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Jinarajadasa - A Nova Humanidade da Intuição

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1 
 
 
2 
 
 
C. JINARAJADASA 
 
«Magister in Artibus» pela Universidade de Cambridge 
Foi Presidente da Sociedade Teosófica 
 
 
 
A Nova Humanidade da 
Intuição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISBOA-1938 
 
3 
 
 
OBRAS DO MESMO AUTOR 
 
A evolução oculta da humanidade 
Os primeiros ensinamentos dos Mestres 
Carta dos Mestres da Sabedoria 
A reunião do Oriente com o Ocidente Cristo e Buda 
O fator espiritual na vida das nações 
Em seu nome 
A arte como vontade e ideia 
A arte e as emoções 
A divina visão 
Flores e jardins 
A chama da mocidade 
A mensagem do futuro 
Deuses encadeados 
O idealismo da teosofia 
Teosofia e educação 
Algumas crianças famosas da Índia 
A cidade perfeita de Deus e do Homem 
O reino da lei 
A natureza do misticismo 
A teosofia e o pensamento moderno 
O Fausto de Goethe 
Vida ! mais Vida ! 
Teosofia prática 
A lei de Cristo 
Etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
Notícia biográfica 
 
As conferências editadas neste livro foram pronunciadas pelo Dr. C. Jinarajadasa, durante a 
sua recente passagem por Portugal, em Fevereiro do ano de 1938. Julgam os editores que alguns 
dados biográficos sobre a personalidade do eminente filósofo aumentarão, no leitor que o não 
conheça, o interesse pelos assuntos versados e a confiança na autoridade do conferente. É esta a 
única razão por que nos permitimos preceder d’algumas palavras nossas os ensinamentos 
ministrados pelo Mestre insigne. 
O Dr. Jinarajadasa, cujo nome significa «Servo do Rei Vitorioso», nasceu em Colombo, na ilha 
de Ceilão, em I875. Seus pais, de religião budista, educaram-no em conformidade com os princípios 
que professavam, até que aos l3 anos o enviaram para Inglaterra, onde tomou contato com a 
educação ocidental. Obtido o acesso à Universidade de Cambridge, aí alcançou o título de 
«Magister in Artibus», Tomou grau em Sânscrito e Filosofia, e também estudou Leis. 
De regresso a Ceilão, foi nomeado Vice-Presidente do «Ananda College» onde exerceu o 
professorado. Voltou à Europa, fixando-se na Itália, para frequentar durante dois anos a 
Universidade de Pavia. 
A partir de 1904, o Dr. Jinarajadasa consagrou-se exclusivamente ao serviço da 
Sociedade Teosófica, organização de Fraternidade Universal, com sede em Adyar na Índia, e 
filiação em 49 países. Desde então, animado por um poder de vontade inquebrantável, tem 
percorrido o mundo inteiro, numa missão de paz e de altruísmo, de amor pelo próximo e de 
incitamento às práticas do Bem, do Bom e do Belo, Constantemente estuda, e cativando os 
discípulos pela sua requintada distinção, e a todos ensina o que sabe, na medida do que 
possam ou queiram aprender. 
Para condignamente exercer esta elevada missão, possui o Dr. Jinarajadasa todas as 
faculdades requeridas - inteligência luminosa, profundo saber, preciosas virtudes, fulgurantes 
aptidões de escultor da ideia e cinzelador da palavra. A sua prosa, ilustrada de imagens e de 
conceitos que cintilam como gemas preciosas, consegue cristalizar em formas lapidares as 
mais abstratas concepções do mundo mental. 
Acrescentemos ainda que a prodigiosa facilidade com que assimila as línguas 
estrangeiras o torta uma espécie de cidadão do Universo, que se encontra sempre em 
terreno familiar e se dirige aos seus auditórios no idioma regional. A sua copiosa 
preparação filológica permite-lhe apreender o sentido de cada vocábulo pela etimologia, 
sendo rara a palavra cujo significado lhe escapa. Só assim se justifica o milagroso caso - de 
que somos testemunha direta -- de ter ele aprendido a falar português ao fim de quatro 
lições de simples pronúncia da versão das suas obras, E se não conquistou de assalto uma 
pronúncia impecável, alcançou pelo menos uma posse tão plena dos elementos da língua, 
que pôde, a breve trecho, improvisar em português as preleções que nos fazia. 
Realizando, por tantos predicados, o arquétipo do Homem Integral - aquele «homem 
perfeito" que atingiu o limite da evolução humana e vai transpondo a fronteira da 
Evolução Divina - o Dr. Jinarajadasa reveste na sua personalidade o aspecto trînico do 
Artista, do Filósofo e do Santo. 
5 
 
Como Esteta, todo envolto num deslumbramento de Ideal, vai cantando através do 
mundo o seu hino à Beleza ; vai soletrando em cada expressão da forma as estrofes do poema 
do Belo: vai revelando, aos que têm ouvidos para ouvir, os acordes harmônicos da sinfonia da 
Vida. 
Como Sábio, ensina-nos a cosmogonia, a antropogênese, a evolução, a estrutura do 
átomo, a física e a química nos seus aspectos ignorados, surpreendidos por clarividência, em 
trabalhos de colaboração com Annie Besaut e Leadbeater. 
Como Santo, predica-nos a mais alta moral e conduz-nos, pelo seu exemplo, à pratica 
de todas as virtudes : a tolerância, a pureza, a fraternidade, a coragem, a compaixão, a 
modéstia e finalmente a renúncia. Ensina-nos a discernir entre o ilusório e o Real, entre o 
efêmero e o Eterno, Inicia-nos no mistério sagrado de descobrir as mais ínfimas parcelas da 
Verdade, disseminadas nas aluviões do «erro», como as pepitas de ouro perdidas entre as 
areias das antigas torrentes. Porque a luz da Verdade nem sempre refulge como um farol; 
antes vagamente lampeja, afogada na sombra. Mas, ansiosa de liberação, Ela espreita os 
momentos em que entre si se debatem os Quadrilheiros da Treva, que a afogam no poço, e 
logo se mostra e um instante fulgura, como a faísca que ressalta do choque de duas 
pederneiras, pondo no coração da noite uma fugidia palpitação de luz. 
Dir-se-ia que o retrato psíquico de Jinarajadasa, o Artista, o Filósofo e o Santo, foi 
expressamente traçado no maravilhoso poema IF de Rudyard Kipling; cuja versão livre 
pedimos licença para oferecer ao Mestre querido. Ele encarna, numa radiosa e viva 
realidade, aquele herói de sonho invocado no poema simbólico: 
 
SE ... 
 
Se podes conservar o teu bom senso e a calma, 
Num mundo a delirar, p'ra quem o louco és tu; 
Se podes crer em ti, com toda a forca d' alma, 
Quando ninguém te crê , se vais, faminto e nu, 
Trilhando sem revolta um rumo solitário; 
Se a torva intolerância, a negra incompreensão 
Tu podes responder, subindo o teu Calvário, 
Com lágrimas d'amor e bênçãos de perdão; 
 
Se podes dizer bem de quem te calunia; 
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor, 
Mas sem a afetação dum santo que oficia, 
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor; 
Se podes esperar sem fatigar a esperança; 
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho; 
Fazer do Pensamento um Arco da Aliança, 
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho; 
 
6 
 
Se podes encarar, com indiferença igual, 
O Triunfo e a Derrota - eternos impostores; 
Se podes ver o Bem oculto em todo o mal 
E resignar, sorrindo, o amor dos teus amores; 
Se podes resistir a raiva ou a vergonha 
De ver envenenar as frases que disseste 
E que um velhaco emprega, eivadas de peçonha, 
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste; 
 
Se és homem p'ra arriscar todos os teus haveres 
Num lance corajoso, alheio ao resultado 
E calando em ti mesmo a mágoa de perderes 
Voltas a palmilhar todo o caminho andado; 
Se podes ver por terra as obras que fizeste, 
Vaiadas por malsins, desorientando o povo, 
E sem dizer palavra e sem um termo agreste 
Voltares ao princípio, a construir de novo; 
 
Se podes obrigar o coração e os músculos 
A renovar o esforço, ha muito vacilante, 
Quando já no teu corpo, afogado em crepúsculos, 
Só existe a Vontade a comandar «Avante!» 
Se, vivendo entre o povo, és virtuoso e nobre 
Ou vivendo entre os reis, conservas a humildade; 
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre 
São iguais para ti, à luz da Eternidade,' 
 
Se quem conta contigo encontra mais que a conta, 
Se podes empregar os sessenta segundos 
Dum minuto que passa, em obra de tal monta 
Que o minuto se espraie em séculos fecundos; 
Então, ó Ser Sublime, o mundo inteiro é teu! 
Já dominaste os reis, os tempos e os espaços; 
Mas, inda para além, um novo sol rompeu,Abrindo um infinito ao rumo dos teus passos,. 
 
Pairando numa esfera acima deste plano, 
Sem recear jamais que os erros te retomem, 
Quando já nada houver em ti que seja humano, 
Alegra-te, meu filho, então serás um HOMEM. 
Félix Bermudes 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ÍNDICE 
 
A Nova Humanidade da Intuição 08 
Os Destinos da Humanidade 21 
O Princípio da Beleza 31 
A Ciência e o Mental Divino 42 
As Crianças, Agentes de Deus 55 
O Trabalho de Cristo no Mundo de hoje 68 
Sociedade Teosófica 79 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
A Nova Humanidade da Intuição 
 
Encontramo-nos, atualmente, num mundo saturado de tragédia. Cada nação tem as 
suas tragédias nacionais, já quando uma guerra causa a elevação do custo da vida, já 
quando um terremoto provoca uma extensa destruição; mas, o que vulgarmente se limita a 
um só país é agora a característica do mundo inteiro. Na verdade, quem lê os jornais fica 
sabendo alguma coisa desta tragédia de um mundo inteiro em laboração: como se 
encontra o desemprego em toda a parte; como a pobreza é um problema sempre presente; 
como todas as nações estão perturbadas com a possibilidade da guerra; e especialmente 
como todos os homens de Estado estão perplexos, sem atinarem com uma solução. É como 
se o mundo tivesse sido abalado por um terremoto e todos estivessem desvairados, sem 
saberem o que hão de fazer. 
Atualmente esta trágica situação existe, apesar do progresso geral, particularmente no 
campo da ciência. Durante as duas últimas décadas, tem havido um rápido e notável 
progresso em muitos campos de inventos científicos e suas aplicações. Não sabemos nós 
como o mundo tem sido transformado pelo rádio? Podemos agora ouvir todas as principais 
estações emissoras do mundo. Viagens em terra e mar, que dantes levavam dias a realizar, 
fazem-se agora em aeroplano na quarta parte do tempo. Por meio da ciência o mundo fez-
se «uno». 
Devemos também à ciência a invenção de máquinas de tipos variados, que nos dão 
comodidades de toda a espécie. Na verdade, há mesmo uma pletora de comodidades; e 
tantas elas são, que a dificuldade está em não haver bastante gente com dinheiro, para as 
poder pagar. 
Acho conveniente fazer notar que esta obra da ciência, de ligar as nações entre si, tem 
sido um trabalho de ligação material; a ciência não ligou as nações espiritualmente, num 
sentimento de amizade. Bem pelo contrário, a ciência, com os seus inventos, tem criado 
uma feroz concorrência. O desenvolvimento da indústria e da agricultura, em diferentes 
países, dá-lhes uma produção maior do que a precisa para as suas necessidades internas, 
tornando-lhes indispensáveis os mercados doutros países. Como consequência, uma furiosa 
rivalidade se iniciou entre as nações Ocidentais, a que se juntou o Japão; cada qual procura 
novos mercados. Qual será o resultado inevitável desta selvagem rivalidade na procura 
desses mercados? A Guerra. Daqui por diante, todas as guerras serão o resultado do choque 
de rivalidades da política comercial. 
A Grande Guerra de 1914 teve por base fundamental a rivalidade de certas nações em 
dividir e subdividir o mundo, para a exploração das suas indústrias. Hoje em dia, a 
concorrência comercial é mais feroz que em 1914; o Japão, com a sua vasta organização 
industrial, entrou também em cena. A Guerra, agora, é mais horrorosa do que quando a 
Grande Guerra começou, visto que a ciência tem fornecido explosivos mais destruidores, 
aeroplanos de bombardeamento mais velozes e gases mais venenosos que matam dum 
modo horrível. Por um lado, a ciência, com as suas benéficas invenções, muito tem ajudado 
o progresso da humanidade; podemos hoje, por exemplo, conseguir o dobro do trigo que 
9 
 
dantes obtínhamos nas mesmas condições de terreno; as devastações produzidas por 
muitas doenças são evitadas; mas, por outro lado, a ciência pôs em prática novos processos 
de matar homens e mulheres indefesos, com novas espécies de tortura. 
Eis o que é o mundo atualmente. E neste mundo de desemprego, de pobreza, de 
medo da guerra, os homens de Estado estão sem saber o que hão de fazer; experimentam 
este ou aquele remédio, mas os nossos sofrimentos não diminuem e todos nós 
perguntamos: Qual é o caminho e quem é que nos há de levar à Terra da Promissão? Vou 
dar-vos a resposta imediata: 
Aqueles que nos levarão à Terra Prometida não são os homens do atual tipo da 
humanidade. Deixem-me exemplificar: Um guia para esta prometida Terra, que muito 
poderia fazer, era a Liga das Nações. Mas a Liga, tal como é hoje, com o sua atual 
mentalidade e os seus atuais delegados, não nos pode dar o que o mundo precisa. 
Certamente cada nação tem os seus chefes que apresentam várias soluções; mas estas 
soluções são contraditórias. Republicanismo, fascismo, Estado totalitário, comunismo, 
monarquia constitucional e vários métodos de fiscalização monetária, tudo isto é oferecido 
como remédio. Mas não é o tipo atual de republicanismo ou o atual tipo do fascismo ou o 
tipo atual do comunismo, mesmo nos seus aspectos mais ideais, que hão de curar as nossas 
doenças e dar-nos aquele mundo de felicidade por que todos suspiramos. Tampouco os 
remédios econômicos propostos alcançarão esse resultado. Do que nós precisamos, não é 
de novos sistemas, mas de novos homens. Precisamos de homens que abordem os 
diferentes problemas por novos caminhos. Esses homens representarão um novo tipo de 
humanidade, a humanidade da intuição. 
Para podermos conhecer quais as características do novo tipo de humanidade, é 
necessário que examinemos quais são os tipos da humanidade hoje existentes. Permitam-
me por consequência, que gaste um pouco de tempo a apontar as características dos atuais 
tipos de humanidade, que não é a humanidade da intuição. 
Possuímos hoje muito material com que podemos construir a história do passado da 
humanidade; quando examinamos esse material, vemos que o primeiro estado da 
humanidade é representado pelo indivíduo em quem a paixão é o motivo dominante, na 
solução de todos os problemas. No selvagem e nas pessoas que estão ainda neste primitivo 
estágio, o critério do julgamento e da ação nas suas reações é sempre o das emoções que 
os dominam. 
«Eu gosto, eu detesto» são para eles motivos suficientes, como métodos de resolver 
todos os seus problemas. O conjunto de indivíduos que se encontram neste primeiro 
estágio, constitui a humanidade da paixão. 
Ora, uma das mais nobres formas de paixão é o patriotismo. Mas, se um certo 
patriotismo é feito só de paixões, rapidamente se transforma em ódio contra aqueles que 
não querem aceitar o tipo de patriotismo, que determinado grupo deseja impor a todos os 
outros. Neste estágio, os argumentos violentos e a solução de todas as disputas pelo 
combate são encarados como o único caminho. Um exame calmo, intelectual e ponderado 
da polemica é habitualmente rejeitado, por não oferecer solução alguma. A mentalidade 
não é aceita como critério de julgamento. 
O escritor inglês Barrie retratou bem este tipo de humanidade, a humanidade da 
10 
 
paixão, quando descreveu, num dos seus livros, um rapazinho que estava sempre a brigar. 
Este rapaz, diz Barrie, tinha bom fundo e servia-se dos seus punhos unicamente porque, 
não tendo a mínima imaginação, o esforço de pensar fazia-o suar; e por consequência, o 
único meio de resolver o seu caso era dizer: «Vamos jogar à pancada!». 
Isto define a atitude dos povos do mundo. Os seus homens de Estado devem ter uma 
certa abundância de ideias, mas, para as massas, pensar é um exercício difícil e 
desagradável. A sua imaginação está dormente. Assim, quando uma crise aparece, 
levantam-se em armas contra a dificuldade e a única solução é gritar, «Vamos jogar à 
pancada!». 
Neste estágio de paixão que caracteriza a vida da maior parte dos homens, aparecem, 
aqui e além, um certo número de pessoas que apresentam uma nova possibilidade, porque 
são os precursores da humanidade do espírito. Quando se levanta uma polemica, estes 
começampor dizer: 
«Espere um momento. Examinemos a questão. Vamos estudar quais são os elementos 
do problema». Quando surgem excitações de todos os lados e as decisões são 
determinadas pelas paixões, em obediência ao princípio ortodoxo das. simpatias e 
antipatias, algumas vozes se erguem a reclamar que os problemas sejam examinados à luz 
da razão. Mas bem poucas são essas vozes e tornam-se intensamente desafetas dos outros 
concidadãos. São apodadas de «traidoras» por se oporem à decisão das maiorias, guiadas 
unicamente pelas suas paixões. Então, o que acontece? Quando um homem deste novo 
tipo diz: «Esperem, deixem-nos ver se compreendemos», é logo exaltadamente denunciado 
pelos seus ouvintes. Na Índia, seria expulso da sua casta, votado ao desprezo de todos, por 
ter abalado os alicerces da Sociedade, como anti-social. Sorte idêntica o esperaria no 
Ocidente; poderiam diferir os métodos de ostracismo, mas a humanidade passional é por 
toda a parte expedita em considerar como anti-social toda a ideia que se oponha aos 
sentimentos da maioria e não se escravize a uma forma convencional de patriotismo. 
Se é certo que a maioria do gênero humano toma as suas decisões sob o império da 
paixão, já o mesmo não acontece aos verdadeiros guias da humanidade, porque estes já 
ingressaram no estágio seguinte, o domínio da mente. Há já um número apreciável de 
pessoas, espalhadas no mundo de hoje, que pertencem à humanidade do mental. São elas 
que têm criado as nossas ciências e filosofias. 
É pelos processos mentais que se tem conquistado o domínio sobre as energias da 
natureza, o que nem sempre tem sido um caso para abençoar. Esse domínio veio criar um 
sistema industrial cujo resultado foi concentrar nas mãos de alguns o poder de produção, 
que até ali estivera distribuído por muitos produtores individuais. O sistema fabril, que 
ampliou largamente o conforto, criou ao mesmo tempo novas necessidades; na produção 
mecânica, milhões de operários caíram numa espécie de escravidão que, sob certos 
aspectos, não difere muito da escravatura entre os selvagens. O espírito de feroz 
concorrência apareceu no alvor das ciências, com as suas descobertas. O desenvolvimento 
do mental acarretou-nos ao mesmo tempo o bem e o mal, predominando, no momento 
presente, a parte pior. 
Notemos que a característica da intelectualidade é dividir. O que se chama criticismo 
consiste, para a maior parte das pessoas, em atentar primeiramente em tudo o que têm a 
11 
 
objetar, reservando para o fim o que lhes merece aprovação. 
Tanto os nossos homens de estado, como outros dos chamados chefes políticos, se 
socorrem hoje da intelectualidade, seja de que campo forem; mas essa visão mental não 
lhes traz unidade de vistas; só uma coisa os põe em concordância, por algum tempo -- é o 
medo. Os chefes políticos só se unem, na perspectiva de verem o seu país ameaçado por 
qualquer outro. 
Isto não quere dizer que a intelectualidade não possa produzir união: mas, para isso, 
tem que ser completamente impessoal. Os homens de ciência têm os mesmos pontos de 
vista, quando tratam de compreender as leis da natureza: mas se obtêm grandes 
resultados, é por não agirem como homens e mulheres que pensam à maneira normal; eles 
atuam como máquinas intelectuais desapaixonadas, que não têm relação com o mundo das 
emoções. Os homens da ciência unem-se porque não são movidos pela paixão, e a sua 
unidade só subsiste enquanto não intervém o elemento passional, como por exemplo, o 
sentimento da nacionalidade. Durante a Grande Guerra os homens de ciência, quer 
franceses quer alemães, cooperaram na descoberta da verdade, enquanto trabalharam 
unicamente como cientistas. Mas, no momento em que cada um deles se lembrou de que 
era francês ou alemão, a unidade rompeu-se, porque a paixão sobrelevou a razão. 
A maior parte do gênero humano é dirigida pelas paixões e apenas, uma minoria se 
entrega à experiência da razão; mas, nesta última, em que a mentalidade mais divide que 
une, aparece, uma vez ou outra, um novo tipo que não pertence à humanidade do mental. 
Esses indivíduos são caracterizados por um novo atributo: vivem em conformidade com a 
unidade do mundo. 
Os mais notáveis representantes deste tipo são os fundadores das grandes religiões. 
Sejam quais forem as feições com que se apresentem, todos eles visualizam a humanidade 
como um todo. As divisões de raça, cor, nacionalidade, que são elementos essenciais em 
todos os nossos problemas não existem para os grandes Instrutores; ele veem só uma 
humanidade e não vários povos. Quando falam de Deus, é do Deus de todo o gênero 
humano e não um Deus de tribo, que escolhe um povo para seu eleito, com desvantagem 
para todos os outros. 
Permitam-me uma interrupção. Embora as religiões de hoje fossem fundadas por 
Grandes Instrutores, não se segue, por isso, que o espírito desses Fundadores esteja 
representado nas religiões que existem sob o seu nome. Todos os Instrutores proclamaram 
uma era de paz e fraternidade, para o mundo como um todo. E todavia, quantas religiões 
não fomentam hoje as guerras? Os padres cristãos benzem os estandartes de batalha, 
sacerdotes hindus lançam bênçãos pelo sucesso dos seus guerreiros e os monges Budistas, 
que julgamos estar meditando no modo de atingir o Nirvana, empenham-se agora na 
Guerra dos partidos políticos e do nacionalismo. 
Há, todavia, uma forma de religião que nunca foi poluída e que ainda reflete o espírito 
dos Grandes Instrutores. Não é a religião das hierarquias sacerdotais, mas o misticismo dos 
santos. 
Os Grandes Instrutores têm uma característica comum, qual é a de não apelarem para 
o mental. Decerto que os seus ensinamentos podem ser percebidos pela inteligência; mas o 
seu apelo, quer pela palavra quer pelo exemplo, é para uma faculdade muito outra - a 
12 
 
misteriosa faculdade da intuição. Eles repetem velhas verdades, mas nelas transparece 
qualquer coisa de novo. E porquê? Porque Eles revelam, nas suas vidas e doutrinas, não a 
sua inteligência, mas a sua intuição. Por exemplo, no caso de Cristo; tem-se dito que ele não 
apresentou nada de novo e que muitas das suas afirmações podem ser comparadas às dos 
profetas judeus, de tempos anteriores ao seu. E todavia, Cristo fez, para quem o escutava, 
aquilo que os seus predecessores não fizeram; eles apelaram para a inteligência dos seus 
ouvintes, mas Cristo apelou para a sua intuição. O que caracterizou a sua ação, foi o 
restaurar a intuição na Judeia. E foi ela que provou ser Ele o Messias. 
Matthew Arnald tinha razão quando afirmou: 
«O que atestou Cristo foi a sua restauração da intuição. Jesus Cristo encontrou toda a 
Israel desnorteada com uma interminável discussão sobre Deus, a Lei, a reta conduta, o 
reino de Deus, a vida eterna, sem se assentar na realidade de todas essas coisas". 
O mesmo se dava, na Índia, quando Gautama Buda apareceu em Benares. 
Comentavam-se os magníficos ensinamentos dos Upanishads; havia mestres de religião por 
toda a parte, discutindo a natureza do Absoluto e o caminho para o Nirvana. Veio Gautama 
Buda e repetiu as velhas verdades. Mas Ele apelou para a intuição, e homens e mulheres 
tiveram uma nova visão da vida, como se nunca a tivessem conhecido. 
Aqueles que o podiam compreender, foram os que puderam desenvencilhar-se da teia 
do mental, criada pelas antigas tradições, e assim ficaram livres e aptos a serem 
influenciados pela personalidade do Instrutor, pela Sua ternura e a Sua compaixão que 
abraçava o mundo. Ele acendeu a chama da intuição nos seus ouvintes. 
E o mesmo acontece, onde quer que apareça um novo Instrutor. Ele não vem resolver 
problemas que o mental, por si só, possa abranger; a sua missão é ultrapassar o mental e 
apelar para a misteriosa faculdade da intuição, Os grandes Instrutores são os representantes 
da humanidade intuitiva; Eles veem a unidade e não a diversidade, e proclamam a alegria 
de amar e servir a todos, sem distinção de raça ou de religião. São Eles, pois, que 
representam essenovo tipo de humanidade que eu chamo da intuição. 
Mas há mais quem pertença a este novo tipo de humanidade, embora num plano de 
realização inferior ao dos Instrutores; são os artistas. Porque estes trabalham mais pela 
intuição que pela inteligência. Os poetas, os músicos, os cantores, os dramaturgos, os 
dançarinos, os pintores, os escultores, os trabalhadores de vários ofícios estão 
experimentando uma nova reação à vida. A nossa reação usual é a da emoção e a do 
intelecto. Mas o artista tenta reagir com a intuição. Assim como os homens de ciência 
definem o processo cósmico como força e lei e os filósofos criam sistemas de pensamento, 
para a sua explicação, também os artistas explicam a vida como ela é, quando se reflete na 
intuição. Todo o poema ou drama, toda a sonata ou canção, todo o quadro ou estátua, toda 
a dança seja de crianças ou mestres da coreografia, é fundamentalmente uma 
interpretação do que é a vida. Quanto maior for o artista mais significativa é a sua 
revelação do que é a vida. Os artistas pertencem à humanidade da intuição. Portanto, como 
artistas, não têm nacionalidade; eles transcendem as linhas divisórias de raças e religiões, 
quando reagem à vida com a sua intuição, tentando ver a vida do centro e não da 
circunferência. 
Mas é ocasião de perguntarmos: o que é a intuição? Se é uma faculdade diferente do 
13 
 
mental, mas, apesar disso, um modo verdadeiro de ajuizar das coisas, o que é afinal essa 
misteriosa faculdade? Esta palavra é empregada um vários sentidos, mas limitar-me-ei à 
definição dada por Spinoza, filósofo judeu, porque a julgo mais próxima da revelação da sua 
natureza. 
Diz-nos Spinoza que há três estados no conhecimento: o primeiro é o empírico, tirado 
da experiência dos sentidos. Sabemos que o sol nasce de manhã e se põe à tarde, porque 
os olhos no-lo ensinam; mas não sabemos porquê, a não ser que tenhamos estudado 
astronomia e saibamos que a terra gira em torno do seu eixo. Contudo o conhecimento dos 
nossos sentidos diz-nos que o sol, que se põe à noite, há de tornar a nascer amanha. 
Sabemos que o fogo arde, mas também não sabemos porquê. Ele arde por causa da 
combinação química do carbono com o oxigênio. Este conhecimento empírico é suficiente 
para a maior parte das coisas da vida diária. 
Há um segundo e mais elevado grau do conhecimento, que começa quando o 
raciocínio examina, analisa e julga. Quando os fatos são reunidos cuidadosamente, quando a 
observação é impessoal e os fatos não são vistos isoladamente uns dos outros, mas 
agrupados em categorias, então, o mental pode deduzir as leis que ligam os fatos e coloca-
os por uma certa ordem num processo cósmico. É este o método científico de se adquirir o 
conhecimento. 
Há, ainda, um terceiro grau. Depois do material ter sido todo reunido, e as suas partes 
ligadas umas às outras por leis, a inteligência pode elevar-se, então, ao estágio seguinte. À 
medida que o nosso mental vai contemplando os fatos que se colheram, numa estrutura 
prévia da unidade, então nasce, acima da inteligência, a nova faculdade da intuição. A 
consciência compreende a verdadeira e íntima natureza de tudo quanto se apresenta à 
inteligência; porque há na vida um fim oculto que a inteligência não apreende, mas sim a 
intuição. 
A razão por que a intuição é superior à inteligência, na compreensão do processo da 
vida, é nitidamente apresentada pelo filósofo francês Bergson, que frisa a necessidade da 
intuição, como fator da compreensão integral. A nossa inteligência, diz Bergson, trata todos 
os fatores que se lhe apresentam, como se fossem unidades separadas e como se cada uma 
delas fosse divisível em fatores cada vez mais tênues. A inteligência é excelente, quando se 
ocupa de sólidos inertes; mas, quando tenta explicar a vida e o pensamento, que não são 
sólidos inertes ou partículas divisíveis, então a inteligência desorienta-se, porque tende a 
tratar todas as coisas como se fossem matéria sem vida, vendo apenas em tudo um mero 
mecanismo. A inteligência, pela sua verdadeira natureza, não pode compreender a vida. É 
preciso, pois, que a intuição venha preencher as lacunas deixadas na compreensão pela 
inteligência. É esta a proclamação de Bergson. 
Mas, diz ele ainda, esta intuição é uma forma sublimada do instinto, que no animal é 
um método muito mais eficaz do conhecimento do que o mental. Todos nós sabemos quanto 
é maravilhoso o instinto dos animais. O pombo correio, levado para centenas de milhas do 
seu pombal, sabe em que direção deve voar, para o regresso, As lampreias dos rios da 
Escandinávia, Inglaterra e Mediterrâneo, quando, na idade adulta, chega a hora de se 
acasalarem, sabem que devem procurar uma certa região do Oceano Atlântico, o mar dos 
Sargaços, e emigram em massa para esta ,região. Há de haver dois anos, em Junho, um 
14 
 
gato, chamado Bonzo, foi metido num cesto e levado de automóvel, duma certa cidade da 
Inglaterra para uma outra, afastada cerca de setenta e três milhas, não tendo, ate então, 
saído de casa dos seus donos. Três dias depois, voltou à sua antiga morada, bem disposto, 
com as patinhas sãs, o pelo luzidio, quase gordo e muito feliz por ter regressado novamente 
a sua casa. Teve que atravessar uma cidade populosa ou tomar um novo caminho para 
evitar a cidade, atravessar uma charneca e contornar outra, Como pôde ele adivinhar isto 
tudo? Pelo instinto. 
Nós, entes humanos, perdemos essa faculdade, desenvolvendo a inteligência, mas 
invejamos algumas vezes aos animais o seu instinto perspicaz. Em todo o caso, não há 
dúvida de que o desenvolvimento da razão no homem, ao sair da animalidade, é um passo 
para diante, embora parcial apenas, no caminho da evolução. É este o tema de Bergson - o 
novo passo para a frente é o desenvolvimento da intuição. 
Mas esta, segundo sustenta aquele filósofo, está aliada ao instinto; é como uma forma 
subtil e ainda adormecida do instinto. 
Não é esta a minha opinião, mas isso não interessa neste momento. Enquanto o 
instinto estiver polarizado para a ação, como é o caso nos animais, diz Bergson, o instinto e 
só instinto e nada mais. O homem com a sua inteligência, pode muitas vezes, exceder em 
astúcia o instinto animal. Mas o instinto tem raízes na vida; não atua mecanicamente, como 
se fosse uma máquina manejada por forças da matéria, porque o instinto tem vida. Se, 
porém, o instinto residente no homem pode ser impelido como uma mola, em direção ao 
conhecimento, e não exclusivamente para a ação, como no animal, então o instinto pode 
transformar-se em intuição. 
Quando esta transformação ,tem lugar, «a intuição leva-nos à verdadeira intimidade 
com a vida, com o mesmo êxito absoluto com que a inteligência nos guia nos segredos da 
matéria.» 
Permitam-me mencionar agora o que os Teósofos pensam a respeito da intuição. A 
Teosofia sustenta que o homem é um ser multo complexo, feito de sete partes 
componentes, chamadas «Princípios». O primeiro deles é o corpo físico; o segundo, a mais 
sutil contrapartida deste corpo, chamada o «duplo etérico»; o terceiro, o «Prana», o 
princípio da vida ou vitalidade, que une entre si os dois outros. O quarto princípio chama-se 
«Kâma Rupa» ou o corpo dos desejos, a sua natureza «astral»; segue-se o «Manas» ou 
mental; o sexto é Buddhi, a sua intuição; e finalmente o sétimo é Âtmâ a divina natureza da 
alma, que é inseparável da natureza de Deus. 
Na enumeração destes princípios, a natureza de Buddhi ou intuição tem sido estudada 
pelos Teósofos. Eles afirmam que a verdadeira intuição não é resultante de qualquer 
processo do mental. A mente examina um objeto e toma dele conhecimento, estudando-o 
por fora; a intuição toma dele conhecimento, tornando-se una com ele. O conhecimento que 
a intuição obtém é por identificação e não por análise. Para dar um exemplo: se a 
inteligência examina um indivíduo tem que reunir o material que lhe diz respeito, fatos 
concernentes à sua natureza física, as suas reações emotivas, a natureza do seu mental e 
tanto quantolhe for possível, um registro do que ele tem feito. Seguidamente, o mental faz 
o seu juízo sobre estes elementos. Mas, como nós todos sabemos muito bem, o juízo que os 
outros podem fazer a nosso respeito pelo mental, falha lamentavelmente, no tocante à 
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nossa verdadeira natureza. O juízo dos outros é muitas vezes severo e injusto. Eles não nos 
conhecem realmente. É este o método mental. 
Mas a intuição procede de modo diferente: por artes misteriosas, ela identifica-se com 
o indivíduo que deseja compreender. Unifica-se com os seus pensamentos e sentimentos. 
Sabe tudo o que o homem tem sido no passado; e ainda, pela identificação com as suas 
esperanças e sonhos, ela descobre o homem oculto que se não revelou a qualquer exame 
mental. A intuição, por conseguinte, realiza um juízo mais pleno e verdadeiro, respeitante ao 
homem. Isto explica, até certo ponto, o mistério que leva as grandes almas que têm uma 
profunda capacidade de compaixão, como os grandes Santos, a ser tão indulgentes nos 
seus juízos. Eles não condenam o pecador, porque compreendem, não só aquilo que ele 
fez, mas também o que ele esperava ser, Cristo não condenou Madalena, porque não só 
conhecia a sua vida dissoluta, mas também a causa dos seus erros: «pecou por muito 
amar». 
Sempre que se trate de compreender a vida e não a matéria inerte, é a intuição e só ela 
que dá a verdadeira compreensão. Quando, portanto, Bergson diz: «A intuição leva-nos à 
verdadeira intimidade com a vida, com o mesmo êxito absoluto com que a inteligência nos 
guia nos segredos da matéria», ele revela-nos uma grande verdade, a respeito da 
consciência, quando dirigida pela intuição. 
A intuição tem começado já a manifestar-se em muitos de nós. Temos lampejos dela, 
principalmente em relação às pessoas que nos rodeiam. Gostamos delas ou não, à primeira 
vista, e sem sabermos porquê. Refiro-me aos casos em que as nossas simpatias ou 
antipatias não são provocadas por reações emotivas. Quando a nossa intuição «age, essas 
simpatias ou antipatias são sempre perfeitamente calmas, serenas e desacompanhadas de 
emoção. A nossa reação não é devida a impulsos, que são sempre manifestações da nossa 
natureza astral ou seja «o corpo dos desejos». Todos temos exemplos de Intuição em nossas 
vidas. Apercebemo-nos de certas coisas, sem podermos justificar ao mental o nosso 
conhecimento, por ele não ter diante de si todos os fatores necessários ao seu exame. Mas 
a consciência, por meios misteriosos, num instante se unificou com os fatores ocultos e 
assim a nossa intuição entra em contacto com o âmago das coisas. Esta qualidade própria da 
intuição foi bem descrita por Lawrence da Arábia, quando a define como «a incompreendida 
presciência». Os árabes com quem ele trabalhava não formulavam os seus juízos como 
resultantes da atividade mental. Lawrence dizia deles: «As suas convicções são instintivas e 
as suas atividades intuicionais». 
Os americanos dos Estados Unidos estão cientes desta nova faculdade da intuição; 
dão-lhes o nome de «hunch», palpite. Se perguntarem a um homem de negócios por que é 
que agiu de uma maneira particularmente inesperada, sem que qualquer coisa externa o 
guiasse, responderá logo, «Tive um palpite». 
Toda a gente sabe que as mulheres são mais intuitivas que os homens. A ausência 
dessa rígida mentalidade que caracteriza os homens, favorece-lhes a intuição. Muitas vezes 
os juízos das mulheres são meros preconceitos impulsivos, mas não me refiro a esses casos, 
quando falo da sua intuição. O impulso acicata-nos constantemente, se não lhe 
obedecermos logo. Mas a intuição tem duas características notáveis: parece ser-lhe 
indiferente, se lhe obedecermos ou não e fala uma vez só. A sua voz é como a decisão dum 
16 
 
tribunal supremo que dá a sua sentença uma e única vez, sem curar dos efeitos do 
julgamento, sobre as partes envolvidas na demanda. É conveniente, portanto, prestar a 
atenção devida à intuição quando ela fala. Há uma profunda sabedoria no antigo provérbio 
espanhol: 
"EI consejo de la mujer es poco ; 
Y el que no lo toma es loco.” 
o que, traduzido, dá, pouco mais ou menos: 
“Conselho de mulher vale bem pouco; 
Mas quem o não seguir é parvo ou louco.” 
Infelizmente para nós, a intuição, esse juízo infalível, não nos fala a todo o momento 
nem quando dele mais necessitamos. Fala-nos às vezes, quando se trata de uma ação trivial 
que vamos praticar e fica muda quando nos achamos perplexos, diante duma ação de 
importância vital. Não sei a razão disto. 
Vou entrar agora na parte mais importante do meu discurso: Como é que se pode 
despertar a intuição? 
Vários métodos existem; entre eles, o de contemplar um Todo. Se, no estudo de um 
assunto, colhermos todos os fatos que lhe dizem respeito, submetendo-os ao mental e 
ponderando com frequência sobre esse tema, a intuição irrompe às vezes como um 
relâmpago, revelando-nos uma grande verdade. Aconteceu isto a Robert Mayer a quem 
devemos a ideia da conservação da energia. 
«Esta lei não se destacou gradualmente, à força de revolver o mental das 
concepções da energia, transmitidas do passado, mas pertence àquelas ideias 
intuitivamente concebidas que, nascendo em outras esferas do mental, colhem, por 
assim dizer, o pensamento de surpresa e obrigam o mental a transmutar as noções 
herdadas, em conformidade com essas ideias.» 
(Energetics de Heim). 
Nâo importa qual seja a natureza do problema que se apresenta ao mental, contanto 
que este tenha diante de si todas as ideias arranjadas como um bloco, formando um todo; 
então, a intuição manifestar-se-á, mostrando como todas as ideias fazem um todo vivo e 
dinâmico, por uma forma que a inteligência não suspeitava. 
Um segundo e mais fácil método é desenvolver a ternura. Quanto mais as nossas 
naturezas são afetuosas, compassivas e isentas de severidade, tanto mais provável é à 
intuição manifestar-se. As nossas emoções apesar de pertencerem ao mundo astral, podem 
contudo refletir a intuição, que funciona dois mundos acima. Para que assim aconteça, 
devem as nossas emoções ser puras, afetuosas e serenas. Assim como um lago, se a água 
estiver límpida e tranquila, pode refletir fielmente a lua que está milhares a quilômetros 
acima dele, assim também uma natureza emocional, serena e cheia de bondade, se torna o 
espelho das grandes intuições da alma, que vive num plano muito mais alto do que o das 
emoções. 
Um terceiro e belo método de desenvolver a intuição é comungar com a Natureza. 
Chamamos Natureza, às colinas, às nuvens, ao mar, às montanhas, lagos, cascatas, 
florestas, campinas, etc. Mas todos esses elementos não são apenas meros objetos feitos 
de matéria; cada um contém em si uma vida que faz parte da Vida Universal. Cada um 
17 
 
desses objetos é um aspecto do Todo. Se, portanto, podemos unificar-nos com um deles, 
eles ligam-nos à significação da Totalidade. Para isso devemos responder à Natureza, 
simpatizando com ela em todos os seus aspectos. Então, quando nos encontramos no alto 
da montanha, à beira de um lago, ou na areia da praia, quando aspiramos o perfume e 
contemplamos a graça duma flor, sentimos penetrar delicadamente na nossa alma um 
inefável mistério, como se alguma voz nos falasse, numa nova linguagem, do Amor, da 
Beleza, da Imortalidade e de Deus. 
Quando pensamos na Natureza, não nos devemos limitar a estes seus aspectos que 
são povoados de plantas e animais. Um deserto, sem um restolho de erva, também é 
natureza. E num deserto, a sós, isolados de todas as coisas vivas, podemos comungar com a 
Natureza, naquela unção que Byron nos descrevia: 
“Sob o pálio do céu azul, 
Tão limpo de nuvens, tão luminoso e puramente belo, 
Que só Deus se devia ver no Céu.” 
Um meio delicado de desenvolver a intuição é através da Arte. Toda a Arte é uma 
segunda criação, uma nova remodelação das reações que a vida nos causou. Quando, 
normalmente, as emoções ou a inteligência dirigem as nossas reações, a vida aparece-nos 
como prazer ou dor, felicidade ouamargura, sucesso ou falência. A nossa vida é uma luta e 
o seu drama tem lugar num palco, com o nascimento por primeiro ato e a morte em último. 
O nosso trabalho, como artistas, deve ser reformar todas as nossas impressões emocionais 
e mentais, até que surja alguma coisa de novo. O que assim criamos, fala-nos de bondade 
no coração dos maus; de imortalidade no meio da morte; de Divindade revelada na 
humanidade do homem, como relíquia no altar; e da beleza que tudo envolve, em todos os 
tempos e em todos os lugares. 
Toda esta transformação só pode ser realizada pela intuição. E nós aprendemos os 
rudimentos da arte de criar de novo a vida, quando escrevemos um poema, cantamos uma 
ária, representamos uma personagem ou compomos um trecho musical. Para fazermos 
estas coisas artisticamente, devemos descobrir-nos a nós próprios, por um momento, num 
novo papel, como espectadores da vida e não como seus atores, como uma alma 
imorredoira e não como um corpo mortal. Devemos conhecer a vida como «ideia» e não 
apenas como vontade. Quando reagimos à vida, poética, artística ou musicalmente, a nossa 
intuição aumenta; e com a sua expansão, criamos obras de arte que descobrem significados 
da Vida que, até então, não nos haviam sido revelados. 
Desde que a arte nos revela o que é a vida, em termos de intuição, entre os grandes 
artistas do mundo, estão os Instrutores Religiosos. Eles observam a vida, do centro e não da 
circunferência, não com o seu mental, mas com as suas intuições. Por conseguinte, veem a 
unidade primeiro e a diversidade em seguida. Cada Grande Instrutor, quando se dirige aos 
seus auditores, não os encara como pessoas diferentes dele próprio, mas como seus 
semelhantes. Ele ergue os que o escutam até ao seu plano de realização e faz com que um 
pecador sinta que a bondade é uma coisa fácil de efetivar. 
Perante a luz da Sua santa presença, todo o desejo expira, exceto o desejo de nos 
tornarmos como Ele. Quando Cristo disse «Tornai o meu jugo e aprendei comigo, porque o 
meu jugo é suave e o meu fardo é leve», Ele via o Cristo Infante que estava para nascer em 
18 
 
cada um de nós e apelava para a nossa intuição, animando-a a dizer «Eu quero». 
Portanto, para mim, a melhor definição da intuição é aquela que a apresenta como o 
«princípio Crístico». 
Todo aquele que sentir em si o nascimento deste princípio Crístico vê a vida, não pelo 
prisma da ciência ou da filosofia, mas sob um novo ponto de vista; ele vê a Unidade de tudo 
quanto vive, um Todo que está palpitando com a vida, que incessantemente cria e 
incessantemente revela uma ternura nova e uma nova beleza. Em cada problema que se 
apresente à mente, ele vê, num relâmpago de intuição, o fim antes do meio; no auge da 
tempestade e da violência de qualquer situação, ele vê, num relâmpago, a sua justiça ou 
sem - razão A todo o momento o princípio Crístico lhe mostra o caminho - o caminho em 
todos os problemas da vida, seja no comércio, na política ou na ciência, seja nas suas 
próprias reações à alegria ou à dor. 
Devemos formar planos para criar a nova humanidade da intuição porque é ela quem 
há de construir um mundo perfeitamente organizado, em que homens e mulheres terão, 
não só o que precisarem em alimentos e habitação, mas também oportunidades para as 
suas auto-expressões e para descobrir a vida em plena beleza e dignidade. Este mundo dos 
nossos anseios não vem longe, se quisermos começar a dar uma educação reta à crianças. 
Se as tornarmos intuitivas, à medida que forem crescendo, elas conseguirão aquilo em que 
nós outros fracassamos. 
Sem dúvida que isto implica uma reorganização completa da educação. O que Lavisse 
dizia da educação do seu tempo, ainda hoje é uma realidade, até mesmo nos nossos mais 
avançados esquemas educativos: «um fragmento de educação é apresentado a um 
fragmento de criança.» A educação moderna da criança é toda mental; como Bergson a 
descreveria, ensina-se unicamente a criança a lidar com «corpos inertes». O mestre não 
ensina à criança o que a vida é como Vida, como um processo que não é inerte e não pode 
ser medido por gramas, metros ou litros. O que se lhe diz da Vida, como sentimento, beleza 
ou fealdade, heroísmo e auto-sacrifício? O professor não pode fazer mais do que mostrar à 
criança estes fatos da vida como meros conceitos ou como rótulos intelectuais. Acontece, 
portanto, quando acabamos a nossa educação nas escolas, termos de começar uma 
educação nova - a compreensão do que os homens são, como seres viventes e de nós 
próprios como uma conglomeração confusa de bem e de mal, de coragem e covardia - de 
passado, de presente e de futuro. 
Se pensamos em tornar as crianças intuitivas, os fatos reservados ao seu mental 
devem ser poucos e cuidadosamente selecionados e emoldurados em beleza. O que a 
criança precisa de aprender a dizer em primeiro lugar, é «Como é belo!» e não, «Como é 
lógico» Que a criança sinta a beleza, antes de mais nada, nos problemas que se lhe 
apresentam ao mental, e a intuição entrará em atividade. E então, a criança verá 
rapidamente o fim, antes de ter sido alcançado o meio; e nem mesmo precisa de conhecer 
este último. 
Para que a intuição se desenvolva na criança, é mister rodeá-la de um ambiente de 
beleza, sobretudo na escola. Deve-se-lhe ensinar a criar poemas, pintar quadros, moldar 
estatuetas, inventar danças, escrever e representar peças. Se um professor entusiasta tiver 
a visão desta nova criança intuitiva, descobrirá centenas de maneiras de refundir em novos 
19 
 
moldes toda a ciência da educação. O mestre que compreende a sua missão criará os meios 
necessários. 
Quando as crianças assim treinadas para a intuição, forem mais tarde homens e 
mulheres e se tornarem os guias da sua nação, saberão construir o reino da felicidade geral. 
Não pensarão em classes nem em partidos; não só hão de saber encarar mentalmente a 
nação como um todo, mas sentirão também essa unidade, com profunda emoção, e com 
ela rejubilarão perpetuamente. Porque a intuição e a unidade são complementares uma da 
outra. Tais indivíduos jamais se sentirão desamparados perante as dificuldades. Ao passo 
que os estadistas de hoje declararam «nada podemos», as crianças de hoje, estadistas de 
amanhã, dirão: «Queremos e podemos». 
Mais ainda: visto cada nação, atualmente, depender das outras, para seu bem ou para 
seu mal, o estadista da intuição, saberá que todos os problemas de uma nação só podem ser 
resolvidos com justiça, quando encarados em conjunto com os problemas de todas as 
outras. Então a Sociedade das Nações não será uma liga de povos rivais e suspeitosos, mas 
uma Liga de fraternidade, onde cada membro se convencerá de que ganha mais força e 
inspiração para si, trabalhando em comum com os outros. 
Conquanto a ideia da «Nação», dentro de cada povo, se haja de manter como o centro 
do círculo das suas atividades, esse mesmo povo há de aperceber-se de que a sua Nação é 
um círculo dentro de outro maior, que é o Mundo. Os homens reconhecerão que cada 
problema nacional faz parte do problema mundial; e o seu sentimento do justo e do 
injusto, da honra ou da desonra, será moldado pelo da Consciência Mundial, das 
Necessidades Mundiais e do Plano Mundial. 
Mas, enquanto esperamos pelo dia em que as crianças de hoje hão de criar o mundo 
de amanhã, muito poderemos fazer, por nós próprios, para compreendermos a vida como 
ela deve ser, e realizarmos toda a felicidade e todo o progresso ao nosso alcance. 
Para isso, temos de converter-nos naquelas criancinhas de quem Cristo disse: «Delas é 
o reino dos Céus». O princípio Crístico da consciência, que jaz adormecido em nossos 
corações, despertará, quando os abrirmos às influências da Natureza, quando criarmos 
alguma forma de arte, e especialmente quando formos compassivos para tudo quanto vive, 
seja homem ou ave ou qualquer animal. 
Quando, pela primeira vez, nos tornarmos, intuitivos, compreenderemos o que são as 
potencialidades do bem e da beleza que temos adentro de nós.Não precisaremos mais de falar em Deus, porque o conheceremos; nem teremos 
necessidade de ir procurá-lo nos templos ou nas igrejas, porque o encontraremos nos 
nossos corações, nas nossas consciências, na face dos nossos semelhantes. 
Há um poeta, Tennyson, que nos descreve o que vê o homem da intuição: 
«Ele vê através da vida e da Morte, através do bem e do mal, 
Ele vê, através da sua própria alma. 
A maravilha da vontade eterna, 
Como um pergaminho aberto, 
Se ergue diante dele,» 
Quando, perante os olhos da nossa intuição, a Vontade eterna se revelar como um 
pergaminho aberto, então, tanto a força como a sabedoria dessa Vontade se erguerão de 
20 
 
todos os lados, amparando-nos no nosso trabalho. 
É este o futuro dos homens e mulheres de intuição, nos dias que hão de vir; mas 
inspiração e iluminação podem ser nossas desde já, se avaliarmos os homens e os 
acontecimentos à luz da intuição, se soubermos ver a beleza espalhada por toda a parte e 
estendermos o nosso amor a todos os seres e a todas as coisas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
A Teosofia e o Destino da Humanidade 
 
As vidas da maior parte dentre nós estão tão cumuladas de ânsias e de dificuldades 
que mal sentimos o desejo de perguntar: «O que vai por esse mundo ?» Cada um de nós vive 
num círculo muito seu, com as suas obrigações, esperanças e sonhos, círculo que contém 
aqueles que lhe estão mais próximos e os que lhe são mais caros; mas é, no fim de contas, 
um círculo bem restrito. De vez em quando temos que sair dele, quando algum dever nos 
força a abandonar o pequeno âmbito dos amigos e do lar, e a entrar num círculo maior - o 
da cidade; e em raras ocasiões temos que intervir num círculo, ainda maior - o da Nação, 
sempre que esta careça do nosso concurso patriótico, nalguma obra nacional. Mas, outras 
nações, o mundo como um todo, são para nós, realidades distantes, de mal definidos 
contornos. É certo que recebemos pelos Jornais notícias de todas as partes do mundo; le-
mo-las com uma vaga curiosidade, mas os países onde se produzem os acontecimentos 
estão tão longe, que esses acontecimentos parece não terem relação íntima com os nossos 
negócios. 
A religião concorre para tornar mais estreitos os nossos pontos de vista. Cada religião 
é, em princípio, um evangelho a anunciar-nos o advento de um mundo celeste; se somos 
instruídos em certos deveres para com o nosso próximo e a comunidade, é na mira de que 
as virtudes adquiridas por essas obrigações nos qualifiquem para entrar no Céu. Mas cada 
religião nega fundamentalmente que este mundo e as suas atividades possam dar-nos 
qualquer inspiração. Talvez os gregos fossem o único povo que acreditou que este mundo e 
os seus acontecimentos estivessem na íntima relação com o mundo espiritual. Procuraram 
o melhor que havia neste mundo, porque este melhor era uma ligeira indicação do Eterno 
Melhor, no mundo espiritual. Por isso, viam no atletismo e nos jogos uma finalidade 
espiritual, ligada à finalidade material de saúde e divertimento; eram intensamente 
perspicazes, quanto ao desenvolvimento da vida política, porque esta era para eles o meio 
de produzir um tipo de cidadão, não só saudável, mas culto, alegre e de índole espiritual. 
Por muito mergulhados que estejamos nos nossos negócios, não deixam eles, na 
realidade, de estar ligados aos interesses do mundo, como um todo. A nossa saúde, por 
exemplo, depende em primeiro lugar da saúde geral da nossa comunidade, mas depende 
igualmente, logo a seguir, da saúde do mundo. Suponhamos que a peste bubônica se 
declara num país donde recebemos certos gêneros, como trigo e arroz; a nossa repartição 
de saúde não permite o desembarque nos nossos portos dessas mercadorias, sem que 
sejam previamente desinfetadas pelo gás cianídrico. E o custo de tudo isto, bem como a 
demora, agrava os preços por que as pagamos. 
Quando, em 1918, a epidemia da influenza foi passando de uns países para outros,. 
ficamos sabendo que nenhuma nação pode viver isolada das restantes. 
É curioso que, se bem que nos tivessem ensinado na escola que o mundo forma um 
todo, a impressão recebida foi puramente mental. Nas nossas lições de geografia 
aprendemos a conhecer as capitais dos vários países, os seus rios e cordilheiras; mas esse 
conhecimento nunca prendeu a nossa imaginação. 
22 
 
Em certo número de pessoas desperta já a ideia do mundo com um todo, quer quando 
as suas simpatias são profundamente abaladas, pela tragédia de povos desamparados, quer 
quando a sua sensibilidade artística aumenta e se interessa pela literatura, poesia, pintura, 
escultura e demais artes, tanto das outras nações como da sua própria. Quando nasce em 
nós a concepção do gênero humano como um todo, do gênero humano representado por 
uma escada ascendente de realizações culturais, então já procuramos a resposta à 
pergunta, «que vai por esse mundo»? 
Há duas fontes únicas onde habitualmente procuramos essa resposta. Uma é a 
religião, a outra, a ciência. A primeira conforme já indicamos, não nos dá resposta alguma. 
Ela não nos explica por que é que Deus dispôs que as raças do gênero humano se sucedam 
umas após outras e desapareçam, e que as civilizações realizem, apenas, uns certos 
aspectos de cultura e outros não. A este mundo, como um todo, com os seus multiplicados 
progressos em milhares de atividades, como negócios, política, artes, não interessa a 
religião. Não que ela tenha qualquer coisa contra essas atividades, mas estão fora do seu 
âmbito, circunscrito às rezas, cerimônias e contemplações. 
A Ciência, essa sim, responde àquela pergunta «que vai por esse mundo»? Vede o 
mundo do passado, diz a ciência; os museus cheios de antiguidades patenteiam-se à vossa 
contemplação, revelando-vos a história do homem e da natureza. Olhai o mundo do 
presente, diz a ciência, e vereis desfilar perante vós, como numa procissão, todas as 
realizações na indústria, na locomoção, na medicina e em mil e uma comodidades para 
conforto do lar e da cidade. Vede o mundo do futuro, diz a ciência, e descortinareis um 
quadro sem esperança. Porque um dia, ainda que seja daqui a muitos milhões de anos, o 
gênero humano deixará de existir, porque o sol perderá o seu calor e a terra tornar-se-á 
num planeta gerado. Igualmente sabemos o que a ciência tem a dizer a nosso respeito 
como homem e como mulheres. Temos vindo trepando desde o reino animal; e este é o 
nosso passado. Vivemos num mundo de luta, onde a sobrevivência do mais apto é a lei e 
onde o forte calca aos pés o fraco, na sua marcha para super-homem. Isto é o nosso 
presente. Quanto ao nosso futuro, é simplesmente deixar-nos apagar, como se apaga uma 
candeia, quando o coração parar de bater. 
Haverá em qualquer parte outra resposta mais atraente do que a que nos é dada pela 
ciência? Sim, essa resposta dá-a a Teosofia. Eu não vo-la apresento, meramente, como 
especulação duma escola de filosofia; ela proclama-se representante dos ensinamentos de 
uma dinastia ininterrupta de sábios. 
Naturalmente, não encontrareis razões para escutá-la, só pelos atributos que se 
arroga. Mas peço-vos que examineis o que ela proclama e ajuizeis se as suas afirmações 
serão razoáveis no conjunto e se poderão oferecer-vos uma hipótese viável. Isto é, afinal, o 
método usado pela Ciência. O cientista, quando depara fatos inexplicáveis, arranja para eles 
uma hipótese plausível. Procura, em seguida, verificar essa hipótese, aplicando-a aos fatos. 
O seu objetivo é descobrir, em primeiro lugar, se ela explica esses fatos e em seguida, se 
conduz à descoberta de fatos novos. Nem todas as hipóteses são necessariamente 
verdadeiras; neste caso novas hipóteses são formuladas. Se nenhuma delas resolve o 
problema, o cientista fica esperando. É isto precisamente o que desejo que façais: examinar 
a hipótese Teosófica pondo-a de parte, conscientemente, se ela vos não satisfizer. Qual é a 
23 
 
resposta Teosófica, à cerca do mundo? É que todos os acontecimentosque nele decorrem 
obedecem a uma plano. Por outras palavras, que os acontecimentos da história não são 
devidos a meros acasos, mas que por detrás de todos eles existe um plano que o homem 
pode compreender. Consideremos os acontecimentos do mundo. O mais remoto que se 
conhece é-nos relatado por Platão, que se refere a uma tradição do Egito com respeito a 
uma grande civilização que floresceu num continente chamado a Atlântida, no local onde 
hoje se encontra o Oceano Atlântico. A civilização Atlante, segundo a lenda, dominou no 
Mediterrâneo. 
Esse continente afundou-se, há cerca de 10.000 anos, numa erupção vulcânica. Depois 
dos Atlântes, novos povos surgiram; cada nação tem o seu começo, o seu apogeu e o seu 
lento declínio. Caldeia, e Babilônia, Egito, Grécia, Roma, desapareceram. A China e Índia 
mantêm-se. No simples decurso de um século o Japão tornou-se um povo poderoso. 
Sabemos como Colombo descobriu o Novo Mundo. Lentamente, a seguir, os povos da 
Europa, emigraram do Ocidente para as Américas do Norte e do Sul, até que, três séculos 
depois, tendo morrido os aborígenes ou poucos existindo atualmente, novos povos 
habitam os dois continentes. As correntes de emigração ainda não cessaram. Outras 
correntes se dirigiram da Europa para o Oriente e zonas meridionais, para a Austrália e 
África do Sul. 
A Teosofia declara que todos estes acontecimentos fazem parte de um plano. A 
descoberta do Novo Mundo, a aparição de novos povos e o desaparecimento dos velhos, 
são partes de um plano, como o são também os embates de vários povos que dão origem 
às rivalidades nacionais que tantas e tantas vezes trazem consigo a guerra. Na mesma 
ordem de ideias, tudo quanto chamamos civilização as ciências, as artes, os sistemas 
econômicos, culturais, surgem como partes desse plano. 
O plano de quem? perguntareis. Quem tem controlado os acontecimentos mundiais, 
de modo que, o que aparece como obra do acaso, é na realidade a execução de um plano? 
Deus, ia eu imediatamente responder; mas hesitei, por uma razão: A palavra Deus arrasta 
vulgarmente consigo a ideia de uma pessoa; no Cristianismo, a imagem de uma pessoa 
idosa, um Pai, ou a tríplice imagem de um Pai, um Filho e um Espírito Santo; na Índia a 
imagem de um Deus muitos braços e mesmo, algumas vezes, de muitas cabeças. 
Todas essas concepções de Deus como forma humana são incompatíveis com a 
vastidão do Universo. Quando falamos em Deus, queremos com isto dignificar uma 
inteligência que funciona em toda a sua plenitude, na orla do Universo como aqui entre 
nós, desde a origem dos tempos até ao momento atual. 
Mas a verdadeira essência da explicação Teosófica é esta: Há uma inteligência em ação 
por toda a parte, operando em harmonia com um plano. Entretanto quando dizemos 
inteligência e que ela age e idealiza, temos que atribuir alguma ideia de personalidade a 
essa inteligência. Por outro lado, temos que pôr de parte a forma humana a essa 
personalidade, porque, como podia uma forma humana possuir uma mente atuando 
simultaneamente no extremo do Universo, e aqui entre nós? 
A palavra que me parece mais apropriada é a dos Estoicos Gregos - o Logos. 
Esta palavras tanto pode significar o nome ou o rótulo com que designamos um 
objeto, como o pensamento Íntimo que ele representa. Logos, quere dizer Razão. Para os 
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Estoicos, o Universo inteiro era o Logos, isto é, uma expressão da mais alta razão. Há alguns 
séculos atrás, em Alexandria, Filon, filósofo judeu, desenvolveu a ideia do Logos, dando-lhe 
o sentido de Deus, mas não, em forma humana. Veio mais tarde S. João, e proclamou que o 
Logos, a Razão Divina que mantém o Universo, a mais alta concepção que se possa fazer de 
Deus, se manifestou na Terra em Jesus-Cristo. 
Na frase latina da missa Romana - Et Verbum caro factum est «e o Verbo fez-se carne» 
que nos indica o momento de ajoelhar, a palavra grega Logos é traduzida como Verbum, o 
Verbo. 
Por muitas razões, portanto, a palavra Logos é a mais conveniente, não só porque 
afasta a ideia duma personalidade humana, mas ainda porque traduz plenamente os 
pensamentos mais elevados que associamos à ideia de Deus. 
O universo tem uma estrutura fundamental que é o Plano do Logos. É a vontade do 
Logos que cria a nebulosa da qual se geram as estrelas; é a mesma vontade que criou a 
primeira célula da matéria viva. Este pensamento já existia entre os judeus, porque no 
Velho Testamento aparecem estas palavras - «O Senhor pela sua Sabedoria fez a terra, pela 
compreensão, fundou dos Céus», (Provérbios 3.19). Em harmonia com o plano do Logos, 
tudo foi concebido desde a origem do tempo: Nem um só instante a Sua vontade deixa de 
dirigir cada acontecimento. É o que Cristo quer e significar quando afirma que «nem uma 
ave pode cair do ramo, sem a vontade do Pai». 
A nossa Terra, tão vasta para nós, é uma ínfima parcela de matéria, comparada com a 
vastidão do Universo e assim como a Sua Vontade interpenetra o Universo, assim 
interpenetra a Terra. Qualquer acontecimento, desde os movimentos dos prótons e 
elétrons às migrações dos povos de continente para continente, é a manifestação da 
vontade e do plano de Logos. Tudo o que foi, é e há de ser, são expressões e incorporações 
do Logos. 
Eu bem sei que tudo isto deve parecer uma mera suposição, uma teoria que parece 
incapaz de ser provada. Mas vejamos o que a teoria desenvolve quando aplicada, como o 
fazem os Teósofos. Quando o Teósofo observa o Universo, proclama os seguintes 
postulados: 
1) Antes de o Universo vir à manifestação, como um sistema de força, matéria, ação e 
lei, já existia como um pensamento, no Mental do Logos. Este pensamento revestiu-se de 
matéria. Todo o Universo, portanto, desde cada elétron a todas as miríades de estrelas, está 
impregnado do pensamento do Logos. 
2) O pensamento do Logos, quando assim vestido de matéria, e tornado universo, está 
destinado a evoluir, isto é: a mudar sucessivamente de um para outro estado. Em todas 
essas mudanças opera a Vontade do Logos. A evolução não é, pois, como a ciência afirma, 
um processo mecânico de modificações por experiências e falências, mas um processo 
dirigido por uma inteligência, para determinado fim. 
3) Tudo quanto existe, da mais pesada partícula da matéria ao ser mais espiritual que 
possamos imaginar, todos os milhões de tipos de organismos que a evolução produz, desde 
a ameba ao anjo, não são meras criações do Logos: São Ele próprio. Geralmente, quando se 
pensa em Deus criando o Universo, julga-se que Ele procede à maneira de um oleiro, 
manipulando uma vasilha; feita esta, o oleiro e a vasilha são coisas à parte. Não é esta a 
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concepção Teosófica, de Logos. Este é duplo na Sua natureza. Ele é, ao mesmo tempo, 
transcendente e Imanente. Socorrendo-me, ainda da imagem do oleiro e da vasilha, o 
oleiro na sua natureza transcendente, fica aparte do vaso, como artista que operou na 
argila, para fazer dela um artefato. Mas se nós imaginarmos que a argila empregada faz 
parte do corpo do oleiro e que este utilizou parte do seu corpo na execução da Sua Obra, 
então há uma unidade entre o Oleiro e o vaso. Podemos, neste caso, dizer que o oleiro está 
imamente no vaso. 
De modo análogo, tudo o que existe, toda a substância, seja de que natureza for, da 
mais leve à mais pesada; todos os aspectos de força, eletricidade, luz e calor; todas as 
formas da vida, como as plantas, os animais e os homens; todas estas coisas são o Logos, a 
Sua verdadeira Substância, no seu aspecto de Divindade Imamente. Todavia e ao mesmo 
tempo, o Logos, como Transcendente Divindade, existe fora de tudo quanto d'Ele emanou. 
4) Desde que tudo quanto existe é o próprio Logos, desde que tudo quanto age, move 
e acontece são incorporações do Logos, todo o Universo é a sua auto-revelação. Sabemos 
que o Universo muda constantemente, mas as suas mudanças não são como as torrentes 
que, nascendo das montanhas, correm para o mar, achando os seus caminhos ao capricho 
do acaso; mas como os botõesde rosa, cujas mudanças fazem desabrochar a flor 
maravilhosa. Cada pétala encontra-se em miniatura, dobrada dentro do botão; a admirável 
e artística estrutura, o delicado perfume, a brilhante revelação de uma «alegria que ficou 
eterna», tudo isto está oculto no botão. O botão cresce para nos revelar uma beleza oculta. 
Do mesmo modo, o universo transforma-se, para revelar a natureza do Logos como uma 
Beleza Absoluta. 
5) O Logos não é só uma Beleza absoluta, é também a fonte de toda a espécie de amor 
que nos seja dado conceber. O amor da Mãe pelo filho, do amante pela preferida, do Santo 
pelo seu Deus, todos estes amores são meros símbolos, quando comparados com a 
realidade do Logos como Amor. Assim como todo o Universo está embebido em 
inteligência, dentro do Mental do Logos, assim também todo o Universo está impregnado 
do seu Amor. A despeito de tudo o que parece terrível na evolução, a luta pela vida e a sua 
crueldade; a despeito da aparente surdez de Deus aos clamores da humanidade sofredora, 
o Amor é a raiz de todas as coisas. Se o elétron e o próton estão ligados numa unidade de 
positivo e negativo, não é apenas porque o Mental do Logos os mantém assim em 
equilíbrio, é também porque o Seu Amor os envolve. Todos os cantos dos poetas, todos os 
hinos devocionais dos santos são longínquos clarões irradiados da natureza do Logos, como 
amor. 
6) O Logos, que é a Beleza Perfeita, que é Amor Ideal, não é uma Deidade estática, isto 
é, uma personalidade que não age e se limita a contemplar. O Logos é um construtor. Ele 
manipulou de si próprio um universo e opera nele, de modo que o que é bom engendra 
uma coisa melhor e o melhor engendra o ótimo. O Logos age sobre o seu Universo como 
um artista. O escultor diante do mármore tem na sua mente a imagem que vai nascer; e 
então começa a desbastar do mármore todas as parcelas inúteis à sua estátua; «Quanto 
mais mármore é suprimido, mais vulto cria a estátua». 
7) Nesta ação do Logos para criar um Universo Perfeito, o homem é necessário. O 
papel que lhe é reservado consiste em ser o Agente, o Instrumento, o Cooperador do 
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Logos. Tal é a natureza do Logos, em Amor e Beleza, que Ele deseja que existam miradas de 
seres, que se deleitem em Amor e beleza, e descubram pouco a pouco a alegria do auto-
sacrifício e serviço do próximo foi para este fim que o Logos nos criou, a milhões de almas 
que compõem a humanidade. Eu disse «nos criou», mas não quero afirmar com isso que o 
Logos nos criasse de alguma substância que existisse fora d'Ele. A verdadeira essência da 
concepção Teosófica está em que o homem foi emanado ou criado pelo Logos, da Sua 
própria Natureza. Nós somos fragmentos do Logos semelhantes a Ele em todos os sentidos. 
Somos unidades, ao passo que Ele é o todo. Assim como, quando arde uma pilha de lenha e 
se erguem as chamas, tênues fagulhas saltam da madeira, cada uma delas existindo na 
chama rugidora e fazendo parte dela; assim é a nossa alma com as suas raízes no Logos. O 
Logos e a alma do homem são, para sempre, uma unidade. Todavia, o Logos deseja, ao 
mesmo tempo, que o homem sinta a sua separatividade, porque graças a esse sentimento 
de separatividade o homem adquire a consciência como ser individual. 
8) As almas dos homens foram destinadas a ser os colaboradores do Logos, os seus 
companheiros de trabalho, quando Ele concebeu o plano dum Universo Perfeito. Mas, 
antes que a alma possa cooperar em qualquer finalidade útil, ela tem de compreender o 
Plano do Logos e possuir faculdades criadoras capazes de contribuir para a execução. E 
disto ressalta a necessidade para a alma, que é divina em essência, de entrar num Círculo 
de nascimentos e mortes, para tomar parte no processo chamado Evolução. A alma tem 
que aprender como uma criança na escola, de classe para classe, ou como um aprendiz 
numa oficina aprende a criar uma coisa tão perfeita como o mestre. Tem a alma de 
conhecer como há de agir dum modo reto, isto é, em conformidade com o plano; como há 
de criar beleza, isto é, refletir o Mental do Logos, supremo guia para os vários 
desenvolvimentos, através das idades, a que chamamos civilização. 
Assim, o que a Teosofia proclama é que todos os acontecimentos mundiais têm uma 
finalidade, que é treinar as almas até se tornarem em verdadeiros agentes do Logos. 
Passemos a examinar os métodos da ação do Logos. 
Para que as almas que Ele de Si emana possam começar a própria educação, é 
necessário que elas vivam e atuem no mundo físico. Elas devem, por conseguinte, viver em 
corpos físicos. O Logos planeia e trabalha durante milhões de anos, para produzir o 
primeiro corpo humano. A ciência vai-nos dizer como o Logos prepara tudo isto. Uma parte 
da nebulosa que começou com o nosso Sol quebrou-se e arrefeceu lentamente, até tornar-
se a terra; os elementos químicos, oxigênio, hidrogênio, carvão, ferro, enxofre e outros 
combinaram-se e fizeram a primeira forma de matéria organizada - o protoplasma. Este é 
separado em tênues unidades, resguardada cada uma no seu invólucro, dentro do qual se 
opera uma nova disposição de elementos, dando lugar à primeira célula. O trabalho 
procede então por etapas: os organismos unicelulares dão nascimento a organismos multi 
celulares e lentamente aparece o que a Ciência chama a escada da evolução. Bactérias, 
fungos, plantas de esporos, plantas de sementes insetos, peixes, répteis, aves, mamíferos, 
tudo aparece em conformidade com o plano de Logos. Então, entre os mamíferos, entram 
em cena os antropoides. Toda esta obra de evolução é apenas uma preparação, um 
prelúdio, para uma obra real a ultimar pela evolução. 
Quando os melhores corpos, ainda simiescos foram produzidos - já bastante fortes 
27 
 
para resistirem aos acidentes que acompanham a vida nas condições selvagens, e com 
cérebros já capazes de pensar e de conceber planos - então, as almas dos homens geradas 
no Logos, que se achavam esperando «no seio do Pai», fizeram a sua entrada na cena do 
mundo. Serviram-se de corpos semelhantes aos dos macacos e neles viveram como 
homens primitivos. 
O homem primitivo participa do anjo e do demônio. E anjo pela sua alma imortal, 
sempre viva no seio do Pai; e demônio pelo corpo em que tem de viver, carregado dos 
instintos de uma longa hereditariedade animal. Os instintos, no homem primitivo, como a 
crueldade a raiva cega, o egoísmo feroz, não fazem parte da natureza da alma. O anjo acha-
se cavalgado pelo demônio e por ser fraco ou sonolento é o demônio quem comanda. O 
selvagem vive em plena animalidade seguindo a lei do mais apto, numa guerra que aceita 
como natural. Mas o anjo tem que dominar se a alma quiser realizar a sua obra. É a 
alvorada da civilização. O seu início faz-se por intermédio de instrutores religiosos e 
legisladores. Os instrutores religiosos fazem ver ao selvagem que o amor deve tornar-se a 
lei da vida e que o auto-sacrifício e a não-competição é a lei do homem; eles procuram 
despertar a intuição adormecida do selvagem, para que ele possa compreender. Porque 
esse selvagem é uma alma imortal e o conhecimento da verdade reside nele, embora 
profundamente sepultada. Sob o mágico influxo do amor e da compaixão do mestre, o 
selvagem desperta para a vida, por um certo tempo, como uma alma, e compreende. Mas a 
luta pela existência é áspera, é cercada de ódios por todos os lados e ele acaba por 
esquecer a divina lição e regressa à vida de ódio e crueldade. 
Mas nem tudo se obliterou na sua memória; a alma dentro dele manifesta o seu poder 
no amor aos filhos, ao seu camarada ou amigo ou num súbito impulso em sacrificar a sua 
vida pela família ou pela tribo. 
O selvagem entra, finalmente no caminho da civilização. 
Por sua vez, os legisladores ensinaram-no a lavrar a terra, originando entre esses 
homens primitivos hábitos e cerimônias que os levam a constituir-se em tribos. Regulam o 
direito de propriedade, as penalidades por injúrias feitas ou recebidas e os meios de curar 
as doenças. 
Como resultado da obra conjuntados legisladores e dos instrutores religiosos, produz-
se um intercâmbio de serviços entre os selvagens, com alguns intervalos de paz, a espaçar 
as disputas e os combates. Aqui e além uma alma começa a cantar, de si e dos outros, a 
respeito dos seus labores, alegrias e prazeres; outra molda o barro, ou grava na madeira ou 
no osso; outra ainda, exprime os seus sentimentos na dança. Passo a passo, o anjo começa 
a pôr um freio ao diabo associado à matéria de que o corpo é feito. 
Assim a civilização começa e continua. Confrontemos agora o quadro da civilização 
atual com o do passado. Quem sabe quantas raças do gênero humano têm surgido no 
mundo? Só conhecemos aquelas que ainda hoje existem; das do passado, só se encontram 
aqui e além pedaços de esqueletos sepultados no seio da terra. A Ciência diz-nos que o 
globo arrefeceu há 2.000 milhões de anos, para se converter na terra viável à humanidade, 
de modo que pode afirmar-se que o homem existe para além de um milhão de anos, pelo 
menos. 
Os ensinamentos Teosóficos dizem-nos, porém, que a história do homem na terra, 
28 
 
começou há vários milhões de anos. Se considerarmos todos os fatos acumulados no 
passado, como é que esses fatos se nos apresentam? Uma das analogias com que os 
podemos identificar é a ideia das classes numa escola. Um tipo primitivo de civilização é 
comparável à aula infantil; outro representa já uma classe mais elevada. Podemos agrupar 
as culturas de vários povos, por classes em ordem ascendente. 
Se depois disto, aceitarmos a hipótese teosófica de que a lei de progresso para as almas 
é o processo da reencarnação, veremos algumas as das razões por que existe a civilização e 
porque tem ela vários graus de desenvolvimento, desde o selvagem ao homem civilizado. A 
civilização é a escola da alma, onde ela vai aprender as lições que o Logos lhe prepara. 
Ao passo que a alma entra no processo da reencarnação, uma outra lei intervém --: a 
Lei do Karma. É a lei de causa e efeito. é fácil de compreender como ela opera na esfera 
moral: «Semeia um ato e colherás um hábito; semeia um hábito e colherás um caráter; 
semeia um caráter e colherás um destino». Tudo o que o homem produz em ação, 
pensamento ou sentimento, é sempre seguido da correspondente realização. É o Karma 
quem decreta que, se uma pessoa injuria outra, tem de lhe pagar em benefícios a dívida 
contraída. 
Ofensor e ofendido ficam ligados pelo Karma e terão de se encontrar novamente, 
ainda que muitas vidas e mortes se interponham entre a dívida e o seu pagamento. 
Identicamente, todo o amor constitui um laço: aquele que ama e o que é amado têm de 
juntar-se de novo, auxiliando-se mutuamente para uma vida mais nobre. O indivíduo contrai 
laços Kármicos com a esposa, filhos e parentes; com amigos e inimigos e com a sua tribo 
como um todo. Há Karma individual, atuando entre indivíduos; mas há também um Karma 
coletivo, de tribo ou nação como um todo, consoante o bem ou o mal que como um todo 
praticam. 
O indivíduo renasce, vida após vida; ele semeia, colhe e torna a semear, tanto bons 
como maus pensamentos, emoções boas e más, boas ou más ações. Porém, os indivíduos 
que formam uma coletividade renascem igualmente como coletividade. Uma nação que 
deixa de existir, não se dissipa como o nevoeiro; séculos mais tarde essa nação renasce 
como outro povo ou raça, mas composta das mesmas almas que criaram laços Kármicos 
entre si e com a nação. Porque os indivíduos não viajam sós mas em Grupos. Felizes 
seremos, se pudermos ter sempre conosco as pessoas que amamos e bem longe de nós 
aqueles que nos odeiem, embora tanto amigos como inimigos marchem avante na 
realização da sua Divindade. 
Comecei por perguntar: Que vai por esse mundo? ...mas o que é o mundo de hoje?... 
Um bem triste mundo, na verdade! 
Enquanto escrevia estas palavras, no mês de Novembro, ia lendo o que se passava na 
China. Em Junho último, estava no Japão e em Julho na China e nas cidades como Shangai, 
Cantão, Hangchow, Soochow, onde centenas de pessoas indefesas foram mortas por 
bombas. Tenho, pois, razões para saber, por uma realidade vivida, o que é o mundo de 
hoje. 
Mas as verdades Teosóficas dão-me conforto e iluminação. Em primeiro lugar, cada 
homem mulher ou criança massacrada, cada soldado de qualquer dos partidos, que 
sacrificou a vida pela grandeza da sua nação, tem que voltar a vida, não uma mas muitas 
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vezes. Cada oportunidade de ventura que perderem deve ir de novo ao seu encontro. E 
então, quando contemplo os ciúmes das nações, o seu completo desprezo pela 
humanidade, quando sob a pressão do medo ou do imperialismo elas executam 
inacreditáveis brutalidades, eu sei que há uma Lei do Karma que não sofre contradições. 
Quem semeia ventos colhe tempestades. A Justiça existe sempre, ainda que leve séculos a 
produzir os seus efeitos Kármicos. 
Um provérbio espanhol diz «Cada cual es hijo de sus obras». Cada qual é filho das suas 
obras; isto é verdade, tanto para cada um de nós como para as próprias nações. A Teosofia 
ensina-nos a maneira como, na próxima vez em que tivermos de ser filhos das nossas obras, 
podemos, pelo menos, ser umas lindas crianças, em vez de disformes bebes. 
Assim como, para cada um de nós, a Vontade do Logos atua segundo um plano para a 
nossa perfeição, assim para cada povo ou nação, existe m plano semelhante. Disse Mazzini 
que Deus tinha gravada na fronte de cada nação uma palavra. Muitas idades terão de 
decorrer antes que uma nação, nas suas múltiplas encarnações, descubra finalmente qual a 
palavra de amor e de beleza que terá de pronunciar, como contribuição ao divino esquema. 
Mas Deus é paciente e espera através das idades, que compreendamos o Seu Plano e 
rejubilemos com Ele em dar-lhe plena realização. 
Desde o primeiro dia - já lá vão milhões de anos - em que as almas dos homens 
apareceram em humanas formas, o Logos tem trabalhado em construir a civilização, 
encaminhando-a passo a passo para a completa perfeição. Ele envia-nos fundadores de 
religiões, legisladores, dirigentes, poetas e cantores. Foi a Sua Vontade que organizou entre 
os homens as suas várias ocupações. Uma ideia radical domina cada ato do Logos: 
despertar no homem a vontade de realizar a sua verdadeira natureza, como fragmento do 
Divino. Todas as formas de cultura, todas as atividades que o gênero humano tenha criado 
em religião, ciência, artes, comércio ou administração têm sido guiadas. O Logos é 
Omnipotente, mas não exerce a sua Omnipotência sobre nós. Ele podia forçar-nos a aceitar 
o Seu Plano, como cegos instrumentos da Sua Vontade. Mas não o faz; deixa-nos a 
liberdade de seguir as nossas inclinações. 
Mas constantemente apela para as nossas intuições, afim de trabalharmos com Ele, 
por intermédio dos instrutores que nos envia. Mas no estado presente da nossa evolução 
compreendemos mal a Sua Vontade e menos ainda cuidamos de obedecer-lhe. 
É por isso que o homem, através das idades, tem contrafeito nas suas obras a Vontade 
Divina. Mas, pouco a pouco, à medida que mais almas se tornem cultas e espirituais, 
aumentará o número daqueles que cooperam com Deus. Faz parte do Seu Plano que todos 
nós, um dia colaboremos com Ele; então, a Sua Vontade será feita na terra, em qualquer 
instituição humana, como hoje é feita no Céu. 
A humanidade está agora num estágio em que grandes benefícios lhe podem advir, se 
as melhores, entre as nações, quiserem compreender-se e cooperar. Depois de muitos 
séculos de projetos, o Plano de Logos tem em vista formar uma organização mundial, 
agrupando todas as nações numa administração única, tal como está delineada na 
Sociedade das Nações. O plano do Logos ligou todas as nações pela ciência: o telégrafo, o 
telefone, a telefonia sem fios, as máquinas de imprimir e milhares de outros 
desenvolvimentos da civilização têm aparecido porque assim estava planejado. 
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O mundo inteiro está hoje ligado de maneira a tornar-se, queiram ou não queiram as 
nações, uma entidade econômica, cuja

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