Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
NÃO PODE FALTAR DIREITO FEUDAL E DIREITO CANÔNICO Danilo Rafael da Silva Mergulhão Imprimir CONVITE AO ESTUDO Vamos iniciar uma nova fase do nosso processo de aprendizagem. Já �cou muito claro a importância da história do Direito para a compreensão do ordenamento jurídico atual e do mundo contemporâneo. Nessa segunda fase de nosso processo de conhecimento, analisaremos as contribuições do período feudal, o processo de descentralização do poder e do ordenamento jurídico e a importância do Direito Canônico. Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 V er a n o ta çõ es Em um segundo momento, estudaremos os pressupostos jurídicos que compuseram a formação dos Estados Nacionais, aprofundando-nos no momento histórico chamado de Iluminismo, a criação das prensas e o desenvolvimento da divulgação de obras até chegarmos à formação do Direito na Era Moderna, quando mergulharemos no estudo dos sistemas do Civil Law e Commow Law. Veremos, ainda, as Revoluções Liberais e a in�uência da economia na construção do Direito. No Brasil, contemplaremos a fundação das duas primeiras Faculdades de Direito em Olinda e em São Paulo e analisaremos qual foi a in�uência delas no processo conhecido como codi�cações oitocentistas. PRATICAR PARA APRENDER Você já se perguntou como surgiu o ensino superior? Durante a Idade Média, criaram-se as universidades. Esse projeto de construção de conhecimento se alastrou pelas cidades europeias ainda no século XXI d.C. (MERGULHÃO, 2018). As primeiras universidades europeias, que são modelos para o sistema de ensino superior do mundo moderno, são a Universidade de Bolonha, localizada na Itália, fundada em 1088; a Universidade de Oxford, localizada na Inglaterra, fundada em 1096; a Universidade de Paris, localizada na França, fundada em 1170 (ALVES, 2015). Essas universidades, assim como outras do mesmo período, ainda estão em funcionamento e trouxeram contribuições para além de todas as expectativas. A criação da metodologia cientí�ca tida como uma ciência, seus escritos e a análise das áreas de conhecimento através do discurso cientí�co foram essenciais para a evolução das ciências, tornando a universidade um espaço que diferencia a mera opinião da ciência. É nessa dinâmica, enquanto acadêmicos de Ciências Jurídicas, que todos nós estamos inseridos. E é nesse espaço do ensino superior que você galgará a formação necessária para desenvolver a ativa própria do Bacharel em Direito. 0 V er a n o ta çõ es Você está em seu escritório e recebe a visita de Beatriz. Ela relata que é casada no religioso com João e que, após cinco anos, descobriu que o seu esposo já era casado com outra pessoa no momento do casamento que foi celebrado com ela. Ela conseguiu a anulação do casamento perante o Poder Judiciário, mas, na qualidade de participante da comunidade católica e querendo se casar novamente, agora com Marcos, procura os seus serviços de especialista em Direito Canônico para requerer a anulação do casamento perante a Igreja Católica. Na qualidade de Advogado de Beatriz, como você deverá atuar? Vamos continuar a aprofundar os nossos estudos com responsabilidade, pois é sob essa ótica que desenvolveremos nossas aptidões pro�ssionais. CONCEITO-CHAVE DIREITO FEUDAL O ponto inicial que devemos começar a tratar é que, diferente do que normalmente é veiculado em obras literárias sérias, não podemos �rmar que a Idade Média é um período de “trevas”. Assim como todo processo de construção histórica, esse período histórico passou por “altos e baixos”. Nesse sentido, ensina-nos o historiador francês Jacques Le Go�: REFLITA Diversos autores fazem um processo de revisitar a Idade Média, na medida em que assumem que tal período possui características que nos acompanham até hoje, principalmente no que diz respeito à construção de conhecimento de forma organizada e à fundação das universidades. Neste mesmo sentido, segue o magistério de Russell: Eu diria que a Idade Média não é o período dourado que certos românticos quiseram imaginar, mas também não é, apesar das fraquezas e aspectos dos quais não gostamos, uma época obscurantista e triste, imagem que os humanistas e os iluministas queriam propagar. É preciso considerá-la no seu conjunto. — (LE GOFF, 2007, p. 18) “ 0 V er a n o ta çõ es Sob o ponto de vista temporal, a Idade Média está compreendida entre o período da história da Europa que tem início com o colapso do Império Romano do Ocidente no século V d.C. até o período do Renascimento; ou ainda com a queda do Império Romano do Oriente, com a invasão de Constantinopla, no século XV (ALVES, 2015). Como percebe-se, o período tido como início e �nal está dentro de um contexto eurocêntrico. A Idade Média é marcada por uma desconcentração do poder, ocasionada após a queda do Império Romano do Ocidente e a miscigenação da cultura romana com a cultura dos reinos bárbaros (ALVES, 2015). Neste período, houve substancial produção jurídica de nomes que ainda hoje estudamos em nossas bancas de graduação e pós-graduação, dentre os quais destacamos “Irnerius, Azo, Acúrsio e os glosadores e comentadores, de uma forma geral, é assentada numa tradição romanística altamente so�sticada e com elementos de gênese criativa bastante inovadora, muitos dos quais estranhos ao direito romano” (PAIXÃO, 2016, p. 2). O Direito Feudal foi um dos aspectos jurídicos existentes nessa época, sendo de�nido como “caracterização do direito dominial medieval entre os séculos IX e XIV, segundo as diversas características regionais que o feudalismo apresentou. Sua concentração, especialmente na França, ocorreu nos séculos X e XI” (MACIEL, 1980, p. 156-157). Tinha por pressupostos a realização de um contrato entre duas partes, um senhor e um vassalo, “em que este obrigava-se a ser �el ao senhor, fornecer-lhe ajuda, especialmente militar, e participar dos conselhos e cortes do senhor. Em A Idade das Trevas como é chamada, se estende de 600 a 1000 d.C., aproximadamente. Qualquer tentativa de enquadrar essa história em compartimentos estanques é altamente arti�cial. Não se deve considerar muito tais divisões, pois na melhor das hipóteses só servem para indicar alguns traços gerais que prevaleceram durante o período. Assim, não se deve imaginar que com o �m do século VII a Europa de repente tenha mergulhado na obscuridade, só ressurgindo quatro séculos mais tarde. Por uma única razão: as tradições clássicas do passado sobreviveram em certa medida, ainda que sua in�uência contínua fosse um tanto precária e restrita. — (RUSSELL, 2001, p. 195) “ 0 V er a n o ta çõ es contrapartida, o senhor obrigava-se a proteger e reconhecer o domínio do vassalo sobre uma determinada parcela territorial” (MACIEL, 1980, p. 158). A justiça DIREITO CANÔNICO O Direito Canônico é fruto dos estudos empreendidos pelo catolicismo romano. Segundo Mergulhão (2021), ASSIMILE A in�uência do teocentrismo cristão na construção do ordenamento jurídico perdura até a atualidade. Inicialmente, os cristãos foram perseguidos pelo Império Romano desde o momento de sua criação. Com o fortalecimento da cristandade, tanto em Roma como nas demais cidades que compunham o Império, no governo de Constantino (311 d.C.), este in�uenciado pela conversão de sua mãe Helena, houve a proibição de perseguição aos cristãos e, por �m, culminando com Teodósio impondo o Cristianismo como religião o�cial do Império em 385 d.C. (MERGULHÃO, 2018). Você sabia que o Édito de Milão conferiu permissão para a religião Católica realizar as suas atividades nos territórios romanos? Segue o texto – em tradução livre – como um dos primeiros sobre liberdade de religião. era realizada ordinariamente pelos senhores, baseando-se especialmente em costumes regionais, podendo ter como fontes, ainda, algumas legislações romano-germânicas, as capitulares, comuns na Alta Idade Média, continham, além de normas de direito penale processual, algumas poucas regras de direito feudal. — (MACIEL, 1980, p. 158) “ Assim como o Direito Romano, enquanto construção histórica o Direito Canônico está enraizado no sistema jurídico contemporâneo. De perseguidos pelo Império Romano desde os seus primórdios, passando pelo espraiamento de sua doutrina em Roma e nas demais cidades que pertenciam ao Império Romano, e mais à frente com a adesão à doutrina cristã por Helena, mãe do imperador Constantino (311 d.C.), que proibiu a perseguição aos cristãos, culmina no Governo de Teodósio, que em 385 d.C. elevou o cristianismo à religião o�cial do Império. “ 0 V er a n o ta çõ es Segundo Maciel, Podemos destacar como uma das hipóteses do Direito Canônico o vácuo político deixado a partir da invasão de Roma e, por conseguinte, a queda do Império Romano do Ocidente. É nesse processo de desconcentração política na Europa que a Igreja Católica conseguiu, paulatinamente, um destaque para além do poder espiritual, ingressando nas estruturas do poder temporal, dentre os quais destacamos o poder político e o poder jurídico. Sobre o tema, assim disserta Maciel: Nós, Constantino e Licínio, imperadores, encontrando-nos em Milão para conferenciar a respeito do bem e da segurança do império, decidimos que, entre tantas coisas bené�cas à comunidade, o culto divino deve ser a nossa primeira e principal preocupação. Pareceu-nos justo que todos, os cristãos inclusive, gozem da liberdade de seguir o culto e a religião de sua preferência. Assim qualquer divindade que no céu mora ser-nos-á propícia a nós e a todos nossos súbditos. Decretamos, portanto, que, não obstante a existência de anteriores instruções relativas aos cristãos, os que optarem pela religião de Cristo sejam autorizados a abraçá-la sem estorvo ou empecilho, e que ninguém absolutamente os impeça ou moleste... Observai, outrossim, que também todos os demais terão garantia a livre e irrestrita prática de suas respectivas religiões, pois está de acordo com a estrutura estatal e com a paz vigente que asseguremos a cada cidadão a liberdade de culto segundo sua consciência e eleição; não pretendemos negar a consideração que merecem as religiões e seus adeptos. Outrossim, com referência aos cristãos, ampliando normas estabelecidas já sobre os lugares de seus cultos, é-nos grato ordenar, pela presente, que todos os que compraram esses locais os restituam aos cristãos sem qualquer pretensão a pagamento... [as igrejas recebidas como donativo e os demais que antigamente pertenciam aos cristãos deviam ser devolvidos. Os proprietários, porém, podiam requerer compensação. Use-se da máxima diligência no cumprimento das ordenanças a favor dos cristãos e obedeça-se a esta lei com presteza, para se possibilitar a realização de nosso propósito de instaurar a tranquilidade pública. Assim continue o favor divino, já experimentado em empreendimentos momentosíssimos, outorgando-nos o sucesso, garantia do bem comum. — (MERGULHÃO, 2018, 26) “ O direito canônico é o direito da Igreja cristã, remontando às origens do Cristianismo. É, porém, com a liberdade de culto outorgada por Constantino em 313 que o Papa e os bispos passam a gozar do poder de julgar os adeptos do Cristianismo, quando, voluntariamente, se submetessem à autoridade religiosa, assim como dos julgamentos sobre questões meramente religiosas, que, no século V, passam a ser, estes últimos, de competência privativa da Igreja. — (MACIEL, 2019, p. 162) “ 0 V er a n o ta çõ es Nesta época, dentro do espaço da Universidade de Bolonha, criada em 1088, a Igreja Católica consegue compilar a legislação da época – um grande feito comparável à compilação de Justiniano. Segundo Maciel, Uma das grandes contribuições do Direito Canônico está na ideia de boa-fé e má- fé. Para Mergulhão (2018, p. 16), “a boa-fé em seu período canônico impregnou-se das ideias de humanidade, piedade, caridade e bondade. Um dos elementos probantes dessas concepções é a celebre frase de São Cipriano: ‘aequitas est iustitia dulcore misericordia temperata’”. Essa “eticização da Boa-Fé foi essencial para a construção daquilo que conhecemos por Boa-Fé subjetiva. A Boa-Fé subjetiva-se por norma, ela aparece, nos textos jurídicos canônicos, de�nida ou indiciada como estado de ciência ou de consciência individual” (MERGULHÃO, 2018, p. 27). É neste mesmo sentido o magistério de Grossi ao atestar que: Herdeira da cultura romana, a Igreja, por intermédio de seus religiosos, foi de grande importância aos reinos bárbaros que eram gradualmente formados, transmitindo, àqueles cujas relações com o clero eram amistosas, tecnologias jurídicas, políticas e agrícolas. Paralelamente ao aumento de sua importância e poder, a Igreja passa a desenvolver um direito canônico apto às intervenções na sociedade que proporcionassem sua contínua autoridade sobre os diversos assuntos da época. — (MACIEL, 2019, p. 163) “ É com Graciano, monge e professor de teologia em Bolonha, que no século XII realiza-se o Decretum Gratiani (Decreto de Graciano), compilação dos textos canônicos que reúne em torno de 4.000 textos de relevância para o direito, organizados e, alguns, brevemente comentados. Ao Decreto de Graciano sucederam-se as Decretales extra Decretum Gratiani (Decretais que excedem o Decreto de Graciano), elaboradas por Raimundo Penhaforte, compostas de cinco livros: o Liber Sextum, criado por Bonifácio VIII, em 1298; as Clementinas de Clemente V (1314); as Extravagantes de João XXII (1324) e já ao �nal do século XV as Extravagantes comuns. O conjunto dos textos canônicos é denominado Corpus Iuris Canonici. “ O Direito Canônico operou a sua uni�cação conceptual sob o signo da referência ao pecado, equivalendo-se dizer da ausência de pecado, situando-a em uma ‘dimensão ética-axiológica’ compatível com o sentido geral do Direito Canônico que modelará, ideologicamente, a civilidade medieval. — (GROSSI, 1995, p. 109) “ 0 V er a n o ta çõ es Sobre o tema, é salutar o ensinamento de Alves (2015): “A caridade se mescla à Boa-Fé quando esse princípio é clamado como justi�cativa para que o credor restrinja a sua pretensão à prestação”. Toda essa importância é fruto do sistema de métodos adotados pelas universidades que produziu uma virada epistemológica do direito, que “das fontes puras em vez da tradição, o conhecimento das ideias em vez da comprovação das autoridades por meios lógicos, o sistema em vez da exegese” (WIEACKER, 1969, p. 92). As obras de Santo Agostinho e de São Tomás de Aquino, A Cidade de Deus e Suma Teológica, respectivamente, foram grandes contributos para a implementação da ideia de boa-fé como ausência de pecado e de má-fé como a existência dele (MERGULHÃO, 2018). O cerne do pensamento de Santo Agostinho está ligado a uma ideia de ordem, o que, nas palavras do mestre Newton de Lucca, indica possuir Por �m, essa contribuição inestimável do Direito Canônico para a ordem jurídica universal é “tão grande que sem o seu conhecimento seria impossível uma plena compreensão da história do direito privado” (WIEACKER, 1969, p. 68). E continua no sentindo da impossibilidade de compreender na sua inteireza o Direito Canônico “a importância desta ordem jurídica ultrapassa de longe as fronteiras de uma história do direito privado e não pode ser aqui descrita na sua totalidade” (WIEACKER, 1969, p. 67). EXEMPLIFICANDO O signi�cado de modelo, mas de um modelo de referibilidade ética, isto é, de uma noção indissoluvelmente ligada à ideia de bom, justo ou de certo. E continua sua explicação acerca dessa ideia, ao indicar que a perfeição ética não diz respeito aos valores relacionados à beleza, tais como: a harmonia, a proporcionalidade etc., mas implica o conhecimento de justiça enquanto prática reiterada da virtude humana. — (LUCCA, 2009, p. 107) “ 0 V er a n o ta çõ es Você sabia que dentro das possibilidades de exercício do Direito Canônico está a defesa de ações em Tribunais Eclesiásticos?A Igreja Católica possui, em todos os países, Tribunais Eclesiásticos, cuja competência para processar e julgar as causas jurídicas são reservadas diretamente ao Romano Pontí�ce. RENASCIMENTO CULTURAL E JURÍDICO O período chamado historicamente de Renascimento cultural nasceu nos séculos XIV e XV e estava ligado a um maior investimento da cultura e a uma “redescoberta” dos textos jurídicos romanos. Sobre o tema, Maciel faz as seguintes ponderações: Importante reforçar que há forte crítica a esta visão do período da Idade Média. Sob o ponto de vista jurídico, vemos as ponderações de Paixão (2016, p. 39): Alimentada pelo renascimento cultural do século XII, que resultará, dentre outras obras da Idade Média, na criação das universidades, igualmente in�uenciada pela rearticulação do comércio, pela redescoberta do direito romano, por meio do Corpus Iuris Civilis, pela reestruturação urbana, a nova expressão da cultura jurídica originar-se-á na doutrina jurídica que a própria Idade Média institui, proporcionando uma crescente uni�cação do direito europeu. A uni�cação é condicionada pela formação intelectual semelhante às quais os intelectuais da Baixa Idade Média foram submetidos, ao uso do latim como língua comum na Europa e ao mito uni�cador da República cristã, sob a qual subsistiria um governo, um direito e uma religião. Assim, os elementos fundamentais de unidade do direito europeu foram lançados e semeados durante a Baixa Idade Média para serem substituídos gradualmente pelas concepções jurídicas que se inaugurarão no século XVI. O jus commune (direito comum) surgiu, então, não de conteúdos normativos idênticos em toda a Europa, mas de características comuns dos usos do direito no período baixo medieval e nos três séculos subsequentes do período moderno. — (MACIEL, 2019, p. 159-160) “ Os estudos sobre o Corpus Juris foram destacados em Ravena e Bolonha, através de glosas, ou seja, comentários escritos no corpo do texto, típicos do método do trivium. Essas glosas podiam ser interlineares ou marginais, a depender do seu tamanho. Os glosadores concentraram seus estudos no Digesto e nas Institutas, embora tenham glosado as outras partes do código justinianeu, além de elaborar importante resumos das obras latinas, chamados de Summa. “ 0 V er a n o ta çõ es Tal grau de importância que o Brasil alcançou deu-se entre o período da descoberta, em 1500, até o advento do primeiro Código Civil, em 1916 e, ainda, a utilização da legislação chamada Ordenação Afonsina, que eram compilações das leis régias de Portugal, criadas no reinado de D. Afonso V, que reinou em Portugal de 1438 a 1481. Essa norma apresentava uma sistematização em cinco livros, que subdividiam-se em parágrafos. O livro I, com 72 títulos, tratava de Direito Administrativo, compreendendo os cargos públicos, o governo, a justiça e o exército. O livro II, com 123 títulos, versava sobre os bens da Igreja e os direitos régios e da nobreza. Já o livro III tratava de Processo Civil, possuindo 128 títulos. Em seguida, apresentava-se o livro IV, que disciplinava o Direito Civil em 112 títulos. Por �m, o livro V continha 121 títulos e tratava de Direito e Processo Criminal. Segundo Bezerra, o dito renascimento cultural apresentava algumas características, dentre as quais destacamos: O estudo do Direito Romano também é uma característica do Renascimento jurídico, sempre fazendo o alerta de que nunca deixou de ser estudado durante a Idade Média. Um dos traços marcantes do Renascimento era o racionalismo. Baseado na convicção de que tudo se podia explicar pela razão e pela observação da natureza, se tentava compreender o universo de forma calculada e matemática. Um elemento crucial foi o humanismo, no sentido de valorizar o ser humano, considerado a obra mais perfeita do Criador. Daí surge o antropocentrismo renascentista, ou seja, a ideia do homem como centro das preocupações intelectuais e artísticas. A �loso�a de Platão foi reinterpretada e ganha o nome de neoplatonismo. Este defendia a elevação espiritual, a aproximação com Deus através de uma interiorização em detrimento de qualquer busca material. — (BEZERRA, 2020) “ 0 V er a n o ta çõ es A Idade Média e os primeiros momentos do período do Renascimento são fantásticos! Há muita riqueza pronta para ser desbravada por você. O renascimento do direito romano, devido principalmente à Universidade, foi um dos fatores preponderantes do fortalecimento do poder real, que progressivamente vai interferindo nela, diminuindo-lhe gradualmente a autonomia jurídica e administrativa de que gozava. Essa subordinação ao monarca vincula a Universidade aos interesses políticos nacionais, mas não lhe retira o caráter universal das disciplinas que ensina – e que possibilita a permanência do ius ubique docendi –, nem lhe restringe a liberdade de doutrina, não se arvorando o Estado em impor-lhe orientação nesse terreno. — (MOREIRA, 2015, p. 337) “ FAÇA A VALER A PENA Questão 1 Sobre a Idade Média, assinale a alternativa incorreta. A Idade das Trevas como é chamada, se estende de 600 a 1000 d.C., aproximadamente. Qualquer tentativa de enquadrar essa história em compartimentos estanques é altamente arti�cial. Não se deve considerar muito tais divisões, pois na melhor das hipóteses só servem para indicar alguns traços gerais que prevaleceram durante o período. Assim, não se deve imaginar que com o �m do século VII a Europa de repente tenha mergulhado na obscuridade, só ressurgindo quatro séculos mais tarde. Por uma única razão: as tradições clássicas do passado sobreviveram em certa medida, ainda que sua in�uência contínua fosse um tanto precária e restrita. — (RUSSELL, 2001, p. 195) “ a. É considerado um período histórico no qual não houve desenvolvimento da ciência. b. Foi durante esse período que surgiram as primeiras universidades europeias. c. Tão grande que sem o seu conhecimento seria impossível uma plena compreensão da história do direito privado. d. A boa-fé em seu período canônico impregnou-se das ideias de humanidade, piedade, caridade e bondade. e. Período histórico compreendido entre a queda do Império Romano do Ocidente e o Império Romano do Oriente. Questão 2 O direito canônico é o direito da Igreja cristã, remontando às origens do Cristianismo. É, porém, com a liberdade de culto outorgada por Constantino em 313 que o Papa e os bispos passam a gozar do poder de julgar os“ 0 V er a n o ta çõ es Sobre o período da Idade Média, assinale a alternativa incorreta. adeptos do Cristianismo, quando, voluntariamente, se submetessem à autoridade religiosa, assim como dos julgamentos sobre questões meramente religiosas, que, no século V, passam a ser, estes últimos, de competência privativa da Igreja. — (MACIEL, 2019, p. 162) a. O Renascimento cultural nasceu nos séculos XIV e XV e estaria ligado a um maior investimento da cultura e a uma “redescoberta” dos textos jurídicos romanos, segundo todos os autores que tratam do tema. b. O estudo do Direito Romano também é uma característica do Renascimento jurídico, lembrando-se de que ele nunca deixou de ser estudado durante a Idade Média. c. O sistema de justiça, durante o predomínio do Direito Feudal, era realizado ordinariamente pelos senhores, baseando-se, especialmente, em costumes regionais, podendo ter como fontes, ainda, algumas legislações romano-germânicas, as capitulares, comuns na Alta Idade Média, que continham, além de normas de direito penal e processual, algumas poucas regras de direito feudal. d. Durante o Direito Feudal e o Direito Canônico, houve uma efervescência cientí�ca. e. Dentro do espaço da Universidade de Bolonha, criada em 1088, a Igreja Católica consegue compilar a legislação da época. Questão 3 Sobre o Direito Canônico, assinale a alternativa correta. Herdeira da cultura romana, a Igreja, por intermédio de seus religiosos, foi de grande importância aos reinos bárbaros que eram gradualmente formados, transmitindo,àquelas cujas relações com o clero eram amistosas, tecnologias jurídicas, políticas e agrícolas. Paralelamente ao aumento de sua importância e poder, a Igreja passa a desenvolver um direito canônico apto às intervenções na sociedade que proporcionassem sua contínua autoridade sobre os diversos assuntos da época. — (MACIEL, 2019, p. 163) “ a. O centro de poder era os povos germânicos que haviam invadido Roma. b. Não possui grandes escritos. c. Não possui grande importância para a história do Direito. d. As obras de Santo Agostinho e de São Tomás de Aquino, A Cidade de Deus e Suma Teológica, respectivamente, foram grandes contributos. e. A importância desta ordem jurídica não ultrapassa as fronteiras de uma história do direito privado e não pode ser aqui descrita na sua totalidade. 0 V er a n o ta çõ es REFERÊNCIAS ANDRÉ, A. L. P. As ordenações e o direito privado brasileiro. Revista Eletrônica da Faculdade de Direito de Campos, Campos dos Goytacazes, v. 3, n. 3, out. 2007. Disponível em: https://bit.ly/2WfWIQy. Acesso em: 1º jun. 2021. AQUINO, S. T. de. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 1999. BEZERRA, J. Renascimento Cultural. Toda Matéria, 2021. Disponível em: https://bit.ly/3mvxsjQ. Acesso em: 2 jun. 2021. BRASIL. Decreto nº 7.107 de 11 de fevereiro de 2010. Promulga o Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e a Santa Sé relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil, �rmado na Cidade do Vaticano, em 13 de novembro de 2008. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: https://bit.ly/3i6OwtY. Acesso em: 13 jul. 2021. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL REGIONAL OESTE 2. 400 casais pedem nulidade de casamento. CNBB RO2, 2016. Disponível em: https://bit.ly/3mtRs6z. Acesso em: 13 jul. 2021. GROSSI, P. L’Ordine Giuridico Medievali. Roma: Laterza, 1995. LE GOFF, J. Para um novo conceito de idade média: tempo, trabalho e cultura no Ocidente. Lisboa: Estampa, 1980. LUCCA, N. de. Da Ética Geral à Ética Empresarial. São Paulo: Quartier Latin do Brasil, 2009. MACIEL, J. F. R. Manual de História do Direito. São Paulo: Saraiva, 2019. MERGULHÃO, D. R. da S. A boa-fé objetiva como limitador da autonomia da vontade nos contratos interempresariais de seguro. 2017, 146f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3yeVCBa. Acesso em: 13 jul. 2021. MOREIRA, A. Universidade, Cultura e Direito Romano. Revista de Direito Civil 0 V er a n o ta çõ es https://bit.ly/2WfWIQy https://bit.ly/3mvxsjQ https://bit.ly/3i6OwtY https://bit.ly/3mtRs6z https://bit.ly/3yeVCBa Contemporâneo, v. 3, p. 337-352, 2015. PAIXÃO, M. B. F. da. Breve divagação histórica do Direito Privado na Idade Média europeia e no Reino de Portugal. Revista de Direito Privado, São Paulo, v. 71, 2016. RUSSELL, B. História do pensamento ocidental: a aventura dos pré-socráticos a Wittgenstein. 4. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. WIEACKER, F. História Moderna do Direito Privado Moderno. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1969. 0 V er a n o ta çõ es
Compartilhar