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Relação Jurídica: Conceito, Elementos e Espécies

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO
RELAÇÃO JURÍDICA
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Olá!
Agora você vai aprender sobre a relação jurídica, seus elementos constitutivos e suas espécies. Tente se
concentrar, respirar e vamos lá. Está preparado?
1 Relação Jurídica: conceito
O que você deve aprender em primeiro lugar é que a relação jurídica faz parte do elenco dos conceitos jurídicos
fundamentais. Além disso, a relação jurídica é elemento-chave para conhecer a Teoria Geral do Direito, em que
se estudam fatos sociais, as normas jurídicas, os sujeitos do direito, os direitos subjetivos e deveres jurídicos.
Os doutrinadores determinam diversos conceitos para a relação jurídica. Por exemplo, Savigny, no século XIX,
definiu relação jurídica como “vínculo entre pessoas, em virtude do qual uma delas pode pretender algo a que a
outra está obrigada”. Isto é, toda relação jurídica tem elemento material que é constituído pela relação social e
outro elemento formal, que é a determinação jurídica do fato por normas.
Tal pensamento de Savigny também é acompanhado por Miguel Reale, que diz que “Quando uma relação de
homem para homem se subsume ao modelo normativo instaurado pelo legislador, essa realidade concreta é
reconhecida como sendo relação jurídica”.
Já Hans Kelsen vai de encontro aos conceitos acima definidos. Ele acredita que a relação jurídica não se constitui
a partir do vínculo entre indivíduos, mas sim de fatos que ligam os indivíduos, por exemplo, credor e devedor
que estão enlaçados por uma determinada conduta, um determinado fato e, após a exclusão deste, não há mais
vínculo e não há mais relação jurídica.
Conseguiu entender o conceito de relação jurídica? Se você entendeu, vamos agora analisar como essa relação se
forma.
As relações jurídicas se formam pela aplicação de normas jurídicas aos fatos sociais, mas, preste atenção, não são
todos os fatos sociais que se tornam relações jurídicas. Se algum fato ocorre por conta da aplicação do Direito,
está formada e caracterizada a relação jurídica.
Acredito que, com este exemplo, você vai conseguir entender melhor a formação da relação jurídica. Por
exemplo, a celebração de um contrato de venda e compra entre A e B. Até o cumprimento do contrato, A e B
estão em uma relação jurídica que pode ser modificada, extinguida, questionada pelo Poder Judiciário em busca
do direito de A e/ou de B. Ficou mais fácil, né?
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Como você viu acima, não são todos os fatos sociais que se tornam relações jurídicas. E então você me pergunta:
quais as relações, então, que devem ser consideradas como jurídicas? Para responder a essa ótima pergunta,
devemos nos basear em dois enfoques:
• O primeiro enfoque é pela concepção individualista, que afirma que as relações jurídicas seriam relações 
sociais postas por si mesmas, apenas reconhecidas pelo Estado com a finalidade de protegê-las.
• O segundo enfoque é pela concepção operacional, em que não se atribui mais ao Estado a mera função 
de reconhecer e amparar algo já estabelecido. Ao contrário, o Estado, baseado nos dados do processo 
social, instaura modelos jurídicos que condicionam e orientam o constituir-se das relações jurídicas.
Dois requisitos são, portanto, necessários para que haja uma relação jurídica. Em primeiro lugar, uma relação
intersubjetiva, ou seja, um vínculo entre duas ou mais pessoas. Em segundo lugar, que esse vínculo corresponda
a uma hipótese normativa, de tal maneira que derivem consequências obrigatórias no plano da experiência.
Agora que você já entendeu sobre o conceito e a formação da relação jurídica, vamos analisar os elementos
constitutivos e as suas espécies para concluirmos o seu entendimento nesse tópico da matéria.
2 Elementos constitutivos da relação jurídica
Chegamos à parte dos elementos constitutivos da relação jurídica.
A doutrina comumente entende haver em qualquer relação jurídica quatro elementos estruturais, a saber:
sujeitos ativos e passivos, objeto, vínculo de atributividade e garantia.
Alguns doutrinadores colocam os fatos jurídicos como elementos constitutivos da relação jurídica, enquanto
outros doutrinadores acreditam que fatos jurídicos são pressupostos de existência da relação jurídica e não
elementos.
Vamos analisar cada elemento, inclusive os fatos e as normas jurídicas:
a) : são as pessoas naturais ou jurídicas ou entes despersonalizados entre os quaisSujeitos da relação jurídica
se estabelece uma ligação, um liame. É contemplado pela alteridade, ou seja, a relação de indivíduo para
indivíduo, em que uma das partes é titular de direito e a outra, titular de dever.
• Sujeito ativo – é o titular ou o beneficiário principal da relação jurídica que ocupa a situação jurídica 
ativa, também chamado de agente portador de direito subjetivo, que deve/pode exigir o cumprimento de 
uma prestação do sujeito passivo.
• Sujeito passivo – o devedor da prestação, também chamado de possuidor de dever jurídico, que possui a 
obrigação de realizar uma conduta ou uma prestação em favor do sujeito ativo.
É preciso, ainda, verificar a capacidade dos sujeitos, isto é, a capacidade de fato e de direito, que é aquela que
pode ser exercida pessoalmente tanto ativa quanto passivamente, e a capacidade apenas de direito, que é aquela
em que o titular não pode responder pessoalmente, necessitando da participação de um terceiro, por exemplo, o
menor impúbere que deve ser representado pelo seu guardião.
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b) : entende-se como sendo um bem sobre o qual recai o interesse dos sujeitos da relação jurídica e é porObjeto
esse objeto que o vínculo de atributividade irá se pautar para exigir aquilo que fora combinado entre as partes
ou aquilo que é de direito de umas das partes e de dever da outra parte por lei. E é dependendo do valor
pecuniário ou não do bem que a relação poderá ser patrimonial (carro, apartamento, casa, computador, entre
outros) ou não patrimonial (a vida, o nome, a honra, a liberdade, por exemplo). Além disso, há o objeto mediato
que é o próprio bem jurídico em questão, por exemplo, a chave. E o objeto imediato que é a prestação, ou seja, a
obrigação de dar/entregar, de fazer ou de não fazer, por exemplo, obrigação de dar a chave para o inquilino.
A obrigação de fazer e a de dar/entregar são obrigações positivas, em que o sujeito passivo terá de dar algo para
o sujeito ativo ou fazer algo que deixou de fazer sem justificativas.
A obrigação de não fazer é obrigação negativa, em que o sujeito passivo deve se abster de fazer algo para o
sujeito ativo.
c) : é o vínculo que confere a cada parte o poder/direito de exigir algo de outrem, porVínculo de atributividade
exemplo, o contrato de venda e compra de um carro, em que o vendedor deverá entregar o carro ao comprador
e, ao mesmo tempo, o comprador deverá pagar quantia pelo carro que está sendo adquirido. Ou seja, o vínculo de
atributividade está intimamente ligado ao objeto da relação jurídica, sendo, com outras palavras, aquele o poder
de exigir este.
d) : entende-se um conjunto de providências coercitivas aptas a garantir os efeitos da relação jurídicaGarantia
caso ela seja violada ou ameaçada.
e) : como dito acima e para você relembrar, para alguns doutrinadores, os fatos e atosFatos e atos jurídicos
jurídicos são elementos constitutivos da relação jurídica e, para outros, são pressupostos da existência da
relação jurídica. Assim, os fatos jurídicos são os acontecimentos naturais ou decorrentes da vontade humana
previstos por uma norma jurídica (atos jurídicos). No dizer de Marcos Bernardes de Mello, o “fato, enquanto
apenas fato, e a norma jurídica, enquanto não se realizarem seus pressupostos de incidência (suporte fático), não
têm qualquer efeito vinculante relativamente aos homens”.
Em relação ao ato jurídico, pode ser lícito, aquele que preenche os requisitos legais exigidos pelas normas
jurídicas, por exemplo, a celebração do casamento civil, e ilícito, que são atos praticados pela infração de normas
legais, por exemplo, homicídio.
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Paraesses atos, existe a responsabilidade subjetiva e a objetiva. A responsabilidade subjetiva pode ser dolosa,
com intenção consciente do ato praticado, ou culposa, sem a intenção de praticar o ato, mas que tenha praticado
seja pela negligência (causou dano por uma omissão), imprudência (causou dano por uma ação) ou imperícia
(profissional que não age com o devido zelo da sua profissão).
A responsabilidade objetiva, por sua vez, independe da verificação de ocorrência de dolo ou culpa, mas é a
responsabilidade de indenizar inerente a uma pessoa devido à relação jurídica formada com outra.
Além disso, nos atos ilícitos, há o abuso de direito, que nada mais é que o excesso da prática de um direito,
resultando em dano a outrem.
Por fim, você tem de ter em mente que esses elementos constitutivos, ou seja, estruturais moldam a relação
jurídica.
3 Espécies de relações jurídicas
Há tantos tipos de relações jurídicas quantas possam ser as variações dos fatos sociais e de sua disciplina
normativa. O que é que nos diz se uma relação jurídica é civil, ou penal, ou empresarial? Às vezes, basta a mera
referência à norma para, por meio de sua adequação ao fato, identificar-se a natureza da relação.
Nem sempre basta a forma para caracterizar as relações, porquanto será sempre necessário o exame do fato
social, nas suas notas próprias e peculiares. Em resumo, a caracterização de uma relação dependerá tanto da
norma aplicável à espécie, ou seja, à espécie do caso em exame, como da natureza do fato social em si e do fim
que se tem em vista com a prática do ato.
Vamos começar a analisar as espécies, então.
Saiba mais
A relação jurídica pode ser de Direito Público ou de Direito Privado. Aquela é denominada
também de relação de subordinação, já que o Estado participa na relação como sujeito. E esta é
denominada, também, de coordenação, quando envolve a relação jurídica entre particulares.
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No que diz respeito às relações de direito privado, podemos separar as relações jurídicas em pessoais,
obrigacionais e reais.
A relação obrigacional é constituída, no mínimo, por duas partes – credor e devedor – e terá como objeto uma
prestação – ação ou omissão. Dessa forma, o devedor possui um débito com o credor e deverá adimplir a
obrigação perante o credor, fornecendo a prestação devida para a garantia do adimplemento e cumprimento fiel
da responsabilidade para sua posterior extinção. Ou seja, para toda obrigação existe uma prestação a ser exigida
pelo credor e cumprida pelo devedor.
O direito pessoal faz parte do Direito das Obrigações e, ao contrário do direito real, o direito pessoal recai sobre
as pessoas envolvidas em uma lide/um conflito. Assim, o direito pessoal atua necessariamente sobre uma
pessoa, em relação entre pessoas.
O direito real é direito entre pessoas sobre coisas, isto é, o direito real é aquele que recai sobre as posses de
alguém sobre um bem.
É simples. Para você entender mais facilmente, lembre-se de que o direito real se refere à relação do indivíduo
com o objeto e o direito pessoal envolve a relação de indivíduo com indivíduo.
E para facilitar mais ainda, é importante saber as diferenças entre os direitos reais e os direitos obrigacionais,
conforme abaixo disposto, vejamos:
a) : os direitos obrigacionais apenas vinculam as partes da relação jurídica, por exemplo, umPublicidade
contrato, não sabendo disso a sociedade. Os direitos reais, por sua vez, devem ser conhecidos ou presumidos
pela sociedade, por exemplo, a propriedade de A sobre o imóvel X.
b) : nos direitos reais, o sujeito fica ligado à coisa e, nos direitos obrigacionais, a relação é entreInerência
sujeitos. É a primeira dica que demos ali em cima.
c) : os direitos reais não se extinguem, mas os obrigacionais se extinguem assim que a prestaçãoPerpetuidade
for devidamente cumprida pelo devedor.
d) : os direitos reais são criados pelas leis e somente por estas. Os direitos obrigacionais podem serLegalidade
criados de comum acordo entre as partes. É o caso de um contrato.
Agora ficou mais fácil para entender, não é mesmo?
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