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A Geografia de Ratzel foi um instrumento poderoso de legitimação dos desígnios do Estado expansionista alemão recém-constituído, sendo denominada por alguns autores como “manual de imperialismo”. Para entender a produção acadêmica deste autor e sua contribuição para o desenvolvimento da Geografia, é necessário contextualizar o desenvolvimento de sua obra. Enquanto Humboldt e Ritter vivenciaram o aparecimento do ideal de unificação alemã, Ratzel vivencia as primeiras décadas da constituição do Estado nacional alemão. Nesta aula, apresentaremos a influência do Positivismo na Geografia Tradicional e o pensamento do geógrafo alemão Friedrich Ratzel, bem como o contexto histórico em que se desenvolveu a sua antropogeografia. • Examinar o contexto histórico do desenvolvimento do pensamento de Friedrich Ratzel. • Analisar a influência do positivismo na Geografia Tradicional. • Identificar os principais conceitos formulados por Friedrich Ratzel. Com o advento do Positivismo no século XIX, a Geografia deixou a Idade Clássica e entrou na Era Moderna, assumindo um novo discurso que exigiu um saber sistematizado, com a possibilidade de afirmar proposições, por meio de uma linguagem lógica. Sob essa ótica, os geógrafos ergueram os pilares das correntes do pensamento geográfico identificadas como Geografia Tradicional que são: o Determinismo Geográfico, o Possibilismo e o Método Regional. O período tradicional na Geografia estendeu-se de 1870, quando se tornou uma disciplina institucionalizada nas universidades europeias, até a década de 1950, quando se verificou a denominada revolução teorético-quantitativa. Friedrich Ratzel (1844-1904) foi um pensador alemão, considerado como um dos principais teóricos da Geografia Tradicional e o precursor da Geopolítica e do Determinismo Geográfico. Seus estudos foram de fundamental importância para o processo de sistematização da Geografia Moderna. Sob a influência das Teorias Evolucionistas Darwinistas e do Positivismo Naturalista, Ratzel entendia o homem como um ser biológico (não social), e afirmava que os estudos geográficos deveriam ser pautados nas relações de causa e efeito que determinam as condições de vida no meio ambiente. Introdução Pensamento Geográfico ao – Santos (2009) identifica três manifestações da influência do Positivismo na Geografia: • Redução da realidade ao mundo dos sentidos: A redução da realidade ao mundo dos sentidos quer dizer que os estudos dos fenômenos devem se restringir aos aspectos visíveis, mensuráveis, palpáveis. A partir desse entendimento, a Geografia é considerada uma ciência empírica, pautada na observação, considerada a única forma possível de se obter o conhecimento. No que se refere aos procedimentos de análise a indução é posta como a única via para se chegar à explicação científica, por meio de um saber sistematizado e capaz de propor afirmações sobre a realidade com certa precisão, nos limites de uma linguagem lógica. • Existência de um único método de interpretação, comum a todas as ciências: Esse método único seria originário das ciências naturais, que se converteriam em modelo de cientificidade, e deveriam orientar as demais ciências. Nessa concepção, a naturalização dos fenômenos humanos, se expressa na afirmação que “a Geografia é uma ciência de contato entre o domínio da natureza e o da humanidade” (SANTOS, 2009), noção que permeia todo o pensamento Geográfico Tradicional. O homem aparece como um elemento da paisagem, na Geografia Tradicional, ou seja, como um dado do lugar, como mais um fenômeno da superfície da Terra. • Geografia é uma ciência de síntese: Essa premissa se alimenta da ideia de classificação e hierarquização das ciências e, desse modo, a Geografia se tornaria o auge do conhecimento científico, isto é, como a disciplina se relacionaria e ordenaria os conhecimentos, produzidos por todas as demais ciências. A especificidade da análise geográfica seria a de trabalhar com o conjunto de fenômenos que compõem o real, em um leque que abrangeria, desde aqueles tratados pela Física, até os do domínio da Economia ou da Antropologia. Assim, tudo entraria na análise geográfica, que tenderia a ser exaurir os elementos a serem estudados. No início do século XIX, época em que ocorreu a eclosão da Geografia, a Alemanha era um Estado Nacional. Apresentava-se como um aglomerado de feudos (ducados, principados e reinos), com alguns traços culturais comuns. O capitalismo penetrou no quadro agrário alemão por meio da aristocracia agrária, sem alterar a estrutura de poder vigente e mesclando elementos tipicamente feudais, como o trabalho servil, como outros do capitalismo, como a produção destinada ao mercado externo. Inexistia qualquer unidade econômica ou política e, como consequência, a Alemanha não conhecia a monarquia absoluta ou nenhum tipo de governo centralizado. O poder estava nas mãos dos proprietários de terras e a estrutura feudal permanecia intacta. Nesse contexto, as relações capitalistas se desenvolveram tardiamente, em conciliação com a ordem feudal vigente. 1 2 3 O segundo passo para a unificação foi forjado na repressão aos levantes populares de 1848. Segundo Moraes (1983), a vaga revolucionária que assolava a Europa, manifestou-se em várias cidades da Confederação Germânica, como Viena, Berlim e Frankfurt, unindo as classes dominantes locais em um bloco contrarrevolucionário. As revoluções populares foram marcadas pelo nacionalismo e pelo desejo de unificação, estimulando nas classes dominantes o ideal da unificação nacional e a criação do primeiro parlamento Germânico. O rei prussiano Guilherme I nomeou como primeiro ministro Otto von Bismarck, chanceler da Prússia. Conforme Rodrigues (2008), Bismarck introduziu um programa de desenvolvimento industrial e modernização do exército prussiano e, por meio de acordos diplomáticos ou de guerras, coordenou o processo de unificação da Alemanha. A unificação foi legitimada, e Guilherme I foi proclamado imperador da Alemanha. O país emergia como mais uma unidade do centro do mundo capitalista industrializado, porém sem colônias. A unificação tardia da Alemanha deixou-a fora da partilha dos territórios coloniais, por isso o agressivo projeto imperial do país e o propósito constante de anexar novos territórios. Entretanto, havia a necessidade de manter a unidade da nação por meio de uma ideologia que conferisse ao povo uma identidade germânica. Friedrich Ratzel foi um intelectual engajado no projeto estatal. Suas ideias foram um instrumento poderoso no processo de unificação, de construção do nacionalismo e do expansionismo do Estado alemão. • – Friedrich Ratzel (1844-1904) foi professor de Geografia na Universidade de Leipzig, na Saxônia (Alemanha). Sua obra foi fundamental para o processo de sistematização da Geografia Moderna. Ele tinha formação naturalista e foi bastante influenciado pelas ideias evolucionistas de Charles Darwin e pelo Positivismo, procurando “leis” que explicariam o comportamento dos homens na Terra. • Seu principal livro foi publicado em 1882 – Antropogeografia: fundamentos da aplicação da Geografia à História e, por isso, é considerado o Na contramão do restante da Europa, o comércio local não se desenvolvia, em função das barreiras alfandegárias existentes entre os ducados e principados alemães. Em função disso, as cidades pouco se desenvolveram e a pequena burguesia local não conseguia impor seus interesses, como ocorreu na Inglaterra e França. 4 O ideal de unificação nacional teve sua primeira manifestação concreta em 1815, com a criação da Confederação Germânica,que congregou todos os principados alemães sob a hegemonia da Áustria e da Prússia. A partir de 1834, por influência da Prússia, foi determinado o fim dos impostos aduaneiros entre os membros da Confederação, ampliando os laços econômicos entre eles. 5 1862 1871 fundador da Geografia Humana. O significado de sua produção para o desenvolvimento da Geografia, teve enfoque atribuído à questão da relação entre o homem e a natureza. O livro contém a primeira proposta explícita de um estudo geográfico dedicado à discussão dos problemas humanos – à influência que o homem sofre em consequência do meio em que vive. De acordo com Moraes (1983), Ratzel definiu o objeto da Geografia como o estudo da influência que as condições naturais exercem na humanidade. Essas influências atuariam nas fisiologias e na psicologia dos indivíduos, e por intermédio destes, na sociedade. Para Ratzel, a Terra é o substrato onde as sociedades se desenvolvem em íntimo relacionamento com os elementos naturais, assim, a natureza influenciaria a própria constituição social e a possibilidade de expansão ou de atraso de um povo, pela riqueza propiciada por meio dos recursos disponíveis no meio. Na sua visão, a sociedade é um organismo que mantém relações duráveis com o solo, manifestadas nas necessidades de moradia e de alimentação, por exemplo. Por isso, quanto maior o vínculo com o solo, maior seria a necessidade para a sociedade manter a sua posse. As leis da história humana são as mesmas que regem as espécies vegetais e animais. A sociedade era vista como um organismo. Influenciado pelo pensamento de Darwin, Ratzel ficou fascinado com a Teoria da Seleção Natural das Espécies, segundo a qual, na busca pela sobrevivência, as espécies travam uma intensa luta que sempre acaba com a sobrevivência do mais forte. De acordo com Ratzel, como na luta das espécies pelo domínio do espaço, que contém sua nutrição, os homens organizam-se em Estados para os quais o espaço é a fonte de vida 2. Os Estados necessitam de espaço, como as espécies e, por isso, lutam pelo seu domínio. A subsistência, energia, vitalidade e o crescimento dos Estados têm como motor a busca e a conquista de novos espaços, de novos territórios. O Darwinismo Social é um pensamento sociológico que surgiu no final do século XIX e começo do XX, que tentava explicar a evolução da sociedade humana, se baseando na Teoria da Evolução proposta por Charles Darwin. Regado de preconceitos, o darwinismo social acreditava que existiam sociedades humanas superiores a outras, e que elas deveriam "dominar" as inferiores com o objetivo de "civilizá-las" e ajudá-las no seu "desenvolvimento". Conforme Moraes (1983), para Ratzel o território é a condição de trabalho e de existência de uma sociedade. Sua perda conduz a decadência de uma sociedade. Já o progresso estaria relacionado ao maior uso dos recursos disponíveis no meio, por isso, a necessidade de os grupos sociais ampliarem o seu território e conquistarem novas áreas. A partir dessas ideias, Ratzel elaborou o conceito de “espaço vital”, que é o equilíbrio entre a população de uma sociedade e os recursos disponíveis para suprir suas necessidades de sobrevivência. Existe uma íntima vinculação entre as formulações de Ratzel e o projeto imperial e expansionista alemão que se expressou na justificativa do expansionismo como algo natural e inevitável em uma sociedade em progresso. A História humana se resume na história natural da luta dos povos pelo “espaço vital”, pela defesa ou conquista de territórios. A partir das ideias de Ratzel, o conceito de Estado passou a estar relacionado a uma sociedade organizada sobre as bases de um território, sendo impossível conceber um Estado sem território e sem fronteiras. É comum a associação do nome e da obra de Ratzel ao Determinismo Geográfico 3. Conforme https://estacio.webaula.com.br/cursos/gon950/aula4.html https://estacio.webaula.com.br/cursos/gon950/aula4.html https://estacio.webaula.com.br/cursos/gon950/aula4.html Dantas e Medeiros (2011), o Determinismo Geográfico tem suas raízes fincadas no Positivismo, particularmente na sua fase evolucionista. O Determinismo Geográfico ou ambiental colocava o homem em uma condição de submissão aos aspectos naturais, ou seja, a natureza é que determina a ação humana. Para os deterministas, o meio ambiente em que uma pessoa vive define suas características físicas e psicológicas. Tendo como base fundamental a Teoria Darwinista da evolução das espécies, o Determinismo considerava o homem como um produto do meio, afirmando que este deveria se adaptar às condições naturais para que pudesse sobreviver. Alguns autores defendem a posição de que Ratzel não deve ser vinculado de forma tão simplista e medíocre a um Positivismo cego e a um Determinismo absoluto. Para ele, as influências naturais serão mediatizadas pelas condições econômicas e sociais. Para Ratzel, a sociedade não é um elemento passivo. A relação que ocorre entre o homem e o meio dependerá das características de cada povo. Há casos em que o meio é realmente determinante. Mas, há outros em que o homem enfrenta e domina as dificuldades impostas pelo meio, superando-as. Em termos de método, Ratzel manteve a ideia da Geografia como uma ciência empírica, cujos procedimentos de análise seriam a observação e a descrição. Ele buscava analisar a relação entre os fenômenos, concebendo a sociedade como um organismo e atribuindo à história humana as mesmas leis que regem as espécies vegetais e animais. Questão 01 - Ratzel foi o fundador da Geografia Humana e sofreu grande influência das ciências naturais, particularmente daquelas oriundas do evolucionismo darwinista. Apresente sinteticamente como Ratzel elaborou a relação entre o homem e o meio, para explicar o conceito de “espaço vital”. ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ Questão 02 – Entre as influências do Positivismo na Geografia, podemos destacar as premissas a seguir, com exceção de: a) A realidade está reduzida ao mundo dos sentidos. b) Existe um único método de interpretação, comum a todas as ciências, derivado das ciências naturais. c) A geografia é uma ciência de síntese. d) A especificidade da análise geográfica seria a de trabalhar com o conjunto de fenômenos que compõem o real. e) As leis da história humana são diferentes das que regem as espécies vegetais e animais. Questão 03 - Sobre as contribuições de Ratzel para a Geografia, não é correto afirmar: a) Definiu o objeto da Geografia como o estudo da influência nas condições naturais. b) Elaborou o conceito de “espaço vital”, que é o equilíbrio entre a população de uma dada sociedade e os recursos disponíveis para suprir suas necessidades e sobrevivência. c) O conceito de Estado passou a estar relacionado a uma sociedade organizada sobre as bases de um território, sendo impossível conceber um Estado sem território e sem fronteiras. d) Não foi influenciado pelo Positivismo e manteve-se afastado das ideias evolucionistas de Darwin. e) O progresso estaria relacionado ao maior uso dos recursos disponíveis no meio, daí a necessidade de os grupos sociais ampliarem o seu territórioe conquistarem novas áreas. Questão 04 - A Geografia de Ratzel foi um instrumento poderoso de legitimação dos desígnios do Estado expansionista alemão recém-constituído. Sob o contexto histórico da época, é correto afirmar: a) No início do século XIX, época em que se dá a eclosão da Geografia, a Alemanha já era um Estado Nacional consolidado. b) O capitalismo penetra no quadro agrário alemão através da aristocracia agrária, sem alterar a estrutura de poder vigente e mesclando elementos tipicamente feudais com outros do capitalismo. c) Apesar da unificação tardia, a Alemanha possuía vários territórios coloniais, daí o agressivo projeto imperial do país. d) Desde o final do século XVIII, o comércio local entre os ducados e principados alemães era bastante desenvolvido, em função das barreiras alfandegárias existentes. e) A partir de 1834, por influência da Áustria, foi determinado o fim dos impostos aduaneiros entre os membros da Confederação Germânica, ampliado os laços econômicos entre eles. Questão 05 - O positivismo é uma corrente filosófica que surgiu na França no começo do século XIX. Os principais idealizadores do positivismo foram os pensadores Auguste Comte e John Stuart Mill. Esta escola filosófica ganhou força na Europa na segunda metade do século XIX e começo do XX. É um conceito que possui distintos significados, englobando tanto perspectivas filosóficas e científicas do século XIX quanto outras do século XX. Dentre as assertivas abaixo, qual (quais) dela (delas), pode-se identificar como manifestações da influência do Positivismo na Geografia: I. A redução da realidade ao mundo dos sentidos; II. A existência de um único método de interpretação, comum a todas as ciências; III. A premissa de que a Geografia não é uma ciência. Apenas em: a) I e II. b) I c) I e III. d) II e III. e) Apenas I. Questão 06 - Portadora de memória, a paisagem ajuda a construir os sentimentos de pertencimento; ela cria uma atmosfera que convém aos momentos fortes da vida, às festas, às comemorações. CLAVAL, P. Terra dos homens: a geografia. São Paulo: Contexto, 2010 (adaptado). No texto, é apresentada uma forma de integração da paisagem geográfica com a vida social. Nesse sentido, a paisagem, além de existir como forma concreta, apresenta uma dimensão: a) Política de apropriação efetiva do espaço. b) Natural de composição por elementos físicos do espaço. c) Econômica de uso de recursos do espaço d) Simbólica de relação subjetiva do indivíduo com o espaço. e) Privada de limitações sobre a utilização do espaço.
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