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DIREITO INTERNACIONAL E A ORDEM JURÍDICA INTERNACIONAL

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DESCRIÇÃO
O Direito Internacional e seus principais conceitos e características.
PROPÓSITO
Compreender os principais conceitos relacionados ao Direito Internacional Público, como sua
definição e suas características, seus fundamentos de validade e sua relação com a ordem
jurídica internacional é fundamental para entender as relações internacionais e como serão
resolvidos os conflitos na esfera internacional.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o conteúdo, tenha em mãos a Constituição Federal e um Vade Mecum de
Direito Internacional ou acesso aos principais tratados internacionais disponíveis em meios
digitais.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar o que se entende por sociedade internacional e qual o papel do Direito Internacional
Público no funcionamento dessa sociedade
MÓDULO 2
Definir a relação entre o Direito Internacional Público e o Direito Interno a partir das principais
correntes teóricas sobre o conteúdo — o monismo e o dualismo
MÓDULO 3
Descrever os elementos básicos do Direito dos Tratados, como definição, características e
processo de elaboração e celebração de tratados
INTRODUÇÃO
Neste conteúdo, oferece-se uma introdução ao Direito Internacional Público, apresentando sua
diferença em relação ao Direito Internacional Privado, as principais características desse
importante ramo do Direito, assim como as teorias que tratam do seu fundamento de validade.
Após uma apresentação das teorias que tratam da relação entre o Direito Internacional e o
Direito Interno — monismo e dualismo —, esse debate será contextualizado na realidade
brasileira, introduzindo-se os principais posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais sobre o
conteúdo.
Com o processo de codificação do Direito Internacional Público no século XX, os tratados
internacionais se multiplicaram e ganharam força como a principal manifestação desse ramo do
Direito. Por isso, serão apresentados os elementos básicos do Direito dos Tratados, com o
objetivo de permitir uma melhor compreensão sobre o processo de internalização desses
tratados no Direito brasileiro.
MÓDULO 1
 Identificar o que se entende por sociedade internacional e qual o papel do Direito
Internacional Público no funcionamento dessa sociedade
DEFINIÇÕES DE DIREITO INTERNACIONAL
– PÚBLICO E PRIVADO
 
Imagem: Shutterstock.com
O Direito Internacional (Público) se define como a disciplina jurídica aplicável à sociedade
internacional, entendida da seguinte maneira: “um grupo de Estados, conscientes de certos
valores e interesses comuns, formam uma sociedade no sentido de se considerarem ligados,
no seu relacionamento, por um conjunto comum de regras, e participam de instituições
comuns” (BULL, 2002, p. 19).
A sociedade internacional é entendida por Hedley Bull (2002, p. 14) como o passo seguinte ou
uma evolução do sistema de Estados, o qual “se forma quando dois ou mais Estados têm
suficiente contato entre si, com suficiente impacto recíproco nas suas decisões, de tal forma
que se conduzam, pelo menos até certo ponto, como parte de um todo.”
 
Foto: Shutterstock.com
De acordo com Valério Mazzuoli (2010, p. 55), “Direito Internacional Público pode ser
conceituado como o conjunto de princípios e regras jurídicas (costumeiras e convencionais)
que disciplinam e regem a atuação e a condução da sociedade internacional, visando alcançar
as metas comuns da humanidade e, em última análise, a paz, a segurança e a estabilidade das
relações internacionais”.
Esse é um conceito que abarca:
OS SUJEITOS INTERVENIENTES
AS MATÉRIAS REGULADAS
AS FONTES NORMATIVAS CONSIDERADAS
Esse conceito não se restringe a um ou outro critério.
É importante distinguir o Direito Interno do Direito Internacional:
DIREITO INTERNACIONAL
Refere-se ao conjunto de normas jurídicas não pertencentes a uma ordem interna, regulando e
regendo as relações entre os Estados e o complexo de atividades envolvendo organizações
internacionais e indivíduos.

DIREITO INTERNO
Consubstancia-se no conjunto de normas em vigor em dado Estado. Vale notar que as
Constituições estatais (normas de Direito Interno) preveem regras para a aplicação interna do
Direito Internacional (MAZZUOLI, 2010, p. 62-63).
 
Foto: Shutterstock.com
 
Foto: Shutterstock.com
 
Foto: Shutterstock.com
Ao longo do último século, principalmente, notou-se uma progressiva expansão do âmbito de
alcance do Direito Internacional. O seu objeto se expandiu, portanto, para incluir questões e
temáticas não originalmente afetas à sua abrangência. Deixou de tratar apenas de questões de
guerra e paz e comércio, passando a adentrar em arenas como meio ambiente, direitos
humanos, saúde, meios de comunicação e transporte, questões monetárias e financeiras,
terrorismo, crime organizado, entre tantas outras.
 COMENTÁRIO
Conforme as relações internacionais se tornaram mais complexas (tanto em termos temáticos
como em relação ao número e às características dos atores envolvidos), também mais diversas
se tornaram as normas de Direito Internacional. Isso, naturalmente, deu-se em um processo de
tensão com aquilo que era entendido como uma esfera exclusivamente doméstica de atuação
e competência do Estado.
Já o Direito Internacional Privado é o conjunto de normas destinadas a resolver conflitos de lei
ou de jurisdição no espaço em relação a casos concretos sub judice e com conexão
internacional (MAZZUOLI, 2010, p. 60). Essas normas não costumam resolver em si esses
casos, mas indicam o direito aplicável, ou seja, as regras que serão utilizadas para decidir os
casos e os órgãos jurisdicionais responsáveis por fazê-lo. As normas de Direito Internacional
Privado são normas de Direito Doméstico.
No Brasil, são normas de DIPRI os artigos 21 a 25 do Código de Processo Civil. O art. 25,
caput, por exemplo, prevê que “Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento
e o julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em
contrato internacional, arguida pelo réu na contestação”.
 RESUMINDO
Assim, pode-se afirmar que o Direito Internacional Privado, como se entende atualmente, não é
nem internacional, nem privado. De um lado, são normas de Direito Doméstico, em regra, que
regem a determinação do direito aplicável. De outro, trata-se de normas de Direito Público, no
sentido de que não têm origem na manifestação da vontade das partes, apenas regem, na
maioria das vezes, situações entre entes privados. Existem, claro, tratados internacionais que
buscam uniformizar as regras de Direito Internacional Privado, como as Convenções da Haia
de Direito Internacional Privado.
CARACTERÍSTICAS DO ORDENAMENTO
JURÍDICO
As características da sociedade internacional impactam sobremaneira as feições e limitações
do Direito Internacional. Uma característica fundamental é a ausência de uma estrutural
vertical, ou seja, de uma relação de subordinação entre os Estados. Prevalece o conceito de
igualdade (formal) entre os Estados, o que impõe uma relação de coordenação.
As relações internacionais são anárquicas, utilizando-se o conceito de anarquia para se referir
“à ausência de uma autoridade suprema, legítima e indiscutível que possa ditar as regras,
interpretá-las, implementá-las e castigar quem não as obedece” (NOGUEIRA; MESSARI, 2005,
p. 26).

Assim, as relações internacionais — e o próprio sistema internacional — são marcadas pela
horizontalidade, já que delas participam mais de 190 Estados independentes e teoricamente
iguais, sem reconhecer nenhuma autoridade superior à sua.
Enquanto nos sistemas domésticos a estrutura jurídica é hierárquica, no plano internacional
são os próprios Estados que criam as regras às quais deverão (ou não) obedecer, afinal, são
todos dotados de soberania (SHAW, 2010, p. 5).
Nas relações internacionais, coexistem múltiplos soberanos que não podem abrir mão do uso
legítimo da força em favor de um terceiro. O chamado monopólio do uso da força, que existe
no sistema doméstico, nem se vislumbra no cenário internacional.De fato, é a multiplicidade de
unidades — Estados — com possibilidade (e disponibilidade) de usar da força para resolver
controvérsias e conflitos que gera a necessidade de regras mínimas de convívio.
 
Foto: Shutterstock.com
O OBJETIVO INICIAL DO DIREITO INTERNACIONAL É,
AFINAL, EVITAR A GUERRA.
 ATENÇÃO
No Direito Internacional, não existe um Poder Executivo, Legislativo ou Jurídico único,
responsável por administrar e produzir leis ou resolver conflitos. Não se deve confundir
importantes órgãos como a Organização das Nações Unidas e a Corte Internacional de Justiça
com entidades que subordinariam os Estados. Na realidade, são organizações internacionais
compostas pelos Estados e que representam a manifestação de suas vontades.
A supremacia que os Estados têm em relação ao seu território e à sua população corresponde
à “soberania interna”, enquanto a independência em relação a autoridades externas pode ser
chamada de “soberania externa”. Ambas existem no plano normativo e no plano factual (BULL,
2002, p. 13).
FUNDAMENTO DA ORDEM JURÍDICA
INTERNACIONAL
Determinar o fundamento do Direito Internacional Público equivale a identificar os motivos que
justificam e dão causa à sua legitimidade e obrigatoriedade. É um esforço que pretende
identificar quais as origens e os fatores (Default tooltip) de onde emana a imposição de
respeito de suas normas e seus princípios.
BASICAMENTE, QUESTIONA-SE POR QUE O DIREITO
INTERNACIONAL PÚBLICO SE IMPÕE AOS ESTADOS,
ENTIDADES SOBERANAS.
Diversas doutrinas oferecem respostas divergentes para esse conjunto de questões
fundamentais:
DOUTRINA VOLUNTARISTA
A doutrina voluntarista tem uma base positivista e extrai a obrigatoriedade do Direito
Internacional do consentimento ou da vontade comum dos Estados. O Direito Internacional
Público seria obrigatório porque os Estados, expressa ou tacitamente, assim o desejam e
querem. Como afirma Mazzuoli (2010, p. 90), “o seu fundamento encontra suporte na vontade
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coletiva dos Estados ou no consentimento mútuo destes, sem qualquer predomínio da vontade
individual de qualquer Estado sobre os outros”.
O voluntarismo se confunde com o estatismo:
Se o Direito se baseia na vontade do Estado.

Só existem regras positivas fundadas por sua vontade que são expressa e regularmente
formuladas pelos órgãos do Estado.

Estes têm competência para exprimir essa vontade, independentemente da sua constituição.
O critério central é a competência do órgão que elabora o direito e a regularidade do
procedimento utilizado para esse fim. Nota-se uma preocupação muito maior com o seu
aspecto formal do que material, afinal, a força obrigatória do Direito advém da sua origem, e
não da conformidade do seu conteúdo. A vontade criadora do Direito é autônoma na medida
em que não está subordinada ao seu conteúdo, mas o domina. A autonomia dessa vontade é
absoluta (DINH et al., 2003, p. 101).
No plano do Direito Internacional, essa corrente teórica enfrenta o desafio de explicar se o
Estado soberano se vincula apenas à sua própria vontade. Surgem teorias para explicar esse
dilema, como:
TEORIA DA AUTOLIMITAÇÃO DO ESTADO
A teoria da autolimitação do Estado (George Jellinek) propõe a origem do Direito Internacional
na disposição dos Estados de se autolimitar na relação com outros Estados, fazendo isso em
seu próprio interesse para atender às necessidades da sociedade internacional da qual é
membro (por exemplo, impedir conflitos e promover a cooperação).
TEORIA DA VONTADE COMUM
A teoria da vontade comum (Triepel) funda o Direito Internacional Público não na vontade
individual dos Estados, mas na vontade comum, resultado da fusão de vontades dos membros
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da sociedade internacional (DINH et al., 2003, p. 102).
A doutrina voluntarista atribui, portanto, a obrigatoriedade do Direito Internacional Público ao
consentimento, à vontade comum dos Estados, expressa tácita ou explicitamente. O
fundamento do Direito Internacional Público seria, essencialmente, o consentimento.
DOUTRINA OBJETIVISTA
Já a doutrina objetivista prevê a existência de princípios e normas superiores aos do
ordenamento jurídico, os quais teriam prevalência sobre as vontades e interesses dos Estados.
Atribui, principalmente, ao direito natural as raízes da obrigatoriedade de normas que poderiam
ser extraídas, a partir da razão humana, do que é observado como a ordem natural (e moral).
Afirma que “a obrigatoriedade do Direito Internacional advém da existência de princípios e
normas superiores aos do ordenamento jurídico estatal, uma vez que a sobrevivência da
sociedade internacional depende de valores superiores que devem ter prevalência sobre as
vontades e os interesses domésticos dos Estados” (MAZZUOLI, 2010, p. 91).
Buscar a obrigatoriedade do Direito Internacional fora da vontade dos Estados leva a um
esforço de análise que envolve outras disciplinas não jurídicas, como a Sociologia e a História,
desembocando, também, no direito natural. Aqueles que se atêm ao direito natural dão
primazia a valores morais, extraídos da ordem natural, utilizando conceitos mais (Default
tooltip) ou menos vagos.
MENOS VAGOS
Obrigação de respeitar os compromissos assumidos e reparar danos injustamente
causados.
Os defensores do positivismo sociológico explicam a obrigatoriedade do Direito Internacional
em função das necessidades sociais, a partir das quais surgem normas que se tornam jurídicas
pela sua aceitação coletiva, o que poderia ser transposto para o plano internacional (DINH et
al., 2003, p. 107).
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DOUTRINA OBJETIVISTA TEMPERADA
Uma terceira via (objetivista temperada) que se apresenta reconhece que o Direito
Internacional se baseia em princípios jurídicos alçados a um patamar superior ao da vontade
dos Estados, mas sem que esta seja deixada completamente de lado.
Francisco Rezek (2010, p. 3) destaca que o consentimento:
NÃO É NECESSARIAMENTE CRIATIVO (COMO
QUANDO SE TRATA DE ESTABELECER UMA NORMA
SOBRE A EXATA EXTENSÃO DO MAR TERRITORIAL,
OU DE ESPECIFICAR O ASPECTO FISCAL DOS
PRIVILÉGIOS DIPLOMÁTICOS). ELE PODE SER
PERCEPTIVO, QUAL SE DÁ QUANDO OS ESTADOS
CONSENTEM EM TORNO DE NORMAS QUE FLUEM
INEVITAVELMENTE DA PURA RAZÃO HUMANA, OU
QUE SE APOIAM, EM MAIOR OU MENOR MEDIDA,
NUM IMPERATIVO ÉTICO, PARECENDO IMUNES À
PRERROGATIVA ESTATAL DA MANIPULAÇÃO.
Uma regra objetiva fundamental, fundada no consentimento perceptivo, que justifica a
existência e a validade do Direito Internacional é a pacta sunt servanda, que impõe aos
Estados o dever de cumprir com as obrigações aceitas livremente no exercício de sua
soberania. Teria como razão de ser a sua própria indispensabilidade para a conservação da
sociedade internacional e, como finalidade, a proteção do bem comum pela promoção da
harmonia e das boas relações entre os povos (MAZZUOLI, 2010, p. 92-93).
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 SAIBA MAIS
Essa regra foi, inclusive, posteriormente positivada na Convenção de Viena sobre Direito dos
Tratados. Prevê o art. 26 que “Todo tratado em vigor obriga as partes e deve ser cumprido por
elas de boa-fé”.
NORMAS NO DIREITO INTERNACIONAL:
HIERARQUIA E SOLUÇÃO DE CONFLITOS
A discussão sobre a existência de eventual hierarquia entre as normas de Direito Internacional
Público passa, necessariamente, por uma apresentação, ainda que breve, de suas fontes. O
art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça prevê:
ARTIGO 38. 1. A CORTE, CUJA FUNÇÃO É DECIDIR DE
ACORDO COM O DIREITO INTERNACIONAL AS
CONTROVÉRSIAS QUE LHE FOREM SUBMETIDAS,
APLICARÁ:
A) AS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS, QUER
GERAIS, QUER ESPECIAIS, QUE ESTABELEÇAM
REGRAS EXPRESSAMENTE RECONHECIDAS PELOS
ESTADOS LITIGANTES;
B) O COSTUME INTERNACIONAL, COMO PROVA DE
UMA PRÁTICA GERAL ACEITA COMO SENDO O
DIREITO;
C) OS PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO
RECONHECIDOS PELAS NAÇÕES CIVILIZADAS;
D) SOB RESSALVA DA DISPOSIÇÃO DO ART. 59, AS
DECISÕES JUDICIÁRIAS E A DOUTRINA DOS
PUBLICISTASMAIS QUALIFICADOS DAS DIFERENTES
NAÇÕES, COMO MEIO AUXILIAR PARA A
DETERMINAÇÃO DAS REGRAS DE DIREITO.
2. A PRESENTE DISPOSIÇÃO NÃO PREJUDICARÁ A
FACULDADE DA CORTE DE DECIDIR UMA QUESTÃO
EX AEQUE ET BANO, SE AS PARTES COM ISTO
CONCORDAREM.
Não há propriamente hierarquia entre as fontes primárias do Direito Internacional — as
convenções internacionais, o costume internacional e os princípios gerais de Direito.
Um tratado internacional pode derrogar uma norma costumeira anterior...

e vice-versa.
Quanto aos princípios gerais, entende-se que, até em função de sua generalidade e abstração,
a aplicação do critério da especialidade levará, na maioria das vezes, à sua aplicação apenas
como uma fonte subsidiária.
SÃO CONSIDERADAS FONTES AUXILIARES A
JURISPRUDÊNCIA E A DOUTRINA JUSTAMENTE
PORQUE ELAS SÃO DERIVADAS DAS DEMAIS, NÃO
PRODUZEM DIREITO ELAS PRÓPRIAS, MAS
CONTRIBUEM PARA A SUA APLICAÇÃO E
INTERPRETAÇÃO.
Como referido, não há Poder Judiciário no âmbito do Direito Internacional, de modo que a
solução de eventuais conflitos será realizada por uma ampla gama de instrumentos, que
incluem os meios diplomáticos (mediação, conciliação, bons ofícios), a arbitragem e os meios
judiciais.
Quanto aos meios judiciais, importante compreender que a existência de tribunais
internacionais não implica a existência de um Poder Judiciário, como dentro dos Estados. Os
tribunais internacionais são criados por tratados internacionais, os quais preveem que tipos de
conflitos e controvérsias lhe poderão ser submetidos pelos próprios Estados que se submetem
à sua jurisdição. Mesmo a Corte Internacional de Justiça, no entanto, não tem jurisdição
universal.
Aplicam-se, em casos de conflitos entre normas de Direito Internacional Público, os mesmos
critérios utilizados para a solução de conflitos no plano doméstico: o critério cronológico e o
critério da especialidade.
/
 
Foto: Shutterstock.com
Em termos de hierarquia, vale mencionar ainda a existência de normas imperativas de Direito
Internacional (normas de jus cogens), as quais têm status superior ao das demais normas de
Direito Internacional. O conceito de jus cogens se baseia na ideia de que existem valores
fundamentais e superiores dentro do sistema normativo internacional, os quais não poderiam
ser afastados, substituídos ou eliminados a partir de manifestações volitivas por parte dos
Estados que o compõem.
Esse conceito é explicitado na Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados:
ART. 53 – É NULO UM TRATADO QUE, NO MOMENTO
DE SUA CONCLUSÃO, CONFLITE COM UMA NORMA
IMPERATIVA DE DIREITO INTERNACIONAL GERAL.
PARA OS FINS DA PRESENTE CONVENÇÃO, UMA
NORMA IMPERATIVA DE DIREITO INTERNACIONAL
GERAL É UMA NORMA ACEITA E RECONHECIDA
PELA COMUNIDADE INTERNACIONAL DOS ESTADOS
COMO UM TODO, COMO NORMA DA QUAL NENHUMA
DERROGAÇÃO É PERMITIDA E QUE SÓ PODE SER
MODIFICADA POR NORMA ULTERIOR DE DIREITO
INTERNACIONAL GERAL DA MESMA NATUREZA.
A norma de jus cogens não pode ser derrogada nem por uma norma positivada, nem por um
costume local ou especial. Apenas outra norma de jus cogens teria o condão de modificá-la.
 EXEMPLO
A proibição do uso ilícito da força, da prática do genocídio, do tráfico de escravos e da pirataria.
Nota-se que constituem normas a partir de valores amplamente compartilhados pela
sociedade, mas que são frutos de uma construção histórica: o tráfico de escravos era, por
exemplo, prática comum e aceita até o século XIX.
NORMAS DE DIREITO INTERNACIONAL:
HIERARQUIA E SOLUÇÃO DE ANTINOMIAS
No vídeo abaixo, iremos analisar a hierarquia entre as normas do Direito Internacional e como
solucionar os conflitos delas.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. QUAL DOS ITENS A SEGUIR NÃO É ELEMENTO NECESSÁRIO PARA A
CARACTERIZAÇÃO DE UMA SOCIEDADE INTERNACIONAL?
A) Interação entre os Estados.
B) Uma autoridade superior aos Estados com poder sobre estes.
C) Valores e interesses compartilhados.
D) Conjunto comum de regras.
E) Participação em instituições conjuntas.
2. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA SOBRE OS CONFLITOS ENTRE
NORMAS DE DIREITO INTERNACIONAL.
A) Não se aplica o princípio cronológico para resolver conflitos entre tratados internacionais.
B) Tratados internacionais são hierarquicamente superiores às normas costumeiras
internacionais.
C) A jurisprudência é fonte autônoma do Direito Internacional.
D) Não há hierarquia entre convenções internacionais e costumes.
E) Normas de jus cogens são hierarquicamente inferiores aos princípios de Direito
Internacional.
GABARITO
1. Qual dos itens a seguir não é elemento necessário para a caracterização de uma
sociedade internacional?
A alternativa "B " está correta.
 
De acordo com Bull (2002, p. 19), “existe uma ‘sociedade de estados’ quando um grupo de
Estados, conscientes de certos valores e interesses comuns, formam uma sociedade no
sentido de se considerarem ligados, no seu relacionamento, por um conjunto comum de regras,
e participam de instituições comuns”.
2. Assinale a alternativa correta sobre os conflitos entre normas de Direito Internacional.
A alternativa "D " está correta.
 
Tratados internacionais e normas costumeiras são hierarquicamente equivalentes.
MÓDULO 2
 Definir a relação entre o Direito Internacional Público e o Direito Interno a partir das
principais correntes teóricas sobre o conteúdo — o monismo e o dualismo
TEORIA DO MONISMO
Em resumo, a teoria monista sustenta que o Direito Internacional tem aplicação direta na
ordem jurídica dos Estados, sem depender de qualquer processo de transformação ou
incorporação das normas internacionais.
O DIREITO INTERNACIONAL E O DIREITO INTERNO
SERIAM DOIS RAMOS DENTRO DE UM MESMO
SISTEMA JURÍDICO.
Hans Kelsen (1926, p. 267-268), um dos principais defensores do monismo, postula a unidade
do sistema normativo porque seria impossível reconhecer o caráter obrigatório a dois sistemas
jurídicos realmente diferentes (que decorram de duas fontes diferentes). Efetivamente, opera-
se apenas com um sistema de normas — assim, não existiriam conflitos insolúveis entre
normas e obrigações. Todos os conflitos aparentes poderiam ser resolvidos pelo critério
cronológico (lei posterior derroga lei anterior) e pelo critério hierárquico (quando uma norma
não respeitar sua norma superior, formal ou materialmente, ela será considerada nula).
 
Foto: Hubertl / Wikimedia Commons / CC BY-SA 4.0
 Estatueta de Hans Kelsen, na Universidade de Viena
Existiriam duas formas de relacionamento entre sistemas normativos: a coordenação e a
subordinação.
Como a coordenação também implica uma subordinação (dos dois sistemas coordenados
a um terceiro que subordina aqueles), é ela que importa na prática.

Quando um sistema se subordina ao outro, quer dizer que o sistema inferior busca seu
fundamento de validade em uma norma do superior, sendo sua fonte strictu sensu.

Essa norma fundamental fará parte dos dois sistemas, portanto.

O que há, no fim das contas, não são dois sistemas subordinados, mas um único sistema, com
uma mesma fonte no topo da pirâmide, sendo impossível um conflito de normas entre eles (há
apenas conflitos aparentes que serão resolvidos de acordo com a aplicação dos critérios já
enunciados) (KELSEN, 1926, p. 269-271).
Kelsen critica o dualismo porque este implicaria uma negação da natureza jurídica do Direito
Internacional, afinal, seria impossível o reconhecimento mútuo da natureza obrigatória das
regras de dois sistemas distintos. Assim, o Direito Internacional seria apenas uma forma de
moral ou uma manifestação do direito natural. Na sua construção lógica, uma regra não pode
ser considerada jurídica se não tiver como fonte de validade outra norma jurídica. Kelsen
também critica a ideia de que não haveria conflitos porque o Direito Interno e o Internacional se
ocupariam de objetos diferentes.
A realidade é que sempre o objeto será as relações entre indivíduos, com a determinação de
obrigações e direitos. Mesmo as relações entre Estados e entre Estado e indivíduos são,no
fundo, relações entre indivíduos — indivíduos cujas obrigações ou direitos são imputados, por
qualquer razão, ao Estado. O fato de que a conduta pode ou não ser imputada ao Estado não
muda em nada a natureza da relação jurídica — é uma relação estabelecida pelo direito entre
atos individuais (KELSEN, 1926, p. 275-282).
Portanto, as normas de Direito Internacional regulariam diretamente as relações jurídicas entre
os indivíduos. Nesse contexto de aplicação direta, seria inútil e até contraditório estabelecer
mecanismos e processos, no Direito Doméstico, para que as normas internacionais se
tornassem aplicáveis. Não haveria, portanto, processo de “recepção” formal para que as
normas internacionais adentrassem no ordenamento doméstico (DINH et al., 2003, p. 96).
 ATENÇÃO
Assim, por exemplo, não faria sentido, em um modelo puramente monista, todo o processo
doméstico de ratificação dos tratados internacionais, que envolve, no caso do Brasil, o envio do
tratado pelo presidente da República ao Congresso Nacional, a tramitação de um projeto de
decreto legislativo pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, a sua promulgação e
publicação pelo presidente do Congresso e, posteriormente, a promulgação e publicação do
decreto executivo pelo presidente (art. 49, I; 84, VIII da Constituição Federal).
IMPORTANTE NORMA INTERNACIONAL ENDOSSA O
ENTENDIMENTO MONISTA: O ART. 27 DA
CONVENÇÃO DE VIENA SOBRE DIREITO DOS
TRATADOS PREVÊ QUE “UMA PARTE NÃO PODE
INVOCAR AS DISPOSIÇÕES DE SEU DIREITO INTERNO
PARA JUSTIFICAR O INADIMPLEMENTO DE UM
TRATADO”.
Situações de conflito são possíveis nesse contexto de um sistema jurídico único que comporta
normas internas e internacionais. As soluções para esses conflitos são oferecidas por três
correntes:
INTERNACIONALISTA OU RADICAL
MODERADA
NACIONALISTA
INTERNACIONALISTA OU RADICAL
Propõe a supremacia do Direito Internacional sobre o Direito Interno. Nesse contexto,
recorrendo à imagem da pirâmide, a própria Constituição estaria sujeita e buscaria sua
legitimidade no Direito Internacional, sendo a norma fundamental pacta sunt servanda o ápice
daquela pirâmide de normas. O Direito Interno, portanto, deriva do Direito Internacional e
deverá ceder, em caso de conflito, em favor da ordem internacional.
MODERADA
Equipara hierarquicamente o Direito Interno e o Internacional, sujeitando a resolução dos
conflitos ao critério cronológico (lex posterior derogat priori). Não haveria primazia de uma
ordem jurídica sobre a outra, mas, sim, concorrência.
NACIONALISTA
Defende a primazia do Direito Nacional de cada Estado soberano, sendo a adoção dos
preceitos do Direito Internacional uma faculdade discricionária. Como afirma Mazzuoli (2010, p.
78), “os monistas nacionalistas aceitam a integração do produto externo convencional ao direito
interno, mas sob o ponto de vista do primado da ordem jurídica estatal, valendo tal integração
somente na medida em que o Estado reconhece como vinculante em relação a si a obrigação
contraída”. A Constituição tem primazia e o Direito Internacional só é internamente obrigatório
na medida e porque o Direito Interno o reconhece como vinculante.
TEORIA DO DUALISMO
Em resumo, a teoria dualista propõe que o Direito Interno e o Direito Internacional são sistemas
jurídicos distintos que, apesar de algum contato, não se sobrepõem jamais. Como regulam
relações diferentes, é impossível que haja conflito entre suas fontes (TRIEPEL, 1923, p. 83).
De acordo com Carl Triepel (1923, p. 80-82), um dos principais expoentes do dualismo, a
distinção principal entre o Direito Interno e o Direito Internacional Público se refere às relações
sociais que eles regem.
O Direito Interno é aquele estabelecido dentro de uma comunidade política nacional —
incluindo Direito Estatal Positivo, Direito Costumeiro e Direito Privado.

Enquanto o Direito Internacional regula as relações entre os Estados e apenas entre os
Estados iguais.
 ATENÇÃO
As relações entre os Estados e suas subdivisões políticas não estariam incluídas. Tampouco as
relações com os indivíduos, que não estariam sujeitos ao Direito Internacional. É, portanto, pela
razão de que regula diferentes relações (apenas entre os Estados), que o Direito Internacional
é diferente do Direito Interno.
As fontes do Direito Internacional não poderão jamais substituir as do Direito Interno, que
devem agir por elas próprias. Um tratado internacional não é meio de criação do Direito Interno;
no máximo constitui convite para que os legisladores domésticos criem seu Direito, como um
ato particular de vontade do Estado. Não se pode dizer, por exemplo, que a publicação do texto
de um tratado gera obrigações para os sujeitos do Direito Doméstico — pode ser no máximo
que a publicação constitua forma de manifestação da vontade estatal e, assim, gere essas
obrigações.
UMA FONTE DE DIREITO INTERNACIONAL NÃO
PODERÁ, JAMAIS, CRIAR REGRAS DE DIREITO
INTERNO, DA MESMA FORMA QUE UMA REGRA DE
DIREITO INTERNO NÃO PODERÁ CRIAR DIREITO
INTERNACIONAL (TRIEPEL, 1923, P. 84).
As comunicações entre as duas ordens só poderiam se realizar por meio de processos próprios
a cada ordem jurídica e pela transformação da norma internacional em norma interna, ou vice-
versa. Ou seja, um tratado não seria recebido pelo ordenamento interno, a não ser que
passasse pelo processo de introdução formal que, ao seu fim, o "transformaria" em norma
interna.
Ao ser parte de um tratado, o Estado se obriga perante as outras pessoas jurídicas
estrangeiras, sem que isso influencie seu ordenamento jurídico interno.
Para que se fale em recepção, é necessário que a regra estatal corresponda de forma exata ao
conteúdo da norma internacional — qualquer modificação impossibilita essa referência.
Quando um Estado, para cumprir com obrigações internacionais, cria determinadas normas
endereçadas aos indivíduos, claramente não está reproduzindo fielmente a norma internacional
(TRIEPEL, 1923, p. 98).
A fonte do Direito Interno pode ser obrigada ou autorizada pelo Direito Internacional a criar (ou
não) o Direito. É a imposição de um dever internacional ao Estado.
Para concretizar essa tarefa, o Direito Internacional precisa recorrer ao Direito Interno — afinal,
só assim poderá realizar aquela obrigação na vida interna do Estado (TRIEPEL, 1923, p. 106).
 
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Em um cenário de dualismo puro, o processo de produção da norma de Direito Interno, ainda
que prevista ou autorizada pelo Direito Internacional, começará do zero, assim como a
produção de qualquer outra norma fora da influência do Direito Internacional. Trata-se de um
processo legislativo completamente independente.
Na prática, para o dualismo puro, o que se exige para a efetiva recepção da norma de Direito
Internacional no plano doméstico — entendida como uma norma separada, diferente e
independente — é o seguinte processo:
A norma internacional (Default tooltip) , para que vincule o Estado no plano internacional, deve
passar pelo processo de ratificação que, na maioria dos casos, exige uma manifestação
positiva do Congresso Nacional, anterior ao depósito do instrumento de ratificação.

Um novo processo legislativo se desencadeia para que a norma doméstica, com as devidas
adaptações, seja discutida, deliberada e aprovada pelo Congresso (Default tooltip) e entre em
vigor no plano doméstico.
TEORIA ADOTADA PELO BRASIL
O debate internacional entre dualistas e monistas reverberou no Brasil, contrapondo
proponentes de uma e de outra corrente teórica. Entre os dualistas, destacava-se Amílcar de
Castro, para quem o tratado internacional ratificado criava obrigações para o Estado apenas
nas suas relações externas com outros países.
Em alguma medida, prevaleciam na doutrina brasileira os monistas radicais que defendiam a
supremacia das fontes internacionais. Entre eles, destacavam-se Haroldo Valladão, Oscar
Tenório e Celso de Mello. Argumentavam que leis internas anteriores ao tratado e que com ele
conflitassemseriam revogadas; e que, caso as leis fossem supervenientes ao tratado, só
seriam aplicáveis se com ele não entrassem em contradição. Afinal, os Estados não poderiam
deixar de cumprir suas obrigações internacionais por conta de disposições de seu
ordenamento interno.
Oscar Tenório argumentava que o tratado superveniente não teria o condão de revogar a lei
anterior, mas apenas de suspender os seus efeitos — suspensão que cessaria na hipótese de
denúncia do tratado internacional (TIBURCIO, 2013, p. 179).
Encontravam respaldo em normas como:
A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados
“Art. 27 – Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o
inadimplemento de um tratado.”
A Convenção de Havana sobre Tratados
“Art. 11 – Os tratados continuarão a produzir os seus efeitos, ainda que se modifique a
constituição interna dos Estados contratantes.”
Também fortalecia essa tese o Código Tributário Nacional, o qual, em seu artigo 98, prevê que
“os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária
interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha”.
A Constituição Federal de 1988 não tratou diretamente da questão. Indiretamente, parece
reconhecer a possibilidade de declaração da inconstitucionalidade de tratado internacional — o
que o colocaria em status inferior às normas constitucionais — no art. 102, III, b, que prevê a
competência do Supremo para julgar recursos extraordinários.
A inconstitucionalidade de tratados internacionais pode ser extrínseca, no caso de vícios do
processo de ratificação, ou intrínseca, quando se referir ao seu conteúdo propriamente dito. De
toda forma, só seria aplicável para tratados ratificados após a promulgação da Constituição
(BARROSO, 2013, p. 202).
Apesar da preferência doutrinária pelo monismo radical internacionalista, a jurisprudência dos
tribunais brasileiros já se filiava, mesmo antes de 1988, da mesma forma que juristas como
Francisco Rezek, ao monismo moderado. Entendia que tratados internacionais e leis federais
têm a mesma hierarquia (lei ordinária), de modo que a prevalência de um sobre o outro será
determinada pelo critério cronológico.
 SAIBA MAIS
Esse entendimento foi consagrado na decisão do STF no Recurso Extraordinário nº 80.004, de
1977, mas pode ser encontrado em acórdãos anteriores do Supremo Tribunal Federal.
Não há que se falar propriamente em dualismo moderado, posto que não há necessidade de
promulgação de lei reproduzindo os termos do tratado internacional para que este tenha
validade no plano interno. Basta o processo de internalização, o qual será descrito em seguida.
Apesar da prevalência do monismo moderado, é importante citar algumas searas em que a
norma específica regulamenta as hipóteses de conflito entre normas domésticas e
internacionais, dando preferência a estas:
 
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No âmbito do Direito Tributário, conforme prevê o art. 98 do CTN, prevalecem os tratados
internacionais.
 
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Com relação aos chamados tratados-contratos, especialmente os tratados sobre extradição,
estes são normas especiais que afastam a aplicação de eventual regra geral em sentido
contrário prevista em lei interna.
 
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No âmbito do Direito Aeronáutico, a Constituição previu também que prevalecem os acordos
internacionais sobre a legislação doméstica (art. 178 – “A lei disporá sobre a ordenação dos
transportes aéreo, aquático e terrestre, devendo, quanto à ordenação do transporte
internacional, observar os acordos firmados pela União, atendido o princípio da reciprocidade”).
 
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Em relação ao reconhecimento e à execução de sentença arbitral, prevalece o tratado
internacional, conforme art. 34 da Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307, de 1996).
Continuaremos a abordar essas teorias no vídeo a seguir:
TEORIAS DA INCORPORAÇÃO
O especialista Guilherme France continua a explicação sobre as teorias monista, dualista e a
adotada pelo Brasil.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. (VUNESP – BNDES – 2002) QUANTO AO DUALISMO E AO MONISMO, É
CORRETO AFIRMAR QUE:
A) O dualismo aceita a existência de ordens jurídicas coexistentes, independentes e
autônomas.
B) O monismo defende a primazia do Direito Interno do país, haja vista a aplicação do Direito
ao caso em concreto.
C) A "teoria da incorporação" advém da corrente monista, que defende a primazia do Direito
Internacional.
D) O dualismo incorpora a ideia de que, na ordem interna, obedece-se a um sistema de
coordenação entre as normas e, no âmbito internacional, a uma relação de subordinação.
E) O dualismo tem como preceito a ideia de que todos os direitos emanam de uma única fonte.
2. (FUNDEP – 2014) QUANDO HÁ CONFLITOS ENTRE NORMAS
INTERNAS DE DETERMINADO ESTADO E NORMAS INTERNACIONAIS,
DUAS TEORIAS TENTAM SOLUCIONAR ESSA QUESTÃO, A MONISTA E A
DUALISTA. 
 
SOBRE ESSAS TEORIAS, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.
A) De acordo com a corrente dualista, o Direito Interno e o Direito Internacional convivem em
uma única ordem jurídica.
B) A corrente monista e a dualista apresentam as mesmas respostas para o conflito entre as
normas internas e as internacionais.
C) Segundo a corrente monista, quando há conflito entre as normas internas e as normas
internacionais, estas últimas prevalecem.
D) Os autores monistas dividiram-se em duas correntes, uma sustentando a unicidade da
ordem jurídica sob o primado do Direito Internacional e a outra apregoando a soberania do
Direito Nacional de cada Estado soberano.
E) O Direito brasileiro não adotou as teorias monista e dualista para solucionar o conflito entre
as normas internas de um Estado e as normas internacionais.
GABARITO
1. (VUNESP – BNDES – 2002) Quanto ao dualismo e ao monismo, é correto afirmar que:
A alternativa "A " está correta.
 
A teoria dualista enxerga o Direito Interno e o Internacional como sistemas distintos, que
regulam relações diferentes e, por isso, coexistem.
2. (FUNDEP – 2014) Quando há conflitos entre normas internas de determinado Estado e
normas internacionais, duas teorias tentam solucionar essa questão, a monista e a
dualista. 
 
Sobre essas teorias, assinale a alternativa correta.
A alternativa "D " está correta.
 
Há monistas que defendem a supremacia do Direito Internacional e monistas que defendem a
supremacia do Direito Doméstico.
MÓDULO 3
 Descrever os elementos básicos do Direito dos Tratados, como definição,
características e processo de elaboração e celebração de tratados
HISTÓRIA E CONCEITO DE TRATADOS
INTERNACIONAIS
Durante a maior parte da história, a prática de firmar tratados centrou-se no cenário de dois reis
ou monarcas concordando nos termos de um texto que, a partir da assinatura deles, passava a
valer de forma inequívoca para ambos os reinos.
Essa prática, a qual remontava à Antiguidade, sofreu profundas transformações no século XIX
e, novamente, no século XX.
No século XIX, a figura dos tratados multilaterais, envolvendo mais de duas partes, exigiu
inovações normativas e interpretativas que os tratados bilaterais simplesmente não
demandavam.
POR EXEMPLO, O QUE FAZER QUANDO APENAS UMA
DAS TRÊS OU MAIS PARTES DE UM TRATADO
MANIFESTAVA SUA INTENÇÃO DE DEIXAR AQUELE
ACORDO (DENUNCIÁ-LO)?
De outro lado, a progressiva democratização dos Estados afastou a competência exclusiva dos
monarcas em favor de uma maior participação de outros poderes, notadamente os
parlamentos, na manifestação de vontade dos Estados. Assim, a necessidade de uma fase de
internalização/ratificação, por exemplo, fez nascer a preocupação com o Direito dos Tratados
no contexto do Direito Constitucional.
No século XX, mais duas mudanças fundamentais mexeram com a estrutura daquilo que veio a
ser conhecido como Direito dos Tratados:
 
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A emergência das organizações internacionais (um novo sujeito de Direito Internacional
Público, além dos Estados).
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Imagem: Shutterstock.comA codificação do Direito Internacional e, mais especificamente, do próprio Direito dos Tratados.
 SAIBA MAIS
Como principal marco da codificação do Direito Internacional, foi celebrada a Convenção de
Viena sobre Direito dos Tratados (CVDT) que, finalizada em 1969, entrou em vigor em 1980. A
bem da verdade, a CVDT não trouxe tantas inovações, mas transformou em convencionais
regras costumeiras que já tinham ampla aceitação da sociedade internacional.
A própria CVDT traz uma definição específica para tratados internacionais, definindo-os como:
“ACORDO INTERNACIONAL CONCLUÍDO POR
ESCRITO ENTRE ESTADOS E REGIDO PELO DIREITO
INTERNACIONAL, QUER CONSTE DE UM
INSTRUMENTO ÚNICO, QUER DE DOIS OU MAIS
INSTRUMENTOS CONEXOS, QUALQUER QUE SEJA
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SUA DENOMINAÇÃO ESPECÍFICA” (ART. 2, 1, A,
CVDT).
Algumas características próprias e específicas dos tratados internacionais podem ser
depreendidas dessa definição.

Há uma exigência de formalidade, ou seja, os tratados devem ser escritos.

Não se reconhecem os acordos orais como tratados, entre outras razões, pela disposição
reafirmada pela Carta da ONU (art. 102) de se afastar a diplomacia secreta e garantir a
publicidade do Direito Internacional.

Pouco importa a denominação específica — tratado, acordo, convenção, carta, protocolo —
para o entendimento de que o documento que pretende produzir efeitos jurídicos está sujeito
às regras de Direito Internacional Público.
A definição da CVDT restringe o entendimento de tratados aos acordos celebrados entre os
Estados porque existe outra convenção internacional dedicada aos tratados envolvendo
organizações internacionais — a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados entre
Estados e Organizações Internacionais ou entre Organizações Internacionais (1986). De todo
modo, podem figurar como partes de tratados internacionais tantos os Estados como as
organizações internacionais.
A CLASSIFICAÇÃO E CELEBRAÇÃO DE
TRATADOS INTERNACIONAIS
Tratados internacionais podem ser classificados de acordo com diversos critérios relevantes
para a compreensão da sua celebração e do seu modo de aplicação:
DE ACORDO COM O NÚMERO DE PARTES
Bilateral, quando tem apenas duas partes, ou multilateral, com três ou mais pactuantes. A
denúncia de um tratado bilateral por uma das partes o extingue, o que não necessariamente
acontecerá com o tratado multilateral.
DE ACORDO COM O PROCEDIMENTO ADOTADO PARA
A CONCLUSÃO
Basicamente, a preocupação aqui se refere à necessidade ou não de ratificação. Assim, há
tratados, em sentido estrito, que demandam duas fases de expressão de consentimento
(assinatura e ratificação) para que sejam criadas as condições de sua vigência, e os tratados
em forma simples, para os quais o consentimento definitivo é expresso simplesmente na
assinatura, apenas uma fase. Na prática, podem-se definir os tratados em forma simples como
aqueles acordos bilaterais, sobre matérias de importância limitada, que se concluem mediante
procedimento breve, sob a forma de troca de notas, envolvendo apenas o ramo executivo do
poder público das partes, sem intervenção formal dos chefes de Estado. Vale mencionar, ainda,
que acordos executivos são tratados que se concluem sob a autoridade do chefe do Poder
Executivo, independentemente do parecer e consentimento do Congresso.
DE ACORDO COM A NATUREZA DAS NORMAS
Em uma classificação cada vez mais criticada, distinguem-se os tratados-contratos, por meio
dos quais as partes realizam uma operação jurídica, dos tratados-leis, por meio dos quais as
partes editam uma regra de direito objetivamente válida. Ambos os tipos de tratado têm o
mesmo valor jurídico, sem diferença hierárquica.
DE ACORDO COM A EXECUÇÃO NO TEMPO
Há tratados que criam situação jurídica estável, objetiva e definitiva (servem de título jurídico
para fundamentar a legitimidade daquela situação; por exemplo: tratados de demarcação de
fronteira) e os tratados que criam uma relação jurídica obrigacional dinâmica, a vincular as
partes por prazo certo ou indefinido (por exemplo: tratado de aliança). Em relação aos
primeiros, o mecanismo de execução pode ser instantâneo; já os segundos demandam atos
executórios reiteradamente praticados ao longo do tempo.
DE ACORDO COM A EXECUÇÃO NO ESPAÇO
Alguns tratados, em função de seu conteúdo, permitem que o signatário estabeleça um alcance
especial para suas disposições no seu território, excluindo esta ou aquela região de seu
alcance. Isso pode ser exigido por razões políticas (por exemplo: tratados que excluíam regiões
coloniais) ou por razões técnicas (por exemplo: Tratado de Cooperação Amazônica). Outros
não permitem tal mecanismo, já que a execução do tratado demanda uma conduta centralizada
da administração do Estado.
DE ACORDO COM A POSSIBILIDADE DE ADESÃO
POSTERIOR
Tratados abertos são aqueles que permitem a adesão de outros Estados que não figuram
como signatários originários, enquanto os fechados não permitem. Os tratados abertos podem
ser: de adesão limitada, quando se estabelece alguma restrição, normalmente de conteúdo
geográfico, para novas adesões, como o Tratado de Assunção, que autorizou apenas a adesão
de países integrantes da Associação Latino-Americana de Integração (art. 20); ou de adesão
ilimitada, quando se permite a adesão de qualquer país. Podem, ainda, ser condicionados
(quando impõem alguma condição para adesão, como a Carta da ONU, art. 4, § 1º) ou
incondicionados.
Sobre a celebração de tratados internacionais em si, ela se inicia com as negociações durante
as quais são produzidos os textos com que concordam os Estados-membros. Inicialmente, é
importante verificar quem tem competência negocial ou quem está habilitado a agir em nome
da entidade com personalidade jurídica (Estado ou organização internacional) durante o
procedimento negocial. A representatividade exterior do Estado é matéria regulada pelo Direito
Internacional, mais especificamente pela Convenção de Viena de Direito dos Tratados (art. 7),
mas o Direito Interno poderá ter disposições determinando condições ou características que os
representantes nacionais podem ou precisam ter.
Em regra, têm competência negocial:
 
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O CHEFE DE ESTADO E/OU O CHEFE DE GOVERNO
 
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O MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES
 
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O CHEFE DE MISSÃO DIPLOMÁTICA E
PLENIPOTENCIÁRIOS
Os tratados costumam seguir uma estrutura:
PREÂMBULO + DISPOSITIVO + ANEXOS
DISPOSITIVO
Linguagem jurídica, com as regras e princípios determinados pelo tratado.
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PREÂMBULO
Linguagem política, usualmente mais vaga, com objetivo de auxiliar a interpretação,
indicando os objetivos e as motivações do tratado
 
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A assinatura é ato idôneo para a autenticação do texto convencional. Ela põe fim à negociação,
autenticando o texto final e exteriorizando o consentimento das pessoas jurídicas de direito das
gentes que os signatários representam. O tratado já tem, aí, condições de vigência imediata, a
menos que as partes prefiram adiar essa vigência por algum período, por conveniência.
Além de assinar, o Estado pode apor também determinadas reservas em relação ao texto
convencional, caso assim autorizado pelo próprio tratado. Trata-se de uma “declaração
unilateral de um Estado ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado, com objetivo de
excluir ou modificar o efeito jurídico de suas disposições em sua aplicação a esse Estado” (art.
2, 1, d, CVDT).
As reservas são qualificadoras do consentimento — a qualquer momento em que ele se dê (na
assinatura, pós-negociações, ou na adesão, posterior). São costumeiras para os casos de
negociações multilaterais em que eventuais insatisfações particulares e específicas
permaneçam — tudo com o objetivo maior de permitir a adoção do texto pela maioria dos
Estados. De outro lado, não se pode falar em reserva para tratados bilaterais.
 COMENTÁRIO
Usualmente, os própriostratados regulam sua disciplina sobre reservas, autorizando-as,
regulamentando-as (art. 28 – Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher) ou proscrevendo-as (por exemplo: art. 120 do Estatuto de
Roma). Em caso de silêncio do tratado, vale a regra da Convenção de Viena: não são
permitidas as reservas incompatíveis com o objeto e a finalidade do tratado (art. 19, c).
A ratificação pode ser entendida como "o ato unilateral com que a pessoa jurídica de direito
internacional, signatária de um tratado, exprime definitivamente, no plano internacional, sua
vontade de obrigar-se" (REZEK, 2010, p. 50).
Charles Rousseau (apud REZEK, 2010, p. 51) elenca algumas razões para justificar a
manutenção dessa prática no período contemporâneo:
A ratificação tem algumas características:
A competência para sua definição é designada pelo Direito Constitucional Doméstico de cada
Estado.
É discricionário, na medida em que, mesmo após assinar, o Estado é livre para ratificar (ou
não) o tratado a qualquer momento. Não constitui ilícita a recusa de ratificação de tratado
previamente firmado, portanto, embora possa ser politicamente custosa.
É irretratável, de modo que mesmo que o tratado não tenha entrado em vigor, por motivo de
vacatio legis ou de falta de ratificação das outras partes, não pode se operar a retratação. A
retirada do tratado terá que obedecer às regras formais de denúncia.
É formal e deve sempre ser expressa. Não há que se falar em ratificação tácita. É uma
comunicação formal à outra parte ou ao depositário do ânimo definitivo de ingressar no domínio
 A importância da matéria versada nos tratados exige um pronunciamento
pessoal do chefe de Estado;
 Previne controvérsias acerca de eventual abuso ou excesso de poder do
plenipotenciário e reduz perspectiva de arguição de erro, dolo, corrupção ou
coação;
 Permite a participação do Legislativo na formação da vontade do Estado sobre
compromissos assumidos perante o exterior.
definitivo do tratado.
Vale mencionar a figura do depositário, necessária para tratados multilaterais.
Usualmente, o próprio tratado aponta um Estado ou uma organização que é responsável por
receber os instrumentos de ratificação e se encarrega de comunicar aos demais interessados
de cada nova ratificação daquele instrumento.
 
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A denúncia, no outro extremo do processo de adesão a um tratado internacional, é o ato
unilateral por meio do qual um partícipe de um tratado exprime sua vontade de deixar de ser
parte daquele tratado internacional.
A DENÚNCIA DE UM TRATADO BILATERAL, POR
ÓBVIO, LEVA À SUA EXTINÇÃO, ENQUANTO A
DENÚNCIA DE UM TRATADO MULTILATERAL LEVA
APENAS À EXCLUSÃO DO DENUNCIANTE DO ROL DE
ESTADOS VINCULADOS POR AQUELA NORMA
INTERNACIONAL (MAZZUOLI, 2010, P. 277).
Em geral, os próprios tratados preveem regras para a sua denúncia. É comum, inclusive, que
prevejam determinados prazos a partir do recebimento da denúncia. A ideia é impedir que a
denúncia se torne medida casuística, adotada por Estados que vislumbram situações, no curto
prazo, em que seria de seu maior interesse ver se desvinculado das obrigações contidas
naquela norma convencional. Nas hipóteses em que o próprio tratado não dispõe sobre a
possibilidade de denúncia, aplica-se a regra prevista na Convenção de Viena do Direito de
Tratados:
ART. 56. DENÚNCIA OU RETIRADA DE UM TRATADO
QUE NÃO CONTÉM DISPOSIÇÕES SOBRE EXTINÇÃO,
DENÚNCIA OU RETIRADA.
1. UM TRATADO QUE NÃO CONTÉM DISPOSIÇÃO
RELATIVA À SUA EXTINÇÃO, E QUE NÃO PREVÊ
DENÚNCIA OU RETIRADA, NÃO É SUSCETÍVEL DE
DENÚNCIA OU RETIRADA, A NÃO SER QUE:
A) SE ESTABELEÇA TEREM AS PARTES TENCIONADO
ADMITIR A POSSIBILIDADE DA DENÚNCIA OU
RETIRADA; OU
B) UM DIREITO DE DENÚNCIA OU RETIRADA POSSA
SER DEDUZIDO DA NATUREZA DO TRATADO.
A denúncia se materializa por uma notificação do denunciante ao depositário, que terá a
responsabilidade de notificar os demais participantes daquele tratado, ou ao outro signatário,
no caso de tratados bilaterais.
INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS
INTERNACIONAIS AO ORDENAMENTO
JURÍDICO BRASILEIRO
No processo de negociação do tratado, prevalece a competência privativa do presidente da
República para manter relações com Estados estrangeiros e celebrar tratados e acordos
internacionais, como preveem os incisos VII e VIII do art. 84 da Constituição Federal. Para
desempenhar este papel, o presidente pode enviar o seu ministro das Relações Exteriores, que
detém representatividade ampla (art. 7º, 2, a, CVDT) para substituí-lo, ou um outro indivíduo
dotado de carta de plenos poderes (art. 7º, 1, CVDT).
 
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No caso de negociações bilaterais, o chefe de missão diplomática acreditado no país com
quem se negocia também tem legitimidade para representar o seu Estado, sem necessidade
de carta de plenos poderes (art. 7º, 2, b, CVDT).

Esses indivíduos, dentro de suas competências, poderão assinar o texto final do tratado,
confirmando a adoção daquele texto.

A assinatura põe fim formal ao processo de elaboração, fixa o texto final e confirma que aquele
texto corresponde à intenção dos negociadores.

Uma vez assinado, o presidente envia ao Congresso Nacional uma mensagem, acompanhada
da Exposição de Motivos, usualmente assinada pelo ministro das Relações Exteriores, e da
íntegra do tratado.

Não existe, aqui, uma obrigação ou um prazo para o presidente submeter ao Congresso um
tratado por ele assinado (ou por um antecessor).
A competência do Congresso Nacional para se manifestar no processo de ratificação dos
tratados está prevista no art. 49, I, da Constituição Federal, que lhe atribui a competência para
“resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem
encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio público”. Pela leitura do texto
constitucional, interpreta-se que nem todos os tratados precisam ser submetidos ao Congresso
para ratificação, mas apenas aqueles que acarretem encargos ou compromissos gravosos.
 COMENTÁRIO
Na realidade, entende-se que apenas alguns poucos tipos de tratados internacionais — os
chamados “acordos executivos” — dispensariam manifestação do Congresso Nacional. São
exemplos de acordos executivos aqueles que são meros subprodutos de tratados vigentes e
aqueles que são meras expressões da diplomacia ordinária (REZEK, 2010, p. 62).
 
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Uma vez submetido ao Congresso, começa a tramitar um projeto de decreto
legislativo (Default tooltip) que autoriza o presidente a ratificar o tratado. O decreto legislativo
é espécie normativa prevista na Constituição Federal (art. 59, VI), a qual veicula matéria de
competência exclusiva do Congresso Nacional, não estando sujeito à sanção presidencial.

O PDL segue rito de tramitação normal, começando pela Câmara dos Deputados e, caso
aprovado, é submetido ao Senado Federal.

Em cada Casa, ele precisa ser aprovado pelas comissões temáticas responsáveis e pelo
Plenário, por maioria simples.

Na hipótese de aprovação, o decreto legislativo é promulgado pelo presidente do Congresso
Nacional e publicado.
Mesmo aprovado o decreto legislativo autorizando a ratificação pelo Congresso, não há
obrigação do presidente de proceder aos últimos passos do processo de ratificação.
Caso opte por fazê-lo, há dois conjuntos de movimentos necessários:
PLANO EXTERNO
PLANO INTERNO
PLANO EXTERNO
A ratificação se conclui quando o instrumento de ratificação é depositado pelo Brasil perante o
depositário indicado no tratado. Usualmente, esse depositário é um dos Estados signatários do
tratado ou uma organização internacional. No caso de tratados bilaterais, a ratificação se dá
pela troca de notas ou de instrumentos de ratificação. A partir desse momento, o Brasil é
considerado internacionalmente vinculado às obrigações jurídicas criadas pelo tratado.
PLANO INTERNO
O presidente deve promulgar e publicar decreto executivo por meiodo qual dá publicidade ao
texto integral do tratado. A promulgação tem por finalidade, portanto, atestar que o ato
internacional já existe e que foram cumpridas todas as formalidades internas para sua
celebração. Indica, ademais, que o compromisso internacionalmente firmado já é juridicamente
exigível, obrigando a todos sua observância.
No Direito brasileiro, há certa divergência quanto ao procedimento de denunciação dos
tratados internacionais. De modo central, juristas divergem quanto à necessidade (ou não) de
que o Congresso Nacional exprima seu consentimento em relação à denúncia.
Enquanto alguns, como Clóvis Beviláqua, entendem que a competência do presidente da
República para denunciar, unilateralmente, um tratado repousa sobre o próprio consentimento
do Congresso em relação às previsões sobre denúncia contidas naquele mesmo tratado...

Outros, como Valério Mazzuoli (2010, p. 284), sinalizam que seria necessário o consentimento
do Congresso para a denúncia, da mesma forma que o é para a internalização.
INCORPORAÇÃO E STATUS DOS
TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS
HUMANOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO
BRASILEIRO
Quanto aos tratados de direitos humanos, estes merecem uma atenção especial. Desde a
promulgação da Constituição Federal de 1988, com a previsão do art. 5º, § 2º (“Os direitos e
garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do
Brasil seja parte”), já havia autores que pretendiam conferir status diferenciado, e até
constitucional, a esses tratados.
Valério Mazzuoli (2010, p. 764), por exemplo, argumenta o seguinte:
SE A CONSTITUIÇÃO ESTABELECE QUE OS DIREITOS
E GARANTIAS NELA ELENCADOS ‘NÃO EXCLUEM’
OUTROS PROVENIENTES DOS TRATADOS
INTERNACIONAIS ‘EM QUE A REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL SEJA PARTE’, É PORQUE
ELA PRÓPRIA ESTÁ A AUTORIZAR QUE ESSES
DIREITOS E GARANTIAS INTERNACIONAIS
CONSTANTES DOS TRATADOS DE DIREITOS
HUMANOS RATIFICADOS PELO BRASIL ‘SE INCLUEM’
NO NOSSO ORDENAMENTO JURÍDICO INTERNO,
PASSANDO A SER CONSIDERADOS COMO SE
ESCRITOS NA CONSTITUIÇÃO ESTIVESSEM.
Nesse mesmo sentido, afirmava Flávia Piovesan (apud TIBURCIO, 2013, p. 187) que, com
base no art. 5º, § 2º, “a Carta de 1988 está a incluir, no catálogo de direitos constitucionalmente
protegidos, os direitos enunciados nos tratados internacionais em que o Brasil seja parte”.
Celso de Mello ia além, atribuindo status supraconstitucional aos tratados internacionais de
direitos humanos.
De outro lado, alguns autores apontavam problemas com essa compreensão. Oscar Vilhena
(apud BARROSO, 2013, p. 217), por exemplo, aponta que a atribuição de status constitucional
às normas oriundas de tratados de direitos humanos criaria um cenário “paradoxal” em que a
Constituição seria efetivamente emendada por um processo legislativo baseado no quórum
ordinário, o que se torna ainda mais relevante e, quiçá, preocupante, considerando que essas
normas seriam elevadas a cláusulas pétreas (art. 60, § 4º, IV da Constituição Federal).
 
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A Emenda Constitucional nº 45, de 2004, trouxe uma importante inovação. Ela incluiu o § 3º no
art. 5º da Constituição Federal, prevendo que “os tratados e convenções internacionais sobre
direitos humanos aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”.
Esse rito de aprovação é semelhante àquele previsto para a aprovação de emendas
constitucionais (art. 60, § 2º, CF). À parte do quórum qualificado e da necessidade de votação
em dois turnos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, os demais aspectos da
tramitação dos tratados de direitos humanos são idênticos àqueles previstos para a aprovação
de tratados no Congresso.
Luís Roberto Barroso (2013, p. 219) prevê que a atribuição de eficácia qualificada aos tratados
de direitos humanos produz três efeitos:

Em caso de conflito entre lei e tratado de direitos humanos aprovado em conformidade com o
art. 5º, § 3º, da Constituição, prevalecerá o tratado, em razão de sua equivalência às emendas
constitucionais, independentemente do critério cronológico.

Os tratados passam a integrar o bloco de constitucionalidade e, assim, podem servir de
parâmetro para o controle de constitucionalidade de leis e outros atos normativos.

Tais tratados não podem ser objeto de denúncia do presidente da República, por força do art.
60, § 4º, da Constituição, o qual prevê as cláusulas pétreas da Constituição.
Já passaram por esse rito de internalização, previsto no art. 5º, § 3º, a Convenção de Nova
York sobre os Direitos de Pessoas com Deficiências e seu Protocolo Facultativo (2007) e o
Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas às Pessoas Cegas, com
Deficiência Visual ou com outras Dificuldades para ter Acesso ao Texto Impresso (2013). A
Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e formas Correlatas de
Intolerância (2013) teve a sua ratificação, nos termos do art. 5º, § 3º, aprovada pelo Congresso,
pendentes, em março de 2021, as manifestações finais do presidente da República.
Por fim, o Estatuto de Roma, que criou o Tribunal Penal Internacional, também tem status
constitucional, em virtude do art. 5º, § 4º, da Constituição Federal, também incluído por força
da Emenda Constitucional nº 45, de 2004.
RESTA, NO ENTANTO, A QUESTÃO SOBRE O STATUS
DOS DEMAIS TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS —
TANTO AQUELES RATIFICADOS PELO BRASIL ANTES
DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45, DE 2004,
QUANTO OS TRATADOS QUE EVENTUALMENTE
VENHAM A SER RATIFICADOS DE ACORDO COM O
RITO ORDINÁRIO, SEM ATENDER AOS REQUISITOS
DO ART. 5º, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO.
A celeuma em relação ao status desses tratados, a qual já foi previamente discutida, teve fim
com a decisão do Supremo Tribunal Federal no âmbito dos Recursos Extraordinários nº
349.703/RS e 466.343/SP. Em resumo, a questão em pauta era a constitucionalidade e a
legalidade do instituto da prisão civil do depositário infiel.
De um lado, a Constituição Federal veda a prisão civil por dívida, preservando apenas duas
exceções: o devedor de alimentos e o depositário infiel (art. 5º, LXVII). Nesse sentido,
regulamentava, no ordenamento interno, a prisão do depositário infiel o art. 652 do Código
Civil. De outro lado, a Convenção de São José da Costa Rica (ou Convenção Interamericana
de Direitos Humanos) e o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos vedavam, por meio
dos art. 7º, 7, e art. 11, respectivamente, a prisão civil para qualquer caso que não o do
devedor de alimentos. A questão que se punha era, portanto, sobre um conflito entre as
normas domésticas e as internacionais.
 
Foto: Pedro França/Agência Senado / Wikimedia Commons / CC BY 2.0
 Gilmar Mendes em discurso.
A solução encontrada pelo ministro Gilmar Mendes, inspirada no Direito alemão, foi atribuir aos
tratados de direitos humanos o status normativo supralegal — abaixo da Constituição, mas
acima da legislação ordinária. Vale a transcrição da ementa do RE nº 349.703/RS:
PRISÃO CIVIL DO DEPOSITÁRIO INFIEL EM FACE DOS
TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS
HUMANOS. INTERPRETAÇÃO DA PARTE FINAL DO
INCISO LXVII DO ART. 5O DA CONSTITUIÇÃO
BRASILEIRA DE 1988. POSIÇÃO HIERÁRQUICO-
NORMATIVA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE
DIREITOS HUMANOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO
BRASILEIRO. DESDE A ADESÃO DO BRASIL, SEM
QUALQUER RESERVA, AO PACTO INTERNACIONAL
DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS (ART. 11) E À
CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS
HUMANOS - PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA
(ART. 7º, 7), AMBOS NO ANO DE 1992, NÃO HÁ MAIS
BASE LEGAL PARA PRISÃO CIVIL DO DEPOSITÁRIO
INFIEL, POIS O CARÁTER ESPECIAL DESSES
DIPLOMAS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS
HUMANOS LHES RESERVA LUGAR ESPECÍFICO NO
ORDENAMENTO JURÍDICO, ESTANDO ABAIXO DA
CONSTITUIÇÃO, PORÉM ACIMA DA LEGISLAÇÃO
INTERNA. O STATUS NORMATIVO SUPRALEGAL DOS
TRATADOSINTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS
SUBSCRITOS PELO BRASIL TORNA INAPLICÁVEL A
LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL COM ELE
CONFLITANTE, SEJA ELA ANTERIOR OU POSTERIOR
AO ATO DE ADESÃO. ASSIM OCORREU COM O ART.
1.287 DO CÓDIGO CIVIL DE 1916 E COM O DECRETO-
LEI N° 911/69, ASSIM COMO EM RELAÇÃO AO ART.
652 DO NOVO CÓDIGO CIVIL.
(Lei n° 10.406/2002).
Assim, entendeu-se que, embora a Constituição autorize a prisão civil do depositário infiel,
qualquer norma infralegal que venha a regulamentar essa possibilidade será incompatível com
os tratados internacionais de direitos humanos em vigor no país e, portanto, inaplicável.
Posteriormente, editou-se, inclusive, a Súmula Vinculante nº 25, prevendo que “É ilícita a
prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito”.
 ATENÇÃO
Deve-se notar, ainda, que os tratados de Direitos Humanos ratificados antes de 2004 poderão
ser submetidos ao Congresso Nacional para aprovação mediante o rito do art. 5º, § 3º, da
Constituição que os conferiria status constitucional (BARROSO, 2013, p. 219).
A INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS
INTERNACIONAIS PELO BRASIL
Vejamos no vídeo abaixo quais são as principais regras sobre a incorporação dos tratados,
sendo estes de direitos humanos ou não.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. (FCC – TRT23 – 2015) CONSIDERE UM HIPOTÉTICO TRATADO
INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS HUMANOS RATIFICADO PELO
BRASIL NO ANO DE 2001. SEU PROCESSO DE APROVAÇÃO NACIONAL
PERANTE O CONGRESSO NACIONAL E POSTERIOR ENVIO DE CARTA
DE RATIFICAÇÃO, BEM COMO PROMULGAÇÃO MEDIANTE DECRETO
PRESIDENCIAL, FORAM REGULARMENTE COMPLETADOS. O TRATADO
ESTÁ EM VIGOR INTERNACIONAL DESDE 2001, IMEDIATAMENTE APÓS
A RATIFICAÇÃO NACIONAL. COM RELAÇÃO À SUA APLICAÇÃO NO
BRASIL, DE ACORDO COM A POSIÇÃO MAIS RECENTE DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL − STF, ESSE TRATADO EQUIVALE A UMA:
A) Norma infraconstitucional, mas supralegal, tendo sido aprovado, em cada Casa do
Congresso Nacional, por maioria simples e turno único de votação.
B) Emenda constitucional, tendo sido aprovado, em cada Casa do Congresso Nacional, em
dois turnos, por três quintos dos votos.
C) Norma infraconstitucional, mas supralegal, assim como todos os tratados já ratificados pelo
Brasil que dispõem a respeito de direitos humanos possuem esse status.
D) Emenda constitucional, assim como todos os tratados já ratificados pelo Brasil que dispõem
a respeito de direitos humanos possuem esse status.
E) Lei ordinária federal, tendo sido aprovado, em cada Casa do Congresso Nacional, por
maioria simples, em turno único de votação.
2. (FCC – TRT1 – 2014) A RESPEITO DO TEMA DOS TRATADOS
INTERNACIONAIS, É CORRETO AFIRMAR:
A) O decreto legislativo corresponde ao instrumento normativo que internaliza definitivamente
as disposições de um tratado no ordenamento jurídico brasileiro.
B) O tratado é um instrumento imemorial de expressão da concórdia entre os atores
tradicionais do plano internacional, razão pela qual apenas Estados podem celebrar tais atos
jurídicos.
C) A construção jurisprudencial teve um papel fundamental na experiência jurídica brasileira
recente no tocante à redefinição do status normativo dos dispositivos que internalizavam certo
tipo de compromissos internacionais.
D) Dada a relevância dos efeitos produzidos por um tratado internacional, o rol taxativo de
agentes que podem negociar compromissos desta ordem é composto por: chefes de Estado,
chefes de governo e ministros das Relações Exteriores.
E) Desde a Emenda Constitucional 45/2004, estabeleceu-se que tratados e convenções
internacionais que versassem sobre temas de direitos humanos pertenceriam ao bloco de
constitucionalidade, desde que fossem aprovados pelo procedimento de dupla votação nas
duas casas do Congresso Nacional e com quórum de maioria absoluta dos votos.
GABARITO
1. (FCC – TRT23 – 2015) Considere um hipotético tratado internacional sobre direitos
humanos ratificado pelo Brasil no ano de 2001. Seu processo de aprovação nacional
perante o Congresso Nacional e posterior envio de carta de ratificação, bem como
promulgação mediante decreto presidencial, foram regularmente completados. O tratado
está em vigor internacional desde 2001, imediatamente após a ratificação nacional. Com
relação à sua aplicação no Brasil, de acordo com a posição mais recente do Supremo
Tribunal Federal − STF, esse tratado equivale a uma:
A alternativa "A " está correta.
 
O Supremo decidiu que tratados de direitos humanos ratificados previamente à criação do art.
5º, § 3º, da Constituição, têm status supralegal.
2. (FCC – TRT1 – 2014) A respeito do tema dos tratados internacionais, é correto afirmar:
A alternativa "C " está correta.
 
Como as Constituições brasileiras não explicitavam o status dos tratados internacionais, foi ao
Supremo que coube a definição dessa questão.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inexistência de um Superestado ou de um Poder Legislativo único no globo não é impeditivo
para existência de um Direito dito internacional. Na verdade, é o que o torna único e específico.
Se houvesse esse Superestado, o Direito Internacional mais se assemelharia ao Direito
Interno. A relação de coordenação entre os Estados é a marca da sociedade internacional,
tornando necessárias normas internacionais que regulamentem essas relações. O impacto do
Direito Internacional não se restringe, no entanto, ao plano externo.
Cada vez mais, o Direito Internacional Público é incorporado ao Direito Doméstico de diferentes
formas. Compreender, portanto, o processo de internalização dos tratados internacionais é
apenas o primeiro passo para compreender como as normas internacionais impactam todos os
ramos do Direito brasileiro.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BULL, H. A sociedade anárquica: um estudo da ordem na política mundial. São Paulo: Ed.
Universidade de Brasília, 2002.
DINH, N. Q.; DAILLER, P.; PELLET, A. Direito Internacional Público. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 2003.
KELSEN, H. Les Rapports de Système entre droit interne et le droit international public.
RCADI, v. 14, 1926.
MAZZUOLI, V. O. Curso de Direito Internacional Público. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2010.
NOGUEIRA, J. P.; MESSARI, N. Teoria das Relações Internacionais: correntes e debates.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Carta das Nações Unidas. São Francisco, 1945.
Consultado na internet em: 20 out. 2020.
REZEK, F. Direito Internacional: curso elementar. Rio de Janeiro: Saraiva, 2010.
SHAW, M. N. Direito Internacional. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
TIBURCIO, C.; BARROSO, L. R. Direito Constitucional Internacional. Rio de Janeiro:
Renovar, 2013.
TRIEPEL, C. H. Les Rapports entre le droit interne et le droit international. RCADI, v. 1,
1923.
EXPLORE+
Assista ao filme O julgamento em Nuremberg.
Leia o livro A teoria pura do Direito, de Hans Kelsen.
Conheça o site da Corte Internacional de Justiça.
Ouça o podcast Direito Internacional Hoje.
CONTEUDISTA
Guilherme de Jesus France
 CURRÍCULO LATTES
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