Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 SUMÁRIO Introdução Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) Princípios da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem Diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem Eixos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem 1. Acesso e acolhimento 2. Paternidade e cuidado Atenção Primária - Unidades Básicas de Saúde Atenção hospitalar - Maternidades 3. Prevenção de violência e acidentes 4. Saúde sexual e reprodutiva 5. Principais agravos/condições crônicas A implantação da política municipal de atenção integral à saúde do homem e o cotidiano das práticas em saúde - diálogos possíveis Estrutura básica sugerida para o planejamento regional Entre a intenção e o gesto Referências 04 06 07 08 08 09 10 11 12 14 14 16 19 22 22 24 4 INTRODUÇÃO O presente documento foi elaborado com a finalidade de apoiar a rede municipal de saúde na implantação da Política Municipal de Atenção Integral à Saúde do Homem (PMAISH), tal como consta no Programa de Metas 2017- 2020 da Prefeitura de São Paulo (Eixo - Desenvolvimento Social, Projeto - Viver Mais e Melhor, Linha de Ação 2.5 - Implantar, nas 6 Coordenadorias Regionais de Saúde, a Política Municipal de Atenção Integral à Saúde do Homem); produto de minucioso processo de análises e discussões em SMS SP, busca espelhar os desafios a serem enfrentados para a consolidação da atenção em saúde com qualidade para os homens do Município de São Paulo, dando cumprimento à Lei Municipal nº 16.540, de 31 de agosto de 2016. Sem a intenção de ser uma ação normativa, que estabeleça um roteiro pronto, esse documento parte da perspectiva de que O COTIDIANO DÁ A MEDIDA. Problematizando as questões sob a perspectiva da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) e de suas principais linhas de ação (reconhecimento da diversidade, sensibilização e capacitação das equipes de saúde, inclusão de homens como sujeitos nos programas de saúde, apoio de ações e atividades de promoção de saúde, articulação entre os diferentes níveis de atenção e campanhas informativas), pretende ser um disparador para a reflexão sobre as estratégias regionais para melhorar a saúde e a qualidade de vida dos homens, com base nas prioridades locais, arrancando o conceito de direito à saúde do abstrato, e transformando-o em trabalho vivo no concreto da vida cotidiana. Estruturado a partir dos 5 eixos da PNAISH (Acesso e Acolhimento, Paternidade e Cuidado, Prevenção de Violência e Acidentes, Saúde Sexual e Reprodutiva e Principais Agravos/Condições Crônicas), o documento apresenta breve discussão dos aspectos mais relevantes de cada eixo, a qual deve ser ampliada regionalmente com o apoio das áreas de SMS SP mais intrinsicamente envolvidas com a temática da PNAISH – Coordenação da Atenção Básica, AT de Saúde da Criança e do Adolescente, AT de Saúde da Mulher, AT de Atenção à Saúde da Pessoa em Situação de Violência, Programa Municipal DST/AIDS, Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis/DANT/COVISA, e das outras áreas afins. 5 A partir da reflexão provocada por este documento espera-se que as equipes locais abracem a missão de organizar ações capazes de impactar positivamente os indicadores de morbimortalidade da população masculina ali residente, agregando novas ideias e iniciativas às ações atualmente em curso, em um processo permanente, sistemático e com método, que permita o caminhar contínuo em direção à imagem-objeto de qualificar a atenção à saúde do homem no Município de São Paulo. Marcia Maria Gomes Massironi Área Técnica de Saúde do Homem Coordenação da Atenção Básica SMS SP 2017 6 P O L Í T I C A N A C I O N A L D E A T E N Ç Ã O I N T E G R A L À S A Ú D E D O H O M E M ( P N A I S H ) As ações da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, instituída no âmbito do Sistema Único de Saúde pela Portaria MS nº 1944, de 28 de agosto de 2009, buscam romper os obstáculos que impedem os homens de frequentar os serviços de saúde. Avessos à prevenção e ao autocuidado, é comum que protelem a procura de atendimento, permitindo que os quadros se agravem, e os serviços de saúde intervém somente nas fases mais avançadas da doença. A PNAISH, formulada para promover ações de saúde que contribuam para a compreensão da realidade singular masculina em seus diversos contextos, enfatiza a necessidade de mudanças de paradigmas no que concerne à percepção da população masculina em relação ao cuidado com a sua saúde e a saúde de sua família. Considera essencial que, além dos aspectos educacionais, os serviços de saúde sejam organizados de modo a acolher e fazer com que os homens se sintam parte integrante deles. Além de evidenciar os principais fatores de morbimortalidade, a PNAISH explicita o reconhecimento de determinantes sociais que resultam na vulnerabilidade da população masculina, e alerta para que as representações vigentes sobre masculinidade podem comprometer o acesso ao cuidado, expondo-a a situações de violência e aumentando sua vulnerabilidade. Citando Schwarz em “Reflexões sobre gênero e a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem”, a legitimidade da PNAISH se constrói pelas análises críticas que tomam como objeto o entrelaçamento dos temas saúde do homem, saúde coletiva e políticas públicas, buscando respaldo para pensar e repensar os possíveis caminhos da gestão da política da saúde dos homens, consolidando a relação entre gênero, saúde dos homens e agenda política. Os desafios a serem superados na atenção à saúde dos homens são superlativos – predomínio masculino na mortalidade por causas externas e morte precoce por doenças crônicas não transmissíveis, a garantia de acesso aos serviços de saúde com qualidade – mas é patente que o modelo básico de atenção voltado a crianças, adolescentes, mulheres e idosos não é suficiente para tornar o País mais saudável, deixando de fora das políticas públicas uma parcela considerável da população; na prática pouco visibilizada nas estratégias de atenção à saúde, a população masculina, em especial entre 20 e 59 anos, deve ser alvo de cuidados específicos e de um plano de ações 7 afirmativas que busquem reconhecê-la enquanto protagonista de suas demandas, mediante a pluralidade de contextos e condições biopsicossociais. Há de se cuidar, entretanto, para que não haja desvios nos seus propósitos, como quando os interesses exclusivos de medicalização do corpo masculino buscam atrelar-se às ações e estratégias da PNAISH. Neste caso, o recorte de gênero passa a ser usado para a vigência de relações de poder contrárias à saúde e ao bem-estar do cidadão, fazendo uso da sua vulnerabilidade, para então apontar soluções que atendem a outros interesses que não os do usuário. Por isso, no nível da atenção básica, a visão antropológica da saúde é fundamental, sendo um campo vasto de referências no qual a medicalização deve ser problematizada. A abordagem assistencialista e biomédica dispensada ao usuário se contrapõe, em termos gerais, à emancipação efetiva de sua cidadania no campo da saúde. Em conclusão, ao estabelecer estratégias para tornar os homens protagonistas de demandas que consolidem seus direitos e a cidadania, é mister a compreensão sobre a necessidade de estabelecer ações no sentido de empoderar as alternativas do cuidado à saúde do homens; para que esse investimento obtenha êxito precisamos, como profissionais de saúde, ressignificar as nossas próprias representações do SER HOMEM, no sentido de que os entendamos como sujeitos de direito, e promovamos ações que valorizem ambientes estimulantes, que permitam a esses homens serem protagonistas das ações do setor saúde dirigidas aos mesmos. PRINCÍPIOS DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM I - Universalidade e equidade nas ações e serviços de saúde voltados para a população masculina, abrangendo a disponibilidade de insumos, equipamentose materiais educativos; II - Humanização e qualificação da atenção à saúde do homem, com vistas à garantia, promoção e proteção dos direitos do homem, em conformidade com os preceitos éticos e suas peculiaridades socioculturais; III - Corresponsabilidade quanto à saúde e à qualidade de vida da população masculina, implicando articulação com as diversas áreas do governo e com a sociedade; 8 IV - Orientação à população masculina, aos familiares e à comunidade sobre a promoção, a prevenção, a proteção, o tratamento e a recuperação dos agravos e das enfermidades do homem. DIRETRIZES DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM I - Integralidade, que abrange: a) Assistência à saúde do usuário em todos os níveis da atenção, na perspectiva de uma linha de cuidado que estabeleça uma dinâmica de referência e de contrarreferência entre a atenção básica e as de média e alta complexidade, assegurando a continuidade no processo de atenção; b) Compreensão sobre os agravos e a complexidade dos modos de vida e da situação social do indivíduo, a fim de promover intervenções sistêmicas que envolvam, inclusive, as determinações sociais sobre a saúde e a doença; II - Organização dos serviços públicos de saúde de modo a acolher e fazer com que o homem se sinta integrado; III - Implementação hierarquizada da política, priorizando a atenção básica; IV - Priorização da atenção básica, com foco na estratégia de Saúde da Família; V - Reorganização das ações de saúde, por meio de uma proposta inclusiva, na qual os homens considerem os serviços de saúde também como espaços masculinos e, por sua vez, os serviços de saúde reconheçam os homens como sujeitos que necessitem de cuidados; VI - Integração da execução da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem às demais políticas, programas, estratégias e ações do Ministério da Saúde. EIXOS DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM Didaticamente, optou-se por aprofundar a discussão tomando por base os 5 eixos da Política Nacional, sem que isso se reflita na fragmentação do trabalho em processo: 9 1. ACESSO E ACOLHIMENTO OBJETIVO: reorganizar as ações de saúde, através de uma proposta inclusiva, na qual os homens considerem os serviços de saúde também como espaços masculinos e, por sua vez, os serviços reconheçam os homens como sujeitos que necessitam de cuidados. O propósito de qualificar o acesso e acolhimento dos homens junto aos serviços de saúde implica, necessariamente, na consideração de alguns aspectos peculiares do comportamento de boa parcela dos homens em relação à própria saúde e ao autocuidado: procuram pouco os serviços de saúde; quando os procuram, não seguem os tratamentos recomendados, ou o fazem parcialmente; acham que nunca vão adoecer, e tem medo de descobrir doenças; envolvem-se frequentemente em situações de violência; não praticam atividade física com regularidade; utilizam álcool e outras drogas com maior frequência; estão mais expostos a acidentes de trabalho; não se alimentam adequadamente; estão mais suscetíveis a infecções sexualmente transmissíveis; podem ter mais impedimentos de serem liberados do trabalho para comparecer aos serviços de saúde. Esse cenário nos impele a organizar ações para sua superação. Para tanto, há necessidade de rever os processos de trabalho, com equipes atentas para perceber se as ofertas de serviços e recursos dão resposta às demandas específicas trazidas pelos homens, se os fazem sentir como pertencentes àqueles espaços, explorando ao máximo a presença do homem no serviço como “usuário”, e não somente como “acompanhante”. A rede municipal de saúde de São Paulo tem desenvolvido, ao longo dos últimos anos, uma série de ações em saúde do homem; em que pese que de modo um tanto desarticulado de uma diretriz municipal mais sólida, há registro de mais de 250 experiências da Atenção Básica voltadas a captar e vincular o homem nas diferentes Coordenadorias de Saúde. Voltadas em sua maior parte para atrair e vincular os homens aos serviços, podem ser um terreno excelente para a discussão de acesso e acolhimento: 1. Quantas Unidades Básicas estão envolvidas na CRS? 2. Há experiências sustentadas, ou apenas aconteceram em resposta à demanda no lançamento da Política Nacional? 10 3. Como se dá a oferta de serviços para homens e mulheres? Há algum diferencial na percepção das nuances que devem permear o atendimento ao homem, ou os serviços são ofertados de forma “genérica”? 4. A Unidade Básica de Saúde é um espaço acolhedor, propício ao vínculo, ou um espaço no qual o homem não se identifica? A Unidade acolhe e atende o homem que não é de sua área de abrangência, que trabalha ou estuda em seu território, ampliando o acesso? 5. Como o homem se vê quando acolhido e atendido por mulheres? Consegue expor suas necessidades e sua dor, ou considera mais “natural e confortável” que seja acolhido e atendido por profissionais homens? 6. Como é trabalhada a tensão entre o “tempo da equipe de saúde” e o “tempo do usuário homem” no que tange à disjunção entre os procedimentos padronizados e previsíveis e a expectativa do usuário real, que é autônomo, nômade, quer respostas rápidas, faz escolhas e subverte a racionalidade planejada pelos gestores? 7. É possível identificar quantos e quais homens não comparecem às consultas e exames agendados, ou abandonam o tratamento recomendado? Quais os motivos? Como lidar com isso? Como importante ferramenta para fortalecer o acesso e o acolhimento junto à Atenção Básica será distribuído à rede o GUIA DE SAÚDE DO HOMEM PARA AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE (ACS), que os apoia para serem proativos e atores essenciais na captação dos homens do território e sua vinculação às equipes de saúde. 2. PATERNIDADE E CUIDADO OBJETIVO: sensibilizar gestores, profissionais de saúde e a população em geral sobre os benefícios do envolvimento ativo dos homens com em todas as fases da gestação e nas ações de cuidado com seus filhos, destacando como esta participação pode trazer saúde, bem-estar e fortalecimento de vínculos saudáveis entre crianças, homens e parceiras(os). Ocupa destaque, na formulação da PNAISH, a preocupação com a participação e inclusão dos homens nos cuidados do pré-natal e do parto, na perspectiva da paternidade responsável, presente e cuidadora. O cuidado é expressão de uma potencialidade humana que, ao ser conectado pelos homens, pode facilitar sua libertação dos papéis estereotipados determinados pelas 11 concepções de gênero, e permitir seu desencouraçamento e a recuperação da capacidade de autorregulação/autocuidado. Vários estudos indicam os benefícios que a paternidade pode trazer à relação dos homens com eles mesmos e com os que os rodeiam. A prática de uma paternidade mais próxima implica, portanto, numa revalorização pelos homens das tarefas de cuidar e na integração destas à representação de masculinidade e de paternidade. Como podem os homens, quando envolvidos com a paternidade e o cuidado, contribuir para melhores resultados sanitários para eles mesmos, para seus filhos e parceiras(os)? O que é conhecido acerca de paternidade e saúde reprodutiva? Que fatores afetam o envolvimento dos homens no cuidado consigo mesmo e com o outro? As estratégias para atrair os homens e aumentar sua inclusão nas rotinas do cuidado do parto e nascimento implicam na formulação de novas práticas assistenciais, e na revisão de concepções de gênero, família, paternidade e maternidade tradicionais, com o fim de criar ambientes estimulantes que incentivem a participação do parceiro sexual ou outra pessoa que possa ser referência de cuidado e afeto. Estruturar o Pré-Natal do Parceiro, com o apoio do GUIA DO PRÉ-NATAL DO PARCEIRO PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE, e alinhado às ações da Rede Cegonha, é um fator fortalecedor da potência do trabalho em rede, envolvendo ativamente o homem no processo de planejamento reprodutivo, gestação,parto, puerpério e desenvolvimento infantil, proporcionando oportunidades para criação de vínculos mais fortes e saudáveis entre pai, mãe e filhos. Não deve se perder de vista que a questão da paternidade é uma “porta de entrada positiva” para os serviços de saúde, além do bem-estar que pode gerar para toda a família, pois pode integrar os homens na lógica dos sistemas de saúde ofertados e na realização de exames de rotina, como HIV, sífilis, hepatites, hipertensão e diabetes, dentre outros. Para organizar o Pré-Natal do Parceiro no território é necessário que os dois principais pontos de atenção envolvidos nessa modalidade de cuidado tenham definidas e negociadas suas responsabilidades: Atenção Primária - Unidades Básicas de Saúde É na rede de Atenção Primária que a mulher tem acesso aos exames confirmatórios da gravidez, e é acompanhada durante toda a gestação. Ao receber o resultado positivo do teste imunológico para a gravidez deve se oportunizar a inclusão dos homens no processo, explicando como será sua 12 participação, estimulando-o a comparecer às consultas, realizar os exames solicitados, receber tratamento quando indicado e acompanhar a mulher no hospital no momento do parto. Nesse momento a equipe pode buscar informações sobre quem são esses homens (faixa etária, escolaridade, condições de vida, profissão, situação conjugal), qual sua história reprodutiva, qual a perspectiva frente ao resultado do teste de gravidez, o que sabe de paternidade e cuidado, se conhece métodos contraceptivos, como também os modos de se prevenir de doenças sexualmente transmissíveis, e se tem conhecimento dos serviços oferecidos pela unidade de saúde. Também é o momento de atualizar o cartão de vacinas do adulto. Na ocasião do diagnóstico de gravidez, as UBS devem ofertar teste rápido de sífilis e HIV para as mulheres e, caso o exame de sífilis apresente resultado positivo, iniciar o protocolo de abordagem de sífilis. É importante que os profissionais solicitem à gestante que leve o parceiro para testagem e eventual tratamento, caso esse não esteja presente no momento da consulta. Na avaliação dos resultados de exames e definição do tratamento (se necessário) é recomendada a abordagem da temática das vulnerabilidades no âmbito da vida sexual e reprodutiva, ou do uso e abuso de substâncias lícitas ou ilícitas, e questões de aconselhamento. Percebe-se neste momento a oportunidade de incluir os homens nas atividades individuais ou em grupo nas unidades de saúde, com as quais ele será incentivado a refletir sobre temas relacionados à masculinidade, gênero, saúde sexual e reprodutiva, paternidade e cuidado, hábitos saudáveis de vida, prevenção de violência e acidentes, direitos legais dos pais e parceiros. Deve ficar claro que a presença dos homens é benvinda em todas as consultas de pré-natal, assim como nas atividades em grupo desenvolvidas com as gestantes, na medida de suas possibilidades, valorizando sua capacidade como cuidador, escutando suas demandas e sugestões, oferecendo apoio e incentivando-os a cuidar da própria saúde. Caso isto não ocorra, propõe-se a busca ativa do parceiro sexual para verificação de sorologias e tratamento se, por ocasião do 3º trimestre, as sorologias da grávida resultarem em positividade. Atenção hospitalar - Maternidades A entrada do pai/parceiro sexual na rotina dos serviços obstétricos precisa do apoio de gestores e dos profissionais de saúde, pois historicamente os homens estiveram afastados dos serviços de saúde e, apesar de apoiada 1 13 por dispositivos legais (Lei Federal nº 11108/2005 – acompanhamento do parto), há uma distância considerável entre a recomendação da presença do pai/parceiro no parto e a prática das maternidades. Todos os envolvidos no processo precisam estar sensibilizados para a importância da presença do pai/parceiro, por vezes a única referência emocional da grávida, trazendo benefícios à saúde da mãe, do bebê e à sua própria. Portanto, em primeiro lugar a equipe de saúde deve entender que os homens não é visita, e sim um agente/ator/parceiro permanente durante todo o processo; é desejável que tenha participação ativa na esfera familiar durante a gestação, parto e pós-parto. Sendo assim, sua presença é fundamental para a construção de vínculos. Estudos indicam que a presença de acompanhante no parto tem sido associada a resultados positivos, como a menor solicitação de alívio da dor, menor risco de cesárea ou de partos operatórios, menor risco de Apgar abaixo de 7 nos primeiros 5 minutos, menor avaliação pela mulher do parto como experiência negativa, maior satisfação com o parto, menos trauma perineal, menor risco de desmame precoce e de dificuldades com a maternagem no pós-parto, entre outros. A participação paterna no processo de nascimento e parto se dá durante o pré-natal, no momento que antecede ao parto, com apoio emocional e físico, e por ocasião do parto. Para tanto, é importante preparar o pai/parceiro para a sua presença na sala de parto como um coadjuvante. Cabe aos profissionais desenvolver com o pai uma relação de orientação, cuidadosa, respeitosa e facilitar sua permanência ao lado da parturiente, compartilhando de uma mesma linguagem e rotina de cuidados. O acompanhante deverá ser incluído desde a internação, sendo esclarecido de maneira simples sobre os procedimentos e rotinas hospitalares, além de discutir suas expectativas e de como poderá ajudar. Durante o trabalho de parto os homens podem interagir, interpretar e atender às necessidades da parturiente, e poderão oferecer apoio através da presença contínua, conforto, contato manual como massagem, encorajamento verbal, hidratação, banho e deambulação (quando não há contraindicação obstétrica). No momento do parto a equipe oferecerá vestimentas hospitalares ao acompanhante, que deverá ser posicionado pela equipe ao lado da parturiente. Desse modo, os homens participam e compartilham de momentos benéficos ao casal; também poderá cortar o cordão umbilical, caso o deseje, pegar o bebê e colocá-lo junto ao peito da mãe, e assistir ou participar da higiene do bebê. 14 3. PREVENÇÃO DE VIOLÊNCIA E ACIDENTES OBJETIVO: propor e/ou desenvolver ações que chamem atenção para a grave e contundente relação entre a população masculina e as violências (em especial a violência urbana) e acidentes, sensibilizando a população em geral e os profissionais de saúde sobre o tema. A violência, em definição da Organização Mundial da Saúde é o “uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grandes possibilidades de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação”. Fenômeno difuso, complexo e multicausal, é um tema bastante caro na elaboração das políticas públicas para a saúde dos homens, pois é um grande determinante dos indicadores de morbimortalidade por causas externas, sendo a principal causa de mortes de homens entre 15 e 29 anos. Os homens são mais vulneráveis à violência, seja como autores, seja como vítimas, e é comum a associação da agressividade ao sexo masculino, em grande parte vinculada ao uso abusivo de álcool, de drogas ilícitas e acesso às armas de fogo. Em face disto, está dado o desafio: desenvolver a visão sistêmica sobre o processo da violência, não atribuindo inexoravelmente aos homens o papel de violento e agressor, o que reduzirá a abordagem à questão puramente penal, mas sim reconhecer que o agressor também é vítima e, a partir daí, intervir preventivamente sobre as causas, e não apenas na reparação da violência. Frente a isto, é necessário provocar o debate sobre o quanto os profissionais de saúde estão estruturados para identificar, acolher e encaminhar situações de violência envolvendo homens (não só como autores, mas também como vítimas), assim como desenvolver estratégias e ações educativas voltadas paraa população masculina, com vistas à prevenção de violências e acidentes, o abuso de álcool e de outras drogas. No Município de São Paulo, a apresentação da Linha de Cuidado para Atenção Integral à Saúde da Pessoa em Situação de Violência (2015) representa um significativo avanço no enfrentamento do fenômeno; na implantação regional da PMAISH recomenda-se que se explore ao máximo a potencialidade dos Núcleos de Prevenção de Violência (NPV), institucionalizados em todos os serviços de saúde, na busca de minimizar o impacto das diversas formas de 15 violência sobre os cidadãos, mas também compreendendo que a violência, em todas as suas formas, talvez seja o único ponto de contato dos homens com os serviços de saúde (em hospitais, pronto-atendimento, pronto-socorro), e os profissionais precisam estar atentos às possibilidades de vincular o homem às equipes de saúde e proporcionar cuidado continuado. 4. SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA OBJETIVO: sensibilizar gestores, profissionais de saúde e a população em geral para reconhecer os homens como sujeitos de direitos sexuais e reprodutivos, os envolvendo nas ações voltadas a esse fim e implementando estratégias para aproximá-los desta temática. De acordo com a definição da Organização Mundial da Saúde, saúde sexual é um estado de bem-estar físico, mental e social em relação à sexualidade, que requer uma aproximação positiva e respeitosa à sexualidade e relações entre sexos, assim como a possibilidade de ter experiências sexuais prazerosas e saudáveis, livres de correção, discriminação e violência. Para tanto, os direitos sexuais de todas as pessoas precisam ser respeitados, protegidos e realizados. Saúde reprodutiva, por sua vez, é o estado no qual as pessoas são capazes de ter uma vida sexual responsável, satisfatória e segura, com capacidade para a reprodução, e a liberdade de decidir se a desejam, quando e com que frequência. Igualmente implicam no direito de homens e mulheres serem informados e terem acesso a métodos de fertilização seguros, efetivos e economicamente acessíveis, e o direito de acesso a serviços de saúde que possam permitir segurança na gravidez e no parto. Porque falar de saúde sexual e reprodutiva no âmbito da saúde dos homens? A sexualidade, necessidade básica e indissociável dos demais aspectos da vida de homens e mulheres, precisa ser discutida para garantir saúde. Os homens precisam ser incluídos nas atividades que abordam a saúde sexual e reprodutiva. As equipes precisam estar preparadas para desenvolver ações voltadas à saúde sexual e reprodutiva, com a compreensão de que essa é expressa por diversas formas de sexualidade e expressão; devem oportunizar a discussão sobre as masculinidades e suas diversas expressões, sobre gênero e relações de poder e sobre a implicação dessas questões na saúde. Fica clara, portanto, a necessidade de estender a discussão de sexualidade para muito além do biológico; é necessário abordar as disfunções sexuais, as neoplasias ligadas aos órgãos sexuais masculinos e as infecções sexualmente transmissíveis na 16 perspectiva da atenção integral, evitando-se o reducionismo da articulação sexo-saúde-medicalização do corpo masculino, e o esvaziamento da noção de saúde sexual associada exclusivamente à disfunção erétil. Corre-se, desse modo, o risco da perpetuação da imagem do “homem-reprodutor”, ignorando- se quaisquer outras formas de percepção da sexualidade masculina. Para que se alcance esse objetivo, há de se desenvolver estratégias que contemplem as demandas dos homens, em um contexto receptor dessas necessidades, acolhendo-os sem preconceitos ou discriminação de nenhuma ordem, onde possam expressar suas escolhas, suas práticas, seus medos, suas aspirações; favorecer o acesso à informação sobre direito sexual e direito reprodutivo, levando em consideração o contexto cultural no qual o homem está inserido. De igual importância é a prevenção e controle das doenças sexualmente transmissíveis e do HIV, as campanhas informativas que esclareçam sobre a higiene íntima masculina, a visibilização da população LGBT de acordo com a lógica do SUS, como também a incorporação das questões de masculinidades das diferentes etnias e povos, buscando trabalhar suas vulnerabilidades e o respeito às especificidades em saúde sexual e reprodutiva de cada uma destas culturas. 5. PRINCIPAIS AGRAVOS/CONDIÇÕES CRÔNICAS OBJETIVO: fortalecer a assistência básica no cuidado à saúde dos homens, facilitando e garantindo o acesso e a qualidade da atenção necessária ao enfrentamento dos fatores de risco das doenças e dos agravos à saúde. Desde o final dos anos 90, a prevenção das doenças crônicas não transmissíveis tornou-se foco de preocupação dos sistemas de saúde nos países desenvolvidos e em desenvolvimento porque, além de associadas a altos índices de mortalidade, também respondem por significantes custos para a saúde, sendo uma das principais causas de incapacidade em nosso meio. Merecem destaque a hipertensão arterial e o diabetes melito que, associados à dislipidemia, tabagismo, sedentarismo, alimentação inadequada e obesidade, são os principais determinantes das afecções cardiovasculares no mundo. O sistema de saúde, hoje organizado em torno de um modelo de tratamento de casos agudos e episódicos, não mais atende as necessidades de saúde, especialmente para doenças de longa duração. A análise da prevalência das principais condições associadas às doenças crônicas claramente inviabiliza 17 a construção da assistência baseada na fragmentação e na centralização ao redor do binômio médico – hospital, o que exige uma mudança na prática clínica vigente, não mais relegando a pessoa ao papel de recebedor passivo do tratamento, mas explorando ao máximo a oportunidade de tirar proveito do que possa fazer para promover sua própria saúde. Frente a esse cenário, fica clara a necessidade de se estabelecer estratégias de reestruturação dos processos de trabalho, contrapondo ao “olhar agudo” sobre a assistência um renovado “olhar crônico”. Não existindo a possibilidade de cura, mas somente a perspectiva de controle da condição crônica e da prevenção de agravos, surge a necessidade de serviços adequados para gerir cuidados, promover a modificação e incorporação de hábitos de vida saudáveis e enfatizar um enfoque de cunho preventivo e educativo. Esse conjunto de ações encontra as condições mais adequadas para ser viabilizado junto à Atenção Básica. Porém, como já citado anteriormente, considerável parcela masculina da população busca tardiamente a assistência, preferencialmente nos serviços especializados e de pronto-atendimento (muitas vezes com algum diagnóstico instalado), num contexto que aborda fundamentalmente a questão biológica. Isso se reflete principalmente nos dados de mortalidade e expectativa de vida masculina, com considerável disparidade quando comparadas à feminina. Como superar, então, a questão da resistência dos homens em procurar o CUIDADO em sua acepção mais ampla e modificar as práticas vigentes em relação ao imaginário da saúde masculina, de modo a que sejam mais preventivos em relação à própria saúde e fortalecidos quanto ao autocuidado? Para definir e priorizar ações para o enfrentamento às DCNT no território, cabe a reflexão sobre os seguintes aspectos: 1. Quais as prevalências dos principais fatores de risco comuns e mo- dificáveis para as DCNT no território, em homens na faixa etária alvo da PNAISH (obesidade, sedentarismo, alimentação não saudável, tabagismo, uso e abuso de álcool)? 2. Quais as principais ações implantadas para promover saúde e prevenir doenças? 3. A estratificação de risco está consolidada como estratégia para pro- gramação da oferta de cuidado? 18 4. Tendo em vista que o acesso às especialidades no Município de São Paulo é em grande parte regulado a partir da Atenção Básica, esses encaminhamentos acontecem somente após esgotadas todas as possibilidades de intervenção daAtenção Básica? Se não, quais os fatores que direta ou indiretamente contribuem para isso, e quais as ações propostas para a vinculação do homem ao cuidado continuado, oportuno e resolutivo na Atenção Básica? 5. Quanto significativa é a proporção de faltas dos homens às consultas agendadas? É possível identificar que homens deixam de comparecer à consulta agendada (idade, com diagnóstico instalado ou não, estado civil, ocupação, escolaridade, renda, em situação de vulnerabilidade ou não) e por que motivo? 6. A articulação entre os diferentes pontos de atenção é potente o suficiente para garantir o cuidado continuado? 7. Quais as parcerias com instâncias intra e extra saúde que podem ser estabelecidas ou fortalecidas nos territórios? Além dos aspectos acima, um dos fundamentos para o enfrentamento das DCNT no contexto da saúde do homem é a discussão sobre os determinantes socioambientais e sua influência na saúde e adoecimento dos indivíduos (desigualdades sociais, diferença de acesso a bens e serviços, baixa escolaridade, baixa renda, desigualdade de acesso à informação, falta de acesso à alimentação saudável, ambientes insalubres); há de se reconhecer as inúmeras possibilidades de integração dos diversos setores sociais (Educação, Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social, Direitos Humanos e Cidadania, Esportes e Lazer, Trabalho e Empreendedorismo, Pessoa com Deficiência, sociedade civil organizada), e convocá-los para compor ações estratégicas em conjunto, buscando criar uma rede de proteção às pessoas. No âmbito de SMS é oportuno vislumbrar a possibilidade de uma atitude mais proativa dos níveis centrais na aproximação com os setores citados, o que facilita a articulação regional. 19 A I M P L A N T A Ç Ã O D A P O L Í T I C A M U N I C I P A L D E A T E N Ç Ã O I N T E G R A L À S A Ú D E D O H O M E M E O C O T I D I A N O D A S P R Á T I C A S E M S A Ú D E - D I Á L O G O S P O S S Í V E I S A premissa de ressignificar as nossas próprias representações do SER HO- MEM e promover ações que permitam a esses homens serem protagonistas das ações de saúde provoca a discussão sobre o entrelaçamento do constru- to de gênero, das masculinidades, das políticas públicas e das práticas em saúde; instala-se, então, um grande desafio, e algumas questões a serem respondidas: o modo vigente de produzir cuidado, em especial sob a forma de Programas dirigidos a populações específicas, dá conta de prover a atenção integral à saúde dos homens? Se não, como estabelecer ações que reconhe- çam a pluralidade das masculinidades, visando alcançar populações distin- tas, com a articulação de ações institucionais que garantam o acesso e refor- cem os princípios gerais de integralidade, universalidade e equidade? Qual a oferta mínima de ações que podem ser garantidas para todos os homens que acessam o sistema, na Atenção Básica e nos outros níveis da assistência? A percepção das relações que se estabelecem entre profissionais de saúde e usuários do sexo masculino auxilia na compreensão de barreiras institucionais e relacionais que impactam no acolhimento das demandas dos homens, levando à leitura crítica dos “postulados” que reafirmam o “machismo” como “salvo-conduto” para não adoecer, como passaporte para hábitos de vida pouco saudáveis e para justificar a relativa “ausência” dos homens nos serviços de saúde. Em geral, a população masculina corresponde a parcela menor que a feminina nos serviços de atenção básica, e há tendência a associar a adoção de práticas curativas aos homens, e preventivas às mulheres; isto se traduz diretamente na busca dos homens por serviços de especialidade ou pronto-atendimento em situações de doenças agudas e/ou urgência, de resposta rápida e, em geral, calcado no biológico, principalmente quando há impacto em sua capacidade laboral. Se nos serviços não se percebe a dificuldade na assistência aos “homens doentes”, o cenário se inverte quando diz respeito a apoiar os homens na reflexão sobre a mudança de atitude em relação à própria saúde. Na implantação da PMAISH é importante considerar duas dimensões passíveis de intervenção: por um lado, o que mais se aproxima dos níveis 20 administrativos (Planejamento e Gestão), com o estabelecimento de ações consistentes, sustentáveis, fundamentadas nas necessidades locais e no estabelecimento de metas a serem alcançadas, voltadas à atenção integral e não ao enfrentamento de problemas pontuais; nesse sentido, deve haver permeabilidade para discutir algumas estratégias de aproximação do homem com as equipes de saúde, consideradas as possibilidades regionais: ampliar o acesso para homens que trabalham ou estudam no território, realizar visitas e atendimentos domiciliares, ampliar o horário de atendimento da Unidade, realizar ações em espaços extramuros com grande concentração de homens, acolher a demanda não agendada, desenvolver calendário de ações de Educação Permanente em temas de saúde do homem. Por outro lado, deve-se considerar o que tem relação com a organização dos processos de trabalho e com os profissionais que circulam e produzem a vida dos serviços de saúde, articulando várias formas de saber na produção do cuidado. As equipes estão preparadas para uma assistência humanizada e de qualidade, e com a oferta de atenção específica respeitando as nuances da atenção à saúde do homem? Em qual proporção de consome a “tecnologia ”leve”, relacional e cuidadora (que deve ser priorizada) em relação à “tecnologia dura” (exames imagens procedimentos)? As ações de saúde são realmente centralizadas nos homens e suas demandas específicas? Outro elemento-chave consiste em fortalecer a capacidade do homem para cuidar de si, fator fundamental para escolhas responsáveis e melhoria da qualidade de vida. Para tanto, o formato de trabalho em grupo e de educação em saúde deve ser revisitado, com a criação de processos que efetivamente contribuam para o autocuidado. Mais do que uma sequência descoordenada de diferentes ações em saúde, muitas das vezes dirigidas às mesmas pessoas por anos a fio, deve-se buscar na articulação dos diferentes saberes e práticas uma atuação mais solidária, focada nas necessidades e com objetivos claros. Na implantação da PMAISH alguns alinhamentos são necessários: 1. Às ações de organização das Redes de Atenção à Saúde nas Coordenadorias Regionais de Saúde, a partir da análise da situação de saúde do território e das necessidades de saúde dos homens, com a identificação dos problemas prioritários que requeiram a implementação de soluções; 21 2. Ao estabelecimento de ações de Educação Permanente para além do conceito biomédico de doença, ampliando o conteúdo programático para as questões de gênero, masculinidades, populações vulneráveis (negros, indí- genas, migrantes, população LGBT, população em situação de rua, popula- ção privada de liberdade, idosos, iletrados), entre outras possibilidades; 3. Às diretrizes da Política Nacional da Atenção Básica e do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ), que representam um importante avanço no sentido da promoção da saúde masculina, propiciando ambientes livres de constrangimento, acolhedores e estruturados para proporcionar melhores condições de trabalho e melhores relações de comunicação: a. A melhoria contínua dos processos de trabalho, com consequente melhoria da qualidade dos serviços; b. O estímulo à efetiva mudança do modelo de atenção vigente, fragmentado e de baixa resolutividade, prescritivo, médico-centrado, focado na queixa-conduta e na dimensão biomédica do processo saúde-doença- cuidado; ao invés, apostar na forte articulação entre os profissionais, de modo que não só as ações sejam compartilhadas, mas também haja um processo interdisciplinar no qual, progressivamente, os núcleos de competência profissionais específicos vão enriquecendo o campo comum de competências, ampliando, assim, a capacidadede cuidado de toda a equipe; c. Os projetos terapêuticos centrado na pessoa; d. O estabelecimento de comparação entre as atividades desenvolvidas nas Unidades de Saúde (umas com práticas mais consolidadas, outras com práticas incipientes), o que possibilita estabelecer as prioridades de intervenção e a expansão da PMAISH no território; e. O fortalecimento da integração das equipes da AB com os outros pontos da rede de atenção; 4. À implementação de metodologia para monitoramento da implantação da PMAISH e avaliação contínua. Finalmente, devem ser consideradas as interfaces com as políticas que são transversais à Saúde do Homem, com destaque para a Saúde Mental e a Saúde do Trabalhador. 22 E S T R U T U R A B Á S I C A S U G E R I D A P A R A O P L A N E J A M E N T O R E G I O N A L Para a elaboração do planeamento regional para implantação da PMAISH é sugerida a seguinte estrutura básica: 1. Introdução 2. Análise situacional: a. Dados demográficos b. Perfil das morbidades c. Perfil de mortalidade d. Identificação das iniciativas e ações voltadas à saúde do homem em curso, e sua inserção no Plano Regional e. Identificação das parcerias intra e extra saúde 3. Identificação dos problemas e priorização para intervenção 4. Formulação de objetivos, metas, ações e responsáveis 5. Avaliação e monitoramento, com definição de indicadores que permitam determinar o grau de cumprimento das metas ENTRE A INTENÇÃO E O GESTO Afinal, de que homens estamos falando? Como planejar a oferta de serviços de atenção à saúde que respeite as singularidades, diversidades sociais, cul- turais, étnicas, religiosas e de gênero? Como envolver todos os atores em ampla pactuação, para que as ações sejam legítimas e sustentáveis? Quais as responsabilidades implícitas das diferentes instâncias de SMS para o êxito da ação? Como, a partir das necessidades e possibilidades do Município de São Paulo e dos preceitos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, implantar a Política Municipal de Atenção Integral à Saúde do Homem? São questões para reflexão, que devem traduzir o compromisso de SMS, que se concretizará tendo por referencial as seguintes linhas de ação: 1. Priorizar a Atenção Básica, referência para a estruturação dos sistemas locais de saúde, explorando ao máximo sua potência em entender o sujeito 23 em sua singularidade, em diversos contextos socioculturais e locorregionais, considerando a organização local das Redes de Atenção à Saúde, com o obje- tivo de garantir a continuidade do cuidado; 2. Definir, para os demais pontos de atenção do território, o conjunto de ações necessárias para acolher as diferentes demandas masculinas e propiciar as referências que garantam a atenção integral e a continuidade do cuidado; 3. Fortalecer a vigilância e atuação sobre os principais fatores de proteção e de risco comuns e modificáveis para as DCNT, captando precocemente a população masculina para as atividades de prevenção primária relativa às doenças cardiovasculares e cânceres, entre outros agravos recorrentes; 4. Implantar a Linha de Cuidado da Hiperplasia Prostática Benigna, e acessar as Unidades que sistematicamente tem realizado o rastreamento do câncer de prós- tata para alinhamento com a recomendação do Instituto Nacional do Câncer/MS; 5. Incluir nas ações de Educação Permanente temas ligados a Atenção Integral à Saúde do Homem, buscando a transversalidade em todas as capacitações programadas; 6. Ampliar a participação do parceiro no pré-natal e incluir os homens nos programas de saúde/direitos sexuais e reprodutivos. 7. Estender o campo de atuação aos espaços extra saúde, com grande con- centração de homens, disseminando informação sobre a importância dos cuidados com a saúde do homem e desenvolvendo estratégias para vincula- ção desses aos serviços de saúde. Desse modo, ao se destacar a discussão sobre a saúde do homem e o esta- belecimento de redes que permitam prestar assistência continuada a essa parcela da população, pretende-se, de forma organizada, incluir todos os en- volvidos no processo saúde-doença, com realce para as ações de promoção da saúde e prevenção de doenças. Neste cenário pode-se, então, estabelecer ações efetivas, sendo possível perceber em alguns anos a repercussão des- sas iniciativas na qualidade de vida e nos indicadores de saúde da população masculina da cidade de São Paulo. 24 REFERÊNCIAS Anexo 1 Área Técnica de Saúde do Homem/Coordenação da Atenção Básica/ Se- cretaria Municipal da Saúde de São Paulo – link para o documento de es- tratégias gerais e para as apresentações de 13 e 14 de novembro de 2017. Coordenação Nacional de Saúde do Homem/Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas/ Ministério da Saúde. http://portalsaude.saude.gov.br/index.php?option=com_content&- view=article&id=11362&Itemid=694 Programa de Metas da Prefeitura da Cidade de São Paulo http://programademetas.prefeitura.sp.gov.br/files/Programa-de-Me- tas_2017-2020_Final.pdf Censo da População em Situação de Rua da Cidade de São Paulo, 2015 http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/assistencia_social/ observatorio_social/2015/censo/FIPE_smads_CENSO_2015_coletivafinal.pdf Documento Norteador dos Consultórios na Rua (CnaR) http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/docu- mento%20norteador%20Consultorio%20na%20Rua%20Versao%20Final.pdf Linha de Cuidado para Atenção Integral à Saúde da Pessoa em Situação de Violência http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/baixa- cartilhaviolencia(1).pdf Linha de Cuidado da Hiperplasia Prostática Benigna - Município De São Paulo – RRAS 6 http://sms.sp.bvs.br/lildbi/docsonline/get.php?id=7650 Pesquisa de Conhecimentos, atitudes e práticas na população residente no Município de São Paulo http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/PCAPV2.pdf 25 Política Nacional de Saúde Integral de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_lesbicas_gays.pdf AGUIAR B S, Neves H, Lira M T A M. Alguns aspectos da saúde de imigrantes e refugiados recentes no município de São Paulo. Boletim CEInfo Análise/Ano X, nº 13, Dezembro 2015. São Paulo: Secretaria Municipal da Saúde, 2015. http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arqui- vos/publicacoes/Boletim_CEInfo_Analise_13.pdf CARVALHO, Maria Luiza. Desencouraçamento de gênero e autorregula- ção entre pais cuidadores sem as mães. In: Encontro Paranaense, Con- gresso Brasileiro, Convenção Brasil/Latino-América, XIII, VIII, II, 2008. Anais. Curitiba: Centro Reichiano, 2008. http://www.centroreichiano.com.br/artigos/Anais%202008/Maria%20 Luiza%20de%20Carvalho.pdf ESPÍNDOLA W P. Assistência à saúde do homem: uma prática a ser inserida no cotidiano das equipes de Saúde da Família. Trabalho de conclusão de cur- so apresentado no Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2010. https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/Assistencia_saude_homem.pdf GALLEGUILLOS T G B, Neves H, Lira MMTA, Nazário C, Castro I, Freitas M, Santos P. Aspectos da questão étnico-racial e saúde no Município de São Paul. Boletim CEInfo Análise/Ano X, nº12/2015. São Paulo: Secreta- ria Municipal da Saúde, 2015. http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arqui- vos/publicacoes/Boletim_CEInfo_Analise_12.pdf GOMES R et al. Corpos masculinos no campo da saúde: ancoragens na literatura. Ciência & Saúde Coletiva, 19(1):165-172, 2014. http://www.scielosp.org/pdf/csc/v19n1/1413-8123-csc-19-01-00165.pdf GOMES R et al. Sentidos atribuídos à política voltada para a Saúde do Homem. Ciência & Saúde Coletiva, 17(10):2589-2596, 2012. http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n10/08.pdf 26 JESUS D C. Dificuldades encontradas para implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde dos Homensnas Unidades Básicas de Saúde. Re- vista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 7 - N. 2 - Nov./Dez. 2014. https://www.unilestemg.br/enfermagemintegrada/artigo/v7_2/03-difi- culdades-encontradas-para-implementacao-da-politica-nacional-de-a- tencao-integral-a-saude-dos-homens.pdf MEDEIROS R L S F M. Dificuldades e estratégias de inserção do homem na Atenção Básica à Saúde: a fala dos enfermeiros. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, 2013. http://tede.biblioteca.ufpb.br/bitstream/tede/5133/1/arquivototal.pdf MINISTÉRIO DA SAÚDE. Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamen- to das Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Brasília: Ministério da Saúde/Secretaria de Vigilância em Saúde, 2011. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia do Pré-Natal do Parceiro para Profissionais de Saúde. Brasília: Coordenação Nacional de Saúde do Homem/DAPES/SAS, 2016. http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2016/agosto/11/guia_PreNatal.pdf MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia de Saúde do Homem para Agente Comunitário de Saúde. Brasília: Coordenação Nacional de Saúde do Homem/DAPES/SAS, 2016. http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2016/agosto/11/guiaACS.pdf MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem – Princípios e Diretrizes. Brasília: Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas/SAS, 2009. http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2014/maio/21/CNSH-DOC- -PNAISH---Principios-e-Diretrizes.pdf MINISTÉRIO DA SAÚDE. Caderno de Atenção Primária Rastreamento. Brasília: Ministério da Saúde/Departamento de Atenção Básica: 2010. http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad29.pdf 27 PEREIRA L P, NERY A A. Planejamento, gestão e ações à saúde do homem na estratégia de saúde da família. Esc Anna Nery 2014;18(4):635-643. http://www.scielo.br/pdf/ean/v18n4/1414-8145-ean-18-04-0635.pdf ROHDEN F. Capturados pelo sexo: a medicalização da sexualidade masculina em dois momentos. Ciência & Saúde Coletiva, 17(10):2645-2654, 2012. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232012001000014&script=sci_abstract&tlng=pt SARTI C A. Violência e gênero: vítimas demarcadas. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 16(2):167-183, 2006. http://www.scielo.br/pdf/physis/v16n2/v16n2a03.pdf SCHWARZ E. Reflexões sobre gênero e a Política Nacional de Atenção Inte- gral à Saúde do Homem. Ciência & Saúde Coletiva, 17(10):2579-2588, 2012. http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n10/04.pdf SOUZA E C F et al. Acesso e acolhimento na atenção básica: uma análise da percepção dos usuários e profissionais de saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24 Sup 1:S100-S110, 2008. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2008001300015
Compartilhar