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NUTRIÇÃO EM SAÚDE COLETIVA PROF.A MA. MARIA CECILIA MEREGE Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-Reitoria Acadêmica: Maria Albertina Ferreira do Nascimento Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Fernando Sachetti Bomfim Marta Yumi Ando Simone Barbosa Produção Audiovisual: Adriano Vieira Marques Márcio Alexandre Júnior Lara Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Cristiane Alves © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Só- crates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande res- ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a socie- dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conheci- mento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivên- cia no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de quali- dade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mer- cado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR UNIDADE 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................5 1. CONCEITOS UTILIZADOS EM SAÚDE PÚBLICA ................................................................................................6 1.1 SAÚDE X DOENÇA ...............................................................................................................................................6 1.2 A DETERMINAÇÃO SOCIAL DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA .......................................................................8 2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA TRANSIÇÃO NUTRICIONAL, DEMOGRÁFICA E EPIDEMIOLÓGICA .....................9 3. INQUÉRITOS NACIONAIS DE CONSUMO ALIMENTAR E ANTROPOMETRIA ............................................... 18 3.1 RESULTADOS IMPORTANTES DOS INQUÉRITOS NACIONAIS .....................................................................25 3.1.1 EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO RELATIVA DE ALIMENTOS E NUTRIENTES, ENTRE 1974 E 2009, PARA REGIÕES METROPOLITANAS ................................................................................................................................25 3.1.2 EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO RELATIVA DE ALIMENTOS E NUTRIENTES NA DISPONIBILIDADE DOMICILIAR ENTRE 2002 E 2009 PARA O BRASIL ............................................................................................26 NUTRIÇÃO EM SAÚDE COLETIVA PROF.A MA. MARIA CECILIA MEREGE ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: NUTRIÇÃO EM SAÚDE COLETIVA 4WWW.UNINGA.BR 3.1.3 COMPOSIÇÃO DAS DESPESAS FAMILIARES ..............................................................................................28 3.1.4 DESPESAS COM ALIMENTAÇÃO NAS REGIÕES BRASILEIRAS ............................................................... 31 3.1.5 COMPARAÇÃO POR GRUPOS ALIMENTARES ............................................................................................ 31 3.1.6 SUFICIÊNCIA DOS RECURSOS FINANCEIROS PARA A ALIMENTAÇÃO ..................................................32 3.1.7 CONSUMO ALIMENTAR PESSOAL: INQUÉRITO NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO (INA) 2008-2009 ......32 3.1.8 CONSUMO DE ENERGIA E NUTRIENTES .....................................................................................................36 3.1.8.1 PREVALÊNCIA DE INADEQUAÇÃO DA INGESTÃO DE NUTRIENTES ......................................................38 3.1.8.2 RELAÇÃO ENTRE O CONSUMO DE ALIMENTOS E INGESTÃO DE NUTRIENTES .................................38 3.1.9 ESTADO NUTRICIONAL DA POPULAÇÃO BRASILEIRA ..............................................................................43 4. ESTRATÉGIAS PARA DIAGNÓSTICO RÁPIDO EM POPULAÇÕES ...................................................................46 4.1 CHAMADAS NUTRICIONAIS .............................................................................................................................47 4.2 INQUÉRITOS POR TELEFONE..........................................................................................................................48 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................................51 5WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Bem-vindo(a), caro(a) aluno(a). A Nutrição em Saúde Coletiva pode ser de� nida como a área que, a partir de conhecimentos fundamentados em sólidas evidências cientí� cas, gerados em pesquisas com metodologias quantitativas e qualitativas, as quais utilizam técnicas clínicas, epidemiológicas e etnográ� cas, busca soluções para desvios nutricionais presentes de forma dinâmica em populações humanas. Ao longo dos anos, tem sido enfrentadas e superadas di� culdades de controle de doenças, como exempli� cam as ações de combate às doenças carenciais por micro e macronutrientes. Mudanças econômicas, sociais e demográ� cas ocorridas na última metade do século XX, em decorrência da industrialização e crescente urbanização, consubstanciaram novos desa� os. Tendências crescentes de consumo excessivo de alimentos associadas ao sedentarismo promovem aumento da ocorrência de sobrepeso e obesidade e diminuição da incidência de desnutrição, caracterizando, assim, um período chamado de transição nutricional. No Brasil, essa transição encontra-se em estágio intermediário, em que parte da população incluída no mercado de consumo apresenta doenças associadas aos excessos alimentares, ao passo que os ainda excluídos desse mercado continuam a apresentar doenças decorrentes da ingestão insu� ciente de alimentos. Esse fato reforça a necessidade de novos conhecimentos na área de Nutrição em Saúde Pública que, com enfoque interdisciplinar, contemple aspectos biológicos, comportamentais, sociais e políticos na geração de distúrbios nutricionais, de modo a prevenir o aumento da obesidade e das suas consequências na quantidade e qualidade de vida das coletividades pós-modernas. 6WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. CONCEITOS UTILIZADOS EM SAÚDE PÚBLICA 1.1 Saúde X Doença De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), Saúde é de� nida como o completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças. No entanto, ainda há várias controvérsias, ocupando a atenção de muitas pessoas, governos, empresas e comunidades, visto que, além de corresponder ao estado de vida, também é o modo como a pessoa leva a vida, cujo objetivo comum é a qualidade de vida. Vale ressaltar que a saúde contempla três dimensões: o estado vital, o setor produtivo e a área do saber, as quais são extremamente essenciais na identi� cação dos problemas e necessidade de saúde, como também na explicação e modo de organização para enfrentamento dos problemas relacionados à saúde. Figura 1 - O que é Saúde. Fonte: Nunes (2020). Por conseguinte, Saúde é um fenômeno multidimensional e multideterminado, decorrente do equilíbrio entre fatores internos de cada indivíduo e fatores externos, ou seja, do meio ambientee das condições de vida que o rodeiam. No Brasil, para garantir saúde a toda a população, dois marcos importantes devem ser ressaltados: A VIII Conferência Nacional de Saúde, a qual delimita que a Saúde é o resultado das condições de alimentação, habitação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde. É, assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida. E a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 196, que de� ne Saúde como 7WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Logo, com base nesse conceito, entende-se que os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do país e que os indicadores de saúde da população devem servir de parâmetros para avaliar o desenvolvimento do país e o bem-estar da população. A saúde passa a ser direito de todos os cidadãos e a ser assegurada pelo Estado por meio de recursos públicos de acordo com o previsto na Lei. Figura 2 - Saúde e suas interfaces. Fonte: Paim e Almeida Filho (2014). Já Doença é conceituada como a perda da homeostasia corporal, total ou parcial, ou seja, uma alteração ou desvio do estado de equilíbrio de uma pessoa com o meio ambiente, que ocorre devido às transformações produtivas, territoriais, demográ� cas e culturais levando a infecções, in� amações, isquemias, modi� cações genéticas, sequelas de trauma, hemorragias, neoplasias ou disfunções orgânicas. Pode ser in� uenciada por fatores biológicos (predisposição genética, mutação, funcionamento do organismo e metabolismo), fatores psicológicos (medo, reação emocional, preferências, expectativas, processo cognitivo) e fatores socioculturais (expectativa da sociedade e do meio cultural, in� uência do círculo familiar, de amigos, presença de outras pessoas). Figura 3 - Relação doença e bem-estar. Fonte: Novaes (2010). 8WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.2 A Determinação Social do Processo Saúde-Doença No intuito de entender essa teoria, convém conhecer duas expressões que serão essenciais para a compreensão dos assuntos tratados. A primeira expressão é Determinantes Sociais de Saúde, a qual é de� nida como fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que in� uenciam a saúde, positiva ou negativamente, e que podem ser in� uenciados por decisões políticas ou individuais, ao contrário da idade, sexo e fatores genéticos, que também in� uenciam a saúde, mas não são modi� cáveis por essas decisões. Mais resumidamente, podem ser entendidos como condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham. A segunda expressão é Condicionantes de Saúde, os quais estabelecem limites a uma situação, isto é, condicionam uma situação a determinados fatores, por exemplo: apenas mulheres podem engravidar, portanto, o sexo é fator condicionante para a gestação entre os humanos. Sendo assim, observe a diferença entre as expressões, sendo que a primeira abrange os fatores que in� uenciam a saúde e que podem ser alterados por meio de decisões dos envolvidos ou externas a eles. Já na segunda expressão, tem-se uma condição que não pode ser alterada, ou seja, é inerente à pessoa: idade, sexo, fatores genéticos, entre outras características. O debate sobre Determinantes Sociais da Saúde (DSS) se dá desde 1960, sendo que, dentre os vários modelos que procuram representar gra� camente os DSS, o adotado é o Modelo de Dahlgren e Whitehead, de 1991, o qual dispõe os DSS em camadas hierárquicas. Figura 4 - Determinação Social do Processo Saúde-Doença. Fonte: CNDSS (2008). O vídeo Determinantes Sociais da Saúde permite entender quais são os determinantes sociais e como eles infl uenciam na saúde. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ii-fbpUy4iE>. 9WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA No centro da � gura, aparece um grupo de indivíduos com suas características de idade, sexo e fatores hereditários. Estes são determinantes biológicos que não podem ser modi� cados por meio de políticas públicas. Os DSS, que podem e devem ser modi� cados pela ação humana, uma vez que são produtos da ação humana, são representados em uma primeira camada pelo estilo de vida dos indivíduos e, apesar de resultarem de escolhas pessoais, essas escolhas sofrem forte in� uência de determinantes culturais, econômicos, acesso a informações etc. A camada seguinte é representada pelas redes sociais e comunitárias, que expressam o nível de interações e de coesão entre indivíduos e grupos. O apoio social derivado dessas interações se revela, cada vez mais, um importante elemento para promoção, proteção e recuperação da saúde. A camada seguinte se refere às condições de vida e trabalho, que incluem o acesso aos serviços de saúde e educação e, � nalmente, a camada mais externa se refere aos macrodeterminantes relacionados com estruturas socioeconômicas, culturais e ambientais de uma dada sociedade. Logo, esse modelo integra vários componentes que interferem de forma negativa ou positiva sobre o processo saúde-doença e propõe a modi� cação das estruturas sociais, econômicas e políticas como parte fundamental para se alcançar a saúde plena. Por exemplo: melhores salários e transporte, acesso igualitário aos serviços de saúde, cidades pensadas para pessoas e não para carros, entre outras propostas. 2. CONT EXTUALIZAÇÃO DA TRANSIÇÃO NUTRICIONAL, DEMOGRÁFICA E EPIDEMIOLÓGICA A palavra transição signi� ca “mudança”, “passagem”, “trajetória”, “movimento”, cujo signi� cado é mais facilmente reconhecido quando aplicado em saúde coletiva. É importante o entendimento dos processos de transição demográ� ca, epidemiológica e nutricional para a atuação em saúde pública. A transição demográ� ca inicia-se nos países da Europa, em função de mudanças que ocorreram desde a industrialização do século XVIII e estabeleceram relações com importantes transformações demográ� cas. É constituída por quatro fases. Os determinantes e condicionantes da saúde estão garantidos pela Lei 8080/1990 no artigo 3°. A entrevista intitulada Determinantes sociais em saúde permite entender os fatores que podem infl uenciar na saúde dos brasileiros. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=ZPo0vKZL0IM>. 10WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A primeira fase, comum nos países pré-industriais, foi demarcada por altas taxas de mortalidade (em especial infantil) e natalidade (número de nascidos vivos por mil habitantes). Consequentemente, caracterizou-se por uma população jovem e com lento crescimento populacional – percentual de incremento médio anual da população de determinado local e período, resultado das taxas de natalidade e mortalidade. Na segunda fase, característica de países em processo de industrialização, decaiu a mortalidade, porém a natalidade se manteve elevada, aumentando o ritmo de crescimento populacional, o que gerou a chamada “explosão demográ� ca” em muitos locais. Os países em desenvolvimento iniciaram mais tardiamente esse estágio, no século XX, como foi o caso do Brasil. Na terceira fase, decaiu também a taxa de natalidade na população, mudança que, já no século XX, foi atingida pelos países desenvolvidos. Na quarta e última fase, as taxas de mortalidade e natalidade se encontram reduzidas. Com isso, há diminuição no ritmo de crescimento populacional e elevação da expectativa de vida (número médio de anos de vida esperadospara um recém-nascido), resultando no envelhecimento populacional, que é o acúmulo de maiores contingentes populacionais nas faixas etárias mais velhas. A urbanização e a melhoria das condições de vida da população são fatores condicionantes e participantes desse processo de transição. A pirâmide populacional ou demográfi ca é um modelo que apresenta a transição demográfi ca, sendo um gráfi co organizado para classifi car a população de uma determinada localidade conforme as faixas de idade, de acordo com o sexo. O gráfi co é formado por barras sobrepostas que se concentram em torno de um eixo, sendo que as barras inferiores apresentam a população mais jovem e as barras superiores apresentam a população mais velha. Do lado direito do eixo, dimensiona-se a população feminina e, do lado esquerdo, a população masculina. É importante para o planejamento de estratégias na área de saúde coletiva e na avaliação da evolução da população quanto às taxas de natalidade quando comparada à população adulta. O vídeo Pirâmide etária do Brasil (1980-2060) permite visualizar a evolução da transição demográfi ca com o passar dos anos. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=tVJm1xQDcHY>. 11WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 5 - Distribuição e Projeção da População Brasileira por sexo e idade. Fonte: Paim e Almeida Filho (2014). Como resultado e concomitantemente às transformações demográ� cas que ocorreram no Brasil e no mundo, alteram-se também os modos de morrer e adoecer nas populações, o que se identi� cou como transição epidemiológica. Ela iniciou-se a partir de meados do século XIX nos países centrais da economia mundial e resultou das variações comportamentais dos padrões de morbimortalidade e fecundidade, que determinam mudanças na estrutura populacional, ao se processarem as alterações na maneira de adoecer e morrer. A Fome Oculta se instala de maneira silenciosa, sem manifestações clínicas aparentes e caracteriza-se pela carência de micronutrientes, principalmente ferro, zinco, iodo e vitamina A, afetando cerca de um terço da população mundial. Sendo assim, pode-se dizer que essa Fome Oculta se relaciona com a transição nutricional? 12WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Esse processo foi demarcado pelo declínio expressivo da prevalência de doenças infecciosas e parasitárias (DIP) e de� ciências nutricionais, associadas à fome e pobreza, e pela redução da mortalidade por essas causas. Houve gradual substituição por um modelo em que predominam elevadas taxas de morbidade e mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis e causas externas, em virtude da industrialização e urbanização, da maior escolaridade, do maior acesso aos serviços de saúde e da criação de novas tecnologias nessa área, que resultaram na mudança das condições de vida e nutrição da população. Em diversos países, incluindo o Brasil, a substituição não foi veri� cada de forma completa, sendo observada justaposição de DCNT e DIP, o que gerou dupla carga desses grupos de doenças como problemas de saúde pública. Nesse contexto, surgiram alternativas para a transição epidemiológica, como os fenômenos a seguir: contratransição, de� nida como o retorno de doenças que estariam presumivelmente controladas; e polarização epidemiológica, de� nida como a ocorrência de distintos padrões de morbimortalidade em grupos de uma mesma população, que caracterizam o chamado modelo tardio-polarizado. Outra de� nição comumente empregada foi a de doenças emergentes e reemergentes, em função do surgimento ou reaparecimento de agentes infecciosos, provocando diversas epidemias. Como importante marcador desse processo, ressalta-se o surgimento da síndrome da imunode� ciência adquirida (AIDS) na década de 1980, que se manifestou como uma epidemia em diversos países do mundo. Figura 6 - Transição Epidemiológica. Fonte: Barbosa da Silva et al. (2003). 13WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 7 - Dez principais causas de morte no Brasil (frequência e taxa bruta) e no mundo, 2016. Fonte: Brasil (2019a). Figura 8 - Relação entre transições demográ� cas e epidemiológicas. Fonte: Silva (2016). Pode-se dizer que a transição nutricional é um processo subjacente e concomitante ou posterior aos processos de transição demográ� ca e epidemiológica, caracterizando-se, principalmente, por alterações na estrutura da dieta e na composição corporal dos indivíduos. Está associada a fatores relacionados ao estilo de vida, como atividade física, e que resultam em importantes modi� cações no per� l de saúde dos indivíduos. O cenário que precede esse processo é caracterizado pelo predomínio das formas clínicas graves de desnutrição energético-proteica, como o marasmo e o Kwashiorkor, e carências nutricionais especí� cas e graves, como o raquitismo, o escorbuto, a osteomalácia, o beribéri, a pelagra, a hipovitaminose A e o dé� cit de iodo, doenças que apareciam conjuntamente com as DIP, em um contexto em que prevalecia a situação de fome e pobreza. Em algumas literaturas, poderá aparecer Tripla Carga de Doenças, uma vez que, além das Doenças Crônicas Não Transmissíveis e das Doenças Infecciosas e Parasitárias, há as Causas Externas (violência, suicídio, acidentes). 14WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A transição nutricional é a transformação desse quadro de patologias – juntamente com a redução da mortalidade infantil e por DIP e da natalidade e com o aumento da expectativa de vida – para outro, no qual predominam o excesso de peso e a obesidade, que se somam a um conjunto de comorbidades, como a diabetes mellitus tipo 2 e as doenças cardiovasculares, entre outras DCNT. Isso acontece em função de mudanças no estilo de vida, que incluem os hábitos alimentares não saudáveis e a diminuição da atividade física. A transição nutricional pode ser dividida em três estágios sequenciais. No primeiro, desaparecem as formas graves de desnutrição (marasmo e Kwashiorkor). Em sequência, reduzem as ocorrências de de� ciência de iodo e hipovitaminose A, bem como de baixo peso ao nascer e da mortalidade infantil, especialmente por DIP. Nessa fase, inicia-se a recuperação da estatura da população. Por � m, conclui-se a correção do dé� cit estatural em escala populacional e instalam- se o excesso de peso, a obesidade e as comorbidades associadas aos hábitos de vida não saudáveis. No Brasil, acompanhando as transformações mundiais, houve crescimento expressivo das prevalências de sobrepeso e obesidade em adultos, adolescentes e crianças, bem como das DCNT, passando a con� gurar importantes problemas na agenda de saúde pública. Em contrapartida, as prevalências de desnutrição e de doenças infecciosas decaíram substancialmente nas últimas décadas, em especial na infância e na adolescência, mas ainda acometem milhões de indivíduos de diferentes fases do curso da vida, juntamente com as carências nutricionais. Esses agravos são multifatoriais, incluindo, ainda, determinantes sociais, tais como a pobreza e a desigualdade de acesso a serviços, bens e oportunidades. Por isso, a condução única e exclusiva de recomendações alimentares não consegue resolver a desnutrição infantil e as carências nutricionais. Segundo o Guia Ali mentar para a População Brasileira (BRASIL, 2008), as categorias populacionais sob maior risco de desenvolver essas carências são: gestantes (especialmente adolescentes); nutrizes; crianças com menos de cinco anos (especialmente entre seis meses e dois anos) que não tiveram aleitamento adequado; idosos e pessoas doentes, que, de maneira geral, são grupos mais vulneráveis e/ou com maior requerimento de nutrientes. Para redução do risco de desnutrição infantil e infecções, a referida publicação recomenda aleitamentomaterno exclusivo por seis meses e complementar até dois anos de idade, com a introdução de alimentos variados e saudáveis a partir do sexto mês de vida. Figura 9 - Estágios da transição demográ� ca, epidemiológica e nutricional. Fonte: Popkin (2002). 15WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Embora seja comum associar os processos de transição aos períodos da história da humanidade, as mudanças podem ocorrer com maior ou menor rapidez e intensidade, a depender da região, do grupo populacional e de suas condições socioeconômicas, ou seja, mudanças que, em algumas sociedades, podem levar séculos e, em outras, ocorrem em décadas. Os principais estágios da transição nutricional são: 1. Busca por alimentos: própria de populações de caçadores e lavradores, cuja dieta caracteriza-se por proporção elevada de carboidratos e � bras e reduzida em gorduras, principalmente gorduras saturadas. A proporção de gordura poli-insaturada de carnes de animais selvagens é signi� cativamente maior do que aquela proveniente de animais domesticados nas sociedades modernas. O padrão de atividade física caracteriza-se por ser de elevada intensidade, com ocorrência bastante reduzida de obesidade. 2. Escassez de alimentos: a dieta torna-se muito menos variada e sujeita a grandes � utuações, com períodos de escassez aguda de alimentos. Tais mudanças estão hipoteticamente associadas a dé� cit nutricional e redução da estatura dos indivíduos. Em fases posteriores a esse padrão, graças à intensi� cação da estrati� cação social, há uma maior diversi� cação da dieta de acordo com a condição social e com o gênero do indivíduo. O padrão da escassez de alimentos, assim como cada um dos outros padrões, varia de acordo com o tempo e o espaço. Algumas civilizações têm maior capacidade de reduzir o problema da falta de alimentos e da fome crônica, pelo menos, as sociedades mais privilegiadas. Os tipos de atividade física se alteram, mas há pequenas mudanças nos níveis de atividade física nesse período. 3. Recuo da escassez de alimentos: o consumo de frutas, de vegetais e de proteína animal aumenta e a proporção de produtos à base de amido na dieta está presente, porém a variedade é reduzida. Várias civilizações, ao longo do tempo, � zeram importantes progressos em reduzir a fome crônica e a escassez de alimentos, mas somente no último terço do último milênio essas mudanças se tornaram amplamente difundidas, levando a importantes alterações na dieta. Entretanto, a escassez de alimentos que ocorria em regiões da Europa no século XVIII permanece ainda hoje em algumas localidades do mundo. Os padrões de atividade física começam a se alterar, e atividades que implicam gasto energético reduzido tornam-se parte da vida da maioria das pessoas. 4. Doenças crônicas não transmissíveis relacionadas com a alimentação: a dieta caracteriza-se por elevada proporção de gordura total, colesterol, açúcar e outros carboidratos re� nados e pequena proporção de ácidos graxos poli-insaturados e � bras; observa-se, concomitantemente, aumento do sedentarismo. Tal padrão é comum na maioria das sociedades ricas e também em parcelas da população de sociedades subdesenvolvidas, resultando em aumento da prevalência da obesidade e de maior ocorrência de DCNT, características do estágio � nal da transição epidemiológica. 5. Mudança de comportamento: um novo padrão dietético parece estar surgindo em decorrência de alterações da dieta, evidentemente associadas à preocupação de se prevenir ou retardar o aparecimento de doenças degenerativas e prolongar o tempo de vida com saúde. No entanto, resta veri� car se essas mudanças, instituídas em alguns países por iniciativas individuais de consumidores e, em outros, por meio de políticas públicas, irão constituir, em larga escala, um processo de transição da estrutura da dieta e da composição corporal. 16WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Se esses novos padrões forem estabelecidos e mantidos nas sociedades, poderão contribuir para o “sucesso do envelhecimento” com o adiamento da ocorrência de doenças e o aumento da expectativa de vida livre de incapacidades e dependências. A teoria da transição nutricional estabelece que esses estágios estão relacionados com uma complexa rede de mudanças nos padrões demográ� cos, socioeconômicos, agrícolas e de saúde, entre outros, e envolvem fatores como urbanização, crescimento econômico, mudanças tecnológicas e culturais, ocorridas principalmente nos últimos três séculos. Figura 10 - Estágios da transição nutricional. Fonte: Popkin (2002). A urbanização tem grande impacto na estrutura da dieta, no padrão de atividade física e, em consequência, na composição corporal dos indivíduos. Os padrões de alimentação das regiões urbana e rural, especialmente nos países mais pobres, são marcadamente diferenciados por fatores como: maior disponibilidade de alimentos nas áreas urbanas graças ao melhor transporte e sistema de comercialização, mesmo nos períodos de variação sazonal; maior possibilidade de negociação nos centros urbanos, ao se comercializarem alimentos processados; maior diversidade de padrões de alimentação nas populações urbanas; padrões ocupacionais diferenciados, caracterizados nas áreas urbanas por menor compatibilidade entre trabalho e preparação das refeições em domicílio, inclusive para aqueles que merecem cuidados especiais, crianças e idosos; diferentes estruturas familiares em função da ampla variedade de fatores socioeconômicos e diferentes padrões de doenças e da disponibilidade dos serviços de saúde. A renda e o poder de compra da população também são fatores importantes para a compreensão do processo de transição nutricional. 17WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Quando se trata de alimentos, o efeito da elasticidade renda/preço (variação, positiva ou negativa, na participação relativa de um dado alimento na dieta ante as variações da renda familiar ou do preço dos alimentos) é muito mais evidente nas populações mais pobres. O aumento da renda está associado não só à maior variedade de produtos e à quantidade de energia da dieta, mas, principalmente, às alterações da proporção de energia oriunda dos macronutrientes, especialmente com o aumento de proteínas (de origem animal) e de lipídios. Sendo assim, notam-se mudanças importantes no perfi l alimentar das populações. De acordo com os estudos do Guia Alimentar para a População Brasileira, ocorreram importantes alterações no abastecimento e na produção de gêneros alimentícios no país. Anteriormente, predominava o consumo de produtos minimamente processados e comprados em pequenos comércios varejistas. Atualmente, consomem-se mais produtos prontos, pré-preparados e embalados, comprados em redes de supermercados. Também cresceram a produção e o consumo de alimentos de alta densidade calórica, sal e gorduras, bem como de óleos, margarina e açúcar refi nado. Figura 11 - Trajetória da humanidade. Fonte: Clarke (2020). Leia o artigo Hábitos alimentares: desvendando padrões e escolhas sociais, disponível em <https://www.uniara.com.br/legado/ nupedor/nupedor_2018/4A/2_Daiane_Cardozo.pdf>. 18WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 12 - As transições demográ� ca, epidemiológica, alimentar e nutricional e suas principais características. Fonte: Silva (2016). Para o entendimento do panorama das mudanças ocorridas no per� l alimentar da população brasileira durante 35 anos, é necessário avaliar os inquéritos no país que obtiveram informações sobre a disponibilidade domiciliar de alimentos. Eles serão discutidos a seguir. 3. INQUÉRITOS N ACIONAIS DE CONSUMO ALIMENTAR E ANTROPOMETRIA Os estudos populacionais que incluem variáveis antropométricas e do consumo alimentarsão extremamente importantes para a de� nição de políticas públicas na área de alimentação e nutrição. Eles permitem conhecer o estado nutricional e o per� l alimentar da população, acompanhando as tendências de evolução dos principais problemas nutricionais, como baixo peso e/ou desnutrição energético-proteica e sobrepeso/obesidade. De� nem, assim, as prioridades de intervenções nacionais e regionais, bem como grupos populacionais de maior risco. O Instituto Brasileiro de Geogra� a e Estatística (IBGE) é incumbido por grande parte das pesquisas domiciliares em curso no Brasil. Esse instituto foi criado em 1938 e faz os censos nacionais e inquéritos, como a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD), que geram dados demográ� cos, estatísticas vitais e dados socioeconômicos. O Estudo Nacional de Despesa Familiar – ENDEF (1974-1975) foi o primeiro e mais amplo estudo domiciliar de abrangência nacional, considerado um estudo de valor histórico, que apresentou a situação alimentar e nutricional da população do país. Realizado pelo IBGE e pela divisão de nutrição da FAO, a população de abrangência é composta por 55.000 domicílios representativos de cada região do país. Envolve todas as faixas etárias de ambos os sexos, totalizando 53.311 famílias e 267.446 pessoas, representativas das sete regiões do PNAD (Rio de Janeiro, São Paulo, Sul, Centro-leste, Nordeste, Norte e Centro-oeste), exceto as áreas rurais das macrorregiões e do Centro-oeste. 19WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Teve como objetivo avaliar o consumo alimentar, a estrutura de despesa familiar (condição de vida) e o estado nutricional de uma amostra da população brasileira, representativa dos Estados da Federação. Obteve um � uxo mais completo de estatísticas sociais, já que buscou avaliar as condições de vida da população e analisar a situação nutricional com base no quadro de orçamentos familiares. Dessa forma, procurou atender às necessidades de planejamento governamental e privado quanto às condições de vida da população. Nesse estudo, foram feitos: • Avalição antropométrica de peso, altura, circunferência do braço para todos os moradores dos domicílios selecionados, independentemente do estado de saúde (doenças graves, desnutrição evidente, prematuros, obesos, entre outros) e avaliação do orçamento familiar com estimativa do consumo alimentar. • Pesagem dos alimentos no domicílio durante sete dias consecutivos (metodologia de pesagem direta), permitindo veri� car as diferenças de consumo alimentar no decorrer da semana, inclusive as variações típicas de � ns de semana. • Coleta de informações sobre os alimentos consumidos fora de casa e as aquisições alimentares não monetárias, para calcular a média de ingestão habitual de nutrientes e de energia com mais exatidão devido à acurácia das medidas utilizadas. • Peso dos alimentos consumidos, refeição, preço, lugar de aquisição, peso dos resíduos, sobras ou desperdícios. • Aplicação de um questionário contendo variáveis para avaliar a maioria dos aspectos econômicos da vida: renda, educação, atividade pro� ssional, procedência, consumo alimentar, gastos e rendimentos, composição familiar (gênero, idade, migração) e emprego. Foram analisados dados sobre o gasto � nanceiro das famílias, com ênfase no consumo alimentar e na renda familiar, sendo registrados todos os produtos consumidos, sua origem e, quando comprados, os locais de aquisição. Além disso, as informações permitiram a identi� cação e a caracterização das atividades pro� ssionais dos membros da família. A partir da comparação entre as necessidades dos membros das famílias, foi possível veri� car se a quantidade de alimentos disponível no domicílio supria as necessidades nutricionais de todos os membros e, em consequência, o percentual de famílias que estavam em (in)segurança alimentar. Ao mesmo tempo, foi possível a elaboração e publicação de uma Tabela de Composição de Alimentos do ENDEF, amplamente utilizada para estudos de consumo alimentar, lembrando que, para investigar os alimentos industrializados (ex.: massa para pizza) pesados durante a pesquisa, utilizou-se o rótulo dos produtos ou recorreu-se às fábricas. Já para as preparações caseiras (ex.: bolos, feijoada) pesadas durante a pesquisa, foram separados os ingredientes a partir de receitas padronizadas, considerando a quantidade de cada ingrediente em 100 g do alimento preparado para o cálculo de calorias e nutrientes totais. A Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) é uma pesquisa realizada no domicílio por amostragem representativa da população, realizada pelo IBGE, que investiga informações referentes ao domicílio, à família, aos moradores e a seus respectivos orçamentos. Quanto ao objetivo, visa a mensurar a partir dessa amostra a estrutura de gastos (despesas), os recebimentos (receitas) e as poupanças dessa população, ou seja, as estruturas de consumo, dos gastos e dos rendimentos das famílias. Além disso, permite estimar a disponibilidade individual de alimentos de cada família, possibilitando ao pesquisador traçar o per� l das condições de vida de uma população a partir da análise de seus orçamentos domésticos. 20WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA As POF foram realizadas em: 1986/1987, 1995/1996, 2002/2003, 2008/2009 e a mais recente em 2017/2018. Para melhor compreensão, pode-se dizer que a POF de 1986-1987 e a de 1995-1996 tiveram como objetivo mensurar a estrutura de consumo da população residente em áreas urbanas de nove regiões metropolitanas. Já outro objetivo da POF de 1995-1996 foi a atualização da estrutura de ponderação da cesta de bens e serviços, cujo movimento de preços é acompanhado por meio dos índices de preços ao consumidor. Quanto à POF de 2002-2003, teve como objetivo fornecer informações sobre a composição dos orçamentos domésticos a partir da investigação dos hábitos de consumo, da alocação de gastos e da distribuição dos rendimentos, segundo as características dos domicílios e das pessoas. Além dos objetivos que direcionaram as POF anteriores, nesta foram incluídos aspectos nutricionais e a autopercepção das condições de vida da população brasileira. A pesquisa ampliou sua abrangência geográ� ca nacional, cobrindo as áreas urbanas e rurais do país, e teve duração de 12 meses, compreendendo o período de julho de 2002 a junho de 2003. Nas POF anteriores, os estratos socioeconômicos foram defi nidos com base em informações sobre rendimentos investigados nos Censos Demográfi cos. Para a de 2002-2003, os dados afi ns, do Censo de 2000, não estavam liberados; assim, a variável escolhida foi referente ao grau de escolaridade (anos de estudo) do responsável pelo domicílio. A POF 2008-2009 teve como objetivo investigar os orçamentos familiares combinados com outras informações sobre as condições de vida das famílias brasileiras, com destaque para antropometria e o estudo sobre o consumo alimentar efetivo. Além dos dados obtidos em todo o território nacional, como na POF de 2002-2003, a proposta foi a de que, na POF de 2008-2009, houvesse uma parte específi ca sobre consumo alimentar individual, com o objetivo de completar os dados referentes à compra de alimentos. Realizaram-se medidas de peso e altura de cada integrante do domicílio; verifi caram-se a renda dos moradores, as despesas coletivas da família (água, luz, telefone) e as despesas individuais, investigaram-se o consumo de alimentos e bebidas de cada integrante das famílias visitadas, a ingestão de alimentos em casa e fora, o consumo de produtos orgânicos, produtos light e diet, despesas relacionadas com saúde, turismo e cultura. Também foi feita avaliação subjetiva das condições de vida pelas famílias e da utilização de serviços e produtos que visam ao desenvolvimento sustentável, como, por exemplo, separação e coleta seletiva de lixo, uso de energiaelétrica proveniente de alternativas. A população de abrangência envolveu crianças, adolescentes, adultos e idosos, sendo que: • Nas regiões metropolitanas (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre), Distrito Federal e Goiânia, houve a POF 1986-1987 e a POF 1995-1996. 21WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 13 - Informações importantes sobre a POF 2008-2009. Fonte: IBGE (2009). A Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN) foi feita em 1988- 1989 pelo Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN) em colaboração com o IBGE e o Instituto de Planejamento Econômico e Social (IPEA). Teve como objetivo avaliar o estado nutricional da população brasileira, além de caracterizar as condições de saúde e estrutura socioeconômica nos domicílios. • Em nível nacional (área urbana e rural), houve a POF 2002-2003 e a POF 2008- 2009. A partir da POF de 2002-2003, ocorreu a avaliação do consumo alimentar. A POF 2008-2009 é a mais completa, uma vez que envolveu antropometria, consumo alimentar, orçamento familiar e condições de vida em cada domicílio analisado durante nove dias. A POF completa é feita a cada cinco anos e a POF simplifi cada é feita anualmente, sendo que somente na POF completa é utilizado o questionário sobre o consumo efetivo quanto à ingestão de alimentos. Quanto o brasileiro gasta e com o quê. Este vídeo ajudará a entender o que é a POF. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=944F0paMei0>. 22WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A população de abrangência envolveu a área urbana e rural, com exceção do norte rural (todas as idades e gêneros), sendo realizada nos domicílios e excluída a população institucionalizada residente em domicílios coletivos e a população residente em aldeias indígenas. Assim, a amostra foi composta por 63.213 indivíduos, de todas as idades de ambos os sexos, presentes em 14.455 domicílios de 363 municípios brasileiros. A pesquisa foi feita com base na avaliação antropométrica de peso e altura/comprimento e dois questionários: • Questionário de Mão de Obra, o qual dispunha campos para identi� cação da unidade domiciliar, itens sobre habitação, características básicas dos moradores (gênero, idade, etnia, escolaridade, condição de presença: morador presente ou ausente; condição na unidade domiciliar ou na família: chefe, cônjuge, � lho, outro parente, agregado), itens que permitiam classi� car a população em pessoas economicamente ativas e obter informações sobre as características de mão de obra e rendimento não proveniente do trabalho (aposentadoria, pensão, abono de permanência, aluguel, doação, juros de caderneta de poupança, dividendos). • Questionário de Saúde e Nutrição, estruturado em cinco partes: a primeira relacionada com a identi� cação do domicílio, transcrita do Questionário de Mão de Obra; a segunda para crianças de 0 a 47 meses, com 29 itens sobre as condições de nascimento, aleitamento materno, introdução de alimentos, suplementação alimentar, frequência a creche; a terceira, para pessoas de 4 a 20 anos de idade, com 20 itens sobre consumo de leite, suplementação alimentar, frequência a creche (dos 4 aos 6 anos de idade) e ao ensino de primeiro grau; a quarta, para mulheres de 10 a 54 anos de idade, com 30 itens sobre idade da maturação sexual (menarca), história obstétrica e suplementação alimentar para gestantes e nutrizes; e a quinta, para todos os moradores, composta de 26 quesitos que investigaram sintomas e sinais de saúde, uso de serviços de saúde e aferição das medidas antropométricas. A Pesquisa Nacional de Demogra� a e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS) faz parte do Programa Internacional de Pesquisas de Demogra� a e Saúde (DHS) e foi realizada, em 1996, pela Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar do Brasil (BEMFAM) e, em 2006, pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). É uma pesquisa domiciliar com avaliação antropométrica de peso e altura/comprimento. O objetivo da PNDS de 1996 foi obter informações atualizadas sobre os níveis de fecundidade, mortalidade infantil e materna, anticoncepção, saúde da mulher e da criança, conhecimento e atitudes relacionadas a doenças sexualmente transmissíveis (DST/AIDS), além de características socioeconômicas da população entrevistada. Leia o artigo ENDEF e PNSN: para onde caminha o crescimento físico da criança brasileira?, disponível em <http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1993000500009>. 23WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Já a PNDS de 2006 visou caracterizar a população feminina em idade fértil e as crianças abaixo de 5 anos de idade segundo fatores demográ� cos, socioeconômicos e culturais; identi� car padrões de conjugalidade, parentalidade e reprodutivos; per� s de morbidade e mortalidade na infância, de amamentação e cobertura vacinar; avaliar o estado nutricional, a prevalência de de� ciência de vitamina A e de anemia ferropriva nos dois grupos populacionais; avaliar a segurança/insegurança alimentar, o teor de iodo disponível em âmbito domiciliar e avaliar o acesso a serviços de saúde e a medicamentos. A PNDS de 199 6 envolveu mulheres entre 15 e 49 anos, crianças menores de 5 anos e homens com idade entre 15 e 59 anos, representativos das áreas urbanas e rurais de 7 regiões (Rio de Janeiro, São Paulo, Sul, Centro-Oeste, Centro-Leste, Nordeste, Norte, da área urbana somente). Já a PNDS de 2006 contou com mulheres de 15 a 49 anos de idade e crianças menores de 5 anos, representativos das áreas urbanas e rurais das 5 regiões brasileiras (Norte, Sul, Nordeste, Centro- Oeste e Sudeste). A Pesquisa so bre Padrões de Vida (PPV) ocorreu em 1996-1997 por meio do IBGE em convênio com o Banco Mundial, sendo uma pesquisa domiciliar com avaliação das condições socioeconômicas e nutricionais. O objetivo consistia em indicar e quanti� car os determinantes do bem-estar social e dos diferentes níveis de pobreza da população e possibilitar a identi� cação dos impactos das políticas governamentais nas condições de vida domiciliar. A população de abrangência envolveu as áreas metropolitanas, demais áreas urbanas e rurais das regiões nordeste e sudeste do Brasil totalizando 554 setores censitários, 5.000 domicílios e 5.337 famílias. Figura 14 - Série histórica dos inquéritos nacionais de antropometria e consumo alimentar. Fonte: Taddei et al. (2011). Leia o artigo Inquéritos antropométricos e alimentares na população brasileira: importante fonte de dados para o desenvolvimento de pesquisas, disponível em <https://www.scielosp.org/article/ csc/2017.v22n2/499-508/>. 24WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Além da POF, utilizada para obtenção de dados sobre o consumo de alimentos em pesquisas epidemiológicas, tem-se a folha de balanço de alimentos e os inventários. A Folha de Balanço de Alimentos refere-se à estimativa da disponibilidade de alimentos para países ou regiões, a qual é utilizada em estudos ecológicos, geralmente em associação com outros indicadores de saúde da população (ex.: taxas de mortalidade ou incidência). Desenvolvida pela Food and Agriculture Organization (FAO), a Folha de Balanço de Alimentos utiliza informações sobre alimentos produzidos, importados, exportados, aqueles não destinados ao consumo humano (utilizados na indústria de produção de ração animal etc.) e o que foi perdido no armazenamento e transporte, para estimar periodicamente as quantidades per capita de energia e nutrientes disponíveis para a população. Esse cálculo é feito conforme segue: Energia = [(alimentos produzidos + alimentos importados) - alimentos utilizados na indústria + destinados à ração animal + exportados + perdidos no transporte/armazenamento)]. Evidentemente, com esse procedimento, não é possível reconhecer o que a população realmente consumiu, mas é possível identifi car tendências no perfi l de consumo alimentar de grandes grupos populacionais, orientar a população agrícola e de abastecimento e, eventualmente, desenvolver hipóteses etiológicas. Já os Inventários têm como objetivo registrar alimentos que são consumidos no domicílio por um determinado período (geralmente, mês, quinzena ou semana). Para tanto, são inventariados os produtos existentes no domicílio no início do período, solicitando-se que sejam anotados todos os alimentos adquiridos durante o período de investigação; ao fi nal do período, é realizado novo inventário, e o consumo de alimentos será estimado por: [(Produtos existentes no primeiro inventário + produtos adquiridos) – produtos existentes no segundo inventário]. Esse procedimento também não possibilita reconhecer o consumo ideal de cada membro da família. Obtém-se a estimativa da disponibilidade familiar de alimentos, mas não se estima o consumo individual, já que não são consideradas as refeições consumidas fora do domicílio, a presença de outros comensais que não membros da família, nem a participação de cada membro da família individualmente em relação a cada item do inventário. Porém, o método do inventário pode ser útil quando se deseja avaliar fatores associados ao consumo alimentar. 25WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3.1 Resultados Importantes dos Inquéritos Nacionais 3.1.1 Evolução da participação relativa de alimentos e nutrientes, entre 1974 e 2009, para regiões metropolitanas Para as nove Regiões Metropolitanas (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre), o município de Goiânia e Distrito Federal, alguns produtos analisados nessa comparação temporal merecem destaques. • Arroz polido: com 60% de redução na quantidade anual per capita para consumo domiciliar, passando de, aproximadamente, 32 kg para 13 kg, entre 1974 e 2009. • Feijão: 49% de redução no período, com queda menos acentuada entre 1996 e 2003 (10%). • Açúcar re� nado: a quantidade adquirida média manteve-se constante entre 1975 e 1988 (cerca de 15 kg), com suave declínio em 1996 (13 kg), acentuando-se na POF 2002-2003 (8,3 kg) e na POF 2008-2009 (3,3 kg), levando a um declínio de 80% entre 1974 e 2009. • Pão francês: redução de 29% no período. • Refrigerante guaraná: houve 490% de aumento na aquisição domiciliar, passando de, aproximadamente, 1,3 kg, em 1974-1975, para 7,7 kg, em 2002-2003. Entre 2002 e 2009, houve redução de 22%, chegando à aquisição anual per capita de 6,0kg. Contudo, essa redução não foi signi� cativa mediante os aumentos veri� cados no período anterior. • Iogurte: aumento de 702%, mais expressivo entre 1996 e 2003 (298%), porém com redução pouco expressiva entre 2002 e 2009 (16%), o que não representou mudança signi� cativa diante dos aumentos observados anteriormente. A diminuição do consumo de alimentos tradicionais, como arroz, feijão, açúcar, entre outros, justi� ca-se pelo aumento do consumo de alimentos preparados (industrializados) e pela realização das refeições fora de casa na última década. Esses hábitos podem ser explicados pela maior praticidade, devido à rotina de trabalho que di� culta o preparo de refeições. Esse fato merece atenção, uma vez que os alimentos industrializados podem ser ricos em lipídios, colesterol e açúcar, e por isso devem ser selecionados com cuidado pelos consumidores. Evolução da Participação da Dieta Alimentos ou Grupos Alimentares Aumento Carne de frango, óleos e gorduras vegetais, refrige- rantes, biscoitos e refeições prontas Aumento (1974-2003) e subsequen- te queda (2003-2009) Carnes em geral, carne bovina, leite e derivados e embutidos Redução Arroz, feijões e outras leguminosas, raízes, tubér- culos, peixes e açúcar Redução (1974-2003) e subsequen- te aumento (2003-2009) Ovos e gordura animal Constante Frutas, verduras e legumes Quadro 1 - Evolução participativa relativa de alimentos/grupos alimentares da dieta. Fonte: Silva (2016). 26WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Ao mesmo tempo, vale ressaltar que a Evolução da Participação Relativa dos Alimentos, Grupos Alimentares e Macronutrientes na disponibilidade domiciliar em quase 35 anos para as regiões metropolitanas do Brasil foi calculada por meio do percentual de calorias que o alimento ou macronutriente representava no total de calorias disponíveis para consumo. Foi possível observar variações importantes nessa participação relativa dos alimentos no domicílio nas áreas metropolitanas do país entre 1974 e 2009. Nota-se de maneira geral uma substituição progressiva na disponibilidade de alimentos marcadores de alimentação saudável por um aumento no padrão de consumo de alimentos ricos em gorduras, açúcares, alimentos industrializados e de origem animal, com baixo teor de � bras. Sobre a evolução, entre 1974 e 2009, da composição da dieta em macronutrientes para as regiões metropolitanas do país, ressaltam-se: • Tendência de aumento do teor de gorduras das calorias totais. • Aumento do teor de gorduras saturadas, chegando a 9,6% em 2008-2009, valor próximo ao limite máximo recomendado (10% do valor energético total). • Diminuição do teor de carboidratos entre 1974 e 1996, porém, com aumento entre 2002- 2003 (55,9%) e 2008-2009 (58%) nessas regiões. • Declínio do consumo de açúcar livre até 2003, com aumento entre as pesquisas de 2002-2003 e 2008-2009. Cabe destacar que, em todas as pesquisas que avaliaram a disponibilidade desse nutriente, ultrapassa-se o limite máximo recomendado (10%) para a proporção de calorias advindas do açúcar. • Tendência de aumento até 2003 do teor de proteínas, porém com declínio entre as pesquisas de 2002-2003 e 2008-2009. 3.1.2 Evolução da participação relativa de alimentos e nutrientes na disponibilidade domiciliar entre 2002 e 2009 para o Brasil Quando se avalia a Evolução da Participação Relativa de Alimentos no Brasil e não apenas para as regiões metropolitanas, pode-se dizer que somente as POF 2002-2003 e 2008- 2009 contemplam essa análise, uma vez que ambas possuem informações de âmbito nacional. Sendo assim, por meio de comparação estimativa da POF 2002-2003 e da POF 2008- 2009, foi possível veri� car a redução de 1811,18 kcal para 1610,49kcal da disponibilidade diária per capita média de alimentos para consumo no domicílio dos brasileiros. Tal fato, possivelmente, deve-se ao aumento da frequência de consumo alimentar fora do domicílio (gastos com alimentação passaram de 24,1% na POF 2002-2003 para 31,1% na POF 2008-2009). 27WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Evolução da Participação da Dieta Alimentos ou Grupos Alimentares Aumento superior a 20% Refeições prontas e misturas industrializadas (40%), outros derivados do leite (39%), bebidas alcóolicas (28%), embutidos (25%) e frutas e sucos de frutas (25%) Aumento superior a 5% Refrigerante (16%), queijos (16%), carne bovina (15%), pão francês (13%) e biscoitos (10%) Redução superior a 20% Farinha de trigo (25%) Redução superior a 5% Farinha de mandioca (19%), feijões (18%), leite (10%), açúcar (8%) e arroz (6%) Sem alterações Óleos e gorduras vegetais (aproximadamente 12,7% das calorias totais as duas pesquisas), gorduras animais (1,5% nas duas pesquisas) e verduras e legumes (0,8% nas duas pesquisas) Quadro 2 - Evolução participativa relativa de alimentos/grupos alimentares na dieta no Brasil, entre a POF de 2002- 2003 e a de 2008-2009. Fonte: Silva (2016). Quando se observa a evolução da disponibilidade domiciliar de alimentos entre os dois inquéritos segundo a renda familiar, o aumento da participação da maioria dos alimentos se dá de maneiramais acentuada nos estratos de menor renda, o que indica maior aproximação entre as famílias de maior e menor renda. Figura 15 - Participação relativa de macronutrientes no total de calorias determinado pela aquisição alimentar do- miciliar, por quintos de rendimento total e variação patrimonial mensal familiar e ano da pesquisa Brasil - períodos 2002-2003 e 2008-2009. Fonte: IBGE (2010). 28WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA No que diz respeito à composição nutricional da disponibilidade domiciliar de alimentos brasileiros: • Houve uma redução do teor de carboidratos em seis anos, com maior redução na fração que exclui os açúcares livres. • Houve aumento do teor de gorduras, sobretudo de ácidos graxos monoinsaturados e saturados, para o país como um todo e em todos os estratos de renda familiar. • Pessoas no maior quinto de renda (renda superior) ultrapassam o limite superior de gordura total e o alcançaram para ácidos graxos saturados. • Houve aumento do teor de proteínas, em função do aumento da fração de proteínas de origem animal. • A substituição de carboidratos (exceto açúcares livres) por proteínas de origem animal e lipídios ocorre em todos os estratos de renda, sendo mais acentuada nas classes de menor renda. • A fração de açúcares livres esteve acima do limite máximo recomendado (10%) nas duas pesquisas, atingindo 16,4% em 2009, e isso ocorreu independentemente da renda familiar. Figura 16 - Principais achados com base nas pesquisas. Fonte: IBGE (2010). 3. 1.3 Composição das despesas familiares Pode-se dizer que a POF conduzida entre 2008 e 2009 constatou uma melhoria na relação entre as despesas e o rendimento familiares. Em 2002-2003, 85,3% das famílias tinham despesas superiores ao rendimento, enquanto em 2008-2009, 68,4% dos brasileiros (os com menores rendimentos) estavam nessa situação. A diferença entre os dispêndios mensais de famílias em que a pessoa de referência possuía menos de um ano de estudo e daquelas cujas pessoas de referência apresentavam 11 anos ou mais de estudo foi de cerca de 200%. Em comparação à POF 2002-2003, houve expressiva redução dessa disparidade. 29WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A despesa de famílias com responsável branca estava 89% acima das despesas das famílias com pessoa de referência de cor preta e 79% acima daquelas com pessoa de referência de cor parda. Nesses casos, em seis anos, houve movimentos opostos: em relação à POF 2002-2003, essas diferenças eram de 82% e de 84%, respectivamente. Pela segunda vez, a POF investigou a percepção subjetiva da população sobre alguns aspectos da sua qualidade de vida. Em 2008-2009, aproximadamente, 75,2% das famílias declararam algum grau de di� culdade para chegar ao � nal do mês com o rendimento que recebiam. Em 2002-2003 esse percentual foi de 85,0%. Mesmo nessa abordagem, foram observadas desigualdades segundo as classes de rendimento: no grupo com renda de R$ 830,00, aproximadamente 88% indicaram algum grau de di� culdade; no grupo com renda acima de RS 10.375,00, somente 28% informaram ter algum grau de di� culdade. Ao mesmo tempo, nota-se que, no Brasil, os 40% com menores rendimentos possuíam despesa total per capita de R$ 296,35; e os 10% com maiores rendimentos, de RS 2.844,56. Na área rural, a disparidade foi de 10,3 vezes. Na POF 2002-2003, a diferença no país era de 10,1 vezes contra 9,6 vezes na POF 2008-2009. Figura 17 - Distância média per capita dos 40% das famílias com menores rendimentos e 10% das famílias com maiores rendimentos. Fonte: ABIHPEC (2020). De acordo com o IBGE, as despesas monetárias são aquelas feitas mediante pagamento, realizado à vista ou a prazo, em dinheiro, cheque ou com utilização de cartão de crédito. Já as despesas não monetárias são aquelas efetuadas sem pagamento monetário, ou seja, a obtenção é por meio de doação, retirada do negócio, troca, produção própria. Já as despesas correntes envolvem dois tipos: as despesas de consumo, que estão relacionadas com alimentação, habitação, vestuário, transporte, higiene e cuidados pessoais, assistência à saúde, educação, recreação e cultura, fumo, serviços pessoais, e outras despesas correntes, como impostos, mesadas, doações. 30WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 18 - Despesas monetárias e não monetárias, média mensal familiar, segundo anos de estudos da pessoa de referência. Fonte: IBGE (2008-2009). Figura 19 - Distribuição das despesas de consumo monetárias e não monetárias, média mensal familiar por tipo de despesa, segundo a situação do domicílio e Grandes Regiões. Fonte: IBGE (2002-2003, 2008-2009). 31WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3.1.4 Despesas com alimentação nas regiões brasileiras As despesas com alimentação tiveram queda, enquanto aquelas com habitação cresceram, tornando-se o maior dispêndio monetário do brasileiro. No âmbito rural, a mudança foi mais signi� cativa: o custo com moradia quase dobrou nas últimas décadas. Cresceu a participação da alimentação fora de casa nos orçamentos das famílias. Em seis anos, o percentual das despesas com alimentação fora de casa, no total das despesas das famílias, aumentou de 24,1% para 31,1%, ou seja, passaram a representar quase 1/3 do total de gastos com alimentos. Na área urbana, a percentagem passou de 2,7% para 33,1%; na área rural, de 13,1% para 17,5%. Em reais, a despesa alimentar na área urbana, em 2008- 2009, foi 145,5% maior que a da área rural. A análise regional apontou que o maior percentual com alimentação fora do domicílio ocorreu na região sudeste (37,2%), ao passo que os menores percentuais ocorreram nas regiões norte (21,4%) e nordeste (23,5%). Por conseguinte, os resultados da POF 2008-2009 para o grupo alimentação no domicílio con� rmaram as desigualdades no per� l de consumo familiar: o valor em reais dos gastos com alimentação das famílias com maiores rendimentos (R$ 1.198,14) foi quase o triplo da média nacional e quase seis vezes o das famílias com menores rendimentos (R$ 207,15). Figura 20 - Despesas monetárias e não monetárias, média mensal familiar por região, Grandes Regiões e a situação do domicílio segundo os tipos de despesas. Fonte: IBGE (2008-2009). 3.1.5 Comparação por grupos alimentares Pode-se dizer que famílias de todas as regiões gastaram mais com carnes, vísceras e pescados entre 2008 e 2009, grupo que liderou os gastos com alimentação, tanto na média do país (21,9%) quanto nas áreas urbanas (21,3%) e rural (25,2%). Na área urbana, o grupo de leite e derivados (11,9%) foi o segundo grupo mais consumido, seguido do grupo de pani� cados (11,0%) e do grupo de bebidas e infusões (10,0%). 32WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Na área rural, o segundo grupo mais consumido entre os brasileiros foi o de cereais, leguminosas e oleaginosas (13,1%), seguido por leites e derivados (8,7%) e, por último, aves e ovos (8,5%). Entre a POF de 2002-2003 e a de 2008-2009, o percentual de gastos familiares com carnes, vísceras e pescados cresceu de 18,3% para 21,9% do total de despesas com alimentação no domicílio. Por sua vez, o de leite e derivados caiu de 11,9% para 11,5%, bem como o de pani� cados, que passou de 10,9% para 10,4%. Caíram, também, os gastos com: cereais, leguminosas e oleaginosas (de 10,4% para 8,0%); açúcares e derivados (de 5,9% para 4,6%); aves e ovos (de 7,1% para 6,9%). Cresceu o gasto com frutas (de 4,2% para 4,6%), bebidas e infusões (de 8,5% para 9,7%). 3.1.6 Suficiência dos recursos financeiros para a alimentação Nota-se que a percepção subjetiva das famílias sobre seus rendimentos melhorou. A POF 2008-2009 investigou a percepção da população sobre alguns aspectosda qualidade de vida, por meio de um questionário especí� co e com respostas subjetivas aplicado no último dia de entrevista em cada domicílio. Os núcleos familiares indicaram um de seus membros para responder às perguntas subjetivas sobre a facilidade para chegar ao � nal do mês com os rendimentos recebidos e a avaliação da su� ciência e do tipo do alimento consumido. Essa foi a segunda vez em que o método foi apresentado. A primeira ocorreu na POF 2002-2003. Entre 2008 e 2009, 64,5% das famílias declararam ter alimentos em quantidade su� ciente para chegar ao � m do mês, contra 53% entre 2002 e 2003. Nos dois momentos, a POF também investigou com que frequência as famílias consumiam seu alimento preferido (sempre, nem sempre ou raramente): entre 2002 e 2003, 73,2% declararam alguma insatisfação com o consumo do seu alimento favorito, contra 65% em 2008-2009. Segundo a POF 2008-2009, 75% das famílias declararam algum grau de di� culdade para chegar ao � m do mês com seus rendimentos. Na classe com renda até R$ 830,00, aproximadamente, 88% indicaram algum grau de di� culdade e 31,1%, muita di� culdade. Na classe com mais de R$ 10.375,00, 28% tinham algum grau de di� culdade e 2,6%, muita di� culdade. As percepções sobre a quantidade de alimentos foram mais favoráveis do que na POF de 2002-2003. Entretanto, as desigualdades regionais foram marcantes. No Norte e no Nordeste, cerca de 50% das famílias referiram insu� ciência na quantidade de alimentos consumidos entre 2008 e 2009 contra cerca de 60% entre 2002 e 2003. Para 64,8% das famílias do país e 74% das famílias das áreas rurais, o tipo de alimento nem sempre ou raramente consumido era o preferido. Declararam sempre consumir as comidas prediletas 27,7% de famílias do Norte, 25,7% do Nordeste, 44% do Sul, 37,9% do Sudeste e 40,6% do Centro-Oeste. Maranhão e Piauí (21%) tinham os menores percentuais; e Santa Catarina (47%), o maior. 3.1.7 Consumo alimentar pessoal: Inquérito Nacional de Alimentação (INA) 2008-2009 Observa-se uma grande conquista para o campo da epidemiologia nutricional, visto que foi incorporado o Bloco de Consumo Alimentar Pessoal (POF 7) à POF 2008-2009. Esse Inquérito (INA) permitiu avaliar o consumo alimentar de cada um dos moradores do domicílio com dez anos ou mais de idade. Até então, os dados de consumo alimentar de abrangência nacional só eram obtidos por meio das informações sobre a despesa com alimentos para o grupo de moradores do domicílio, o que não permitia a investigação mais minuciosa do consumo alimentar pessoal. Para constituir o INA, foi selecionada uma subamostra dos domicílios da amostra original da POF 2008-2009. Os entrevistados registraram todos os alimentos e bebidas consumidos (exceto água) em dois dias não consecutivos ao longo de 24 horas do dia. 33WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Também informavam a fonte (dentro ou fora do domicílio) e o horário (em horas inteiras) de consumo dos alimentos e bebidas, bem como o dia da semana, a quantidade em medidas caseiras e a forma de preparo dos alimentos. No questionário, constava uma pergunta sobre o consumo de açúcar e/ou adoçante. Quando não era possível relatar detalhadamente a preparação do alimento, os entrevistados eram orientados a relatar no registro o nome especí� co da preparação como, por exemplo, lasanha à bolonhesa ou feijoada. Os registros eram revisados com os agentes treinados para a coleta de dados da pesquisa. Para minimizar possíveis erros nas informações coletadas, os seguintes procedimentos foram adotados: 1. Quando nenhum alimento aparecia registrado em um intervalo mínimo de três horas, os agentes con� rmavam com o entrevistado a ausência de consumo alimentar nesse período. 2. Os agentes perguntavam se havia consumo de outros alimentos e/ou bebidas quando apenas cinco itens eram registrados ao longo de um dia. 3. Os agentes perguntavam sobre o consumo de lanches, balas, doces, café, refrigerantes e outras bebidas, itens frequentemente omitidos nos inquéritos alimentares. 4. Veri� cava-se com os entrevistados se os produtos consumidos eram dietéticos ou de valor energético reduzido. 5. Os agentes re� navam as informações sobre quantidades consumidas e elucidavam dúvidas sobre preparações ou alimentos registrados, porém não reconhecidos. Os resultados do Inquérito Nacional de Alimentação (2008-2009) permitiram analisar o consumo de alimentos e de grupos alimentares, o consumo de nutrientes e, ainda, a combinação entre alimentos e grupos alimentares consumidos considerados marcadores de qualidade da dieta e sua relação com a ingestão de nutrientes. Os 1.121 itens alimentares observados na pesquisa foram classi� cados em 21 grupos alimentares ou isoladamente, quando referidos por pelo menos 100 entrevistados, que preencheram o primeiro dia de registro alimentar. 34WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 21 - Característica da Alimentação Brasileira. Fonte: IBGE (2008-2009). As maiores médias de consumo per capita entre os brasileiros foram de café (215,1 g/ dia), feijão (182,9 g/dia) e arroz (160,3 g/dia). Em sequência, sucos (145,0 g/dia), refrigerantes (94,7 g/dia) e carne bovina (63,2 g/dia). Com relação às frequências de consumo no primeiro dia de registro, as maiores foram para o arroz (84,0%), o café (79,0%), o feijão (72,8%), o pão de sal (63,0%) e a carne bovina (48,7%). Em relação ao consumo total, o percentual de consumo fora do domicílio apresentou-se maior do que 50% para cerveja, salgados e salgadinhos. Variável Resultados Gerais Resultados Fora do Domicílio Sexo Para a maior parte dos itens alimentares, o consumo per capita médio e a frequência de consumo foram maiores entre homens, porém com menores consumos per capita de saladas, verduras, da maioria de frutas e doces. Menores frequências de consumo de verduras, grande par- te dos legumes e das frutas. Importante: consumo cinco vezes maior de cer- veja e bebidas destiladas para os homens. O consumo maior para os homens, ex- ceto chocolates, sorvetes, salgadinhos, pão integral, biscoito doce e produtos diet. 35WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Situação do domi- cílio Média de consumo per capita/dia Zona Urbana: produtos prontos para consumo ou processados (pão de sal, biscoitos recheados, iogurtes, vitaminas, sanduíches, salgados fritos e assados, pizzas, refrigerantes, sucos e cerveja). Zona Rural: arroz, feijão, batata-doce, mandioca, farinha de mandioca, manga, tangerina, peixes frescos, peixes salgados e carnes salgadas. Zona urbana: cerca de 50% do total consumido para bebidas destiladas, ou- tras bebidas não alcoólicas e salgados fritos e assados. Zona rural: cerca de 50% para salgados fritos e assados, pizzas e sorvetes. Macrorregiões Frequências de consumo: os alimentos que mais diferiram segundo macrorregiões foram farinha de mandioca (40% no Norte e de 5% no Sul, Su- deste e Centro-Oeste), açaí e peixe (quase exclu- sivo no Norte). Para consumo médio per capita: arroz, feijão, carne bovina e leite integral foram mais consu- midos no Centro-Oeste; feijão no Sudeste; bata- ta-inglesa e iogurtes no Sudeste e no Sul; chá no Sul; preparações à base de leite no Norte. Batata frita (72,2%): consumo muito maior no Nordeste. Pães, bolos e biscoitos diet/light, ou- tros pescados e linguiça: consumo maior no Sul. Mais de 90% do consumo de cerveja e de salgadinhos no Nordeste. Faixa etária Consumo de biscoitos, linguiça, salsicha, morta- dela, sanduíches e salgados, iogurtes, embutidos, sorvetes, sucos/refrescos/sucos em pó reconsti- tuídos e bebidas lácteas diminui com o aumento da idade. Adolescentes: menos consumo per capita de feijão, saladas e verduras em relação a adultos e idosos. Biscoitos recheados com consumo quatro vezes maior do que emadultos. Salgadinhos, bebidas destiladas, cerveja e outras bebidas não alcóolicas, prepara- ções à base de aves, sorvetes e salada de frutas tiveram entre 50% e 60% de con- sumo entre os adolescentes. Renda Arroz e feijão: aumento na frequência e no con- sumo per capita do primeiro (menor renda) para o segundo quarto de renda, com posterior redu- ção nos quartos de maior renda. Ao passo que aumenta a renda, aumenta o consu- mo de verduras, salada crua e frutas, leite desna- tado, derivados do leite e refrigerantes e diminui o de farinha de mandioca. Classes de menor renda: maior quantidade de vários itens que compõem a dieta saudável, como farinha de mandioca, milho, peixe fresco, peixe salgado e carne salgada. Menor quantidade de marcadores negativos da qualidade da dieta (do- ces, refrigerantes, pizzas e salgados fritos e assa- dos). Muitos itens alimentares têm consumo aumentado conforme o aumento da renda, como arroz, saladas e peixe fres- co, exceto para batata-doce, biscoito re- cheado, carne bovina e presunto. Quadro 3 - Resultados gerais e fora do domicílio para as análises estrati� cadas de frequência e consumo médio de alimentos. Fonte: IBGE (2010). Leia o artigo Alimentos mais consumidos no Brasil: Inquérito Nacional de Alimentação 2008-2009, disponível em <http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102013000700005>. 36WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3.1.8 Consumo de energia e nutrientes O consumo de energia médio da população brasileira variou de 1.490 kcal a 2.289 kcal, considerando-se o sexo e a faixa etária. Maiores médias de ingestão energética foram veri� cadas para o sexo masculino, destacando-se os adolescentes entre 14 e 18 anos (2.289 kcal/dia), e menores médias para idosos de ambos os sexos, sobretudo as mulheres (1.490 kcal/dia). Com relação à contribuição percentual dos macronutrientes, entre 27% e 28% da energia foi oriunda de lipídios; entre 15% e 17%, de proteínas; e, entre 54,8% e 57,6%, de carboidratos. Esses valores estão dentro das recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira para lipídios e carboidratos, porém acima da recomendação de proteínas (de 10% a 15%). Quanto à ingestão média diária de açúcar total, em relação aos idosos, o consumo foi 30% mais elevado nos adolescentes e de 15% a 18% nos adultos. Adolescentes de 14 a 18 anos tiveram as maiores médias de consumo de colesterol, ácidos graxos saturados, monoinsaturados, poli- insaturados totais e poli-insaturado linoleico. Sobre a média de � bras, houve maior consumo entre os homens (de 20,4 g a 23,5 g) se comparado ao consumo das mulheres (de 17,6 g a 18,8 g). Para o consumo fora do domicílio, o consumo médio de energia entre os brasileiros foi de aproximadamente 16% da ingestão calórica total, mais frequentemente reportado entre adolescentes, áreas urbanas, para o sexo masculino e para a maior faixa de renda per capita. Os resultados para as análises por situação do domicílio mostram médias de ingestão energética diária maiores entre os adolescentes dos domicílios de áreas urbanas em relação àqueles de áreas rurais. Já entre idosos, a situação é inversa. A participação calórica média de proteínas mostrou-se maior na área rural (exceto para mulheres idosas), enquanto a participação dos lipídios foi maior nas áreas urbanas. As áreas rurais apresentaram maiores médias de ingestão de � bras, e as áreas urbanas, de ingestão de açúcares. Região Faixa de Ingestão Média de: Energia Proteína Carboidrato Lipídios Norte 1660 kcal a 2496 kcal 74,2g a 108,5g 238,8g a 314,9g 44,8g a 68,1g Nordeste 1448 kcal a 2174 kcal 63,2g a 93,5g 208,5g a 303,0g 40,6g a 61,9g Sudeste 1504 kcal a 2421 kcal 63,3g a 94,8g 208,8g a 330,8g 46,9g a 80,5g Sul 1484 kcal a 2232 kcal 56,2g a 70,2g 217,9g a 312,6g 45,1g a 70,3g Centro-Oeste 1453 kcal a 2185 kcal 65,5g a 94,3g 198,0g a 302,0g 44,4g a 68,8g Quadro 4 - Principais resultados das médias de ingestão de energia e macronutrientes segundo macrorregiões. Fonte: IBGE (2010). 37WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 22 - Consumo alimentar médio per capita (g/dia) com base nos dados da POF 2008-2009. Fonte: G1 (2020). 38WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3 .1.8.1 Prevalência de inadequação da ingestão de nutrientes O módulo de consumo alimentar pessoal da POF 2008-2009 também apresenta os resultados das análises descritivas de percentual de indivíduos com consumo abaixo da necessidade média estimada, calculado para algumas vitaminas (A, E, C, D, tiamina, ribo� avina, piridoxina, cobalamina, folato, niacina) e alguns minerais (selênio, zinco, cobre, ferro, fósforo, magnésio e cálcio). O s adolescentes apresentaram prevalências de inadequação elevadas para as vitaminas A, C, D e E, cálcio, fósforo e magnésio. As inadequações foram similares segundo o sexo, com exceção do ferro (11 % entre meninos contra 24% entre meninas) e da ribo� avina (16% para o sexo masculino contra 8,6% para o sexo feminino) entre os adolescentes de 14 a 18 anos. Para os adultos, as inadequações foram maiores para as vitaminas A, C, D e E, cálcio e magnésio, enquanto os idosos tiveram inadequação elevada para piridoxina e tiamina. Quanto ao consumo de sódio, mais de 70% dos adolescentes apresentaram ingestão acima do limite tolerável (UL). Entre adultos e idosos, a proporção de indivíduos com ingestão de sódio acima do limite seguro de ingestão foi elevada, sendo mais elevada nos homens quando comparados às mulheres. 3 .1.8.2 Relação entre o consumo de alimentos e ingestão de nutrientes Nos resultados do Inquérito Nacional de Alimentação da POF 2008-2009, também foram apresentadas as análises conjugadas de consumo alimentar com ingestão de nutrientes marcadores de qualidade da dieta e com micronutrientes relevantes para a saúde pública (vitaminas A, C e ácido fólico e ferro). Para mais informações, leia Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: análise do consumo alimentar pessoal no Brasil, disponível em <https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca- catalogo?view=detalhes&id=250063>. Para a Avaliação de Grupos Alimentares Marcadores de Qualidade da Dieta, as médias populacionais e valores médios abaixo e acima da média populacional foram calculados para vários nutrientes, dentro de cada grupo de indivíduos, que reportaram o consumo de cada um dos alimentos selecionados, para avaliar os marcadores de adequação ou inadequação da dieta. Pode ocorrer de um mesmo indivíduo estar presente em vários grupos, uma vez que o grupo de cada alimento não é exclusivo, e o indivíduo pode ter reportado consumo em mais de um grupo. 39WWW.UNINGA.BR NU TR IÇ ÃO E M S AÚ DE C OL ET IV A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Dentre os principais resultados das análises do consumo alimentar pessoal, tem-se: • Energia: quando comparadas à média nacional, maiores médias de ingestão de energia foram observadas nos grupos de indivíduos que referiram consumo de biscoito recheado, salgadinhos industrializados, pizza, doces e refrigerantes, e menores médias de ingestão de energia para indivíduos que consumiram arroz integral, biscoito salgado e feijão. • Gordura saturada: a média percentual de consumo de gordura saturada em relação ao consumo de energia na população foi de 9%. Em comparação à média populacional, o consumo de biscoito recheado, salgadinhos, pizza, doces e refrigerantes se associou a médias elevadas de contribuição percentual da gordura saturada para a ingestão total de energia. Houve menores valores médios de contribuição percentual da gordura saturada para a ingestão energética para os que referiram consumo de arroz integral, biscoito salgado, feijão e legumes e verduras. • Açúcar: considerando-se a média populacional, o consumo de biscoito recheado, biscoito
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