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DESCRIÇÃO O campo de aplicação do Direito Internacional Privado e seus pilares estruturais. PROPÓSITO Apresentar o Direito Internacional Privado enquanto sobredireito responsável tanto pela solução de conflitos de jurisdições e de leis decorrentes de situações conectadas a mais de um ordenamento jurídico quanto pela viabilização do diálogo entre tais ordenamentos. PREPARAÇÃO Antes de iniciar a leitura deste conteúdo, tenha à mão a seguinte legislação para verificar as referências destacadas: Constituição Federal de 1988 OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar o propósito e o mecanismo de funcionamento do Direito Internacional Privado MÓDULO 2 Localizar a aplicação, a prova e a interpretação do direito estrangeiro no Brasil MÓDULO 3 Distinguir os métodos de solução de controvérsias alternativos à jurisdição estatal e seu relacionamento com o Direito Internacional Privado INTRODUÇÃO Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto n. 4.657/1942) Código de Processo Civil (Lei n. 13.105/2015) Lei de Arbitragem (Lei n. 9.307/1996) Convenção sobre o Reconhecimento e a Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras (Decreto n. 4.311/2002) Aprenderemos essencialmente o que é, para que serve e como funciona o Direito Internacional Privado. Comecemos já afastando o equivocado senso comum de que tal ramo do Direito vem de fora. Afinal, sua principal fonte é justamente a legislação interna de cada Estado. Isso significa que, salvo por iniciativas multilaterais de harmonização e uniformização, cada Estado produz as próprias regras de Direito Internacional Privado. Mas por que então ele possui esse nome? Porque corresponde à projeção do direito interno sobre o plano internacional. Expliquemos o motivo disso. O Direito Internacional Privado nos fornece as ferramentas necessárias para que possamos navegar nos casos que estejam, de alguma forma, conectados a mais de um Estado. Isso pode ocorrer por diversos motivos. EXEMPLO Nacionalidade das partes envolvidas, localização dos bens em jogo ou maneira como determinada relação se estabelece. Dessa conexão surge potencialmente uma sobreposição de jurisdições e leis aplicáveis. Cabe ao Direito Internacional Privado apontar então o caminho para a solução de determinada questão, muito embora não seja ele próprio quem vai resolvê-la. Por essa razão, pontua Ramos (2018, p. 24), o consideramos um sobredireito: sua tarefa é gerir o pluralismo jurídico decorrente da dispersão das atividades e das relações do homem pelo mundo, oferecendo previsibilidade e uniformidade de resultados. Recentemente, a disciplina passou a incorporar uma maior preocupação com a justiça material, substituindo seu olhar originalmente “desprendido” do caso por um cioso em relação à igualdade, ao acesso à justiça, à tolerância e à diversidade. Essa preocupação com a proteção da pessoa humana passa, ao fim e ao cabo, a nortear a própria sistemática de aplicação do Direito Internacional Privado. MÓDULO 1 Identificar o propósito e o mecanismo de funcionamento do Direito Internacional Privado javascript:void(0) javascript:void(0) UNIFORMIZAÇÃO Duas organizações internacionais, a Conferência da Haia de Direito Internacional Privado e a UNIDROIT dedicam-se ao estudo e à promoção de métodos para modernizar, harmonizar e coordenar o direito privado entre os Estados. O Brasil é membro de ambas (conforme os decretos de n. 3.832/2001, no caso da Conferência da Haia, e de n. 884/1993, para a UNIDROIT). Nas Américas, destacam-se ainda os trabalhos das Conferências Especializadas Interamericanas sobre Direito Internacional Privado (CIDIPs). CADA ESTADO Exceção feita à União Europeia, que segue uma dinâmica diversa. INCIDÊNCIA E APLICAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO FATOS JURÍDICOS O direito se preocupa em regular todos os fatos (acontecimentos, eventos) que impulsionem a criação de uma relação jurídica, ou seja, que produzam efeitos em seu campo (o do direito). Esses fatos podem decorrer da ação da: Foto: Shutterstock.com Natureza Neste caso, os fatos podem ser ordinários (nascimentos, mortes etc.) ou extraordinários (terremotos, tsunamis etc.) de acordo com sua previsibilidade. Foto: Shutterstock.com Vontade humana javascript:void(0) javascript:void(0) Chamados de voluntários, os fatos decorrentes da vontade humana podem dar origem a atos jurídicos lícitos ou ilícitos conforme sejam admitidos (ou não) no ordenamento, como casamento, assinatura de contrato e constituição de uma empresa. Qualquer que seja a sua classificação (naturais ou voluntários, ordinários ou extraordinários, lícitos ou ilícitos), os fatos jurídicos que possuem vínculos com mais de um ordenamento são denominados fatos transnacionais e correspondem ao campo de aplicação do Direito Internacional Privado. É possível identificá-los pela presença de elementos de estraneidade, ou seja, de pontos fáticos ou jurídicos de contato com dois ou mais ordenamentos. O objetivo do Direito Internacional Privado é justamente traçar o caminho por meio do qual as controvérsias decorrentes desses fatos transnacionais poderão ser resolvidas. Em especial, o Direito Internacional Privado, informa Araújo (2020, p. 193), ocupa-se de responder, nesta ordem, às seguintes indagações: OBRIGAÇÕES Da atribuição de personalidade jurídica resultam capacidades específicas a esse sujeito de direito. A capacidade jurídica corresponde à aptidão de exercer os direitos conferidos ao sujeito por meio do reconhecimento de sua personalidade jurídica. Em geral, essa capacidade se traduz no direito de contratar, de adquirir e vender bens e de ingressar em juízo. Que jurisdição poderá solucionar casos que envolvam pessoas, bens ou interesses que extrapolem as fronteiras de um único Estado? Com base em que lei essa solução se dará? Como proceder se, para que essa solução se aperfeiçoe, for necessário praticar algum ato no exterior (como coletar provas ou intimar uma parte) ou reconhecer alguma decisão emanada de autoridade estrangeira? OS SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO A personalidade jurídica corresponde à atribuição de direitos e deveres a determinado sujeito a quem o ordenamento reconheça como destinatário de suas normas. Um sujeito de direito é, assim, titular de direitos e obrigações. As ordens jurídicas nacionais têm por sujeitos primários os indivíduos que nascem e se desenvolvem a partir deles e para eles. As pessoas jurídicas (sociedades simples e empresárias, associações e fundações), por outro lado, são sujeitos secundários. Sua criação é determinada por razões de conveniência social: elas são reconhecidas como existentes – na ordem jurídica em que foram criadas e nas demais ordens do tipo em que atuam – apenas para que a vida econômica e social seja facilitada. O DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO, INSERIDO QUE ESTÁ NA ORDEM JURÍDICA NACIONAL, TEM POR SUJEITOS AS PESSOAS NATURAIS OU JURÍDICAS. Disso ele difere do Direito Internacional Público, cujos sujeitos são os Estados e as organizações internacionais – e, mais recentemente, embora não sem controvérsia, os próprios indivíduos, aponta Cançado Trindade (2005). A MATÉRIA DE DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO Como vimos na introdução deste tema, cada Estado tem, em seu ordenamento jurídico, um conjunto de regras voltado à solução de questões transnacionais denominado Direito Internacional Privado. Esse ramo do Direito procura essencialmente determinar em que circunstâncias: javascript:void(0) Santos (1998, p. 140) destaca que a escola francesa de Direito Internacional Privado, que encontra alguma acolhida no Brasil, costuma acrescentar a esse rol a nacionalidade e a condição jurídica do estrangeiro. Listaremos a seguir as matérias inseridas na disciplina do Direito Internacional Privado: CASO MULTICONECTADO Vinculado a mais de um ordenamento jurídico por força dos elementos de estraneidade nele presentes. Conflitos de jurisdições Imunidade de jurisdição e de execuçãoConflitos de leis no espaço Aplicação de normas Prova e interpretação do direito estrangeiro Cooperação jurídica internacional Nacionalidade Condição jurídica do estrangeiro A NORMA: O MÉTODO CONFLITUAL CLÁSSICO DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO A autoridade judiciária brasileira tem jurisdição para conhecer um caso multiconectado. O Direito estrangeiro é aplicável em território nacional. Atos e decisões estrangeiras podem ser executados em território nacional. javascript:void(0) Parte significativa das normas de Direito Internacional Privado corresponde ao método conflitual, cujo propósito é a resolução dos conflitos de leis no espaço. Em outras palavras, esse método pretende resolver a seguinte questão: qual lei deve ser aplicada a um caso conectado a mais de um ordenamento jurídico. VOCÊ SABIA O método conflitual do Direito Internacional Privado surgiu na Idade Média para dirimir conflitos oriundos da pluralidade de leis das cidades-Estado italianas. Sua versão clássica se desenvolveu e se aprimorou na França e na Holanda, tendo assumido novos contornos na Inglaterra e nos Estados Unidos. Na América Latina e, em particular, no Brasil, vigora o método clássico, consubstanciado na adoção de regras de conexão por meio das quais se chega à lei aplicável a determinada questão de direito. As regras de conexão podem ser classificadas de acordo com sua: Dada a tradição civilista de nosso ordenamento, a fonte é exclusivamente legislativa, seja ela: INTERNA Criada pelo Poder Legislativo do Estado. INTERNACIONAL Erigida em coordenação com outros Estados ou no âmbito de organizações internacionais e fixada em tratados. TRATADOS Em outros sistemas, como o norte-americano, as regras de Direito Internacional Privado têm origem doutrinária (os denominados Restatements of the Law elaborados pelo Fonte javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) American Law Institute, uma organização de caráter privado) e jurisprudencial. As regras de conexão são indiretas, já que não contêm, elas próprias, a solução do caso, limitando-se a indicar o Direito (interno ou estrangeiro) a ele aplicável (que então dará a solução). Elas funcionam como um vetor indicativo da solução, permanecendo sempre as mesmas, embora a solução por elas apontada possa variar conforme o elemento de conexão aponte para um ou outro ordenamento. No Brasil, vale a lei do país (onde domiciliada a pessoa) que determine as regras sobre: Começo e fim da personalidade Nome Capacidade Direitos de família NOTEMOS QUE O ELEMENTO A REALIZAR A CONEXÃO AQUI É O DOMICÍLIO. EXEMPLO Se a pessoa for domiciliada na Itália, será a lei desse país que regulará sua capacidade civil (isto é, sua aptidão para adquirir e exercer direitos). Natureza Foto: Shutterstock.com A regra de conexão (domicílio) será sempre a mesma, mas, conforme a pessoa mude de domicílio (o elemento de conexão em jogo), a lei aplicável também será alterada. Mas resta uma dúvida: e se a lei da Itália apontar outra legislação como sendo aplicável às questões relativas à personalidade, ao nome, à capacidade e aos direitos de família? Uma solução seria o reenvio, instrumento admitido em alguns ordenamentos e rejeitado em outros. No Brasil, contudo, ele não é aceito. Segundo a LINDB (2010, art. 16), quando, “nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei”. O juiz brasileiro, portanto, observa as regras brasileiras de Direito Internacional Privado para determinar qual lei é aplicável. Encontrada a lei, porém, ele não pode olhar para as que estejam presentes nesse ramo do Direito. A lei é aplicada diretamente na solução do caso. O método conflitual clássico tem sido alvo de duras críticas nas últimas décadas em razão de sua suposta indiferença com o resultado concreto do caso. Por conta disso, vem se consolidando a tendência de abandonar essa imagem neutra das normas de Direito Internacional Privado em favor de um comprometimento com a realização dos direitos humanos e com o respeito aos valores consagrados na Constituição Federal. JURISDIÇÃO: EXCLUSIVIDADE, CONCORRÊNCIA E LITISPENDÊNCIA Ao lado da legislação e da administração, a jurisdição corresponde a uma função fundamental do Estado. Reflexo do seu poder soberano, o reconhecimento da existência de outros Estados também dotados de jurisdição leva à necessidade de uma delimitação das causas julgáveis que sejam do interesse de cada um. NÃO INTERESSA AO ESTADO, PORÉM, ESTENDER TÃO ILIMITADAMENTE O ALCANCE ESPACIAL DE SUA JURISDIÇÃO. ALÉM DE SOBRECARREGAR INUTILMENTE SEUS ÓRGÃOS JUDICANTES, AINDA SE ARRISCARIA A ENTRAR EM CONFLITO COM AS JURISDIÇÕES DE OUTROS ESTADOS, SEM A POSSIBILIDADE DE TORNAR EFETIVAS AS DECISÕES DE SEUS MAGISTRADOS. (MARQUES, 2000) Cabe a cada Estado determinar sua atuação jurisdicional. Como se pode imaginar, há inúmeros casos que, justamente em função de seus pontos de contato com mais de um Estado, suscitam o interesse e a atuação de múltiplos poderes jurisdicionais. Isso é chamado de conflito de jurisdições. COMENTÁRIO O conceito de jurisdição não se confunde com o de competência, embora muitas vezes esses termos acabem sendo utilizados indistintamente. Aquela constitui um atributo do Poder Judiciário como um todo, ao passo que esta consiste na esfera de atribuições deferida por lei a determinada autoridade do Poder Judiciário para processar e julgar causas específicas. O Direito Internacional Privado tem no princípio da efetividade um dos principais balizadores do conflito de jurisdições. Com efeito, há uma preocupação quase unânime de se evitar a adoção de critérios amplos ou de interpretações extensivas que levem ao exercício ilimitado de jurisdição. EFETIVIDADE Esse princípio instrui que os Estados devem se preocupar em proferir decisões que sejam eficazes e efetivas nos limites de seus territórios. POR QUÊ? Não sobrecarregar o Poder Judiciário com decisões cuja execução posterior não esteja garantida, já que elas dizem respeito a pessoas ou bens fora do alcance do Estado. Os limites da jurisdição brasileira estão expressos essencialmente nos artigos 21 a 25 do Código de Processo Civil (CPC). Os artigos 21 e 22 elencam situações nas quais é conveniente ao Judiciário brasileiro atuar e em que sua decisão seria dotada de efetividade. Admite-se, no entanto, a atuação de jurisdição estrangeira por se considerar que ela também teria interesse e estaria em condições de assegurar a eficácia de suas decisões. Trata-se da competência internacional concorrente. Já o artigo 23 do CPC trata das hipóteses nas quais é conveniente ao Judiciário brasileiro atuar e em que sua decisão seria dotada de efetividade, não podendo ser aceita a atuação de outra jurisdição”. javascript:void(0) COMPETE À AUTORIDADE JUDICIÁRIA BRASILEIRA, COM EXCLUSÃO DE QUALQUER OUTRA: I - CONHECER DE AÇÕES RELATIVAS A IMÓVEIS SITUADOS NO BRASIL; II - EM MATÉRIA DE SUCESSÃO HEREDITÁRIA, PROCEDER À CONFIRMAÇÃO DE TESTAMENTO PARTICULAR E AO INVENTÁRIO E À PARTILHA DE BENS SITUADOS NO BRASIL, AINDA QUE O AUTOR DA HERANÇA SEJA DE NACIONALIDADE ESTRANGEIRA OU TENHA DOMICÍLIO FORA DO TERRITÓRIO NACIONAL; III - EM DIVÓRCIO, SEPARAÇÃO JUDICIAL OU DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL, PROCEDER À PARTILHA DE BENS SITUADOS NO BRASIL, AINDA QUE O TITULAR SEJA DE NACIONALIDADE ESTRANGEIRA OU TENHA DOMICÍLIO FORA DO TERRITÓRIO NACIONAL. (LEI 13.105, 2015) Entende-se que os vínculos com o Brasil são especialmente fortes; assim, sequer é considerada a posição das autoridades judiciárias estrangeiras a respeito. O nome disso é competência internacional exclusiva. No caso específico de disputas relacionadas a contratos internacionais, o atual CPC dispôs no artigo 25 que a autoridade judiciária brasileira deve se abster de processar e julgar a ação quando as partes tenham estabelecido um pacto para submeter sua controvérsiaà autoridade estrangeira, havendo a exclusão de qualquer outra. Esse tipo de cláusula é conhecido como cláusula de eleição de foro, estando muito presente na prática comercial internacional. Independentemente dessas regras, é preciso saber que as autoridades judiciárias só atuam quando provocadas por qualquer uma das partes em uma disputa. É possível, assim, que uma parte decida acionar determinada autoridade ao mesmo tempo que a outra recorra a uma autoridade diferente. Trata-se, em suma, de um caso de litispendência. No Brasil, a regra prevista no artigo 24 do CPC é que a pendência de um processo em outro Estado não impede que a justiça nacional também conheça essa controvérsia: LITISPENDÊNCIA Litispendência significa, grosso modo, a existência simultânea de dois processos perante autoridades judiciárias diversas relativos às mesmas partes e à mesma controvérsia. Já a litispendência internacional aponta a existência simultânea de dois processos perante autoridades judiciárias de Estados diversos. A AÇÃO PROPOSTA PERANTE TRIBUNAL ESTRANGEIRO NÃO INDUZ LITISPENDÊNCIA E NÃO OBSTA A QUE A AUTORIDADE JUDICIÁRIA BRASILEIRA CONHEÇA DA MESMA CAUSA E DAS QUE LHE SÃO CONEXAS, RESSALVADAS AS DISPOSIÇÕES EM CONTRÁRIO DE TRATADOS INTERNACIONAIS E ACORDOS BILATERAIS EM VIGOR NO BRASIL. PARÁGRAFO ÚNICO. A PENDÊNCIA DE CAUSA PERANTE A JURISDIÇÃO BRASILEIRA NÃO IMPEDE A HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA JUDICIAL ESTRANGEIRA QUANDO EXIGIDA PARA PRODUZIR EFEITOS NO BRASIL. javascript:void(0) (LEI 13.105, 2015) POUCO IMPORTA QUAL PROCESSO TEVE INÍCIO OU TERMINOU PRIMEIRAMENTE. Se uma decisão proferida no Brasil transitar em julgado (Default tooltip) antes que o STJ defira o pedido de homologação de sentença estrangeira, a proferida no exterior jamais produzirá efeitos em nosso território. COMENTÁRIO Como veremos no módulo 3, uma decisão pronunciada no exterior não produzirá efeitos no Brasil enquanto não for homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Por outro lado, se a ação de homologação da decisão estrangeira transitar em julgado antes da ação brasileira, a proveniente do exterior será reconhecida e produzirá efeitos no Brasil, inviabilizando o prosseguimento da ação brasileira. APLICAÇÃO DOS ELEMENTOS DE CONEXÃO DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO Como vimos, as regras de Direito Internacional Privado não respondem às questões advindas de fatos transnacionais, mas apontam o caminho por meio do qual as respostas podem ser encontradas. ESSAS REGRAS SÃO, SOB ESSA ÓTICA, NORMAS INDIRETAS. Chamadas de regras de conexão, elas conectam fatos transnacionais às leis a eles aplicáveis em meio a uma miríade de legislações possivelmente incidentes. No Brasil, as regras de conexão estão previstas em: As regras de conexão são compostas por dois elementos: Fato transnacional O fato transnacional é o bem e as relações a ele concernentes. O elemento de conexão é o local em que estão situados esses bens. Elemento de conexão Trata-se da circunstância que conecta o fato à lei. EXEMPLO O artigo 8º da LINDB (2010) possui a seguinte regra de conexão: “Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados”. Os elementos de conexão podem ser classificados de acordo com estes aspectos: NATUREZA Existem os elementos de: Direito Estão baseados em conceitos ou construções jurídicas (como a nacionalidade ou o domicílio). Fato Utilizam uma circunstância da vida (por exemplo, a localização geográfica dos bens). Decreto-Lei n. 4.657/1942, também conhecido como Lei de Introdução às Normas do Direito Estrangeiro (LINDB). Tratados celebrados pelo país. SUJEITOS ENVOLVIDOS Há, neste caso, os elementos: Pessoais Apoiam-se em conceitos relacionados às pessoas (nacionalidade, domicílio e autonomia da vontade). Reais Baseiam-se em dados objetivos relacionados aos bens em jogo (local em que estão localizados ou onde ocorreu o dano). POSSIBILIDADE DE MODIFICAÇÃO DE SEU CONTEÚDO Há os elementos: Móveis Seu conteúdo pode ser alterado com o tempo (nacionalidade, domicílio ou residência). Imóveis Não sofrem qualquer alteração com a passagem do tempo (local em que estão localizados os bens imóveis ou o local do dano). Veja que um mesmo elemento de conexão pode ser classificado de diversas formas. A aplicação da regra de conexão é feita de acordo com a lei do foro que foi provocado e que considerou, afinal, ter jurisdição para conhecer da causa. Em outras palavras, a autoridade judiciária acionada recorre ao próprio Direito Internacional Privado para saber que lei aplicar a fim de decidir uma causa. Ao fazê-lo, ela conceituará o elemento de conexão presente na regra de conexão de acordo com o próprio ordenamento jurídico. Por exemplo: se, pelo Direito Internacional Privado do Brasil, a capacidade for regulada pela lei do domicílio da pessoa, será no direito brasileiro que procuraremos a definição dele. A regra de conexão pode gerar duas aplicações distintas: COMENTÁRIO Falaremos sobre a aplicação de um direito estrangeiro no próximo módulo. Antes de aplicar o método conflitual, porém, o juiz da causa precisa verificar se não incide sobre a questão nenhuma norma de caráter imperativo do foro. As normas de caráter imperativo são de aplicação imediata e imprescindíveis à manutenção da coerência do ordenamento. Os interesses em jogo são tão caros ao foro que se considera justificável preterir o recurso ao Direito Internacional Privado. A distinção entre norma imperativa e ordem pública é tênue, ainda mais porque ambas não dispõem de definição precisa. Não obstante, existe nos dois casos uma limitação à utilização do método conflitual. A diferença está quando a limitação se dá: MÉTODO CONFLITUAL Observar as regras de conexão previstas em Direito Internacional Privado a fim de identificar a lei aplicável à determinada questão. Aplicação do próprio direito interno. Aplicação de um direito estrangeiro. Neste caso, ele só seria afastado se fosse comprovado que sua aplicação no caso concreto ofenderia a ordem pública brasileira. javascript:void(0) javascript:void(0) CARÁTER IMPERATIVO Essas normas são conhecidas pela terminologia cunhada na França: lois de police. Normas de caráter imperativo Intervêm antes da utilização do método conflitual, obstando a aplicação das regras de conexão. Ordem pública Intervém após a utilização desse método, impedindo que a lei estrangeira por ele apontada seja aplicada ao caso. OS ELEMENTOS DE CONEXÃO NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO Neste vídeo, o professor abordará o os elementos de conexão e seu papel. FONTES DO DIP E A LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO: APLICABILIDADE FONTES DO DIP O Direito Internacional Privado conta com uma pluralidade de fontes. Como vimos, sua principal fonte é interna: Lei Doutrina Jurisprudência de cada Estado COMENTÁRIO No caso da doutrina e da jurisprudência, há muitos debates para saber se isso é possível. Isso faz com que tenhamos tantos Direitos Internacionais Privados quanto Estados, ocorrendo da mesma forma que nos demais ramos do Direito. A corporificação do Direito Internacional Privado em leis tomou forma com as iniciativas de codificação do século XIX, tendo encontrado acolhida pela primeira vez na França por intermédio da criação do Código de Napoleão. SAIBA MAIS Outros exemplos notórios são o Código italiano, de 1865, e o Código Germânico, de 1896. O Brasil se inspirou no germânico, tendo corporificado o Direito Internacional Privado pela primeira vez na Introdução ao Código Civil de 1916 (artigos 1 a 21). Como veremos a seguir, a Introdução ao Código Civil de 2016 cedeu lugar à atual LINDB. Ao lado dela, os outros dois pilares da disciplina (o conflito de jurisdições e a cooperação jurídica nacional) são regulados no CPC (artigos 21 a 41). DOUTRINA Costuma servir de intérprete das decisões dos tribunais em matéria de Direito Internacional Privado, contribuindopara o desenvolvimento dos princípios que norteiam a disciplina. JURISPRUDÊNCIA Se encarrega de preencher as lacunas deixadas pelo legislador e se apoia na doutrina para solucionar as controvérsias decorrentes da aplicação desse ramo do direito. Ao lado das fontes internas, existem as de origem regional e internacional, que gradualmente têm ganhado expressividade. A principal fonte são os tratados celebrados com vistas a aproximar as soluções manejadas individualmente pelo Estado, especialmente aquelas no campo do conflito de leis. COMENTÁRIO Vale mencionar as iniciativas das já citadas CIDIPs e Conferência de Haia de Direito Internacional Privado, já que ambas propiciaram a celebração de diversos tratados. Também se procurou regular no plano internacional os outros dois pilares da disciplina (o exercício da jurisdição pelos Estados e a cooperação jurídica internacional) para facilitar a prática de atos jurisdicionais no estrangeiro. Nessa seara, em especial, despontam os tratados bilaterais de cooperação. Por exemplo: citação, intimação e coleta de provas. A elaboração de um tratado e a sua incorporação no direito interno brasileiro observam o seguinte passo a passo: javascript:void(0) javascript:void(0) A Constituição (artigo 84, VIII) atribui exclusivamente ao presidente da República, enquanto chefe de Estado, a função de manter relações com outros Estados, o que inclui a negociação e a celebração de tratados. Negociado um tratado, o presidente o envia ao Congresso Nacional para aprovação (artigo 49, I, da Constituição). Não cabe a ele propor qualquer alteração ao texto, apenas aprová-lo ou não. Se aprovado, o presidente do Congresso Nacional promulga um decreto legislativo. O presidente da República ratifica ou adere ao tratado no plano internacional. A partir daqui se considera que ele está em vigor para o Brasil no plano internacional. O presidente da República promulga um decreto divulgando o texto do tratado e o publica no Diário Oficial. A partir daqui se considera que ele entra em vigor para o Brasil no plano interno. ADERE A ratificação ocorre quando o Brasil assina o texto original do tratado que está em vias de ser celebrado internacionalmente. Já a adesão é concretizada quando existe um tratado celebrado do qual o Brasil pretende ser parte. Um tratado ratificado ou aderido pelo Brasil pode ser posteriormente revogado por meio do instrumento da denúncia. Ela é feita pelo presidente da República no plano internacional. javascript:void(0) CONFLITO ENTRE AS FONTES DE DIP Não são raras as vezes em que as disposições de uma lei interna se chocam com as de um tratado (e vice-versa). Esses choques personificam o conhecido debate em Direito Internacional entre duas correntes: Dualista Liderada por Heinrich Triepel e Dionisio Anzilotti, ela enxerga o os direitos interno e internacional como sistemas jurídicos autônomos e distintos, ou seja, como dois círculos que não se sobrepõem. Monista Liderada por Hans Kelsen, ela prega a unidade da ordem jurídica, considerando o direito interno e o internacional dois círculos superpostos. Obviamente, sendo ambos círculos do tipo, questiona-se qual deles tem primazia. Despontam nessa corrente três escolas nas quais se considera: De origem estrangeira, as correntes dualista e monista ressoaram também no Brasil, provocando um intenso debate doutrinário e jurisprudencial. Em sua maioria, a doutrina defendeu a monista, considerando o Direito internacional hierarquicamente superior ao interno. A jurisprudência sempre se posicionou pacificamente pela prevalência da Constituição Federal sobre os tratados. Caso houvesse um conflito entre eles e as leis ordinárias, contudo, tanto o Prevalecer o Direito Internacional. Preponderar o Direito Interno. Equiparar os dois direitos, fazendo com que uma fonte prevaleça sobre a outra em função da ordem cronológica em que for criada. Supremo Tribunal Federal (STF) quanto o STJ entenderam que ambos são hierarquicamente equivalentes. A prevalência de um sobre o outro dependeria, portanto, da: CRONOLOGIA Posterior prevalece sobre anterior. ESPECIFICIDADE Norma especifica prevalece sobre a genérica, mesmo que ela seja posterior. Durante muito tempo, a doutrina enxergou nesse posicionamento da jurisprudência uma opção pelo monismo sem conseguir enxergar o fato de que os tratados, para vigorarem no Brasil, precisam passar, conforme destacamos, por um rito procedimental próprio. EXEMPLO Esse ponto foi captado pelo STF no julgamento da ADIN 1.480-3-DF, o que muitos estudiosos consideram evidenciar uma inclinação para a corrente dualista. LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO A principal fonte interna de Direito Internacional Privado no Brasil é a LINDB. Até 2010, quando recebeu nova denominação (Default tooltip) , ela era intitulada Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro. Ela foi promulgada em 1942 (Default tooltip) , quando ainda era vigente o Código Civil de 1916. O objetivo da LINDB é substituir os artigos 1 a 21 do Código Civil de 1916 responsáveis por apresentar as linhas mestras de funcionamento do sistema jurídico brasileiro. Ela se preocupa basicamente em resolver conflitos de leis no tempo e no espaço. javascript:void(0) javascript:void(0) SEUS DISPOSITIVOS PODEM SER AGRUPADOS EM DOIS GRANDES GRUPOS: DIREITO INTERTEMPORAL Normas que definem a partir de quando as leis entram em vigor e como elas incidem sobre situações constituídas prévia, concomitante ou posteriormente à sua entrada. REGRAS DE CONEXÃO Normas que apontam as leis aplicáveis às situações que possuam vínculos com mais de um ordenamento jurídico. Inseridas no campo do Direito Internacional Privado. No que concerne ao Direito Internacional Privado, portanto, a LINDB regula um dos temas da disciplina (o tema do conflito de leis). Já os temas da jurisdição e da cooperação jurídica internacional estão previstos no CPC (Default tooltip) . A principal inovação trazida pela LINDB foi a substituição do elemento de conexão da nacionalidade pelo de conexão do domicílio para reger o estatuto pessoal dos indivíduos, isto é, para determinar a lei aplicável a questões sobre nome, capacidade e direito de família. A alteração colocou o Brasil em linha com os demais países das Américas que são destinatários de um intenso fluxo de mão de obra migrante. Como podemos imaginar, o antigo elemento da nacionalidade levava à maior aplicação do direito estrangeiro, o que, segundo Ramos (2018, p. 361), interessava às ambições nacionalistas do Governo Vargas de que se privilegiasse a lei territorial, ou seja, a brasileira. Além da regra de conexão relativa ao estatuto pessoal, a LINDB estabelece para: A REGULAÇÃO DOS BENS, O LOCAL ONDE ESTÃO SITUADOS (ART. 8º); javascript:void(0) javascript:void(0) OS CONTRATOS, O LOCAL DE SUA CELEBRAÇÃO (ART. 9º); A SUCESSÃO, O ÚLTIMO DOMICÍLIO DO FALECIDO (ART. 10); A REGULAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS, O LOCAL EM QUE SE CONSTITUÍRAM (ART. 11). VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. (2011 – NC-UFPR – ITAIPU BINACIONAL – ADVOGADO – ADAPTADA) COM RELAÇÃO AO OBJETO DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO, IDENTIFIQUE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR COMO VERDADEIRAS (V) OU FALSAS (F): (__) O DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO NÃO MAIS SE RESTRINGE, COMO SE SUSTENTOU NO PASSADO, A INSTITUIÇÕES DE DIREITO PRIVADO, ATUANDO TAMBÉM NO CAMPO DO PÚBLICO. (__) ASSIM COMO NO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO, A PRINCIPAL FONTE DO PRIVADO É O TRATADO. (__) O DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO TRATA PRINCIPALMENTE DO CONFLITO DE LEIS ORIGINÁRIAS DE ESTADOS DIFERENTES, ESTABELECENDO AS REGRAS PARA A OPÇÃO ENTRE AQUELAS EM CONFLITO, SENDO, POR ISSO, UM DIREITO EMINENTEMENTE NACIONAL. (__) HÁ VÁRIAS CONCEPÇÕES SOBRE O OBJETO DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. AS CONCEPÇÕES MAIS AMPLAS INCLUEM NA DISCIPLINA, ALÉM DO CONFLITO DE LEIS E DO CONFLITO DE JURISDIÇÕES, A NACIONALIDADE E A CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO. (__) DIANTE DE UMA SITUAÇÃO JURÍDICACONEXA COM DUAS OU MAIS LEGISLAÇÕES QUE CONTENHAM NORMAS DIVERSAS E CONFLITANTES, AO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO NÃO CABE SOLUCIONAR O CONFLITO DAS NORMAS MATERIAIS INTERNAS, MAS TÃO SOMENTE INDICAR QUAL SISTEMA JURÍDICO DEVE SER APLICADO DENTRE AS VÁRIAS LEGISLAÇÕES CONECTADAS COM A HIPÓTESE JURÍDICA. ASSINALE A ALTERNATIVA COM A SEQUÊNCIA CORRETA DE CIMA PARA BAIXO. A) F-F-V-F-V B) V-F-V-V-V C) V-V-F-V-F D) F-V-F-F-F E) V-V-V-F-F 2. CONSIDERANDO AS FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO E SUA METODOLOGIA CLÁSSICA, LEIA O TRECHO A SEGUIR E ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA. "ATRAVÉS DE NORMAS JURÍDICAS COM UMA NATUREZA ESPECIAL, QUE ESTABELECEM OS CRITÉRIOS ATRAVÉS DOS QUAIS EM CADA CASO CONCRETO SE DETERMINA A LEI COMPETENTE PARA RESOLVER AS QUESTÕES JURÍDICAS SUSCITADAS PELAS RELAÇÕES ABSOLUTAMENTE INTERNACIONAIS. SÃO NORMAS QUE NÃO REGULAM DIRETAMENTE RELAÇÕES MATERIAIS, MAS DETERMINAM OS CRITÉRIOS PARA, NOS CASOS CONCRETOS, SE DETERMINAREM AS NORMAS COMPETENTES PARA O FAZER." (RIBEIRO, 2000) A) O Direito Internacional Privado precipuamente é formado por normas indiretas ou de sobredireito que indicam, entre as normas internas do país, aquela aplicável às situações jurídicas plurilocalizadas. B) O Direito Internacional Privado precipuamente é formado por normas diretas que apresentam soluções às situações jurídicas plurilocalizadas. C) O Direito Internacional Privado precipuamente é formado por normas indiretas ou de sobredireito que indicam, entre as leis estrangeiras em conflito, aquela aplicável às situações jurídicas plurilocalizadas. D) O Direito Internacional Privado precipuamente é formado por normas diretas que indicam, entre as leis estrangeiras em conflito, aquela aplicável às situações jurídicas plurilocalizadas. E) O Direito Internacional Privado precipuamente é formado por normas indiretas ou de sobredireito que indicam, entre as convenções das quais o país é parte, aquela aplicável às situações jurídicas plurilocalizadas. GABARITO 1. (2011 – NC-UFPR – Itaipu Binacional – Advogado – adaptada) Com relação ao objeto do Direito Internacional Privado, identifique as afirmativas a seguir como verdadeiras (V) ou falsas (F): (__) O Direito Internacional Privado não mais se restringe, como se sustentou no passado, a instituições de direito privado, atuando também no campo do público. (__) Assim como no Direito Internacional Público, a principal fonte do Privado é o tratado. (__) O Direito Internacional Privado trata principalmente do conflito de leis originárias de Estados diferentes, estabelecendo as regras para a opção entre aquelas em conflito, sendo, por isso, um direito eminentemente nacional. (__) Há várias concepções sobre o objeto do Direito Internacional Privado. As concepções mais amplas incluem na disciplina, além do conflito de leis e do conflito de jurisdições, a nacionalidade e a condição jurídica do estrangeiro. (__) Diante de uma situação jurídica conexa com duas ou mais legislações que contenham normas diversas e conflitantes, ao Direito Internacional Privado não cabe solucionar o conflito das normas materiais internas, mas tão somente indicar qual sistema jurídico deve ser aplicado dentre as várias legislações conectadas com a hipótese jurídica. Assinale a alternativa com a sequência correta de cima para baixo. A alternativa "B " está correta. O Direito Internacional Privado tem por fonte não só os tratados, mas também o próprio direito interno de cada país, prevendo um conjunto de normas de conexão responsável por indicar o direito aplicável à situação jurídica plurilocalizada. 2. Considerando as fontes do Direito Internacional Privado e sua metodologia clássica, leia o trecho a seguir e assinale a alternativa correta. "Através de normas jurídicas com uma natureza especial, que estabelecem os critérios através dos quais em cada caso concreto se determina a lei competente para resolver as questões jurídicas suscitadas pelas relações absolutamente internacionais. São normas que não regulam diretamente relações materiais, mas determinam os critérios para, nos casos concretos, se determinarem as normas competentes para o fazer." (RIBEIRO, 2000) A alternativa "C " está correta. As regras de Direito Internacional Privado não dão respostas às questões advindas de fatos transnacionais, mas apontam o caminho por meio do qual as respostas podem ser encontradas. Elas são, sob essa ótica, normas indiretas, já que não solucionam a questão de fundo, apenas indicando o caminho para a lei que o fará. Chamadas de regras de conexão, elas conectam fatos transnacionais às leis aplicáveis em meio a uma miríade de outras possivelmente incidentes. MÓDULO 2 Localizar a aplicação, a prova e a interpretação do direito estrangeiro no Brasil A APLICAÇÃO DA LEI ESTRANGEIRA NO BRASIL Imagem: Shutterstock.com SOBERANIA, ORDEM PÚBLICA E BONS COSTUMES RELEMBRANDO Como vimos, as regras de conexão previstas no Direito Internacional Privado brasileiro podem indicar qual lei estrangeira deve ser aplicada para regular determinado fato transnacional. A referência a essa lei abarca todo o sistema normativo estrangeiro e todas as suas fontes, sejam elas internas ou internacionais. Também verificamos que é possível atribuir eficácia, no território nacional, a uma decisão emanada de autoridade estrangeira, contanto que ela não verse sobre uma hipótese de jurisdição exclusiva de nossos tribunais. O reconhecimento da javascript:void(0) javascript:void(0) eficácia de decisões estrangeiras no Brasil se dá no âmbito da cooperação jurídica internacional. INTERNAS Atos promulgados pelo poder competente local, além do costume e da doutrina, caso eles sejam aceitos como vinculantes no Estado estrangeiro. INTERNACIONAIS Tratados ratificados ou aderidos pelo Estado estrangeiro, costume internacional e princípios gerais de Direito Internacional. O artigo 17 da LINDB (2010) prevê, contudo, que “leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes”. Esse comando é similar ao constante no artigo 963, VI, do CPC, segundo o qual constitui um requisito indispensável à homologação da decisão estrangeira que ela não ofenda à nossa ordem pública. ATENÇÃO Será feito, portanto, um controle posterior ao manejo das regras de conexão, obstando-se a aplicação da lei estrangeira apontada pelo Direito Internacional Privado se ela for de encontro aos valores essenciais do foro, especialmente aqueles relativos aos direitos humanos salvaguardados pela Constituição Federal e aos tratados de direitos humanos dos quais o Brasil seja signatário. Embora a LINDB se refira a três rubricas aparentemente autônomas (a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes) que teriam o condão de obstar a aplicação da lei estrangeira, a doutrina é pacífica neste caso: o reconhecimento da possibilidade de se unir as três sob a alcunha única de ordem pública. Analisaremos agora o que ocorre na ofensa à: SOBERANIA NACIONAL A ofensa é clara na hipótese de se pretender reconhecer, no Brasil, uma sentença estrangeira que verse sobre uma das hipóteses de competência exclusiva – estudadas anteriormente – da autoridade judiciária nacional. ORDEM PÚBLICA Ela tem contornos mais subjetivos, já que a ordem pública, na hipótese de se aferir a compatibilização da lei estrangeira, corresponde ao conjunto de princípios tidos como fundamentais e inderrogáveis do ordenamento jurídico brasileiro. SEU CONCEITO SE APRESENTA, ASSIM, MUTÁVEL. MAS COMO SABER SE A APLICAÇÃO DA LEI ESTRANGEIRA VIOLA A ORDEM PÚBLICA SE NÃO TEMOS UMA DEFINIÇÃO PRECISA SOBRE ELA? VEJA AQUI A RESPOSTA Realizada a cada caso, essa apuração tem por referência a sensibilidade média da sociedade brasileira em determinada época. Segundo Valladão (1977, p. 475), utiliza-se o critério da essencialidade: tudo o que for reputado indispensávelao foro integra a ordem pública. A ofensa aos bons costumes, por fim, corresponderia à afronta aos princípios éticos contemporâneos próprios do Estado e de seu povo. javascript:void(0) javascript:void(0) NACIONALIDADE, REGISTROS CONSULARES E CRITÉRIOS PARA A DETERMINAÇÃO DA NACIONALIDADE BRASILEIRA A nacionalidade corresponde ao vínculo jurídico que une um indivíduo ao Estado e do qual resultam direitos e obrigações. Nacionais são aqueles que a adquiriram de determinado Estado de acordo com as suas leis internas, ao passo que, por exclusão, estrangeiros são os não nacionais. A nacionalidade, segundo Vargas (2006, p. 290), é “o ponto de partida da cidadania”, haja vista que os direitos políticos e a proteção diplomática não são geralmente estendidos a estrangeiros. Os efeitos da nacionalidade se irradiam para o plano internacional, impondo-se a todos os Estados o dever de reconhecer a que seja conferida a um indivíduo, completam Battifol e Lagarde (1993, p. 104). Foto: Shutterstock.com EXEMPLO A convenção relativa às questões de conflito de lei sobre a nacionalidade assinada em Haia, em 1930, foi incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro por meio do Decreto n. 21.798/1932. O reconhecimento e o respeito às nacionalidades estrangeiras dependem do seguinte fator: que as legislações por meio das quais os Estados determinam seus nacionais sejam compatíveis com as convenções internacionais, o costume e os princípios gerais de direito reconhecidos em matéria de nacionalidade. EXEMPLO É por essa razão que a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 estabeleceu a nacionalidade como um direito fundamental. No mesmo sentido, a Convenção Americana de Direitos Humanos prescreve que a ninguém se deve privar arbitrariamente dela nem do direito de mudá-la. Imagem: Shutterstock.com A nacionalidade é usualmente classificada em originária e derivada, pois o pertencimento do indivíduo ao Estado decorre naturalmente de seu nascimento ou lhe é atribuído em momento posterior. Em linhas gerais, a nacionalidade originária pode ter por fundamento o local de nascimento (ius soli) ou a filiação (ius sanguinis). Já a derivada, também conhecida como naturalização, decorre da manifestação de vontade do indivíduo em pertencer ao Estado, o que pode implicar a perda de sua nacionalidade originária. Cabe a cada Estado determinar os termos e as condições para que os indivíduos sejam reconhecidos como seus nacionais tanto em caráter originário quanto pela via derivada da naturalização. Os dois itens a serem determinados costumam constar de suas constituições. No Brasil, adota-se o critério do ius soli como regra geral de determinação da nacionalidade brasileira: todos aqueles nascidos no país, independentemente de sua filiação, são reputados nacionais brasileiros. No entanto, o ius sanguinis pode ser aplicado subsidiariamente, assegurando-se a nacionalidade brasileira a filhos de nacionais que tenham nascido no exterior desde que sejam preenchidos determinados requisitos – alvos, aliás, de alteração ao longo dos anos. Em sua redação original, o artigo 12 da Constituição Federal de 1988 assim dispunha: SÃO BRASILEIROS: I - NATOS: A) OS NASCIDOS NA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, AINDA QUE DE PAIS ESTRANGEIROS, DESDE QUE ESTES NÃO ESTEJAM A SERVIÇO DE SEU PAÍS; B) OS NASCIDOS NO ESTRANGEIRO, DE PAI BRASILEIRO OU MÃE BRASILEIRA, DESDE QUE QUALQUER DELES ESTEJA A SERVIÇO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL; C) OS NASCIDOS NO ESTRANGEIRO, DE PAI BRASILEIRO OU DE MÃE BRASILEIRA, DESDE QUE SEJAM REGISTRADOS EM REPARTIÇÃO BRASILEIRA COMPETENTE, OU VENHAM A RESIDIR NA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL ANTES DA MAIORIDADE E, ALCANÇADA ESTA, OPTEM, EM QUALQUER TEMPO, PELA NACIONALIDADE BRASILEIRA. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL , 1988) Todas as três hipóteses cuidam da nacionalidade originária: daí a referência, no inciso I do artigo, a brasileiros natos. A alínea “a” corresponde ao critério ius soli, ao passo que as alíneas “b” e “c” abordam a aquisição subsidiária pelo ius sanguinis. ATENÇÃO A primeira hipótese de aquisição originária pelo ius sanguinis (alínea “b”) decorre de o indivíduo ter nascido no exterior em função de qualquer de seus pais estarem a serviço do país. Neste caso, a ele se estende de maneira automática a nacionalidade brasileira. Já em sua segunda hipótese (alínea “c”), a extensão dessa nacionalidade a filhos de brasileiros nascidos fora do país não é automática: ela depende do preenchimento de determinados requisitos. Originalmente, essa extensão dependia de que o nascimento ocorrido no exterior fosse registrado no consulado competente. Na falta de registro, era necessário que o indivíduo ativamente optasse por adquirir a nacionalidade brasileira, exigindo-se, para tal, que fixasse residência no território nacional antes de atingir a maioridade. Em 1994, a Emenda Constitucional n. 3 suprimiu a aquisição de nacionalidade pelo registro consular que constava da redação original do artigo 12, “c”, da Constituição Federal, causando uma grande comoção na comunidade brasileira residente no exterior. ESSA EMENDA (1994) TAMBÉM DEIXOU DE CONDICIONAR O EXERCÍCIO DA OPÇÃO PELA NACIONALIDADE À RESIDÊNCIA NO PAÍS ANTES DE A MAIORIDADE SER ATINGIDA. Com isso, passaram a ser considerados brasileiros natos “os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira”. Posteriormente, em 2007, a Emenda Constitucional n. 54 voltou a prever a aquisição da nacionalidade por meio do registro consular. Em contrapartida, a aquisição por aqueles que não tiverem registro consular permaneceu vinculada à residência no território nacional (sem que fosse necessário fixá-la antes da maioridade) e ao exercício da opção. Em sua atual redação, o artigo 12, I, “c”, da Constituição Federal (1988) considera brasileiros natos “os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira”. Foto: Shutterstock.com Cabe destacar que o nascimento ocorrido no exterior pode ser levado a conhecimento da repartição consular competente a qualquer tempo. A opção da nacionalidade brasileira por aqueles que não dispõem de registro consular pode ser exercida a qualquer tempo, sendo condicionada apenas à residência no território nacional. O registro do nascimento ocorrido no exterior funciona como se o indivíduo houvesse nascido no Brasil e tivesse seu nascimento registrado em cartório local, não se sujeitando ao exercício de opção e tampouco à fixação de residência em território nacional. Afinal, conforme prescreve a Convenção de Viena sobre as relações consulares (promulgada no Brasil graças ao Decreto n. 61.078/1967), os agentes consulares têm qualidade de notário e oficial de registro civil. Uma vez registrado o nascimento ocorrido no exterior na repartição consular, a Lei n. 6.015/1973 exige, para a produção de seus efeitos no Brasil, que a certidão emitida pelo consulado seja então transcrita no registro civil de pessoas naturais (artigo 32). Nessa hipótese de registro em repartição consular, dispensa-se a opção pela nacionalidade. Foto: Shutterstock.com Contudo, se o nascimento ocorrido no exterior não for registrado em repartição consular, entrará em cena a opção pela nacionalidade brasileira. Caso a certidão de nascimento estrangeira tenha sido transcrita diretamente em cartório no Brasil (o que não é um pré- requisito para o exercício da opção), isso terá por efeito declarar o indivíduo brasileiro nato, mas sob condição suspensiva. DICA A condição suspensiva constitui justamente a confirmação de sua opção pela nacionalidade por meio de processo próprio. Em linha com a atual redação do artigo 12da Constituição Federal, o artigo 63 da Lei de Migração, promulgada em 2017, estabelece que “o filho de pai ou de mãe brasileiro nascido no exterior e que não tenha sido registrado em repartição consular poderá, a qualquer tempo, promover ação de opção de nacionalidade”. Coube ao Decreto n. 9.199/2017 regulamentar a Lei de Migração e, com ela, o exercício da opção pela nacionalidade brasileira. As principais características da opção por essa nacionalidade são as seguintes: Só pode ser exercida por quem tem o direito à nacionalidade, não sendo possível aos pais a exercerem por seus filhos (razão pela qual é preciso aguardar a maioridade). É exercida por meio de um processo judicial proposto perante a justiça federal a qualquer tempo depois da maioridade. É declaratória e não constitutiva do direito à nacionalidade (razão pela qual se fala que a opção confirma a nacionalidade). No interregno entre a maioridade e o exercício da opção pela nacionalidade, o indivíduo nascido no estrangeiro fica com a sua condição de brasileiro nato suspensa para todos os efeitos até que seja proferida sentença homologatória pela Justiça Federal, dispõe o artigo 215, §2º, do Decreto n. 9.199/2017. A DETERMINAÇÃO DA NACIONALIDADE Neste vídeo, a professora abordará os principais aspectos sobre a atribuição da nacionalidade. A QUESTÃO DA IRRETROATIVIDADE DAS LEIS NO BRASIL E DEMAIS CONCEITOS IRRETROATIVIDADE DAS LEIS ATENÇÃO Como já mencionamos, a LINDB contém disposições de Direito Intertemporal e Internacional Privado. No campo do Intertemporal, ela estabelece que as leis começam a vigorar em todo o país 45 dias depois de oficialmente publicadas no Diário Oficial. No exterior, contudo, esse prazo é estendido: elas passam a valer três meses depois de publicadas. Essa previsão é importante, já que ninguém pode se escusar de cumprir uma lei alegando não a conhecer. Por mais artificial que possa parecer, a publicação é justamente a ferramenta de que dispõe o Estado para garantir que todos a conheçam. Salvo se já constar da lei um prazo de vigência específico, presume-se sua validade até que outra, modificando-a ou revogando-a, venha a ser promulgada. MAS QUANDO SE CONSIDERA QUE UMA LEI REVOGA OUTRA? A lei posterior revoga a anterior quando: Expressamente o declara. É com ela incompatível. Regula inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. Por outro lado, se uma lei vier a estabelecer disposições gerais ou especiais além daquelas já existentes em outra, não são consideradas a remoção e a revogação da anterior. ATENÇÃO O que ocorre se a lei que tiver revogado outra vier a perder a sua vigência? Neste caso, a que havia sido revogada não é restaurada. ATO JURÍDICO PERFEITO, COISA JULGADA E DIREITO ADQUIRIDO Caio Mario da Silva Pereira (2012, p. 115) diz que: Foto: Domínio público / Acervo Arquivo Nacional/ Wikimedia Commons QUANDO UMA LEI ENTRA EM VIGOR, SUA APLICAÇÃO É PARA O PRESENTE E PARA O FUTURO. PROMULGADA, PUBLICADA E PASSADO O PRAZO PARA QUE DELA SE TOME CONHECIMENTO, A LEI ENTRA EM VIGOR DE IMEDIATO E PARA TODOS. A lei anterior, até perder sua eficácia, regulava todos os fatos jurídicos. Sob o seu império nasceram direitos, criaram-se obrigações e regularam-se situações jurídicas. Alguns desses direitos, obrigações e situações se exaurem ainda no curso da lei que os criou. Outros, no entanto, perduram e adentram o império da nova. Eis que surge a questão: ENTRANDO EM VIGOR A LEI NOVA, O QUE ACONTECE COM OS DIREITOS E AS SITUAÇÕES JURÍDICAS CRIADOS SOB O AMPARO DAQUELA ANTERIOR? O artigo 6º da LINDB prescreve que se mantêm inatingidos pela entrada em vigor de nova lei: Ato jurídico perfeito Direito adquirido Coisa julgada Mas o que eles são? A própria lei dá a resposta: [...] REPUTA-SE ATO JURÍDICO PERFEITO O JÁ CONSUMADO SEGUNDO A LEI VIGENTE AO TEMPO QUE SE EFETUOU”; “CONSIDERAM-SE ADQUIRIDOS ASSIM OS DIREITOS QUE O SEU TITULAR, OU ALGUÉM POR ELE, POSSA EXERCER, COMO AQUELES CUJO COMEÇO DO EXERCÍCIO TENHA TERMO PRÉ-FIXO, OU CONDIÇÃO PRÉ- ESTABELECIDA INALTERÁVEL, A ARBÍTRIO DE OUTREM. (LEI 12.376, 2010) Os três constituem, portanto, os direitos já incorporados ao patrimônio do seu titular, restando pendente apenas o seu exercício. Eles não se confundem com a mera expectativa de direito: “chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso”, frisa a LINDB (2010). É importante ter em mente que as situações legalmente constituídas de acordo com o direito estrangeiro (Default tooltip) serão reconhecidas internamente – a menos que elas ofendam a soberania nacional, a ordem pública ou os bons costumes. EXEMPLO Duas pessoas que se casam na Espanha e venham residir no Brasil recebem, em nosso país, o status de pessoas casadas. Não cabe à justiça brasileira questionar a validade de seu casamento. Imagem: Shutterstock.com CLÁUSULA PÉTREA Cláusulas pétreas são disposições de nossa Constituição Federal insuscetíveis de alteração. Nenhuma lei pode alterá-las, assim como a própria Constituição em si não pode ser modificada com o intuito de suprimi-las. ATENÇÃO A única forma de alterar essas cláusulas é promulgar uma nova Carta Magna. As cláusulas pétreas recebem esse tratamento porque constituem o núcleo duro do nosso ordenamento. Elas estão previstas no artigo 60, §4º, da Constituição Federal (1988): “Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais”. APLICAÇÃO DA LEI ESTRANGEIRA NO BRASIL Como pontuamos, as regras de conexão previstas na LINDB têm por finalidade apontar a lei aplicável a determinado fato transnacional. A primeira pergunta com que nos deparamos é a seguinte: se a regra de conexão incidente em determinada hipótese apontasse a lei estrangeira, essa lei deveria ser encarada como um fato (precisando ser invocado pelas partes a fim de que o juiz possa se pronunciar a respeito) ou um direito (que ele tem a obrigação de conhecer)? Essa pergunta foi objeto de um grande debate doutrinário no Brasil e no exterior. EM NOSSO PAÍS, TRATA-SE A LEI ESTRANGEIRA COMO DIREITO – E NÃO COMO FATO. O artigo 376 do CPC inclusive se refere à lei estrangeira ao lado das leis municipal, estadual e costumeira. Sua aplicação é feita de ofício, ou seja, a despeito de invocação pelas partes e a qualquer tempo. ATENÇÃO O juiz, porém, pode exigir das partes a prova de seu texto e a vigência caso não os conheça. O Código Bustamante (Default tooltip) oferece alguns mecanismos de prova do direito estrangeiro: SAIBA MAIS O Código Bustamante foi internalizado no Brasil por meio do Decreto n. 18.871/1929. Ao aplicar a lei estrangeira, o juízo nacional precisa respeitar a interpretação jurisprudencial e doutrinária que dela se faz no seu Estado de origem. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. "A NACIONALIDADE ORIGINÁRIA SE MATERIALIZA POR MEIO DE DOIS CRITÉRIOS QUE INCIDEM NO MOMENTO DO NASCIMENTO: O IUS SOLI – AQUISIÇÃO DE NACIONALIDADE DO PAÍS ONDE SE NASCE – E O IUS SANGUINIS – AQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE DOS PAIS À ÉPOCA DO NASCIMENTO –, E QUE ÀS VEZES SÃO OBSERVADAS CONCOMITANTEMENTE, EM CRITÉRIO ECLÉTICO, OCORRENDO Certidão legalizada de dois advogados atuantes no Estado cuja legislação se pretende aplicar. Informação prestada pelo Estado estrangeiro por meio da via diplomática. TAMBÉM A HIPÓTESE DO IUS SANGUINIS COMBINADO COM O ELEMENTO FUNCIONAL, QUANDO SE TRATA DE FILHO DE PESSOAS A SERVIÇO DO PAÍS NO EXTERIOR." (DOLINGER, 2018) CONSIDERANDO O TRECHO TRANSCRITO E A LEGISLAÇÃO PERTINENTE, REFLITA: AMÉRICO DE SOUZA É BRASILEIRO E RESIDE NA ALEMANHA, ONDE ATUALMENTE CURSA O DOUTORADO EM ECONOMIA E ONDE NASCEU SEU FILHO, HELMUT, CUJA MÃE É ALEMÃ. SOBRE A POSSIBILIDADE DE HELMUT ADQUIRIR A NACIONALIDADE BRASILEIRA ORIGINÁRIA, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA. A) Helmut poderá adquirir anacionalidade brasileira desde que seja registrado em repartição brasileira competente ou que venha a residir na República Federativa do Brasil antes de atingida a maioridade – e, uma vez atingida, que opte, até quatro anos depois, pela nacionalidade brasileira. B) Helmut poderá adquirir a nacionalidade brasileira desde que seja registrado em embaixada brasileira ou que venha a residir na República Federativa do Brasil antes de atingida a maioridade e opte, a qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira. C) Helmut poderá adquirir a nacionalidade brasileira, ainda que não tenha sido registrado em repartição consular, a qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, por meio da ação de opção de nacionalidade. D) Helmut não poderá adquirir a nacionalidade brasileira, pois só existe a hipótese de aquisição de nacionalidade brasileira originária para filho de brasileiro ou brasileira nascido em solo estrangeiro quando o pai ou a mãe está no exterior a serviço da República Federativa do Brasil. E) Helmut poderá adquirir a nacionalidade brasileira a partir de registro consular desde que sua mãe venha a se tornar brasileira por meio de aquisição derivada de nacionalidade. 2. EM DETERMINADAS HIPÓTESES, O MAGISTRADO NÃO RECORRERÁ À SOLUÇÃO ENCONTRADA PELO MÉTODO CONFLITUAL, AINDA QUE ELA SE TRATE DE UMA SITUAÇÃO JURÍDICA PLURILOCALIZADA. SOBRE ESSA HIPÓTESE E O MÉTODO DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO, APONTE A ALTERNATIVA CORRETA: A) Trata-se de hipótese em que o magistrado se vale de sua discricionariedade para aplicar a lei que julgar mais compatível com o caso. B) Trata-se de hipótese de competência internacional concorrente, na qual o magistrado poderá utilizar a norma brasileira ou estrangeira para dirimir o litígio. C) Trata-se de hipótese de competência exclusiva brasileira para julgar o caso de acordo com a lei brasileira. D) Trata-se de hipótese de reenvio, em que o direito estrangeiro determina a aplicação, na solução de uma questão internacional, do ordenamento jurídico brasileiro. E) Trata-se de hipótese de afastamento da norma estrangeira, já que seu conteúdo viola a ordem pública interna. GABARITO 1. "A nacionalidade originária se materializa por meio de dois critérios que incidem no momento do nascimento: o ius soli – aquisição de nacionalidade do país onde se nasce – e o ius sanguinis – aquisição da nacionalidade dos pais à época do nascimento –, e que às vezes são observadas concomitantemente, em critério eclético, ocorrendo também a hipótese do ius sanguinis combinado com o elemento funcional, quando se trata de filho de pessoas a serviço do país no exterior." (DOLINGER, 2018) Considerando o trecho transcrito e a legislação pertinente, reflita: Américo de Souza é brasileiro e reside na Alemanha, onde atualmente cursa o doutorado em Economia e onde nasceu seu filho, Helmut, cuja mãe é alemã. Sobre a possibilidade de Helmut adquirir a nacionalidade brasileira originária, assinale a alternativa correta. A alternativa "C " está correta. Helmut poderá adquirir a nacionalidade brasileira a qualquer tempo por meio de registro em repartição consular ou, após atingida a maioridade, de ação de opção de nacionalidade – desde que, no último caso, ele possua residência no Brasil (conforme artigo 12, I, c, da Constituição Federal). 2. Em determinadas hipóteses, o magistrado não recorrerá à solução encontrada pelo método conflitual, ainda que ela se trate de uma situação jurídica plurilocalizada. Sobre essa hipótese e o método do Direito Internacional Privado, aponte a alternativa correta: A alternativa "E " está correta. Será feito um controle posterior ao manejo das regras de conexão, obstando-se a aplicação da lei estrangeira apontada pelo Direito Internacional Privado se ela for de encontro aos valores essenciais do foro, especialmente aqueles relativos aos direitos humanos salvaguardados pela Constituição Federal e aos tratados de direitos humanos dos quais o Brasil seja signatário. Esses valores substanciais são incorporados ao conceito de ordem pública. MÓDULO 3 Distinguir os métodos de solução de controvérsias alternativos à jurisdição estatal e seu relacionamento com o Direito Internacional Privado ARBITRAGEM INTERNACIONAL A arbitragem é um meio de solução de controvérsias alternativo à via judicial. Seu fundamento é o princípio da autonomia da vontade: as partes estabelecem livremente um pacto a fim de, em substituição ao Poder Judiciário, submeter suas disputas ao crivo de uma pessoa privada ou de painel composto por pessoas privadas. A liberdade conferida às partes é entendida de maneira bastante ampla. Esse entendimento passa por: Escolha do foro Regras procedimentais Lei material aplicável Árbitros Todas as opções das partes em relação à arbitragem respiram discricionariedade e autonomia. Tendo a escolhido, contudo, as partes a ela se vinculam. O instituto da arbitragem encontrou especial acolhida no comércio internacional, já que parceiros comerciais de diferentes nacionalidades relutavam em se submeter ao Poder Judiciário alheio. A arbitragem despontou, desse modo, como uma solução mais neutra. SAIBA MAIS A arbitragem é reconhecida no direito brasileiro desde os tempos de Império. O Código Comercial de 1850 chegou a prever sua obrigatoriedade para a resolução de determinadas questões. Após a Proclamação da República, ela recebeu um endereçamento no CPC de 1939 e, depois, no de 1973, mas só veio a ganhar credibilidade e expressão com a promulgação da Lei n. 9.307/1996. Pela dinâmica dos antigos Códigos de Processo Civil, a decisão proferida pela entidade privada tinha necessariamente de ser confirmada pelo Poder Judiciário, o que tornava o recurso ao procedimento sem sentido. EXEMPLO Exigia-se até mesmo que as decisões proferidas em arbitragens internacionais fossem homologadas pela justiça estrangeira antes de passarem pelo processo de homologação (sobre a qual se falará abaixo). DE QUE ADIANTAVA ESCOLHER A ARBITRAGEM SE, AO FINAL, A QUESTÃO TERIA DE SER FORÇOSAMENTE SUBMETIDA AO PODER JUDICIÁRIO? VEJA AQUI A RESPOSTA A Lei n. 9.307/1996 (Lei de Arbitragem) alterou essa dinâmica, simplificando o procedimento: não seria mais necessário submeter a sentença arbitral à sua chancela. Apesar de bem-vinda tal mudança do ponto de vista prático, a Lei de Arbitragem teve sua constitucionalidade questionada justamente por conta dessa alteração. O motivo para tal era a garantia de acesso à justiça prevista no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. A sombra da inconstitucionalidade foi devidamente afastada pelo STF (Default tooltip) nos anos 2000. O atual CPC reconhece, em seu artigo 515, que a sentença arbitral é título executivo judicial. A Lei de Arbitragem se aplica à resolução de litígios de natureza patrimonial disponível, diferenciando as arbitragens nacionais das internacionais de acordo com o local em que sua decisão é proferida: a estrangeira, em suma, é aquela cuja sentença tenha sido proferida fora do território brasileiro. Usualmente, divide-se a arbitragem internacional em três tipos: Arbitragem internacional de direito internacional público: Tem como partes os próprios Estados. Arbitragem de investimentos : É feita entre Estados e investidores estrangeiros. Arbitragem comercial internacional: Ela é definida por exclusão. As arbitragens que não se enquadrarem nos dois tipos anteriores serão reputadas arbitragens comerciais internacionais. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal ARBITRAGEM DE INVESTIMENTOS A arbitragem de investimentos se processa perante o International Centre for Settlement of Investment Disputes (ICSID). Vinculado ao Banco Mundial, o ICSID é uma organização internacional criada pela Convenção de Washington. O Brasil não é parte desse sistema de solução de controvérsias. javascript:void(0) ATENÇÃO A Lei deArbitragem se aplica apenas às arbitragens comerciais internacionais. ARBITRAGEM INTERNACIONAL Neste vídeo, a professora abordará os principais aspectos sobre a arbitragem internacional. HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA NO BRASIL O artigo 961 do CPC prescreve que qualquer decisão proferida por autoridade judiciária estrangeira precisa ser reconhecida pelo STJ para que possa ser recepcionada em nosso ordenamento jurídico e produzir efeitos, constituindo, desse modo, um título executivo judicial. Foto: Diego Grandi / Shutterstock.com O processo por meio do qual as decisões estrangeiras são recepcionadas pelo ordenamento jurídico brasileiro é chamado de homologação. No artigo 105, I, a Constituição Federal atribui ao STJ a competência originária para homologar sentenças estrangeiras. O processo de homologação envolve o que se entende por juízo de delibação: o STJ não avalia o mérito, limitando-se a verificar o preenchimento dos requisitos necessários para que a decisão estrangeira possa ser recepcionada. SAIBA MAIS Leia a Homologação de decisão estrangeira n. 120 (2019), relatada pela ministra do STJ Nancy Andrighi. São examinadas apenas as formalidades da sentença à luz de: Princípios fundamentais do contraditório e da ampla defesa Legalidade dos atos processuais Respeito aos direitos humanos Adequação aos bons costumes e à ordem pública Consequentemente, a contestação do pedido de homologação é limitada a questões formais previstas no artigo 963 do CPC. Trata-se da contenciosidade limitada. Listaremos os requisitos para que a decisão estrangeira possa ser homologada pelo STJ: Ser proferida por autoridade competente. O artigo 961, §1º, do CPC autoriza a homologação de decisões proferidas por autoridades não judiciárias, ainda que elas, aos olhos da lei brasileira, exerçam função jurisdicional. Uma decisão proferida por uma autoridade estrangeira que não seja integrante do Poder Judiciário poderá ser reconhecida no Brasil desde que ela exerça no exterior uma função que, em nosso país, assuma uma natureza jurisdicional. Por exemplo: divórcios decretados por autoridades administrativas estrangeiras. As sentenças arbitrais estrangeiras são igualmente passíveis de homologação. Os árbitros, embora não integrem o Poder Judiciário de um Estado, claramente exercem uma atividade jurisdicional. Além do CPC, incide sobre o reconhecimento e a execução de sentenças arbitrais estrangeiras este regramento específico: a Convenção sobre o Reconhecimento e a Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras (mais conhecida como Convenção de Nova York). A Convenção de Nova York foi ratificada por mais de 160 Estados, corporificando um direito uniforme em matéria de reconhecimento e execução de sentenças arbitrais estrangeiras, ressaltam Dolinger e Tiburcio (2020, p. 642). O Brasil a ratificou e a internalizou por meio do Decreto n. 4.311/2002. Em nosso país, ela se aplica para o reconhecimento de sentenças arbitrais estrangeiras provenientes de qualquer Estado signatário da convenção. ATENÇÃO Os requisitos previstos na Convenção de Nova York são essencialmente os mesmos do nosso CPC. Ser precedida de citação regular, ainda que verificada à revelia. Ser eficaz no país em que proferida. Não ofender a coisa julgada brasileira. Estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense prevista em tratado. Não conter manifesta ofensa à ordem pública. MÉTODOS NÃO ADVERSARIAIS DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS: MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO Diferentemente da via judicial e da arbitral, a mediação e a conciliação despontam como métodos não adversariais de solução de controvérsias ou – para usar a terminologia do CPC – de solução consensual de conflitos. Ambas configuram, afinal, métodos de autocomposição. As próprias partes resolvem a controvérsia – ainda que com o auxílio de uma figura intermediária (o mediador ou conciliador) para manejar as técnicas negociais. A mediação e a conciliação visam a um acordo. É a vontade das partes que deve emergir do processo, e não uma sentença vinculante, o que ocorre nas vias judicial e arbitral. Assim como a arbitragem, ambas têm fundamento no princípio da autonomia da vontade. Elas ainda são informadas ainda pelos princípios da: Independência Imparcialidade Confidencialidade Oralidade Informalidade Decisão informada (Default tooltip) A mediação e a conciliação não dispõem, contudo, de qualquer força impositiva. Elas só se sustentarão enquanto as partes concordarem em se submeter a esse procedimento. Além disso, o acordo obtido ao final precisa ser homologado em juízo para se tornar um título dotado de força executiva. VOCÊ SABIA Em 2015, a mediação recebeu uma regulamentação própria com a promulgação da Lei n. 13.140/2015. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CONSIDERANDO O TRECHO TRANSCRITO, O SISTEMA LEGAL BRASILEIRO E, EM ESPECÍFICO, O PROCEDIMENTO DE HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA, INDIQUE A OPÇÃO CORRETA: "MEDIANTE A HOMOLOGAÇÃO, A SENTENÇA ESTRANGEIRA ADQUIRE IDONEIDADE PARA SURTIR NO BRASIL OS EFEITOS QUE LHE SÃO CARACTERÍSTICOS. NÃO É A HOMOLOGAÇÃO, NOTE-SE, QUE LHE CONFERE A EFICÁCIA PRÓPRIA DO ATO DECISÓRIO: ELA SOMENTE PERMITE QUE ESSA EFICÁCIA SE MANIFESTE EM NOSSO TERRITÓRIO; ISTO É, IMPORTA-A." (MOREIRA, 2006, P. 46-54) A) Para ser considerada um título executivo judicial, a sentença arbitral proferida fora do território nacional deverá se submeter ao processo de reconhecimento, que é de competência da Justiça Federal. B) Para ser considerada um título executivo judicial, a sentença arbitral proferida fora do território nacional deverá se submeter ao processo de reconhecimento, que é de competência do Supremo Tribunal Federal. C) Para ser considerada um título executivo judicial, a sentença arbitral proferida fora do território nacional deverá se submeter ao processo de reconhecimento, que é de competência do Superior Tribunal de Justiça. D) Para ser considerada um título executivo judicial, a sentença arbitral proferida fora do território nacional deverá se submeter ao processo de reconhecimento, que é de competência da justiça comum. E) Para ser considerada um título executivo judicial, a sentença arbitral proferida no território nacional deverá se submeter ao processo de reconhecimento, que é de competência da Justiça Federal. 2. (TRF – 4ª REGIÃO – 2010 – JUIZ FEDERAL – ADAPTADA) DADA AS ASSERTIVAS ABAIXO, APONTE A ALTERNATIVA CORRETA. I – A DELIBAÇÃO É UM SISTEMA JURÍDICO DE HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA QUE TEM FUNDAMENTO NA CORTESIA INTERNACIONAL PELA QUAL A SENTENÇA ESTRANGEIRA É REAPRECIADA E EXAMINADA QUANTO AO MÉRITO E À SUA FORMA. II – O PROCEDIMENTO A SER SEGUIDO PARA A HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA OBSERVA O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E O DO REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. III – SEGUNDO O ENTENDIMENTO MAJORITÁRIO DO TRIBUNAL COMPETENTE PARA A HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA, CONTRA ELA É PASSÍVEL DE ARGUIÇÃO COMO DEFESA APENAS A QUESTÃO RELATIVA À OBSERVÂNCIA DOS REQUISITOS PARA A HOMOLOGAÇÃO, SENDO VEDADO À ARGUIÇÃO VERSAR SOBRE OUTRAS QUESTÕES. IV – É POSSÍVEL A HOMOLOGAÇÃO DE DECISÕES ESTRANGEIRAS QUE NÃO TENHAM SIDO PROFERIDAS POR AUTORIDADES INTEGRANTES DO PODER JUDICIÁRIO, CONTANTO QUE TAIS AUTORIDADES TENHAM EXERCIDO FUNÇÃO JURISDICIONAL, COMO NO CASO DE DECISÕES ARBITRAIS. A) Está correta apenas a assertiva III. B) Está correta apenas a assertiva IV. C) Estão corretas apenas as assertivas I e II. D) Estão corretas apenas as assertivas I e IV. E) Estão corretas apenas as assertivas III e IV. GABARITO 1. Considerando o trecho transcrito, o sistema legal brasileiro e, em específico, o procedimento de homologação de sentença arbitral estrangeira, indique a opção correta: "Mediante a homologação, a sentença estrangeira adquire idoneidade para surtir no Brasil os efeitos que lhe são característicos. Não é a homologação, note-se, que lhe confere a eficácia própria do ato decisório: elasomente permite que essa eficácia se manifeste em nosso território; isto é, importa-a." (MOREIRA, 2006, p. 46-54) A alternativa "C " está correta. A sentença arbitral estrangeira – proferida fora do território nacional de acordo com o artigo 34, parágrafo único, da Lei n. 9.307/1996 – somente será equiparada a um título executivo judicial após sua homologação. Ela atualmente é de competência do STJ, informa o artigo 105, I, i, da Constituição Federal. 2. (TRF – 4ª Região – 2010 – Juiz Federal – adaptada) Dada as assertivas abaixo, aponte a alternativa correta. I – A delibação é um sistema jurídico de homologação de sentença estrangeira que tem fundamento na cortesia internacional pela qual a sentença estrangeira é reapreciada e examinada quanto ao mérito e à sua forma. II – O procedimento a ser seguido para a homologação de sentença estrangeira observa o Código de Processo Civil e o do regimento interno do Supremo Tribunal Federal. III – Segundo o entendimento majoritário do tribunal competente para a homologação de sentença estrangeira, contra ela é passível de arguição como defesa apenas a questão relativa à observância dos requisitos para a homologação, sendo vedado à arguição versar sobre outras questões. IV – É possível a homologação de decisões estrangeiras que não tenham sido proferidas por autoridades integrantes do Poder Judiciário, contanto que tais autoridades tenham exercido função jurisdicional, como no caso de decisões arbitrais. A alternativa "B " está correta. O Art. 961, §1, do CPC autoriza a homologação de decisões não judiciais que, pela lei brasileira, teriam natureza jurisdicional. Isso significa que uma decisão proferida por uma autoridade estrangeira que não seja integrante do Poder Judiciário poderá ser reconhecida no Brasil desde que essa autoridade exerça no exterior uma função que, em nosso país, assuma uma natureza jurisdicional. Já os árbitros, embora não integrem o Poder Judiciário de um Estado, claramente exercem uma atividade jurisdicional. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Visitamos as linhas mestras do Direito Internacional Privado, disciplina que tem o importante papel de conciliar o indivíduo na ordem jurídica em que ele está inserido e no próprio mundo. Vimos como a nomenclatura dessa disciplina esconde sua principal fonte e a diversidade de matérias por ela abarcadas. Aprendemos ainda em profundidade a dinâmica de funcionamento da principal delas: o conflito de leis. O Direito Internacional Privado é, antes de tudo, o direito da tolerância e da diversidade. Por isso, destacamos que uma de suas incumbências é a tarefa de coordenar a diversidade de sistemas jurídicos existentes a fim de preservar a segurança jurídica das relações e assegurar a uniformidade de resultados. Demonstramos, por fim, que, à medida que as fronteiras entre os países perdem seus contornos, mais imbricados são os problemas jurídicos que surgem e mais desafiadoras são as suas soluções. Isso eleva o estudo Direito Internacional Privado à ordem do dia. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ANDRIGHI, N. Homologação de decisão estrangeira n. 120. In: HDE 0317356- 19.2016.3.00.0000 EX 2016/0317356-0. Publicado em: 12 mar. 2019. ARAUJO, N. Direito Internacional Privado: teoria e prática brasileira. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2020. BASSO, M. Curso de Direito Internacional Privado. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2016. BATTIFOL, H.; LAGARDE, P. Traité de droit internationale privé. v. 1. 8. ed. Paris: LGDT, 1993. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. BRASIL. Emenda Constitucional de Revisão n. 3, de 7 de junho de 1994. Altera a alínea "c" do inciso I, a alínea "b" do inciso II, o §1º e o inciso II do §4º do art. 12 da Constituição Federal. Brasília, 1994. BRASIL. Lei n. 12.376, de 30 de dezembro de 2010. Altera a ementa do Decreto-Lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942. Brasília, 2010. BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, 2015. BRASIL. Lei n. 13.445, de 24 de maio de 2017. Institui a Lei de Migração. Brasília, 2017. CANÇADO TRINDADE, A. A. International law for humankind: towards a new jus gentium (I). In: Collected courses of the Hague Academy of International Law. v. 316. Boston: Martinus Nijhoff, 2005. DEL’OLMO, F. S. Curso de Direito Privado. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. DOLINGER, J. Direito Internacional Privado. 14. ed. 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In: TIBURCIO, C.; BARROSO, L. R. (Org.). O direito internacional contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. EXPLORE+ Acesse o site da Conferência da Haia de Direito Internacional Privado para saber mais sobre as iniciativas de harmonização desse ramo do direito promovidas por tal organização internacional. Assista, no YouTube, ao seguinte documentário interativo a respeito do famoso caso que envolveu o tema da condição jurídica do estrangeiro: Ronald Biggs e o assalto ao trem pagador – Nerdologia Criminosos. Publicado em: 30 abr. 2019. Para um relato histórico mais aprofundado e uma análise crítica a respeito do real posicionamento da jurisprudência brasileira, leia este texto: BINENBJOM, G. Monismo e dualismo no Brasil: uma dicotomia afinal irrelevante. In: Revista da EMERJ. v. 3. n. 9. 2000. p. 180-195. CONTEUDISTA Carolina França de Noronha CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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