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SEMINÁRIO DOS RATOS, LYGIA FAGUNDES TELLES

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# 82 SEMINÁRIO DOS RATOS, LYGIA FAGUNDES TELLES
Oi ouvintes! Aqui é o Literatura Oral, podcast de leitura comentada e de sugestões literárias. Eu sou Sabrina Siqueira.
Fora Bolsonaro, como é que vocês estão?
No último episódio, terminei a leitura de partes do romance O crime do padre Amaro, de Eça de Queiroz. Hoje vou ler o conto “Seminário dos Ratos”, de Lygia Fagundes Telles, que faleceu há poucos dias, em 3 de abril, com 98 anos. Depois que a Lygia morreu, tem sido divulgado que ela foi registrada com 5 anos de diferença, e teria, portanto, 103 anos. Tudo bem, só não vamos esquecer que a obra literária dela é mais importante que a idade, tá?
A obra da Lygia não está em domínio público, o que só acontece 71 anos depois da morte do autor. Eu vou ler como uma homenagem à autora e com o intuito de incentivar a leitura e ajudar quem estuda esse conto. Se vocês estiverem ouvindo e tiver um corte no episódio, é porque eu tive problemas com os direitos autorais e precisei cortar depois de o episódio pronto. Mas tomara que não. 
Lygia nasceu em 1923, ou em 1918, e viveu em São Paulo, onde faleceu poucos dias antes do aniversário, que seria em 19 de abril. Estudou Direito e começou a publicar quando ainda estava na faculdade. Além de contos, Lygia escreveu os romances Ciranda de pedra, Verão no aquário e As meninas, entre outros. Recebeu vários prêmios literários. 
Independente do falecimento recente da autora, eu já queria fazer um episódio sobre Lygia, porque ela foi uma autora engajada, que escreveu literatura atenta à política, à sociedade brasileira, e isso me interessa. O conto “Seminário dos Ratos” é o último de um livro de 13 contos, que leva esse mesmo título, Seminário dos ratos, publicado em 1977. Um ano antes, 1976, Lygia fez parte de uma comissão de escritores que foi a Brasília entregar ao ministro da justiça um documento chamado o “Manifesto dos Mil”, que foi uma declaração contra a censura assinada por intelectuais brasileiros. Isso mostra como Lygia era atenta e participava do cenário político, se posicionava contra a censura. 
Quando Seminário dos ratos é publicado, o Brasil está sob ditadura militar. É o governo do general Ernesto Geisel e o período ditatorial parecia arrefecer, já não se sustentava. As mentiras que contavam pro povo de que a economia ia bem, contrastando com a miséria do povo, a censura das notícias nos jornais contrastando com gente que desaparecia por se posicionar contra a ditadura, não dava mais pra esconder que era um governo autoritário e ineficiente do ponto de vista de alavancar a economia. Até hoje tem gente que acredita que durante a ditadura militar não tinha corrupção, não acontecia nada errado. Mas o que não tinha era quem sobrevivesse pra publicar as notícias de corrupção, porque tudo era censurado e quem insistia em mostrar a verdade da crise brasileira era imediatamente preso, torturado e morto, sendo que muitos corpos desaparecidos durante a ditadura não foram encontrados. 
Dois anos depois da publicação de Seminário dos ratos, em 1979, acontece a lei da anistia, um perdão para torturados e torturadores. Imagina se os torturados precisam de perdão! Com isso, muitos intelectuais e artistas brasileiros que estavam no exílio pra não serem mortos voltam ao Brasil. Essa lei perdoa os torturadores, deixa tudo que aconteceu por isso mesmo, e pode ter sido a causa de muitos problemas que a gente vive hoje, porque ficou a ideia de que os governantes podem fazer tudo e nunca são punidos. 
Sobre o título do conto, “Seminário dos ratos”, será que se refere a um seminário a respeito dos ratos ou é um seminário em que participam os ratos, feito por ratos? O conto inicia com uma epígrafe do poeta Carlos Drummond de Andrade, amigo de Lygia. “Que século, meu Deus! Exclamaram os ratos e começaram a roer o edifício”. Drummond viveu entre 1902 e 1987. Nesse fragmento, ratos reclamam do século em que eles estão, provavelmente, e se põem a roer um edifício. Se a gente considerar o período em que viveu o poeta Drummond e o ano em que o livro de contos da Lygia foi publicado, esse século mencionado na epígrafe pode ser o século XX. A construção de prédios, de arranha-céus foi uma marca do século XX. Então os ratos da epígrafe estão reclamando do século e começam a agir para derrubar roendo um dos símbolos desse século, que é um edifício. Como que pra colocar abaixo algo que eles julgam que é ruim. Como se os ratos tivessem que trabalhar roendo pra arrumar uma coisa malfeita pelos humanos. Vamos conferir se a ideia do conto combina ou discorda da epígrafe.
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“Seminário dos ratos” é o décimo terceiro conto do livro homônimo de Lygia Fagundes Telles, publicado em 1977, durante a ditadura civil/militar brasileira, portanto. A gente já viu que a escritora foi engajada e participou de um ato contra a censura um ano antes dessa publicação. O conto é em terceira pessoa, tem um narrador nos contando tudo, mas tem bastante diálogo também. 
A narrativa se desenrola em um sítio, onde vai acontecer o VII seminário dos ratos. Estão ali as autoridades convidadas a participar do seminário e as personagens principais, o RP, relações públicas, e o secretário. Além dos funcionários, cozinheiros. 
As personagens principais não têm nomes, são referidos pelos seus cargos. São o chefe das relações públicas e o secretário do bem-estar público e privado. Com isso, há uma despersonalização dessas personagens, que ficam representadas pelas suas funções, e não pela sua humanidade. 
Uma outra personagem, também referida pelo cargo, é o diretor das classes conservadoras armadas e desarmadas. Assim como o secretário, essa personagem exerce um cargo que combina grupos que deveriam ser opostos, bem-estar público e bem-estar privado, classe conservadora armada e classe conservadora desarmada. Mas são cargos exercidos por uma pessoa só, o que poderia indicar que então grupos com interesses opostos são tratados como um só. Como é que é possível que a mesma pessoa represente o público e o privado? E as classes armadas e as desarmadas? Parece então que esses cargos não servem pra nada, acabam por não representar ninguém, já que se propõem representar interesses antagônicos.
O parágrafo que apresenta o secretário do bem-estar público e privado é cheio de possibilidades de interpretação. Quando o Relações públicas chega, ele está tomando um copo de leite. Um adulto em cargo de poder bebendo leite puro pode ser interpretado como um ato racista. O beber leite puro é um símbolo de supremacia branca sobre grupos minoritários, pelo menos nos últimos tempos vem sendo considerado assim. No cinema, isso apareceu algumas vezes. Em Laranja mecânica, filme de 1971 de Stanley Kubrick, a gangue arruaceira formada por homens brancos bebe leite em um bar. Em Bastardos Inglórios, de 2009, bem mais recente então, do diretor Quentin Tarantino, a personagem coronel Hans Landa, que é um nazista, também pede um copo de leite. Em 2017, o grupo de extrema-direita dos EUA, o alt-right, invadiu uma transmissão online bebendo galões de leite. Ou seja, aparecer bebendo leite puro vem sendo associado à extrema direita e à ideia de supremacia branca. Aqui no Brasil, em 28 de maio de 2021, Bolsonaro bebeu leite em uma live, com o presidente da Caixa Econômica Federal e o Secretário de Agricultura e Pesca. Ele disse depois que era em função do Dia Internacional do Leite, em 1º de junho, mas como ele já se mostrou várias vezes racista e preconceituoso, e é um político de direita, foi comentado que poderia estar imitando esses grupos americanos. 
Só que o conto da Lygia é de 1977 e não sei se essa associação com a extrema direita já estava firmada, se já era um hábito nazista nas décadas de 1930 e 1940 aparecer bebendo leite para exaltar a cor branca ou algo assim. Outra interpretação possível para essa personagem do conto, o secretário do bem-estar, estar bebendo leite seria uma infantilidade ou fragilidade escondida sob a aparência de autoridade. De fato, o secretárioaparece numa posição de fragilidade, porque está com uma doença chamada gota em um pé e impossibilitado de calçar justamente o pé esquerdo. Mais adiante no conto ele se refere aos outros como sendo os de esquerda, então sabemos que eles, que estão no poder, são representantes da direita. E o pé direito aparece bem apresentável, dentro do sapato. Mas o pé esquerdo está inchado pela doença, não cabe no sapato e nesse pé ele tem que usar um chinelo inconveniente. 
Logo mais vem um comentário dessa personagem de que as aparências são importantes, de que se deve esconder os chinelos, numa alusão a esconder o que é feio, o que está errado. Mais uma informação do aspecto do secretário é que ele tem mãos acetinadas, o que pode sugerir que ele não trabalha muito, que ocupa um cargo importante, mas na verdade não faz nada. O secretário passa todo tempo trocando o peso de um lado para outro, demonstrando que está desconfortável. Desconfortável na posição de poder, talvez. É secretário do bem-estar e parece desconhecer o que é bem-estar. E ele tem pressa em saber dos fatos. O tempo todo diz pro RP “prossiga, adiante, prossiga”. E pra tudo que ele ouve, responde que “não tem importância”. Pra esse governante, o povo é uma abstração que só se transforma em realidade quando os ratos expulsam os favelados e a pobreza fica espalhada pela cidade. Quer dizer, o povo é uma abstração no sentido de que em condições ideais fica fora da vista das autoridades, não incomoda, não é preciso lembrar que existe. 
Um dos participantes do seminário é o assessor da presidência da RATESP, uma sigla que parece uma repartição designada para tratar do problema dos ratos, ou seria uma repartição pertencente aos ratos, e pelo final SP fica a sugestão de que seria de São Paulo, porque é assim que terminam as siglas dos órgãos públicos desse Estado. Essa sigla e os nomes dos cargos das personagens conferem à narrativa um tom burocrático, situa o conto num universo de repartição pública, subdivisão de função e muito protocolo. É interessante que uma das personagens represente classes conservadoras armadas (e desarmadas também). Então vejam como há muito as classes conservadoras e direitistas estão vinculadas a armamentos. Se a gente ler o conto como uma metáfora para a situação que o Brasil vivia em 1977, era a direita que estava no poder, eram militares, e são um grupo que adora armas. E esse assessor fica na suíte cinzenta, porque o RP dividiu as pessoas por cores que ele achou que cada um combina. E o das armas ele entende que combina com cinza. Por que será? Por um momento, no diálogo com o secretário, o RP confunde os conservadores das armas com o nome científico dos ratos. E o diretor das classes conservadoras armadas e desarmadas usa chambre verde, que é a cor do exército. Então o ambiente do cara que representa o interesse das armas é cinza, que é a cor que fica depois do fogo, depois da destruição, a cor da morte. E a roupa dele é da cor do exército. 
Aliás, o seminário trata do problema que eles devem resolver, que são ratos. Mas será que são os roedores ou é uma metáfora para outro problema que estava infestando a cidade? Por exemplo, será que eles chamam os pobres, o povo, de ratos?
A presença de americanos no seminário, mais de um, pode ser uma referência à presença e à influência da política americana no Brasil durante os anos de governo militar. O que de certa forma é uma marca de governos de direita. Bolsonaro, enquanto era Trump o presidente dos EUA, só faltou doar todo o país e nós de brinde pros americanos. 
Antes de responder, o relações públicas sempre fala um “bueno”. Ele começa as frases com essa palavra. Que será que isso quer dizer? Será alguma referência a países de língua espanhola? Aqui no RS usavam essa interjeição, bueno, mais antigamente. E durante a ditadura, quatro presidentes foram militares gaúchos, incluindo Geisel, que era o presidente à época da escrita do conto. Será que isso era um vício de linguagem do Geisel que a Lygia usou?
O seminário dos ratos acontece em uma casa de campo totalmente isolada e que precisou de reformas caras. O que será que isso nos diz? Será alguma referência a obras inúteis e desvios de verbas no Brasil, se a gente tomar o país do conto como metáfora? Representa o distanciamento das autoridades dos problemas do povo. E o RP menciona que os jornalistas já estão falando de tantos edifícios em disponibilidade, que até acontecem muitas implosões. Esse comentário sugere crescimento urbano desordenado, falta de organização do espaço urbano. E dialoga com a epígrafe, em que ratos lamentam os acontecimentos do século e se põem a roer um edifício. Com o comentário do que disse um jornalista, o secretário adivinha que ele só pode ser de esquerda, assim sabemos que quem é oposição é de esquerda e, portanto, o governo do conto é de direita. 
Eles já estão no VII seminário, o que significa que a população de ratos, que eles chamam no conto “ratal” já se multiplicou. E onde predomina essa população ratal é nas favelas. Caso o conto seja uma metáfora para a situação política do Brasil, e os ratos não fossem bichos, o que poderiam ser? Na época da escrita dessa narrativa, quem eram os indesejados, que poderiam ser tratados como ratos pelos governantes, no sentido de que era quem o governo gostaria de exterminar? Era e ainda é, né? Quando o governo negligencia vacinas, surrupia da educação e da saúde, são os pobres que estão sendo exterminados. Juntando todas as informações que a gente foi vendo até aqui, do leite podendo ser alusão à supremacia branca, da direita no poder, será que esses seres indesejáveis que precisam ser exterminados seriam os pobres, ou os que se opõem ao governo?
O secretário desconfia dos americanos e acha que onde eles estão tem sempre um gravador envolvido. Isso pode ser uma alusão ao escândalo Watergate, que aconteceu em 1972 e culminou na renúncia do presidente americano Richard Nixon em 1974. Cinco homens foram presos tentando invadir a sede do partido democrata no intuito de implantar escutas telefônicas e Nixon sabia dessa tentativa. O partido democrata era oposição ao presidente Nixon, que era republicano. 
No conto, tem as ações do secretário e do RP para manter os jornalistas longe do evento e passar informações falsas. Mentindo pra imprensa que os ratos já se encontram sob controle, sendo que eles nem estão mais no foco do problema, estão afastados na casa de campo, não teriam como ter colocado nenhuma ação discutida em prática, e o seminário nem tinha começado. Bem atual essa distribuição de informações falsas pelo governo como forma de se beneficiar, né? Só que bem nessa hora o secretário começa a escutar barulhos, que são os ratos invadindo a casa de campo. O secretário se gaba de ter um ouvido muito sensível a anormalidades, que teria sido o primeiro a pressentir que o inimigo estava próximo na Revolução de 32 e no Golpe de 64. 
No Brasil, em julho de 1932 aconteceu a Revolução Constitucionalista, um movimento iniciado pelo Estado de São Paulo e contra o autoritarismo do governo de Getúlio Vargas. Conforme o secretário fala, ele estava ao lado não de quem invade, porque ele escuta o invasor se aproximando. Logo, entendendo o conto como uma metáfora da história brasileira, em 32 o secretário era parte do governo ditatorial. E é interessante que sendo parte de quem ocupa o governo nas diferentes ditaduras, ele faça referência a 64 como golpe, porque os participantes do golpe civil/militar que destitui João Goulart da presidência em 1964 chamam de revolução. Nisso, o chefe das Relações Públicas tem um olhar de suspeita pra uma estatueta, e é uma estátua de uma mulher de olhos vendados empunhando uma espada e uma balança. Ou seja, o RP do governo de direita olha com desconfiança para a justiça. 
Os dois homens conversam sobre o pé doente do secretário, que explica que é gota, uma doença. O RP cantarola o refrão de Gota d’água, música de Chico Buarque, de 1975, sobre a exaustão do povo com a arbitrariedade da ditadura, a violência, as pessoas sendo presas,desaparecendo. 
O secretário sugere que a solução para os ratos pode ser cada casa ter um gato, mas o RP explica que há tempos a população já comeu todos os gatos. O que nos diz da condição de miséria em que vivia aquele povo. Enquanto isso, as autoridades do seminário têm lagosta pra comer no jantar. Com vinho chileno, da safra de Pinochet, outro ditador militar. 
Quando os ratos invadem a casa, o RP fica absorto olhando o chão e vê o chinelo que ficava no pé doente do secretário, o pé esquerdo, passar rápido com a sola pra cima, como carregado por alguém que usa o chinelo como escudo. Mas se os ratos são grandes, a ponto de terem parecido ao cozinheiro um homem vestido de rato, quem poderia estar movimentando o chinelo? 
O conto também tem uma referência à luminosidade. Enquanto o RP e o secretário conversam, vai ficando escuro e é mencionado um acender de luzes. Quando a casa é sacudida pela invasão, as luzes se apagam, mas quando o RP finalmente consegue sair da casa e olha pra trás, a casa está toda iluminada. Como um apagar de luzes de um ato do cenário político para acender as luzes com outro ato, outro momento iniciando. O que essa mudança na iluminação pode significar? Se a gente pensar que o RP foi o único membro daquele governo de direita que restou, quando ele sai da casa, o ambiente volta a se iluminar, porque a ditadura é a escuridão e foi embora com ele, será que pode ser isso? 
Durante a confusão, o RP se esconde dos ratos dentro da geladeira e deixa um dedo de fora, pra que a porta não batesse. É curioso que esse integrante de um governo autoritário tenha usado um dedo pra se defender de ficar preso, porque geralmente os autoritários usam o dedo indicador numa atitude de prepotência, pra mostrar quem manda, pra fazer executar alguma ordem. E os militares usam os dedos nas saudações que inventam, nas pantomimas que os militares gostam. São as continências, né, que eles chamam? Os nazistas também tinham uma saudação com os dedos e um gritinho. Vira e mexe grupos neonazi e extremistas inventam um gesto secreto com os dedinhos. Então os dedos são importantes nesse contexto de autoritarismo. E um rato vem e morde o dedo do RP, fazendo com ele tenha que substituir o dedo pela gravata, aí um símbolo do universo executivo e masculino, dos negócios, do capital. E porque essa personagem se esconde na geladeira? Lembra que o secretário fala antes que ele tem pretensões políticas, quer se candidatar e o secretário já tava dando umas dicas pra ele? Pois bem, o que a gente coloca na geladeira? Não é o que vai usar depois, pra não estragar, o que vai servir pra mais tarde? Com isso, o conto nos deixa uma sugestão de que sempre haverá uma alternância no poder, sai direita, vem esquerda, volta direita repaginada depois de um tempo na geladeira. Quando ele sai da geladeira, alguém está na sala de debates, não sabemos se os sobreviventes, se os ratos que invadiram, mas tem um murmúrio. 
Os ratos do conto, como os da epígrafe, devoram tudo. E devoram com qual finalidade? Pra recomeçar? 
José Castello, que escreveu o posfácio de Seminário dos ratos na edição da Companhia das Letras, diz que fazer relação dos contos desse livro com o período ditatorial é muito pobre, empobrece a literatura de Lygia, porque os textos são muito mais que isso. Pra usar uma fala do RP do conto, eu digo “bueno”, mas a gente tem que começar a análise de algum lugar. E no momento é essa relação que me ocorre. Talvez daqui a um tempo eu releia o conto e consiga enxergar mais que a relação com o momento político e social que o Brasil passava, por hora é a relação que consigo fazer. Vocês conseguem ver alguma outra relação, de que outra forma a gente pode interpretar? Castello diz também que as histórias da Lygia devem ser lidas pelas entrelinhas, não só pelo que dizem, mas pelo que sugerem. Ele explica que a narrativa de Lygia sugere que as posições no mundo não são estáveis, os papéis se invertem. Daí a invertida de posição dos protagonistas desse conto, que começam mandando, comandando, e terminam atacados, fugindo. Mas um deles sobrevive, talvez para retornar depois, numa lembrança ao leitor de que tudo muda, tudo está em movimento. 
Que conto! Quase cada frase permite alguma interpretação! Nada é excesso nessa narrativa. Esse conto me lembrou do romance Os ratos, do autor gaúcho Dyonélio Machado, publicado em 1935. Também escrito durante um período ditatorial, portanto, na era Vargas, e também enfocando a condição do povo explorado e miserável. Mas os ratos do Dyonélio também merecem um episódio só pra eles. 
Neste episódio, li o conto “Seminário dos ratos”, que está no livro de mesmo título, da escritora Lygia Fagundes Telles. Espero que vocês tenham gostado e sentido vontade de ler também os outros contos do livro. Por hoje, fico por aqui. Fiquem bem, cuidem-se e até o próximo episódio do Literatura Oral!

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