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CADERNO - 3o - 1A UNIDADE - IED PRIVADO II - MAURÍCIO REQUIÃO

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CADERNO – 1ª UNIDADE – IED PRIVADO II/ MAURÍCIO REQUIÃO 2022.1 
 
AULA 01 – OBSERVAÇÕES GERAIS DA DISCIPLINA 
 
Observações gerais – conteúdo: 
Suporte fático concreto (ação concreta – mundo dos fatos – que se adequa ao previsto na 
norma) x suporte fático abstrato (previsão da conduta - mundo do dever-ser). Por exemplo, 
no Código Penal, o homicídio é tipificado no Art. 121, caput – matar alguém – e, quando uma 
pessoa mata outra (a partir de um disparo de arma de fogo, por exemplo) há a 
materialização da conduta tipificada. A incidência, portanto, origina um fato jurídico e este 
passa a existir para o Direito. 
Esse mundo jurídico é dividido em três planos: existência (existe no mundo jurídico), 
validade (um fato pode ser nulo ou anulável) e eficácia (o fato produz os seus efeitos). Aqui 
se encerram os conteúdos da primeira avaliação (14/04). 
Em seguida, serão trabalhados os tipos de fatos jurídicos e os atos ilícitos. 
Na segunda unidade, ocorrerá uma abordagem mais detalhada acerca dos planos do mundo 
jurídico: fato nulo x anulável, defeitos do negócio jurídico e eficácia jurídica. Por último, após 
a 2ª avaliação (31/05), será discutido, em duas aulas, prescrição e decadência. 
OBS: As aulas tendem a não ser muito expositivas, sendo importante estudar de antemão o 
assunto a ser dado na aula. 
 
Referências: 
 MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da existência. 14. ed. 
São Paulo: Saraiva, 2007. 
OBS: Para a próxima aula, ler os dois primeiros capítulos do referido livro. 
OBS: As avaliações serão realizadas presencialmente e de forma individual. 
OBS: É importante resolver as provas anteriores do professor. 
OBS: Quinzenalmente, às terças (a partir da próxima – 22/02), o professor estará, no período 
vespertino, disponível para tirar dúvidas no Ágata ao vivo. 
 
Atividade: Liste fatos jurídicos que você tenha praticado nas últimas 24 horas. 
1. Assinei o termo de consentimento para a Faculdade Baiana de Direito contabilizar 
presença a partir da biometria (contrato); 
2. Adquiri um curso de Direito Penal – pagando-o via boleto (compra e venda); 
3. Realizei uma compra no supermercado – (compra e venda); 
4. Usei máscara para ir à faculdade. (imposição/obrigatoriedade do uso da máscara em 
ambientes fechados); 
5. Adquiri os livros de Direito Administrativo I e Direito Civil II (compra e venda); 
6. Iniciei um requerimento no Sagres; 
 
AULA 02 – O FATO JURÍDICO 
 
1. O Direito: 
O Direito trata-se de uma fronteira de controle social e capaz de regular o comportamento 
dos indivíduos em sociedade, entretanto, não consiste na única maneira – vide as normas de 
etiqueta/cortesia (cumprimentar as pessoas, por exemplo) e as normas morais 
(determinadas religiões impõem condutas específicas, por exemplo, como o Cristianismo 
que condena o consumo de carne na sexta-feira santa). O Direito, todavia, sendo a última 
fronteira de controle social, apresenta um caráter coercitivo, ou seja, a capacidade de impor 
sanções jurídicas previamente estabelecidas àqueles que, porventura, venham a contrariar 
as normas jurídicas. Destarte, o que o Direito considera adequado está situado nas normas 
(proposições jurídicas) – dispondo acerca dos fatos mais relevantes para a vida em 
sociedade (visa a garantir o mínimo ético-social). 
 
2. O fato jurídico – introdução: 
Para existir um fato jurídico, portanto, deve existir, antes de tudo, uma norma que trate da 
conduta em análise (como o Art. 121 do Código Penal que discorre sobre o ato de homicídio 
– matar alguém: reclusão, de 6 a 20 anos). 
Além de existir a norma, é de suma importância a materialização da norma. Por exemplo, os 
alunos tiveram que assinar (concretização da ação) o termo de consentimento (norma) para 
a Faculdade Baiana de Direito contabilizar presença através do registro da biometria a partir 
do dia 28/02. 
 
3. Dimensões do Direito: 
Primeiramente pode-se citar a discussão de dimensão política da norma, isto é, do caráter 
axiológico/valorativo da norma. Desse modo, pode-se considerar uma norma justa ou injusta 
– vinculando-se ao atributo das normas jurídicas denominado de legitimidade. A título 
exemplificativo, o professor Maurício Requião considera maléfica a reforma trabalhista pelo 
fato desta prejudicar os interesses dos trabalhadores. 
Há, também, a dimensão sociológica da norma, ou seja, a verificação dos impactos da norma 
na sociedade. Assim, através de um vínculo com o atributo das normas jurídicas denominado 
de eficácia social/eficiência, busca-se compreender se aquela norma é cumprida, de fato, 
pela sociedade. Por exemplo, é notória a ineficiência da norma que criminaliza jogos de azar 
– como o jogo do bicho. 
 
Apesar das análises política e sociológica, a ênfase da disciplina IED Privado II – que segue a 
linha da Teoria Geral do Direito - será dada na dimensão normativa, ou seja, dogmática e 
menos atrativa. Nesse sentido, busca-se entender o que a estrutura normativa propicia. 
OBS: É nítido que não se consegue jamais um isolamento completo nessas atitudes monistas 
(de enxergar o Direito somente como valor, ou somente como fato, ou somente como norma) 
– tendo credibilidade a teoria da tridimensionalidade proposta pelos pós-positivistas e por 
nomes como Miguel Reale – entretanto, para fins epistemológicos é possível essa 
fragmentação. A Teoria Geral do Direito se dispõe da dimensão normativa para análise. 
 
4. A dimensão normativo-dogmática do Direito: 
A mudança da maioridade civil dos 21 para os 18 anos com o advento do novo Código Civil 
de 2002 não provocou mudanças substanciais no ser humano. O Direito, portanto, não 
apresenta a capacidade de influenciar em questões biológicas/naturais. 
A ideia da obrigatoriedade da norma não decorre do fato de estar vinculada a alguma sanção 
jurídica (como defendia Hans Kelsen), mas decorre do fato dela ser incondicional, ou seja, 
toda vez que acontecer no mundo dos fatos o que se encontra previsto na hipótese, 
obrigatoriamente a norma incidirá. 
 
5. O suporte fático: 
O texto que faz parte da norma – e que descreve um possível evento a acontecer – é o 
denominado suporte fático hipotético ou abstrato. A segunda conotação quando se fala em 
suporte fático trata-se daquela que nomeia o próprio fato quando materializado no mundo- 
suporte fático concreto. A seguir, tem-se uma norma que ilustra melhor essa noção de 
suporte fático. 
Art. 481, Código Civil: Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a 
transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. 
Observa-se, portanto, que uma compra e venda se difere de uma mera troca (entre objetos) 
ou doação (uma parte cede algo de forma gratuita). Nesse sentido, para haver uma compra 
e venda deve-se cumprir a integralidade do disposto no suporte fático. 
OBS: Um fato natural pode ser considerado um fato jurídico, desde que interfira nas relações 
humanas. Uma pessoa que, por exemplo, deveria realizar uma entrega em Petrópolis, porém 
não conseguiu realizar no dia das fortes enchentes, não será responsabilizada pela 
inadimplência em virtude de uma causa de força maior. 
 
6. Elementos do suporte fático: 
As condutas humanas podem ser volitivas ou não – ou seja, existem fatos jurídicos que a 
vontade humana compõe o suporte fático (como no caso da compra e venda – fato jurídico) 
e outros em que a vontade humana não compõe o suporte fático. 
Outro dado contido no suporte fático trata-se do psíquico, ou seja, a compreensão acerca da 
intenção do agente (boa-fé ou não). É aqui que será tratado o dolo (que é mais comum ao 
suporte fático de normas de Direito Penal, mas também é encontrado no Direito Privado). 
Encontra-se compondo, também, o suporte fático, estimações valorativas. Por exemplo, o 
Código Penal, até pouco tempo, continha a expressão “mulher honesta”. Ora, se existe uma 
“mulherhonesta”, existe uma “mulher desonesta”, ocorrendo, assim, um juízo de valor. 
Ademais, o Código Civil, mais precisamente no Art. 122, trata da imoralidade do objeto de 
atos jurídicos e aqueles comportamentos atentatórios aos “bons costumes” (Código Civil, 
art. 122 c/c o art. 123,II). 
No Código Penal comum de 1940, o elemento normativo “mulher honesta” era previsto em 
três tipos penais, a saber, o de posse sexual mediante fraude (art. 215 do CP), de atentado 
ao pudor mediante fraude (art. 216 do CP) e de rapto violento ou mediante fraude (art. 219 
do CP). 
 
Compõe, também, o suporte fático, a probabilidade. Por exemplo, no direito de sucessões, é 
comum testamentos deixando bens para pessoas que ainda não existem – tais como netos 
que podem nascer ou não (“deixo esses bens para os meus netos, caso meus filhos tenham 
filhos”). 
Antes da compra e venda, deve existir a oferta (fato jurídico), a aceitação (fato jurídico) para 
somente depois ser estabelecido um contrato (fato jurídico). Em síntese, um fato jurídico 
pode ser antecedido de outros fatos jurídicos. Nesse sentido, um fato jurídico pode ser, 
também, um elemento do suporte fático. 
Conforme já mencionado anteriormente, uma causalidade física pode constituir elemento 
de suporte fático desde que os seus efeitos se ligue a uma norma jurídica (vide o caso das 
enchentes em Petrópolis também já referido). 
A passagem do tempo também é elemento do suporte fático (evidente, por exemplo, na 
própria maioridade civil – 18 anos absolutamente capaz e 16 anos relativamente incapaz). A 
passagem do tempo, nesse cenário citado, modifica a maneira pela qual o Direito se 
relaciona para com os indivíduos. Em resumo, a duração dos efeitos jurídicos, a perda e a 
aquisição dos direitos dependem, muitas vezes, do transcurso do tempo. 
Para a próxima aula: ler a parte de suporte fático, preceito e incidência da Teoria do fato 
jurídico – plano da existência/Marcos Bernardes. 
 
AULA 03 – ELEMENTOS DO SUPORTE FÁTICO E PRECEITO 
 
1. Elementos do suporte fático: 
O suporte fático pode ser hipotético (a descrição de algo que pode acontecer no mundo dos 
fatos pela norma) ou concreto (materialização do fato descrito pela norma, ou seja, há a 
incidência da norma). 
O suporte fático apresenta elementos: 
 Nucleares: o suporte fático não existe sem esses elementos, ou seja, esses elementos 
se encontram associados à existência do suporte fático; 
 Complementares: qualificadores de elementos nucleares (sobre o sujeito, sobre o 
objeto, sobre a forma...) associados à validade e à eficácia do suporte fático. A falta 
desses elementos complementares implica, geralmente, na invalidade, mas também 
pode implicar na ineficácia; 
 Integrativos: ampliadores da eficácia (como, por exemplo, o registro de contratos – 
mas que, em determinadas ocasiões, pode ser um elemento complementar); 
 
OBS: Suporte fático concreto x fato jurídico: O suporte fático é mais pontual e proporciona a 
criação de um fato jurídico que perdura. Dessa forma, em regra, o suporte fático que importa 
é o do momento em que o negócio jurídico foi celebrado – nesse sentido, não importa se os 
indivíduos que celebraram um contrato completaram dezoito anos na semana seguinte e, 
desse modo, esse contrato segue anulável, uma vez que no momento da sua celebração, os 
sujeitos envolvidos na relação eram relativamente incapazes. 
 
2. Preceito: 
A norma é composta por duas partes – o suporte fático, que descreve uma situação que 
pode acontecer; e o preceito, que dispõe acerca da consequência daquele fato. O suporte 
fático e o preceito não necessariamente precisam estar na mesma norma. 
Art. 186 CC. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar 
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
O suporte fático anterior não apresenta preceito em si, mas pode se agregar a preceitos 
contidos em outros artigos – como o art. 927. 
 
Art. 927 CC. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado 
a repará-lo. 
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos 
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do 
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
 
OBS: Um mesmo preceito pode completar o suporte fático de diferentes normas. Destarte, o 
art. 927 do Código Civil, por exemplo, pode, além de se vincular ao art. 186 do Código Civil, 
ser associado ao crime de homicídio (art. 121 do Código Penal) – uma vez que o infrator 
apresenta a obrigação de arcar com os custos do funeral (reparação do dano a outrem); 
 
AULA 04 – INCIDÊNCIA 
 
EXERCÍCIO INTRODUTÓRIO: 
Dois sujeitos realizaram um determinado ato jurídico ao qual nomearam como sendo o ato 
que tem por suporte fático hipotético os elementos A, B e C, que chamaremos aqui de ATO 
01. Entretanto, em concreto, o que ocorreu foi a realização dos elementos A, B, C e D, que 
correspondem a outro ato, aqui denominado ATO 02. Levando em conta o acima exposto, 
qual foi o ato praticado pelos sujeitos? Justifique e exemplifique. 
R: Com base na situação anteriormente apresentada, conclui-se que a norma incidente e 
vinculada ao ato praticado pelos sujeitos foi a que discorre sobre o ATO 02 e cujo suporte 
fático engloba os elementos A, B, C e D. Nesse cenário, a aplicação da norma cujo suporte 
fático engloba os elementos A, B e C, tratando sobre o ATO 01, consistiu na aplicação de 
uma norma que não incidiu e, portanto, contra legem, estando sujeita à revisão. Ademais, 
vale ressaltar que a incidência é incondicional, uma vez que a norma incide sempre que o 
suporte fático se concretize, independentemente da vontade das partes. 
 
1. Conceito: 
De acordo com Marco Bernardes de Mello, a incidência é “o efeito da norma jurídica de 
transformar em fato jurídico a parte do seu suporte fáctico considerado relevante para 
ingressar no mundo jurídico”. Essa perspectiva parece ser pouco plausível, tendo em vista 
que restringe o conceito de incidência a uma única consequência: juridicização. 
Assim, pode-se dizer que incidência corresponde ao efeito de uma norma jurídica eficaz 
tendo-se concretizado o suporte fático, gerando consequências jurídicas relevantes. 
 
2. Características da incidência: 
 
 Incondicionalidade: Há incidência sempre que o suporte fático se concretize, 
independentemente da vontade das partes. Isso vale, inclusive, para as normas não 
cogentes, devido à existência de duas incidências: a vinculada à regra geral e a 
vinculada à vontade das partes (caso a vontade das partes não se manifeste, incidirá 
a regra geral); 
 
 Inesgotabilidade: A ocorrência da incidência não altera a capacidade da norma de 
incidir. Destarte, o evento pode se repetir diversas vezes que não se altera a 
capacidade da norma de incidir (ex: nascimento – como acontecem diversos 
nascimentos diários, a norma incide várias vezes). Entretanto, existem exceções, pois 
algumas normas apresentam suporte fático que somente incide uma única vez. 
 
3. Pressupostos para a ocorrência da incidência: 
 
 A norma jurídica deve ser vigente, pois enquanto a norma jurídica não estiver apta a 
produzir os seus efeitos, não haverá incidência. Desse modo, durante o período de 
Vacatio legis (tempo entre a data de publicação e início da vigência da norma 
jurídica), a norma não incide e, portanto, não produz os seus efeitos, mesmo que o 
suporte fático seja preenchido em concreto; 
 
 Ademais, necessita-se da concreção do suporte fático suficiente. Para uma norma 
jurídica incidir, o suporte fático deve ser preenchido em concreto na sua totalidade – 
salvo os casos de presunção, tais como o disposto no Art. 322 do Código Civil. 
Art. 322 – CC: Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última 
estabelece, até provaem contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores. 
 
4. Consequências da incidência: 
 
 Juridicização: A norma incide com o intuito de tornar algo jurídico. Por exemplo, 
quando se estabelece um contrato (negócio jurídico) de compra e venda, o qual 
impõe, no mundo dos fatos, direitos e deveres para os sujeitos envolvidos em tal 
relação; 
 
 Pré-exclusão de juridicidade: Denominamos pré-excludentes de juridicidade as 
normas jurídicas cuja incidência cria fato jurídico que tem a finalidade de impedir: 
que suporte fáctico que seria, normalmente, juridicizado em certo sentido, assim o 
seja; ou que certo fato venha a se tornar jurídico. O art. 188 do Código Civil traz as 
chamadas excludentes de ilicitude, tais como a legítima defesa. Se normalmente uma 
pessoa atira a outra e mata-a, o que iria incidir no Direito Civil corresponde ao art. 
186 do Código Civil. Todavia, se a pessoa agiu em legítima defesa (a outra pessoa 
queria matá-la), o art. 188 do Código Civil incide e o ato não será considerado ilícito, 
ocorrendo, assim, uma pré-exclusão de juridicidade; 
Art. 186 – CC Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
 
 
Art. 188 – CC: Não constituem atos ilícitos: 
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido 
 
 Invalidação: Capacidade da norma que incide de invalidar um ato jurídico (o ato 
jurídico é o fato jurídico que contém a vontade das partes em seu suporte fático), 
tornando deficiente o seu suporte fático. Para algo ser nulo ou anulável, esse algo 
tem que estar no mundo jurídico. O erro, o dolo, a coação, a fraude contra credores, 
o estado de perigo e a lesão constituem causas de anulação de atos jurídicos; 
 
 Desjuridicização: Capacidade da norma incidente em retirar um fato jurídico do 
ordenamento jurídico, trazendo-o de volta ao mundo fático. Por exemplo: dois 
indivíduos resolvem desfazer um contrato e, nesse cenário, incide uma norma que 
vem a retirar esse contrato (algo que estava no mundo jurídico) do mundo jurídico; 
 
 Deseficacização: Capacidade da norma incidente em retirar a eficácia já produzida 
por outro fato jurídico. É o que acontece com o fenômeno da caducidade. 
 
AULAS 05 E 06 – CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS 
 
EXERCÍCIO: Classifique os fatos jurídicos presentes no fragmento a seguir. 
O pai de Daniel morreu afogado enquanto nadava num rio com muita correnteza. 
Quando da morte, ele usava uma corrente que estava na família há algumas gerações, e que 
não foi recuperada juntamente com o corpo. Pretendendo reaver o bem, Daniel anunciou, 
colando cartazes na região, que pagaria recompensa no valor de mil reais para quem 
encontrasse e lhe devolvesse a citada corrente. 
Certo dia um sujeito, que sequer sabia da recompensa, enquanto relaxava nas margens 
do rio, acabou encontrando a corrente. Amigos o informaram sobre o fato e ele procurou 
Daniel, devolvendo a corrente, recebendo a recompensa e assinando uma quitação que 
comprovava o recebimento do valor prometido. 
 
1) A morte do pai de Daniel (art.6 – CC): Fato jurídico stricto sensu, uma vez que a 
conduta humana não compõe o suporte fático; 
 
2) A abertura da sucessão (art. 1784 – CC): Ato-fato jurídico, sendo efeito automático 
de um fato jurídico anterior (a morte do pai de Daniel) – assim como há outros 
efeitos como a perda da personalidade jurídica, por exemplo. A abertura da 
sucessão, porém, é produtora de outros efeitos; 
 
3) A perda da posse (art. 1223 – CC): Ato-fato jurídico, pois o possuidor perde domínio 
sobre a coisa, mesmo que contra a sua vontade; 
 
4) Promessa de recompensa (art. 854 CC): Negócio jurídico, pois a vontade humana 
compõe o núcleo do suporte fático e, além disso, o indivíduo (Daniel) apresenta a 
capacidade de moldar alguns efeitos jurídicos (como o anúncio será feito, por quanto 
tempo será feito, onde será feito...); 
 
5) O sujeito encontrou a corrente (arts. 1233 e 1234 CC): Ato-fato jurídico, pois a 
conduta humana compõe o suporte fático, porém não a vontade (avolitivo). Se o 
sujeito quisesse encontrar a corrente e encontrá-la (ao invés de achar por acaso), a 
classificação do fato jurídico segue como um ato-fato jurídico, uma vez que essa 
vontade é irrelevante; 
 
6) Devolução da corrente (pagamento – arts. 304, 308, 313, 314, 315 - CC): Ato-fato 
jurídico – o indivíduo que achou tinha o dever, independentemente de sua vontade, 
de devolver a corrente; 
 
7) Daniel paga o indivíduo que devolveu a corrente (pagamento - arts. 304, 308, 313, 
314, 315 – CC): Ato-fato jurídico (pensamento doutrinário majoritário) – Daniel 
cumpre a obrigação de pagar R$ 1000,00 àquele que encontrou a corrente. Se um 
sujeito deve a X e a Y e, querendo pagar a X, acaba pagando a Y – se considerarmos 
um ato-fato jurídico, Y não deve devolver a quantia; se considerarmos um ato 
jurídico, Y deve devolver a quantia. Em outra situação hipotética, se X ameaça Y a te 
pagar apontando uma arma para a sua cabeça, Y pode pedir um valor indenizatório 
em virtude de ter sido vítima de um ato ilícito, entretanto, a quantia não será 
devolvida pelo fato de um pagamento ser um ato-fato jurídico (independente da 
vontade); 
 
8) Assinatura de uma quitação que comprovava o recebimento do valor prometido (art. 
320 CC): Ato jurídico stricto sensu, uma vez que a quitação é um documento emitido 
com base nos requisitos previstos em lei para comprovar o recebimento do valor (e 
essa assinatura é um direito do devedor para comprovar que quitou a sua dívida). 
Não seria um negócio jurídico pelo fato dos efeitos desse fato jurídico serem pré-
estabelecidos em dispositivos normativos e não podem ser moldados pelas vontades 
das partes (Credor não pode dizer: “ah, vou assinar a quitação só se você pagar em 
até dez dias”); 
 
Art. 320 – CC: A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará 
o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo 
e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante. 
 
 
CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS: 
 
1. Fato jurídico stricto sensu (no sentido estrito): 
 
 Todo fato jurídico em que, na composição do seu suporte fático, entram apenas fatos 
da natureza, independentes de ato humano como dado essencial. 
 O elemento humano (conduta) não é necessário para a composição do suporte fático 
suficiente. 
 Exemplos: o nascimento, a morte, o implemento de idade, a confusão, a produção de 
frutos, a aluvião, a avulsão, etc. 
 Apesar de se tratarem de eventos naturais, interessam para o Direito em virtude dos 
impactos na sociedade humana. Uma mudança no curso de um rio pode afetar 
direitos de propriedade – os proprietários dos terrenos invadidos pelas águas podem 
ser indenizados por parte dos proprietários dos terrenos acrescidos. 
 Se houver ato humano na origem de um fato jurídico stricto sensu, não há alteração 
do caráter do evento que constitui seu suporte fático. Por exemplo, uma morte 
ocasionada por homicídio (ato humano) não deixa de ser um evento da natureza. 
 
2. O ato-fato jurídico: 
 
 Todo fato jurídico que se materializa através de uma conduta humana, entretanto, 
sem apresentar a vontade como elemento do seu suporte fático. 
 A análise da relevância ou não da vontade humana é feita no suporte fático 
hipotético e não a luz do caso concreto. 
 Exemplos: a caça, a pesca, a especificação, a comistão, a descoberta do tesouro, a 
semeadura, a ocupação, o abandono de bem móvel, a tomada de posse, a tradição 
da posse, o abandono da posse, etc. 
 Vamos supor que um sujeito ache acidentalmente uma corrente. Tem-se aqui um 
ato-fato jurídico. Se o sujeito quisesse encontrar a corrente e encontrá-la (ao invés 
de achar por acaso), a classificação do fatojurídico segue como um ato-fato jurídico, 
uma vez que essa vontade é irrelevante e não compõe o suporte fático dos art. 1233 
e 1234 do Código Civil (que tratam da descoberta). 
 
 
2.1 – Atos reais: 
 
 Consistem em atos humanos que geram circunstâncias fáticas geralmente 
irremovíveis. 
 Exemplos: O louco que pinta um quadro detém o direito de propriedade sobre tal 
obra assim como uma criança (incapaz) que descobre um tesouro no fundo do 
quintal de sua casa. 
 Neste último exemplo, a criança é dita incapaz no que tange à capacidade de fato ou 
de exercício e não de gozo, uma vez que titula direitos desde a concepção do seu 
nascimento. 
 
 
2.2 – Atos-fatos jurídicos indenizativos: 
 
 Configuram-se naquelas situações em que de uma conduta humana lícita causadora 
de dano a terceiro, decorre para seu autor ou a ele imputável dever de indenizar. 
 A regra geral é de que aquele que pratica ato ilícito tem o dever de indenizar (arts. 
186, 187, 927 – CC), mas esse dever de indenizar também pode aparecer em 
condutas lícitas – como no exercício regular de um direito ou em estado de 
necessidade. 
 Por exemplo, em uma cidade que está sendo bombardeada, um indivíduo, para se 
proteger, arromba a porta de uma casa e entra (invade). Este indivíduo tem o dever 
de indenizar o proprietário do imóvel mesmo tendo cometido uma conduta lícita 
(estado de necessidade – art. 188, II – CC). 
 O mesmo vale para uma indústria que assume o risco de sua atividade. Mesmo que 
se trate de um acidente, tem, ela, o dever de indenizar os prejudicados pelo 
vazamento de toxinas, por exemplo. 
 A vontade na prática do ato danoso, por se tratar de um ato-fato (classificação mais 
abrangente), é irrelevante. 
 
Art. 188 – CC: Não constituem atos ilícitos: 
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; 
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo 
iminente. 
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias 
o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a 
remoção do perigo. 
 
Art. 929 – CC: Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não 
forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram. 
 
Observa-se que, conforme o parágrafo único do Art. 188, no caso de uma conduta 
excedente (passe dos limites do indispensável), isto é, em desconformidade com o 
ordenamento jurídico, comete um ato ilícito. Por exemplo, se aquele indivíduo que invadiu a 
casa de outro para se proteger das bombas, saiu, também, quebrando tudo o que via pela 
frente, comete, este, ato ilícito. 
 
2.3 – Atos-fatos jurídicos caducificantes: 
 
 Concretizam-se naquelas situações que constituem fatos jurídicos cujo efeito 
consiste na extinção (perda) de determinado direito e, por consequência, de 
pretensão, da ação e da exceção dele decorrentes. 
 Conduta lícita cujo efeito desta é perder direito. 
 Exemplos: prescrição, decadência e preclusão (passagem do tempo + inação). 
 
3. Ato jurídico lato sensu: 
 
 Denomina-se ato jurídico o fato jurídico cujo suporte fático prevê como seu cerne 
uma exteriorização consciente da vontade. 
 São essenciais, portanto: um ato humano volitivo, a consciência dessa exteriorização 
de vontade (intuito de realizar aquela conduta) e a obtenção de um resultado lícito e 
possível. 
 Conforme já visto em IED, uma das características do Direito é a exterioridade e, 
portanto, não age sobre pensamentos (dimensão interna dos indivíduos). É 
necessária a declaração da vontade. 
 Quando exigida pela norma jurídica, a falta de declaração faz com que não exista ato 
jurídico (como no caso de um testamento feito sem seguir as regras do Código Civil – 
na verdade, não há testamento). 
 Inconsciência (inexistência do ato) x Erro na manifestação da vontade (ato existe, 
mas é passível de anulação). 
 A exteriorização da vontade não implica na ciência de estar realizando um ato 
jurídico. Por exemplo, quando tomamos um ônibus, não pensamos em fazer um 
contrato de transporte, mas apenas nos deslocando de um local para outro. 
 
3.1 – Ato jurídico stricto sensu: 
 
 A vontade manifestada pelas pessoas se limita, apenas, à função de compor o 
suporte fático de certa categoria jurídica. 
 O ato jurídico stricto sensu tem efeitos previamente estabelecidos pelas normas 
jurídicas. 
 Efeitos “necessários” (determinação dos efeitos já é prevista em lei e, por 
conseguinte, esses efeitos independem da vontade das partes). 
 Ex: Quitação (art. 320 – CC). 
 
3.2 – Negócio jurídico: 
 
 Também conhecido como ato negocial. 
 As partes apresentam o poder de regular a amplitude, o surgimento, a permanência, 
e a intensidade dos efeitos que constituam o conteúdo eficacial das relações 
jurídicas. 
 Os efeitos jurídicos podem ser moldados pela vontade das partes. 
 Efeitos são “queridos”. 
 Não é um “mangue” visto que há limites à manifestação da vontade das partes 
impostos pela lei  as partes podem negociar determinados efeitos, dentro das 
fronteiras impostas pelo Direito. 
 Ex: Contrato de compra e venda – vai ter que envolver um acordo de uma pessoa 
pagar um preço e a outra transferir uma coisa (previsto em lei), mas vários dos 
efeitos podem ser alterados pelas partes (quando será entregue o produto, a forma 
da efetuação do pagamento, etc...). 
 
 
3.3 – Ato jurídico misto: 
 
 É possível haver atos jurídicos em que estejam combinados ato jurídico stricto sensu 
e negócio jurídico. 
 Exemplo: um credor que tem o direito de escolha de uma dentre as prestações A, B 
ou C, comunica ao devedor que escolheu a prestação B (ato jurídico stricto sensu), 
mas lhe concede oportunidade de, dentro de certo prazo, fazer outra prestação à sua 
escolha (negócio jurídico). 
 
Referências: 
Teoria do Fato Jurídico – Plano da existência/ Marco Bernardes de Mello 
 
AULA 07 – O ATO JURÍDICO STRICTO SENSU 
 
1. O ato jurídico lato sensu: 
Em um ato jurídico lato sensu, o seu suporte fático contém uma conduta humana e um 
elemento volitivo (a vontade enquanto elemento criador de um fato jurídico – que pode ser 
uma ação ou uma omissão). O ato jurídico lato sensu se subdivide em ato jurídico stricto 
sensu e negócio jurídico. 
 
2. Ato jurídico stricto sensu x Negócio jurídico: 
Relembrando... O negócio jurídico, diferentemente do ato jurídico stricto sensu, permite que 
as partes modulem determinados aspectos da sua eficácia (como, por exemplo, a data do 
vencimento do boleto para pagamento após ser celebrado um contrato de compra e venda). 
Observa-se, entretanto, que essa liberdade para modular efeitos não é plena, ou seja, 
respeita os limites impostos pelo Direito. No contrato de compra e venda mencionado, 
obrigatoriamente, deve ocorrer o fornecimento de um bem (de A para B) e de uma quantia 
financeira (de B para A). 
 
3. O ato jurídico stricto sensu: 
Art. 185 – CC: Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que 
couber, as disposições do Título anterior. 
Conforme mencionado no art. 185 do Código Civil, a regra geral é de que, no que couber, as 
normas que regem os negócios jurídicos também se aplicam aos atos jurídicos stricto sensu. 
 
4. Observações importantes sobre o ato jurídico stricto sensu: 
 
4.1 – Para que essa vontade componha o suporte fático, é necessário que ela seja 
exteriorizada, uma vez que uma das características do Direito é a exterioridade (não é 
possível regular as circunstâncias inerentes à esfera psíquica do indivíduo). 
A reserva mental, em regra, não é relevante. 
 
Art. 110 – CC: A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva 
mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatáriotinha conhecimento. 
Art. 112 – CC: Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas 
consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. 
 
Os arts. 110 e 112 do Código Civil, apesar de aparentemente contraditórios, não são, uma 
vez que o art. 112 prioriza a declaração da vontade, só que já dispondo sobre o mundo dos 
fatos. Por exemplo, se um indivíduo quer vender um bem que vale aproximadamente R$ 
5.000,00 e no anúncio escreve “Valor a vista: R$ 5.000,00 ou parcelado em 5x R$100,00”. 
Percebe-se que, apesar de ter colocado 5x100 ao invés de 5x1000, o negócio jurídico não é 
invalidado pois há a prioridade da manifestação da vontade (entende-se que o sujeito quis 
vender o bem por R$ 5.000,00 ou 5x R$1.000,00  prioriza-se a vontade em relação ao 
sentido literal). 
 
Em regra, manifestação e declaração são considerados sinônimos, entretanto, em alguns 
casos, o Código exige uma das duas – a declaração, por essa ser mais complexa. Declaração 
de vontade – A pergunta a B: “Quer comprar o meu notebook por R$ 2.000,00?” (linguagem 
no sentido mais estrito da comunicação) x Manifestação da vontade – A abandona um copo 
no lixo (não é necessário dizer “Estou a abandonar este copo no lixo”). 
 
Art. 107 – CC: A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão 
quando a lei expressamente a exigir. 
No caso do casamento, é necessário que ambos envolvidos nessa relação jurídica digam 
“sim” (declaração da vontade) e não somente manifestem um sim com a cabeça. O fato 
jurídico solene (aquele que exige protocolos pré-estabelecidos para ser válido) vai exigir a 
declaração da vontade; o não solene, pode exigir ou não. 
 
4.2 – A vontade é elemento completante e, portanto, nuclear, do suporte fático. 
Se Requião doou um livro para um aluno e nesse tinha uma nota de cem reais. O aluno deve 
devolver a nota para Requião pelo fato do professor ainda ser o proprietário. A manifestação 
da vontade de Requião consistiu na doação do livro e não da nota de cem reais. 
 
4.3 – A exteriorização da vontade deve ser consciente. A consciência aqui é no sentido de 
querer realizar o ato (se referir a um objeto), não sendo necessário imaginar estar realizando 
um fato jurídico. Por exemplo, A quis pegar um ônibus para se deslocar de X a Y. A não está 
pensando “quero celebrar um contrato de transporte”, mas somente “quero me deslocar de 
X a Y”. 
Por exemplo, durante um leilão, um indivíduo levanta a mão para cumprimentar um 
conhecido. Esse indivíduo não tinha consciência de que esse ato (levantar a mão) representa 
um lance. Logo, o ato praticado, por ter sido inconsciente, não deve ser considerado como 
um fato jurídico. 
 
4.4 – O objeto do ato jurídico stricto sensu deve ser lícito, possível, determinado ou 
determinável. 
Como as normas, no geral, que tratam do negócio jurídico também regem os atos jurídicos 
stricto sensu, podemos analisar o art. 104, II, o qual aponta a necessidade do objeto ser 
lícito, possível, determinado ou determinável. 
Art. 104 – CC: A validade do negócio jurídico requer: 
II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável 
 
 
OBS: Os artigos 121 a 137 (Capítulo III: da condição, do termo e do encargo) somente se 
referem ao negócio jurídico. 
O reconhecimento da paternidade é um ato jurídico stricto sensu, manifestada assim a 
vontade do pai, permite que todos os efeitos previstos em lei sejam aplicados (ele não pode 
dizer, por exemplo: “reconheço a paternidade, desde que não precise pagar pensão”). 
Se uma das partes, durante a celebração de um contrato de compra e venda, só tem a opção 
de aceitar ou não, não classificamos esse fato jurídico como um ato jurídico stricto sensu 
pelo fato da outra parte ter a capacidade de moldar determinados aspectos da eficácia – 
mantendo-se, portanto, a classificação de um negócio jurídico. 
 
5. A classificação dos atos jurídicos stricto sensu: 
 
 Reclamativos: Consubstanciados em reclamações ou provocações. Ex: Interpelação 
para o credor exercer seu direito de escolha nas obrigações alternativas; 
 
 Comunicativos: Constituídos por comunicação de vontade que têm a finalidade de 
dar ciência a alguém. Ex: A comunicação da escolha da prestação; 
 Enunciativos: Exteriorizações de conhecimento ou de sentimento. Ex: 
reconhecimento de paternidade e de maternidade fora do casamento; 
 
 Mandamentais: Imposição ou proibição de determinado procedimento por parte de 
outra pessoa. Ex: A manifestação do proprietário para exigir que o dono do prédio 
vizinho proceda à sua demolição ou reparação, quando ameaça ruína; 
 
 Compósitos: Manifestações de vontade seguidas de circunstâncias para se 
completarem. Ex: A constituição de domicílio (estabelecimento de residência + 
ânimo definitivo – não basta só o interesse em ficar no local, mas deve permanecer 
de forma definitiva). 
 
6. O ato jurídico misto: 
Pode ocorrer que, em uma mesma situação, tenha-se um ato jurídico stricto sensu e um 
negócio jurídico. Assim, temos os chamados atos jurídicos mistos. 
Exemplo: Um credor que tem o direito de escolha de uma dentre as prestações A, B ou C, 
comunica ao devedor que escolheu a prestação B (ato jurídico stricto sensu), mas lhe 
concede oportunidade de, dentro de certo prazo, fazer outra prestação à sua escolha 
(negócio jurídico). 
 
7. Os atos jurídicos no Direito Público: 
Também é possível, obviamente, a presença de atos jurídicos stricto sensu e de negócios 
jurídicos no âmbito do Direito Público. 
 Um contrato administrativo resultante de uma licitação consiste em negócio jurídico. 
 Uma sentença do Poder Judiciário é um negócio jurídico. 
 O despacho, por outro lado, é um ato jurídico stricto sensu. 
De acordo com a doutrina de Marco Bernardes de Mello, os atos de direito público se 
subdividem em atos complexos e atos compostos. O ato complexo é aquele conjunto de atos 
e deliberações que são praticados por órgãos integrantes de um mesmo poder de Estado 
(um servidor público em caráter efetivo precisa ser aprovado em concurso público da própria 
entidade interessada). Por outro lado, o ato composto é aquele conjunto de atos e 
deliberações que são praticados por órgãos de poderes ou entidades diversos (o Presidente 
da República – Poder Executivo – indica um nome para ocupar o cargo de ministro do STF, 
mas este somente pode assumir o cargo após aprovado em uma sabatina realizada pelo 
Senado Federal – Poder Legislativo). 
Muitas vezes, pode ocorrer, também no âmbito do Direito Público, uma mescla entre atos 
jurídicos stricto sensu e negócios jurídicos. Por exemplo, a elaboração de um edital de um 
concurso é um negócio jurídico pelo fato do elaborador poder decidir aspectos como o que 
será cobrado (conteúdo da prova), quantas questões serão realizadas, o modelo das 
questões (dissertativas ou objetivas), quando será feita a prova, etc. Após um candidato ser 
aprovado e for tomar a posse, tem-se um ato jurídico stricto sensu em virtude dos efeitos já 
serem previamente estabelecidos (caso aprovado, será empossado). 
 
OBS: O silêncio somente terá valor jurídico quando o código dispuser sobre (logo, exceções). 
Quando, por exemplo, um credor fica em silêncio após a imposição de um prazo (após 
passado os 30 dias fixados, por exemplo) – esse silêncio é relevante para o ordenamento 
jurídico. 
 
Referências: 
Teoria do Fato Jurídico – Plano da existência/ Marco Bernardes de Mello 
 
AULAS 08 E 09 – CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS 
 
ATIVIDADE: 
Analise os negócios jurídicos abaixo descritos e aponte, de modo fundamentado, todas as 
suas classificações. 
 
 Contrato 
de 
compra e 
venda 
Contrato 
de 
comodato 
Contrato 
de 
doação 
Contrato 
de fiança 
Testamento Promessa 
de 
recompensa 
UNILATERAL X X 
BILATERAL X X X X 
PLURILATERAL 
FIDUCIÁRIO 
NÃO FIDUCIÁRIO X X X X X X 
CAUSAL X X X X X XABSTRATO 
INTERVIVOS X X X X X 
MORTIS CAUSA X 
CONSENSUAL X X X X X 
REAL X 
PATRIMONIAL X X X X X X 
EXTRAPATRIMONIAL 
SOLENE X X X 
NÃO SOLENE X X X 
PRINCIPAL X X X X X 
ACESSÓRIO X 
TÍPICO/NOMINADO X X X X X X 
ATÍPICO/ORDINÁRIO 
ONEROSO X 
GRATUITO X X X X X 
 
OBS: Contrato de comodato – contrato de empréstimo de um bem infungível (que não pode 
ser trocado). Ex: O empréstimo de um livro da biblioteca 
 
A CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS: 
 
1. Unilateral x bilateral x plurilateral: Classificação que leva em consideração os polos e 
o direcionamento das vontades. No negócio jurídico unilateral, há somente um 
único polo (não necessariamente significa que seja um negócio jurídico com uma 
única pessoa – Ex: aprovação por uma Assembleia Geral – vontade única que 
expressa a vontade dos sócios). No negócio jurídico bilateral, há dois polos e, por 
conseguinte, duas vontades distintas, recíprocas e concordantes (ex: Contrato de 
compra e venda). No negócio jurídico plurilateral, há no mínimo dois polos e as 
vontades convergem para uma mesma direção – Ex: contrato de constituição de 
sociedade. Todo contrato (100% das vezes) é bilateral – mesmo em um contrato de 
doação, uma vez que este precisa que uma parte aceite a doação. Essa classificação 
não se confunde com a classificação de oneroso/gratuito. 
 
2. Fiduciário x não fiduciário: Fidúcia vem da ideia de “confiança” e, portanto, os 
negócios jurídicos fiduciários são aqueles por meio dois quais há transferência de 
titularidade sobre bem ou direito e cujo adquirente deve satisfazer às finalidades 
negociadas e, ao fim, restituir a titularidade ou transferi-la a terceiro designado. Os 
negócios jurídicos fiduciários são exceções – Ex: compra e venda de imóvel, com 
promessa de devolução. 
 
3. Causal x abstrato: Se o motivo entra e é verbalizado como parte da causa do negócio, 
ele importa (isso é raro: raramente, quando compramos algum produto, somos 
questionados o porquê estamos comprando). Os negócios jurídicos causais são 
aqueles que têm uma causa intrínseca, incluída no seu suporte fático – Ex: 
testamento (pode ser revogado caso o testamenteiro atente contra a vida do 
testador, inferindo-se, a gratidão como causa do testamento). Os negócios jurídicos 
abstratos são pensados como “algo que pode circular” (causa não foi incluída no 
suporte fático) – Ex: cessão de crédito, transmissão de propriedade de bens imóveis. 
 
4. Intervivos x mortis causa: Os negócios jurídicos mortis causa são aqueles cuja 
eficácia só se inicia a partir da morte de alguém – Ex: testamento. No geral, os 
negócios jurídicos são intervivos. 
 
5. Consensual x real: Os negócios jurídicos consensuais e reais partem de uma 
exteriorização de vontade. Os negócios jurídicos reais só existem se, além do acordo, 
for entregue determinado bem; já os negócios jurídicos consensuais já existem caso 
ocorra a exteriorização de vontade. Ex de negócio jurídico consensual: contrato de 
compra e venda (art. 481 – CC: “(...) se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e 
o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro”); Ex de negócio jurídico real: contrato 
de comodato (art. 579 – CC: “(...) perfaz-se com a tradição do objeto”). A doação, em 
regra, é consensual, entretanto, existem exceções nas quais é obrigatória a entrega 
imediata do bem (o contrato de doação se torna um negócio jurídico real – art. 541, 
parágrafo único - CC, o qual discorre sobre a doação de bem móvel de pequeno 
valor). 
 
6. Patrimonial x extrapatrimonial: Essa classificação não se confunde com a classificação 
de oneroso/gratuito. Os negócios jurídicos patrimoniais são aqueles que importam 
uma prestação de natureza econômica. O contrato de doação, apesar de transmitir 
uma ideia de ser gratuito, envolve, sim, patrimônio – conforme a própria redação do 
art. 481 – CC. A adoção e o casamento são exemplos de negócios jurídicos 
extrapatrimoniais. 
 
7. Solene x não solene: Os negócios jurídicos solenes são aqueles os quais a lei exige 
forma específica para a sua validade (e, em alguns casos, existência – no caso do 
testamento) – Ex: casamento, contrato de doação, contrato de fiança (“dar-se-á por 
escrito” – art. 819 – CC), testamento, etc. Os demais negócios jurídicos são ditos não 
solenes. 
 
8. Principal x acessório: Se o negócio jurídico existe independentemente de qualquer 
outro, é principal; caso sua existência for dependente de outro negócio jurídico, este 
é dito acessório. A título exemplificativo, pode-se citar o contrato de fiança, o penhor 
e a hipoteca como negócios jurídicos acessórios. Qualquer problema de validade que 
afete o negócio jurídico principal, afeta, também, o negócio jurídico acessório pelo 
fato deste depender daquele. 
 
9. Típico x atípico: Em geral, os negócios jurídicos são típicos, ou seja, existem normas 
que os regulam. A lei permite que as pessoas realizem negócios jurídicos que não 
estejam presentes nas leis, desde que respeitem as disposições legais. Desse modo, o 
contrato de leasing é um exemplo de negócio jurídico atípico. 
 
Art. 425 – CC: É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais 
fixadas neste Código. 
 
10. Oneroso x gratuito: A noção de negócio jurídico oneroso pressupõe a necessidade 
uma “contraproposta” – no caso de uma compra e venda (A cede o produto para B e 
B cede uma quantia financeira para A). Caso contrário, o negócio jurídico é dito 
gratuito – Ex: promessa de recompensa, testamento, contrato de doação, etc. 
 
Referências: 
 Ilícito civil: esse desconhecido – Felipe Peixoto Braga Netto 
 
AULAS 10 E 11 – O ESTUDO DO ATO ILÍCITO 
 
Realize a leitura do texto “Ilícito civil, esse desconhecido...”, de Felipe Peixoto Braga Netto, 
tendo por guia o roteiro a seguir. 
 
a. Relacione ilícito e juridicidade de acordo com as teorias apresentadas pelo autor. 
De acordo com o Felipe Peixoto Braga Netto, existem três vertentes no que tange à 
relação entre ilícito e juridicidade. A corrente defendida por doutrinadores como Caio Mário 
da Silva Pereira e Vicente Ráo sustenta que o ilícito não pode ser considerado jurídico (o 
ilícito fora do/externo ao ordenamento jurídico). A corrente defendida por Kelsen sustenta 
justamente o oposto da anterior, uma vez que considera que para ser considerada jurídica, 
uma norma precisa, obrigatoriamente, estar vinculada a um ilícito e a uma sanção para o 
caso de descumprimento da norma. A terceira postura, adotada por Marco Bernardes de 
Mello e Pontes de Miranda, consiste em um equilíbrio entre as duas anteriores, uma vez que 
o ilícito é contemplado pelo ordenamento jurídico, mas o ilícito não é condição determinante 
para uma norma ser considerada jurídica. 
A análise de lícito/ilícito, na contemporaneidade, contém uma carga valorativa que é 
feita dentro do próprio ordenamento jurídico. Não significa, desse modo, que um ilícito seja 
menos jurídico ou mais jurídico que o lícito pois ambos estão no ordenamento, apresentando 
a mesma estrutura de incidência. A distinção, portanto, é valorativa e tal juízo de valor é 
fixado pelo ordenamento (ações que em dado momento são lícitas podem se tornar ilícitas e 
vice-versa). 
 
b. Analise a importância da culpa enquanto elemento do ilícito. 
O ato ilícito apresenta relação com a culpa, entretanto, esta não é uma relação de 
necessidade, uma vez que a doutrina contemporânea, no seu caráter majoritário, sustenta a 
possibilidade da existência do ilícito sem culpa. 
Art. 186 – CC: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
A ideia de ilicitude, fundada no art. 186, se encontra vinculada a culpa lato senso 
(tanto do dolo – intencional, quanto da culpa em sentido estrito – desprovida de 
intencionalidade).A culpa em sentido estrito se relaciona a uma negligência (não perceber a 
potencial ilicitude proveniente de uma ação) ou imprudência (assumir o risco – tal como na 
ocasião de dirigir em uma velocidade muito acima da permitida). 
Art. 187 – CC: Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos 
bons costumes. 
O art. 187 do Código Civil discorre sobre o ilícito no que tange ao abuso de direito. 
Passa-se a pensar em uma noção de ilicitude não necessariamente vinculada à noção de 
culpabilidade e, por conseguinte, à noção de responsabilidade (há quem discorde e afirme 
que o abuso de direito envolva culpa). 
 
c. Analise a relação entre ilícito civil e responsabilidade civil. 
De acordo com o art. 927 do Código Civil, que dialoga com os arts. 186 e 187 do 
referido código, o ilícito civil indenizante gera como consequência a responsabilidade civil do 
dever de indenizar, isto é, reparar o dano. Quando falamos de ato ilícito, uma das possíveis 
consequências (e talvez a mais comum) é o dever de indenizar, todavia, não é o única. 
Ademais, podem existir atos lícitos que gerem o dever de indenizar: os chamados atos-fatos 
indenizativos (vide um indivíduo que, para escapar de uma bomba, invade um domicílio – 
estado de necessidade). 
Art. 927 – CC: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica 
obrigado a repará-lo. 
 
d. Discorra sobre as categorias eficaciais do ilícito. 
 
De acordo com Braga Neto, são quatro as categorias eficaciais do ilícito: 
1. Ilícito indenizante: 
Todo ilícito cujo efeito é de indenizar, ou seja, de reparar o dano causado. Por exemplo, 
um indivíduo que comete homicídio deve arcar com as despesas financeiras do funeral da 
vítima (art. 927 CC). 
 
2. Ilícito caducificante: 
Todo ilícito cujo efeito é a perda de um direito. Por exemplo, um pai que castiga 
demasiadamente o filho fisicamente pode perder o poder familiar sobre este (art. 1638 CC); 
 
3. Ilícito invalidante: 
Todo ilícito cujo efeito é a invalidade e todos os efeitos dele decorrente são invalidados. 
Por exemplo, um contrato assinado mediante coação deve ser invalidado (a coação é 
condição de invalidação pois a vontade não pode ser viciada – art. 151 CC) 
 
4. Ilícito autorizante: 
Todo ilícito cujo efeito é uma autorização. Por exemplo, um testador pode revogar o 
testamento caso o testamentário atente contra a sua vida (art. 557 CC). A retirada do 
sobrenome do cônjuge e a revogação de uma doação também são hipóteses de concessão de 
direito a outrem em virtude da ocorrência de um ato ilícito autorizante. 
 
Observa-se que, em um mesmo ato ilícito, podem existir diversas consequências. Um pai, 
por exemplo, que castiga demasiadamente o filho, além de perder o poder familiar sobre 
este, apresenta o dever de indenizar (arcar com os custos de um eventual tratamento 
médico). Destarte, tem-se um ato ilícito caducificante e indenizante simultaneamente. 
Em geral, para o Direito Civil, a responsabilização para o causador do dano independe do 
grau de culpa. Tanto faz, desse modo, colidir o veículo em outro veículo por espontânea 
vontade ou por distração. 
Art. 944 – CC: A indenização mede-se pela extensão do dano. 
O art. 927 do Código Civil discorre sobre a indenização, só que no Direito de 
Obrigações, tal indenização é a última solução. Mesmo diante de uma ilicitude de 
descumprimento, tenta-se, primeiramente, a tutela específica da obrigação (tentar que a 
finalidade pretendida seja cumprida). Quando compramos um produto, não estamos 
pensando em uma indenização no caso da não entrega desse produto mas tão somente em 
recebê-lo. 
A noção de ilicitude – conforme o art. 186 do Código Civil – pressupõe uma conduta 
que viola um direito e causa um dano a outrem (ainda que exclusivamente moral). Essa parte 
“exclusivamente moral”, atualmente, no caso de uma nova redação do Código Civil, talvez 
nem fosse incluída (tendo em vista que a própria constituição prevê a possibilidade de dano 
moral). Todavia, essa discussão é irrelevante. 
É importante ressaltar que um indivíduo pode causar um dano sem violar um direito, 
uma vez que o nosso Código Civil fez questão de separar “violar um direito” e “causar dano a 
outrem”. No caso de uma luta de mma, há o consentimento de ambas partes para o 
sofrimento de lesões corporais; ou no caso de um indivíduo que age em legítima defesa. 
É possível, também, alguém violar um direito sem causar um dano. Se Maurício 
adquirir um livro, sem urgência para leitura, que era para ser entregue daqui a dois dias, mas 
este é entregue daqui a quatro dias. Houve, nitidamente, uma violação de direito, 
entretanto, não se pode afirmar a existência de um dano. 
O art. 188 do referido código traz as chamadas “excludentes de ilicitude”. 
Art. 188 – CC: Não constituem atos ilícitos: 
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; 
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo 
iminente. 
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o 
tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a 
remoção do perigo. 
O efeito da incidência deste artigo trata-se de uma pré-exclusão de juridicidade, uma vez que 
impede a juridicização de condutas que seriam juridicizadas conforme os arts. 186 e 187. 
A legítima defesa pressupõe uma ação para evitar a lesão de um bem jurídico de si ou de 
outrem. A tenta matar B só que B mata A; ou A tenta matar C e B mata A, protegendo C. 
O estado de necessidade pode envolver um dano à pessoa ou ao patrimônio (no caso do 
arrombamento de uma porta para se proteger de uma pessoa que está pretendendo matar 
outrem). Incide, nesse caso, o art. 188 e não o art. 186. 
 
e. Indique como a superação do modelo oitocentista de legislação influencia no estudo e 
abordagem do ilícito civil. 
A superação do modelo oitocentista representou um grande avanço para o estudo do 
ilícito civil pela ciência jurídica. Em primeira análise, compreende-se que o ato ilícito 
indenizante é só uma das categorias de ilícito civil quando se considera a eficácia como 
parâmetro de classificação, existindo, destarte, os ilícitos caducificantes, invalidantes e 
autorizantes. Em segundo plano, é possível constatar uma flexibilização no que concerne à 
dicotomia entre público e privado (lógico que esses ramos têm suas próprias regras e estas 
são importantes, mas, atualmente, essa dicotomia não faz muito sentido) Ademais, passa-se 
a compreender, na visão pós-positivista contemporânea, os princípios, além das regras, 
como normas jurídicas. Dessa forma, se reconhece a violação de princípios - como o da 
imagem de uma pessoa - como um ato ilícito e que se encontra passível de uma sanção 
(como o dever de indenizar). Embora os princípios tenham aparecido de forma mais explícita, 
deve-se tomar cuidado com os excessos. Se já existe uma regra que resolve um problema, é 
preciso buscar a resolução nesta regra, evitando, assim, “decisões elásticas” dos juízes. O juiz 
deve realizar um procedimento hermenêutico para encaixar princípios no caso concreto, 
detendo, portanto, maior responsabilidade para se chegar a uma decisão. 
 
Para a próxima aula: responder a 2ª questão da atividade. 
 
AULA 12 – ABUSO DE DIREITO 
 
Art. 187 – CC: Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos 
bons costumes. 
 
Conforme a interpretação do referido artigo, infere-se a existência de um direito, 
entretanto, o exercício deste é feito de forma indevida e/ou exagerada. 
Não há menção à culpabilidade no art. 187, logo, uma pessoa pode não ser culpada pelo 
abusode direito (embora, na maioria dos casos, ela tenda a ser). Observa-se que a inclusão 
de outro termo no suporte fático dificulta a comprovação do abuso de direito, visto que 
seria necessário provar a existência de mais um elemento. 
Na França, no século passado, houve um caso que envolveu a função social da propriedade. 
Próximo à propriedade de um indivíduo, existia um terreno de lançamento e aterrisagem de 
dirigíveis. O proprietário, não gostando do lançamento de dirigíveis, construiu estacas de 
madeira pontiagudas e, caso os dirigíveis atingissem essas estacas, podiam ser danificados. O 
proprietário foi obrigado a retirar as estacas em virtude do abuso de direito, uma vez que a 
única finalidade daquelas estacas era prejudicar a sociedade (não detendo, por conseguinte, 
nenhuma finalidade para o proprietário). 
Os empreendedores podem se reunir em associações, contudo, se almejarem prejudicar os 
consumidores através dessas associações, estar-se diante de um abuso de direito. 
Os “bons costumes” representam o conjunto de práticas da sociedade moralmente 
adequadas. Os “bons costumes”, ou seja, as práticas sociais, variam no tempo e no espaço. 
A grande maioria das decisões envolvendo abuso de direito são vinculadas à boa-fé. A boa-
fé, enquanto princípio (boa-fé objetiva), se relaciona a um padrão social de conduta, isto é, 
um agir ético. Essa boa fé, enquanto princípio, pressupõe um modo correto de agir, ou seja, 
existem condutas que são esperadas por parte dos indivíduos. Esse padrão deve ser 
cumprindo independentemente da vontade das partes. Se em um contrato, Maurício coloca 
uma taxa de juros muito alta (além daquilo que a lei permite), percebe-se uma violação à 
boa-fé objetiva. 
Não importa, para o Direito Civil, se um indivíduo agiu contra a boa-fé com consciência ou 
não do abuso de direito, mas somente a sua ação (não é analisada a intencionalidade). 
Se vinculam à boa-fé e, consequentemente, ao abuso de direito: 
 
 Venire contra factum proprium 
É a proibição de comportamentos contraditórios. Inicialmente, um indivíduo tem um 
comportamento que leva a uma determinada ação e, em um segundo momento, este age de 
forma que contraria a expectativa gerada. Nesse caso, há uma quebra da legítima 
expectativa. 
 
Ex 1: Se A se desentende com B e ambos resolvem se divorciar, entretanto, A demora de 
concretizar o divórcio. A não pode utilizar como próprio argumento a sua demora para 
buscar a separação de bens. 
 
Ex 2: A é sócio de uma empresa que gerava lucro significativo. Certo momento, a empresa 
foi descoberta em um escândalo de corrupção e A, durante as investigações, alega que não é 
sócio de tal empresa. Observa-se um nítido comportamento contraditório por parte de A. 
 
Ex 3: A ocupou, indevidamente, um bem público e, depois de um certo tempo, realizou uma 
benfeitoria do bem. Se esse indivíduo sabia previamente que não poderia ser indenizado no 
caso de benfeitorias e, posteriormente, exige indenização, tal indenização não deve 
acontecer. 
 
 
 
 Supresio e surrectio 
 
Enquanto a supresio limita uma antiga posição jurídica em função da omissão do seu titular, 
a surrectio estabelece uma nova posição jurídica, quando se verifica a presença da boa-fé 
objetiva e do transcurso de um razoável lapso temporal. Tem-se, portanto, um ganho de 
direito por uma parte, ao mesmo tempo que a outra parte perde um direito. 
 
 
Ex 1: Uma empresa A, operadora de cartão de crédito, determina que, caso o cliente atrase 
uma parcela do pagamento, poderia ocorrer o cancelamento do contrato. Supondo que 
ocorra esse atraso reiteradamente e A não cancele o contrato, gera-se uma legítima 
expectativa no cliente de que o contrato não será cancelado. Certa ocasião, A resolve 
cancelar o contrato, o que não poderá realizar. O sujeito ganha o direito de manter o 
contrato e a empresa perde o direito de extingui-lo. Tem-se um caso de supresio e surrectio. 
 
Ex 2: Uma empresa de gás, impõe no contrato, que o fornecimento deve ser de, no mínimo, 
X litros. Um indivíduo compra uma quantidade inferior do gás (X-Y) e faz isso 
reiteradamente, sem que a empresa de gás fizesse qualquer ressalva. Gera-se uma 
expectativa no cliente de que ele não deveria comprar o mínimo contratual, apresentando 
liberdade para adquirir a quantia que quisesse. Certa vez, a empresa de gás resolve exigir o 
pagamento pelo não cumprimento do mínimo fornecimento contratual pelo cliente. A 
empresa perdeu o direito de tal cobrança e o cliente adquiriu o direito de comprar a 
quantidade de gás que bem pretendesse. 
 
 Tu quoque 
Um sujeito age de forma ilícita e reclama da ilicitude feita por outro, ou seja, há uma “falta 
de bom senso”. 
Ex 1: Um médico que, sendo um fumante inveterado, profere palestra educativa 
conscientizando os jovens a não fumarem, pelos diversos malefícios que esta prática traz à 
saúde. 
Ex 2: A, durante a elaboração de um contrato, tentou enganar B, mas B acaba enganando A. 
Ex 3: A se encontra inadimplente em relação a uma dívida com B e cobra o inadimplemento 
que C apresenta consigo. 
Ex 4: A morreu, deixando alguns filhos e dois imóveis. Um dos filhos saiu comprando a 
prestação dos dois imóveis de todos os outros irmãos (13/14 dos dois imóveis), menos de 
uma irmã B (1/14 dos dois imóveis). B ocupa um dos imóveis, mais barato, sem pagar nada; 
enquanto que A ocupa o imóvel que pertence à irmã, mais caro. Certa ocasião, B processa A 
cobrando-lhe o pagamento pela ocupação do seu imóvel. É nítida a falta de bom senso, pois 
B, inadimplente (de um imóvel mais barato), não tem razão em cobrar a inadimplência de A. 
 
 Inalegabilidade das nulidades formais 
 
Um sujeito comete um ato, tendo o conhecimento de que há algo de errado ali, ignorando, 
portanto, tal ilicitude. Posteriormente, tal sujeito quer alegar a coisa errada que ele já sabia 
desde o início, almejando a anulabilidade do ato. 
 
Ex 1: Se um menor, relativamente incapaz, oculta a sua idade (“já completei 18 anos”), para 
realizar um negócio. Posteriormente, ele não pode alegar a sua idade para anular o negócio 
(“ah, tenho 17 anos”). 
 
Ex 2: Existem diversos direitos provenientes da propriedade. Um sujeito celebra um contrato 
de locação com um indivíduo que é proprietário. O indivíduo começa a ocupar o imóvel e, 
posteriormente, o proprietário deseja efetuar uma cobrança. O proprietário não pode 
realizar tal cobrança, mas somente o usufrutuário.

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