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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA MULTICAMPI DE CIÊNCIAS MÉDICAS DO RIO GRANDE DO NORTE MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO, TRABALHO E INOVAÇÃO EM MEDICINA POLICENA VIEIRA DE LUCENA SILVA ATITUDES PROFISSIONAIS FRENTE AO FENÔMENO DO SUICÍDIO E NOTIFICAÇÃO DE CASOS NO SERIDÓ POTIGUAR CAICÓ - RN 2020 1 POLICENA VIEIRA DE LUCENA SILVA ATITUDES PROFISSIONAIS FRENTE AO FENÔMENO DO SUICÍDIO E NOTIFICAÇÃO DE CASOS NO SERIDÓ POTIGUAR Texto de qualificação apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Educação, Trabalho e Inovação em Medicina da Escola Multicampi de Ciências Médicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como cumprimento parcial das exigências para a obtenção do título de Mestre em Educação, Trabalho e Inovação em Medicina. Área de concentração: Determinação do Processo saúde-doença Orientador: Prof. Dr. Dulcian Medeiros de Azevedo CAICÓ - RN 2020 2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Dr. Paulo Bezerra - EMCM/RN Silva, Policena Vieira de Lucena. Atitudes profissionais frente ao fenômeno do suicídio e notificação de casos no Seridó Potiguar / Policena Vieira de Lucena Silva. - Caicó, 2021. 78f.: il. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Escola Multicampi de Ciências Médicas, Programa de Pós- Graduação em Educação, Trabalho e Inovação em Medicina, Caicó, 2021. Orientador: Prof. Dr. Dulcian Medeiros de Azevedo. 1. Tentativa de suicídio - Dissertação. 2. Atitude do pessoal de saúde - Dissertação. 3. Assistência hospitalar - Dissertação. 4. Equipe de assistência ao paciente - Dissertação. I. Azevedo, Dulcian Medeiros de. II. Título. RN/UF/Biblioteca Setorial Dr. Paulo Bezerra CDU 616.895 Elaborado por LEHI AGUIAR BEZERRA - CRB-15/826 3 A calma e a resignação adquiridas na maneira de considerar a vida terrestre e a confiança no futuro dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio. - Kardec em “O evangelho segundo o espiritismo” 4 Aos meus pais pelo apoio incondicional em todas as escolhas de minha vida. Ao meu esposo, pelo amor que transborda. Aos meus filhos, para eles todo esforço e amor do mundo 5 AGRADECIMENTOS A oportunidade de expressar em palavras a gratidão por esse momento de superação e felicidade é algo muito especial, foram dias de luta que enfim alcancei os dias de glória os quais só me restam agradecer... À Deus, pela saúde, disposição e por tudo que me permitiu chegar até aqui, inclusive pelas pessoas que surgiram em meu caminho,por ser minha fortaleza e meu amparo em todos os momentos da minha vida, por me dar sabedoria e fé nos dias difíceis, principalmente durante esta caminhada de mestrado. Ao meu companheiro, Fábio Silva, pela paciência, apoio e por sempre me incentivar a ir mais longe. Por ter dado o seu melhor quando as coisas não estiveram bem. Obrigada por estar aqui e fazer parte de cada conquista nossa. Aos meus filhos, Davi e Caio que me desafiam diariamente a ser uma pessoa melhor e que tentam, com toda sua esperteza, entender minhas ausências. Aos meus pais, Severina e Antônio, por terem me proporcionado o acesso a educação e por me ensinarem que só o estudo me levaria às conquistas da vida e por sempre me conduzirem pelo caminho do bem Aos meus irmãos, Robespierre, Anaximandro e Suzanne (prirmã)que apesar da distância geográfica que separa nossa convivência estão sempre torcendo e vibrando comigo a cada conquistacom amor e afeto dedicados. Em especial à minha irmã, Noêmia, a caçula mais querida. Obrigada pela atenção, pelo amor e por se fazer presente em todos os momentos. Não foi diferente nesses últimos meses, você sempre me ouviu pacientemente e me ajudou com toda sua inteligência, esperteza,carinhoe compreensão. Acredito ter sido a grande sorte em minha vida ter o privilégio de ser sua irmã. À Maura, minha irmã de coração e alma. Suas palavras, mimos, comidas, risadas e amizade sempre me acompanham em todas as ocasiões do meu cotidiano. Há reflexos 6 seus em mim e fico muito feliz por isso. Obrigada por fazer dessa vida um lugar melhor de se viver. À minha sogra, Maria, pelo zelo ao nosso lar e aosdemais familiares que, de perto ou de longe, estão sempre na torcida e vibrando com minhas conquistas A amiga e colega de curso de enfermagem que ficou para a vida, Raquel Moreira que sempre está disposta a ajudar em todos os momentos. Ao estatístico Marquione pela orientação e disponibilidade, sua colaboração foi de suma importância neste trabalho. Obrigada pelo apoio. Aos meu orientador, Dulcian Azevedo, pela paciência, confiança e conhecimento compartilhado. Por acreditar em mim. Por não ter me deixado desistir. Aos membros da Banca Examinadora da Qualificação: Maura Sobreira e Tiago Pinto pelas críticas construtivas e sugestões que permitiram que eu aprimorasse este trabalho. A todos os professores da minha trajetória como aluna, desde a escola até a Pós- graduação, pela dedicação e conhecimentos para uma formação profissional qualificada. Aos meus/minhas colegas de trabalho daUHRS de Caicó, pela participação e confiança em mim, mesmo diante de tantas dúvidas e angústias no cotidiano do nosso trabalho. Obrigada. Às oportunidades que a vida me trouxe e às pessoas que passaram por mim e deixaram um pouquinho de si. Muito obrigada a todos! 7 RESUMO A tentativa de suicídio é um ato autodirecionado, não fatal e potencialmente prejudicial concebido para resultar em morte, podendo ou não resultar em lesões. Dentre os inúmeros casos de surtos psiquiátricos que são admitidos no hospital está o paciente suicida, com fração considerável de recidiva. Sendo então o acolhimento à pessoa com tentativa de suicídio fundamental, pois se realizado com segurança, prontidão e qualidade é possível determinar a aceitação e a adesão do paciente ao tratamento. Objetivou-se avaliar as atitudes de profissionais de saúde frente ao paciente vítima de lesão autoprovocada com intenção suicida; analisar o perfil das vítimas de notificação por lesão autoprovocada com intenção suicida na Unidade Hospitalar Regional do Seridó, no período de 2015 a 2019; desenvolver uma cartilha sobre o manejo da vítima de TS para melhor condução pela equipe multiprofissional. Trata-se de uma pesquisa quantitativa, utilizando questionário de afirmações autoaplicável, em que as respostas foram analisadas por meio de estatística inferencial e avaliadas as atitudes da equipe multiprofissional. O instrumento foi aplicado a 104 profissionais no período de agosto a novembro de 2019 nos setores de pronto socorro e clínica médica da UHRS Telecila Freitas Fontes, Caicó/RN, demonstrando que os profissionais de nível superior têm atitudes mais proativas em relação à vítima de suicídio comparado aos profissionais de nível médio. Foram analisadas 264 fichas de notificação compulsória por lesão autoprovocada, preenchidas entre os anos de 2015 a 2019, evidenciando 59,1% do total de tentativas de suicídio na cidade de Caicó/RN, com maior ocorrência entre mulheres (62,1%), solteira (51,9%) e uso de substâncias exógenas (51,33%). Os dados fortalecem a necessidade de reflexão para o alto índice de suicídios e tentativas de suicídio,apontando a importância da organização da rede de saúde como um todo e a qualificação dos profissionais frente à complexas tomadas de decisão, compreendendo o agravo na saúde pública. Palavras-chave:Tentativa de suicídio.Atitude do Pessoal de Saúde.Assistênciahospitalar.Equipe de AssistênciaaoPaciente. 8 ABSTRACT Suicide attemptis a self-directed, non-fatal andpotentiallyharmfulactdesignedtoresult in death, whetherornot it canresult in injury.Amongthecountless cases ofpsychiatricoutbreaksthat are admittedtothe hospital isthesuicidalpatient, with a considerablefractionofrecurrence. Therefore, welcomingthepersonwith a fundamental suicide attempt, becauseifperformedsafely, promptlyandquality, it ispossibleto determine thepatient'sacceptanceandadherencetotreatment. The objectivewastoevaluatetheattitudesofhealthprofessionalstowardsthepatientvictimof self-harmwithsuicidalintent; analyzethe profile ofvictimsofnotification for self- harmwithsuicidalintentattheSeridó Regional Hospital Unit, in theperiodfrom 2015 to 2019; develop a bookletonthe management ofthevictimof TS for better management by the multiprofissional team. It is a quantitativeresearch, using a self- administeredaffirmationquestionnaire, in whichtheanswerswereanalyzedusinginferentialstatisticsandtheattitudesofthemultidisci plinaryteamwereevaluated. The instrumentwasappliedto 104 professionalsfrom August toNovember 2019 in theurgencyandemergencysectorsand medical clinicof UHRS TelecilaFreitasFontes, Caicó / RN, demonstratingthathighereducationprofessionalshave more proactiveattitudestowardsthevictimof suicide comparedtomid-levelprofessionals. 264 formsofcompulsorynotification for self-harmwereanalyzed, completedbetweentheyears 2015 to 2019, showing 59.1% ofthe total suicide attempts in thecityofCaicó / RN, with a higheroccurrenceamongwomen (62.1%), single (51.9%) and use ofexogenoussubstances (51.33%). The data reinforcetheneed for reflectiononthe high rate of suicides and suicide attempts, pointing out theimportanceoftheorganizationofthehealth network as a wholeandthequalificationofprofessionals in the face ofcomplexdecision making, includingthepublichealth problem. Keywords:Attitudeofhealthpersonnel.Suicide attempt.Hospital Care.PatientCare Team. 9 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABP- Associação Brasileira de Psiquiatria CM- Clínica Médica DP- Desvio-Padrão EMCM/UFRN – Escola Multicampide Ciências Médicas do Rio Grande do Norte EPS – Educação Permanente em Saúde ESF – Estratégia de Saúde da Família FACISA – Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi MS – Ministério da Saúde PNEPS – Política Nacional de Educação Permanente em Saúde RN _ Rio Grande do Norte UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte OMS – Organização Mundial da Saúde ONU – Organização das Nações Unidas PS- Pronto Socorro QUACS- Questionário de Atitudes Frente ao Comportamento Suicida RSRN – Região de Saúde do Estado do RN SESAP – Secretaria Estadual de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Norte SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação SPRC _ Suicide Prevention Resource Center SPSS _ StatisticalPackage for the Social Sciences SUS – Sistema Único de Saúde TS – Tentativa de Suicídio UBS – Unidade Básica de Saúde 10 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Porcentagem de profissionais por categoria que responderam ao QuACS. ..................................................................................................................... 42 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Notificações de casos de autoagressão/TS de acordo com o ano de notificação na UHRS Telecila Freitas Fontes. ........................................................... 35 Tabela 2 - Distribuição absoluta e percentual dos usuários, segundo faixa etária. ... 36 Tabela 3 - Distribuição absoluta e percentual das notificações de casos de autoagressão/TS segundo sexo e situação conjugal. UHRS, Caicó-RN, 2019. ........ 37 Tabela 4 - Número absoluto e porcentagem de notificações de casos de autoagressão/TS no UHRS distribuídos por cidade, no período de 2015 a 2019. .... 38 Tabela 5 - Ocupação dos indivíduos que tentaram suicídio, número absoluto e porcentagem. ............................................................................................................ 40 Tabela 6 - Tentativa anterior versus meio de agressão.Tentativa anterior versus meio de agressão. ..................................................................................................... 41 Tabela 7 - Caracterização dos profissionais participantes do estudo (n=104), Caicó, RN, Brasil. ................................................................................................................. 43 Tabela 8 - Pontuação geral dostrês fatores de avaliação da “Escala de Atitudes em relação comportamento suicida”- QUACS................................................................. 45 Tabela 9 – Comparação da pontuação dos três fatores de avaliação da “Escala de Atitudes em relação comportamento suicida” – QUACS entre o nível superior e o nível médio. ............................................................................................................... 46 Tabela 10 - Comparação da pontuação dos três fatores de avaliação da “Escala de Atitudes em relação comportamento suicida” – QUACS entre os Enfermeiros e os Técnicos de Enfermagem.......................................................................................... 46 Tabela 11 - Comparação da pontuação dos três fatores de avaliação da “Escala de Atitudes em relação comportamento suicida” – QUACS entre a equipe de enfermagem e os demais profissionais de nível superior .......................................... 47 Tabela 12 - Comparação da pontuação dos três fatores de avaliação da “Escala de Atitudes em relação comportamento suicida”– QUACS entre os profissionais do setor do Pronto Socorro e da Clínica Médica. .................................................................... 48 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13 2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 17 3 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 18 3.1 O FENÔMENO SUÍCIDIO E SUA EPIDEMIOLOGIA .......................................... 18 3.2 O SUICÍDIO E AS INICIATIVAS ESTATAIS ....................................................... 22 3.3 ATITUDES E ATUAÇÃO PROFISSIONAL FRENTE AO SUICÍDIO ................... 25 4 METODOLOGIA .................................................................................................... 30 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 34 5.1 NOTIFICAÇÃO DE CASOS E TENTATIVAS DE SUICÍDIO ............................... 34 5.2 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES E RESULTADOS DO QUACS ..... 42 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 50 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 52 APÊNDICES ............................................................................................................. 60 ANEXOS ................................................................................................................... 77 13 1INTRODUÇÃO A ação de tirar a própria vida de maneira voluntária e intencional, em pleno conhecimento e com expectativade resultadofatal, caracteriza o suicídio. Tema bastante complexo e estigmatizante que representa um grande problema de saúde pública em todo o mundo, sendo digno de reflexão por parte de profissionais de várias áreas de atuação (COELHO; SOUZA;ROBERTO, 2013). O suicídio é um fenômeno determinado biopsicologicamente, influenciado por aspectos socioculturais que cercam cada indivíduo de maneira singular. Suas causas ainda são motivo de curiosidade e de investigação (OLIVEIRA et al., 2016). Estudos referem dados que indicam para o ano de 2020 aproximadamente 1,53 milhões de mortes por suicídio e um número de 10 a 20 vezes maior de tentativas. Isso representa uma morte a cada 40 segundos e uma tentativa de suicídio a cada meio segundo (OPAS, 2018).No último boletim divulgado em setembro de 2019, o Ministério da Saúde demonstrou que de 2007 a 2016, 106.374 pessoas morreram em decorrência do suicídio, e em 2016, o coeficiente de mortalidade por suicídio foi de 5,8 por 100 mil habitantes. A intoxicação foi responsável por 18% das mortes, enquanto que o enforcamento foi o método mais usado (60%) (OMS, 2019; OLIVEIRA et al., 2017). Em 2006, o Ministérioda Saúde instituiu as Diretrizes Nacionais paraPrevenção do Suicídio, que destacam, entre seusobjetivos, o desenvolvimento de estratégias depromoção da saúde mental, qualidade de vida,educação, proteção, recuperação da saúde eprevenção de danos. Estas diretrizes incentivam acoleta de dados epidemiológicos sobre os casosde suicídio, bem como a elaboração de projetosque possam qualificar a prestação de serviços aindivíduos que tentam contra a própria vida (BRASIL, 2006). O risco de suicídio aumenta de acordo com o número de tentativas e também está associado a intervalos de tempo menores entre essas tentativas. Dentre os pacientes atendidos em setores de emergência por tentativa de suicídio, estima-se que 30% a 60% tiveram tentativas prévias e que 10% a 25% tentarão novamente no prazo de um ano. As taxas de prevalência de tentativas de suicídio ao longo da vida variam de 0,4% a 4,2% (GUTIERREZ, 2014). 14 A redução do suicídio é uma das prioridades da agenda global de saúde e tem como meta: reduzir em 10% a taxa de suicídio dos países até 2020. Recomenda-se aos países estratégias de prevenção multissetorial, que envolvam saúde, educação, trabalho, assistência social e justiça (BRASIL, 2017). Dentre os desafios para o setor saúde estão: melhoria da notificação da violência, com qualificação dos registros e maior uso da informação; identificação das melhores estratégias para integração dos setores que compõem as redes de atenção e proteção; contribuir efetivamente para evitar que as tentativas de suicídio se repitam e o suicídio se concretize; promover articulação intrassetorial e intersetorial com vigilância epidemiológica, serviços de urgência e emergência, de saúde mental e da atenção básica, assistência social, educação e trabalho; fomento à formação de redes locais de vigilância, prevenção e controle; capacitação/educação permanente (dentro e fora do setor saúde); comunicação responsável: sensibilização de profissionais, de mídia e disseminação de boas práticas; mobilização da comunidade, conscientização e redução de estigmas; considerar especificidade e vulnerabilidades de grupos e territórios (LIMA, 2017). As taxas de mortalidade por suicídio podem aumentar ou diminuir de acordo com as atitudes do pessoal envolvido no atendimento. Como as tentativas de suicídio são tidas como atos voluntários e evitáveis, a equipe age com preconceito e estigmatização, em geral, esses pacientes são liberados sem avaliação adequada, não solicitam avaliação psiquiátrica e não encaminham para serviço de saúde mental (DIEHL; LARANJEIRA, 2009). A maneira pela qual os profissionais compreendem o fenômeno suicídio é evidenciada pela comunicação, pois é através dela que serão transmitidos os sentimentos de empatia, solidariedade e aceitação. Destaca-se que os sentimentos de rejeição poderão ser expressos também através da comunicação (IGUE; ROLIM; STEFANELLI, 2002). O profissional de saúdeao levar para a sua prática profissional sua maneira de pensar apresenta o risco de não se conduzir adequadamente determinadas situações no trabalho, dependendo do grau de desinformação e incompreensão a respeito de muitas temáticas, inclusive o suicídio. Sobre essa questão, vários estudiosos realizaram pesquisas e instrumentos foram criados para mensurar/avaliar as atitudes referentes ao fenômeno suicídio e a atitude dos profissionais de saúde no atendimento a essa situação (NASCIMENTO, 2011). 15 No Brasil, destaca-se um instrumento chamado Questionário de Atitudes Frente ao Comportamento Suicida (QuACS), de abordagem individual e autoaplicativa, que mensura as atitudes de profissionais de enfermagem diante do comportamento suicida, desenvolvido por Botega e colaboradores, e tem sido aplicado em pesquisas com estudantes e profissionais médicos e enfermeiros (BOTEGAet al., 2005). O termo atitude foi utilizado na perspectiva da psicologia social e da psicologia da saúde e compreende um conjunto de sentimentos e cognições de um indivíduo frente a um objeto qualquer. Estes sentimentos e cognições são capazes de influenciar o comportamento do sujeito perante este objeto, no caso a tentativa de suicídio (SILVA, 2014). A Unidade Hospitalar Regional do SeridóTelecila Freitas Fontes, situada no município de Caicó-RN, recebe um número considerável de pacientes que tentam suicídio, com notificações que aumentam a cada ano (2015 = 21, 2016 = 39, 2017 = 37, 2018 = 61 e 2019 = 106 registros), conforme dados do setor epidemiológico do Hospital. Conforme a vivência clínica da autora do trabalho, enquanto enfermeira assistencialista deste hospital, este número pode ser maior nos anos subsequentes. O planejamento das práticas de saúde deve ser direcionado para o acesso universal dos serviços de saúde, almejando-se a integralidade do cuidado. O acolhimento representa a mais importante tecnologia de um serviço, pois possibilita a escuta ativa pelo profissional, favorecendo a empatia, oferecendo-lhe cuidado integral com respostas adequadas e resolutividade, no âmbito intra e extra hospitalar, articulando as possibilidades oferecidas na rede de serviços do sistema de saúde e social (AZEVEDO; BARBOSA, 2007; FRANÇA, 2005). A atenção integral ao paciente hospitalizado fornece uma abordagem completa e holística de cada profissional que ao assistir o paciente, proporciona conforto, segurança e respeito, visando uma vida digna a uma pessoa com necessidades de saúde que, por determinado período de sua vida, está precisando de cuidados hospitalares. Os pequenos cuidados que vão se complementando, de maneira mais ou menos consciente e negociada, entre os vários trabalhadores que circulam no hospitalproduzemuma rede de atos, procedimentos, fluxos, rotinas e saberes, em um processo contínuo (MOTA; SILVA; SOUZA, 2016). O período da internação pode ser aproveitado para apoiar o paciente na direção de conquistar maior autonomia e na reconstrução e ressignificação do seu 16 modo de viver. O momento de alta do paciente que tentou suicídio deve ser pensado como um momento privilegiado para se produzir a continuidade do tratamento em outros serviços, visando à construção ativa da linha de cuidado necessário àquele indivíduo específico, não apenas como uma forma burocrática, que cumpre um papel de contrarreferência (MAGALHÃES et al., 2014). Dessa forma, é essencial a capacitação dos profissionais das unidades de emergência e internação e dos serviços de saúde mental, os quais deveriam se articular de forma resolutiva dentro da rede social e de saúde. A prevenção do suicídio deve ser tarefa dos profissionais de saúde detodas as áreas, não se restringindo apenas aos serviços de saúde mental (VIDAL; GONTIJO, 2013).A inexistência de um fluxo de atendimento e assistência às pessoas vítimas de violência autoprovocada com comportamento suicida na instituição mencionada contribui para um cenário onde a equipe multiprofissional se sente insegura frente às situações que requeiram habilidade com esses pacientes, dadas as circunstâncias de fragilidade em que se encontram, repercutindo nas intervenções realizadas. Assim, destaca-se a importância e necessidade deobtenção de uma rotina de assistência com fluxos e protocolos,no intuito de proporcionar cuidados efetivos, objetivando-se ofertar atendimento adequado de urgência clínica, mas também diminuir os casos de recidiva. Faz-se necessário compreender as atitudes profissionais envolvidas na assistência multiprofissional e ofertar capacitações que considerem a realidade do serviço, suas necessidades e a especificidade destes pacientes, uma vez que essa assistência da forma que está posta atualmente pode se limitar aos procedimentos de urgência clínica, sem garantia de referência para tratamento dia ou internamento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS III) do município, e sem um acolhimento que considere as particularidades do paciente vítima de violência autoprovocada. A partir da inserção cotidiana do trabalho. Na UHRS de Caicó-RN, enquanto enfermeira atuante nos setores de pronto socorro e clínica médica, percebem-se dificuldades da equipe em ofertar um serviço de qualidade, que garanta a atenção integral dos usuários de forma humanizada, sem preconceitos e com direcionamento adequado.Nesse sentido, questiona-se: Quais atitudes de profissionais de saúde frente ao paciente vítima de lesão autoprovocada com intenção suicida?Qual o perfil das vítimas de lesão autoprovocada com intenção suicida na Unidade Hospitalar Regional do Seridó, no período de 2015 a 2019? 17 2OBJETIVOS Avaliar as atitudes de profissionais de saúde frente ao paciente vítima de lesão autoprovocada com intenção suicida; Analisar o perfil das vítimas de notificação porlesão autoprovocada com intenção suicidana Unidade Hospitalar Regional do Seridó, no período de 2015 a 2019; Desenvolver uma cartilha sobre o manejo da vítima de TS, a partir da avaliação das atitudes dos profissionais frente ao paciente vítima de lesão autoprovocada com intenção suicida. 18 3REFERENCIAL TEÓRICO A presente fundamentação teórica pretende trazer elementos históricos e atualizados sobre o fenômeno do suicídio, além de realizar uma aproximação da literatura existente sobreasatitudes de profissionais de saúde, permitindo uma ampliação da visão sobre o tema. A apresentação das diferentes abordagens que estudam e buscam compreender/explicar o suicídio e a assistência em saúde teve como objetivo apresentar a complexidade e a ampla significação deste fenômeno. Constata-se, entretanto, a limitação quanto à profundidade e à inverossimilhança de se esgotar todos os temas aqui expostos. 3.1 O FENÔMENO SUÍCIDIO E SUA EPIDEMIOLOGIA Falar sobre a morte em si é um tabu e o suicídio é o tema mais complexo nesse âmbito de visão. Esclarecimentos simples não são suficientes e interferências rápidas para tratar sem a devida reflexão podem gerar intenso sofrimento (KOVÁCS, 2013). O comportamento suicida é definido como todo e qualquer ato por meio do qual uma pessoa causa lesão a si própria, independente do grau de letalidade e pode ser classificado em três categorias distintas: ideação suicida, tentativa de suicídio e suicídio consumado (BASTOS; MOREIRA, 2015). A ideação suicida fica em um dos extremos e pode variar desde o pensamento passageiro, o pensamento extenso, ou um planejamento detalhado. O suicídio consumado no outro extremo, a morte propriamente dita e a tentativa de suicídio entre eles, que é a tentativa da pessoa em morrer por suicídio, mas sobrevive. O suicídio envolve a morte provocada pelo próprio individuo num ato deliberado, motivado por uma junção de vários fatores (BASTOS; MOREIRA, 2015). A palavra suicídio, como vocábulo, nasceu no século XVII, na Inglaterra, na obra do inglês Sir Thomas Browne, chamada ReligioMedici, publicada em 1642, é derivada do latim “sui caedere” que significa “matar-se”(WERLANG; BORGES;FENSTERSEIFER, 2005; MOREIRA; BASTOS, 2015). Dentre diversos estudos a partir da publicação do clássico livro “O Suicídio” 1897 de Durkheim, a complexidade do tema passou a ser mais investigado e surgiram diversas teorias, que afirmam que os riscos para esse tipo de dano ou https://pt.wikipedia.org/wiki/Suic%C3%ADdio 19 morte incluem fatores biológicos, psicológicos e sociais. Durkheim apresentou um ponto de vista em que o todo é muito mais que a soma de suas partes, contemplando as forças da sociedade como afetando o indivíduo em detrimento da sua subjetividade (DURKHEIM, 2011). Defendia a constituição moral da sociedade como um determinante ou uma força coletiva existente que impele as pessoas a se matarem, sendo o fator social predominante. “Para Durkheim, a taxa de suicídio varia inversamente ao grau de integração social”.No que concerne a história após a revolução industrial a Família, o Estado e a Igreja deixaram de funcionar como fatores de integração social e nada foi encontrado para substituí-los (PORTELLA, 2015; FREGA, 2019; BOTEGA, 2015). O comportamento suicida sempre existiu e nos povos nômades era considerado “sagrado”, feito de forma ritualística e com certo grau de coerção social. Os mais velhos se matavam num ato de suprema honra para não se transformar em um ônus para o seu povo. Psicologicamente: alcançavam uma mortalidade fantasiosamente gloriosa (BOTEGA, 2014). Na antiga Grécia, o suicídio era consentido pelas autoridades com o veneno cicuta, sendo um exercício racional de um direito pessoal. Há registros de várias motivações para o ato, como a evitação da desonra, a fuga da escravidão, reação a perdas afetivas, idade avançada, ou mesmo a vingança. Platão defendia o suicídio se as circunstâncias externas não fossem toleráveis (BOTEGA, 2014). Na Idade Média, considerado pecado mortal pela Igreja católica, exorcismo, castigo e fruto da instigação demoníaca, São Tomás de Aquino e Santo Agostinho propagaram a ideia de que o ato de se matar era um pecado e passível de punição e exclusão da felicidade eterna. A partir do século XVII tornou-se dilema humanoe as teorias médicas discutiam a associação entre o suicídio, a melancolia e a loucura (BOTEGA, 2014; SILVA, 2014). No século XIX, Pinel juntamente com Esquirol sistematizou a teoria psiquiátrica, na qual o suicídio está relacionado à alienação mental da vítima, ocorrendo em situações de delírio, sendo involuntário e passível de prevenção. (SILVA, 2009). Na segunda metade do século XX emergiram novas abordagens teóricas sobre o tema. Nas teorias psicológicas foram enfatizadas a individualidade do sujeito como fator predominante ao fator social e relacionando-o com a alienação mental. Essa área de conhecimento ligada à área médica ampliaram a compreensão do 20 fenômeno divergindo da teoria sociológica e prevalecendo nos dias atuais uma vez que 90% dos indivíduos que cometem suicídio possuem algum transtorno mental, como a depressão, transtorno do humor bipolar, dependências de álcool e drogas e esquizofrenia. Embora haja pessoas sem transtornos diagnosticáveis que tentam suicídio (SILVA, 2009). Na psicanálise, Sigmund Freud concebeu a existência de apenas dois instintos básicos da natureza humana: Eros (pulsão que conduz a vida) e Tanatos (pulsão que conduz a morte). Ambas deveriam estar em consonância, porém, quando a pulsão de morte sobrepõe a pulsão de vida, ocorre o suicídio (MALTA, 2011, SILVA, 2014). Para Meninger, psiquiatra na década de 70,o fator mais relevante para o comportamento suicida são aqueles que se referem ao meio ambiente, ou seja, a não elaboração internade algumas percepções e vivências, acredita que todo ser humano tem fortes propensões àautodestruição, para isso pelo menos três fatores devem estar presentes: o desejo de morrer, o desejo de matar e o desejo de ser morto. Assim o desejo de se matar representa o desejo de destruir outro e a si mesmo (MALTA, 2011; SILVA, 2014). Comportamentos suicidas também foram associados a fatores genéticos e pesquisas neurobiológicas evidenciaram associação com a redução da atividade serotoninérgica (BOTEGA, 2014; SILVA, 2014). Nos Estados Unidos, estudos feitos na última década, com o uso de neuroimagem e de autópsia cerebral de pacientes suicidas corroboram a correlação entre o suicídio e déficit de serotonina em regiões específicas do cérebro (UNDERWOOD et al., 2018; OQUENDO et al., 2006). Pacientes deprimidos com níveis baixos de ácido 5-hidroxindol-acético (5- HIAA, derivado da Serotonina) têm risco maior para suicídio. Indícios sugerem que baixas concentrações de 5-HIAA em uma pessoa que fez uma tentativa de suicídio podem indicar nova tentativa ou suicídio completo. A depressão vem sendo apontada como a principal entidade nosológica associada a tentativas de suicídio, à ideação e a planos suicidas (FERREIRA; MACHADO, 2014). O suicídio está entre as principais causas de morte em todo o mundo, segundo dados epidemiológicos superam a soma de todas as mortes causadas por malária, câncer de mama ou guerra e homicídio, representa 1,4% das mortes em todo o 21 mundo,sendo a segunda principal causa de morte em jovens de 15 a 29 anos para ambos os sexos, depois de acidentes em estradas(OMS, 2019). Nas mulheres é a segunda causa, após condições maternas, e nos homens a terceira causa, após lesões na estrada e violência interpessoal. Configura-se como um grave problema de saúde pública global(OMS, 2019). Nos últimos 45 anos houve um crescimento de aproximadamente 60% no suicídio consumado, os números são mais alarmantes quando se fala em tentativas, pois ocorre uma morte a cada 20 a 30 tentativas de suicídio e para cada adulto que comete suicídio, pelo menos outros 20 possuem algum tipo de ideação ou atentam contra a própria vida (BOTEGA, 2014; SILVA et al.,2015). De acordo com o último Boletim publicado pela OMS, ao longo dos seis anos entre 2010 e 2016, a taxa global de suicídios padronizada por idade diminuiu 9,8%, com reduções que variam de 19,6% na região do Pacífico Ocidental a 4,2% na região do Sudeste Asiático (OMS, 2019). Entre continentes e subcontinentes, na América, o Brasil foi o único que registrou aumento na taxa de suicídios com alta de 7%, a cada 100 mil habitantes, oscilando entre 3,5 e 4,6 óbitos por 100 mil habitantes. Dados mostram que a cada 40 segundos, uma pessoa se suicida no mundo. São 800 mil suicídios por ano, 1.920 mortes diárias dos quais 65 mil acontecem na região das Américas (OMS, 2019). As regiões brasileiras apresentaram diferentes tendências da mortalidade por suicídio. Em estudos feitos por D’Eça Júnior et al. (2019) no período de 1996 a 2015 notou-se crescimento nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste, decrescente na região Sul e estável na região Centro-Oeste. Noutro estudo, a maior taxa de crescimento dos casos de suicídio ocorreu na região Nordeste, com 2,30%, enquanto, nas regiões Norte e Sudeste, as taxas de crescimento foram de 1,73% e 1,41%respectivamente. O Nordeste foi a região com o maior crescimento percentual na taxa de suicídio para o mesmo período, com aumento percentual de 72,4%, passando de 3 em 2000 para 5,2 em 2012 (SANTOS; BARBOSA, 2017). Nos últimos anos, no estado do Rio Grande do Norte (RN), verificou-se um aumento de 83,5% na mortalidade por causas externas entre os anos 2000 e 2015. No mesmo período, a taxa de mortalidade por lesões autoprovocadas 22 intencionalmente aumentou 46% no total da população, com variação de 2,9 a 4,5/100 mil habitantes, respectivamente (PIRES, 2011;SANTOS, 2017). Dados da Associação Brasileira de Psiquiatria mostrou, que o município de Caicó, localizado na Região do Seridó, interior do estado do RN, apresentou taxa de 15,8/100 mil habitantes entre os anos 2005 e 2007, ocupando o 3º lugar entre as 20 cidades brasileiras, com pelo menos 50.000 habitantes, com maiores coeficientes de suicídio. O primeiro é o de Venâncio Aires, RS, com população estimada em 67 mil 373 habitantes. Em seguida, Lajeado, RS, com população estimada em 67 mil 556 habitantes. O terceiro é Caicó, RN, com população estimada em 62 mil habitantes (PIRES, 2011; SANTOS, 2017; ABP, 2014). Indicadores mais comuns de suicídio apontam uma diversidade de fatores como, desemprego, doença psiquiátrica, uso de álcool e drogas, separações, perdas de pessoasqueridas e perda de emprego, pode estar associado a doenças como à AIDS, a pós acidentevascular cerebral, ao infarto do miocárdio, à esclerose múltipla, à doença de Parkinson e à insuficiência respiratória. A ingestão de pesticidas, o enforcamento e as armas de fogo estão entre os métodos mais comuns de suicídio (ABREU, 2017; WHO, 2014). Dentre as doenças psiquiátricas, estão como prevalentes: a depressão, a ansiedade, os delírios, os transtornos de personalidade e o uso de substâncias psicoativas (incluindo o álcool). A frequência do suicídio entre as patologias também é bastante variável; por exemplo, a depressão pode ser responsável por 45% a 70 % dos suicídios (MELLO, 2000). 3.2 O SUICÍDIO E AS INICIATIVAS ESTATAIS Ao final da década de 1960 a OMS conceituou o comportamento suicida como “um fenômeno multifatorial, multideterminado e transacional que se desenvolve por trajetórias complexas, porém identificáveis”. O problema passou a ser enfrentado na área da saúde pública e a prevenção do suicídio tornou-se essencial para diminuir as taxas de morbimortalidade, já que é considerada uma causa evitável (OMS, 2000). No ano de 1999, a OMS lançou a Suicide preventionprogram- SUPRE, uma iniciativa mundial para prevenir a morbimortalidade por suicídio no mundo.No ano seguinteperpetrou apelos aos países de todo o mundo para a atenção ao 23 significativo aumento nas taxas de suicídio e apresentação de propostas para o enfrentamento do fenômeno considerando-o um problema de saúdepública (WHO, 1998). O Brasil foi o primeiro país da América Latina a ter uma proposta de ação nacional voltada à prevenção do suicídio. Com a criação da Portaria nº 1.876, de 14/08/2006, do Ministério da Saúde (MS), estabeleceu que as diretrizes nacionais para a prevenção do suicídio fossem articuladas intersetorialmente, abarcando os setores de saúde das três esferas de governo, além de instituições acadêmicas e organismos nacionais e internacionais com o desenvolvimento de estratégias que visem à promoção, prevenção e recuperação da saúde (BRASIL, 2006). Entre os anos 2000 e 2006 foram publicados pela OMS uma série de manuais de prevenção do suicídio com intuito de orientar conselheiros, professores, mídia e médicos clínicos gerais. São materiais revisados por profissionais especialistas no assunto de vários países do mundo e dentre os objetivos estão(SILVA et al., 2015): 1) Aumentar a conscientização sobre os problemas decorrentes do comportamento suicida; 2) Descrever padrões de comportamento suicida; 3) Identificar as variáveis que determinam o comparecimento das pessoas com ideação suicida ao serviço de saúde; 4) Melhorar a eficiência dos serviços de saúde, por meio de intervenções específicas que consigam reduzir o número de tentativas. Nessa dinâmica mundial, em 2003 no Brasil, o dia 10 de setembro foi instituído como o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Em 2005 o Ministério da Saúde publicou a Portaria GM n° 2.542 de 22/12/2005 instituindo um grupo de trabalho para elaborar um plano nacional de prevenção ao suicídio (BRASIL, 2005). Em 2006, através da Portaria GM n°1876 de 14/08/2006o ministérioda saúde lançou as Diretrizes Nacionais para a Prevenção do Suicídio (BRASIL, 2006). Destaca-se sequencialmente no ano de 2011, a Portaria nº 3.088instituindo a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)para pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo o uso de crack, álcool e outras drogas, articulando desde a atenção básica aos serviços de urgência e emergências e rede hospitalar (BRASIL, 2011). Pela Portaria nº 1.271, de 06 de junho de 2014, a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, torna as tentativas de suicídio e o suicídio agravos de notificação compulsória imediata em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt3088_23_12_2011_comp.html http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/prt1271_06_06_2014.html 24 todo o território nacional e no ano de 2015 a celebração do MÊS AMARELO numa ação conjunta entre o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) (BRASIL, 2014). O CVV é uma associação civil sem fins lucrativos filantrópica,voltada ao apoio emocional por meio de ligação telefônica para prevenção de suicídiospara todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato. Atua hoje em quase todas as capitais e diversas cidades do interior do Brasil com 110 postos e cerca de 3.400 voluntários. Esse atendimento é prestado pessoalmente nos postos, por e-mailou via chat e pelo telefone 188, grátis para todo o Brasil, a parceria do MS permitiu que as ligações se tornassem gratuitas (CVV, 2019). Em 2017, foi aprovada a Portaria nº 3.479 em 18 de dezembro, instituindo o Comitê Gestor para elaboração de um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio no Brasil em consonância com as DiretrizesNacionais para Prevenção do Suicídio e com as Diretrizes Organizacionais das Redes de Atenção à Saúde (BRASIL, 2017). Ligadamente foi lançada a Portaria Nº 3.491, de 18 de dezembro de 2017 que institui incentivo financeiro de custeio para desenvolvimento de projetos de promoção da saúde, vigilância e atenção integral à saúde direcionada para prevenção do suicídio no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde(BRASIL, 2019). Ainda em 2017 o MS lançou o Boletim Epidemiológico e a Agenda de Ações Estratégicas para a Vigilância e Prevenção do Suicídio e Promoção da Saúde no Brasil 2017-2020 (BRASIL, 2017). Recentemente em abril de 2019 foi sancionada a lei 13.819 que Institui a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, a ser implementada pela União, em cooperação com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios (BRASIL, 2019). Apesar do Brasil ter sido o primeiro país da América Latina a elaborar estratégias de prevenção do comportamento suicida,o país em tempo algum entregou um plano nacional de prevenção do suicídio propriamente dito, o que permitiria, entre outras coisas, adestinação de verba orçamentária específica para ações estratégicas (BOTEGA, 2007; WAISELFISZ, 2014; SCAVACINI, 2018). Contudo, as publicações, portarias e leis realizadas reverberaram efeitos no campo da pesquisa, aumentando o conhecimento e o interesse no assunto tirando o suicídio da penumbra da negação e do tabu,passando a encará-lo como um https://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_sem_fins_lucrativos https://pt.wikipedia.org/wiki/Filantropia https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt3479_22_12_2017.html http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt3491_22_12_2017.html http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2017/setembro/21/2017-025-Perfil-epidemiologico-das-tentativas-e-obitos-por-suicidio-no-Brasil-e-a-rede-de-aten--ao-a-sa--de.pdf http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2017/setembro/21/17-0522-cartilha---Agenda-Estrategica-publicada.pdf http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2017/setembro/21/17-0522-cartilha---Agenda-Estrategica-publicada.pdf http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2017/setembro/21/17-0522-cartilha---Agenda-Estrategica-publicada.pdf 25 problema de saúde pública. Evidências científicas disponíveis demonstram o que deu certo e o que não funcionou para ações de prevenção em vários países, facilitando a elaboração e a execução de ações de prevenção do comportamento suicida (BOTEGA, 2007). 3.3 ATITUDES E ATUAÇÃO PROFISSIONAL FRENTE AO SUICÍDIO A consciência das próprias atitudes na assistência a vítima de tentativa de suicídio permite a modificação e a aproximação de uma assistência mais empática ao paciente (BOTEGA, 2015). O termo atitude é amplamente estudado e elucidado com diferentes interpretações, dentre os diversos conceitos de atitude, verificou-se o destaque em três características constantes ou atributos que são: o cognitivo, o afetivo e o comportamental (ALTMANN, 2008; RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2012). O aspecto cognitivo é representado pelos conhecimentos, crenças e informações sobre determinado objeto que podem corresponder à realidade ou não, ou seja, constitui-se do que o indivíduo tem de subjetivo em acreditar ser verdadeiro aquilo que sabe, vê e raciocina a respeito do objeto (ALTMANN, 2008; RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2012). O aspecto afetivo, diz respeito aos sentimentos, emoções e afetos pró ou contra determinado objeto social, e tal componente se relaciona diretamente ao componente cognitivo (conhecimentos, crenças, informações, opiniões e saberes), isto é, o valor positivo ou negativo que será atribuído a determinado objeto se dá na conjunção dos dois componentes acima mencionados(ALTMANN, 2008; RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2012). O terceiro atributo, o comportamental, é uma predisposição para agir, ou tendência para determinada reação frente à situação que requeira posicionamentos. Desta forma, a atitude possui uma compleição ativa motivadora de uma ação, amiúde coerente com as cognições e afetos relativos ao objeto (ALTMANN, 2008; RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2012). As atitudes concebem os comportamentos, embora não sejam observáveis, são totalmente deduzíveis por meio da identificação dos seus componentes. Em síntese, existindo crenças, conhecimentos, informações relativas a determinado objeto social (componente cognitivo), sentimentos e afetos em relação a este objeto 26 (componente afetivo), e a predisposição do sujeito para uma ação (componente comportamental), resultará em uma atitude frente ao objeto, sendo essa positiva ou negativa (CLEAVER, 2014; SAUNDERS et al., 2012; TAYLOR et al., 2009). Assim sendo, as atitudes dos profissionais de saúde, no atendimento ao paciente com comportamento suicida, têm sido alvo de pesquisas em diversos países (CLEAVER, 2014; TAYLOR et al., 2009; SAUNDERS et al., 2012;). Nas reflexões sobre este assunto, Thomas Szasz(2002) cita em um de seus livros sobre Ética e Política do Suicídio a visão dupla de ideias bastante diferentes na expressão da palavra suicídio: de um lado a palavra descreve uma forma de morrer, ao se tirar a própria vida, voluntária e deliberadamente, de outro, representa uma condenação da ação, ou seja, um ato pecaminoso, criminoso, irracional e injustificado. É louco quem tira a sua própria vida. O confronto entre as duas ideias expõe um modo negativo de encará-lo e transfere ao ato contornos “bárbaros” e “trágicos”. O assunto é abordado de forma preconceituosa, que tende a englobar o suicídio como um fenômeno necessariamente negativo, do qual se quer buscar constantemente um afastamento. Essa visão predominante na sociedade capitalista se justifica por não querer falar sobre a morte e tendo a palavra suicídio uma significação de morte ímpia (AVANCI et al., 2009; LIBA et al., 2016). Pesquisas e estudos contemporâneos demonstram situações emque alguns profissionais de saúde em atitude contraditória ao seu lema perseguido, o de salvar vidas, negam-se (ou dificultam) a cuidar de quem tentou matar-se, evidenciando que o suicídio ainda é visto como uma agressão à sociedade e não somente ao indivíduo que o tentou (NASCIMENTO, 2011; ZANLUQUI;SEI, 2017). Corroborando em estudos de Avanci(2005) e Silva (2015) afirmam que profissionais da saúde não conseguem enxergar pacientes admitidos por tentativa de suicídio como pessoas que necessitam de ajuda, mas sim como aqueles que afrontam a vida por terem tentado contra ela. Para Angerami-Camon (2004, p. 163) A Medicina é considerada a arte de manter acesa a chama da vida. E todos aqueles que direta ou indiretamente atentam contra a própria vida, estão muitas vezes, na visão dos profissionais de saúde, atentando igualmente contra o princípio norteador da Medicina. 27 As tentativas de suicídio são fenômenos frequentes nas emergências hospitalares, os profissionais de enfermagem por encontrarem-se a maior parte do tempo em contato com esses pacientes exercem importante papel no atendimento preventivo e também pós tentativa de suicídio, desde o acolhimento, na intervenção e prevenção do suicídio, podendo estabelecer vínculos interpessoais com o paciente, possibilitando uma melhor aceitação e adesão ao tratamento (VIDAL, 2016; FONTÃO et al., 2018). O tempo dedicado aos cuidados pode oferecer ambiente propício a escuta e intervenção terapêutica necessária nesse momento, levando a descoberta de potenciais ideias suicidas e diversidade de sofrimentos que podem encorajar um comportamento suicida (GUTIERREZ, 2014). No entanto, a ausência de preparo quanto ao cuidado, à falta de treinamento em saúde mental, a habilidade de conversação sobre a situação, ao pouco entendimento dos aspectos subjetivos envolvidos em uma tentativa de suicídio resultam em atitudes nem sempre positivas frente à pessoa suicida (SCAVACINI, 2018). A reação negativa da equipe de saúde pode ser prejudicial na prestação do cuidado, segundo Fontão(2018), a enfermagem aborda apenas as questões mais técnicas do cuidado ou de estabilização física do paciente em estado agudo. Revalidando essa temática Burigoet al. (2015) relata ser comum a equipe de saúde segregar os problemas mentais dos físicos, o que fragmenta e desconsidera a assistência a esses pacientes. O não saber lidar com o sofrimento psíquico torna o atendimento mecanicista e indiferente à situação. Entende-se que a pessoa que manifesta o pensamento suicida é mais bemacolhida e compreendida em um espaço em que não há julgamentos morais que consideram valores presentes em nossa sociedade e impedem o olhar para a pessoa (CUSTÓDIO; ANUNCIAÇÃO, 2018). Para o Ministério da Saúde (2006, p. 55) a assistência deve ter como objetivo o preenchimentodeuma lacuna criada pela desconfiança, pelo desespero e pela perda de esperança. Uma abordagem calma, aberta, de aceitação e de não- julgamento, facilita a comunicação. É recomendado ouvir com cordialidade, tratar com respeito, serempático com as emoções e cuidadoso com o sigilo,dando à pessoa a esperança de que as coisas podem mudar para melhor. 28 Dentre os pacientes atendidos alguns necessitam de internamento, seja pelo surto psicótico da ideação ou pelas consequências do tipo de tentativa que utilizou. Estima-se que entre pacientes internados em hospitais gerais o risco de suicídio é três vezes maior do que o observado na população geral (BOTEGA, 2014). Na média mundial, os indivíduos tentam suicídio vinte vezes mais do que de fato o consumam. Após a primeira tentativa, o risco de uma recorrente tentativa aumenta em até cem vezes e, relativamente, também o número de tentativas em um intervalo de tempo (BOTEGA, 2016). Em vários países, estudos foram realizados apresentando informações sobre a relação entre os profissionais e as pessoas que tentaram o suicídio. Os dados obtidos não são diferentes quanto à necessidade de se promover uma qualificação profissional para o atendimento a tentativas de suicídio e demonstram que há existência de estigmatização e preconceito para com os pacientes que requerem atendimento por tentativa de suicídio (NASCIMENTO, 2011). As pesquisas não pretendem generalizar as atitudes indevidas de alguns profissionais, porém objetivam dar visibilidade e situar alguns dos problemas e implicações que decorrem desses atos com a intenção de buscar a resolução para a problemática com a finalidade de compreender determinadas atitudes desfavoráveis dos profissionais (VIDAL; GONTIJO, 2013). A atitude negativa em relação ao comportamento suicida é frequentemente relatada e ocorre devido àhesitação e a falta de conhecimento e não por hostilidade para com o paciente (BOTEGAet al., 2005). Corroborando com essa afirmativa, a desinformação dos profissionais de saúde com relação à questão do suicídio, tem perpetuado uma abordagem inadequada da questão(QUENTAL, 2008). Outro autor admite que a pessoa que tentou o suicídio não é vista como doente, tampouco, como vítima, pois, tal atitude é percebida pelos profissionais da saúde como uma atitude carregada de planejamentos e intenção, resultado de uma escolha, o que acarreta a não identificação de doente ou vítima a demandar cuidados (MACHIN, 2009). Neste contexto, percebe-se a importância da capacitação adequada da equipe multiprofissional que atua em casos de tentativa de suicídio em Hospitais gerais psiquiátricos, sendo necessária a abordagem humanizada dos casos bem como o encaminhamento adequado à rede de atenção básica e saúde mental, como forma de evitar recaídas (BURIGO et al., 2015). 29 30 4METODOLOGIA Estudo quantitativo, não experimental, e também avaliativo, que investigou o fenômeno do suicídio no contexto de um serviço hospitalar. Trata-se da Unidade Hospitalar Regional do Seridó(UHRS)Telecila Freitas Fontes, localizada na microrregião do Seridó, Caicó-RN.Hospital de caráter público ede média complexidade, que serve de referência para 25 municípios desta região, com média de 280 atendimentos diários em sua porta de entrada. Possui um total de 83 leitos adultos existentes, distribuídos nas clínicas médica (38 leitos), clínica cirúrgica (35) e unidade de terapia intensiva (10 leitos), compõem ainda duas unidades tipo isolamento, uma localizada na UTI e outra na cirúrgica. Especificamente, na clínica médica há oito leitos destinados à admissão de pacientes psiquiátricos em surto ou que precisem de acompanhamento do clínico geral(DATASUS, 2020). O setor de pronto socorrofoireformado e adequado conforme normas da Classificação de Risco do Ministério da Saúde, inaugurado em janeiro do corrente ano. Possui uma sala para triagem, onde atua um enfermeiro24 horas com função exclusiva da classificação de risco dos usuários (vermelho, amarelo, verde e azul), em ordem de gravidade, permitindo a entrada mais rápida de acordo com a necessidade de urgência. Abrange ainda a sala verde com nove poltronas/leitos de observação, área amarela comoito leitos para o aguardo de internamento ou observação e sala vermelha com dois leitos equipados para cuidados intensivos e um leito na sala de estabilização. Os profissionais deste setor estão na porta de entrada e recebem as vítimas de tentativa de suicídio com exclusividade e, na oportunidade, realizam a Notificação Compulsória dos casos. A população do estudo foi constituída pela equipe multiprofissional da UHRS, que atua nos setores de pronto socorro e clínica médica, locais específicos de assistência a vítimas de lesão autoprovocada/tentativa de suicídio. A exclusão do setor UTI levou em consideração o menor número de pacientes internos passíveis de intervenções, ou seja, conscientes e cooperativos,além da escassez de pesquisas e artigos que falem desse setor como passível de capacitação emodificação do ambiente para avítima que tentou suicídio. Nestes locais, foi aplicadauma entrevista (APÊNDICE A) à equipe multiprofissional com dados de caracterização sociodemográfica e profissional 31 (Parte I), em seguidao QuACS, Questionário de Atitude Frente ao Comportamento Suicida., questionário autoaplicável (Parte II). O QUACS é um instrumento que contém 21 afirmações, seguida de uma escala analógica visual ancorada em seus extremos com cada item correspondendo a uma linha contínua de 10 cm cujas respostas vão desde "discordo totalmente" numa extremidade a "concordo plenamente" na outra. Cada afirmativa do questionário deve ser assinalada conforme a percepção individual, indicando um ponto qualquer em cada linha, que melhor represente as opiniões, sentimentos e reações individuais(BOTEGA et al., 2005). Posteriormente a pontuação de 0 a 10 é atribuída de acordo com a marcação de distância em cada resposta.Quanto mais elevada é a nota global maior será a mudança em termos de conhecimentos e atitudes (BOTEGA et al., 2005). Trata-se de um questionário de autopreenchimento construído e validado, traduzido do idioma inglês e aplicado em diversos estudos brasileiros, indicando que a escala é sensível às mudanças após o treinamento em prevenção ao suicídio. É composto por situações clínicas frequentemente vivenciadas por profissionais de saúde (BOTEGA et al., 2005). A consistência interna do instrumento foi avaliada por Botega et al. (2005) onde foram agrupados os itens afins em três fatores que aferem atitude. Na análise fatorial as afirmativas foram agrupadas nas subescalas: Sentimentos negativos diante do paciente, Percepção da capacidade profissional e Direito ao suicídio. Os coeficientes alfa de Cronbach foram 0,6, 0,7 e 0,5, respectivamente,o estudo de validação mostrou que o referido instrumento é de fácil manuseio e bem simples para avaliar a atitude dos profissionais em relação às vítimas de suicídio. No Brasil, diversos estudos utilizaram esse instrumentotendo sido aplicado com equipes de saúde mental,equipes de atenção básica, estudantes de enfermagem e de medicina e profissionais de enfermagem(SPINDLER, 2018;MAGRINI, 2016). Recentemente, Medeiros (2020) pesquisou o conhecimento e atitudes dos profissionais de Atenção Básica à saúde do Seridó do RN frente ao suicídio, com equipe multiprofissional. Os resultados demonstraram déficit no conhecimento sobre a temática suicídio e atitudes mais positivas frente ao suicídio de acordo com maior nível de formação e, após qualificaçãomelhoria da assistência às vítimas de tentativas de suicídio. 32 Os dados foram coletados noperíodo de agosto a outubro de 2019, através de amostragem não probabilística, por conveniência, considerando a instabilidade no quantitativo de profissionais que compõe o quadro profissional, mudanças de escala trabalhista (dia de semana trabalhado/regime de plantão), trabalhadores que residem noutro município, gerando dificuldades no acesso aos participantes. As entrevistas foram distribuídas entre os profissionais nos seus respectivos locais de trabalho, onde receberam informações sobre a voluntariedade da sua participação, além da confidencialidade e anonimato. Foram dadas instruções sobre a forma de responder o questionário e a devolução em dias posteriores, para possibilitar o preenchimento fora do horário de trabalho.Não houve recusa de profissional algum. Os participantes receberamo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE – APENDICE B)com esclarecimentos sobre a pesquisa, seus objetivos e finalidades, após ter sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi (FACISA), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), através da Plataforma Brasil (ANEXO A)e avaliado com base na Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde(BRASIL, 2012), sob o número do parecer3.424.708. Após a coletarealizada no período deagosto a novembro de 2019,os dados foramduplamente digitados no Programa Microsoft Excel. Posteriormente, foram transportados da planilha para os softwares StatisticalPackage for the Social Sciences (SPSS), versão 19.0. Finalizada a aplicação das entrevistase análise estatística das respostas, foi possívela idealização e a descrição sobre o conhecimento prévio dos trabalhadores acerca dos assuntos que integravam o instrumento, estabelecendo-se como guia do planejamento para a Cartilha, objetivandouma melhora no manejo e assistência,fundamentadosnos resultados da pesquisa. Em resposta ao segundo questionamento desta pesquisa, foram analisadas 264 fichas de notificações compulsórias por lesão autoprovocada, no período de 2015 a 2019, depois de pedido formal através de carta a coordenação do Núcleo de Vigilância Epidemiológica – NVE, e aprovação do CEP-FACISA/UFRN já mencionada. As fichas de notificação compulsória por violência interpessoal/autoprovocada são preenchidas pelo enfermeiro de plantão no setor de urgência do UHRS ao ser 33 constatada a violência pelo médico, após realização de anamnese e exame físico completo. Pode ser também preenchida por qualquer outro profissional de saúde. Foram selecionadas variáveis específicas da ficha, no intuito de manter a objetividade e analisar dados condizentes com a pesquisa. As informações coletadas foram: idade, sexo, município de residência, situação conjugal, ocupação, tentativa anterior, meio de agressão e evolução do caso. Para identificação das tentativas de suicídio, foram analisados os campos de observação referentes à especificação do tipo de violência nos casos de lesão autoprovocada. Para atendimento do terceiro objetivo desta pesquisa, mediante a necessidade reconhecida pela avaliação do instrumento aplicado aos profissionais, foi elaborada uma cartilha com direcionamentos acerca do manejo com o paciente vítima de TS que é atendido nos setores de pronto socorro e clínica médica. 34 5RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados dessa pesquisa são apresentados em duas seções. A primeira traz a análise do perfil das vítimas de notificação de casos por lesão autoprovocada com intenção suicida na UHRS, no período de 2015 a 2019. A segunda seção apresenta os resultados e discussão da avaliação das atitudes dos profissionais frente ao paciente suicida, discutidas à luz do referencial teórico pertinente. 5.1 NOTIFICAÇÃO DE CASOS E TENTATIVAS DE SUICÍDIO A notificação de violências interpessoais e autoprovocadas compõem a lista de doenças e agravos de notificação compulsória no Sinan desde 2011, quando a notificação passou a ser universal para todos os serviços de saúde públicos e privados do país. A violência autoprovocada compreende autoagressões, automutilações e tentativas de suicídio em pessoas dos sexos feminino e masculino, cujo desfecho não resulta em óbito. A notificação tem por objetivo vinculá-las aos serviços de saúde, como forma de intervenção em saúde e prevenção de novas ocorrências (BRASIL, 2017). A tentativa de suicídio é um evento de notificação compulsória obrigatória e imediata de acordo com a Portaria nº 204 de 17/02/2016, que revogou a Portaria MS nº 1.271/2014a notificação deve ser feita para a Secretaria Municipal de Saúde em até 24 horas. O início da assistência para a pessoa também deve ser imediato, devendo ela receber os cuidados de emergência necessários, bem como acompanhamento psicossocial na Rede de Saúde (BRASIL, 2014). As tentativas de suicídio são registradas no campo de violência autoprovocada, e não existe um campo especifico para este evento na ficha de violências interpessoais e autoprovocadas (LIMA, 2017).A notificação obrigatória possibilita elaborar melhores estratégias para a prevenção efetiva do suicídio, através dos dados reais é possível planejar uma intervenção eficaz, assim como auxiliarno mapeamento dos casos de óbito por suicídio e tentativas (BRASIL, 2017). Os registros são ainda consideráveis para a pesquisa e prevenção, pois, aqueles que tentam suicídio estão mais sujeitos a novos comportamentos suicidas, podendo inclusive vir a cometer suicídio (VIDAL; GONTIJO, 2013). Há uma estimativa que para cada nove mortes por suicídio decorram outras vinte tentativas de suicídio das quais pelo menos 10 tentativas de gravidade 35 suficiente para requerer cuidados médicos, e que esses comportamentos sejam até 40 vezes mais frequentes que os suicídios consumados. No entanto, estima-se que apenas 25% das pessoas que tentam suicídio buscam serviços públicos, não sendo estes casos, necessariamente os mais críticos (MACHADO; PEREIRA, 2017). A TS é um importante preditor para suicídio e tem gerado encargos econômicos e familiares decorrentes de lesões incapacitantes e do adoecimento do núcleo de convívio da pessoa que tentou suicidar-se. Estudos mostram que cada ato suicida abala imensamente e por tempo prolongado pelo menos cinco pessoas próximas (TARANTINO, 2007). O número total de fichas analisadas foi de 264, apresentando um crescimento progressivo no período analisado, conforme Tabela 1. Tabela 1 - Notificações de casos de autoagressão/TS de acordo com o ano de notificação na UHRS Telecila Freitas Fontes. Ano de notificação n % 2015 21 8,0 2016 39 14,8 2017 37 14,0 2018 61 23,1 2019 106 40,2 Total 264 100,0 Fonte: Dados pesquisa, 2020. O Brasil, desde 1960, atravessa uma transição epidemiológica, na qual os óbitos por causas externas estão em crescimento em substituição às doenças infecciosas e parasitárias. O aumento nas taxas de suicídio o tornou a terceira causa de óbito por fatores externos identificados: homicídio (36,4%), óbitos relacionados ao trânsito (29,3%) e suicídio (6,8%). Esse número pode ser ainda maior tendo em vista a subnotificação, decorrente do estigma social que favorece a omissão de casos (MACHADO; SANTOS, 2015). As informações e achados nessa pesquisa justificam a necessidade de se buscar elucidações para o elevado índice de suicídios e tentativas de suicídio em toda a Região do Seridó/RN, principalmente no município de Caicó, demonstrando a importância da organização da rede de saúde como um todo, principalmente na porta de entrada que é o hospital geral. A orientação dos profissionais acerca da temática difícil de lidar, de forma a favorecer uma compreensão desse agravo na 36 saúde pública, bem como melhorar as possibilidades de prevenção e recidiva com a identificação de possíveis vítimas. Nas práticas de saúde é importante analisar os dados sobre suicídio e tentativas de suicídio. Isso significa considerar a qualidade dos sistemas de vigilância existentes e identificar lacunas que existam na coleta de dados. Consolidação de políticas é uma parte essencial, pois sem a identificação dos empecilhos, as estratégias podem não passar do papel para ação (OMS, 2012). Um estudo realizado por Araújo (2019) demonstrou que nos últimos dois anos, as tentativas de suicídio se tornaram a maior procura de atendimento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) III do município de Caicó/RN. Dentre os dez municípios nordestinos que apresentaram as maiores taxas de mortalidade por suicídio, dois fazem parte da Região do Seridó Potiguar (São José do Seridó e Ouro Branco). A Região apresenta alto índice de suicídios e TS no estado, porém a literatura ainda é escassa quanto a estudos que abordem e que expliquem as elevadas taxas nessa Região (ARAÚJO, 2019).Essa tendência ao aumento dos casos evidencia que o preparo dos profissionais deve ser prioridade, assim como a integração das redes de atenção a saúde mental e o hospital geral. A idade dos usuários variou entre 13 a 78 anos, (média de 32,42 anos), sendo a maioria considerada uma população jovem (13 – 39 anos = 52,2%), conforme Tabela 2. Tabela 2 - Distribuição absoluta e percentual dos usuários, segundo faixa etária. Faixa etária n % 13 a 19 anos 63 17,3 20 a 29 anos 71 19,5 30 a 39 anos 56 15,4 40 a 49 anos 38 10,4 50 a 59 anos 21 5,8 60 a 69 anos 07 1,9 70 a 78 anos 08 2,2 Total 264 100,0 Fonte: Dados da pesquisa, 2020 A fase adulta jovem compreende um período da vida que vai dos vinte aos quarenta anos de idade, configurando-se como uma fase de muita força e vitalidade do indivíduo. Todavia, o indivíduo adulto joveme encontra em um processo de afirmação e experimentação de seu potencial, perante aos enfrentamentos sociais e 37 pessoais (ANDRADE, 2010).Adultos jovens são os que mais tentam suicídio (BERNARDES; TURINI; MATSUO, 2010; SANTOS et al., 2009). Destaca-se, no período estudado, o registro de 15 casos em menores de 15 anos, destes 11mulheres. A maioria das pesquisas realizadas, não obstante, constataram índices mais elevados de TS em mulheres, adolescentes e jovens, pessoas que vivem sozinhas, desempregados e indivíduos com baixa escolaridade. Tendo em vista que são informações clinicamente úteis, as quais podem auxiliar a reconhecer casos de risco nas populações para melhor acompanhamento, avaliação e compreensão sobre o tema (FELIX et al., 2016). A análise do padrão de TS por sexo, evidenciou uma maior proporção entre as mulheres (62,1%) e representatividade superior entre os solteiros, viúvos e separados (60,5% - sem companheiro)(Tabela 3). Tabela 3 - Distribuição absoluta e percentual das notificações de casos de autoagressão/TS segundo sexo e situação conjugal. UHRS, Caicó-RN, 2019. Variável N % Sexo Feminino 164 62,1 Masculino 100 37,9 Total 264 100,0 Situação conjugal Solteiro 137 51,9 Casado 68 25,8 Viúvo 7 2,7 Separado 15 5,7 Não se Aplica 3 1,1 Ignorado 34 12,9 Total 264 100,0 Fonte: Dados da pesquisa, 2020. O predomínio das tentativas no sexo feminino e o perfil etário mais jovem das mulheres estão em acordo com a maior parte dos estudos descritivos sobre tentativas de suicídio,podendo atingir duas vezes mais que no sexo masculino (ALMEIDA et al., 2009). Esses achados se coadunam com a afirmação de que o suicídio efetivo é mais frequente entre homens, embora as tentativas de suicídio sejam mais comuns entre as mulheres, principalmente em idade adulta e de pessoas com maior vulnerabilidade e fator de risco por se sentirem sozinhas (SILVA, 2017). 38 De acordo com o boletim epidemiológico do Ministério da saúde, no período de 2011 a 2018 foram notificados 339.730 casos de violência autoprovocada, dos quais, 154.279 (45,4%) ocorreram na faixa etária de 15 a 29 anos, sendo 103.881 (67,3%) nas mulheres e 50.388 (32,7%) nos homens (BRASIL, 2019). O Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do país avaliou o perfil das lesões autoprovocadas e tentativas de suicídio registradas (2011 a 2016), detectando que 69% dos casos são realizadas por mulheres e apenas 31% por homens. Ainda assim, foi visto um aumento dos casos notificados de lesão autoprovocada nos sexos feminino e masculino,de 209,5% e 194,7%, respectivamente (BRASIL, 2017). Entre os municípios analisados, Caicó apresentou 59,1% do total das notificações, já diante do número de habitantes do último censo realizado em 2010, que apresentou população estimada em 62.709, a taxa de notificação por TS representou0,3% (IBGE, 2010). Tabela 4 - Número absoluto e porcentagem de notificações de casos de autoagressão/TS no UHRS distribuídos por cidade, no período de 2015 a 2019. Cidade N % Caicó 156 59,1 São Fernando 20 7,6 São José do Seridó 16 6,1 Jardim de Piranhas 14 5,3 São João do Sabugi 11 4,2 Serra Negra do Norte 08 3,0 Jardim do Seridó 07 2,7 Parelhas 06 2,3 Jucurutu 05 1,9 Cruzeta 03 1,1 Timbaúba dos Batistas 03 1,1 Carnaúba dos Dantas 03 1,1 Currais Novos 02 0,8 Ouro Branco 02 0,8 Florânia 02 0,8 Equador 02 0,8 Acari 01 0,4 Lagoa Nova01 0,4 Ipueira 01 0,4 Serrinha 01 0,4 Total 264 100,0 Fonte: Dados da pesquisa, 2020. 39 É notório que o perfil epidemiológico do suicídio é próprio de cada região estudada, devido amúltiplos fatores. Para a região do Seridó Potiguar, e com evidência ao município de Caicó, o crescente número de indivíduos que tentam suicídio, pode ser reflexo da falta de preparo de trabalhadores da saúde e da sociedade no geral, da falta de informações, da não identificação de fatores de risco e de vulnerabilidades, e da inadequada ou não abordagem na ocasião da crise suicida, são condições importantes a serem ponderadas e que podem influenciar o número destas ocorrências(LINS, 2019). A implantação de programas de prevenção e políticas públicas locais direcionadas a população de alto risco, assim como capacitações para os profissionais em todos os níveis de atenção à saúde, assistência social, educação e eventos envolvendo a população em geral, podem reduzir a mortalidade por suicídio, epor conseguinte, os comportamentos suicidas. A região geográfica e cultural do Seridó possui vinte e cinco municípios, Caicó é considerada pólo, possui população de 71.526 e IDH 0,710, distante 282 Km da capital do estado, o município de Natal (IBGE,2017).O Seridó Potiguar é um vasto trecho do território do estado do Rio Grandedo Norte, atravessado e cortado pelo Rio Seridó e seus afluentes. De acordo com os dados do IBGE, seu território é constituído pelas microrregiões do Seridó Ocidental, Seridó Oriental e parte da microrregião do Vale do Açu e da Serra de Santana. A população é estimada em 311.531 habitantes, correspondendo a 9.1% da população total do estado (IBGE, 2017). A região Seridó, do interior do estado do RN, no Nordeste do Brasil, se destaca em relação às taxas de suicídio. O estudo de Santos e Barbosa (2017) indica que entre 2000 e 2015, esta região apresentou altas taxas de mortalidade por suicídio. Entre 2005 e 2007, Caicó –RNfoio terceiro lugar do Brasil no coeficiente de suicídio entre as cidades com 50 mil habitantes (MEDEIROS, 2020). Já nos anos de 2010 a 2014, a taxa média de mortalidade por suicídios registrada no Nordeste, foi de 5,14 óbitos por 100 mil habitantes, com 75% dos municípios com taxa até 7,19 óbitos/100 mil (SANTOS; BARBOSA, 2017). No Brasil, entre os dez municípios com maiores taxas de suicídio, cinco pertencem ao estado do Piauí e quatro ao Rio Grande do Norte. Os dez municípios nordestinos que com maiores taxas foram: São José do Seridó/RN (35,63 óbitos/100 40 mil habitantes), Acauã/PI (33,34), Ouro Branco/RN (29,21), Rafael Godeiro/RN (28,45), Manoel Emídio/PI (28,04), Bernardo Batista/PB (27,92), Bertolínea/PI (26,81), Tibau/RN (26,79), Prata do Piauí/PI (26,43) e Guaribas/PI (25,06) (SANTOS; BARBOSA, 2017). A Tabela 5 apresenta a ocupação dos indivíduos que tentaram suicídio. Destacam-se as informações sobre “ignorados” (23,9%) e estudantes (22,7%). Tabela 5 - Ocupação dos indivíduos que tentaram suicídio, número absoluto e porcentagem. Ocupação N % Ignorado 63 23,9 Estudantes 61 22,7 Do Lar 33 12,5 Aposentado/ Beneficiário 22 8,4 Autônomo / Comerciante/ Vendedor 19 7,2 Bordadeira/ Costureira / Manicure 15 5,7 Doméstica/ Babá/ Auxiliar De Serviços Gerais 10 3,8 Profissional Da Educação 10 3,8 Desempregado 09 3,4 Produtor Rural (Agricultor, Pescador) 07 2,7 Administrador/ Auxiliar De Escritório/ Recepcionista/ Telefonista 05 2,0 Marceneiro/ Mecânico/ Motorista 03 1,2 Pedreiro/ Servente De Pedreiro/ Pintor 03 1,2 Funcionário Público Municipal 02 0,8 Profissional Da Saúde (Técnico Em Enfermagem, Médico) 02 0,8 Total 264 100 Fonte: Dados da pesquisa, 2020. Durante a avaliação das fichas para coleta, percebeu-se incongruência no preenchimento de vários dados, como itens sem resposta, dificultando a utilização das fichas/dados. A maioria da incongruência observada poderia ser evitada com programação, considerando a orientação do próprio instrutivo de preenchimento da ficha de notificação, disponibilizado pelo ministério da saúde (BRASIL, 2015). As informações referentes à perda de dados divulgados pelo SINAN demonstram como ainda há pouco reconhecimento por parte dos profissionais e gestores de saúde a respeito da importância destas informações. Cabe ressaltar que, apesar das limitações, o SINAN é o único banco nacional de informações sobre 41 a epidemiologia das TS e autoagressão e sua utilização contribui para a discussão de suas fragilidades, tornando mais evidente a necessidade de sua melhoria (GUIMARÃES, 2012). A Tabela 6trazas tentativas anteriores de suicídio e os meios de agressão utilizados, sendo o envenenamento o mais frequente (51,33%). Quase metade dos casos apresentava recidiva (47,0%), com destaque ainda para o número de ignorados. Tabela 6 - Tentativa anterior versus meio de agressão.Tentativa anterior versus meio de agressão. Variável N % Tentativa anterior Sim 124 47,0 Não 77 29,2 Ignorado 63 23,9 Total 264 100,0 Meios de agressão Enforcamento 44 17,1 Objeto Contundente 1 0,4 Objeto Pérfuro-Cortante 31 12,1 Substância/ Objeto Quente 9 3,5 Envenenamento 132 51,3 Arma De Fogo 1 0,4 Ignorado 28 10,9 Outros (Pulo De Altura) 11 4,3 Total 264 100,0 Fonte: Dados da pesquisa, 2020. Um estudo de revisão apontou os fatores de risco mais prevalentes em TS por envenenamento, método que hoje está entre os três mais comuns em casos de autoagressão. Os resultados apresentaram que o transtorno psiquiátrico de base é condição de risco mais relevante nesses episódios (PIRES et al., 2014) A substância lograda varia conforme o sexo, sendo a overdose medicamentosa trivial entre mulheres e a ingestão de pesticidas e outras substâncias químicas de maior letalidade entre homens (BERNARDES; TURINI; MATSUO, 2010; FICHER; VANSAN, 2008; FONSECA et al., 2010; WERNECK et al., 2006). Pouco se sabe sobre como esses fatores de risco estabelecem interação no comportamento suicida, bem como sobre as circunstâncias em que os indivíduos 42 estão inseridos (FIGEL; MENEGATTIL; PINHEIRO, 2013; OLIVEIRA; BEZERRA FILHO; FEITOSA, 2014). Dentre os meios de agressão notificados, chamou atenção o fato de sete vítimas utilizarem mais de um método,como medicações para intoxicação, seguido de enforcamento; objetos pérfuro-cortantes seguido de enforcamento; ou objeto pérfuro-cortante mais a queda de lugares altos. Entre 2007 e 2017, foramnotificadosnoSINAN470.913 casos de intoxicação exógena no Brasil, sendo 220.045 (46,7%) caracterizadas como tentativas de suicídio, dentre todos os casos de notificação por intoxicação (BRASIL, 2019). 5.2 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES E RESULTADOS DO QUACS A aplicação do instrumento contou com a participação de 104 profissionais, num universo de aproximado de 134 (setores do pronto socorro e clínica médica),sendo uma porcentagem maior de técnicos de enfermagem (44,23%) e de enfermeiros (33,65%) (Gráfico 1). Gráfico 1 - Porcentagem de profissionais por categoria que responderam ao QuACS. Fonte: Dados da pesquisa, 2020. 43 Todas as pessoas que tentaram suicídio devem receber atenção profissional devido à fragilidade emocional em que se encontram. Os serviços de saúde principalmente os hospitais gerais nem sempre possuem o devido preparo para esse cuidado, a inaptidão ocorre por uma formação inicial e deficiente em saúde mental, além da falta de apoio da instituição e a sobrecarga de trabalho, tornando a assistência essencialmente técnica (TENG; PAMPANELLI, 2015). Enquanto enfermeira atuante no Hospital pesquisado, percebe-se que o tema suicídio ainda é visto como um problema individual, o que dificulta muito o seu entendimento como algo complexo que afeta toda a sociedade. É cercado pelo desconhecimento, medo, preconceito, incômodo e atitudes condenatórias,
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