - Pâncreas Fonte: Brasil (2003a) A Figura 41 acima ilustrada apresenta o pâncreas. Trata-se de um órgão achatado, no sentido anteroposterior, que apresenta uma face anterior e outra posterior, com uma borda superior e inferior, e sua localização é posterior ao estômago. O comprimento varia de 12,5 a 15cm e seu peso na mulher é de 14,95g, e no homem 16,08g. O pâncreas divide-se em cabeça (aloja-se na curva do duodeno), colo, corpo (dividido em três partes: anterior, posterior e inferior) e cauda. Tem as seguintes funções: a) dissolver carboidrato (amilase pancreática); b) dissolver proteínas (tripsina, quimotripsina, carboxipeptidase e elastase); c) dissolver triglicerídeos nos adultos (lípase pancreática); d) dissolver ácido nucleicos (ribonuclease e desoxirribonuclease). Ducto pancreático: O ducto pancreático principal começa na cauda do pâncreas e corre para sua cabeça, onde se curva inferiormente e está intimamente relacionado com o ducto colédoco. O ducto pancreático se une ao ducto colédoco (fígado e vesícula biliar) e entra no duodeno como um ducto comum, chamado ampola hepatopancreática. O fígado é a maior glândula do organismo, e é também a mais volumosa víscera abdominal. Sua localização é na região superior do abdômen, logo abaixo do diafragma, ficando mais à direita. Isto é, normalmente 2/3 de seu volume estão à direita da linha mediana e 1/3 à esquerda. Pesa cerca de 1,500g e responde por aproximadamente 1/40 do peso do corpo adulto. Módulo 1 Técnico em Farmácia 92 Figura 42 - Fígado Fonte: Brasil (2003a) O fígado apresenta duas faces: diafragmática e visceral. A face diafragmática (anterossuperior) é convexa e lisa, relacionando-se com a cúpula diafragmática. A face visceral (posteroinferior) é irregularmente côncava pela presença de impressões viscerais. O fígado é dividido em lobos. A face diafragmática apresenta um lobo direito e um lobo esquerdo, sendo o direito pelo menos duas vezes maior que o esquerdo. A divisão dos lobos é estabelecida pelo ligamento falciforme. Na extremidade desse ligamento encontra- se um cordão fibroso resultante da obliteração da veia umbilical, conhecido como ligamento redondo do fígado. A face visceral é subdividida em 4 lobos (direito, esquerdo, quadrado e caudado) pela presença de depressões em sua área central, que no conjunto se compõem formando um "H", com 2 ramos anteroposteriores e um transversal que os une. Embora o lobo direito seja considerado por muitos anatomistas como incluindo o lobo quadrado (inferior) e o lobo caudado (posterior), com base na morfologia interna, os lobos quadrado e caudado pertencem mais apropriadamente ao lobo esquerdo. Entre o lobo direito e o quadrado encontra-se a vesícula biliar, e entre o lobo direito e o caudado há um sulco que aloja a veia cava inferior. Entre os lobos caudado e quadrado, há uma fenda transversal: a porta do fígado (pedículo hepático), por onde passam a artéria hepática, a veia porta, o ducto hepático comum, os nervos e os vasos linfáticos. O fígado é um órgão vital, sendo essencial o funcionamento de pelo menos 1/3 dele - além da bile, que é indispensável na digestão das gorduras - ele desempenha o importante papel de armazenador de glicose e, em menor escala, de ferro, cobre e vitaminas. A função digestiva do fígado é produzir a bile, uma secreção verde amarelada, que é transportada para o duodeno. A bile é produzida no fígado e armazenada na vesícula biliar, que a libera quando gorduras entram no duodeno. A bile emulsiona a gordura e a distribui para a parte distal do intestino, a fim de colaborar na digestão e absorção dos nutrientes. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 93 Além das citadas acima, o fígado tem as seguintes funções: a) metabolismo dos carboidratos; b) metabolismo dos lipídios; c) metabolismo das proteínas; d) processamento de fármacos e hormônios; e) excreção da bilirrubina; f) excreção de sais biliares; g) armazenagem; h) fagocitose; i) ativação da vitamina D. A vesícula biliar (7 – 10cm de comprimento) situa-se na fossa da vesícula biliar, na face visceral do fígado. Esta fossa situa-se na junção do lobo direito e do lobo quadrado do fígado. A relação da vesícula biliar com o duodeno é tão íntima que a parte superior do duodeno normalmente é manchada com bile no cadáver. A vesícula biliar tem capacidade para até 50ml de bile. 5.10 Anatomia e Fisiologia do Sistema Cardiovascular Este sistema é fechado, formado por tubos chamados de vasos, por onde circulam os humores corporais. Os humores são o sangue e a linfa que circulam nos vasos sanguíneos e linfáticos, respectivamente. Para que o sangue possa atingir as células levando nutrientes e oxigênio e, ao mesmo tempo, retirar resíduos metabólicos, deve ser constantemente impulsionado ao longo dos vasos sanguíneos pela contração rítmica do coração. O coração é uma “bomba” muscular oca, responsável pela circulação do sangue pelo corpo. Para tanto, apresenta movimentos de contração (sístole) e relaxamento (diástole), por meio dos quais o sangue penetra no seu interior e é impulsionado para os vasos sanguíneos (PIRES, 2011). Localiza-se na porção central da cavidade torácica conhecida como mediastino, mais precisamente o mediastino médio. Relaciona-se anteriormente com o osso esterno e com as extremidades mediais da 3ª a 6ª cartilagens costais e é envolvido por um saco fibroseroso de paredes duplas, chamado pericárdio, que tem em seu interior pequena quantidade de líquido aquoso – o que permite seu melhor deslizamento quando dos movimentos de sístole e diástole. 5.10.1 Estrutura do Coração A estrutura cardíaca (é formada por três camadas musculares: epicárdio (camada externa), miocárdio (camada média e a mais espessa) e endocárdio (camada interna). O coração é composto por quatro câmaras, denominadas átrios (superiores), e ventrículos (inferiores). A extremidade pontuda do coração é o ápice, dirigida para frente, para baixo e para a esquerda. A porção mais larga do coração, oposta ao ápice, é a base, dirigida para trás, Módulo 1 Técnico em Farmácia 94 para cima e para a direita. É chamada de face a parede de um órgão voltada ou em contato com outra parede ou outro órgão. Em razão da posição do coração, surgem três faces cardíacas, descritas a seguir e ilustradas pela Figura 43 abaixo. Figura 43 - Faces do coração Fonte: Brasil (2003a) a) face esternocostal: face voltada para o osso esterno e para as cartilagens costais, que compreende o átrio direito e sua aurícula, o ventrículo direito e uma pequena parte do ventrículo esquerdo; b) face diafragmática: achatada devido ao contato com o m. diafragma, compreende os dois ventrículos, sendo a maior parte formada pelo ventrículo esquerdo; c) faces pulmonares: formada principalmente pelo ventrículo esquerdo, ela ocupa a impressão cárdica do pulmão esquerdo. O coração também é formado por margens, conforme descrito a seguir. a) margem direita: formada peloátrio direito e estendendo-se entre as veias cavas, superior e inferior; b) margem inferior: formada principalmente pelo ventrículo direito e, ligeiramente, pelo ventrículo esquerdo; c) margem esquerda: formada principalmente pelo ventrículo esquerdo e, ligeiramente, pela aurícula esquerda; d) margem superior: formada pelos átrios e pelas aurículas direita e esquerda em uma vista anterior. A parte ascendente da aorta e o tronco pulmonar emergem da margem superior, e a veia cava superior entra no seu lado direito. Posterior à aorta e ao tronco pulmonar e anterior à veia cava superior, a margem superior forma o limite inferior do seio transverso do pericárdio. Externamente, os óstios atrioventriculares correspondem ao sulco coronário, que é ocupado por artérias e veias coronárias. Este sulco circunda o coração e é interrompido anteriormente pelas artérias aorta e pelo tronco pulmonar. O septo interventricular na face anterior corresponde ao sulco interventricular anterior, e na face diafragmática ao sulco TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 95 interventricular posterior. O sulco interventricular termina inferiormente a alguns centímetros à direita do ápice do coração, em correspondência à incisura do ápice do coração. O sulco interventricular anterior é ocupado pelos vasos interventriculares anteriores. O sulco interventricular posterior parte do sulco coronário e desce em direção à incisura do ápice do coração. Este sulco é ocupado pelos vasos interventriculares posteriores. Na região da base do coração, mais especificamente no átrio direito, chegam as veias cavas, superior e inferior, que trazem o sangue venoso drenado de todos os tecidos corpóreos. No átrio esquerdo são as quatro veias pulmonares quem conduzem o sangue arterial que sofreu o processo de hematose (troca gasosa) nos pulmões, como ilustra a Figura 44 a seguir. Figura 44 - Vasos do coração Fonte: Brasil (2003a) A saída do sangue dos ventrículos também se dá na região da base do coração, sendo feita pelo tronco pulmonar, que conduz o sangue venoso do ventrículo direito aos pulmões, e neste trajeto se ramifica dando, origem às artérias pulmonares direita e esquerda. O sangue arterial que sai do ventrículo esquerdo, para irrigar todos os tecidos do corpo, circula pela artéria aorta. Módulo 1 Técnico em Farmácia 96 5.10.2 Anatomia interna do coração Figura 46 - Anatomia interna do coração Fonte: Thais Arraes A Figura 45 acima ilustra a anatomia interna do coração. O coração possui quatro câmaras: dois átrios e dois ventrículos. Os átrios (as câmaras superiores) recebem sangue; os ventrículos (câmaras inferiores) bombeiam o sangue para fora do coração. Na face anterior de cada átrio existe uma estrutura enrugada, em forma de saco, chamada aurícula (semelhante à orelha do cão). O átrio direito é separado do esquerdo por uma fina divisória chamada septo interatrial; o ventrículo direito é separado do esquerdo pelo septo interventricular. Átrio direito: O átrio direito forma a borda direita do coração e recebe sangue rico em dióxido de carbono (venoso) de três veias: veia cava superior, veia cava inferior e seio coronário. A veia cava superior recolhe sangue da cabeça e parte superior do corpo, enquanto que a veia cava inferior recebe sangue das partes mais inferiores do corpo (abdômen e membros inferiores) e o seio coronário recebe o sangue que nutriu o miocárdio e leva o sangue ao átrio direito. Enquanto a parede posterior do átrio direito é lisa, a parede anterior é rugosa, devido à presença de cristas musculares, chamados músculos pectíneos. O sangue passa do átrio direito para o ventrículo direito por meio de uma válvula chamada tricúspide (formada por três folhetos - válvulas ou cúspides). Na parede medial do átrio direito, que é constituída pelo septo interatrial, encontra-se uma depressão, que é a fossa oval. Anteriormente, o átrio direito apresenta uma expansão piramidal denominada TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 97 aurícula direita, que serve para amortecer o impulso do sangue ao penetrar no átrio. Os orifícios onde as veias cavas desembocam têm os nomes de óstios das veias cavas. O orifício de desembocadura do seio coronário é chamado de óstio do seio coronário, e encontra-se também uma lâmina que impede que o sangue retorne do átrio para o seio coronário, que é denominada de válvula do seio coronário. Átrio esquerdo: O átrio esquerdo é uma cavidade de parede fina, com paredes posteriores e anteriores lisas, que recebe o sangue já oxigenado, por meio de quatro veias pulmonares. O sangue passa do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo, a partir da valva bicúspide (mitral), que tem apenas duas cúspides. O átrio esquerdo também apresenta uma expansão piramidal chamada aurícula esquerda. Ventrículo direito: O ventrículo direito forma a maior parte da superfície anterior do coração. O seu interior apresenta uma série de feixes elevados de fibras musculares cardíacas, chamadas trabéculas carnosas. No óstio atrioventricular direito, existe um aparelho denominado valva tricúspide, que serve para impedir que o sangue retorne do ventrículo para o átrio direito. Essa valva é constituída por três lâminas membranáceas, esbranquiçadas e irregularmente triangulares, de base implantada nas bordas do óstio e o ápice dirigido para baixo é preso às paredes do ventrículo por intermédio de filamentos. Cada lâmina é denominada de cúspide. Tem-se uma cúspide anterior, outra posterior e outra septal. O ápice das cúspides é preso por filamentos denominados cordas tendíneas, as quais se inserem em pequenas colunas cárneas chamadas de músculos papilares, como se pode observar na Figura 46 a seguir. Figura 46 - Músculos papilares, cordas tendíneas e cúspides Fonte: Brasil (2003a) A valva do tronco pulmonar também é constituída por pequenas lâminas, porém estas estão dispostas em concha, denominadas válvulas semilunares (anterior, esquerda e direita). No centro da borda livre de cada uma das válvulas, encontram-se pequenos nódulos Módulo 1 Técnico em Farmácia 98 denominados nódulos das válvulas semilunares (pulmonares). Ventrículo esquerdo: O ventrículo esquerdo forma o ápice do coração. No óstio atrioventricular esquerdo, encontra-se a valva atrioventricular esquerda, constituída apenas por duas lâminas denominadas cúspides, sendo uma anterior e outra posterior, e por isso são chamadas de válvulas bicúspides. O ventrículo esquerdo também possui trabéculas carnosas e cordas tendíneas, que fixam as cúspides da valva bicúspide aos músculos papilares. O sangue passa do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo a partir do óstio atrioventricular esquerdo, onde se localiza a valva bicúspide (mitral). Do ventrículo esquerdo, o sangue sai para a maior artéria do corpo, a aorta, mais precisamente no ramo ascendente, passando pela valva aórtica – constituída por três válvulas semilunares: direita, esquerda e posterior. Daí, parte do sangue flui para as artérias coronárias, que se ramificam a partir da aorta ascendente, levando sangue para a parede cardíaca; o restante do sangue passa para o arco da aorta e para a aorta descendente (parte torácica e parte abdominal). Ramos do arco da aorta e da aorta descendente levam sangue para todo o corpo. O ventrículo esquerdo recebe sangue oxigenado do átrio esquerdo. A principal função do ventrículo esquerdo é bombear sangue para a circulação sistêmica (corpo). A parede ventricular esquerda é mais espessa que a do ventrículo direito. Esta diferença se deve à maior força necessária para bombear sangue para a circulação sistêmica. AFigura 47 a seguir ilustra as válvulas do coração. Figura 47 - Válvulas do coração Fonte: Brasil (2003a) 5.10.3 Vascularização do Coração A irrigação do coração é assegurada pelas artérias coronárias e pelo seio coronário. As artérias coronárias são duas, uma direita e outra esquerda. Elas têm este nome porque ambas percorrem o sulco coronário e são as duas originadas da artéria aorta. Estas artérias, logo depois da sua origem, dirigem-se para o sulco coronário, percorrendo-o da direita para a esquerda, até ir se anastomosar com o ramo circunflexo, que é o ramo terminal da artéria TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 99 coronária esquerda que faz continuação ao circundar o sulco coronário. A artéria coronária direita é o ponto de origem de duas artérias que vão irrigar a margem direita e a parte posterior do coração, são elas: a artéria marginal direita e artéria interventricular posterior. A artéria coronária esquerda, de início, passa por um ramo por trás do tronco pulmonar para atingir o sulco coronário, evidenciando-se nas proximidades do ápice da aurícula esquerda. Logo em seguida, emite um ramo interventricular anterior e um ramo circunflexo que dá origem à artéria marginal esquerda. Na face diafragmática, as duas artérias se anastomosam, formando um ramo circunflexo. Inervação: A inervação do músculo cardíaco é de duas formas: extrínseca, ou seja, que provém de nervos situados fora do coração, e intrínseca, que constitui um sistema só encontrado no coração e que se localiza no seu interior. A inervação extrínseca deriva do sistema nervoso autônomo, isto é, simpático e parassimpático. Fisiologicamente, o simpático acelera e o parassimpático retarda os batimentos cardíacos Do simpático, o coração recebe os nervos cardíacos simpáticos, sendo três cervicais e quatro ou cinco torácicos. As fibras parassimpáticas, que vão inervar o coração, seguem pelo nervo vago (X par craniano), do qual derivam nervos cardíacos parassimpáticos, sendo dois cervicais e um torácico. A inervação intrínseca ou sistema de condução do coração é a razão dos batimentos contínuos do coração. É uma atividade elétrica, intrínseca e rítmica, que se origina em uma rede de fibras musculares cardíacas especializadas, chamadas células autorrítmicas (marcapasso cardíaco), por serem autoexcitáveis. A excitação cardíaca começa no nodo sino-atrial (SA), situado na parede atrial direita, inferior à abertura da veia cava superior. Propagando-se ao longo das fibras musculares atriais, o potencial de ação atinge o nodo atrioventricular (AV), situado no septo interatrial, anterior à abertura do seio coronário. Do nodo AV, o potencial de ação chega ao feixe atrioventricular (feixe de His), que é a única conexão elétrica entre os átrios e os ventrículos. Após ser conduzido ao longo do feixe AV, o potencial de ação entra nos ramos direito e esquerdo, que cruzam o septo interventricular, em direção ao ápice cardíaco. Finalmente, as miofibras condutoras (fibras de Purkinge) conduzem rapidamente o potencial de ação, primeiro para o ápice do ventrículo, e após para o restante do miocárdio ventricular. 5.10.4 Fisiologia do Sistema Cardíaco Esta seção tratará do ciclo cardíaco, que compreende a circulação pulmonar e a circulação sistêmica. Ciclo cardíaco: Um ciclo cardíaco único inclui todos os eventos associados a um batimento cardíaco. No ciclo cardíaco normal, os dois átrios se contraem, enquanto os dois ventrículos Módulo 1 Técnico em Farmácia 100 relaxam e vice-versa. O termo sístole designa a fase de contração; a fase de relaxamento é designada como diástole. Quando o coração bate, os átrios contraem-se primeiramente (sístole atrial), forçando o sangue para os ventrículos. Uma vez preenchidos, os dois ventrículos contraem-se (sístole ventricular) e forçam o sangue para fora do coração. Sístole é a contração do músculo cardíaco. Há a sístole atrial, que impulsiona sangue para os ventrículos. Assim, as valvas atrioventriculares estão abertas à passagem de sangue, e a pulmonar e a aórtica estão fechadas. Na sístole ventricular, as valvas atrioventriculares estão fechadas e as semilunares abertas à passagem de sangue. Diástole é o relaxamento do músculo cardíaco. É quando os ventrículos se enchem de sangue. Neste momento, as valvas atrioventriculares estão abertas e as semilunares estão fechadas. A distribuição de sangue pelo organismo recebe a denominação de circulação pulmonar e circulação sistêmica, como ilustra a Figura 48 a seguir. Figura 48 - Circulação pulmonar e sistêmica Fonte: Brasil (2003a) TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 101 Circulação pulmonar (pequena circulação): O sangue venoso, pobre em oxigênio e rico em dióxido de carbono e resíduos do metabolismo celular, volta ao coração através das veias cavas e desemboca no átrio direito. Do átrio direito, o sangue passa ao ventrículo direito através da válvula tricúspide e é bombeado para os pulmões através das artérias pulmonares, mas, para chegar às artérias pulmonares, passa pela válvula semilunar. No pulmão, o sangue sofre a hematose e retorna para o átrio esquerdo através das veias pulmonares. Circulação sistêmica (grande circulação): Do átrio esquerdo, o sangue chega ao ventrículo esquerdo após passar pela válvula mitral ou bicúspide. Do ventrículo esquerdo, o sangue passa pela válvula semilunar aórtica e é bombeado para todo o organismo através da artéria aorta. Esta se divide em artéria aorta ascendente, arco da aorta e aorta descendente, que possui o ramo torácico e o ramo abdominal, e é por meio desses ramos que o sangue circula para os órgãos. O coração bombeia em média 5 litros de sangue por minuto, quando em repouso. O volume de sangue bombeado por cada lado do coração em um minuto é chamado de débito cardíaco. A contração dos ventrículos é chamada de sístole e o seu relaxamento de diástole. Os ruídos cardíacos ouvidos quando se ausculta o coração com um estetoscópio são chamados de bulhas cardíacas, e são resultado do fechamento das válvulas cardíacas. A frequência com que o coração contrai é denominada de frequência cardíaca. No adulto em repouso, esta varia de 50 a 95 batimentos por minuto. A frequência cardíaca acima dos limites normais é chamada taquicardia e abaixo, bradicardia. 5.10.5 Vasos Sanguíneos A Figura 49 a seguir ilustra os vasos sanguíneos, que são constituídos por veias, artérias e capilares. Módulo 1 Técnico em Farmácia 102 Figura 49 - Veia, artéria e capilar Fonte: Brasil (2003a) Os vasos sanguíneos formam uma rede de tubos que transportam sangue do coração em direção aos tecidos do corpo e de volta ao coração. Os vasos sanguíneos podem ser divididos em sistema arterial e sistema venoso, conforme descrito a seguir. Sistema arterial: Constitui um conjunto de vasos que, partindo do coração, vão se ramificando, cada ramo em menor calibre, até atingirem os capilares. Sistema venoso: Forma um conjunto de vasos que, partindo dos tecidos, vão se formando em ramos de maior calibre até atingirem o coração. Artérias: São vasos de parede espessa que saem do coração levando sangue para os órgãos e tecidos do corpo. Compõem-se de três camadas: a mais interna, chamada endotélio, formada por uma única camada de células achatadas; a mediana, constituída por tecido muscular liso; e a mais externa, formada por tecido conjuntivo, rico em fibras elásticas. Arteríolas: As artérias vão se bifurcando e se ramificando até formarem as arteríolas, que são os vasos arteriais de menor calibre antes de chegar aos capilares. As arteríolas possuem na suaparede um músculo liso, que responde a estímulos nervosos ou endócrinos, se contraindo ou relaxando. Sua contração diminui o calibre do vaso e é conhecida como TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 103 vasoconstrição, e seu relaxamento aumenta seu calibre e é conhecido como vasodilatação. Capilares: São os vasos sanguíneos de menor calibre e sua parede pode ter apenas uma camada de células de espessura. Estão distribuídos por todo o organismo, formando uma rede que está em íntimo contato com todas as células. Suas paredes finas permitem que haja troca de substâncias entre as células dos tecidos e o sangue: oxigênio e nutrientes são liberados para as células que por sua vez se desfazem do dióxido de carbono e dos resíduos metabólicos. Veias: São vasos que chegam ao coração, trazendo o sangue dos órgãos e tecidos. A parede das veias, assim como a das artérias, também é formada por três camadas. A diferença, porém, é que a camada muscular e a conjuntiva são menos espessas que suas correspondentes arteriais. Além disso, diferentemente das artérias, as veias de maior calibre apresentam válvulas em seu interior, que impedem o refluxo de sangue e garante sua circulação em um único sentido. 5.10.6 Circulação Arterial e Venosa Esta seção apresenta a circulação arterial e a venosa, ilustradas pela Figura 50 a seguir. Módulo 1 Técnico em Farmácia 104 Figura 50 - Circulação arterial e venosa Fonte: Pires (2011) Circulação arterial: A principal artéria do organismo é a aorta, que tem origem no ventrículo esquerdo, e em seguida, dirige-se para a direita, e para cima dentro do mediastino médio, constituindo a artéria aorta ascendente, da qual têm origem as artérias coronárias. A partir daí, curva-se TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 105 para a esquerda e para trás, adentrando no mediastino superior e formando o arco aórtico, ao nível da segunda articulação esternocostal do lado direito, do qual são emitidos o tronco arterial braquiocefálico, a artéria carótida comum esquerda e a artéria subclávia esquerda. A artéria aorta descendente, formada a partir de T4, constitui a continuação do arco aórtico e possui uma parte torácica e outra abdominal. A parte torácica da aorta desce no mediastino posterior, inicialmente à esquerda da coluna vertebral, aproximando-se da linha mediana à medida que desce, sendo sua terminação anterior à coluna vertebral. Esta parte da aorta descendente constitui uma importante fonte da irrigação da parede do tórax, e seus ramos intercostais posteriores formam com os ramos da torácica interna uma via de circulação colateral em caso de obstrução progressiva da aorta. A parte abdominal da aorta descendente começa entre T12 e L1, e termina ao nível de L4, ao dividir-se em artérias ilíacas comuns. A artéria relaciona-se, anteriormente, com o tronco celíaco, o pâncreas, a bolsa omental, a veia renal esquerda, a parte ascendente do duodeno e a raiz do mesentério. À direita, relaciona-se com a cisterna do quilo, o ducto torácico e a veia cava inferior. A aorta abdominal fornece praticamente toda a irrigação parietal e visceral do abdome, além de dar origem às artérias ilíacas que suprem a pelve e os membros inferiores. Outra artéria que possui função importante é a artéria pulmonar, afinal ela transporta o sangue proveniente do coração até o pulmão para sofrer o processo chamado hematose. Tem origem como projeção do ventrículo direito. Recoberto pelo pericárdio fibroso e projeta-se para cima, numa extensão de 5cm, situando-se à esquerda da aorta ascendente, onde se divide em artéria pulmonar direita e artéria pulmonar esquerda. As artérias cerebrais anteriores (ramos da artéria carótida interna) e as artérias cerebrais posteriores (ramos da artéria basilar) formam o círculo arterial do cérebro (polígono de Willis), do qual se originam as artérias que irrigam a maior parte do encéfalo. A partir da borda externa da primeira costela, as artérias subclávias são denominadas artérias axilares (direita e esquerda), as quais emitem ramos que irrigam a axila, o tórax e o ombro. As artérias axilares continuam como artérias braquiais (direita e esquerda), que emitem ramos que irrigam o ombro e o braço e, no cotovelo, se dividem em artérias radial e ulnar, as quais correm pelo antebraço e emitem ramos que irrigam o antebraço e o cotovelo. A artéria ulnar, ao deixar o antebraço, divide-se em um ramo palmar profundo (que se une à artéria radial para formar o arco palmar profundo) e no arco palmar superficial, que emite ramos digitais palmares. Deste modo, ocorre a irrigação da mão e de seus dedos. As artérias ilíacas comuns, direita e esquerda, se dividem, em cada membro inferior, em artérias ilíacas interna e externa. A artéria ilíaca interna (hipogástrica) emite ramos parietais e viscerais, enquanto que a artéria ilíaca externa, abaixo do ligamento inguinal, continua descendo pela coxa como artéria femoral, a qual emite ramos que irrigam a parede abdominal inferior, a genitália externa e o membro inferior. Na fossa poplítea (área atrás do joelho), a artéria femoral é denominada artéria poplítea, a qual emite ramos que irrigam o joelho e, na perna, termina Módulo 1 Técnico em Farmácia 106 se dividindo na artéria tibial anterior, que emite ramos que irrigam a região anterior da perna e o tornozelo e continua como a artéria dorsal do pé que termina em um ramo plantar profunda, formando o arco plantar. Do arco plantar saem as artérias metatársicas plantares, que se anastomosam com as artérias metatársicas dorsais, ramos da artéria dorsal do pé, que originam as artérias digitais dorsais, e as artérias digitais plantares, irrigando o pé e seus dedos. Estas artérias se dividem em ramos progressivamente menores até os capilares sistêmicos, que realizam trocas gasosas com os tecidos, ou seja, o oxigênio (O2) dos capilares se difundem para os tecidos e o gás carbônico (CO2) do metabolismo dos tecidos se difunde para o interior dos capilares. Circulação venosa: Estes capilares sistêmicos, carregando sangue desoxigenado (venoso), unem-se em vênulas e veias. Todas as veias da circulação sistêmica drenam para as veias cavas superior e inferior ou ao seio coronário (como as veias que drenam o coração), desembocando no átrio direito. Tanto nos membros superiores quanto nos membros inferiores, a drenagem venosa se faz pelos sistemas venosos: superficial e profundo. Em relação aos membros superiores, no que se refere ao sistema superficial, as artérias digitais palmares e dorsais e veias profundas formam a rede venosa dorsal da mão. As duas veias mais importantes que sobem deste arco são as cefálica e basílica. A veia cefálica origina-se do lado radial da rede venosa dorsal e percorre o antebraço até desembocar na artéria axilar. A veia basílica origina-se do lado ulnar da rede venosa dorsal e caminha pelo antebraço até unir-se à veia braquial, formando a veia axilar. A veia mediana do antebraço origina-se na rede venosa palmar, sobe pelo antebraço anterior entre as veias cefálica e basílica e, no cotovelo, se une à veia basílica ou à veia cefálica ou à veia mediana do cotovelo. A veia mediana do cotovelo liga as artérias basílica e cefálica na parte anterior do cotovelo. O sistema profundo, em relação aos membros superiores, é formado por veias satélites, que acompanham em dupla as artérias. As veias braquiais, originadas das veias radiais e ulnares, são veias profundas que acompanham a artéria braquial, formando a veia axilar ao se juntar com a veia basílica. A veia axilar, na borda externa da primeira costela, continua como veia subclávia, a qual acompanhaa artéria subclávia. A veia subclávia (direita e esquerda) se junta à veia jugular interna (que drena parte da cabeça e do pescoço), formando a veia braquiocefálica (direita e esquerda). As veias braquiocefálicas direita e esquerda se unem para formar a veia cava superior. Nos membros inferiores, no que diz respeito ao sistema superficial, as veias digitais formam as veias metatársicas dorsais, que desembocam no arco venoso dorsal, o qual se comunica com o arco venoso plantar. Do lado medial do arco venoso dorsal, ascende à veia safena magna pela região anteromedial da perna e da coxa e termina na veia femural. Do lado lateral do arco venoso dorsal, ascende à veia safena parva pela região posterior da TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 107 perna, até desembocar na veia poplítea, na região posterior do joelho. As veias perfurantes (ou conectantes) conectam as veias superficiais às veias profundas. No caso do sistema profundo para os membros inferiores, as veias digitais plantares juntam-se com a rede venosa plantar para formar as veias metatársicas plantares, as quais se unem formando o arco venoso plantar, do qual emergem veias plantares laterais e mediais que se unem para formar as veias tibiais posteriores, que recebem as veias fibulares e unem-se com as veias tibiais anteriores para formar as veias poplíteas, as quais continuam como veias femorais, que se tornam as veias ilíacas externas. As veias glútea superior e inferior, as veias pudendas internas, a veia dorsal profunda do pênis (que drena para o plexo prostático) ou do clitóris (que drena para o plexo vesical) acompanham as artérias e, como os plexos venosos retal, vesical, prostático, uterino, vaginal e sacral, desembocam na veia ilíaca interna (hipogástrica). As veias ilíacas externas se unem às veias ilíacas internas para formar as veias ilíacas comuns (direita e esquerda), que formam a veia cava inferior, a qual ascende à direita da aorta. A veia gonadal (testicular e ovárica) direita e a veia suprarrenal direita desembocam na veia cava inferior. As esquerdas desembocam na veia renal esquerda. As veias renais (direita e esquerda) desembocam na veia cava inferior. As veias frênicas inferiores direitas desembocam na veia cava inferior e as veias cavas inferiores e esquerdas desembocam na suprarrenal esquerda, na renal esquerda ou na veia cava inferior. As veias hepáticas são várias veias que recebem sangue das veias centrais do fígado e que desembocam na veia cava inferior. As veias lombares são 4 ou 5 veias de cada lado, que acompanham as artérias lombares, drenam a parede posterior do abdome, o canal vertebral, a medula espinhal e as meninges, e desembocam na veia cava inferior ou na ilíaca comum. A veia lombar ascendente direita se une à veia subcostal direita para formar a veia ázigos. A veia lombar ascendente esquerda se une à veia subcostal esquerda para formar a veia hemiázigos. A veia retal (ou hemorroidária) superior (que drena a parte superior do plexo retal) e veia cólica esquerda (que acompanha a artéria cólica esquerda) desembocam na veia mesentérica inferior. A veia mesentérica inferior acompanha a artéria mesentérica inferior e desemboca na veia esplênica (lienal). A veia esplênica (lienal) (formada por diversos ramos no hilo do baço) e a veia mesentérica superior (acompanha a artéria mesentérica superior) se unem para formar a veia porta, a qual recebe a veia gástrica esquerda (que acompanha a artéria gástrica esquerda) e, no hilo hepático, a veia porta divide-se em ramos direito e esquerdo. O sangue venoso da veia porta (vindo dos intestinos) alcança, então, os sinusoides hepáticos, que drenam para as veias hepáticas, as quais desembocam na veia cava inferior. 5.11 Anatomia e Fisiologia do Sistema Linfático O sistema linfático é paralelo ao circulatório, constituído por uma vasta rede de vasos semelhantes às veias (vasos linfáticos), que se distribuem por todo o corpo e recolhem o líquido tissular que não retornou aos capilares sanguíneos, filtrando-o e reconduzindo-o à Módulo 1 Técnico em Farmácia 108 circulação sanguínea. É constituído pela linfa, vasos e órgãos linfáticos. Os vasos linfáticos são capazes de transportar proteínas e partículas grandes, que não poderiam ser removidas dos espaços teciduais pelos capilares sanguíneos. A linfa tem uma particularidade de grande importância prática, pois não coagula como o sangue, fazendo com que a lesão de seus vasos coletores maiores espoliem o indivíduo rapidamente, de acordo com Vivela (2012). Vilela (2012) afirma ainda que o sistema linfático tem como função imunológica a ativação da resposta inflamatória e o controle de infecções. A partir de sua simbiose com os vasos sanguíneos, regula o balanço do fluído tissular. Este delicado balanço é possível pelo transporte unidirecional de proteínas do tecido para o sistema sanguíneo. Em conjunção com o trabalho dos vasos, o sistema linfático mantém o equilíbrio entre a filtração e a reabsorção dos fluídos tissulares. As moléculas de proteínas transportam oxigênio e nutrientes para as células dos tecidos, onde então removem seus resíduos metabólicos. Várias moléculas de proteínas que não conseguem ser transportadas pelo sistema venoso são retornadas ao sistema sanguíneo através do linfático. Em consequência disto, o líquido linfático se torna rico em proteínas, mas também transporta células adiposas, e outras macromoléculas. A circulação normal de proteínas requer um funcionamento adequado dos vasos linfáticos, caso contrário, os espaços intersticiais podem ficar congestionados. Os capilares linfáticos estão presentes em quase todos os tecidos do corpo. Os capilares mais finos vão se unindo em vasos linfáticos maiores, conforme ilustra a Figura 51 a seguir, que terminam em dois grandes dutos principais: o ducto torácico, que recebe a linfa procedente da parte inferior do corpo, do lado esquerdo da cabeça, do braço esquerdo e de partes do tórax, e o ducto linfático, que recebe a linfa procedente do lado direito da cabeça, do braço direito e de parte do tórax. Ambos desembocam na junção das veias subclávia e jugular interna do coração. Figura 51- Vasos linfáticos Fonte: Baseada em Vilela (2012) Linfa: Ainda conforme a autora acima citada, a linfa corresponde ao líquido intersticial que circula dentro dos linfáticos, e tem composição quase idêntica a do plasma. A concentração de proteínas da linfa gira em torno de 2 a 6%, dependendo da parte do corpo. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 109 O sistema linfático representa uma das principais vias de absorção dos nutrientes, através dos vasos linfáticos intestinais. Neste processo, também podem ser absorvidas bactérias e partículas maiores. Esse problema é resolvido, à medida que a linfa passa através de linfonodos interpostos no trajeto dos vasos linfáticos, onde tais partículas e bactérias são bloqueadas e destruídas. A linfa é recolhida por capilares próprios, mais irregulares que os sanguíneos. Estes, por sua vez, são tubos endoteliais que vão se anastomosando cada vez mais, até formar coletores linfáticos maiores. Ao contrário do sangue, que é impulsionado a partir dos vasos pela força do coração, o sistema linfático não é um sistema fechado e não tem uma bomba central. A linfa depende exclusivamente da ação de agentes externos para poder circular. A linfa move-se lentamente sob baixa pressão devido principalmente à compressão provocada pelos movimentos dos músculos esqueléticos que pressionam o fluido através dele. A contração rítmica das paredes dos vasos também ajuda o fluido através dos capilares linfáticos. Este fluido é, então, transportado progressivamente para vasos linfáticos maiores acumulando-se no ducto linfático direito (para a linfa da parte direita superior do corpo)e no duto torácico (para o resto do corpo). Estes ductos desembocam no sistema circulatório na veia subclávia esquerda e direita. Ducto linfático direito: O ducto linfático direito corre ao longo da borda medial do músculo escaleno anterior na base do pescoço e termina na junção da veia subclávia direita com a veia jugular interna direita. Seu orifício é guarnecido por duas válvulas semilunares, que evitam a passagem de sangue venoso para o ducto. Este é o ducto que conduz a linfa para circulação sanguínea nas seguintes regiões do corpo: lado direito da cabeça, do pescoço e do tórax, do membro superior direito, do pulmão direito, do lado direito do coração e da face diafragmática do fígado (VILELA, 2012). Ducto torácico: O ducto torácico é aquele que conduz a linfa da maior parte do corpo para o sangue. É o tronco comum a todos os vasos linfáticos, exceto os vasos citados acima (ducto linfático direito). Estende-se da segunda vértebra lombar para a base do pescoço. Ele começa no abdome por uma dilatação, a cisterna do quilo, entra no tórax a partir do hiato aórtico do diafragma e sobe entre a aorta e a veia ázigos. Termina por desembocar no ângulo formado pela junção da veia subclávia esquerda com a veia jugular interna esquerda (VILELA, 2012). 5.11.1 Órgãos Linfáticos Compreendem os órgãos linfáticos: amigdalas (tonsilas), adenoides, baço, linfonodos (nódulos linfáticos) e timo (tecido conjuntivo reticular linfoide: rico em linfócitos). Amigdalas (tonsilas): As amigdalas guardam a entrada e a saída dos tratos alimentar e respiratório, Módulo 1 Técnico em Farmácia 110 contra a invasão de micro-organismos, formando um anel linfático. Classificam-se em tonsilas palatinas, faríngeas e linguais, conforme ilustra a Figura 52 a seguir. Sua função é produzir. Figura 52 - Tonsilas Fonte: Baseada em Vilela (2012) Timo: Como ilustra a Figura 53 a seguir, o timo é o órgão linfático mais desenvolvido no período pré-natal, que vai involuindo desde o nascimento até a puberdade. O timo de uma criança é um órgão proeminente na porção anterior do mediastino superior, enquanto que o timo de adulto de idade avançada mal pode ser reconhecido, devido às alterações atróficas. Durante seu período de crescimento ele se aproxima muito de uma glândula, quanto ao aspecto e estrutura. Figura 53 - Timo Fonte: Baseada em Vilela (2012) O timo consiste de dois lobos laterais mantidos em estreito contato por meio de tecido conjuntivo, o qual também forma uma cápsula distinta para o órgão todo. Ele situa-se parcialmente no tórax e no pescoço, estendendo-se desde a quarta cartilagem costal até o bordo inferior da glândula tireoidea. Os dois lobos geralmente variam em tamanho e forma, TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 111 sendo o direito, geralmente, sobreposto ao esquerdo. Ele apresenta uma coloração cinzenta rosada, é mole e lobulado, medindo aproximadamente 5cm de comprimento, 4cm de largura e 6mm de espessura. Linfonodo: O linfonodo consiste em um aglomerado de tecido retículo-endotelial revestido por uma cápsula de tecido conjuntivo. Desempenha importante papel imunológico, a partir da filtração da linfa proveniente dos vasos linfáticos e da produção de células linfoides e reticulares, que realizam a defesa do organismo por meio da fagocitose e da pinocitose. O linfonodo varia em tamanho, forma e cor. Cada linfonodo apresenta um hilo que corresponde ao local de emergência, não apenas do vaso linfático, como da veia linfonodal, que acompanha a artéria e se destina ao suprimento sanguíneo para o linfonodo. A conexão entre o sistema linfático e o venoso é possível por meio da veia de drenagem do linfonodo. O número de linfonodos varia entre as regiões e os indivíduos, e seu volume também é variável, ocorrendo um importante aumento com a idade, em decorrência dos processos patológicos ou agressões que a área de drenagem tenha sofrido. Os principais linfonodos são o cervical profundo, o axilar, o linfonodo pré-aórtico e o inguinal, que detalhados a seguir: a) cervical profundo: localizados na bainha carotídea drenando cabeça e pescoço. b) axilar: estes linfonodos drenam membros superiores, glândulas mamárias, pele e músculos do tórax, dorso e parte inferior do dorso do pescoço traqueobrônquico: localizados em torno da parte torácica da traqueia e dos brônquios, drenando os pulmões e o coração. c) pré-aórtico: localizado ventralmente à artéria aorta, drenando o trato gastrintestinal, fígado, pâncreas, baço e mais de 100 linfonodos do mesentério. d) inguinal: localizado na virilha, drena os membros inferiores, a genitália externa e a parede anterior do abdome. Baço: A Figura 54 abaixo ilustra o baço, que é o órgão linfático, excluído da circulação linfática, interposto na circulação sanguínea, cuja drenagem venosa passa, obrigatoriamente, pelo fígado. Possui grande quantidade de macrófagos que, por meio da fagocitose, destroem micróbios, restos de tecido, substâncias estranhas, células do sangue em circulação já desgastadas como eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Desta forma, o baço “limpa” o sangue, funcionando como um filtro deste fluído tão essencial. O baço também tem participação na resposta imune, reagindo a agentes infecciosos. É considerado por alguns cientistas como um grande nódulo linfático. Situa-se na região do hipocôndrio, mas sua extremidade cranial se estende na região epigástrica. O baço situa-se entre o fundo do estomago e o diafragma. Sua textura é mole, de consistência muito friável, altamente vascularizado e de uma coloração púrpura escura. O tamanho e peso do baço variam muito, possuindo, no adulto, cerca de 12cm de comprimento, 7cm de largura e 3cm de espessura. Módulo 1 Técnico em Farmácia 112 Figura 54 - Baço Fonte: Vilela (2012) 5.11.2 Fisiologia do Sistema linfático As circulações linfáticas e sanguíneas estão intimamente relacionadas. A macro e a microcirculação de retorno dos órgãos e/ou regiões são feitas pelos sistemas venoso e linfático. As moléculas pequenas vão, em sua maioria, diretamente para o sangue, sendo conduzidas pelos capilares sanguíneos, e as grandes partículas alcançam a circulação por meio do sistema linfático. Entretanto, mesmo macromoléculas passam para o sangue via capilares venosos, sendo que o maior volume do fluxo venoso faz com que, no total, o sistema venoso capte muito mais proteínas que o sistema linfático. Contudo, a pequena drenagem linfática é vital para o organismo, ao baixar a concentração proteica média dos tecidos e propiciar a pressão tecidual negativa fisiológica que previne a formação do edema e recupera a proteína extravasada. A formação e a condução da linfa são condicionadas por diversos sistemas. Um deles, em nível molecular, é o sistema angiolacunar de líquidos e eletrólitos. Dentro deste sistema de difusão, e por ele potencializado, insere-se o sistema de ultrafiltração capilar sanguíneo, somando-se, ainda no nível microscópio, às trocas líquidas, pressóricas e proteicas do plasma dos interstícios e dos capilares linfáticos. Nos membros, instalam-se forças ainda mais grosseiras, e localmente mais intensas, que surgem em determinadas situações, tais como qualquer movimentação e compressão tecidual. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 113 5.12 Anatomia e Fisiologia do Sistema Sanguíneo O sangue funciona como o meio de “meio de transporte” do corpo. Possui elementos tão importantes que uma falha sua pode causar a morte dos que esperam suas “mercadorias”: as células. É formado por uma massa líquida, contida num compartimento fechado, nomeado de aparelho circulatório,e mantida em movimento regular e unidirecional devido às contrações rítmicas do coração. Num adulto, seu volume total é de aproximadamente 5,5 litros. Para executar com precisão suas funções, tais como suprir as necessidades alimentares dos tecidos, transportar detritos das células para serem eliminados além de conduzir substâncias e gases de uma parte a outra do corpo, possibilitando o bom funcionamento das células, o sangue necessita de elementos especiais em sua composição, os quais serão citados. Ao colher uma pequena quantidade de sangue observa-se que em pouco tempo haverá a separação entre um líquido amarelado e uma massa vermelha (coágulo). Assim, verifica-se que o sangue é formado de uma parte líquida, denominada plasma, e de uma parte sólida, composta por células e fragmentos de células (elementos figurados). O plasma corresponde a 56% do volume sanguíneo; é formado por 90% de água e diversas substâncias, como proteínas, sais inorgânicos, aminoácidos, vitaminas, hormônios, lipoproteínas, glicose e gases -oxigênio, gás carbônico e nitrogênio -, diluídos em seu meio. A pressão osmótica é regulada pelos sais minerais juntamente com a água, impulsionada por uma força que pressiona a passagem da água de um local menos concentrado para outro mais concentrado através de uma membrana. São exemplos de sais minerais o cloreto, o sódio, o potássio, o cálcio e o magnésio. Já as principais proteínas relacionadas com o plasma são a albumina, as globulinas e o fibrinogênio. A albumina faz o transporte de medicamentos, bilirrubina e do ácido biliar, também é responsável por manter a pressão osmótica uniforme, proporcionando a troca de água entre o sangue e os tecidos. Já a composição das globulinas apresenta a alfa e betaglobulinas que exercem a função de transportar o ferro e outros metais, hormônios, vitaminas, lipídios e as gamaglobulinas (anticorpos) responsáveis pela proteção do nosso organismo, por isso são chamadas de imunoglobulinas. O fibrinogênio auxilia na formação de fibrina na etapa final da coagulação sanguínea. A maior parte das células que formam a parte sólida do sangue são os glóbulos vermelhos, também chamados hemácias ou eritrócitos, eles não possuem núcleos e apresentam um pigmento rico em ferro chamado de hemoglobina, tornando o sangue vermelho e com a função de transportar oxigênio para as células. Qualquer dificuldade que aconteça nesse transporte pode ser letal para as células do tecido afetado – o que é possível de ser percebido através da pele e mucosas, que se apresentarão hipocoradas (sem cor). As hemácias são formadas nas medulas vermelhas dos ossos longos e vivem em média 120 dias; quando morrem são transportadas para o baço pelo próprio sangue, onde Módulo 1 Técnico em Farmácia 114 se fragmentarão. Normalmente existem 4,5 a 5 milhões de eritrócitos/ml de sangue; isso corresponde a 45% de eritrócitos no sangue, essa porcentagem recebe a nomenclatura de hematócrito. A anemia, por exemplo, é causada por uma perda muito rápida ou produção lenta. As células sanguíneas também apresentam alguns componentes (aglutinógenos) que são determinados pela genética, convencionalmente chamados de A e B. São esses componentes que definem o tipo sanguíneo de uma pessoa. Existem quatro tipos de sangue: tipo A- com hemácias que só contém o elemento A; tipo B – com hemácias que só contém o elemento B; tipo AB – com hemácias que contém os dois elementos; e tipo O, com hemácias “vazias”, ou seja, sem aglutinógeno. Além destes componentes, há o fator Rh. Cerca de 85% da população possui o aglutinógeno Rh, sendo chamadas de Rh+. Quando um paciente precisa por exemplo, de transfusão sanguínea se faz necessário conhecer a tipagem sanguínea do mesmo pois a presença desses aglutinógenos específicos nas hemácias é um dos elementos responsáveis pelas reações transfusionais resultantes de tipos sanguíneos incompatíveis. Em menor quantidade que as hemácias existem os leucócitos ou glóbulos brancos que são responsáveis pela defesa do organismo pois são capazes de destruir os ameaçadores. Também produzem uma substância manifesta nas reações alérgicas chamada histamina além de outra substancia anticoagulante denominada heparina. Quando suspensos no sangue os leucócitos são esféricos e classificam-se em granulócitos - ou poliformonucleares - e agranulócitos - segundo características celulares - e se diferenciam em outras células durante a fase de maturação. A composição dos granulócitos é de 60% a 75% de neutrófilos, 2% a 4% de eosinófilos e 1% de basófilos. São formados na medula óssea e depois são destruídos e eliminados pelo fígado, baço, muco-bronquial, secreções glandulares e por autodestruição. Auxiliam o organismo na defesa durante a fase aguda do processo infeccioso e inflamatório. Os eosinófilos participam de processos alérgicos. Os agranulócitos compreendem os linfócitos e monócitos. Enquanto os linfócitos correspondem a 25% - 40% dos leucócitos e são formados nos tecidos linfoides, onde se armazenam (timo e baço). Uma pequena quantidade circula pelo corpo, atuando lentamente nas inflamações crônicas em vista de sua pouca ação destrutiva sobre as bactérias, no entanto são importantes nas reações de defesa contra proteínas estranhas ao organismo. Os monócitos formam- se na medula óssea e participam no combate de infecções crônicas, correspondendo a 3% - 6% dos leucócitos. Um outro elemento de importância fundamental no sangue são as plaquetas, que são fragmentos de células especiais da medula óssea chamadas megacariócitos. O corpo humano possui cerca de 250 a 450 mil plaquetas/ml, cuja função é a coagulação sanguínea - se não existissem, correríamos o risco de perder todo o sangue através de qualquer ferimento. Assim, quando um vaso sanguíneo sofre lesão em sua parede inicia-se um processo chamado hemostasia (coagulação sanguínea), que visa impedir a perda de sangue TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 115 (hemorragia). Por meio do processo de vasocontrição o vaso lesado se contrai e as plaquetas que por ali circulam agregam-se no local, formando um tampão plaquetário. A Fibrina é originada durante a agregação onde fatores do plasma sanguíneo, das plaquetas e dos vasos lesados promovem a interação sequencial (em cascata) de 13 proteínas plasmáticas. A partir daí é formada uma rede que aprisiona os leucócitos, eritrócitos e plaquetas formando-se então o coagulo sanguíneo que é bem mais consistente e firme que o tampão plaquetário. O tecido novo é formado através da proteção do coagulo que faz com que a parede do vaso seja restaurada, para que só assim, através da ação de enzimas plasmáticas e plaquetárias o coágulo seja removido. Vale ressaltar que os vasos sanguíneos são inervados pelo nervo simpático que diminui o calibre dos vasos (ação vasoconstritora), e pelo nervo parassimpático, que aumenta o calibre dos vasos (vasodilatador). A ação desses dois feixes nervosos mantém o diâmetro e a tonicidade dos vasos sanguíneos. 5.13 Anatomia e Fisiologia do Sistema Urinário O sistema urinário é formado pelos órgãos responsáveis pela formação da urina que é um dos veículos de excreção do organismo. Os órgãos que compõem esse sistema são: os rins, os ureteres, a bexiga urinária e a uretra. Sua função é realizar a manutenção do balanço interno (homeostase) através da eliminação ou preservação de água e demais produtos do metabolismo celular, tais como, a ureia, o ácido úrico e a creatinina. Além de produzir o hormônio eritropoietina responsável por estimular a produção dos eritrócitos do sangue. É ainda no sistema excretor que ocorre a regulação da composição e do pH do líquido intersticial, isso acontece através da seleção dos rins, ao impedirem que substâncias vitais para o corpo sejam expelidas,liberando apenas a saída de substâncias tóxicas garantindo a sobrevivência das células. 5.13.1 Rim Localizados na região retro peritoneal, esses dois órgãos estão fixados na parede posterior da cavidade abdominal localizados à direita e à esquerda da coluna vertebral, sendo o direito uma posição inferior em relação ao esquerdo, em virtude da presença do fígado à direita. Na anatomia externa dos rins (Figura 51) podemos visualizar: Faces: Anterior e posterior. Polos: Superior (glândula suprarrenal) e inferior. Módulo 1 Técnico em Farmácia 116 Bordas: Medial e lateral. Camadas de revestimento: Formada por cápsula fibrosa, cápsula adiposa e fáscia renal. A borda medial do rim apresenta uma fissura vertical chamada hilo renal, por onde passam o ureter, a artéria e a veia renal, linfáticos e nervos que em conjunto constituem o pedículo renal. Dentro do rim, o hilo se expande em uma cavidade central denominada seio renal que funciona como alojamento para a pelve renal que na verdade é a porção dilatada do ureter. Já na anatomia interna do rim pode-se observar mais perifericamente uma região de coloração menos evidente denominada córtex renal e ainda uma região mais escura denominada medula renal. O córtex renal se projeta na medula renal dividindo estruturas chamadas de pirâmides renais. Estas estruturas do córtex são chamadas de colunas renais. As pirâmides renais têm os ápices voltados para a pelve renal, enquanto suas bases são envolvidas pelo córtex renal, estando, portanto, voltadas para a superfície do órgão. Figura 51 - Anatomia externa do rim Fonte: Baseada em Netter (2000) Segundo o portal da anatomia (2016) a pelve renal por sua vez, está dividida em dois ou três tubos curtos e largos, os cálices renais maiores que se subdividem em número variável de cálices renais menores. Cada um destes últimos oferece um encaixe em forma TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 117 de taça, para receber o ápice das pirâmides renais. Este ápice denomina-se papila renal, região anatômica que apresenta uma área perfurada, área crivosa, por onde goteja o ultrafiltrado que serão recebidos nos cálices renais menores. Um exame cuidadoso da medula renal mostra a presença de estriações, os raios medulares (Figura 52). Figura 52 - Anatomia Interna do Rim Fonte: Baseada em Netter (2000) Os rins são sustentados pela artéria renal, que tem sua origem na aorta. A artéria renal é subdividida no hilo em um ramo anterior e um ramo posterior. Estes ramos se subdividem em várias artérias segmentares que irão irrigar os vários segmentos do rim. Das artérias segmentares surgem as artérias interlobares, que na junção córtico-medular dividem-se para formar as artérias arqueadas e, posteriormente as artérias interlobulares. Dessas artérias surgem as arteríolas aferentes, as quais sofrem divisão formando os capilares dos glomérulos, que em seguida, confluem-se para forma a arteríola eferente. A arteríola eferente dá origem aos capilares peritubulares e as arteríolas retas, responsáveis pelo suprimento arterial da medula renal. A análise microscópica de um corte de tecido renal (Figura 53) mostra a presença de numerosas estruturas afuniladas, com longos tubos enrolados, denominados néfrons. Os néfrons são estruturas funcionais dos rins. Cada rim tem aproximadamente um milhão de nefrons. O néfron é formado por duas regiões principais: o glomérulo e o túbulo renal. O glomérulo é um novelo de capilares envolvido por uma pequena camada denominada cápsula de Bowmann. Cada glomérulo juntamente com sua respectiva cápsula de Bowmann constitui o crepúsculo renal ou corpúsculo de Malpighi. Módulo 1 Técnico em Farmácia 118 Figura 53 - Anatomia do Tecido Renal Fonte: Baseada em Cheidar (2002) Através da artéria renal o sangue chega ao rim, a partir daí se ramifica em larga escala no interior do órgão, dando origem a um grande número de arteríolas aferentes, onde cada uma ramifica-se no interior da cápsula de Bowman do néfron, formando um enovelado de capilares denominado glomérulo de Malpighi. O sangue arterial é conduzido nos capilares do glomérulo sob uma pressão de 70 a 80 mmHg, que faz com que parte do plasma seja transportado para a cápsula de Bowman; esse processo é denominado filtração (Figura 54). As substâncias Essas substâncias extravasadas para a cápsula de Bowman formam o filtrado glomerular, muito parecido em composição química, com plasma sanguíneo, com a diferença de que não possui proteínas, incapazes de atravessar os capilares glomerulares. Na sequência O filtrado glomerular vai para o túbulo contorcido proximal, que possui uma parede formada por células adaptadas ao transporte ativo. Nesse túbulo, acontece a reabsorção ativa de sódio. Depois, o líquido percorre o ramo descendente da alça de Henle, ocorrendo a passagem de água por osmose do líquido tubular (hipotônico) para os capilares sanguíneos (hipertônicos) – esse processo é denominado reabsorção. O ramo descendente percorre regiões do rim com gradientes crescentes de concentração. Consequentemente, ele perde ainda mais água para os tecidos, de forma que, na curvatura da alça de Henle, a concentração do líquido tubular é alta. Esse líquido muito concentrado passa então a percorrer o ramo ascendente da alça de Henle, que é formado por células impermeáveis à água e que estão adaptadas ao transporte ativo de sais. Nessa região, ocorre remoção ativa de sódio, ficando o líquido tubular hipotônico. Ao passar pelo túbulo contorcido distal, que é permeável à água, ocorre reabsorção por osmose para os capilares sanguíneos. Ao sair do néfron, a urina entra nos TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 119 dutos coletores, onde ocorre a reabsorção final de água. Em 24 horas são filtrados aproximadamente 180 litros de fluido do plasma; no entanto apenas 1 a 2 litros de urina são formados por dia, ou seja, aproximadamente 99% do filtrado glomerular é reabsorvido. Ao longo dos túbulos renais também acontece a reabsorção ativa de aminoácidos e glicose. Dessa maneira, ao final do túbulo distal, essas substâncias já não são mais encontradas. Os capilares que reabsorvem as substâncias úteis dos túbulos renais se reúnem para formar um vaso único, a veia renal, que leva o sangue para fora do rim, em direção ao coração. Figura 54 - Filtração Glomerular Fonte: Baseada em Lopes (2002) Para se ter uma função renal bem regulada é importante e básico a regularização da quantidade de líquidos no corpo Quando h, e m função da melhor reabsorverá uma necessidade de reter água no interior do corpo, a urina fica mais concentrada em função da maior reabsorção de água; já se houver excesso de água no corpo a urina fica menos Módulo 1 Técnico em Farmácia 120 concentrada causando uma menor reabsorção de água. O ADH é o principal agente regulador do equilibro hídrico na vida de um indivíduo, produzido no hipotálamo e armazenado na hipófise. Através dos receptores osmóticos localizados no hipotálamo é detectada a concentração do plasma sanguíneo. Então quando acontece o aumento de concentração do plasma, esses osmorreguladores incentivam a produção de ADH. Esse hormônio pode passar pela corrente sanguínea indo atuar sobre os túbulos distais e sobre os túbulos coletores do néfron transformando as células desse grupo mais permeáveis à água assim a reabsorção de água e a urina fica mais concentrada; já quando a concentração de plasma é baixa, ou seja, há muita água a produção do ADH éinibida causando também uma menor absorção de água nos túbulos distais e coletores, fazendo com que o excesso de água seja excretado tornando a urina mais diluída. A aldosterona é outro elemento participante do equilíbrio hidro iônico do organismo sendo produzida nas glândulas suprarrenais. Esse hormônio é capaz de aumentar a reabsorção ativa de sódio nos túbulos renais, fazendo com que haja uma maior retenção de água no organismo. A aldosterona começa a ser produzida quando a concentração de sódio no túbulo renal diminui. Uma proteína chamada renina é produzida pelo rim, que age sobre o angiotensinogênio (inativo), outra proteína produzida no fígado e encontrada no sangue, para depois ser convertida em angiotensina (ativa). Essa substância estimula as glândulas suprarrenais a produzirem aldosterona. 5.13.2 Ureteres São dois tubos que tem a função de transportar a urina dos rins para a bexiga, geralmente medem menos de 6mm de diâmetro e 25 a 30cm de comprimento. No interior do rim está localizada a pelve renal que é a extremidade superior do ureter (Figura 55). O ureter é formado por duas partes: abdominal e pélvica, sendo eles capazes de realizar contrações rítmicas denominadas peristaltismo. 5.13.3 Bexiga É um órgão em formato de bolsa flexível de localização infraperitonial, tendo como principal função armazenar a urina antes de ser eliminada pelo corpo. A bexiga transforma o fluxo continuo de urina que chega pelos ureteres em emissão periódica (micção). A variação de forma, tamanho, situação e relações da bexiga com os órgão vizinhos acontece de acordo com suas fases de vacuidade, plenitude ou intermediárias e sua relação com os órgãos vizinhos, essa variação também depende da idade ou sexo. No adulto, por exemplo, quando está vazia ela se achata contra a sínfise púbica e quando está cheia fica e forma de um ovoide e faz uma saliência na cavidade abdominal. A bexiga possui um espaço triangular delimitado pelos óstios ureterais e pelo óstio interno da uretra denominado trígono da bexiga. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 121 5.13.4 Uretra É o canal condutor da urina constituindo o último segmento das vias urinárias. É importante lembrar que ela difere nos dois sexos, mas em ambos tem a função de estabelecer a comunicação entre a bexiga urinaria e o meio exterior. No homem ela mede 20c e funciona como uma via comum para a passagem da micção e ejaculação. No sexo feminino, a uretra é menor, possui aproximadamente 4 cm de comprimento e localiza-se anteriormente a vagina. 5.13.5 Uretra Masculina A uretra masculina é composta por quatro porções: Intramural: Que é circundada por musculatura lisa da bexiga, musculatura esta que apresenta fibras circulares que constituirão o esfíncter interno da uretra. Enquanto na mulher, serve apenas a excreção da urina. Prostática: Atravessa longitudinalmente a próstata. Membranácea: Atravessa o diafragma urogenital. Esponjosa: É a maior das porções uretrais, localizada do diafragma urogenital até o óstio externo da uretra. Dentro da glande fica a fossa navicular da uretra, que é uma dilatação que diminui a pressão de chegada da urina minimizando a possibilidade de ocorrência de micro lesões nas paredes que se seguem. 5.13.6 Uretra Feminina A uretra feminina é composta por apenas duas porções: Intramural: Que é circundada por musculatura lisa da bexiga, musculatura esta que apresenta fibras circulares que constituirão o esfíncter interno da uretra, enquanto na mulher, serve apenas a excreção da urina. Módulo 1 Técnico em Farmácia 122 Membranácea: Atravessa o diafragma urogenital. A Figura 55 a seguir ilustra os órgãos acima descritos (ureter, bexiga e uretra). Figura 55- Ureter, bexiga e uretra Fonte: Baseado em www.calculorenal.org.br (2016) 5.14 Anatomia e Fisiologia do Sistema Reprodutor O aparelho reprodutor tem como principal função perpetuar a espécie através da reprodução. O sistema reprodutor feminino é um pouco mais complexo pelo fato de possuir um órgão a mais, logo, apresenta mais uma função: o útero que abriga e proporciona o desenvolvimento de uma nova vida, resultante da união dos gametas. O início do processo de reprodução humana é marcado pelo percurso que o óvulo faz através das tubas uterinas até chegar ao útero. Durante esse trajeto, vários milhões de espermatozoides poderão ir ao encontro, mas somente os mais fortes, conseguem atingir o óvulo e apenas um deles fecunda-lo. 5.14.1 Sistema reprodutor masculino O sistema reprodutor masculino é formado pelos testículos (gônadas masculinas), um sistema de ductos (ducto deferente, ducto ejaculatório e uretra), as glândulas sexuais acessórias (próstata, glândula bulbouretral e vesículas seminais) e diversas estruturas de suporte, incluindo o escroto e o pênis. 5.14.1.1 Pênis O pênis, ilustrado pela Figura 56, é o órgão erétil e copulador masculino, quando penetra nas vias genitais femininas lança os espermatozoides. É constituído de tecido flácido, formado por: http://www.calculorenal.org.br/ TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 123 Dois corpos cavernosos são fixados ao osso da bacia através dos ramos do pênis – extremidades posteriores. Um corpo esponjoso, apresentando duas dilatações: glande (anterior) e bulbo (posterior). 5.14.1.2 Sêmen O sêmen é um líquido constituído basicamente por espermatozoides e fluido seminal. É composto por: secreções da próstata (30%) e vesículas seminais (70%). O fluido seminal é formado de: água, muco, açúcar, bases e prostaglandinas (hormônios que vão desencadear contrações do útero e tuba uterina). Figura 56- Pênis Fonte: Baseada em Lopes (2002) 5.14.1.3 Escroto O escroto é um saco musculocutâneo frouxo e enrugado, dividido em dois compartimentos que contêm os testículos, os epidídimos e a parte mais proximal dos cordões espermáticos. Tem como função sustentar os testículos e também regular a temperatura local em relação ao ambiente (Figura 57). Módulo 1 Técnico em Farmácia 124 Figura 57 - Escroto Fonte: Baseada em Lopes (2002) O escroto é constituído por camadas de tecido diferentes que se estratificam da periferia para a profundidade, nos sete planos seguintes: Cútis: Formado por uma pele enrugada e fina com pregas transversais e com pelos esparsos. Na linha mediana está localizada a rafe do escroto. Túnica dartos: Músculo cutâneo composto por fibras musculares lisas. Fáscia espermática externa: Derivada do músculo oblíquo externo do abdome, funciona como uma lâmina conjuntiva, descendo do ângulo inguinal superficial para entrar na constituição do escroto. Fáscia cremastérica: Este plano é representado por uma delgada lâmina conjuntiva que prende inúmeros feixes de fibras musculares estriados de direção vertical. No conjunto, essas fibras musculares constituem o músculo cremáster e derivam das fibras do músculo oblíquo interno do abdome. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 125 Fáscia espermática interna: Lâmina conjuntiva que deriva da fáscia transversal. Túnica vaginal: Serosa cujo folheto parietal representa a camada mais profunda do escroto, enquanto o folheto visceral envolve o testículo, epidídimo e início do ducto deferente. 5.14.1.4 Testículos O testículo (Figura 58) é um órgão par (direito e esquerdo) também chamado de gônadas sexuais masculinas, fica localizado no escroto, na região anterior do períneo, logo por trás do pênis. Figura 59- Testículos Fonte: Baseada em Lopes (2002) Cada testículo tem forma ovoide, possuieixo quase vertical, e levemente achatado no sentido lateromedial, apresentando duas faces, duas bordas e duas extremidades. As faces são classificadas em lateral e medial, as bordas em anterior e posterior e a extremidades em superior e inferior. Módulo 1 Técnico em Farmácia 126 A túnica albugínea é uma cápsula de natureza conjuntiva que envolve o testículo, com a função de enviar os septos para o seu interior, sendo subdivididos em lóbulos. Nos lóbulos dos testículos encontramos em uma larga escala os túbulos seminíferos contorcidos que são ductos longos e sinuosos de calibre quase capilar; neste local são formados os espermatozoides. Os túbulos seminíferos convergem para o mediastino dos testículos e vão se anastomosando, constituindo túbulos seminíferos retos, os quais se entrecruzam formando uma verdadeira rede, chamada Rede de Haller, ao nível do mediastino. No mediastino, os túbulos seminíferos retos desembocam em dez a quinze ductos eferentes, que se dirigem desde o testículos até o epidídimo. Além de produzirem os espermatozoides, durante a fase da puberdade os testículos produzem também hormônios – testosterona -, responsáveis pelo aparecimento dos caracteres sexuais secundários, por isso são considerados glândulas mistas. A temperatura ideal para produção e armazenamento de espermatozoides é de 35o C, isso nos faz compreender a razão pela qual os testículos não se localizam no interior do corpo humano. A temperatura corporal é em torno de 37o C. 5.14.1.5 Vias Espermáticas As vias espermáticas, que conduzem os espermatozoides, são compostas pelo epidídimo, ducto deferente, ducto ejaculatório e uretra. O epidídimo é uma estrutura em forma de C, constituída de cabeça, corpo e cauda, situada na margem posterior de cada testículo. Além de atuar como via condutora de gametas também armazena espermatozoides até o momento da ejaculação. É no epidídimo que os espermatozoides sofrem a maturação durante seu desenvolvimento, que ocorre aproximadamente em 2 meses. O Ducto Deferente é um prolongamento da cauda do epidídimo responsável pela condução do espermatozoide até o ducto ejaculatório. O ducto ejaculatório é formado pela junção do ducto deferente com o ducto da vesícula seminal, também serve como via condutora de gametas, no entanto possui menor dimensão e calibre do que as demais vias condutoras de espermatozoides. Seu trajeto passa pelo interior da próstata. 5.14.1.6 Uretra A uretra possui em média 20 centímetros de comprimento e serve para a eliminação de urina e para ejaculação. O canal da uretra é subdividido em: uretra prostática que transcorre pela próstata, uretra membranosa que percorre o assoalho da pelve e uretra peniana que passa pelo corpo esponjoso do pênis. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 127 5.14.1.7 Vesículas Seminais As vesículas seminais são duas bolsas membranosas lobuladas, em média possuem 7,5cm de comprimento, e tem a função de produzir um líquido para ser adicionado na secreção dos testículos. A face ventral está em contato com o fundo da bexiga, estendendo- se do ureter à base da próstata. Esse líquido contém frutose (açúcar monossacarídeo), prostaglandinas e proteínas de coagulação (vitamina C). o líquido possui uma natureza alcalina colabora com a neutralização do ambiente ácido da uretra masculina e do trato genital feminino, se isso não acontecesse mataria os espermatozoides. Esse líquido constitui cerca de 60% do volume do sêmen. 5.14.1.8 Próstata É uma glândula acessória composta de musculatura lisa, tecido fibroso e glândulas. Fica localizada sob a bexiga (proporcionando assim, a sua palpação pelo toque retal), atrás da sínfise pubiana e abaixo das vesículas seminais. Possui o formato achatado no sentido anteroposterior, apresentando uma face anterior e outra posterior, e de cada lado, faces inferolaterais. Na sua estrutura, apresenta uma cápsula constituída por tecido conjuntivo e fibras musculares lisas que a envolvem, da qual partem finas trabéculas que se dirigem até a profundidade do parênquima. Também possui fibras musculares estriadas, além de células glandulares espalhadas em tubos ramificados cuja secreção é drenada pelos ductos prostáticos. Como está localizada em torno da uretra, a próstata também é responsável por liberar a urina ou o esperma, de acordo com o estímulo. Produz um líquido de aspecto leitoso que dá ao esperma a cor e odor característicos. 5.14.1.9 Glândulas Bulbouretrais Também considerada uma glândula anexa, as glândulas bulbouretrais são duas formações esféricas e pequenas, estão situadas próximas ao bulbo e envolvidas por fibras transversas do esfíncter uretral. Localizam-se inferiormente a próstata e drenam suas secreções (Mucosa) para a parte esponjosa da uretra. Seus ductos desembocam na uretra peniana, secretando um líquido mucoso que auxilia na ejaculação. Na Figura 59 a seguir se ilustram os órgãos genitais masculinos. Módulo 1 Técnico em Farmácia 128 Figura 60 - Órgãos genitais masculino Fonte: Baseada em Lopes (2002) 5.14.2 Fisiologia do Sistema Reprodutor Masculino O ato sexual masculino é iniciado pela ereção, que acontece por meio de fenômenos vasculares que proporcionam uma congestão sanguínea nos tecidos eréteis do pênis, tornando-o ereto, rígido e com maior volume. Isso ocorre quando região sacral da medula espinhal é excitada sendo O fenômeno da ereção ocorre através de excitação na região sacral da medula espinhal transmitida por meio de nervos parassimpáticos. Logo depois um circuito neuronal que fica na lombar alta da medula espinhal é ativado e por meio de nervos autônomos simpáticos, causam vários fenômenos que provocarão a emissão, e logo depois a ejaculação. É no processo de emissão que ocorrem as contrações do epidídimo, canais deferentes, vesículas seminíferas, próstata, glândulas bulbouretrais e glândulas uretrais. A uretra, então, se enche de líquido contendo milhões de espermatozoides. Logo após a emissão ocorre a ejaculação, onde aproximadamente 3,5 a 5 ml de sêmen são expelidos para o exterior do aparelho masculino. Este volume de sêmen contém cerca de 200 a 400 milhões de espermatozoides. O líquido prostático neutraliza a acidez da vagina, possibilitando o movimento dos espermatozoides no interior do aparelho reprodutor feminino. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 129 5.14.3 Sistema reprodutor feminino Tal como no sistema genital masculino, o sistema genital feminino, ilustrado pela Figura 60, é o conjunto de órgãos encarregados da reprodução na mulher. É composto pelos ovários, tubas uterinas, útero, vagina e vulva. Os ovários, as tubas uterinas e o útero são órgãos intraperitoneais situados profundamente na pelve. 5.14.3.1 Ovários São duas gônadas ou glândulas sexuais femininas, também chamados de órgãos primários. Localiza-se na parte inferior da cavidade abdominal, um de cada lado do útero. Possui aproximadamente 3cm de comprimento, 2cm de largura e 1,5cm de espessura. Possui uma borda anterior e outra posterior e uma face lateral e outra medial. A borda medial acopla-se a uma expansão do ligamento largo do útero que recebe o nome de mesovário, e por isso é denominada de borda mesovárica, já a borda posterior é denominada borda livre A borda mesóvarica representa o hilo do ovário; é por ele que entram e saem os vasos ováricos. A extremidade inferior é chamada extremidade tubal e a superior extremidade uterina. Durante a puberdade os ovários começam a produzir os hormônios sexuais, estrógeno e progesterona. O estrógeno é produzido pelas células dos folículos maduros, já o corpo lúteo produzgrandes quantidades de progesterona e pouco estrógeno. 5.14.3.2 Tuba uterina Tuba uterina são dois tubos localizados no ângulo superior de cada lado do útero; apresenta um calibre irregular medindo cerca de 10 cm de comprimento. Conforme se afasta do útero vai se dilatando, por um funil de borda franjada. É subdividida em 4 regiões, que no sentido médio-lateral são: parte uterina, istmo, ampola e infundíbulo. As principais funções da tuba são transportar o óvulo do ovário ao útero e ser o local onde acontece a fertilização do óvulo pelo espermatozoide. 5.14.3.3 Útero É um órgão oco que possui formato de pêra invertida e se situa entre a bexiga urinaria e o reto. Comunica-se por um lado com a tuba uterina e por outro com a vagina. É dividido em quatro partes: Corpo do útero; Fundo do útero; Istmo; Colo do útero. Módulo 1 Técnico em Farmácia 130 E possui uma estrutura dividida em três camadas: Camada interna ou endométrio; É modificada pelo ciclo menstrual ou até mesmo na gravidez (é onde o embrião se instala). É preparado para receber o óvulo mensalmente, através do aumento da espessura e da formação de redes capilares. Caso não aconteça fecundação ele sofre descamação e ocorre o processo da menstruação; Camada média ou miométrio; Camada externa ou perimétrio. Figura 60 - Útero, tuba uterina, ovários Fonte: Baseada em Lopes (2002) 5.14.3.4 Vagina Funciona como um canal muscula membranoso, Sua extensão vai desde o colo do útero até a vulva. Possui uma estrutura elástica coberta por uma pele fina, com várias pregas. No ato sexual, é a vagina que recebe o pênis, por ela também passa os fluxos menstruais e também o feto na hora do parto. Na sua entrada existe uma proteção formada por uma membrana circular - o hímen - que fecha parcialmente o orifício vulvo-vaginal e geralmente se rompe nas primeiras relações sexuais. 5.14.3.5 Clitóris É um órgão de formato alongado e erétil, fica localizado na parte posterior da vulva, apresenta uma porção oculta entre os lábios maiores e outra livre, que termina numa extremidade chamada glande, coberta pelo prepúcio. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 131 5.14.3.6 Grandes lábios São duas dobras cutâneas, alongadas, que possuem uma fenda entre elas. No período da puberdade começam a aparecer pelos na parte externa, em seu interior permanecem lisas. 5.14.3.7 Pequenos lábios Também chamados de ninfas, são duas dobras cutâneas pequenas localizadas medialmente aos lábios maiores. 5.14.3.8 Monte púbico É uma pequena elevação formada basicamente de tecido adiposo. 5.14.3.9 Óstio da vagina É a abertura vaginal. É envolta pelos pequenos lábios onde está contida a uretra, a vagina e os ductos das glândulas vestibulares. Durante a excitação sexual essas glândulas liberam uma pequena quantidade de muco durante, que serve para deixar as estruturas úmidas e propicias para a relação sexual. 5.14.3.10 Óstio da uretra A uretra feminina é menor que a masculina e serve apenas como via de micção (no caso do homem é também via de ejaculação). Mede aproximadamente 4 cm e apresenta uma abertura denominada óstio interno da uretra. O órgão genital feminino é ilustrado pela Figura 61 a seguir. Módulo 1 Técnico em Farmácia 132 Figura 61 - Vagina e vulva Fonte: Baseada em Lopes (2002) 5.14.3.11 Mamas São dois órgãos formados por um conjunto de glândulas que tem como principal função produzir o leite materno durante o período de lactação da mulher. 5.14.4 Fisiologia do Sistema Reprodutor Feminino Na conclusão do desenvolvimento embrionário de uma menina, ela já possui todas as células necessárias para serem transformadas no final do desenvolvimento embrionário de uma menina, ela já tem todas as células que irão transformar-se em gametas nos seus dois ovários. Estas células - os ovócitos primários - encontram-se dentro de estruturas denominadas folículos ovarianos. O início da puberdade feminina é marcada pelo aparecimento da primeira menstruação, (MENARCA – entre 11 e 13 anos), e vai até a última menstruação, (MENOPAUSA - entre 45 e 50 anos). A partir da menarca a menina passa a ser capaz de gerar uma nova vida, além disso, ocorre o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários como o desenvolvimento das mamas e o aparecimento de pelos em determinadas regiões do corpo. Durante a vida fértil da mulher, amadurece normalmente apenas um folículo a cada 28-30 dias produzindo um óvulo fértil, que cai na tuba uterina, onde poderá ser fecundado ou não. No ponto de ruptura do folículo, na parede do ovário, as células foliculares formam um tecido de cicatrização de função endócrina, o chamado corpo lúteo (ou amarelo). Se não houver fecundação, o corpo lúteo degenera após 10 dias. Se, no entanto, o óvulo for fecundado, o corpo amarelo cresce muito e permanece alguns meses produzindo a progesterona, que é o hormônio da gravidez. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 133 5.14.4.1 Ciclo menstrual O ciclo menstrual, ilustrado pela Figura 62, Compreende um período de 28 a 30 dias, durante o qual se origina um óvulo que, não fecundado, será expulso junto com secreções, sangue e restos do endométrio, que continua se desenvolvendo para garantir a fixação, proteção e nutrição do futuro embrião. Nos primeiros 14 dias do ciclo, a hipófise, produzindo FSH (Hormônio Folículo Estimulante), estimula a maturação de um folículo ovariano. Este produz estrógenos, que, chegam ao útero promovendo o crescimento do endométrio. No 14° dia ocorre a ovulação e nos 14 dias finais do ciclo a hipófise produz alta taxa de LH (hormônio luteinizante), que estimula o desenvolvimento do corpo amarelo. Este tecido endócrino produz então a progesterona, que continua estimulando o crescimento do endométrio, preparando-o para receber o zigoto. O aumento da taxa de progesterona atua sobre a hipófise inibindo a produção do LH. Assim, o corpo amarelo degenera, cai a taxa de progesterona e ocorre o desprendimento do endométrio, eliminado como fluxo menstrual. Figura 62 - Ciclo Menstrual Fonte: Baseada em Lopes (2002) Módulo 1 Técnico em Farmácia 134 5.14.4.2 Gravidez Os espermatozoides lançados na vagina deslocam-se em direção ao útero e às tubas uterinas. Quando encontram um óvulo no interior das tubas, ocorre a fecundação. Imediatamente, a membrana do óvulo fica completamente impermeável à penetração de outro espermatozoide. A partir do instante da fecundação, a célula-ovo começa a se dividir e a ser “empurrada” em direção ao útero por contrações leves da musculatura lisa da tuba e pelo movimento dos cílios que revestem sua mucosa interna. O ovo leva de dois a quatro dias para atingir o útero, e a essa altura já pode ser chamado de embrião. O embrião encontra o útero com as paredes espessadas, cheias de vasos sanguíneos e vilosidades, implanta-se nessas paredes e se desenvolve. Quando chega ao útero, o ovo já iniciou a formação do embrião. O desenvolvimento embrionário é rápido e em poucos dias o embrião já conta com muitas células. Com o tempo, certas camadas de células se diferenciam para formar as membranas extraembrionárias. Umas dessas camadas é o córion, que se desenvolve em contado com a parede do útero, formando inúmeros prolongamentos. A mucosa uterina se desenvolve mais e se une estreitamente a esses prolongamentos, formando a placenta. É por intermédio da placenta que as substâncias dissolvidas no plasma maternopassam para o feto, alimentando-o. Ela se comunica com o embrião através do cordão umbilical, dentro do qual passam a artéria e as veias umbilicais. É pela artéria umbilical que o embrião recebe nutrientes e oxigênio retirado do sangue da mãe. Entre o embrião e as membranas existentes existe um liquido chamado líquido amniótico. Três a quatro semanas após a fecundação, o coração do embrião começa a bater. Ao fim do segundo mês o embrião já tem membros, dedos e face com características humanas. Desse ponto em diante recebe o nome de feto. 5.14.4.3 Menopausa Depois de uns 400 ciclos menstruais completos, ou menos, sobrevém o declínio sexual da mulher. A menopausa, ou interrupção permanente da menstruação, não é o climatério em si, mas uma das manifestações desse período. Além da suspensão da menstruação, o climatério envolve profundas alterações orgânicas e psíquicas. 5.14.4.4Métodos Contraceptivos Pílulas anticoncepcionais: Contém hormônios que evitam a produção de óvulos. DIU (dispositivo intrauterino): O DIU é composto por um objeto de plástico parecido com uma flecha. Ele possui um fio de cobre enrolado na parte inferior. Evita a gravidez de duas formas, o cobre tem função espermicida; e o DIU impede que o embrião se implante na camada do útero. Isto para alguns é considerado abortivo. Abstinência: Não ter relação sexual. Coito interrompido: Retirar o pênis antes da ejaculação, é um método pouco seguro. Cremes espermicidas: Substâncias aplicadas na vagina que matam os espermatozoides. São pouco eficientes e geralmente são associados ao diafragma. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 135 Diafragma: Tem a forma de um chapeuzinho, feito de borracha fina e macia, que é colocado no fundo da vagina, cobrindo todo o colo do útero, impedindo assim a passagem dos espermatozoides. Tabelinha: Evita ter relação sexual no dia da ovulação. Camisinha (Masculina e feminina): Impede que o esperma seja depositado dentro do corpo feminino. Único método que também protege contra as DSTs. Vasectomia: Corte do vaso deferente e o amarro de suas pontas. Pode ser reversível (amarras) ou irreversível (corte). Laqueadura Tubária: Cortam-se as pontas das tubas uterinas impedindo que os espermatozoides entrem em contato com o óvulo. Pode ser reversível (amarras) ou irreversível (corte). 5.15 Anatomia e Fisiologia do Sistema Endócrino Há no organismo algumas glândulas das quais a função é essencial para a vida. São conhecidas pelo nome de "glândulas endócrinas" ou de secreção interna, porque as substâncias por elas elaboradas passam diretamente para o sangue. Estas glândulas não têm, portanto, um ducto excretor, mas são os próprios vasos sanguíneos que, capilarizando- se nelas, recolhem as secreções. Na Figura 63 a seguir se podem observar as glândulas endócrinas. Figura 63 - Glândulas endócrinas Fonte: Baseada em Lopes (2002) Módulo 1 Técnico em Farmácia 136 A secreção se verifica mediante glândulas diferenciadas, as quais podem ser exócrinas (de secreção externa) ou endócrinas (de secreção interna). Chamamos glândulas exócrinas as que são providas de um conduto pelo qual vertem ao exterior o produto de sua atividade secretora, tais como o fígado, as glândulas salivares e as sudoríparas. E as glândulas endócrinas são aquelas que carecem de um conduto excretor e, portanto, vertem diretamente no sangue seu conteúdo, como por exemplo, a tiroide, o timo, etc. Existem além disso, as mistas que produzem secreções internas e externas, como ocorre com o pâncreas (que produz suco pancreático e insulina) e o fígado. As glândulas endócrinas secretam substâncias particulares que provocam no organismo funções biológicas de alta importância: os hormônios, estes difundem ou são transportados pela corrente circulatória a outras células do organismo, regulando suas necessidades. As principais glândulas endócrinas do organismo são o pâncreas, a tireoide, as paratireoides, a pinel, as cápsulas suprarrenais, a hipófise, as gônadas. Hormônio: É uma substância secretada por células de uma parte do corpo que passa a outra parte, onde atua pouca concentração regulando o crescimento ou a atividade das células. No sistema endócrino distinguimos 3 partes: célula secretória, mecanismo de transporte e célula branca, cada uma caracterizada por sua maior ou menor especificação. Geralmente cada hormônio é sintetizado por um tipo específico de células, podendo ser dividido conforme descrito a seguir. Glandulares: São elaborados pelas glândulas endócrinas e vertidos por estas diretamente ao sangue, que as distribui a todos os órgãos, onde logo exercem suas funções. Subdividem-se em dois grupos, conforme realizam uma ação excitante ou moderadora sobre a função dos órgãos sobre os quais influem. Tissulares ou aglandulares: São formados em órgãos distintos e sem correlação nem interdependência entre eles: sua ação é exclusivamente local e a exercem no órgão em que se formam ou nos territórios vizinhos. Sob o aspecto químico, os hormônios podem dividir-se em duas grandes classes. Hormônios esteroides: Aos que pertencem às cortico/suprarrenais e sexuais. Hipófise ou pituitária: É uma glândula do tamanho de um grão de ervilha, localizada no encéfalo, presa numa região chamada hipotálamo. Essa glândula é a mais importante do corpo, pois comanda o funcionamento de outras glândulas, como tireoide, suprarrenais e sexuais. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 137 Produz grande número de hormônios, como os responsáveis pelo crescimento, metabolismo de proteínas (hormônio somatotrófico), contração do útero (hormônio ocitocina), controle da quantidade de água no organismo (hormônio antidiurético - ADH), estímulo das glândulas tireoide (hormônio tireotrófico - TSH) e supra-adrenais (hormônio adrenocorticotrófico ou corticotrofina – ACTH). Os três tipos de hormônios gonadotróficos atuam no desenvolvimento de glândulas e órgãos sexuais, interferindo nos processos de menstruação, ovulação, gravidez e lactação. São eles: o hormônio folículo estimulante (FSH), que age sobre a maturação dos espermatozoides e folículos ovarianos; o hormônio luteinizante (LH), que estimula os testículos e ovários e provoca a ovulação e formação do corpo amarelo; e a prolactina, que mantém o corpo amarelo e sua produção de hormônios, atuando no desenvolvimento das mamas e interferindo na produção de leite. Pineal: A pineal ou epífise localiza-se no diencéfalo, presa por uma haste à parte posterior do teto do terceiro ventrículo. Contém serotonina, precursora da melatonina. É um transdutor neuroendócrino que converte impulsos nervosos em descargas hormonais e participa do ritmo circadiano de 24 horas e de outros ritmos biológicos, como os relacionados às estações do ano. A pineal normal responde à luminosidade, sendo mais ativa à noite, quando a produção de serotonina é maior que durante o dia. Tireoide: Esta glândula - sob controle do hormônio hipofisário TSH (hormônio tireotrófico) - localiza-se no pescoço (abaixo da laringe e na frente da traqueia) e libera os hormônios tiroxina e calcitocina, que intensificam a atividade de todas as células do organismo. O primeiro atua no metabolismo (todas as reações que ocorrem no interior do corpo); o segundo, na regulação de cálcio no sangue. Paratireoide: Estas quatro glândulas localizam-se, duas a duas, ao lado das tireoides. Secretam um hormônio denominado paratormônio, que também regula a quantidade de cálcio e fosfato no sangue. Suprarrenais: Estas duas glândulas localizam-se sobre cada rim e possuem duas partes: a externa, chamada de córtex e a interna, de medula. O córtex da suprarrenal produz e libera vários hormônios, dentre eles a aldosterona, que ajudaa manter constante a quantidade de sódio e potássio no organismo. Outro hormônio é o cistrol, cortisona ou hidrocortisona, que estimula a utilização de gorduras e proteínas como fonte energética, aumenta a taxa de glicose na corrente sanguínea e também atua no processo de inflamações, sendo largamente utilizada como medicação. Também produz o andrógeno, o hormônio responsável pelo desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários masculinos. Módulo 1 Técnico em Farmácia 138 A medula da suprarrenal produz e libera a adrenalina e noradrenalina, que é lançada na corrente sanguínea em situações de fortes reações emocionais como medo, ansiedade, sustos, perigos iminentes, etc. A adrenalina estimula a ação cardíaca, aumenta o seu batimento e dilata os brônquios; noradrenalina aumenta a pressão arterial e diminui o calibre dos vasos. Pâncreas: Esta glândula localiza-se na cavidade abdominal e possui duas funções: uma exócrina e outra endócrina. Na exócrina, produz o suco pancreático que será liberado fora da corrente sanguínea, mais precisamente no duodeno, auxiliando o processo digestivo. Na função endócrina, produz dois hormônios: a insulina, que transporta a glicose através da membrana celular, diminuindo-a da corrente sanguínea, e o glucagon, que contribui, estimulando o fígado, para o aumento da glicose no sangue. Ovários: Os ovários são duas glândulas, uma de cada lado do corpo, que integram o aparelho reprodutor feminino e localizam-se abaixo da cavidade abdominal, em uma região denominada pelvis ou cavidade pélvica. Ligam-se ao útero através de dois ligamentos denominados ligamentos do ovário. Os ovários são responsáveis pela produção e liberação de dois hormônios, o estrogênio ou hormônio folicular e a progesterona. O estrogênio controla o desenvolvimento das características sexuais femininas, como aumento dos seios, depósito de gordura nas coxas e nádegas, aparecimento de pelos pubianos e estímulo ao impulso sexual. A progesterona, responsável pela implantação do óvulo fecundado na parede uterina e pelo desenvolvimento inicial do embrião, estimula o desenvolvimento das glândulas mamárias e da placenta e inibe a secreção de um dos hormônios gonadotróficos. Além de produzir hormônios, os ovários são também responsáveis pela produção das células sexuais femininas, os ovócitos. Testículos: Em número de dois, localizam-se na pélvis e fazem parte do aparelho reprodutor masculino. Protegidos por uma bolsa denominada bolsa escrotal ou escroto, produzem o hormônio denominado testosterona, que controla as características sexuais masculinas como aparecimento de barba, pelos no tórax, desenvolvimento da musculatura e impulso sexual. Além da produção de hormônio, os são também responsáveis pela produção das células sexuais masculinas, os espermatozoides. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 139 5.16 Anatomia e Fisiologia do Sistema Nervoso O sistema nervoso se distribui por todos tecidos do organismo humano. E responsável pela regulação e integração da função dos órgãos, pela captação de estímulos do meio-ambiente e é sede de todas as atividades mentais e comportamentais humanas. Devido à sua função essencial à vida, a principal parte dele está bem protegida dentro de estruturas ósseas. 5.16.1 Composição do Tecido Nervoso O tecido nervoso é constituído por células nucleadas especiais, denominadas neurônios (Figura 64), com longos prolongamentos capazes de captar estímulos exteriores como calor, frio, dor. Possuem morfologia complexa, mas quase todos apresentam três componentes. Os dendritos são prolongamentos numerosos, cuja função é receber os estímulos do meio ambiente, de células epiteliais sensoriais ou de outros neurônios. O corpo celular ou pericário é o centro do tráfico dos impulsos nervosos da célula. O axônio é um prolongamento único, especializado na condução de impulsos que transmitem informações do neurônio para outras células nervosas, musculares e glandulares. A transmissão do impulso nervoso de um neurônio a outro depende de estruturas altamente especializadas: as sinapses. Os axônios estão envoltos em uma camada gelatinosa que funciona como isolante e denomina-se bainha de mielina. O conjunto de axônios corresponde às fibras nervosas, cuja união forma os feixes ou tractos do sistema nervoso central e os nervos do sistema nervoso periférico. A junção dos corpos neuronais constitui uma substância cinzenta denominada córtex. Figura 64- Estrutura de um neorônio Fonte: Baseada em Lopes (2002) O funcionamento do sistema nervoso depende do chamado arco reflexo constituído pela ação das vias aferentes, centrípetas ou sensitivas, responsáveis pela condução dos Módulo 1 Técnico em Farmácia 140 impulsos originados nos receptores externos (provenientes do sistema sensorial) ou internos existentes em diversos órgãos e sensíveis às modificações químicas, à pressão ou tensão; pelos centros nervosos que formam a resposta aos estímulos enviados pelas vias sensitivas; pela via eferente, motora ou centrífuga que conduz a resposta voluntária ou involuntária dos centros nervosos para os tecidos muscular e glandular. 5.16.2 Divisão Anatômica do Sistema Nervoso Anatomicamente, o sistema nervoso divide-se em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é representado pelo encéfalo e medula espinhal, respectivamente, localizados no interior da caixa craniana e coluna vertebral. Figura 65 - Divisão do sistema nervoso central Fonte: Baseada em Lopes (2002) No SNC, existem as chamadas substâncias cinzenta e branca. A substância cinzenta é formada pelos corpos dos neurônios e a branca, por seus prolongamentos. Com exceção do bulbo e da medula, a substância cinzenta ocorre mais externamente e a substância branca, mais internamente. Os órgãos do SNC são protegidos por estruturas esqueléticas (caixa craniana, protegendo o encéfalo; e coluna vertebral, protegendo a medula - também denominada raque) e por membranas denominadas meninges, situadas sob a proteção esquelética: dura- máter (a externa), aracnoide (a do meio) e pia-máter (a interna). Entre as meninges aracnoides e pia-máter há um espaço preenchido por um líquido denominado líquido cefalorraquidiano ou líquor. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 141 Figura 66- Órgãos do sistema nervoso central Fonte: Baseada em Lopes (2002) 5.16.2.1 Encéfalo O encéfalo humano contém cerca de 35 bilhões de neurônios e pesa aproximadamente 1,4 kg, é constituído pelo cérebro, diencéfalo, cerebelo e tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e medula oblonga) e sua parte central é constituída por uma substância branca; a externa, por uma substância cinzenta. 5.16.2.2 Telencéfalo O telencéfalo ou cérebro é dividido em dois hemisférios cerebrais (Figura 68) bastante desenvolvidos. Nestes, situam-se as sedes da memória e dos nervos sensitivos e motores. Entre os hemisférios, estão os ventrículos cerebrais (ventrículos laterais e terceiro ventrículo); Existe ainda com um quarto ventrículo, localizado mais abaixo, ao nível do tronco encefálico. Estes são reservatórios do líquido cefalorraquidiano, (líquor), participando na nutrição, proteção e excreção do sistema nervoso. Sua superfície evidencia pregas (giros) e reentrâncias (sulcos e fissuras) do córtex cerebral. Os sulcos e fissuras dividem os hemisférios em lobos responsáveis por funções específicas (Figura 67) como sensitivas, auditivas, visuais, movimentação voluntária, memória, concentração, raciocínio, linguagem, comportamento, entre outras. Módulo 1Técnico em Farmácia 142 Figura 67- Hemisférios cerebrais Fonte: Baseada em Lopes (2002) Figura 68 - Funções do Cérebro Fonte: Baseada em Lopes (2002) A região superficial do telencéfalo, que acomoda bilhões de corpos celulares de neurônios (substância cinzenta), constitui o córtex cerebral, formado a partir da fusão das partes superficiais telencefálicas e diencefálicas. O córtex recobre um grande centro medular branco, formado por fibras axonais (substância branca). Em meio a este centro branco (nas profundezas do telencéfalo), há agrupamentos de corpos celulares neuronais que formam os núcleos (gânglios) da base ou núcleos (gânglios) basais - caudado, putamen, globo pálido e núcleo subtalâmico, envolvidos em conjunto, no controle do movimento. Parece que os gânglios da base participam também de um grande número de circuitos paralelos, sendo apenas alguns poucos de função motora. Outros circuitos estão envolvidos em certos aspectos da memória e da função cognitiva. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 143 5.16.2.3 Diencéfalo O diencéfalo circunda o terceiro ventrículo, forma a parte central mais importante do encéfalo e contém o tálamo e hipotálamo. Todas as mensagens sensoriais, com exceção das provenientes dos receptores do olfato, passam pelo tálamo antes de atingir o córtex cerebral. Esta é uma região de substância cinzenta localizada entre o tronco encefálico e o cérebro. O tálamo atua como estação retransmissora de impulsos nervosos para o córtex cerebral. Ele é responsável pela condução dos impulsos às regiões apropriadas do cérebro onde eles devem ser processados. O tálamo também está relacionado com alterações no comportamento emocional; que decorre, não só da própria atividade, mas também de conexões com outras estruturas do sistema límbico (que regula as emoções). O hipotálamo, também constituído por substância cinzenta, é o principal centro integrador das atividades dos órgãos viscerais, sendo um dos principais responsáveis pela homeostase corporal. Ele faz ligação entre o sistema nervoso e o sistema endócrino, atuando na ativação de diversas glândulas endócrinas. É o hipotálamo que controla a temperatura corporal, regula o apetite e o balanço de água no corpo, o sono e está envolvido na emoção e no comportamento sexual. Tem amplas conexões com as demais áreas do pros encéfalo e com o mesencéfalo. O hipotálamo desempenha, ainda, um papel nas emoções. Especificamente, as partes laterais parecem envolvidas com o prazer e a raiva, enquanto que a porção mediana parece mais ligada à aversão, ao desprazer e à tendência ao riso (gargalhada) incontrolável. De um modo geral, contudo, a participação do hipotálamo é menor na gênese (“criação”) do que na expressão (manifestações sintomáticas) dos estados emocionais. Figura 69 - Diencéfalo Fonte: Baseada em Lopes (2002) Módulo 1 Técnico em Farmácia 144 5.16.2.4 Cerebelo Situado atrás do cérebro está o cerebelo (Figura 70), que é primariamente um centro para o controle dos movimentos iniciados pelo córtex motor (possui extensivas conexões com o cérebro e a medula espinhal). Como o cérebro, também está dividido em dois hemisférios. Porém, ao contrário dos hemisférios cerebrais, o lado esquerdo do cerebelo está relacionado com os movimentos do lado esquerdo do corpo, enquanto o lado direito, com os movimentos do lado direito do corpo. O cerebelo controla os movimentos, a tonicidade muscular e participa da manutenção do equilíbrio do corpo. Figura 70- Cerebelo Fonte: Baseada em Lopes (2002) 5.16.2.5 Tronco Encefálico O tronco encefálico (Figura 71) interpõe-se entre a medula e o diencéfalo, situando- se ventralmente ao cerebelo. Possui três funções gerais: Recebe informações sensitivas de estruturas cranianas e controla os músculos da cabeça. Contém circuitos nervosos que transmitem informações da medula espinhal até outras regiões encefálicas e, em direção contrária, do encéfalo para a medula espinhal (lado esquerdo do cérebro controla os movimentos do lado direito do corpo; lado direito de cérebro controla os movimentos do lado esquerdo do corpo); Regula a atenção, função esta que é mediada pela formação reticular (agregação TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 145 mais ou menos difusa de neurônios de tamanhos e tipos diferentes, separados por uma rede de fibras nervosas que ocupa a parte central do tronco encefálico). Além destas 3 funções gerais, as várias divisões do tronco encefálico desempenham funções motoras e sensitivas específicas. Figura 71 - Tronco encefálico Fonte: Baseada em Lopes (2002) 5.16.2.6 Medula Espinhal A medula espinhal (Figura 72) encontra-se no interior do canal formado pelas vértebras da coluna vertebral. Dela irradiam-se 33 pares de nervos espinhais, à direita e à esquerda, que inervam o pescoço, tronco e membros, ligando o encéfalo ao resto do corpo e vice-versa. É também mediadora da atividade reflexa (atos instantâneos, realizados independentemente da consciência). Estende-se da base do crânio até o nível da segunda vértebra lombar, pouco acima da cintura. A substância cinzenta da medula espinhal tem o formato da letra H, cujas extremidades são a raiz anterior, de onde saem as fibras motoras, e raiz posterior, local de saída das fibras sensitivas. Por sua vez, o SNP consiste nos nervos cranianos e espinhais. Emergindo do tronco cerebral, há 12 pares de nervos cranianos que exercem funções específicas e nem sempre estão sob controle voluntário. Os nervos que possuem fibras de controle involuntário são chamados de sensitivos; e os de controle voluntário, motores. A partir dos órgãos dos sentidos e dos receptores (terminações nervosas sensitivas), presentes em várias partes do corpo, o SNP conduz impulsos nervosos para o SNC, e deste para os músculos e glândulas. Os nervos espinhais são divididos e denominados de acordo com sua localização na coluna vertebral: 8 cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacrais e um coccígeo. Módulo 1 Técnico em Farmácia 146 Figura 72 - Medula espinhal Fonte: baseada em LOPES, (2002) O quadro a seguir facilita a identificação das ações dos 12 pares de nervos cranianos: Quadro 1 – Pares de nervos cranianos Fonte: Baseada em Lopes (2002) TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 147 5.17 Fisiologia do Sistema Nervoso Fisiologicamente, o sistema nervoso pode ser dividido em sistema nervoso voluntário, que comanda a musculatura estriada esquelética, e sistema nervoso autônomo (SNA) ou involuntário, responsável pelo controle da musculatura lisa, do músculo cardíaco, da secreção de todas as glândulas digestivas e sudoríparas e de alguns órgãos endócrinos. Em sua maioria, as funções do SNA são articuladas em coordenação com o SNC, em especial o hipotálamo. Do ponto de vista anatômico e funcional, o SNA divide-se em sistema simpático e parassimpático, que trabalham de modo antagônico, porém em equilíbrio. O sistema simpático estimula atividades realizadas durante situações de emergência e estresse, nas quais os batimentos cardíacos se aceleram e a pressão arterial se eleva. O sistema parassimpático estimula as atividades que conservam e restauram os recursos corpóreos (por exemplo, diminuição dos batimentos cardíacos). Cada parte do SNA possui duas cadeias de neurônios. O corpo celular do primeiro neurônio situa-se na coluna referente visceral do encéfalo e da medula espinhal; o do segundo neurônio, num gânglio autônomo, externamente ao SNC. O axônio do primeiro neurônio é chamado fibra pré-sináptica ou pré-ganglionar; o do segundo, fibra pós-sináptica ou pós-ganglionar. Osgânglios localizam-se ao longo da coluna vertebral, na cavidade abdominal, nas proximidades ou interior dos órgãos por eles inervados Para chegarem à musculatura, as fibras pós-ganglionares utilizam uma artéria, um nervo independente ou ligado aos nervos espinhais. No sistema simpático, os corpos celulares dos neurônios préganglionares localizam- se na substância cinzenta (corno lateral) da medula espinhal, começando no primeiro segmento torácico e terminando no segundo ou terceiro segmento lombar. Os corpos celulares dos neurônios pós-ganglionares situam-se nos gânglios para-vertebrais e prévertebrais. Por liberarem adrenalina ou noradrenalina, as terminações pós-ganglionares simpáticas são conhecidas como adrenérgicas. No sistema parassimpático, os corpos celulares dos neurônios pré-ganglionares situam-se nos núcleos dos pares III, VII, IX e X de nervos cranianos no tronco encefálico e no segundo, terceiro e quarto segmentos sacrais da medula espinhal. As fibras pré-ganglionares fazem sinapse com o corpo celular de um neurônio pós-ganglionar parassimpático, próximo ou na parede do órgão-alvo. Por liberarem acetilcolina, a maioria das terminações pós- ganglionares parassimpáticas são denominadas colinérgicas. A atividade motora somática depende do padrão e da frequência de descarga dos neurônios motores espinhais e cranianos. Estes neurônios, que constituem as vias finais comuns para os músculos esqueléticos, são bombardeados por impulsos provenientes de um conjunto de vias e visam função regular a postura do corpo e possibilitar os movimentos coordenados. Módulo 1 Técnico em Farmácia 148 Estes impulsos servem a três funções distintas: a primeira, é a do sistema piramidal e das regiões do cérebro correlacionadas com a gênese e o padrão dos movimentos; a segunda é das múltiplas vias agrupadas como sistema extrapiramidal ou córtico-estrio- reticular; a terceira é a do cerebelo, com suas conexões aferentes e eferentes. No sistema piramidal os impulsos se originam no córtex cerebral e estão relacionados com a iniciação de movimentos voluntários delicados e de habilidade, como o início da marcha. Os mecanismos extrapiramidais são integrados em diversos níveis em todo o trajeto, desde a medula espinhal até o córtex cerebral. Controlam o tônus muscular, os movimentos involuntários, as respostas reflexas, a harmonia e a coordenação do movimento. O cerebelo está relacionado com a coordenação, ajuste e uniformidade de movimentos. Recebe impulsos aferentes do córtex motor, dos proprioceptores e dos receptores tácteis cutâneos, auditivos e visuais. 5.18 Anatomia e Fisiologia do Sistema Sensorial O ambiente que nos circunda repassa uma diversidade de estímulos que são captados pelo organismo – o chamado sentido ou sensação. Alguns órgãos, constituídos por células sensíveis, por meio de receptores sensoriais são especializados em perceber esses estímulos externos, repassando a informação à respectiva área cerebral. Seu conjunto recebe a denominação de órgãos dos sentidos. São constituídos pelos olhos, que permitem a visão; língua, que sente o paladar; nariz, que possibilita o olfato; orelha, que conduz a audição e pele, que percebe o estímulo pelo tato. 5.18.1 Olhos Os olhos são acondicionados dentro de duas cavidades ósseas da face: as órbitas oculares. Possuem dois globos oculares que, por sua vez, são constituídos por três distintas membranas denominadas esclerótica, coroide e retina. Na parte anterior do globo ocular, a membrana esclerótica, que o reveste externamente, forma uma camada transparente chamada córnea. Na coroide, localizam-se os vasos sanguíneos. A retina, sua membrana mais interna e sensível, é formada por um prolongamento do nervo óptico. No interior do globo ocular existe uma substância que ocupa sua maior parte, chamada humor vítreo, de consistência gelatinosa e transparente, situada atrás do cristalino – o qual atua como uma lente, regulando a imagem com nitidez. O cristalino modifica-se pela ação dos músculos ciliares, comandados pelo sistema nervoso autônomo. Entre o cristalino e a córnea há uma substância líquida e transparente denominada humor aquoso. Na parte anterior do olho, a coroide forma um disco cuja cor é variável para cada pessoa, denominada íris. Em seu centro existe um orifício cujo tamanho altera-se de acordo com a quantidade de luz que sobre ele incide, a pupila, também conhecida como “menina dos olhos”. O astigmatismo, a hipermetropia e a miopia são as alterações da visão mais frequentemente encontradas. O astigmatismo é uma deformação da córnea que ocasiona um desvio da imagem, fazendo-se necessário o uso de lentes cilíndricas para sua correção. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 149 Na hipermetropia, a imagem se forma atrás da retina, necessitando a utilização de lentes convergentes para que volte a localizar- se sobre a retina. A miopia é a formação da imagem à frente da retina, para cuja correção necessita-se o uso de lentes divergentes, que favorecerão o afastamento da imagem para que esta coincida sobre a própria retina. Na parte anterior dos olhos encontram-se as pálpebras superiores, as inferiores e os cílios, que também atuam como protetores da visão, impedindo a entrada de corpos estranhos. No canto interno da pálpebra são encontrados dois pequenos orifícios denominados ponto lacrimal superior e inferior. É por eles que escoam as lágrimas, seja por reação física ou emocional. A sobrancelha também é considerada fator de proteção, por dificultar a passagem do suor da testa para os olhos. Figura 73- Estruturas do olho Fonte: Baseada em Lopes (2002) 5.18.2Língua A língua, que também participa na emissão do som, é formada por uma massa de tecido muscular estriado, recoberta por uma mucosa. Possui forma achatada e ligeiramente cônica. É composta por duas partes: a superior ou dorsal, onde se localizam as papilas linguais ou gustativas, cujas terminações nervosas transmitem a sensação do gosto – processo em que a saliva representa importante função, haja vista que sua viscosidade favorece a captação dos estímulos; e a inferior ou ventral, que pode ser vista quando se Módulo 1 Técnico em Farmácia 150 eleva a ponta da língua em direção ao palato (céu da boca). Figura 74- Língua Fonte: Baseada em Lopes (2002) 5.18.3 Nariz O nariz, órgão do olfato, é formado por duas cavidades, as fossas nasais, medialmente separadas pelo septo. As fossas nasais possuem orifícios anteriores, que fazem contato com o meio externo, denominados narinas, e orifícios posteriores que, por sua vez, fazem contato com a faringe, chamados de coanas. Na parte superior das fossas nasais há um revestimento mucoso formado por células olfativas localizadas nas terminações do nervo olfativo (nervo sensitivo), o que nos faz perceber o olfato. O sentido do olfato é estimulado através de substâncias químicas espalhadas no ar, motivo pelo qual é considerado um sentido “químico”. No interior das fossas nasais encontram-se os pelos, cuja função é “filtrar” o ar respirado - estes pelos, juntamente com o muco (secreção da mucosa nasal), retêm na parede interna do nariz os poluentes, além de diversos microrganismos trazidos pelo ar. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 151 Figura 75- Nariz Fonte: Baseada em Lopes (2002) 5.18.4 Orelha A orelha (Figura 77), composta por três seguimentos - a orelha externa, a média e a interna - é o órgão responsável pela audição. A orelha externa ou pavilhão auditivo possui uma saliência com o formato oval, flexível devido ao tecido cartilaginoso que a constitui. Seu canal auditivo externo encaminhao som para seu interior, agindo como um receptor sonoro. Neste canal são encontrados pelos e glândulas (que produzem uma espécie de cera), cuja função é proteger a parte interna contra a poeira, microrganismos e outros corpos provenientes do meio externo. O tímpano, localizado ao final do canal auditivo externo e no início da orelha média, é uma fina membrana que vibra de acordo com as ondas sonoras. Além dele, a orelha média é composta por três ossículos respectivamente denominados, pela ordem de localização, martelo, bigorna e estribo – os quais se articulam recebendo a vibração da membrana timpânica. É na orelha média que se inicia um canal flexível que se estende até a faringe, denominado trompa de Eustáquio, cuja função é manter o equilíbrio da pressão atmosférica dentro da orelha média - também conhecida como caixa do tímpano. Na orelha interna ou labirinto encontra-se o vestíbulo, uma escavação no osso temporal cuja cavidade superior comunica-se com os canais semicirculares e recebe a Módulo 1 Técnico em Farmácia 152 denominação de utrículo. A cavidade inferior é chamada de sáculo, que se estende até a cóclea ou caracol - nomes que facilmente nos levam a imaginar sua forma: um longo tubo enrolado. Este tubo contém em sua parte interna o órgão de Corti, composto por células auditivas com ramificações do nervo auditivo, sendo o principal responsável pela captação de estímulos sonoros. Quando há qualquer tipo de som, suas ondas penetram através do conduto auditivo externo e ao chegarem na membrana timpânica a fazem vibrar. Os ossículos martelo, bigorna e estribo recebem esta vibração e a encaminham ao ouvido interno. Desta forma, as vibrações chegam à cóclea ou caracol, onde os estímulos sonoros são captados e identificados devido a presença de terminações do nervo auditivo. Na orelha interna, os canais semicirculares são responsáveis pelo equilíbrio de nosso corpo. A ocorrência de determinada inflamação ou problemas circulatórios pode gerar uma disfunção no labirinto, o que acarreta a perda do equilíbrio – mais frequentemente encontrada em pacientes com problemas hormonais, hipertensos, estressados e diabéticos. Figura 76 - Estrutura do Ouvido Fonte: Baseada em Lopes (2002) TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 153 5.18.5 Pele O sentido do tato é transmitido pela pele, que reveste todo o corpo e possui em sua camada mais profunda as terminações nervosas – responsáveis por levar a mensagem da sensação ao cérebro. Com um toque de mão podemos perceber diferenças como liso e áspero, pequeno e grande, fino e grosso, mole e duro - além de conseguirmos identificar objetos sem a necessária utilização da visão. A pele apresenta vários tipos de receptores sensoriais, formados por fibras nervosas cujo agrupamento compõe os corpúsculos sensoriais, especializados em captar determinados tipos de sensação – por exemplo, pressão, temperatura, dor. Na extensão da pele percebemos sensações como frio, calor, dor, coceira, pressão, ardência, etc. Módulo 1 Técnico em Farmácia 154 REFERÊNCIAS AIRES, M.M. – Fisiologia – 2ª edição – Rio de Janeiro – Editora Guanabara Koogan, 1999. DANGELO, J.G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 3ª ed., São Paulo, Atheneu, 2007. DANTAS, H. A. de O. Sistema respiratório. Departamento de Morfologia do Centro Universitário Luterano de Palmas (Ceulp/Ulbra), 2011. Disponível em: http://ulbra- to.br/morfologia/2011/08/17/Sistema-Respiratorio Acesso em dezembro de 2017. GUYTON, A.C. & HALL, J.E. – Tratado de Fisiologia Médica – 11ª edição – Editora Elsevier, Rio de Janeiro, 2006. LACERDA, R.A.M.V. (Org). Apostila de anatomia e fisiologia humanas. Faculdade e Escola Técnica Egídio da Silva (Fategídio). Teófilo Otoni, 2009. PIRES, G. M. Sistema cardiovascular. Portal da Anatomia, 2011. Disponível em: http://pt.slideshare.net/portaldaanatomia/sistema-circulatrio-14010120 Acesso em dezembro de 2017. PIRES, G. M. Sistema respiratório. Portal da Anatomia, 2012. Disponível em: http://pt.slideshare.net/portaldaanatomia/sistema-respiratrio-13981839 Acesso em dezembro de 2017. SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 22ª ed., Rio de Janeiro, Guanabara- Koogan, 2006, Volumes 1 e 2. THIBODEAU, G.A.; PATTON, K.T. Estrutura e funções do corpo humano. São Paulo: Editora Manole, 2002. VILELA, A.L.M. A pele e o sentido do tato. Portal Bio, 2003. Disponível em: http://www.afh.bio.br/sentidos/sentidos10.asp Acesso em dezembro de 2017. http://ulbra-to.br/morfologia/2011/08/17/Sistema-Respiratorio http://ulbra-to.br/morfologia/2011/08/17/Sistema-Respiratorio http://pt.slideshare.net/portaldaanatomia/sistema-circulatrio-14010120 http://pt.slideshare.net/portaldaanatomia/sistema-respiratrio-13981839 http://www.afh.bio.br/sentidos/sentidos10.asp TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 155 ANOTAÇÕES: _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ Módulo 1 Técnico em Farmácia 156 _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ PORTUGUÊS INSTRUMENTAL TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 159 6 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL A disciplina Português Instrumental tem o objetivo de estimular o estudante para a leitura e a escrita, não apenas de textos técnicos importantes para o campo de trabalho, mas também para a vida além de discutir a língua em diversidade; proceder à leitura analítica e crítico-interpretativa de textos; ampliar o contato do aluno com os processos de leitura e produção textual, visando capacitá-lo a analisar variadas estruturas textuais e elaborar gêneros textuais/discursivos diversos. Com o surgimento e popularização das redes sociais e o uso cada vez maior da internet para pesquisa e diversão, tornou-se imprescindível preparar o estudante e conscientizá-lo da importância de escrever e se expressar bem. Um bom profissional deve ter o estímulo de melhorar a forma como escreve e, para isso, deve ler muito, vários tipos de literaturas. 6.1 Comunicação Comunicação é o processo de transmitir a informação e compreensão de uma pessoa para outra; senão houver esta compreensão, não ocorre a comunicação. Se uma pessoa transmitir uma mensagem e esta não for compreendida pela outra pessoa, a comunicação não se efetivou. 6.1.1 O Processo de Comunicação O processo de comunicação é composto de três etapas, assim subdivididas: Emissor: a pessoa que envia a mensagem. Pode ser chamada de fonte ou de origem. Apresenta o significado, que corresponde à ideia, ao conceito que o emissor deseja comunicar, e o codificador, que é constituído pelo mecanismo vocal para decifrar a mensagem. Mensagem: a ideia que o emissor deseja comunicar. Contém o canal, também chamado de veículo, que é o espaço situado entre o emissor e o receptor, e o ruído, que ser refere à perturbação dentro do processo de comunicação. Receptor: é aquele que recebe a mensagem, a quem esta é destinada. Apresenta o decodificador, que é estabelecido pelo mecanismo auditivo para decifrar a mensagem, para que o receptor a compreenda; a compreensão, que é o entendimento da mensagem pelo receptor; e regulamentação, que é quando o receptor confirma a mensagem recebida pelo emissor. É o retorno da mensagem enviada. Tome-se como exemplo: uma pessoa (emissor) tem uma ideia (significado) que pretende comunicar. Para tanto, se vale de seu mecanismo vocal (codificador), que expressa sua mensagem em palavras. Essa mensagem, veiculada pelo ar (canal), é interpretada pela pessoa com a qual se comunica (receptor), após sua decifração por seu mecanismo auditivo (descodificador). O receptor, após constatar que entendeu a Módulo 1 Técnico em Farmácia 160 mensagem (compreensão), esclarece a fonte acerca de seu entendimento (regulamen- tação). Pode-se, portanto, dizer que a comunicação só pode ser considerada eficaz quando a compreensão de receptor coincide com o significado pretendido pelo emissor. 6.2 Linguagem e Língua Que a linguagem escrita e a linguagem oral não constituem modalidades estanques, apesar de apresentarem diferenças devido à condição de produção, é um fato incontestável; contudo, há particularidades de outras ordens que as tornam modalidades específicas da língua. Tais particularidades são, de fato, elementos exclusivos de cada uma delas, como a gesticulação, por exemplo, na linguagem oral, e a reedição de texto, com apagamento do texto anterior, na linguagem escrita. Certamente, as pessoas não escrevem exatamente do mesmo modo que falam, uma vez que se trata de processos diferentes. Essas diferentes condições de produção para usos de diferentes intenções propiciam a criação de diferentes tipos de linguagem, que se agrupam nas duas modalidades dalíngua. Fatores como o contexto, a intenção do usuário e a temática são responsáveis pelas diferenças entre a linguagem oral e a linguagem escrita, que nem por isso são estanques. 6.2.1 Linguagem Linguagem é a representação do pensamento por meio de sinais que permitem a comunicação e a interação entre as pessoas. Esta se compõe de: Linguagem verbal: é aquela que tem por unidade a palavra. Linguagem não verbal: tem outros tipos de unidade, como gestos, o movimento, a imagem, etc. Linguagem mista: como as histórias em quadrinhos, o cinema e a TV, que utilizam a imagem e a palavra. 6.2.2 Língua É o tipo de código formado por palavras e leis combinatórias, por meio do qual as pessoas se comunicam e interagem entre si. 6.2.3 Variações Linguísticas Um dos traços de identificação de uma nação é a sua língua, que varia de acordo com fatores diversos, tais como tempo, espaço, nível cultural e a situação em que um indivíduo se manifesta verbalmente. Dito de outra forma, são as variações que uma língua TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 161 apresenta, de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada. São exemplos de variações linguísticas a norma culta (língua padrão), os dialetos, socioletos, idioletos, registros, etnoletos e ecoletos. Tais variações serão explicitadas a seguir: a) norma culta (língua padrão): a variedade linguística de maior prestígio social. É padronizada em função da comunicação pública e da educação; b) dialetos: variações faladas por comunidades geograficamente definidas, originadas das diferentes entre região, idade, sexo, classes ou grupos sociais, incluindo a própria evolução histórica da língua; c) socioletos: variações faladas por comunidades socialmente definidas; d) idioletos: variação linguística particular de uma pessoa; e) registros: o vocabulário especializado e/ou a gramática de certas atividades ou profissões; f) etnoletos: variações linguísticas adotadas por um grupo étnico; e, g) ecoletos: idioleto adotado por uma casa. As variações como dialetos, idioletos e socioletos podem ser distinguidas não apenas por seu vocabulário, mas também por diferenças na gramática, na fonologia e na versificação. Por exemplo, o sotaque de palavras tonais nas línguas escandinavas tem forma diferente em muitos dialetos. Outro exemplo é como palavras estrangeiras em diferentes socioletos variam em seu grau de adaptação à fonologia básica da linguagem. As variedades linguísticas levam em consideração, ainda, a intencionalidade discursiva, que dizem respeito às intenções, explícitas ou não, existentes na linguagem dos interlocutores que participam de uma situação comunicativa. Algumas definições são importantes para entender um pouco sobre comunicação, segundo Monteiro & Monteiro (2009): a) linguagem é a representação do pensamento por meio de sinais que permitem a comunicação e a interação entre as pessoas; b) língua é um sistema abstrato de regras, não só gramaticais, mas também semânticas e fonológicas, por meio das quais a linguagem (ou fala) se revela; c) variedades linguísticas são as variações que uma língua apresenta, de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada; d) norma culta é a língua padrão, a variedade linguística de maior prestígio social; e) norma popular são todas as variedades linguísticas diferentes da língua padrão. O emissor envia uma mensagem, que tanto pode ser visual quanto escrita, a um receptor. O receptor recebe a mensagem e, geralmente, dá uma resposta ao emissor. A necessidade de resposta faz parte do processo de comunicação entre os seres humanos, pois quando uma pessoa envia a mensagem e não recebe a resposta do receptor, o processo de comunicação não se completa (MONTEIRO & MONTEIRO, 2009). Módulo 1 Técnico em Farmácia 162 A gramática da Língua Portuguesa está dividida em grandes campos de estudo: a fonética, a morfologia, a semântica e a sintaxe. A fonética estuda os sons da fala. A morfologia estuda a forma das palavras e a representação gráfica. A semântica preocupa-se não só com a representação gráfica do vocábulo, mas com seu significado. A sintaxe estuda os termos que compõem uma oração. A oração pode apresentar um sujeito, terá sempre um predicado, e pode ter ou não complementos (MONTEIRO & MONTEIRO, 2009). 6.3 Língua Oral e Língua Escrita A língua oral e a língua escrita têm propriedades distintas, que variam de acordo com o indivíduo que a utiliza, levando-se em conta a influência da cultura e do meio social em que este vive. Porém, ambas se completam em determinados aspectos. No momento em que cada indivíduo consegue se comunicar, conforme suas particularidades, a linguagem tem, então, a sua função exercida. O falante não escreve do mesmo modo que fala. Enquanto fala, a linguagem apresenta maior liberdade no discurso, uma vez que não exige planejamento, podendo ser enfática, redundante, com variados timbres e entonações. Na língua oral, de modo geral, o falante não se prende à norma culta. A escrita, por sua vez, mantém contato indireto entre escritor e leitor. A linguagem escrita é mais objetiva, portanto, necessita de grande atenção e obediência às normas gramaticais, caracterizando-se, assim, por frases completas, bem elaboradas e revisadas, explícitas, vocabulário distinto e variado, clareza no diálogo e uso de sinônimos. Devido a estes traços, esta é uma linguagem conservadora aos padrões estabelecidos pelas regras gramaticais. Tanto por meio da língua oral como da língua escrita, o indivíduo participa efetivamente do seu meio social, comunicando-se, buscando acesso à informação, expressando e defendendo seus pontos de vista, dividindo e/ou construindo visões de mundo, produzindo novos conhecimentos. Há particularidades na língua oral que, mais do que a diferenciam da língua escrita, a tornam específica. São elementos exclusivos, tais como: gesticulação, fluidez das ideias expostas, eficácia na correção da informação, dado que o falante tem o controle da comunicação no momento de sua fala. No que tange à linguagem escrita, além de esta ter como característica principal o fato de ser, como ela própria se anuncia, escrita, reproduzida por textos, ela também apresenta particularidades que a diferenciam da linguagem oral. A mais importante delas é a correção gramatical, sobre a qual recaem a objetividade, a clareza e a coesão. Estas são essenciais para que a comunicação ocorra, dado que emissor e receptor estão distantes, podendo, inclusive, ser desconhecidos um do outro. Por isso a correção gramatical é tão importante. Um texto apresentado de forma objetiva, com ideias claras, concisas é mais facilmente compreendido pelo receptor e nele provocar o efeito desejado pelo emissor. A produção do texto escrito se dá de forma coordenada, uma vez requer planejamento, transformando sua estrutura sintática elegante, bem formada. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 163 Uma diferença que chama atenção entre a linguagem oral e a escrita é que na primeira as falas podem se apresentar fragmentadas, desordenadas, incompletas, enquanto que na segunda isto não ocorre. Outra característica particular que as difere é que na linguagem escrita o vocabulário é muito variado e essencialmente conservador e dependente do grau do nível de formalismo. Enfim, pode-se afirmar que a fala e a escrita são dois modos bem diferentes, e em alguns momentos complementares, de o usuário representar as suas experiências linguísticas. 6.4 Funções da Linguagem Por meio da linguagem, também se realizam diferentes ações: transmitem-se informações, tenta-se convencer o outro a fazer (ou dizer) algo, assumem-se compromissos, ordena-se, pede-se, demonstram-sesentimentos, constroem-se representações mentais sobre o mundo. Enfim, pela linguagem organiza-se a vida em diferentes aspectos. Diferenciar que objetivo predomina em cada situação de comunicação auxilia a compreender melhor o que foi dito. As funções da linguagem estão centradas nos elementos da comunicação. Toda comunicação apresenta uma variedade de funções, mas elas se apresentam hierarquizadas, sendo uma dominante, de acordo com o enfoque que o destinador quer dar ou do efeito que quer causar no receptor. A linguagem pode ter função emotiva, referencial, conativa, fática, metalinguística ou poética. Sobre cada uma delas será tratado a seguir. 6.4.1 Função Emotiva (ou expressiva) Centra-se no sujeito emissor e suscita a impressão de um sentimento verdadeiro ou simulado. Observe-se o texto ilustrado pelo Quadro 1 a seguir. Quadro 1 - Exemplificando a função emotiva Fonte: Elaborado pelo autor (2014) Não só baseado na avaliação do Guia da Folha, mas também por iniciativa própria, assisti cinco vezes a “Um filme falado”. Temia que a crítica brasileira condenasse o filme por não ser convencional, mas tive uma satisfação imensa quando li críticas unânimes da imprensa. Isso mostra que, apesar de tantos enlatados, a nossa crítica é antenada com o passado e o presente da humanidade e com as coisas que acontecem no mundo. Fantástico! Parabéns, Sérgio Rizzo, seus textos nunca me decepcionam”. Luciano Duarte. Guia da Folha, 10 a 16 de junho 2005. Módulo 1 Técnico em Farmácia 164 Nota-se no texto ilustrado acima que o emissor emprega a primeira pessoa (eu): (assisti, temia, tive, li...), aponta qualidades subjetivas, utilizando adjetivos (satisfação imensa, críticas unânimes, fantástico...), advérbios (nunca me decepcionam), além de recursos gráficos que indicam ênfase, ao utilizar ponto de exclamação (fantástico!). Destaca- se aqui o ponto de vista do emissor, a sua percepção dos acontecimentos, característica da função emotiva da linguagem. 6.4.2 Função Referencial (ou denotativa ou cognitiva) Esta é a função da linguagem que aponta para o sentimento real das coisas. O texto ilustrado pelo Quadro 2 (4) revelará as nuances características da função referencial. Quadro 2 - Exemplificando a função referencial Fonte: Elaborado pelo autor (2014) Observam-se neste segundo texto outros procedimentos colocados em destaque, tais como: o uso da terceira pessoa, explicitado no trecho: ‘jovem professora de história (ela)’; ausência de adjetivos, dado que a indicação de que o filme é bom aparece ilustrado com 4 estrelinhas; ausência de expressões que indiquem a opinião do emissor (tais como, ‘eu acho, eu desejo,...’); emprego de um conjunto de informações que dizem respeito a coisas do mundo real, tais como a exatidão dos horários, o endereço, os nomes próprios. Este conjunto de procedimentos dá ao emissor a impressão de objetividade, como se a informação traduzisse verdadeiramente o que acontece no mundo real, caracterizando a função referencial ou informativa da linguagem. 4.4.3 Função Conativa (ou apelativa ou imperativa) Este tipo de função centra-se no sujeito receptor e é eminentemente persuasória. Observe-se o texto a seguir, apresentado no Quadro 3. Quadro 3 - Exemplificando a função conativa Fonte: Elaborado pelo autor (2014) **** UM FILME FALADO – Idem. França/Itália/Portugal, 2003. Direção: Manoel de Oliveira. Com: Leonor Silveira, John Malkovich, Catherine Deneuve, Stefania Sandrelli e Irene Papas. Jovem professora de história embarca com a filha em um cruzeiro que vai de Lisboa a Bombaim. 96 min. 12 anos. Cinearte 1, desde 14. Frei Caneca Unibanco Arteplex 7, 13h, 15h10, 17h20, 19h30 e 21h50. RESERVA CULTURAL Você nunca viu cinema assim. Não perca a retrospectiva especial de inauguração, com 50% de desconto, apresentando cinco filmes que foram sucesso de público. E, claro, de crítica também. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 165 Neste texto, o destaque está no destinatário. Para tanto, o emissor se valeu de procedimentos, tais como: o uso da segunda pessoa (você); o uso do imperativo (Não perca!). O resultado é a interação com o destinatário, procurando convencê-lo a realizar uma ação (ir ao espaço cultural). Este tipo de função é característico dos textos publicitários, que, em geral, procuram convencer ou persuadir o destinatário a dar uma resposta, que pode ser a mudança de comportamento, de hábitos, como abrir conta em banco, frequentar determinados tipos de lugares ou consumir determinado produto. 6.4.4 Função Fática (ou de contato) A função fática da linguagem visa estabelecer, prolongar ou interromper a comunicação e serve para verificar a eficiência do canal. É muito comum em conversações cotidianas. Aqui o emissor usa procedimentos para manter o contato físico ou psicológico com o interlocutor, como, por exemplo, ao iniciar uma conversa telefônica (‘Alô!’) ou ainda utilizando fórmulas prontas para dar continuidade à conversa, como no caso de: ‘aham, hum, bem, como?, pois é’. Este tipo de mensagem serve para manter o contato, sustentar ou alongar (ou mesmo interromper) a conversa. 6.4.5 Função Metalinguística Este tipo de função consiste numa recodificação e passa a existir quando a linguagem fala dela mesma. Checa se o emissor e receptor estão usando o mesmo repertório. Por exemplo, quando o emissor quer precisar, esclarecer o que está querendo dizer e utiliza ‘eu quis dizer que’, ‘que quero dizer que esta palavra poder ser substituída por outra mais precisa, que desse a entender que...’. Um exemplo comum da aplicação da função metalinguística está no preenchimento de palavras cruzadas, na consulta a um dicionário. Aqui, faz uso da linguagem (o código) para falar, explicar, descrever o próprio código linguístico. 6.4.6 Função Poética A função poética da linguagem é aquela em que o emissor valoriza o texto na sua elaboração, utilizando a combinação de palavras, figuras de linguagem, exploração dos sentidos e sentimentos. Embora mais comum nos textos literários, especialmente nos poemas, dada a sua subjetividade, é bastante utilizada em anúncios publicitários, além de aliar-se também aos demais tipos de função, sobretudo a emotiva. A função poética ocupa- se mais em como dizer o que se deseja do que o que dizer. Atente-se para o texto a seguir, ilustrado pelo Quadro 4. Quadro 4 - Exemplificando a função poética Fonte: Elaborado pelo autor (2014) Subi a porta e fechei a escada. Tirei minhas orações e recitei meus sapatos. Desliguei a cama e deitei-me na luz. Tudo porque ele me deu um beijo de boa noite... [Autor anônimo] Módulo 1 Técnico em Farmácia 166 Observa-se a falta de lógica no texto, a tentativa de o autor fugir das formas habituais, dando ênfase a sua forma de expressão, não levando em conta apenas ‘o que’, mas ‘como’ ele queria dizer. 6.5 Tipologia Textual e Gêneros Textuais Tipologia é a ciência que estuda os tipos. É muito utilizada para definir diferentes categorias. No que diz respeito ao texto, a tipologia busca estudar as suas características, sua composição, como ele vai ser apresentado no seu processo de criação, se por uma narração, descrição, argumentação ou exposição, por exemplo. Quanto ao gênero textual, este se refere às mais variadas formas de expressão de um texto. 6.5.1 Tipos Textuais O texto é uma unidade linguística concreta, percebida tanto pela audição, a fala, quanto pela visão, a escrita, composto por unidade de sentido e intencionalidade comunicativa. Há dois elementos essenciais que devem ser observados na produção textual: a coesão – que diz respeito às articulaçõesgramaticais existentes entre palavras, orações, frases, parágrafos e partes maiores de um texto, que garantem sua conexão sequencial; e a coerência – que é o resultado da articulação das ideias de um texto, a sua estruturação lógica semântica, que permite que numa situação discursiva palavras e frases componham um todo significativo para os interlocutores. Quando se fala em tipologia textual, normalmente atenta-se para a divisão tradicional dos textos: a descrição, a narração e a dissertação. Entretanto, os tipos de textos extrapolam esta tríade. 6.5.1.1 Texto Descritivo A descrição usa um tipo de texto em que se faz um retrato falado de uma pessoa, animal, objeto ou lugar. A classe de palavras mais utilizada nesta produção é o adjetivo, pela sua função caracterizadora, dando ao leitor uma grande riqueza de detalhes. A descrição, ao contrário da narração, não supõe ação. É uma estrutura pictórica, em que os aspectos sensoriais predominam. Assim como o pintor capta o mundo exterior ou interior em suas telas, o autor de uma descrição focaliza cenas ou imagens, conforme permita sua sensibilidade. 6.5.1.2 Texto Narrativo Esta é uma modalidade textual em que se conta um fato, fictício ou real, ocorrido num determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens. Há uma relação de anterioridade e posterioridade. O tempo verbal predominante é o passado. Em geral, a narrativa se desenvolve em prosa. O narrar surge da busca de transmitir, de comunicar qualquer acontecimento ou situação. A narração em primeira pessoa pressupõe a participação do narrador (narrador enquanto personagem) e em terceira TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 167 pessoa mostra o que ele viu ou ouviu (narrador enquanto observador). Na narração encontram-se, ainda, os personagens (principais ou secundários), o espaço (cenário) e o tempo da narrativa. 6.5.1.3 Texto Dissertativo Neste tipo de texto há posicionamentos pessoais e exposição de ideias. Tem por base a argumentação, apresentada de forma lógica e coerente, a fim de defender um ponto de vista. É a conhecida “redação” de cada dia. É a modalidade mais exigida nos concursos, já que requer dos candidatos um conhecimento de leitura do mundo, como também um bom domínio da norma culta. Embora o texto dissertativo exponha os posicionamentos de quem escreve, é importante salientar que estes devem aparecer implícitos no texto, não sendo permitida a utilização da primeira pessoa do singular. Salvo em alguns casos, a primeira pessoa do plural aparece no texto, porém recomenda-se o uso da impessoalidade no texto de uma forma geral. O texto dissertativo estrutura-se basicamente em: ideia principal (introdução), desenvolvimento (argumentos e aspectos que o tema envolve) e conclusão (síntese da posição assumida). 6.5.1.4 Texto Expositivo Apresenta informações sobre determinados assuntos, expondo ideias, explicando e avaliando. Como o próprio nome indica, ocorre em textos que se limitam a apresentar uma determinada situação. As exposições orais ou escritas entre professores e alunos numa sala de aula, os livros e as fontes de consulta, são exemplos desta modalidade. 6.5.1.5 Texto Injuntivo Este tipo de texto indica como realizar uma determinada ação. Ele normalmente pede, manda ou aconselha. Utiliza linguagem direta, objetiva e simples. Os verbos são, em sua maioria, empregados no modo imperativo. Bons exemplos deste tipo de texto são as receitas de culinária, os manuais, receitas médicas, editais, etc. 6.5.2 Gêneros Textuais Muitos confundem os tipos de texto com os gêneros. No primeiro, eles funcionam como modos de organização, sendo limitados. No segundo, são os chamados textos materializados, encontrados no cotidiano. Eles são muitos, apresentando características sociocomunicativas definidas por seu estilo, função, composição conteúdo e canal. Assim, quando se escreve um bilhete ou uma carta, quando se envia ou s e recebe um e-mail ou usam-se os chats das redes sociais, utilizam-se diversos gêneros textuais. Entrevistas, cardápios, horóscopos, telegrama, telefona, lista de compras, blogs, agendas, são exemplos de gêneros textuais. Módulo 1 Técnico em Farmácia 168 6.6 Ortografia e Emprego de Algumas Palavras e Expressões Esta seção apresenta, de forma sucinta, o emprego de algumas palavras e expressões, apresentando definições e exemplos. Cessão/Sessão/Seção (ou Secção): Cessão é o ato de ceder. Ex.: A cessão do terreno para a construção de uma creche agradou a todos. Ele fez a cessão de seus direitos autorais àquela instituição; sessão é o intervalo de tempo que dura uma reunião, uma assembleia. Ex.: A Câmara reuniu-se em sessão extraordinária. Assistimos a uma sessão de cinema; e seção (ou secção) significa parte de um todo, corte, subdivisão. Ex.: Compramos os presentes na seção de brinquedos. Lemos na seção de Economia que a gasolina vai aumentar. Porquê/Porque/Por quê/Por que: Porquê: quando for um substantivo, equivale à causa, motivo, razão, e vem precedido dos artigos o(os), um(uns). Ex.: Não me interessa o porquê de sua ausência. Porque: quando se introduz uma explicação. Equivale a ‘pois’. Ex.: Carlos, venha porque preciso de você! Por quê: no final de perguntas. Ex.: Ademar não veio, por quê? Por que: a) na frase interrogativa direta. Ex.: Por que você não veio?; b) quando equivale a ‘pelo qual’ e suas flexões. Ex.: Esta é a rua por que meu filho e eu passamos; c) na construção igual à anterior, no entanto, fica subentendido o antecedente do pronome relativo (razão, motivo, causa). Ex.: Eis (a razão, o motivo) por que não te amo mais. Obs.: Lembre-se de que a palavra QUE, em final de frase, deve ser acentuada por ser um monossílabo tônico terminado em E. Ex.: Você vive de quê? Onde/Aonde: Emprega-se aonde com os verbos que dão ideia de movimento. Equivale sempre a ‘para onde’. Ex.: Aonde você nos leva com tal rapidez? Aonde você vai com tanta pressa? Caso o verbo não dê ideia de movimento, emprega-se onde. Ex.: Onde você mora? Não sei onde encontrá-lo. Mau/Mal: Mau é sempre um adjetivo (seu antônimo é bom). Refere-se a um substantivo. O seu plural é ‘maus’, e a forma feminina é ‘má’. Ex.: Escolheu um mau momento para sair. O senhor não é mau aluno. Mal pode ser: a) advérbio de modo (seu antônimo é bem). Ex.: Essa carta está mal redigida. Na festa, ele se comportou mal; b) conjunção temporal (equivale a assim que). Ex.: Mal começou a cantar, todos vaiaram. Mal ela chegou, o casal foi embora; c) substantivo (nesse caso, virá precedido de artigo ou outro determinante); o seu plural é ‘males’. Ex.: Era um mal para o qual não havia remédio. Estava acometida de um mal incurável. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 169 Há/A/Ah: Na indicação de tempo, emprega-se ‘Há’ para significar tempo transcorrido (equivale a faz). Ex.: Há dois anos que ela não aparece por aqui. Luciana formou-se em Psicologia há quatro anos. ‘A’ é empregado para indicar futuro. Ex.: A formatura será daqui a duas semanas. Daqui a um mês devo tirar férias. Embora menos usual, emprega-se ‘Ah’ em frases exclamativas ou que demonstrem espanto, surpresa. Ex.: Ah, que lindo dia amanheceu! Senão/Se não: Senão equivale a ‘caso contrário’. Ex.: Devemos entregar o trabalho no prazo, senão o contrato será cancelado. Espero que faça bom tempo amanhã, senão não poderemos ir à praia. Existe também o substantivo ‘senão’, que significa mácula, defeito. Nesse caso, vem precedido de artigo ou outro determinante. Ex.: Ele só tem um senão: não gosta de trabalhar. Em relação a ‘se não’, equivale a caso não, se por acaso não: inicia orações adverbiais condicionais. Ex.: A festa será amanhã à noite, se não ocorrer nenhum imprevisto. Se não chover amanhã, poderemos ir à praia. Aoinvés de/Em vez de: Ao invés de significa ‘ao contrário de’. Ex.: Ao invés do que previu a meteorologia, choveu muito ontem. Em vez de significa ‘no lugar de’. Ex.: Em vez de jogar futebol, preferimos ir ao cinema. Ao encontro de/De encontro a: Ao encontro rege a preposição de e significa estar ‘a favor de’, ‘caminhar para’. Ex.: Aquelas atitudes iam ao encontro do que eles pregavam. De encontro rege a preposição a e significa ‘em sentido oposto’, ‘contra’. Ex.: Sua atitude veio de encontro ao que eu desejava: meus planos foram por ‘água abaixo’. Acerca de/Há cerca de: Acerca de é uma locução prepositiva, que equivale a ‘a respeito de’. Ex.: Discutimos acerca da melhor saída para o caso. Há cerca de é uma expressão em que o verbo haver indica tempo transcorrido; equivale a ‘faz’. Ex.: Há cerca de uma semana, discutíamos a melhor decisão a tomar. A fim de/Afim: A fim de é uma locução prepositiva que indica finalidade. Ex.: Ele saiu cedo, a fim de não perder a carona. Afim é adjetivo e significa ‘semelhante’, que apresenta ‘afinidade’. Ex.: O genro é um parente afim. Tratava-se de ideias afins. Módulo 1 Técnico em Farmácia 170 Demais/De mais: Demais é advérbio de intensidade e equivale a ‘muito’. Ex.: Elas falam demais. Demais também pode ser usado como substantivo (neste caso, virá precedido de artigo ou outro determinante), significando os restantes. Ex.: Chamaram onze jogadores para jogar; os demais ficaram no banco. De mais é locução prepositiva e possui sentido oposto a ‘de menos’. Ex.: Não haviam feito nada de mais. À-toa/À toa: À-toa é um adjetivo (refere-se, pois, a um substantivo) e significa ‘impensado’, ‘inútil’, ‘desprezível’. Ex.: Ninguém lhe dava valor, era considerada uma pessoa à-toa. À toa é um advérbio de modo, significa ‘a esmo’, ‘sem razão’, ‘inutilmente’. Ex.: Andavam à toa pelas ruas. A par/Ao par: A par é usado, normalmente, com o sentido de estar bem informado, ter conhecimento. Ex.: Após a confissão, ficamos a par de tudo. Ao par é usado para indicar equivalência cambial. Ex.: O dólar e o marco estão ao par (isto é, têm o mesmo valor). Tampouco/Tão pouco: Tampouco é advérbio e significa ‘também não’. Ex.: Não realizou a tarefa, tampouco apresentou qualquer justificativa. Em Tão pouco, temos o advérbio de intensidade ‘tão’ modificando ‘pouco’, que pode ser advérbio ou pronome indefinido. Ex.: Estudamos tão pouco esta semana! (tão modifica o advérbio pouco). Ex.: Tenho tão pouco. Ter de/Ter que: Ter de indica obrigatoriedade. Ex.: Para ser aprovado, tenho de fazer o teste. Ter que indica permissividade. Ex.: Tenho que ser eleito para ser respeitado (é uma probabilidade, não uma imposição). 6.7 Pontuação Na língua escrita, certos recursos da língua oral, principalmente as pausas e entoações, são representados pelos sinais de pontuação (FERREIRA, 2007). Observa-se a seguir o uso da vírgula, que indica uma pausa entre as orações, e suas várias situações. A vírgula entre os termos da oração: Entre os termos da oração, usa-se a vírgula nas seguintes situações: a) para separar os núcleos de um termo. Ex.: O milharal, a horta, o pasto e a mata ficaram mais verdes com as chuvas. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 171 b) para isolar o aposto. Ex.: Rubem Braga, o maior cronista brasileiro, nasceu no Espírito Santo. c) para isolar o vocativo. Ex.: Joel, você acompanhou o processo? d) para isolar adjuntos adverbiais deslocados. Ex.: O advogado analisou o documento com muito cuidado. Com muito cuidado, o advogado analisou o documento. e) para indicar a elipse do verbo. Ex.: A igreja era grande e pobre. Os altares, humildes. f) para isolar determinadas expressões explicativas. Ex.: Os bombeiros salvaram toda a família, isto é, o casal e os dois filhos. Em alguns casos, a vírgula é proibida. São eles: a) entre o sujeito e o predicado. Ex.: A irmã de Maria não tinha interesse pelo padeiro; b) ente o verbo e o objeto (direto ou indireto); c) ente o nome e seus adjuntos adnominais; d) entre o nome e seu complemento nominal. A vírgula entre orações: Dependendo da relação sintática entre duas orações em um período composto, a vírgula pode ser obrigatória, opcional ou proibida. Quanto à obrigatoriedade, observam-se os seguintes casos: a) oração coordenada+oração coordenada. Ex.: Pegou um livro, procurou uma página, fez algumas anotações. Obs.: entre duas orações coordenadas ligadas pela conjunção e, a vírgula é proibida; b) oração subordinada adverbial+oração principal. Ex.: Quando eles se mudaram para lá (or. subord. adverbial), a cidade ainda era uma vila (oração principal); c) oração principal+oração subordinada adjetiva explicativa. Ex.: Ele sonha em visitar a Grécia (oração principal), que é o berço da civilização ocidental (oração subord. adjetiva explicativa). A vírgula é proibida nos seguintes casos, conforme ilustram os exemplos: a) oração principal+oração subordinada substantiva. Ex.: Ninguém desconhece (oração principal) que a situação da empresa é fácil (or. subord. substantiva); b) oração principal+oração subordinada adjetiva restritiva. Ex.: Na época das chuvas, os rios que cortam a região (or. subord. adjetiva restritiva) inundam as pastagens. O ponto e vírgula indica uma pausa um pouco mais longa que a vírgula e um pouco mais breve que um ponto no texto (FERREIRA, 2007). É usado em 3 casos, conforme descrito e exemplificado a seguir: Módulo 1 Técnico em Farmácia 172 a) entre orações coordenadas que já apresentam vírgulas. Ex.: A juíza atribuiu ao réu, depois de analisadas as provas constantes dos autos, a responsabilidade pelo crime; as testemunhas foram ouvidas em separado para confrontar as informações. b) entre orações coordenadas longas. Ex.: Os velhos cronistas são unânimes em dizer que o marido consolou grandemente a esposa do boticário; e notam com perspicácia...; c) entre os itens de leis, decretos, regulamentos, etc. Ex.: Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: I. Importação de produtos estrangeiros; II. Exportação de produtos nacionais;... Em relação a dois pontos, estes são usados para iniciar citações, explicações, esclarecimentos; para iniciar sequência de elementos discriminativos (enumerativos); no discurso direto, caracterizando um diálogo (SIMÕES, 2012). As reticências indicam uma interrupção na sequência normal da frase e são empregadas para: indicar indecisão, surpresa ou dúvida na fala de uma pessoa; indicar em diálogo a interrupção de uma fala; sugerir ao leitor que complete um raciocínio; indicar a exclusão de trechos de um texto (FERREIRA, 2007). Os parênteses são utilizados para marcar a intercalação de palavras, expressões ou orações explicativas que se queira destacar; na transcrição de siglas após o nome da entidade ou órgão em extenso; para indicar referências e datas (SIMÕES, 2012). O ponto é usado para indicar o fim de um período; em abreviaturas; na separação de casas decimais; em leis, decretos e artigos (SIMÕES, 2012). 6.7.1 Exercícios Propostos 1) Assinale a opção em que está corretamente indicada a ordem dos sinais de pontuação que devem preencher as lacunas da frase abaixo: “Quando se trata de trabalho científico ___ duas coisas devem ser consideradas ____ uma é a contribuição teórica que o trabalho oferece ___ a outra é o valor prático que possa ter”. a) dois pontos, ponto e vírgula, ponto e vírgula; b) dois pontos, vírgula, ponto e vírgula; c) vírgula, dois pontos, ponto e vírgula; d) pontos vírgula, dois pontos, ponto e vírgula; e) ponto e vírgula, vírgula, vírgula. 2) Assinale o exemploem que há emprego incorreto da vírgula: a) como está chovendo, transferi o passeio; b) não sabia, por que todos lhe viravam o rosto; c) ele, caso queira, poderá vir hoje; d) não sabia, porque não estudou; TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 173 e) o livro, comprei-o por conselho do professor. 3) Assinale o trecho sem erro de pontuação: a) vimos pela presente solicitar de V.Sas., que nos informe a situação econômica da firma em questão; b) cientificamo-lo de que na marcha do processo de restituição de suas contribuições, verificou-se a ausência da declaração de beneficiários; c) o Instituto de Previdência do Estado, vem solicitar de V.Sa. o preenchimento da declaração; d) encaminhamos a V.Sa., para o devido preenchimento, o formulário em anexo; e) estamos remetendo em anexo, o formulário. 4) Assinale as frases em que as vírgulas estão incorretas: a) ora ríamos, ora chorávamos; b) amigos sinceros, já não os tinha; c) a parede da casa, era branquinha branquinha; d) Paulo, diga-me o que sabe a respeito do caso; e) João, o advogado, comprou, ontem, uma casa. 5) Observe: 1) depois de muito pedir () obteve o que desejava; 2) se fosse em outras circunstâncias () teria dado tudo certo; 3) exigiam-me o que eu nunca tivera () uma boa educação; 4) fez primeiramente seus deveres () depois foi brincar; Assinale a alternativa que preencha mais adequadamente os parênteses: a) (;) (,) (:) (;); d) (?) (,) (,) (:); b) (,) (;) (:) (;); e) (,) (;) (.) (;). c) (,) (,) (:) (;); 6) Assinale o item em que as vírgulas estão empregadas corretamente: I - Foi ao fundo da farmácia, abriu um vidro, fez um pequeno embrulho e entregou ao homem. II - A sua fisionomia estava serena, o seu aspecto tranquilo. III - E o farmacêutico, sentindo-se aliviado do seu gesto, sentira-se feliz diante de suas lembranças. IV - Quando, vi que não servia, dei às formigas, e nenhuma morreu. a) I - IV b) II - III c) II - IV d) I - II e) I - III Módulo 1 Técnico em Farmácia 174 6.8 Crase Esta seção abordará o uso da crase. De acordo com Zambeli (2014), ocorre a crase nas seguintes situações. a) preposição A + artigo A. Ex.: Eles foram à praia no fim de semana; b) preposição A + pronome relativo A QUAL. Ex.: A aluna à qual me refiro é estudiosa; c) preposição A + pronome demonstrativo. Ex.: A minha blusa é semelhante à de Maria (no sentido de àquela). d) preposição A + pronome demonstrativo AQUELE. Ex.: Ele fez referência àquele aluno. Algumas dicas podem ajudar quanto ao emprego da crase. Observe os casos a seguir: a) substitua a palavra feminina por outra masculina correlata. Surgindo a combinação AO, haverá crase. Ex.: Nunca fui indiferente às professoras (AOS PROFESSORES); b) substitua o demonstrativo Aquele(s), Aquela(s), Aquilo por ‘a este(s)’, ‘a esta(s)’, ‘a isto’. Mantendo-se a lógica, haverá crase. Ex.: Ele fez referência àquele aluno. Não entregarei isso àquelas turmas; c) antes de nome próprio de lugares, deve-se colocar o verbo VOLTAR; se disser VOLTO DA, haverá acento indicativo de crase; se disser VOLTO DE, não ocorrerá o acento. Ex.: Vou à Bahia (volto da). Vou a São Paulo (volto de). Se o nome do lugar estiver acompanhado de uma característica (adjunto adnominal), o acento será obrigatório. Ex.: Vou a Portugal. Vou à Portugal das grandes navegações; d) nas locuções prepositivas, conjuntivas e adverbiais. Ex.: à frente de; à espera de; à procura de; à noite; à tarde; à esquerda; à direita; às vezes; às pressas; à medida que; à proporção que; à toa; à vontade, etc.; e) na indicação de horas determinadas: deve-se substituir a hora pela expressão “meio-dia”; se aparecer AO antes de “meio-dia”, deve colocar o acento, indicativo de crase no A. Ex.: Ele saiu às duas horas e vinte minutos (ao meio dia). Ele está aqui desde as duas horas (o meio-dia). Observam-se a seguir alguns casos em que a crase é opcional e outros onde a mesma não deve ocorrer. Uso opcional da crase: a) antes de nomes próprios femininos. Ex.: Entreguei o presente a Ana (ou à Ana); b) antes de pronomes possessivos femininos adjetivos no singular. Ex.: Fiz alusão a minha amiga (ou à minha amiga). Mas não fiz à sua; c) depois da preposição ATÉ. Ex.: Fui até a escola (ou até à escola). TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 175 Não ocorre a crase: a) antes de palavras masculinas. Ex.: Ele saiu a pé. Só vendem a prazo nesta loja; b) antes de verbos no infinitivo. Ex.: Estou disposto a colaborar com ele. Começou a chover agora; c) antes de artigo indefinido. Ex.: Fomos a uma lanchonete no centro. Encaminhou o documento a uma gerente; d) antes de pronomes pessoais, indefinidos e demonstrativos. Ex.: Passamos os dados do projeto a ela. Eles podem ir a qualquer restaurante. Refiro-me a esta aluna; e) antes de QUEM e CUJA. Ex.: A pessoa a quem me dirigi estava atrapalhada. O restaurante a cuja dona me referi é ótimo; f) depois de preposição. Ex.: Eles foram para a praia. Estava perante a juíza; g) quando o “A” estiver no singular e a palavra a que ele se refere estiver no plural. Ex.: Refiro-me a pessoas que são competentes; h) em locuções formadas pela mesma palavra: cara a cara, lado a lado, face a face, passo a passo, frente a frente, dia a dia, etc. Ex.: Tomei o remédio gota a gota; i) antes de pronomes de tratamento iniciados por SUA ou VOSSA. Ex.: Enderecei a correspondência a SUA SENHORIA. 6.8.1 Exercícios Propostos 1) (ITA – SP) Dadas as afirmações: (1) Tudo correu as mil maravilhas. (2) Caminhamos rente à parede. (3) Ele jamais foi a festas. Verificamos que o uso do acento indicador da crase no “a” é obrigatório: a) apenas na sentença nº 1 b) apenas na sentença nº 2 c) apenas nas sentenças nº 1 e 2 d) em todas as sentenças 2) Preencha as lacunas empregando os termos que melhor se adequarem, levando em consideração a norma padrão da linguagem: a) Estou ____ procura de alguns amigos de infância que não vejo há anos. b) Voltei ____ colégio depois de ter passado por tantas privações. c) Gostei muito do frango ____ milanesa que degustamos hoje no almoço. d) Quando vamos ____ fazenda, adoro andar ____ cavalo e ____ pé. Esta atividade é uma ótima alternativa para aliviar ____ tensões. e) Os sapatos ____ moda Luís XV fizeram parte do passado de muitas mulheres. 3) Assinale a frase onde a crase foi empregada incorretamente: a) Iremos à fazenda amanhã. b) A professora fez críticas à algumas alunas. Módulo 1 Técnico em Farmácia 176 c) Ela está à espera de vocês. d) Vou à biblioteca depois da aula. 4) Complete as lacunas corretamente: "Ontem, assisti ___ filme com meu namorado, depois fomos ___ lanchonete e pedimos dois lanches. Não ficamos ___ vontade quando o garçom ficou nos rodeando enquanto olhávamos o menu, então desistimos e fomos embora, para jantar em outro local. O problema era que ___ era ___ única lanchonete aberta, então voltamos para minha casa e pedimos uma pizza". a) aquele - a - à - àquela – a b) àquele - à - há - aquela – a c) àquele - à - à - aquela – a d) aquele - a - há - àquela - a 6.9 Acentuação Gráfica As regras de acentuação devem ser respeitadas na elaboração de um texto (ZAMBELI, 2014), bem como deve ser dada atenção ao Novo Acordo Ortográfico, que acrescentou ao alfabeto as letras, K, Y e W, aboliu o uso do trema, além alguns acentos em casos específicos, e também modificou o uso do trema. Observem-se algumas regras a seguir. Palavras proparoxítonas: Todas as palavras proparoxítonas recebem acento. Ex.: lâmpada – rápido – córrego – rígido – pânico. Palavras paroxítonas: São acentuadas as palavras paroxítonas, de acordocom as seguintes regras: a) palavras terminadas em ditongo crescente (seguidas ou não de “s”). Ex.: sábio – régua – farmácia – espontâneo – mágoa; b) palavras terminadas em: Ã, ÃS, ÃO, ÃOS. Ex.: ímã – órfãs – órgão – bênçãos; c) palavras terminadas em: EI, EIS. Ex.: jóquei – pônei – fósseis – úteis; d) palavras terminadas em: I, IS. Ex.: táxi – biquíni – lápis – júri – íris; e) palavras terminadas em: ON, OM, NOS. Ex.: Nélson – rádom – próton – nêutrons; f) palavras terminadas em: L, N, R, X, PS. Ex.: sensível – hífen – caráter – tórax – bíceps; g) palavras terminadas em: UM, UNS, US. Ex.: Ônus, álbum, médiuns Atenção: é importante observar que não se acentuam os vocábulos paroxítonos terminados em EM, ENS. Ex.: item, homem, itens, hifens, homens. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 177 Palavras oxítonas: São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em: A, E, O (seguidas ou não de “s”), EM, ENS. Ex.: sofá – café – cipó – você – porém – parabéns. Hiato: Acentuam-se o I e o U tônicos, quando formam sílabas sozinhos ou com “s” e vêm precedidos de vogal. Ex.: saída – faísca – uísque – influí – reúne – egoísta – destruí-lo – baú – juízes – saúde. Atenção: é importante observar que não se acentuam o I e U quando seguidos de NH: rainha, bainha, ladainha; não se acentuam o I e U quando formarem sílabas com outra letra que não seja “s”: cairmos, juiz, ruim, defini-lo; não se acentuam o I e U quando formarem ditongo: gratuito, fluido, fortuito, intuito. De acordo com a nova regra, as palavras paroxítonas que têm i ou u tônicos precedidos por ditongos não serão mais acentuadas. Assim, escreve-se feiura, baiuca. Esta regra não vale quando se trata de palavras oxítonas. Nestes casos, o acento permanece. Assim, continua correto Piauí, teiús, tuiuiú. Observa-se ainda que foram eliminados os acentos circunflexos nos hiatos OO/EE: enjoo, perdoo, magoo, voo, abençoo; creem, deem, leem, releem, veem, preveem. Ditongos abertos: Acentuam-se os ditongos tônicos e abertos ÉI, ÓI, ÉU. Ex.: anzóis – chapéu – troféu – lençóis – pincéis. De acordo com a nova regra, o acento agudo foi eliminado nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, tais como assembleia, boleia, epopeia, ideia, jiboia, paleozoico, paranoia, onomatopeia. Trema: O trema foi abolido de todas as palavras da língua portuguesa. Porém, o trema é mantido em nomes próprios estrangeiros e suas derivações, tais como Bündchen, Schönberg, Müller e mülleriano. Acento diferencial: O acento diferencial, conforme o próprio nome diz, diferencia a intensidade de alguns vocábulos com relação a seus homógrafos átonos. De acordo com as novas regras, permanecem apenas aqueles relativos ao vocábulo ‘por’ para diferenciar o verbo (pôr) da preposição (por), bem como na flexão verbal ‘pode’ (presente do indicativo) e ‘pôde’ (pretérito perfeito do indicativo). Deixaram de existir nos seguintes casos: a) para (verbo), que se diferenciava da preposição para; b) pelo (substantivo), que se diferenciava da preposição pelo; c) polo (substantivo), que se diferenciava da preposição polo (grafia antiga, em desuso); Módulo 1 Técnico em Farmácia 178 d) pera (substantivo), que se diferenciava da preposição pera (grafia antiga, em desuso). 5.9.1 Exercícios Propostos 1) (Fac. Med. Itajubá) Os dois vocábulos de cada item devem ser acentuados graficamente, exceto: a) herbivoro – ridiculo b) logaritmo – bambu c) miudo – sacrificio d) caranauba – germen e) Biblia – hieroglifo 2) Nos provérbios abaixo os acentos foram suprimidos. Recoloque-os quando necessário: a) O homem que le vale mais. b) Quem ve cara não ve coração. c) Depois da tempestade vem a bonança. d) Há males que vem para o bem. e) Quem tem boca vai à Roma. 3) Analise os vocábulos abaixo agrupando-os de acordo com as regras de acentuação: África – fóssil – método – possível – pé – coração – álbum – tórax – cajá - armazém – lâmpada. _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 6.10 Concordância e Regência Esta seção tratará sobre concordância e regência, nominal e verbal, a partir de definições e exercícios propostos. 6.10.1 Concordância Nominal Refere-se à concordância nominal o princípio no qual toda palavra variável referente ao substantivo deve se flexionar para se adaptar a ele. Como regra geral, toda palavra variável associada a um substantivo concorda com ele. Ex.: Ganhei de presente estes dois antigos livros italianos. Em relação ao adjetivo, quando este vier depois de dois ou mais substantivos, concorda com o último ou vai facultativamente para o plural, no masculino, se pelo menos um deles for masculino, ou para o plural feminino, se todos eles estiveres no feminino. Ex.: Ternura e amor humano; Amor e ternura humana; Ternura e amor humanos. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 179 Quando o adjetivo vier antes de dois ou mais substantivos, concorda com o mais próximo. Ex.: Mau lugar e hora; Má hora e lugar. Quando dois ou mais adjetivos se referirem a um substantivo, este vai para o singular ou plural. Ex: O poder temporal e o espiritual. Os poderes temporal e espiritual. Quando dois ou mais ordinais vêm depois de um substantivo e o determinando, este vai para o plural. Ex.: Encerraram-se as aulas das séries terceira, quarta e quinta. As expressões ‘um e outro’, ‘nem um nem outro’ são seguidas de um substantivo que não varia, permanecendo no singular. Ex.: Um e outro aspecto. Nem um nem outro dia. No caso da expressão ‘um e outro’ vir antes de um substantivo e de um adjetivo, o substantivo vai para o singular e o adjetivo vai para o plural. Ex.: Um e outro processo arquivados. Em relação ao particípio, este concorda com o substantivo. Ex.: Feitas as análises, seguimos com o processo. Estabelecidas as regras, prosseguimos com o jogo. As palavras ‘anexo’, ‘incluso’, ‘mesmo’, ‘próprio’ concordam com o substantivo a que se referem. Ex.: Os depoimentos vão anexos aos autos. Seguem inclusos os documentos solicitados. Ela mesma disse que não viria hoje. Eles próprios admitiram o erro. A palavra ‘meio’, quando relativa à metade, é um adjetivo e concorda com o substantivo a que se refere. Ex.: Tomei meio litro de soro. Ela comeu meia barra de chocolate. No entanto, quando designa ‘um tanto’, se trata de um advérbio, referindo-se a um adjetivo, ficando, portanto, invariável. Ex.: Ela parecia meio cansada de tanta novidade. Ele deixou a janela meio aberta. 6.10.2 Concordância Verbal Princípio no qual o verbo deve se flexionar para se ajustar ao sujeito da oração. Em relação ao sujeito simples, o verbo concorda com o núcleo do sujeito simples em pessoa e número. Ex.: Ele foi à praia. Elas foram ao cinema. Em relação ao sujeito composto, anteposto ao verbo, observam-se as regras mais comuns: a) como regra geral, com elementos coordenados de terceira pessoa, o verbo vai para o plural (Água, luz e telefone terão aumento de tarifa no próximo semestre); b) se formado por palavras sinônimas, o verbo vai para o plural ou concorda com o núcleo mais próximo (Desânimo e tristeza caracteriza/caracterizam aquele paciente); c) se formado por palavras em gradação ou numeração, idem alínea b) (Um mês, um ano, uma década de ditadura não calou/calaram o povo brasileiro); Módulo 1 Técnico em Farmácia 180 d) quando formado por pessoas gramaticais diferentes: eu+tu+ele, o verbo vai para a 1ª pessoa do plural (Eu, tu e ele chegaremos primeiro à escola); eu+tu oueu+ele, o verbo vai para a 1ª pessoa do plural (Eu e tu vamos ao cinema; Eu e ele vamos ao cinema); tu+ele, o verbo vai para a 2ª ou 3ª pessoa do plural (Tu e ele voltareis logo a São Paulo; Tu e ele voltarão logo a São Paulo); e) quando seguido de ‘tudo’, ‘nada’, ‘ninguém’, ‘nenhum’, ‘cada um’, significa um aposto resumidor, com o verbo colocado no singular (Desvios, fraudes, roubos, tudo acontecia naquela repartição). Em relação ao sujeito composto, posposto ao verbo, observam-se as principais regras: a) como regra geral, o verbo vai para o plural ou concorda com o núcleo mais próximo (Acertaram-lhe a alma a lança e a espada; Acertou-lhe a alma a lança e a espada); b) quando a ação for reflexiva, o verbo vai para o plural (Deram-se as mãos a tristeza e a saudade); c) quando os sujeitos são ligados por ‘com’ (equivalendo a ‘e’) e a ação verbal é atribuída a todos os elementos, o verbo vai para o plural (O diretor com os coordenadores do curso elaboraram o conteúdo programático); d) quando os sujeitos são ligados por ‘com’ (equivalendo a ‘em companhia de’), realçando com a ação verbal do antecedente, o verbo concorda com este (O diretor, com todos os professores, resolveu alterar as matrizes curriculares); e) no caso dos sujeitos ligados por ‘nem’, o verbo vai para o plural (Nem Maria nem Marta chegaram mais cedo). 6.10.3 Regência Nominal Relação de interdependência entre o nome e o termo que lhe serve de complemento (FERREIRA, 2007). Exemplos: adepto de; alheio a; ansioso por, para; apto a, para; aversão a, por; contente com, por, de; relativo a; residente em; simpatia a, por. 6.10.4 Regência Verbal Relação de interdependência entre o verbo e seu complemento (geralmente o objeto). As principais regras de regência, segundo Ferreira (2007), são: a) ir e chegar: exigem preposição a; b) obedecer/desobedecer: exigem preposição a; c) esquecer/lembrar: com pronome oblíquo, exigem de (Esqueci-me de você/Lembrei-me de você); sem o pronome oblíquo, não exigem preposição (Esqueci você/Lembrei você); d) assistir: significando ver, exige preposição a; e) preferir: exige 2 objetos, um sem preposição e outro com preposição a (Os brasileiros preferem o futebol ao vôlei); f) simpatizar/antipatizar: não admitem pronome oblíquo me, te, nos, vos, se (Por que você não simpatizou com a nova diretora?); TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 181 g) pagar/perdoar: quando o objeto é gente, exigem a (Paguei ao dentista); h) visar: significando “ter como meta” exige preposição a (Ele visava ao cargo de gerente da empresa). 6.10.5 Exercícios Propostos Em relação à concordância analise responda aos exercícios a seguir: 1) Há concordância inadequada em: a) clima e terras desconhecidas; b) clima e terra desconhecidos; c) terras e clima desconhecidas; d) terras e clima desconhecido; e) terras e clima desconhecidos. 2) Há erro de concordância na opção: a) calças e chapéus surradas; b) poder e força mágica; c) arreios e sela velhos; d) rifles e alpercata nova; e) cangaceiros e capitão temidos. 3) A concordância nominal está correta, exceto em: a) o vento agitou as flores lilases da paineira; b) esperança é necessário para viver; c) a candidata estava meio nervosa; d) os filhos são tais qual o pai; e) as crianças estavam alerta. 4) Assinale a opção que preenche as lacunas: Vão _________ aos processos várias fotografias. Paisagens as mais belas ________. Ela estava _________ narcotizada. a) anexas-possíveis - meio; b) anexas-possível - meio; c) anexo-possíveis - meia; d) anexo-possível - meio; e) anexo-possível - meia. 5) Assinale a opção que preenche as lacunas: Vai _________ à carta minha fotografia. Essas pessoas cometeram crime de ________ patriotismo. Módulo 1 Técnico em Farmácia 182 Elas __________ não quiseram colaborar. a) incluso – leso – mesmo; b) inclusa – leso – mesmas; c) inclusa – lesa – mesmas; d) incluso – leso – mesmas; e) inclusa – lesa – mesmo. 6) Assinale a opção com erro de construção: a) vocês próprios entenderão a matéria; b) há bastantes exemplos nesta lição; c) ela adora pérola; d) vocês vieram só ou acompanhados? e) nenhuns obstáculos conseguirão impedir nossa vitória. 7) Assinale a opção com erro de construção: a) um e outro aluno desistiu de terminar a prova; b) estas crianças eram as mais espertas possíveis; c) cerveja pode ser mau para a saúde; d) a aluna regredia olhos vistos; e) as literaturas francesa e a inglesa são vastíssimas. 8) Assinale a opção com erro de construção: a) água é bom para a saúde; b) achamos estas paisagens as mais belas possível; c) suas forças definhavam a olhos vistas; d) é proibido entrada a pessoas estranhas ao serviço; e) deve ser um bom livro, haja vista as suas edições sucessivas. 9) Assinale a opção com erro de construção: a) nem um nem outro aluno conseguiram aprovação; b) não conheço nem uma nem outra hipótese; c) acredito que um e outro funcionário serão promovidos; d) é claro que sou seu amigo; hajam vista das minhas declarações; e) foi acusado de grave crime: lesa-pátria. 10) Assinale a opção com erro de construção: a) estes alunos são os mais estudiosos possível; b) sua aplicação ao estudo crescia a olhos vistos; c) suas blusas rosas eram “chiquérrimas” ; d) suas virtudes cresciam a olhos vistos; e) ele não sabe raciocinar, haja vista os argumentos apresentados. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 183 6.11 Leitura, Interpretação e Produção de Texto Ler é uma atividade muito além da simples interpretação dos símbolos gráficos, pois exige que o indivíduo seja capaz de interpretar o material lido, comparando-o e incorporando-o a sua bagagem pessoal. É necessário que haja maturidade para a compreensão do material lido, senão tudo cairá no esquecimento ou ficará armazenado na memória, sem uso. Há etapas ou níveis em toda leitura: Primeiro nível (é preciso ter um bom domínio da língua), segundo nível (é a pré-leitura ou leitura superficial, podendo aplicar a técnica da leitura dinâmica), terceiro nível (leitura analítica e efetiva, onde o livro será lido até o fim), quarto nível (nível de controle, ou seja, acabar com qualquer dúvida que tenha ficado da leitura, como significados de palavras, e destacar pontos importantes), quinto nível (etapa de repetição aplicada; momento de associar o assunto lido com alguma experiência já vivida, fazer um resumo ou tentar exemplificá-lo com algo concreto, como se fosse um professor e o estivesse ensinando para uma turma de alunos interessados) (CTPAC, 2014). Existem vários procedimentos que podem ser adotados para tirar o maior rendimento possível da leitura de um texto. Para uma leitura proveitosa, além do conhecimento linguístico propriamente dito, é necessário também um repertório de informações exteriores ao texto, o que se costuma chamar de conhecimento de mundo (CTPAC, 2014). Uma maneira para avaliar se o texto foi bem compreendido é a resposta a três questões básicas: a) Qual é a questão de que o texto está tratando? O leitor será obrigado a distinguir as questões em torno da qual gira o texto inteiro. b) Qual é a opinião do autor sobre a questão posta em discussão? Pelo texto aparecem vários indicadores da opinião de quem escreve, portanto não saber dar resposta a essa questão é um sintoma de leitura desatenta e dispersiva. c) Quais são os argumentos utilizados pelo autor para fundamentar a opinião dada? Argumento é todo tipo de recurso usado pelo autor para convencer o leitor de que ele está falando a verdade (CTPAC, 2014). Redação é o ato de exprimir ideias, por escrito, de forma clara e organizada. Inicialmente é necessário conhecer a gramática do idioma e do tema sobre o qual se escreve, contemplando os seguintes passos: escolha da forma que se pretendedar à composição, organização das ideias sobre o tema, escolha do vocabulário adequado e concatenação das ideias segundo as regras linguísticas e gramaticais. É preciso também considerar o perfil do leitor a quem o texto se dirige, quanto à faixa etária, nível cultural e escolar e interesse específico pelo assunto, para permitir a escolha do vocabulário ideal (CTPAC, 2014). As tecnologias do mundo moderno fizeram com que as pessoas deixassem a leitura de livros de lado, o que resultou em jovens cada vez mais desinteressados pelos livros, possuindo vocabulários cada vez mais pobres. A leitura é algo crucial para a aprendizagem do ser humano, pois proporciona enriquecimento do vocabulário, obtenção de conhecimento, e torna dinâmico o raciocínio e a interpretação. Muitas pessoas dizem não ter paciência para ler um livro, no entanto isso acontece por falta de hábito (CORREIA, 2013). Módulo 1 Técnico em Farmácia 184 6.11.1 Roteiro para Elaboração de Texto A produção de textos escritos é uma prática de linguagem e uma prática social, do mesmo modo que a leitura. Isto significa dizer que em várias circunstâncias da vida textos são escritos para diferentes interlocutores, com distintas finalidades, organizados nos mais diversos gêneros, para circularem em vários espaços sociais. Para se produzir um bom texto, é necessário que alguns aspectos sejam revistos: o tema geral é o assunto a ser tratado que normalmente abre espaço a outras vertentes; o tema específico trata-se da delimitação do assunto proposto. Quanto mais o escritor especificar o tema geral, mais focado em um objetivo estará e, portanto, mais seguro (CORREIA, 2013). Dez mandamentos para que sua redação surpreenda o leitor (CORREIA, 2013): a) não escreva difícil. Prefira uma linguagem mais simples; b) críticas sem fundamento devem ser evitadas. A análise sobre algo deve ser realizada baseada em fatos, acontecimentos reais, apontando soluções coerentes para os problemas levantados; c) uso de palavrões, jargões, gírias e coloquialismo é proibido; d) a linguagem do MSN ou Facebook, por exemplo, deve ficar em casa; e) nunca abrevie palavras, como por exemplo: vc, qdo, msm, dentre outras; f) cuidado com a repetição exagerada de palavras. Se for o caso, use sinônimos; g) seja objetivo, claro. Melhor qualidade do que quantidade; h) faça um parágrafo para introdução, um para o desenvolvimento e um para a conclusão, pelo menos. i) não esqueça a cedilha no “c”, o cortado do “t”, o pingo do “i”, as letras maiúsculas em nomes próprios; j) se começou um novo argumento, coloque ponto final e não vírgula. k) faça a concordância verbal. Se o sujeito está no plural, o verbo também deverá estar. l) releia o texto. É impossível tentar organizar melhor o texto e corrigir os erros sem reler o que se escreveu. Coloque-se no lugar do leitor. 6.11.2 Coerência Textual Ocorre com o emprego de diferentes procedimentos, sejam lexicais (repetição, substituição, associação), sejam gramaticais (emprego de pronomes, conjunções, numerais, elipses), quando se constroem frases, orações, períodos, que irão apresentar o contexto. A coerência resulta da relação harmoniosa entre os pensamentos ou ideias apresentadas num texto sobre um determinado assunto. Refere-se à sequência ordenada das opiniões ou fatos expostos. Não havendo o emprego correto dos elementos de ligação (conectivos), faltará a coesão e, logicamente, a coerência ao texto será afetada (CORREIA, 2013). 6.12 Respostas aos Exercícios Exercício sobre pontuação: 1c; 2d; 3d; 4c; 5c; 6e TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 185 Exercícios sobre crase: 1c 2 a) à b) ao c)à d) à; a; a; as e) à 3b 4c Exercícios sobre acentuação: 1) b; 2) a) lê; b) vê em ambos os casos; d) vêm 3) proparoxítonas: África, método, lâmpada Paroxítonas: fóssil, possível, álbum, tórax Oxítonas: pé, coração, cajá, armazém Exercícios sobre concordância: 1c; 2a; 3c; 4a; 5b; 6d; 7e; 8b; 9d; 10c. Módulo 1 Técnico em Farmácia 186 REFERÊNCIAS ______. NBR 10520: Informação e documentação - citações em documentos - apresentação. Rio de Janeiro, 2002. ______. NBR 6023: Informação e documentação - referências - elaboração. Rio de Janeiro, 2002. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 14724: Informação e documentação - trabalhos acadêmicos – apresentação. Rio de Janeiro, 2011. CORREIA, A. Português instrumental. Instituto Formação: cursos técnicos profissionalizantes, Técnico em Segurança do Trabalho, 2013. Disponível em: http://www.ifcursos.com.br Acesso em 30/10/2014. CURSOS TÉCNICOS E PROFISSIONALIZANTES COSTA (CTPAC). Apostila de português instrumental. Módulo 1. Disponível em: www.ctpac.com.br Acesso em 30/11/2014. FAULSTICH, E. L. Como ler, entender e redigir um texto. 20 ed. Petrópolis: Vozes, 2008. FERNADES, C.S.; DOURADO, M.S. Português ao alcance de todos: Gramática e redação comercial sem mistérios. São Paulo: iEditora, 2002. Disponível em: http://minhateca.com.br/marcosmribeiro/Documentos/Apostilas/Portugues/Apostila+de+e xercicios+Portugues+instrumental,50532214.PDF Acesso em 04/11/2017. FERREIRA, M. Aprender e praticar gramática. Edição renovada. São Paulo: FTD, 2007. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos da Metodologia Científica. 6ª ed. São Paulo. Atlas, 2007. MARTINS, D. S.; ZILBERKNOP, L. S. Português Instrumental. 28ª ed. São Paulo. Atlas, 2009. MEDEIROS, J. B. Português Instrumental. 7ª ed. São Paulo. Atlas, 2008. SIMÕES, S. A pontuação sem segredo. Série palavra final, v.9. Universidade Nove de Julho (Uninove), 2012. ZAMBELI, C. Português. Casa do concurseiro. BNDES. Disponível em: www.acasadoconcurseiro.com.br Acesso em 30/10/2014. http://www.ifcursos.com.br/ http://www.ctpac.com.br/ http://minhateca.com.br/marcosmribeiro/Documentos/Apostilas/Portugues/Apostila+de+exercicios+Portugues+instrumental,50532214.PDF http://minhateca.com.br/marcosmribeiro/Documentos/Apostilas/Portugues/Apostila+de+exercicios+Portugues+instrumental,50532214.PDF http://www.acasadoconcurseiro.com.br/ TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 187 ANOTAÇÕES: ____________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ Módulo 1 Técnico em Farmácia 188 _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ BIOSSEGURANÇA TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 191 7 BIOSSEGURANÇA A biossegurança diz respeito ao conjunto de ações voltadas para a prevenção, proteção do trabalhador, minimização de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando à saúde do homem, dos animais, a preservação do meio ambiente e a qualidade dos resultados, como preconizam Teixeira & Valle (1996). Este foco de atenção retorna ao ambiente ocupacional e amplia-se para a proteção ambiental e a qualidade. O técnico em Farmácia é um profissional da saúde e por isso será necessário que tenha conhecimento sobre biossegurança, principalmente porque ele será responsável pela coleta e processamento de vários tipos de amostras biológicas, desde sangue, secreções, urina e fezes. Assim, o conhecimento de biossegurança auxiliará no trabalho do técnico e na prevenção de acidentes. 7.1 Introdução à Biossegurança De acordo com Fialho (2011), biossegurança, que forma a equação Vida + Segurança, é conceituada amplamente como a vida livre de perigos. De modo geral, trata-se de ações que contribuem para a segurança da vida no dia a dia das pessoas. Apreende-se, então, que biossegurança envolve todas as medidas que visam evitar riscos físicos (radiação ou temperatura), ergonômicos (posturais), químicos (substâncias tóxicas), biológicos (agentes infecciosos) e psicológicos (como o estresse). No ambiente hospitalar encontram-se exemplos de todos estes tipos de riscos ocupacionais para o trabalhador de saúde (Ex.: radiações, alguns medicamentos etc.). Há muitas áreas de insalubridade nos serviços de saúde, com variáveis graduações, que dependem de sua hierarquização e complexidade (ex. hospital terciário ou posto de saúde), do tipo de atendimento prestado (ex. atendimento exclusivo a moléstias infecto contagiosas) e do local de trabalho do profissional (ex. laboratório, endoscopia, lavanderia etc.). Os riscos de agravo à saúde (ex. radiação, calor, frio, substâncias químicas, estresse, agentes infecciosos, ergonômicos etc.) podem ser tanto variados quanto cumulativos. Por suas características, encontram-se nos serviços de saúde exemplos de todos os tipos de risco, agravados por problemas administrativos e financeiros (ex. falta de manutenção de equipamentos) e alguns decorrentes de falhas na adaptação de estruturas antigas a aparelhos de última geração (FIALHO, 2011). 7.2 Medidas de Higienização Denomina-se higiene limpeza, asseio, ainter-relação entre o homem e o meio ambiente, no sentido da preservação da saúde, como preconiza Coringa (2012). Há várias formas de higienização, desde a individual (banho, cabelos, unhas e mãos, boca, dentes e vestuário), a coletiva (saneamento básico, água, esgoto, lixo, vetores), até a mental (equilíbrio, costumes morais e sociais), e a do trabalho (riscos físicos, químicos e biológicos), e ambiental (limpeza de moveis, utensílios e estrutura). Módulo 1 Técnico em Farmácia 192 7.2.1 Antissepsia Diz-se do conjunto de medidas propostas para inibir o crescimento de micro- organismos ou removê-los de um determinado ambiente, podendo ou não destruí-los, utilizando, para tanto, antissépticos ou desinfetantes. Uma das medidas mais comuns é a higienização das mãos, conforme se observa a seguir. Higienização antisséptica das mãos: Esta medida objetiva promover a remoção de sujidades e de microrganismos, reduzindo a carga microbiana das mãos, com auxílio de um antisséptico, com uma duração total do procedimento de aproximadamente de 40 a 60 segundos. Conforme orienta o Ministério da Saúde (1997), a técnica de higienização antisséptica (Figura 1 (1)) é a mesma utilizada para higienização simples das mãos, substituindo-se o sabão por um antisséptico. Exemplo: antisséptico degermante. Figura 1 (1)- Método de higienização antisséptica das mãos Fonte: Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/hotsite/higienizacao_maos/conteudo/c_tecnicas.htm Acesso em maio 2016 Ainda de acordo com o Ministério da Saúde (1997), a antissepsia das mãos também pode ser feita com preparações alcóolicas e tem a finalidade de reduzir a carga microbiana das mãos (não há remoção de sujidades). A utilização de gel alcoólico a 70% ou de solução alcoólica a 70% com 1-3% de glicerina pode substituir a higienização com água e sabão quando as mãos não estiverem visivelmente sujas, a duração do procedimento é de aproximadamente 20 a 30 segundos. http://www.anvisa.gov.br/hotsite/higienizacao_maos/conteudo/c_tecnicas.htm TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 193 7.2.2 Assepsia Diz respeito ao conjunto de medidas utilizadas para impedir a penetração de micro- organismos no ambiente. 7.2.3 Descontaminação É o processo que visa destruir microrganismos patogênicos, utilizado em artigos contaminados ou em superfície ambiental, tornando-os, consequentemente, seguros ao manuseio. Pode ser realizada pelas formas descritas a seguir (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1997): Processo químico: no qual os artigos são imersos em solução desinfetante antes de se proceder a limpeza; Por processo mecânico, utilizando-se máquina termodesinfectadora ou similar; ou, Por processo físico, indicando-se a imersão do artigo em água fervente durante 30 minutos (método nem sempre indicado, pois há impregnação de matéria orgânica quando aplicado a artigos sujos. 7.2.4 Desinfecção Denomina-se desinfecção o processo de destruição de microrganismos em estado vegetativo (com exceção das formas esporuladas, resistentes ao processo) utilizando-se agentes físicos ou químicos. A desinfecção pode ser de: Alto nível: quando há eliminação de todos os microrganismos e de alguns esporos bacterianos; Nível intermediário ou médio: quando há eliminação de micobactérias (bacilo da tuberculose), bactérias na forma vegetativa, muitos vírus e fungos, porém não de esporos; Baixo nível: quando há eliminação de bactérias e alguns fungos e vírus, porém sem destruição de micobactérias nem de esporos. Observam-se enquanto processos físicos de desinfecção aqueles descritos a seguir, conforme orienta o Ciep (2015). Pasteurização: é uma desinfecção realizada em lavadoras automáticas, com exposição do artigo em água a temperaturas de aproximadamente 60 a 90 graus centígrados por 10 a 30 minutos, conforme a instrução do fabricante. É indicada para a desinfecção de circuitos de respiradores. Água em ebulição ou fervura: utilizada para desinfecção de alto nível em artigos termorresistentes. Consiste em imergir totalmente o material em água fervente, com tempo de exposição de 30 minutos, após o que o material é retirado com o auxílio de pinça desinfetada e luvas de amianto de cano longo. Em seguida, deve ser seco e guardado em recipiente limpo ou desinfetado – ressalve-se que esse Módulo 1 Técnico em Farmácia 194 procedimento é indicado apenas nas situações em que não se disponha de outros métodos físicos ou químicos. A desinfecção por processo químico é feita por meio de imersão em soluções germicidas. Para garantir a eficácia da ação, faz-se necessário que: a) o artigo esteja bem limpo, pois a presença de matéria orgânica reduz ou inativa a ação do desinfetante; b) esteja seco, para não alterar a concentração do desinfetante; que esteja totalmente imerso na solução, sem a presença de bolhas de ar; c) o tempo de exposição recomendado seja respeitado; e, d) durante o processo o recipiente seja mantido tampado e o produto esteja dentro do prazo de validade (CIEP, 2015). 7.2.5 Esterilização Esterilização é a destruição de todos os organismos vivos, mesmo os esporos bacterianos, de um objeto. Para tanto, utilizam-se de agentes físicos e químicos. Os meios de esterilização podem ser físicos e químicos, e também por meio de óxido de etileno e por radiação, conforme descrito a seguir. Físicos: A esterilização por físico compreende: calor seco (estufa, flambagem, fulguração); calor úmido (fervura, autoclave); e radiações (raios alfa, gama e raios-X). Químicos: A esterilização por meio químico compreende o uso desinfetantes. Observa-se também a esterilização por meio do óxido de etileno, autorizado pelo Ministério da Saúde, como agente químico para esterilização, por meio da portaria 930/1992. Este tipo de esterilização precisa de três unidades: aparelho de autoclave combinado, gás e vapor; aparelho de comando que vai misturar o gás, e o freon na concentração pré-estabelecida e o aparelho aerador. Outra alternativa para a esterilização é a radiação, utilizada em artigos termossensíveis (seringa de plástico, agulha hipodérmicas, luvas, fios cirúrgicos). Por atuar em baixas temperaturas, é um método disponível em escala industrial devido aos elevados custos de implantação e controle. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 195 7.2.6 Exercício Proposto 1) Pesquise outros conceitos de biossegurança e faça um resumo com suas palavras. ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 2) Enumere as medidas de higienização e dê exemplos. ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 3) Quais as principais diferenças nas medidas de higienização? ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Módulo 1 Técnico em Farmácia 196 7.3 Barreiras de Contenção Na área de saúde, constituem-se barreiras de contenção o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC), acerca dos quais explanaremos a seguir. 7.3.1 Equipamento de Proteção Individual (EPI) No que diz respeito à área de saúde, utiliza-se o EPI proteger os profissionais do contato com agentes infecciosos, tóxicos ou corrosivos, calor excessivo, fogo e outros perigos. A roupa e o equipamento servem também para evitar a contaminação do material em experimento ou em produção (MASTROENI, 2006). Os EPIs mais utilizados pelos profissionais de saúde e a sua utilidade serão descritos nas subseções seguintes. Luvas: De acordo com Mastroeni (2006), as luvas são usadas como barreira de proteção, prevenindo contra contaminação das mãos durante a manipulação de material contaminado, reduzindo a probabilidade de que microrganismos presentes nas mãos sejam transmitidos durante os procedimentos. O uso de luvas não substitui a necessidade da lavagem das mãos, visto que elas podem ter pequenos orifícios não aparente ou se danificarem durante o uso, podendo contaminar as mãos quando removidas. Sobre o uso das luvas, devem ser observadas as seguintes recomendações: Usar luvas de látex sempre que houver chance de contato com sangue, fluídos do corpo, dejetos, trabalho com microrganismos e animais de laboratório; Usar luvas de PVC para manuseio de citostáticos (mais resistentes, porém menos sensibilidade); Lavar instrumentos, roupas, superfícies de trabalho sempre usando luvas; Não usar luvas fora da área de trabalho, não abrir portas, não atender telefone; Luvas (de borracha) usadas para limpeza devem permanecer 12 horas em solução de Hipoclorito de Sódio a 0,1% (1g/l de cloro livre = 1000 ppm). Verificar a integridade das luvas após a desinfecção; Nunca reutilizar as luvas nem descartá-las de forma segura. Jaleco: Os jalecos, em seus variados tipos, são usados para fornecer uma barreira de proteção e reduzir a oportunidade de transmissão de microrganismos. Previnem a contaminação das roupas do pessoal, protegendo a pele da exposição a sangue e fluidos corpóreos, salpicos e derramamentos de material infectado (MASTROENI, 2006). São de uso constante nos laboratórios e constituem uma proteção para o profissional. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 197 Acerca dos jalecos observam-se as seguintes recomendações: a) Devem sempre ser de mangas longas, confeccionados em algodão ou fibra sintética (não inflamável); b) Os descartáveis devem ser resistentes e impermeáveis; c) Uso de jaleco é permitido somente nas áreas de trabalho. Nunca em refeitórios, escritórios, bibliotecas, ônibus, etc.; d) Jalecos nunca devem ser colocados no armário, onde são guardados objetos pessoais; e) Devem ser descontaminados antes de serem lavados. Observam-se, ainda, outros equipamentos utilizados como barreira de contenção, os quais são listados: Óculos de proteção e protetor facial (protege contra salpicos, borrifos, gotas, impacto). Máscara (tecido, fibra sintética descartável, com filtro HEPA, filtros para gases, pó, etc.). Avental impermeável. Uniforme de algodão, composto de calça e blusa. Luvas de borracha, amianto, couro, algodão e descartáveis. Dispositivos de pipetagem (borracha peras, pipetadores automáticos, etc.). 7.3.2 Equipamento de Proteção Coletiva (EPC) Enquanto barreira de contenção, também são utilizados os EPCs. São equipamentos que possibilitam a proteção do pessoal do laboratório, do meio ambiente e da pesquisa desenvolvida. São exemplos de EPC os equipamentos descritos a seguir (MASTROENI, 2006). Cabines de segurança: As cabines de segurança biológica constituem o principal meio de contensão. Elas são usadas como barreiras primárias para evitar a fuga de aerossóis para o ambiente. Há três tipos de cabines de segurança biológica: Classe I; Classe II – A, B1, B2, B3; Classe III. Fluxo laminar de ar: Massa de ar dentro de uma área confinada movendo-se com velocidade uniforme ao longo de linhas paralelas. Capela química NB: Cabine construída de forma aerodinâmica cujo fluxo de ar ambiental não causa turbulências e correntes, assim reduzindo o perigo de inalação e contaminação do operador e ambiente. Módulo 1 Técnico em Farmácia 198 Chuveiro de emergência: Chuveiro de aproximadamente 30 cm de diâmetro, acionado por alavancas de mão, cotovelos ou joelhos. Deve estar localizado em local de fácil acesso. Lava olhos: Dispositivo formado por dois pequenos chuveiros de média pressão, acoplados a uma bacia metálica, cujo ângulo permite direcionamento correto do jato de água. Pode fazer parte do chuveiro de emergência ou ser do tipo frasco de lavagem ocular. Manta ou cobertor: Confeccionado em lã ou algodão grosso, não podendo ter fibras sintéticas. Utilizado para abafar ou envolver vítima de incêndio. Vaso de areia: Também chamado de balde de areia, é utilizado sobre derramamento de álcalis para neutralizá-lo. Extintor de incêndio a base de água: Utiliza o CO2 como propulsor. É usado em papel, tecido e madeira. Não usar em eletricidade, líquidos inflamáveis, metais em ignição. Extintor de incêndio de CO2 em pó: Utiliza o CO2 em pó como base. A força de seu jato é capaz de disseminar os materiais incendiados. É usado em líquidos e gases inflamáveis, fogo de origem elétrica. Não usar em metais alcalinos e papel. Extintor de incêndio de pó seco: Usado em líquidos e gases inflamáveis, metais do grupo dos álcalis, fogo de origem elétrica. Extintor de incêndio de espuma: Usado para líquidos inflamáveis. Não usar para fogo causado por eletricidade. Extintor de incêndio de BCF: Utiliza o bromoclorodifluorometano. É usado em líquidos inflamáveis, incêndio de origem elétrica. O ambiente precisa ser cuidadosamente ventilado após seu uso. TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 199 Mangueira de incêndio: Modelo padrão, comprimento e localização são fornecidos pelo Corpo de Bombeiros (MASTROENI, 2006). 7.4 Tipo de Riscos Denomina-se risco o perigo a que determinado indivíduo está exposto ao entrar em contato com um agente tóxicoou certa situação perigosa. De acordo com o Ministério do Trabalho os tipos de riscos são subdivididos em 5 grupos: risco de acidente, risco ergonômico, risco físico, risco químico e risco biológico (MASTROENI, 2006). 7.4.1 Risco de Acidente De acordo com Mota; Rezende (2013), qualquer fator que coloque o trabalhador em situação de perigo e possa afetar sua integridade, bem estar físico e moral é considerado risco de acidente. As autoras descrevem como exemplos de risco de acidente: as máquinas e equipamentos sem proteção, probabilidade de incêndio e explosão, arranjo físico inadequado, armazenamento inadequado, etc., os quais serão descritos a seguir. 7.4.2 Risco Ergonômico O risco ergonômico é qualquer fator que possa interferir nas características psicofisiológicas do trabalhador causando desconforto ou afetando sua saúde (MOTA; REZENDE, 2013). São exemplos de risco ergonômico: o levantamento e transporte manual de peso, o ritmo excessivo de trabalho, a monotonia, a repetitividade, a responsabilidade excessiva, a postura inadequada de trabalho, o trabalho em turnos, etc. 7.4.3 Risco Físico Os agentes de risco físico são, de acordo com as autoras (Op. Cit.), as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, ultrassom, materiais cortantes e pontiagudos, etc. 7.4.4 Risco Químico As substâncias, compostas ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvido pelo organismo através da pele ou por ingestão são denominadas agentes de risco. 7.4.5 Risco Biológico Mota; Rezende (2013, pp. 2-3) consideram agentes de risco biológico as bactérias, fungos, parasitos, vírus, entre outros. De acordo com as autoras, observam-se a seguir a Módulo 1 Técnico em Farmácia 200 classificação do risco biológico. Os agentes de risco biológico podem ser distribuídos em quatro classes de 1 a 4 por ordem crescente de risco, classificados segundo os seguintes critérios: Patogenicidade para o homem. Virulência. Modos de transmissão Disponibilidade de medidas profiláticas eficazes. Disponibilidade de tratamento eficaz. Endemicidade. Classe de Risco I - escasso risco individual e comunitário: O microrganismo tem pouca probabilidade de provocar enfermidades humanas ou enfermidades de importância veterinária. Ex.: Bacillus subtilis. Classe de Risco II - risco individual moderado, risco comunitário limitado: A exposição ao agente patogênico pode provocar infecção, porém, se dispõe de medidas eficazes de tratamento e prevenção, sendo o risco de propagação limitado. Ex.: Schistosoma mansoni. Classe de Risco III - Risco individual elevado, baixo risco comunitário: O agente patogênico pode provocar enfermidades humanas graves, podendo propagar-se de uma pessoa infectada para outra. Entretanto, existe profilaxia e/ou tratamento. Ex.: Mycobacterium tuberculosis. Classe de Risco IV - Elevado risco individual e comunitário: Os agentes patogênicos representam grande ameaça para as pessoas e animais, com fácil propagação de um indivíduo ao outro, direta ou indiretamente, não existindo profilaxia nem tratamento. Ex.: Vírus Ebola. 7.4.1 Exercício Propostos 1) Qual a diferença entre EPI e EPC? _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ 2) Quais os principais EPIs e suas funções? _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 201 3) Quais os principais EPCs e suas funções? _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ 4) Qual a classificação dos tipos de riscos? Exemplifique. _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ 7.5 Níveis de Contenção Hirata et al. (2011) afirma que, para manipulação dos microrganismos pertencentes a cada uma das quatro classes de risco, devem ser atendidos alguns requisitos de segurança, conforme o nível de contenção necessário, conforme descrito a seguir. Nível 1: Este primeiro de concentração nível se aplica aos laboratórios de ensino básico, nos quais são manipulados os microrganismos pertencentes a classe de risco I. Não é requerida nenhuma característica de desenho, além de um bom planejamento espacial, funcional e a adoção de boas práticas laboratoriais. Nível 2: O nível 2 se destina ao trabalho com microrganismos da classe de risco II. Refere-se aos laboratórios clínicos ou hospitalares de níveis primários de diagnóstico, sendo necessário, além da adoção das boas práticas, o uso de barreiras físicas primárias (cabine de segurança biológica e equipamentos de proteção individual) e secundárias (desenho e organização do laboratório). Nível 3: Destina-se ao trabalho com microrganismos da classe de risco III ou para manipulação de grandes volumes e altas concentrações de microrganismos da classe de risco II. Para este nível de contenção, são requeridos além dos itens referidos no nível 2, desenho e construção laboratoriais especiais. Devem ser mantidos controles rígidos quanto à operação, inspeção e manutenção das instalações e equipamentos. O pessoal técnico deve receber treinamento específico sobre procedimentos de segurança para a manipulação desses microrganismos. Nível 4: O nível 4 é também chamado de nível de contenção máxima. Destina-se à manipulação de microrganismos da classe de risco IV. Observa-se para este nível o laboratório com maior nível de contenção, representando uma unidade geográfica e Módulo 1 Técnico em Farmácia 202 funcionalmente independente de outras áreas. Esses laboratórios requerem, além dos requisitos físicos e operacionais dos níveis de contenção 1, 2 e 3, barreiras de contenção (instalações, desenho, equipamentos de proteção) e procedimentos especiais de segurança. 7.6 Mapa de Risco De acordo com Hirata et al. (2011), os mapas de risco são representações gráficas do mapeamento de riscos ambientais. Trata-se de um levantamento dos locais de trabalho apontando os riscos que são sentidos e observados pelos próprios trabalhadores de acordo com a sua sensibilidade. Os mapas de risco são representados graficamente por meio de círculos de cores e tamanhos proporcionalmente diferentes (riscos pequeno médio e grande), sobre o layout da empresa e deve ficar afixado em local visível a todos os trabalhadores, como ilustram as Figuras 2, 3 e 4 (4) a seguir. Figura 2 (4)- Representação gráfica dos mapas de risco Fonte: Hirata et al. (2011) Figura 3 (4)- Representação dos tipos de risco segundo as cores Fonte: Hirata et al. (2011) TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 203 Figura 4 (4)- Exemplo de um mapa de risco de um ambulatório de um hospital Fonte: Hirata et al. (2011) Módulo 1 Técnicoem Farmácia 204 7.6.1 Exercício Propostos 1) Quais os níveis de contenção _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ 2) Simule um laboratório e planeja o seu mapa de risco. 7.7 Plano de Gerenciamento de Resíduo De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) (BRASIL, 2006), o descarte inadequado de resíduos tem produzido passivos ambientais capazes de colocar em risco e comprometer os recursos naturais e a qualidade de vida das atuais e futuras gerações. Os resíduos dos serviços de saúde (RSS) se inserem dentro desta problemática e vêm assumindo grande importância nos últimos anos. Tais desafios têm gerado políticas públicas e legislações, tendo como eixo de orientação a sustentabilidade do meio ambiente e a preservação da saúde. Grandes investimentos são realizados em sistemas e tecnologias de tratamento e minimização. No Brasil, órgãos como a Anvisa e o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) são os responsáveis pelo papel de orientar, definir regras e regular a conduta dos diferentes agentes, quanto à geração e ao manejo dos resíduos de serviços de saúde, com o objetivo de preservar a saúde e o meio ambiente, garantindo a sua sustentabilidade. Desde o início da década de 1990, estes órgãos vêm empregando esforços no sentido da correta gestão, do correto gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde e da responsabilização do gerador. Um marco deste esforço foi a publicação da Resolução Conama no 005/93, que definiu a obrigatoriedade dos serviços de saúde elaborarem o Plano de Gerenciamento de seus resíduos. Este esforço se reflete, na atualidade, com as publicações da RDC ANVISA no 306/04 e CONAMA no 358/05 (BRASIL, 2006). 7.7.1 Resíduo Sólido De acordo com o Manual da Anvisa (BRASIL, 2006), observa-se que resíduos sólidos e lixo são termos utilizados de forma distinta por autores diversos, mas na linguagem cotidiana o termo resíduo é pouco utilizado. Na linguagem cotidiana, utiliza-se o termo lixo para designar tudo aquilo que não tem mais utilidade, enquanto resíduo designa sobra (refugo) do beneficiamento de produtos industrializados. “De acordo com o dicionário da língua portuguesa, lixo é aquilo que se varre de casa, do jardim, da rua, e se joga fora. Coisas inúteis, velhas, sem valor. Resíduo é aquilo que resta de qualquer substância, resto” (FERREIRA, 1988 apud BRASIL, 2006). A Resolução Conama no 005/1993 define resíduos sólidos como: resíduos nos estados sólido e semi-sólido que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola e de serviços de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1 205 de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2006). De acordo com a definição acima, salienta-se que, quando se fala em resíduo sólido, nem sempre se refere ao seu estado sólido. Neste sentido, observa-se a seguir a classificação de resíduos sólidos. Os resíduos sólidos classificam-se de acordo com a sua natureza física (seco ou molhado), por sua composição química (matéria orgânica e inorgânica, de acordo com os riscos potenciais ao meio ambiente, e, ainda, quanto à origem. No entanto, as normas e resoluções existentes nos órgãos competentes classificam os resíduos sólidos de acordo com os riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde, como também, em função da natureza e origem. Com relação aos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública a NBR 10.004/2004 classifica os resíduos sólidos em classe I e classe II, conforme descrito a seguir. Resíduos sólidos classe I: Os resíduos classe I, denominados como perigosos, são aqueles que, em função de suas propriedades físicas, químicas ou biológicas, podem apresentar riscos à saúde e ao meio ambiente. São caracterizados por possuírem uma ou mais das seguintes propriedades: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenecidade. Resíduos classe II: Os resíduos classe II denominados não perigosos são subdivididos em duas classes: classe II-A e classe II-B. Os de classe II-A (não inertes) podem ter como propriedades a biodegradabilidade, a combustibilidade ou a solubilidade em água. Os resíduos classe II-B (inertes) não apresentam nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, com exceção dos aspectos cor, turbidez, dureza e sabor. De acordo com o Manual da Anvisa (BRASIL, 2006), no que se refere à origem e natureza, os resíduos sólidos são classificados em domiciliar, comercial, varrição e feiras livres, serviços de saúde, portos, aeroportos e terminais rodoviários e ferroviários, industriais, agrícolas e resíduos de construção civil. Com relação à responsabilidade pelo gerenciamento dos resíduos sólidos pode-se agrupá-los em dois grandes grupos. No primeiro grupo, observam-se os resíduos sólidos urbanos (domésticos ou residenciais, comerciais e públicos). No segundo grupo se encontram os resíduos que são fontes especiais, abrangendo aqueles industriais, da Módulo 1 Técnico em Farmácia 206 construção civil, radioativos, resíduos de portos, aeroportos e terminais rodoferroviários, os agrícolas e aqueles relativos aos serviços de saúde. 7.7.2 Resíduos do Serviço de Saúde De acordo com a RDC ANVISA no 306/04 e a Resolução Conama no 358/2005 (BRASI, 2006), são definidos como geradores de Resíduos do Serviço de Saúde (RSS) todos os serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive aqueles de assistência domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de produtos para a saúde; necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades de embalsamamento, serviços de medicina legal, drogarias e farmácias inclusive as de manipulação; estabelecimentos de ensino e pesquisa na área da saúde, centro de controle de zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos, importadores, distribuidores produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro, unidades móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura, serviços de tatuagem, dentre outros similares. Os RSS são classificados conforme descrito a seguir. Classificação dos RSS: Classificam-se os RSS de acordo com suas características e consequentes riscos que podem acarretar ao meio ambiente e à saúde. De acordo com a RDC ANVISA no 306/04 e Resolução Conama no 358/05, os RSS são classificados em cinco grupos: A, B, C, D e E, como ilustra o Quadro 1 a seguir. Quadro 1- Classificação dos RSS Resíduos dos Serviços de Saúde, de acordo com a sua classificação Grupo Descrição A Engloba os componentes com possível presença de agentes biológicos que, por suas características de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção. Exemplos: placas e lâminas de laboratório, carcaças, peças anatômicas (membros), tecidos, bolsas transfusionais contendo sangue, dentre outras. B Contém substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. Exemplos: medicamentos apreendidos, reagentes de laboratório, resíduos contendo metais pesados, dentre outros. C Quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham radionuclídeos em quantidades