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Processos Biológicos no Sistema Solo-Planta Ferramentas para uma agricultura sustentável Adriana Maria de Aquino Renato Linhares de Assis Editores Técnicos 2º edição Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Agrobiologia Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Processos Biológicos no Sistema Solo-Planta Ferramentas para uma Agricultura Sustentável Adriana Maria de Aquino Renato Linhares de Assis Editores Técnicos 2ª edição Embrapa Brasília, DF 2012 Embrapa Agrobiologia Rodovia BR 465, Km 7 CEP 23891-000 Seropédica, RJ Fone: (21) 3441-1500 Fax: (21) 2682-1230 www.cnpab.embrapa.br sac@cnpab.embrapa.br Embrapa Informação Tecnológica Parque Estação Biológica - PqEB - Av. W3 Norte (final) Caixa Postal 040315 CEP 70770-901 Brasília, DF Fone: (61) 3448-4236 Fax: (61) 3448-2494 www.embrapa.br/livraria livraria@embrapa.br Unidade responsável pelo conteúdo Embrapa Agrobiologia Unidade responsável pela edição (e-book) Embrapa Informação Tecnológica Coordenação editorial Fernando do Amaral Pereira Lucilene Maria de Andrade Nilda Maria da Cunha Sette Revisão de texto e tratamento editorial Raquel Siqueira de Lemos Normalização bibliográfica Rosa Maria e Barros Projeto gráfico, tratamento das ilustrações e editoração eletrônica Júlio César da Silva Delfíno Fotos da capa Adriana Maria de Aquino, Itamar Garcia Ignácio, Segundo Sacramento Urguiaga e Rosângela Stralioto Capa Carlos Eduardo Felice Barbeiro Supervisão editorial Wyviane Carlos Lima Vidal Revisão do e-book Aline Pereira de Oliveira Conversão e editoração do e-book WOC Tecnologia da Informação LTDA Tratamento editorial do e-book Alexandre Abrantes Cotta de Mello 1a edição 1a impressão (2005): 1.000 exemplares 2ª edição E-book (2012) Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.160). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Embrapa Informação Tecnológica Processos biológicos no sistema solo-planta : ferramentas para uma agricultura sustentável / editores técnicos, Adriana Maria de Aquino, Renato Linhares de Assis, Embrapa. – 2.ed – Brasília, DF : Embrapa, 2012. il. E-book no formato e-Pub. ISBN 978-85-7035-147-0 1. Biologia do solo. 2. Biomassa. 3. Ecossistema. 4. Fixação de nitrogênio. 5. Recuperação do solo. I. Aquino, Adriana Maria de. II. Assis, Renato Linhares de. III. Embrapa Agrobiologia. CDD 631.4 © Embrapa 2012 Agradecimentos Os autores agradecem o apoio que vêm recebendo do CNPq, pelas bolsas de produtividade em pesquisa, ADCT/MCT e Faperj, e MRN, Porto Trombetas, PA, e aos programas Pronex I l/CNPq, PADCT Ill/Finep e Pronex/MCT/Faperj, pelo apoio financeiro a projetos de pesquisa com arroz e cana-de-açúcar. Apresentação Em julho de 2002, a Embrapa Agrobiologia realizou o XIV Curso Intensivo de Agrobiologia. Esse curso é uma tradição na Instituição, sendo oferecido, desde 1976, em anos alternados, como uma disciplina do curso de Pós-Graduação em Agronomia, área de concentração em Ciência do Solo, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. O enfoque sempre foi sobre temas atuais e relacionados com os processos da fixação biológica de nitrogênio. Ao longo dos anos, a Embrapa Agrobiologia consolidou uma equipe de pesquisadores preocupados com a produção de alimentos mais saudáveis, associados a menores impactos negativos sobre o ambiente, e atuando dentro de um enfoque agroecoló-gico. O curso do ano de 2002 refletiu toda essa abordagem com o tema: Princípios e técnicas ecológicas aplicadas à agricultura. A importância dos princípios e métodos ecológicos para a agricultura reside no fato de que estes representam uma importante ferramenta para auxiliar o redesenho dos sistemas agrícolas e por possibilitarem o entendimento do funcionamento dos agroecossistemas, que passam a ser mais complexos e mais dependentes da regulação biológica. Em função do interesse pela abordagem adotada, surgiu a ideia de publicar dois livros, um com enfoque na biota do sistema solo- planta na construção e manutenção da fertilidade do solo e outro, nas bases teóricas e técnicas da agroecologia. Processos Biológicos no Sistema Solo-Planta - Ferramentas para uma agricultura sustentável é fruto de intenso trabalho que envolveu pesquisadores de diversas formações profissionais e oriundos de diferentes instituições de ensino e de pesquisa. Portanto, o que se almeja é que esta obra se torne uma referência básica para orientar estudantes e profissionais que atuam ou estão se iniciando na área da agricultura sustentável. José Ivo Baldani Chefe-Geral da Embrapa Agrobiologia Prefácio O funcionamento da biota do solo é essencial para que a vida seja perpetuada e o ambiente onde vivemos não se torne insuportável. Se não fosse pela ação dos organismos decompositores da biomassa, a vida na terra terminaria em um monte de dejetos, não haveria renovação. Mesmo com toda essa importância e o grande avanço em todas as áreas da ciência, ao ponto de já usarmos a nanotecnologia para a geração de novos materiais, o nosso conhecimento é ainda muito reduzido sobre o funcionamento dos processos de formação, sustentabiIidade e degradação dos solos. Tanto assim que, até hoje, não temos indicadores precisos da saúde e produtividade dos solos. Por que tanto avanço da ciência e pouco conhecimento do funcionamento do sistema que suporta a vida na Terra? Primeiro, porque, mesmo com as ações antrópicas desastrosas, o sistema tem funcionado e mantido a produção de alimentos e outros produtos suficientes para atender as necessidades básicas da humanidade e tem se livrado, em alguns casos no limite do caos, da maior parte dos dejetos. Segundo, porque emerge de sistemas com muitos atores e, portanto, são sistemas complexos. As partes se relacionam, muitas vezes de forma não competitiva, competitiva, outras até de forma sinergística. Dessa forma, não basta estudar uma parte para entender o todo. Mesmo não entendendo o todo o estudo da biologia do solo tem avançado de forma considerável, com contribuições localizadas significativas e de grande impacto ecológico e econômico. O Brasil é o maior exemplo mundial onde esses estudos resultaram em impacto econômico considerável. Neste livro estão reunidas a experiência e o conhecimento acumulados por um grupo de pesquisadores, dos mais importantes no Brasil e com reconhecimento internacional, que dedicaram toda a vida acadêmica buscando o entendimento do funcionamento da biota do solo. Envolve estudos pontuais de grande importância para a economia brasileira, como a fixação biológica de nitrogênio, as relações mutualistas entre fungos micorrízicos e plantas e a macrobiota do solo e o uso de ferramentas modernas no estudo da identificação e ecologia da biota do solo, estudos esses que permitiram o desenvolvimento de tecnologia de recuperação de áreas degradadas a baixo custo. Além disso, o grupo tem buscado a utilização desses conhecimentos em campos agrofiorestais e na sustentabilidade da agricultura orgânica. É um privilégio prefaciar uma publicação elaborada a partir de conhecimento amadurecido e emanada da experiência pessoal de cada um dos autores e, tenho certeza, que será muito útil a estudantes e interessados na sustentabilidade deste planeta. Avílio António Franco Acesse a Livraria Embrapa no site www.embrapa.br/livraria e adquira esta obra. http://www.embrapa.br/livraria Capítulo 1 Indicadores de Qualidade do Solo Helvécio De-Polli Márcio Sampaio Pimentel Introdução A agricultura dos últimos 50 anos é marcada pela alta aplicação de insumos, onde se inclui a mecanização; irrigação; fertilizantes químicos; pesticidas e herbicidas. A revolução verde acentuou ainda mais a dependência técnica dos agricultores. Entre os anos de 1950 e 1984, a produção de grãos cresceu substancialmente, mais rápida do que a população, em cerca de 2,6 vezes, elevando a produção por pessoa, na média, em 40%. As razões para esse incrementosão várias, podendo serem destacados a expansão de terras para a agricultura e o uso das chamadas “técnicas modernas de produção”. Contudo, desde 1984, essa produção per capita de grãos tem caído anualmente, e as causas para isso são, em parte, a seca; a perda da fertilidade do solo; a erosão e outros. De acordo com o Instituto pela Vigília Mundial, a agricultura mundial está sendo afetada cada vez mais por tendências ambientais; pelo crescimento populacional e pelo mau gerenciamento Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3117 18 Capítulo 1 do solo, que provocou sua erosão com os cultivos sucessivos; pela destruição e contaminação de lençóis freáticos; pelo alagamento e salinização de terras irrigadas, e pelos efeitos diversos de possíveis mudanças climáticas (CORSON, 1996). A agricultura mexe com grandes extensões territoriais, influindo sobre complexos nichos ecológicos e na cadeia alimentar de diversos indivíduos, em razão da retirada da vegetação natural e conseqüente quebra do equilíbrio para estabelecimento, principalmente, de monoculturas. É possível perceber que somente o uso de práticas conservacionistas por si só não será suficiente para saber se há otimização ou não na utilização do solo. É essencial que se disponha de parâmetros de sustentabilidade, e que esses parâmetros funcionem paralelamente e sejam termômetros de avaliação, quantificando e indicando o grau de conservação de um dado sistema. Agricultura – Fonte e reserva de carbono e o papel da matéria orgânica O uso inadequado do solo aliado a práticas não conservacionistas permite que o carbono estocado no solo na forma orgânica e microbiana, como também na forma de biomassa vegetal, seja remobilizado para a atmosfera. Batjes (1998) indica três formas de mitigação da concen- tração de CO 2 pela agricultura: redução da emissão pelo melhor uso do solo; criação e fortalecimento das reservas de carbono no solo e substituição dos combustíveis fósseis por biocombustíveis. O solo é, em última análise, um dreno de carbono, pois o CO 2 fixado via fotossíntese pode ser estocado no solo e em outros organismos ou em seus resíduos, podendo resistir mais fortemente à biodegradação. O uso efetivo da matéria orgânica, através de estercos orgânicos e outros produtos similares é importante por aumentar o conteúdo de carbono orgânico do solo, melhorando a qualidade deste, aumentando a produção de biomassa e reduzindo a emissão de CO 2 (LAL et al., 1998). Para Khatounian (1997), o que fundamentalmente não foi assimilado pelo agricultor brasileiro é que a agricultura é a arte de Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3118 19Indicadores de Qualidade do Solo manejar o ciclo do carbono na natureza, e que a maior parte do decaimento das condições de produção está na baixa produção de biomassa dos sistemas implantados. A agricultura sustentável, com baixo nível de aplicação de insumos, está calcada no uso de métodos como rotação de culturas, conservação da lavoura e reciclagem dos excrementos de animais, visando ao controle da erosão, à redução da perda de nutrientes do solo e à manutenção da produtividade (CORSON, 1996). Dentro desse contexto, o uso da matéria orgânica se constitui em um dos pontos-chave da ótica ecológica. Sua origem é diversa, podendo ser de restos vegetais; fauna do solo; biomassa microbiana do solo; exsudatos de raízes e adições na forma de estercos, compostos e outros. Os resíduos vegetais são a essência da matéria orgânica, sendo sua composição bastante conhecida e constituída por C, H, O, N, P, S, que formam as macromoléculas como: proteínas, celulose, hemicelulose, amido, pectina, lignina e lipídios. O papel da matéria orgânica na agricultura vai além do ofereci- mento de alimentos saudáveis à população. Ela melhora química, física e biologicamente o solo, proporcionando maior equilíbrio nas relações entre a atividade biológica, fertilidade e conservação dos solos. Nos trópicos, a sustentabilidade de um sistema agrícola está baseada no aporte de material orgânico que nele permanece e é continuamente reciclado, e somente a partir da contínua reposição é que se pode alcançar os benefícios resultantes de seu uso. A matéria orgânica se constitui, portanto, em um elemento importante como fonte de nutrientes e energia para muitos organismos, além de possibilitar benefícios como melhor estruturação e capacidade de armazenamento de água no solo, processos fundamentais para o desenvolvimento da cultura agrícola e da biota do solo. Bioindicadores Como é sabido, a adoção de práticas agrícolas inadequadas às condições climáticas do Brasil tem contribuído para uma aceleração do processo de desgaste dos nossos solos tropicais. Marumoto (1984) afirma que, quando o solo é submetido a estresses ambientais (secagem ou alguma perturbação mecânica), a mortalidade de microrganismos Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3119 20 Capítulo 1 é maior. Vargas e Scholles (2000) perceberam que sistemas de manejo, com diferenças no revolvimento do solo e na composição dos resíduos vegetais, alteram as propriedades biológicas do solo, com reflexos sobre a qualidade e a produtividade das culturas. Porém é necessário dispor de parâmetros ecológicos que possam quantificar no solo, o grau de maturidade. Na agricultura, a necessidade de dispor de bioindicadores sensíveis a mudanças provocadas pelo manejo do solo possibilitou que índices biológicos surgissem como um mecanismo de avaliação que pudesse responder a tais questões, daí a busca por um indicador que espelhe a robustez da vida do solo e reflita o seu grau de perturbação (DE-POLLI; GUERRA, 1996). Dentre alguns dos indicadores mais utilizados atualmente, destacam-se: biomassa microbiana do solo, respiração basal do solo e quociente metabólico. Biomassa microbiana do solo – BMS A BMS é definida como a parte viva da matéria orgânica do solo, incluindo bactérias, actinomicetos, fungos, protozoários, algas e microfauna, excluindo-se raízes de plantas e animais do solo maiores do que 5 x 103 µm3 (JENKINSON & LADD, 1981). Balota et al. (1998) a definem como um componente instável da matéria orgânica, que tem a atividade influenciada pelas condições bióticas e abióticas, podendo ser boa indicadora das alterações resultantes do manejo do solo. Para Marumoto et al. (1982) e Kieft et al. (1987), ela é um importante reservatório de nutrientes inorgânicos para as plantas, que é parcial e periodicamente liberado, exemplificado por De-Polli e Guerra (1996), que a qualificam como reserva de N, S e P. Há uma estreita relação entre a matéria orgânica e a biota do solo e Powlson et al. (1987) concluíram que a determinação da BMS pode indicar mudanças na qualidade da matéria orgânica. Já Cattelan e Vidor (1990), consideram a BMS como um dos seus constituintes, e sua contribuição deve ser quantificada. Nesse contexto, a BMS pode ser utilizada como sensível indicador de alteração da matéria orgânica, permitindo investigar se as práticas de manejo de solo adotadas contribuem ou não para melhorar sua qualidade. Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3120 21Indicadores de Qualidade do Solo Existem fortes indícios que correlacionam o conteúdo de carbono do solo – entenda-se nesse sentido matéria orgânica –, com a BMS. Zak et al. (1993), por exemplo, detectaram valores de BMS menores em solo arenoso e pobre em matéria orgânica, e maior em solo argiloso e rico em matéria orgânica. Smith e Paul (1990), citados por Zak et al. (1994) e Salinas-Garcia et al. (1997), afirmam que a oferta de carbono é um limitante para a BMS, e Mawdsley e Bardgett (1997), estudando o efeito do corte da parte aérea de trevo e azevém sobre a BMS, perceberam aumento da BMS, provavelmente em virtude da morte e decomposição de raízes. Essas conclusões reforçam a idéia de que a BMS pode ser usada como um indicativo para perturbações no solo. A BMS é uma estimativa da massa microbiana viva total, com base na concentração de algum elemento químico ou de alguma substância celular. Em alguns trabalhos, são estudadas suas relações com a atividade respiratória dosolo e/ou enzimática (p. ex., desidrogenase, urease, fosfatase, etc.), sendo, então, auxiliares na interpretação da condição funcional da BMS total ou de algum compartimento. Os trabalhos para determinação da BMS começaram a partir, principalmente, do uso da fumigação com clorofórmio (CHCl 3 ) associado à incubação, que levaram à proposição do método da fumigação-incubação (JENKINSON; POWLSON, 1976), desencadeando um grande avanço nesse campo, o que possibilitou o surgimento de um segundo método: a fumigação-extração. A diferença para o método da fumigação-incubação é que o material celular liberado pelo rompimento da parede celular após a fumigação é recuperado com um extrator fraco: o K 2 SO 4 em uma relação solo extrator de 1:4 (VANCE et al., 1987) ou 1:2,5 (TATE et al., 1988), logo após a fumigação, eliminando-se assim, os 10 dias de incubação do método anterior (DE-POLLI; GUERRA, 1997). Sua determinação é feita por meio da dicromatometria, em que as amostras fumigadas (com clorofórmio) e não fumigadas serão então, analisadas. A extração do carbono do solo é feita a partir da solução extratora, que é colocada em agitação junto com a amostra, e, em seguida, deixada em descanso, para decantação das partículas mais Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3121 22 Capítulo 1 pesadas, quando é filtrada e misturada ao dicromato de potássio, ácido sulfúrico e ácido fosfórico, formando a solução a ser titulada para quantificação do carbono microbiano. Esse carbono presente no extrato reage com parte do dicromato, sendo essa reação favorecida pelo calor proporcionado pelo H 2 SO 4 . A titulação do dicromato em excesso é realizada com sulfato ferroso amoniacal, e a quantidade de carbono microbiano é obtida a partir da diferença entre o resultado de um ensaio em branco e o resultado da solução das amostras de solo (DE-POLLI; GUERRA, 1997). Respiração basal do solo – RBS Lundegardh (1927) definiu a respiração do solo como a soma total de todas as funções metabólicas na qual o CO 2 é produzido, sendo as bactérias e os fungos responsáveis pela maior liberação de CO 2 via degradação da matéria orgânica. De acordo com Gupta e Singh (1981), a contribuição de raízes e microrganismos associados às raízes para a RBS foi estimada em 42%. A RBS parece possuir uma estreita relação com as condições abióticas do solo, entre elas a umidade, temperatura e aeração. Cattelan e Vidor (1990) concluíram que, além da influência dessas características, há a disponibilidade de substrato no solo como um item diretamente relacionado à RBS. O que é exemplificado por Vargas e Scholles (2000), que correlacionaram o aquecimento do solo e a disponibilidade de substratos com o aumento da RBS, mesma tendência encontrada por Gupta e Singh (1981), que acharam uma relação positiva entre a RBS com a umidade e a temperatura do solo. A disponibilidade de carbono no solo foi descrita como fonte contribuinte para o aumento da RBS (CATTELAN; VIDOR, 1990). A avaliação da evolução de CO 2 é uma metodologia que consiste na incubação de uma amostra de solo com uma solução de hidróxido de sódio. Durante o período de incubação, o CO 2 liberado reage com a solução de NaOH e tem-se uma solução composta de hidróxido de sódio e carbonato de sódio. Esse carbonato é precipitado pela adição de cloreto de bário, formando o carbonato de bário. Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3122 23Indicadores de Qualidade do Solo A dosagem do hidróxido de sódio em excesso na solução é medida pela neutralização com ácido clorídrico. A quantidade de carbono liberado na forma de CO 2 do solo é obtida a partir da diferença entre o resultado de um ensaio em branco e o resultado da solução das amostras incubadas com o solo (STOTZKY, 1965). Quociente metabólico – qCO 2 O qCO 2 é a razão entre a respiração basal do solo por unidade de biomassa microbiana do solo e o tempo, e tem sido usado para acessar a eficiência do uso de substrato pelos microrganismos do solo (ANDERSON; DOMSCH, 1989). Para Anderson (1994), ele pode ser utilizado como sensível indicador de estresse quando a BMS é afetada. Mawdsley & Bardgett (1997) perceberam que o qCO 2 diminuiu em resposta ao corte de culturas, enquanto a BMS aumentou, sugerindo que nessa situação a população microbiana sofreu menos estresse, provavelmente em virtude da morte e decomposição de raízes, o que aumentou a BMS. Insam et al. (1991) verificaram que tanto o preparo como o manejo do solo alteram o qCO 2 . Balota et al. (1998) detectaram reduções de 28% no qCO 2 sob plantio direto, evidenciando menor perda relativa de CO 2 , podendo determinar, em longo prazo, maior acúmulo de carbono no solo. Já em ambientes menos conservacionistas, Saffigna et al. (1989) concluíram que o preparo convencional pode apresentar menor conteúdo de matéria orgânica, e uma BMS com maior qCO 2 , pela diferença de acessibilidade do substrato de carbono aos microrganismos, pelas mudanças nos padrões metabólicos ou alterações na composição da microbiota (ALVAREZ et al., 1995). Parece haver ainda uma relação inversa entre a BMS e o qCO 2 , sugerindo que, sob maiores teores de carbono, possa ocorrer aumento da BMS e redução da atividade metabólica (Insam et al., 1991), como foi constatado por Balota et al. (1998) e Bauhus et al. (1998). Os resultados obtidos com qCO 2 têm revelado um índice eficiente na quantificação da eficiência do uso de substrato pelos microrganismos que, aliados aos outros supracitados, poderão fornecer respostas rápidas sobre os impactos proporcionados pelo manejo do solo avaliado. Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3123 24 Capítulo 1 Referências ALVAREZ, R.; DÍAZ, R. A.; BARBERO, N.; SANTANATOGLIA, O. J; BLOTTA, L. 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Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3128 29Indicadores de Qualidade do Solo Capítulo 2 O Papel da Ecologia Microbiana e da Qualidade do Solo na Sustentabilidade dos Agroecossistemas Gustavo Ribeiro Xavier Jerri Edson Zilli Flávia Venâncio Silva Joana Falcão Salles Norma Gouvêa Rumjanek Indicadores microbiológicos O desenvolvimento de uma agricultura sustentável exige a seleção de indicadores capazes de atestar o estado geral da qualidade do agroecossistema que possibilite uma avaliação das práticas de manejo aplicados ao solo. A biota do solo, componente fundamental na ciclagem de nutrientes, influencia vários níveis da cadeia trófica por meio da sua atuação nos processos bioquímicos do solo, como a Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3129 30 Capítulo 2 decomposição da matéria orgânica, estabelecendo um processo de interdependência com a cobertura vegetal (NÜSSLEIN; TIEDJE, 1999). Esses processos envolvem a participação de componentes da fauna e microrganismos do solo, notadamente fungos e bactérias. Além dos decompositores, também estão presentes no solo microrganismos de reconhecida importância para o crescimento vegetal, tais como fungos micorrízicos e bactérias fixadoras de nitrogênio, que afetam a absorção e a disponibilidade de nutrientes e a estabilidade da matéria orgânica no solo. Uma maior estabilidade do sistema tem sido associada a uma alta diversidade da microbiota do solo, o que resulta em redundância de grupos funcionais e é uma característica capaz de garantir resiliência do agroecossistema a estresses ambientais e/ou antrópicos. Um bom indicador ecológico deve ser capaz de detectar as perturbações, refletir o funcionamento do ecossistema, apresentar facilidade de monitoramento com viabilidade econômica, ter distribuição universal e ainda mostrar especificidade individual aos padrões de tempo e espaço no ambiente (HOLLOWAY; STORK, 1991). Por essas razões, a microbiota do solo tem sido considerada um dos mais sensíveis e úteis marcadores biológicos para classificar agroecossistemas sob distúrbios antrópicos (TURCO; BLUME, 1999; KENNEDY, 1999; ROGERS; TATE III, 2001). Vários fatores podem levar à alteração da comunidade microbiana no solo, como o tipo de solo, o teor de matéria orgânica, a época do ano, a espécie vegetal e a região da raiz, e o nível de impacto de cada um desses fatores na microbiota do solo pode ser variável. Rogers & Tate III (2001), analisando a população microbiana em uma floresta nativa de pinheiros, mostraram que por meio da análise da população bacteriana e atividade enzimática (desidrogenase) foi possível observar diferenças na sazonalidade, enquanto a biomassa microbiana se manteve semelhante. Esses autores observaram ainda diferenças no padrão de diversidade metabólica da população oriunda do horizonteO e A, demonstrando a importância da matéria orgânica no estabeleci- mento de indicadores de qualidade do solo. No horizonte O, talvez pela grande variabilidade de nutrientes/nichos proporcionada pela matéria orgânica presente em diferentes estágios de decomposição, encontra-se uma grande diversidade de microrganismos, o que torna Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3130 31O Papel da Ecologia Microbiana e da Qualidade do Solo na Sustentabilidade... difícil o estabelecimento de um perfil de comunidade capaz de caracterizar um indicador de qualidade. Por sua vez, no horizonte A, a microbiota é bastante dependente dos exsudatos radiculares, o que promove uma interação direta com a composição florística. Impactos antrópicos e/ou diferentes tipos de manejo que resultem em diferentes níveis de estresse para as plantas refletem na composição da microbiota do solo, que se torna um indicador sensível capaz de alertar para perdas na qualidade de um ecossistema. A comparação entre perfis de comunidades microbianas de áreas cultivadas e/ou perturbadas com áreas nativas é uma estratégia que permite avaliar o impacto ambiental e orientar medidas de remediação nas áreas impactadas pela determinação de faixas de normalidade de propriedades físicas, químicas e biológicas. A caracterização da diversidade, é comumente mensurada por meio de dados de abundância e de distribuição de espécies ou taxa de microrganismos no solo, tem sido objeto constante da pesquisa. Nos últimos anos, o Laboratório de Ecologia Molecular Microbiana da Embrapa Agrobiologia concentrou esforços em microrganismos- alvo objetivando compreender melhor o seu papel nos agroecossistemas e flutuações na dinâmica populacional dependente de impactos diversos. Dinâmica de populações de rizóbio e pseudomonas Bactérias do grupo rizóbio são capazes de promover a formação de nódulos em raízes e caules de leguminosas. Essas bactérias apresentam facilidade de isolamento e cultivo, uma vez que podem ser isoladas a partir de nódulos de plantas-isca. A população de rizóbio, originária do Nordeste brasileiro, é capaz de nodular o caupi e apresenta uma proporção crescente de isolados de crescimento rápido quando se avança do litoral, onde o clima é mais ameno, com regime de chuvas regulares, para o semi- árido, onde predominam condições adversas de temperatura elevada e baixa umidade (MARTINS et al., 1997). Comparando-se estirpes de rizóbio isoladas de nódulo de caupi de amostras de solo do Cerrado Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3131 32 Capítulo 2 e do Semi-Árido, também foi observada, nesta última região, uma maior incidência de estirpes de crescimento rápido (NDAW et al., 2000). Tem sido observada em solos cultivados na região da Floresta Amazônica (SILVA et al., 1999) e Mata Atlântica (ZILLI et al., 1999) uma população numerosa de rizóbio capaz de nodular caupi, porém de baixa diversidade. De modo geral, a diversidade desse grupo de bactérias nessas áreas está diretamente correlacionada com a diversidade florística, sendo menor em áreas de monocultivo. Além disso, ao se acompanhar o desenvolvimento da sucessão vegetal, desde matas secundárias até matas clímax locais, observa-se um aumento gradativo da diversidade desse grupo de microrganismos à medida que avança a sucessão vegetal. Bactérias do grupo pseudomonas que apresenta ampla dispersão no ambiente têm despertado também muito interesse, dada a capacidade de produção de diversos hormônios, antibióticos, vitaminas e metabólitos secundários, interferindo em outros componentes biológicos dos sistemas. Por essas características, esses grupo têm sido reconhecidos como rizobactérias promotoras de crescimento em plantas (RPCP). Zago et al. (2000) identificaram, de acordo com características fisiológicas e genotípicas baseadas na análise de RFLP/16S rDNA, isolados de Pseudomonas spp. obtidos de solo, rizosfera, rizoplano e interior de tecido radicular de alface e cenoura cultivadas no Sistema Integrado de Produção Agropecuária – Sipa –, em Seropédica, RJ. Foram observados 8 grupos de isolados, sendo a maioria classificada como P. putida, e uma pequena fração, como P. fluorescens. Nesse estudo, foi detectado que a comunidade das bactérias associadas à alface difere em termos de composição daquela associada à cenoura. Foi observado também que as populações de bactérias isoladas de rizoplano e dos tecidos radiculares apresentavam composição diferente das isoladas diretamente de amostras de solos. Fonseca et al. (2000) confirmaram esses dados estudando diversas culturas do Sipa e determinaram, por meio de análise de correspondência, que a composição da população de pseudomonas é dependente do compartimento estudado: rizosfera, rizoplano e interior de raiz. Já Ferreira et al. (2001) observaram Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3132 33O Papel da Ecologia Microbiana e da Qualidade do Solo na Sustentabilidade... predomínio de Pseudomonas fluorescens no rizoplano de trigo cultivado em sistema de plantio direto ou convencional no Campo Experimental da Embrapa Trigo, situado em Passo Fundo, RS, enquanto as amostras de solos das entrelinhas foram isoladas com uma maior proporção de P. putida. A rotação de culturas utilizada não teve efeito aparente sobre a composição da população de pseudomonas. Embora haja dificuldades inerentes à caracterização da complexa comunidade de microrganismos do solo realizada a partir de isolamento em meios de cultura, os dados obtidos indicam que a organização estrutural e/ou funcional dessa comunidade está intimamente associada à presença do genótipo vegetal. Por essa razão, alterações promovidas nessa variante são capazes de alterar a estrutura da comunidade da microbiota, que pode ser usada como um bioindicador. Metodologia para estudos de comunidade microbiana independentes de cultivo Os estudos de diversidade e estrutura da comunidade microbiana do solo são baseados na caraterização ou identificação dos indivíduos em meio seletivo e medidas microbiológicas in situ, que resultam numa série de dificuldades tais como complexidade da comunidade, influência de fatores ambientais e heterogeneidade do solo. Um dos maiores problemas está relacionado com a metodologia utilizada. As técnicas clássicas baseadas no isolamento, cultivo e caracterização morfofisioló- gicas dos microrganismos são conhecidas por sua seletividade, não considerando a extensão da comunidade bacteriana. A proporção de células cultiváveis que pode ser estimada representa, nas previsões mais otimistas, menos de 10% da população total, sendo, portanto, pouco informativa sobre a composição dessas comunidades (COWAN, 2000; RANJARD et al., 2000). Por essa razão, tem-se buscado métodos mais eficientes de caracterização da diversidade e dinâmica de comunidades microbianas em amostras ambientais. Técnicas baseadas em ácidos graxos (PLFA, FAME, MIDI-FAME) e em ácidos nucléicos (Microarray, FISH, rep-PCR, ARDRA, T-RFLP, RISA, DGGE, TGGE e SSCP) são as mais Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3133 34 Capítulo 2 recentes e não dependem do cultivo dos microrganismos (RONDON et al., 1999; KOZDRÓJ; VAN Elsas, 2001). A aplicação de técnicas baseadas em ácidos graxos e moleculares tem permitido aos pesquisadores mostrarem a redução da diversidade microbiana em solos contaminados e alterações significativas na estrutura da comunidade microbiana, destacando-se o desaparecimento de espécies do gênero Crenarchaeota (SANDAA et al., 1999) e Acidobacterium e o favorecimento de outras, como Viriovorax sp. (EL FANTRUSSI et al., 1999). Por intermédio desses métodos tem sido possível identificar organismos que, por não serem cultiváveis, nunca haviam sido detectados (BIANCIOTTO et al., 1996). Extração de ácidos nucléicos de amostras de comunidade microbiana Métodos baseados na análise de ácidos nucléicos envolvem a lise das células bacterianas da amostra ambiental para a extração dos ácidos nucléicos. Existem dois métodos de extração: indireto e direto. No método indireto, inicialmente, as células são extraídas por passos repetitivosde suspensão e centrifugação e, então, são lisadas, liberando o conteúdo celular. No método direto, o DNA é diretamente extraído da matriz do solo após lise das células, seguido de separação dos restos celulares e impurezas, por meio de etapas de purificação. Em termos de vantagens, enquanto o primeiro processo rende DNA com maior pureza, o segundo processo apresenta um maior rendimento de DNA, que costuma estar associado a substâncias contaminantes, tais como substâncias húmicas que são co-extraídas e podem vir a interferir nas etapas posteriores. Nos últimos anos, muitos pesquisadores vêm utilizando o método direto de extração de DNA do solo (INSAM, 2001). Várias etapas do processo de extração de DNA (direto ou indireto) podem vir a influenciar não só a qualidade do DNA extraído, mas também a representatividade desse DNA. Alguns organismos, como as bactérias gram-positivas e fungos, apresentam estruturas celulares que são difíceis de romper, e por isso, dependendo do método de lise empregado no processo de extração de DNA, não é possível ter certeza que toda a comunidade microbiana está sendo avaliada (FROSTEGÅRD et al., 1999). Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3134 35O Papel da Ecologia Microbiana e da Qualidade do Solo na Sustentabilidade... Amplificação A análise de DNA de comunidades é realizada por meio da amplificação de seqüências-alvo com primers específicos, por meio de Reação em Cadeia da Polimerase – PCR. Para análise da diversidade bacteriana, tem sido utilizado com mais freqüência o gene que codifica para a subunidade 16S do RNA ribossomal (16S DNAr), o espaço intergênico entre o 16S e o 23S DNAr, e o gene rpoB. A molécula do 16S DNAr tem sido tradicionalmente utilizada em estudos de ecologia bacteriana, porque: a) está presente em todos os organismos; b) é originária de um ancestral comum; c) por apresentar a mesma função, é altamente conservada em algumas regiões e variável em outras; d) contém grande número de informações nas seqüências em virtude do tamanho da molécula; e) apresenta domínios indepen- dentes, podendo ser discriminada de outras moléculas; f) apresenta grande número de seqüências disponíveis em base de dados (appud ROSADO et al., 1997). Na reação de PCR, a seqüência-alvo de DNA é amplificada por meio de três etapas distintas: desnaturação da fita dupla do DNA, anelamento do primer à fita de DNA e extensão da cadeia pela polimerização dos nucleotídeos com o auxílio de uma DNA polimerase termoestável. Clonagem Os fragmentos amplificados podem ser ligados a um vetor de clonagem pela ação da DNA ligase. Em seguida, é realizada a caracterização de uma parcela dos clones via seqüenciamento ou análise de restrição. Separação eletroforética Uma outra alternativa para a caracterização dos fragmentos amplificados é por meio de análise em gel de eletroforese. A eletroforese Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3135 36 Capítulo 2 consiste na migração de moléculas ionizadas, de acordo com suas cargas elétricas e pesos moleculares em campo elétrico. O DNA apresenta saldo de cargas negativo e quando exposto a um campo elétrico migra no gel para o polo positivo. Fragmentos menores apresentam maior mobilidade que os fragmentos maiores. A eletroforese em gel desnaturante é especialmente útil para estudos de comunidade, uma vez que possibilita a separação de moléculas de DNA com o mesmo tamanho, mas com seqüência de nucleotídeos diferentes. Esses estudos têm sido cada vez mais freqüentes, abrangendo diversos enfoques da diversidade microbiana como: efeito de pesticidas (EL FANTROUSSI et al., 2000), efeito de resíduos de petróleo (DUARTE et al., 2001); variação da população microbiana em cultivos (GOMES et al., 2001) e avaliação de alterações microbianas em solo sob cultivo de plantas geneticamente modificadas (HEUER et al., 2002). Dentre as técnicas de eletroforese com gel desnaturante, a técnica de Denaturing Gradient Gel Eletrophoresis – DGGE – é a mais difundida. DGGE foi originalmente desenvolvido para detectar mutações específicas no genoma humano e posteriormente adaptado para análise da comunidade microbiana (MUYZER et al., 1993), estudo de estrutura genética de grupos funcionais (GRIFFITHS et al., 1999), distribuição espacial de população de bactérias (FELSKE; AKKERMANS, 1998) e estudo de impacto ambiental na comunidade microbiana do solo (ENGELEN et al., 1998). Essa técnica é baseada primeiramente na amplificação do DNA por meio de PCR, em que um dos primers apresenta uma região rica em G+C (grampo) para impedir a total desnaturação da dupla fita do DNA durante a eletroforese. Os fragmentos obtidos por PCR, de mesmo tamanho, são separados de acordo com a sua composição nucleotídica, por intermédio de eletroforese em géis de poliacrilamida contendo gradiente desnaturante (uréia e formamida). A seqüência de nucleotídeos determina o momento em que o DNA, inicialmente em fita dupla, passará para uma estrutura de fita simples, em que as duas fitas simples se mantêm ligadas pelo grampo. Nessa condição, a velocidade de migração no gel é extremamente reduzida. Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3136 37O Papel da Ecologia Microbiana e da Qualidade do Solo na Sustentabilidade... Análise da comunidade bacteriana por meio de clonagem do 16S DNAr Dados gerados a partir da clonagem do 16S DNAr têm possibili- tado a caracterização da estrutura da microbiota presente em uma determinada amostra e a identificação de espécies predominantes, que podem ser utilizadas como indicadoras de qualidade do solo. Por exemplo, baseado nessas técnicas, foi mostrado que os microrganismos do gênero Nitrosomonas, ao contrário do que se pensava, não são o grupo mais importante dentre as bactérias do solo que oxidam amônia, tendo sido identificada uma bactéria dominante de outro táxon, que, no entanto, não é cultivável nos meios de cultura tradicionais (LIESACK; STACKEBRANDT, 1992; FELSKE et al., 1997). Em outro estudo, foi mostrado que pelo menos 50% dos clones seqüenciados eram bactérias do solo metabolicamente ativas, pertencentes ao gênero Bacillus (FELSKE et al., 1998). Cerca de 20% destes não eram, no entanto, cultiváveis e apresentaram alta similaridade com B. benzovorans. A presença no solo de clones variados que agrupam com a-proteobacteria é bastante comum e já foi relatada em vários estudos de diferentes países. Do mesmo modo, ao se estudar a diversidade microbiana na Floresta Amazônica, foi observado que 80 dos 100 clones analisados apresentaram seqüências desconhecidas, não sendo possível a determinação das espécies (BORNEMAN; TRIPLETT., 1997). Estes autores verificaram também alterações nas populações microbianas quando compararam áreas de florestas transformadas em pastagens. Na área de floresta, 18% dos clones seqüenciados eram do gênero Clostridium, que somente foram encontrados nessa área, e bactérias do gênero Bacillus mostraram-se quatro vezes mais abundantes que na área de pasto. Estudos com clonagem mostraram que a população microbiana variou de acordo com o grau de conversão de floresta em pastagem (NÜSSLEIN; TIEDJE, 1999). Nesse caso, a população microbiana da área de pasto apresentou, além de maior conteúdo G+C que a população da área de floresta, grupos diferentes de microrganismos raros e dominantes. Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3137 38 Capítulo 2 Na área de floresta, predominaram bactérias do grupo Fibrobacter e Syntrophomonas, enquanto no pasto predominaram Burkholderia, Rhizobium e Agrobacterium, consideradas bactérias com maior versatilidade metabólica. Apesar de eficiente, o uso do método de clonagem para análise da diversidade microbiana total deve ser considerado com cautela, pois o número de clones avaliados deve ser representativo da população total. A análise de diversos modelos de distribuição tem mostrado que, para avaliar a diversidade total de uma determinada amostra, o número total de clones a serem seqüenciados deve ser bastante elevado (DUNBAR et al., 2002), o que representa uma desvantagem, por encarecer muito aaplicação dessa técnica. Análise da comunidade microbiana via DGGE/TGGE Assim como a análise de clones, as técnicas de DGGE/TGGE vêm sendo amplamente utilizadas, e, por meio da análise desses géis, tem sido possível demonstrar o efeito de certas práticas sobre a comuni- dade microbiana. Estudos com DGGE e Biolog em solos expostos durante um período de 10 anos aos herbicidas à base de fenil-uréia (Diuron, Linuron e Clorotoluron) mostraram que tanto a estrutura quanto o potencial metabólico da microbiota do solo foram afetados pela longa exposição aos herbicidas (EL FANTROUSSI et al., 2000). Eles concluíram ainda, após o seqüenciamento de bandas isoladas do DGGE, que o efeito negativo da aplicação de linuron se deu mais profundamente sobre bactérias não cultiváveis agrupadas em uma divisão chamada Acidobaterium. Entretanto, em certas circunstâncias, esse herbicida favoreceu o aparecimento de Variovorax sp., não encontrado nos solos-testemunha. O efeito da adição de substâncias complexas ao solo foi demons- trado também por Duarte et al. (2001), que, estudando a contaminação por petróleo, observaram que o número de bandas do gel desnaturante decai com o aumento do conteúdo de óleo no solo, apresentando também uma mudança progressiva em relação ao tempo de exposição Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3138 39O Papel da Ecologia Microbiana e da Qualidade do Solo na Sustentabilidade... a esse composto. O seqüenciamento de três bandas predominantes sugere ser actinomicetos, Arthrobacter sp. e outra bactéria ainda desconhecida, microrganismos mais abundantes nessas condições, provavelmente pela habilidade de utilizar tais compostos como substrato. Embora o DGGE/TGGE permita avaliar a comunidade microbiana total, pelo uso de primers universais para bactérias e fungos, estudos mais recentes têm se baseado também no uso de primers específicos, que podem caracterizar um determinado gênero ou grupo. A principal vantagem desses primers é que eles permitem o acesso a um grupo que pode ter um efeito importante sobre a comunidade, mas que por ter uma população menor que a população bacteriana total não é detectado por PCR. Um exemplo da aplicação de primers gerais e específicos foi dado por Heuer et al. (2002), que estudaram a comunidade microbiana durante 3 anos consecutivos, visando à caracterização de alterações na microbiota associada a raízes de batatas transgênicas, contendo o gene da Lisozima T4. Foram utilizados primers para bactérias, actinomicetos e a- ou b-Proteobacteria. Após seqüenciar diversas bandas separadas no DGGE e comparar os resultados polifásicos entre as cultivares transgênicas e selvagens, os autores concluíram que a expressão do gene Lisozima T4 não influenciou a comunidade microbiana da rizosfera, enquanto fatores como as estações do ano tiveram influência significativa. A diversidade e a dinâmica da população microbiana na rizosfera de duas cultivares de milho (Nitrofliting e Nitrodent) cultivadas em solo tropical foram avaliadas por meio do uso de primers para Eubacteria, a-, b-Proteobacteria e actinomicetos (GOMES et al., 2001). A análise da população culturável revelou diferenças significativas somente aos 40 dias após a semeadura, para ambas as cultivares. Já a análise da população total revelou que, independentemente dos primers, o padrão foi bastante similar para ambas as cultivares. Esses autores observaram ainda que a influência da sazonalidade foi mais intensa para Eubacteria, a- e b-Proteobacteria e menos intensa para actinomicetos. O efeito rizosférico foi muito mais pronunciado nas raízes de plantas jovens comparadas com as de plantas maduras, indicando um maior efeito do estágio de desenvolvimento da planta, com plantas maduras apresentando Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3139 40 Capítulo 2 uma comunidade mais complexa, quando comparado com o efeito cultivar. O seqüenciamento de clones provenientes de bandas de TGGE indicaram que a população dominante encontrada em todos os estágios do crescimento das plantas apresentaram alta similaridade com o gênero Arthobacter. Silva et al. (2003) avaliaram, por intermédio do uso de primers específicos, a diferença da população de Paenibacillus associada á raiz de quatro cultivares de milho, em solos de Cerrado e Várzea. A análise dos géis de DGGE indicaram uma grande similaridade entre as amostras oriundas do mesmo tipo de solo, independente da cultivar analisada, indicando que o tipo de solo era o principal fator determinante da diversidade do gênero Paenibacillus. Entretanto, esses autores puderam observar ainda pequenas diferenças entre cultivares, em que a comunidade oriunda de cultivares de ciclo curto tendiam a se agrupar separadamente da comunidade oriunda de cultivares de ciclo mais longo. Essas diferenças entre cultivares podem ser explicadas por diferenças no estágio fisiológico da planta, uma vez que as amostragens foram realizadas na mesma época. Salles et al. (2002a) mostraram que a técnica de DGGE foi capaz de caracterizar a diversidade dentro do gênero Burkholderia. Pelo uso de primers específicos, esses autores demonstraram diferenças nas comunidades das espécies de Burkholderia presentes em duas áreas de pastagens. Além disso, as comunidades obtidas de solos rizosféricos apresentaram perfis mais complexos do que aquelas estudadas de amostras de solos não associados. Resultados semelhantes foram observados por Salles et al. (2002b), analisando a comunidade de bactérias do gênero Burkholderia oriunda de solos com diferente histórico agrícola. Embora métodos tradicionais de cultivo tenham mostrado não haver diferença entre solos sob rotação de cultura ou pastagem permanente, a análise da população total mostrou diferenças claras, sendo o solo sob pastagem mais diverso que o sob cultivo. A análise dos isolados obtidos em ambas as áreas indicou ainda um forte efeito da pastagem na seleção de espécies de Burkholderia capazes de controlar Rhizoctonia solani, um fungo fitopatogênico, sugerindo que os solos sob pastagem são mais supressivos que os sob cultivo. Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3140 41O Papel da Ecologia Microbiana e da Qualidade do Solo na Sustentabilidade... Além da análise da diversidade total e de determinados grupos de microrganismos, pelo DGGE é possível também analisar a diversidade de grupos funcionais, ou seja, de organismos que estão envolvidos em determinados processos, como por exemplo os organismos fixadores de nitrogênio. Como esses organismos estão distribuídos por diversos grupos de bactérias, o desenvolvimento de primers baseados no 16S DNAr seria inviável. A alternativa então seria o desenvolvimento de primers baseados em genes responsáveis pelo processo de fixação biológica de nitrogênio. Lovell et al. (2000) utilizaram primers específicos para o gene nifH, que codifica para um dos genes estruturais da nitrogenase, para determinar a diversidade da comunidade diazotrófica associada à rizosfera de Spartina alterniflora. Após a separação de diferentes fragmentos por DGGE, esses fragmentos foram cortados, clonados e seqüenciados, e a análise da seqüência determinou que um grande número de organismos diazotróficos pertencia a γ-Proteobacteria, enquanto poucos clones pertenciam a α-Proteobacteria. Os resultados demonstraram que a diversidade de organismos diazotróficos era grande, e composta principalmente por organismos ainda não conhecidos. Esses estudos mostram o avanço rápido nos conhecimentos das comunidades microbianas edáficas proporcionado por técnicas baseadas em DNA total extraído diretamente do solo. A identificação da dinâmica populacional em áreas sob impactos humanos e/ou climáticos será um elemento importante na caracterização de bioindicadores que possam atestar a qualidade do solo. Novas técnicas, tais como microarray, permitirão que cada vez mais se compreenda a flutuação dessas populações, facilitando a interferência técnica diante de situações de degradação ambiental. 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Dessa forma, o tamanho define a extensão em que a atividade dos mesmos (alimentação e escavação) pode modificar as propriedades do solo (ANDERSON, 1988), e também a amplitude em que podem ser influenciados pelo manejo do solo. Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3147 48 Capítulo 3 A microfauna compreende invertebrados de diâmetro do corpo inferior a 100 µm, incluindo os protozoários e nematóides (Fig. 1). Esses animais alimentam-se de microrganismos, o que faz com que tenham importante papel na regulação da matéria orgânica (SWIFT et al., 1979). A mesofauna compreende invertebrados de tamanho médio (100 µm – 2 mm), taxonomicamente diversos, incluindo ácaros, colêmbolos, protura e diplura (Fig. 2). Esses animais habitam os espaços Microfauna Mesofauna Macrofauna 200 µm 10 mm Protozoa Tardigrada Rotifera Nematoda Acari Collembola Protura Diplura Chelonethi Araneida Opiliones Coleoptera Isopoda Diplopoda Chilopoda Mollusca Enchytraeidae Lumbricidae 40 60 80 160 320 640 13 26 5 10 20 40 80 µm mm Fig. 1. Classificação dos organismos do solo com base no diâmetro do corpo. Fonte: Modificado de Swift et al. (1979). Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3148 49Fauna do Solo e sua Inserção na Regulação Funcional do Agroecossistema porosos do solo e não são capazes de criar sua própria galeria, sendo por isso particularmente afetados pela compactação do solo (HEISLER; KAISER, 1995). Esse grupo também é importante na regulação da decomposição da matéria orgânica ao promoverem a remoção seletiva de microrganismos (VISSER, 1985; MOORE; WALTER, 1988). Já a macrofauna é composta pelos organismos de maior diâmetro (2 mm – 20 mm) e compreende, entre outros, as minhocas, formigas e cupins (Fig. 3 a 17). Os componentes da macrofauna têm o corpo em tamanho suficiente para romper as estruturas dos horizontes minerais e orgânicos do solo ao se alimentar, movimentar e construir galerias no solo (ANDERSON, 1988). Os miriápodos (gongolos, lacraias, etc.), por exemplo, têm uma morfologia que os permite forçar, por meio da cabeça e de seus diversos pés, seus caminhos entre a vegetação e outros hábitats não disponíveis à micro e mesofauna (HOPKIN; READ, 1992). Os organismos que compreendem a macrofauna são denominados “engenheiros do ecossistema” (LAVELLE et al., 1997), por influenciarem Fig. 2. Protozoários do solo: a) flagelado; b) nu; c) ciliado; d) esquema geral de um nematóide. Fonte: a, b e c – Modificado de Lousier & Banforth, 1991; d – Modificado de Gonzaga e Lordello (1981). Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3149 50 Capítulo 3 Fig. 4. Diplopoda (congolo, piolho-de-cobra, embuá), caracterizam- se por apresentar dois pares de pernas por segmento. Fonte: Modificado de Barnes (1990). Macrofauna Fig. 3. a) Collembola (colêmbolos); b) Acarina (ácaros); Oribatida, comum em solo; c) Protura (não apresenta antena); d) Diplura. Fonte: a – Modificado de Christiansen, 1991; b – modificado de Norton (1991); c – modificado de Copeland & Imadate, 1991 e d – modificado de Fergusson (1991). Mesofauna Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3150 51Fauna do Solo e sua Inserção na Regulação Funcional do Agroecossistema Fig. 5. Chilopoda (centopéias). Essa classe apresenta as seguintes ordens: a) Scolopendormorpha; b) Geophilomorpha; c) Scutigeromorpha; d) Lithobiomorpha. Fonte: Modificado de Barnes (1990). Fig. 6. Symphyla. O tronco apresenta 12 segmentos portadores de pernas, cobertos por 15 a 22 escamas tergais. O tronco termina em um pequeno telso. Fonte: Modificado de Barnes (1990). Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3151 52 Capítulo 3 Fig. 7. Arachnida. Apresentam limite entre cefalotórax e abdome, indicado pela linha interrompida, e quatro pares de pernas. Fonte: Modificado de Storer e Usinger (1978). Fig. 8. Isoptera (cupins, térmitas). Todas as espécies são sociais. Castas de Coptotermes acinaciformes, Rhinotermitidae: a) alada; b) operária; c) soldado. Fonte: Modificado de Gay (1970). a c b Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3152 53Fauna do Solo e sua Inserção na Regulação Funcional do Agroecossistema Fig. 10. Psocoptera (piolho de livro). Apresenta cabeça destacada, mesotórax bastante desenvolvido e antena longa a) Trogiidae; b) Liposcelidae; c) Myopsoci- dae (repousa as asas como um telhado). Fonte: Modificado de Smithers (1970). a b c Fig. 9. Dermaptera. Os representantes dessa ordem são comumente denominados de tesourinha em virtude da presença de uma pinça existente na extremidade do abdome, que possui função de defesa e auxilia a cópula. Fonte: Modificado de Rentz e Kevan (1991). Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3153 54 Capítulo 3 Fig. 12. Isopoda (tatuzinho de jardim). Crustáceo que apresenta 1 par de antenas e 7 pares de pernas. Fonte: Rebeiro-Costa e Rocha (2002). Fig. 11. Thysanoptera (tripes). Apresenta asas tipo franjada (thysanus = franja). Fonte: Modificado de Reed (1970). Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3154 55Fauna do Solo e sua Inserção na Regulação Funcional do Agroecossistema Fig. 13. Oligochaeta (minhoca) com o corpo dividido em anéis, apresenta inúmeras espécies diferentes. Fonte: Lainez e Jordana (1987). Fig. 14. Coleoptera (besouros). Caracteriza-se por apresentar dois pares de asas, sendo um modificado como pesadas capas protetoras. Fonte: Modificado de Lawrence e Britton (1970). Fig. 15. Hemiptera: Subordens: a) Heteroptera (percevejos); b) Homoptera (cigarra, cigarrinhas). Fonte: Modificado de Carver et al. (1970). Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3155 56 Capítulo 3 Fig. 17. Blattodea (barata). Vista ventral. São ortópteros quenão apresentam pernas do tipo saltatório. Fonte: Modificado de Roth (1970). direta ou indiretamente a disponibilidade de recursos para os outros organismos pela escavação e/ou ingestão e pelo transporte de material mineral e orgânico do solo, pelas estruturas construídas como resultado dessas atividades, incluindo galerias, bolotas fecais, montículos e ninhos, modificando o ambiente físico e químico do solo. A exclusão da macrofauna do solo reduz a taxa de decomposição e a liberação de nutrientes da serapilheira. Anderson (1973) avaliou o papel de diferentes comunidades decompositoras (microrganismos, microfauna, mesofauna e macrofauna) na decomposição da serapilheira de castanheira, utilizando litter bags Fig. 16. Orthoptera (gafanhotos, grilos). Muitos desses grupos apresentam o fêmur da perna posterior aumentado para saltar. Fonte: Modificado de Key (1970). Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3156 57Fauna do Solo e sua Inserção na Regulação Funcional do Agroecossistema em três diferentes malhas: 45 µm, 1 mm, 5 mm em locais diferentes, e observou que a taxa de decomposição entre as três malhas foi similar em solo mais ácido em que dominavam colêmbolos, ácaros e protozoá- rios, e a macrofauna era ausente ou ocorria em baixa diversidade. Já em solos menos ácidos, a taxa de decomposição era tanto maior quanto maior a malha em virtude da atividade de fragmentação dos animais maiores, como minhocas e miriápodos. Essa descrição exemplifica bem a relação que pode existir entre o tamanho do corpo dos organismos (Fig. 17) e a função que podem desempenhar no solo, nesse caso, no processo de decomposição da matéria orgânica. Outro ponto importante é a qualidade do material (relação C/N, concentração de polifenóis, etc.) disponível para a subsistência da fauna do solo, o que pode influenciar a comunidade por intermédio da palatabilidade para os animais, tendo Hendrikson (1990) e Tian et al. (1999) demonstrado que esta é bem diversa entre os diferentes grupos da fauna do solo. Na Tabela 1, foi sumarizada a influência dos microrganismos e dos diferentes grupos de tamanho da fauna do solo nos processos do ecossistema. Tabela 1. Influência da biota do solo nos processos do ecossistema. Ciclagem de nutrientes Estrutura do solo Microflora Cataboliza a matéria orgânica, Produz compostos orgânicos que mineraliza e imobiliza ligam agregados nutrientes Microfauna Regula as populações de Pode afetar a agregação do solo por bactérias e fungos, altera o meio das interações com a microflora turnover de nutrientes Mesofauna Regula as populações de Produz pellets fecais, cria bioporos, fungos e da microfauna promove a humificação Macrofauna Fragmenta os resíduos de Mistura partículas minerais e plantas, estimula a atividade orgânicas, redistribui matéria orgânica microbiana e microrganismos, cria bioporos, promove humificação, produz pellets fecais Fonte: Modificado de Hendrix et al. (1990). Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3157 58 Capítulo 3 Atualmente, com o crescente interesse por práticas agrícolas mais conservacionistas, muita ênfase tem sido dada ao estudo da estrutura da comunidade da macrofauna, visando entender o funcionamento do solo e obter possíveis indicadores da qualidade do solo. Estrutura dos ecossistemas naturais e dos agroecossistemas Um ecossistema pode ser definido como um sistema funcional de relações complementares entre os organismos vivos e o seu ambiente, ocorrendo uma regulação interna de fluxo e energia, que mantém um equilíbrio dinâmico e estável. Os componentes estruturais mais básicos dos ecossistemas são fatores bióticos – organismos vivos que interagem no ambiente – e fatores abióticos – componentes químicos e físicos não vivos do ambiente, como solo, luz, umidade e temperatura. Em termos de organização das partes que compõem o ecossistema, temos os indivíduos, as populações (conjunto de indivíduos da mesma espécie), a comunidade (conjunto de populações) e o ecossistema propriamente. Esses quatro níveis de organização podem ser aplicados também aos agroecossistemas. Vale ressaltar que agroecossistema é definido como um “ecossistema agrícola”, seja esse com práticas ecológicas ou não (ODUM, 1983). Os agroecossistemas diferem do sistema natural por utilizar energia auxiliar, consistindo em trabalho humano, animal, fertilizantes, pesticidas, água de irrigação, combustível para mover maquinaria, etc. Além desse aspecto, a diversidade de organismos é muito reduzida, para maximizar a produção de um determinado produto ou alimento. Nesse caso, plantas e animais dominantes sofreram seleção artificial. (ODUM, 1983). Regulação biofuncional de um agroecossistema Em agroecossistemas, os reguladores biológicos podem ser divididos em três subsistemas: plantas, herbívoros e decompositores Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3158 59Fauna do Solo e sua Inserção na Regulação Funcional do Agroecossistema (Fig. 18), agrupados em biota produtiva, biota recurso, biota destrutiva (SWIFT; ANDERSON, 1993). A biota produtiva compreende as plantas cultivadas, seja para produção de alimento, fibra ou outros produtos para consumo, para uso ou comercialização. Esse componente é deliberadamente escolhido pelo produtor e é o principal determinante da diversidade e complexidade do sistema. A biota recurso representa os organismos que contribuem positivamente para a produtividade do sistema, mas que não geram um produto utilizado diretamente pelo produtor. Muitas espécies de plantas utilizadas como cobertura para manejo da fertilidade do solo, manejo de pragas e de plantas invasoras são exemplos de biota recurso. Fig. 18. Hymenoptera (formigas, abelhas, vespas). Castas de Myrmicinae: a, b) rainha; c, d) operárias maiores; e, f) operárias menores; g) macho. Fonte: Modificado de Riek (1970). Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3159 60 Capítulo 3 A fauna e a flora do subsistema de decompositores estão também nessa categoria, entretanto pouco se sabe sobre a diversidade e a composição desse grupo para que possam ser diretamente manejadas. Uma exceção a isso ocorre na interface entre o subsistema dos decompositores e o subsistema das plantas, por intermédio da microflora simbiótica, tais como as bactérias fixadoras de nitrogênio e os fungos micorrízicos, os quais são introduzidos em sistemas agrícolas que apresentam baixa entrada de insumos externos. Os predadores do subsistema dos herbívoros também são biota recurso, e podem ser um produto do manejo, tanto indiretamente, pela inclusão de plantas que promovam a diversidade nesse subsistema, ou diretamente, pelo controle biológico. A biota destrutiva compreende as pragas, os patógenos microbia- nos e as plantas invasoras. O manejo, muitas vezes, visa reduzir a diversidade desse componente. Por muitas décadas as pesquisas concentraram esforços em algumas pragas, visando obter o máximo de eficiência de controle, por meio de insumos químicos, com o intuito de eliminá-las. Entretanto, mais recentemente, tem ocorrido considerável avanço dos estudos enfocando o papel de toda a comunidade de invertebrados no funcionamento do solo (LAVELLE, 1996). Esses estudos têm demonstrado que a biodiversidade e a atividade biológica estão diretamente relacionadas às funções e características essenciais para a manutenção da capacidade produtiva dos solos. Assim, a fauna deve ser vista como um “recurso” a ser manejado (LAVELLE et al., 1997). Para isso é necessário conhecer a comunidade de invertebrados do solo, avaliar suas funções e finalmente identificar as opções de manejo que possam otimizar suas atividades. Não significa maximizar o número de espécies, mas sim enfatizar certas grupos e objetivos específicos. Hierarquia entre os diferentes grupos funcionais A atividade, e potencialmente a diversidade, da fauna do solo determinada por uma série de fatores bióticos e abióticos é hierarquica- mente organizada (Fig. 19). Clima, condições de solo e atividades do homem e animal são fatores essenciais que influenciam diretamente a Miolo_Biota.pmd 1/12/2006, 12:3160 61Fauna
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