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CIRURGIA Carolina Ferreira -As queimaduras são causas frequentes de trauma, são + comuns nos extremos de idade, c/ liberação de mediadores celulares e humorais, que determinam alteração das permeabilidades capilar, metabólica e imunológica, levando a distúrbio hidroeletrolítico, desnutrição e infecção -Na população adulta, são + encontradas em homens, principalmente em razão dos acidentes de trabalho. CLASSIFICAÇÃO -A principal classificação utilizada considera a profundidade da lesão. São consideradas de espessura parcial aquelas em que há preservação da integridade de alguma porção das camadas da pele e de espessura total quando todas essas camadas estão lesadas - Queimaduras de 1º grau (exemplo, queimadura solar): compromete apenas a epiderme. Apresenta eritema, calor e dor e ausência de bolhas. Evolui c/ descamação em poucos dias, regride sem deixar cicatrizes, possui pouca repercussão sistêmica . Tto visa ao conforto c/ o uso tópico de pomadas emolientes, c/ ou sem aloé, e AINES -Queimaduras de 2º grau (de espessura parcial): compromete totalmente a epiderme e parte da derme. Apresenta dor, eritema, edema, bolhas, erosão e ulceração. Há regeneração espontânea. Ocorre reepitelização partindo dos anexos subcutâneos (glândulas e folículo piloso). A cicatrização é + lenta 2 a 5 semanas. Pode deixar sequelas como discromia e cicatriz → superficial: lesão à epiderme e derme superficial → profundo: lesão através da epiderme até a derme profunda, mostram-se + pálidas e mosqueadas, ñ empalidecem + ao toque, mas permanecem dolorosas aos estímulos táteis -Queimaduras de 3º grau (de espessura total): lesão de espessura total através da epiderme e da derme até a gordura subcutânea. É indolor. Causa lesão branca ou marrom, seca, dura e inelástica. Ñ há regeneração espontânea, necessita de enxertia, eventualmente pode cicatrizar, mas c/ retração das bordas -Queimaduras de 4º grau: lesão através da pele e gordura subcutânea até o osso ou músculo subjacente -As lesões de queimaduras causadas pelo calor são divididas em zonas: • Zona de coagulação central: é a área da queimadura onde as células foram destruídas, esse tecido é danificado irreversivelmente no momento em que ocorre a lesão • Zona de estase intermediária: é a área imediatamente adjacente à zona necrótica tem um grau de lesão moderado, c/ perfusão tissular reduzida, dependendo das condições da ferida, pode sobreviver ou evoluir para necrose coagulativa. Está associada a dano vascular c/ extravasamento de fluidos. O tromboxano A2, um vasoconstritor potente, está presente em altas [ ]nas feridas de queimaduras, e a aplicação local de inibidores melhora o fluxo sanguíneo e a zona de estase. Depois de 24 a 48 horas, os capilares dilatados são obstruídos, resultando na conversão desses tecidos na zona de coagulação, cuja lesão pode ser reversível c/ tto apropriado: resfriamento, reposição de líquidos e cuidados intensivos • Zona de hiperemia externa: caracterizada pela vasodilatação em razão da inflamação circunjacente à queimadura. Essa região contém o tecido claramente viável do qual se inicia o processo de cicatrização e, geralmente, ñ tem risco de necrose adicional FISIOPATOLOGIA DAS LESÕES TÉRMICAS - Ocorrem alterações bifásicas na função orgânica, c/ hipofunção inicial e hiperfunção posterior, exceto no sistema imune, em que a sequência é inversa. As alterações metabólicas e as perdas líquidas nas queimaduras de 2º grau profundas são as mesmas das queimaduras de 3º grau. -Ocorre: 1. Liberação da histamina, serotonina, prostaglandinas e cininas 2. da permeabilidade vascular: → Extravasamento de plasma p/ o extracelular → Edema (pico entre 36 a 48 horas): • da pressão oncótica, da pressão coloide extravascular, desnutrição e da meia-vida de células vermelhas CIRURGIA Carolina Ferreira • Hipovolemia vasoconstrição, hemoconcentração, da FC e alterações cardíacas → do tromboxano A2 → é um vasoconstritor potente → agregação plaquetária na ferida→ contribui p/ a expansão da zona de estase → DC proporcionalmente ao tamanho da queimadura em associação ao da RVP se NÃO for realizado a reposição hídrica Desidratação + perda de líquido p/ 3ºespaço → risco de choque hipovolêmico → perfusão renal oligúria + IRA 3. Perda de plasma inicial: destruição imediata de eritrócitos em proporção direta c/ a extensão da queimadura, perca entre 8 a 12% da massa eritrocitária/dia + redução dos eritrócitos devido ao desvio do metabolismo proteico p/ construção de nova pele 4. Padrão endócrino-catabólico: do nível de glucagon, cortisol e catecolaminas associado a dos níveis de insulina e T3 levam à resposta hipermetabólica aguda→ ocorre 2 fases e pode durar + de 12 meses após o evento inicial: → 1º fase: ocorre nas primeiras 48 horas de lesão e tem sido chamada de fase ebb (ou de choque), caracterizada por do DC, do consumo de oxigênio e da taxa metabólica e da tolerância à glicose associada a hiperglicemia. → 2º fase: estas variáveis metabólicas gradualmente dentro dos 5 primeiros dias pós-lesão até atingirem um platô e passam a se chamar fase flow (ou de fluxo), caracteristicamente associada à circulação hiperdinâmica e ao estado hipermetabólico → se houver HIDRATAÇÃO ocorre do anabolismo 5. Hepatomegalia: ocorre após a lesão. O fígado seu tamanho 225% do normal em torno da segunda semana após a queimadura e permanece 200% do normal na alta hospitalar. Após a queimadura, a proteína muscular é degradada muito + rápido do que é sintetizada. Esse balanço proteico negativo causa perda de massa corporal magra e desgaste muscular severo, levando à da força e à incapacidade de reabilitação total. Uma perda de 10% da massa corporal magra está associada à disfunção imune. Uma perda de 40% da massa corporal magra pode levar à morte. Degradação proteica persiste até quase 1 ano após queimaduras graves, resultando em significativo balanço nitrogenado negativo, tanto por medidas whole-body (de corpo inteiro) quanto por medidas cross-leg (nos membros inferiores). Pacientes gravemente queimados têm uma perda diária de nitrogênio de 20 a 25 g/m2 de pele queimada. 6. Quadro de íleo paralitico: ocorre no inicio da lesão, principalmente em queimaduras de + de 25% da SCQ. Após o 3º e até o 5º dia, há retorno da motilidade gastrintestinal → Risco de formação de úlceras de Curling + hemorragia digestiva. 7. Alterações imunológicas: a perda da barreira mecânica natural da pele + presença de tecido necrótico + secreções do exsudato (que deprimem o sistema celular e humoral) favorece colonização por micro-organismo risco de morte -Efeitos sistêmicos de uma queimadura grave: ✓ Permeabilidade vascular e edema ✓ Hemodinâmica alterada ✓ Imunossupressão ✓ Hipermetabolismo ✓ Fluxo sanguíneo renal ✓ Permeabilidade da mucosa intestinal TAMANHO DA QUEIMADURA -A determinação do tamanho da queimadura estima a extensão da lesão. O tamanho da queimadura é geralmente avaliado pela regra dos noves. Outro método de estimar queimaduras < é igualar a mão aberta do paciente (incluindo-se aí a palma e os dedos estendidos) a aproximadamente 1% da ASCT e, então, transpor essa medida visualmente à ferida para determinar seu tamanho. Este método é crucial na avaliação de queimaduras de distribuição mista AVALIAÇÃO INICIAL -A gravidade de uma queimadura é determinada pela temperatura e pelo tempo de exposição à fonte de calor. Sempre que estamos diante de um queimado, é essencial determinar a fonte — líquido quente, substância química, chama etc. —, a duração e a localização daexposição — ambiente aberto ou fechado, possibilidade de inalação — e os mecanismos de lesões associados — explosão, queda. -O paciente queimado deve ser considerado politraumatizado e o seu atendimento deve seguir a padronização do ATLS -Exames iniciais p/ doentes c/ queimaduras graves: hemograma, tipagem e provas cruzadas, carboxi-hemoglobina, glicemia, eletrólitos e para teste de gravidez em todas as mulheres em idade fértil. Uma amostra de sangue arterial também deve ser retirada p/ determinação da gasometria e dosagem de HbCO. Deve ser realizada uma Rx de tórax nos doentes intubados ou c/ suspeita de lesão por inalação de fumaça →VIA AÉREA E PROTEÇÃO DA COLUNA CERVICAL: CIRURGIA Carolina Ferreira -A hipóxia é a causa + frequente de morte por incêndio, correspondendo a 50% das mortes e deve ser tratada e prevenida em todas as vítimas de incêndio. - Fatores que o risco de obstrução da via aérea são: profundidade e extensão de queimaduras >, queimaduras na cabeça e na face, lesões inalatórias e queimaduras no interior da boca, pois causam edema + localizado e apresentam > risco de comprometimento da via aérea. -Os indicadores clínicos de lesão por inalação incluem: Queimaduras faciais e/ou cervicais + Chamuscamento dos cílios e das vibrissas nasais + Depósitos de carbono na boca e/ou nariz e expectoração carbonácea + Alterações inflamatórias agudas na orofaringe, incluindo eritema + Rouquidão + História de confusão mental e/ou de confinamento no local do incêndio+ Explosão c/ queimaduras da cabeça e do tronco + Níveis sanguíneos de carboxi-hemoglobina maiores que 10% se o doente foi envolvido em um incêndio. A presença de qualquer um desses achados sugere lesão inalatória aguda e a necessidade de intubação traqueal. Sempre que exista uma lesão por inalação, indica-se a transferência p/ um centro de queimados. Se o tempo de transporte for prolongado, a intubação deve ser realizada antes do transporte. A Rx inicial de tórax é normal, mas costuma apresentar infiltrados intersticiais nas primeiras 24 a 48 horas. A lesão é considerada grave quando há necessidade de ventilação mecânica por + de 96 horas, relação PaO2/FiO2 < que 250 mmHg, c/ FiO2 de 100% e Rx de tórax c/ edema intersticial difuso. O diagnóstico precoce se faz por broncoscopia. Devem ser realizadas IOT e ventilação mecânica c/ FiO2 > que 50% e limpeza frequente c/ aspiração da via aérea. A ATB ñ deve ser usada profilaticamente e os corticoides ñ mostraram eficácia. -Lesão térmica das vias aéreas superiores: está associada às queimaduras de face e tórax. O quadro clínico é de edema de face, estridor, roncos e queimaduras de vibrissas nasais. A obstrução da via aérea pode ocorrer nas primeiras 2 a 4 horas após a queimadura ou um pouco + tardiamente, após hidratação. Por isso, é recomendado manter o indivíduo em observação de 24 a 36 horas. Deve-se, ainda, manter o máximo de atenção aos sinais e sintomas. Na suspeita, a IOT precoce é o tratamento de escolha, antes que se desenvolva edema progressivo c/ a obstrução completa da via aérea. Quando há dificuldade, pode-se utilizar a broncoscopia c/ visão direta, mas esse procedimento ñ deve retardar a via aérea definitiva em caso de dúvida. Após 2 a 3 dias, o edema geralmente . A traqueostomia reserva-se a pacientes que necessitem de + de 2 a 3 semanas de intubação. A cricotireoidostomia permite o acesso na urgência em adultos, sendo indicada em último caso às crianças. -A presença de trauma da coluna cervical e de fraturas deve ser investigada, principalmente nas lesões por queimaduras elétricas extensas e explosões, pois são comuns as fraturas nesses tipos de mecanismo de trauma. VENTILAÇÃO -Preocupações c/ a ventilação estão relacionadas c/ 3 situações: hipóxia, intoxicação por CO e lesão por inalação de fumaça (fumo). Sempre considere a possível ocorrência de exposição ao monóxido de carbono (CO) em doentes queimados em ambientes fechados. O dx é feito pela história de exposição e medida direta da carboxi-hemoglobina (HbCO). A coloração vermelho-cereja da pele é rara e pode ocorrer somente no doente moribundo. O tto inicial da lesão por inalação pode exigir a intubação endotraqueal e a ventilação mecânica. Antes da intubação, o doente deve ser pré-oxigenado c/ administração contínua de oxigênio. -Em doentes c/ suspeita de lesão da via aérea, a intubação deve ser feita precocemente. Devem ser realizadas uma Rx de tórax e gasometria arterial p/ avaliação da condição pulmonar inicial. Caso a condição hemodinâmica do doente permita, e desde que se exclua lesão de coluna, a elevação da cabeça e do tórax do doente a 30 graus auxilia na redução do edema do pescoço e da parede torácica. - Caso a queimadura de 3º grau das paredes anterior e lateral do tórax produzam restrição importante da sua movimentação, mesmo na ausência de queimadura circunferencial, a escarotomia da parede torácica pode ser necessária. -Escarotomia: são incisões lineares longitudinais que se estendem por meio de toda a espessura da pele queimada e permitem a separação da escara constritora. Devem ser realizadas 2 incisões bilaterais na linha axilar anterior p/ a liberação torácica, e, caso elas ñ sejam suficientes, podem ser interligadas por uma incisão horizontal na margem do gradeado costal como um grande “H” para a liberação abdominal . O fechamento dessas incisões dependerá da evolução do paciente, podendo-se optar pelo fechamento por 2º intenção em casos + graves. Se a pressão for >30 mm Hg, indica-se escarotomia. CIRCULAÇÃO CIRURGIA Carolina Ferreira -O pct grande queimado, além de perder a proteção da pele, apresenta perda de líquido p/ o 3º espaço, em virtude do da permeabilidade capilar. Logo, a reposição volêmica deve ser + agressiva no paciente queimado do que a preconizada p/ o politraumatizado. -Devem ser puncionados ao menos 2 acessos calibrosos periféricos, preferencialmente em áreas ñ queimadas, p/ infusão de volume, sendo + indicadas as soluções salinas isotônicas. P/ o cálculo adequado da reposição volêmica, é importante saber a porcentagem de SCQ. O cálculo baseia-se nas áreas de queimaduras de 2º e de 3º grau, sendo desconsideradas as áreas de 1º grau. Há 3 métodos + frequentemente utilizados: 1. Regra da palma da mão: a superfície da palma da mão do indivíduo, excluindo os dedos, equivale a 1% da área de superfície corpórea, sendo utilizada p/ calcular o restante. É o menos fidedigno p/ avaliação da área queimada. 2. Regra dos nove (Wallace): trata-se de um guia útil p/ determinar a extensão da área queimada e baseia-se no fato de que as regiões anatômicas correspondem a 9% ou o múltiplo de 9% da superfície corpórea. O tamanho da cabeça da criança costuma ser > do que o da do adulto, enquanto os MMIIS são < 3. Regra de Lund-Browder: é o + confiável dos métodos, em que varia a representação das áreas da cabeça e dos membros inferiores c/ a idade, sendo assim o + utilizado nas unidades de queimados. No entanto, é pouco prático na Emergência, porque é difícil a memorização das tabelas. 4. Cálculo da hidratação: c/ base no cálculo da SCQ, começaram a ser desenvolvidas fórmulas de hidratação. A fórmula de Brooke- Evans, que foi a 1º, pregava o uso de cristaloides e coloides em associação. Imaginava-se que o uso destes a manutenção de líquidos no intravascular. Entretanto, isso ñ se confirmou, e surgiram novas fórmulas c/ base apenas no uso de cristaloides: Parkland e Brooke modificado, que são as + usadas, sobretudo a de Parkland, como mostrada a seguir: → Hidratação = reposição de 2 a 4 mL de solução cristaloide x peso corpóreo (kg) x SCQ (2º e 3º graus). a 10ª ediçãodo ATLS® preconiza a reposição de apenas 2 mL de Ringer lactato/kg/% área queimada em pacientes c/ 14 anos ou +. Abaixo de 14 anos, ou menos de 30 kg, usam-se 3 mL de Ringer lactato/kg/% área queimada, deixando 4 mL/kg/% área queimada apenas p/ queimaduras elétricas. Então é + adequado passar a considerar a fórmula de Parkland p/ adultos: 2 mL x peso x SCQ p/ finalidade de prova, inclusive os concursos + recentes as têm feito desta forma. -O volume de reposição volêmica deve ser infundido em 24 horas, metade nas primeiras 8 horas e a outra nas 16 horas seguintes; lembrando que as primeiras 8 horas são contadas a partir do horário da queimadura, e ñ da chegada ao hospital. Por exemplo: se o paciente chegou ao pronto-socorro c/ 40% da superfície corpórea queimada há 3 horas, a 1º metade deve ser administrada em 5 horas. -O débito urinário adequado é de 0,5 a 1 mL/kg/h p/ adultos, 1 mL/kg/h p/ crianças e 2 mL/kg em RNs e lactentes. -A sonda gástrica deve ser colocada e mantida em sucção se o doente apresentar náusea, vômitos, distensão abdominal ou se a queimadura envolver + de 20% da ASC. NEUROLÓGICO -Em razão da perda de líquidos e da hipotensão, algumas vezes, os pacientes apresentam confusão mental ou inconsciência, exigindo reposição hídrica vigorosa imediata. Nas explosões ou nos traumas elétricos, há uma grande associação aos traumatismos cranioencefálicos. Exames diagnósticos só podem ser realizados após as estabilizações respiratória e hemodinâmica. EXPOSIÇÃO E PREVENÇÃO DE HIPOTERMIA CIRURGIA Carolina Ferreira -A remoção de roupas, agentes plásticos e piche deve ser feita p/ evitar a exposição prolongada e o das lesões. -O doente portador de queimaduras extensas pode estar ansioso e agitado devido à hipoxemia ou à hipovolemia + do que à dor. Os narcóticos, analgésicos e sedativos devem ser administrados em doses pequenas e frequentes e apenas por via EV. Lembre-se de que somente cobrindo a queimadura já há alívio da dor. -As queimaduras de espessura parcial (2º grau) são dolorosas quando o ar passa sobre a superfície queimada. A cobertura da área queimada c/ um pano limpo aplicado delicadamente impede o contato c/ o ar corrente e alivia a dor -Ñ se deve romper bolhas ou aplicar agentes antissépticos. Qualquer substância aplicada previamente deve ser removida antes que possam ser usados agentes antibacterianos tópicos apropriados. A aplicação de compressas frias pode causar hipotermia. Ñ use água fria em doentes c/ queimaduras extensas (> 10% da ASC). -Antibióticos profiláticos Ñ são indicados na fase inicial logo após queimaduras, devem ser reservados p/ o tratamento de infecções. -É muito importante a determinação do estado de imunização do doente. TRATAMENTOS ESPECÍFICOS -Antibióticos: as escaras das queimaduras de 3º grau provocam um risco p/ o desenvolvimento de infecção. O tratamento ideal, para esses casos, consiste na ressecção precoce das escaras e na cobertura cutânea c/ enxertos de pele, c/ do risco de sepse. Entretanto, nos grandes queimados, a falta de áreas doadoras limita a possibilidade de debridamento, ao máximo, em 20% de SCQ. Nesses casos, recomendam-se microbianos tópicos p/ redução do risco de crescimento bacteriano e consequente invasão da corrente sanguínea. Os antimicrobianos tópicos + comuns são: ➢ Sulfadiazina de prata: é indolor, pode ser aplicada 1 a 2 x/dia, mas pode desenvolver neutropenia ➢ Acetato de mafenida: tem boa penetração na ferida, ñ tem resistencia bacterina, é a droga de 2º escolha, pode gerar dor, hipocalemia e acidose metabólica (devido a inibição da anidrase carbônica pulmonar) ➢ Nitrato de prata a 0,5%: ñ causa hipersenbilidade, é indolor, ñ tem resistência bacteriana, possui pouca penetração, deve ser aplicado varias vezes ao dia, pode desenvolver hiponatremia, hipercloremia e hipocalemia -Tratamento cirúrgico (excisão e enxertia de pele): depois da estabilização do pct, começam a ser realizadas as escarectomias, que consistem no debridamento do tecido queimado inviável. É um procedimento extremamente sangrante, c/ limite de ressecção de 10 a 20% da SCQ. Atualmente, o tto padrão-ouro nos casos de queimadura de espessura total consiste na excisão tangencial do tecido queimado e na sua cobertura cutânea imediata. Há 2 técnicas principais: excisão sequencial de camada fina de todos os tecidos inviáveis até atingir uma camada de tecidos viáveis; ressecção de todo o tecido até encontrar a fáscia muscular, para posterior enxertia. A enxertia de pele pode ser de espessura total ou parcial ou por meio de lâmina ou em malha (Meshgraft®). -Nutrição: a ingesta proteica recomendada é de 2,5 a 3 g/kg/d. P/ o cálculo da quantidade de calorias a ser fornecida, utilizamos a fórmula de Curreri e Luterman (1978). → Adultos: (25 kcal/kg peso) + (40 kcal × %SCQ) → Crianças: p/ determinação por Curreri Jr et al., utiliza-se a Taxa Metabólica Basal (TMB): • RN: ➢ 120 cal/kg; 10 kg: 1.000 + 50 kcal p/ cada kg acima de 10 ➢ + de 20 kg: 1.500 + 20 kcal p/ cada kg acima de 20. • Superfície corporal queimada e faixa etária, sendo: ➢ A fórmula de 0 a 1 ano: (TMB + 15 kcal × %SCQ); ➢ 1 a 3 anos: (TMB + 25 kcal × %SCQ); ➢ 3 a 15 anos: (TMB + 40 kcal × %SCQ). -As úlceras gástricas pelo estresse, também chamadas úlceras de Curling, são comuns em pacientes queimados. Por isso, sempre se deve realizar profilaxia c/ protetor gástrico. -Complicações tardias: a complicação infecciosa + comum é a pneumonia, uma vez que esses pacientes normalmente apresentam algum grau de lesão térmica da via aérea e frequentemente são colocados em ventilação mecânica. A infecção urinária pode ser evitada c/ os cuidados e a troca regular da sonda vesical. Pode surgir carcinoma epidermoide de pele em áreas de queimadura prévia. Quando isso ocorre, recebe o epônimo de úlcera de Marjolin. O tto segue os princípios oncológicos de conduta nessas lesões. TIPOS ESPECÍFICOS -Queimaduras elétricas: existem as lesões de baixa voltagem (< que 1.000 V) e as de alta voltagem (> que 1.000 V); estas últimas provocam destruição + importante de tecidos. A queimadura elétrica verdadeira é aquela c/ portas de entrada e de saída da corrente, e a lesão profunda é causada pela passagem desta. A lesão é proporcional à resistência do tecido, sendo osso + resistente que músculo, que por sua vez é + resistente que nervos e vasos. Outra situação é a chamada flash burn, em que ñ existe de fato a passagem de corrente pelo organismo. Na verdade, ocorre uma explosão, e a queimadura é causada por fogo. Ñ há portas de entrada ou de saída da lesão e as CIRURGIA Carolina Ferreira feridas são + simples e menos profundas. É essencial a investigação completa do trauma, pois costuma estar associado a explosões com risco de fraturas e traumas abdominais. A lesão cardíaca é extremamente rara, c/ arritmias transitórias. A monitorização cardíaca deve ser instituída nas primeiras 24 a 48 horas. Nas queimaduras elétricas, ocorre lesão renal por conta da destruição de tecido muscular, c/ liberação de mioglobina e a sua excreção renal (mioglobinúria). Esse pigmento gera nefrotoxicidade e risco de insuficiência renal. P/ evitar tal quadro em traumas elétricos, devem-se realizar uma hiper-hidratação c/ 4 mL/kg/% de SCQ de cristaloide em 24 horas, alcalinização da urina e estímulo de diurese osmótica c/ manitol a fim de facilitar a eliminação de pigmentos de mioglobina. Se a urina estiver escura, deve-se considerar a presença de hemocromógenos. -Queimaduras químicas: geralmente são + profundas do que parecem. Podem ser causadas por ácidos, álcalis, fenol ou fósforo. Deve-se evitar tentativas de antagonizaro agente externo. Em geral, o tto principal deve ser lavagem abundante c/ água ou SF em temperatura ambiente. As queimaduras por ácidos são dolorosas, c/ ulcerações e lesões por necrose. Já as queimaduras por álcalis são + comuns no cotidiano, sendo + profundas do que as provocadas por ácidos, e a maioria exige internação. Sua fisiopatologia envolve a saponificação dos lipídios do tecido celular subcutâneo. A conduta inicial é a lavagem do pct c/ água corrente a temperatura ambiente em grande quantidade. -3 tipos de lesão por frio são vistos no doente traumatizado: Crestadura ou " frostnip": a forma + leve de lesão pelo frio, é caracterizada por dor, palidez e da sensibilidade da parte afetada. É reversível c/ o aquecimento e ñ resulta em perdas teciduais, a ñ ser que a agressão seja repetida ao longo dos anos, o que causa perda do panículo adiposo ou atrofia. Congelamento: é devido à lesão dos tecidos por formação de cristais de gelo dentro das células e por oclusão microvascular que resulta em anóxia tecidual . O comprometimento tecidual pode resultar, em parte, da lesão de reperfusão que ocorre com o reaquecimento. O congelamento é classificado em graus: • 1º grau: há hiperemia e edema sem necrose da pele • 2º grau: a formação de vesículas grandes e de conteúdo claro acompanha a hiperemia e o edema e há necrose de espessura parcial da pele • 3º grau: corre necrose de espessura total de pele e necrose do tecido subcutâneo, acompanhadas pela formação de vesículas de conteúdo hemorrágico • 4º grau: há necrose de espessura total da pele, incluindo necrose muscular e óssea, c/ gangrena embora quase sempre a parte acometida se apresente inicialmente endurecida, fria, esbranquiçada e anestesiada, o aspecto das lesões muda frequentemente durante o curso do tratamento. Lesão ñ congelante: é devida a comprometimento do endotélio micro vascular, a estase e a oclusão vascular. O termo pé (ou mão) de trincheira ou pé ( ou mão) de imersão descreve um tipo de lesão ñ congelante que pode acometer as mãos ou os pés, que afeta tipicamente soldados, marinheiros ou pescadores, e que resulta da exposição crônica a ambiente úmido e a temperaturas pouco acima do ponto de congelamento, ou seja, 1,6°C a l0°C. Embora o pé inteiro possa parecer preto, pode ñ haver destruição de tecidos profundos. O quadro evolui através da alternância de vasoespasmo e de vasodilatação arterial. Os tecidos afetados apresentam-se frios e anestesiados no início e evoluem p/ a hiperemia em 24 a 48 horas. C/ a hiperemia surge uma sensação intensa e dolorosa de queimação e de disestesia, assim como lesões teciduais caracterizadas por edema, formação de bolhas, vermelhidão, equimoses e ulcerações. Podem surgir complicações de infecção local, como celulite, linfangite ou gangrena. Bons cuidados higiênicos locais podem evitar a ocorrência da maioria dessas lesões. TRANSFERÊNCIA PARA O CENTRO ESPECIALIZADO EM QUEIMADOS -As indicações de transferência p/ centros especializados são: • Queimaduras de 2º e 3º graus > que 10% SCQ • Queimaduras de 2º e 3º graus, c/ lesões funcionais ou na face, nas mãos, nos pés, na genitália, no períneo e nas articulações > • Queimaduras de 3º grau em qualquer idade • Queimaduras elétricas • Lesão inalatória • Queimadura circunferencial • Queimadura em pacientes c/ doenças associadas • Qualquer queimadura associada a trauma • Hospitais sem condições ou pessoal especializado
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