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Sérgio Goes Barboza Wilson Sanches Elias Barreiros Sociedade e meio ambiente U N O PA R SO C IED A D E E M EIO A M B IEN TE Sociedade e meio ambiente Sérgio Goes Barboza Wilson Sanches Elias Barreiros Sociedade e meio ambiente Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Barboza, Sérgio Goes ISBN 9788584826421 1. Meio ambiente - Sociedade. 2. Ambientalismo. I. Sanches, Wilson. II. Barreiros, Elias. III Título. CDD 363.7 Wilson Sanches, Elias Barreiros. – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017. 168 p. B239s Sociedade e meio ambiente / Sérgio Goes Barboza, © 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente Acadêmico de Graduação Mário Ghio Júnior Conselho Acadêmico Alberto S. Santana Ana Lucia Jankovic Barduchi Camila Cardoso Rotella Cristiane Lisandra Danna Danielly Nunes Andrade Noé Emanuel Santana Grasiele Aparecida Lourenço Lidiane Cristina Vivaldini Olo Paulo Heraldo Costa do Valle Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro Revisão Técnica Fábio Pires Gavião Editoração Adilson Braga Fontes André Augusto de Andrade Ramos Cristiane Lisandra Danna Diogo Ribeiro Garcia Emanuel Santana Erick Silva Griep Lidiane Cristina Vivaldini Olo 2017 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Unidade 1 | Sociedades humanas e ambiente natural Seção 1 - Capitalismo e Meio Ambiente 1.1 | O controle do meio natural e suas consequências 1.2 | Economia ambiental 1.3 | Economia ecológica 1.4 | Marxismo e Meio Ambiente Seção 2 - Sociedade se Afluência Seção 3 - Do Antropoceno à Idade da Terra 7 9 9 11 13 15 21 29 Unidade 2 | Relações etnorraciais Seção 1 - Percurso teórico do conceito de etnicidade nas ciências sociais 1.1 | Definição do conceito Seção 2 - Relações etnorraciais no Brasil 2.1 | O povo brasileiro 2.2 | Movimento negro 2.3 | Políticas de ações afirmativas 2.4 | A cultura indígena 45 49 49 61 61 68 73 77 Unidade 3 | Meio ambiente e direitos humanos Seção 1 - História dos direitos humanos 1.1 | A Declaração Universal dos Direitos Humanos 1.2 | Os direitos humanos e o Estado moderno 1.3 | Universal versus particular 1.4 | Direitos humanos e multiculturalismo Seção 2 - Dignidade, igualdade humana e direitos humanos 2.1 | Direitos humanos e diversidade cultural 2.2 | Direitos humanos e diálogo intercultural 2.2 | Minorias e o direito à diferença 2.3 | Os direitos humanos e as minorias no Brasil: a questão Seção 3 - Direitos humanos e meio ambiente 3.1 | Meio ambiente e direito social no Brasil 3.2 | Direitos humanos, meio ambiente e direitos sociais 89 93 93 96 98 99 105 105 107 110 111 119 119 123 Sumário 3.3 | Justiça ambiental no Brasil 125 Unidade 4 | Desenvolvimento sustentável e educação ambiental Seção 1 - O desenvolvimento social e sustentável 1.1 | Políticas públicas e meio ambiente 1.2 | Sustentabilidade socioambiental 1.3 | Conflitos socioambientais Seção 2 - Tecnologia e sustentabilidade 2.1 | Tecnologia e desenvolvimento humano 2.2 | Fundamentos políticos da proteção do meio ambiente 139 143 143 150 151 153 153 156 Apresentação Neste livro, buscaremos, na primeira unidade Sociedades humanas e ambiente natural compreender as relações existentes entre a sociedade e o meio ambiente, passando pelo pressuposto de entender as formas e as bases sob as quais essas relações se dão. Neste sentido, a preocupação será debatê-las relações em um primeiro momento. Perpassaremos também pela relação entre o meio ambiente e outras sociedades humanas que não estão submetidas ao modo de produção capitalista, mas que mesmo assim acabam por sentir os efeitos do avanço do capitalismo sobre o mundo. A segunda unidade, Relações etnorraciais, tem por objetivo proporcionar ao aluno uma visão, a partir das discussões das ciências sociais, de como o conceito de etnicidade e etnia foi se construindo, bem como mostrar como essas relações se deram no Brasil, sobretudo no que diz respeito à questão do negro e dos indígenas. Portanto, perpassaremos pela discussão do conceito de etnicidade e de grupos étnicos e seu desenvolvimento dentro das ciências sociais; em seguida, abordaremos a questão das relações etnorraciais no Brasil. A terceira unidade, Meio ambiente e direitos humanos, tem como objetivo refletir sobre a construção histórica dos direitos humanos, dando ênfase na maneira como se constituiu, no Ocidente moderno, a noção de indivíduo e dos direitos individuais; discutiremos ainda a pretensão da aplicação dos direitos humanos em toda e qualquer realidade social, com ênfase sobre as diferentes concepções socioculturais da dignidade humana e sobre noção de igualdade; e, finalmente, abordaremos a relação dos direitos humanos com as questões ambientais, discutindo a importância do meio ambiente para a garantia de uma boa qualidade de vida, bem como as relações entre a chamada justiça ambiental e justiça social. E, por fim, na Unidade 4, Desenvolvimento sustentável e educação ambiental, o objetivo é levar o aluno a aprender sobre a importância das políticas públicas para o desenvolvimento sustentável e a educação ambiental, tendo como exemplos de boas políticas as que surgem a partir do programa "Cidades Sustentáveis". Neste sentido, tem-se como objetivo o estudo sobre sustentabilidade socioambiental; conflitos socioambientais; meio ambiente, tecnologia e sustentabilidade; fundamentos políticos da proteção do meio ambiente. O objetivo deste livro, portanto, é discorrer sobre os temas acerca da disciplina Sociedade e meio Ambiente, utilizando as reflexões das principais matrizes teóricas, conforme apresentadas nesta leitura. O propósito é que esta abordagem temática propicie a motivação necessária a um bom entendimento deste conceito. Neste sentido, os autores alvitram incentivar o aluno a refletir sobre o aprendizado, cujos textos servirão de base para um aprendizado ímpar e contínuo na busca de novos conhecimentos. Prof. Sérgio de Goes Barboza Coordenação de Curso Unidade 1 SOCIEDADES HUMANAS E AMBIENTE NATURAL Objetivos de aprendizagem: Introduzir o aluno às principais discussões em torno do tema “ambiente natural e sociedades humanas”. Para tanto, expomos as formas de relação nas sociedades capitalistas e as principais correntes teóricas que travam essa discussão, para, em seguida, tratarmos das sociedades não capitalistas, colocando, ao final, alguns posicionamentos alternativos para este debate. Enquanto o paradigma evolucionista vigorou de maneira hegemônica, as sociedades humanas foram classificadas a partir de sua relação com o meio ambiente. Identificaram-se os povos primitivos como possuindo uma grande dependência em relação ao meio ambiente, ao passo que os povos modernos teriam uma maior independência. No entanto, diante dos problemas que afetam o nosso cotidiano pela destruição ambiental, é importante nos questionarmos: qual é a nossa real independência em relação ao meio ambiente? Compreender as relações existentes entre as sociedades humanas e o meio ambiente passa pelo pressuposto de compreender as formas e as bases sobre as quais esta relação se dá. Assim, não podemos falar de uma sociedade humana generalizada, por isso a unidade chama-se “sociedades humanas”, muito menos entender que há uma única forma de relação entre as diversas sociedades humanas e o meio ambiente. Como vivemos em uma sociedade capitalista, será tarefadesta unidade se preocupar em debater, em um primeiro momento, a relação entre o meio ambiente e a sociedade capitalista, visto que o avanço da economia capitalista sobre sua fonte de recursos primários é devastador e acarretou toda uma preocupação ambiental no Ocidente; também, trataremos da relação entre o meio ambiente e outras sociedades humanas que não estão submetidas ao modo de produção capitalista, mas que mesmo assim acabam por sentir os efeitos do avanço do capitalismo no mundo. Wilson Sanches Sociedades humanas e ambiente natural U1 8 Seção 1 | Capitalismo e Meio Ambiente Seção 2 | Sociedade se afluência Seção 3 | Do Antropoceno à Idade da Terra Nesta seção iremos debater as consequências do modo de produção capitalista para o meio ambiente, bem como as principais correntes de pensamento que se debruçaram sobre estes problemas. Nesta seção teremos como finalidade discutir as relações entre as sociedades não capitalistas e o meio ambiente, revendo a ideia de que as sociedades não capitalistas seriam sociedades da escassez, mas sociedades de afluência. Esta seção propõe discutir o meio ambiente como um ente que possui agência dentro das discussões políticas da atualidade. Sociedades humanas e ambiente natural U1 9 Seção 1 Capitalismo e Meio Ambiente Introdução à seção 1.1 O controle do meio natural e suas consequências O paradigma da modernidade está atrelado às mudanças ocorridas a partir do século XVII, na Europa, e que se desdobraram por todo o Ocidente nos séculos que se seguiram. O século XVII é marcado por diversas mudanças que atingem diretamente a forma como os homens se veem e como estes se relacionam com o mundo natural. O avanço das ciências e a ascensão da burguesia como classe economicamente dominante promovem a união entre técnica e ciência, separadas desde os escritos aristotélicos na antiguidade clássica grega. A possibilidade de compreensão do mundo, aviltada por Galileu Galilei quando afirmou que o livro do Universo está escrito em caracteres matemáticos, possibilita também o seu controle. Assim, avança algo que podemos chamar de ciências produtivas, ou seja, a capacidade de usar as descobertas das ciências para o aprimoramento das técnicas produtivas, expandindo, de forma acelerada, a capacidade de produção. As mudanças em relação ao mundo e à concepção de homem, aliados à mudança política que ocorria na Europa no século XVIII provocam uma mudança no que tange à dominação, como afirma Augusto Comte: Como as mudanças na forma de pensar mudam a maneira como o homem se relaciona com o ambiente natural? Sociedades humanas e ambiente natural U1 10 O desenvolvimento da ação sobre a natureza mudou a direção desse sentimento de dominação, transportando-o para as coisas. O desejo de comandar transformou-se gradativamente no de fazer e desfazer a natureza à vontade [...] Em última análise, o desejo de quase todos os indivíduos não é atuar sobre o homem, mas sobre a natureza (COMTE apud MORAES FILHO, 1978, p. 13). Por mais que possa haver um equívoco nesta afirmação de Comte − pois partimos do pressuposto de que a forma como os homens produzem sua vida material determina seu ser social e, nesse sentido, a dominação de um homem sobre outro se dá pela posse que alguns têm dos meios de produção em detrimento da maioria que não possui −, o que muda é que em cada modo de produção há um determinado conjunto de forças produtivas, que é chamado de meio de produção, assim, enquanto no período feudal a dominação era exercida mediante os títulos e a posse da terra, pois a terra era, e ainda é, o principal meio de produção, e os títulos servem como um véu que cobre as verdadeiras relações de exploração, no capitalismo a dominação é exercida pela posse dos meios de produção, que envolvem a matéria-prima, as ferramentas, o maquinário etc., que pertencem a poucos sobre muitos que possuem somente a força de trabalho. Interessa-nos, neste trecho, a ideia da atuação do homem sobre a natureza, extraindo-lhe todo o possível de forma cada vez mais organizada e ágil. A partir do século XVII, começa-se a perceber um crescimento considerável da população, coisa que passou desapercebida em épocas anteriores, e apesar dos avanços no campo técnico-cientifico que conduziam ao aumento da produção, isso começou a fazer parte das preocupações dos economistas da época, entre eles Thomas Malthus, que afirma: A população, quando não obstaculizada, aumenta a uma razão geométrica. Os meios de subsistência aumentam apenas a uma razão aritmética. Uma ligeira familiaridade com números mostrará a imensidade da primeira capacidade comparativamente à segunda. [...] Essa desigualdade natural das duas capacidades, da população e da produção da terra, [...] formam a grande dificuldade que me parece insuperável no avanço da perfectibilidade da sociedade (MALTHUS apud SZMRECSÁNYI, 1982, p. 57-58). Sociedades humanas e ambiente natural U1 11 Malthus apresenta neste excerto uma primeira preocupação a respeito dos limites dados pelo meio natural. Para este autor, o aumento da população deveria coincidir com as possibilidades de o meio natural prover o necessário para sua subsistência. Não obstante o crescimento da produção, sempre haveria o limitador dado pelo meio natural em prover recursos para esta população. A preocupação de Malthus com o crescimento populacional pauta diversos debates sobre a questão ambiental, no entanto, não se pode determinar que apenas o crescimento da população atua como elemento para a corrosão do meio ambiente. A partir da Revolução Industrial, a busca por novas escalas de produtividade não está pautada apenas para suprir as necessidades da população crescente, sobretudo para a obtenção de lucros extraordinários por meio da ampliação do mercado e do consumo. Neste sentido, Borges e Tachibana (2005, p. 5236) apontam que a “maneira como a produção e o consumo estão sendo conduzidos desde então [aqui os autores estão se referindo à Revolução Industrial] exige recursos e gera resíduos, ambos em quantidades vultosas, que estão ameaçando a capacidade de suporte do próprio planeta”. Barbieri (2004, p. 6) também indica a Revolução Industrial como marco da intensificação dos problemas ambientais. Para este autor, a era industrial alterou “a maneira de produzir degradação ambiental, pois ela trouxe técnicas produtivas intensivas em material e energia para atender mercados de grandes dimensões”. No entanto, o que não está presente nesta fala é o porquê de ser preciso atender os mercados de grandes dimensões. Isso nos leva a pensar que as indústrias surgiram para atender o mercado, e não o contrário, isto é, com a produção em grande escala, foi necessário um grande mercado para consumir tudo o que se estava produzindo. Este tipo de análise não difere muito daquilo que Malthus estava anunciando em seu primeiro ensaio, a ideia de que o aumento da população é que produz o risco, aqui novamente parece que as necessidades humanas crescentes são as responsáveis pelo aumento da produção. Partimos da ideia de que a ampliação do mercado é uma necessidade constante das economias capitalistas. Sendo assim, as novas formas de produzir degradação ambiental estão ligadas à produção em si, e não à expansão do mercado, que atende à necessidade da economia capitalista. Uma análise que tome o efeito pela causa pode recair em resultados que, na prática, não conseguem desvendar os problemas ambientais, e é o que veremos a seguir. 1.2 Economia ambiental A partir da década de 1920, há o surgimento de um campo da economia preocupado com a degradação ambiental, o qual recebeu o nome de economia ambiental. Sociedades humanas e ambiente natural U1 12 A economia ambiental parte da premissa de que os recursos naturais não são finitos, mas que o mercado deve se preocupar em desenvolver estratégias que tenham por objetivo a alocação eficiente dos recursos naturais (SOUZA, 2008, s.p.) Foladori(1999) explica que, a partir de 1920, existe a ideia de que o Estado deve tentar corrigir as falhas que o mercado apresenta. Assim, como a produção esbarra em limites naturais dados pelo meio externo, seria preciso impor aos responsáveis pelo consumo destes meios uma taxa para utilização dos recursos naturais, tentando, com isso, moderar o uso destes recursos, no entanto, o mercado ainda poderia utilizar os meios naturais. A partir da década de 1960, segundo Foladori (1999), a discussão avançou no terreno jurídico e descartou a intervenção estatal, propondo que os recursos naturais sejam preservados mediante uma negociação “poluidores e afetados que resolvam o problema” (FOLADORI, 1999, p. 84). Munidos deste instrumental teórico, os economistas ambientais avançaram na implementação de políticas tendentes a encarar os problemas ambientais. Por um lado, criando mecanismos de controle e de planejamento do uso dos recursos naturais e de geração de dejetos. Por outro, procurando instrumentos de mercado que atribuam preços ao que o mercado livremente não engendra (FOLADORI, 1999, p. 84). A proposta, a partir de então, seria criar um valor para os recursos ambientais, o qual poderia refletir o nível de escassez dos recursos naturais para o mercado. Esta valoração criaria condições para que o mercado, por meio da “livre negociação” – aqui, usamos o termo “livre negociação” entre aspas porque, se há a criação de um valor objetivo com vista à escassez de produto e não na demanda de mercado, não poderíamos falar de livre negociação como é entendida pelo Liberalismo Clássico –, definisse os níveis ótimos de exploração e alocação destes recursos (SOUZA, 2008). A teoria apresentada por Adam Smith enfatiza que o crescimento econômico se dá pela livre circulação da mercadoria, apesar das aspirações egoístas da busca pelo lucro, as atividades comerciais seriam guiadas por uma “mão invisível” a produzir muito mais do que se pretendia no início, se promoveria um aumento da renda da sociedade. Sociedades humanas e ambiente natural U1 13 Para melhor compreensão deste ponto, sugerimos a leitura do artigo: PRADO, Eleutério F. S. Uma formalização da mão invisível. Est. Econ., São Paulo, v. 36, n. 1, p. 47-65, jan./mar. 2006. Disponível em: <http://www. scielo.br/pdf/ee/v36n1/v36n1a02>. Acesso em: 5 set. 2016. Segundo Foladori (1999), a tentativa de intervenção na economia com a atribuição de valores aos recursos naturais como tentativa de que estes sejam melhor aproveitados, ou melhor alocados, demonstra que o mercado fracassou em tentar criar uma sociedade sustentável. Outra tentativa de compreender as relações entre meio ambiente e produção veio da economia ecológica. Vamos compreender essa teoria. 1.3 Economia ecológica A economia ecológica, assim como a ecologia ambiental, apresenta a necessidade de se utilizar com eficiência os recursos naturais existentes, mas também compreende que os sistemas econômicos devem levar em conta a escala de utilização destes recursos, bem como a ideia de uma distribuição justa entre os membros de uma sociedade, levando em consideração, também, a interferência que a utilização de determinados recursos naturais pode causar nas gerações futuras. Quais são as possibilidades de uma produção ecologicamente sustentável em uma economia capitalista? Souza (2008, s.p.) aponta que a inovação trazida pela economia ecológica é a proposição de que “a economia é um subsistema que faz parte de um ecossistema natural global fechado e que há ocorrência de trocas de materiais e energia entre o subsistema e o sistema global”. A ideia sustentada nesta definição é a de que a forma como o subsistema utiliza os recursos impacta diretamente em outra parte do sistema, que é fechado, portanto é preciso impor limites na própria utilização de recursos e energia. Isso parece bem próximo da ideia presente na economia ambiental, mas, nesta última, o limite seria dado em razão das negociações, sendo assim, acertadas as negociações, poderia se Sociedades humanas e ambiente natural U1 14 utilizar qualquer recurso oferecido pela natureza; no caso da economia ecológica, a decisão de utilização perpassa a ideia de que alguns recursos não podem ser utilizados em função dos impactos que se dariam no ecossistema global e de que a utilização de alguns recursos para um determinado fim impossibilitaria a utilização deles para outros fins. A economia ecológica defende a ideia de que a utilização de recursos não deva somente ser objeto de debate dos economistas, mas de uma gama de profissionais que poderiam avaliar as questões de maneira “não econômica”, isto poderia fazer com que aspectos éticos, sociais e biológicos fizessem parte da discussão sobre o que produzir e como produzir. De acordo com Foladori (1999), o limite para que a economia ecológica possa obter os resultados desejados, que também podem ser associados à economia ambiental, se relaciona à separação entre economia e ecologia. Ao ver o mundo de maneira sistêmica, não se tem a noção de totalidade, a atividade econômica como um subsistema aberto aparece separada dos demais subsistemas que compõem o ecossistema global, assim, por mais que a economia devesse ouvir outras áreas não econômicas, a decisão final sobre a produção apareceria como uma lógica pertencente ao mercado, levando em conta as necessidades e aspirações deste mercado. A imposição de limites via políticas, que seria entendido como outro subsistema, seria questionável, uma vez que teríamos que entender qual a relação deste subsistema com outros subsistemas, isto é, quem faria parte da política e qual seria o seu poder de intervenção dentro da economia. A título de questionamento, poderíamos nos perguntar: se os tratados internacionais sobre meio ambiente visam a um bem não econômico, que é o bem-estar social de todos, por que os países ricos se recusam a assinar esses tratados? Cavalcanti (2004) chama atenção para o fato de que a preocupação ecológica ganha status de retórica vazia, uma vez que está cada vez mais em moda falar sobre desenvolvimento sustentável, mas que, na prática, se percebe a desregulamentação, sobretudo nos países pobres, das leis ambientais para que as empresas transnacionais possam explorar os recursos naturais de maneira cada vez mais insustentável. Este autor faz uma reflexão sobre o caso brasileiro afirmando: No Brasil, ao mesmo tempo que aparece grande preocupação com a Amazônia, cortam-se as verbas para a fiscalização ambiental e se permite total liberdade de ação de empresas madeireiras asiáticas. A tolerância é alta com relação a projetos Sociedades humanas e ambiente natural U1 15 de grande porte que causam enorme impacto ecológico, desfigurando a paisagem e deslocando populações locais (CAVALCANTI, 2004, p. 151). Partindo da afirmação de Cavalcanti (2004), podemos questionar qual a capacidade de se sobrepor algum tipo de limite dentro de um sistema econômico que está separado da ecologia, bem como da economia. A questão que tentamos apresentar, mostrando estas duas teorias que se preocupam com as questões ambientais, é que há um limite posto nestas análises, o qual se dá pela crítica não partir da crítica do próprio sistema capitalista. Assim, no nosso próximo tópico, iremos discutir a crítica ao capitalismo como forma de pensar a questão ecológica. O desmatamento moderno da Amazônia tem sua origem na inauguração da rodovia Transamazônica, e seus índices desde então crescem rapidamente. Para compreensão desta história, sugerimos a leitura do artigo: FEARNSIDE, Philip M. Desmatamento na Amazônia brasileira: história, índices e consequências. Megadiversidade, v. 1, n. 1, jul. 2005. Disponível em: <http://www.mstemdados.org/sites/default/files/ Desmatamento%20na%20Amazonia%20brasileira,%20historia,%20 indices%20e%20consequencias%20-%20Philip%20Fearnside%20-%20 2005.pdf>. Acesso em: 5 set. 2016. 1.4 Marxismo e Meio Ambiente Para muitos autores, atese construída por Marx em “O Capital” não tem um fundamento propriamente ecológico, pois sua ocupação está em tentar decifrar os elementos do modo de produção capitalista que mostram as contradições dentro deste. Estes elementos não eram alvos dos escritos das teorias clássicas, sobretudo de Adam Smith, que previa a possibilidade de um equilíbrio dentro do capitalismo em função do seu caráter “racional”. Com exceção do livro de Engels, A dialética da Natureza (1976), não há, na elaboração destes autores, outro título que exponha a questão relativa aos problemas decorrentes da superexploração dos meios naturais. No entanto, não haver um título que tenha por referência a natureza não significa Sociedades humanas e ambiente natural U1 16 afirmar que as contradições do modo de produção capitalista em relação ao meio natural não tenham sido tratadas por Marx. Foster (2005) defende a ideia de que as contradições do capitalismo em relação ao meio natural está presente no livro O Capital de Marx, não de forma subjacente, mas como elemento primordial que conduz as análises sobre o modo de produção capitalista. Este autor afirma que “foi no O Capital que a concepção materialista de natureza em Marx alcançou plena integração com a sua concepção materialista de história” (FOSTER, 2005, p. 201). O conceito de “metabolismo”, utilizado por Marx em O Capital, permitiu a crítica das principais ênfases da economia política burguesa. De fato, Marx utiliza o conceito de “metabolismo” para pensar a relação do homem com a natureza. Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. [...] A terra (que do ponto de vista econômico inclui também a água), como fonte original de víveres e meios já prontos de subsistência para o homem, é encontrada sem contribuição dele, como objeto geral do trabalho (MARX, 1983, p.149-150). O que significa este metabolismo entre homem e natureza? O conceito de metabolismo foi, originalmente, cunhado pela química e biologia no início do século XIX. Ele foi utilizado para explicar o processo pelo qual um organismo, ou mesmo uma célula, extrai energia e materiais de um determinado sistema e os converte, por meio de processos bioquímicos, em elementos para o seu crescimento. Para Marx, este conceito terá um significado socioecológico, isto é, por meio do trabalho os homens interagem com o meio ambiente, transformando-o conforme as suas necessidades de crescimento, mas, ao mesmo tempo em que os homens transformam a natureza, eles transformam-se a si mesmos. A análise metabólica de Marx reconheceu que os ecossistemas incorporam processos regulatórios específicos que envolvem complexas relações históricas de intercâmbio que auxiliam em sua regeneração e continuidade. Devido à interpenetração entre natureza e sociedade, os humanos têm o potencial e a habilidade de alterar as condições naturalmente postas de maneira que ultrapassam as barreiras naturais. Essa análise Sociedades humanas e ambiente natural U1 17 permitiu a Marx acessar as reais interações metabólicas entre sociedade e natureza, via trabalho humano. Ao mesmo tempo, pôde assim estudar o conjunto constantemente cambiante de desejos e necessidade que emergiu com o advento e o desenvolvimento do sistema capitalista, o qual transformou o intercâmbio social com a natureza direcionando-o para busca constante de lucro (CLARK; FOSTER, 2010, p. 23). Se o trabalho é metabolismo entre o homem e a natureza, as necessidades constantes do capital de obter cada vez mais lucros intensificou as demandas sobre a natureza. A partir deste dado, temos um novo tipo de relação socioecológica que tem como consequência uma falha metabólica da relação homem/natureza que “leva a práticas insustentáveis de um sistema em seu conjunto” (CLARK; FOSTER, 2010, p. 23). Por que um novo tipo de relação? O trabalho aparece como ação humana que media e controla o seu metabolismo com a natureza. Nas sociedades pré- capitalistas, o que se extraía deste processo sociometabólico eram valores de uso. Uma vez que os valores de uso se realizam somente quando determinado produto é usado ou consumido, o limite da produção está na satisfação das necessidades. A produção capitalista, no entanto, está voltada para a produção de valor, a qual implica, necessariamente, uma produção voltada para as necessidades do capital, em que se empregam novas tecnologias tanto para intensificação da produção quanto para o barateamento da força de trabalho. A tecnologia empregada para condicionar a produção agrícola aos anseios capitalistas tenta superar as barreiras naturais postas, como nutrientes para o solo, por exemplo. A prática intensiva na agricultura leva, impreterivelmente, à degradação da terra. Quanto à tecnologia imposta para baratear a força de trabalho, leva à precarização das condições de vida de uma parcela significativa da humanidade. Ao converter a força de trabalho em mercadoria, [o capitalismo] a sujeita ao crescimento da composição orgânica do capital e aos vaivéns da oferta e da demanda, gerando esbanjamento de trabalho humano na forma de desemprego, miséria e enfermidades. E, mediante a divisão classista do trabalho, limita as possibilidades da criatividade humana (FOLADORI, 1999, p. 89). Sociedades humanas e ambiente natural U1 18 Mészáros (2002), discutindo a questão da destruição ecológica moderna e suas proporções globais no início do século XXI, aponta que o problema ecológico ocasionado pelo modo de produção capitalista é concreto, a questão que se coloca agora é a necessidade do controle social. Aqui, Mészáros (2002) tem claro que a questão de se produzir não é a discussão central. É evidente que toda a tecnologia produzida atua de forma a ampliar as possibilidades e a longevidade humana, a questão posta não se trata de negar os avanços técnicos alcançados, mas a base social da exploração do meio natural. A necessidade constante de crescimento do capital e de aumento do lucro não pode ser o único tipo de controle imposto à relação metabólica homem/natureza, mas este controle deve ser feito pela coletividade e para o interesse comum, a fim de se assegurar as condições vitais para a existência humana. A possibilidade de uma sociedade sustentável não se dá por reformas feitas no atual modo de produção. De acordo com os autores que trabalhamos até aqui, a questão é outra: uma sociedade sustentável é uma sociedade qualitativamente diferente. O que está em causa não é se produzimos ou não sob alguma forma de controle, mas sob que tipo de controle; dado que as condições atuais foram produzidas sob o “férreo controle” do capital que nossos políticos pretendem perpetuar como força reguladora fundamental de nossas vidas (MÉSZÁROS, 2002, p. 989). 1. Thomas Malthus publicou, em 1798, um texto sobre questões demográficas chamado: “Um ensaio sobre o princípio de população”. Este texto é importante porque demonstra a preocupação de Malthus em relação ao crescimento da população. Sabendo disso, assinale a alternativa correta quanto ao pensamento de Thomas Malthus sobre a questão populacional. a. Para Malthus, há um descompasso entre o crescimento populacional, que é geométrico, e o aumento dos meios de Sociedades humanas e ambiente natural U1 19 subsistência, que ocorre a uma razão aritmética, o que, a longo prazo, poderia criar um problema social. b. Para Malthus, o crescimento populacional tende a se uniformizar de acordo com a oferta de bens de consumo, assim o crescimento é maior em períodos de fartura e é menor, naturalmente, nos períodos de carestia. c. Para Malthus, o vertiginoso progresso produtivo não encontra nenhum tipo de obstáculo, podendo crescer infinitamente, e o crescimento populacional tende a permanecer estável sem sofrer alterações. d. Para Malthus, há duas certezas que podem ser comprovadas empiricamente:a primeira é que a população cresce vertiginosamente, e a segunda é que a produção de alimentos sempre acompanha este crescimento. e. Para Malthus, não deve se impor um limitador para o crescimento populacional, uma vez que a produção de alimento jamais se tornará um problema, mas a falta de braços para o trabalho pode interferir na perfectibilidade de uma sociedade. 2. Os anos entre 1760 e 1820 foram um período de transição para novos processos de produção conhecido como Revolução Industrial. Tendo em vista este período histórico, observe atentamente as proposições a seguir: I. A maneira como a produção e o consumo estão sendo conduzidos desde a Revolução Industrial exige recursos e gera resíduos, ambos em quantidades vultosas, que estão ameaçando a capacidade de suporte do próprio planeta. II. A Revolução Industrial como marco da intensificação dos problemas ambientais alterou a maneira de produzir degradação ambiental, pois ela trouxe técnicas produtivas intensivas em material e energia para atender mercados de grandes dimensões. III. A Revolução Industrial aparece como momento único de produção que sabe preservar plenamente a natureza. Desde o início, essa revolução deseja que as pessoas consumam somente o necessário. Sociedades humanas e ambiente natural U1 20 Sobre a Revolução Industrial e sua relação com o meio ambiente, podemos afirmar: a. Somente a proposição I está correta. b. Somente a proposição III está correta. c. Somente as proposições I e II estão corretas. d. Somente as proposições I e III estão corretas. e. Somente as proposições II e III estão corretas. Sociedades humanas e ambiente natural U1 21 Seção 2 Sociedade se afluência Introdução à seção Até agora apresentamos algumas discussões sobre meio ambiente e as sociedades humanas, partindo da análise da nossa sociedade. Por essa razão, a primeira discussão necessária foi a relação entre capitalismo e meio ambiente. No entanto, apesar de o capitalismo só existir sob a condição de internacionalização e globalização de suas atividades, e sabendo que os problemas ambientais gerados pela utilização intensiva dos recursos naturais do lucro particular não se restringem aos países industrializados, mas atingem todo o globo, não podemos nos esquecer de outras análises e outras sociedades que se relacionam, ou se relacionaram, com o seu meio natural de maneira diferente. Os estudos de Bronislaw Malinowski sobre o sistema de trocas nas Ilhas Trobriand, segundo Machado (2012), marcam o início da antropologia econômica. Qual a importância deste estudo para nosso tema? A questão fundamental é a possibilidade de lançar outro olhar sobre o homem, o que regula suas trocas, e sobre a economia. Ao descrever o circuito do Kula, Malinowski rompe com a ideia de um homem econômico universal, uma vez que o sistema de troca dos trobriandeses é relatado como um sistema de comércio “organizado sem a existência de mercados, dinheiro ou estado e na base da generosidade, não da ganância” (MACHADO, 2012, p. 169). A contribuição fundamental está em afirmar que não é possível pensar nos modelos econômicos das sociedades não capitalistas a partir das concepções econômicas próprias do capitalismo, assim não se pode falar que a ação dos homens é sempre movida por uma visão racional em busca do interesse próprio. É possível outra relação do homem com o meio natural em que o homem não sofra privações e que a natureza não seja destruída? Sociedades humanas e ambiente natural U1 22 Dessa forma, se afasta uma noção formal de economia, que a identifica com a ideia de existência de um determinado mercado, para compreensão destas sociedades que não estão submetidas ao modo de produção capitalista, e se aproximam de uma visão substantivista da economia. Esta concepção substantivista de economia tem como principal autor Karl Polanyi. Para ele, a ideia de necessidade supera a ideia de subsistência, pois, por mais que os meios para se atender as necessidades sejam materiais, as necessidades em si podem ser materiais ou não. O fundamental desta ideia está em rechaçar qualquer afirmação que aponte que as economias não capitalistas são economias de escassez, pois, na citação acima, está afirmado que o meio natural oferece de maneira contínua os meios para satisfazer as necessidades humanas. Este debate sobre as sociedades não capitalistas basearem suas produções na escassez está presente em Marshall Sahlins. Sahlins, segundo Machado (2012), não é um dos substantivistas “puros”, mas utiliza diversos conceitos que são emprestados diretamente de Polanyi. Para Sahlins (2004), os manuais de economia, que analisam as questões econômicas pelo viés formalista, apontam que as sociedades “primitivas”, ou sociedades caçadoras e coletoras, são sociedades em que a fome e a escassez estão sempre presentes. Essas sociedades possuem uma determinada incompetência técnica que devem gastar todo o tempo e a energia em tentar conseguir o suficiente para sobreviver que não lhes é possível nem mesmo ter condições materiais para criar cultura. Todos estes povos caçadores e coletores pertencem ao grupo das chamadas economias de subsistência, segundo estes manuais formalistas. No entanto, Sahlins (2004) lança um olhar de oposição a estas afirmações. Segundo as palavras do próprio autor: [...] que define a economia como um processo instituído de interação entre o homem e o ambiente natural e social que o rodeia, o qual resulta em contínua oferta de meios para satisfazer as necessidades humanas (MACHADO, 2012, p. 166). A sabedoria tradicional é sempre resistente. Somos obrigados a contestá-la em termos polêmicos, a formular as revisões necessárias em termos dialéticos: na verdade, quando se chega a analisá-las [o autor está falando da sociedade caçadora e coletora] essa era a sociedade afluente original (SAHLINS, 2004, p. 105-106). Sociedades humanas e ambiente natural U1 23 Estas revisões necessárias apontadas por Sahlins o leva a afirmar que a sociedade caçadora e coletora é a primeira sociedade de afluência. O termo afluência significa aqui, em sentido figurado, um estado de riqueza, desenvolvimento e prosperidade. Portanto, a sociedade caçadora e coletora não é uma sociedade de escassez e busca constante de alimento, mas a primeira sociedade de abundância, situação que as modernas sociedades capitalistas não atingiram, apesar de todos os seus supostos avanços tecnológicos. Segundo Sahlins (2004), a afluência pode se apresentar de duas formas distintas: a primeira forma de afluência se dá em razão das necessidades que podem ser facilmente atendidas devido à produção abundante de bens e serviços que poderiam ser facilmente acessados por todos. Esta forma poderia ser atendida por uma sociedade industrial, que diante de desejos infinitos e recursos finitos poderia aperfeiçoar as técnicas de produção a fim de que o descompasso entre desejos e recursos fosse superado. Uma segunda forma de afluência se dá devido aos desejos moderados. Neste caso, os desejos de uma sociedade são tão poucos que qualquer tipo de disponibilidade de bens e de produção poderia facilmente atendê-los. Assim, os desejos seriam finitos e os recursos seriam adequados para atendê-los. Portanto, a abundância seria sem paralelo. Para Sahlins (2004), esta última forma de afluência seria típica das sociedades caçadoras e coletoras. Contudo, ao invés de imaginar que estas sociedades teriam uma economia de escassez, elas possuem uma abundância consistente, que, segundo Sahlins, superaria a abundância das sociedades industriais modernas. Aqui, a questão da abundância não está ligada à fartura de alguns em detrimento de outros, se pensa em uma abundância para todos, por isso que, para este autor, as economias das nações ricas são marcadas por uma grande parte da população que, geralmente, é pobre. Sahlins levanta alguns pensamentos recolhidos por diversos etnólogos para contestar a “opinião média” antropológicade que as sociedades caçadoras e coletoras são sociedades de subsistência, ou de busca ininterrupta pela comida, e que as sociedades industriais são sociedades de afluência. Para Sahlins“o sistema industrial e de mercado instituiu a escassez de um modo completamente ímpar e num grau que não encontra equivalente em parte alguma” (2004, p. 108). Para este autor, na medida em que o mercado determina os comportamentos de consumo numa lógica de obter e gastar, a escassez de recursos torna-se o ponto de partida da economia. Esta crítica de Sahlins aponta para o modo como as sociedades capitalistas olham as formas de existência das outras sociedades que não são capitalistas, em especial as sociedades coletoras e caçadoras. Mas, apesar de a escassez ser o ponto nodal de nossas economias, ela deve ser entendida, segundo Sahlins, como uma relação entre meios e fins. Não somente contra este Sociedades humanas e ambiente natural U1 24 pensamento dominante em relação à questão econômica que o autor afirma ser necessária uma postura dialética, mas à própria compreensão evolucionista de que apenas os avanços tecnológicos é que deram possibilidade de o homem se “livrar” da eterna obrigação de procurar alimento, e passa-se, com mais tempo, à criação da cultura em si. Sahlins destaca que alguns relatos de etnógrafos sobre os chamados “povos primitivos” endossam a ideia de que estes vivem em lugares pobres em um meio ambiente hostil que lhes nega a possibilidade de uma existência que não seja voltada para a busca de alimento. No entanto, estes relatos cometem alguns erros, pois não levam em conta as tradições alimentares locais, que podem variar de maneira ampla e se distinguem grandemente das tradições alimentares dos etnógrafos europeus, e também não fazem menção ao meio ambiente que foi empobrecido e deteriorado pela exploração colonial europeia. Quando se analisam os diversos relatos dos etnógrafos junto aos povos caçadores e coletores de diversas partes do mundo, se tem a ideia da existência de “uma espécie de fartura material” (SAHLINS, 2004, p. 114). Esta fartura está relacionada à facilidade de produzir os bens necessários para a sociedade em virtude da simplicidade tecnológica e da democracia da propriedade. Utilizam-se ferramentas extremamente simples e partilhadas por todos para atender à necessidade geral. Isto só é possível em virtude de “um padrão de vida objetivamente baixo”. Este padrão de vida não está ligado a uma questão de subsistência, mas a um princípio. Portanto, estes povos não sofrem o infortúnio da escassez, mas o desprendimento das necessidades materiais que é institucionalizado, pois estes povos são nômades e a posse de bens se transforma em um fardo para a mobilidade necessária, portanto, o desprendimento material é visto por Sahlins como um “fator cultural positivo expresso em uma multiplicidade de arranjos” (SAHLINS, 2004, p. 117). O caçador, ficamos tentados a dizer, é um 'homem não econômico'. Pelo menos no que concerne aos produtos não ligados à subsistência, ele é o avesso da criatura padrão imortalizada na primeira página de qualquer livro de 'princípios gerais de economia'. Suas necessidades são escassas e seus recursos (em relação a elas), abundantes. Por isso, ele é 'comparativamente isento de pressões materiais', não tem 'nenhum sentimento de posse', exibe um sentido de propriedade pouco desenvolvido, é 'completamente indiferente a qualquer posse material' e manifesta desinteresse pelo desenvolvimento de seu equipamento tecnológico (SAHLINS, 2004, p. 119). Sociedades humanas e ambiente natural U1 25 A ideia de um homem não econômico aparece em oposição ao homem econômico, obra do pensamento burguês. A diferença entre estes caçadores e o homem econômico burguês é que o primeiro não transformou os impulsos materialistas em uma instituição, como fez o segundo. Assim, a maior riqueza destes homens é estarem completamente livres e poderem gozar a vida sem as pressões de terem que acumular. Por essa razão, Sahlins afirma: Sahlins se ocupa de diversos estudos para mostrar que as horas trabalhadas em diversas sociedades coletoras e caçadoras são bem menores do que as praticadas nas sociedades capitalistas em que os desejos são infinitos, porque foram criados para serem infinitos. O que a experiência das sociedades originais de afluência tem a ver com nossos debates sobre sociedades humanas e meio ambiente? As sociedades caçadoras e coletoras nos dão uma visão de outra possibilidade de relação entre o homem e seu meio natural. Esta outra visão é um elemento extremamente importante, pois muitas vezes ficamos presos a determinadas formas de pensar, de trabalhar e de se relacionar com a natureza que parecem que são únicas e eternas; é preciso desnaturalizar estas relações para que se possa vislumbrar novas possibilidades; e o entendimento de que nossa forma de vida é uma entre tantas outras possíveis. Também, temos que ter ciência de que nosso modo de vida pode sofrer profundas mudanças, como ocorreu com outros povos que tiveram que se adaptar em função do fim de seu mundo. Pode-se alegar, de modo convincente, que os caçadores e coletores trabalham menos que nós; e, em vez de ser uma labuta contínua, a busca de alimento é intermitente, o lazer é abundante e há uma quantidade maior de horas de sono diurno per capita, anualmente, do que em qualquer outra condição de existência social (SAHLINS, 2004, p. 120). 1. Os estudos de Bronislaw Malinowski sobre o sistema de trocas nas Ilhas Trobriand, segundo Machado (2012), marcam o início Sociedades humanas e ambiente natural U1 26 da antropologia econômica. Durante um certo período, se acirraram os debates dentro da antropologia econômica no que tange ao seu caráter formal ou substantivista. Sabendo disso, assinale a alternativa que define de forma correta a concepção substantivista da antropologia econômica: a. A visão subtantivista identifica a economia como a substância da vida material e suas análises são voltadas para uma visão romântica de toda a vida, sem levar em conta os problemas materiais concretos. b. A visão substantivista identifica a economia com a ideia de existência de um determinado mercado, para compreensão estas sociedades não estão submetidas ao modo de produção capitalista. c. A visão substantivista é entendida como um processo instituído de interação entre o homem e o ambiente natural e social que o rodeia, o qual resulta em contínua oferta de meios para satisfazer as necessidades humanas. d. A visão substantivista aparece ligada à escola marxista, exclusivamente, uma vez que foi Marx quem lançou as bases do idealismo alemão responsável por fundar esta escola de pensamento. e. A visão substantivista é aquela preocupada em pensar como a produção capitalista irá suprir, basicamente, todos os homens, uma vez que a humanidade cresce muito rapidamente. 2. O termo afluência significa aqui, em sentido figurado, um estado de riqueza, desenvolvimento e prosperidade. Sabendo disso, observe as proposições a seguir: I. Segundo Marshall Sahlins, as sociedades caçadoras e coletoras não são sociedades de escassez e pela busca constante de alimento, mas a sociedade da abundância, a primeira sociedade de abundância, situação que as modernas sociedades capitalistas não atingiram, apesar de todos os seus supostos avanços tecnológicos. II. A primeira forma de afluência se dá em razão das necessidades que podem ser facilmente atendidas devido a Sociedades humanas e ambiente natural U1 27 uma produção abundante de bens e serviços que poderiam ser facilmente acessados por todos. III. A segunda forma de afluência se dá em razão dos desejos moderados. Neste caso, os desejos são tão poucos que qualquer tipo de disponibilidade de bens e de produção poderia facilmente atender os desejos de uma sociedade. Assumindo V para o que for verdadeiro sobre as sociedades de afluência na concepção de Marshall Sahlinse F para o que for falso, assinale a alternativa que contém a sequência correta: a. V-V-V. b. V-V-F. c. F-V-F. d. V-F-V. e. F-F-F. Sociedades humanas e ambiente natural U1 28 Sociedades humanas e ambiente natural U1 29 Seção 3 Do Antropoceno à Idade da Terra Introdução à seção Em 1971, Guy Debord escreveu um texto para a Revista Internacional Situacionista intitulado “O planeta doente” (La planète malade, em francês). Este texto mantém uma atualidade impressionante, pois trata da degradação ambiental ocasionada pelo modo de produção capitalista. Uma degradação tão perceptível que é impossível para o próprio capitalismo negar, tanto que os discursos sobre a poluição se tonaram moda, está espetacularizada nas mídias. Mas, como tudo aquilo que está espetacularizado, serve apenas para fazer diversos alardes sem nenhum resultado prático (DEBORD, 2011). O desenvolvimento científico aumentou drasticamente o nível de produção e também criou as ferramentas necessárias para medir o grau de degradação do ambiente, no entanto, enquanto a grande força política que orienta as transformações sociais são as forças capitalistas, essa ciência apenas consegue prever, de maneira mais ou menos exata, o tempo de degradação da Terra sem que se possam produzir mudanças significativas para que cessem, aquilo que Debord chamou de produção da morte (DEBORD, 2011). Por que a ciência não consegue mudar estas previsões? Porque esta mudança não é de cunho quantitativo, ou seja, de como se produzir mais com menos, mas de cunho qualitativo, como viver e produzir os elementos necessários para a manutenção da vida; aqui, manutenção da vida deve ser entendida de maneira ampliada, de outra forma. Essa decisão não é apenas técnica, mas uma decisão política, que envolve a preservação da vida ou sua completa aniquilação. Os senhores da sociedade são obrigados agora a falar da poluição, tanto para combatê-la (pois eles vivem, apesar de tudo, no mesmo planeta que nós; é este o único sentido ao qual se pode admitir que o desenvolvimento do capitalismo realizou efetivamente uma certa fusão das classes) e para Sociedades humanas e ambiente natural U1 30 a dissimular, pois a simples verdade dos danos e dos riscos presentes basta para constituir um imenso fator de revolta, uma exigência materialista dos explorados, tão inteiramente vital quanto foi a luta dos proletários do século XIX pela possibilidade de comer. Após o fracasso fundamental de todos os reformismos do passado − que aspiram todos eles à solução definitiva do problema das classes −, um novo reformismo se desenha, que obedece às mesmas necessidades que os precedentes: lubrificar a máquina e abrir novas oportunidades de lucros às empresas de ponta. O setor mais moderno da indústria se lança nos diferentes paliativos da poluição, como em um novo nicho de mercado, tanto mais rentável quanto mais uma boa parte do capital monopolizado pelo Estado nele está a empregar e a manobrar. Mas se este novo reformismo tem de antemão a garantia de seu fracasso, exatamente pelas mesmas razões que os reformismos passados, ele guarda em face deles a radical diferença de que não tem mais tempo diante de si (DEBORD, 2011, p. 5). No cerne deste debate, iniciado por Debord já em 1971, é que se insere a discussão sobre o Antropoceno e a idade da Terra. Afinal de contas, o que significa este termo: Antropoceno? Segundo Artaxo (2014), a Terra, desde sua origem há 4,5 bilhões de anos, evolui a partir de determinadas forças geológicas. O Holoceno é um período geológico iniciado há mais de 11.700 anos, com o fim do período glacial. Esse período é conhecido como sendo de relativa estabilidade do ponto de vista climático. No entanto, alguns pesquisadores, a partir dos anos de 1980, começaram a estudar os efeitos da ação dos homens sobre a formação do planeta, a geofísica, e não apenas a formação social. Que tipo de transformações ocorreram? Desde que os homens apareceram na Terra, há cerca de 200 mil anos, sempre produziram algum tipo de efeito sobre ela. No entanto, desde a Revolução Industrial, Qual é a capacidade dos humanos em alterarem a composição geofísica do planeta em que vivemos? Sociedades humanas e ambiente natural U1 31 no século XVIII, as atividades socioeconômicas dos homens sobre a Terra cresceram de maneira vertiginosa. Com o desenvolvimento das máquinas a vapor e, posteriormente, dos motores à combustão interna, o uso de combustíveis fósseis (inicialmente carvão, depois petróleo e gás) cresceu exponencialmente, até esses se tornarem hoje responsáveis por 70% a 80% da energia total utilizada em nosso planeta. Isso levou ao aumento da concentração atmosférica de dióxido de carbono (CO 2 ), que passou de cerca de 280 ppm, na era pré-industrial, para uma concentração média de 399 ppm, em 2015. Essa alta concentração não foi observada ao longo dos últimos 800 mil anos, pelo menos. O aumento nas concentrações de metano (CH 4 ), óxido nitroso (N 2 O), ozônio (O 3 ) e outros gases de efeito estufa também foi muito significante (ARTAXO, 2014, p. 16). Todas essas mudanças, e outras, provocadas pela forma como os homens interagem com a natureza a fim de aumentar sua produção, estão afetando o solo e a radiação, provocaram mudanças climáticas substanciais e afetaram os recursos hídricos. Pensando nessas mudanças provocadas pela ação do homem sobre o meio físico é que se cogitou a ideia de que o homem, como força geofísica, está fazendo a Terra adentrar em outra era geológica, o Antropoceno. O termo foi bastante divulgado pelo químico Paul Crutzem, Nobel de Química. No entanto, é preciso que compreendamos que este termo não é um elogio à ação humana, mas uma constatação de que essas ações se constituem na terceira era geológica do período quaternário, e de que essa era durará muito mais do que nossa espécie, ou seja, os efeitos provocados pela ação do homem sobre a Terra são tão profundos que, mesmo após o desaparecimento da humanidade, o planeta continuará a sentir esses efeitos. Há uma compreensão, todavia, que não é a humanidade inteira que provoca essas mudanças, mas o modo de produção capitalista, no entanto, como o modelo de consumo dos países industrializados se torna padrão para todos os outros países, sobretudo no Ocidente, essa força geofísica tende a aumentar sua amplitude e seus efeitos são sentidos por todos. Mantidos os atuais níveis de crescimento do consumo e a forma como se produz, um efeito é aviltado para um futuro ainda indeterminado, dado a continuidade deste regime termodinâmico, o fim do mundo. Sociedades humanas e ambiente natural U1 32 Em um mundo em que a ação humana supera a ideia de uma ação exclusivamente política ou social e a humanidade se converte em força geofísica, a Terra também não pode ser simplesmente encarada como um elemento natural, mas torna-se uma personagem, uma interlocutora política, um agente que, em diversas conferências sobre o tema do fim do mundo, recebe o nome de Gaia. Um colóquio internacional realizado no Rio de Janeiro, em setembro de 2014, sob o nome “Os mil nomes de Gaia: do Antropoceno à idade da Terra”, afirma em seu texto de proposição que: 'Gaia' nomearia uma nova maneira de ocupar e de imaginar o espaço, chamando a atenção para o fato de que nosso mundo, a Terra, tornado, de um lado, subitamente exíguo e frágil, e, de futuro lado, suscetível e implacável, assumiu a aparência de uma potência ameaçadora que evoca aquelas divindades indiferentes, imprevisíveis e incompreensíveis de nosso passado arcaico. Imprevisibilidade, incompreensibilidade, sensação de pânico diante da perda do controle, e talvez mesmo de perda da esperança: eis o que são certamente desafios inéditos para a orgulhosa segurança intelectual e o destemido otimismo histórico da modernidade (COLÓQUIO INTERNACIONAL, 2014, p. 1). Mas, por que manter o nome Gaia é importante para o pano de fundo teórico que queremos utilizaraqui? Poderíamos falar em Terra, em sistema biogeofísico terrestre, mas nos importa pensar Gaia como ser vivo, autorregulado, que possui agência sobre as ações que se desenvolvem nela, e não apenas um bloco de terra solto no espaço, cujo destino cabe somente aos humanos. O colóquio “Os mil nomes de Gaia: do Antropoceno à idade da Terra” debateu os desafios da contemporaneidade. Os textos dos palestrantes estão disponíveis no site do evento: <https://osmilnomesdegaia.eco.br/ sobre/>. Acesso em: 12 set. 2016. Para compreendermos um pouco melhor este conceito de agência, utilizaremos um autor francês chamado Bruno Latour. Bruno Latour formou-se em Filosofia e prestou serviço militar por dois anos na Costa do Marfim. No período em que esteve neste país, Latour ficou encarregado Sociedades humanas e ambiente natural U1 33 de desenvolver pesquisa em sociologia do desenvolvimento. De sua experiência no país do continente africano, ele cogitou a possibilidade de transpor as categorias analíticas das ciências sociais para uma investigação em laboratório. Seu interesse o levou a estudar sobre a prática científica. De seus estudos sobre a prática científica, Latour propôs uma disciplina que se situa entre as ciências sociais e as ciências exatas, cujo objeto de estudo são os processos que surgem da científica e da técnica. Para este autor, é importante perceber que os conteúdos científicos não estão separados dos contextos sociais. Há, em Latour, uma discussão que visa repensar essa questão do social dentro da sociologia. No livro Reagrupar o Social, Latour (2012, p. 18) tem por objetivo “redefinir a noção de social remontando a seu significado primitivo e capacitando-o a rastrear conexões novamente”. Com isso, o autor pretende voltar ao objetivo que sempre foi o das ciências sociais, “mas com instrumentos mais bem ajustados à tarefa”. Para ele, o problema a ser enfrentado é que o termo social acabou e é usado de maneira dicotômica, ou seja, para distinguir fenômenos sociais dos fenômenos, ou objetos, ou coisas, que não podem ser designados por este substantivo. Para Latour (2012, p. 19), “o social parece diluído por toda parte e por nenhuma em particular”, assim, para retomar as primeiras pretensões de uma ciência do social, como é o caso da sociologia, é preciso repensar tanto o objeto quanto o método de estudo. Para isso, o autor em tela afirma que a abordagem por ele proposta deve partir da premissa de que não há nenhuma dimensão específica que possa receber o rótulo de social ou de sociedade, para ele “a 'sociedade', longe de representar o contexto 'no qual' tudo se enquadra, deveria antes ser vista como um dos muitos elementos de ligação que circulam por estreitos canais” (LATOUR, 2012, p. 19). No extremo, Latour (2012) afirma, parafraseando Margareth Thatcher, que “sociedade é coisa que não existe”. Então, o que o autor entende por social ou por sociedade? Conforme Latour (2012, p. 22), o social “é aquilo que outros tipos de conectores amalgamam”. Estes agregados sociais seriam explicados em função das suas associações. A sociologia, nesse sentido, seria entendida como a busca de associações. E o termo “social” é entendido por Bruno Latour (2012, p. 23) não como uma coisa em si, mas como um “tipo de conexão entre coisas que não são, em si mesmas, sociais”. Latour chama a atenção para o fato de que a sociologia só pode dar continuidade ao seu projeto original se levar em conta todos os tipos de agregados que formam o social, um vírus que pode alterar as formas de sociabilidade da mesma maneira que uma arma nuclear e que um partido político. “A cada instância precisamos reformular nossas concepções daquilo que estava associado, pois a definição anterior se tornou praticamente irrelevante” (LATOUR, 2012, p. 23). Sociedades humanas e ambiente natural U1 34 Portanto, para este autor, o social é compreendido como um tipo de movimento de reassociação e reagregação. É a partir desta definição de social que Latour constrói a sua teoria de análise, a Teoria do Ator-Rede. Alguns livros trazem esta teoria sob a sigla TAR, mas outros autores preferem manter o acrônimo ANT, que é a sigla em inglês de Actor-Network Theory, em virtude de uma metáfora que o autor faz com o trabalho de uma formiga, ant em inglês. Para Latour, o sociólogo deve percorrer as conexões entre os diversos tipos de elementos agregados para compreender as associações que formam o social naquele contexto específico. Não obstante, Latour tenha certas reservas a este nome, esta teoria pode ser expressada da seguinte forma: há que se atribuir o devido papel aos não humanos para compreender as associações, ou nesse caso específico, compreender as redes que se estabelecem entre atores heterogêneos. O papel do não humano não pode ser restringir a um papel meramente simbólico, mas um papel concreto de participação nas redes para compreensão de como o social se reagrupa. Tanto humanos quanto os não humanos são compreendidos nesta teoria como “atores”, não apenas coadjuvantes que apenas informam aos cientistas como o social está, mas atores capazes de construir suas próprias teorias. Os pesquisadores que se utilizam da Teoria do Ator-Rede devem seguir estes atores e compreender como o social se reagrupa, e não elaborar como os atores são ou dar lucidez às práticas deles. A teoria que acabamos de expor é importante para a compreensão daquilo que discutíamos em relação ao meio ambiente. Gaia é um ator, possui a capacidade de agir e participar da reagregação do social, assim, não é apenas algo que sofre as influências dos humanos. Os estudos ambientais que se valem da Teoria do Ator-Rede podem configurar uma nova forma de compreensão da atual crise e da forma de sua superação, que é uma questão política, tem a ver com as definições de determinadas ações, mas estas ações são realizadas e conectadas levando as conexões entre humanos e não humanos. Há uma crise objetiva que atinge tanto a questão ecológica quanto a questão política, a qual aponta para a falência teórica e prática da cultura ocidental, que cindiu o social do natural e que atribuiu ao homem o poder de agir sobre a natureza como senhor absoluto desta, sem levar em conta como a natureza responderia. O Antropoceno coloca a nós, humanos, em uma encruzilhada, para alguns autores esta era a marca do fim do humano e a necessidade de ter novos sonhos. O que ele quer dizer com o fim do humano? O fim do projeto de humanidade surgido na modernidade ocidental, cuja figura emblemática é o pensamento exclusivamente antropocêntrico. Neste sentido, muitos empreendimentos que têm por finalidade “salvar a natureza” estão fadados ao fracasso desde o início, porque estão baseados na cisão entre o reino humano, o qual cabe agir de maneira política, e o reino natural, que em Sociedades humanas e ambiente natural U1 35 si mesmo não passa de algo que não tem capacidade de agir politicamente. Para Latour (2004), sociedade e natureza são termos que carecem de explicação simétrica entre não humanos e humanos. Ecologia e política são, para o autor, vocábulos que devem ser conjugados para se fazer ecologia política. Ecologia política implica reagrupar, reagregar política e ciência da natureza. A ideia proposta por Latour é bem vaga, no sentido prático, a ideia é se fazer “ecologia política” reunindo todos os atores que fazem parte da realidade como entes que possuem agência para que possamos habitar a morada comum que é o bom mundo comum (LATOUR, 2004, p. 363). Em uma discussão sobre sociedades humanas e meio ambiente, não seria justo pensar somente como nós, ocidentais modernos, evocamos esta discussão. É preciso também discutir as possibilidades trazidas por outros povos sobre a relação sociedade e natureza. Neste sentido, nos parece de fundamental importância a obra de Eduardo Viveiros de Castro, quem propõe uma teoria que não tem como ponto de partida aquilo que os ocidentais pensam sobre os diversospovos que habitam a Terra, uma perspectiva comum às ciências sociais, uma vez que a ciência é fruto do Ocidente moderno e o ponto de partida das discussões sobre os “outros” povos. A crítica de Eduardo Viveiros de Castro é justamente esta, a compreensão do outro a partir do “nós”, ou seja, por mais que o pensamento ocidental tenha se valido ao longo dos anos de um certo relativismo para pensar os outros povos, a perspectiva assumida ainda é o que se é produzido no Ocidente, e este se vê ainda como portador de um projeto científico e de uma cosmologia que tendem a ser aplicados a todos os estudos sobre o “outro”. Para além dos relativismos produzidos pelas ciências sociais ocidentais, adiante dos fins das dualidades, como vimos há pouco com Bruno Latour, Eduardo Viveiros de Castro propõe outra perspectiva, o perspectivismo ameríndio, que evoca uma abordagem diferente da que temos visto até agora. Se dentro da Antropologia praticada até então se parte do pressuposto de que há, nos estudos das diversas sociedades, um elemento universal que é a natureza, ou seja, que o mundo natural é o objetivo que nos força a percebermos que ele é regido por leis claras e objetivas de causa e consequência, e outro particular que é a cultura, porque é produzida de maneira subjetiva pelas interações e pelos simbolismos que há no grupo, a proposta de Castro é compreender que a cosmologia presente nos povos ameríndios parte do oposto da cosmologia ocidental. O que isto quer dizer? Que dentro da perspectiva dos povos ameríndios a cultura é o universal e a natureza é particular, donde a afirmação de Castro de que o que há dentro desta perspectiva é o multinaturalismo, e não o multiculturalismo (CASTRO, 1996). Em primeiro lugar, precisamos entender o que é esta qualidade perspectiva dos povos ameríndios que o autor trabalha: Sociedades humanas e ambiente natural U1 36 O perspectivismo parte de diversas etnografias dos povos amazônicos que apontam para uma “teoria indígena” em que: Assim, há uma mesma natureza humana em todos os animais, a qual está “escondida” sob uma roupagem, uma forma na qual as espécies não humanas se manifestam. Uma onça, por exemplo, se vê como um homem, e o homem que ela espreita para atacar é visto por ela como presa, como qualquer outra presa. Da mesma forma que o homem se vê como homem e vê sua presa como animal, a presa que é perseguida pelo homem se vê como homem e vê seu perseguidor como um predador voraz, como qualquer outro predador que ele possui na natureza, ou seja, como animal. O perspectivismo ameríndio se difere do relativismo proposto pelas ciências ocidentais e da própria cosmologia ocidental; no início, para diversos povos indígenas das Américas, tudo era humano. Trata-se da concepção, comum a muitos povos do continente, segundo a qual o mundo é habitado por diferentes espécies de sujeitos ou pessoas, humanas e não humanas, que o apreendem segundo pontos de vista distintos (CASTRO, 1996, p. 115). [...] o modo como os humanos veem os animais e outras subjetividades que povoam o universo − deuses, espíritos, mortos, habitantes de outros níveis cósmicos, fenômenos meteorológicos, vegetais, às vezes mesmo objetos e artefatos −, é profundamente diferente do modo como esses seres os veem e se veem (CASTRO, 1996, p. 116). Tudo era humano, mas tudo não era um. A humanidade era uma multidão polinômica; ela se apresentou desde o início sob a forma da multiplicidade interna, cuja externalização morfológica, isto é, a especiação, é precisamente a matéria da narrativa cosmogônica. É a Natureza que nasce ou se 'separa' da Cultura e não o contrário, como para nossa antropologia e nossa filosofa (DANOWSKI; CASTRO, 2014, p. 92). Sociedades humanas e ambiente natural U1 37 O mundo, para os indígenas da Amazônia, é uma multiplicidade conectada. As espécies animais são entes políticos, não apenas os homens no sentido ocidental do termo. O ambiente é uma sociedade de sociedades, uma cosmopoliteia (DANOWSKI; CASTRO, 2014, p. 94). Assim, na produção de sua vida, os povos amazônicos sabem que algo precisa ser destruído, mas como o solo é também vivo, é preciso tomar cuidado com as marcas que se deixam sob a terra. Por essa razão, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, em entrevista a Eliane Brum, afirma: Acho que os índios podem nos ensinar a repensar a relação com o mundo material, uma relação que seja menos fortemente mediada por um sistema econômico baseado na obsolescência planejada e, portanto, na acumulação de lixo como principal produto. Eles podem nos ensinar a voltar à Terra como lugar do qual depende toda a autonomia política, econômica e existencial. Em outras palavras: os índios podem nos ensinar a viver melhor em um mundo pior. Porque o mundo vai piorar. E os índios podem nos ensinar a viver com pouco, a viver portátil, e a ser tecnologicamente polivalente e flexível, em vez de depender de megamáquinas de produção de energia e de consumo de energia como nós. Quando eu falo índio é índio aqui, na Austrália, o pessoal da Nova Guiné, esquimós... Para mim, índios são todas as grandes minorias que estão fora, de alguma maneira, dessa megamáquina do capitalismo, do consumo, da produção, do trabalho 24 horas por dia, sete dias por semana (BRUM, 2014, p. 1). A afirmação de Eduardo Viveiros de Castro é importante para pensarmos a nossa relação com a Terra a partir de outra perspectiva. 1. A partir de década de 1920, há o surgimento de um campo da economia preocupado com a degradação ambiental, o qual recebeu o nome de economia ambiental. Sabendo disso, analise as proposições a seguir: I. A economia ambiental parte da premissa de que os recursos naturais não são finitos, mas que o mercado deve se preocupar em desenvolver estratégias que tenham por Sociedades humanas e ambiente natural U1 38 objetivo a alocação eficiente dos recursos naturais. II. Para a economia ambiental, como a produção esbarra em limites naturais dados pelo meio externo, seria preciso impor aos responsáveis pelo consumo destes meios uma taxa para utilização dos recursos naturais, tentando, com isso, moderar o uso destes recursos, no entanto, o mercado ainda poderia utilizar os meios naturais. III. Os economistas ambientais avançaram na implementação de políticas tendentes a encarar os problemas ambientais. Por um lado, criando mecanismos de controle e de planejamento do uso dos recursos naturais e de geração de dejetos. Por outro, procurando instrumentos de mercado que atribuam preços ao que o mercado livremente não engendra. Marcando V para o que for verdadeiro sobre a economia ambiental e F para o que for falso, assinale a alternativa que tem a sequência correta: a. V-V-V. b. V-F-V. c. V-F-F. d. F-F-F. e. F-V-F. 2. A economia ecológica, assim como a ecologia ambiental, apresenta a necessidade de se utilizar com eficiência os recursos naturais existentes, mas há outras compreensões possíveis na economia ecológica. Observe as proposições a seguir: I. A economia ecológica também compreende que os sistemas econômicos devem levar em conta a escala de utilização destes recursos, bem como a ideia de uma distribuição justa entre os membros de uma sociedade, levando em consideração, também, a interferência que a utilização de determinados recursos naturais podem causar nas gerações futuras. II. A economia ecológica vê a ecologia apenas como um passivo a ser consumido durante o processo de produção e qualquer mercadoria para atender o consumismo humano. Sociedades humanas e ambiente natural U1 39 III. Para a economia ecológica, a economia é um subsistema que faz parte de um ecossistema natural global fechado e que há ocorrência de trocas de materiais e energia entre o subsistema e o sistema global. IV. A economia ecológica se limita ao controle do meio ambiente, criando um mercado imaginário de bens de consumos que não precisa levar em conta as trocas energéticas entre a sociedadee o meio ambiente. Sobre a economia ecológica, podemos afirmar que estão corretas as proposições: a. I-II. b. I-III. c. II-III. d. II-IV. e. III-IV. 3. Para muitos autores, a tese construída por Marx em O Capital não tem um fundamento propriamente ecológico, pois sua ocupação está em tentar decifrar os elementos contraditórios do modo de produção capitalista. No entanto, alguns autores percebem que o tema da ecologia está presente em Marx. Sabendo disso, assinale a alternativa correta: a. A análise de Marx privilegia alguns aspectos do pensamento humano que possibilita uma visão da ecologia idealista, mas nunca um pensamento materialista da história e das relações entre os homens. b. A análise de Marx aponta para a necessidade crescente de uma regulação de mercado via estado liberal, para que os homens pudessem respeitar o reino natural do qual depende toda a produção capitalista. c. A análise de Marx aponta para a importância do mercado no controle da produção sócia. Uma vez que o mercado tende a se regular, a liberdade comercial aparece como única saída para a crise ambiental vivida. d. A análise de Marx aponta para uma crescente consciência Sociedades humanas e ambiente natural U1 40 da força capitalista e uma tendência de controle social amplo, via burguesia, dos processos econômicos que podem ser a solução para o impasse ambiental. e. A análise metabólica de Marx reconheceu que os ecossistemas incorporam processos regulatórios específicos que envolvem complexas relações históricas de intercâmbio que auxiliam em sua regeneração e continuidade. Nesta unidade, tivemos a oportunidade de discutir, sob alguns aspectos, um tema que, dada as atuais conjunturas, é de fundamental importância: sociedade humanas e meio ambiente. Para compreendermos a importância deste tema, nos preocupamos, em um primeiro momento, em compreender a nossa própria sociedade. Experimentamos, sem dúvidas, importantes avanços tecnológicos, melhoria de qualidade de vida para um grande número de pessoas, não obstante precisemos refletir que os avanços conquistados não foram distribuídos igualmente, mas esta sociedade produziu enormes danos ao ambiente natural em função da concepção de homem e de natureza produzida na modernidade. A produção avançou sobre a natureza sem se preocupar com sua finitude. Quando essa preocupação apareceu, diversos teóricos começaram a se questionar se era possível outra relação entre as sociedades capitalistas e o seu meio natural, assim tivemos o aparecimento da economia ambiental, da economia ecológica e um retorno aos escritos da economia política de Marx para tentar dar conta da realidade fatalista que se nos apresentava. Mas como o título da unidade é sociedades humanas e meio ambiente, procuramos também mostrar que outras “sociedades” produziram outras relações com a natureza, chegando à conclusão que estas relações surgem de outra explicação cosmológica da ligação homem/natureza ou sociedade/ natureza, e a partir desta nova perspectiva é possível pensar em um novo vínculo de nossa sociedade com a natureza. A unidade não conclui dando respostas ou apresentando caminhos para o dilema “sociedade humana e meio ambiente”, mas mostra Sociedades humanas e ambiente natural U1 41 a possibilidade dos diversos saberes e produções das ciências sociais por meio de uma reflexão sobre si mesmo e do conhecimento do outro, por pensar essa questão de maneira mais ampla. Nesta unidade, você aprendeu que: • As mudanças ocorridas no Ocidente a partir do século XVII mudaram a forma como os homens se veem e como se relacionam com a natureza. • Os avanços técnicos e tecnológicos sob o modo de produção capitalista provocaram a busca pelo domínio da natureza. • Thomas Malthus foi um dos primeiros a levantar a questão da finitude do mundo natural e os problemas trazidos pelo crescimento populacional. • A Revolução Industrial aparece como marco da intensificação dos problemas ambientais. • No início do século XX, a economia ambiental lançou-se à tarefa de pensar a questão da produção capitalista levando em conta a preocupação com a degradação ambiental. • A economia ambiental parte da premissa de que os recursos naturais não são finitos, mas que o mercado deve se preocupar em desenvolver estratégias que tenham por objetivo a alocação eficiente dos recursos naturais. • A economia ecológica é outra forma de abordar os problemas relacionados à produção capitalista e suas consequências para o meio ambiente. • A economia ecológica preocupa-se com a eficiência na utilização dos recursos naturais, bem como a escala de utilização de recursos naturais e a distribuição justa dos bens produzidos em uma sociedade. • O marxismo não surge como uma preocupação estritamente ambiental, no entanto, alguns autores apontam para as possibilidades de uma leitura ecológica do marxismo, uma vez que esta teoria propõe uma crítica radical ao modo de produção capitalista. Sociedades humanas e ambiente natural U1 42 • Para além do modo de produção capitalista, outros povos desenvolveram outras formas de relação com meio natural. • Marshall Sahlins apresenta as sociedades coletoras e caçadoras como a sociedade de afluência original. • A sociedade de afluência é entendida como a sociedade em que os bens afluem para todos os seus membros; ela é o oposto das sociedades de escassez. • Desenvolveu-se uma ideia de que as sociedades capitalistas poderiam chegar a ser as sociedades de afluência, ao passo que as sociedades não capitalistas eram as sociedades de escassez, porém Sahlins aponta justamente para o contrário. • A visão de Sahlins nos ajuda a perceber que há outras formas possíveis de relação com a produção e a satisfação da sociedade, e isso implica uma maneira de diferente de lidar com o trabalho e com o meio natural. • As mudanças provocadas pelos homens afetaram de tal modo a composição geofísica da Terra que alguns estudiosos afirmam que estamos entrando em outra era geológica: o Antropoceno. • O Antropoceno marca a humanidade como força físico-química, e neste interregno a Terra surge como força política. • A possibilidade de compreender a Terra como tendo a capacidade de interferir como agente político no meio social só pode ser entendida por meio da Teoria do Ator-Rede, de Bruno Latour. • A teoria proposta por Latour tem por objetivo superar os dualismos sob os quais se assenta a ciência moderna; humanos e não humanos possuem agência dentro da realidade empírica. • Eduardo Viveiros de Castro, com o perspectivismo ameríndio, oferece outra visão sobre a relação homem e natureza. 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