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RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO EVOLUÇÃO HISTÓRICA E TEORIAS Teoria da Irresponsabilidade do Estado: o dirigente público era quem determinava o que era certo ou errado. O Estado não respondia por seus atos. (Comum em Monarquias Absolutistas - No Brasil não tivemos essa fase da irresponsabilidade). Ainda nessa fase, alguns países já admitiam a responsabilização do Estado se alguma lei específica a definisse. Teoria da Responsabilidade com previsão legal: O Estado passou a ser responsável em casos pontuais, sempre que houvesse previsão legal específica para responsabilidade. Eram situações muito restritas. No Brasil, surgiu com a criação do Tribunal de Conflitos, em 1873. Teoria da Responsabilidade Com Culpa ou da Resp. Subjetiva (teoria civilista): se começou a admitir a responsabilidade sem a necessidade de expressa dicção legal, mas apenas para os atos de gestão do Estado, e não para os de império. ➢ Ou seja, quando o Estado praticava um ato de gestão, se submetia às regras de Direito Civil, logo, se submetia à Responsabilidade Subjetiva. Mas tinha que comprovar que o agente estatal agiu ao menos com culpa. (Comprovação de alguns elementos: conduta do Estado, dano e nexo de causalidade, além do elemento subjetivo: culpa ou dolo do agente). ➢ Caso o Estado viesse a praticar um ato de império seria irresponsável, já que este ato seria tutelado pelo direito público e imune à regulamentação do direito privado. ➢ O lesado então tinha a difícil missão de diferenciar, no caso concreto, o ato de império do ato de gestão, e de identificar a conduta dolosa ou culposa do agente público responsável pelo dano. ➢ Assim foi o surgimento da responsabilidade subjetiva. É chamada de fase civilista, porque a responsabilização do ente público ocorre nos moldes do direito civil. No Direito Brasileiro, a responsabilidade subjetiva tinha embasamento no Código Civil de 1916, ora revogado. ➢ Como era quase impossível para a vítima provar a culpa do agente, e, para manter uma maior proteção dos administrados, houve uma evolução doutrinária para a Teoria da Culpa do Serviço. Teoria da Culpa do Serviço/Teoria faute du service/Teoria da Culpa Administrativa/Teoria da Culpa Anônima/Teoria da Culpa Não Individualizada: Para maior proteção à vítima chegou-se à Responsabilidade Subjetiva baseada na culpa do serviço. ➢ Nesse caso, a vítima apenas deve comprovar que o serviço foi mal prestado ou prestado de forma ineficiente, ou, ainda, com atraso, sem necessariamente apontar o agente causador. Ou seja, o lesado tinha que demonstrar que o Estado tinha o dever legal de agir e falhou por: não prestar o serviço; prestar de forma insuficiente; prestar com atraso. ➢ Não se baseia na culpa do agente, mas do serviço como um todo, por isso denomina-se Culpa Anônima. “A evolução da responsabilidade civil do Estado é marcada pela busca crescente da proteção do indivíduo e da limitação da atuação estatal. Superada a fase da irresponsabilidade estatal, iniciou-se a etapa da responsabilização do Estado fundamentada na culpa dos agentes públicos, com a distinção entre atos de império e atos de gestão. Essa distinção ampara-se na Teoria da Culpa Individual.” (CESPE/2017/TRE-BA) Até hoje essa teoria é adotada no Brasil quando se trata de responsabilidade civil do Estado em razão de dano decorrente de omissão. Ademais, é necessário que o lesado demonstre o nexo de causa e efeito entre a falha do Estado e o seu prejuízo, razão pela qual não se pode alegar responsabilidade civil do Estado por roubos, furtos e outros delitos praticados por criminosos, sob o argumento genérico de que houve “falha na prestação do dever de segurança pública”, vez que o Estado não é onipresente, ou seja, ele não é capaz de evitar todos os ilícitos criminais. Por outro lado, caso seja demonstrada uma falha específica do Estado na prestação do serviço de segurança pública, haverá a responsabilidade de reparar os prejuízos decorrentes de sua omissão, como ocorre em situações de assaltos reiterados no mesmo local e horário, sem que o Poder Público adote as providências necessárias para evitá-los. Outro exemplo é quando ocorre um acidente em uma rodovia federal exclusivamente em decorrência da má conservação da via. Continuava difícil a tarefa de provar que o serviço não era bem prestado pelo Estado. Assim evoluiu-se para a Responsabilidade Objetiva. Teoria do Risco Administrativo ou Teoria da Responsabilidade Objetiva: Ainda que o Estado atue de forma legítima, ou seja, que os seus agentes não tenham a intenção (dolo) de causar prejuízo, nem tenham agido com negligência, imprudência ou imperícia (culpa), caso essa atuação estatal venha a causar prejuízo a um ou alguns poucos, esse prejuízo deve ser suportado pelo Estado, em face do risco inerente à atividade pública que, buscando propiciar benefícios para a coletividade, pode, de forma legítima, causar prejuízo a alguns, estando, nesse caso, obrigada a reparar o dano. ➢ Por ser mais poderoso, o Estado tem que arcar com um risco maior (Risco Administrativo). ➢ Ela convive com a Teoria da Culpa Administrativa. ➢ Essa teoria admite a exclusão da responsabilidade em determinadas situações em que haja a exclusão de algum dos elementos desta responsabilidade. ➢ A atividade administrativa tem como finalidade alcançar o bem comum e se trata de uma atividade potencialmente danosa. Por isso, surge a obrigação econômica de reparação de dano pelo Estado pelo simples fato de assumir o risco de exercer tal atividade, independentemente da má prestação do serviço ou da culpa do agente público faltoso. ➢ Conceito: é a obrigação de indenizar que incumbe a alguém em razão de um procedimento lícito ou ilícito que produziu uma lesão na esfera juridicamente protegida de outrem. Basta comprovar a mera relação causal entre o comportamento de um agente público e o dano, sendo indiferente, neste momento, se o agente público agiu ao menos com culpa. Um dos fundamentos é o princípio da Legalidade, assim como o Princípio da Isonomia e da Igualdade. ➢ Elementos: conduta (lícita ou ilícita), dano e nexo de causalidade (ou demonstração de que a conduta do agente foi preponderante e determinante para a ocorrência do evento danoso ensejador da responsabilidade). ➢ Obs. Se o agente público comprovar que agiu com diligência, prudência e perícia e que não teve a intenção de causar qualquer espécie de dano, ele estará isento de responsabilização pessoal perante o Estado, mas não influencia na responsabilidade do ente público. ➢ Obs2. Em caso de condutas lícitas, a conduta deve causar um dano anormal e específico (pois não se pode permitir que o ônus do benefício a toda coletividade recaia sobre uma pessoa ou pequeno grupo. Teoria da Responsabilidade Integral: O Estado seria responsável sempre que presente no evento lesivo. Ou seja, essa teoria não admite as excludentes de responsabilidade. ➢ Parte da premissa de que o ente público é garantidor universal, razão pela qual a simples existência do dano e do nexo causal é suficiente para que surja a obrigação de indenização. ➢ Não admite nenhuma das excludentes de responsabilidade. NÃO se adota a causalidade adequada, não se admitindo a exclusão do nexo causal, sendo o ente público responsável ainda que sua conduta concorra apenas remotamente para a prática do dano. ➢ Para parte da doutrina, essa Teoria é utilizada em situações excepcionais, a saber: ➢ Dano decorrente de atividade nuclear exercida pelo Estado ou autorizada por ele. (Abarca atos comissivos e omissivos) ➢ Dano ao Meio Ambiente: Se aplica aos atos comissivos. Em relação aos atos omissivos, o STF vem se posicionando a favor de que a Teoria do Risco Integral ainda se aplica. No entanto, a responsabilidadeobjetiva do Estado será de execução subsidiária, sendo necessário o prévio esgotamento das tentativas de cobrança de indenização do poluidor direto. ➢ Acidente de trânsito/Seguro DPVAT obrigatório: o Estado não figura no polo passivo da ação judicial. Esta é proposta em face de alguma seguradora que arcará com os prejuízos, utilizando os valores do seguro obrigatório. ➢ Crimes ocorridos a bordo de aeronaves que estejam sobrevoando o espaço aéreo brasileiro e danos decorrentes de ataques terroristas. OBS. Para Maria Sylvia Zanella di Pietro, não há distinção entre as teorias do risco integral e do risco administrativo. “De acordo com a Teoria do Risco, a demonstração de culpa não é necessária para se impor ao Estado responsabilidade objetiva.” (CESPE/2015/TRE-RS) – Isso porque, em ambas as Teorias do Risco, a demonstração de culpa não é necessária. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO NA CF/88 ➢ BRASIL: Resp. Objetiva, desde a Constituição de 1946, sendo que a CF88 não inovou o ordenamento jurídico, já que, a partir de 1946, com todas as constituições seguintes, o texto somente era aperfeiçoado para chegar ao texto hoje expresso. *Código Civil. Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo. Art. 37, §6º, CF. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade*, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. *É necessário que o agente público esteja no exercício da função (in officio) ou a pretexto de exercê-la (propter officium). (Oficialidade da Conduta) ➢ Exemplo: Um policial fardado, com a arma da corporação, que atira em pessoas envolvidas em uma briga de bar. Há responsabilidade estatal, ainda que o policial não esteja em serviço, pois guardava toda a aparência de estar exercendo sua função. Nesse caso, entendesse que há fato administrativo e que a Administração concorreu com culpa in elegendo (culpa na escolha do agente público) ou culpa in vigilando (culpa na fiscalização de sua atuação). ➢ Exemplo que está no livro do Matheus Carvalho: determinado policial militar que, mesmo estando fora do horário de serviço e sem farda, atira em alguém com a arma da corporação, com a intenção de separar uma briga de rua, gerando sua conduta responsabilização do ente estatal. *OBS. Recente alteração na LINDB: dispõe que o agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas, em caso de dolo ou erro grosseiro. É como se o dispositivo, tacitamente, retirasse da esfera de responsabilização do agente público os atos praticados com mera culpa, ao exigir o dolo ou erro grosseiro para sua responsabilização. AGENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL ESTATAL Abarca todos que atuam na prestação de serviços públicos. As Sociedades de Economia Mista e as Empresas Públicas somente se incluem nesse dispositivo quando criadas para a prestação de serviços públicos. A responsabilidade civil do Estado não abarca as empresas estatais que exploram atividade econômica. Também se submetem à responsabilidade civil estatal os particulares prestadores de serviço público por delegação, como é o caso das concessionárias e permissionárias de serviços. Nesse caso, a responsabilidade é objetiva e direta, e o Estado tem responsabilidade subsidiária (e objetiva) por esta atuação. (Ou seja, somente é possível a responsabilização do Estado após o esgotamento das tentativas de pagamento por parte da empresa) (FCC/2015/TRT15 – Se o Estado não fiscalizar as atividades pode ser demandado para Responsabilidade Solidária) Obs. Em nome do Princípio da Isonomia, ainda que o dano seja causado a terceiro não usuário do serviço público, a responsabilidade também será objetiva (STF/2009). Obs. Princípio da Impessoalidade: a responsabilidade é atribuída à pessoa jurídica, já que o ato praticado pelo agente não é dele, mas sim da pessoa que ele representa. “Se um servidor de um TRE causar dano à 3º, eventual ação de reparação deve ser proposta em face da União, já que o TRE é apenas um órgão federal.” (CESPE/2009/TRE-PR) – Lembrando que a Defesa será feita pela AGU (Lembrar que os órgãos não respondem pelos danos, mas sim os entes aos quais pertencem, já que os órgãos não têm personalidade jurídica e não são sujeitos de direitos e deveres). Obs. A definição de agente público abarca todos aqueles que atuam em nome do Estado, ainda que temporariamente e sem remuneração, seja a qualquer título, com cargo, emprego, mandato ou função. Abarca os agentes políticos, os servidores estatais (sejam eles temporários, celetistas ou estatutários), e também os particulares em colaboração com o Poder Público. Abarca inclusive os atos de terceirizados, contratados por interposta pessoa para prestar serviços nos órgãos públicos. “Exemplo: Se um empregado de uma terceirizada contratada pela Adm. para prestar serviço de transporte de materiais causar dano à 3º.” (CESPE/2015/TRE-GO) Responsabilidade Objetiva: conduta + dano + nexo de causalidade Conduta: deve ser de um agente público que atue nesta qualidade ou, ao menos, se aproveitando da qualidade. (CESPE = FATO ADM.). Obs. O entendimento majoritário da doutrina é que a conduta que enseja a responsabilidade objetiva do ente público é a conduta comissiva. Em caso de omissão dos agentes, a responsabilidade se configura subjetiva. “Um ato, ainda que lícito, praticado por agente público e que gere ônus exorbitante a um cidadão, pode resultar em responsabilidade civil do Estado.’ (CESPE/2016/ANIVSA/Técnico Adm.) Dano: são os danos jurídicos, ou seja, dano a um bem tutelado pelo direito, ainda que exclusivamente moral. No caso de dano decorrente de ATO LÍCITO, a responsabilidade do ente estatal depende da comprovação de que este dano foi anormal e específico. Isto porque, a responsabilização do Estado por conduta lícita praticada por seus agentes se lastreia no Princípio da Isonomia. Assim, se em uma atuação que visa ao benefício de toda a coletividade, o ente público causa um prejuízo diferenciado a uma pessoa ou pequeno grupo, para evitar que essa pessoa (ou grupo) suporte sozinha o ônus do benefício coletivo, surge o dever de indenizar do Estado. Então os danos normais, genéricos, que decorram de condutas lícitas do ente público resultam do chamado Risco Social, ao qual todos os cidadãos se submetem para viver em sociedade. Se o dano é genérico, todo mundo tem que suportar. (Exemplo: poluição das grandes cidades). Obs. Um mesmo ato pode ensejar um dano anormal a alguns administrados e não a outros. (Teoria do Duplo Efeito dos Atos Administrativo). – Não se pode embasar um pedido de indenização no fato de outrem ter sido indenizado, ainda que pelo mesmo ato. Nexo de Causalidade: Como regra, o Brasil adota a Teoria da Causalidade Adequada, ou seja, o Estado responde, desde que sua conduta tenha sido determinante para o dano. ➢ Assim, se condutas posteriores, alheias à vontade do Estado, causarem o dano, ocorre a teoria da interrupção do nexo causal, que exclui a responsabilidade estatal. ➢ Interrompe-se o nexo de causalidade todas as vezes em que a atuação do agente público não for suficiente, por si só, a ensejar o dano ora reivindicado. São as chamadas hipóteses excludentes de responsabilidade do Estado: Caso Fortuito, Força Maior e Culpa Exclusiva da Vítima. ➢ Obs. Culpa Concorrente: apenas reduz o valor da indenização (não é uma excludente da responsabilidade estatal). ➢ Caso Fortuito/Força Maior: Acontecimento imprevisível,inevitável e desejado. (Caso Fortuito: decorre de ato humano/Força Maior: decorre da natureza) ➢ Caso Fortuito: Há corrente no sentido de que somente o Fortuito Externo exclui a responsabilidade. “Para Di Pietro, o CASO FORTUITO é quando o dano decorre de ato humano. Por isso, nem sempre será uma excludente de responsabilidade civil do Estado, pois se houver falha específica do Poder Público, este terá o dever de indenizar.” (CESPE). RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO DO ESTADO Aplica-se a Responsabilidade Subjetiva. Não depende da demonstração de dolo ou culpa do agente público, mas sim da responsabilização decorrente da Culpa Anônima (má prestação do serviço, prestação ineficiente ou prestação atrasada, ensejadora do dano). Elementos da Responsabilidade do Estado em caso de omissão de seus agentes: comportamento omissivo, dano, nexo de causalidade e culpa do serviço público. (Depende da ocorrência de ato omissivo ilícito, ou seja, a omissão do agente deve configurar a ausência do cumprimento de seus deveres legalmente estabelecidos – negligência na atuação estatal). Assim, o Estado não responde por fatos da natureza e por atos de terceiros ou de multidões (mas cabe à Adm. o ônus de provar que deve ser afastada sua responsabilidade) “A responsabilidade do Estado por conduta omissiva caracteriza-se mediante a demonstração de culpa, de dano e de nexo de causalidade”. (CESPE/2017/TRE-PE) – Mas lembrar que é a Culpa Anônima (Culpa de Serviço) e não do agente ou negligência do agente. *Princípio da Reserva do Possível: para que haja a responsabilização do Estado, deve- se analisar se seria possível ao ente estatal impedir a ocorrência do dano, dentro de suas possibilidades orçamentárias. Tratando-se de ato omissivo do Poder Público, a responsabilidade civil é SUBJETIVA, pelo que exige dolo ou, pelo menos, culpa, numa de suas três vertentes: negligência, imprudência ou imperícia, não sendo, portanto, necessário individualizá-la, dado que pode ser atribuída ao serviço público de forma genérica. OBS. Precisa de nexo causal entre o dano e a omissão estatal (conduta). *Omissão Genérica (Falha do Serviço): Responsabilidade Subjetiva. *Omissão Específica: Responsabilidade Objetiva. *Teoria do Risco Criado (Risco Suscitado): Em algumas circunstâncias, o Estado cria situações de risco que levam à ocorrência de dano. Por meio de um comportamento positivo, o Estado assume grande risco de gerar dano a particulares. Assim, nesses casos, o Estado responde objetivamente por ele, ainda que não demonstre conduta direta de um agente público. As situações mais corriqueiras decorrem da guarda de pessoas ou de coisas. A Doutrina mais moderna diz que, todas as vezes que o Estado detém alguém ou alguma coisa sob sua custódia, está-se diante de uma situação de RISCO DIFERENCIADO quanto à pessoa. Isso inclui detentos que fogem e causam danos logo após a fuga, porque, neste caso, há a extensão da custódia. O risco criado, que também denominamos Risco Suscitado, gera responsabilidade objetiva do estado, pelos danos causados ao custodiado e pelo custodiado. ➢ O Estado responderá ainda que haja uma situação de caso fortuito, bastando a comprovação de que este fortuito só foi possível em virtude da custódia do ente estatal (Fortuito Interno – caso fortuito). ➢ À contrário senso, se um preso é atingido por um raio dentro do presídio, a princípio, não haveria responsabilização do Estado, haja vista decorrer de um fortuito externo (ou força maior), ou seja, totalmente alheio e independente da situação da custódia. ➢ A responsabilização, nesses casos, dependerá somente da comprovação de que a custódia é uma condição sem a qual o dano não teria ocorrido (Teoria da Conditio sine qua non), mesmo que situações supervenientes tenham contribuído para o dano. ➢ “Ex. Morte de um detento causada por um 3º durante rebelião.” (CESPE/2011/TRE-ES)(FCC/2016/Pref. Teresina-PI). “Determinada professora da rede pública de ensino recebeu ameaças de agressão por parte de um aluno e, mais de uma vez, alertou à direção da escola, que se manteve omissa. Nesse caso, caso se consumam as agressões, a indenização será devida pelo Estado, desde que presentes os elementos que caracterizem a culpa.” (CESPE/2013/TRE-MS). “Maria, professora da rede pública, recebeu de um aluno ameaças de agressão e, mais de uma vez, avisou à direção da escola, que se manteve inerte. Com a consumação das agressões pelo aluno, a professora ajuizou ação indenizatória contra o Estado. Nesse caso, a responsabilidade do Estado derivou do descumprimento do dever legal a ele atribuído, de impedir a consumação do dano.” (CESPE/P2017/TRE- BA). PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO “Não precisa ser necessariamente via judicial, pois a Adm. está legitimada a, por si só, reconhecer a sua responsabilidade e definir o valor.” (CESPE/2010/TRE- MT) “No caso da via adm., a Adm. é obrigada a pagar o montante indenizatório de uma vez só, em dinheiro, de maneira a recompor plenamente o bem ou o interesse lesado.” (CESPE/2011/STM) RESPONSABILIDADE DO AGENTE PÚBLICO A responsabilidade do agente público é subjetiva, ou seja, depende de comprovação de dolo ou, pelo menos, culpa, dele, e só se procede mediante ação de regresso do Estado. “Em regra, o agente público só responde quando atua nessa qualidade, ou seja, em razão da função ou no exercício dela. Mas, excepcionalmente, responderá mesmo por conduta fora das suas funções e fora do expediente.” (CESPE) – Ex. do Policial. “O agente público deve ter agido nessa qualidade, sendo irrelevante o fato de ele atuar dentro, fora ou além de sua competência legal.” (CESPE/2013/TRE-MS). “O Estado responderá objetivamente, ainda que o agente esteja acobertado por causa excludente de ilicitude PENAL.” (CESPE) – Nesse caso, o agente não poderá ser responsabilizado em ação de regresso, mas o Estado responderá normalmente. De acordo com o STF, não é possível ação diretamente em face do agente público. E isso decorre da Teoria da Dupla Garantia: garantia à vítima e ao agente. Decorre também do Princípio da Impessoalidade e Teoria do Órgão. Já o STJ, em 2014, se manifestou em sentido diverso e admitiu a ação de reparação civil pela vítima diretamente em face do agente público, em razão da busca por economicidade e eficiência processual. Nesses casos, a vítima necessariamente terá que comprovar o dolo ou, ao menos, a culpa, do agente público, para vencer a lide. *A matéria ainda é controversa. *Discute-se a possibilidade de denunciação à lide. A doutrina majoritária e o STF entendem que não é possível, pois geraria uma ampliação subjetiva do mérito, acarretando prejuízo à celeridade na prestação jurisdicional. *O STJ vem admitindo a denunciação à lide deixando claro que o Estado não está obrigado a fazê-lo. O fundamento é a garantia de economia processual, eficiência e celeridade. *NOVO CPC (art. 125): Com o novo CPC, a denunciação à lide passa a ser uma opção do réu e não uma exigência, conforme já era pacificado pela Doutrina. PRAZO PRESCRICIONAL A prescrição do direito de se impetrar ação de reparação em face do Estado é quinquenal, conforme estabelecido pelo artigo 1º, do Decreto 20.910/32 (STJ). (Por um tempo, o STJ fixou o entendimento de que seria de 3 anos esse prazo, nos termos do Código Civil, admitindo que ele teria revogado o Decreto acima mencionado. Porém, depois voltou a reconhecer o estabelecido no Decreto). A Doutrina também entende que é de 5 anos, pois o Código Civil é lei geral e, portanto, não poderia alterar lei especial. Com relação ao prazo prescricional para ação regressiva, o art. 37, §5º, da CF dispõe que são imprescritíveis as ações de ressarcimentos. No entanto, recentemente, o STF decidiu, com repercussão geral,que a imprescritibilidade do art. 37, §5º, CF, diz respeito apenas a ações de ressarcimento de danos ao erário decorrentes de atos praticados por qualquer agente, servidor ou não, tipificados como ilícitos dolosos de improbidade ou como ilícitos penais. ➢ Assim, segundo esse entendimento atual do STF, exclui-se da imprescritibilidade os danos decorrentes de ilícitos civis e os atos de improbidade administrativa culposos. Também se exclui da imprescritibilidade, a ação de ressarcimento ao erário baseada em decisão de Tribunal de Contas, pois as decisões desses tribunais que resultem imputação de débito ou multa têm eficácia de título executivo, e em momento algum analisam a existência ou não de ato doloso de improbidade administrativa. RESPONSABILIDADE POR ATOS LEGISLATIVOS A regra que prevalece em relação a atos legislativos é a da irresponsabilidade, porque a edição de leis, por si só, não tem o condão de acarretar danos indenizáveis aos membros da coletividade, em face de sua abstração. Leis de efeitos concretos (= atos administrativos) Algumas leis, embora promulgadas pelo Legislativo, ostentam a qualidade de lei em sentido formal, mas não em sentido material, configurando verdadeiros atos administrativos. Delas decorrem responsabilidade civil do ente que as emanou, nos mesmos moldes da responsabilidade civil do Estado por atos administrativos, com base na teoria do risco administrativo. Esse tipo de lei atinge pessoas determinadas, fugindo às características de abstração e generalidade inerentes aos atos administrativos, e acabam acarretando ônus não suportados pelos demais membros da coletividade. Leis em sentido formal e material (= atos legislativos típicos) São normas gerais e abstratas, e, como regra geral, não importam em responsabilidade civil do Estado por sua edição, uma vez que, normalmente, não causam dano específico a ninguém e o prejuízo eventualmente causado será geral à coletividade. Ademais, a função legislativa e seus atos configuram parcela de soberania do Estado com o poder de alterar e criar situações fáticas e jurídicas, com limite exclusivamente constitucional. Excepcionalmente, é possível a responsabilidade do Estado por atos legislativos, desde que decorra, diretamente da lei, dano específico a alguém, e, cumulativamente, o ato normativo seja declarado inconstitucional. ➢ Obs. A Doutrina Majoritária entende que a inconstitucionalidade da lei deve ser declarada por meio de ação direta, em controle concentrado exercido pelo STF, já que tem efeito erga omnes. RESPONSABILIDADE DO ESTADO POR ATOS JUDICIAIS Judiciário na função atípica administrativa: responsabilidade civil objetiva fundamentada na teoria do risco administrativo. Judiciário na função típica: o entendimento majoritário se funda na irresponsabilidade do ente público por atos jurisdicionais típicos. Isto porque, o exercício da função jurisdicional também retrata uma parcela de soberania do Estado, não sujeita a responsabilização geral. “No que se refere a responsabilidade civil por atos judiciais, segundo a jurisprudência majoritária, a regra é a irresponsabilidade civil do Estado.” (CESPE/2010/TRE-MT) *EXCEÇÕES: tanto no processo civil quanto no processo penal. No processo penal: a exceção que enseja a responsabilização, pode decorrer tanto de ato dolo quanto culposo. São duas hipóteses: a do condenado por erro judiciário e a da pessoa que ficar presa além do tempo fixado na sentença. ➢ Art. 5º, LXXV, CF. O Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença. ➢ Nesses casos, quando se está diante de ato jurisdicional criminal, o ente público assume o risco de privar a liberdade dos indivíduos como forma de punição e, portanto, deve-se responsabilizar pelos prejuízos indevidos que decorram desse risco. ➢ Trata-se de responsabilidade objetiva e cabe ação regressiva em face do magistrado se demonstrado dolo ou erro grosseiro dele. Já no processo civil: a exceção que enseja a responsabilização, somente pode decorrer de ato doloso. O art. 143 do Novo CPC dispõe que o juiz responde por perdas e danos quando, no exercício de suas funções, procede dolosamente, inclusive com fraude, bem como quando recusa, omite ou retarda, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício ou a requerimento da parte.
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