Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Universidade Federal De Pernambuco- UFPE Curso de ciências geográficas Introdução a ciência geográfica Abelly vitória silva da conceição Resumo do livro:” Geografia: pequena história crítica” do autor Antônio Carlos Robert Morais. RECIFE 2021 CAPÍTULO 1- “O OBJETO DA GEOGRAFIA" A questão que introduz esse volume - O que é geografia? - aparentemente é bastante simples, porém refere-se a um campo do conhecimento científico, onde reina a enorme polêmica. Apesar da antiguidade do uso do rótulo Geografia, que foi mesmo incorporado ao vocabulário cotidiano (qualquer pessoa poderia dar uma explicação do seu significado), em termos científicos há uma intensa controvérsia sobre a matéria tratada por esta disciplina. Isto se manifesta na identificação do objeto desta ciência, ou melhor, nas múltiplas definições que lhe são atribuídas. Alguns autores definem a Geografia como o estudo da superfície terrestre. Esta concepção é a mais usual, porém também a mais vulgar. Pois a superfície da terra é o objeto de toda discussão de todas as ciências, então pode ser colocada como especificidade de uma só disciplina. Essa definição apóia-se no próprio significado etimológico de Geografia - descrição da terra. Assim, caberia ao estudo geográfico descrever todos os fenômenos manifestados na superfície do planeta, sendo uma espécie de síntese de todas as ciências. Esta concepção origina-se das formulações de Kant. Para esse autor, haveria duas classes de ciências, as especulativas, apoiadas na razão, e as empíricas apoiadas na observação e nas sensações. A tradição Kantiana coloca a geografia como uma ciência sintética ( que trabalha condados de toda demais ciências), descritiva (que enumera os fenômenos abarcados) e que visa abranger uma visão de conjunto do planeta. Outros autores vão definir a Geografia como o estudo da paisagem. Para estes, a Geografia estaria restrita aos aspectos visíveis do real. A paisagem vista como objeto da geografia, tendo a mesma concepção de ciência síntese. Esta perspectiva apresenta duas variantes: uma descritiva, sobre os elementos presentes e suas formas. A outra preocupa- se com relação entre os elementos e sua dinâmica e como eles funcionam na paisagem. Esta perspectiva apresenta fundamentos do capítulo inicial da obra de Humboldt, onde enfatiza sobre a observação do horizonte pela visão do investigador para achar explicações. Esta perspectiva da fisiologia da paisagem vai se fundamentar na biologia e sua ideia de organismo, com a interação dos elementos e suas funções vitais. Caberia à Geografia buscar inter-relações entre fenômenos distintos que coabitam em determinada porção do espaço terrestre, introduzindo a ecologia no domínio geográfico. A outra proposta encontrada é uma variante da anterior, ela propõe a geografia como estudo da individualidade de lugares. Nesta, o estudo geográfico abarcar todos fenômenos de uma área, tendo como objetivo o caráter singular de partes do planeta. Alguns geógrafos vão buscar essa meta através da descrição exaustiva dos elementos ou pela visão ecológica. Em ambas propostas, é a individualidade local que importa. Esta perspectiva teria raízes em Heródoto e Estrabão, que realizavam estudos mostrando traços naturais e sociais dos lugares que passavam. Tal perspectiva tem expressão mais desenvolvida na geografia regional, que propõe, como objeto de estudo individualização de uma certa região para ser individualizada em função de um caráter próprio. Outra proposta para definição de Geografia é o estudo da diferença entre áreas, que busca comparar as áreas para individualizá-las em comparação às outras. Das definições vistas esta é a única a propor uma perspectiva generalizadora e explicativa. Existem ainda autores que definem Geografia como estudo do espaço, onde o espaço seria passível de uma abordagem específica, a qual qualificaria a análise geográfica, porém é pouco usada pelos geógrafos por conter aspectos problemáticos. O principal problema desta é a necessidade de explicar o que se entende por espaço, que no campo filosófico é algo polêmico. Sem entrar nessa polêmica, existem três possibilidades. A primeira é que o espaço pode ser visto como uma categoria de entendimento, isto é, toda forma de conhecimento estará ligado a categorias, como tempo, grau, gênero, espaço e etc. Nesta concepção o espaço deixa sua existência empírica, seria apenas um dado de toda forma de conhecimento, não podendo qualificar especificidade da Geografia. Na segunda definição, o espaço também pode ser concebido como o atributo dos seres, no sentido que nada existiria sem ocupar um espaço. Nesta concepção, não seria possível considerá-lo como objeto da geografia, pois o atributo espacial de qualquer fenômeno se daria na própria análise sistemática destes. Na terceira definição o espaço do ser pode ser concebido como um ser específico do real, com características e dinâmica próprias. aqui haveria a possibilidade de pensá-lo como objeto da geografia, porém só depois de demonstrar a afirmação efetuada. Esta perspectiva busca lógica e distribuição dos fenômenos. Entretanto, esta Geografia que propõe dedução só é efetivada com estatística e quantificação. Por fim, para alguns autores, a Geografia é definida como o estudo da relação do homem com o meio, ou seja, sociedade e natureza. Seria uma disciplina de contato entre ciências naturais e as humanas ou sociais. Mantendo a ideia, outros estudiosos vão definir o objeto como a ação do homem na transformação desse meio. Ainda há aqueles que colocam os dados humanos e naturais no mesmo peso, estabelecendo a ruptura do equilíbrio homem e natureza. Este breve painel de definições de Geografia, já justifica a afirmação inicial. Esse mosaico não desce a nível de propostas específicas, nem autores particulares, pois isso só aumentaria o número de definições. O painel apenas abordou perspectivas da Geografia tradicional, levou em conta apenas a geografia tradicional, pois é nessa que a questão do objeto aflora de modo mais contundente. CAPÍTULO 2- “O POSITIVISMO COMO FUNDAMENTO DA GEOGRAFIA TRADICIONAL” Apesar do grande número de definições do objeto da ciência geográfica, é possível apreender- se a uma continuidade neste pensamento. Esta ideia vem do fundamento comum de todas as correntes da Geografia tradicional sobre bases do positivismo. Nesta concepção, os geógrafos vão buscar suas orientações gerais, sendo assim, os postulados do positivismo vão ser o patamar que dará unidade ao pensamento geográfico tradicional. A primeira manifestação sitivista está na redução da realidade ao mundo dos sentidos. Assim, para o positivismo, os estudos devem restringir os aspectos reais, é como se os fenômenos se mostrassem de forma explícita para o observador, o cientista. Daí a limitação de todos os procedimentos de análise à introdução , posta como a única via de qualquer explicação científica. Tal postura aparece na Geografia através da desgastada máxima - “A Geografia é uma ciência empírica, pautada na observação” - presente em todas correntes da disciplina. A descrição, a enumeração e classificação dos fatos fazem parte dos estudos científicos, mas a Geografia tradicional se limitou a eles. Dessa forma, o positivismo compromete esses próprios procedimentos fazendo análise comparativa entre elementos distintos ignorando os procedimentos e tomando conclusões genéricas. Esta concepção dificulta a geografia a chegar a um conhecimento mais generalizador e independente do formalismo tipológico. Dessa forma, a Geografia geral sempre se restringindo aos compêndios enumerativos e exaustivos. Outra manifestação positivista é a idéia de existência de um único método de interpretação para todas as ciências, isto é, sem a aceitação da diferença entre ciências humanas e naturais. Esse método seria originado pelo estudo das ciência naturais, pela quais a outras ciências deveria se espelhar. Esta concepção que incide gravemente na naturalização dos fenômenos humanos, que se expressa na afirmação; “ A geografia é uma ciência de contatoentre o domínio da natureza e o da humanidade”. Postura essa que serviu na tentativa de encobrir o naturalismo do pensamento geográfico tradicional. O homen vai aparecer como apenas mais um elemento do lugar, um fenômeno da superfície. Daí, a Geografia falar sempre em população, e tão pouco em sociedade, na verdade a Geografia sempre procurou ser uma ciência natural dos fenômenos humanos. Tal perspectiva naturalizante parece com clareza no fato de buscar a compreensão entre homem e natureza sem se preocupar com a relação entre os homens. Desta forma o ser humano , e suas relações sociais ficam fora do seu âmbito de estudos. Assim, a unidade de pensamento geográfico tradicional advirá de um fundamento positivista com postura empirista e naturalista. Outra ideia é que a geografia é uma ciência de síntese. Esta concepção é nutrida no afã classificatório do positivismo, com a hierarquização da ciência, tornando a Geografia na disciplina que relacionaria e ordenaria todos os conhecimentos produzidos pelas outras ciências. Assim, tudo entraria na análise geográfica: física, econômica ou até mesmo a antropologia, a tornando exaustiva por conta dos elementos abarcados. Tudo aquilo que interfere na na vida da superfície da terra seria passível de interagir o estudo; para ter uma ideia da abrangência devemos lembrar da afirmação de Humboldt, que diz que os homens se relacionam com fenômenos terrestres através da luz e da gravitação. Esta concepção atribui a Geografia um caráter anti-sistemático, que a distingue das demais ciências por ser um conhecimento sintético que unificaria os estudos das demais ciências. A ideia “Ciência de síntese” serviu para encobrir a vulgaridade e a indefinição do objeto. Dessa forma, estas máximas serviram para legitimar o estudo geográfico com base no fundamento, no qual não se cumpria uma exigência central. A continuidade do pensamento geográfico, também se sustenta por princípios dessa disciplina que são tidos como inquestionáveis que são de grande importância para a Geografia tradicional. Esses princípios são: da unidade terrestre, da individualidade, da atividade, da conexão, da comparação, da extensão e da localização. Estes princípios atuaram como um receituário de pesquisas, deve-se ressaltar que esses princípios foram de grande importância para a Geografia, entretanto, as discussões sobre a forma metodológicas foram restringidas. As máximas e os princípios são incorporados na geografia de uma forma não crítica, fazendo com que as ideias não sejam questionadas. Isso é um problema, pois a Geografia é uma ciência onde o questionamento é uma das bases que a impedem de ruir. Sob a capa da tradição, as repetições constantes destas máximas e princípios tornam se um hábito que adquirem legitimidade. Nos anos sessenta a explicação da disciplina se tornam um pouco difícil por causa do movimento de renovação da Geografia que vinha ganhando espaço e trazendo novas definições dessa disciplina. A diversidade das máximas e princípios vão construir um temário geral que irá facilitar a tarefa de definir esta disciplina, pois ele irá dizer o que ou não Geografia, porém, há uma grande possibilidade de chegar a um único consenso sobre a definição de geografia, pois a sustentação o temário geral ainda se baseia metodologia e posicionamentos sociais diversificado e antagônicos. Várias definições sobre o que é geografia vem desse temário geral, que filtra a luz de posicionamentos sociais(políticos ideológicos e científicos) diferenciados. Com conflito da sociedade, classes e as ciências como expressões dessa sociedade, como esperar que elas reinem harmonia? A geografia, baseada pelo temário geral apresentado, também é uma emanação da prática social. Toda tentativa de definir o objeto geográfico, que não leva em conta essa realidade, é dissimulada e ideológica. Frente a estas razões, a pergunta - o que é Geografia? - adquire uma conotação nova, a geografia escapa- se do plano de abstração ao aceitar que existem tantas geografias quando forem os métodos de interpretação, a Geografia é apenas um rótulo, referido a um temário geral, levando em conta os métodos que expressam posicionamentos sociais, assim a geografia vai depender da postura e engajamento de quem a faz. Desta forma, explicar o que é Geografia , passa a ser a explicitação do conteúdo de classes subjacentes a cada proposta. Assim, cabe realizar uma breve história crítica do pensamento geográfico enfatizando os interesses e as tarefas veiculadas por esta disciplina. CAPÍTULO 3- “ ORIGENS E PRESSUPOSTOS DA GEOGRAFIA” Geografia é um termo bastante antigo que surgiu na antiguidade clássica, especificamente no pensamento grego. Porém, naquela época existiam diversas interpretações sobre geografia, como a de Tales e Anaximandro privilegia a dimensão do espaço e a forma da terra; outro como heródoto preocupava com a descrição dos lugares numa perspectiva regional. Temas que hoje são tidos como geografia não eram vistos como tal naquela época, é o caso, por exemplo, de Aristóteles, que discute a concepção de lugar na sua física, sem articulá-la com a discussão da relação homem-natureza. Desta forma, pode-se dizer que o conhecimento geográfico se encontrava disperso sem um conteúdo unitário. O fato de muito desses assuntos não serem considerados Geografia permanece até o final do século XVIII, mas esse não era o caso de Cláudio Ptolomeu, que escreveu uma obra clamada de síntese geográfica que resgata descobertas do pensamento grego clássico ou o Bernardo Varenius, cuja obra vai ser um dos fundamentos da teoria de Newton. Porém, nenhuma das duas obras têm em comum do que era considerado Geografia na época. No final do século XVIII, o conhecimento geográfico ainda não era padronizado. Eram denominados como Geografia: relatos de viagem, em tom literário; cômpendidos de curiosidades, sobre lugares exóticos; áridos relatórios estatísticos; obras sintéticas sobre fenômenos naturais e etc. Esse período foi denominado por Nelson Werneck como a “pré-história da geografia”. O conhecimento geográfico será sistematizado a partir do século XIX, pois pensar em Geografia como um conhecimento autônomo era necessário um certo número de condições históricas que nesta época estarão suficientemente saturadas. Estes pressupostos históricos objetivam-se no avanço e domínio das relações capitalistas de produção. O primeiro pressuposto tinha como objetivo o conhecimento da extensão real do planeta e seus continentes. Esta condição começou a se realizar com as grandes navegações dos europeus no quinhentismo. A Europa se tornará o centro difusor da transição do feudalismo para o capitalismo. Este processo de formação de um espaço mundializado está constituído no fim do século XIX, onde já se tinha consciência da existência de todos os pontos da tetra. Outro pressuposto era a existência de um repositório de informações sobre vários lugares da terra. Tal condição se inicia na formação de uma base empírica para comparação geográfica para discorrer sobre o caráter variável de lugares da superfície terrestre. Condição que vai substantivar-se com o avanço do mercantilismo e da formação de impérios. A apropriação de territórios vai proporcionalizar o conhecimento da realidade das novas terras no processo de penetração e apropriação delas. O processo de exploração do território garantiu diversas informações sobre que deram início do instituto das metrópoles com materiais recolhidos. A Geografia do final do século XIX foi, fundamentalmente, a elaborações desses materiais. Outro pressuposto para o aparecimento de uma Geografia unitária, baseava-se no aprimoramento das técnicas de cartografia. Pois era necessário a representação dos fenômenos observados , e da localização de territórios e para isso era necessário uma forma padronizada e também era uma necessidade posta pela expansão do comércio. O surgimento de uma economia global em várias partes do planeta,demandava de cartas e mapas mais precisos, principalmente para a navegação. Essas exigências fizeram comque a cartografia se desenvolvesse e que as técnicas de impressão fossem descobertas e assim popularizou as cartas e os atlas. Todas estas condições materiais, para sistematizar a geografia, são forjadas no processo de avanço e domínio das relações capitalistas. Entretanto existe uma outra classe de pressupostos, a dos referidos à evolução do pensamento. Estes se substantivam no movimento ideológico, empregado pelo processo de transição do feudalismo para o capitalismo. Assim, estes pressupostos referem-se ao conjunto de formulações sobre o tema tratado pela Geografia, valorizam-nos, legitimam-no, enfim dotam-nos de uma cidadania acadêmica. Uma primeira valorização da Geografia vai ocorrer na difusão da filosofia, onde vão propor explicações sobre o mundo; formulando sistemas para compreender todos os fenômenos do real. A meta geral será afirmações sobre os humanos e suas peculiaridades com uma explicação racional para todas elas, indo contra a visão teológica. Propor uma explicação racional do mundo, indo contra a visão religiosa, também era um fundamento da Geografia, porém haviam discussões filosóficas sobre temas geográficos. Filósofos como Kant e Leibniz, enfatizaram sobre a questão do espaço, já Hegel ou Herder , destacaram a questão da influência do meio sobre a evolução das sociedades. Enfim, estas formulações trouxeram uma valorização para a geografia. Outra fonte de sistematização geográfica pode ser destacada no pensamentos políticos iluministas. Estes pensadores foram porta-vozes do novo regime político, os ideólogos da revolução burguesa que se interessavam ao modo de produção emergente. Com argumentações geográficas, gerava discussões sobre a organização e gestão do Estado, representação e extensão de território de uma sociedade e tipo de governo. O autor iluminista Montesquieu, dedica um capitulo de uma de suas obras sobre a discussão sobre a ação do meio no caráter dos povos com teses deterministas afirmando que dependendo do local onde o indivíduo habita interfere em sua personalidade. A economia política também atuaram na valorização dos temas geográficos. Esta disciplina foi responsável pelas primeiras análises sistemáticas de fenômenos da vida social. Os economistas políticos discutiram questões geográficas, ao tratar de temas como produtividade dos solos, dotação de lugares, recursos minerais, entre outros. Com a teoria do evolucionismo de Darwin, o temário geográfico vai obter reconhecimento de sua autoridade por fornecerem o patamar imediato de legitimação científica dessa disciplina. As teorias do Evolucionismo, apresentado por Darwin e Lamarck, serão fundamentais nos estudos e obras dos primeiros geógrafos e também vai influenciar Haeckel no desenvolvimento da ideia sobre Ecologia. Ao início do século XIX, a malha dos pressupostos históricos da sistematização da Geografia ja estavam suficientemente tecidas, o desenvolvimento da representação do globo fez com que mais mapas fossem usados. A fé na razão humana, posta pela filosofia, abria a possibilidade para buscar respostas para qualquer coisa, as ciências estavam entrando em ordem e a Geografia lançaria a mão para formar seu método. Por isso os temas geográficos estavam legitimados com questões relevantes, ao ponto de dirigir indagações científicas. Estas condições levaram para o avanço do domínio das relações capitalistas. A sistematização da geografia,sua colocação como ciência particular e autônoma, foi um desdobramento das transformações operadas na vida social, pela emergência do modo de produção capitalista e foi um instrumento na etapa final deste processo de consolidação do capitalismo, em determinados países da Europa. Assim, os pressupostos históricos e as fontes de sistematização geográfica se forjaram no periodo de transição, na “na fase heróica" da burguesia. Deste modo, a efetivação da geografia, como um corpo de conhecimento sistematizado ocorria já no periodo de decadência ideológica do pensamento burguês, que a pratica dessas classes dominantes, visava a manutenção da ordem social existente. A transição do feudalismo para o capitalismo se manisfestou a nível continental na Europa, porém, não de forma homogênea, mas sim obedecendo a particularidade de cada pais que se apresentou. Existiam, assim, singularidades de desenvolvimento do capitalismo, que engrendaram em diversas manifestações. No desenvolvimento do capitalismo na Alemanha, a falta de compreensão a sistematização da geografia, os alemães Humboldt e Ritter estabeleceram uma linha de continuidade dessa disciplina. A Alemanha é onde surge as primeiras correntes de pensamentos sobre a geografia. A relação entre o aparecimento da Geografia e a via do desenvolvimento do capitalismo na Alemanha não é gratuita ou aleatória. Por essa razão, cabe discuti-la. CAPÍTULO 4- “ A SISTEMATIZAÇÃO DA GEOGRAFIA: HUMBOLDT E RITTER” A especificidade da situação histórica da Alemanha, no início do século XIX, época em que se dá a eclosão da Geografia, está no caráter tardio da penetração das relações capitalistas nesse país. A Alemanha de então era um aglomerado de feudos, cuja única legação reside em alguns traços culturais comuns. No início da primeira forma de unidade política e econômica na Alemanha, o poder está nas mãos dos proprietários de terras e a estrutura feudal está intacta, o capitalismo vai penetrar produzindo um arranjo singular chamado por “ feudalismo modernizado” que não alteraram a estrutura de poder existente. Com a introdução do capitalismo no quadro agrário alemão,sem alteração da estrutura fundiária, as propriedades de terras permanecem nas mãos elementos pré capitalistas, que se tornaram capitalistas ao começar a importar seu produto ao mercado, porém, essa situação não alteram as relações de trabalho típica do feudalismo. Assim mesclaram-se os elementos feudais com os capitalistas: produção para mercado com trabalho servil. Tal situação desencadeou uma crise na economia alemã e a falta de desenvolvimento da burguesia, que não consegue impor seus interesses, como a França ou a Inglaterra. No século XVIII, a burguesia alemã só se desenvolverá à sombra do Estado comandado pela aristocracia agrária. Com a sedimentação das relações capitalistas e a expansão napoleônica, as classes dominantes alemãs tiveram a ideia de unificação nacional, que tinha como objetivo alavancar o desenvolvimento alemão. Após o bloqueio continental de Bonaparte, o ideal de unidade vai se manifestar na formação da “ Confederação Germânica”, que congregou a Alemanha, Áustria e Prússia. Por causa de inconsistências na confederação, inicia-se discussões geográficas nas classes dominantes da Alemanha com temas relevantes para a sociedade alemã, alimentando a sistematização geográfica. Da mesma forma em que a sociologia aparece na frança, um país que a luta de classes atingia um radicalismo único, na Alemanha a Geografia surge onde a questão do espaço era primordial. As primeiras colocações, no sentido de uma Geografia sistematizada, vão ser obra de dois autores; Humboldt e Ritter, ambos são contemporâneos e pertencem à geração que vivencia a revolução francesa , eles ocuparam altos cargos da hierarquia universitária alemã. Humboldt possuía uma formação naturalista e realizou diversas viagens. Sua proposta de Geografia aparece na justificativa e explicitação de seus próprios procedimentos de análise. Desta forma, seu trabalho não tinha um conteúdo normativo explícito. Já Humboldt, entendia a Geografia como a parte terrestre da ciência do cosmo, isto é, como uma espécie de síntese de todos os conhecimentos relativos á terra. Sua concepção de objeto geográfico afirmava que: “ A contemplação da univercidade das coisas, tudo que coexiste no espaço concernente a substâncias e forças, da simultaneidade dos seres materiais que coexistem na terra”. Caberia ao estudo geográfico: “reconhecer a unidade na imensa variedade dos fenômenos, descobrir pelo livre exercício do pensamento e combinando as observações aparentes”. Desta forma a Geografia seria uma disciplina preocupadaem buscar a conexão dos elementos da natureza. Em termos de métodos, Humboldt propõe o “empirismo racionado”, isto é, a intuição pela observação. Daí a afirmação de Humboldt: “a casualidade introduz a unidade entre o mundo do intelecto e o mundo do sensível”. A obra de Ritter já é explicitamente metodológica. Ritter define o conceito de sistema natural, isto é , uma área delimitada dotada de uma individualidade para compara-los onde o homem seria o principal elemento. Assim, a Geografia de Ritter é, principalmente, um estudo dos lugares, uma busca de individualidade destes. Para a perspectiva deste autor , a ciência era uma forma de relação entre homem e o “criador, onde a geografia teria como meta chegar à harmonia entre a ação humana e os desígnios divinos,manifestos na variável natureza dos meios. Para Ritter a ordem natural das coisas obedeceria a um fim previsto por Deus como uma predestinação e a reconhecê-la seria uma forma de “contemplação da própria divindade". A proposta de Ritter é, por essas razões, antropocêntrica, regional, valorizando a relação homem-natureza, reforçando a análise empírica. A obra desses dois autores compõe a base da geografia tradicional. Todos os trabalhos posteriores vão remeter ás formulações de Humboldt e Ritter, seja para aceitá-las, ou refutá-las mesmo com suas diferenças de pensamentos. A geração que segue á de Humboldt e Ritter vai se destacar mais pelo avanço empreendido na sistematização de estudos especializados, do que de Geografia Geral. É o caso de W. Penk, com a geomorfologia ( estudo do relevo), e de Hann e Koppen, com a climatologia. CAPÍTULO 5 - “RATZEL E A ANTROPOGEOGRAFIA” Um revigoramento do processo de sistematização da Geografia vai ocorrer com as formulações de Friedrich Ratzel, também autor alemão e prussiano, enquanto vivencia a constituição real do estado nacional alemão nas suas primeiras décadas. A Geografia de Ratzel foi um instrumento poderoso para a legitimação dos desígnios expansionistas do estado alemão recém-constituído . mesmo com a penetração tardia do capitalismo nesse país e com a confederação germânica, o poder ainda se encontrava disperso ́por causa da falta de um governo central. A Prússia e a Áustria disputavam hegemonia dentro da confederação. Revoluções populares ocorrida em 1848 em várias cidades da confederação germânica. Se estabelece alianças e ações unificadas centralizadas para formar um bloco reacionário unitário na contra-revolta, estreitando-se os laços políticos e militares. Além disto, a proposta da unificação contava do ideário dos revolucionários que refletiu nas classes dominantes locais fazendo com que reconhecesse o respaldo da massa á unificação. E este foi o caminho direto para constituição do estado alemão. A consciência deste fato, e a possibilidade próxima de unificação culminou com a guerra entre a Prússia e a Áustria pelo comando e domínio do processo. Com a vitória da Prússia, foi determinado que a unidade fosse estabelecida através da prucianização da Alemanha, ou seja, o estado prussiniano imprimiria suas características na nova nação. A principal característica da Prússia era a organização militarizada da sociedade e do estado, que estavam nas mãos da aristocracia junker,os proprietários de terras , representantes da velha ordem feudal. Nessa liderança erguia-se uma monarquia burocratizada que exercia uma grande pressão social interna e uma agressiva política exterior, e esse era o quadro da Prússia em 1817. Essas caracteristicas do prussianismo na Alemanha desenvolveu uma forte nacionalismo estimulado pelo estado, dizia que seu atraso social era uma peculiaridade do "espírito" alemão. Essa ideologia chauvinista apoiava-se numa política exterior agressiva e expansionista. Essa características alemãs pode ser explicada pela situação da Alemanha, no contexto europeu, como um país que emergia no mundo capitalista, industrializada, porém sem colonia. Por causa da unificação tardia da Alemanha a deixou de fora da partilha dos territórios coloniais, e isso alimentava um expansionismo latente que aumentaria com o próprio desenvolvimento interno impulsionando o agressivo projeto imperial de anexar novos territórios. E por essa razão, mais uma vez, o estímulo para pensar no espaço, logo, para fazer geografia. Ratzel vai ser um representante intelectual engajado no projeto estatal, pois sua obra propõe uma legitimação do expansionismo bismarckiano, expressando um elogio ao imperialismo. O principal livro de Ratzel, publicado em 1882, denomina-se Antropogeografia: fundamentos da aplicação da Geografia à História, Ratzel definiu o objeto geográfico como o estudo da influência que as condições naturais exercem sobre a humanidade. Influências essa que atuariam primeiro na fisiologia(somatismo) e na psicologia(caráter)dos indivíduos, e através destes, a sociedade. E em segundo lugar, a natureza influênciaria a própria constituição social. A natureza também atuaria na possibilidade da expansão de um povo, obstruindo-o ou acelerando-o, e também nas possibilidades de contato com outros povos, gerando a mestiçagem e o isolamento. Para Ratzel, a sociedade é um organismo que mantém relações duráveis com o solo, manifestas, por exemplo, nas necessidades de moradia e alimentação, usando assim esses recursos da natureza para conquistar sua liberdade. E por essa necessidade de posse do solo, a sociedade criará o estado. Para Ratzel, o território representa as condições de trabalho e existência de uma sociedade, e a perda deste seria a maior prova de decadência de uma sociedade, porém, a conquista de territórios impulsiona o progresso. E para justificar isso, Ratzel elabora o conceito “espaço vital”; este representaria uma proporção de equilíbrio entre população e recursos disponíveis de uma sociedade. A Geografia proposta por Ratzel privilegiou o elemento humano, e abriu várias frentes de estudo, valorizando questões referentes à história e ao espaço, mando em vista o objeto central que seria o estudo das influências que as condições naturais exercem sobre a evolução da sociedade. Ratzel manteve a ideia da Geografia como ciência empírica, cuja análise seria a observação e descrição, porém, propunha ir além disso, ou seja, ver o lugar como objeto em si, e como elemento de uma cadeia. De resto Ratzel manteve sua visão naturalista, concebia as causalidades dos fenômenos humanos como idênticos aos naturais, propondo uma geografia do homem, como uma ciência natural. Os discípulos de Ratzel radicalizaram suas colocações, simplificando a definição do objeto da reflexão geográfica, empobrecendo bastante as formulações de Ratzel. Ellem Semple e Elsworth Hunting, foram representantes mais eminentes. Ellem, e primeira geografa dos EUA, em sua teoria, relaciona religião com o relevo. Já Elsworth Hunting, tinha teorias mais elaboradas, concebia um determinismo invertido, isto é, pare ele as condições naturais mas hostis seriam as que propiciariam o maior desenvolvimento. Outro desdobramento da proposta de Ratzel manisfestou-se na constituição geopolítica, corrente dedicada ao estudo da dominação de territórios, partiu das colocações ratzelianas, referentes á ação do estado sobre o espaço. Os autores mais reconhecidos dessa corrente foram; Kjellen, um sueco, criador do rótulo geopolítica; Mackinder, um almirante inglês, trouxe a discussão para o nível dos estados-maiores, tratando de temas como o domínio das rotas marítimas, áreas de influência de um país e às relações internacionais, e o general alemão Karl Haushofer, foi outro teórico da geopolítica, que deu a esta um caráter bélico, definindo-o como parte da estratégia militar. Criou a escola que influênciou diretamente os planos de expanssão nazista. Até hoje a geopolítica é debatida nos departamentos de estado e nas academias militares. Uma última perspectiva de Ratzel, foi chamada de escola “ambientalista”. Ratzel foi o primeiro formulador de suas bases, entretanto, não pode ser considerada uma filiação direta da antropogeografia. Esta corrente propõe o estudodo homem em relação aos elementos do meio em que ele se insere. O ambientalismo representa um determinismo atenuado, sem visão fatalista e absoluta, este se desenvolveu bastante modernamente, apoiando a ecologia. A ideia de estudar as inter-relações dos organismos, que coabitam determinado meio já estavam presentes em Ratzel, por influência de Haeckel, entretanto, é mais o determinismo, que o ambientalismo, que o nome Ratzel acabou identificado. CAPÍTULO 6- “VIDAL DE LA BLACHE E A GEOGRAFIA HUMANA” Outra grande escola de Geografia, que se opõe às colocações de Ratzel, vai ser eminente francesa, que terá como seu principal formulador Paul Vidal de La Blache. Para entender o pensamento geográfico na França, é necessário enfocar nos traços gerais do desenvolvimento histórico francês do século XIX, e em detalhe, a conjuntura da terceira república e o conflito de interesse com a Alemanha. A revolução francesa varreu do quadro agrário deste país todos os elementos herdados do feudalismo. Esta revolução foi um movimento popular comandado pela burguesia, dirigido pelos ideólogos dessa classe. O pensamento burguês gerou propostas progressistas, instituindo uma tradição liberal no país9 esta vai se expressar algumas em posturas defendidas pela geografia francesa). O caráter revolucionário francês, trouxe para a política as camadas populares da sociedade. Porém, com a consolidação do domínio burguês, tal característica massa da política vai gerar acirramento da luta de classes nesse país, por essa razão, a França foi o berço do socialismo militante, e o lugar onde o caráter classista da democracia burguesa primeiro se revelou. As sangrentas repressões em 1848, a máscara da dominação burguesa caiu totalmente, refletindo o fim da fase heróica desta classe que lutava para manter o poder do aparelho do estado. Os ideais e as propostas desse movimento, agora só serviam como veículos ideológicos. Na segunda metade do século XIX a França e a Prússia, disputam a hegemonia, no controle continental da Europa. Tal situação culminou com a guerra franco-prussiana, em 1870, na qual a Prússia saiu vencedora.Nesse processo, a França perdeu os territórios de Alsácia e Lorena, dois locais vitais para seu processo de industrialização. Com a queda de Luiz Bonaparte, ocorreu o levante da comuna de Paris que resultou no surgimento da terceira república francesa. Momento esse onde a geografia se desenvolveu, com o apoio do estado francês, sendo introduzida na educação do ensino básico e superior, com intuito de desenvolver esses estudos para serem usados, futuramente, na área militar. Com a Alemanha influenciada pela geografia de Ratzel, a França via como dever combatê- la, seu pensamento geografico nasceu dessa ideia. Um dos responsáveis por essa tarefa foi Vidal de La Blache. Este autor, fundou a escola francesa de geografia e deslocou para esse país a discussão geografia, que até agora só era sediado na Alemanha. Assim como Ratzel, La Blache irá ser influenciado pela situação de sua época e sua sociedade. Ambos veicularam, através do discurso científico, o interesse das classes dominantes de seus respectivos países, mas com discursos e formas diferentes: Ratzel com o autoritarismo e La Blache com tons liberais. Diferenças essas que tecia as críticas de Vidal à antropogeografia de Ratzel. Uma primeira crítica de princípio, efetuada por Vidal às formulações de Ratzel, dizia a respeito à politização explicita do discurso deste, atacando diretamente o caráter apologético do expansionismo alemão, contido nas formulações de Ratzel. Outra crítica de princípio às formulações de Ratzel incidiu no seu caráter naturalista. Isto é, Vidal criticou a minimização dos elementos humanos, que aparecia como passivo nas teorias de Ratzel. Uma terceira crítica de Vidal à antropogeografia, derivada da anterior, atacou a concepção fatalista e mecanicista da relação entre os homens e a natureza, assim, atingiu diretamente a idéia da determinação da história das condições naturais. A partir desses três pontos, Vidal de La Blache construiu sua proposta de geografia, sempre como um diálogo crítico com sua congênere alemã. Vidal definiu o objeto da geografia como relação homem-natureza, na perspectiva da paisagem. Colocou o homem como um ser ativo, que sofre influência do meio, porém que atua sobre este o transformando-o. Assim, na perspectiva Vidalina, a natureza passou a ser vista como possibilidade para ação humana; daí o nome possibilismo dado a esta corrente por Lucien Febvre. Vidal argumenta que, uma vez estabelecido, o gênero de vida tenderia à reprodução simples, isto é, a reproduzir-se sempre da mesma forma. Entretanto, alguns fatores poderiam agir, impondo uma mudança no gênero de vida, e um desses fatores seria o exaurimento de recursos existentes, que poderia impulsionar a migração. Outro fator seria o crescimento populacional, que poderia levar uma sociedade a buscar novas técnicas, ou a sua divisão, criando um outro núcleo, gerando assim um processo de colonização. Para Vidal este seria um elemento fundamental do progresso humano. Em termos e método, a proposta de Vidal de La Blache não rompeu com as formulações de Ratzel, foi antes um prosseguimento destas. As únicas diferenças eram que Vidal era mais relativista, negando a ideia de causalidade e determinação de Ratzel e Vidal, mais que Ratzel, hostilizava o pensamento abstrato e o raciocínio especulativo, propondo o método empírico-indutivo. A Geografia vidalina, em geral, discute a relação homem-natureza, não abordando as relações entre homens. É por essa razão que a carga naturalista é mantida, apesar do apelo à história, contido em suas propostas. CAPÍTULO 7- “ OS DESDOBRAMENTOS DA PROPOSTA LABLACHIANA” Vidal fundou a corrente que se tornou majoritária no pensamento geografico.Além da criação da doutrina possibilista, fundação da escola francesa de geografia, La Blache trouxe para a França o eixo de discussão geográfica, situação que se manteve durante todo o primeiro quartel do século atual. Com grande número de seguidores e sua revista, Annales de Géographie, houveram muitas pesquisas orientadas por suas formulações. Propostas labachianas criadas por seus seguidores foram significativas na formação da geografia francesa.Alguns de seus Discípulos de La Blache tentaram complementar suas propostas; e o caso de E. Demartonne(que escreveu geografia física, com colocações vidalinas), e J. Brunhes (que escreveu uma geografia humana). E outros se focavam em pontos específicos da proposta vidalina, é o caso de A. Demangeon. Houve ainda autores que aceitaram os fundamentos possibilistas, foi o caso de C. Vallaux. Vidal de La Blache planejou uma obra coletiva, a geografia universal, que foi distribuída por seus discípulos e cada um deles era responsável por escrever sobre determinada porção do planeta. Assim, a região não seria apenas um instrumento teórico de pesquisa, mas também um dado da própria realidade. As regiões existiriam de fato, e caberia aos geógrafos delimitá-las, descrevê-las e explicá-las. Desta forma, a geografia seria prioritariamente um trabalho de identificação das regiões do globo. A noção de região originou-se na geologia, que foi trazida para a geografia por L. Gallois, que compreendia a região em seu sentido geológico. Com Vidal, o conceito de região foi humanizado, buscando a individualidade nos dados humanos. Entretanto, a região foi sendo compreendida como um produto histórico, que expressaria a relação dos homens com a natureza e isso fortaleceu a geografia humana proposta por La Blache. A idéia de região propiciou o que viria a ser a majoritária e mais usual perspectiva de análise do pensamento geográfico: a geografia regional. que foi o principal desdobramento da proposta vidalina, que tinha o objetivo de esquadrinhar o globo, gerando um acervo de análises locais. Com o acúmulo de estudos regionais foi necessário o aprimoramento no estudo de regiões agrárias, dando desenvolvimento a uma geografia agrária, que tinha o objetivo de sintetizar as informaçõese características desse meio. Com as especializações dos estudos regionais, a geografia econômica desenvolveu-se bastante, chegando a se constituir num domínio autônomo do pensamento geográfico, diferenciado e igual em importância à geografia humana. Na verdade, a geografia econômica foi um dos focos destacados de surgimento do movimento de renovação do pensamento geográfico. Entretanto, sua origem,sem dúvidas, foi a geografia regional vidalina. Vidal de La Blache deixou influências também no pensamento de historiadores, notadamente naqueles de língua francesa, como a Lucien Febvre (que criou os termos determinismo e possibilismo). Desta forma, a proposta vidalina também se desdobrou em uma geografia histórica. Porém, o principal autor francês que se destacou foi Max Scorre. Esse autor manteve os fundamentos da proposta vidalina porém a desenvolveu bastante com a proposta de estudar as formas pelas quais o homem organiza seu meio, entendendo espaço como “ a morada do homen”. A geografia de Scorre pode ser entendida como um estudo da ecologia do homem. Isto é, da relação de agrupamentos com o meio em que estão inseridos, processo no qual o homem transforma este meio. Porém, deve-se ressaltar que a proposta de Scorre, sem dúvidas, foi uma reciclagem da proposta humana de Vidal, porém de uma forma mais elaborada e enriquecida, mas mantendo sua essência. Outras propostas que fecharam o ciclo da geografia tradicional na França foram as de M. Le Lannou e a de A. Cholley, ambas publicadas na década de cinquenta. Le Lannou concebeu a geografia como eminentemente regional, definindo o homem como !”o homem habitante”. Para Cholley, a geografia teria por objeto “as combinações” existentes na superfície dos planetas. Cholley concebeu a geografia como uma “ciência de complexos”, tentando em sua proposta, restaurar a unidade entre as geografias física e humana. Este foi o itinerário da geografia tradicional na França, focado nas propostas que conceberam um pensamento unitário, e os autores proeminentes. CAPÍTULO 8- “ ALÉM DO DETERMINISMO E DO POSSIBILISMO: A PROPOSTA DE HARTSHORNE” Outra grande corrente de pensamento geográfico era a geografia racionalista, que era considerada a terceira grande orientação dentro da geografia tradicional, e priorizava o raciocínio dedutivo. As influências filosóficas de A. Hettner e R. Hartshorne( grandes nomes na geografia racionalista), influenciou nas suas formas de pensar a respeito sobre a geografia racionalista. A geografia de Ratzel e a de Vidal tiveram suas raízes filosóficas no positivismo de Augusto Comte, a qual foi passada acriticamente para os seus seguidores. Alfred Hettner, um geógrafo alemão que foi professor na universidade de Heidelberg e editor da revista Geographische Zeitchrift, vai propor um terceiro caminho para análise geográfica, sem ser as do determinismo e possibilismo. Hettner vai propor a geografia como uma ciência que estuda “ a diferenciação de áreas”, isto é, estuda a inter-relação dos elementos, no espaço terrestre. As teses de Hettner eram um pouco escassas na sua época, mas após serem abordadas por Richard Hartshorner, renomado geógrafo americano, voltaram a ser discutidas. Tal difusão já se assentou no aumento de peso dos EUA, que até então eram meros repetidores das teses europeias. O único autor de peso nos EUA era William Davis, porém ele era um especialista em Geomorfologia. Foi apenas a partir dos anos 30 que a geografia americana se desenvolveu. Após 1930, desenvolveu-se duas grandes escolas de geografia: uma na Califórnia, elaborando a geografia cultural. seu colaborador principal foi Carl Sauer, que propôs o estudo de “paisagens culturais”, isto é, a análise das formas que a cultura de um povo cria, na organização de seu meio. A escola do Meio-Oeste, propôs estudos que tratavam das organizações das cidades, o da formação de redes de transportes e etc. Hartshorne defendia a ideia de que as ciências se definiriam por métodos próprios, não por objetivos singulares. Para Hastshorne, o estudo geográfico trabalharia com suas inter-relações, então parou de procurar um objeto da geografia, e passou a entendê-la como um “ ponto de vista” . Pois para Hastshorne, a geografia seria um estudo da ” variação de áreas”. Este autor apresentou dois conceitos referidos ao método: “área” e “integração”. A área seria um instrumento de análise, ao contrario da região ou do território, que eram vistos como realidades objetivas exteriores ao observador. A área seria construída no processo de investigação. Para Hartshorne, uma área possuía múltiplos processos interligados, sendo uma fonte inesgotável de inter-relações. E também afirmou que os fenômenos e suas inter-relações variam de lugar para lugar, e que os elementos possuem relações externas e internas à área. Hastshoene disse que a análise deveria ser feita buscando o maior número de conjunto de fenômenos e interrelacioná-los. Essa forma de estudo foi denominada como geografia idiográfica, que seria uma análise singular e unitária sobre determinado local. Entretanto, Hastshorne também propôs uma segunda forma de estudo, a geografia nomotética, que seria generalizadora, apesar de parcial. As comparações das interligações obtidas permitiriam a chegar a um “ padrão de variação”dos fenômenos tratados. Desta forma Hastshorne, articulou a geografia geral e regional diferenciando-as pelo nível de profundidade de suas colocações. A principal proposta del sempre foi abrir novas perspectivas sobre a geografia. A geografia nomotética possibilitou análises tópicas em diversas áreas, e deu possibilidade para o uso da quantificação e da computação em geografia. A geografia tradicional deixou uma ciência elaborada e sistematizada. Deixou fundamentos, que mesmo criticáveis, delimitam um campo geral de investigações, articulando uma disciplina autônoma. A geografia tradicional também elaborou um rico acervo empírico, fruto de um trabalho exaustivo de levantamento de realidades locais. E finalmente, o pensamento tradicional da geografia elaborou alguns conceitos, como : território, ambiente, região, habitat, área, etc. CAPÍTULO 9- “O MOVIMENTO DA RENOVAÇÃO DA GEOGRAFIA” Em meados da década de cinquenta, a geografia tradicional entrou em uma crise que se desenvolveu rapidamente nos anos posteriores. A partir da década de setenta, a geografia tradicional está enterrada, restando apenas alguns resquícios do passado. Os geógrafos levantaram discussões e caminhos nunca trilhados antes. As razões dessa crise, em primeiro lugar, se dava pela alteração da base social, que engendra os fundamentos e formulações da geografia tradicional. A realidade tinha mudado, deixando produtos defasados, aqueles que não acompanhavam a mudança. Com a queda das teses de iniciativa livre, da ordem natural e auto-regulada do mercado, era proposto que o Estado fosse responsável pela ordenação e regulação da vida econômica, que foi usado como arma de intervenção, e com ele o planejamento territorial. A geografia tradicional não apontava nessa direção, daí se defasou em crise. Em segundo lugar, com o crescimento do capitalismo, veio a urbanização com suas megalópoles. O quadro agrário também se modificará, com a industrialização e a mecanização da atividade agrícola, em várias partes do mundo. Com todas as mudanças que aconteceram por causa do capitalismo, a geografia não estava conseguindo acompanhar todos os acontecimentos daquela época. O movimento de renovação vai buscar novas técnicas para análise geográfica. Em terceiro lugar, o próprio fundamento filosófico, sobre o qual se assentava o pensamento geográfico tradicional, havia ruído. O desenvolvimento do pensamento filosófico ultrapassara em muito os postulados positivistas, ao nível desse pensamento ocorrerá uma renovação, a qual a geografia permanecerá alheia. E toda essa crise do pensamento geográfico, desenvolveu problemas internos nessa disciplina. Existiam dois pontos mais visados na geografia tradicional e eles eram a identificação do objeto de análise e a questão dageneralização. Estes dois pontos articularam-se nas dualidades que permaneceram em toda a produção geográfica: geografia física e humana, geografia geral e regional, geografia sintética e tópica. Sempre a resolução de um dos problemas acarretava a não-solução do outro dualismo. Os níveis de questionamentos entre os geógrafos variam bastante. Alguns autores vão ficar nas razões formais, e outros em razões sociais e ideológicas. De acordo com esta variação, temos críticas distintas, algo em comum com esses autores e o fundamento positivista clássico , porém o que deve substituí-lo é a matéria das mais polêmicas. Cada autor vislumbra ou defende, destacando seu ponto de vista. A geografia pragmática e a geografia crítica são dois grandes conjuntos que podem agrupar e organizar a geografia renovada. Essa divisão de dois grupos se dá pela polaridade ideológica das propostas efetuadas. Essas perspectivas aparecem pelo projeto histórico que veiculam, pela perspectiva de classes que professam, enfim pela ideologia que alimenta e pelos interesses concretos a que servem. Nas duas vertentes, aparecem posturas filosóficas, logo fundamentos metodológicos diversificados. CAPÍTULO 10- “ A GEOGRAFIA PRAGMÁTICA” A geografia pragmática é uma crítica à insuficiência da análise tradicional.Ataca, principalmente, o caráter não-prático da geografia tradicional, pois afirma que esta disciplina falava do passado, não sendo válido para os dias de hoje.Os autores pragmáticos vão propor uma ótica prospectiva, voltada para o futuro com intuito de uma renovação metodológica. A crítica de autores pragmáticos da geografia tradicional, é uma crítica formal e acadêmica que não toca nos compromissos sociais do pensamento tradicional. Suas propostas visam uma mudança sem alteração do conteúdo social. Na atualização do discurso burguês a respeito do espaço, que pode ser chamado de renovação conservadora da geografia,ocorre a passagem do positivismo para o neo positivismo. Nesse processo, o discurso geográfico sofre uma sofisticação, tornando suas linguagens e técnicas mais complexas. Porém, apesar dessa sofisticação, os elementos se tornaram mais abstratos. A geografia pragmática vai se substantivar por algumas propostas diferenciadas, e uma destas propostas é a geografia quantitativa, que poderia explicar uma área em termos matemáticos. As relações e interrelações de fenômenos de elementos, as variações locais da paisagem etc. poderiam ser expressas em termos numéricos, com objetivo de explicar a área estudada. Outra objeção da geografia pragmática é chamada de geografia sistêmica ou modelistica, que é uma proposta mais genérica, em relação a anterior. Estes modelos atuam, na pesquisa, como hipóteses lógicas dadas anteriormente,sendo constituídos de dados constantes, ou “fatores”, e de elementos agregados, ou variáveis, Estes modelos surgiram basicamente na economia, como por exemplo, na explicação da organização da agricultura, da formação de redes de cidades ou da localização industrial. No primeiro caso, podemos lembrar do modelo de Thunen, que explica a localização da produção agrícola, em função da distância do mercado. No segundo caso, pode- se pensar na teoria de Christaller, que explica a hierarquia das cidades, com relação ao poder de atração exercido por uma metrópole. No terceiro caso podemos lembrar do modelo de Buchanan, onde é explicado que o equilíbrio de uma indústria depende do equilíbrio entre mercado de mão-de-obra e as reservas de matérias-primas. A geografia quantitativa, conhecida no Brasil como geografia teorética, explicava esta perspectiva genérica e explicativa do pensamento geográfico. Caberia ainda mencionar, dentro da exposição das vias de objetivação da geografia pragmática, aquela que se aproxima da psicologia, formulando o que se denomina geografia da percepção ou comportamental. Os seguidores dessa corrente tentam explicar a valorização subjetiva do território e suas características em relação ao meio, fazendo uso do instrumental desenvolvido pela psicologia , em particular as teorias behavioristas. A quantitativa permite a elaboração de diagnósticos a partir de uma descrição numérica exaustiva sobre as características dos fenômenos ali existentes que permite um conhecimento da área enfocada e sua área de intervenção, que serve para acelerar ou obstruir as tendências. A geografia pragmática desenvolve uma tecnologia de intervenção na realidade e esta é uma arma de dominação para os detentores do estado, que são um acervo de técnicas, que transforma em ideologia ao propor como um processo neutro e objetivo. O “tecnicismo” é uma versão moderada dessa ideologia de neutralidade científica, já discutida ao se tratar da proposta vidalina. Usada como instrumento de dominação, a geografia pragmática é um aparato do estado capitalista. Assim, o conteúdo de classe da geografia pragmática é inquestionável, por isso tem como compromisso dar unidade às suas várias propostas: uma unidade política. Por manter a base social do pensamento geográfico tradicional, ela faz a via conservadora do movimento de renovação dessa disciplina. O utilitarismo será o móvel comum de suas formulações. Atualmente, a geografia pragmática alimenta um embate ideológico com a geografia crítica, que reflete o antagonismo político existente na sociedade burguesa. Um questionamento levantado na geografia pragmática incide no empobrecimento na reflexão geográfica. A geografia tradicional, em função da prática da observação direta do campo, concebia o espaço em sua riqueza . Ao romper com estes procedimentos a geografia pragmática simplifica arbitrariamente o universo da análise geográfica. As várias correntes da geografia pragmática representam uma das opções opostas para quem faz geografia atualmente, e sua aceitação vai depender do posicionamento social do geógrafo, sendo assim um ato político, uma opção de classes. CAPÍTULO 11- “A GEOGRAFIA CRÍTICA” Outra renovação do pensamento geográfico é a geografia crítica. Que se diz respeito a uma postura frente à realidade, frente à ordem constituída. Autores deste pensamento usam seus saberes como uma arma desse processo, propondo uma geografia militante , que luta por uma sociedade mais justa como instrumento de libertação do homem. Os autores da geografia crítica vão além de um questionamento puramente acadêmico, mas sim buscar suas raízes sociais. A vanguarda desse processo crítico vai sempre fazer apologia à expansão. Os geógrafos, articulando às razões do estado, mostram que o discurso geográfico escamoteou as contradições sociais, atingindo assim seu caráter ideológico. Enfim, os geógrafos críticos apontaram a relação entre a superestrutura da dominação de classe, na sociedade capitalista. O autor que formulou a crítica mais radical da geografia foi Yves Lacoste, em seu livro “A geografia serve, antes de mais nada, para fazer guerra”, onde ele diz que o saber geográfico se manifesta em dois planos: “Geografia dos Estados-Maiores” e a “Geografia dos Professores”. A geografia dos estados-maiores seria aquela que sempre existiu e está ligada diretamente ao poder. Já a geografia dos professores, seria a que foi denominada como tradicional.Está para Lacoste tem uma dupla função: em primeiro lugar, mascar a existência da “Geografia dos Estados-Maiores, apresentando o conhecimento geográfico como um saber inútil.Em segundo lugar, a geografia dos professores serve para camuflar dados para a geografia dos estados-maiores sem levantar qualquer suspeita. A crítica de Lacoste coloca a geografia como instrumento de dominação da burguesia de potencial prático e ideológico. Desta forma, os questionamentos da geografia crítica são muito mais profundos. Então, desta forma, Lacoste define seu trabalho como “guerrilha epistemológica”. Ainda no livro de Lacoste, o autor admite que os detentores do poder possuem uma visão integrada do espaço. Já o cidadão comum, tem uma visão fracionada do espaço. Por outro lado, o estado tem uma visão integrada e articulada do espaço. Assim, Lacoste argumenta,que é preciso a construção de uma visão integrada do espaço, numa perspectiva popular e socializar este saber, pois ele é fundamental na política. O propósito expresso por Lacoste define de forma clara os objetivos da geografia crítica, que assume inteiramente um conteúdo político explícito, que aparece em sua afirmação: " A geografia é uma prática social em relação à superfície terrestre. A geografia crítica. Jean Dresch aparece na geografia regional francesa com seu discurso político crítico e com suas obras usadas nos anos trinta e quarenta. Esta ala da geografia regional foi a mais progressista, abrindo assim discussões mais políticas na análise geográfica. Isso iniciou-se quando a geografia francesa deu mais importância ao elemento humano. Assim, a geografia francesa se aproximou da história e da economia, iniciando assim a manifestação do pensamento geográfico crítico. A primeira manifestação clara dessa renovação crítica pode ser vista na Geografia Ativa ( livro escrito por P. George, Y. Lacoste, B. Kayser e R. Guglielmo). Essa obra tratava-se de explicar as regiões com todas suas características físicas e sociais que não apareciam nas análises tradicionais de inspiração ecológica. Entretanto, esta geografia de denúncia não rompia com a análise regional tradicional. Tal perspectiva aparece em obras como a Geografia da Fome de Josué de Castro, ou a Geografia do Subdesenvolvimento, de Y. Lacoste. O autor Pierre George introduziu pioneiramente alguns conceitos marxistas na discussão geográfica, conciliando a análise regional com instrumental conceitual do materialismo histórico. A geografia de denúncia não realizou por inteiro a crítica da geografia tradicional e por essa razão ela se tornou problemática, porém sem interferir na sua importância e eficácia política. Houve um grande desenvolvimento da geografia crítica a partir de estudos temáticos, principalmente aqueles aqueles dedicados ao conhecimento das cidades. Nesse desenvolvimento também teve contribuições de autores não-geógrafos, e alguns deles são: M. Cartels; H. Lefebrever; urbanistas como J. Lojikne ou M. Folin; e também M. Foucault. Na geografia crítica , com a abertura das influências externas o rompimento do isolamento do geógrafo fica mais claro. David Harvey esteve na vanguarda do neopositivismo da reflexão geográfica com sua crítica das teorias liberais sobre as cidades, assumindo uma postura socialista, realizando então uma leitura das colocações marxistas. Trabalhando com uma concepção mais ampla, vários autores realizam uma discussão crítica a respeito do território. Nessa perspectiva, podemos destacar formulações de autores como: A. Lipietz; F. Indovina e do D. Calabi. E em todos estes trabalhos tem como objetivo de entender a essência da organização do espaço no modo de produção capitalista. Em uma concepção mais global, cabe ressaltar a proposta de Milton Santos no seu livro Por uma Geografia nova. Nesta obra o autor tenta dar uma resposta do “o que é geografia”, ou seja, como deve ser a análise do geógrafo. Milton Santos vê o espaço geográfico como espaço social ou humano de uma forma histórica. Toda sua proposta será uma tentativa de entender o espaço geográfico. Milton vê o espaço como um campo de força cuja energia é a dinâmica social. Também diz que ele é um fato social, um produto da ação humana, que pode ser explicado pela produção. Afirmava também que o espaço é um fator, pois é uma acumulação de trabalho.O espaço também é uma instância, uma estrutura física que atua no movimento da totalidade social. Milton Santos argumenta que toda atividade produtiva age sobre a superfície terrestre, e diz que “produzir é produzir espaço”. Afirma que a determinação do espaço é determinado pela tecnologia, pela cultura e pela organização social da sociedade, que a empreendem. Na sociedade capitalista, a organização espacial é imposta pelo ritmo de acumulação. O autor ainda diz que a unidade de análise do geógrafo deve ser o estado nacional, pois, só levando em conta essa escala, se pode compreender os vários lugares em seu território. Diz que o estado é um agente intermediário entre as forças internas e externas, que orienta os estímulos criando “rugosidade”. O estado manifesta o modo de produção nas várias porções de terra e é por este determinado;logo, passa a sua lógica ao estabelecer e dirigir a ordem espacial. Tendo estes argumentos estabelecidos, M. Santos fala sobre as diferenças naturais e históricas dos lugares. Ele diz que é uma articulação de elementos naturais e processos históricos, de passado e presente, “variáveis assincrônicas funcionando sincronicamente”. Desta forma, há um contínuo processo de modernização que obedece à lógica do capital e não aos interesses dos homens. Tal processo que deve ser objeto de preocupação dos geógrafos, que o analisarão, em cada manifestação concreta, tendo em vista uma geografia mais generosa e vendo o espaço como um lugar de luta. E este é, em termos resumidos, a proposta de Milton Santos, uma das mais amplas e acabadas da geografia crítica. Pode-se dizer que a geografia crítica é um agrupamento de perspectivas diferenciadas que pode transformar o conhecimento geográfico em uma arma de combate à situação existente. Finalizando, pode-se dizer que o movimento de renovação na geografia reproduz o embate ideológico contemporâneo. Os geógrafos críticos em suas diferenciadas orientações, assumem a perspectiva popular, a da transformação da ordem social. Buscando uma geografia mais generosa e um espaço mais justo em função dos interesses dos homens.
Compartilhar