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Todas as células circulantes derivam de células tronco pluripotentes na medula óssea. Elas se dividem em três tipos principais: ERITRÓCITOS: São as mais numerosas, glóbulos vermelhos, especializados no transporte de oxigênio dos pulmões aos tecidos e do dióxido de carbono no sentido inverso. Possuem sobrevida periférica de 4 meses. PLAQUETAS: são as menores células do sangue, envolvidas na hemostasia, circulam por apenas 10 dias. LEUCÓCITOS: glóbulos brancos, compostos por 4 tipos de fagócitos (neutrófilos, eosinófilos, basófilos e monócitos), que protegem contra infecção bacterianas e fúngicas, e por linfócitos, que incluem as células B (envolvidas na produção de anticorpos) e células T (CD4 auxiliares e CD8 supressoras - relacionadas à resposta imune e à proteção contra vírus e células estranhos). Possuem sobrevida amplamente variada. A cada dia, são produzidos em torno de 10¹² novos eritrócitos por meio de um processo complexo e finamente regulado, a eritropoese. A primeira célula no interior da medula óssea identificada como pertencente à série eritroide é o pró-eritroblasto ou pró-normoblasto, que uma vez formado, se divide várias vezes. Durante seu processo de maturação, dois importantes fenômenos ocorrem de forma progressiva: (1) condensação da cromatina nuclear (maturação do núcleo); e (2) hemoglobinização do citoplasma. Esse processo ocorre em um nicho eritroide, no qual cerca de 30 células eritroides em vários estágios de desenvolvimento cercam um macrófago central. Na ordem de maturação, teremos: 1. Pró-eritroblasto; 2. Eritroblasto basofílico; 3. Eritroblasto policromatofílico; 4. Eritroblasto ortocromático “hemácia nucleada”; 5. Reticulócito; 6. Hemácia ou eritrócito. PROERITROBLASTO O proeritroblasto é uma célula grande, com citoplasma azul-escuro (basofílico), núcleo central com nucléolo e cromatina um pouco conglomerada. O proeritroblasto, por meio de várias divisões celulares, origina uma série de eritroblastos. ERITROBLASTO Os eritroblastos progressivamente ficam menores, mas com conteúdo hemoglobínico gradualmente maior no citoplasma. À medida que aumenta a concentração de hemoglobina neste compartimento, a coloração vai se tornando mais próxima ao avermelhado (eosinofílico). O citoplasma vai perdendo sua tonalidade azul- claro à medida que perde seu RNA e o aparelhamento da síntese proteica, ao passo que a cromatina nuclear se torna mais condensada. RETICULÓCITO Ainda contém algum RNA ribossômico e é capaz de sintetizar hemoglobina. Eritroblastos em vários estágios de desenvolvimento. As células iniciais são maiores, com citoplasma basofílico e padrão de cromatina nuclear mais aberto. O citoplasma das células tardias é eosinofílico devido à hemoglobina. Por fim, o núcleo é expelido do eritroblasto maduro na medula óssea, dando origem ao reticulócito. Para que se forme um reticulócito, o conteúdo nuclear deve ser expulso. IMPORTANTE! Os eritroblastos não estão presentes no sangue periférico normal. Aparecem no sangue se houver eritropoese fora da medula óssea e em algumas doenças da medula óssea. Comparação do conteúdo de DNA e RNA e da distribuição na medula óssea e no sangue periférico de eritroblastos, reticulócitos e eritrócitos maduros (ERT). O núcleo aqui já foi expulso, mas sabe-se que os ribossomas, ricos em RNA, permanecem no citoplasma do reticulócito, desaparecendo apenas cerca de um dia após a célula deixar a MO. São os ribossomas que criam um aspecto de “rede” ou “retículo” basofílico (azulado) no interior da célula, daí a nomenclatura “reticulócito”. Essa célula é um pouco maior que o eritrócito maduro e circula no sangue periférico durante 1 a 2 dias antes de amadurecer, quando o RNA é 100% catabolizado. Surge, então, o eritrócito maduro. Sequência de amplificação e maturação no desenvolvimento de eritrócitos maduros a partir do proeritroblasto. IMPORTANTE! Duas vitaminas, a vitamina B12 e o ácido fólico, são de grande importância para a maturação final das células da linhagem vermelha. Ambas as vitaminas são essenciais à síntese de DNA, visto que cada uma delas, por modos diferentes, é necessária para a formação de uma das unidades essenciais da produção do DNA. Por conseguinte, a deficiência de vitamina B12 ou de ácido fólico resulta em diminuição do DNA e, consequentemente, na falha da maturação nuclear e da divisão celular. ERITROCITO MADURO OU HEMÁCIA Disco bicôncavo sem núcleo, de coloração rósea. Em geral, de um núcleo proeritroblasto originam- se 16 eritrócitos maduros. A eritropoiese ocorre em locais diferentes ao longo da vida: 1. Primeiras semanas de vida embrionária: as células vermelhas primitivas são produzidas pelo saco vitelínico. 2. Segundo trimestre da gestação: são produzidas no fígado (principalmente), baço e linfonodos. 3. Estágios finais de vida fetal: produzidas principalmente na medula óssea. 4. Após o nascimento: as células hematológicas são produzidas exclusivamente pela MO. Em vigência de determinadas patologias, a produção de células hematológicas (incluindo a série eritroide) volta a ocorrer nestes locais extramedulares (eritropoiese extramedular), que só tinham esta função na vida embrionária. A regulação se dá por dois mecanismos. OXIGENAÇÃO TECIDUAL Regulador mais essencial na produção de hemácias. As condições que causem diminuição da quantidade de oxigênio transportado para os tecidos, normalmente aumentam a intensidade da produção de hemácias. ERITROPOETINA A eritropoese é regulada pelo hormônio eritropoetina. É um polipeptídio pesadamente glicosilado. Normalmente, 90% é produzido nas células intersticiais peritubulares renais (RIM), e outros 10% no fígado e em outros locais. Não há reservas pré-formadas, e o estímulo para produção de eritropoetina é a tensão de oxigênio (O2) nos tecidos do rim. A hipoxia do tecido renal leva ao aumento dos níveis teciduais do fator induzível por hipoxia 1,(HIF-1), que induz a transcrição de RNA mensageiro e, por último, aumentando a síntese de eritropoetina. Algumas vezes, a hipoxia, em outras partes do organismo, que não nos rins, também estimula a secreção renal de eritropoetina, o que sugere a existência de algum tipo de sensor não renal que envia sinal adicional para os rins, para a produção desse hormônio. Em particular, tanto a norepinefrina quanto a epinefrina, além de diversas prostaglandinas, estimulam a produção de eritropoetina. Produção de eritropoetina pelo rim em resposta a seu suprimento de oxigênio. A eritropoetina estimula a eritropoese e, assim, aumenta o aporte de O2. A produção de eritropoetina, portanto, aumenta na anemia e, também, quando a hemoglobina é incapaz de liberar 02 normalmente por motivo metabólico ou estrutural, quando o O2 atmosférico está baixo ou quando há disfunção cardíaca, pulmonar ou lesão na circulação renal que afete a entrega de 02 ao rim. A eritropoetina estimula a eritropoese pelo aumento do número de células progenitoras comprometidas com a eritropoese. Em contrapartida, o aumento de fornecimento de O2 aos tecidos (por aumento da massa eritroide ou porque a hemoglobina é capaz de liberar O2 mais prontamente que o normal) diminui o estímulo para a produção de eritropoetina. O nível plasmático de eritropoetina pode ter utilidade diagnóstica e está aumentado na anemia, a menos que esta se deva a insuficiência renal e se houver tumor secretor de eritropoetina, e baixa em nefropatia grave e na policitemia vera. Relação entre dosagens de eritropoetina (EPO) no plasma e concentração de hemoglobina. As anemias (pontos em cor laranja) excluem doenças associadas à diminuição de produção de EPO. O efeito principal da eritropoetina consiste naestimulação da produção de proeritroblastos a partir das células-tronco hematopoéticas na medula óssea. Além disso, uma vez formados os proeritroblastos, a eritropoetina também estimula a diferenciação mais rápida dessas células pelos diferentes estágios eritroblásticos, em relação ao processo normal, acelerando ainda mais a produção de novas hemácias. INDICAÇÕES - TRATAMENTO COM ERITROPOETINA A eritropoetina recombinante é necessária para o tratamento de anemia causada por nefropatia e por várias outras causas. É administrada por via subcutânea • 3 vezes por semana • 1 vez a cada 1 ou 2 semanas • a cada 4 semanas dependendo da indicação e da preparação utilizada: eritropoetina alfa ou beta, darbepoetina alfa (forma muito glicosilada, de ação mais longa), ou Micera (a preparação de ação mais longa de todas). A principal indicação é a nefropatia em estágio final (com ou sem diálise). Os pacientes geralmente necessitam de uso simultâneo de ferro oral ou intravenoso. O tratamento pode aumentar a hemoglobina e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Uma dosagem baixa de eritropoetina sérica antes do tratamento tem relevância na previsão de eficácia da resposta. EFEITOS COLATERAIS Incluem aumento da pressão arterial, trombose e reação local nos sítios de injeção. O uso de eritropoetina tem sido associado à progressão de certos tumores que expressam receptores de eritropoetina. A medula óssea necessita muitos outros precursores para uma eritropoese eficaz, incluindo metais, como ferro e cobalto, vitaminas (principalmente B12, folato, C, E, B6, tiamina e riboflavina) e hormônios como androgênicos e tiroxina. A deficiência de qualquer um desses pode estar associada a anemia. SÍNTESE DE HEMOGLOBINA A principal função dos eritrócitos é o transporte de O2 aos tecidos e o retorno de dióxido de carbono (CO2) dos tecidos aos pulmões. Para executar essa troca gasosa, os eritrócitos contém uma proteína especializada, a hemoglobina. A síntese da hemoglobina (Hb) ocorre precocemente na mitocôndria das células da linhagem vermelha, iniciando-se na fase de pró- eritroblasto e perpetuando-se até a formação do reticulócito. A hemoglobina é uma macromolécula constituída por quatro cadeias polipeptídicas denominadas globinas, cada uma combinada a uma porção heme. Existem vários tipos de globina, cada um recebendo a denominação de uma letra do alfabeto grego (alfa, beta, gama, delta). O heme é uma molécula formada por quatro anéis aromáticos (protoporfirina) com um átomo de ferro no centro, no seu estado de íon ferroso (Fe+2), capaz de ligar o O2. Portanto, cada molécula de hemoglobina é capaz de ligar quatro moléculas de O2, pois contém quatro grupamentos heme. No adulto normal, a hemoglobina circulante é dividida em: • Hb A1 (97%): possui duas cadeias alfa e duas beta. • Hb A2 (2%): possui duas cadeias alfa e duas delta. • Hb F (1%): restante que possui duas cadeias alfa e duas gama, que é a principal Hb da vida fetal. Cada molécula de hemoglobina A (Hb A) normal do adulto, dominante no sangue depois de 3 a 6 meses de idade, consiste em quatro cadeias polipeptídicas α2β2, cada uma com seu próprio grupo heme. O sangue normal do adulto também contém pequenas quantidades de duas outras hemoglobinas (Hb F e Hb A2), as quais contém cadeias α, mas com cadeias γ e δ, respectivamente, em vez de β. A síntese de heme ocorre principalmente nas mitocôndrias por uma série de reações bioquímicas que começam na condensação de glicina e de succinil-coenzima A, por ação do ácido δ-aminolevulínico-sintase (ALA), enzima-chave cuja falta limita o ritmo. Síntese da hemoglobina no eritrócito em desenvolvimento. As mitocôndrias são os principais locais de síntese de protoporfirina; o Ferro (Fe) é fornecido pela transferrina circulante, e as cadeias de globina são sintetizadas nos ribossomos δ-ALA, ácido δ- aminolevulínico; CoA, coenzima A. Piridoxal-fosfato (vitamina B6) é uma coenzima dessa reação. Ao final, a protoporfirina combina-se com ferro no estado ferroso (Fe²+) para formar heme. Forma-se um tetrâmero de cadeias de globina, cada cadeia com seu próprio núcleo heme agrupado em um “bolso”, montando uma molécula de hemoglobina. Molécula de hemoglobina oxigenada e desoxigenada. α, β, cadeias de globina da hemoglobina normal do adulto (Hb A); 2,3-DPG, 2,3-difosfoglicerato. FUNÇÃO DA HEMOGLOBINA Os eritrócitos no sangue arterial sistêmico transportam 02, dos pulmões aos tecidos e voltam, no sangue venoso, com CO2 para os pulmões. À medida que a molécula de hemoglobina carrega e descarrega O2, as cadeias individuais de globina movimentam-se uma sobre a outra. O contato α1β1 e α2β2 estabiliza a molécula. Quando o O2 é descarregado, as cadeias β são separadas, permitindo a entrada do metabolito 2,3-difosfoglicerato (2,3-DPG), diminuindo, assim, a afinidade da molécula por 02. Esse movimento é responsável pela forma sigmoide da curva de dissociação da hemoglobina. A P50 (pressão parcial de O2, na qual a hemoglobina está metade saturada com O2) do sangue normal é de 26,6 mmHg. Com o aumento da afinidade por O2, a curva se desvia para a esquerda e, com a diminuição da afinidade por O2, a curva desvia para a direita. Curva de dissociação de oxigênio/hemoglobina 2,3- DPG, 2,3-difosfoglicerato Em geral, in vivo, a troca de O2 é feita entre saturação de 95% (sangue arterial), com tensão média de O2 arterial de 95 mmHg, e saturação de 70% (sangue venoso), com tensão média de O2 venoso de 40 mmHg. A posição normal da curva depende da concentração de 2,3-DPG, de íons H+ e CO2 nos eritrócitos e da estrutura da molécula de hemoglobina. Altas concentrações de 2,3-DPG, de H+ ou de CO2 e a presença de certas hemoglobinas, como, por exemplo, Hb S (das síndromes falcemicas), desviam a curva para a direita (o oxigênio é liberado com mais facilidade), ao passo que a hemoglobina F (fetal) – que é incapaz de ligar 2,3-DPG – e certas hemoglobinas anormais raras associadas à poliglobulia desviam a curva para a esquerda, pois liberam O2 de forma menos imediata que o normal. METEMOGLOBINEMIA É uma situação clínica na qual a hemoglobina circulante está presente com ferro na forma oxidada (Fe³+), em vez de na forma normal Fe²+. Pode ocorrer devido à deficiência hereditária de metemoglobina-redutase, ou à herança de uma hemoglobina estruturalmente anormal (Hb M). As Hb Ms contêm uma substituição de aminoácido que afeta o “bolso” de heme da cadeia de globina.
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