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Desdobramentos da Boa-fé Objetiva

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Desdobramentos da Boa-fé Objetiva
Direito Civil IV (Universidade Estácio de Sá)
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Desdobramentos da Boa-fé Objetiva
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DESDOBRAMENTOS DA BOA-FÉ OBJETIVA
Sérgio Lyra
RESUMO 
O princípio da boa-fé objetiva traduz-se na relação pautada na honestidade, na justiça e no
equilíbrio moral, a ser observado no conduzir dos negócios jurídicos e nas relações humanas,
e vem, principalmente por intermédio do Código Civil de 2002, ganhando força no
ordenamento jurídico brasileiro ao ser resguardado, em vários aspectos, pelo Direito
Contratual, que nada mais faz além de acompanhar os preceitos fundamentais do Estado
Democrático de Direito e os objetivos principais da nação brasileira definidos em sua Carta
Magna. Observada em seu aspecto prático a necessidade de garantir a boa-fé objetiva se
vislumbra em padrões comportamentais, aqui caracterizadas como institutos da boa-fé
objetiva, comuns à relação liberal promovida pelos contratos, dentre eles, o venire contra
factum proprioum, o supressio, o surrectio e o tu quoque; aqui explanados com mais minúcia.
Palavras-chave: Princípios contratuais. Boa-fé Objetiva. Venire contra factum proprium. 
Supressio. Surrectio. Tu quoque.
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2
1. INTRODUÇÃO
O Direito Contratual versa sobre a relação entre indivíduos no âmbito civil a fim de
garantir que certos princípios sejam respeitados no desenvolver destas relações. Em geral, tais
princípios visam reafirmar e proteger o acordo espontâneo de vontades presente nestes
negócios jurídicos. Embora tenham efeitos no mundo jurídico, os contratos, devido a sua
natureza liberal, produzem resultados que ultrapassam, muitas vezes, as previsões legais.
Deste modo, como fontes informais do direito, os princípios devem sempre ser observados, a
fim de que se possa garantir a justa e equilibrada relação entre as partes contratantes, como
garante, em termos gerais, a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro 1, em seu artigo
4.º, onde afirma que “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia,
os costumes e os princípios gerais de direito”.
Os contratos são negócios jurídicos que materializam a vontade das partes em
transmitir direitos e assumir obrigações, deste modo, não podem agir de forma a contrariar
estas vontades ou a função social do negócio pactuado. Sendo assim, surgem, dentre os
princípios do Direito Contratual, o princípio da autonomia da vontade; o princípio da força
obrigatória do contrato; o princípio da relatividade dos efeitos contratuais; o princípio da
função social do contrato; princípio da equivalência material e o princípio da boa-fé objetiva;
sendo, este último, o foco de estudo do presente artigo.
2. DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA
Como explica Silvio Rodrigues2, “a boa-fé é um conceito ético, moldado nas ideias de
proceder com correção. Com dignidade. Pautando sua atitude pelos princípios da honestidade,
da boa intenção e no propósito de a ninguém prejudicar ”, ou seja, tal princípio busca garantir
o respeito mútuo e a justa elaboração e execução dos contratos. O ordenamento jurídico
brasileiro traz consigo a expressa observância da boa-fé nos contratos, exigida pelo Código
Civil3, em seu artigo 422, onde se lê que “os contratantes são obrigados a guardar, assim na
conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.”,
convergindo, assim, com um dos principais propósitos do país, como afirma a Constituição
1 BRASIL. Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. 1942. Disponível em: < http://www.planal
to.gov.br/CCivil_03/Decreto-Lei/Del4657compilado.htm>. Acesso em: 26 ago. 2018.
2 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. 29ª. ed. São
Paulo: Saraiva, 2003. v. 3. p.61
3 BRASIL. Código Civil Brasileiro. 2002. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
l10406.htm>. Acesso em: 26 ago. 2018.
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3
Federal de 19884, no inciso I de seu artigo 3.º, que elenca, como objetivo fundamental da
nação brasileira “construir uma sociedade livre, justa e solidária”. Deste modo, a boa-fé se
mostra mais que um princípio, mas uma regra a ser observada.
Tendo o princípio da boa-fé um sentido amplo, faz-se necessária a clara distinção entre
boa-fé subjetiva e boa-fé objetiva para que se compreenda sua aplicabilidade. Quanto à boa-fé
subjetiva, entende-se como o caráter psicológico da boa conduta ou, em outros termos, da
crença pessoal do indivíduo com relação às suas intenções; enquanto a boa-fé objetiva se
refere, mais especificamente, ao padrão de conduta ou ao conjunto de atitudes esperadas do
homem médio que visa, de forma leal e honesta, respeitar os direitos alheios e atender às
expectativas geradas por ele ao realizar o contrato. Nesse sentido, a boa-fé objetiva, segundo
Humberto Theodoro Junior5, é “uma conduta correta, sob a ótica mediana do meio social,
encarada não com enfoque do subjetivismo ou psiquismo do agente, mas de forma objetiva”.
A separação dada à boa-fé visa efetivar sua aplicação mesmo que não haja,
necessariamente, intenção do contratante cuja conduta causou prejuízo a outro. Enquanto a
boa-fé subjetiva se mostra abstrata e exige uma análise profunda e individualista do
contratante em questão e de suas intenções, o que se mostra impossível visto o caráter de fato
subjetivo desta, a boa-fé objetiva analisa puramente os fatos e a conduta do mesmo, buscando
a boa-fé não na intenção individual do contratante, mas no efeito de fato produzido por sua
conduta.
O princípio da boa-fé objetiva exige que os contratantes hajam, tanto na elaboração
quanto na execução dos contratos, de acordo com o que a outra parte espera daquela relação
jurídica, não cabendo a nenhum deles se desvencilhar de quaisquer obrigações pactuadas por
mera tecnicalidade. Como exemplo da aplicação deste princípio observa-se, nas obrigações de
pagar quantia em dinheiro, que não há desobrigação do pagamento pelo simples fato de o
credor não realizar a cobrança do modo previsto em contrato, como sevê na decisão do
TJDFT:
"EMBARGOS À EXECUÇÃO. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO.
SUSPENSÃO DOS DESCONTOS. OBRIGAÇÃO DO DEVEDOR DE
PAGAR O DÉBITO. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. TAXAS ANUAL E
MENSAL. DUODÉCUPLO. COBRANÇA AUTORIZADA. LIMITAÇÃO
DA TAXA DE JUROS.I - Embora a suspensão dos descontos do
4 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm >. Acesso em: 26 ago. 2018.
5 THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social. 3.ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. Pág. 19.
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empréstimo consignado não tenha ocorrido por culpa do devedor,
cabia a ele, conforme cláusula contratual e o princípio da boa-fé,
efetuar o pagamento das parcelas vencidas junto à entidade credora ou
por depósito na conta-corrente dela. Como o devedor não cumpriu essa
obrigação, prossegue-se a execução das prestações inadimplidas acrescidas
dos encargos de mora. (...). IV - Apelação desprovida.” (Acórdão
n.770703, 20130111899535APC, Relator: VERA ANDRIGHI, Revisor:
ESDRAS NEVES, 6ª Turma Cível, Data de Julgamento: 12/03/2014,
publicado no DJE: 25/03/2014. Pág.: 304, grifo nosso)
Em sua aplicação no universo jurídico, a boa-fé se traduz em alguns institutos capazes
de alterar a relação obrigacional pactuada pelos contratantes, seja suprimindo ou expandindo
os efeitos do contrato. Dentre eles, encontram-se o venire contra factum proprium, o
surrectio, o supressio e o tu quoque.
2.1. DO VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM 
O brocardo latino venire contra factum proprium, que, em tradução livre, significa “vir
contra seus próprios atos”, representa o atentado à boa-fé objetiva pela atitude nova que não
corresponde à justa expectativa gerada pela outra parte diante de seus atos anteriores. Por
consequência, tal instituto surge para que haja uma vedação do comportamento contraditório,
que se caracterizada por uma sequência objetiva de fatos.
Inicialmente, faz-se necessário, para a caracterização do instituto, que haja uma
conduta primária do contratante, por um longo período de tempo, a ponto de tal
comportamento se mostrar contínuo e inalterável. Diante deste, o outro contratante,
assumindo justificadamente que nada mudará naquele sentido, passa a contar com aquela
conduta como certa e investe seus recursos e confiança nesta condição. A posteriori,
surpreendendo este contratante, que já considerava a conduta anterior como regra, o primeiro
altera sua conduta de modo a causar prejuízos ao outro pela sua repentina alteração de
comportamento. Deste modo, vislumbra-se com facilidade a conduta contraditória do
contratante que, por seus atos, acaba rompendo a confiança contida no contrato e,
consequentemente, a boa-fé esperada pelas partes. Ressalte-se que tais comportamentos, tanto
o primário quanto o posterior, não são necessariamente ilícitos, ferindo não a lei diretamente,
mas, mais especificamente, a boa-fé investida na relação contratual. Como se observa na
decisão do STJ:
“PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS
INFRINGENTES. SEGUROS. INCÊNDIO. CÓDIGO CIVIL DE 1916.
PERDA TOTAL. VALOR DA APÓLICE. PERDA PARCIAL. VALOR
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DOS DANOS EFETIVAMENTE SOFRIDOS. 1. São cabíveis embargos
infringentes quando o acórdão não unânime houver reformado, em grau de
apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado procedente a ação
rescisória (CPC/1973, art. 530). 2. No contrato de seguro, o segurador se
obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do
segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados (CC,
art. 757). É, pois, ajuste por meio do qual o segurador assume obrigação de
pagar ao segurado certa indenização, caso o risco a que está sujeito o
segurado, futuro, incerto e especificamente previsto, venha a se realizar. 3.
O Superior Tribunal de Justiça, à luz do Código Civil de 1916 (art. 1.438),
consagrou o entendimento de que, em caso de perda total de imóvel
segurado, decorrente de incêndio, será devido o valor integral da apólice.
Dessarte, em havendo apenas a perda parcial, a indenização deverá
corresponder aos prejuízos efetivamente suportados. 4. Na hipótese, o voto
vencedor concluiu que houve perda apenas parcial do imóvel. Somado a
isso, a requerente, de forma espontânea, declarou que houve a perda
parcial no momento em que realizou acordo sobre o valor das
mercadorias perdidas. Ao intentar, posteriormente, ação aduzindo a
ocorrência da perda total da coisa para fins de indenização integral, a
autora acaba por incorrer em evidente venire contra factum proprium,
perfazendo comportamento contraditório, de quebra da confiança, em
nítida violação a boa-fé objetiva. 5. Recurso especial não provido. ”
(REsp 1245645/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 24/05/2016, DJe 23/06/2016, grifo nosso)
Nota-se claramente que os elementos chave aqui observados são a confiança entre as
partes e a expectativa gerada, ou seja, o direito abstrato adquirido pelo contratante ao observar
a conduta permissiva do outro. Direito este, que adquire concretamente, ao observar-se a
ocorrência do venire contra factum proprium, através da aplicação do princípio da boa-fé.
2.2. DO SUPRESSIO E SURRECTIO 
No mesmo sentido que o instituto anterior, o supressio, implica na perda de um
direito por conta de uma conduta recorrente e prolongada no tempo que demonstre a
abdicação ou supressão de tal direito por parte daquele que o possui. Caracteriza-se,
mais claramente, pela prática costumeira de aceitar certa violação à direito ou abrir mão
do mesmo por longo período, gerando assim a expectativa daquele que o usufrui de tê-lo
obtido para si. Não cabe àquele que abdicou voluntariamente do direito, reintegra-se, por
um longo período de tempo, exigir que o tenha de volta após permitir o convencimento
da outra parte de que abdicara dele.
Distanciando-se do venire contra factum proprium, no caso do supressio não há
uma mudança de conduta, mas uma inércia ou aceitação por parte do detentor do direito
em exercita-lo. Deste modo, refere-se a perder o direito por não o exigir em tempo
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propício, permitindo que a outra parte se valha dele como seu. Tentar exigi-lo a posteriori,
depois de estabilizada a condição de supressão, fere diretamente o princípio da boa-fé ao
ponto que frustra a expectativa gerada pela própria inércia do interessado em garanti-lo.
Como se lê em decisão publicada pelo STJ:
CIVIL. CONTRATOS. DÍVIDAS DE VALOR. CORREÇÃO
MONETÁRIA. OBRIGATORIEDADE. RECOMPOSIÇÃO DO PODER
AQUISITIVO DA MOEDA. RENÚNCIA AO DIREITO.
POSSIBILIDADE. COBRANÇA RETROATIVA APÓS A RESCISÃO DO
CONTRATO. NÃO-CABIMENTO. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA.
TEORIA DOS ATOS PRÓPRIOS. SUPRESSIO. 1. Trata-se de situação na
qual, mais do que simples renúncia do direito à correção monetária, a
recorrente abdicou do reajuste para evitar a majoração da parcela mensal
paga pela recorrida, assegurando, como isso, a manutenção do contrato.
Portanto, não se cuidou propriamente de liberalidade da recorrente, mas de
uma medida que teve como contrapartida a preservação do vínculo
contratual por 06 anos. Diantedesse panorama, o princípio da boa-fé
objetiva torna inviável a pretensão da recorrente, de exigir
retroativamente valores a título de correção monetária, que vinha
regularmente dispensado, frustrando uma expectativa legítima,
construída e mantida ao longo de toda a relação contratual. 2. A correção
monetária nada acrescenta ao valor da moeda, servindo apenas para
recompor o seu poder aquisitivo, corroído pelos efeitos da inflação. Cuida-se
de fator de reajuste intrínseco às dívidas de valor, aplicável
independentemente de previsão expressa. Precedentes. 3. Nada impede o
beneficiário de abrir mão da correção monetária como forma de persuadir a
parte contrária a manter o vínculo contratual. Dada a natureza disponível
desse direito, sua supressão pode perfeitamente ser aceita a qualquer tempo
pelo titular. 4. O princípio da boa-fé objetiva exercer três funções: (i)
instrumento hermenêutico; (ii) fonte de direitos e deveres jurídicos; e (iii)
limite ao exercício de direitos subjetivos. A essa última função aplica-se a
teoria do adimplemento substancial das obrigações e a teoria dos atos
próprios, como meio de rever a amplitude e o alcance dos deveres
contratuais, daí derivando os seguintes institutos: tu quoque, venire contra
facutm proprium, surrectio e supressio. 5. A supressio indica a
possibilidade de redução do conteúdo obrigacional pela inércia
qualificada de uma das partes, ao longo da execução do contrato, em
exercer direito ou faculdade, criando para a outra a legítima expectativa
de ter havido a renúncia àquela prerrogativa. 6. Recurso especial a que se
nega provimento. (REsp 1202514/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 21/06/2011, DJe 30/06/2011, grifo nosso)
Diametralmente, verifica-se o surrectio, instituto em que se observa não a abdicação
costumeira de um direito, mas a recorrente e prolongada concessão de um direito, a priori
inexistente, de tal modo a gerar naquele que o usufrui a expectativa de tê-lo adquirido. Não
cabe àquele que concedeu o direito por longo tempo nega-lo no futuro, rompendo diretamente
a confiança depositada entre as partes.
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Ambos os institutos, supressio e surrectio, tendem a surgir juntos, visto que para que
haja a aquisição de um direito pela conduta da outra parte, necessária se faz a abdicação do
direito pela parte que pratica tal conduta. Tal relação se observa na decisão do STJ:
RECURSO ESPECIAL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE
COMBUSTÍVEIS. OBRIGAÇÃO DO POSTO DE GASOLINA DE
ADQUIRIR QUANTIDADES MÍNIMAS MENSAIS DOS PRODUTOS.
REITERADO DESCUMPRIMENTO TOLERADO PELA PROMITENTE
VENDEDORA. CLÁUSULA PENAL DESCABIDA. 1. Como de sabença, a
supressio inibe o exercício de um direito, até então reconhecido, pelo seu não
exercício. Por outro lado, e em direção oposta à supressio, mas com ela
intimamente ligada, tem-se a teoria da surrectio, cujo desdobramento é a
aquisição de um direito pelo decurso do tempo, pela expectativa
legitimamente despertada por ação ou comportamento. 2. Sob essa ótica, o
longo transcurso de tempo (quase seis anos), sem a cobrança da obrigação
de compra de quantidades mínimas mensais de combustível, suprimiu, de
um lado, a faculdade jurídica da distribuidora (promitente vendedora) de
exigir a prestação e, de outro, criou uma situação de vantagem para o
posto varejista (promissário comprador), cujo inadimplemento não poderá
implicar a incidência da cláusula penal compensatória contratada. 3. Recurso
especial não provido. (REsp 1338432/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 24/10/2017, DJe 29/11/2017,
grifo nosso)
2.3. DO TU QUOQUE 
A figura do tu quoque, ou “tu também”, origina-se da célebre frase supostamente dita
por Júlio César a seu filho quando este o traíra, “tu quoque, Brute, fili mi? ”, que, em tradução
livre, significa “Tu também, Bruto, meu filho? ”. Tal origem indica muito bem sua aplicação
no direito civil brasileiro com relação a quebra da confiança bilateral contida na relação
contratual. O tu quoque se caracteriza pela exigência de uma das partes em ver cumprida
cláusula ou conduta que, em mesmas condições, ele mesmo não cumprira ou, inversamente,
agir de modo contraditório à sua própria conduta diante das obrigações pactuadas. 
O Código Civil6 traz, em seu artigo 476, um exemplo claro de vedação ao
comportamento contraditório por ocorrência do tu quoque, onde diz que “nos contratos
bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o
implemento da do outro.”. Fica óbvia a intenção do legislador em garantir a manutenção do
equilíbrio contratual a fim de impedir que uma parte se prevaleça da outra exigindo que o
contrato seja cumprido unilateralmente. Não cabe, àquele que descumpriu sua parte do
contrato, exigir do outro que a cumpra. Desse modo, identifica-se tal instituto quando a
6 BRASIL. Código Civil Brasileiro. 2002. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
l10406.htm>. Acesso em: 26 ago. 2018.
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própria parte que exige o cumprimento da obrigação não a cumpriu quando a ela incumbia.
No mesmo sentido, observa-se também a presença do tu quoque quando a conduta posterior
da parte aponta diretamente contra a sua conduta anterior, como no caso julgado pelo STJ:
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CAMBIÁRIO. AÇÃO
DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE TÍTULO DE CRÉDITO. NOTA
PROMISSÓRIA. ASSINATURA ESCANEADA. DESCABIMENTO.
INVOCAÇÃO DO VÍCIO POR QUEM O DEU CAUSA. OFENSA AO
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. APLICAÇÃO DA TEORIA DOS
ATOS PRÓPRIOS SINTETIZADA NOS BROCARDOS LATINOS 'TU
QUOQUE' E 'VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM'. 
1. A assinatura de próprio punho do emitente é requisito de existência e
validade de nota promissória. 2. Possibilidade de criação, mediante lei, de
outras formas de assinatura, conforme ressalva do Brasil à Lei Uniforme
de Genebra. 3.Inexistência de lei dispondo sobre a validade da assinatura
escaneada no Direito brasileiro. 4. Caso concreto, porém, em que a
assinatura irregular escaneada foi aposta pelo próprio emitente. 5.
Vício que não pode ser invocado por quem lhe deu causa. 6.
Aplicação da 'teoria dos atos próprios', como concreção do princípio
da boa-fé objetiva, sintetizada nos brocardos latinos 'tu quoque' e
'venire contra factum proprium', segundo a qual ninguém é lícito
fazer valer um direito em contradição com a sua conduta anterior ou
posterior interpretada objetivamente, segundo a lei, os bons costumes
e a boa-fé 7. Doutrina e jurisprudência acerca do tema. 8. RECURSO
ESPECIAL DESPROVIDO. (REsp 1192678/PR, Rel. Ministro PAULO
DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
13/11/2012, DJe 26/11/2012, grifo nosso)
Aqui, vemos que foi vedado o questionamento da validade da assinatura no
documento pela própria parte que o juntou aos autos. Ora, não pode aquele que deu fé pública
ao documento indicando-o como verdadeiro, posteriormente, ao se ver prejudicado pelas
informações nele contidas, questionar sua autenticidade. Tal conduta ofenderia o princípio da
boa-fé contido na relação processual, visto que se espera veracidade dos documentos juntados
aos autos, esta questionada pela conduta contraditória durante o processo.
3. CONCLUSÃO 
Fica evidente, ao observar o alcance do princípio da boa-fé, e os institutos que dela
derivam no ordenamento jurídico brasileiro, o atendimento à intenção constitucional de
fundar um Estado Democráticode Direito que seja pautado na honestidade, na lealdade, na
justiça e no respeito mútuos. Como fonte informal do direito, o princípio da boa-fé garante o
equilíbrio e a função social dos contratos, indispensáveis para a justa relação jurídica entre
indivíduos.
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9
Ainda que esperada de todo cidadão, a justiça não poderia de fato deixar desamparada
a tutela da boa-fé. Deste modo, tanto a Constituição Federal quanto o Código Civil brasileiro
trazem institutos, ordenamentos e regras que garantem e protegem a confiança investida nas
relações civis e, ao vislumbrar os casos concretos trazidos aqui, percebe-se que a
jurisprudência caminha no mesmo sentido. De outra forma, aquele que se envolvesse em
quaisquer relações jurídicas se veria dependendo da mera confiança no indivíduo que com ele
pactua, o que, vista a natureza onerosa de algumas dessas relações civis, traria sérias
consequências para o status quo da sociedade brasileira enquanto Estado de Direito.
Tão importante quanto a garantia da boa-fé, a caracterização de sua forma objetiva no
Código Civil permite que haja uma verdadeira efetivação do objetivo essencial deste princípio.
Sem que se observasse o caráter objetivo da boa-fé, dificilmente se defenderia a confiança
depositada pelas partes diante da impossibilidade de analisar propriamente seu caráter subjetivo.
Assim, não há o que questionar quanto a importância de respeitar o princípio da boa-fé
objetiva, devendo o ordenamento, a cada evolução, caminhar em direção de salvaguarda-lo
com mais fervor, a fim de que se haja segurança contratual plena nas relações civil brasileiras.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm >. Acesso 
em: 26 ago. 2018.
_______. Código Civil Brasileiro. 2002. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil
_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 26 ago. 2018.
_______. Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. 1942. Disponível em: <
http://w
ww.planalto.gov.br/CCivil_03/Decreto-Lei/Del4657compilado.htm>. Acesso em: 26 ago. 2018.
_______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1192678/PR – Paraná. Relator:
Ministro Paulo De Tarso Sanseverino. Pesquisa de Jurisprudência, Acórdãos, 26 novembro
2012. Disponível em: < http://www.stj.jus.br/SCON/ >. Acesso em: 31 ago. 2018.
_______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1202514/RS – Rio Grande do
Sul. Relator: Ministra Nancy Andrighi. Pesquisa de Jurisprudência, Acórdãos, 21 junho 2011.
Disponível em: < http://www.stj.jus.br/SCON/ >. Acesso em: 31 ago. 2018.
_______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1245645/RS – Rio Grande do
Sul. Relator: Ministro Luis Felipe Salomão. Pesquisa de Jurisprudência, Acórdãos, 24 maio
2016. Disponível em: < http://www.stj.jus.br/SCON/ >. Acesso em: 31 ago. 2018.
_______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1338432/SP – São Paulo.
Relator: Ministro Luis Felipe Salomão. Pesquisa de Jurisprudência, Acórdãos, 24 outubro
2017. Disponível em: < http://www.stj.jus.br/SCON/ >. Acesso em: 31 ago. 2018.
_______. Tribunal Regional Federal do Distrito Federal e dos Territórios. Apelação Cível nº
20130111899535 – Distrito Federal. Relator: Vera Andrighi. Pesquisa de Jurisprudência,
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	1. INTRODUÇÃO
	2. DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA
	2.1. DO VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM
	2.2. DO SUPRESSIO E SURRECTIO
	2.3. DO TU QUOQUE
	3. CONCLUSÃO
	REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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