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Análise do Discurso das Fake News no Caso Marielle Franco_Marcella Borba da Silva

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA 
MARCELLA BORBA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DO DISCURSO DAS FAKE NEWS 
 NO CASO MARIELLE FRANCO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Palhoça 
2018
 
 
 
MARCELLA BORBA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DO DISCURSO DAS FAKE NEWS 
 NO CASO MARIELLE FRANCO 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado ao Curso de Jornalismo da 
Universidade do Sul de Santa Catarina 
como requisito parcial à obtenção do título 
de bacharel em Jornalismo. 
 
 
 
Orientadora: Profa. Dra. Solange Maria Leda Gallo 
 
 
 
 
 
Palhoça 
2018 
 
 
3 
 
MARCELLA BORBA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DO DISCURSO DAS FAKE NEWS 
 NO CASO MARIELLE FRANCO 
 
 
 
 
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi 
julgado adequado à obtenção do título de 
bacharel em Jornalismo e aprovado em 
sua forma final pelo Curso de Jornalismo 
da Universidade do Sul de Santa Catarina. 
 
 
 
 
Palhoça, 10 de dezembro de 2018. 
 
 
 
______________________________________________________ 
Professora Dra. e orientadora Solange Maria Leda Gallo 
Universidade do Sul de Santa Catarina 
 
______________________________________________________ 
Professora Dra. Giovanna Gertrudes Benedetto Flores 
Universidade do Sul de Santa Catarina 
 
______________________________________________________ 
Professora Dra. Juliana da Silveira 
Universidade do Sul de Santa Catarina 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho à minha avó Déspina 
e ao meu avô Jair, que infelizmente não 
estão mais presentes fisicamente, mas que 
levo em meu coração e que servem de 
inspiração por tudo que fizeram pelos 
meus pais e por mim. 
 
 
 
5 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Quero primeiramente agradecer a Deus por me permitir realizar o sonho de 
ser jornalista, me dar força quando acreditei que não tinha mais e por me mostrar que 
tudo é possível quando você acredita e corre atrás. Agradecer também a todas as 
dificuldades que passei até aqui, pois elas me fizeram ser quem sou hoje e que 
tornaram minhas vitórias muito mais almejadas e saborosas. 
Agradecer à minha mãe Gabriela, por sempre sonhar acordada junto 
comigo, por me ajudar no que foi preciso e por nunca deixar faltar o que para mim é 
essencial, o amor. Ao meu pai Marcelo, que nunca mediu esforços para me ver feliz e 
que sempre acreditou no meu potencial. À minha irmã Flávia, por me fazer rir todos 
os dias, ser parceira em tudo que eu resolvo fazer e por me inspirar a ser uma pessoa 
melhor. Ao meu irmão Bernardo, que por mais novo que seja, já me ensinou muito 
sobre a vida e sobre o amor incondicional. 
Agradeço à minha avó Henriqueta, por sempre olhar o lado bom da vida. À 
minha madrinha Andréa e o meu padrinho Hugo, por gostarem e acreditarem em mim 
e me incentivarem a sempre querer crescer. Ao meu primo Hiago, que sempre se fez 
presente mesmo ausente e ao meu primo Yuri, que sempre foi superprotetor, mas que 
nunca deixou de dar uma palavra amiga. À minha prima e melhor amiga Isadora, por 
ser sempre corajosa e me mostrar que viver requer coragem, e à minha prima Júlia, 
por sempre me ouvir e me fazer rir. 
Ao meu namorado André, por estar presente desde o primeiro dia da minha 
graduação e por me ajudar em tudo que precisei. Às minhas melhores amigas Agatha 
Luzzoli, Amanda Oliveira, Ana Carolina Meyer, Cassiana Demeneck, Dariana Nesello, 
Gabriela Itaya, Gabriella Rossini, Letícia Bahr, Julia Zaguini, Nicole Buss e Rafaela 
Mattar, por sempre me darem apoio, amor e carinho que preciso. Aos meus melhores 
amigos Alexandre Faoro (in memoriam) e Lucas Martins, que tornaram inesquecíveis 
os momentos de alegria. 
Às minhas melhores amigas e futuras colegas de profissão, Isabela Caringi, 
Maria Eduarda Amaral e Fernanda Amaral, por viverem o mesmo sonho do jornalismo 
comigo. Sem a amizade de todos vocês, meus amigos, esta conquista não teria tanta 
graça. A amizade é o que faz a vida mais feliz. Obrigada por tanto. 
À minha orientadora Solange, pelos ensinamentos dados durante nossos 
encontros e por me inspirar tanto a seguir na vida acadêmica. À Debbie Noble, por me 
 
 
6 
 
ajudar na conclusão deste trabalho trazendo seu olhar crítico. A todos os professores 
que tive, por me mostrarem que a educação é o caminho para melhorar a vida das 
pessoas. E agradecer a todos que conheci e tudo que aprendi nessa caminhada 
dentro da universidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“É necessário fazer outras perguntas, ir 
atrás das indagações que produzem o 
novo saber, observar com outros olhares 
através da história pessoal e coletiva, 
evitando a empáfia daqueles e daquelas 
que supõem já estar de posse do 
conhecimento e da certeza.” 
 
(Mário Sérgio Cortella) 
 
 
8 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho monográfico de conclusão de curso de Jornalismo 
propõe-se a analisar a cobertura midiática feita após a morte da vereadora carioca 
Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes. Foram produzidas fake news sobre 
Marielle nas redes socais e replicadas pela grande mídia como verdades, sem muita 
resistência. Objetiva-se analisar discursivamente as práticas discursivas e 
jornalísticas, partindo do referencial teórico-metodológico da Análise do Discurso. 
Como corpus, foram selecionados textos em que já existiam pré-construídos e 
mémorias discursivas, que trabalham dando o efeito de sentido desejado pelos 
veículos em questão. Ainda, buscou-se avaliar como essa situação desencadeia o 
cenário que vivemos hoje, e a partir dele foi possível discutir sobre pós-verdade e fake 
News: ambos temas atuais e presentes diariamente na vida das pessoas, seja nas 
redes sociais ou nos grandes veículos de comunicação. Essa questão nos faz refletir 
e repensar sobre o que é verdade e/ou mentira no jornalismo. O resultado obtido com 
essa monografia indica que neste caso há deslocamento das noções de verdadeiro e 
falso, que as fake news são uma questão política e que a ideologia dominante 
presente nas produções jornalísticas da grande mídia colaboram para as práticas 
racistas e elitistas. 
 
Palavras-chave: Análise do Discurso; fake news; Marielle Franco; discurso 
jornalístico; pós-verdade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
ABSTRACT 
 
The present monographic work of course completion is a media review carried out after 
the death of Marielle Franco teacher and her driver Anderson Gomes. False news 
about Marielle was produced on social networks and replicated by the mainstream 
media as truths without much resistance. It aims to study discursively as discursive 
and journalistic practices, starting from the theoretical-methodological reference of 
Discourse Analysis. As a corpus, texts that already existed and the discursive 
memories were found, which give the effect of meaning to the vehicles in question. 
Still, it was sought as an experiment unleashes the scenario that we live today, and 
from a possible inquiry about post-truth and false news: current themes and reports in 
people's lives, whether in social networks or in large communication vehicles. This 
question makes us reflect and rethink about what is true and false. The result was with 
the monograph indicating that there is a displacement of the notions of true and false, 
which as false news, are a political issue and a critical ideology present in journalistic 
productions of the mass media collaborate for racist and elitist practices. 
 
Keywords: Speech analysis; fake news; Marielle Franco; journalistic discourse; post-
truth.10 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
 
Figura 1 - Imagem do site Marielle Franco. ............................................................... 32 
Figura 2 - Imagem do comentário da desembargadora Marilia Castro Neves .......... 35 
Figura 3 - Imagem da matéria da Folha de São Paulo .............................................. 37 
Figura 4 – Imagem 2 da matéria da Folha de São Paulo .......................................... 38 
Figura 5 - Imagem da matéria da Revista Veja ......................................................... 39 
Figura 6 - Imagem da nova postagem da desembargadora no Facebook ................ 41 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇAO ....................................................................................................... 12 
2. O JORNALISMO NA ERA DA PÓS-VERDADE E FAKE NEWS ......................... 16 
2.1 A CRISE DO JORNALISMO ............................................................................ 16 
2.2 PÓS-VERDADE E AUTOVERDADE ............................................................... 18 
2.3 FAKE NEWS .................................................................................................... 21 
3 OS PRINCÍPIOS DA ANÁLISE DO DISCURSO ................................................... 24 
4 ANÁLISE DO CASO MARIELLE FRANCO .......................................................... 32 
4.1 ANÁLISE DO SITE FEITO SOBRE MARIELLE APÓS SUA MORTE .............. 32 
4.2 ANÁLISE DO COMENTÁRIO DA DESEMBARGADORA ................................ 34 
4.3 ANÁLISE DA MATÉRIA DA FOLHA DE SÃO PAULO ..................................... 37 
4.4 ANÁLISE DA MATÉRIA DA REVISTA VEJA ................................................... 39 
4.5 CONCLUSÃO DA ANÁLISE ............................................................................ 41 
4 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 43 
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 46 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
1 INTRODUÇAO 
 
Temas como o jornalismo em crise ou fake news estão em ascensão tanto 
no campo acadêmico, quanto social. Essas discussões são de extrema importância 
para o jornalista na hora de exercer sua profissão. Atualmente, o produto jornalístico 
está muito alinhado ao comercial, o que traz à tona a história da imprensa. “A 
vertiginosa expansão dos jornais no século XIX permitiu a criação de novos empregos 
neles [...] e ganhou um novo objetivo – fornecer informação e não propaganda.” 
(TRAQUINA, 2005, p.34). Ressalta-se que “propaganda” nesse caso tinha relação 
com a propaganda política e a disputa dos partidos que se fazia por meio da imprensa. 
Nesse sentido os jornais eram um meio de exercer a democracia, ou seja, a luta pelos 
sentidos (república, monarquia, liberalismo, etc). 
A expansão do jornalismo começou no século XIX juntamente com a 
expansão da imprensa, mas conquistou maior espaço no século XX a partir do 
surgimento de novos meios de comunicação social, como o rádio e a televisão 
(TRAQUINA, 2005). O desenvolvimento da imprensa está relacionado com a 
industrialização da sociedade e com o desenvolvimento de uma nova forma de 
financiamento, a publicidade (TRAQUINA, 2005, p.36). 
A expansão da imprensa também foi impulsionada pela liberdade, por meio 
da conquista de direitos fundamentais e da democracia como nova forma de governo. 
Os jornais passaram a ser reconhecidos como um meio de denunciar as mazelas e 
injustiças sociais. Desse modo, o jornalismo passou a figurar como um aliado da 
democracia e a ser considerado como o Quarto Poder (SODRÉ, 1999). 
O jornalismo atual enfrenta uma nova grande crise, que no início 
aparentemente se deu pela questão do fim da obrigatoriedade legal da formação 
específica em cursos superiores de jornalismo para o exercício da profissão, exigência 
que, durante os últimos trinta anos, mobilizou fortemente a comunidade profissional 
de jornalistas, organizações jornalísticas e outros agentes sociais no país (SILVA, 
2011). O jornalismo vive em um estado chamado de “desinformação geral”, que é 
relacionado à alteração dos hábitos da população em relação à disseminação da 
informação, notadamente diferente, na era digital. O fato das pessoas terem acesso a 
todo momento a qualquer tipo de informação, faz com que a população, cada vez 
mais, se desabitue do consumo tradicional de notícias produzidas pelas agências. O 
 
 
13 
 
discurso jornalístico acaba por não estar em nenhum lugar, pelo fato dele querer estar 
em todos. 
O cuidado com a veracidade é uma questão crucial para que uma notícia 
seja veiculada. Mas o que é verdadeiro? Zarzalejos (2017) disserta que a “pós-
verdade” não é sinônimo de mentira. Ela descreve uma situação na qual, durante a 
criação e formação da opinião pública, os fatos objetivos acabam tendo menos 
influência do que os apelos às emoções e as crenças pessoais”. Esse argumento, 
segundo Zarzalejos (2017), consiste na banalização da verdade e da objetividade dos 
dados e no discurso do espetáculo. “O jornalismo tem sido adaptado ao espetáculo 
e através dessa seleção de conteúdo, a mídia tem o poder de construção da 
realidade, criando pessoas incapazes de contestar, garantindo assim sua ‘verdade 
absoluta’” (BAYER, 2013). 
A ideia de espetáculo sublinhada por Guy Debord (1997), diz que o 
espetáculo está onde o capitalismo está presente. O espetáculo é tudo aquilo que 
atrai, que chama atenção de algo que não é comum nos dias do cotidiano da 
sociedade. O conceito de Wilson Gomes (1996) sobre o jornalismo espetáculo é, na 
sua opinião, a prática do jornalismo que utiliza elementos do ato teatralizado. Na 
prática isso acontece em diversas áreas, mas principalmente de forma perigosa no 
campo da publicidade. Aqui, ainda, outra questão se coloca: o que é a objetividade? 
Diante da realidade apresentada, objetiva-se com este trabalho discutir e 
analisar a noção de verdade, que está diretamente relacionada à ética e moral 
jornalística. Assim como discutir e analisar as fake news no caso Marielle Franco. 
Utilizaremos o referencial teórico-metodológico da Análise do Discurso para 
questionar as posições e historicidades que o discurso jornalístico traz. 
Inicialmente será apresentado o cenário atual do jornalismo e seus 
desdobramentos, no levantamento teórico sobre a pós-verdade e as fake news, que 
afetam e prejudicam a democracia política e os profissionais do jornalismo, uma vez 
que se toma como fato, aquilo que não é legítimo e não tem credibilidade. 
 Em seguida, analisaremos o corpus da análise, a partir das matérias 
selecionadas da Folha de São Paulo, Veja, CNJ e O Globo. Além dos comentários 
feitos no Facebook. 
A temática das fake news ganha destaque na mídia desde que a luta pela 
sobrevivência na era da informação existe, e ela acontece, de forma consciente, 
quando uma fonte é escolhida para direcionar a reportagem. Desse jeito o jornalista 
 
 
14 
 
consegue produzir uma matéria direcionando o efeito de sentido desejado para o 
público em questão. Recuero (2009) cita que qualquer indivíduo pode ser uma 
potencial fonte para o jornalismo, cabendo ao profissional estabelecer critérios que 
avaliem a credibilidade das fontes. Segundo Pires (2017) “esse termo diz respeito a 
sites e blogs que publicam intencionalmente notícias falsas, imprecisas ou 
simplesmente manipuladas, com a intenção de ajudar ou combater algum alvo, 
normalmente político”. 
Os veículos acabam replicando notícias que já circularam em outros sites, 
apenas mudam a chamada para alterar o sentido e chamar atenção do público. Muitas 
vezes com um teor sensacionalista. Silva (2001, p. 23) disserta que “na era da 
informação, a maioria da população brasileiracontinua desinformada e manipulada”. 
Isso acontece muito nas redes sociais, onde o botão ‘compartilhar’ ou ‘retweet’ é a 
porta para que as fake news ganhem força na internet e se disseminem como um fato. 
Esse tipo de notícia é publicado durante tensões políticas e compartilhado por 
milhares de pessoas, transformando-se em senso comum (PIRES, 2017). 
Barnhurst (2014) afirma no artigo “The Problem of Realist Events in 
American Journalism” sobre o problema atual do jornalismo nos Estados Unidos, onde 
palavras como ‘verdade’ e ‘fatos’ funcionam como espécie de “elevador”, podendo ser 
substituídas uma pela outra. “A tradição filosófica mais densa dirá que a verdade pode 
ser inesgotável, inalcançável em sua plenitude, mas existe; e que, se a objetividade 
total certamente não é possível, há técnicas que permitem [...] minimizar graus 
aceitáveis de subjetivismo” (GRUPO GLOBO, 2011). 
Segundo Mota (2008, p. 335), em sociedades complexas como o Brasil, 
uma discussão equilibrada e pluralista dos problemas sociais só pode ser feita com a 
participação direta dos meios de comunicação. Isso faz com que a relevância do tema 
seja alta para a sociedade, já que somente os meios de comunicação têm a 
capacidade de atingir grande parte da população. 
Consequentemente, é necessário abordar a realidade atual sobre as 
notícias se tornarem legitimas nas redes. Este fato pode estar relacionado à questão 
da fonte, até porque o jornalismo se justifica pelas suas fontes, quando questionado. 
No momento em que o jornalista diz ter uma fonte verídica, por mais que não se diga 
quem é a fonte, e qual credibilidade ela tem, o fato de tê-la sempre foi importante e 
necessário. Esse método é utilizado para justificar as verdades relativas e fazer com 
que as notícias tenham o efeito de verdade absoluta e sejam isentas de parcialidade. 
 
 
15 
 
O trabalho seguirá essa linha de discussão e análise para compreender 
questões como a veracidade no jornalismo, desta maneira abordando dentro deste 
tópico a ética e moral jornalística; mostrar a tendência de fact-checking como 
curadoria para superar a crise do jornalismo e questionar a presença das fake news 
na internet. Os textos, selecionados da cobertura midiática realizada após a morte da 
vereadora carioca, serão analisados e baseados na teoria da AD, para mostrar que 
existem sentidos anteriores – pré-construídos. 
 
 
 
16 
 
2. O JORNALISMO NA ERA DA PÓS-VERDADE E FAKE NEWS 
 
2.1 A CRISE DO JORNALISMO 
 
O monopólio da informação, embora ainda esteja nas mãos das grandes 
mídias, começa a apresentar novos caminhos. Hoje, com as redes sociais e a internet, 
os novos fatos e notícias chegam muito rápido e dão voz a quem antes não tinha 
espaço. (ASCOM, 2013). Portanto, não há mais a necessidade de esperar um jornal 
informar sobre algum fato ou acontecimento, basta acessar a internet. E além do mais, 
hoje qualquer pessoa pode gerar conteúdo e acabar sendo a pauta dos veículos de 
comunicação. 
“A mudança no jornalismo está intimamente ligada à expansão do 
webjornalismo, pois a evolução dos meios de comunicação social está relacionada ao 
desenvolvimento de novas tecnologias, devido ao maior poder de alcance e 
distribuição que tais meios proporcionam” (AGUIAR; COUTO, 2017). Em meio a este 
cenário, as fake news causam grande repercussão. Em outros tempos, elas talvez 
fossem chamadas de rumores ou sátiras. Mas o que elas causam é um forte impacto, 
principalmente pela numerosa divulgação e por encontrar audiências que aceitam sem 
contestar (QUIRÓS, 2017). 
 “A força do rumor ou mentira está na credibilidade daqueles que as 
propagam” (QUIRÓS, 2017). As mídias tradicionais acabam por legitimar o discurso 
feito por pessoas que não tem poder ou conhecimento para confirmar tais teorias ou 
suposições. Mas mesmo assim, por essas pessoas terem cargos profissionais 
considerados importantes para a sociedade, elas acabam legitimando sem procurar 
outras fontes, que confirmem aquele discurso. 
Alsina (2009, p. 72) explica que, “a mídia localiza, qualifica e classifica os 
acontecimentos de acordo com o mapa da realidade social. Essas qualificações são 
avaliativas e normativas. Ou seja, elas determinam quais as realidades que são 
aceitáveis e quais não são”. Por mídia, entendemos uma noção abrangente, que serve 
como dispositivo de interação entre várias pessoas e regiões diferentes, que acaba 
por ter um espaço pelo o qual se interage e é também um sujeito, que produz um 
discurso próprio em um lugar poderoso de fala com a ajuda da internet (FRANÇA, 
2012). Diante desse conceito, é possível compreender com a colocação de Alsina 
 
 
17 
 
(2009), que é a mídia pauta como destaque o que considera importante ser noticiado, 
e o que ela enxerga não ter motivo para ser divulgado, ela não divulga. 
Com a facilidade para acessar a mídia, instala-se outra realidade, que é a 
da velocidade e o alcance público da contestação a uma notícia inverídica ou precária, 
que antes, “o protesto limitava-se a telefonemas para a redação ou a cartas que a 
seção do leitor publicaria (ou não) no dia seguinte” (MORETZOHN, 2007, p. 262). 
Hoje, os jornais e sites de notícia ainda disputam o privilégio de produzir 
um furo de reportagem, por mais difícil que isso seja e, justamente, essa urgência faz 
com que as matérias sejam publicadas antes mesmo da checagem de sua veracidade. 
O fato é que a produção e reprodução de notícias mudou com a internet. 
Segundo Kran (2013), “a crise pode ser vista de diferentes formas, dependendo de 
quem faz a análise. Nas grandes redes, pode-se dizer que existe crise. Nos últimos 
meses, dois grandes jornais norte-americanos foram vendidos.” A crise pode ser 
entendida a partir deste trecho: 
 
Existe uma crise dentro do impresso, mas se você perguntar aos grupos que 
trabalham com mídias alternativas, não existe uma crise, existe uma 
reformulação na forma de produzir e distribuir esse conteúdo que antes do 
advento da internet estava nas mãos de poucos. No que diz respeito à 
capacidade de distribuição de conteúdos, a mídia ainda está nas mãos de 
poucos. A rede Globo detém 45% da audiência, mas, em contrapartida, fatura 
70% do bolo publicitário. A crise pode ser vista de várias formas e é nesse 
ambiente que estamos verificando a revolução (KRAN, 2013). 
 
Ao buscar na rede alguma informação sobre algo que você quer saber, não 
significa que o que você encontrou é legítimo. Notícias falsas são publicadas 
diariamente na internet. Isso acontece em decorrência das páginas na web possuírem 
conteúdo não checado por fontes confiáveis, tornando o argumento tendencioso ou 
até mesmo mentiroso. Como o usuário não se informa somente através de materiais 
jornalísticos conceituados, ele acaba por consumir “toda e qualquer informação que 
tiver contato, segundo suas estratégias particulares de interação na rede (PRIMO, 
2011, p. 141). E isso acarreta na produção e circulação das fake news, e na crise em 
que o jornalismo se encontra. Spenthof (2013) disserta sobre a atual situação da 
prática jornalística: 
 
Há uma crise de modelo de negócios da mídia, um modelo baseado na 
concentração de poucos veículos, quase um monopólio de distribuição de 
informação de grande alcance. De fato, nesse aspecto, a internet criou um 
novo cenário, concorrencial, inclusive, para os veículos de comunicação. Por 
outro lado, agora mesmo, o Washington Post foi vendido para o magnata da 
Amazon que, em uma carta ao público e aos jornalistas mantidos na empresa, 
 
 
18 
 
disse que o lugar do jornalismo na sociedade está mantido e precisa ser 
reforçado. Eu não concordo com algumas análises de que o jornalismo 
acabou. Houve uma mudança de plataforma de distribuição e veiculação e, 
com isso, rearranjos na forma de produção da notícia e informação. Mas a 
informação como coisa pública, que é fruto da modernidade, baseada nos 
direitos humanos fundamentais,entre eles, o de receber informações de 
qualidade e de credibilidade sobre a coisa pública, não acabou (SPENTHOF, 
2013). 
 
Como refletido por Spenthof (2013), embora a veiculação de notícias tenha 
se reconfigurado, isso não significa que não será mais produzida informação de 
qualidade. Até porque o cidadão não vira jornalista, assim como não vira médico, 
engenheiro ou eletricista. “Existe nas sociedades contemporâneas uma divisão do 
trabalho com várias atividades que precisam ser desempenhadas por profissionais 
que adquiriram habilidades para exercer a profissão” (BRAGA, 2013). A profissão de 
jornalista é questionada inclusive por quem a pratica, pelo fato de todos serem 
capazes de comunicarem. Por isso, parece simples produzir informação. 
 
Mas precisamos diferenciar o que é informação jornalística. Informação, 
todos produzimos. Um professor de biologia produz muito mais informação 
sobre biologia do que um jornalista. Mas o jornalista é o profissional que pode 
trabalhar as informações que são produzidas por outros profissionais e fazer 
isso chegar de forma bastante compreensível para o público em geral. 
Quando falamos de informação jornalística, estamos falando de uma 
informação específica que pressupõe uma mediação com as produções de 
fontes de informação e um burilamento dessa informação com base nas 
técnicas e princípios jornalísticos que estão por trás da produção da 
informação. E é muito estranho que surjam debates sobre o fim do jornalismo. 
Para a Fenaj e para a Federação Internacional dos Jornalistas, o jornalismo 
se reafirma como necessidade nessa profusão imensa de informação que, 
muitas vezes, mais confunde do que esclarece (BRAGA, 2013). 
 
Essa reflexão feita por Braga (2013) sobre o jornalismo e a atividade 
profissional do jornalista é muito atual, porque hoje, com a facilidade em se comunicar 
com as pessoas através da internet, o cidadão comum considera que tem propriedade 
para produzir informação sobre qualquer assunto, seja ele qual for. Segundo o autor, 
mesmo que não seja obrigatória a graduação para atuar como jornalista, somente na 
universidade é que o profissional vai encontrar o campo de conhecimento técnico, 
teórico e ético, que não se encontra no mercado de trabalho. Ao contrário, no mercado 
encontramos interesses que muitas vezes se contrapõem à ética jornalística. 
 
2.2 PÓS-VERDADE E AUTOVERDADE 
 
O conceito de pós-verdade (“post-truth”) foi escolhido pelo Dicionário 
Oxford como a palavra do ano de 2016. Definição essa, que consiste em descrever o 
 
 
19 
 
momento que vivemos hoje como “circunstância em que os fatos objetivos são menos 
influentes na opinião pública que as emoções e as crenças pessoais” (GOOCH, 2017). 
Segundo Llorente (2017), estamos vivendo “a conjuntura da pós-verdade, 
na qual o objetivo e o racional perdem peso diante do emocional ou da vontade de 
sustentar crenças, apesar dos fatos demonstrarem o contrário. “A pós-verdade não é 
um fenômeno novo. Ao contrário. O que hoje chamamos de pós-verdade, em outras 
décadas chamávamos de propaganda. A criação de realidades alternativas sob os 
comandos do controle dos meios de comunicação” (MEDRÁN, 2017). No jornalismo, 
a pós-verdade: 
 
[...] pode ser tratada como uma operação para desacreditar a imprensa, 
evitando que evidências sejam expostas. Mesmo que busque sempre 
informar de variadas formas, nem sempre o jornalismo foi a mais pura 
verdade. Deveria ser acrescido à definição de jornalismo o fato de ser uma 
atividade praticada por seres humanos suscetíveis a diferentes interpretações 
da realidade. Muitas vezes, a pós-verdade é artifício para acobertar uma 
verdade inconveniente, como tirar a credibilidade do jornalismo (PALMA, 
2017). 
 
“Os discursos sobre ‘pós-verdade’ e ‘fake news’ fazem trabalhar os 
sentidos de verdade e mentira, real e ficção, atual e virtual” (ADORNO, SILVEIRA, 
2017). Por isso que hoje os valores do que é verídico ou não já não dependem mais 
de quem fala e sim de quem quer acreditar em quê. Isso transforma a história dos 
veículos de comunicação, pois a credibilidade do jornalismo não depende mais de 
uma notícia ser produzida a partir de fontes confiáveis, ou não. 
A pós-verdade pode se relacionar com a religião, que também é uma forma 
de poder e que não tem nenhuma ligação com a realidade, mas que também produz 
uma espécie de jornalismo próprio: 
 
O funcionamento da ideologia religiosa transforma a força em direito e a 
obediência em dever. [...] vamos caracterizar o discurso religioso com aquele 
em que fala a voz de Deus: a voz do padre – ou do pregador, ou em geral, de 
qualquer representante seu – é a voz de Deus (ORLANDI, 1996. p. 241). 
 
Através da ideologia religiosa as pessoas passam a acreditar no que não 
veem e juram que aquilo existe, portanto, a religião também é um exemplo de pós 
verdade. Segundo Vogt (2017), pós-verdade é: 
 
[...] mais um conceito-coringa, próprio da contemporaneidade, como pós-
modernidade, e outros pós que virão. Diz tudo e diz nada, porque é feito da 
confusão entre o que se transforma, por conhecer, e a transformação do 
conhecimento na banalidade de receitas de autoajuda epistemológica. Mas 
é, ele próprio, derivado, entre outras coisas, da mudança de paradigma 
 
 
20 
 
científico que se deu ao longo do século XX, com ênfase na substituição de 
um modelo ontológico de verdade por um modelo probabilístico (VOGT, 
2017). 
 
Como exemplo do que está acontecendo nesse momento de pós-verdade, 
o website Meio&Mensagem publicou no final de 2016, a pesquisa Consumo de 
Notícias do Brasileiro, realizada pela agência Advice Comunicação Corporativa em 
parceria com a BonusQuest. Nela, participaram mais de mil brasileiros. Dos 78% dos 
brasileiros que afirmaram se informar pela rede social, 42% já compartilharam notícias 
falsas. Apenas 39% costumam checar as informações, e de cada 10 pessoas, 6 se 
informam principalmente pelo Facebook. Esse último dado nos permite observar que 
as pessoas procuram por informações verídicas e legítimas num lugar sem 
credibilidade, que é o caso das redes sociais. Genesini (2018) comenta, sobre o 
Facebook: 
 
Tomemos o Facebook como exemplo. A plataforma é o caso mais crítico de 
disseminação de fake news. Mais do que Google ou Twitter. Foi lá que os 
russos pintaram e bordaram com as notícias pagas e grátis. Mark Zuckerberg 
já reconheceu que tem um problema para resolver e tomou para si a missão. 
Em um post na própria rede, no final de 2017, disse que sua prioridade para 
2018 é consertar o Facebook. Admitiu que a plataforma “fez demasiados 
erros em impedir o uso inadequado de suas ferramentas” (GENESINI, 2018). 
 
“A construção da credibilidade é um processo custoso e frágil. Cada pedra 
exige tempo e esforço para ser colocada na pirâmide da reputação; quando se retiram 
algumas, porém, a construção inteira pode cair em poucos instantes (GALLO, 2017, 
p. 83). A mídia tradicional vive esse problema atualmente com as fake news, tanto é 
que está sendo muito utilizado o fact-checking (checagem de fatos), que serve para 
confrontar às histórias com os dados, pesquisas e registros. 
Nesse momento de pós-verdade, surge outra questão que contribui para 
esse contexto, que é o que podemos chamar de “autoverdade”. “Algo que pode ser 
entendido como a valorização de uma verdade pessoal e autoproclamada, uma 
verdade do indivíduo, uma verdade determinada pelo ‘dizer tudo’ da internet” (BRUM, 
2018). 
O valor dessa verdade não está na sua ligação com os fatos. Nem seu 
apagamento está na produção de mentiras ou notícias falsas (“fake news”). 
Essa é uma relação que já não opera no mundo da autoverdade. O valor da 
autoverdade está em outro lugar e obedece a uma lógica distinta. O valor não 
está na verdade em si, como não estaria na mentira em si. Não está no que 
é dito. Ou está muito menos no que é dito. Assim, a questão da autoverdade 
também não está na substituição de verdades ancoradasnos fatos por 
mentiras produzidas para falsificar a realidade. No fenômeno da pós-verdade, 
https://brasil.elpais.com/tag/bulos_internet
 
 
21 
 
as mentiras que falsificam a realidade passam elas mesmas a produzir 
realidades, como a eleição de Donald Trump ou a aprovação do Brexit. A 
autoverdade se articula com esse fenômeno, mas segue uma outra lógica 
(BRUM, 2018). 
 
As definições de pós-verdade e autoverdade podem ser relacionadas no 
mesmo contexto, sendo uma vinculada à ação da outra. A primeira consiste em que 
acreditar e ter fé de que algo é verdade, é mais importante do que isso realmente ser 
um fato. Enquanto a segunda (autoverdade) define-se por afirmações sem valor 
argumentativo, mas que são absorvidas pelo espectador como verdades, por serem 
veiculadas na esfera íntima, que foi o caso dos discursos políticos das campanhas 
presidenciais de Donald Trump e Jair Bolsonaro. Ambos se elegeram mesmo com o 
índice de rejeição altíssimo nas pesquisas de intenção de voto. Além disso, os dois 
“apelam ao eleitorado que se sente frustrado com o sistema político anual ou que 
sente seus valores morais estão esquecidos. Eles usam essa raiva de forma 
semelhante” (FLECK, 2018). 
 
2.3 FAKE NEWS 
 
O termo fake news ganhou força em 2016, quando durante a corrida 
presidencial dos Estados Unidos acontecia. Os eleitores de Trump compartilhavam 
notícias falsas sobre a candidata da oposição, Hillary Clinton. E dessa forma foi se 
instaurando nos Estados Unidos a chamada Teoria Hipodérmica ou da Bala Mágica, 
que é focada na propaganda. A partir da frase ‘uma mentira dita mil vezes torna-se 
verdade’ dita por Joseph Goebbels, é que podemos compreender o que são as fake 
news. Elas são o resultado da era da pós-verdade. 
A prática do compartilhamento de notícias falsas só é possível, quando o 
jornalista publica uma notícia sem conferir a fonte ou a publica de maneira 
tendenciosa. A ética, que designa regras e valores que dão forma à territorialização 
do ser humano (SODRÉ, 1995), nesse caso, é suprimida. Nonato e Jesus (2013) 
dissertam sobre à ética no jornalismo: 
 
As condutas éticas por vezes são pouco notadas no cotidiano, sendo mais 
visíveis e mais explícitas as posturas antiéticas, decorrentes de atitudes que 
vão contra os princípios orientadores e os valores fundamentais. O aluno que 
“copia” um texto e o utiliza como sendo seu, o político que compra votos, o 
policial que aceita propina, o médico que prolonga o tratamento do seu 
paciente visando o lucro, ou o jornalista que “inventa” fontes para concluir sua 
matéria – são apenas alguns exemplos de atitudes ou posturas antiéticas 
https://brasil.elpais.com/tag/donald_trump
https://brasil.elpais.com/tag/referendum_permanencia_reino_unido_ue
 
 
22 
 
inadmissíveis, no entanto são tão corriqueiros que, infelizmente, chegam a 
ser aceitas e toleradas por muitos (NONATO; JESUS, 2013). 
 
 “Isso traz à tona a importância de uma posição ética do jornalista, que tem 
a formação necessária para o combate a notícias falsas, pois envolve apuração dos 
fatos, a checagem de informações e as entrevistas com diversas partes envolvidas 
numa situação (pluralidade de fontes)” (POLITIZE, 2017). 
 
Os limites cotidianos, no jornalismo, vivem a tensão entre a possibilidade de 
realização da ética e as dificuldade teórico-operacionais para execução dos 
princípios, o que equivale dizer que o movimento moral é sempre presente. 
Mas é nesse momento que a abstração e a generalização precisam de uma 
ponte com as situações e circunstâncias concretas do trabalho específico do 
jornalista, que enfrenta dilemas, dúvidas e precisa escolher o caminho mais 
correto à luz da dimensão pública de sua atividade” (KARAM, 2014, p.52). 
 
No Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, consta o seguinte artigo 
sobre o dever do jornalista na hora de produzir e compartilhar uma notícia: 
 
Art. 2 Como o acesso à informação de relevante interesse público é um direito 
fundamental, os jornalistas não podem admitir que ele seja impedido por 
nenhum tipo de interesse, razão por que: 
I – a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de 
comunicação e deve ser cumprida independentemente de sua natureza 
jurídica – se pública, estatal ou privada – e da linha política de seus 
proprietários e/ou diretores. 
 
Portanto, é intrínseco que o trabalho de apuração tenha que ser bem feito 
e não pode ser descartada a checagem de fontes. “Quanto à liberdade de expressão, 
esta se vê limitada por aquelas restrições necessárias, em uma sociedade 
democrática, de proteger a reputação ou os direitos de outras pessoas” (PINA, 2017). 
Atualmente o jornalismo está em crise e passa por uma reformulação, que 
acaba por atingir também a ética jornalística. “Antes, era perceptivo que havia uma 
ética específica para o jornalismo, já que a profissão estava bem delimitada e seus 
contornos se davam inclusive por um conjunto de valores éticos (CHRISTOFOLETTI, 
2014). Dito isso, é como se o que é feito hoje não tivesse credibilidade. 
O leitor/espectador quando lê algo que concorda, ele acaba por acreditar 
naquilo, mesmo que não seja uma notícia legítima. Moreira (2018) ensina que “a 
legalidade está relacionada à forma, enquanto a legitimidade está relacionada ao 
conteúdo da norma”. Com isso, conclui-se que: 
 
[...] é preciso verificar a legitimidade do direito, em vez olhar apenas para sua 
legalidade. Assim, encontra-se plenamente aplicável a máxima “nem tudo 
 
 
23 
 
que é ilegal, é ilegítimo. A ruptura com o legalismo e com a legitimação leva 
à afirmação de uma nova legitimidade, como parâmetro de aplicação do 
direito, a legitimidade conforme os interesses e necessidades das classes 
populares (MOREIRA, 2008). 
 
Segundo o autor, por mais que essas as palavras “ilegal e ilegítimo” sejam 
parecidas, elas tem significados diferentes. A palavra ilegal remete a algo que não 
está previsto em lei, e ilegítimo, significa que não origina-se da vontade popular, não 
se baseando no direito, razão e justiça. Portanto, elas não são sinônimas. 
Essa questão faz trabalhar os sentidos quando pensamos que a crise 
jornalística hoje é de legitimidade, logo existe a necessidade de afirmar o conjunto de 
propriedades que tornam o jornalismo reconhecido. 
“Nesse sentido, é possível dizer que é a prática de compartilhar notícias 
falsas e não a produção de notícias falsas que está em foco quando à discussão da 
pós-verdade se relaciona à questão das fake news” (ADORNO, SILVEIRA, 2017). 
“O início da Era da Pós-Verdade seria, então, fake news: o problema, para 
desespero dos populistas e dos marqueteiros, [...] que a única forma de se comunicar 
com o público é por meio de apelos à emoção, à vaidade e ao preconceito” (ORSI, 
2018). Em razão do ambiente da internet estar saturado de informações à qualquer 
momento e à qualquer hora, as pessoas acabam ficando perdidas e nem sabem mais 
discernir o que é certo ou errado, verdadeiro ou falso, quando leem ou assistem algo 
na mídia (impressa ou digital). Isso faz com que a sociedade repense o que considera 
verdade e mentira. 
Dentro do que foi supramencionado, analisaremos discursivamente as fake 
news geradas sobre Marielle Franco, como e de que forma elas foram noticiadas nas 
redes e nas grandes mídias. O mais importante a ser analisado e refletido aqui é como 
as pessoas reagem e lidam com as fake news. 
 
 
 
 
24 
 
3 OS PRINCÍPIOS DA ANÁLISE DO DISCURSO 
 
A teoria do discurso que norteará o trabalho aqui proposto é a Análise do 
Discurso de linha francesa, com o olhar de Michel Pêcheux, que se baseia por: 
 
[...] um quadro teórico que alie o linguístico ao sócio-histórico, na AD, dois 
conceitos tornam-se nucleares: o de ideologia e o de discurso. As duas 
grandes vertentes que vão influenciar a corrente francesa de AD são, do lado 
da ideologia, os conceitos de Althusser e, do lado do discurso, as ideias de 
Foucault.E sob a influência dos trabalhos desses dois teóricos que Pêcheux, 
um dos estudiosos mais profícuos da AD, elabora os seus conceitos. De 
Althusser, a influência mais direta se faz a partir de seu trabalho sobre os 
aparelhos ideológicos de Estado na conceituação do termo "formação 
ideológica". E será da Arqueologia do saber que Pêcheux extrairá a 
expressão "formação discursiva", da qual a AD se apropriara, submetendo-a 
a um trabalho especifico. (BASTOS, 2004, p. 18) 
 
Mariani inicia a tese “O comunismo imaginário” falando sobre o lugar da 
análise do discurso (de agora em diante AD). A escola francesa da AD, teoria crítica 
da linguagem, se situa no entremeio das ciências sociais humanas e está sempre 
investigando os fundamentos. A AD se propõe a discutir e a definir a linguagem, tendo 
como objetivo principal a compreensão dos modos de definição histórica nos 
processos de produção de sentidos na perspectiva de uma semântica de cunho 
materialista. 
Eni Orlandi (1990), precursora da análise do discurso no Brasil, diz que 
ninguém está isento de interpretação. Por outro lado, a autora diferencia a análise de 
conteúdo da análise de discurso, mostrando que a linguagem não é transparente. Por 
isso a AD se propõe a analisar a relação língua-ideologia e a forma de se produzir 
sentidos e sujeitos. O que materializa a ideologia é o discurso e o que materializa o 
discurso é a língua, assim compreende-se a relação entre língua-discurso-ideologia. 
Os estudos discursivos mostram que a forma e o conteúdo não se separam, 
além da procura pela compreensão da língua, não só como estrutura, mas também 
como acontecimento. A Análise de Discurso relaciona língua e discurso como segue: 
“nem o discurso é visto como uma liberdade em ato, totalmente sem condicionantes 
linguísticos ou determinações históricas, nem a língua como totalmente fechada em 
si mesma, sem falhas ou equívocos”. 
O fundador da AD, Michel Pêcheux, propôs articular 3 regiões do saber: o 
materialismo histórico (enquanto teoria das formações sociais e suas transformações); 
a linguística (enquanto teoria dos processos não subjetivos da enunciação) e a teoria 
 
 
25 
 
do discurso (como teoria da determinação histórica dos processos semânticos). As 3 
regiões são atravessadas e articuladas por uma teoria da subjetividade de natureza 
psicanalítica. Para o autor não existe discurso sem sujeito e não existe sujeito sem 
ideologia, uma vez que o indivíduo é interpelado (ALTHUSSER, 1996) sujeito nas 
práticas discursivas, sendo dessa forma que a língua faz sentido. 
A AD provoca uma reterritorialização de conceitos ligados às teorias da 
linguagem e da ideologia. O pressuposto teórico central da AD encontra-se nas 
definições de discurso “efeito de sentido (e não transmissão de informação) entre 
interlocutores” e de discurso “o processo social cuja especificidade reside no tipo de 
materialidade de sua base, a saber, a materialidade linguística”. Quando falamos em 
discurso, estamos nos reportando a um dos aspectos materiais da ideologia, ou seja, 
no discurso se dá o encontro entre língua e ideologia (MARIANI, 1996, p.23). Acerca 
da ideologia, Pêcheux disserta que: 
 
É a ideologia que fornece as evidências pelas quais ‘todo mundo sabe’ o que 
é um soldado, um operário, um patrão, uma fábrica, uma greve, etc., 
evidências que fazem com que uma palavra ou enunciado ‘queiram dizer o 
que realmente dizem’ e que mascaram, assim, sob a ‘transparência da 
linguagem’, aquilo que chamaremos o caráter material do sentido das 
palavras e dos enunciados (PECHEUX, 1988, p.160). 
 
A ideologia se define pelo mecanismo imaginário onde é colocado o sujeito, 
conforme as condições de produção que ele possui. Os mecanismos de resistência, 
ruptura (revolta) e transformação (revolução) são igualmente constitutivos no 
segmento ideológico: 
 
O lapso e o ato falho (falhas do ritual, bloqueio da ordem ideológica) bem que 
poderiam ter alguma coisa de muito preciso a ver com esse ponto sempre-já 
ai, essa origem não detectável da resistência e da revolta: formas de aparição 
fugidias de alguma coisa ‘de uma outra ordem’, vitorias ínfimas que, no tempo 
de um relâmpago, colocam em xeque a ideologia dominante tirando partido 
de seu desequilíbrio (PECHEUX, 1988, p.301). 
 
A resistência na AD é a possibilidade de se dizer outras palavras no lugar 
de outras já esperadas para um discurso, e dessa maneira, deslocar os sentidos 
esperados, ressignificar interpretações existentes, ou até mesmo não dizendo nada. 
As condições de produção dos sentidos estão vinculadas tanto às 
possibilidades enunciativas dos períodos históricos – reguladores da relação de um 
sentido com sentidos anteriores, com os sentidos não ditos e com um ‘futuro’ dos 
sentidos – quanto aquilo, que falha, e desloca os sentidos (MARIANI, 1996, p.28). O 
 
 
26 
 
que está em jogo na discursividade é a posição-sujeito. Eni Orlandi pega a ideia de 
Michel Foucault quando diz “não é uma forma de subjetividade, mas um ‘lugar’ que 
ocupa para ser sujeito do que diz”. É essa posição que se encontra todo indivíduo 
para ser sujeito do discurso. 
As formações discursivas (de agora em diante FD) dissimulam como 
transparentes os sentidos produzidos historicamente em seu interior. Todo sentido 
nasce de outro e aponta para alguma direção: os sentidos migram entre as regiões 
constitutivas das FDs. Uma FD deve ser classificada como “uma unidade dividida, 
uma heterogeneidade com relação a si mesma” (COURTINE, 1982, p.245). 
A AD analisa espaços organizados em um dizer já-dito, com sentidos já 
legitimados antes em algum lugar, com a possibilidade de que no mesmo dizer pode-
se abrir a ruptura para outros sentidos. Muitas vezes os sentidos ‘esquecidos’ 
funcionam como resíduos dentro do próprio sentido hegemônico. No processo 
desencadeado pela memória, existe o retorno de tempos em tempos, e de um lugar 
para outro. Uma vez mobilizada, a memória produz um deslocamento porque 
desenvolve a aptidão de estar sempre no lugar do outro, conforme Certeau (1999). 
A “memória histórica”, pode estar na base de gestos que excluem tudo que 
possa escapar ao exercício do poder e de forma que preserve a nostalgia de um 
passado ‘bom e verdadeiro’. Entrelaçado a isso, encontra-se o que deve cair no 
esquecimento, o retorno do sentido silenciado ou a invasão de um novo sentido, que 
pode representar uma ameaça à condição atual (MARIANI, 1996, p.36). No jogo das 
forças sociais, não deixar um sentido ser esquecido é uma forma de eternizá-lo 
enquanto memória oficial (MARIANI, 1996, p.37). 
O trabalho da memória produz certa previsibilidade, dando a ilusão de que 
nada muda, porém, não se lê o mesmo texto sempre com a mesma interpretação. 
Portanto, isso acaba ocasionando novos significados que podem incluir o que havia 
sido ignorado antes, ou seja, o que estava condenado ao esquecimento. 
Mariani (1996, p.40) disserta sobre o ponto de vista discursivo: 
 
Em outras palavras, não basta apontar o sentido hegemônico, é necessário, 
do ponto de vista discursivo, considerar a relação de forças que permitiu sua 
hegemonia; filiar este sentido a outros com os quais ele pode ser relacionado; 
compreender como ele se tornou ‘objeto’ para o pensamento; mapear os 
gestos de resistência, sinalizando os resíduos existentes; e por fim, 
compreender como e porque aquele sentido ‘colou’ e os demais não, isto é, 
que condições foram necessárias para ele fazer sentido na história daquela 
formação ou grupo social. 
 
 
 
27 
 
É na análise da produção e repetição de efeitos de sentidos, caracterizados 
por certos processos discursivos, que pode-se constituir o cenário da regularidade 
discursiva. Para fazer sentido é necessária a ocorrência anterior de outros sentidos já 
fixados na memória discursiva, e que possam ser elementos para o acontecimento 
presente (MARIANI, 1996, p.42). Dessa forma Nora (1990), indica que é possívelencontrar “lugares de memória” em termos discursivos e fazer a delimitação relativa 
de um “domínio de formulações origem” (COURTINE, 1981). 
No discurso jornalístico, nas páginas do jornal, se constrói uma ordem 
social desambiguizada, que coloca em relação e em circulação dizeres autorizados e 
dizeres anônimos, dando a ilusão de consensos ou dissensos polarizados (MARIANI 
1996, p.44). A noção de interdiscurso estabelece a textualização da memória num 
conjunto de vestígios discursivos, que são resultantes dos deslocamentos e 
antagonismos, alianças entre formações discursivas, e que caracterizam-se pelo 
sentido das sequências que se repetem, assim como os sentidos silenciados 
(MARIANI 1996, p.44). 
Para a Análise do Discurso, teoria (da linguagem, do sujeito, da produção 
de sentidos, dos processos sócio-históricos) e análise (dos monumentos textuais, 
engendrados na história que produz um imaginário de sujeito e de língua) são 
inseparáveis, não há um modelo metodológico que dê conta de qualquer discurso. 
Trata-se muito mais de um modo de reflexão sobre a linguagem, do que um modelo a 
ser aplicado. Na AD as discussões sobre sentido, sujeito, formação discursiva, 
interdiscurso e intradiscurso, dentre tantos outros conceitos, já remetem ao 
pesquisador uma leitura-interpretativa do seu arquivo (MARIANI, 1996, p.59) 
Um caso exemplar, analisado por Orlandi (1990), diz respeito às eleições 
em uma universidade. Um dos grupos envolvidos no movimento produziu uma grande 
faixa preta com a seguinte mensagem: “vote sem medo!”, seguida de uma frase 
dizendo que os votos não seriam divulgados. A partir desse enunciado, inicialmente a 
análise que pode ser feita é da cor preta, que remete ao fascismo, conservadorismo 
e posições de “direita”. Seguindo a análise, vem as palavras “sem medo”, que sugere 
uma ameaça aos eleitores por escolher um candidato específico, deixando de ter 
neutralidade e mobilizando os sentidos do medo. Esses sentidos têm relação com a 
censura ao voto, própria da época da ditadura militar. Portanto, falar em medo, mesmo 
sendo para negar, atualiza esse sentido presente na memória discursiva. Outras 
noções importantes para essa análise são as de memória discursiva e condição de 
 
 
28 
 
produção, que são tratadas na relação com o interdiscurso. “Todos esses sentidos já 
ditos para alguém, em algum lugar, em outros momentos, mesmo muito distantes, têm 
um efeito sobre o que aquela faixa diz.” (ORLANDI, 1996, p.31). Assim, a autora 
relaciona memória e esquecimento, já que quando as pessoas nascem os discursos 
já estão em desenvolvimento. “Vote sem medo” silencia o “vote com coragem”, que 
produziria sentidos em outra direção, assim como mobilizaria outra memória 
discursiva e resultaria em outro posicionamento de sujeito, etc. No dizer e não dizer 
se desenvolve todo um espaço de interpretação onde o sujeito se move. 
Então é possível concluir que os discursos não vêm das pessoas, e sim de 
um processo sócio-histórico que permite que sujeitos e sentidos se produzam, sem 
que os sujeitos tenham consciência desse processo. Na ideologia não existe o 
desaparecimento de sentidos, mas sim o apagamento do processo de sua 
constituição. 
Orlandi (1996) salienta que toda análise de discurso constrói seu dispositivo 
de análise e retoma a construção do dispositivo teórico de interpretação: “O que se 
espera do dispositivo do analista é que ele lhe permita trabalhar não numa posição 
neutra, mas que seja relativizada em face da interpretação: é preciso que o dispositivo 
atravesse o efeito de transparência da linguagem, da literalidade do sentido e da 
onipotência do sujeito” (ORLANDI, 1996, p.61). 
Em relação à delimitação do corpus, esta não segue padrões empíricos 
(positivistas), mas sim, teóricos. Constituir o corpus é “construir montagens 
discursivas que obedeçam a critérios, que decorram de princípios teóricos da análise 
de discurso, face aos objetivos da análise e que permitam chegar à sua compreensão” 
(ORLANDI, 1990, p. 63). Os objetivos da análise são os objetivos discursivos, que 
devem orientar a constituição do corpus e, principalmente, o recorte dele. 
Não se nega a atuação da mídia e imprensa em decisões políticas. 
Anteriormente, a imprensa se posicionava como um veículo neutro e imparcial, mas 
hoje já é nítido que ela assume um lado interpretativo, em que o jornal toma uma 
direção política mais direta (MARIANI, 1996, p.62). A produção de sentidos para os 
fatos começa no próprio jornalista, que também é um sujeito histórico e está inserido 
em uma formação discursiva. Após ele escrever a notícia tendo como base suas 
impressões e questões ideológicas, o leitor vai interpretar seguindo a FD na qual se 
inscreve o jornalista, em relação à FD na qual ele próprio se inscreve, resultando em 
 
 
29 
 
um discurso completamente diferente do que se ele lesse a notícia em outro jornal, 
por exemplo. 
Mariani (1996) disserta que: 
No funcionamento jornalístico descrito, fica apagado para o sujeito-leitor o 
processo de construção da notícia. A produção de sentidos, que se processa 
a partir de um trabalho no plano da língua, seja no plano das operações 
sintáticas descritas, seja pelo conjunto da memória mobilizada lexicalmente, 
não é perceptível para o sujeito envolvimento historicamente. Assim, essa 
prática discursiva impõe a imagem de uma “leitura literal”, realizada com 
sentidos transparentes capazes de captar os fatos em sua ‘essência’. 
Oblitera-se, portanto, que o que está em jogo é uma inevitável “leitura-
interpretativa” (p.72). 
 
“O discurso jornalístico nada mais é do que a busca de uma verdade 
absoluta, com uma expressão legítima, onde a narrativa é formada pela veracidade. 
A veracidade ou verdade aparece como uma relação de o que é dito e o que é 
realidade” (MARQUES, 2008). 
Mariani (1996) disserta sobre a imprensa: 
 
“Se, antes, a imprensa só posicionava-se como um veículo neutro e imparcial, 
hoje, ainda que timidamente, ela assume seu lado interpretativo, e o fato de 
que cada jornal acaba tomando uma direção política prioritária -' Sem dúvida, 
está cada vez mais em evidência esse aspecto do entrelaçamento entre os 
eventos políticos e a notícia: a imprensa tanto pode lançar direções de 
sentidos a partir do relato de determinado fato como pode perceber 
tendências de opinião ainda tênues e dar-lhes visibilidade, tornando-as 
eventos-noticias”. (p.62) 
 
Como bem observado por Mariani (1996), a imprensa atualmente assume 
uma posição de interpretação dentro do discurso das notícias publicadas a todo 
instante. Portanto, se no início do século XX, a neutralidade do discurso jornalístico 
era uma forma de escapar da censura, podemos observar que na atualidade a censura 
não é um fator determinante na produção das notícias (FLORES, 2016). 
Ensina Flores (2016) sobre o efeito de neutralidade: 
 
O efeito de neutralidade no discurso jornalístico está relacionado com a 
política do silêncio, isto é, o silencio constitutivo, que segundo Orlandi (2002; 
p.75) “se define pelo fato de que ao dizer algo apagamos necessariamente 
outros sentidos possíveis, mas indesejáveis, em uma situação discursiva 
dada. (...) a política do silêncio produz um recorte entre o que se diz e o que 
não se diz”. 
 
Ou seja, segundo a autora, o silêncio constitutivo apaga as condições de 
produção do funcionamento do discurso jornalístico, produzindo deste modo o efeito 
de neutralidade da imprensa (FLORES, 2016). Pensando no efeito de neutralidade do 
 
 
30 
 
discurso jornalístico, vimos que existe a produção de informação e não de notícia, 
dessa forma criando uma atmosfera de democracia da informação, mesmo que isso 
não seja o que acontece de fato. 
 
Dito de outro modo, ao produzir o recorte entre o dizer e o não dizer, o 
discurso jornalístico apaga, silencia a historicidade e o pré-construído do 
acontecimento, produzindo sentidos somente no/para o acontecimentopresente, como se não houvesse memória dos fatos ocorridos e é justamente 
aí que a grande mídia produz o efeito de neutralidade (FLORES, NECKEL, 
2017). 
 
Como exemplo do que foi dito por Flores e Neckel (2017), podemos citar o 
corpo da matéria da revista impressa da Veja, sobre a morte de Marielle. O título da 
revista do dia 21 de março foi: A quem interessava matar esta mulher? A execução 
da vereadora Marielle Franco com quatro tiros na cabeça levanta a suspeita de crime 
encomendado e leva Temer a falar em “atentado à democracia”. Segue trecho da 
reportagem: 
 
Como no Brasil politicamente polarizado tudo é visto pela lente da 
deformação ideológica, já apareceram críticas à enorme repercussão do 
crime, creditando-a ao perfil de Marielle: mulher, negra, lésbica, esquerdista. 
Nada mais equivocado. Seu assassinato é um símbolo dramático porque se 
trata de uma execução contra uma voz pública, que detinha um mandato 
popular. Sua morte traz à memória a carnificina de uma Medellín dos anos 90 
em que o crime chegava perigosamente perto de controlar o Estado, ameaçar 
autoridades e abalar as instituições da Colômbia. Fosse a vítima um homem, 
branco, heterossexual e direitista, a gravidade não seria um milímetro menor. 
Por tudo isso, o presidente Temer tocou no ponto nevrálgico: é um atentado 
à democracia. (VEJA, 2018, p. 48-49) 
 
Ao ler a matéria com o contexto completo, nem percebemos a imposição 
política no texto. Porém, a maneira com que é colocado este trecho, é possível 
perceber que o jornalista não está sendo imparcial, ao falar as palavras “esquerdista”, 
“homem, branco, heterossexual e direitista”. A questão não é que o jornalista não 
possa falar a partir das suas percepções, mas é que no decorrer do texto é criado um 
clima de luto e justiça, que se contradiz com essas formulações. 
Os sentidos trabalham em contradição, e Lagazzi (2011) disserta sobre a 
questão: 
 
Temos materialidades que se relacionam pela contradição, 
cada uma fazendo trabalhar a incompletude na outra. Ou seja, a imbricação 
material se dá pela incompletude constitutiva da linguagem, em suas 
diferentes formas materiais, em composição contraditória. 
Uma materialidade remete a outra, movimento no qual a não-saturação e o 
 
 
31 
 
desajuste constitutivo do encontro de especificidades materiais distintas 
permite o jogo da interpretação (LAGAZZI, 2011). 
 
Conforme a autora, a contradição é constitutiva das formas materiais. 
Assim, podemos ter discursos em contradição, como podemos ter, também, 
materialidades significantes em contradição. Por exemplo, no jornalismo podemos ter 
uma foto que mostra uma realidade que está em contradição com a escrita da matéria, 
ou um discurso de mercado em contradição com um discurso jurídico, e assim por 
diante. A contradição das formas materiais está na base da complexidade do 
jornalismo que as fake news tentam silenciar, criando um mundo consensual, de 
acordo com certos interesses políticos. 
 
 
 
32 
 
4 ANÁLISE DO CASO MARIELLE FRANCO 
 
O corpus desta análise é composto com textos produzidos por jornalistas e 
usuários de redes sociais, que propagaram fake news após a morte da vereadora 
Marielle Franco e que tornaram-se notícias. O caso envolveu o assassinato da 
vereadora e seu motorista, Anderson Pedro Gomes, que foram mortos a tiros 
enquanto voltavam para casa após o evento "Jovens Negras Movendo as Estruturas", 
na Lapa - Rio de Janeiro. A assessora dela também estava no carro, mas não sofreu 
graves ferimentos. 
O recorte que será feito nas análises têm por objetivo compreender o 
funcionamento de cada posição-sujeito e sua condição de produção, assim como 
mostrar os pré-construídos nos dois discursos distintos: o jornalístico e o linguístico. 
 
4.1 ANÁLISE DO SITE FEITO SOBRE MARIELLE APÓS SUA MORTE 
 
O texto que será analisado a seguir foi formulado após a morte de Marielle. 
Trata-se de um trecho do site feito sobre ela, na seção “Quem é Marielle”. A página 
foi criada pelo partido da vereadora, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), e a 
Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, na qual ela trabalhava. 
 
 
Figura 1 - Imagem do site Marielle Franco. 
Fonte: https://www.mariellefranco.com.br/quem-e-marielle-franco-vereadora 
 
 Este texto traz algumas características relacionadas à vereadora. A 
maneira com que as palavras (mulher, negra, cria da favela da Maré) aparecem na 
frase apontam para uma contradição existente na sociedade em que vivemos. 
Contradição esta que é originada pelos sentidos relativos à escravidão, como o 
preconceito racial e os lugares que o negro já ocupa ou ocupou no passado. Portanto, 
como pode uma mulher negra, pobre e cria da favela ter feito faculdade e mestrado? 
Esse enunciado presente neste site sugere outros enunciados, que lhe dão sentido. 
Os outros enunciados funcionam aqui como pré-construídos. 
 
 
33 
 
Segundo o estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
(IBGE), Marielle destaca-se do senso comum e entra para os 10,4% de mulheres 
negras que se formam no Brasil no ensino superior com idade entre 25 e 44 anos 
(CARTA CAPITAL, 2018). Diante destes dados fica evidente que a mulher negra com 
ensino superior no Brasil é a minoria. E essa realidade é resultado da escravidão dos 
negros, que perdurou oficialmente no Brasil até a Lei Áurea entrar em vigor no ano de 
1888. 
Pêcheux ensina acerca de formação discursiva (de agora em diante FD): 
 
Chamaremos, então, formação discursiva aquilo que, numa formação 
ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada numa conjuntura dada, 
determinada pelo estado da luta de classes, determina o que pode ser dito 
(articulado sob a forma de uma arenga, de um sermão, de um panfleto, de 
uma exposição, de um programa, etc) (PÊCHEUX, 1988, p.160). 
 
 Portanto, na FD apresentada sobre a escravidão, inscrevem-se até hoje, 
sujeitos que se identificam com tais saberes. Neste caso não se trata de trabalhar a 
historicidade que é refletida no texto, mas a historicidade do texto, ou seja, 
compreender como o texto produz sentidos como discurso (ORLANDI, 1995). E ao se 
repetir, a história se materializa pela memória e é representada pela paráfrase, que é 
quando são produzidas diferentes formulações do mesmo dizer sedimentado. Por isso 
que um dizer próprio do período da escravatura ainda hoje pode ter lugar. Pela análise 
da historicidade do texto, isto é, do seu modo de produzir sentidos, podemos falar que 
um texto pode ser [...] atravessado por várias formações discursivas (ORLANDI, 
1995). 
Em outra perspectiva, a historicidade é a história do sujeito e do sentido 
(ORLANDI, 1995). E é dessa forma que funciona a ideologia na AD, ela acaba por se 
tornar material nos dizeres possíveis em determinada FD. A ideologia é a condição 
para a constituição do sujeito e dos sentidos (ORLANDI, 1999), sendo ela tanto o 
caminho que leva o sujeito a significar o que foi dito quanto o apagamento desse 
caminho. Porém, isso não é evidente. Somente quando o analista percorre o caminho 
do dizer pela historicidade, é que ele chega ao gesto de interpretação produzido pela 
ideologia. 
Por essa razão é possível entender que, a sociedade brasileira ainda traz 
no seu cotidiano vestígios de preconceito racial e de gênero, onde sujeitos negros não 
podem/devem ocupar um lugar que anteriormente era pertencente somente aos 
homens brancos. A ideia da mulher como ser inferior e incapaz de ser protagonista 
 
 
34 
 
social e da história é também transportada através dos séculos. A posição de sexo 
mais fraco não é incomum mesmo nos dias atuais (COUTINHO, 2010). 
Essa questão é refletida na definição de poder por Dreyfus e Rabinow 
(2010): 
 
O termo "poder" designa relações entre "parceiros" (entendendo-se por isto 
não um sistema de jogo, mas apenas - e permanecendo, por enquanto, na 
maior generalidade - um conjunto de ações que se induzeme se respondem 
umas às outras). É necessário distinguir também as relações de poder das 
relações de comunicação que transmitem uma informação através de uma 
língua, de um sistema de signos ou de qualquer outro meio simbólico. Sem 
dúvida, comunicar é sempre uma certa forma de agir sobre o outro ou os 
outros. Porém, a produção e a circulação de elementos significantes podem 
perfeitamente ter por objetivo ou por conseqüências efeitos de poder, que não 
são simplesmente um aspecto destas. Passando ou não por sistemas de 
comunicação, as relações de poder têm sua especificidade... "Relações de 
poder"; "relações de comunicação", "capacidades objetivas" não devem, 
então, ser confundidas. [...] Trata-se de três tipos de relação que, de fato, 
estão sempre imbricados uns nos outros, apoiando-se reciprocamente e 
servindo-se mutuamente de instrumento. [...] O funcionamento das relações 
de poder, evidentemente, dão uma exclusividade do uso da violência mais do 
que da aquisição dos consentimentos; nenhum exercício de poder pode, sem 
dúvida, dispensar um ou outro e freqüentemente os dois ao mesmo tempo. 
[...] A relação de poder e a insubmissão da liberdade não podem, então, ser 
separadas. O problema central do poder não é o da "servidão voluntária" 
(como poderíamos desejar ser escravos"): no centro da relação de poder. 
"provocando-a" incessantemente, encontra-se a recalcitrância do querer e a 
intransigência da liberdade. Mais do que um "antagonismo" essencial, seria 
melhor falar de um "agonismo" - de uma relação que é, ao mesmo tempo, de 
incitação recíproca e de luta; trata-se, portanto, menos de uma oposição de 
termos que se bloqueiam mutuamente do que de uma provocação 
permanente. (DREYFUS; RABINOW, 2010) 
 
Assim, Marielle é alvo de dois preconceitos, um por ser negra, outro por ser 
mulher. Pinto (2007) disserta sobre a trajetória das mulheres negras, na qual Marielle 
se encaixa: 
 
O destaque dado para as trajetórias de mulheres negras deve-se ao meu 
entendimento de que essas mulheres precisam sair da invisibilidade a que 
estão submetidas na sociedade. Sua participação na sociedade brasileira foi 
historicamente atrelada à imagem das criadas, das mães-pretas, ou das 
práticas sexuais “livres” e “desonrosas”. Quando há uma alusão a estas 
mulheres nos estudos e pesquisas sobre gênero ou mesmo sobre relações 
raciais, elas aparecem como participantes das profissões de baixa 
remuneração e pouca valorização social como é o caso do emprego 
doméstico (PINTO, 2007, p.12). 
 
4.2 ANÁLISE DO COMENTÁRIO DA DESEMBARGADORA 
 
 
 
35 
 
No texto abaixo pode ser analisada a fala da desembargadora Marília 
Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, acerca da morte de Marielle 
Franco: 
 
 
Figura 2 - Imagem do comentário da desembargadora Marilia Castro Neves 
Fonte: https://oglobo.globo.com/rio/desembargadora-acusa-marielle-franco-de-
engajamento-com-bandidos-22500122 
 
Este comentário foi feito pela desembargadora, no Facebook. O trecho em 
que ela diz “Até nós sabemos disso” demonstra que existe um distanciamento da 
favela por parte do sujeito que discursa sobre Marielle. O "até" inclui um nós 
considerado bem mais distante da favela do que da Marielle, que por esse motivo teria 
obrigatoriedade de saber sobre os métodos de cobrança de dívidas, por parte dos 
traficantes. O argumento é construído pela própria desembargadora, sem qualquer 
evidência da participação de Marielle. 
Trata-se de projeções imaginárias do sujeito (desembargadora), que 
precisa estabilizar os sentidos que estão em contradição, silenciando o contrário, que 
poderia ser “não sabemos disso” ou “Marielle não sabe disso”. 
Essa ideologia que interpela esse sujeito (desembargadora) produz 
evidências, do que é certo e o que é errado dentro dessa FD. O enunciado, para 
Pêcheux, incorpora-se nas condições de produção determinadas pelas FDs em um 
certo momento histórico. Isso explica o gesto de interpretação do sujeito 
(desembargadora) diante do caso Marielle. Esse sujeito se inscreve numa FD na qual 
o negro e a mulher devem conhecer o seu lugar, sempre subordinado. Portanto, apaga 
a possibilidade de um sujeito como Marielle ser mestre e não conhecer o método de 
cobrança de dívida de um traficante. 
Quando Orlandi (2009) fala de formação discursiva, ela considera essa 
noção básica e polêmica para a Análise de Discurso, porque é como compreende-se 
o processo da produção de sentidos e também a relação com a ideologia. A FD 
 
 
36 
 
consiste em uma posição ideológica, com uma conjuntura sócio-histórica dada, que 
determina o que pode e o que deve ser dito. Acrescenta Orlandi (2009): 
 
O discurso se constitui em seus sentidos porque aquilo que o sujeito diz se 
inscreve em uma formação discursiva e não outra para ter um sentido e não 
outro. Por aí podemos perceber que as palavras não têm um sentido nelas 
mesmas, elas derivam seus sentidos das formações discursivas em que se 
inscrevem. As formações discursivas, por sua vez, representam no discurso 
as formações ideológicas. Desse modo, os sentidos sempre são 
determinados ideologicamente. Não há sentido que não o seja. Tudo que 
dizemos tem, pois, um traço ideológico em relação a outros traços 
ideológicos. E isto não está na essência das palavras mas na discursividade, 
isto é, na maneira como, no discurso, a ideologia produz seus efeitos, 
materializando-se nele. (ORLANDI, 1999, p.43). 
 
Para a magistrada, Marielle não passa de uma pobre favelada e engajada 
com bandidos, pois como é possível uma mulher negra e pobre ser algo que não 
bandida? A memória discursiva em que a desembargadora se apoia dá o sentido de 
que uma pessoa negra não possa fazer parte de uma camada superior ou igual a 
dela. Isto remete ao fato dos negros serem obrigados a negar seus antepassados, o 
que não aconteceu com o caso Marielle. 
Tudo o que já foi dito anteriormente envolve pessoas inscritas na mesma 
FD da desembargadora. Os sentidos que têm significância para ela são provenientes 
do interdiscurso, onde encontram-se todas as formulações feitas e também já 
esquecidas, que determinam o que dizemos. Pois se algo faz sentido para mim, é 
preciso que já tenha feito sentido antes mesmo de eu dizer. 
O sujeito da Análise do Discurso é duplamente afetado: em seu 
funcionamento psíquico pelo inconsciente, e em seu funcionamento social, pela 
ideologia (Indursky 2000, p.71). Quando a desembargadora fala “mimimi da 
esquerda”, ela fala da sua posição política, que acaba por ser contrária a de Marielle. 
O discurso dela é considerado autoritário por dizer que a esquerda é um “mimimi” e a 
direita não. Sua fala demonstra o que chama-se de efeito da ideologia, pelo fato do 
sujeito estar numa posição em que considera que o que enxerga é a única verdade 
possível. E ela legitima a direita ao mesmo tempo em que deslegitima a esquerda. 
Estamos aqui considerando a posição sujeito desembargadora fora de um 
discurso jurídico. De fato, o discurso dominante, neste caso, é o discurso do 
Facebook. E o sujeito presente nesse discurso constitui-se em um usuário como 
qualquer outro. No entanto, nas seções que se seguem, mostraremos que esse 
atravessamento do discurso jurídico vai produzir seus efeitos. 
 
 
37 
 
 
4.3 ANÁLISE DA MATÉRIA DA FOLHA DE SÃO PAULO 
 
O próximo texto a ser analisado é a matéria publicada pela jornalista Mônica 
Bergamo no site da Folha de São Paulo. 
 
 
 
Figura 3 - Imagem da matéria da Folha de São Paulo 
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2018/03/desembargadora-diz-que-
marielle-estava-envolvida-com-bandidos-e-e-cadaver-comum.shtml 
 
 
 
38 
 
Como dito anteriormente, a posição-sujeito da desembargadora no 
Facebook era de cidadã e não o contrário. Então, por que dar tanta importância e voz 
para o comentário feito (por uma cidadã comum) em uma rede social? 
O não dito, aqui, incide sobre a vereadora Marielle Franco.O silêncio não 
é transparente e não fala, ele significa. É inútil traduzir o silêncio em palavras, mas é 
possível compreender o sentido dele por métodos de observações discursivas 
(ORLANDI, 1995). 
Orlandi (1995) ensina que: “[...] a política do silêncio dispõe as cisões entre 
o dizer e o não-dizer; e que a política do silêncio distingue por sua vez duas 
subdivisões: a) o constitutivo (todo dizer cala algum sentido necessariamente) e b) 
local (a censura)”. Desta maneira, é possível fazer uma análise do que foi dito 
anteriormente, na fala da magistrada no texto da jornalista Mônica Bergamo. 
 
 
Figura 4 – Imagem 2 da matéria da Folha de São Paulo 
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2018/03/desembargadora-diz-que-
marielle-estava-envolvida-com-bandidos-e-e-cadaver-comum.shtml 
 
Analisando este trecho em que a desembargadora diz não ser pessoal o 
que comentou sobre Marielle, é possível perceber o efeito de sentido trabalhando com 
o estereótipo que existe ali. Isso se torna claro quando ela diz que uma médica (de 
cor de pele branca) também morreu e não houve revolta como no caso de Marielle. 
Orlandi (1995) disserta sobre a noção do estereótipo: 
 
O estereótipo, a seu modo, cumpriria, no discurso, papel imaginário análogo 
ao do “pré-construído” (o efeito do já-dito que sustenta o dito), com efeito 
inverso, dando ao sujeito a impressão de que só ali os sentidos retornam, 
protegendo-o assim do mesmo sentido e da sua intercambiabilidade com 
outro sujeito qualquer. Compreendendo pois a produção desse efeito, pela 
análise de discurso, podemos também compreender que, nessa relação 
imaginária, em certas condições, o estereótipo é o lugar em que o sujeito 
resiste, em que ele se encontra um espaço para, paradoxalmente, trabalhar 
sua diferença e seus outros sentidos. É uma forma de proteger sua identidade 
no senso comum, pois o estereótipo cria condições para que o sujeito não 
apareça, diluindo-se na universidade indistinta (ORLANDI, 1995, p. 129). 
 
No trecho ‘e ela também lutava, trabalhava, salvava vidas’, a 
desembargadora despreza o que Marielle fez ou era, e nesse texto busca justificar a 
razão pela qual ela considera que a médica tem importância igual ou maior que a da 
 
 
39 
 
vereadora, por não ter nenhuma comoção como foi o caso da vereadora após sua 
morte. A comoção a qual a desembargadora se refere é a manifestação que ocorreu 
no dia 15 de março de 2018, um dia após a morte de Marielle e seu motorista 
Anderson. Milhares de pessoas em várias cidades do país saíram de suas casas e 
trabalhos para protestar contra o genocídio negro e para mostrar que não vão deixar 
de lutar pelas coisas que Marielle lutava. A desembargadora insere Marielle no 
estereótipo de que uma mulher como ela não pode ter mais importância do que uma 
médica, branca. E por mais que ela diga que esta questão não é pessoal, ela 
tampouco não pode ser considerada em uma posição-sujeito jurídica. Então conclui-
se que a desembargadora quer se isentar de culpa e se posiciona como não sendo 
pessoal o que disse a respeito de Marielle, tentando situar-se em um não-lugar, não 
encontrando posição que a isente da responsabilidade do dizer. 
 
4.4 ANÁLISE DA MATÉRIA DA REVISTA VEJA 
 
Posteriormente, a Veja publicou uma matéria baseada na notícia que a 
jornalista da Folha de São Paulo havia feito. 
 
 
 
 
Figura 5 - Imagem da matéria da Revista Veja 
Fonte: https://veja.abril.com.br/brasil/desembargadora-diz-que-marielle-estava-engajada-com-
bandidos/ 
 
 
40 
 
 
 “Os títulos devem ser específicos, indicando a informação principal das 
notícias de forma precisa, tanto com relação aos fatos, quanto aos números”, 
conforme Douglas (1966, p. 29). Como mostrado acima, tampouco a matéria da Folha 
quanto a da Veja mostraram fatos. Em ambas matérias o que existe é o discurso da 
desembargadora sendo exaustivamente repetido com credibilidade. Indursky (2015) 
disserta sobre o processo de repetições existentes para se gerar o efeito de sentido 
desejado pelas duas matérias: 
 
No que tange à mídia, sua prática é muito clara. Ela produz um processo 
discursivo que é da ordem da repetibilidade. No seu interior só há espaço 
para os saberes referentes à Formação Discursiva Dominante, os quais são 
repetidos à exaustão, até produzirem um efeito de verdade. Outras tomadas 
de posição são excluídas, produzindo-se gestos de silenciamento em torno 
de outros possíveis sentidos (INDURSKY, 2015, p.14) 
 
O indivíduo ao ler essa matéria acredita no que foi dito e acaba trabalhando 
o não-dito, quando a formação discursiva da jornalista gera o gesto de interpretação 
de que mesmo sendo uma fake news, Marielle não merece ser respeitada e essa 
questão não precisa ser desmentida. As fake news falando de Marielle foram 
publicadas na grande mídia, sem grande resistência. 
E com isso, a Veja se aproveitou novamente do enunciado de que Marielle 
‘estava engajada com bandidos’, pois compõe um título quase idêntico ao da matéria 
divulgada pela Folha. Tudo isso, mesmo depois de saber, que a informação proferida 
pela desembargadora tinha sido desmentida no corpo desta mesma notícia. 
A pergunta que preciso formular é: quem produz fake news? Quem a 
reproduz? Conforme citado por Indursky (2015), a exaustão de repetições sobre a fala 
da desembargadora vem reforçar o discurso político de um certo grupo, que acaba 
por produzir um efeito de verdade, um sentido favorável ao o que havia sido cogitado. 
Vale dizer também, que a mídia tradicional não ofereceu espaço para ouvir 
vozes contrárias, como por exemplo pessoas que trabalharam com Marielle ou mesmo 
seus familiares. Quando a Folha e a Veja ignoram o outro lado da história, ou seja, 
não checam os fatos citados pela desembargadora e nem buscam fontes que 
comprovem tal discurso, ambas demonstram que existe um silenciamento de uma 
outra posição. Ao invés disso, o que a grande mídia faz é noticiar à exaustão, a 
declaração tendenciosa e falsa da desembargadora. 
 
 
41 
 
Após essas matérias circularem, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) 
publicou uma nota para investigar a atitude da desembargadora. 
 
4.5 CONCLUSÃO DA ANÁLISE 
 
No dia 18 de abril de 2018, a desembargadora realiza nova postagem 
pedindo desculpas para Marielle e para uma professora com síndrome de down, sobre 
a qual a magistrada também havia feito comentários pejorativos. 
 
 
Figura 6 - Imagem da nova postagem da desembargadora no Facebook 
Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com/ancelmo/post/investigada-pelo-cnj-desembargadora-marilia-
castro-neves-faz-nova-postagem.html 
 
Como exposto na Figura 6, é possível ponderar sobre a postura tomada 
pela desembargadora com intenção de se redimir do que foi dito. Ao dizer ‘nesse 
tempo de fake news temos que ser cuidadosos’ o sujeito se retira da posição-sujeito 
como se isso fosse possível, porém não há como descolar-se de duas coisas que são 
intrínsecas. Por isto, o que chama a atenção tanto do título sem conotação negativa 
sobre Marielle e do que diz a desembargadora, é o efeito de sentido que essa matéria 
propõe dar e consegue. Então, depois de tudo o que a magistrada falou sem pensar 
ao repassar informações incertas sobre uma pessoa que ela conhecia foi esquecido 
e ‘perdoado’ pela mídia sem mais problemas. Cabe, ainda aqui, refletir que se essa 
mesma atitude fosse tomada por uma desembargadora negra, as coisas poderiam ou 
não seriam esquecidas ou perdoadas tão facilmente. 
 Aproximando o que foi visto até aqui às noções em Análise do Discurso, 
pudemos descrever discursivamente o que foi divulgado pela mídia. Isso foi 
importante para gerar um novo gesto de interpretação, que é contrário ao o que foi 
https://blogs.oglobo.globo.com/ancelmo/post/investigada-pelo-cnj-desembargadora-marilia-castro-neves-faz-nova-postagem.html
https://blogs.oglobo.globo.com/ancelmo/post/investigada-pelo-cnj-desembargadora-marilia-castro-neves-faz-nova-postagem.html

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