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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ENFERMAGEM Perfil sociodemográfico das tentativas de suicídio em Boa Vista, Roraima. Boa Vista – Roraima 2016 Thaís Pereira da Silva Perfil sociodemográfico das tentativas de suicídio em Boa Vista, Roraima. Monografia apresentada, como pré-requisito parcial para conclusão do curso bacharel em Enfermagem, na Universidade Federal de Roraima. Orientadora: MSc. Andrea Cardoso. Boa Vista – Roraima 2016 RESUMO O suicídio na área da saúde cria um paradoxo, que vai de encontro às maiores evoluções que a ciência alcançou para a manutenção da vida dos seres humanos nas últimas décadas, tendo em vista que este por meio de diferentes atos (enforcamento, ingestão de substancias químicas, automutilação e outros) busca a morte e não a vida para a resolução de suas aflições persistentes.Este trabalho tem como objetivo identificar o perfil sociodemográfico das tentativas de suicídio em Boa Vista, Roraima, no período de janeiro 2013 a setembro de 2016. A metodologia utilizada na pesquisa foi do tipo descritiva, documental e quantitativa, sendo desenvolvida nos setores SAME e UVE do Hospital Geral de Roraima, no período de agosto e setembro de 2016. Incluiu-se todos os indivíduos atendidos no setor da emergência, maiores de 18 anos tendo como motivo de atendimento tentativa de suicídio. Obteve-se 339 registros no SAME e 167 notificações na UVE, totalizando 506 registros. A pesquisa resultou no seguinte perfilsóciodemográfico definido por mulheres, na faixa etária de 18-29 anos, de cor parda, solteiras, com escolaridade de 9 a 11 anos de estudo, residentes na capital Boa Vista, que fizeram uso do método de envenenamento, cuja residência foi principal local de ocorrência. Quanto à ocupação profissional, predominou a do lar. Em relação à presença de transtornos mentais verificou-se maior quantidade de casos em homens. Com base nos resultados do estudo sugere-se modificações na forma de pensar em saúde mental, consequentemente na forma de abordar e tratar aqueles que possuem transtornos mentais. Palavras Chaves: tentativa de suicídio, perfil sociodemográfico, saúde mental . ABSTRACT Suicide in health creates a paradox, which meets the major developments that science has achieved to maintain the life of human beings in recent decades, with a view to this through different acts (hanging, ingesting chemicals , self-mutilation and others) seeking death and not life to solve its persistent afflictions. This work aims to identify the socio-demographic profile of suicide attempts in Boa Vista, Roraima, from January 2013 to September 2016. The methodology used in the research was descriptive, documental and quantitative, being developed in SAME and UVE sectors the Roraima General Hospital, between August and September 2016, and included all patients seen in the emergency department, 18 years having as a reason for attendance suicide attempt, and was obtained 339 records in SAME and 167 notifications in UVE. The search resulted in the following sociodemographic profile defined by women, aged 18-29 years, mulatto, single, with education from 9 to 11 years of study, residents in the capital Boa Vista, which made use of the poisoning method, having the residence as principal place of occurrence, as the occupation predominated the housewife, for the presence of mental disorders there was a higher number of cases in men. Based on the study results suggest that changes are made in the form of thinking about mental health, and therefore the way to approach and treat those with mental disorders. Key words: suicide attempt, sociodemographic profile, mental health LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Percentagem de tentativas de suicídio distribuídas por sexo, no período de 2013 a 2016, registradas no SAME...................................................................................................................40 Figura 2 - Percentagem de tentativas de suicídio distribuídas por faixa etária, no período de 2013 a 2016, registradas no SAME..................................................................................................................41 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Distribuição de freqüências das variáveis de descrição da amostra por Sexo, n=167.........................................................................................................................................43 Tabela 2 – Distribuição da Frequência das variáveis de descrição de eventos separados por sexo n=167........................................................................................................................ ..................44 Tabela 3 – Tentativas de suicídio categorizadas por grupo de ocupações, no período de 2013 a 2016 conforme o sexo ..............................................................................................................46 Tabela 4 – Distribuição das tentativas de suicídio notificadas pela UVE de acordo com a presença transtornos mentais, no período de 2013 a 2016.......................................................................46 LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria CFP – Conselho Federal de Psicologia HGR – Hospital Geral de Roraima SAME – Serviço de Arquivo Médico e Estatística SIM –Sistema de Informação de Notificação OMS – Organização Mundial de Saúde UVE – Unidade de Vigilância Epidemiológica SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 11 1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 14 1.2.1 Objetivo geral ............................................................................................................... 14 1.2.2 Objetivos específicos .................................................................................................... 14 1.3 JUSTIFICATIVA................................................................................................................ 15 2 REFERENCIAL TEORICO ................................................................................................... 17 2.1 ASPECTOS SÓCIO-CULTURAIS DO SUICÍDIO ......................................................... 17 2.2 ASPECTOSCONCEITUAIS E EPIDEMIOLOGICOS DO SUICIDIO ........................... 21 2.3 FATORESDE RISCO E FATORES PROTETORES PARA O SUICÍDIO ...................... 24 2.4 ATENDIMENTO AO PACIENTE EM PÓS TENTATIVA DE SUICÍDIO E A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM. .................................................................................. 30 3 METODOLOGIA .................................................................................................................. 34 3.1 Tipo de estudo ................................................................................................................. 34 3.2 Local de estudo ............................................................................................................... 35 3.3 População e amostra ........................................................................................................ 36 3.4 Procedimentos de coleta de dados .................................................................................... 37 3.4.1 Fase um da coleta de dados .......................................................................................38 4.4.2Fase dois da coleta de dados ...................................................................................... 38 3.5 Análises estatística .......................................................................................................... 38 3.5.1 Fase um da análise estatística .................................................................................... 39 3.5.2Fase dois da análise estatística ................................................................................... 39 3.5.3Fase três da analise estatística .................................................................................... 39 4 RESULTADOS ................................................................................................................. 41 1.4 Características da amostra registradas no SAME. ............................................................ 41 4.2 Características da amostra registradas na UVE ................................................................ 43 4.3 Características descritivas dos eventos ............................................................................. 45 4.4 – Características da amostra coletada na UVE referente à presença de transtorno mental . 48 5 DISCUSSÃO ......................................................................................................................... 49 6 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 55 7 REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 59 8 APÊNDICE ........................................................................................................................... 62 9 ANEXOS .............................................................................................................................. 65 1 INTRODUÇÃO A palavra suicídio advém da expressão latina “sue caedare” que significa matar-se. O suicídio é compreendido como qualquer ato que tem como finalidade a morte. Na sociedade moderna o suicídio é um problema social de relevância para a saúde pública e anualmente mais de um milhão de pessoas tiram a própria vida (FERREIRA, 2008; CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013). O suicídio na área da saúde cria um paradoxo, que vai de encontro às maiores evoluções que a ciência alcançou para a manutenção da vida dos seres humanos nas últimas décadas, tendo em vista que este por meio de diferentes atos (enforcamento, ingestão de substancias químicas, automutilação e outros) busca a morte e não a vida para a resolução de suas aflições persistentes. (CFP, 2013) O comportamento suicida perpassa diferentes estágios formando um complexo processo que se inicia com a ideia de retirar a própria vida, seguido pelo planejamento, tentativa e por fim a morte. Cada um desses estágios são comunicados pela vítima de formas verbais e não verbais, demonstrando que tal ação é sequencial e possui sinais e avisos para que ocorra a identificação precoce e o devido encaminhamento do indivíduo, mediante a estes sinais por meio dos profissionais de saúde. (HETEM, 2010; CFP, 2013; OMS,2014). Como explicado anteriormente o suicídio possui diferentes estágios, cujos os estágios ou fases mais preocupantes são as tentativas de suicídio, pois o indivíduo já avançou duas fases anteriores (idéia ou ideação suicida e planejamento), o que caracteriza o quão preocupante as tentativas de suicídio são. As estimativas globais apontam que ocorrem dez vezes mais tentativas de suicídio do que suicídios (BOTEGA, 2010). O suicido é um tema complexo, cheio de tabus a serem quebrados, repletos de visões errôneas referentes a este ato. Essa visões equivocadas iniciaram na conceituação ou qualificação do suicídio na ideia do: pecaminoso, criminoso, irracional e injustificado. Inclusive pode ser correlacionado com a história do suicídio desde o período antigo, pois, a morte voluntaria não possui características pejorativas até o século XII onde foi definido pela primeira vez (CFP, 2013). Foi a partir do fim do século XIII que as diferentes ciências que se proporão a compreender o suicídio como sociologia, filosofia e psicologia atribuíram ao suicídio diferentes noções por meio de uma visão do indivíduo como um ser único e a sua interação com a sociedade, e foram a partir de seus estudos que suicido começou a ser tratado como um fenômeno multifatorial complexo como é compreendido nos dias atuais(BASTOS e GODIM, 2010). Para exemplificar o problema em que o suicídio tornou-se em nível mundial e a necessidade de desenvolverem ações de prevenção no mundo todo, a Organização Mundial de Saúde lançou em 2014 um relatório que demonstra através de dados epidemiológicos os seguintes resultados a nível mundial, no ano de 2012 ocorreram 8004 000 mortes no mundo por suicídio, que representa uma taxa de suicídio de 11,4 casos por 100 000 habitantes, e ainda afirma que a cada quarenta segundos uma pessoa morre tendo como causa o suicídio. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2014).Conforme esse relatório, os jovens são os mais afetados, com segunda causa de morte mais comum na faixa etária de 15 a 29 anos em nível mundial. Os países de média e baixa renda são os que aparecem com os maiores índices anuais de suicídio, totalizando 75% dos casos global. A respeito das tentativas de suicídio em nível global o relatório explica que existem duas formas de colherem informações em nível nacional e regional que são a partir de relatos suicidas na forma de amostra em uma comunidade e por meio dos registros médicos, a OMS não coleta esses dados rotineiramente mais apoiaas pesquisas da Organização Mundial de Saúde Mental. Mediante a tal fato não existem dados a respeito das tentativas de suicídio apenas estimativas (OMS, 2014). Nas Américas Norte, Central e do Sul em 2012 ocorreram 35 mil casos de óbito por suicídio representando em nível global 4,3% dos casos, sendo que a taxa de suicídio foi de 3,6/100 mil habitantes. Segundo um manual do Ministério da Saúde de 2009 o Brasil e os demais países que compõem a América do Sul e Central possuem em média, uma estimativa de oito casos de suicídio para cada 100 mil habitantes. O Brasil está entre os dez países com os maiores registros de números absolutos de suicídio. (BRASIL, 2009; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSQUIATRIA, 2010; OMS, 2014). Nos últimos doze anos a região Norte do Brasil apresentou aumento de 77,7% de casos de suicídio, passando de 390 para 693, sendo que no Acre, Roraima, Tocantins e Amazonas o número de casos duplicou. O estado de Roraima que se localiza mais ao norte do Brasil é considerado o segundo estado no Brasil com o maior quantitativo de casos ficando atrás apenas do Rio Grande do Sul, essa tendência vem sendo evidenciada desde de 2007 quando houve registro de 34,6 suicídios por 100 mil habitantes (IPEA 2013; ABP, 2012; WAISENLFISZ, 2014) Conforme os dados apresentados anteriormente o suicídio é verificado como um problema de saúde pública preocupante, sendo a enfermagem uma área que atende a saúde individual e coletiva, atuando em diferentes ambientes como na assistência hospitalar, prevenção, promoção, educação em saúde e gestão o profissional enfermeiro poderá contribuir de forma significativa para a diminuição de tais números alarmantes por meio de ações preventivas para minimizar as tentativas de suicídio (GOMES et al, 2011). A enfermagem no que concerne a sua atuação na assistência em saúde mental, direcionada ao tema comportamento suicida, modificou sua assistência conforme a própria evolução das ações voltadas para saúde mental no Brasil e no mundo ao decorrer dos anos desde a era manicomial até os dias atuais. Atualmente as funções da enfermagem estão voltadas para promoção da saúde mental, prevençãoda enfermidade mental e ajuda ao doente em enfrentar a sua enfermidade mental, para o desenvolvimento de tais funções é essencial o preparo do profissional para assistir de maneira integral o paciente pós tentativa de suicídio (VILLELA e SCATENA, 2004) Mediante ao panorama apresentado, qual o perfil sóciodemográfico das tentativas de suicídio em Roraima? 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo geral Identificar o perfil sociodemográfico das tentativas de suicídio em Boa Vista, Roraima, no período de janeiro 2013 a setembro de 2016. 1.2.2 Objetivos específicos Caracterizar os casos de tentativa de suicídio quanto a sexo, idade, raça,município de procedência, método utilizado, local da ocorrência e ocupação. Verificar a correlação de transtornos mentais com os casos de tentativa de suicídio. 1.3 JUSTIFICATIVA Durante a graduação o aluno estuda diferentes eixos temáticos relacionados a atuação do enfermeiro, um dos temas estudados foi saúde mental, devido às inúmeras peculiaridades existentes e a gama infindável de viés da psique humana, que se fundiram com experiências e vivencias pessoais e de terceiros. Buscar maior compreensão à respeito da temática, determinou a motivação em pesquisar esta área rica em conhecimentos ainda inexplorados. Durante as buscas em livros e periódicos o tema suicídio e tentativas de suicídio chamou atenção. O suicídio, que a primeira vista parece sombrio e carregado, na verdade demonstra-se um tema interessante e que precisa ser desenvolvido com delicadeza e tato. Torna-se interessante e intrigante o tema devido ser um tabu em nossa sociedade, não discutido em rodas de conversa, e por isso não há um conhecimento por parte da sociedade da importância de discussões a respeito deste tema. Em diferentes estudos como de Avanci (2004); Botega (2010, 2014); Bertolote (2010); Brasil (2013) realizado nos últimos dez anos o tema em questão vem tornando-se notório e demonstrando ser um problema de saúde pública que necessita de intervenção, tendo em vista que este é negligenciado por parte da sociedade, dos serviços públicos e até mesmo pela área da saúde, onde se verificou a falta de ações pertinentes para a desaceleração do crescimento das taxas de suicídio a nível global, nacional, regional e local. Um fator preponderante para a decisão do estudo das tentativas de suicídio foi a verificação de que o estado de Roraima é o segundo no Brasil com a maior taxa de suicídio, e o que chama atenção é o fato de não existirem pesquisas de nenhum tipo a respeito do tema no estado, tornando a identificação do tema, a problemática atual e sua taxa no estado em que resido fatores decisivos para o aprofundamento nos estudos a respeito do tema, buscando objetivar com os resultados da pesquisa a verificação da problemática e exposição da mesma aos órgãos públicos do estado, para que o mesmo seja capaz de desenvolver estratégicas voltadas para a situação. O entendimento aprofundado a respeito do suicídio foi verificado em diversas áreas de estudos, sendo o maior debate feito na área da psicologia. Creio que o profissional enfermeiro também deve entender a respeito do tema, tendo em vista que durante sua vida como enfermeiro passará pelo menos uma vez pela situação de necessitar prestar assistência a um paciente que apresenta comportamento suicida seja ele ideação, planejamento ou tentativa de suicídio. Portando a enfermagem como ciência deve produzir conhecimento cientifico para debater o tema em sua área e o enriquecimento dos conhecimentos pré-existentes a respeito do comportamento suicida no Brasil e no estado de Roraima. Acredita-se que a pesquisa é relevante mediante aos dados apresentados e ao fato de ainda não existirem pesquisas publicas a respeito do tema em Boa Vista, RR e a necessidade de identificar os indivíduos que tentam suicídio. Mediante a isto os resultados obtidos nesta pesquisa são relevante devido ser o primeiro estudo em nosso estado, evidenciando a necessidade de mais estudos, contribuindo com o conhecimento a respeito da temática para a academia, profissionais de saúde, para o Hospital Geral de Roraima e para a população em geral. 2 REFERENCIAL TEORICO 2.1 ASPECTOS SÓCIO-CULTURAIS DO SUICÍDIO A humanidade presencia o suicídio desde a antiguidade, sendo este repleto de significados distintos conforme a época, assim como a forma de lidar com o cadáver do suicida. Na antiguidade a porta de entrada para o reino dos deuses seria por meio de autoextermínio; os gregos foram os responsáveis em transformar o suicídio em crime hediondo, pois segundo as leis da polis o indivíduo que desejasse cometer suicídio deveria apresentar-se diante das autoridades da polis para defender o seu direito a morte explicando-lhes o porquê da morte ser a única alternativa para findar seus tormentos, sendo o estado responsável em conceder ou vetar o direito a morte. Tal prática era comum em Atenas, Esparta, Tebas e Chipre, caso o suicídio fosse feito sem a aprovação das autoridades da polis, conforme as leis de Platão o corpo do suicida clandestino não deveria receber as honras de um sepultamento comum e suas mãos deveriam ser enterradas a parte. (BASTOS; GODIM, 2011; AVANCI, 2004) Basicamente na Grécia antiga quando esta se tornou cidade-estado o individuo que vivia ali naquela sociedade não possuía o direito de morrer por conta própria este deveria submeter sua decisão de suicidar-se ao estado para que a comunidade lhe autoriza-se. Todo ato suicida não previamente autorizado era considerado uma transgressão as leis da época. Quanto a esse aspecto do suicídio ser um ato condenado pelo estado enxerga-se a morte de Sócrates de duas maneiras: para alguns foi suicídio e para outros este foi obrigado a ingerir cicuta (planta venenosa) por incentivar os jovens ao suicídio ao discutir a respeito da escolha do bem (vida) e do mal (morte) , sendo até ele um grande pensador suscetível a este ato; a morte dele não foi bem aceita na sociedade da época em decorrência da quebra de uma lei e do espírito de sociedade, portanto criticado por Platão e Aristóteles. (RIBEIRO, DM, 2004) Platão condenava o ato suicida em sua totalidade porém para ele existiam situações como a presença de doenças incuráveis, no sofrimento e em situações de miséria e humilhação este poderia ser aceito. Foi ele quem redigiu as principais punições que deveriam ser instituídas aos que cometessem suicido. Já Aristóteles repudiava o suicídio em todas as suas formas e para ele não deveria haver exceções já que o suicida estava desrespeitando a sociedade sendo fraco e renunciando seu papel e seus deveres civis, tendo vista que a condição de cidadão que diferencia o homem dos animais. (WERLANG e ASNIS, 2004) Na Roma, o suicídio por muito tempo era legislado e julgado pelo senado, sendo caracterizado como crime, porém com a expansão do império romano, muitas leis foram caindo por terra e uma delas foi a que legislava a respeito do suicídio, permanecendo apenas como ato criminoso os suicídios por enforcamento, cujos corpos eram vetados de sepultura. (AVANCI, 2004) No período da republica em Roma as regras a respeito do ato suicida assemelhavam-se com a dos gregos; este quando cometido era considerado como ato que enfraquecia a sociedade e aqueles que desejavam pela morte deveriam expor suas razões ao estado. As leis que tratavam a respeito do suicídio impediam que houvesse uma desestabilização econômica ou política quando trava a respeito dos escravos, que eram proibidos de suicidar-se devido o prejuízo que iria causar e os soldados que tentavam suicídio eram considerados desertores e, portanto deveriam morrer. (RIBEIRO,2004) No antigo Egito, África Oriental e Rússia, o suicídio possuía peculiaridades únicas, como ser necessário o suicídio dos escravos em caso de seu senhor ou o faraó morrerem; em casos de enforcamento na África o corpo era substituído por uma cabra para tranqüilizar o espírito do suicida; e na Rússia as pessoas costumavam suicidar-se na porta da casa de um inimigo. (AVANCI, 2004) Os gregos e os romanos vinculavam o ato suicida como transgressão das questões relativas ao estado, a partir da idade média o ato suicida passa a ser condenado como pecado devido a relação com o divino e a religião – o catolicismo. (RIBEIRO, 2004) Durante a idade média e partir de Santo Agostinho (354-430) que o suicídio criou em volta de si a repulsa moral, mantida até os dias atuais e o caráter pecaminoso, sendo condenado pela igreja católica até os dias atuais. Outro fato importante que na idade média como um suicídio lesava os bolsos da coroa o corpo sofria penalidades como o confisco dos bens do suicida e conseqüentemente afetava sua família, a exposição e degradação dos corpos e descarte nos corpos em rios dentro de tonéis. (AVANCI, 2004; BASTOS e GODIM, 2011; CFP 2013) Para julgar os suicidas e suas famílias na idade média foram criados os tribunais eclesiásticos, nesse tribunal era analisado se as mortes foram em decorrência de suicídio ou não; surgindo a partir daí um consenso que apenas as pessoas que sofriam de melancolia ou loucura agressiva estariam isentas das punições impostas aqueles que não eram identificados como melancólicos ou loucos, porém regras delimitadas por meio do tribunal raramente eram compridas e todos os suicidas recebiam o mesmo tratamento, não podendo ser enterrados em solo consagrado. (RIBEIRO, 2004) O suicídio observado por meio da ótica cristã tornou o ato altamente repugnante, devido à forma como era visto por pecado. Com o surgimento do iluminismo até o século XVI o suicídio já havia sido analisado na ótica filosófica e na cristã e mediante a isso, condenado parcialmente ou total, ou glorificado,dependendo das circunstancias; a partir deste momento devido à focalização no antropocentrismo, a metodologia de pensamento voltou-se para o esclarecimento de questões relativas ao homem, buscando desvincular-se da religião. Deste momento em diante o suicídio foi repensando juntamente com a ideia de liberdade e tolerância ao ato, levando em consideração que suicidar-se agora era uma ação de caráter pessoal e que as repressões e punições ao suicida e a família deveriam ser deixadas para trás. (ALVAREZ, 1999; FERREIRA, 2013) Até meados do século XVIII os suicidas não tinham seus corpos devidamente enterrados, eram expostos para todos em vias públicas, tornado o ato vergonhoso para família do suicida. No fim do século XVIII com a revolução francesa e os seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, o suicídio deixou de ser proibido assim com a repressão que os mesmos sofriam. (AVANCI, 2004; COSTA, 2013) A revolução industrial modificou a vida da sociedade da época devido a uma aceleração súbita do ritmo de vida das pessoas, e a origem de novos processos de produção e tais mudanças permaneceram até os dias atuais. A respeito do suicídio no século XIX apesar de estar ocorrendo diversas transformações os traços conservadores permaneciam na sociedade, apesar de que o suicídio perdeu a conotação de crime ou pecado, além de que deixou de ser considerado um ato vergonhoso e passou a ser trato como sinal de doença mental; surgindo então a visualização do problema da forma como ele é encarado nos dias atuais. (FERREIRA, 2013) A ideia da presença de doença mental naqueles que cometem suicídio surgiu com a criação da escola de psiquiatria de Esqueirol (1838)onde se deu inicio os estudos da mente humana para melhor compreender os transtornos mentais. Foi a partir daí que o suicídio virou objeto de estudo da psiquiatria, resultando na descriminalização do ato e até mesmo a modificação da visão da igreja católica sendo agora o ato suicida ocasionado devido a presença de transtornos mentais e não mais uma possessão demoníaca ou um pecado. (FERREIRA, 2013) Os séculos XIX e XX trouxeram consigo a abordagem do suicídio como um problema social que poderia ser relacionado a transtornos mentais e ainda por cima foi estudado por diferentes atores sociais importantes como David Hume, Emile Durkheim, Sigmund Freud e Karl Menninger que visualizaram o suicídio de forma ampla levando em consideração questões sociais e psicanalíticas. (COSTA, 2013) Um dos grandes estudiosos a respeito do suicídio como fenômeno social é Durkheim que dá origem a doutrina sociológica, onde busca compreender tal fenômeno como resultado do meio em que o indivíduo se encontra bem como as alterações contidas no meio em que vive, e que possam vir de alguma forma modificar a estabilidade das taxas que se referem a suicídio, já que este afirma que fenômenos de ordem sociais são capazes de interferir no percurso natural da sociedade bem como nas questões de saúde. Ele também buscou comprovar que não só a loucura poderia provocar a ação suicida como é afirmado pela corrente psiquiátrica iniciada por Esqueirol, que afirma que uma pessoa só comete suicídio se esta não for sã, consequentemente todo aquele que se suicida possui uma desordem mental. (RIBEIRO, 2004) Portanto é notório que o suicídio em si teve seu significado conforme a época, perpassando consigo os eventos históricos, demonstrando que por muito tempo o suicídio não foi capaz de ser compreendido. Nos dias atuais é sabido que ainda é um tema cheio de tabus devido todo o caráter histórico no qual o tema em si foi construído e principalmente mediante as visões religiosas que o determinavam e ainda determinam tal ato como pecado, talvez sejam por tal motivo que as tentativas de suicídio e o suicídio são temas pouco discutidos. 2.2 ASPECTOSCONCEITUAIS E EPIDEMIOLOGICOS DO SUICIDIO Para fins do estudo que será realizado é importante a apresentação das terminologias consideradas essências para o entendimento deste tema, sendo que a terminologia da Organização Mundial de Saúde é a base principal para construção da pesquisa, porém outras definições também consideradas relevantes serão apresentadas. A morte voluntaria na sociedade capitalista não é vista com bons olhos, tal afirmação não é reduzida ao suicídio e sim a qualquer tipo de morte, a morte em si é um tabu, tendo em vista que as pessoas não gostam de ver, ouvir ou falar a respeito. Aqueles que tentam ou cometem suicídio em nossa sociedade são denominados como loucos pelo “senso comum”. A significação de suicídio remete a um ato bárbaro e é aí então que verificasse a pobreza terminológica do termo suicídio já que são inclusas diversas maneiras de tirar a própria vida, independentemente de ter sido intencional ou deliberado, da forma e motivações que levaram ao acontecimento de tal fenômeno. (CFP, 2013) No relatório de 2014 a OMS trouxe a definição de suicídio como sendo um ato deliberado de matar-se; tentativa de suicídio sendo, qualquer ato suicida intencional e não fatal auto infligido, podendo ser envenenamento, lesões ou automutilação, um fato interessante a ser ressaltado que as automutilações estão classificadas como tentativa de suicídio por ser uma problemática atual e que muitas vezes não há intenção por parte de quem a comete de alcançar a morte, mais é incluída na categoria por ser difícil a mensuração do grau de intenção de suicídio por meio das automutilações que muitas vezes são ocultadas e por fim a definição de comportamento suicida que é aquele que compreende os estágios de ideação suicida, planejamento, tentativa e o suicídio em si. (OMS, 2014) O suicídio é um fenômeno multifatorial que envolve fatores socioculturais, genéticos, psicodinâmicos, filosófico-existenciais e ambientais, os quais estãoinseridos em um único indivíduo que está a vivenciar uma dor única que não é capaz de ser entendida por aqueles que nunca a experimentaram. (ABP, 2009) Para Durkheim, suicídio é todo ato que resulte em morte auto provada em decorrência de pontos positivos ou negativos. E a tentativa é o ato interrompido antes de resultar em morte. (RIBEIRO, 2004) As tentativas de suicídio e suicídio são situações sequenciais motivadas por fatores sociais, econômicos, biológicos e psicológicos, porém que diferem quanto à definição. É importante saber diferenciar tais atos tendo em vista que epidemiologicamente estimasse que as tentativas de suicídio estivessem em torno de 9 a 35 milhões de casos por ano e em torno de 900.00 casos de suicídio anuais no mundo, demonstrando assim que o suicídio é caracterizado atualmente como um problema de saúde pública de tanta relevância que a OMS o considera uma das prioridades globais na área da saúde. (BERTOLOTE, 2010) As taxas de suicídio crescem vertiginosamente em todo o mundo, sendo as mais altas taxas encontradas em indivíduos jovens, modificando o padrão anteriormente observado de uma prevalência maior em idosos. O suicídio hoje é considerado uma das quatro principais causas de mortes em indivíduos na faixa etária de 15-44 anos, tanto em países desenvolvidos com naqueles em desenvolvimento. (LOVISI et al, 2009) O suicídio atualmente esta classificado entre as principais causas de morte em pessoas de 15 a 44 anos de idade, ocorrendo anualmente mais de um milhão de óbitos o que corresponde a 1,4% do total de mortes no mundo, porem esses dados não incluem as tentativas de suicídios que são mais frequentes que o suicídio configurando em torno de 10 a 20 vezes mais casos. Segundo a Organização Mundial de Saúde, em seu primeiro relatório global sobre prevenção de suicídio mais de 800 mil pessoas cometem suicídio por ano no mundo, isso significa que a cada 40 segundos uma pessoa se suicida. Os coeficientes de suicídio mais altos atualmente encontram-se em países da Europa Oriental e os mais baixos nas Américas Central e do Sul; a pesar do coeficiente do Brasil ser relativamente baixo mesmo sendo um país populoso este encontra-se na lista dos dez países com mais registros de números absolutos de casos de suicídio. No ano de 2011, ocorrem 9.852 suicídios no país, representando um media de 27 mortes por dia, enquanto o aumento populacional configurou-se em torno de 17,8% o numero de óbitos por suicídio cresceu 33,5%. Em pessoas que tem entre 15 a 29 anos de idade a proporção das mortes atinge 4% do total de mortes no Brasil. (BOTEGA, 2014). No ano de 2012 o Brasil totalizou 11.821 suicídios sendo 2.623 mulheres e 9198 homens de todas as idades sendo 6.0 mortes por 100 mil pessoas. Dos anos 2000 a 2012 no Brasil o índice de suicídios aumentou em 10.4%. (OMS, 2014) As taxas referentes à mortalidade por suicídio no Brasil e no mundo modificam-se conforme os aspectos que dão características a uma sociedade como os culturais, regionais e sociodemográficos, sendo estas variáveis importantes para qualquer estudo a respeito do tema. A forma como esses eventos são registrados também podem influir nos valores finais; acredita-se que exista uma subestimação dos reais valores referentes as taxas de suicídio no Brasil em decorrência da subnotificação e da maneira que os óbitos por suicídio são registrados. (LOVISI, et al, 2009) Segundo BOTEGA (2014), existem peculiaridades referentes ao coeficiente nacional de mortalidade por suicídio, pois as variações regionais escondem determinadas situações como taxas elevadas de suicídio entre homens, idosos, indígenas e em cidades de pequeno e de médio porte populacional. Foi verificado que no Centro – Oeste e no Norte alguns grupos como os indígenas e os lavradores do interior do Rio Grande do Sul apresentam coeficientes que se aproximam dos países do leste Europeu e Escandinávia, totalizando de 15 a 30 casos por 100 mil habitantes. A situação epidemiológica dos casos de suicídio no estado de Roraima não possui muitos estudos a respeito, apenas os dados do Sistema de Informação de Notificação (SIM), e as tentativas de suicídio não possuem uma consolidação dos dados. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria o estado de Roraima atualmente situasse em segundo lugar no ranking nacional com maior numero de casos ficando apenas atrás do Rio Grande do Sul que lidera o ranking. (ABP, 2013) Um estudo realizado a respeito da situação epidemiológica do suicídio no Brasilverificou que no recorte de 1980 a 2006, Boa Vista (RR) foi uma das capitais brasileiras que durante todo o estudo apresentou taxas médias mais altas com 7,6 mortes por 100.000 habitantes, seguida por Porto Alegre (7,3;100.000 hab) e Florianópolis (6,5;100.000 hab), no estudo tal situação foi explicada devido a alta taxa de mortalidade por suicídio entre os povos indígenas em Boa Vista. (LOSIVAL, et al, 2009). Segundo o SIM, no ano de 2013 conforme a categoria do CID-10 ocorreu 33 óbitos no estado de Roraima, porém é importante ressaltar que não existe no sistema a denominação suicídio mais sim classificações que se enquadram como formas de suicídio como auto intoxicação voluntaria por álcool (3 casos), auto intoxicação intencional por produtos químicos e outras substancias (1 casos), lesão auto provocada intencional por enforcamento (26 casos), lesão auto provocada intencional por afogamento (2 casos) e lesão auto provocada intencional por disparo de arma de fogo de mão (1 casos). Epidemiologicamente as tentativas de suicídio são mais difíceis de serem quantificadas tendo em vista que na maioria dos estudos os índices referem-se apenas as taxa de suicídio e quase nada as tentativas, demonstrando que ocorre aí um problema recorrente nos serviços de saúde que são as subnotificações impedindo então a existência de dados referentes às tentativas de suicídio. Segundo Botega (2014), as tentativas de suicídio superam em pelo menos dez vezes o numero de suicido, porém isto é apenas uma estimativa, o mesmo afirma que não existem registros em outros países ou mesmo no Brasil de tentativas de suicido. O único relato trata-se de um estudo feito em 2003 pela OMS em Campinas/SP. 2.3 FATORESDE RISCO E FATORES PROTETORES PARA O SUICÍDIO 2.3.1 Fatores de risco Os fatores de risco e de proteção são fatores produzidos em decorrência de sua multiplicidade e das interações que ocorrem com o meio. É essencial conhecer tais fatores para poder prevenir tentativas de suicídio e o suicídio propriamente dito, tendo em vista que a presença de fatores de risco são preditores para o comportamento suicida e os fatores protetores poupadores de vida já que influenciam de forma positiva os indivíduos. (FERREIRA, 2013) Tais fatores tornam-se essenciais na prevenção do suicídio, pois quando identificados são capazes de serem revertidos no caso dos fatores de risco e os fatores protetivos podem ser trabalhados. Ambos os fatores devem ser trabalhados de forma individual e coletiva no momento da prevenção. (BOTEGA et al, 2006; FERREIRA,, 2013) Como para qualquer situação existem fatores de risco, para o suicídio não é diferente, sendo preditores preponderantes a serem identificados para instituir medidas preventivas. É essencial compreender que a presença de um único fator de risco não significa a presença de comportamento suicida e nem explica a motivação para um suicídio, tendo em vista que o comportamento suicida muitas vezes esta atrelado a vários fatores de risco que se tornam cumulativos e geram o comportamento suicida.(OMS, 2014) Alguns estudos identificaram que o potencial suicida aumenta quando associado a indicadores clínicos, sociais,culturais e psicossociais; quando identificados é possível delimitar estratégias capazes de atuar com foco na prevenção ou em até mesmoem crises. (FEREIRA, 2013) Os fatores de riscos são muitos e podem ser classificados e agrupados de diferentes formas, sendo que no relatório mundial da OMS (2014) há cinco grandes grupos que englobam os fatores de risco sendo estes: sistema de saúde, sociedade, comunidade, relacionamentos e os individuais. No grupo de fatores de risco que trata a respeito do sistema de saúde e da sociedade temos as seguintes situações: barreiras no acesso aos serviços de saúde,como a falta de locais apropriados para o acolhimento de pessoas que buscam ajuda ou até mesmo a falta de recursos apropriados para lidar com esse tipo de agravo e suas possíveis comorbidades, o estigma da sociedade com aqueles buscam por um serviço que ofereça atendimento em saúde mental e a falta de instrução das pessoas ao buscar este tipo de serviço. Quanto aos fatores relativos à sociedade temos: o acesso aos meios para cometer suicídio, que podem ser encontrados no próprio ambiente em que a pessoa reside ou nas proximidades (pesticidas, armas de fogo, medicamentos, venenos,gases que causem hipóxia, elevações como torres, prédios, morros e montanhas); a forma inadequada que a mídia retrata o tema, com o uso de sensacionalismo ou até mesmo “glamurificando” o ato quando se trata de pessoas famosas, contando detalhadamente o ocorrido e quais métodos utilizados e outra situação que se inclui nessa categoria e o uso das medias sociais para conseguir alcançar informações a respeito do tema e até mesmo a internet com um infinidade de sites que algumas vezes transmitem informações erradas, sendo que pessoas suscetíveis podem se sentir seduzidas por essas informações caso se encontrem em um momento difícil. (OMS,2014) Os fatores de risco ligados a comunidade e a relacionamentos são descritos pela OMS (2014) como fatores capazes de influenciar de forma direta no comportamento suicida, na perspectiva dos fatores de risco relativos a comunidade, onde atualmente observa-se a presença de guerras, conflitos e desastres estes tipos de acontecimentos podem aumentar o risco de suicídio por abalarem o bem-estar, saúde, moradia, empregos e financeiramente os indivíduos; o estresse causado por mudança de cidade ou país e aculturação, este tipo de fator de risco afeta grupos vulneráveis como indígenas, sem teto, refugiados, pessoas que vivem em centros de detenção e imigrantes; discriminação de subgrupos que possam vir sofrer com perda da liberdade, violência e estigmatização podendo levar ao aparecimento de um comportamento suicida, as pessoas inclusas nesses subgrupos são os detentos, lésbicas, gays, bissexuais, trangêneros, sem teto e imigrantes; trauma ou abuso, no caso destas pessoas elas já se encontram vulneráveis por terem sofrido com qualquer tipo de trauma ou abuso (físico, psicológico ou sexual) tornando-se potencias suicidas. A respeito dos relacionamentos estes de qualquer tipo sejam amorosos, familiar, com amigos ou profissional desempenham um papel importante em nossas vidas e caso ocorram desequilíbrios (brigas, perdas, separação, óbito) em qualquer um destes relacionamentos, um individuo suscetível pode não agüentar e buscar no suicídio a solução. Por ultimo na classificação da OMS (2014) temos os fatores de riscos individuais, que são eles tentativa prévia de suicídio, transtornos mentais, abuso de álcool e drogas, desemprego, problemas financeiros, desesperança, dores ou doenças crônicas, histórico familiar de suicídio e a presença de fatores genéticos e biológicos. Outros fatores de risco como idade, sexo, doenças clínicas não psiquiátricas, eventos adversos na infância e na adolescência, também são considerados importantes para serem observados. Quanto à idade as faixas etárias que apresentam taxas de suicídio elevadas são os jovens devido a associação de outros fatores como humor depressivo, abuso de substancias, problemas emocionais, familiares e sociais, história familiar de transtorno psiquiátrico, rejeição familiar e outros e os idosos tem outros fatores associados como a perda de parentes, sobretudo do conjugue, solidão e a existência de enfermidades degenerativas e dolorosas, apesar de que nos últimos anos a taxa que anteriormente era predominante na faixa etária de maiores de 60 anos de idade inverteu-se para a faixa etária de 15 a 34 anos de idade. A respeito do gênero é mais comum suicídios em homens do que em mulheres, porém as tentativas de suicido triplicam no gênero feminino se comparado ao gênero masculino em torno de três vezes. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSQUIATRIA, 2014) Com base na identificação dos fatores de risco é importante traçar estratégias e métodos que tenham o objetivo de prevenir o suicídio e conseqüentemente poupar vidas. Como apresentados anteriormente muitos são os fatores de risco grande parte deles são modificáveis isso quer dizer que há como intervir e para intervir neste tipo de problema é necessário compreender em sua multifatorialidade o suicídio. Apesar de o suicídio ser considerado um problema de saúde publica que vem ganhando proporção absurda no ultimo século ele é prevenível. É necessária a modificação desta situação, e para que isso aconteça deve haver investimento financeiro e em recursos humanos por meio de um trabalho multisetorial. (OMS,2014) A prevenção ao suicídio deve perpassar todos os níveis de atenção buscando atender integralmente as necessidades do individuo e da sociedade reconhecendo e intervindo nos fatores de risco. Na prevenção primária o objetivo é a conscientização da população a respeito do tema por meio da educação em saúde para eliminar riscos potencias; além das orientações e informações passadas comunidade em geral é necessário reduzir e restringir o acesso aos métodos letais (envenenamento por medicações, precipitações de alturas, arma de fogo e pesticidas). Na prevenção secundária o risco encontra-se configurado, portanto além de orientar nesse nível é importante também intervir e dando prioridade para a intervenção os principais fatores de riscos instalados promovendo uma atenção focalizada na proteção das características boas que cercam aquele individuo e encaminhando aqueles portadores de transtornos mentais para serviços especializados. Já na prevenção terciária a patologia ou transtorno mental encontra-se em progresso então faz necessário um acompanhamento continuo com profissionais especializados. (FERREIRA, 2013) Para a Organização Mundial da Saúde (2014) quando se busca traçar meios para prevenir o suicídio é importante compreender três situações: a primeira é reconhecer a multicasualidade do suicídio dentro disso a relação dos fatores biológicos, psicológicos, sociais, ambientais e culturais; segundo identificar os fatores de risco e protetivos e por ultimo reconhecer as diferenças culturais e suas relações com o ato suicida. Para que isso aconteça a OMS ainda elenca três políticas que vem se desenvolvendo gradualmente como as estratégias nacionais de prevenção ao suicídio, a determinação da data 10 de setembro como o dia mundial de prevenção ao suicídio e educação e prevenção ao suicídio. Em uma pesquisa realizada no ano de 2013 pelo Departamento de saúde mental e abuso de substancia da OMS a respeito das estratégias de prevenção ao suicídio verificou-se que na região das Américas (Norte, Central e do Sul) existem oito países com estratégias ou planos de ação nacionais porém apenas dois destes se encontram desenvolvendo estas estratégias ou planos de ação, mediante a isto e com base nas taxas de suicídio crescente a nas Américas é necessários que estes planos tornem-se efetivos e que alcancem um grande contingente populacional. 2.3.2 Fatores Protetivos Um ponto importante quando se trata sobre suicídio é a identificação dos fatores protetores que devem ser estimulados para promover uma rede de proteção ao individuo e prevenira instalação ou avanço do comportamento suicida. (OMS, 2014) Grande parte das ações preventivas é baseada nos fatores de risco, porém é essencial reconhecer a importância dos fatores protetivose incentivá-los a fortalecer tais fatores para promover a resilência nos indivíduos, efetuando um efeito tampão no comportamento suicida. (ABP, 2014; OMS, 2014) Para a OMS (2014) três são os grandes grupos que dizem a respeito dos principais fatores de risco sendo eles, relacionamentos pessoais fortes que tem a capacidade de aumentar a resilencia pode ajudar a ativar os fatores protetivos, dentro desta perspectiva familiares e amigos desempenham papel fundamental na vida dos indivíduosem diferentes momentos promovendo suporte emocional, psicológico e financeiro muitas das vezes diminuindo o estresse que pode ser causado por acontecidos não esperados na vida; outro fator protetor é a religiosidade e as crenças espirituais para muitas pessoas acreditar em algo maior que nós é importante faz com que esta se senti segura e guardada por este ser, mais se tratando de religiosidade é importante ressaltar que muitas religiões acabam abordando o tema de forma critica e estigmatizada podendo dificultar ou interferir na busca de ajuda por aqueles que se encontram em sofrimento. O ultimo aspecto denominado como importante dentro os fatores protetivos são o estilo de vida positivo e o bem estar do individuo. Conforme alguns estudam aponta os indivíduos casados ou que se encontram em uma relação estável ou que tenham um companheiro fixo são considerados mais protegidos e com menor risco para o suicídio. Aspectos como, boas relações sociais, participar de grupos em sua comunidade e possuir pensamentos positivos sobre si e sentir inserido no meio também contam como fatores protetivos. Sendo que conforme a faixa etária os fatores protetivos se tornam mais específicos tendo em vista que as diferentes fases do ciclo da vida requerem diferentes habilidades em decorrência das transformações que acontecem. Para um adolescente os fatores protetivos estão correlacionados a um bom relacionamento familiar e com uma base sólida, a própria personalidade e as habilidades de interação social são fatores considerados bons para um adolescente assim como a capacidade de se enxergar de forma positiva cultivando a auto-estima. (FERREIRA, 2013) Os principais fatores protetivos são autoestima elevada; bom suporte familiar; laços sociais bem estabelecidos com família e amigos; religiosidade independente da afiliação religiosa e razão para viver; ausência de doença mental; estar empregado. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSQUIATRIA, 2014) Os meios de comunicação como citado no relatório da OMS (2014) deve buscar tratar a respeito do tema de maneira respeito sem o uso do sensacionalismo, limitando-se apenas a vinculação de informações necessárias sem detalhar demais os casos, pois de certa maneira isso tende a gerar um certo enaltecimento deste ato de forma desnecessária. Torna-se tão relevante a maneira como os casos de suicídio são vinculados na TV e na internet que a Associação Brasileira de Psiquiatria no XVII congresso de psiquiatria lançou um manual especifico para a imprensa com informações a respeito da melhor forma de transmitir a noticia sem sensacionalizar e muito menos ter o papel de incentivadora do ato mesmo que de forma inconsciente. (APB, 2010) 2.4 ATENDIMENTO AO PACIENTE EM PÓS TENTATIVA DE SUICÍDIO E A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM. Segundo Machin (2009) o atendimento ao paciente pós tentativa de suicídio segue o seguinte percurso, o atendimento nas emergências é feito por plantões por profissionais médicos e enfermeiros sendo que as equipes de enfermagem são dividas por turno, como as equipes trabalham no regime de plantões estes não passam muito tempo com os pacientes devido à rotatividade do serviço; em casos de violências após os procedimentos clínicos os profissionais que cuidam da parte psicossocial (psicólogos e assistentes sociais) são acionados. No caso de tentativas de suicídio de forma rápida identificasse o meio utilizado e nos casos de intoxicação que são uns dos meios mais comuns nas emergências a equipe médica responsáveis por intoxicações em geral é chamada para atender a este paciente. As urgências psiquiátricas todos os dias recebem inúmeras ocorrências, e dentre delas as tentativas de suicídio são as mais frequentes. O individuo que dá entrada em uma urgência obviamente foi resgatado a tempo e terá a chance de continuar vivo a depender do seu estado clinico, basicamente o trabalho que é feito com este individuo em uma urgência é intervir no problema isso que dizer realizar as manobras e os protocolos necessários a depender do caso e também trabalhar com este paciente pós estabilização a prevenção já que este se caracteriza como vulnerável a uma nova tentativa. (AVANCI et al , 2005) Quando pensasse em tentativa de suicídio já se tem pré estabelecido em mente que a pessoa tentou tirar a própria vida, porém nos serviços emergências há certa dificuldade em identificar se houve ou não intencionalidade no primeiro momento. No estudo de Machin, A (2009), identificou-se por meio das falas dos médicos a falta de consenso da intencionalidade ou não das tentativas de suicídio em decorrência de automedicação, alguns baseiam-se na quantidade e outros no contexto que levou a tentativa, muitas vezes os profissionais descobrem se foi intencional quando algum familiar quando questionado a respeito fala algo, ou até mesmo quando o paciente encontra-se consciente. Portanto observa-se que qualificar a violência como alto provocada não é uma tarefa fácil. Em um estado realizado por Deslandes (1999) foi verificado de que todos os casos em que o paciente deu entrada pela emergência à média de dias de permanência no hospital variou de 2 horas a mais de 3 dias, sem si quer estes receberam algum tipo de apoio psicológico da equipe que os atendeu sendo portanto observado o despreparo da equipe em lidar com esse tipo paciente, além das observações feitas pelo pesquisador de que muitas vezes haviam comentarias em voz baixa dos profissionais com o tipo de frase “aquele tentou se matar” ou “não tem juízo e vem dar trabalho”, sendo então verificado que os profissionais precisam ser ensinados a lidar com pacientes que tentaram suicídio. Cerca de 30% a 60% dos pacientes atendidos na emergência em decorrência de tentativa de suicídio já haviam tentado outra vez suicídio e de 10% a 25% tentaram novamente no decorrer de um ano. Sendo que as taxas de prevalência de tentativas de suicídio tendem a variar ao longo da vida de 0,4 a 4,2%. As estimativas afirmam que para cada de suicídiohá dez tentativas que requereram atendimento médico (1/10). (VIDA et al,2013) Muitos serviços de urgência e emergência não psiquiátricos recebem pacientes com todo tipo de agravo, sendo um deles os causados por violências, as tentativas de suicídio estão categorizadas como uma violência a qual o próprio individuo comete contra si, após a estabilização do paciente a depender da rotina hospitalar é chamado o psiquiatra que encontra-se de plantão na unidade para este avaliar o paciente. Diferente do hospital em que o estudo foi realizado que não existe um procedimento operacional padrão (POP) para atender o paciente de tentativa de suicídio observou-se que muitos hospitais possuem o POP do serviço de psicologia para atender a todos os pacientes em situação de institucionalização, no POP da emergência adulta do hospitalUniversitário Prof. Polydoro Ernani de São Thiago da Universidade Federal de Santa Catarina observou-se que o psicólogo da unidade tem objetivos, um processo e um local pré estabelecido para proceder com consulta que objetivará verificar o motivos que levaram o paciente a suicidar-se, identificar os fatores de risco que possam levar a umanova tentativa e fatores protetivos, além de verificar com o paciente os componentes da sua rede de apoio e instituir o contato com os familiares para que estesdêem apoio ao paciente. É indiscutível a necessidade de existirem profissionais qualificados para o atendimento de pacientes pós tentativa de suicídio. Acreditamos que qualquer profissional da equipe multiprofissional pode desenvolver juntamente com o paciente a escuta ativa, pois muitas vezes estas pessoas desejam apenas alguém pra conversar como verificado na pesquisa deKohlraush et al (2008). No ambiente hospitalar isso não é diferente, é preciso desde a graduação na área da saúde promover conhecimento aos alunos a respeito do tema pra estes terem ao menos a base cientifica para não se tornarem profissionais anti-éticos que produzem comentários preconceituosos a respeito de pacientes que tentaram suicídio. O profissional enfermeiro com base na grade curricular na graduação é formado para ser generalista, portanto este após a formação está apto para atuar em diferentes áreas no campo da saúde, sendo, portanto, capaz de lidar com indivíduos que chegam na emergência em decorrência de tentativas de suicídio. É factível que por mais que os profissionais possuam a qualificação teórica muitas vezes não sabem lidar com a situação de forma adequada em decorrência das questões sociais e religiosas que rondam a temática do suicídio na sociedade desde a antiguidade, como foi demonstrado no estudo de Navarro e Martinez, (2012). O profissional enfermeiro assistencial possui diversas responsabilidades dentro das instituições de saúde, tendo que intervir e reconhecer potencias problemas e resolvendo com eficácia, assim como no atendimento de pacientes com transtornos mentais. Tendo vista que a enfermagem é a primeira a estabelecer contato com o paciente quando este adentra os serviços de saúde, esta de certa forma é mais bem preparada e aceita pelo paciente portador de transtornos de ordem mental, além de que a enfermagem faz uso da visão holística o que faz com o que assistência não seja apenas voltada para o paciente incluindo também a família e a comunidade. (SILVA et al, 2003) Ao assistir um paciente pós tentativa de suicídio o enfermeiro deve ter a delicadeza em se preocupar não apenas com a questão fisiológica alterada mediante ao método de tentativa de suicídio, também deve visar uma relação de troca e suporte ao paciente mediante o estabelecimento de uma postura pautada na empatia, estando disposto a ouvi-lo e tentar compreender o problema, verificando a expressões mediante a exposição de seus sentimentos, estabelecendo mediante a tal situação uma relação terapêutica embasada na escuta ativa, entendimento dos problemas apresentados pelo paciente e o encorajamento de atitudes positivas. (AVANCI et al, 2009) No diz respeito ao atendimento de pacientes no serviço de emergência o trabalho é extremamente dinâmico, cheio de desafios e com uma alta carga de estresse. Como a quantidade de pacientes que entram e saem deste setor é bem grande assim como a variedade de patologias, a sobrecarga de serviços em decorrência da falta de recursos humanos, tendo a interferir no resultado final ao atendimento aos pacientes devido a uma fragmentação do cuidado ocasionada pelos fatores aqui citados e a dificuldade de comunicação entre a equipe os pacientes. (PAES, 2009) Outro ponto importante na assistência de enfermagem nos pós tentativas de suicídio é o suporte a família, muitas vezes o primeiro contato com a família tem como único objetivo coletar dados a respeito da tentativa de suicídio. A equipe de enfermagem também deve prestar cuidados também a família do paciente suicida, pois está encontrasse fragilizada com tal acontecimento sendo necessário um suporte emocional. Porém muitas vezes esse feedback entre família e enfermeiro é impossibilitada pelos seguintes motivos: estafa física e mental dos profissionais de enfermagem, excesso de serviço nas emergências, rotatividade constante de paciente, a própria estrutura do serviço e o despreparo do profissional em lidar com situações complexas que desrespeitam a questões que vão além da instabilidade fisiológica do organismo humano. (BURIOLA, et al, 2011) 3 METODOLOGIA 3.1 Tipo de estudo O estudo científico perpassa por uma finitude de etapas desde a hipótese até a construção dos resultados, discussão e conclusões. Uma das etapas consideradas primordiais em uma pesquisa após a definição dos objetivos é a maneira como a pesquisa será desenvolvida e para isso é necessário a escolha do tipo de estudo que mais se encaixa com os objetivos da pesquisa. O estudo em questão tratasse de uma pesquisa quantitativa, descritiva e documental (ARAGÃO, 2011) A pesquisa é do tipo descritiva, pois os estudos descritivos buscam descrever a realidade sem a finalidade de explicá-la ou nela intervir, este tipo de estudo é bastante utilizado na área da saúde, sendo fundamentais quando pouco se conhece a respeito de um determinado assunto, que no caso seria dados referentes as tentativas de suicídio no estado de Roraima, outro fator importante a respeito da escolha deste tipo de estudo é o fato deste possuir papel importante em promover o conhecimento dos profissionais de uma determinada área sobre dados demográficos. Este tipo de pesquisa pode ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de políticas públicas para a melhoria da situação encontrada por meio dos gestores de saúde (ARAGÃO,2011) O estudo do tipo documental usa-se de documentos originais que ainda não receberam tratamento analítico por nenhum autor, buscando identificar informações presentes no documento que são geridas pelas hipóteses e questões norteadoras da pesquisa. Além disso, este tipo de pesquisa permite observar o desenvolvimento de um processo de evolução de um indivíduo, grupos, conceitos, comportamentos, práticas e outros. Sendo, portanto um tipo de estudo rico em informações a serem analisadas, permitindo uma contextualização histórica e social do tema estudado (SILVA et al, 2009) A pesquisa quantitativa tem como objetivo quantificar o objeto de estudo em todo o desenvolvimento da pesquisa tanto na coleta de dados como no tratamento, por meio de técnicas estatísticas simples ou complexas. O diferencial deste tipo de pesquisa é a precisão dos números obtidos, reduzindo as chances de distorções. Sendo este método escolhido pelo fato da pesquisa ter como objetivo a identificação de um perfil sociodemografico de tentativas de suicídios. (DALFOV et al 2008) 3.2 Local de estudo A pesquisa foi realizada no Hospital Geral de Roraima, localizado na capital de Boa Vista, Roraima, sob administração estadual que a atende exclusivamente por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).Responsável por atender a toda população do estado de Roraima e aos países fronteiriços da República Bolivariana da Venezuela e República Cooperativista da Guiana Inglesa além de prestar assistência aos povos indígenas que estão distribuídos na capital e no interior do estado nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI Leste e Yanomami). O Hospital Geral de Roraima possui três portas de entrada, o pronto socorro que atende emergências com assistência 24 horas, com 24 leitos; pronto atendimento com atendimentos de urgência imediata com assistência 24 horas, com diferentes tipos de especialidades e internações rápidas e unidade hospitalar de internação que possui 243 leitos de diferentes tipos de especialidades, divididos em blocos de internação, A; B; C; D e E. Dentro dos componentes da unidade hospitalar o Serviço de Arquivo Médico Estatístico (SAME) é responsável por arquivar as fichas de atendimento e os prontuários dos pacientes, a pesquisa propriamente dita ocorrerá no SAME e na Unidade de Vigilância Epidemiológica (UVE) responsável por realizaras notificações de agravos que chegam ao hospital de referência. Estes serviços funcionam de segunda a sábado no horário de 07:00 às 19:00. Com base nestes dois serviços (SAME e UVE) a pesquisa foi desenvolvida juntamente com os indivíduos que desempenham a função de assistente administrativo nestas unidades, que se disponibilizaram a mostrar como o sistema de informação de registros de fichas de atendimentos e prontuários funcionam (SAME) e também o sistema de informação de notificações (UVE).E posteriormente promoverem a pesquisa das variáveis de interesse para a pesquisa dentro dos sistemas. O sistema foi desenvolvido por uma equipe de tecnologia da informação que presta serviços ao HGR e funciona da seguinte maneira: para acessar o sistema necessita-se de um usuário e uma senha, localizar dentro do sistema dentre as opções o que for de interesse e selecionar as variáveis, logo em seguida o sistema gera um documento no formado PDF com a consolidação dos dados no período selecionado bem como o quantitativo. 3.3 População e amostra A população pesquisada originou-se a partir de dados secundários e compreendeu todos os indivíduos maiores de 18 anos, que possuíam registros no SAME e/ou UVE. Sendo estes indivíduos todos com registros de tentativa de suicídiono período de janeiro 2013 a setembro de 2016 no Hospital Geral de Roraima que passaram pelo grande trauma e mediante a isso foi gerada uma ficha de atendimento e/ou um prontuário e foram notificados pela unidade de vigilância epidemiológica foram incluídos na pesquisa. Totalizando 506 casos destes 339 registros no SAME e 167 notificações na UVE. Os critérios de inclusão foram o indivíduo ter em sua ficha de atendimento e/ou prontuário e na ficha de agravos de notificação de violências o registro de tentativa de suicídio e ser maior de 18 anos de idade. Foram excluídos os indivíduos com idade inferior a 18 anos. As fichas de atendimento são geradas para todos os pacientes que entram no Hospital Geral de Roraima, nesta ficha possuem as seguintes informações: nome, data de nascimento, cor/raça, endereço, estado civil, ocupação, número da carteira de identidade, número do cartão do SUS, número do CPF, telefone de contato, motivo do atendimento, data e horário e os dados clínicos referente ao atendimento. É importante ressaltar que existe uma empresa terceirizada que é responsável por gerar esta ficha, porém foi observado que muitas fichas não são completas de informações pessoais dos pacientes,pois muitas vezes a depender do seu estado geral este encontra-se incapaz de informar seus dados ou encontra-se desacompanhado então as informações são preenchidas fazendo uso apenas da carteira de identidade e o cartão do SUS o que as tornam incompletas. Nas fichas de notificação de agravos de violências (Anexo 1) existem muitos campos a serem preenchidos a respeito da violência que o indivíduo sofreu. Na unidade existem em torno de 4 pessoas responsáveis por notificar todo tipo de agravo independente de ser a respeito de violência ou não. No grande trauma as notificações são feitas por uma única pessoa. O notificador do grande trauma é responsável por olhar todos os prontuários das áreas vermelha, amarela e verde e verificar o motivo da entrada do paciente na emergência e se for um agravo notificável esse o faz. Mesmo a nossa pesquisa não sendo qualitativa tive a oportunidade de observar este notificador trabalhando e conversar com ele. Foi possível observar que após a identificação de agravos de violência este carimba o prontuário com o “visto” da UVE com a data e logo em seguida colhe as informações pessoais do indivíduo diretamente da ficha de atendimento e logo em seguida os demais campos que compõem a ficha de notificações são preenchidos juntamente com o paciente que sofreu a violência. Após o preenchimento de todos os campos o notificador leva para UVE essa ficha que posteriormente será inserida no sistema pela assistente administrativa. Tanto no SAME como na UVE existem os assistentes administrativos responsáveis por lançar os dados no sistema de informação próprio do hospital que tem como finalidade manter os dados informatizados e ser mais prático o lançamento destes dados nos sistemas de informações nacionais desenvolvidos pelo ministério da saúde. A nossa amostra derivou dos dados inseridos nos sistemas de informação do SAME e da UVE no período de janeiro de 2013 a setembro de 2016, onde foram selecionadas as principais variáveis de interesse da pesquisa e posteriormente o próprio sistema gera uma planilha no Excel com todas as variáveis. 3.4 Procedimentos de coleta de dados Inicialmente foi feita uma pesquisa informal por meio de conversas com profissionais que atuam no hospital de referência a respeito do processo de notificação das tentativas de suicídio, para verificar a possibilidade do desenvolvimento do estudo em questão, então foi verificado a existência das fichas de atendimento e fichas notificações e a viabilidade do desenvolvimento da pesquisa no hospital de referência. A ideia inicial era verificar todas as fichas de atendimentos e as de notificações de agravos de violência, porém devido à própria burocracia da unidade fui informada que os dados mais atuais do hospital encontravam-se em sistemas de informações desenvolvidos pelo pessoal da informática do hospital para facilitar o acesso de dados. Fase um da coleta de dados No SAME onde solicitou-se o quantitativo de tentativas de suicídio no período de janeiro de 2013 a setembro de 2016 onde foi informado que ocorreram 339 casos no período solicitado; posteriormente solicitei a possibilidade do detalhamento das informações e foi então disponibilizado um consolidado no formato World e PDF que possui o nome do paciente, data de nascimento, motivo de atendimento, data e hora do atendimento e o local de entrada. Verificou-se que o sistema possui a falha de não conseguir agrupar os dados conforme o sexo feminino ou masculino substituindo o nome do paciente. A pesquisa no SAME ocorreu no meses de agosto e setembro de 2016. Fase dois da coleta de dados Na UVE houve uma orientação previa de como funcionava o serviço, solicitou-se o quantitativo e as variáveis de interesse para o estudo, e por meio do sistema após a seleção do período e das variáveis este automaticamente gerou uma planilha no Excel com as informações. Quando a planilha é gerada os campos referentes à cor/raça, escolaridade, ocupação, presença de transtornos mentais, situação conjugal e meio utilizado são gerados na forma de números presentes na ficha de notificação de agravos como pode ser verificado para melhor entendimento no anexo 1. É importante ressaltar que no ano de 2014 a UVE sofreu com a subnotificação já que não existia pessoal suficiente para notificar e assistente administrativo para a inserção dos dados no sistema, então as poucas fichas preenchidas naquele ano foram perdidas e não se encontram no sistema e nem no formato físico na UVE. 3.5 Análises estatística A análise estatística foi realizada em duas fases assim como a coleta de dados. Devido ao fato do período da coleta de dados ter sido divido em dois em decorrência a grande demanda dos locais de pesquisa e a falta de tempo por meio dos assistentes administrativos destes setores poderem me receberpara que pudéssemos realizar essa pesquisa de dados dentro do sistema. Fase um da análise estatística Nesta fase inserimos os dados obtidos no SAME no formato Word no programa Excel, onde este foi organizado em uma planilha com os dadosreferente ao período de estudo, sexo e idade. Como no arquivo repassado pelo SAME havia o nome dos pacientes apagamos estes e substituímos por sexo feminino ou sexo masculino, e como não havia idade e sim a data de nascimento foi necessário calcular todas as 339 datas de nascimento presentesno arquivo. É importante ressaltar que as datas de nascimento para gerar a idade foram calculadas conforme o ano de atendimento. Isso quer dizer que se no arquivo tivesse a seguinte data de atendimento 12/01/2013 e a data de nascimento 20/12/1980 subtrairíamos o ano de atendimento 2013 pelo ano de nascimento 1980 para que obtivéssemos a idade do indivíduo. No fim deste processo foi gerada uma planilha com 339 linhas e 2 colunas referentes a sexo e a idade e depois foi feita uma nova planilha separando por ano o quantitativo de casos e o período de ocorrência. Fase dois da análise estatística Na fase dois foi realizado um processo diferente, tendo em vista que os dados gerados no sistema de informação da UVE são automaticamente transformados em uma planilha do Excel. Devido a isso como informado anteriormente que a planilha gera algumas variáveis com o numero presente na ficha de agravo de notificação de violências, então estes foram substituídos um a um pelo número o qual é representado na ficha de notificação, exemplo: no campo 15 da ficha (anexo 1) temos a variável cor/raça onde temos as seguintes opções, 1 branca, 2 preta, 3 amarela, 4 parda, 5 indígena e 9 ignorado no caso o notificador quando preenche a ficha este coloca no espaço referente a cor/raça o numero que representa o individuo. Fase três da analise estatística Foram inseridas todas as variáveis do estudo no programa StatisticalPackage for the Social Sciences–SPSS que é um pacote de analise estatística abrangente que pode gerar dados tabulados, relatórios, gráficos e tabelasestáticas descritivas, fazendo uma análise acessível ao iniciante em pesquisas quantitativas com analise estatística. O programa foi baixado no seguinte sitio: https://www01.ibm.com/marketing/iwm/iwmdocs/tnd/data/web/en_US/trialprograms/W110742E 06714B29.html. Os gráficos e tabelas aqui apresentados foram gerados no programa e modificados quando necessário Os elementos analisados dizem respeito àsvariáveis do estudo para a verificação das porcentagens referentes aos valores totais de casos de tentativa de suicídio. 3.6 Aspectos éticos A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisaenvolvendo Seres Humanos da Universidade Federal de Roraima, conforme Resolução do Conselho Nacional de Saúde Nº 466/12. Posteriormenteentregue uma carta de apresentação do aluno, a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisaenvolvendo Seres Humanos e a copia do projeto de pesquisa nodepartamento de ensino e pesquisa do Hospital Geral de Roraima. O projeto demorou um mês para ser aprovado no departamento de ensino e pesquisa do HGR e posteriormente foi dada a autorização para coleta de dados no SAME e na UVE por meio de documentos endereçados aos coordenadores dos setores apresentando a pesquisadora, o tema da pesquisa e o objetivo e parecer de aceite pelo Comitê de Ética em Pesquisaenvolvendo Seres Humanos e pelo departamento de ensino e pesquisa. https://www01.ibm.com/marketing/iwm/iwmdocs/tnd/data/web/en_US/trialprograms/W110742E06714B29.html https://www01.ibm.com/marketing/iwm/iwmdocs/tnd/data/web/en_US/trialprograms/W110742E06714B29.html 4 RESULTADOS Apresentamos a seguir as características sociodemográficas dos 339 casos registrados no Serviço Atendimento Médico Especializado – SAME responsável pelo arquivamento dos prontuários e fichas de atendimento e os 167 casos notificados pela Unidade de Vigilância epidemiológica – UVE. 1.4 Características da amostra registradas no SAME. Sexo– A distribuição dos casos de tentativas de suicídio no período de janeiro de 2013 a setembro de 2016 encontra-se representado na figura 1. Verificou-se que do total de registros de casos no SAME, 59% (199) ocorreram entre mulheres e 41% (140) ocorreram entre homens. No período de estudo computou-se no total 339 casos de tentativas sendo estes distribuídos da seguinte forma, em 2013 foram 120 casos (58% de casos femininos e 42% de casos masculinos), noano de 2014 foram registrados 82 tentativas de suicídio (61% ocorridos entre mulheres e 39% ocorridos em homens), em 2015 foram detectados 81 casos (62% de mulheres e 38% de homens) e até setembro de 2016 verificou-se 56 registros de tentativas (52% no sexo feminino e 48% no sexo masculino). Figura 1 – Percentagem de tentativas de suicídio distribuídas por sexo, no período de 2013 a 2016, registradas no SAME. Fonte: SAME - HGR Faixa etária – A respeito da distribuição dos casos verificou-se que dos 339 estes se encontram distribuídos da seguinte forma: as idades variam de 18 a mais de 60 anos, sendo que os eventos mais significativos ocorrem na faixa etária de 18 a 29 anos e 30 a 39 anos para ambos o sexos, mais houve predominância no sexo feminino onde verificou-se na faixa etária de 18-29 anos 101 casos em mulheres e 30-39 anos 72 casos em mulheres. As faixas etárias onde houve menor numero de casos foram na de 40-49 anos (total de 14 casos, sendo 7 no sexo feminino e 6 no sexo masculino) e em maiores de 60 anos (total de 3 casos, sendo 3 em mulheres e 1 em homens). Representado logo a seguir na figura 2. Figura 2 - Percentagem de tentativas de suicídio distribuídas por faixa etária, no período de 2013 a 2016, registradas no SAME 2013 2014 2015 2016 Total 120 82 81 56 Sexo Masculino 50 32 31 27 Sexo Feminino 70 50 50 29 0 50 100 150 200 250 300 P e rc e n ta ge m Tentativas de suicídios Fonte: SAME - HGR 4.2 Características da amostra registradas na UVE A amostra coletada na UVE não possui os dados correspondentes ao ano de 2014 para nenhuma das variáveis do estudo, pois neste ano a UVE encontrava-se com problemas para realizar as notificações e a inserção dos dados no sistema, e as fichas de notificação de agravos de violência do ano de 2014 além de não constarem no sistema os registros físicos não se encontram disponíveis. Sexo – Os casos de tentativa de suicídio no período de estudo encontram-se distribuídos segundo a variável sexo na tabela 1. Verificou-se que do total de casos que foram notificados pela UVE 106 (63%) ocorreram no sexo feminino e 61 (37%) no sexo masculino. A distribuição dos casos conforme o período de estudos se computou da seguinte forma, no ano de 2013 foram notificados 5 casos sendo 4 no sexo feminino e 1 no sexo masculino(80% no sexo feminino e 20% no sexo masculino), e 2015 ocorreram 90 casos notificados sendo 56 no sexo feminino e 34 no sexo masculino (62% em mulheres e 38% em mulheres), em 2016 72 Sexo Feminino Sexo Maculino Total 0 100 200 18-29 30-39 40-49 50-59 >60 P e rc e n ta ge m 18-29 30-39 40-49 50-59 >60 Sexo Feminino 101 72 14 46 3 Sexo Maculino 64 25 7 6 1 Total 165 97 21 52 4 Tentativas de suicídio tentativas de suicídio notificadas sendo 46 no sexo feminino e 26 no sexo masculino(64% em mulheres e 36% em homens). Faixa etária - Quanto à distribuição das tentativas de suicídio notificadas obtivemos os seguintes resultados, 50% das tentativas notificadas compreendem a faixa etária de 18-29 anos e logo em seguida com 31% a faixa etária de 30-39 anos,as demais faixa etárias possuem menor representatividade com os seguintes valores percentuais: 40-49 anos com 20 casos (12%), 50-59 anos com 6 tentativas (4%) e > 60 anos com 5 casos notificados (3%). Cor/Raça – O maior percentual de tentativas ocorreu entre pessoas pardas 81% (128/167), as de raça branca vêm logo em seguida representando o maior percentual de 14% (22/167), as de cor/ raça preta com 2% (3/167), indígenas 3% (4/167) e nenhum caso foi notificado para cor/raça amarela. Sendo que ao todo foram notificados167, porém apenas 157 dos casos notificados possuíam registros a respeito desta variável, restando 10 casos sem a identificação de cor/raça no sistema SINANET/HGR, sendo deixado
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