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Sérgio Goes Barboza
Wilson Sanches
Elias Barreiros
Sociedade e meio 
ambiente
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Sociedade e meio
ambiente
Sérgio Goes Barboza
Wilson Sanches
Elias Barreiros
Sociedade e meio 
ambiente
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
 Barboza, Sérgio Goes 
 
 ISBN 9788584826421
 1. Meio ambiente - Sociedade. 2. Ambientalismo. I. 
 Sanches, Wilson. II. Barreiros, Elias. III Título.
 CDD 363.7 
Wilson Sanches, Elias Barreiros. – Londrina: Editora e 
Distribuidora Educacional S.A., 2017.
 168 p.
B239s Sociedade e meio ambiente / Sérgio Goes Barboza,
© 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer 
modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo 
de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e 
Distribuidora Educacional S.A.
Presidente
Rodrigo Galindo
Vice-Presidente Acadêmico de Graduação
Mário Ghio Júnior
Conselho Acadêmico 
Alberto S. Santana
Ana Lucia Jankovic Barduchi
Camila Cardoso Rotella
Cristiane Lisandra Danna
Danielly Nunes Andrade Noé
Emanuel Santana
Grasiele Aparecida Lourenço
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
Paulo Heraldo Costa do Valle
Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro
Revisão Técnica
Fábio Pires Gavião
Editoração
Adilson Braga Fontes
André Augusto de Andrade Ramos
Cristiane Lisandra Danna
Diogo Ribeiro Garcia
Emanuel Santana
Erick Silva Griep
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Unidade 1 | Sociedades humanas e ambiente natural
Seção 1 - Capitalismo e Meio Ambiente
1.1 | O controle do meio natural e suas consequências
1.2 | Economia ambiental
1.3 | Economia ecológica
1.4 | Marxismo e Meio Ambiente
Seção 2 - Sociedade se Afluência
Seção 3 - Do Antropoceno à Idade da Terra
7
9
9
11
13
15
21
29
Unidade 2 | Relações etnorraciais
Seção 1 - Percurso teórico do conceito de etnicidade nas
ciências sociais
1.1 | Definição do conceito
Seção 2 - Relações etnorraciais no Brasil
2.1 | O povo brasileiro
2.2 | Movimento negro
2.3 | Políticas de ações afirmativas
2.4 | A cultura indígena
45
49
49
61
61
68
73
77
Unidade 3 | Meio ambiente e direitos humanos
Seção 1 - História dos direitos humanos
1.1 | A Declaração Universal dos Direitos Humanos
1.2 | Os direitos humanos e o Estado moderno
1.3 | Universal versus particular
1.4 | Direitos humanos e multiculturalismo
Seção 2 - Dignidade, igualdade humana e direitos humanos
2.1 | Direitos humanos e diversidade cultural
2.2 | Direitos humanos e diálogo intercultural
2.2 | Minorias e o direito à diferença
2.3 | Os direitos humanos e as minorias no Brasil: a questão
Seção 3 - Direitos humanos e meio ambiente
3.1 | Meio ambiente e direito social no Brasil
3.2 | Direitos humanos, meio ambiente e direitos sociais
89
93
93
96
98
99
105
105
107
110
111
119
119
123
Sumário
3.3 | Justiça ambiental no Brasil 125
Unidade 4 | Desenvolvimento sustentável e educação ambiental
Seção 1 - O desenvolvimento social e sustentável
1.1 | Políticas públicas e meio ambiente
1.2 | Sustentabilidade socioambiental
1.3 | Conflitos socioambientais
Seção 2 - Tecnologia e sustentabilidade
2.1 | Tecnologia e desenvolvimento humano
2.2 | Fundamentos políticos da proteção do meio ambiente
139
143
143
150
151
153
153
156
Apresentação
Neste livro, buscaremos, na primeira unidade Sociedades humanas e ambiente 
natural compreender as relações existentes entre a sociedade e o meio ambiente, 
passando pelo pressuposto de entender as formas e as bases sob as quais essas 
relações se dão. Neste sentido, a preocupação será debatê-las relações em um 
primeiro momento. Perpassaremos também pela relação entre o meio ambiente 
e outras sociedades humanas que não estão submetidas ao modo de produção 
capitalista, mas que mesmo assim acabam por sentir os efeitos do avanço do 
capitalismo sobre o mundo.
A segunda unidade, Relações etnorraciais, tem por objetivo proporcionar ao 
aluno uma visão, a partir das discussões das ciências sociais, de como o conceito 
de etnicidade e etnia foi se construindo, bem como mostrar como essas relações 
se deram no Brasil, sobretudo no que diz respeito à questão do negro e dos 
indígenas. Portanto, perpassaremos pela discussão do conceito de etnicidade e 
de grupos étnicos e seu desenvolvimento dentro das ciências sociais; em seguida, 
abordaremos a questão das relações etnorraciais no Brasil. 
A terceira unidade, Meio ambiente e direitos humanos, tem como objetivo 
refletir sobre a construção histórica dos direitos humanos, dando ênfase na maneira 
como se constituiu, no Ocidente moderno, a noção de indivíduo e dos direitos 
individuais; discutiremos ainda a pretensão da aplicação dos direitos humanos 
em toda e qualquer realidade social, com ênfase sobre as diferentes concepções 
socioculturais da dignidade humana e sobre noção de igualdade; e, finalmente, 
abordaremos a relação dos direitos humanos com as questões ambientais, 
discutindo a importância do meio ambiente para a garantia de uma boa qualidade 
de vida, bem como as relações entre a chamada justiça ambiental e justiça social.
E, por fim, na Unidade 4, Desenvolvimento sustentável e educação ambiental, o 
objetivo é levar o aluno a aprender sobre a importância das políticas públicas para 
o desenvolvimento sustentável e a educação ambiental, tendo como exemplos de 
boas políticas as que surgem a partir do programa "Cidades Sustentáveis". Neste 
sentido, tem-se como objetivo o estudo sobre sustentabilidade socioambiental; 
conflitos socioambientais; meio ambiente, tecnologia e sustentabilidade; 
fundamentos políticos da proteção do meio ambiente.
O objetivo deste livro, portanto, é discorrer sobre os temas acerca da disciplina 
Sociedade e meio Ambiente, utilizando as reflexões das principais matrizes teóricas, 
conforme apresentadas nesta leitura. O propósito é que esta abordagem temática 
propicie a motivação necessária a um bom entendimento deste conceito. Neste 
sentido, os autores alvitram incentivar o aluno a refletir sobre o aprendizado, cujos 
textos servirão de base para um aprendizado ímpar e contínuo na busca de novos 
conhecimentos.
Prof. Sérgio de Goes Barboza
Coordenação de Curso
Unidade 1
SOCIEDADES HUMANAS E 
AMBIENTE NATURAL
Objetivos de aprendizagem: 
Introduzir o aluno às principais discussões em torno do tema “ambiente natural 
e sociedades humanas”. Para tanto, expomos as formas de relação nas sociedades 
capitalistas e as principais correntes teóricas que travam essa discussão, para, em 
seguida, tratarmos das sociedades não capitalistas, colocando, ao final, alguns 
posicionamentos alternativos para este debate.
Enquanto o paradigma evolucionista vigorou de maneira hegemônica, as 
sociedades humanas foram classificadas a partir de sua relação com o meio 
ambiente. Identificaram-se os povos primitivos como possuindo uma grande 
dependência em relação ao meio ambiente, ao passo que os povos modernos 
teriam uma maior independência. No entanto, diante dos problemas que afetam 
o nosso cotidiano pela destruição ambiental, é importante nos questionarmos: 
qual é a nossa real independência em relação ao meio ambiente?
Compreender as relações existentes entre as sociedades humanas e o meio 
ambiente passa pelo pressuposto de compreender as formas e as bases sobre as 
quais esta relação se dá. Assim, não podemos falar de uma sociedade humana 
generalizada, por isso a unidade chama-se “sociedades humanas”, muito menos 
entender que há uma única forma de relação entre as diversas sociedades 
humanas e o meio ambiente. 
Como vivemos em uma sociedade capitalista, será tarefadesta unidade 
se preocupar em debater, em um primeiro momento, a relação entre o meio 
ambiente e a sociedade capitalista, visto que o avanço da economia capitalista 
sobre sua fonte de recursos primários é devastador e acarretou toda uma 
preocupação ambiental no Ocidente; também, trataremos da relação entre o 
meio ambiente e outras sociedades humanas que não estão submetidas ao 
modo de produção capitalista, mas que mesmo assim acabam por sentir os 
efeitos do avanço do capitalismo no mundo.
Wilson Sanches
Sociedades humanas e ambiente natural
U1
8
Seção 1 | Capitalismo e Meio Ambiente
Seção 2 | Sociedade se afluência
Seção 3 | Do Antropoceno à Idade da Terra
Nesta seção iremos debater as consequências do modo de produção 
capitalista para o meio ambiente, bem como as principais correntes de 
pensamento que se debruçaram sobre estes problemas.
Nesta seção teremos como finalidade discutir as relações entre as 
sociedades não capitalistas e o meio ambiente, revendo a ideia de que as 
sociedades não capitalistas seriam sociedades da escassez, mas sociedades 
de afluência.
Esta seção propõe discutir o meio ambiente como um ente que possui 
agência dentro das discussões políticas da atualidade. 
Sociedades humanas e ambiente natural
U1
9
Seção 1
Capitalismo e Meio Ambiente
Introdução à seção
1.1 O controle do meio natural e suas consequências
O paradigma da modernidade está atrelado às mudanças ocorridas a partir do 
século XVII, na Europa, e que se desdobraram por todo o Ocidente nos séculos que 
se seguiram.
O século XVII é marcado por diversas mudanças que atingem diretamente a 
forma como os homens se veem e como estes se relacionam com o mundo natural. 
O avanço das ciências e a ascensão da burguesia como classe economicamente 
dominante promovem a união entre técnica e ciência, separadas desde os escritos 
aristotélicos na antiguidade clássica grega. 
A possibilidade de compreensão do mundo, aviltada por Galileu Galilei 
quando afirmou que o livro do Universo está escrito em caracteres matemáticos, 
possibilita também o seu controle. Assim, avança algo que podemos chamar de 
ciências produtivas, ou seja, a capacidade de usar as descobertas das ciências 
para o aprimoramento das técnicas produtivas, expandindo, de forma acelerada, a 
capacidade de produção.
As mudanças em relação ao mundo e à concepção de homem, aliados à 
mudança política que ocorria na Europa no século XVIII provocam uma mudança 
no que tange à dominação, como afirma Augusto Comte:
Como as mudanças na forma de pensar mudam a maneira 
como o homem se relaciona com o ambiente natural?
Sociedades humanas e ambiente natural
U1
10
O desenvolvimento da ação sobre a natureza mudou a direção 
desse sentimento de dominação, transportando-o para as 
coisas. O desejo de comandar transformou-se gradativamente 
no de fazer e desfazer a natureza à vontade [...] Em última 
análise, o desejo de quase todos os indivíduos não é atuar 
sobre o homem, mas sobre a natureza (COMTE apud MORAES 
FILHO, 1978, p. 13).
Por mais que possa haver um equívoco nesta afirmação de Comte − pois 
partimos do pressuposto de que a forma como os homens produzem sua vida 
material determina seu ser social e, nesse sentido, a dominação de um homem 
sobre outro se dá pela posse que alguns têm dos meios de produção em detrimento 
da maioria que não possui −, o que muda é que em cada modo de produção há um 
determinado conjunto de forças produtivas, que é chamado de meio de produção, 
assim, enquanto no período feudal a dominação era exercida mediante os títulos 
e a posse da terra, pois a terra era, e ainda é, o principal meio de produção, e os 
títulos servem como um véu que cobre as verdadeiras relações de exploração, 
no capitalismo a dominação é exercida pela posse dos meios de produção, que 
envolvem a matéria-prima, as ferramentas, o maquinário etc., que pertencem a 
poucos sobre muitos que possuem somente a força de trabalho. Interessa-nos, 
neste trecho, a ideia da atuação do homem sobre a natureza, extraindo-lhe todo o 
possível de forma cada vez mais organizada e ágil.
A partir do século XVII, começa-se a perceber um crescimento considerável da 
população, coisa que passou desapercebida em épocas anteriores, e apesar dos 
avanços no campo técnico-cientifico que conduziam ao aumento da produção, 
isso começou a fazer parte das preocupações dos economistas da época, entre eles 
Thomas Malthus, que afirma:
A população, quando não obstaculizada, aumenta a uma 
razão geométrica. Os meios de subsistência aumentam 
apenas a uma razão aritmética. Uma ligeira familiaridade 
com números mostrará a imensidade da primeira capacidade 
comparativamente à segunda. [...] Essa desigualdade natural 
das duas capacidades, da população e da produção da terra, 
[...] formam a grande dificuldade que me parece insuperável 
no avanço da perfectibilidade da sociedade (MALTHUS apud 
SZMRECSÁNYI, 1982, p. 57-58).
Sociedades humanas e ambiente natural
U1
11
Malthus apresenta neste excerto uma primeira preocupação a respeito dos limites 
dados pelo meio natural. Para este autor, o aumento da população deveria coincidir 
com as possibilidades de o meio natural prover o necessário para sua subsistência. 
Não obstante o crescimento da produção, sempre haveria o limitador dado pelo 
meio natural em prover recursos para esta população. A preocupação de Malthus 
com o crescimento populacional pauta diversos debates sobre a questão ambiental, 
no entanto, não se pode determinar que apenas o crescimento da população atua 
como elemento para a corrosão do meio ambiente. A partir da Revolução Industrial, 
a busca por novas escalas de produtividade não está pautada apenas para suprir 
as necessidades da população crescente, sobretudo para a obtenção de lucros 
extraordinários por meio da ampliação do mercado e do consumo. Neste sentido, 
Borges e Tachibana (2005, p. 5236) apontam que a “maneira como a produção e o 
consumo estão sendo conduzidos desde então [aqui os autores estão se referindo à 
Revolução Industrial] exige recursos e gera resíduos, ambos em quantidades vultosas, 
que estão ameaçando a capacidade de suporte do próprio planeta”.
Barbieri (2004, p. 6) também indica a Revolução Industrial como marco da 
intensificação dos problemas ambientais. Para este autor, a era industrial alterou 
“a maneira de produzir degradação ambiental, pois ela trouxe técnicas produtivas 
intensivas em material e energia para atender mercados de grandes dimensões”.
No entanto, o que não está presente nesta fala é o porquê de ser preciso atender 
os mercados de grandes dimensões. Isso nos leva a pensar que as indústrias surgiram 
para atender o mercado, e não o contrário, isto é, com a produção em grande escala, 
foi necessário um grande mercado para consumir tudo o que se estava produzindo. 
Este tipo de análise não difere muito daquilo que Malthus estava anunciando em seu 
primeiro ensaio, a ideia de que o aumento da população é que produz o risco, aqui 
novamente parece que as necessidades humanas crescentes são as responsáveis 
pelo aumento da produção. 
Partimos da ideia de que a ampliação do mercado é uma necessidade constante 
das economias capitalistas. Sendo assim, as novas formas de produzir degradação 
ambiental estão ligadas à produção em si, e não à expansão do mercado, que atende 
à necessidade da economia capitalista. Uma análise que tome o efeito pela causa 
pode recair em resultados que, na prática, não conseguem desvendar os problemas 
ambientais, e é o que veremos a seguir.
1.2 Economia ambiental
A partir da década de 1920, há o surgimento de um campo da economia 
preocupado com a degradação ambiental, o qual recebeu o nome de economia 
ambiental. 
Sociedades humanas e ambiente natural
U1
12
A economia ambiental parte da premissa de que os recursos naturais não são 
finitos, mas que o mercado deve se preocupar em desenvolver estratégias que 
tenham por objetivo a alocação eficiente dos recursos naturais (SOUZA, 2008, s.p.) 
Foladori(1999) explica que, a partir de 1920, existe a ideia de que o Estado deve 
tentar corrigir as falhas que o mercado apresenta. Assim, como a produção esbarra 
em limites naturais dados pelo meio externo, seria preciso impor aos responsáveis 
pelo consumo destes meios uma taxa para utilização dos recursos naturais, tentando, 
com isso, moderar o uso destes recursos, no entanto, o mercado ainda poderia 
utilizar os meios naturais. 
A partir da década de 1960, segundo Foladori (1999), a discussão avançou no 
terreno jurídico e descartou a intervenção estatal, propondo que os recursos naturais 
sejam preservados mediante uma negociação “poluidores e afetados que resolvam 
o problema” (FOLADORI, 1999, p. 84).
Munidos deste instrumental teórico, os economistas ambientais 
avançaram na implementação de políticas tendentes a encarar 
os problemas ambientais. Por um lado, criando mecanismos 
de controle e de planejamento do uso dos recursos naturais e 
de geração de dejetos. Por outro, procurando instrumentos de 
mercado que atribuam preços ao que o mercado livremente 
não engendra (FOLADORI, 1999, p. 84).
A proposta, a partir de então, seria criar um valor para os recursos ambientais, o 
qual poderia refletir o nível de escassez dos recursos naturais para o mercado. Esta 
valoração criaria condições para que o mercado, por meio da “livre negociação” – 
aqui, usamos o termo “livre negociação” entre aspas porque, se há a criação de um 
valor objetivo com vista à escassez de produto e não na demanda de mercado, não 
poderíamos falar de livre negociação como é entendida pelo Liberalismo Clássico –, 
definisse os níveis ótimos de exploração e alocação destes recursos (SOUZA, 2008).
A teoria apresentada por Adam Smith enfatiza que o crescimento 
econômico se dá pela livre circulação da mercadoria, apesar das 
aspirações egoístas da busca pelo lucro, as atividades comerciais seriam 
guiadas por uma “mão invisível” a produzir muito mais do que se pretendia 
no início, se promoveria um aumento da renda da sociedade. 
Sociedades humanas e ambiente natural
U1
13
Para melhor compreensão deste ponto, sugerimos a leitura do artigo:
PRADO, Eleutério F. S. Uma formalização da mão invisível. Est. Econ., São 
Paulo, v. 36, n. 1, p. 47-65, jan./mar. 2006. Disponível em: <http://www.
scielo.br/pdf/ee/v36n1/v36n1a02>. Acesso em: 5 set. 2016.
Segundo Foladori (1999), a tentativa de intervenção na economia com a 
atribuição de valores aos recursos naturais como tentativa de que estes sejam melhor 
aproveitados, ou melhor alocados, demonstra que o mercado fracassou em tentar 
criar uma sociedade sustentável.
Outra tentativa de compreender as relações entre meio ambiente e produção 
veio da economia ecológica. Vamos compreender essa teoria.
1.3 Economia ecológica
A economia ecológica, assim como a ecologia ambiental, apresenta a necessidade 
de se utilizar com eficiência os recursos naturais existentes, mas também compreende 
que os sistemas econômicos devem levar em conta a escala de utilização destes 
recursos, bem como a ideia de uma distribuição justa entre os membros de uma 
sociedade, levando em consideração, também, a interferência que a utilização de 
determinados recursos naturais pode causar nas gerações futuras.
Quais são as possibilidades de uma produção ecologicamente 
sustentável em uma economia capitalista?
Souza (2008, s.p.) aponta que a inovação trazida pela economia ecológica é a 
proposição de que “a economia é um subsistema que faz parte de um ecossistema 
natural global fechado e que há ocorrência de trocas de materiais e energia entre o 
subsistema e o sistema global”.
A ideia sustentada nesta definição é a de que a forma como o subsistema utiliza 
os recursos impacta diretamente em outra parte do sistema, que é fechado, portanto 
é preciso impor limites na própria utilização de recursos e energia. Isso parece bem 
próximo da ideia presente na economia ambiental, mas, nesta última, o limite seria 
dado em razão das negociações, sendo assim, acertadas as negociações, poderia se 
Sociedades humanas e ambiente natural
U1
14
utilizar qualquer recurso oferecido pela natureza; no caso da economia ecológica, 
a decisão de utilização perpassa a ideia de que alguns recursos não podem ser 
utilizados em função dos impactos que se dariam no ecossistema global e de que 
a utilização de alguns recursos para um determinado fim impossibilitaria a utilização 
deles para outros fins.
A economia ecológica defende a ideia de que a utilização de recursos não deva 
somente ser objeto de debate dos economistas, mas de uma gama de profissionais 
que poderiam avaliar as questões de maneira “não econômica”, isto poderia fazer 
com que aspectos éticos, sociais e biológicos fizessem parte da discussão sobre o 
que produzir e como produzir.
De acordo com Foladori (1999), o limite para que a economia ecológica possa 
obter os resultados desejados, que também podem ser associados à economia 
ambiental, se relaciona à separação entre economia e ecologia.
Ao ver o mundo de maneira sistêmica, não se tem a noção de totalidade, a atividade 
econômica como um subsistema aberto aparece separada dos demais subsistemas 
que compõem o ecossistema global, assim, por mais que a economia devesse 
ouvir outras áreas não econômicas, a decisão final sobre a produção apareceria 
como uma lógica pertencente ao mercado, levando em conta as necessidades e 
aspirações deste mercado.
A imposição de limites via políticas, que seria entendido como outro subsistema, 
seria questionável, uma vez que teríamos que entender qual a relação deste 
subsistema com outros subsistemas, isto é, quem faria parte da política e qual 
seria o seu poder de intervenção dentro da economia. A título de questionamento, 
poderíamos nos perguntar: se os tratados internacionais sobre meio ambiente visam 
a um bem não econômico, que é o bem-estar social de todos, por que os países 
ricos se recusam a assinar esses tratados?
 Cavalcanti (2004) chama atenção para o fato de que a preocupação ecológica 
ganha status de retórica vazia, uma vez que está cada vez mais em moda falar sobre 
desenvolvimento sustentável, mas que, na prática, se percebe a desregulamentação, 
sobretudo nos países pobres, das leis ambientais para que as empresas transnacionais 
possam explorar os recursos naturais de maneira cada vez mais insustentável. Este 
autor faz uma reflexão sobre o caso brasileiro afirmando:
No Brasil, ao mesmo tempo que aparece grande preocupação 
com a Amazônia, cortam-se as verbas para a fiscalização 
ambiental e se permite total liberdade de ação de empresas 
madeireiras asiáticas. A tolerância é alta com relação a projetos 
Sociedades humanas e ambiente natural
U1
15
de grande porte que causam enorme impacto ecológico, 
desfigurando a paisagem e deslocando populações locais 
(CAVALCANTI, 2004, p. 151).
Partindo da afirmação de Cavalcanti (2004), podemos questionar qual a 
capacidade de se sobrepor algum tipo de limite dentro de um sistema econômico 
que está separado da ecologia, bem como da economia. 
A questão que tentamos apresentar, mostrando estas duas teorias que se 
preocupam com as questões ambientais, é que há um limite posto nestas análises, 
o qual se dá pela crítica não partir da crítica do próprio sistema capitalista. Assim, no 
nosso próximo tópico, iremos discutir a crítica ao capitalismo como forma de pensar 
a questão ecológica. 
O desmatamento moderno da Amazônia tem sua origem na inauguração 
da rodovia Transamazônica, e seus índices desde então crescem 
rapidamente. Para compreensão desta história, sugerimos a leitura do 
artigo:
FEARNSIDE, Philip M. Desmatamento na Amazônia brasileira: história, 
índices e consequências. Megadiversidade, v. 1, n. 1, jul. 2005. 
Disponível em: <http://www.mstemdados.org/sites/default/files/
Desmatamento%20na%20Amazonia%20brasileira,%20historia,%20
indices%20e%20consequencias%20-%20Philip%20Fearnside%20-%20
2005.pdf>. Acesso em: 5 set. 2016.
1.4 Marxismo e Meio Ambiente
Para muitos autores, atese construída por Marx em “O Capital” não tem um 
fundamento propriamente ecológico, pois sua ocupação está em tentar decifrar os 
elementos do modo de produção capitalista que mostram as contradições dentro 
deste. Estes elementos não eram alvos dos escritos das teorias clássicas, sobretudo 
de Adam Smith, que previa a possibilidade de um equilíbrio dentro do capitalismo 
em função do seu caráter “racional”. Com exceção do livro de Engels, A dialética da 
Natureza (1976), não há, na elaboração destes autores, outro título que exponha a 
questão relativa aos problemas decorrentes da superexploração dos meios naturais. 
No entanto, não haver um título que tenha por referência a natureza não significa 
Sociedades humanas e ambiente natural
U1
16
afirmar que as contradições do modo de produção capitalista em relação ao meio 
natural não tenham sido tratadas por Marx.
Foster (2005) defende a ideia de que as contradições do capitalismo em relação 
ao meio natural está presente no livro O Capital de Marx, não de forma subjacente, 
mas como elemento primordial que conduz as análises sobre o modo de produção 
capitalista. Este autor afirma que “foi no O Capital que a concepção materialista de 
natureza em Marx alcançou plena integração com a sua concepção materialista de 
história” (FOSTER, 2005, p. 201).
O conceito de “metabolismo”, utilizado por Marx em O Capital, permitiu a crítica 
das principais ênfases da economia política burguesa. De fato, Marx utiliza o conceito 
de “metabolismo” para pensar a relação do homem com a natureza.
Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a 
Natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, 
media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. 
[...] A terra (que do ponto de vista econômico inclui também 
a água), como fonte original de víveres e meios já prontos de 
subsistência para o homem, é encontrada sem contribuição 
dele, como objeto geral do trabalho (MARX, 1983, p.149-150).
O que significa este metabolismo entre homem e natureza? O conceito de 
metabolismo foi, originalmente, cunhado pela química e biologia no início do século 
XIX. Ele foi utilizado para explicar o processo pelo qual um organismo, ou mesmo 
uma célula, extrai energia e materiais de um determinado sistema e os converte, 
por meio de processos bioquímicos, em elementos para o seu crescimento. 
Para Marx, este conceito terá um significado socioecológico, isto é, por meio do 
trabalho os homens interagem com o meio ambiente, transformando-o conforme 
as suas necessidades de crescimento, mas, ao mesmo tempo em que os homens 
transformam a natureza, eles transformam-se a si mesmos.
A análise metabólica de Marx reconheceu que os ecossistemas 
incorporam processos regulatórios específicos que envolvem 
complexas relações históricas de intercâmbio que auxiliam 
em sua regeneração e continuidade. Devido à interpenetração 
entre natureza e sociedade, os humanos têm o potencial e a 
habilidade de alterar as condições naturalmente postas de 
maneira que ultrapassam as barreiras naturais. Essa análise 
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17
permitiu a Marx acessar as reais interações metabólicas entre 
sociedade e natureza, via trabalho humano. Ao mesmo tempo, 
pôde assim estudar o conjunto constantemente cambiante 
de desejos e necessidade que emergiu com o advento e o 
desenvolvimento do sistema capitalista, o qual transformou o 
intercâmbio social com a natureza direcionando-o para busca 
constante de lucro (CLARK; FOSTER, 2010, p. 23).
Se o trabalho é metabolismo entre o homem e a natureza, as necessidades 
constantes do capital de obter cada vez mais lucros intensificou as demandas sobre 
a natureza. A partir deste dado, temos um novo tipo de relação socioecológica que 
tem como consequência uma falha metabólica da relação homem/natureza que 
“leva a práticas insustentáveis de um sistema em seu conjunto” (CLARK; FOSTER, 
2010, p. 23).
Por que um novo tipo de relação? O trabalho aparece como ação humana 
que media e controla o seu metabolismo com a natureza. Nas sociedades pré-
capitalistas, o que se extraía deste processo sociometabólico eram valores de uso. 
Uma vez que os valores de uso se realizam somente quando determinado produto 
é usado ou consumido, o limite da produção está na satisfação das necessidades. 
A produção capitalista, no entanto, está voltada para a produção de valor, a qual 
implica, necessariamente, uma produção voltada para as necessidades do capital, 
em que se empregam novas tecnologias tanto para intensificação da produção 
quanto para o barateamento da força de trabalho. A tecnologia empregada para 
condicionar a produção agrícola aos anseios capitalistas tenta superar as barreiras 
naturais postas, como nutrientes para o solo, por exemplo. A prática intensiva na 
agricultura leva, impreterivelmente, à degradação da terra. Quanto à tecnologia 
imposta para baratear a força de trabalho, leva à precarização das condições de vida 
de uma parcela significativa da humanidade.
Ao converter a força de trabalho em mercadoria, [o capitalismo] 
a sujeita ao crescimento da composição orgânica do capital e 
aos vaivéns da oferta e da demanda, gerando esbanjamento 
de trabalho humano na forma de desemprego, miséria e 
enfermidades. E, mediante a divisão classista do trabalho, 
limita as possibilidades da criatividade humana (FOLADORI, 
1999, p. 89).
Sociedades humanas e ambiente natural
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18
Mészáros (2002), discutindo a questão da destruição ecológica moderna e suas 
proporções globais no início do século XXI, aponta que o problema ecológico 
ocasionado pelo modo de produção capitalista é concreto, a questão que se coloca 
agora é a necessidade do controle social.
Aqui, Mészáros (2002) tem claro que a questão de se produzir não é a discussão 
central. É evidente que toda a tecnologia produzida atua de forma a ampliar as 
possibilidades e a longevidade humana, a questão posta não se trata de negar os 
avanços técnicos alcançados, mas a base social da exploração do meio natural. A 
necessidade constante de crescimento do capital e de aumento do lucro não pode 
ser o único tipo de controle imposto à relação metabólica homem/natureza, mas 
este controle deve ser feito pela coletividade e para o interesse comum, a fim de se 
assegurar as condições vitais para a existência humana. 
A possibilidade de uma sociedade sustentável não se dá por reformas feitas no 
atual modo de produção. De acordo com os autores que trabalhamos até aqui, 
a questão é outra: uma sociedade sustentável é uma sociedade qualitativamente 
diferente.
O que está em causa não é se produzimos ou não sob alguma forma 
de controle, mas sob que tipo de controle; dado que as condições 
atuais foram produzidas sob o “férreo controle” do capital que 
nossos políticos pretendem perpetuar como força reguladora 
fundamental de nossas vidas (MÉSZÁROS, 2002, p. 989).
1. Thomas Malthus publicou, em 1798, um texto sobre 
questões demográficas chamado: “Um ensaio sobre o princípio 
de população”. Este texto é importante porque demonstra 
a preocupação de Malthus em relação ao crescimento da 
população.
Sabendo disso, assinale a alternativa correta quanto ao 
pensamento de Thomas Malthus sobre a questão populacional.
a. Para Malthus, há um descompasso entre o crescimento 
populacional, que é geométrico, e o aumento dos meios de 
Sociedades humanas e ambiente natural
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subsistência, que ocorre a uma razão aritmética, o que, a 
longo prazo, poderia criar um problema social.
b. Para Malthus, o crescimento populacional tende a se 
uniformizar de acordo com a oferta de bens de consumo, 
assim o crescimento é maior em períodos de fartura e é 
menor, naturalmente, nos períodos de carestia.
c. Para Malthus, o vertiginoso progresso produtivo não 
encontra nenhum tipo de obstáculo, podendo crescer 
infinitamente, e o crescimento populacional tende a 
permanecer estável sem sofrer alterações.
d. Para Malthus, há duas certezas que podem ser 
comprovadas empiricamente:a primeira é que a população 
cresce vertiginosamente, e a segunda é que a produção de 
alimentos sempre acompanha este crescimento.
e. Para Malthus, não deve se impor um limitador para o 
crescimento populacional, uma vez que a produção de 
alimento jamais se tornará um problema, mas a falta de 
braços para o trabalho pode interferir na perfectibilidade de 
uma sociedade.
2. Os anos entre 1760 e 1820 foram um período de 
transição para novos processos de produção conhecido 
como Revolução Industrial.
Tendo em vista este período histórico, observe atentamente 
as proposições a seguir: 
I. A maneira como a produção e o consumo estão sendo 
conduzidos desde a Revolução Industrial exige recursos e 
gera resíduos, ambos em quantidades vultosas, que estão 
ameaçando a capacidade de suporte do próprio planeta.
II. A Revolução Industrial como marco da intensificação 
dos problemas ambientais alterou a maneira de produzir 
degradação ambiental, pois ela trouxe técnicas produtivas 
intensivas em material e energia para atender mercados de 
grandes dimensões.
III. A Revolução Industrial aparece como momento único 
de produção que sabe preservar plenamente a natureza. 
Desde o início, essa revolução deseja que as pessoas 
consumam somente o necessário.
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Sobre a Revolução Industrial e sua relação com o meio 
ambiente, podemos afirmar:
a. Somente a proposição I está correta.
b. Somente a proposição III está correta.
c. Somente as proposições I e II estão corretas.
d. Somente as proposições I e III estão corretas.
e. Somente as proposições II e III estão corretas.
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Seção 2
Sociedade se afluência
Introdução à seção
Até agora apresentamos algumas discussões sobre meio ambiente e as 
sociedades humanas, partindo da análise da nossa sociedade. Por essa razão, a 
primeira discussão necessária foi a relação entre capitalismo e meio ambiente. No 
entanto, apesar de o capitalismo só existir sob a condição de internacionalização e 
globalização de suas atividades, e sabendo que os problemas ambientais gerados 
pela utilização intensiva dos recursos naturais do lucro particular não se restringem 
aos países industrializados, mas atingem todo o globo, não podemos nos esquecer 
de outras análises e outras sociedades que se relacionam, ou se relacionaram, com 
o seu meio natural de maneira diferente. 
Os estudos de Bronislaw Malinowski sobre o sistema de trocas nas Ilhas Trobriand, 
segundo Machado (2012), marcam o início da antropologia econômica. Qual a 
importância deste estudo para nosso tema? A questão fundamental é a possibilidade 
de lançar outro olhar sobre o homem, o que regula suas trocas, e sobre a economia. 
Ao descrever o circuito do Kula, Malinowski rompe com a ideia de um homem 
econômico universal, uma vez que o sistema de troca dos trobriandeses é relatado 
como um sistema de comércio “organizado sem a existência de mercados, dinheiro 
ou estado e na base da generosidade, não da ganância” (MACHADO, 2012, p. 169). 
A contribuição fundamental está em afirmar que não é possível pensar nos modelos 
econômicos das sociedades não capitalistas a partir das concepções econômicas 
próprias do capitalismo, assim não se pode falar que a ação dos homens é sempre 
movida por uma visão racional em busca do interesse próprio.
É possível outra relação do homem com o meio natural em 
que o homem não sofra privações e que a natureza não seja 
destruída?
Sociedades humanas e ambiente natural
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Dessa forma, se afasta uma noção formal de economia, que a identifica com a ideia 
de existência de um determinado mercado, para compreensão destas sociedades 
que não estão submetidas ao modo de produção capitalista, e se aproximam de 
uma visão substantivista da economia.
Esta concepção substantivista de economia tem como principal autor Karl 
Polanyi. Para ele, a ideia de necessidade supera a ideia de subsistência, pois, por 
mais que os meios para se atender as necessidades sejam materiais, as necessidades 
em si podem ser materiais ou não. O fundamental desta ideia está em rechaçar 
qualquer afirmação que aponte que as economias não capitalistas são economias 
de escassez, pois, na citação acima, está afirmado que o meio natural oferece de 
maneira contínua os meios para satisfazer as necessidades humanas.
Este debate sobre as sociedades não capitalistas basearem suas produções na 
escassez está presente em Marshall Sahlins. Sahlins, segundo Machado (2012), não é 
um dos substantivistas “puros”, mas utiliza diversos conceitos que são emprestados 
diretamente de Polanyi.
Para Sahlins (2004), os manuais de economia, que analisam as questões 
econômicas pelo viés formalista, apontam que as sociedades “primitivas”, ou 
sociedades caçadoras e coletoras, são sociedades em que a fome e a escassez estão 
sempre presentes. Essas sociedades possuem uma determinada incompetência 
técnica que devem gastar todo o tempo e a energia em tentar conseguir o suficiente 
para sobreviver que não lhes é possível nem mesmo ter condições materiais para 
criar cultura. Todos estes povos caçadores e coletores pertencem ao grupo das 
chamadas economias de subsistência, segundo estes manuais formalistas. 
No entanto, Sahlins (2004) lança um olhar de oposição a estas afirmações. 
Segundo as palavras do próprio autor:
[...] que define a economia como um processo instituído de 
interação entre o homem e o ambiente natural e social que 
o rodeia, o qual resulta em contínua oferta de meios para 
satisfazer as necessidades humanas (MACHADO, 2012, p. 166).
A sabedoria tradicional é sempre resistente. Somos obrigados 
a contestá-la em termos polêmicos, a formular as revisões 
necessárias em termos dialéticos: na verdade, quando 
se chega a analisá-las [o autor está falando da sociedade 
caçadora e coletora] essa era a sociedade afluente original 
(SAHLINS, 2004, p. 105-106).
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23
Estas revisões necessárias apontadas por Sahlins o leva a afirmar que a sociedade 
caçadora e coletora é a primeira sociedade de afluência.
O termo afluência significa aqui, em sentido figurado, um estado de riqueza, 
desenvolvimento e prosperidade. Portanto, a sociedade caçadora e coletora não 
é uma sociedade de escassez e busca constante de alimento, mas a primeira 
sociedade de abundância, situação que as modernas sociedades capitalistas não 
atingiram, apesar de todos os seus supostos avanços tecnológicos.
Segundo Sahlins (2004), a afluência pode se apresentar de duas formas distintas: 
a primeira forma de afluência se dá em razão das necessidades que podem ser 
facilmente atendidas devido à produção abundante de bens e serviços que 
poderiam ser facilmente acessados por todos. Esta forma poderia ser atendida por 
uma sociedade industrial, que diante de desejos infinitos e recursos finitos poderia 
aperfeiçoar as técnicas de produção a fim de que o descompasso entre desejos e 
recursos fosse superado. Uma segunda forma de afluência se dá devido aos desejos 
moderados. Neste caso, os desejos de uma sociedade são tão poucos que qualquer 
tipo de disponibilidade de bens e de produção poderia facilmente atendê-los. Assim, 
os desejos seriam finitos e os recursos seriam adequados para atendê-los. Portanto, 
a abundância seria sem paralelo.
Para Sahlins (2004), esta última forma de afluência seria típica das sociedades 
caçadoras e coletoras. Contudo, ao invés de imaginar que estas sociedades teriam 
uma economia de escassez, elas possuem uma abundância consistente, que, 
segundo Sahlins, superaria a abundância das sociedades industriais modernas. Aqui, 
a questão da abundância não está ligada à fartura de alguns em detrimento de 
outros, se pensa em uma abundância para todos, por isso que, para este autor, as 
economias das nações ricas são marcadas por uma grande parte da população que, 
geralmente, é pobre.
Sahlins levanta alguns pensamentos recolhidos por diversos etnólogos para 
contestar a “opinião média” antropológicade que as sociedades caçadoras e 
coletoras são sociedades de subsistência, ou de busca ininterrupta pela comida, e 
que as sociedades industriais são sociedades de afluência. Para Sahlins“o sistema 
industrial e de mercado instituiu a escassez de um modo completamente ímpar e 
num grau que não encontra equivalente em parte alguma” (2004, p. 108).
Para este autor, na medida em que o mercado determina os comportamentos 
de consumo numa lógica de obter e gastar, a escassez de recursos torna-se o 
ponto de partida da economia. Esta crítica de Sahlins aponta para o modo como 
as sociedades capitalistas olham as formas de existência das outras sociedades que 
não são capitalistas, em especial as sociedades coletoras e caçadoras. Mas, apesar 
de a escassez ser o ponto nodal de nossas economias, ela deve ser entendida, 
segundo Sahlins, como uma relação entre meios e fins. Não somente contra este 
Sociedades humanas e ambiente natural
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24
pensamento dominante em relação à questão econômica que o autor afirma ser 
necessária uma postura dialética, mas à própria compreensão evolucionista de que 
apenas os avanços tecnológicos é que deram possibilidade de o homem se “livrar” 
da eterna obrigação de procurar alimento, e passa-se, com mais tempo, à criação 
da cultura em si. 
Sahlins destaca que alguns relatos de etnógrafos sobre os chamados “povos 
primitivos” endossam a ideia de que estes vivem em lugares pobres em um meio 
ambiente hostil que lhes nega a possibilidade de uma existência que não seja voltada 
para a busca de alimento. No entanto, estes relatos cometem alguns erros, pois não 
levam em conta as tradições alimentares locais, que podem variar de maneira ampla 
e se distinguem grandemente das tradições alimentares dos etnógrafos europeus, e 
também não fazem menção ao meio ambiente que foi empobrecido e deteriorado 
pela exploração colonial europeia.
Quando se analisam os diversos relatos dos etnógrafos junto aos povos caçadores 
e coletores de diversas partes do mundo, se tem a ideia da existência de “uma espécie 
de fartura material” (SAHLINS, 2004, p. 114). Esta fartura está relacionada à facilidade de 
produzir os bens necessários para a sociedade em virtude da simplicidade tecnológica 
e da democracia da propriedade. Utilizam-se ferramentas extremamente simples e 
partilhadas por todos para atender à necessidade geral. Isto só é possível em virtude 
de “um padrão de vida objetivamente baixo”. Este padrão de vida não está ligado a 
uma questão de subsistência, mas a um princípio. Portanto, estes povos não sofrem 
o infortúnio da escassez, mas o desprendimento das necessidades materiais que é 
institucionalizado, pois estes povos são nômades e a posse de bens se transforma 
em um fardo para a mobilidade necessária, portanto, o desprendimento material é 
visto por Sahlins como um “fator cultural positivo expresso em uma multiplicidade 
de arranjos” (SAHLINS, 2004, p. 117).
O caçador, ficamos tentados a dizer, é um 'homem não 
econômico'. Pelo menos no que concerne aos produtos 
não ligados à subsistência, ele é o avesso da criatura 
padrão imortalizada na primeira página de qualquer livro 
de 'princípios gerais de economia'. Suas necessidades são 
escassas e seus recursos (em relação a elas), abundantes. Por 
isso, ele é 'comparativamente isento de pressões materiais', 
não tem 'nenhum sentimento de posse', exibe um sentido 
de propriedade pouco desenvolvido, é 'completamente 
indiferente a qualquer posse material' e manifesta desinteresse 
pelo desenvolvimento de seu equipamento tecnológico 
(SAHLINS, 2004, p. 119).
Sociedades humanas e ambiente natural
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A ideia de um homem não econômico aparece em oposição ao homem 
econômico, obra do pensamento burguês. A diferença entre estes caçadores 
e o homem econômico burguês é que o primeiro não transformou os impulsos 
materialistas em uma instituição, como fez o segundo. Assim, a maior riqueza destes 
homens é estarem completamente livres e poderem gozar a vida sem as pressões 
de terem que acumular. Por essa razão, Sahlins afirma:
Sahlins se ocupa de diversos estudos para mostrar que as horas trabalhadas em 
diversas sociedades coletoras e caçadoras são bem menores do que as praticadas 
nas sociedades capitalistas em que os desejos são infinitos, porque foram criados 
para serem infinitos. 
O que a experiência das sociedades originais de afluência tem a ver com nossos 
debates sobre sociedades humanas e meio ambiente? As sociedades caçadoras e 
coletoras nos dão uma visão de outra possibilidade de relação entre o homem e seu 
meio natural. 
Esta outra visão é um elemento extremamente importante, pois muitas vezes 
ficamos presos a determinadas formas de pensar, de trabalhar e de se relacionar 
com a natureza que parecem que são únicas e eternas; é preciso desnaturalizar estas 
relações para que se possa vislumbrar novas possibilidades; e o entendimento de que 
nossa forma de vida é uma entre tantas outras possíveis. Também, temos que ter 
ciência de que nosso modo de vida pode sofrer profundas mudanças, como ocorreu 
com outros povos que tiveram que se adaptar em função do fim de seu mundo.
Pode-se alegar, de modo convincente, que os caçadores e 
coletores trabalham menos que nós; e, em vez de ser uma 
labuta contínua, a busca de alimento é intermitente, o lazer 
é abundante e há uma quantidade maior de horas de sono 
diurno per capita, anualmente, do que em qualquer outra 
condição de existência social (SAHLINS, 2004, p. 120). 
1. Os estudos de Bronislaw Malinowski sobre o sistema de trocas 
nas Ilhas Trobriand, segundo Machado (2012), marcam o início 
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26
da antropologia econômica. Durante um certo período, se 
acirraram os debates dentro da antropologia econômica no 
que tange ao seu caráter formal ou substantivista.
Sabendo disso, assinale a alternativa que define de forma 
correta a concepção substantivista da antropologia 
econômica:
a. A visão subtantivista identifica a economia como a 
substância da vida material e suas análises são voltadas para 
uma visão romântica de toda a vida, sem levar em conta os 
problemas materiais concretos.
b. A visão substantivista identifica a economia com a ideia de 
existência de um determinado mercado, para compreensão 
estas sociedades não estão submetidas ao modo de 
produção capitalista.
c. A visão substantivista é entendida como um processo 
instituído de interação entre o homem e o ambiente natural 
e social que o rodeia, o qual resulta em contínua oferta de 
meios para satisfazer as necessidades humanas.
d. A visão substantivista aparece ligada à escola marxista, 
exclusivamente, uma vez que foi Marx quem lançou as bases 
do idealismo alemão responsável por fundar esta escola de 
pensamento.
e. A visão substantivista é aquela preocupada em pensar 
como a produção capitalista irá suprir, basicamente, todos 
os homens, uma vez que a humanidade cresce muito 
rapidamente.
2. O termo afluência significa aqui, em sentido figurado, 
um estado de riqueza, desenvolvimento e prosperidade. 
Sabendo disso, observe as proposições a seguir:
I. Segundo Marshall Sahlins, as sociedades caçadoras e 
coletoras não são sociedades de escassez e pela busca 
constante de alimento, mas a sociedade da abundância, 
a primeira sociedade de abundância, situação que as 
modernas sociedades capitalistas não atingiram, apesar de 
todos os seus supostos avanços tecnológicos.
II. A primeira forma de afluência se dá em razão das 
necessidades que podem ser facilmente atendidas devido a 
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uma produção abundante de bens e serviços que poderiam 
ser facilmente acessados por todos.
III. A segunda forma de afluência se dá em razão dos desejos 
moderados. Neste caso, os desejos são tão poucos que 
qualquer tipo de disponibilidade de bens e de produção 
poderia facilmente atender os desejos de uma sociedade.
Assumindo V para o que for verdadeiro sobre as sociedades 
de afluência na concepção de Marshall Sahlinse F para o 
que for falso, assinale a alternativa que contém a sequência 
correta:
a. V-V-V.
b. V-V-F.
c. F-V-F.
d. V-F-V.
e. F-F-F.
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Seção 3
Do Antropoceno à Idade da Terra
Introdução à seção
Em 1971, Guy Debord escreveu um texto para a Revista Internacional Situacionista 
intitulado “O planeta doente” (La planète malade, em francês). Este texto mantém 
uma atualidade impressionante, pois trata da degradação ambiental ocasionada pelo 
modo de produção capitalista. Uma degradação tão perceptível que é impossível 
para o próprio capitalismo negar, tanto que os discursos sobre a poluição se 
tonaram moda, está espetacularizada nas mídias. Mas, como tudo aquilo que está 
espetacularizado, serve apenas para fazer diversos alardes sem nenhum resultado 
prático (DEBORD, 2011).
O desenvolvimento científico aumentou drasticamente o nível de produção 
e também criou as ferramentas necessárias para medir o grau de degradação do 
ambiente, no entanto, enquanto a grande força política que orienta as transformações 
sociais são as forças capitalistas, essa ciência apenas consegue prever, de maneira 
mais ou menos exata, o tempo de degradação da Terra sem que se possam produzir 
mudanças significativas para que cessem, aquilo que Debord chamou de produção 
da morte (DEBORD, 2011). 
Por que a ciência não consegue mudar estas previsões? Porque esta mudança 
não é de cunho quantitativo, ou seja, de como se produzir mais com menos, 
mas de cunho qualitativo, como viver e produzir os elementos necessários para 
a manutenção da vida; aqui, manutenção da vida deve ser entendida de maneira 
ampliada, de outra forma. Essa decisão não é apenas técnica, mas uma decisão 
política, que envolve a preservação da vida ou sua completa aniquilação.
Os senhores da sociedade são obrigados agora a falar da 
poluição, tanto para combatê-la (pois eles vivem, apesar de 
tudo, no mesmo planeta que nós; é este o único sentido ao 
qual se pode admitir que o desenvolvimento do capitalismo 
realizou efetivamente uma certa fusão das classes) e para 
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a dissimular, pois a simples verdade dos danos e dos riscos 
presentes basta para constituir um imenso fator de revolta, uma 
exigência materialista dos explorados, tão inteiramente vital 
quanto foi a luta dos proletários do século XIX pela possibilidade 
de comer. Após o fracasso fundamental de todos os reformismos 
do passado − que aspiram todos eles à solução definitiva do 
problema das classes −, um novo reformismo se desenha, 
que obedece às mesmas necessidades que os precedentes: 
lubrificar a máquina e abrir novas oportunidades de lucros às 
empresas de ponta. O setor mais moderno da indústria se lança 
nos diferentes paliativos da poluição, como em um novo nicho 
de mercado, tanto mais rentável quanto mais uma boa parte 
do capital monopolizado pelo Estado nele está a empregar e 
a manobrar. Mas se este novo reformismo tem de antemão a 
garantia de seu fracasso, exatamente pelas mesmas razões que 
os reformismos passados, ele guarda em face deles a radical 
diferença de que não tem mais tempo diante de si (DEBORD, 
2011, p. 5).
No cerne deste debate, iniciado por Debord já em 1971, é que se insere a 
discussão sobre o Antropoceno e a idade da Terra. Afinal de contas, o que significa 
este termo: Antropoceno?
Segundo Artaxo (2014), a Terra, desde sua origem há 4,5 bilhões de anos, evolui 
a partir de determinadas forças geológicas. O Holoceno é um período geológico 
iniciado há mais de 11.700 anos, com o fim do período glacial. Esse período é 
conhecido como sendo de relativa estabilidade do ponto de vista climático. 
No entanto, alguns pesquisadores, a partir dos anos de 1980, começaram a 
estudar os efeitos da ação dos homens sobre a formação do planeta, a geofísica, e 
não apenas a formação social. Que tipo de transformações ocorreram?
Desde que os homens apareceram na Terra, há cerca de 200 mil anos, sempre 
produziram algum tipo de efeito sobre ela. No entanto, desde a Revolução Industrial, 
Qual é a capacidade dos humanos em alterarem a composição 
geofísica do planeta em que vivemos?
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no século XVIII, as atividades socioeconômicas dos homens sobre a Terra cresceram 
de maneira vertiginosa.
Com o desenvolvimento das máquinas a vapor e, 
posteriormente, dos motores à combustão interna, o uso de 
combustíveis fósseis (inicialmente carvão, depois petróleo 
e gás) cresceu exponencialmente, até esses se tornarem 
hoje responsáveis por 70% a 80% da energia total utilizada 
em nosso planeta. Isso levou ao aumento da concentração 
atmosférica de dióxido de carbono (CO
2
), que passou de cerca 
de 280 ppm, na era pré-industrial, para uma concentração 
média de 399 ppm, em 2015. Essa alta concentração não foi 
observada ao longo dos últimos 800 mil anos, pelo menos. O 
aumento nas concentrações de metano (CH
4
), óxido nitroso 
(N
2
O), ozônio (O
3
) e outros gases de efeito estufa também foi 
muito significante (ARTAXO, 2014, p. 16).
Todas essas mudanças, e outras, provocadas pela forma como os homens 
interagem com a natureza a fim de aumentar sua produção, estão afetando o solo 
e a radiação, provocaram mudanças climáticas substanciais e afetaram os recursos 
hídricos.
Pensando nessas mudanças provocadas pela ação do homem sobre o meio 
físico é que se cogitou a ideia de que o homem, como força geofísica, está fazendo 
a Terra adentrar em outra era geológica, o Antropoceno. O termo foi bastante 
divulgado pelo químico Paul Crutzem, Nobel de Química. No entanto, é preciso 
que compreendamos que este termo não é um elogio à ação humana, mas uma 
constatação de que essas ações se constituem na terceira era geológica do período 
quaternário, e de que essa era durará muito mais do que nossa espécie, ou seja, 
os efeitos provocados pela ação do homem sobre a Terra são tão profundos que, 
mesmo após o desaparecimento da humanidade, o planeta continuará a sentir esses 
efeitos. 
Há uma compreensão, todavia, que não é a humanidade inteira que provoca 
essas mudanças, mas o modo de produção capitalista, no entanto, como o modelo 
de consumo dos países industrializados se torna padrão para todos os outros países, 
sobretudo no Ocidente, essa força geofísica tende a aumentar sua amplitude e seus 
efeitos são sentidos por todos.
Mantidos os atuais níveis de crescimento do consumo e a forma como se produz, 
um efeito é aviltado para um futuro ainda indeterminado, dado a continuidade deste 
regime termodinâmico, o fim do mundo. 
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Em um mundo em que a ação humana supera a ideia de uma ação exclusivamente 
política ou social e a humanidade se converte em força geofísica, a Terra também 
não pode ser simplesmente encarada como um elemento natural, mas torna-se uma 
personagem, uma interlocutora política, um agente que, em diversas conferências 
sobre o tema do fim do mundo, recebe o nome de Gaia. 
Um colóquio internacional realizado no Rio de Janeiro, em setembro de 2014, 
sob o nome “Os mil nomes de Gaia: do Antropoceno à idade da Terra”, afirma em 
seu texto de proposição que:
'Gaia' nomearia uma nova maneira de ocupar e de 
imaginar o espaço, chamando a atenção para o fato de que 
nosso mundo, a Terra, tornado, de um lado, subitamente 
exíguo e frágil, e, de futuro lado, suscetível e implacável, 
assumiu a aparência de uma potência ameaçadora que 
evoca aquelas divindades indiferentes, imprevisíveis e 
incompreensíveis de nosso passado arcaico. Imprevisibilidade, 
incompreensibilidade, sensação de pânico diante da perda do 
controle, e talvez mesmo de perda da esperança: eis o que 
são certamente desafios inéditos para a orgulhosa segurança 
intelectual e o destemido otimismo histórico da modernidade 
(COLÓQUIO INTERNACIONAL, 2014, p. 1).
Mas, por que manter o nome Gaia é importante para o pano de fundo teórico 
que queremos utilizaraqui? Poderíamos falar em Terra, em sistema biogeofísico 
terrestre, mas nos importa pensar Gaia como ser vivo, autorregulado, que possui 
agência sobre as ações que se desenvolvem nela, e não apenas um bloco de terra 
solto no espaço, cujo destino cabe somente aos humanos.
O colóquio “Os mil nomes de Gaia: do Antropoceno à idade da Terra” 
debateu os desafios da contemporaneidade. Os textos dos palestrantes 
estão disponíveis no site do evento: <https://osmilnomesdegaia.eco.br/
sobre/>. Acesso em: 12 set. 2016.
Para compreendermos um pouco melhor este conceito de agência, utilizaremos 
um autor francês chamado Bruno Latour.
Bruno Latour formou-se em Filosofia e prestou serviço militar por dois anos na 
Costa do Marfim. No período em que esteve neste país, Latour ficou encarregado 
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de desenvolver pesquisa em sociologia do desenvolvimento. De sua experiência no 
país do continente africano, ele cogitou a possibilidade de transpor as categorias 
analíticas das ciências sociais para uma investigação em laboratório. Seu interesse o 
levou a estudar sobre a prática científica.
De seus estudos sobre a prática científica, Latour propôs uma disciplina que se situa 
entre as ciências sociais e as ciências exatas, cujo objeto de estudo são os processos 
que surgem da científica e da técnica. Para este autor, é importante perceber que os 
conteúdos científicos não estão separados dos contextos sociais. Há, em Latour, uma 
discussão que visa repensar essa questão do social dentro da sociologia.
No livro Reagrupar o Social, Latour (2012, p. 18) tem por objetivo “redefinir a 
noção de social remontando a seu significado primitivo e capacitando-o a rastrear 
conexões novamente”. Com isso, o autor pretende voltar ao objetivo que sempre 
foi o das ciências sociais, “mas com instrumentos mais bem ajustados à tarefa”. Para 
ele, o problema a ser enfrentado é que o termo social acabou e é usado de maneira 
dicotômica, ou seja, para distinguir fenômenos sociais dos fenômenos, ou objetos, 
ou coisas, que não podem ser designados por este substantivo. 
Para Latour (2012, p. 19), “o social parece diluído por toda parte e por nenhuma 
em particular”, assim, para retomar as primeiras pretensões de uma ciência do social, 
como é o caso da sociologia, é preciso repensar tanto o objeto quanto o método 
de estudo. Para isso, o autor em tela afirma que a abordagem por ele proposta deve 
partir da premissa de que não há nenhuma dimensão específica que possa receber 
o rótulo de social ou de sociedade, para ele “a 'sociedade', longe de representar o 
contexto 'no qual' tudo se enquadra, deveria antes ser vista como um dos muitos 
elementos de ligação que circulam por estreitos canais” (LATOUR, 2012, p. 19). 
No extremo, Latour (2012) afirma, parafraseando Margareth Thatcher, que 
“sociedade é coisa que não existe”. Então, o que o autor entende por social ou por 
sociedade?
Conforme Latour (2012, p. 22), o social “é aquilo que outros tipos de conectores 
amalgamam”. Estes agregados sociais seriam explicados em função das suas 
associações. A sociologia, nesse sentido, seria entendida como a busca de 
associações. E o termo “social” é entendido por Bruno Latour (2012, p. 23) não como 
uma coisa em si, mas como um “tipo de conexão entre coisas que não são, em si 
mesmas, sociais”.
Latour chama a atenção para o fato de que a sociologia só pode dar continuidade 
ao seu projeto original se levar em conta todos os tipos de agregados que formam o 
social, um vírus que pode alterar as formas de sociabilidade da mesma maneira que 
uma arma nuclear e que um partido político. “A cada instância precisamos reformular 
nossas concepções daquilo que estava associado, pois a definição anterior se tornou 
praticamente irrelevante” (LATOUR, 2012, p. 23).
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Portanto, para este autor, o social é compreendido como um tipo de movimento 
de reassociação e reagregação. É a partir desta definição de social que Latour constrói 
a sua teoria de análise, a Teoria do Ator-Rede. Alguns livros trazem esta teoria sob a 
sigla TAR, mas outros autores preferem manter o acrônimo ANT, que é a sigla em 
inglês de Actor-Network Theory, em virtude de uma metáfora que o autor faz com 
o trabalho de uma formiga, ant em inglês. Para Latour, o sociólogo deve percorrer 
as conexões entre os diversos tipos de elementos agregados para compreender as 
associações que formam o social naquele contexto específico.
Não obstante, Latour tenha certas reservas a este nome, esta teoria pode ser 
expressada da seguinte forma: há que se atribuir o devido papel aos não humanos 
para compreender as associações, ou nesse caso específico, compreender as redes 
que se estabelecem entre atores heterogêneos. O papel do não humano não pode ser 
restringir a um papel meramente simbólico, mas um papel concreto de participação 
nas redes para compreensão de como o social se reagrupa. Tanto humanos quanto 
os não humanos são compreendidos nesta teoria como “atores”, não apenas 
coadjuvantes que apenas informam aos cientistas como o social está, mas atores 
capazes de construir suas próprias teorias. Os pesquisadores que se utilizam da Teoria 
do Ator-Rede devem seguir estes atores e compreender como o social se reagrupa, e 
não elaborar como os atores são ou dar lucidez às práticas deles. 
A teoria que acabamos de expor é importante para a compreensão daquilo que 
discutíamos em relação ao meio ambiente. Gaia é um ator, possui a capacidade 
de agir e participar da reagregação do social, assim, não é apenas algo que sofre 
as influências dos humanos. Os estudos ambientais que se valem da Teoria do 
Ator-Rede podem configurar uma nova forma de compreensão da atual crise e da 
forma de sua superação, que é uma questão política, tem a ver com as definições 
de determinadas ações, mas estas ações são realizadas e conectadas levando as 
conexões entre humanos e não humanos. 
Há uma crise objetiva que atinge tanto a questão ecológica quanto a questão 
política, a qual aponta para a falência teórica e prática da cultura ocidental, que 
cindiu o social do natural e que atribuiu ao homem o poder de agir sobre a natureza 
como senhor absoluto desta, sem levar em conta como a natureza responderia.
O Antropoceno coloca a nós, humanos, em uma encruzilhada, para alguns 
autores esta era a marca do fim do humano e a necessidade de ter novos sonhos. O 
que ele quer dizer com o fim do humano? O fim do projeto de humanidade surgido 
na modernidade ocidental, cuja figura emblemática é o pensamento exclusivamente 
antropocêntrico.
Neste sentido, muitos empreendimentos que têm por finalidade “salvar a 
natureza” estão fadados ao fracasso desde o início, porque estão baseados na cisão 
entre o reino humano, o qual cabe agir de maneira política, e o reino natural, que em 
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si mesmo não passa de algo que não tem capacidade de agir politicamente. Para 
Latour (2004), sociedade e natureza são termos que carecem de explicação simétrica 
entre não humanos e humanos. Ecologia e política são, para o autor, vocábulos 
que devem ser conjugados para se fazer ecologia política. Ecologia política implica 
reagrupar, reagregar política e ciência da natureza. A ideia proposta por Latour é bem 
vaga, no sentido prático, a ideia é se fazer “ecologia política” reunindo todos os atores 
que fazem parte da realidade como entes que possuem agência para que possamos 
habitar a morada comum que é o bom mundo comum (LATOUR, 2004, p. 363).
Em uma discussão sobre sociedades humanas e meio ambiente, não seria justo 
pensar somente como nós, ocidentais modernos, evocamos esta discussão. É preciso 
também discutir as possibilidades trazidas por outros povos sobre a relação sociedade 
e natureza. Neste sentido, nos parece de fundamental importância a obra de Eduardo 
Viveiros de Castro, quem propõe uma teoria que não tem como ponto de partida 
aquilo que os ocidentais pensam sobre os diversospovos que habitam a Terra, uma 
perspectiva comum às ciências sociais, uma vez que a ciência é fruto do Ocidente 
moderno e o ponto de partida das discussões sobre os “outros” povos. 
A crítica de Eduardo Viveiros de Castro é justamente esta, a compreensão do 
outro a partir do “nós”, ou seja, por mais que o pensamento ocidental tenha se 
valido ao longo dos anos de um certo relativismo para pensar os outros povos, a 
perspectiva assumida ainda é o que se é produzido no Ocidente, e este se vê ainda 
como portador de um projeto científico e de uma cosmologia que tendem a ser 
aplicados a todos os estudos sobre o “outro”. 
Para além dos relativismos produzidos pelas ciências sociais ocidentais, adiante 
dos fins das dualidades, como vimos há pouco com Bruno Latour, Eduardo Viveiros 
de Castro propõe outra perspectiva, o perspectivismo ameríndio, que evoca uma 
abordagem diferente da que temos visto até agora. Se dentro da Antropologia 
praticada até então se parte do pressuposto de que há, nos estudos das diversas 
sociedades, um elemento universal que é a natureza, ou seja, que o mundo natural 
é o objetivo que nos força a percebermos que ele é regido por leis claras e objetivas 
de causa e consequência, e outro particular que é a cultura, porque é produzida de 
maneira subjetiva pelas interações e pelos simbolismos que há no grupo, a proposta 
de Castro é compreender que a cosmologia presente nos povos ameríndios parte do 
oposto da cosmologia ocidental. O que isto quer dizer? Que dentro da perspectiva 
dos povos ameríndios a cultura é o universal e a natureza é particular, donde a 
afirmação de Castro de que o que há dentro desta perspectiva é o multinaturalismo, 
e não o multiculturalismo (CASTRO, 1996). 
Em primeiro lugar, precisamos entender o que é esta qualidade perspectiva dos 
povos ameríndios que o autor trabalha:
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O perspectivismo parte de diversas etnografias dos povos amazônicos que 
apontam para uma “teoria indígena” em que: 
Assim, há uma mesma natureza humana em todos os animais, a qual está 
“escondida” sob uma roupagem, uma forma na qual as espécies não humanas se 
manifestam. Uma onça, por exemplo, se vê como um homem, e o homem que 
ela espreita para atacar é visto por ela como presa, como qualquer outra presa. Da 
mesma forma que o homem se vê como homem e vê sua presa como animal, a 
presa que é perseguida pelo homem se vê como homem e vê seu perseguidor como 
um predador voraz, como qualquer outro predador que ele possui na natureza, ou 
seja, como animal.
O perspectivismo ameríndio se difere do relativismo proposto pelas ciências 
ocidentais e da própria cosmologia ocidental; no início, para diversos povos indígenas 
das Américas, tudo era humano.
Trata-se da concepção, comum a muitos povos do continente, 
segundo a qual o mundo é habitado por diferentes espécies de 
sujeitos ou pessoas, humanas e não humanas, que o apreendem 
segundo pontos de vista distintos (CASTRO, 1996, p. 115).
[...] o modo como os humanos veem os animais e outras 
subjetividades que povoam o universo − deuses, espíritos, 
mortos, habitantes de outros níveis cósmicos, fenômenos 
meteorológicos, vegetais, às vezes mesmo objetos e artefatos 
−, é profundamente diferente do modo como esses seres os 
veem e se veem (CASTRO, 1996, p. 116).
Tudo era humano, mas tudo não era um. A humanidade era 
uma multidão polinômica; ela se apresentou desde o início 
sob a forma da multiplicidade interna, cuja externalização 
morfológica, isto é, a especiação, é precisamente a matéria da 
narrativa cosmogônica. É a Natureza que nasce ou se 'separa' 
da Cultura e não o contrário, como para nossa antropologia e 
nossa filosofa (DANOWSKI; CASTRO, 2014, p. 92).
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O mundo, para os indígenas da Amazônia, é uma multiplicidade conectada. As 
espécies animais são entes políticos, não apenas os homens no sentido ocidental do 
termo. O ambiente é uma sociedade de sociedades, uma cosmopoliteia (DANOWSKI; 
CASTRO, 2014, p. 94). Assim, na produção de sua vida, os povos amazônicos sabem 
que algo precisa ser destruído, mas como o solo é também vivo, é preciso tomar 
cuidado com as marcas que se deixam sob a terra. Por essa razão, o antropólogo 
Eduardo Viveiros de Castro, em entrevista a Eliane Brum, afirma:
Acho que os índios podem nos ensinar a repensar a relação 
com o mundo material, uma relação que seja menos 
fortemente mediada por um sistema econômico baseado na 
obsolescência planejada e, portanto, na acumulação de lixo 
como principal produto. Eles podem nos ensinar a voltar à 
Terra como lugar do qual depende toda a autonomia política, 
econômica e existencial. Em outras palavras: os índios podem 
nos ensinar a viver melhor em um mundo pior. Porque o 
mundo vai piorar. E os índios podem nos ensinar a viver com 
pouco, a viver portátil, e a ser tecnologicamente polivalente e 
flexível, em vez de depender de megamáquinas de produção 
de energia e de consumo de energia como nós. Quando eu 
falo índio é índio aqui, na Austrália, o pessoal da Nova Guiné, 
esquimós... Para mim, índios são todas as grandes minorias 
que estão fora, de alguma maneira, dessa megamáquina do 
capitalismo, do consumo, da produção, do trabalho 24 horas 
por dia, sete dias por semana (BRUM, 2014, p. 1).
A afirmação de Eduardo Viveiros de Castro é importante para pensarmos a nossa 
relação com a Terra a partir de outra perspectiva. 
1. A partir de década de 1920, há o surgimento de um campo 
da economia preocupado com a degradação ambiental, o 
qual recebeu o nome de economia ambiental.
Sabendo disso, analise as proposições a seguir:
I. A economia ambiental parte da premissa de que os 
recursos naturais não são finitos, mas que o mercado deve 
se preocupar em desenvolver estratégias que tenham por 
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objetivo a alocação eficiente dos recursos naturais.
II. Para a economia ambiental, como a produção esbarra 
em limites naturais dados pelo meio externo, seria preciso 
impor aos responsáveis pelo consumo destes meios uma 
taxa para utilização dos recursos naturais, tentando, com 
isso, moderar o uso destes recursos, no entanto, o mercado 
ainda poderia utilizar os meios naturais.
III. Os economistas ambientais avançaram na implementação 
de políticas tendentes a encarar os problemas ambientais. Por 
um lado, criando mecanismos de controle e de planejamento 
do uso dos recursos naturais e de geração de dejetos. Por 
outro, procurando instrumentos de mercado que atribuam 
preços ao que o mercado livremente não engendra.
Marcando V para o que for verdadeiro sobre a economia 
ambiental e F para o que for falso, assinale a alternativa que 
tem a sequência correta:
a. V-V-V.
b. V-F-V.
c. V-F-F.
d. F-F-F.
e. F-V-F.
2. A economia ecológica, assim como a ecologia ambiental, 
apresenta a necessidade de se utilizar com eficiência os 
recursos naturais existentes, mas há outras compreensões 
possíveis na economia ecológica.
Observe as proposições a seguir:
I. A economia ecológica também compreende que os 
sistemas econômicos devem levar em conta a escala 
de utilização destes recursos, bem como a ideia de uma 
distribuição justa entre os membros de uma sociedade, 
levando em consideração, também, a interferência que a 
utilização de determinados recursos naturais podem causar 
nas gerações futuras.
II. A economia ecológica vê a ecologia apenas como um 
passivo a ser consumido durante o processo de produção e 
qualquer mercadoria para atender o consumismo humano.
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III. Para a economia ecológica, a economia é um subsistema 
que faz parte de um ecossistema natural global fechado e 
que há ocorrência de trocas de materiais e energia entre o 
subsistema e o sistema global.
IV. A economia ecológica se limita ao controle do meio 
ambiente, criando um mercado imaginário de bens de 
consumos que não precisa levar em conta as trocas 
energéticas entre a sociedadee o meio ambiente.
Sobre a economia ecológica, podemos afirmar que estão 
corretas as proposições:
a. I-II.
b. I-III.
c. II-III.
d. II-IV.
e. III-IV.
3. Para muitos autores, a tese construída por Marx em O 
Capital não tem um fundamento propriamente ecológico, 
pois sua ocupação está em tentar decifrar os elementos 
contraditórios do modo de produção capitalista. No 
entanto, alguns autores percebem que o tema da ecologia 
está presente em Marx.
Sabendo disso, assinale a alternativa correta:
a. A análise de Marx privilegia alguns aspectos do pensamento 
humano que possibilita uma visão da ecologia idealista, 
mas nunca um pensamento materialista da história e das 
relações entre os homens.
b. A análise de Marx aponta para a necessidade crescente 
de uma regulação de mercado via estado liberal, para que 
os homens pudessem respeitar o reino natural do qual 
depende toda a produção capitalista.
c. A análise de Marx aponta para a importância do mercado 
no controle da produção sócia. Uma vez que o mercado 
tende a se regular, a liberdade comercial aparece como 
única saída para a crise ambiental vivida.
d. A análise de Marx aponta para uma crescente consciência 
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da força capitalista e uma tendência de controle social amplo, 
via burguesia, dos processos econômicos que podem ser a 
solução para o impasse ambiental.
e. A análise metabólica de Marx reconheceu que os 
ecossistemas incorporam processos regulatórios específicos 
que envolvem complexas relações históricas de intercâmbio 
que auxiliam em sua regeneração e continuidade.
Nesta unidade, tivemos a oportunidade de discutir, sob alguns 
aspectos, um tema que, dada as atuais conjunturas, é de 
fundamental importância: sociedade humanas e meio ambiente.
Para compreendermos a importância deste tema, nos 
preocupamos, em um primeiro momento, em compreender 
a nossa própria sociedade. Experimentamos, sem dúvidas, 
importantes avanços tecnológicos, melhoria de qualidade 
de vida para um grande número de pessoas, não obstante 
precisemos refletir que os avanços conquistados não foram 
distribuídos igualmente, mas esta sociedade produziu enormes 
danos ao ambiente natural em função da concepção de homem 
e de natureza produzida na modernidade. A produção avançou 
sobre a natureza sem se preocupar com sua finitude. Quando 
essa preocupação apareceu, diversos teóricos começaram a 
se questionar se era possível outra relação entre as sociedades 
capitalistas e o seu meio natural, assim tivemos o aparecimento 
da economia ambiental, da economia ecológica e um retorno 
aos escritos da economia política de Marx para tentar dar conta 
da realidade fatalista que se nos apresentava. 
Mas como o título da unidade é sociedades humanas e meio 
ambiente, procuramos também mostrar que outras “sociedades” 
produziram outras relações com a natureza, chegando à 
conclusão que estas relações surgem de outra explicação 
cosmológica da ligação homem/natureza ou sociedade/
natureza, e a partir desta nova perspectiva é possível pensar em 
um novo vínculo de nossa sociedade com a natureza.
A unidade não conclui dando respostas ou apresentando caminhos 
para o dilema “sociedade humana e meio ambiente”, mas mostra 
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a possibilidade dos diversos saberes e produções das ciências sociais 
por meio de uma reflexão sobre si mesmo e do conhecimento do 
outro, por pensar essa questão de maneira mais ampla.
Nesta unidade, você aprendeu que:
• As mudanças ocorridas no Ocidente a partir do século 
XVII mudaram a forma como os homens se veem e como se 
relacionam com a natureza.
• Os avanços técnicos e tecnológicos sob o modo de produção 
capitalista provocaram a busca pelo domínio da natureza.
• Thomas Malthus foi um dos primeiros a levantar a questão 
da finitude do mundo natural e os problemas trazidos pelo 
crescimento populacional.
• A Revolução Industrial aparece como marco da intensificação 
dos problemas ambientais.
• No início do século XX, a economia ambiental lançou-se à 
tarefa de pensar a questão da produção capitalista levando em 
conta a preocupação com a degradação ambiental.
• A economia ambiental parte da premissa de que os recursos 
naturais não são finitos, mas que o mercado deve se preocupar 
em desenvolver estratégias que tenham por objetivo a alocação 
eficiente dos recursos naturais.
• A economia ecológica é outra forma de abordar os problemas 
relacionados à produção capitalista e suas consequências para o 
meio ambiente.
• A economia ecológica preocupa-se com a eficiência na 
utilização dos recursos naturais, bem como a escala de utilização 
de recursos naturais e a distribuição justa dos bens produzidos 
em uma sociedade.
• O marxismo não surge como uma preocupação estritamente 
ambiental, no entanto, alguns autores apontam para as 
possibilidades de uma leitura ecológica do marxismo, uma vez 
que esta teoria propõe uma crítica radical ao modo de produção 
capitalista.
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• Para além do modo de produção capitalista, outros povos 
desenvolveram outras formas de relação com meio natural.
• Marshall Sahlins apresenta as sociedades coletoras e caçadoras 
como a sociedade de afluência original.
• A sociedade de afluência é entendida como a sociedade em que 
os bens afluem para todos os seus membros; ela é o oposto das 
sociedades de escassez.
• Desenvolveu-se uma ideia de que as sociedades capitalistas 
poderiam chegar a ser as sociedades de afluência, ao passo que as 
sociedades não capitalistas eram as sociedades de escassez, porém 
Sahlins aponta justamente para o contrário.
• A visão de Sahlins nos ajuda a perceber que há outras formas 
possíveis de relação com a produção e a satisfação da sociedade, 
e isso implica uma maneira de diferente de lidar com o trabalho e 
com o meio natural.
• As mudanças provocadas pelos homens afetaram de tal modo a 
composição geofísica da Terra que alguns estudiosos afirmam que 
estamos entrando em outra era geológica: o Antropoceno.
• O Antropoceno marca a humanidade como força físico-química, 
e neste interregno a Terra surge como força política.
• A possibilidade de compreender a Terra como tendo a capacidade 
de interferir como agente político no meio social só pode ser 
entendida por meio da Teoria do Ator-Rede, de Bruno Latour.
• A teoria proposta por Latour tem por objetivo superar os dualismos 
sob os quais se assenta a ciência moderna; humanos e não humanos 
possuem agência dentro da realidade empírica.
• Eduardo Viveiros de Castro, com o perspectivismo ameríndio, 
oferece outra visão sobre a relação homem e natureza.
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Referências
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Castro e a filósofa Déborah Danowski). El Pais, 29 set. 2014. Disponível em: <http://
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